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CADERNO TGI 1 GABRIELA P. MIGLINO JUNHO 2011

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CADERNO TGI 1 GABRIELA P. MIGLINO JUNHO 2011

Reforma psiquiátrica Politica nacional de Saúde Mental e suas instituições

À partir da Reforma Psiquiátrica, os Cen-tros de Atendimento Psicosocial (CAPS), assumem uma importância estrutural na Política Nacional de Saúde Mental. Como um registro físico de seus precei-tos, além de oferecer tratamento indi-vidualizado a nível local, as unidades do CAPS deveriam romper com o doloroso paradigma fixado até então pelas antigas instituições, sua arquitetura hospital-ar-presidial, suas arcaicas e agressivas práticas de tratamento, e o preconceito histórico firmado em torno dessas insti-tuições, tanto para seus usuários como para a sociedade em geral.

Segundo o Ministério da Saúde, a atenção bási-ca de Saúde da Família seria a base do Sis-tema de Saúde Nacional, inclusive no que diz respeito à demanda na área de saúde mental. A idéia é resgatar a singularidade de cada usuário estimulando seu comprometimento com o tratamento. Segundo as definições do Minis-tério, essa é uma aposta no protagonismo do indivíduo, buscando romper com a lógica de que a doença é sua identidade, e a medicação a ‘única’ responsável pela melhora.

e as instituições de tratamento à saúde

OBJETO DE ESTUDO 01 sanatório X CAPSARQUITETURA DA LOUCURA E A ARQUITETURA DA SAÚDE MENTAL

A proposta destes centros é oferecer serviços ambulatoriais de atenção diária, se estendendo até pacientes com transtornos mentais graves, que quando em crise, deverão ser encaminhados para unidades específicas como o hospital dia de saúde Estes centros, segundo a publicação Saúde Mental no SUS – Ministério da Saúde 2003, devem ofer-ecer e gerenciar projetos terapêuticos e cuidado clínico personalizado e eficiente, organizar a rede de serviços de saúde mental de seu ter-ritório, e promover a inserção social desen-volvendo atividades terapêuticas, estimulando a formação de grupos de convivência, e oferecendo ações intersetoriais de educação, trabalho, es-porte cultura e lazer.

Os CAPS deve funcionar em instalação física própria, independente de estrutura hospitalar, podendo situar-se dentro dos limites de área de um hospital geral, ou de instituições universi-tárias de saúde, desde que tenham equipe própria e acesso privativo.

As práticas realizadas no CAPS devem ocor-rer em ambiente aberto, acolhedor, e in-serido na cidade, e no bairro, devendo contar com um espaço físico adequado à

De acordo com as categorias estabelecidas pela portaria temos:

CAPS mental

CAPS I, de 20.000 a 70.000 habitantes, atendi-mento diário em dois turnos.

CAPS II, de 70.000 a 200.000 habitantes, atendi-mento diário em dois turnos.

CAPS III, acima de 200.000 habitantes, atendi-mento 24horas, devem contar com até 7 leitos de observação e repouso.

CAPS Infantil

CAPSi, acima de 200.000 habitantes, atendimen-to a crianças e adolescentes em regime de dois turnos diários.

CAPS Álcool e drogas

O CAPSad II, acima de 70.000 habitantes, atendi-mento a pacientes com transtornos decorrentes de substancias psicoativas, contam com até 4 leitos para desintoxicação e repouso, trabalham em re-gime diário de dois turnos.

O trabalho desenvolvido no CAPS deverá ser reali-zado em um “meio terapêutico”, isto é, tanto as sessões individuais ou grupais como a convivência no serviço têm finalidade terapêutica. Isso deve ser obtido através da construção permanente de um ambiente facilitador, estruturado e acolhedor, abrangendo as várias modalidades de tratamento, dentre elas:

- Atendimento individual: prescrição medicamento-sa, psicoterapia e orientação

- Atendimento em grupo: oficinas terapêuticas, ex-pressivas, alfabetizadoras, geradoras de renda e culturais, grupos terapêuticos, grupos de leitura e debate, atividades esportivas e de suporte social

- Atendimento à família: núcleos familiares, gru-pos familiares, atendimento individualizado à famil-iares, visitas domiciliares, atividades de ensino e lazer com familiares

- Atividades comunitárias: voltadas à integração com a comunidade, poderão ser realizadas atividades de cultura lazer e esporte, e festividades locais

Recursos físicos:

- consultório para atividades individuais- salas para atividades em grupos- espaço de convivência- espaço para oficinas- refeitório- Sanitários- Área externa para recreação esporte e oficinas

Rede de saúde mental em SP

CAPS _ Natureza jurídica

CAPS _ Distribuição por tipo

CAPS - Paradigma e realidade Entre a casa o equipamento público

Segundo as definições colocadas pela atual políti-

ca nacional de saúde mental, a casa se firma, naturalmente, como principal paradigma espa-cial para as unidades de CAPS, tanto em fun-ção de sua escala, quanto em função da escala de atendimento à que estas unidades se propõe.No sentido de se diluir o atendimento á saúde men-tal em unidades locais, e garantir atendimento in-dividualizado e próximo da realidade do usuário, é essencial que os centros de atendimento sejam ca-pazes de estabelecer uma atmosfera acolhedora que dê suporte a fragilidade emocional e psiquica de seus pacientes, encorajando-os a se engajarem no próprio processo de tratamento de maneira ativa.

Nas visitas que realizei às unidades do CAPS, pude perceber que a adequação das casas locadas para o atendimento à população acabavam sendo marcadas pela dualidade da relação equipamento público/casa. A adaptação do programa das ui-nidades à rigidez de uma planta pré determina-da, na maioria das vezes, resultavam em espaços intruncados e pouco funcionais, sem contar out-ros aspecto desfavoráveis de conforto ambiental e perceptivos que punham por terra as definições colocadas pelas recomendações da Política Na-cional de Saúde Mental.

A implementação à nível nacional dos preceitos colocados pela Reforma Psiquiátrica, com o des-monte do sistema manicomial, e a revisão do modelo que orientou a espacialidade destas instituições, é tão recente quanto é recente a valorização da arquitetura em seu potêncial ativo no tratamento à saúde mental.

Além disso, os recursos federais disponíveis para a implementação dessas unidades são escas-sos, o que faz com que a maior parte delas se estabeleçam em casas alugadas pela prefeitura, ficando à cargo da disposição financeira e in-teresse da municipalidade, se engajar ou não na construção destas.

No material disponibilizado pelo Ministério da Sáude, nota-se uma grande carência de diretriz-es específicas à respeito da arquitetura dessas unidades, cujas definições em relação às edifi-cações restringem-se a pontuar a necessidade de estarem situadas no perímetro urbano, em bair-ros de caráter predominantemente residencial, ou à adjetivos genéricos como acolhedor, facilita-dor, terapêutico, e etc..

atividades coletivas

atividades individuais

vetor de distribuição

Planta CAPS Mental II Ribeirão Preto

Em Ribeirão Preto, o CAPS II, funciona numa casa alugada em um bairro residencial/comercial, no cen-tro da cidade. Com aproximadamente 400 m², o volume central da casa articula-se em torno de um pequeno corredor que distribui o fluxo aos demais cômodos. No fundo do lote uma edícula conectada pela área livre cimentada, recebe parte do programa.

Apesar de organizadas pelo corredor, a dis-tribuição das acomodações do CAPS é bastante truncada em função do pouco espaço para uma grande quantidade de cômodos, e diferentes fun-ções. Os ambientes internos são bastante escuros e pequenos, ficam facilmente sobrecarregados e confusos em dias de movimento, o que, acentuado pela presença de grades nas janelas, passa uma certa sençasão de enclausuramento. O piso frio dos comodos da unidade é outro ponto desfavorável, deixando um aspecto hospitalar e muita reverberação acústica em todo ambiente.

* não foi permitido pela coordenação das unidades foto-grafar seus espaços internos.

Em São Carlos, o CAPS II, encontra-se na região do Jardim Paulistano, próxima ao centro mas com uma certa dificuldade de acesso em função de sua proximidade com a estação ferroviária. O terreno da casa locada pela unidade é bastante extenso, com aproximadamente 1.600 m², e atravessa a quadra toda gerando dois acessos, onde, no entanto, apenas o norte é utilizado. A testada sul faz fundo de lote com a linha fer-roviária que atualmente é bastante utilizada para o transporte de carga pesada, o que tem trazido diversos transtornos à fundação das ca-sas vizinhas e à qualidade de vida da população do bairro, que convive diariamente com o tremor e o barulho por ela gerados.

Fachada CAPS II _ Ribeirão Preto

Linha Férrea _ Fundo de lote testada sul CAPS II - São Carlos

A edificação em si, possui, aproximadamente , 500 m², no entanto, em dias de movimento mais intenso, a circulação entre os comodos, que já é defici-tária, fica ainda mais sobrecarregada. A extensa área livre que antecede a chegada à casa, funciona como válvula de escape nos dias de movimento e é bastante utilizada pelos usuários da unidade.

Em comparação com a disposição do CAPS II de Ribeirão, nota-se que a distribuição de ativi-dades no CAPS São Carlos apresenta-se mais setor-izada, configurando uma grande área de atividades de expansão (coletivas), adaptadas na parte da frente da casa e organizadas em torno da área livre, enquanto todas as atividades de atendi-mento (individuais), concentram-se no interior da edificação.

atividades coletivas

atividades individuais

vetor de distribuição Área livre testada norte CAPS II - São Carlos

Fachada CAPS II _ São Carlos

Apesar da extensão do terreno e o potencial de sua área verde livre, o fato de encontrar-se tão próximo ao trilho do trem, com o desconforto e o isolamento que essa proximidade traz a Unidade, no desenvolvimento de TGI 1 optei por relocar a unidade para uma área central e de fácil acesso na cidade.

A área livre relativa à fachada Sul possui uma vasta área de vegetação, que a pesar de utilizada para algumas atividades terapêuticas específicas, encontra-se bastante sub-ultilizada.Há também, na parte posterior da casa, uma pis-cina, atualmente tamponada.

CAPS II _ São CarlosLinha ferroviária

SÃO CARLOS - APROXIMAÇÕES leituras e área de projeto

Município de São Carlos em SP

São Carlos e municípios vizinhos São Carlos Hierarquia viária

Unidades de CAPS em São Carlos atualmente

Av. São Carlos

São Carlos Rede de saúde

Tendo em vista os mapas dos pontos do sistema de saúda da cidade, e hierarquia viária, a área escol-hida para o desenvolvimento do projeto encontra-se no bairro Vila Faria, que apresenta um caracter predominantemente residencial mas ainda bem servido de cormércio e serviços e próximo ao centro da ci-dade. Ainda pensando em integração social, o Bairro tam-bém oferece muitos pontos de ônibus, e está próxi-mo de pontos interessantes da cidade como o Estádio Rui Barbosa, o Cinema da cidade, praças, e etc..A proximidade com o CAPS AD é outro ponto im-portante, pois a proximidade entre as duas unidade poderia fortalecer o trabalho integrado entre elas, já que muitos pacientes do CAPS Mental são ou foram usuários de drogas.

Estadio Rui Barbosa

Casa de Saúde

Área de projeto

Entorno Área de Projeto

Vila Faria

Área de Projeto Fotos Panorâmicas Ruas Marechal e Dr. Rafael Vidal

Rua Dr. Rafael de Abreu S. Vidal

Rua Marechal Deodoro

35m

45m

Área de Projeto

CAPS Mental_Desenvolvimento Programa Terapia Ocupacional, arte, loucura

Este trabalho partiu, inicialmente, de um interesse pessoal pelas disciplinas que compõe o extenso universo da psico-logia como ciências humanas, especial-mente no que se refere à suas investi-gações à cerca da arte, sua importância, e sua potencialidade na significação e na formação do sujeito. Atraída por esse universo, vim a tomar contato com a obra de dois artistas, que tinham em comum o fato de terem sido, ambos, internos na Colônia Juliano Moreira, no RJ, e que me deixaram muito impressionada pela qualidade estética de seus trabalhos.

São eles Arthur Bispo do Rosário, que durantes os quase cinquenta em que este-ve internado produziu incontáveis obras com grande requinte plástico, e Stela do Patrocínio, também residente por mais de trinta anos na Colônia, e cuja expressão transbordava de maneira, curiosamente peculiar, pela palavra, tendo tido este talento registrado em gravações reali-zadas por iniciativa de voluntários e transformado, mais tarde, em um livro.

OS ANJOS VÃO ARRIANDO A FORMOSA FINA PLUMA

ESPUMA ESPONJAPOR ONDE SAI O VERBO

ESTRONDOA.B.Rosário

De início, direi que não aceito a denominação ar-teterapia, muito empregada atualmente. A palavra arte tem conotações de valor, de qualidade estéti-ca. Frisemos, entretanto, quem nenhum terapeuta tem em mira que seu doente produza obras de arte, e nen-hum psicótico jamais desenha ou pinta pensando que é um artista. O que ele busca é uma linguagem com a qual possa exprimir suas emoções mais profundas. O terapeuta busca, nas configurações plásticas, a problemática afetiva de seu doente, seus sofrimen-tos e desejos sob forma não proposicional.

Nise da Silvera, em Imagens do Incosciente, 1981

Meu nome verdadeiro é caixão enterro

Cemitério defuntocadáver

Esqueleto humano asilo de velhosHospital de tudo quanto é doença

HospícioStela do Patrocínio

Com as contribuições da psicanálise à psiquia-tria as práticas voltadas à terapia ocupacional e a arte terapia ganharam crescente espaço e importância no tratamento a saúde mental, refor-çando a riqueza e o potencial das investigações plásticas realizadas nos trabalhos dos internos, não apenas no seu sentido estético e artístico, mas, sobretudo no seu potencial terapêutico e expressivo. Por piores que fossem as condições de comuni-cação com o outro e com a realidade de alguns internos, os trabalhos realizados nos atêliers pareciam funcionar como uma espécie de portal onde a comunicação se fazia novamente possível, num resgate surpreendente deste elo perdido.

Por este motivo, a definição do programa a ser desenvolvido no projeto, terá como cerne a definição de espaços voltados à prática dessas atividades, como os atêlies, espaço de exposição dos trabalhos, salas para oficinas, apresen-tações, etc..

No hospital psiquiátrico, quem quer que olhasse os internos veria apenas seu triste aspecto exterior e jamais suporia que possuíssem riquezas internas sur-preendentes. Na terapêutica ocupacional, nos pusemos em busca dessas riquezas. Não nos movia o desejo de revelar artistas. Buscávamos descobrir que formas tomariam os conflitos e os intrincados e sofridos problemas que, decerto, se debatiam no mundo inte-rior desses indivíduos incompreendidos, frágeis, que se fechavam temerosos diante de nós. Porém, ao nos aproximarmos deles cordialmente – nunca como se fos-sem meros pacientes -, logo víamos se esboçar uma relação com possibilidades de crescimento, depend-endo de nossa atitude.Nise da Silvera, em Imagens do Incosciente, 1981

Artigas: da casa à cidade Jung: da sociedade ao indivíduo

Tendo em vista a relação que se estabelece en-tre o CAPS e a casa, como símbolo de oposição à lógica espacial de um sanatório, a obra das residências de Artigas apontam caminhos interes-santes para se pensar esta espacialidade. Em sua tese de que a casa é uma grande cidade, e a cidade uma grande casa, Artigas defente a qualidade do ambiente doméstico como formador do sujeito para a vida em sociedade, como mimese em pequena escala das questões que compõe a prob-lemática da vida em sociedade. Para ele o espaço da casa deveria ser pensado como uma continui-dade do espaço urbano e não como uma ruptura do mesmo.

Nas casas Rubens de Mendonça e Martirani, podemos verificas que o intermédio com a cidade se dá através das áreas de apoio da casa, serviços, garagem, para então se ter acesso às áreas de uso comum, cozinha, sala, e nesse gradiente, chegasse ás áreas de acesso mais restritos, como o escritório e os quartos.

A partir da habitação, teria o homem primitivo trans-posto sua não menos primitiva ‘soleira’ para apropri-ar-se do espaço em escala mais ampla. A outra margem de um rio passa a fazer parte do espaço da habitação através de uma ponte. Daí, por caminhos não tão simples como os desse resumo, podermos concluir que a ponte, a estação, o aeroporto, não são habitações, mas com-plementos, objetos complementares à habitação através dos quais o espaço da habitação se universaliza.

V. artigas, em Construir, Habitar, Pensar

A cidade é uma grande casa. A casa é uma pequena cidade.

Referencias projetuais

Leituras Casas, V. Artigasáreas de uso coletivo

áreas de uso mais restrito

vetor de distribuição

áreas de uso coletivo

áreas de uso mais restrito

vetor de distribuição

As camadas mais profundas do inconsciente dever-se-iam ter estruturado simultânea e inextrincavelmente com as experiências sociais primárias comuns a todos os ho-mens, daí a denominação de inconsciente coletivo que Jung dá a esses estratos básicos da psique.Enquanto geralmente a psicologia começa com a noção de indivíduo para depois chagar à sociedade, Jung inverte este enfoque, afirma Ira Progroff. - O homem é social por sua natureza intrínseca, ele (Jung) diz. A psique humana não pode funcionar sem a cultura e o indivíduo não é possível sem a sociedade.Nise da Silvera, em Imagens do Incosciente, 1981

Comparando as duas plantas, nota-se que na casa de Martirani, Artigas avança na integração e na flexibilidade dessas áreas de uso comum, rompen-do com a segmentação desses espaços, que em mui-tos outros projetos reaparecerão cercados por rampas com ampla continuidade visual dos ambi-entes, paradigma de integração e socialização na vida pública em escala doméstica.

É interessante traçar um paralelo entre o pen-samento de Artigas e Jung, cujo o entendimento da formação da psique do indivíduo partiria an-tes de mais nada de sua natureza social, e neste sentido, reforça-se a importancia das unidades de CAPS em seu papel de fortalecer o vinculo dos pacientes com a cultura e a sociedade em geral.

Definições e plano de massas PROJETO

Adaptação Programa PROJETO

Adaptação Programa PROJETO

Área verde livre_integração com a cidade PROJETO

Atêlie aberto e expaço expositivo PROJETO

Fotos maquete de estudo PROJETO