Cadeia Banana CE
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Transcript of Cadeia Banana CE
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR - UFC PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO
PRODEMA PROGRAMA REGIONAL DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente rea de Concentrao: Economia dos Recursos Naturais e Poltica Ambiental
JOS ALESSANDRO CAMPOS DE ANDRADE
ANLISE DA PRODUO DE BANANA ORGNICA NO
MUNICPIO DE ITAPAJ CEAR, BRASIL
Fortaleza Cear 2005
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JOS ALESSANDRO CAMPOS DE ANDRADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR UFC MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
REA DE CONCENTRAO: ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS E POLTICA AMBIENTAL
ANLISE DA PRODUO DE BANANA ORGNICA NO MUNICPIO DE ITAPAJ CEAR, BRASIL
Dissertao apresentada Coordenao do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, do Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA, da Universidade Federal do Cear UFC, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Robrio Telmo Campos
FORTALEZA 2005
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A565a Andrade, Jos Alessandro Campos de.
Anlise da produo de banana orgnica no Municpio de Itapaj Cear, Brasil / Jos Alessandro Campos de Andrade.
103 f.: il., color. enc.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2005.
Orientador: Prof. Dr. Robrio Telmo Campos. rea de concentrao: Economia dos recursos naturais e poltica
ambiental.
l. Agricultura Orgnica 2. Banana Cear. I. Campos, Robrio Telmo II. Universidade Federal do Cear, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente III. Ttulo.
CDD 634.772
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Dissertao submetida Coordenao do Curso de Mestrado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Cear UFC, como
requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre, outorgado pela referida
instituio, encontrando-se disposio dos interessados na Biblioteca de Cincias
e Tecnologia do Campus do Pici.
A meno a qualquer parte desta dissertao permitida, desde que seja
feita de acordo com as normas tcnicas de utilizao de fontes bibliogrficas da
ABNT.
Ttulo da Dissertao: Anlise da Produo de Banana Orgnica no Municpio de Itapaj Cear, Brasil.
________________________________________
Jos Alessandro Campos de Andrade
Dissertao aprovada em 29/08/2005
Banca Examinadora
_________________________________________
Prof. Dr. Robrio Telmo Campos Orientador (UFC)
_________________________________________
Prof. Dr. Luiz Artur Clemente da Silva Membro (UFC)
_________________________________________
Prof. Dr. Roberto Csar Magalhes Mesquita Membro (EMBRAPA)
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Ao to esperado e realizado sonho,
Sofia.
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[...] j no se v mais aonde levam o crescimento econmico e o indefinido aumento do bem-estar entendido como riqueza, numa altura em que este processo de desenvolvimento comea atacar de forma preocupante os recursos vitais do planeta, o ar, a gua, as plantas, a vida animal e a vida humana (INDRIO, 1980, p. 7).
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AGRADECIMENTOS
Durante a elaborao deste trabalho, contou-se com a valiosa
colaborao de pessoas e entidades relacionadas a seguir, a quem manifesto
sinceros agradecimentos:
Ao orientador, professor Dr. Robrio Telmo Campos, do Departamento de
Economia Agrcola da Universidade Federal do Cear UFC, pela disposio e
magnficas contribuies, apoio e pacincia ao longo do mestrado.
Ao professor Dr. Luiz Artur Clemente da Silva, do Departamento de
Economia Agrcola da Universidade Federal do Cear UFC, pelas colaboraes
durante o exame de qualificao, pela disposio e sugestes.
Ao professor Dr. Roberto Csar Magalhes Mesquita, da EMBRAPA, pela
inestimvel disposio e contribuies.
minha esposa, Giselia Campos de Andrade, pela dispendiosa
compreenso.
minha famlia, pais, irmos, cunhados e sobrinhos pelo apoio.
A todos os agricultores que contriburam para a realizao desse
trabalho, principalmente aos bananicultores de Itapaj CE,
Associao dos Fruticultores do Municpio de Itapaj - AFMI, em
especial ao senhor Arnbio de Castro Lima e sua me, senhora Amlcar de Castro
Lima, pelas informaes cedidas, pelo tempo disponibilizado, por todo o apoio na
aplicao dos questionrios e entrevistas.
Ao meu cunhado Jos Aldair Gomes pelas orientaes.
Ao bananicultor orgnico Sr. Francisco Chagas Braga Lima (Magal), pela
inexprimvel contribuio e acolhimento durante a pesquisa de campo.
Ao senhor Antonio Csar de Souza (Csar Silveira) pela preciosa ajuda e
esclarecimentos nos tratos culturais da banana.
A todos os meus colegas que contriburam nesse trabalho, especialmente
Ernandy Luis Vasconcelos de Lima, pelo inestimvel apoio.
E finalmente, ao Senhor Deus, que apesar de todas as dificuldades,
esteve comigo, dando-me foras para prosseguir decididamente.
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RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo principal descrever o processo de
bananicultura orgnica praticada em Itapaj - Cear, analisando os aspectos sociais,
ambientais e econmicos dos produtores desta cultura. Alm disso, so objetivos
especficos: analisar a produo de banana orgnica com o advento da criao da
Associao dos Fruticultores do Municpio de Itapaj AFMI, efetuar as anlises
tcnica, social e ambiental e sob a ptica de aceitao do consumidor de banana
orgnica produzida em Itapaj, analisar a viabilidade econmica da atividade para os
produtores associados AFMI e discutir alguns aspectos relacionados s vantagens
e desvantagens da produo e mercado da banana orgnica. A rea de estudo est
localizada em Itapaj, um dos maiores produtores de banana do Estado do Cear,
caracterizado por uma intensa modificao no espao fsico em reas serranas. Fez-
se uso de dados tanto primrios quanto secundrios. O presente estudo classifica-se
como sendo de carter analtico-descritivo. Efetua-se tambm uma anlise da
viabilidade econmica para os produtores ligados referida Associao. A anlise
dos dados levantados foi efetuada utilizando-se tabelas, quadros e figuras, por meio
dos instrumentos da estatstica descritiva. A agricultura orgnica nesse Municpio
uma experincia inovadora, em que 16 produtores de banana orgnica, ligados
AFMI, vm desenvolvendo esta atividade em meio a muitos problemas, tais como os
de baixa infra-estrutura, principalmente, no que diz respeito precariedade das
estradas, que prejudicam o escoamento da produo. Concluiu-se que alguns
fatores so determinantes para a baixa produtividade dos bananeirais, podendo-se
citar os tratos culturais deficitrios, a ausncia de irrigao, a incipiente reposio de
nutrientes, a alta declividade do relevo, solos pedregosos, alm do fato do
bananeiral j ser velho. Registrou-se que a adubao orgnica (compostagem)
utilizada nas propriedades e que os bananicultores demonstraram ter uma profunda
preocupao com a questo ambiental, buscando a preservao da biodiversidade
local, mantendo em suas propriedades uma rea de, pelo menos, 20% de mata, ou
seja, a chamada reserva legal. Por fim, quanto viabilidade, concluiu-se que a
atividade da produo de banana orgnica em Itapaj rentvel economicamente.
Palavras-chave: agricultura orgnica, bananicultura, Itapaj, sustentabilidade.
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ABSTRACT
The present research has as main objective to describe the process of organic
bananicultura practiced in Itapaj - Cear, analyzing the aspects social,
environmental and economical of this cultures production. Furthermore, the objective
specific are: to analyze organic banana's production after the creation of the
Associao dos Fruticultores do Municpio de Itapaj AFMI, to make the analyses
technique, social and environmental and under the optical of organic banana's
consumer's acceptance produced in Itapaj, to analyze the economical viability of the
activity for the associated producers AFMI, to discuss some aspects related to the
advantages and disadvantages of the production and the organic bananas market.
The study area is located in Itapaj, one of the largest producing of banana of the
State of Cear in Brazil. Itapaj is a city characterized by an intense modification in
the physical space in mountainous areas. Primary and secondary datas were used to
understand banana's organic production. The present study is classified as
analytical-descriptive. Also, an analysis of the economical viability is elaborated for
the Association's producers. The analysis of the data was studied through the
descriptive statistics instruments and used tables, pictures and illustrations. The
organic agriculture in Itapaj is an innovative experience. There are 16 sixteen
organic bananas producers that are linked to AFMI. These producers are developing
that activity with many problems, for intance, low infrastructure and precariousness of
the roads that harm the productions drainage. In conclusion, some factors are
decisive for the low productivity: the cultural treatments, no irrigation, incipient
nutrientsreplacement, irregular relief, a stony soil and an old plant banana. It was
registered the organic manuring (composting of organic matter). Also, it was
registered that the organic banana's producers are concerned with the
environmental, they preserve the local biodiversity and they preserve an area of, at
least, 20% of forest, the call legal reservation, in organic banana's properties. Finally,
this activity of organic banana's production in Itapaj is profitable economically.
Keywords: organic agriculture, banana refinement, Itapaj, sustainability.
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LISTA DE FIGURAS
1 Selo de qualidade, certificado orgnico IBD. 36
2 Cultivo de banana orgnica numa propriedade em Itapaj - CE, em junho de 2005. 52
3 Localizao do Municpio de Itapaj. 54
4 Organograma da Associao dos Fruticultores do Municpio de Itapaj. 65
5 cone da Associao dos Fruticultores Orgnicos de Itapaj - AFMI. 66
6 Produo e produtividade de banana: Cear versus Itapaj. 69
7 Produo Brasileira de Banana em 2002. 69
8 Produo de Banana no Municpio de Itapaj. 70
9 Espaamento de 3,0 x 3,0 metros entre as bananeiras, em junho de 2005. 75
10 Tratos culturais de roo e desfolha do bananeiral (notar pontilhado, em vermelho), em junho de 2005. 76
11 Lurdinha, aparelho utilizado para o desbaste da bananeira. Fonte: Adaptado de Padovani (1989). 77
12 Transporte dos frutos, em junho de 2005. 78
13 Local de residncia dos produtores de banana orgnica de Itapaj CE, em 2004 (2 semestre) 2005 (1 semestre). 80
14 Composio familiar dos produtores orgnicos de Itapaj CE, em 2004 (2 semestre) 2005 (1 semestre). 80
15 Aspectos ambientais da produo de banana orgnica de Itapaj CE, 2004 (2 semestre) 2005 (1 semestre). 81
16 Percepo dos consumidores sobre os alimentos orgnicos nos supermercados de Fortaleza, em 2004 (2 semestre) 2005 (1 semestre).
84
17 Freqncia do consumo de alimentos orgnicos nos supermercados de Fortaleza, em 2004 (2 semestre) 2005 (1 semestre). 85
18 Cadeia produtiva da bananicultura orgnica. Fonte: Adaptado de Custdio et al. (2001). 91
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19 Centro de Abastecimento de Itapaj e feira livre semanal, em junho de 2005. 92
20 Estrada municipal ligando o distrito de Soledade a Sede de Itapaj, em abril de 2005. 94
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LISTA DE QUADROS
p.
1 Atuao dos rgos. 28
2 Execuo dos Tratos Culturais Roo/Desfolha e Desbaste realizados anualmente pelos produtores de banana orgnica de Itapaj CE. 77
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LISTA DE TABELAS
p.
1 Produtividade mensal da AFMI versus permetros irrigados 73
2 Custos e Receita da Banana Orgnica em Itapaj CE. 87
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AFMI Associao dos Fruticultores do Municpio de Itapaj
APP rea de Proteo Permanente
BNB Banco do Nordeste do Brasil
CEASA Centrais de Abastecimento do Cear S.A.
CODEVASF Companhia do Desenvolvimento do Vale do So Francisco
CNPAT Centro Nacional de Pesquisa de Agroindstria Tropical
CNPO Comit Nacional de Produtos Orgnicos
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
DAR Deutscher Akkreditieungs Rat
EMATERCE Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Cear
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IBD Instituto Biodinmico
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
IOAS International Organic Accreditation Service
IN Instruo Normativa
JAS Japan Agriculture Standard
NOP National Organic Program
ONG Organizao No Governamental
PPDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas
SEMACE Superintendncia Estadual do Meio Ambiente
SUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste
UFC Universidade Federal do Cear
UECE Universidade Estadual do Cear
USDA United States Department of Agriculture
ZEE Zoneamento Ecolgico Econmico
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SUMRIO
p. 1 INTRODUO .............................................................................................. 14 1.1. O problema e sua importncia ............................................................... 14 1.2. Objetivos do trabalho .............................................................................. 17 1.2.1. Objetivo Geral ......................................................................................... 17 1.2.2. Objetivos especficos .............................................................................. 17 1.3. Estrutura do trabalho ............................................................................... 17
2 REFERENCIAL TERICO ........................................................................... 19
2.1 A sustentabilidade da agricultura orgnica ........................................... 19 2.1.1. A viso da economia ecolgica, do ecodesenvolvimento e do
desenvolvimento sustentvel ................................................................ 19
2.1.2. A agricultura orgnica sustentvel? ..................................................... 22 2.1.3. Construo de um modelo de agricultura orgnica ................................ 25 2.1.3.1. Contextualizao da agricultura orgnica ............................................ 26 2.1.3.2. A dimenso tica .................................................................................. 28 2.1.4. Abordagem conceitual da agricultura orgnica ....................................... 30 2.1.4.1. Economicamente vivel ....................................................................... 30 2.1.4.2. Ambientalmente sustentvel ................................................................ 31 2.1.4.3. Socialmente justa ................................................................................. 32 2.1.5. Certificao da agricultura orgnica ........................................................ 35 2.2. A fruticultura ............................................................................................. 40 2.2.1. Um pouco de histria: antecedentes da agricultura e da fruticultura
cearense ............................................................................................... 40
2.2.2. O crescimento da fruticultura cearense .................................................. 42 2.3. A bananicultura ........................................................................................ 43
2.3.1. A bananicultura convencional ................................................................. 47
2.3.2. Dimensionamento da bananicultura no Brasil e no mercado mundial .... 48 2.4. A bananicultura orgnica ........................................................................ 50
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3 METODOLOGIA ........................................................................................... 52 3.1. A rea de estudo ...................................................................................... 52 3.2. Fonte dos dados ...................................................................................... 56 3.3. Mtodos de anlise .................................................................................. 57 3.3.1. Anlise tabular e descritiva ..................................................................... 57 3.3.2. Anlise da viabilidade econmica ........................................................... 58 3.3.2.1. Receitas, custos e indicadores econmicos ........................................ 58
4 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................... 64
4.1. Produo de banana orgnica com o advento da criao da AFMI .... 64 4.1.1. Criao da Associao ........................................................................... 64 4.1.2. A produo de banana orgnica e a AFMI ............................................. 66 4.1.3. Mudanas aps a AFMI .......................................................................... 67 4.1.4. Produo de banana em Itapaj vis-a-vis o Estado ............................... 68 4.1.5. Dificuldades enfrentadas pela AFMI ....................................................... 71 4.1.6. Banana orgnica versus banana irrigada ............................................. 73 4.2. Anlise tcnica, social e ambiental da produo de banana orgnica de
Itapaj ................................................................................................... 74
4.2.1. Anlise tcnica: tratos culturais ............................................................... 74
4.2.2. Anlise dos aspectos sociais .................................................................. 79
4.2.3. Anlise dos aspectos ambientais ............................................................ 81 4.2.4. Uma ltima anlise: a viso do consumidor ............................................ 83
4.3. Anlise econmica ................................................................................... 86 4.4. Aspectos relacionados s vantagens e desvantagens da produo e
mercado da banana orgnica .............................................................. 90
4.4.1. Vantagens ............................................................................................... 91 4.4.2. Desvantagens ......................................................................................... 93 5 CONCLUSO E SUGESTO ...................................................................... 95 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................ 98
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1 INTRODUO
1.1. O problema e sua importncia
Hoje com o advento dos produtos transgnicos, da produo agrcola em
larga escala e o intenso consumo de alimentos enlatados, encontra-se, em debate, o
uso de agentes qumicos no processo de produo e armazenamento desses
produtos. A partir dessa constatao e oposto a esse movimento, percebe-se que
crescente o nmero de pessoas que procuram ter uma alimentao mais saudvel e
livre de agrotxicos.
A agricultura brasileira depara-se diante do desafio de manter-se
economicamente produtiva, tornar-se socialmente justa e adequar-se s exigncias
da preservao ambiental. Com efeito, a agricultura orgnica assume hoje uma
necessidade imposta, precisamente por uma sociedade que se torna cada vez mais
exigente em consumir um alimento livre de produtos que possam prejudicar a sade.
Indubitavelmente, desde o final da dcada de 1950, mudanas vm sendo
efetuadas na agropecuria brasileira, precisamente no que tange agricultura.
Neste contexto, os meios tcnicos e cientficos advindos durante e aps a Segunda
Grande Guerra possibilitaram um avano significativo no campo da cincia,
conseqentemente no da agricultura, que passou a se beneficiar de novas
tecnologias de produo (tratores, irrigao, adubao qumica, previses
meteorolgicas). Dessa forma, o conhecimento e a proviso de substncias
qumicas impulsionaram vertiginosamente a comercializao dos agrotxicos e
fertilizantes.
Por conseguinte, transformaes importantes surgiram no espao
agrcola: [...], de um lado, na composio tcnica do territrio pelos aportes macios
de investimentos em infra-estruturas, e de outro lado, na composio orgnica do
territrio [...]. Isso se d de forma paralela cientifizao do trabalho (SANTOS,
1994, p.37). Com efeito, o aprimoramento e a conseqente facilidade dos produtores
ao acesso destas tcnicas e ferramentas, tais como tratores, insumos modernos,
implementos agrcolas, impulsionaram intensamente mecanizao da lavoura, no
preparo do solo, colheita, armazenamento, transporte e beneficiamento de produtos
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da agricultura. Ainda neste contexto, lado a lado ao avano da cincia, o
aperfeioamento gentico das sementes e gros aprimorou tanto a conservao
ps-colheita quanto o armazenamento dos produtos, contribuindo no avano
cientfico e tecnolgico da produo agropecuria mundial, inclusive brasileira.
De fato, a fruticultura cearense vem assumindo papel fundamental e
essencial na agricultura, tanto para os grandes produtores quanto para os pequenos.
As alteraes efetuadas ao longo dos ltimos anos possibilitaram um vertiginoso
crescimento da fruticultura e das exportaes. No que tange comercializao de
frutas, a taxa de exportao destes produtos cearenses atingiu o valor de US$ 24,8
milhes para os pases da Europa (CEAR, 2005).
luz disso, a bananicultura orgnica abriga uma excelente perspectiva de
negcio para o Cear, visto que o mercado est cada vez mais exigente no que
tange aos alimentos mais saudveis. A atividade da agricultura orgnica em Itapaj
uma experincia inovadora, no obstante esta atividade j existir em outros
municpios cearenses. So 16 produtores de banana orgnica que vm
desenvolvendo esta atividade em meio a muitos problemas, tais como os de infra-
estrutura, por exemplo, tanto no que diz respeito ao acesso s reas mais ngremes
(rea serrana do Municpio) quanto precariedade das estradas, que prejudicam o
escoamento da produo para os centros consumidores.
Alm disso, outros fatores a exemplo da ineficincia de tratos culturais,
ausncia da irrigao, incipiente reposio de nutrientes, acidentalidade do relevo,
existncia de solos pedregosos, alm da considerao sobre a vida til produtiva e
econmica do bananeiral, so fatores que influenciam na produtividade. Analisar
todos esses aspectos constitui um ponto deveras importante para o bom
desempenho da atividade, levando em conta concorrncia dos permetros
irrigados. Uma vez que tais permetros possuem um grau maior de investimentos em
insumos (adubos, fertilizantes qumicos), infra-estrutura, equipamentos e assistncia
tcnica.
O sistema de produo de alimentos orgnicos se contrape aos desafios
impostos pela cultura de massa (produo agrcola em larga escala) e por uma
concorrncia dura imposta pela modernizao e mecanizao hoje to enraizadas
na agricultura. Trata-se de um sistema que procura evitar a degradao dos
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recursos naturais e os impactos negativos sade humana, precisamente no que
diz respeito ao uso de produtos qumicos to presentes na agricultura convencional.
O presente estudo pretende contribuir com a disseminao da idia de
uma agricultura voltada no somente para o comrcio, mas tambm para a prtica
de uma agricultura sustentvel. Entendida como sendo aquela que preconiza a
manuteno e o aumento da produtividade biolgica do solo, alterando o enfoque
produtivo ao passar da relao nutrio de plantas/pragas/doenas, e suas reaes
s tcnicas empregadas.
Dessa forma, a rea de estudo est inserida num desses espaos, neste
caso, em um dos territrios rurais voltados para a produo de banana orgnica no
Cear, mais precisamente no Municpio de Itapaj. Trata-se de um dos maiores
produtores de banana do Estado, caracterizado por uma intensa modificao no
espao fsico em reas serranas, pela qual vem se fundamentando as
transformaes da paisagem local em funo da bananicultura, sendo esta de
sequeiro, suscetvel a mais pragas e doenas e menos produtiva no que concerne
aos poucos investimentos.
Portanto, evidencia-se a necessidade de um conhecimento integrado para
a caracterizao da cultura da banana orgnica, a partir da determinao das
conexes entre os aspectos naturais (uso do solo e da gua) e sociais (produtores e
conseqente mo-de-obra) que vm se desenvolvendo em Itapaj. Tais conexes
esto intimamente relacionadas com a interao entre os processos fsicos e
humanos, pelas quais ficam evidenciados os riscos que envolvem a
operacionalizao de aes que possam ultrapassar os limites ambientais da
expanso da bananicultura.
Desta forma, o estudo pretende analisar e descrever os aspectos
tcnicos, econmicos, sociais e de aceitao no mercado consumidor da banana
orgnica produzida no Estado do Cear, na perspectiva de sustentabilidade e
crescimento desse setor.
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1.2. Objetivos do trabalho
1.2.1. Objetivo geral
Descrever o processo de bananicultura orgnica praticada em Itapaj -
Cear, analisando os aspectos sociais, ambientais e econmicos dos produtores
desta cultura.
1.2.2. Objetivos especficos
a) Analisar a produo de banana orgnica com o advento da criao da
AFMI1;
b) Efetuar as anlises tcnica, social e ambiental e sob a ptica de
aceitao do consumidor de banana orgnica produzida em Itapaj;
c) Analisar a viabilidade econmica da atividade para os produtores
associados AFMI;
d) Discutir alguns aspectos relacionados s vantagens e desvantagens da
produo e mercado da banana orgnica.
1.3. Estrutura do trabalho
Alm desta introduo e da concluso, o trabalho est dividido em
captulos, mediante descrio abaixo.
No captulo intitulado Referencial Terico, descreve-se brevemente, os
pressupostos e as concepes da sustentabilidade da agricultura orgnica,
abordando-se os passos necessrios para a certificao do produto orgnico,
precisamente no que se refere produo de banana orgnica.
1 Associao dos Fruticultores do Municpio de Itapaj.
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No captulo de Metodologia tratam-se concisamente, dos mtodos
utilizados para atender os objetivos propostos.
No captulo Resultados e Discusso, so enfocados os aspectos que
dizem respeito s caractersticas de produo da bananicultura, na tentativa de
reunir informaes possveis identificao da problemtica do avano da cultura da
banana em Itapaj, pelo meio da verificao dos aspectos tcnicos, econmicos,
sociais e ambientais.
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2 REFERENCIAL TORICO
2.1. A sustentabilidade da agricultura orgnica
A abordagem cientfica priorizada neste estudo est fundamentada nos
pressupostos defendidos pela economia ecolgica, cuja proposta est baseada no
desenvolvimento de uma economia global que respeite os limites estabelecidos pela
sustentabilidade. Trata-se, tambm de uma Idia defendida por May (1995), em seu
livro Economia ecolgica, e nas idias de Sachs (1993), - dentre outros que
trazem a viso da sustentabilidade como uma proposta vivel, a partir da
compreenso de suas cinco dimenses: ecolgica, social, espacial, econmica e
cultural.
Neste intuito, objetivo deste captulo trabalhar brevemente os
pressupostos e concepes da sustentabilidade da agricultura orgnica, enfocando
o processo de certificao dos produtos orgnicos, precisamente no que se refere
produo da banana orgnica em Itapaj CE. Partindo dessa perspectiva, torna-se
inegvel resgatar a discusso epistemolgica no que diz respeito produo
orgnica.
2.1.1. A viso da economia ecolgica, do ecodesenvolvimento e do desenvolvimento
sustentvel
O termo economia ecolgica entendido como sendo aquela que possui
a incumbncia de buscar uma economia de bem-estar global dentro dos limites
impostos pela sustentabilidade, fundamentando-se, portanto, em uma tica.
Neste sentido, a economia ecolgica ou ecologia econmica conforme
May (1995), uma nova rea transdisciplinar que busca melhoria da qualidade de vida
e eqidade das sociedades humanas, atravs da conservao do uso racional do
ambiente. , ento, uma busca pelo desenvolvimento sustentvel. Abrange,
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portanto, duas grandes reas: a economia do meio ambiente e a economia dos
recursos naturais.
A economia do meio ambiente busca mostrar as alteraes e impactos
da economia no meio natural. Como a poluio gerada por determinada atividade
econmica. J a economia dos recursos naturais apresenta, por sua vez, os efeitos
do meio ambiente sobre a economia. Defende a utilizao dos recursos naturais,
uma vez que o nvel de utilizao deste recurso seja menor que sua capacidade de
renovao. No seria, como alguns pensam um elemento limitador ou proibitivo de
seu uso. No se trata, portanto, de uma preservao, mas sim de uma conservao
do patrimnio ambiental.
A intensa busca pela melhoria das condies de bem-estar, no se
baseia somente no progresso material. Ela estaria ligada, de uma forma ou de outra,
a uma srie de valores. Dentre estes, a natureza que deve representar uma das
maiores preocupaes para os estudiosos da cincia econmica como um todo.
Cavalcanti (1998) contra essa viso, ora oposta ao bom senso das
cincias da natureza, que Henri Kendall prmio Nobel de Fsica observou em
julho de 1994, em que o homem pela sua nsia de crescimento econmico,
encontra-se em rota de coliso com o mundo da natureza. A partir da, seria
preciso rever a compreenso da cincia econmica e penetrar a fundo na questo
da sustentabilidade.
Pode-se, ento, concluir que a preocupao com o meio ambiente e a
percepo de que o crescimento futuro depender das condies ecolgicas
preservadas, fizeram com que as metas ambientais estivessem presentes nas
agendas polticas de todos os pases. No entanto, atingir tais metas significa, por
vezes, retirar no curto prazo recursos econmicos de investimentos produtivos ou
aumentar custos de produo presentes. Trata-se, ento, da garantia de um meio
ambiente saudvel que exige sacrifcios de curto prazo e gera custos polticos
elevados devido ao fato de que as sociedades relutam dessa deciso intertemporal
de sacrificar o presente em troca de um futuro mais sustentvel.
Garantir a execuo prtica dessas idias e a difuso da agricultura
orgnica trabalhar no sentido de manter a economia ecolgica como um novo
modelo a ser posta em evidncia e no simplesmente o da economia de mercado,
baseado na busca incessante do aumento da produtividade e, conseqentemente,
do lucro.
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No que se refere ao termo desenvolvimento sustentvel, a viso de
ecodesenvolvimento de Sachs (1993) estabelece que todo planejamento de
desenvolvimento precisa levar em conta, simultaneamente, cinco dimenses da
sustentabilidade:
i) a dimenso social, objetivando uma civilizao mais eqitativa na
distribuio da renda e reduzindo o fosso entre ricos e pobres;
ii) a dimenso econmica, alocao e gerenciamento mais eficientes dos
recursos, alm de fluxos constantes de investimentos pblicos e privados;
iii) a dimenso ecolgica, limitao e substituio do consumo de
combustveis fsseis e recursos no renovveis; da reduo dos resduos da
poluio (conservao/reciclagem); autolimitao no consumo; fomento pesquisa
para a obteno de tecnologias eficientes no uso dos recursos e baixa gerao de
resduos, voltadas para o desenvolvimento urbano, rural e industrial;
iv) a dimenso espacial, voltada para a obteno de uma configurao
rural e urbana mais equilibrada e melhor distribuio territorial dos assentamentos
humanos e das atividades econmicas;
v) a dimenso cultural, busca de razes endgenas de processos de
modernizao e de sistemas agrcolas integrados, traduzindo o conceito do
ecodesenvolvimento em um conjunto de solues especficas para o local, o
ecossistema, a cultura e a rea.
Ehlers (1996, p.105) definiu a agricultura e o desenvolvimento rural
sustentvel como:
o manejo e a conservao dos recursos naturais, e a orientao da mudana tecnolgica e institucional, de maneira a assegurar a obteno e a satisfao contnua das necessidades humanas para as geraes futuras. Tal desenvolvimento sustentvel resulta da conservao do solo, alm de no degradar o ambiente, ser tecnicamente vivel e socialmente aceitvel (sic).
Ainda segundo Ehlers (1996) a agricultura sustentvel :
um sistema integrado de prticas de cultivo e de criao animal com aplicao local especfica que, no longo prazo, suprir as necessidades humanas de alimentos. Melhorar a qualidade do meio ambiente base dos recursos naturais da qual depende a economia agrcola. Far uso mais eficiente dos recursos no renovveis e integrar, quando apropriado, ciclos e controles biolgicos naturais. Sustentar ainda a viabilidade econmica
-
25
das exploraes agrcola e elevar a qualidade de vida dos agricultores e da sociedade como um todo (EHLERS, 1996. p.107)
Essa idia elaborada pelo Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos, e aqui retratada, sintetiza a sustentabilidade econmica dessa atividade.
Ademais, a vida do solo, o equilbrio de agroecossistemas, a diversidade
e o uso intenso de matria orgnica so alguns dos aspectos que devem ser
repensados em uma outra possibilidade de agricultura (DULLEY; CARMO, 1984
apud CARMO; MAGALHES, 1999).
Dessa forma, fazendo referncia ao termo agro-ecos-sistema,
Ruscheinsky (2004, p.157) cita que:
o conceito de agroecossistema visa estabelecer um elo entre biologia e antropologia, no qual contribuem ecologia, agronomia, sociologia e geografia. A separao dos termos agro eco sistemas no representa uma mera extravagncia lingstica, mas preconiza considerar tanto aspecto ligados cultura(agro), ao meio natural e biofsico(eco), como tambm s complexas interaes que se processam no tempo e no espao.
2.1.2. Agricultura orgnica sustentvel?
A idia de uma agricultura sustentvel ou orgnica como aquela que
fosse capaz de garantir a melhoria da qualidade de vida, tanto da populao rural
quanto da urbana, atravs da oferta de alimentos biologicamente sadios acessveis
populao, isentos de agentes prejudiciais ao organismo humano, visando
conservao do ambiente e o uso sustentvel dos recursos naturais hoje uma
necessidade imposta no s pela sociedade mais consciente na conservao dos
recursos naturais como igualmente exigente em consumir alimento livre de produtos
que possam prejudicar a sade dos consumidores.
A crise ambiental, mundialmente preocupante e difundida principalmente
na conferncia no Rio de Janeiro (Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento UNCED) em 1992, especialmente a sua vertente
paralela, o Frum Global, pela qual foram convocadas mais de 2.500 entidades
ambientalistas de 150 pases, atraindo um pblico de aproximadamente 500 mil
-
26
pessoas e gerando 36 tratados ou compromissos de ao da sociedade civil
planetria levou a um despertar profundo para a conscincia ecolgica, o que sem
dvida nenhuma no deve e no pode mais ser desprezada.
neste contexto que surge a preocupao de expor a idia de um
desenvolvimento econmico que possa tambm garantir a manuteno da
biodiversidade e do ambiente como um todo, garantindo as futuras geraes o
acesso a esse precioso bem a vida. Rompe-se assim com a viso de um meio
ambiente infinito e passa-se a estabelecer severos limites a um crescimento
econmico contnuo pelo menos nos moldes em que este era (e ainda por
muitos) trabalhado e que produziu um nmero incontvel de problemas ambientais:
eroso do solo, poluio ambiental, efeito estufa, buraco na camada de oznio, uso
indiscriminado de agrotxicos.
A Lei n. 7.802, de 11 de julho de 1989, em seu artigo 2, define os
agrotxicos como sendo:
os produtos e os agentes de processos fsicos ou biolgicos, destinados ao uso nos setores de produo, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrcolas, nas pastagens, na proteo de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e tambm ambientes urbanos, hdricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composio da flora ou da fauna, afim de preserv-las da ao danosa de seres vivos considerados nocivos (BANCO DO NORDESTE, 1999, p. 9).
A Lei n. 7.802 engloba, portanto, todos os produtos utilizados no combate
as pragas e doenas das lavouras e animais denominando-os de defensivos, que
sero chamados neste trabalho de agrotxicos. A referida Lei dispe sobre a
pesquisa, experimentao, produo, embalagem, rotulagem, transporte,
armazenamento, comercializao, propaganda comercial, utilizao, destinao final
dos resduos e embalagens, registro, classificao, controle, inspeo e fiscalizao,
importao, exportao e afins.
Na prtica, no entanto, estes produtos so adquiridos com muita facilidade
(sem receiturio agronmico), sendo largamente empregados, devido a sua
aparente e rpida eficincia, o que tem levado ao seu uso indiscriminado,
provocando at mesmo uma aplicao no rentvel do produto (superdosagem ou
subdosagem), causando danos sade e ao meio natural.
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27
Dessa forma, consoante Leis (1995), uma crise ecolgica global foi
gerada, resultante da anarquia na explorao e gesto dos bens comuns da
humanidade, por parte de atores polticos e econmicos orientados por uma
racionalidade capitalista, individualista e instrumental. Neste sentido, essa
chamada de discusso, para uma viso de bem comum, que provocou em Leis o
questionamento de que o progresso do mercado no dever ser confundido com o
progresso da humanidade. A partir dessa reflexo, pode-se perceber que a lgica de
mercado dominante e presente em todos os setores da economia est igualmente
presente no setor agrcola.
O conceito de agronegcio caracteriza bem a tomada de direo seguida
pela agricultura, o qual passou a ser visto como uma cadeia produtiva que envolve
desde a fabricao de insumos, a produo nas fazendas, o beneficiamento e
transformao dos produtos at o consumo.
Essa complexa cadeia produtiva engloba desde a pesquisa e assistncia
tcnica, crdito, produo, transporte, comercializao, exportao, industrializao,
ou seja, todas as etapas do processo produtivo at chegar ao consumidor final,
transformando a atividade em um elaborado sistema que leva a uma produo em
grande escala, com o uso intenso de modernas tcnicas que favoream o
incremento da produo e da produtividade. Prioriza-se assim, o mercado e no o
consumidor.
Dentro deste processo, tem-se o uso intensivo (para no se falar
indiscriminado) de agrotxicos, com o objetivo de expandir a produtividade do setor,
mas que levanta muita polmica pelos males que pode provocar no meio ambiente e
ao homem, apontando como elemento preocupante o seu uso indiscriminado e
excessivo, intoxicaes, contaminao do ar, solo e gua, leses qumicas, dentre
outros. Ruegg conclui que:
o homem do campo ficou completamente a margem do programa do desenvolvimento econmico; foi considerado apenas como uma pea mecnica, substituvel e de baixo custo. Este grave impacto social deve ser corrigido com a modificao das linhas de ao e com a conscientizao de toda a populao para os diversos problemas ligados aos agrotxicos (1986, p.8).
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2.1.3. Construo de um modelo de agricultura orgnica
A agricultura orgnica possui algumas particularidades em relao s
demais propriedades agrcolas, por possuir basicamente o seguinte perfil: o tamanho
da propriedade; a utilizao de mo-de-obra que basicamente em regime de
economia familiar; a renda da famlia oriunda principalmente da propriedade; e,
pelo fato desta residir na propriedade ou prxima dela. Este perfil, leva a uma
confrontao com as caractersticas encontradas na chamada agricultura familiar,
onde conforme o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura PRONAF,
criado pelo governo em 1996 e citado por Gnoato (2000), so considerados
agricultores familiares todos aqueles que exploram a terra na condio de
proprietrios, assentados, posseiros, arrendatrios ou parceiros.
De fato, a agricultura orgnica bem modesta, frente ao volume
produzido pela agricultura familiar, pois em conformidade com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatstica - IBGE -, em seu Censo Agropecurio de 1985, citado por
Silva (1998):
os estabelecimentos de at 100 hectares, onde se presume estejam concentrados os estabelecimentos de agricultura familiar, as reas somadas correspondem na poca cerca de 21% do total e respondiam por uma parcela significativa da produo do Pas, ou seja, 87% da mandioca, 79% do feijo, 69% do milho, 66% do algodo, 46% da soja, e 37% do arroz produzido e 26% do rebanho bovino (SILVA, 1998, p.06)
Pretende-se com isso, apresentar a terra frtil, que a agricultura
orgnica tem para se desenvolver, tendo em vista que os agricultores familiares so
potencialmente possveis e futuros agricultores e ou produtores orgnicos.
A flexibilidade de adaptao a diferentes processos de produo e a
variedade de fontes de renda (diversificao da propriedade e da renda) torna a
agricultura familiar indispensvel na economia regional e nacional, desde que essas
estejam consolidadas para isso.
Com efeito, essa agricultura familiar apresenta a grande capacidade de
absorver mo-de-obra e transform-la numa alternativa socialmente desejada,
economicamente produtiva e politicamente correta para evitar grande parte dos
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29
problemas sociais urbanos derivados do desemprego rural e da migrao
descontrolada na direo campo-cidade (BRASIL, 1996). Esse outro ponto que
vem ao encontro da agricultura orgnica.
Neste contexto, a maioria dessas famlias carente financeiramente,
tendendo a ser relativamente pobre, desnutrida, ou at subnutrida em parte do ano
ou durante o ano todo. Entretanto, um ponto negativo o fato de que muitos desses
trabalhadores e produtores rurais no se capacitam e assim no inovam na
explorao de sua capacidade de trabalho, da terra e do prprio mercado carente
por produtos mais confiveis e verdadeiramente mais saudveis.
As dificuldades encontradas neste tipo de agricultura de pequena escala,
podem ser atribudas em muitos pases em desenvolvimento, por exemplo, no Brasil,
falta de agilidade no levantamento e aplicao de recursos financeiros pelos
rgos de pesquisa, planejamento e de extenso, o que quase sempre no
possibilita aquele sucesso to esperado pelo produtor, levando-o ao desestmulo e
ao abandono da atividade, ou desenvolvendo uma produo rudimentar e sem
criatividade.
Neste sentido, para que o processo de desenvolvimento agrcola ocorra de
forma satisfatria e efetiva, faz-se necessrio ter relaes interativas reais entre os
produtores, os rgos de extenso rural, as organizaes no-governamentais, as
firmas comerciais, alm de um envolvimento prioritrio entre entidades de pesquisa
e de planejamento. A interao imprecisa e incompleta entre estes rgos prejudica
o sucesso do desenvolvimento agrcola.
2.1.3.1. Contextualizao da agricultura orgnica
Este trabalho est fundamentado tambm na preocupao com a questo
ambiental e com o avano significativo sobre as reas ainda verdes, alm do
estabelecimento de novos padres alimentares que condicionaram mudanas nos
sistemas de produo da agricultura e da sociedade dita moderna, que passou a
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30
consumir uma gama infindvel de produtos com um total desconhecimento de sua
procedncia. Preocupa-se tambm com as importantes transformaes das
estruturas socioeconmicas do meio rural cearense, precisamente em Itapaj.
Com a misso de elaborar normas para a agricultura orgnica no Brasil,
foi criado o Comit Nacional de Produtos Orgnicos (CNPO), em 1995, com uma
composio paritria formada por representantes do Governo (Ministrio da
Agricultura, do Ministrio do Meio Ambiente, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuria EMBRAPA), de ONGs das cinco regies do Pas que trabalham com
agricultura orgnica e de universidades.
A partir desse estudo, foi publicado a Instruo Normativa (IN) n. 07/99,
estabelecendo normas de produo, tipificao, processamento, envase,
distribuio, identificao e certificao de qualidade para os produtos orgnicos de
origem animal e vegetal. Estabelece ainda os critrios de utilizao de mquinas e
equipamentos, manejo de pragas, doenas e plantas invasoras, critrios para
adubao do solo, atravs da orientao e do fornecimento de uma lista com os
adubos e condicionantes do solo permitidos; lista ainda os insumos que podem ser
adquiridos fora da propriedade, alm do estabelecimento de regras para a
converso do sistema convencional ou tradicional para o orgnico. Refere-se
tambm aos aditivos e outros produtos permitidos para o beneficiamento de
orgnicos, s normas para armazenamento e transporte e quela relativa
rotulagem e identificao do produto.
Dessa forma, ainda conforme a IN n. 07/99, o controle e a qualidade dos
produtos orgnicos de competncia e responsabilidade das instituies
certificadoras, as quais devem ser certificadas, reconhecidas como pessoa jurdica,
sem fins lucrativos e com sede no territrio nacional, (SOUSA, 2003).
Conforme o Quadro 1, no que tange competncia e atuao dos rgos
colegiados, a respeito das esferas de poder (estadual e federal), em que se ficam
definidos, atravs da IN n. 07/99, a anlise, normatizao, disciplinamento e o
credenciamento de uma instituio certificadora, tem-se:
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31
Quadro 1 Atuao dos rgos
Colegiado Composio Competncia
Nacional
paritria, com cinco membros
(titulares e suplentes), de organizaes
governamentais e, cinco membros
(titulares e suplentes) de organizaes
no-governamentais, representando as
cinco regies do pas.
1. Fiscalizar os Colegiados Estaduais
e do Distrito Federal;
2. Realizar o credenciamento das
agncias certificadoras que podero
atuar no pas;
3. Zelar pelo cumprimento das normas
para agricultura orgnica
estabelecidas pela IN 07/99.
Estadual e do Distrito
Federal
paritria, com cinco membros
(titulares e suplentes), de organizaes
governamentais e, cinco membros
(titulares e suplentes) de organizaes
no-governamentais, com atuao
reconhecida pela sociedade.
1. Fiscalizar as certificadoras locais;
2. Fazer encaminhamento dos
pedidos de registro das certificadoras
ao Colegiado Nacional.
Fonte: Brasil, 1999.
Foi a Instruo Normativa n. 06/02, publicada em janeiro de 2002, que
aprovou os glossrios de termos empregados no credenciamento, certificao e
inspeo da produo orgnica, determinando tambm os critrios de
credenciamento de entidades certificadoras de produtos orgnicos no Pas, alm
dos procedimentos para inspeo e certificao (BRASIL, 2002).
2.1.3.2. A dimenso tica
O Brasil, historicamente conhecido como o pas dos latifndios (PIFFER,
2001), tem igualmente demonstrado na prtica uma tendncia clara e notria no que
diz respeito aos apoios inegveis para os grandes empreendimentos, no s na
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atividade secundria, mas igualmente no setor primrio: desde a pecuria, o
extrativismo e, em especial, a agricultura. Assim:
[...] o desenvolvimento crescente das foras produtivas capitalistas, responsveis pelas grandes produes agrcolas, tem determinado a transformao de grandes latifndios tradicionais em modernas empresas capitalistas e, no que diz respeito pequena produo familiar, tem definido duas categorias distintas: a produo familiar tecnificante e a produo familiar marginalizada (CHANG MAN YU, 1988, p.37 apud RIBEIRO, 1993).
O processo vivido por estas grandes propriedades rurais de monoculturas,
exportadoras e hoje, na grande maioria, mecanizadas (tecnificadas), impossibilitou
uma absoro da fora de trabalho ociosa que foi expulsa ou engolida por estes
grandes empreendimentos, auxiliando na segregao de muitas propriedades
familiares e de seus donos, tornando-os proletarizados ou simplesmente excludos e
expulsos do campo. O processo clssico de diferenciao, citado por Lnin (1979),
defende que um reduzido e insignificante nmero de pequenos produtores
enriquecem, enquanto a imensa maioria se arruna completamente, transformando-
se em trabalhadores assalariados ou pauprrimos e passa a viver eternamente no
limite na condio de proletrios. Tudo leva a pensar que de l para c, talvez pouco
se tenha feito para mudar esse quadro.
Desta forma, o produtor que no dispuser de meios para aumentar sua
produtividade de trabalho, ser marginalizado e entrar em processo de decadncia
at a extino social, enquanto produtor autnomo, uma vez que este se torna um
simples vendedor de sua fora de trabalho. Com efeito, a reverso deste quadro
est baseada na assistncia destinada aos pequenos agricultores no sentido de
melhorar seu padro de vida, buscando no somente o benefcio a sua famlia, mas
o conseqente benefcio sociedade como um todo.
O aumento gradual da populao tem igualmente levado a um aumento
(explorao) do uso inconseqente das propriedades agrcolas, tornado-as
insustentveis e ambientalmente degradadas (por exemplo, fadiga do solo e falta de
nutrientes). Essa ao nociva e predatria poder por em risco a segurana
alimentar e/ou a inviabilidade econmica futura, da recuperao posterior dessas
reas. Mesmo tendo j identificado o problema, devido s circunstncias mais
urgentes, de produzir o bsico para sobreviver, os agricultores so forados pela
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lgica do mercado a abandonar as medidas que garantiriam a sustentabilidade em
longo prazo. Deve-se considerar ainda a qualidade inferior dos solos da maioria
destes sistemas e sua maior vulnerabilidade degradao.
De fato, o conjunto de tcnicas utilizadas pelos pequenos agricultores
(como o consrcio de cultura, utilizado primeiramente por necessidade e que
comprovou ser altamente sustentvel) dos pases em desenvolvimento, e o seu
distanciamento da presso mercadolgica possibilitam a minimizao dos riscos.
Isto se deve ao fato de que suas unidades no so somente de produo, mas
tambm so de consumo. H, portanto, uma cumplicidade, uma espcie de
parceria, um casamento tico de quem est produzindo com aquele que o
grande motivador da construo desse processo o consumidor. Ambos, produtor e
consumidor, esto presentes na busca pela qualidade do que est sendo produzido.
2.1.4. Abordagem conceitual da agricultura orgnica
2.1.4.1. Economicamente vivel
A agricultura sustentvel traz, em si, um conjunto de objetivos que
alcanar um sistema produtivo de alimentos e fibras, garantindo aos agricultores um
grande desenvolvimento agrcola, meta de qualquer pequeno, mdio ou grande
produtor. Desta forma, o objetivo da agricultura sustentvel chegar a uma
produtividade agrcola, com o mnimo de impactos ambientais e com retornos
econmicos adequados, sem perder de vista os seus princpios.
Com relao ao exposto, o modelo da agricultura orgnica aclamado
como economicamente vivel, pois alm de minimizar os danos ambientais e
aumentar a produtividade, possibilita um rendimento extra pelo valor que hoje so
pagos em relao ao produto convencional. No obstante essas consideraes,
sabe-se que o sistema de produo orgnico dificilmente atinge a mesma
produtividade do sistema convencional. Em conseqncia, tem-se, por exemplo, os
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pequenos produtores que acabam lanando mo deste modelo de agricultura em
funo dos custos e de um retorno a longo prazo no que concerne rentabilidade.
Paradoxalmente, o processo de transformao do espao rural est sendo
caracterizado por melhoria da eficincia tcnico-econmico, que leva a uma melhor
utilizao da capacidade produtiva da terra a um menor custo de produo; pelo
emprego de tecnologias limpas, com uma dependncia menor de agrotxicos,
levando a um aprimoramento da qualidade dos produtos e ainda pelo aumento da
renda rural atravs da agregao de valor a seu produto final.
2.1.4.2. Ambientalmente sustentvel
A agricultura orgnica, at a dcada de 1970, era tida como primitiva,
retrograda, improdutiva e sem valor cientfico, o que fica evidente nesta frase do
secretrio da agricultura dos Estados Unidos da Amrica, Earl Buts (1971), citado
por Ehlers (1996 p.107):
[...] se necessrio, podemos retroceder para a agricultura orgnica neste pas, pois sabemos como pratic-la. No entanto, antes de ir nesta direo, algum precisa decidir quais sero os cinqenta milhes de norte-americanos que morrero de fome.
Entretanto, os Estados Unidos chegaram na dcada de 1980 colocando
como prioridades em sua agricultura o trip: produo, conservao ambiental e
viabilidade econmica. No obstante, isto na prtica ter sido pouco efetivamente
implantado.
A partir da, surgiram novas tcnicas, novos modelos de produo
baseados no pressuposto da sustentabilidade (tanto econmica quanto ambiental),
palavra esta que at ento tinha pouco significado. Essa mudana provocada pela
noo de sustentabilidade repercutiu tambm na poltica agrcola norte-americana.
Assim, buscou-se reduzir a quantidade de agrotxicos, o desmatamento
descontrolado, as queimadas, a salinizao dos solos, a poluio das guas, a
diminuio da biodiversidade e, finalmente, a contaminao dos homens, do solo,
plantas e animais. Todos estes elementos, importantes para garantir a
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sustentabilidade dos recursos naturais to importantes ao homem, passaram a ser
perseguidos por muitos produtores. No obstante toda a evoluo cientfica e
tecnolgica pela qual passou a agricultura, esta ainda continua dependendo dos
recursos naturais.
Segundo Altiere (2001), um agroecossistema considerado
insustentvel quando causa: reduo da capacidade produtiva provocada por
eroso ou contaminao dos solos por agrotxicos; reduo da capacidade
hemeosttica, tanto nos mecanismos de controle de pragas como nos processo de
reciclagem de nutrientes; reduo na capacidade evolutiva do sistema, e funo da
eroso gentica ou da homogeneizao gentica provocada pelas monoculturas;
reduo da disponibilidade e qualidade de recursos que atendam s necessidades
bsicas (acesso a terra, gua, etc); reduo da capacidade de utilizao adequada
dos recursos disponveis, principalmente no que se refere ao emprego de
tecnologias temporrias.
2.1.4.3. Socialmente justa
A visualizao de uma atividade econmica, como a agricultura orgnica,
s poder se perceber sustentvel, se incorporar em seus conceitos e valores o
desejo da extino da misria na agricultura. Neste contexto, so muitos os fatores
sociais que precisam ser, verdadeiramente, analisados.
Segundo Magnant (1999), alm dos aspectos da mo-de-obra poderiam
ser citados: valorizao monetria que os produtos recebem por terem sido
beneficiados, levando ao aumento de renda dessas famlias; contribuio para a
fixao das famlias no meio rural, livrando-as do caos e dos graves problemas
sociais urbanos; as melhorias das condies de infra-estrutura no meio rural que so
necessrias para o escoamento e beneficiamento da produo (estradas, energia
eltrica e outros), que garantem uma qualidade de vida melhor para essa populao
rural; melhoria da formao profissional dos agricultores para enfrentar os desafios
de produo e beneficiamento dos produtos, possibilitando uma mo-de-obra
qualificada e com possibilidade de melhores ganhos e de maiores inovaes na
agricultura por eles praticada; fornece uma entrada monetria constante durante
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todo o ano, equilibrando a renda dos agricultores; descentraliza a
agroindustrializao, permitindo a participao ativa dos agricultores e a
consolidao de estruturas democrticas e participativas no meio rural.
Tm-se ainda as seguintes perspectivas de ganhos sociais no
desenvolvimento dessas atividades: a segurana alimentar que deve ser parte
integrante de um modelo socialmente justo, pois torna efetivo um direito elementar
de toda pessoa humana: o direito a alimentao; persegue-se ainda o da
alimentao saudvel, direito sagrado do consumidor; o decrscimo no nmero
absoluto de pobres vivendo na zona rural o que no deve esconder o fato de que os
mais elevados ndices de pobreza localizam-se ainda nas reas rurais, notadamente,
na regio Nordeste; o desenvolvimento de uma famlia saudvel e bem alimentada;
a diminuio do xodo rural, tendo em vista que, em funo da agricultura familiar,
visivelmente, ocorre uma tmida fixao do homem no campo, opondo-se ao fluxo
migratrio vigente, em que grande parcela da populao rural pobre vem migrando
para as grandes cidades e metrpoles.
Constituindo um fator que, segundo Maluf (1999), trata-se da
urbanizao da pobreza, isto , a populao pobre passou a concentrar-se, em
nmero cada vez maior, nas reas urbanas, em decorrncia do elevado xodo rural
e o grau de urbanizao que caracterizam os centros urbanos brasileiros.
Valendo-se da definio constante do documento brasileiro Cpula
Mundial de Alimentao, citado por Maluf (1999, p.04), entende que,
segurana alimentar significa garantir, a todos, condies de aceso a alimentos bsicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em prticas alimentares saudveis, contribuindo, assim, para uma existncia digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana.
Pode-se afirmar que os elevados ndices de pobreza e as situaes
agudas de insegurana alimentar presentes no mundo rural brasileiro devem-se, em
larga medida, s precrias condies de reproduo da agricultura de base familiar e
insuficincia da renda auferida pelas famlias rurais nas diferentes fontes de que
podem dispor (trabalho agrcola e no agrcola, os rendimentos previdencirios, etc).
H, portanto, um entrelaamento entre o campo e a cidade. Um elo de fortes
ligaes gera a possibilidade de que uma ao errnea em um, leve conseqncias
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srias no s para si, mas tambm ao outro. Assim, como a recproca tambm seria
verdadeira.
Hennrich (2000, p. 97) conclui que:
papel das administraes municipais, individualmente ou em conjunto, das organizaes governamentais e no governamentais que atuem de forma local ou regional, exera um papel ativo na promoo do desenvolvimento do prprio municpio e da regio em que esto inseridos, considerando principalmente as atividades desenvolvidas pela agricultura familiar, com intuito de assegurar a qualidade de vida rural e urbana dos municpios, regies e conseqentemente do Pas.
O fortalecimento da agricultura orgnica passa a ser um projeto de vida
para o agricultor, uma nova forma de busca de identidade social e de viabilizao de
empregos e renda para permanncia de jovens no campo, contribuindo para a
reduo do xodo rural e, conseqentemente, do caos urbano.
O trabalho associativo ou em cooperativas de produtores tem-se
mostrado eficaz na organizao da agricultura familiar. O desenvolvimento da
agricultura sustentvel, em especial a consolidao da agricultura orgnica, atravs
da sua produo, comercializao pelos agricultores familiares um dos elementos
chaves que as organizaes dos agricultores familiares devem absorver em sua
prtica cotidiana para a construo de uma nova proposta de desenvolvimento
sustentvel.
Referindo a agricultura familiar, Castilhos e Coletti (1999, p.27) destacam
que: [...] a unificao destas entidades viabilizaria um projeto de desenvolvimento
da agricultura familiar, pois nenhuma organizao sozinha conseguir efetivar tal
proposta.
As aes a favor dos agricultores familiares devem ser concretas, a partir
de planos de ao de desenvolvimento sustentvel nas microrregies e municpios.
Referindo-se a organizao dos agricultores do sul do Brasil, Castilhos e
Coletti (1999) destacam ainda que, para que ocorra uma nova organizao da
agricultura, deve-se construir uma representao que: i) estimule a organizao da
base; ii) crie e promova a identidade dos agricultores; iii) concentre foras na luta
contra o neoliberalismo; iv) crie oportunidades concretas, como novos projetos
voltados para o desenvolvimento rural.
As idias de Castilho e Coletti (1999) podem muito bem ser aplicadas aos
agricultores que lidam com a agricultura orgnica e em qualquer regio do Brasil,
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pois se trata da necessidade que qualquer pequeno produtor possui que estar
unido a uma entidade forte e organizada.
2.1.5. Certificao da agricultura orgnica
A definio legal de produto orgnico um requisito para que os produtos orgnicos ocupem o setor formal de distribuio de alimentos, particularmente por agregar confiabilidade e permitir o enquadramento na legislao de proteo do consumidor. A certificao da produo orgnica, a exemplo da de sementes, visa a garantir a qualidade do produto, dentro dos critrios estabelecidos em lei (KHATOUNIAN, 2001, p.46).
A certificao um processo em que fica asseverado que o
produto/alimento cumpriu as exigncias. A certificao de produto orgnico, atravs
do selo, garante ao consumidor que o alimento foi produzido, inegavelmente, base
de uma agricultura sem contaminantes qumicos, pautado numa atividade agrcola
sustentvel.
Registra-se, na dcada de 1980, a primeira certificao de produtos
orgnicos no Brasil, no obstante presena da cooperativa COOLMIA, em 1978,
na organizao de parmetros que seriam adotados posteriormente por outras
instituies como: Associao de Agricultores Biolgicos AABIO no Rio de janeiro
em 1984; Associao de Agricultura Orgnica AAO em 1996, So Paulo;
Associao de Agricultura Natural de Campinas e Regio ANC, a Associao dos
Produtores de Agricultura Natural APAN e a Fundao Mokiti Okada MOA.
Em 17 de maio de 1999, a Instruo Normativa n. 007/99, entra em vigor
a respeito da certificao da produo orgnica, objetivando estabelecer as normas
disciplinadoras de produo, tipificao, processamento, envase, distribuio,
identificao e certificao de qualidade para produtos orgnicos de origem, tanto
animal quanto vegetal.
Mesmo assim, adicionalmente, os padres de certificao orgnica devem
sempre estar em concordncia com as normas que so estabelecidas pela
International Federation of Organic Agriculture Movements IFOAM, o rgo que
credencia internacionalmente as certificadoras. Criado em 1972, trata-se de uma
federao internacional que congrega os diversos movimentos relacionados com a
agricultura orgnica.
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Estabelecido em 1990, dentre as instituies certificadoras, o Instituto
Biodinmico - IBD a nica certificadora totalmente brasileira. Com sede em
Botucatu SP, a mais antiga instituio certificadora de orgnicos do Brasil
monitorada por quatro organizaes internacionais: IOAS International Organic
Accreditation Service (IFOAM Acccreditation); DAR Deutscher Akkreditieungs Rat
(EM 45011/ISO 65); USDA United States Department of Agriculture (NOP
National Organic Program), e DEMETER INTERNATIONAL.
O IBD tem um grupo tcnico, formado por inspetores (com representantes
em quase todos os estados do Brasil), ministrando cursos internos a cada seis
meses, com palestras de especialistas e com os contedos tcnicos de auditoria, o
que confere aos inspetores do IBD um nvel tcnico superior.
De modo geral, trata-se de uma instituio sem fins lucrativos, em que os
resultados alcanados pela instituio so reinvestidos no setor orgnico atravs de
pesquisas nesta rea, divulgao e crescimento da atividade no Brasil e no exterior.
Desta forma, garante ao consumidor, atravs dos selos IBD Orgnico (Figura 1) e
DEMETER a certeza de estar consumindo um produto saudvel e livre de agentes
contaminantes e prejudiciais a sade e ao meio ambiente. Permite que os pequenos
produtores possuam maior organizao, desenvolvimento na atividade e
comercializao de sua produo.
Figura 1 - Selo de qualidade, certificado orgnico - IBD. Fonte: Instituto Biodinmico, 2005.
Neste sentido, a prtica da agricultura orgnica exige a no utilizao de
adubos solveis e de agrotxicos nos ltimos trs anos, alm da existncia de
barreiras vegetais quando h vizinhos que praticam a agricultura convencional, bem
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como a qualidade da gua a ser utilizada na irrigao e na lavagem dos produtos; as
condies de trabalho e de vida dos trabalhadores; o cumprimento da legislao
sanitria, ambiental e trabalhista; a no existncia de lixo espalhado pelo
estabelecimento e o tratamento no cruel para com os animais de criao.
O processo de certificao deste instituto, a saber: 1 Etapa, compe-se
de uma matrcula, junto empresa e da assinatura do contato de inspeo com o
IBD; 2 Etapa, quando ocorrem as visitas dos inspetores, que tm a funo de
orientar e fiscalizar todo o processo de produo, bem como realizar as coletas de
material para anlises (solos, vegetais e da gua); e a 3 Etapa, aps o trmino da
inspeo produzido um relatrio, onde so registrados todos os dados da rea, do
produto e at do agricultor e ou produtor.
Dentro desse processo, o IBD inspeciona, praticamente, todos os
produtores na primeira certificao da rea e, ainda, reinspeciona os produtores que
apresentam alguma deficincia a ser sanada, dentro dos critrios para produo
orgnica.
Aps observar estes procedimentos metodolgicos, o IBD motiva dentro
do grupo de produtores um controle interno que orienta os produtores na soluo
dos problemas levantados durante a inspeo. Pode ser formado por integrantes do
grupo ou ser terceirizado. Tambm so checados os parmetros sociais, tais como:
renda familiar, condio de habitao, acesso educao. Assim, o processo de
converso do sistema convencional para o sistema orgnico leva normalmente cerca
de dois anos para ser completamente concludo. Estando tudo em conformidade,
recebe certificao de produto orgnico, passando a exibir o selo do IBD.
Um fato relevante a ser considerado neste processo so os custos de
certificao, segundo informaes IBD (2004), compreende uma mdia de R$
100,00 / produtor / ano, somando-se todos os custos com 100% de visitas (o que
compreende a primeira inspeo realizada para se visitar todos os produtores do
grupo), e de R$ 30,00 / produtor / ano, quando so realizadas visitas por
amostragem.
Os custos do processo de certificao esto dispostos dentro de quatro
tipos (matrcula, inspeo, anlise e certificao) variando de acordo com o tipo de
procedimento, podendo ser: padro quando formado por um projeto individual; e,
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o da agricultura familiar quando congrega um grupo de pequenos produtores, o
que barateia muito os custos. Esta queda no custo deve-se a misso do IBD que a
de fomentar a agricultura familiar orgnica. Os custos elencados e fixados pelo
mencionado instituto so necessrios para o processo de certificao, obedecendo
ao longo da safra anual o tipo (matrcula, inspeo, anlises e a emisso do
certificado orgnico), a taxa e a freqncia.
O custo de inspeo envolve todas as despesas de viagem (transporte,
hotel e refeies) do inspetor. Da o seu carter varivel, pois depende da distncia
entre o inspetor e o projeto a ser analisado e do tempo de sua permanncia no local.
Para tanto, o IBD possui inspetores desde o Rio Grande do Norte at o Rio Grande
do Sul. Estas despesas podero ser excludas do oramento se a companhia
garantir providenciar estes itens. Neste clculo entra tambm o valor da diria do
inspetor: de R$ 650,00 (para projetos de exportao) e de R$ 400, 00 (para projetos
do mercado interno), alm de um valor extra (meia diria) para a emisso do
relatrio final. H um custo extra neste processo que o da inspeo surpresa,
calculado em 50% do valor normal. realizada uma vez por ano, em caso de
olericultura e na produo de leite ou solicitada pelo produtor (IBD, 2004).
Outro parmetro a ser observado o custo laboratorial, para a realizao
das anlises de amostras de solo, da gua utilizada e at de vegetais. Este
procedimento utilizado antes da liberao da rea para o plantio de orgnicos, com
o objetivo de confirmar a ausncia de resduos txicos. Os custos dessas anlises
podem ser previamente obtidos pelo agricultor junto ao IBD.
E, finalmente, tem-se o custo para a emisso do certificado orgnico, entre
0,5% a 1% do valor faturado e dever ser pago sempre que o embarque exigir
certificao. Trata-se do documento que acompanha o embarque de cada produto
(em caso de exportao). Descreve o peso, o volume e tipo de produto, bem como
as demais informaes tcnicas.
Dentro do mercado interno, o valor calculado com base no total de
produto certificado vendido pela empresa, no possuindo a necessidade de emitir
certificados especficos para cada embarque. O comprador recebe o certificado
(anual) de produto orgnico. Esta taxa pode ser reembolsada caso o produto
exportado sofra avarias durante o transporte e o produtor no receba o que foi
acertado ou ainda se houver uma quebra entre o valor acertado e o da quantidade
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produzida naquela safra. O valor cobrado, para a referida taxa de matrcula,
acompanha o faturamento anual da empresa ou o grupo de produtores (caso de
uma associao) estando os referidos valores dispostos da seguinte forma, segundo
dados disponibilizados pelo IBD (2004).
Como se trata de uma entidade sem fins lucrativos, o IBD apia entidades
que no possuem condies financeiras para atuar na rea de produo orgnica e
desejam iniciar o processo de certificao. Ademais, o incentivo dado a partir de um
repasse mensal Associao de Agricultura Biodinmica, passa (dentro de sua
disponibilidade) a disponibilizar consultores para auxiliar de forma gratuita ou a baixo
custo os produtores que esto enquadrados no prazo de certificao compreendido
entre um a dois anos. Dentro desse perodo traado um cronograma de reembolso
do valor que deveria ter sido pago pelo produtor. Este valor, em seguida
reinvestido em outras instituies com os mesmos problemas financeiros. H
tambm a possibilidade do IBD dividir o custo total do processo de certificao, em
doze parcelas fixas mensais, para facilitar o pagamento.
O IBD certifica atualmente dentro do territrio brasileiro, os seguintes
produtos: acar, algodo, cacau, caf, castanha de caju, cereais, farinha, arroz,
trigo, ch, cogumelo, erva mate, extratos fitoterpicos, ervas medicinais, fcula de
mandioca, feijo, abacaxi, acerola, banana, citrus, coco, goiaba, kiwi, manga,
maracuj, melo, morango, uva, frutas desidratadas, gado de corte, gado de leite e
laticnios, gelias, gengibre, guaran, horticultura, mel, leo de babau, leo de
girassol, leos essenciais, palma de dend, palmito, polpa de frutas, sementes para
horticultura, soja e urucum.
Em seu processo de certificao, o referido instituto trabalha com o que
chama de grupo de produtores homogneos. Compe-se de um grupo constitudo
por produtores com o mesmo perfil (frutas e gros). Trata-se de um trabalho
direcionado, basicamente, a pequenos produtores, os quais devem estar
organizados e representados por alguma entidade, seja associao, cooperativa,
organizao nogovernamental, dentre outras.
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2.2. A fruticultura
De modo geral, alm das consideraes acerca da agricultura orgnica,
parece oportuno tratar brevemente sobre a expanso da fruticultura cearense para
se entender os processos que norteiam a produo da bananicultura em Itapaj.
Antes de entrar na abordagem da produo de banana orgnica, faz-se
necessrio por em discusso alguns dos aspectos da fruticultura, uma vez que: as
fruteiras ocupam reas poucos expressivas, mas tm grande importncia porque
tanto fornecem o alimento ao agricultor como bons preos nas feiras [...]
(ANDRADE, 1988, p. 53).
2.2.1. Um pouco de histria: antecedentes da agricultura e da fruticultura cearense
A colonizao portuguesa, ocupando as terras brasileiras, apropriou-se
tanto do solo, quanto das benesses que este providenciava aos portugueses.
Grandes lotes de terra brasileira, as sesmarias, foram distribudos aos colonos mais
influentes:
[...] a ocupao do territrio e o sistema de propriedade criado com as sesmarias, provocaram a existncia de uma dualidade no setor agrcola, entre o latifndio, reconhecido jurdica e socialmente, e o roado, com presena permanente mas sem proteo legal (ANDRADE, 1998, p.11).
Neste contexto, as plebes rurais, sem o devido reconhecimento legal
sobre a propriedade, foram formadas pelos pequenos proprietrios, produtores, ex-
escravos, arrendatrios; tais plebes, uma vez aliadas aos latifndios, constituram
uma dicotomia entre a grande e a pequena explorao agrcola (ANDRADE 1988).
Assim, de acordo com Szmrecsnyl (1990), basicamente, so trs os elementos
representativos do Brasil, enquanto colnia: a propriedade fundiria, a monocultura
de exportao e o trabalhador escravo.
Diante do exposto, no que concerne s mudanas efetuadas no espao
agrcola, desde o final da dcada de 1950, o termo meio tcnico-cientfico-
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informacional explica o impacto do processo de globalizao, referindo-se ao
perodo que comea praticamente aps a Segunda Guerra Mundial, em que a unio
entre as tcnicas e a cincia se d, sob a gide do mercado capitalista (SANTOS,
1996). Adicionalmente, aps a mencionada guerra, tcnicas, produtos, processos e
meios foram progressivamente sendo incorporados na agricultura, visto que isto
objetivava o controle de insetos, pragas, doenas e o desenvolvimento de adubos
concentrados e agrotxicos.
Desta forma, imperioso citar que tais avanos ficaram conhecidos, a
partir da referida dcada, como revoluo verde, uma vez que estes
caracterizam as tcnicas e os insumos agrcolas que viabilizaram crescimento da
produtividade. Baseado nessas mudanas, o governo brasileiro programou a
revoluo verde no Brasil, com vistas no aumento da produtividade agrcola.
Desta maneira, houve um aumento vertiginoso do uso de adubos qumicos e
agrotxicos no Pas, os quais contaminaram o solo, rios e reservatrios de gua,
lenol fretico e degradou reas cultivadas, exercendo um efeito devers danoso
sade.
No que concerne implementao de inovaes cientficas e
tecnolgicas, ocorreu uma maior concentrao dessas transformaes nas
regies Sul e Sudeste. Os pequenos e os agricultores menos favorecidos
socioeconomicamente no foram incorporados aos modelos de implementao
produo agrcola, ficando sem o acesso s revolues e mudanas tcnicas e
cientficas na atividade, precisamente no Nordeste.
A criao da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste
SUDENE, no incio da dcada de 1960, como agncia de planejamento e
coordenao do desenvolvimento regional, foi inegvel para superar, dentre
outras coisas, a estagnao econmica da Regio. Objetivava tambm superar os
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problemas de desemprego, o arcasmo da estrutura fundiria e baixa
produtividade da agricultura e indstria. No obstante implantao dessa
instituio, os problemas regionais no foram resolvidos.
Em meados do final da dcada de 1980, algumas reas do Nordeste
comearam a se expandir, participando dos circuitos espaciais de modernizao
agrcola (ELIAS, 2002), tanto pela produtividade de gros quanto de frutas.
2.2.2. O crescimento da fruticultura cearense
As caractersticas do Nordeste do Brasil de uma alta luminosidade, baixa
umidade relativa do ar, aliadas implantao de sistemas de irrigao favoreceram
a proviso da produo da fruticultura nordestina. Neste sentido, o Cear vem
acompanhando esse panorama: ampliou os cultivos, melhorou a produtividade e a
qualidade dos produtos agrcolas e reduziu a infestao de pragas e a infeco de
doenas.
Nesse intuito, a fruticultura cearense vem assumindo papel fundamental e
essencial na agricultura do Estado, tanto para os grandes produtores quanto para os
pequenos. As mudanas efetuadas ao longo dos ltimos anos possibilitaram um
vertiginoso crescimento no nmero das exportaes.
Essa implementao da irrigao mecanizada no Estado, com vastas
reas irrigadas, associada s condies edafoclimticas possibilitaram a produo
de frutas tropicais em qualquer poca do ano, tanto no perodo de estiagem quanto
no chuvoso (da os permetros irrigados, tais como Jaguaribe Apodi, Curu-
Paraipaba). Neste sentido, isto vem viabilizando os altos ndices de produtividade de
frutas cultivadas no Cear, j a partir da dcada de 1990.
Com respeito ao exposto, no que se refere s condies de viabilizao
ao aumento da produo da fruticultura no Estado, trata-se tambm de um discurso
que veementemente usado pelo mercado capitalista e pelo governo: tal tese
defendida por setores empresariais e da administrao pblica, que vem nas altas
temperaturas, na luminosidade e na baixa umidade relativa do ar grandes
potencialidades de utilizao produtiva do semi-rido (ELIAS, 1999).
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Por volta do perodo entre as dcadas de 1980 e 1990, tm-se as
proliferaes tanto da fruticultura quanto do consumo de frutas: desidratadas, sucos
e in natura. Adicionalmente, no que tange fruticultura tropical no Nordeste e no
Cear, houve um expressivo e inegvel crescimento do mercado consumidor interno
e externo.
Paradoxalmente, frente ao exposto, ocorre tambm uma vasta
concentrao de terra por parte desses permetros irrigados, o que contraria aos
anseios de uma factvel
[...] reforma agrria, mesmo da monetarizada com a cdula da terra. A compra de terras por parte de grandes empresas nacionais e multinacionais no Estado j uma realidade, pois somente a Del Monte [...] adquiriu mais de mil hectares na regio do Baixo Jaguaribe. A maior concentrao de terras remete ao problema da expulso do campo de pequenos arrendatrios, parceiros, meeiros, pequenos produtores de base familiar e posseiros, culminando na expropriao destes trabalhadores. Acirrar-se-, assim, a transformao das relaes sociais de produo, aumentando o nmero de trabalhadores agrcolas assalariados temporrios, fazendo crescer o subemprego, e o desemprego no campo (ELIAS, 2002, p. 31).
2.3. A bananicultura
A bananeira uma planta de fcil cultivo que bastante encontrada em
diversas regies do planeta, cuja expanso se deu pela ndia, frica, Europa e
Oceania.
As primeiras mudas de bananeira foram trazidas para o Brasil pelos
fencios e malsios. Sendo uma planta tropical, hoje , praticamente, um consenso
que tenha vindo da sia (mais precisamente Malsia), de onde passou para
Madagascar, por volta do sculo V, vindo em seguida para a frica, sendo
encontrada pelos portugueses no sculo XV, segundo relatos de Samson (1986)
apud Pino (2000).
Neste contexto, consoante Moreira (1987), a bananeira j era encontrada
no Brasil por volta do descobrimento. No obstante um relato questionado por
autores como Medina (1985). No entanto, pelo fato de ser comestvel, popular e de
ser acessvel a todas as classes sociais, trata-se de um fato de relevncia neste
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trabalho no que tange s opes de produo da banana no Brasil e, de modo
particular, produo orgnica.
As bananeiras podem ser plantadas em todos os estados brasileiros
porque se adaptam, facilmente, a reas com atitudes variando entre 0 e 1.000
metros. Com efeito, outros fatores de influncia so a altitude e a latitude, que
quanto maiores, aumentam os ciclos de produo, principalmente para os cultivares
nanica e nanico (RANGEL et al., 2002, p.04).
Morfologicamente, a bananeira considerada uma erva gigante, monocotilednea. Ela no tem caule, sendo que a parte area que se assemelha ao tronco da bananeira nada mais que um amontoado de folhas, justapostas e imbricadas umas nas outras, de forma compacta e consistente. Seu caule [...] subterrneo. Ele chamado tambm de rizoma e consiste, a bem dizer, num verdadeiro centro vital da bananeira [...]. atravs deste rizoma, o caule subterrneo, que as bananeiras se reproduzem, pelo sistema da reproduo vegetativa, no apresentando sementes frteis e nem mtodos sexuados de reproduo (PADOVANI, 1989, p.15).
As bananas comestveis pertencem famlia Musceae, subfamlia
Musoideae, gnero Musa. Uma nica banana, por exemplo, o cultivar prata
principal variedade produzida em Itapaj - CE, contm: gua (73,79 %), glicose
(15,04%), potssio (41,31 %), alm de sdio, magnsio, clcio, amido, ferro,
vitaminas B e C (RANGEL et al., op.cit.).
Os produtos oriundos do beneficiamento tanto da banana quanto da
bananeira so diversos: cerveja, papel, sorvetes, essncias aromatizantes, rao,
palmito, compota, borracha, vinagre, suco, pasta de banana, cosmticos, artesanato,
banana passa, farinha, xarope, suco, licor, banana chipe, gelia e doces variados.
As variedades da banana mais encontradas no territrio brasileiro so:
banana-da-terra, banana-nanica, grand-naime, nanico, ma, prata, pacov e ouro.
As bananas comestveis so classificadas como Musa cavendishii (tipos
nanica, nanico e congo, entre outras), Musa sapientum (tipos so Tom, santa
catarina, ouro, prata, branca, ma, marmelo, entre outras), Musa paradisaca (tipos:
banana da terra, maranh, e an) e Musa corniculata (banana pacov) (PADOVANI,
op. cit.).
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Dentre as variedades da banana, a prata a mais evidenciada no Brasil,
precisamente no Nordeste. Contm casca com colorao amarelo-ouro e sua polpa
tem colorao rsea. O pseudocaule desta pode medir em torno de 4,5 a 6 metros
de comprimento com cerca de 25 a 35 cm de dimetro, formando grandes touceiras.
Esse tipo de banana bastante suscetvel ao mal do panam.
O mal - do - Panam causado por Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E.F. Smith) Snyder e Hansen. As principais formas de disseminao da doena so o contato dos sistemas radiculares de plantas sadias com esporos liberados por plantas doentes e, em muitas reas, o uso de material de plantio contaminado. O fungo tambm disseminado por gua de irrigao, de drenagem, de inundao, assim como pelo homem, por animais e equipamentos (BORGES, 2003, p.03).
A banana nanica a variao mais cultivada em So Paulo (PLANO...,
2001). denominada de banana da casca verde ou banana dgua no Cear. Sua
estatura baixa e por isso, recebe menos influncia dos impactos dos ventos. Os
cachos podem ser prejudicados com temperaturas muito baixas. No obstante a
banana nanica ser resistente ao mal-do-panam, ela pode ser facilmente vitimada
pelo mal-de-sigatoka.
O mal-de-sigatoka apresenta duas variedades: o mal-de-sigatoka amarela
(Mycosphaerella musicola fase perfeita; Cercospora musae, fase imperfeita); e a
sigatoka negra, causada por um fungo ascomiceto conhecido como Mycosphaerella
fijiensis Morelet (fase sexuada)/ Paracercospora fijiensis (Morelet) Deighton (forma
imperfeita ou assexuada) (Borges, 2003, p.03). Sendo esta devers agressiva do
que a amarela. Segundo Rangel et al. (2002, p.28), trata-se de [...] uma doena que
destri as folhas da bananeira, impedindo a planta de respirar e elaborar
fotoassimilados para o seu sustento, levando-a morte antes mesmo de o cacho da
bananeira estar pronto para ser colhido.
Banana mysore, sendo denominada de banana ma-da-ndia, uma
fruta macia com sabor suave, doce e que lembra o sabor da ma. Contm casca
fina, cor amarelada, sensvel, e sua polpa tem colorao branca. muito suscetvel
ao mal-do-panam.
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Conhecida por ter sido a primeira a ser cultivada no Brasil, a banana-terra,
ora amadurecida, tem casca amarelada e uma polpa rosada. Contm um
desenvolvimento vigoroso, chegando a alcanar cerca de 6 metros de altura.
tambm resistente ao mal-de-sigatoka e ao mal-do-panam, entretanto pode ser
atacada pela broca-da-bananeira.
O moleque ou broca-da-bananeira, Cosmopolites sordidus, um besouro
preto, ora inseto adulto, [...] de hbito noturno; suas larvas so responsveis pelas
perfuraes que aparecem no rizoma, destruindo internamente o tecido da planta,
prejudicando o seu desenvolvimento. As folhas amarelecem, os cachos ficam
pequenos e as plantas sujeitas ao tombamento (RANGEL et al., 2002, p.23). A larva
causa diversos danos: com uma baixa produtividade, plantas ficam defic