Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Anzande0007

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    III

    / \ 1 I 1 \ . ' N do III I)< I t ( 1 1 1 1 I ' 1 1 ,0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 I III IIlIsqu'I I I ',dnoopod'I ' 1 " V ' I I l I I V h l V I.p 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 II I I

    co . A l r Jill' a llv ln ho s lili' ' 1 ' 1 1 1 1 Ill ' qu '11111 ' 1 ' 1 1 1 1 1 II'llil Ie sfo rc o s e n a o tiv $8 111in t 'S I n l ~ 'I ' ldo I t d l'O K I , 1 1 ' 1 1 1 1 1 1de resistir a bru aria, J ' : s l " po I -r v Ii pUI' 1 0 'N I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1agitado pela danca, que () 1'1';) nsn IiI!.' l IO 1 . '0 0 0 pl l ludu, III ' 1 1 1 1 I I Iprofecia. Nesse estaclo ativo, as drogtls J' . v c l u u : PH'III~IIt IIate a faze-los ver as emanacocs cspirituais dulll'llH II h i 1 1 1 1 1 1 1 1 1luzinhas. Contra tais poderes mali z n o s , os u c l l v l u h ' 1 1 I 1 1 l I Iterrrvel. Correm de urn lado para outro, ' sin 'Illdo 1 1 11 1 1 1 11 1 1 IIalgum som, de alguma luz; de repen tc li m dclc,,'H IIf II III I IIIma-emboraelasejainvisive1aonao-ini iii 10 ( ' 1 1 1 1 1 1 II Imesmo tempo de resolucao e repugnan ia. R L 'I OI '1 I1 1 '1 1 1' I I'llt 1alguma droga guardada em seu chifre, apli undn ' 1 0 1 1 1 1 II IIem que viu pousar a bruxaria. Essas corridas 00 1 1 1 1 1 t 1 N III 1 1 1 1 1quando os adivinhos buscam ansiosamente a b I'll X 1 1 '1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1capinzal ou no alto de uma termiteira.

    Cada movimento da danca tern tanto sign i f ! Ido 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 IIses saltos e piruetas envolvem urn mundo de i n s i l l ll l l \ ( ,danca em frente a urn espectador, ou olha fixarn 'Ill 'Pilipessoas pensam que ele achou urn bruxo, ou 0 indlv dun 1 1 1 1 IImal. Os espectadores nunca podem estar certos do ' ! II I lid, Imento do adivinho, mas podem interpreta-lo a partir lill 1 1 , 1 Io que elesente eve. Cada movimento, gesto, ou cs 1 1 1 ' I 'X !, ' 1 1 1 1 Isendo travada contra a bruxaria, e e preciso que 0 1l1p,ldlIUIIi Iseja explicado pelos adivinhos e pelos leigos para q 1I 'todo 0seu rico simbolismo.

    It!IIJ 1 . 1 1 VI

    1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 0 d c 1 1 1 1 1 1 /0 1 i c o" I " , 1 , ' l u tu l ivlnhac: a

    1111111 1 1 1 1 I I I H ' I I I II jov .m manifeste 0 desejo de se tor-I III Illhlll 1III V lh o c i a . rporacao em seu distrito, eII 1 ' " 1 1 1 1 III. slm, uo f a l a r do modo pelo qual os novi-

    It l " , " 1 1 1 1 1 1 1 1 ( ' I t runsmissao normal de magia de urnIf! IIIII lid ,/"ell '~kL 'i a vel', contudo, rapazes de menos

    II I I!. 1 1 1 , 1 1 Ii quutro ou cinco anos, receberem drogasI" IHIIII I' 'Ill .ral deum paioutio materno que de-1 1 11 1 11 1 1 l i ll i ' Iprofissao,equecomeyaatreimi-Iodes-III , .1 1 1 0 1 1 ti l "I'S u espirito com asdrogas. Vi garotos1 1 1 1 1 , . l l i t " 1 u l l v i n h o s e ingerirem suas drogas, copiando

    I I I I \ 1 11 1 1 ' j 1 1 1 M S 'ss S e nas refeicoes magic as coletivas.I t lilt 1 1 1 1 1 t il ' 11101 0 jovial, e os garotos tratavam aquiloII1I I n III Hll'Il'l.. Esses garotos vao-se acostumando gra-I u , I "II I I1 lo hegam aos 15 anos seus pais os levamI 1 1 1 11 11 11 11 I P ir a dancar, permitindo queparticipern daI'''' u m u s u r OS paramentos do oficio. Desta forma, 0

    I 1 I t I " ritual e t ransmitido pouco a pouco, ao longo1 1 1 1 1 1 1

    , II II' IV 1 01110 aprendiz de urn adivinho, a trans-I"Itl.I I III 10ainda ao sabor dos pagamentos feitos e daI 1 1 1 1 1 1 q II > devem ser construidas fora da familia e do

    I I IIIII 1 1 1 1 err gado por seu futuro professor, que procu-1 1 1 1 . 1 , ' ( II ' lcseja ser iniciado, exortando-o a considerar" 1 1 1 1 1 1 1 1 v k l I e familia setentar adquirir a magia leviana-

    I I I I I'll do le que a magia e algo raro e caro, e que seuIII ,unstantes e substanciais, Se0rapaz insiste em seu

    1 1 1 1 ' 1 1 II lonal, 0homem mais velho consente em the en-I lilt ( 1 1 1 ) farao objecao - se 0oraculo de veneno nao'I I II I IiH lara 0jovem ou para eles.

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    Um Il(lvi\~, Wllh\ I I I I f I I ' l ' r II dll l'~ I 1 11 11 11 1 11 11 1 11 11 11 11 li d V n h u 1 1 1 1 1 1 1fortuleccr 1 1 I 1 1 1 H lt ' g ll l i l l l 'O pO d ( ' 1 d t'P I' I I I II '1 I1 I. 1 1 l 1 II ~PIHI \ l 1 ' 1 ) ( ) I ' I ~ ' n u I H I lum sc ] u ltu mc nto p ub llc oi r er eb e m u o de lu 'u ' 1 1 1I 11 t1 1 11 1 'l I I~ n ll n (' I t'V ll l t ll 'n as ce nte d e LUi, r io c ins tru do n INv I'i II'lI'I VIIII'III hw'l i lH til' l jl ll ', 1101~'illIlllI_d rogas. Mas nao ha u rn a s 'qn ilL'in Iixu p i li ' I ( ' li lt ' I 1 1 1 1 1 ,

    Muitas vezes assisti a re u n iao de I T S (JU qUOII'1I lid II 1 1 1 1 1 1 1 ,mais r a r a m r u l rsete ou oito, em cas a de urn colega C)(PCl"i~11Il ' I llilil'lllilol' d,IS e r v a s c phllltas medicinais com que se f a z a s o p a magi 'll P I II 'I I 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 'c u m a r -C d I,1 1 1 1comunal. 0 adivinho mais v e lh o, g cr alr n '11(.' (1 d u n n dllill II .m que ICIII IIIgar a cerimonia, desenterrou para tal fin, ccrtu: 1 '1 ~ I ' I 1 1 1 1 mn to , raspoL! l iN Ilavou-as para cozinha- las . Elas sao co loc ada s 1 1 1 1 1 1 1 p t lilt 1 1 1 1 1 1 r igua, e os C Ol I Vdados reunern-se a volta do fogo para ve-la ' \ )I ',V I, 1 '1 1 11 11 into conve r s a n t Ibrincam sobre assuntos profanos, embora p o I' Vlll'.l'll 1 1 1 1 1 1 1 1d iscutidos os 1111gocios da prof issao: n ao se demonstra exp l i c i t a r ncu t c I I 1 11 1tu In r es pe ito o u II'verencia, Depois que a agua ferveu por algum t empo , I Ilgllldo-se do suco IIIplantas, 0adivinho que as colheu e as e s ta c o zc n d o qll' dor av an t e desi juutrei como seu proprietario - tira 0pote do fogo c d t 'N P ' I II ( ) liquido.em 0 1 1 1 1 1 1vasilha, colocada no fogo para um segundo cozi 111 'n(ll. A s ra lzes cujo S L I 1 11 11 1extraido sao levadas para uma cabana proxima, 011

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    IdIlIrIHVI' IIlIIII/litH 1 1 1 ' 1 1 1 1 / ' . II I tl ll I ll l V 1 1 1 1 '1 1 1 '1 1 1 "" 1 11 1 1 1 11 1 0 1 11 1 1 1 11 1 1 "1110l'I'n,H ' t d !. 'l ll IIIvi 11'um nVI tll 1IIIIIh H IIIIIIIHI I I II. pO Htill I In V( II. n m nI in vol tar (I so u dono , lI' 'II V vu iuu II Pili III dl'up, INdo ud vinho , plll'l ld an c ar c in c o a n os , d cz u u os , v l l I l l ' l I l lO M , P OI ' I l l l ) 1 ) 1 11 \ 1 . i u n o s , ( u e ' I I i> () ~ N I ' 1 1velhecer dancando a d an ca e l l ! udivinl l l l r , :1(1, ell ' o s OU ITO I' ludlvtnhos 11110 nl\ 'odeiem nem me firam com suas lrogas. Dcix '111 qu e to lo s o s hom 'I1S vcnhumouvir minhas profecias. Quando eu da nc ar c om a lroga de ntro de mirn, I o s sa IIIeles chegar com lanca e facas, aneis e piastras, com eleusina, r n i l ho e am ndoinspara eu comer, e cerveja para eubeber. Que eupossa dancar no les te,no reino dvMange, eno oeste , no reino de Ternbura. Que meu nome seja ouvido no rcinode Renzi ao sul, e no di stante norte, entre os estrangei ros em Wau. [Deixa ilcolher bate r no lado do pote volt ado para a di recao men cion ada -leste , oeste,sul e norte.]

    Cada adivinho que deseja mexer e exortar asdrogas no fogo pode faze- loenquanto 0proprietario poe sal na mistura. Depois de algum tempo, 0 oleoferve e sobe ate a borda do pote, que e entao removido do fogo. 0 6leo e de-cantado dentro de uma cabaca, e 0pote e reposto no fogo, pois ainda conternuma pasta espessa e oleosa. A mistura e mexida e exortada pelos adivinhosque 0quiserem fazer. Quando s6estao presentes doisou tres adivinhos quali-f icados, e nenhum novice, cada um mexe e exorta asdrogas, sem ter necessa-riamente que fazer um pagamento previo ao proprietario para podercome-las; mas quando ha um numero maior de adivinhos e muitos novicespresentes, e costume que 0dono das drogas exija uma taxa de cada um quequiser proferir as encantacoes e partilhar da refeicao comunal. Ele avisaque nao vai t irar 0 pote do fogo ate que todos tenham pago alguma coisa. Aicada adivinho apresenta meia piastra, uma faquinha ou um anel, que depositano chao diante do pote ou dentro dele. Tais pagamentos devem ser feitos avista das drogas, cuja potencia depende de terem sido compradas; a compra eparte do ritual que fabrica 0poder da magia. Cheguei ate aver um adivinhoque, tratando gratuitamente de um cliente, colocou uma piastra de sua pro-priedade no chao; quando perguntei 0que fazia, disse-me que seria ruim seadroga nao testemunhasse 0pagamento de uma taxa, pois poderia perder suapotencia, Se alguem falha em contribuir com um presente, 0 dono podeameacar deixar as drogas queimarem, ou pode remove-las do fogo e nao dei-xar nenhum de seus colegascomer ate que todos tenham pago 0suficiente. Asdrogas sao dele: colheu-as no mato, preparou-as e cozinhou-as com seusutensilios; e seu proprietario, elas devem ser compradas dele. Cabe recordarque, como a magia nao obtida dessa forma tem potencia duvidosa, e do inte-resse daquele que vai come-la pagar uma pequena taxa, assim como e do in-

    I I 1 1 r i l l " " 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 IliI 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 , 1 1 1 , ' I I ' 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 flllIl IIIIIIllltllllii\ill'Nllhlltllldll~lHllt'IIII~llllIhtlllJ 1 t ' 1 1 1 t'l' jllH III qll', '11 1 1111110I l I u l " I I ' IIHiH u 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 d ll d 1 1 1 1 1 ' I l ( ' 0 1 1 P II 1 0 1 1 1 1 '1 . ) VI'lld ,dul' 1 11 1 " " 1 11 ,1 1 ,1 1 0 ' 0 11 1 0 11 'f\! I IIj ~ 1*' ' 01111 '!'Ill, I, t ll 'OH I J l ( t l ' d l ' I I l I l l ' 1 1 pollt ' l lin1 1 1 1 1 1 I~I' lid i.A bou von tudc do propr] ,It !' I0 I lI11IIlCOlid \'10 l'dl'VlIlll'P 1 1 ' 1 1II\111 1 1 1 , til' nuiglu, L' 'SSIIhou-voutndc pod 'Hcl'l'()I!.~ ' g u i d l l pOI' 1I1t'iu tit' UIII jlt''1 1 1 " 1 1 0 I 1 ) . 1 1111 '1110 .

    As,~i l l1qu 'O S pres 'Ill H ill ' ( 0 1' ' I1 t O f "I 'C 'j l os , ( ) d o nu I' ' I1H1V ' ( pOI ' till1 1 1 1 1 1 1 t' d~Ctllllli o 6 1 ' 0 que .xsudou da pustu du ran t . a scgundu r'I'VIII'Il, CUIII1111l'tlno pot ' I indo para sfriar 0 rcsiduo. S . h .) lim novi 0 pI'S '1 11 " ' 1 11 1 '1 1 (i1 1 1 11 1 ( ' 1jo e s p e c i a l e s t a o s e n d o o z i n h a d a s a s d r o g a s , 0 pot' 'opl'ell ' 1 1 1 u < l o II I I ', \Ill' d rve a pro xim a r a face do vapor, cuidando de m an t e r os olhos nh(, l' losIIIII I lIll a s d r o ga s penetrern. Outros a d iv i n h os f a zem 0 11 1 s m o , .u lgun ti l 'h , PI'Ol'Ul1ciamdeterrninadas palavras para a magis enquanto 11 1 a II 1 11 1 M(IINII 1 0 1 0 1na boca do pote.

    uando a pasta esfr iou, seu dono a serve, em primeiro Jugal' ao l 1 ( J V i , ' o ,1 1 1 ' 1 ( ) i s aos dennis. A forma de servir e uma caracteristica recorr nt Iu s ret' 'iI,fl' magicas entre osAzande. 0 que serve raspa um POllCO da droga do fundotill po t om um graveto e 0 aproxima da boca de urn homem: mas quandoI j i l ' 'sta para comer, 0bocado e-lhe bruscamente retirado e colo aelo ria bo 'li"I ' outre homem. 0 que serve alimenta os participantes dessa man 'it'll, e1 J 1 1 1 1 1 I todos foram servidos, reunem-se it volta do pote e comem assohrast il l p ts ta magica com as maos, como sefaz com qualquer comida.

    Quando se acabou de comer, 0dono traz 0 6leo que tinha decantado '1111 ' 'S enta-lhe urn pouco de cinza de ngbimi zawa queimada (um parasita d 'I Ill//tim alata), produzindo um fluido negro. 0 6leo que sobrou e dado de b -1 1 1 ' 1 ' nos adivinhos. 0 dono toma entao de uma faca e faz incisoes no peito,nu i up l a t a s , pulso e face dos adivinhos, esfregando um pouco do fluido negroIIIlH ortes. Enquanto esfrega 0 pulso de um homem com isso, diz:

    Que este homern trate de seus pacientes com sucesso, e nao sedeixe enganar porobjetos de bruxaria.

    Enquanto esfrega 0peito de um homem, diz:Se este hornem vir urn bruxo, que seu coracao sal te em reconhecimento dabru-xaria.

    Enquanto esfrega 0 fluido nas costas, acima das omoplatas, diz:

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    N II Ii It' q!lrlIlIIIHIIl'lllllllIl illlllIlIlIlIlll 11I.11I111_111"liI~it " 1 1 ,1 1 11 1 1 1 1 '1 1 11 1 ' IIIg l l ~ 1 l 1 1 " 1 ' 1 1 01 ' l iN uINI I IM, " I I! 1 1 1 1H ~ l d ll l l l l l 1 1 1 1 1 1 1 1 1

    A q u 'I , q ue d crrn uu u iIHUI I j \1I11 Ii ~Ii l n u u I II I II ( 1 1 '1 1 I II d ll ll ll lW l tl l' , S t' 1 1 1 1 1bruxo vi r ~ r i-Io L noltc, me 111 11qlll1 1111'"1 1 1 1 1 1 ' p , I II '(liil W ~ p ( lH ~ 1 ( 'H I ' hom e r n v e -I o; nao p erm its q ue () h ru xo O ll l l l , I I iii II ,Todos bebem tambern desse flui 1011 'gl'O, r s e sobrn a i n d u algum, cI 'sp ,

    jam-no nos chifres, onde guardam urn estoquc pc r r nuncn t c de drogas,Depois que urn adivinho mais velho tratou de seus colegas dessa man 'i

    ra, faz ver a estes a necessidade de lhe fazerem pagamentos frequentes, advcr-t indo-os para nao brincarem com a magia que trazem dentro desi ,ou ela nfiof icara firme dentro do corpo, perdendo seu poder.

    3Urn novico corneca a tomar parte nessas refeicoes comunais - geralmentcrealizadas na manha deuma sessao- desde 0inicio de seu aprendizado, vistoque 0objetivo basico de sua carreira e embeber-se de drogas que 0capacitema identificar a bruxaria. E born lembrar novamente que setrata de urn simplesprocesso magico, A pessoa ingere certas drogas e setorna fisicamente forte, deforma a poder resistir ao cansaco de uma sessao, e espiritualmente forte, pararesistir asarremetidas dos bruxos. Asdrogas em siproduzem resultados mes-mo que 0consumidor nao tenha sido completamente iniciado, e mesmo queele ignore sua composicao. Quando urn meninote as come, por exemplo,acredita-se que elas 0 fazem saracotear como urn adivinho; e urn adulto quetern tais drogas no corpo as vezes treme, salta e arrota violentamente. Ia viadivinhos se contorcerem espasmodicamente e arrotarem desse jei to, masnao duvido de que 0 facam para impressionar os leigos, embora possa haveruma perturbacao psicofisica genuina, induzida por sugestao e pela acao dasdrogas. Estas drogas sao exatamente as mesmas que se usam para tratar dosdoentes.No entanto, urn homem que tenha ingerido drogas apenas algumas vezesnao esta qualificado para assumir urn papel importante nas atividades de umasessao ou para profet izar . Ocasionalmente os adivinhos ensaiam a danca nacasa de um deles, a fim de treinar urn novice em sua arte.

    Logo depois que ingeriu as drogas pela primeira vez, 0 rapaz comeca adancar, de modo que varias vezes viurn ou dois novices dancando numa ses-sao, embora nao tivessem tentado adivinhar. Nao possuiam experiencia sufi-ciente, pois haviam ingerido apenas uma pequena porcao de droga, naohavendo ainda sido iniciados nem aprendido sobre asraizes de onde asdrogas

    II

    ~Il t J(lllIldll , 'l lodIlI IO\l ,I I 11'1 '111 lilt ' ~ lllii 1111 IltI~lt'IIWHIIIIIIII1 11 1 , 11 1 1 1 1 '(lljll)I' 1 ~ ll i ), ' 1 1 1 1 1 11 1 1 1 ) podl'I ' 11" 11 '111 '11 j ill p i III n n v ~ (l 1 I' (I l id I ulqulrt r " I H I I ' flllllu dl 'PO, tit' 1 ' 1 ' 1 I 1 1 ' t ' I H i d l! N o l l l' t ' n ( 1 1 ' V l h I pllliliSII 1 ' 0 1 I'i Itl Ill,

    N I1 0 ~ P () S~ vcl r xonh ' ' < :1 ' < : S S li S plunlus p c lu s imp l es obscrvucao d e s ua s"'f~1 d ur un tc a r cfc ic no .ornunul, I por isso nno sc Iuz ob ]c .oaqueleigoses-1 1 ' 1 1 1 1 1 pres 'nl s 111 tais ocasio S. 1~1"b1nium ver amigos dos magicos senta-d O H 1I scu lado enq uan to estes cornia rn a pasta; mas nunca vi os primeirosnrupnrt ilhando a ref i cao .Diz-se que os adivinhos devern ser muito cuidadosos para que ninguem

    d t .ubra asplantas que colhem para uso magico. Removem os caules e folhasII' ondem-nos no mato, longe de onde os arrancararn, para que ningueml li g \ sua pista ou conheca suas drogas. Uma planta e identificada pelo caule e1 01 has, nao pelas raizes.

    4A magia deve ser com prada como qualquer outro bern, e a parte realmentelgnificativa na iniciacao e a lenta transmissao de conhecimento sobre asplantas do professor aoaluno, em troca de uma longa serie depagamentos. 0professor pode mostra-las casualmente, quando passeia pelo mato junto comI) a lu n o - por exemplo, numa cacada -, ou pode sair com ele especialmentepara isso. A menos que as drogas sejam devidamente pagas, ha 0 perigo dep rderem seu poder no processo de transmissao, pois 0 proprietario fica demavontade com 0comprador. Igualmente e sempre possivel para um profes-1 ) 1 " , seacha que nao recebeu pagamento suficiente por suas drogas, fazer umamagica que asinutil iza dentro do corpo do comprador. 0 adivinho pode fazerlsso, sejapelo cozimento de drogas e uso de encantacoes que privam 0novice10 poder das drogas que consumiu, seja por urn rito especial. Ele toma delima trepadeira da floresta chamada ngbanza, amarra uma de suas extremida-les na ponta de uma vara flexivel cravada no chao e prende a outra extremi-dade no solo, formando algo como a corda de um arco. Traz entao urn poucode magia do trovao e pinga-a na extremidade inferior da trepadeira, para que1 1 tempestade desabe e divida a trepadeira em dois, a parte de cima projetan-do-se para 0 ceu, a parte de baixo ficando presa a terra. Assim como a partesuperior voa, voara a droga para fora do homem que a comeu.

    No caso de Kamanga, 0pagamento das aulas nao foi muito normal, poisu mesmo presenteei seu professor com lancas, embora Kamanga tenha su-plementado isso com bens de sua propriedade. 0 professor deve receberusualmente vinte baso. Basa e a palavra zande para lanca, mas costuma ser

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    / fi l l " /1 ,1 ,, 1 , ' , 1 / 1 " I 1 11 11 III

    u s a da , n c ss e contexte, PUl'il quulqu 'I' (11'0 d ,lwlIl. N il pl' I (II 11111 tllllllI,lI'!ralmente um rapaz que te111 pouca oisa I' Su, pug'! I P I' 1 s t I~'l()1 1 0 ' (I I' I' !' 1 d o , .anos, enquanto ele e 0 professor v ao r c zi sr ra n do n 1III In Ifill () qu J Inpago. Pode chegar a levantar uma ou duas Ian as, i11,1S a rnaiorin d . Sl'lIH / t 1 1 ~ 1 1consiste em aneis, facas, piastras, potes de cerveja, estes de xnnidu, ~IlI'III ' Ioutros objetos de pequeno valor . Algumas dessas coisas h 1',lI't1l11 uS N I I I I ~maos por troca ritual ou presente em ocasioes cerimoniais, ourras forum I I I 'didas aos parentes, outras, ainda, adquiridas ao trabalhar para 0 gOVCI'IHl, ('illservices como 0 de carregador. A maior parte desses bens e entrcguc no pl'Ofessor quando da iniciacao do novice.

    Seum novice e habil e sagaz, pode rapidamente cornecar a prat i '!II' pOIconta pr6pria, mas espera-se que ele de os primeiros pagamentos reccbidn 1 1seu professor, e deve continuar a dar-lhe presentes ocasionais.

    Um homem nao aprende de seumestre sobre todas asdrogas que e P()N/ l fvel conhecer, pois ninguern conhece todas elas. Pessoas diferentes sabcm til'drogas diferentes, e quando urn homem encontra alguern que conhecc 1 I 1 1 h lplanta que ele ignorava, pode ten tar comprar esseconhecimento. Se0co II I I Icedor da planta for um amigo, e a planta nao for muito importante, ele PO ( II 'mostra-la de gra

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    I'll

    lu n o V O l i N ' (iUI' ccrto, ' 1 1 1 1 0 (J, I 'M p ( l' Il nH t ~ I'i 1 1 1 1 1 \' [ 11 10 ' / , 1 I\ I I I I d ii , t' \ ' \ 1 O M ( 1 ' 1 1 1ouvido Iarn ntar-s ': " / : J a z o g a / , ( I O ( ) ( ) o . " , 1 E. 'Ill Iuvk l I 'lIll1llh III(l'I'11vlslu I l l I h lcobra na cave rna . Mas 01110 clc 111) ti l hn II . ompunh I in , m ' tln h I I'vndll ' 1 1 1 1 1ele ao lugar do Ser Supremo, eu n: 0 tinha ouvido I' .n hum lum .nto, n 10 lit d i l louvido a fala dos espiritos. Nenh LL I 1 1 < 1 grande ob ru n os Ii11 ha alu ' li do . I ': nt 1 1 1 1 I ,l l'me disse: "Esta planta que eu estou Ihe mostrando 6 Limadrogn muito pmlt'I'wHIdos adivinhos ." Ele entao mandou-me curvar a cabeca e olhar partl 0 chi 0 , 1 ' 1 1 1 1 1um pOyOfun do que la havia.

    Perguntei a ele: "Qual 0nome dessa droga que voce arrancou?" Elc rcspoudeu: "Ela se chama bagu porque nao dorme quieta, suas folhas murmurunt IInoite inteira: 'guuuuuu'," Disse-me que ha outra droga pcderosa char nadu lilli'roko na beira dos regatos, que eu iria ver suas raizes tentaculares se espalhnndnna entrada da caverna, e ele pediu a Alenvo que cor tasse uma dessas raizcs t'l1lllsua faca. Alenvo cortou e gritou: "Lancas, lancas, lancas!" Sempre que colhciunsuma planta nesse regato eles diziam, enquanto a arrancavam: "Lancas, IrJl1~'IIHIlanyas!,,4 Desse jeito, eles falaram de todas as drogas dos adivinhos.[Badobo mostra a Kamanga outras drogas.]

    Entao fomos e f icamos no meio do riacho, onde Badobo me disse: "QW'IIIque voce me mostre, enquanto estamos aqui juntos, quais asplantas, des tas q ti l 'estao aqui, que Bogwozu the ensinou, que osadivinhos baka usam." Eu conIl ,l llele osnomes das plantas que Bogwozu me ensinou, e aiBadobo me disse: "Sint,Ele the ensinou muito. Todas as nossas drogas sao as mesmas. Essas dr()WI~que ele the ensinou tambern sao minhas drogas, mas existem ainda tres OLiI'I I~drogas de que ele nao the falou." Badobo entao comecou a me ens inar mais d 1'0gas:a ziga dos adivinhos , que e a zerengbondo. ' Ele me disse que estava me 1 1 1 0 1 1tr ando a ziga dos adivinhos para que, quando eu comecasse a cozinhar drogus I'me tornasse um adivinho importante, reconhecesse essa folha dentre asOLlII' l1~plantas. Disse-me para nao raspar sua casca vo ltada para leste, s6 para oes t e ,Quando eu a cozinhasse, deveria dizer a seguinte encantacao: "Que ninguem III\mate por causa de minhas atividades profiss ionais . Que minhas mulheres 11IHIabandonem minha casa . Que minha mulher nao morra por causa de meu 0 1cio." Ele me disse que eu dever ia rezar desse jei to , e que quando cozinhassc II"

    3Lamentacao funebre das mulheres,4 Referencia aos pagamentos feitos p elo aluno ao professor. ..5Muitas drogas zande tern uma ziga , ou antidoto. Nesse caso, 0 antidoto e ingendo para evitar '111~\algum infortunio seabata sobre a familia do novice, pois, como ja expliquei, acredita-se que a a ' i l l i r . 1cao de uma magia poderosa possa causar a morte de urn parente. Espera-se que 0 alvo do azar, NI'houver, seja um parente distante.

    t / 1 1 1 1 tit 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 II I hl , I I /1 tit I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 / 1 1 1 \ 1 1 1 1I1 1d i l l I I ~ 1 1 1 1 I I " 1 ' 1 ' 1 1 I '1 1 11 1 11 '1 ' II 1'1 '1111110 1 I I H l t l t III 'I" III 11'1 V II I II 11'[1 xtrulr 0~ ll It I) '( 'I II I' ll III 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 I'lli II 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I 1 I 1 1 I 1 1 11 1 1 1 1 1 1 } 1 1 I ' I H l lI ' N t 111'ul 'OgOd l l l l i l Nt rn, I) II (' I'nlnnIjll\' 'U I'v 'I'll l' )Ill 'I' I P II~II 1 11 ,1 ' j l 1 11 u n ta r m i nh as111111111' 1' ( ' [ ' ' 1 I 1 l ( ) ~ ,'(jIll l!II, I > I H N ( ' qUQ ) q u a n d o 'U ( I S H ' c ln n cu r o . d an c a da adivi-I l l t l l ~ 1 0, ne u h 1 1 1 1 1 I II II d ev 'r io o '01,),'1',0 1 11 i 1 11 II 11 1 in ha 11 1 u lh r , p O l ' causa de mi-nhu nt lvklndc pl 'Ol ' iHs iol1l l1 'till' C p ara isso q ue se co zin ha a z iga, ou 0 azar dasdlliflllN fl(' uluue sobre 1I .sposa do udivinho, El e terminou sua aula sobre asdro-1 1 1 1 '~jll0 q u e ~ lis sc Holm; itziga.I~IJ t r n n s c r vi os ev cn t o s da iniciacao de Kamanga na ordem em que se

    1 1 1 1 1 1 1 1 Inls el foi sepultado ri tualmente antes de engolir 0 muco da bruxa-1 "' 11 ; I I tll1goliu antes de fazer sua visita as nascentes do regato; mas a ordemIII tlile' II" S ntei os fatos e mais adequada a textura de minha Ilarrat iva, e a1 1 I 1 1 1 l 1 1 l 1 ill xata nao e importante. Cada rito e urn processo autocontido deIII I II 1l1'11't

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    I" II 1 / 1 " ,/ 1 1 , ' II I I t 1 1 / 1 I I" 1 1 1 " "

    O p e n l y e s , dundo u Imp l ' ' S S < ' O de q u e (1 I .ng ' l i m o t it 'I iS I lil O ~ W l t '1I1111dll l I I IIaluno a fazer uma incisao no corpo do pacicn re, colocur U 1 H ~i1tll[iIIlHnlll H I I I I Iela e massagea-Ia - e en tao 0 objeto da bruxaria apar) cria.

    Esta fora de duvida que os adivinhos ir iam complcrar 0 1 '1 " 'jn[1i11l'1l1n dlKamanga depois que eu deixasse 0 pais, pois e obvio que, sealgo 11: o rOSH t ' li1to, ele iria sofrer uma serie de fracassos retumbantes ao tentar rotirar (11)[ '11111dos corpos de seus pacientes. Mas eu ja estava cansado das chicanices dt' 1 1 1 1dobo e dos blefes de Bogwozu, [a t inha parado de dar presentes ao primehn,mas tinha uma divida a parte com Bogwozu, a quem prornetera 0princlpru r:dom de dez lancas se ele treinasse Kamanga integralmente. Bogwozu qil!'llilvoltar para sua casa, a urn dia e meio deviagem, e cobrou seu presentc, (JIIIIIIdo argumentei que Kamanga nao estava adequadamente treinado, inillimou-me que seu aluno sabia tudo que havia para saber.

    Como urn menino de minha casa estivesse urn pouco adoentado n a ~ l L I l ' I i 'momento, sugeri que Kamanga 0 operasse, dizendo a Bogwozu que, sc N t ' 1 1aluno fosse capaz de realizar com sucesso a operacao, eu debom grado lh e tillria asdezlancas e deixaria que voltasse para casa na manha seguinte. Bogw/\~IIpreparou urn cataplasma com a casca de kpoyo, e, enquanto Kamanga I r w i numa incisao no abdomen do menino, inseriu no cataplasma um pedacin ho d 'carvao. Eu estava sentado entre Kamanga e Bogwozu. Quando 0 profcsaupassou 0 cataplasma para seu aluno, peguei-o para passa-Ic a Kamanga, l' 1 10faze-lo procurei 0 objeto que continha e 0 removi, fingindo examinar 0 liplIde material de que era feito 0 cataplasma. Nao tenho certeza se Bogwozu v JIIOque eutinha feito, mas acho que suspeitou deminhas intencoes ao pegar ()C IItaplasma, pois ele certamente pareceu desconfiado. Kamanga teve uma cil 'NIIgradavel surpresa quando, depois de massagear 0 abdomen de seu paci '1111'par cima do cataplasma, do modo usual, nao encontrou ali nenhum objero II'bruxaria. Enquanto Kamanga procurava identificar qualquer pedacinho l i t 'materia vegetal no cataplasm a como um objeto de bruxaria, vi com 0 canlndo olho Bogwozu movendo a palma da mao no solo, procurando outro p c d u

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    I. I

    fi a b a m , a s PC~S\)111 111 ', ( II 1 1l ) Il l ' OM u d l v l n h o s N \(J h Iw l 'lII'II(IOI" , 11 11 1 1 11 V '1t illde e a droga q ue r .a lm 1 1 1 " 'u r n , .. por C < 1 L I . ~ i l d i lu q u c iH I)'N ( I l l ( I ' IluliN pIIIII~adiv inhos ficam boas. As p es so as p en sa 11 1 q l ie a L I ra B e I 'l lY ; p ' I U l ' X II' I( 1 0 dC' 1 1 1 1 1tos.e soosadivinhos sabem qu e e a droga que ura as I, s SO ( 1s . I' :I (1 ~ n n o H ll h "1 11 t il lverdade porque apenas osadivinhos a detern, e guardn m scgrcdo. N lio IIe II111 II~palhando seu conhecimento, mas contain-no apenas para aqucl s que 1 1 1 1 1 ( ' , 1 1 1 1meram das drogas, porque seu tratamento e f ingido.

    Senti urn pouco de pena de Kamanga nessa ocasiao. El e sernprc mOH 1 1 ' 1 1(IIuma fesublime nos adivinhos; nao havia argumentos que 0irnpress iunasseru ,pois sempre retorquia que a sugestao de fraude era velha e cobria apcnu s 1 1 1 1 1 1 1parte dos fen6menos. Alem disso, ele nuncase convenceu de que os adiviuluntrapaceassem, ate que setornou ele mesmo urn adivinho. Entao soube 1 1 I I ' I l ldos aqueles que conhecia enganavam os pacientes, mas ainda assim P

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    e xp li ar 0 11 10 O S 10 'I ll '8 S l 0 J .v udos a ' I' ' I" .rc m : k lo III'l lOll pn r U I JI ( 11 11 1la tao. Mas e le e s t e v e do en t e , fo i t ra ta do e 'sln b c m : 'U '1'(.' Ii ! I q u '() 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 'to 0 curou. Foi curado, nao pela terapeutica d o a dl vl nh o, IllUII p O I ' 1 1 1 1 1 1 1barganha entre este e 0 bruxo.

    8Vimos que osAzande tern consciencia dos truques praticados por SCLIS ndlv]nhos na funcao de curadores e de sua ineficiencia na funcao de adiviuhox,Como em muitos outros de seus costumes, encontrarnos aqui uma mcs 'Ill dlsenso comum e pensamento mistico. Podemos entao perguntar por que 0Sl'11so comum nao vence a supersticao,

    Uma explicacao parcial, sem duvida, deve ser buscada no treinarn 'nllldescrito por Kamanga. Esse treinamento e essencial por dois motivos. 0 pI 'meiro e que 0zande mostra uma ampla dose de ceticismo em sua atitude PUI' IIcom os curadores; estes, portanto, devem ser cuidadosos em suas prestid igi Incoes. Em segundo lugar, para 0 tratamento ser eficaze preciso que sejareal i : - ' , i ldo a maneira tradicional, que se acredita eliminar qualquer possibilidade d l'charlatanice, crenca que estimula a fe do paciente no medico. Vimos qu ' IIzande nao acredita no poder terapeutico dos adivinhos simples mente po r qu rteria uma propensao especial a crer em coisas sobrenaturais; pelo contrario,ele sempre remete qualquer ceticismo ao teste da experiencia, Se0tratamen I()e realizado de uma certa maneira - por exemplo, quando 0 capim bingb Iiusado como cataplasma -, ele ficara francamente desconfiado. Mas se0 ad]vinho senta-se num banco e requisi ta uma outra pessoa para cortar casca til'kpoyo e fazer urn cataplasma, se enxagua a boca com agua e espalma as manspara inspecao, todas as suspeitas serao afastadas. 0zande replica osjuizos ccticos de uma forma experimental e racional, fornecendo uma lista de casoque conhece em que as curas tiveram sucesso.

    Sealguem acompanhar urn adivinho numa desuas visitas, ficara convencido, se nao da validade de suas curas, ao menos de sua habilidade. Tantoquanta sepode observar, tudo 0que ele faz parece ser asclaras, e nada senotaque possa permitir a descoberta de fraude. Depois que alguern viveu algumtempo no pais zande, tera acumulado provas do valor terapeutico do trata-mento empregado pelos adivinhos. Cada nativo e capaz de extrair de sua pro-pria experiencia varios relatos convincentes de como ele ou seus parentes Camigos foram curados pela extracao de osso e minhocas do corpo. Seurn adi-vinho nao consegue curar urn zande, este busca outro, exatamente como faze-mos quando nao estamos satisfei tos com 0 tratamento do primeiro medico

    )

    I I l l 1 d ' l . 1)0111' 1 1 1 I 1 1 1 1 1 , d " , 1 I 1 A~lll ld' I I' 'I" 'lit 1 1 ' 1 1 1 1 ' I t i l l 1 1 '1 1 1 1 1 \ '1 1 1 1 'I'()tllIlll~11 I I q ll t' il l ' 1 1 1 ( ' 1 1 1 1 ' l ib n u lo uuvum 1 1 1 \ ' 1 1 ii' 1 II I I I C 'I ! i o ( ' vi Ii IVl1lt1 scus

    1 1 1 1 ' 1 1 1 1 plol l l l l lOIl i i i ' l , ( 'I ll 'U )l I N I I ' ( )~ I , d ' IH ) II i! i vnm 1 1 1 d ~ C . 1 1 1 1 1 vririas 0 a-III lilli' !It' pu 'it'lIlt'N '(jill 1 0 1 ' I' 'sl I111g0, S'Il! '()I1H'gLJir dirninuir seuI 1 1 1 1 1 1 1 I I ' 1 n ; v i o s e m H ('g uit iu v i s l t u r im s cu s p ro prio s c ura do re s e voltarem1 1 1 1 1 It 1 1 1 I < l 1 l l ' i l lv ] Idos , S ' I IlH) . u r udos , Portan to, devcmos te r em mente que, aI " 10 fb i ' hn r lu l 'i ll li ' ( ,:d os a d iv i nh o s , se u sme t o d o s tern urn sucesso relativo.

    l\ Ifill (' I r s us !' n tn da t am b e m de outras maneiras. 0 ritmo, as formasI1 I 1 1 1 1 t liI~'n9!0 .ontcudo das profecias, tudo isso ajuda a criar a fe nos adivi-tlil! 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 'xpli a inteiramente a crenca. Apenas 0 peso da tradicao pode

    I It I l) It!i vl nh o s s e m p r e fizeram parte da cultura zande. Eles f igu ram nas1 1 1 1 . I 1 I 1 I H U H t rnd icoes nacionais. Assessoes que promovem sao urn dos pou-

    I I'll de I' 'ul1iao social mais ampIa que a vida em familia, e desde peque-t I I 1 1 ' I 1 1 1 ~ a s tomam parte nelas, como espectadoras, coro, tamborileiras.

    .uu] 'Ill 0 oncebem seu mundo sem os adivinhos, assim como nos nao' 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 H )S conceber 0 nosso sem medicos. Ja que existe bruxaria, natural-

    I t I I I" " 1st 'In adivinhos. Nao seincentiva 0agnosticismo; todas as crencas se' " 1 1 , 1 1 1 1 1 mutuamente, e se urn zande tivesse que desacreditar dosadivinhos,1 1 ,1 1 1 '0 1 111m nte que abandonar sua fe na bruxaria enos oraculos. Uma sessao

    I , Idl l nhn a o e uma afi r r nacao publica da existencia da bruxaria; e uma dasI 1 1 1 1 1 1 p e f u s quais se inculca e exprime a crenca na bruxaria. Igualmente osII lolltlllS' 0 parte do sistema oracular. Junto com 0oraculo de atr ito, des

    IIIJlI 1 1 ' 1 1 1 questoes para 0 oraculo de veneno, que corrobora suas revelacoes.1 1 1 1 1 , d crencas, cada fio depende dos outros, e 0 zande nao pode sair do

    1 1 1 ,1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 0 porque esse e 0 unico mundo que conhece. A teia nao e uma es-1 1 1 1 1 1 1 I cx t e r n a em que ele esteja encerrado; e a textura mesma de seu pensa-I nlll C ele nao pode pensar que seu pensamento esta errado. Contudo,1 1 1 - II t 1 1 as nao estao dadas absolutamente, mas sao variaveis e flutuam paraIII Itil H Ia diferentes situacoes, permitindo a obs e r va cao empirica e ate mes-lif II"IIIvida.

    911111 1 1 parte da i n i c i a c a o de urn adivinho que devo descrever e seu e n t e r r a -I1 1 1 1 1 r i t u a l , Testemunhei essa cerimonia em duas ocasioes, a segunda dasII ' II quando Kamanga foi iniciado.

    I ) Iprimeira vez que vi uma iniciacao, os adivinhos, apos dancarem porI 1 1 1 1 I .avaram uma cova no centro da residencia em que se realizava a ceri-I ulu , dono do sitio aproximou-se do buraco com suas esposas e com 0

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    p 1 1d o ln lchu l . A ll ~ I I II 0111 I II IIH) II 11111H I I ~ dli 'IV ) I I II "PI'tJl! II!! h IIpara ab ;n~Olll' 1 'UJ'I'.lru PI'(lIl~Hill lid d~1IIIIV \,11,I) ullvlnho tlill () d 1 1 1 ~ ! Iram . M ais tarde VCI:t()I'UII1 dt'()!J,IN d 111111 '1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 0 dt ~ f ' u l l H l s po r $ o b l ' \ ' liMdedos dos pes e da s rnaos do novlco. I I , N P I ' III ' 1 '1 1 11 1 1 1 11 1 p ou co d 'sse l l q u ido 111111narinas do novice, que se CllrVOL!. para li ell'llk puru Ill;cscorrcssc, P OI' 1 111 1pingaram a droga em seus olhos. El e dci tou-se intno de barriga para bu ixu ,com aparte superior do corpo para dentro do buraco, coberta com uma cstclra sobre a qual se amontoara urn bocado de terra; a parte inferior do corposobressaia acima do buraco. Permaneceu nessa posicao por meia hora, (;11quanta os adivinhos dancavam e saltavam sobre seu corpo. Urn ou outro ellfiava a cabeca debaixo da esteira para falar ao novice enterrado. Por fim ele 1'(11erguido, exausto, elevado a urn assento de folhas proximo aOterreiro de dnnca. A iniciacao de Kamanga foi conduzida de forma semelhante.

    Essacerimonia traz a marca tipica das cerimonias de iniciacao. 0 neofitnfica em estado de interdicao por dois ou tres dias antes da realizacao do rilo;usa uma corda fei ta da entrecasca da arvore dakpa presa a cintura; abstern-scde intercurso sexual e devaries alimentos. Passa entao por uma encenacao ri-tual da morte, enterro e ressurreicao (embora urn zande nao descrevesse ace-rimonia desta forma).

    Depois de iniciado, 0 adivinho toma urn nome que so usa profissional-mente, quando esta adivinhando ou curando. Assim, Badobo, como seu rival,era chamado de Bogwozu; Kamanga, como 0chefe de nosso aldeamento, to-mou 0nome de Bowe; Ngbaranda, outro de nossos adivinhos da vizinhanca,passou a chamar-se Semene; e assim por diante.

    l 'A f l l' I ' I I I , l l V II

    () tl l~ ('W d o ad iv inhosn a s oc ied a de za n d e

    II IlIllIdlvinb() arguto e uma pessoa importante na sociedade zande. Ele pode" 1 1 1 1 ' 1 .1 1 ' e combater a bruxaria , que para 0 zande e uma ameaca onipresente.I'lIdl' c u r a r os enferrnos e alertar aqueles sobre quem pairam perigos iminen-" II. II um dos meios pelos quais a lavoura e a caca respondem com seus frutosm lm b alh o humano, pois grayas it sua magia elas sao protegidas da bruxaria'1"11 d is t roi qualquer empresa. A magia da-lhe 0 poder de enxergar dentro do ,I Ill' I~'nodos homens e de revelar suas intencoes malignas. E verdade que urnlid v l nbo pode ser igualmente urn bruxo. Nesse caso, possui mangu e ngua,11I1I !\ f1ria e magia; pode ferir ou proteger, matar ou curar . E portanto alguem'Ill I' quer respeito; e ja vimos como esse respeito e exigido durante as ses-III' .quando 0 bruxo obriga aspessoas a the dar atencao, adquirindo status deuutur idade naquele momento. Creio que nenhum zande pode estar absoluta-1III'nke certo de nao ser urn bruxo, e assim ninguem pode estar certo de queun o t: ~' a0nome revelado durante a sessao. Esta e uma condicao que indubita-V - lmen t e aumenta 0prestigio dos adivinhos. Depois de ter observado muitasV ii, 'II 0 comportamento das pessoas nas sessoes, estou certo de que elas ficamIllf erto ponto amedrontadas e excitadas com a encenacao. A bruxaria estaI 'l Ilnndo por ali mesmo, pois e vista pelos adivinhos que a atacam com suasIIIgas, a magia esta agindo, dardos magicos cruzam 0ar; os dancarinos estao1 1 I 1 1 l l estado de exaltacao frenetica, 0 que produz uma reacao semelhante naIIlciliencia;uma batalha entre dois poderes espirituais - magia e bruxaria-dt'Benrtlla-se diante dos olhos de todos. Nessa situacao, 0adivinho esta exer-endo sua maior influencia. Pois, quando nao esta desempenhando tal funcaotil' magico, sua posicao social nao e superior a de qualquer outro cidadao co-ImLlTI. Seu prestigio depende menos da pratica do oficio em si que de suaIt'l\iutac;:aopessoal ao desempenha-lo. Hoje ha muitos profissionais, mas pou-n s chegam a uma situacao de proeminencia. Alern disso, a fama nao sebaseiaup e n a s no conhecimento restrito da arte da adivinhacao e do curandeirismo,I1U1S tambem no fato de urn adivinho famoso ser tambem urn magico famosoob outros aspectos. Muitos dos que funcionam como adivinhos tambem

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