BUROCRACIA PÚBLICA E REFORMA GERENCIAL - 3º ADM · A burocracia pública brasileira, associada...

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____________ Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas. [email protected] - www.bresserpereira.org.br . Agradeço aos comentários de Mariane Nassuno. BUROCRACIA PÚBLICA E REFORMA GERENCIAL Luiz Carlos Bresser-Pereira Revista do Serviço Público, número comemorativo dos 50 anos. Versão de 11 de agosto 2007. A alta burocracia pública profissional passa a fazer parte das classes dirigentes brasileiras a partir dos anos 1930. Durante cinqüenta anos ela estará basicamente associada à burguesia industrial na liderança e promoção de um extraordinário processo de industrialização ou desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, na sua condição de classe administrativa, realiza a reforma do aparelho do Estado: primeiro, ainda nos anos 1930, promovendo a Reforma Burocrática que visava torná-lo mais profissional e efetivo, e mais tarde, a partir dos anos 1990, engajando-se na Reforma Gerencial que visa tornar esse aparelho mais eficiente ao tornar as agências mais autônomas e seus administradores, melhor responsabilizados perante a sociedade. Esta segunda reforma, entretanto, ocorreu em um quadro político e econômico adverso. A estratégia nacional-desenvolvimentista que servira de bandeira para as duas classes entrou em crise nos anos 1980, no bojo de uma grande crise da dívida externa. Sem rumo, não apenas a economia mas a própria sociedade brasileira entra em crise, que se ‘resolve’, a partir do início dos anos 1990: os empresários industriais e a burocracia pública deixam de liderar o processo econômico e político, cedendo lugar a uma coalizão de rentistas, agentes do setor financeiro, e interesses estrangeiros que adotam a ortodoxia convencional – o conjunto de diagnósticos e recomendações originárias no Norte – como política econômica. Sem estratégia nacional de desenvolvimento, a economia do país entra em regime de quase- estagnação. Nesta nova conjuntura social e política, não há espaço nem para os empresários nacionais nem para a burocracia pública. Não obstante esse quadro, a Reforma Gerencial de 1995, conduzida pela burocracia pública e apoiada pela sociedade, avança primeiro a nível federal, e depois, nos Estados e grandes municípios. E dá um novo sentido de missão a todos

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  • ____________ Luiz Carlos Bresser-Pereira professor emrito da Fundao Getlio Vargas. [email protected] - www.bresserpereira.org.br. Agradeo aos comentrios de Mariane Nassuno.

    BUROCRACIA PBLICA E REFORMA GERENCIAL

    Luiz Carlos Bresser-Pereira

    Revista do Servio Pblico, nmero comemorativo dos 50 anos. Verso de 11 de agosto 2007.

    A alta burocracia pblica profissional passa a fazer parte das classes dirigentes brasileiras a

    partir dos anos 1930. Durante cinqenta anos ela estar basicamente associada burguesia

    industrial na liderana e promoo de um extraordinrio processo de industrializao ou

    desenvolvimento econmico. Ao mesmo tempo, na sua condio de classe administrativa,

    realiza a reforma do aparelho do Estado: primeiro, ainda nos anos 1930, promovendo a

    Reforma Burocrtica que visava torn-lo mais profissional e efetivo, e mais tarde, a partir dos

    anos 1990, engajando-se na Reforma Gerencial que visa tornar esse aparelho mais eficiente ao

    tornar as agncias mais autnomas e seus administradores, melhor responsabilizados perante a

    sociedade. Esta segunda reforma, entretanto, ocorreu em um quadro poltico e econmico

    adverso. A estratgia nacional-desenvolvimentista que servira de bandeira para as duas

    classes entrou em crise nos anos 1980, no bojo de uma grande crise da dvida externa. Sem

    rumo, no apenas a economia mas a prpria sociedade brasileira entra em crise, que se

    resolve, a partir do incio dos anos 1990: os empresrios industriais e a burocracia pblica

    deixam de liderar o processo econmico e poltico, cedendo lugar a uma coalizo de rentistas,

    agentes do setor financeiro, e interesses estrangeiros que adotam a ortodoxia convencional o

    conjunto de diagnsticos e recomendaes originrias no Norte como poltica econmica.

    Sem estratgia nacional de desenvolvimento, a economia do pas entra em regime de quase-

    estagnao. Nesta nova conjuntura social e poltica, no h espao nem para os empresrios

    nacionais nem para a burocracia pblica. No obstante esse quadro, a Reforma Gerencial de

    1995, conduzida pela burocracia pblica e apoiada pela sociedade, avana primeiro a nvel

    federal, e depois, nos Estados e grandes municpios. E d um novo sentido de misso a todos

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    que dela participam. Por outro lado, a partir do incio dos anos 2000, o sistema hegemnico

    por trs da ortodoxia convencional entra em declnio, sacudido pelo fracasso de suas reformas

    que contrastam com o xito dos pases principalmente os asiticos que as rejeitaram e

    adotaram estratgias nacionais de desenvolvimento. Abre-se, assim, uma oportunidade para

    que uma nova coalizo nacional se forme, envolvendo empresrios industriais, burocracia

    pblica e trabalhadores, e que um novo desenvolvimentismo substitua a ortodoxia

    convencional.

    Neste trabalho, porm, meu escopo no to amplo como aquele sugerido no pargrafo

    anterior. Meu foco de ateno ser o papel poltico e gerencial da burocracia pblica brasileira

    desde o incio dos anos 1990. Para isto preciso distinguir a burocracia pblica do aparelho

    ou organizao do Estado; e importa adotar uma posio clara em relao a um problema por

    natureza ambguo e dialtico que o da relao entre sociedade e Estado. A burocracia

    pblica foi no passado um mero estamento, e hoje um setor da classe profissional ou

    tecnoburocrtica; sempre foi a responsvel pela administrao do aparelho do Estado, e, em

    muitos momentos, um ator importante na definio de suas polticas.1 Ao mesmo tempo em

    que um grupo de interesses como qualquer outro que pressiona o Estado, a burocracia

    pblica constitui ou integra o aparelho do Estado. Por isso, freqente a confuso entre o

    Estado e a prpria burocracia pblica, e a atribuio ao Estado de uma autonomia relativa.

    Se o Estado fosse a sua burocracia, quando esta tivesse muito poder seria legtimo em se falar

    em autonomia do Estado. A burocracia pblica, porm, apenas um dos setores sociais que

    buscam influenciar o Estado. Por outro lado, o Estado muito mais do que um simples

    aparelho ou organizao: o sistema constitucional-legal a ordem jurdica e a organizao

    que a garante. E, nessa qualidade, o Estado o instrumento de ao coletiva da nao. Suas

    leis e polticas so o resultado de um complexo sistema de foras sociais, entre as quais a

    burocracia pblica apenas uma delas. O Estado, portanto, jamais autnomo; ele reflete ou

    expressa a sociedade. O que pode acontecer a burocracia pblica lograr um poder

    desproporcional em relao s demais classes dirigentes quando estas estiverem divididas.

    Nesses momentos a elite burocrtico-poltica aumenta seu poder em relao s demais classes,

    1 Fiz a anlise da classe tecnoburocrtica principalmente em Bresser-Pereira (1981) A Sociedade Estatal e a

    Tecnoburocracia.

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    e se afirma que o Estado ganhou autonomia. Na verdade, o que ocorreu foi que as outras

    classes que compem a sociedade momentaneamente perderam poder relativo para a

    burocracia pblica na determinao das polticas, na definio de seu sistema legal e na

    maneira de implement-lo. Em qualquer hiptese, o Estado a instituio mais abrangente de

    cada Estado-nao, j que a prpria ordem pblica e a organizao que a garante. Mas em

    nome de quem essa ordem definida e garantida? Essencialmente, em nome das trs classes

    bsicas das sociedades capitalistas contemporneas: a capitalista, a tecnoburocrtica ou

    profissional, e a trabalhadora. O poder dessas classes, naturalmente, variar historicamente:

    quanto mais democrtico for um pas, menos poder tero os capitalistas e mais poder tero os

    trabalhadores na prpria sociedade, e, em conseqncia, no Estado. Em qualquer hiptese,

    porm, os dois setores sociais que detero maior poder poltico sero o dos grandes

    capitalistas e a alta burocracia pblica, que tambm pode ser simplesmente denominada

    burocracia poltica j que, alm dos servidores em sentido estrito, inclui os polticos eleitos

    que vivem de pagamentos do Estado. A aliana entre esses dois setores sociais muitas vezes

    identificada na literatura da sociologia poltica e do desenvolvimento econmico como uma

    aliana entre os empresrios e o Estado, ou, na linguagem americana, como uma coalizo

    entre business and government. No Brasil, essa aliana deu origem ao nacional

    desenvolvimentismo a uma bem sucedida estratgia nacional de desenvolvimento.

    A burocracia pblica brasileira, associada aos empresrios industriais, foi, entre 1930 e 1986,

    parte integrante da elite dirigente ou do pacto poltico nacional-desenvolvimentista que

    promoveu a industrializao brasileira. Ao mesmo tempo, envolveu-se profundamente na

    Reforma Burocrtica de 1937. Entretanto, a partir do colapso, em 1986, do Plano Cruzado e

    da coalizo poltica democrtica e nacional que liderou a campanha pelas Diretas J da qual

    uma parte importante dessa burocracia participou durante quatro anos (1987-2001) o pas

    entrou em um vcuo poltico ou vcuo de poder, at que, em 1991, no segundo governo

    Collor, se rendeu ao Norte, deixou de pensar com sua prpria cabea, e passou a adotar a

    ortodoxia convencional ao invs de contar com uma estratgia nacional de desenvolvimento.

    Por um breve momento, em 1994, o Plano Real, realizado de acordo com uma teoria da

    inflao inercial desenvolvida no Brasil, devolveu ao pas a idia de nao, mas logo em

    seguida as autoridades econmicas voltaram a se subordinar s idias vindas de Washington e

    Nova York. Em conseqncia, a clssica aliana nacional-desenvolvimentista, rompida em

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    1986, foi, no incio dos anos 1990, substituda por uma nova coalizo poltica formada de

    rentistas, setor financeiro, empresas multinacionais e interesses estrangeiros no Brasil, os dois

    primeiros grupos, beneficiados com as altas taxas de juros que passam a prevalecer, os dois

    ltimos, com as taxas de cmbio apreciadas. Empresrios e burocracia pblica ficaram fora do

    poder. No estou, entretanto, pessimista. A hegemonia neoliberal e globalista est em

    declnio, e um espao est se abrindo para que a nao se reconstitua, para que polticas

    nacionais seja adotadas, e que, no quadro da grande competio entre naes que a

    globalizao, o Brasil volte a competir com xito ou a se desenvolver.

    Reforma gerencial em um quadro de crise

    Entre 1987 e 1991 o Brasil viveu sob profunda crise: crise econmica de alta inflao, de

    moratria da dvida externa; mas crise principalmente poltica, porque marcava o fim da

    aliana histrica entre os grandes empresrios industriais e a burocracia poltica, e a

    substituio, na direo do pas, dessas duas classes pelos grandes rentistas, que vivem de

    juros, pelos agentes financeiros, que vivem de comisses pagas pelos rentistas, pelas empresas

    multinacionais, que agora haviam se apoderado de grande parte do mercado interno brasileiro

    e se interessavam por cmbio apreciado para enviarem maiores rendimentos para o exterior, e

    pelos interesses estrangeiros no Brasil, igualmente favorecidos pela taxa de cmbio no

    competitiva.

    No plano da poltica econmica e das reformas, a abertura comercial foi apressada e radical

    ignorando-se que as tarifas aduaneiras no tinham como papel apenas proteger uma indstria

    que deixara de ser infante, mas principalmente neutralizar a apreciao do cmbio causada

    pela doena holandesa2 e pela poltica de crescimento com poupana externa.

    3 Esta poltica

    transformada na grande poltica de desenvolvimento a partir da justificativa equivocada que

    o Brasil no tem mais recursos para financiar seu desenvolvimento econmico. Na verdade,

    ela s causaria o aumento artificial dos salrios e do consumo interno, e a substituio da

    2 A doena holandesa uma falha de mercado que leva os pases dotados de amplos e baratos recursos naturais a

    verem sua taxa de cmbio se apreciar de maneira a tornar no competitiva e, dependendo da gravidade da apreciao, inviabilizar atividades industriais operando no estado da arte da tecnologia.

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    poupana interna pela externa, ao mesmo tempo em que endividava o pas. Por outro lado, a

    abertura financeira, com a liberao completa dos movimentos de capital, foi adotada em

    1991 o que levou o pas a perder o controle de sua taxa de cmbio. As privatizaes foram

    tambm aprofundadas, eliminando-se a reserva para o capital nacional que existia para os

    servios pblicos monopolistas; a desnacionalizao dos bancos comerciais passa a ser

    permitida. Os resultados so uma profunda desnacionalizao da economia brasileira, duas

    crises de balano de pagamentos, e baixas taxas de crescimento, no obstante, a partir do

    incio dos anos 2000, um enorme aumento dos preos das commodities exportadas pelo Brasil

    permitisse que, em cinco anos, as exportaes dobrassem.

    Em meados dos anos 1990 os empresrios industriais estavam marginalizados e a burocracia

    pblica via negado tudo o que fora levada a acreditar no perodo desenvolvimentista. O

    aparelho do Estado era agora dirigido por uma equipe econmica constituda de economistas

    estranhos burocracia pblica que haviam realizado PhD nos Estados Unidos e voltavam para

    trabalhar no mercado financeiro. Por outro lado, durante o governo Collor, havia sido

    realizada uma tentativa de desmonte do aparelho do Estado inspirada no mesmo

    neoliberalismo e na mesma ortodoxia convencional que orientava a poltica econmica.

    nesse quadro desfavorvel que ter incio, no governo Fernando Henrique Cardoso, a

    Reforma Gerencial ou Reforma da Gesto Pblica de 1995. Essa reforma, que coube a mim e

    minha equipe no MARE (Ministrio da Administrao Federal e Reforma do Estado)

    idealizar e implementar, era uma imposio histrica para o Brasil, como para todos os

    demais pases que haviam nos cinqenta anos anteriores montado um Estado do Bem Estar. O

    grande crescimento que o aparelho do Estado se impusera para que pudesse garantir os

    direitos sociais, exigiam que o fornecimento dos respectivos servios de educao, sade,

    previdncia e assistncia social fosse realizado com eficincia. Esta eficincia tornava-se,

    inclusive, uma condio de legitimidade do prprio Estado e de seus governantes. Na medida

    em que a reforma gerencial a segunda grande reforma administrativa do aparelho do Estado

    capitalista, sua adoo por ns, como para todos os pases de renda mdia e alta, era apenas

    uma questo de tempo. Uns avanam, outros se atrasam. O Brasil, em 1995, saiu na dianteira

    3 Poupana externa dficit em conta corrente; quando um pas incorre em dficit em conta corrente sua taxa de

    cmbio se aprecia em relao quela que existira se houvesse equilbrio em conta corrente.

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    dos pases em desenvolvimento, e se antecipou a alguns pases ricos como a Frana e a

    Alemanha.

    Reformas gerenciais j vinham ocorrendo em alguns pases desenvolvidos desde a dcada

    anterior, como resposta ao fato de que a transio do Estado Liberal para o Estado

    Democrtico no comeo do sculo XX havia levado ao aumento do tamanho do Estado e,

    portanto, sua transformao em um Estado Democrtico e Social. Por outro lado, a

    globalizao que ento ganhava momentum aumentava de forma extraordinria a competio

    entre os Estados-nao e obrigava suas empresas e seus servios pblicos a se tornarem mais

    eficientes. A administrao pblica burocrtica e sua burocracia weberiana eram adequadas

    para um pequeno Estado Liberal; no quadro dos Estados democrticos e sociais do final do

    sculo; em um mundo mais competitivo do que em qualquer outra poca de sua histria, no

    havia alternativa seno enveredar pela reforma da gesto pblica ou reforma gerencial.

    A necessidade de mudana comea a ficar clara durante o governo Collor um governo

    contraditrio que comea fazendo a afirmao do interesse nacional, mas afinal se curva

    ortodoxia convencional, que dar passos decisivos no sentido de iniciar as necessrias

    reformas orientadas para o mercado, mas comete equvocos graves. Na rea da administrao

    pblica, as tentativas de reforma do governo Collor foram equivocadas ao confundir como a

    direita neoliberal que ento chegava ao poder o fazia reforma do Estado com corte de

    funcionrios, reduo dos salrios reais, e diminuio a qualquer custo do tamanho do Estado.

    A burocracia pblica, que havia visto o aparelho do Estado ser enrijecido e formalizado

    durante o retrocesso burocrtico que ocorreu em torno da Constituio de 1988, resistia o

    quanto podia s reformas atabalhoadas do governo. Quando Itamar Franco chega ao poder,

    essas reformas foram corretamente abandonadas. A onda ideolgica neoliberal vinda do

    Norte, entretanto, tornara-se dominante na sociedade e a presso contra o Estado e sua

    burocracia apenas aumentava.

    Estava claro, porm, para mim que a grande crise que o pas enfrentava desde os anos 80 era

    uma crise do Estado uma crise fiscal, administrativa e de sua forma de interveno na

    economia. Era uma crise que enfraquecia o Estado e abria espao para que a ideologia

    neoliberal vinda do Norte o enfraquecesse ainda mais. A soluo para os grandes problemas

    brasileiros no era substituir o Estado pelo mercado, como a ideologia liberal propunha, mas

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    reformar e reconstruir o Estado para que este pudesse ser um agente efetivo e eficiente de

    regulao do mercado e de capacitao das empresas no processo competitivo internacional.

    Dessa forma, no MARE, no demorei em fazer o diagnstico e definir as diretrizes e objetivos

    da minha tarefa. Comeava ento a Reforma Gerencial de 1995. No fui eu quem solicitou a

    mudana de status e de nome do ministrio, mas esta mudana provavelmente fazia sentido

    para o presidente: desta forma ele fazia um desafio ao novo ministro, e equipe que eu iria

    reunir em torno de mim. A resposta ao desafio foi elaborar, ainda no primeiro semestre de

    1995, o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado e a emenda constitucional da

    reforma administrativa, que afinal seria aprovada trs anos depois (Emenda 19). Tomvamos

    como base as experincias recentes em pases da OCDE, principalmente no Reino Unido,

    onde se implantava a segunda grande reforma administrativa da histria do capitalismo a

    reforma gerencial do final do sculo XX. As novas idias estavam ainda em formao; surgira

    no Reino Unido uma nova disciplina, a new public management, que, embora influenciada

    por idias neoliberais, de fato no podia ser confundida com as idias da direita; muitos pases

    social-democratas da Europa estavam envolvidos no processo de reforma e de implantao de

    novas prticas administrativas. O Brasil tinha a oportunidade de participar desse grande

    movimento, e constituir-se no primeiro pas em desenvolvimento a fazer a reforma.

    Quando as idias foram inicialmente apresentadas, em janeiro de 1995, a resistncia foi muito

    grande (Bresser-Pereira, 1999), principalmente porque eram idias novas, e tambm porque

    elas pareciam neoliberais e contra os interesses dos servidores pblicos. Tratei, entretanto, de

    enfrentar essa resistncia da forma mais direta e aberta possvel. O tema era novo e complexo

    para a opinio pblica, e a imprensa tinha dificuldades em dar ao debate uma viso completa e

    fidedigna. No obstante, a imprensa serviu como um maravilhoso instrumento para o debate

    das idias. Minha estratgia principal era atacar a administrao pblica burocrtica, ao

    mesmo tempo em que afirmava a importncia do servio pblico, defendia as carreiras de

    Estado e mostrava a relao direta da reforma que estava propondo com o fortalecimento da

    capacidade gerencial do Estado. Dessa forma confundia meus crticos que afirmavam que eu

    agia contra os burocratas pblicos, quando eu procurava fortalec-los, conferir-lhes maior

    capacidade de ao e torn-los responsabilizados. Em pouco tempo, um tema que no estava

    na agenda do pas assumiu o carter de um grande debate nacional. Os apoios de servidores,

    de polticos principalmente de governadores e de prefeitos e de intelectuais no tardaram,

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    e afinal quando a reforma constitucional foi promulgada, em abril de 1998, formara-se um

    quase-consenso sobre sua importncia para o pas, agora fortemente apoiada pela opinio

    pblica, pelas elites formadoras de opinio, e em particular pela alta burocracia pblica.

    Estava claro que a reforma beneficiava a maioria dos altos administradores pblicos

    existentes no pas que so dotados de competncia tcnica e esprito pblico. A reforma havia

    conquistado o corao e as mentes da alta burocracia que, ao contrrio do que afirma a teoria

    da escolha racional, no faz apenas compensaes entre o seu desejo de ficar rica via

    corrupo e o de subir na carreira, mas na sua maioria faz compensaes entre este segundo

    objetivo e o de contribuir para o interesse pblico.

    Para realizar a reforma dois instrumentos foram usados: de um lado, o Plano Diretor da

    Reforma do Aparelho do Estado, de outro, uma emenda constitucional. A reforma

    constitucional foi parte fundamental da Reforma Gerencial de 1995 j que esta implicava

    mudanas institucionais fundamentais. Muitas mudanas institucionais, porm, foram de

    carter infraconstitucional. Mas mesmo no plano legal a reforma excedeu em muito a Emenda

    19. Quando, por exemplo, em 1997, as duas novas instituies organizacionais bsicas da

    reforma, as agncias executivas (instituies estatais que executam atividades exclusivas de

    Estado) e principalmente as organizaes sociais (instituies hbridas entre o Estado e a

    sociedade que executam os servios sociais e competitivos) foram formalmente criadas, isto

    no dependeu de mudana da Constituio. Grandes alteraes tambm foram realizadas na

    forma de remunerao dos cargos de confiana, na forma de recrutar, selecionar e remunerar

    as carreiras de Estado, sem que para isso fosse necessrio mudar a Constituio. Por outro

    lado, algumas das leis complementares Emenda 19, como aquela que define as carreiras de

    Estado e aquela que, a partir da anterior, estabelece os critrios de demisso por insuficincia

    de desempenho, no foram ainda aprovadas pelo Congresso. O documento essencial para a

    reforma, entretanto, foi o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que continha o

    diagnstico e toda a lgica da reforma que ento se iniciava. Fernando Abrucio (2007: 5)

    observou recentemente que os principais avanos obtidos pela Reforma Gerencial de 1995 se

    deram no processo de complementao da Reforma Burocrtica de 1937:

    a maior mudana realizada foi, paradoxalmente, a continuao e aperfeioamento da civil service reform, por mais que o discurso do Plano Diretor da Reforma do Estado se baseasse numa viso (erroneamente) etapista com a reforma gerencial vindo depois da burocrtica. Houve uma grande reorganizao administrativa do Governo Federal, com destaque para a melhoria substancial das

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    informaes da administrao pblica antes desorganizadas ou inexistentes e o fortalecimento das carreiras de Estado. Um nmero importante de concursos foi realizado e a capacitao feita pela ENAP, revitalizada. Em suma, o ideal meritocrtico contido no chamado modelo weberiano no foi abandonado pelo MARE; ao contrrio, foi aperfeioado.

    Abrucio est correto quando mostra que a Reforma Gerencial de 1995 tinha um aspecto

    burocrtico. No havia, porm, nada de paradoxal nisto. A nfase que dei ao ncleo

    estratgico do Estado e a realizao de concursos pblicos anuais para todas as carreiras

    burocrticas tinham deliberadamente este objetivo. A reforma no foi uma mera cpia da

    Nova Gesto Pblica. Foi uma adaptao criativa das reformas de gesto pblica que estavam

    acontecendo em alguns pases ricos, com o desenvolvimento de uma srie de conceitos e de

    um modelo estrutural que no estavam presentes ou estavam mal definidos na literatura

    europia e americana a respeito.

    A Reforma Gerencial de 1995 tem trs dimenses: uma institucional, outra cultural, e uma

    terceira de gesto.4 A prioridade, naturalmente, cabia mudana institucional, j que uma

    reforma em primeiro lugar uma mudana de instituies. Para realiz-la foi necessrio que,

    antes, se realizasse um debate nacional no qual a cultura burocrtica at ento dominante foi

    submetida a uma crtica sistemtica, ao mesmo tempo em que se acentuavam dois aspectos da

    reforma: a nova estrutura do aparelho do Estado que se estava propondo, baseada em ampla

    descentralizao para agncias e organizaes sociais, e a nova forma de gesto apoiada no

    mais em regulamentos rgidos, mas na responsabilizao por resultados atravs de contratos

    de gesto.

    A Reforma Gerencial de 1995 baseia-se em um modelo que implica mudanas estruturais e de

    gesto. A reforma no estava interessada em discutir o grau de interveno do Estado na

    economia, uma vez que j se chegou a um razovel consenso sobre a inviabilidade do Estado

    mnimo e da necessidade da ao reguladora, corretora, e estimuladora do Estado. Ao invs de

    insistir nessa questo, a reforma partiu de uma serie de perguntas de carter estrutural que

    4 Para a formulao e incio da implementao da Reforma Gerencial de 1995, alm de escrever, com a ajuda de

    assessores, o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, escrevi diversos trabalhos publicados principalmente na Revista do Servio Pblico. Sintetizei esses trabalhos e as primeira realizaes da reforma no livro Reforma do Estado para a Cidadania (1998). Ainda no perodo 1995-98, ver o livro organizado por Vera Petrucci e Letcia Schwarz, orgs. (1998), e o trabalho de Indermit Gill (1998). Hoje existe uma enorme bibliografia sobre a reforma.

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    tinham como pressuposto gerencial o fato de que a descentralizao, a conseqente autonomia

    dos gestores, e a sua responsabilizao por resultados tornam os gestores e executores mais

    motivados e as agncias mais eficientes. As perguntas de carter estrutural eram: primeiro,

    quais so as atividades que o Estado hoje executa que lhe so exclusivas, envolvendo poder

    de Estado? Segundo, quais as atividades para as quais, embora no exista essa exclusividade,

    a sociedade e o Estado consideram necessrio financiar (particularmente servios sociais e

    cientficos)? Finalmente, quais as atividades empresariais, de produo de bens e servios

    para o mercado? A resposta a essas perguntas dependia da existncia de uma terceira forma de

    propriedade no capitalismo contemporneo, alm da propriedade privada e da estatal: a

    propriedade pblica no-estatal que assume cada vez maior importncia nas sociedades

    contemporneas. A partir dessas perguntas e da dicotomia da administrao burocrtica x

    gerencial, foi-me possvel construir o modelo estrutural da reforma. Os Estados modernos

    contam com trs setores: o setor das atividades exclusivas de Estado, dentro do qual esto o

    ncleo estratgico e as agncias executivas ou reguladoras; os servios sociais e cientficos,

    que no so exclusivos mas que, dadas as externalidades que possuem e os direitos humanos

    que garantem, exigem forte financiamento do Estado; e, finalmente, o setor de produo de

    bens e servios para o mercado. Considerados estes trs setores, a reforma estabeleceu trs

    perguntas adicionais: que tipo de administrao, que tipo de propriedade, e que tipo de

    instituio organizacional devem prevalecer em cada setor? A resposta primeira pergunta

    simples: deve-se adotar a administrao pblica gerencial. No plano das atividades exclusivas

    de Estado, porm, uma estratgia essencial reforar o ncleo estratgico, ocupando-o com

    servidores pblicos altamente competentes, bem treinados e bem pagos. A questo da

    propriedade uma questo estrutural essencial para o modelo da Reforma Gerencial. No

    ncleo estratgico e nas atividades exclusivas do Estado, a propriedade ser, por definio,

    estatal. Na produo de bens e servios h hoje, em contraposio, um consenso cada vez

    maior de que a propriedade deve ser privada, particularmente nos casos em que no haja

    monoplio mas um razovel grau de competio. No domnio dos servios sociais e

    cientficos a propriedade dever ser essencialmente pblica no-estatal. As atividades sociais,

    principalmente as de sade, educao fundamental e de garantia de renda mnima, e a

    realizao da pesquisa cientfica envolvem externalidades positivas e dizem respeito a direitos

    humanos fundamentais. So, portanto, atividades que o mercado no pode garantir de forma

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    adequada atravs do preo e do lucro. Logo, no devem ser privadas. Por outro lado, uma vez

    que no implicam no exerccio do poder de Estado, no h razo para serem controladas pelo

    Estado, nem para serem submetidas a todos os controles inerentes administrao

    burocrtica. Logo, se atividades sociais no devem ser privadas, nem estatais, a alternativa

    adotar-se o regime da propriedade pblica no-estatal, utilizar organizaes de direito

    privado mas com finalidades pblicas, sem fins lucrativos. Propriedade pblica, no sentido

    de que se deve dedicar ao interesse pblico, que deve ser de todos e para todos, que no visa

    ao lucro; no-estatal porque no parte do aparelho do Estado. As organizaes pblicas

    no-estatais podem ser em grande parte e em certos casos, inteiramente financiadas pelo

    Estado. Quando se trata, por exemplo, de um museu, ele deve ser quase integralmente

    financiado pelo poder pblico. Esta forma de propriedade garante servios sociais e

    cientficos mais eficientes do que os realizados diretamente pelo Estado, e mais confiveis do

    que os prestados por empresas privadas que visam o lucro ao invs do interesse pblico.

    mais confivel do que as empresas privadas porque, em reas to delicadas como a educao

    e a sade, a busca do lucro muito perigosa. mais eficiente do que a de organizaes

    estatais, porque pode dispensar os controles burocrticos rgidos, na medida em que as

    atividades envolvidas so geralmente atividades competitivas, que podem ser controladas por

    resultados com relativa facilidade.

    Trs instituies organizacionais emergiram da reforma, ela prpria um conjunto de novas

    instituies: as agncias reguladoras, as agncias executivas, e as organizaes sociais.

    No campo das atividades exclusivas de Estado, as agncias reguladoras so entidades com

    autonomia para regulamentarem os setores empresariais que operam em mercados no

    suficientemente competitivos, enquanto as agncias executivas ocupam-se principalmente da

    regulao de atividades competitivas e da execuo de polticas pblicas. Tanto em um caso

    como no outro, mas principalmente nas agncias reguladoras, a lei deixou espao para a ao

    reguladora e discricionria da agncia, j que no possvel nem desejvel regulamentar tudo

    atravs de leis e decretos. No campo dos servios sociais e cientficos, ou seja, das atividades

    que o Estado executa mas no lhe so exclusivas, a idia foi transformar as fundaes estatais

    hoje existentes em organizaes sociais. As agncias executivas sero plenamente

    integradas ao Estado, enquanto as organizaes sociais incluir-se-o no setor pblico no-

    estatal. Organizaes sociais so organizaes no-estatais autorizadas pelo parlamento de um

  • 12

    pas a receber dotao oramentria do poder executivo perante o qual so responsabilizadas

    atravs de contratos de gesto.

    Todas essas mudanas estruturais, entretanto, devem ser acompanhadas de mudanas no plano

    da gesto estrito senso. Enquanto a administrao pblica burocrtica enfatizava a superviso

    cerrada, o uso de regulamentos rgidos e detalhados, e a auditoria de procedimentos, a

    Reforma Gerencial enfatizar o controle por resultados, a competio administrada por

    excelncia, e a participao da sociedade no controle das organizaes e polticas do Estado.

    O instrumento que o ncleo estratgico usa para controlar as atividades exclusivas realizadas

    por agncias e as no-exclusivas atribudas a organizaes sociais o contrato de gesto. Nas

    agncias, o ministro nomeia o diretor-executivo e assina com ele o contrato de gesto; nas

    organizaes sociais, o diretor-executivo escolhido pelo conselho de administrao; ao

    ministro cabe assinar os contratos de gesto e controlar os resultados. Os contratos de gesto

    devem prever os recursos de pessoal, materiais e financeiros com os quais podero contar as

    agncias ou as organizaes sociais, e definiro claramente - quantitativa e qualitativamente -

    as metas e respectivos indicadores de desempenho: os resultados a serem alcanados,

    acordados pelas partes. A competio administrada por excelncia compara agncias ou

    unidades que realizam atividades semelhantes, de forma que os indicadores de desempenho

    derivam da prpria competio, e dos incentivos positivos que so estabelecidos. O controle

    ou a responsabilizao (accountability) social essencial para o xito da reforma baseada em

    agncias descentralizadas.

    Uma reforma bem sucedida

    Desde o incio de 1998 tornou-se claro que a Reforma Gerencial de 1995 fora bem sucedida

    no plano cultural e institucional.5 A idia da administrao pblica gerencial em substituio

    burocrtica havia-se tornado vitoriosa, e as principais instituies necessrias para sua

    implementao tinham sido aprovadas, a comear pela Emenda 19. Entretanto, estava claro

    tambm para mim que o Ministrio da Administrao Federal e Reforma do Estado, criado

    em 1995, no tinha poder suficiente para a segunda etapa da reforma: sua implementao. S

    5 Sobre o processo poltico de aprovao da reforma ver Marcus Melo (2002) e Bresser-Pereira (1999).

  • 13

    o teria se fosse uma secretaria especial da presidncia e contasse com o interesse direto do

    presidente da Repblica. Como esta alternativa no era realista, passei a defender dentro do

    governo a integrao desse ministrio no do Planejamento, com o argumento de que em um

    ministrio que controla o oramento pblico haveria poder suficiente para implementar a

    reforma. Minha proposta coincidiu com a viso do problema que tinha a Casa Civil, e acabou

    sendo aceita na reforma ministerial que inaugurou, em janeiro de 1999, o segundo governo

    Fernando Henrique Cardoso. O MARE foi fundido com o Ministrio do Planejamento,

    passando o novo ministrio a ser chamado Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto.6

    Este ministrio, ao qual foi atribuda a misso de implementar a reforma gerencial, no deu,

    porm, a devida ateno nova misso, exceto nas aes relativas implementao dos

    projetos do Plano Plurianual, PPA. Praticamente todos os ministros preocuparam-se

    exclusivamente com o oramento, deixando a gesto em segundo plano. O oramento no foi

    diretamente relacionado com o programa de gesto da qualidade. A transformao de rgos

    do Estado em agncias executivas, ou, dependendo do caso, em organizaes sociais, no

    ganhou fora a nvel federal. Os concursos pblicos anuais para as carreiras de Estado foram

    parcialmente descontinuados a ttulo de economia fiscal. Hoje estou convencido que me

    equivoquei ao propor a extino do MARE: no previa o desinteresse do ministro pelo tema

    da gesto; sua quase total concentrao no processo oramentrio. 7

    Em 2003 comea o governo Lula. O PT se opusera reforma porque a supunha neoliberal, e

    tambm porque suas bases sindicais so crescentemente de servidores pblicos de nvel mdio

    e baixo. Ora, a Reforma Gerencial de 1995, ao enfatizar a importncia do ncleo estratgico

    do Estado, e ao defender que as atividades operacionais do Estado fossem transferidas para

    organizaes sociais quando se tratassem de servios sociais e cientficos, ou simplesmente

    fossem terceirizadas se fossem atividades empresariais, reduzia substancialmente o espao

    6 O presidente disse-me ento, ao informar de sua deciso de fundir os dois ministrios, que entendia que minha

    misso na administrao federal havia sido cumprida, e me convidou para assumir o Ministrio da Cincia e da Tecnologia. Permaneci nesse cargo entre janeiro e julho de 1999, quando voltei para minhas atividades acadmicas. 7 A despeito de o Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto no ter utilizado o oramento como recurso

    de poder para alavancar a implementao da Reforma Gerencial na segunda gesto do governo Fernando Henrique Cardoso, avanos foram alcanados. Ver a respeito, Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (2002). No governo Lula, esses avanos continuaram ao nvel da burocracia pblica federal, inicialmente sem o apoio do governo; aos poucos, porm, as idias gerenciais tambm alcanaram seu nvel decisrio.

  • 14

    para a baixa e mdia burocracia pblica. O Estado devia continuar grande porque a carga

    tributria se conservaria alta, ou, em outras palavras, porque se mantinha responsvel pela

    garantia dos direitos sociais, particularmente por uma educao fundamental, por cuidados de

    sade e por uma renda bsica previdenciria, garantidos de maneira universal. Ms esses

    servios podiam ser executados em seu nome por organizaes sociais que, por definio, no

    empregam servidores pblicos. Em conseqncia, a partir de 2003 a reforma foi relativamente

    paralisada a nvel federal. Mesmo nesse nvel, porm, sua atividade social mais bem sucedida,

    a Bolsa Famlia, vem sendo administrada segundo critrios gerenciais. Por outro lado, seu

    servio social que mais emprega servidores, a Previdncia Social, vem passando por uma

    reforma em que os princpios gerenciais esto sendo adotados. Finalmente, o governo

    comeou a discutir a criao de uma fundao pblica que, caso se concretize e no conte

    com servidores pblicos, ser uma forma alterada e talvez aperfeioada de organizao social.

    Em qualquer hiptese, est claro que a Reforma Gerencial de 1995 continua viva mesmo no

    nvel federal. O fato de que esta uma reforma que corresponde ao estgio de

    desenvolvimento do Estado brasileiro a torna inevitvel. Sua garantia maior um nmero

    crescente de gestores pblicos em Braslia que sabem o quo importante ela para se

    legitimar a ao do Estado e se garantir o desenvolvimento econmico e social do pas.

    Se isto verdade a nvel federal, ainda mais a nvel estadual e municipal o que no

    surpreendente dado que os servios sociais e cientficos que envolvem grandes contingentes

    de servidores e atendem a um grande nmero de cidados so realizados nesse nvel. Nos

    Estados Unidos, conforme Osborne e Gaebler (1992) demonstraram, a reforma iniciou-se e

    avanou muito mais a nvel municipal e estadual do que federal. Isto era verdade nos anos

    1990 e continua verdade na atual dcada. No Brasil, no mbito estadual, a Reforma Gerencial

    est avanando em toda parte (Consad, 2006). Em So Paulo, por iniciativa do governador

    Mario Covas, foram criadas grandes organizaes hospitalares de sade no formato das

    organizaes sociais. Seu xito em termos de qualidade dos servios e de reduo de custos

    impressionante. Entre outros estados, em Pernambuco e em Minas Gerais, esto sendo

    realizadas reformas amplas que utilizam todos os critrios e princpios da Reforma da Gesto

    Pblica de 1995. Abrucio e Gaetani (2006: 32-33), avaliando os avanos da Reforma da

    Gesto Pblica de 1995 nos estados, encontraram efeitos em quatro nveis: o primeiro diz

    respeito ao apoio que, como ministro, dei aos encontros entre secretrios estaduais de gesto;

  • 15

    segundo, a adoo de modelos institucionais derivados da Reforma Bresser constitui uma

    segunda demonstrao de sua importncia. Hoje j existem 67 organizaes sociais em 12

    estados da federao, no ocorrendo nelas uma cpia da proposta do Plano Diretor, mas um

    estmulo imaginao institucional dos estados. Em um terceiro nvel, a partir do debate

    que se instalou durante quatro anos (1995-1998), essa concepo de reforma foi utilizada

    como pano de fundo das reformas, mesmo quando do arrefecimento desse modelo no plano

    federal. Desse caldo de cultura estabeleceu-se um referencial geral de modernizao, capaz

    de fornecer motivaes para a adoo de um novo modelo de gesto pblica... Completando o

    processo de propagao das idias presentes na Reforma Bresser, houve no quadrinio de

    2003-2006 uma migrao de tcnicos de alto escalo que tinham trabalhado no governo

    federal, especialmente no primeiro governo FHC, para os governos estaduais. Conforme

    Regina Pacheco (2006: 171, 183), quatorze estados apresentam gesto por resultados; a

    contratualizao envolveu indicadores de desempenho variados, algumas das experincias

    utilizando como indicador final o IDH (ndice de Desenvolvimento Humano) que, no entanto,

    no indicado por sua amplitude excessiva. Em um nvel mais amplo, as idias da Reforma

    Gerencial de 1995 ultrapassaram as fronteiras do pas, e, atravs do CLAD Conselho

    Latino-Americano de Administrao para o Desenvolvimento, que realiza grandes congressos

    anuais desde ento, estendeu-se para a Amrica Latina atravs da aprovao pelos ministros

    de administrao latino-americanos do documento Uma Nova Gesto Pblica para a Amrica

    Latina.8

    A implementao da Reforma Gerencial de 1995 durar muitos anos no Brasil, passar por

    avanos e retrocessos, enfrentar a natural resistncia mudana e o corporativismo dos

    velhos burocratas, os interesses eleitorais dos polticos, o interesse dos capitalistas em obter

    benefcios do Estado. Mas o essencial , de um lado, que ela corresponde ao estgio histrico

    do desenvolvimento brasileiro, e, de outro, que ela foi adotada pela alta burocracia pblica

    brasileira que sabe que seu poder e seu prestgio dependem de um Estado eficiente.

    Entretanto, a burocracia pblica s voltar a ter o prestgio e o poder que teve no perodo

    ureo do desenvolvimento brasileiro quando voltar a participar de uma nova estratgia

    8 Ver CLAD (1998). O CLAD, com sede em Caracas, rene os governos de 24 pases latino-americanos e do

    Caribe, e dos dois pases ibricos. Seu Conselho Diretivo formado pelos ministros de administrao ou

  • 16

    nacional de desenvolvimento. Levar adiante a Reforma Gerencial importante, esta um

    meio: para que a ao da burocracia pblica brasileira volte a ter pleno sentido preciso

    tambm que os objetivos de desenvolvimento econmico e social sejam restabelecidos.

    Um novo sentido de misso

    O Estado brasileiro, do ponto de vista scio-poltico, passou por vrias fases. O Estado

    Oligrquico era um Estado por definio capturado pelos interesses de classe. O Estado

    Nacional-desenvolvimentista, entre 1930 e 1984, foi um Estado de transio que promoveu a

    industrializao, realizou a Reforma Burocrtica de 1936, a partir da aliana poltica da

    burguesia industrial com a alta burocracia pblica, mas foi antes marcado pelo autoritarismo

    do que pela democracia. O Estado que hoje existe no Brasil , no plano poltico, o Estado

    Democrtico e esse foi um grande avano. Entretanto, do ponto de vista social e econmico,

    deixou de ser nacional e voltou a ser dependente: um Estado Liberal-Dependente

    incompatvel com a retomada do desenvolvimento econmico. Nele, o pacto poltico

    dominante passou a ser constitudo por uma aliana dos rentistas ou capitalistas inativos com

    o setor financeiro, as empresas multinacionais e os interesses internacionais no Brasil os

    dois primeiros grupos interessados em elevadas taxas de juro e os dois ltimos, em taxa de

    cmbio sobre-apreciada.

    H muitas causas que explicam esse desastre nacional, todas elas associadas ao fracasso do

    Pacto Popular-Democrtico de 1977 em conduzir o pas. Esse pacto foi capaz de promover a

    transio democrtica, deu origem a toda uma srie de polticas sociais que contriburam para

    diminuir um pouco a grande concentrao de renda existente, mas no teve proposta em

    relao ao desenvolvimento econmico, e, quando se viu brevemente no poder, em 1985,

    levou o pas ao grande desastre que foi o Plano Cruzado. Havia necessidade, ento, de uma

    mudana profunda das polticas econmicas para as quais a sociedade brasileira no estava

    preparada. As causas imediatas da Grande Crise eram a dvida externa contrada nos anos

    1970 e a alta inflao inercial que decorreu do uso da indexao de preos, mas era preciso

    tambm mudar do velho desenvolvimentismo baseado na substituio de importaes e nos

    investimentos do Estado para um novo desenvolvimentismo que se concentrasse em tornar a

    correspondentes em cada pas.

  • 17

    economia brasileira mais competitiva externamente atravs de polticas macroeconmicas que

    combinassem estabilidade com crescimento e que garantissem aos empresrios taxas de juros

    moderadas e principalmente taxas de cmbio competitivas. Esse , essencialmente, o tema de

    meu livro Macroeconomia da Estagnao (2007) cujas teses no repetirei aqui.

    Aqui o que importante assinalar que os fatores que levaram ao Brasil a renunciar sua

    condio de nao independente no segundo governo Collor e chegada ao poder de uma

    coalizo poltica intrinsecamente adversria do desenvolvimento econmico do pas o Pacto

    Liberal-Dependente esto desaparecendo. Embora as taxas de crescimento sejam muito

    baixas quando comparadas com a dos demais pases, a economia brasileira no vive mais o

    quadro de crise dos anos 1980. Por outro lado, o pressuposto de suas elites intelectuais,

    marcadas pela teoria da dependncia e pelo Ciclo Democracia e Justia Social de que o

    desenvolvimento econmico estava assegurado no havendo por que se preocupar com ele,

    perdeu qualquer base na realidade: o desenvolvimento que estava assegurado durou apenas os

    anos 1970. Em terceiro lugar, est ficando claro para a toda a sociedade o fracasso da

    ortodoxia convencional, aqui e em outros pases como a Argentina e o Mxico, em promover

    o desenvolvimento econmico; quando, neste quadro, a Argentina rompe com a ortodoxia

    convencional e passa a adotar estratgias macroeconmicas semelhantes aos dos pases

    asiticos (cmbio competitivo, taxa de juros moderada, e ajuste fiscal rgido), passa a crescer

    fortemente. Em quarto lugar, a hegemonia ideolgica norte-americana, que se tornara absoluta

    nos anos 1990, enfraqueceu-se de maneira extraordinria nos anos 2000 devido ao fracasso da

    ortodoxia convencional em promover o desenvolvimento econmico, e devido ao desastre que

    representou para os Estados Unidos a guerra do Iraque. Finalmente, nota-se entre os

    empresrios industriais, que ficaram calados durante os anos 1990, uma nova conscincia dos

    problemas nacionais e uma nova competncia em matria macroeconmica por parte de suas

    assessorias que sero essenciais para a definio, em conjunto com a burocracia pblica, de

    um novo desenvolvimentismo.

    neste quadro mais amplo que a idia de um novo desenvolvimentismo, que se oponha tanto

    ortodoxia convencional quanto ao velho desenvolvimentismo, se impe. O nacional-

    desenvolvimentismo desempenhou seu papel mas foi superado, enquanto a ortodoxia

    convencional uma estratgia proposta por nossos concorrentes que antes neutraliza do que

  • 18

    promove o desenvolvimento econmico. dentro do quadro do novo-desenvolvimentismo

    que devemos pensar o papel da burocracia pblica. Por enquanto, ela continua, como toda a

    sociedade brasileira, desorientada. Sua rea econmica limita-se racionalidade de reduzir

    despesas o que necessrio, mas est longe de ser suficiente. Falta a todos uma estratgia

    nacional de desenvolvimento. Enquanto o Brasil no voltar a ter um projeto de nao,

    enquanto a coalizo poltica dominante estiver formada por empresas multinacionais e

    interesses estrangeiros no Brasil, no haver desenvolvimento econmico. S quando voltar a

    existir no pas uma coalizo poltica ampla, da qual faam parte central a alta burguesia

    industrial e alta burocracia pblica, o Brasil poder voltar a realmente se desenvolver.

    Enquanto isso no acontece, o pas se manter quase-estagnado crescendo porque o

    capitalismo dinmico, mas vendo sua distncia em relao aos pases ricos aumentar ao

    invs de diminuir, como seria de se esperar.

    A eventual retomada do desenvolvimento econmico em termos nacionais no resolver

    magicamente os problemas do pas. Continuaremos a ver no Brasil um elevado grau de

    corrupo, uma generalizada violncia aos direitos republicanos dos cidados, ou seja, ao

    direito que cada cidado tem de que o patrimnio pblico seja usado de forma pblica. A

    pobreza, a injustia e o privilgio continuaro ainda amplamente dominantes no Brasil. A

    violncia aos direitos sociais ainda convive com violncias aos direitos civis, especialmente

    dos mais pobres. Mas em todas essas reas o progresso depende da retomada do

    desenvolvimento econmico. verdade que, na rea poltica e social, houve um substancial

    avano desde 1980, ou seja, desde que a economia entrou em regime de quase-estagnao.

    Isto foi possvel graas principalmente ao Pacto Democrtico-Popular de 1977. Dificilmente,

    porm, ser possvel continuar a progredir nessas duas reas e na proteo do meio ambiente

    se a Nao no for reconstituda, se a sociedade como um todo no voltar a se constituir como

    Nao, e se suas classes dirigentes no voltarem a contar com uma burocracia pblica dotada

    de uma misso republicana.

    A burocracia pblica exerce um papel importante quando a respectiva sociedade, e

    principalmente a classe burguesa que nela exerce papel dominante, tem uma razovel clareza

    quando aos objetivos a serem alcanados e os mtodos a serem adotados. Entre 1930 e 1980

    isto aconteceu, entremeado por uma crise na primeira metade dos anos 1960; mas desde os

  • 19

    anos 1980 o Brasil no conta mais com uma estratgia nacional de desenvolvimento. No

    obstante, esta burocracia, ao contrrio do que se afirma, tem logrado xitos importantes na

    gesto do aparelho do Estado. Isto ocorreu especialmente na sade pblica graas ao xito do

    SUS (Sistema nico de Sade) em estabelecer um sistema de atendimento de sade

    populao universal, muito barato, e com qualidade razovel. Tem logrado tambm avanos,

    entre outros setores, na defesa do meio ambiente e da educao fundamental, onde j no

    existe mais um problema de quantidade, o problema central agora o da qualidade do ensino.

    E poder ter maiores avanos na medida em que essa qualidade depende no apenas de maior

    treinamento dos professores, mas principalmente de novas formas de gesto da educao.

    Fracassa na rea do ensino universitrio, que no Brasil, por ser estatal como na Frana e na

    Alemanha, ao invs de pblico no-estatal como nos Estados Unidos e na Gr-Bretanha,

    apresenta resultados altamente insatisfatrios.

    Na rea mais geral da gesto, graas a concursos anuais para todas as carreiras do ciclo de

    gesto e especialmente para a dos gestores pblicos, o Estado brasileiro conta hoje na rea

    federal com uma burocracia muito melhor preparada e eficiente do que geralmente se

    imagina. No nvel estadual, esto tambm se multiplicando as carreiras de gestores pblicos.

    Na rea do Poder Legislativo, a burocracia pblica experimentou um grande avano graas s

    carreiras de assessoramento criadas no Senado e na Cmara dos Deputados.

    Estes xitos se devem em grande parte Reforma Gerencial iniciada em 1995 que, alm de

    tornar o aparelho do Estado mais eficiente, est devolvendo burocracia pblica brasileira

    parte do prestgio social que perdeu em conseqncia do esgotamento da estratgia nacional-

    desenvolvimentista e do retorno a uma democracia liberal. Mais do que isto, a reforma da

    gesto pblica est dando a amplos setores da burocracia pblica brasileira um novo sentido

    de misso. O etos do servio pblico, que nunca lhe faltou, foi embaado pela desorientao

    social, mas a existncia de um quadro de reforma factvel vem lhe dando novo nimo e

    objetivos mais claros. So, por enquanto, objetivos internos ao aparelho do Estado. Um

    objetivo maior, de participao na retomada do desenvolvimento nacional, depende de toda a

    sociedade e seus lderes polticos se voltarem para ele. Depende da refundao da nao

    brasileira.

  • 20

    Nesse processo, o papel da burocracia pblica dos seus servidores, dos seus intelectuais

    importante. Em todas as reas do Estado, a burocracia pblica estrito senso divide o poder

    com os polticos. Em apenas um dos trs poderes, no Judicirio, os burocratas possuem o

    poder final; nos demais, os polticos detm esse poder. Desde a Constituio de 1988, a

    autonomia da alta burocracia judicial, que inclui alm da prpria magistratura o Ministrio

    Pblico e a Advocacia do Estado, e a Advocacia Pblica, tornou-se muito mais forte em

    certos momentos, excessiva. Ocorreu, entretanto, um processo de gradual desvinculao da

    magistratura pblica de uma ideologia liberal e formalista que atende aos interesses da ordem

    constituda, e sua vinculao, de um lado, a seus prprios interesses corporativos, de outro,

    aos interesses da justia social que animaram a carta de 1988. Entretanto, conforme Vianna et

    al. (1997: 38), embora parte do Estado, encravado em suas estruturas, o Judicirio como ator

    no est destinado a irromper como portador de rupturas a partir de um construto racional que

    denuncie o mundo como injusto. A lenta autonomizao do Judicirio dos interesses

    econmicos um fator positivo que reflete o fato de que os magistrados se percebem como

    parte da classe profissional com deveres para com os pobres ao invs de fazerem parte da

    capitalista.

    A burocracia publica, para realizar seu papel, precisa de mais autonomia e de mais

    responsabilizao (accountability). A Reforma Gerencial de 1965 deu um papel decisivo ao

    controle social, ou seja, responsabilizao da burocracia pblica perante a sociedade, mas

    isto vem ocorrendo de maneira lenta. Sabemos, porm, que a democracia implica no apenas

    liberdade de pensamento e eleies livres, no apenas representao efetiva dos cidados

    pelos polticos e mais amplamente pela burocracia pblica, mas significa tambm prestao

    de contas permanente por parte da burocracia pblica de forma a permitir a participao dos

    cidados no processo poltico. Os quatro pilares da democracia so liberdade, representao,

    responsabilizao e participao. Em outro trabalho (Bresser-Pereira, 2004), vi trs estgios

    histricos da democracia: a democracia de elites ou liberal, da primeira metade do sculo XX,

    a democracia de opinio pblica ou social, da segunda metade desse sculo, e a democracia

    participativa que vai aos poucos aparecendo. No Brasil, as trs formas de democracia esto

    presentes e embaralhadas: temos muito de democracia de elites, j somos uma democracia

    social, e a Constituio de 1988 abriu espao para uma democracia participativa. Antes de

  • 21

    chegar a ela, porm, alm de melhorarmos os nossos sistemas de participao, ser necessrio

    tornar a burocracia pblica mais responsabilizada perante a sociedade.

    No creio, entretanto, que esta mudana seja possvel se a sociedade brasileira no voltar a ser

    uma verdadeira Nao e a ter uma estratgia nacional de desenvolvimento econmico, social

    e poltico. Entre o incio do sculo XX e 1964 a sociedade brasileira no quadro do Ciclo

    Nao e Desenvolvimento constituiu a nao brasileira e industrializou o Brasil, mas, em

    compensao, deixou em segundo plano a democracia e a justia social. Esse ciclo terminou

    no golpe militar de 1964. A partir do incio dos anos 1970, um novo ciclo da sociedade

    comeou o Ciclo Democracia e Justia Social que promoveu o avano da democracia e

    procurou reduzir as desigualdades sociais mais gritantes e a pobreza extrema, mas abandonou

    a idia de nao e foi incapaz de promover desenvolvimento econmico. Em meados dos anos

    2000 esse ciclo tambm est esgotado. O grande desafio que se coloca hoje para a sociedade

    brasileira o de fazer uma sntese desses dois ciclos algo que possvel e que dar

    orientao e sentido para sua burocracia pblica.

    Referncias Abrucio, Fernando Luiz (2007) Trajetria recente da gesto pblica brasileira: um balano

    crtico e a renovao da agenda de reformas. Revista de Administrao Pblica, aprovado

    para publicao.

    Abrucio, Fernando Luiz e Francisco Gaetani (2006) Avanos e perspectivas da gesto pblica nos estados: agenda, aprendizado e coalizo. In Consad Conselho Nacional de Secretrios de Gesto (2006) Avanos e Perspectivas da Gesto Pblica nos Estados. So Paulo: Fundap:

    Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1981) A Sociedade Estatal e a Tecnoburocracia. So Paulo:

    Editora Brasiliense.

    Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1999) "Reflexes sobre a reforma gerencial brasileira de 1995".

    Revista do Servio Pblico, 50(4): 5-28.

    Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2004) Democracy and Public Management Reform: Building

    the Republican State. Oxford: Oxford University Press.

  • 22

    CLAD (1998) Uma Nova Gesto Pblica para a Amrica Latina. Caracas: CLAD - Centro

    Latinoamericano de Administracin para el Desarrollo. Documento em espanhol,

    portugus e ingls preparado pelo Conselho Cientfico e aprovado pelo Conselho Diretor

    do CLAD, 14 de outubro, 1998. Disponvel no site do CLAD e em

    www.reformadagestaopublica.org.br.

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