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CADERNO DE RESUMOS 2018

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CADERNO

DE RESUMOS 2018

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APRESENTAÇÃO

O objetivo do Seminário dos Alunos do PPGLM, criado em 2007, é proporcionar um

espaço onde estudantes de pós-graduação possam divulgar e discutir suas pesquisas

em filosofia.

Comissão Organizadora do XII Seminários dos Alunos do PPGLM/UFRJ

Daniele Pacheco

Filipe Carijó

Jonathan Sousa

Luciana Valesca Chachá

Mario Tito

Michelle Montoya

Miécimo Ribeiro

Olívia Klem Dias

Rayane Araújo

Rosi Leny Morokawa

Thiago Augusto Passos

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-Graduação Lógica e Metafísica – PPGLM, da UFRJ.

Ao Departamento de Filosofia da UFRJ

À Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Ao Gustavo Cardozo, que gentilmente fez a arte do cartaz do XII Seminário

Diagramação

Rosi Leny Morokawa

https://seminarioppglm.wixsite.com/seminarioppglm https://seminarioppglm.wordpress.com

https://www.facebook.com/seminarioppglm/ E-mail: [email protected]

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PROGRAMAÇÃO

SEGUNDA-FEIRA (01/10/18)

◼ 10:00 – Mesas de Comunicação

MESA 01 – Leituras da Filosofia Antiga MESA 02 – Metafísica

Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 107 Mediador: Luciana Chachá Mediador: Pablo Barbosa

• Viviane Veloso Pereira Rodegheri (UFRRJ) | “Adução e análise de algumas questões vinculadas à ‘filosofia pré-socrática’: um reporte aos estudos empreendidos por André Laks”.

• David Emanuel de Souza Coelho (UFMG) | “A ontologia materialista de Hobbes”

• Danielle Ferreira da Rocha (UFRRJ) | “A relação entre mentira útil e opinião”

• Luiz Filipe da Silva Oliveira (UFJF) | “Schelling e o ceticismo”

• André Luiz Braga da Silva (USP) | “Aguenta, coração; já suportaste coisas piores” (República, 441b; Odisséia, XX, v. 17)

• Rafael Ávila Matede (PUC-SP) | “O passado por vir ou a memória do futuro na filosofia de Bergson”

◼ 12:00 – Almoço

◼ 14:20 – Mesas de Comunicação

MESA 03 – Política I MESA 04 – Filosofia Contemporânea I

Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 107

Mediador: Rayane Araújo Mediador: Mario Tito

• Michelle Cardoso Montoya (PPGLM/UFRJ) | “Liberdade de expressão versus discurso de ódio: uma tensão irremediável?”

• Ádamo da Veiga (PUC-Rio) | “Tribunal e Anarquia: a teoria das Ideias em Deleuze e Kant”

• José Francisco de Andrade Alvarenga (PUC-Rio) | “Marx e a democracia”

• Eduardo Spengler (UERJ) | “A cidade e o controle dos corpos”

• Thiago Augusto Passos Bezerra (PPGLM/UFRJ) | “O pluralismo democrático na teoria de Rawls”

• Raphael Thomas Ferreira Mendes Pedgen (UERJ) | “Loucura e Verdade em História da Loucura de Michel Foucault”

• Wagner de Moraes Pinheiro (CEFET) | “Crise na democracia e a criação de muros – definições a partir (da dificuldade) do diálogo com o totalitarismo”

• Priscila Céspede Cupello (PPGLM/UFRJ) | “O Sócrates de Foucault e a estilística da existência”

◼ 17:00 – Intervalo

◼ 17:30 – MESA DE DEBATE (Abertura): “Análise da conjuntura política atual do

Brasil” Local: Sala 107

Mediadora: Rayane Araújo (PPGLM/UFRJ).

Profª. Yara Frateschi (UNICAMP)

Prof. Victor Marques (UFABC)

Prof. Ulysses Pinheiro (PPGLM/UFRJ)

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FEIRA-TERÇA (02/10/18)

◼ 10:00 – Mesas de Comunicação

MESA 05 – Epistemologia MESA 06 – Política II

Local: Sala Celso Lemos - 308 Local: Sala 106

Mediadora: Michelle Montoya Mediador: Thiago Augusto

• Filipe Monteiro Morgado (UFF) | “Koyré: κόσμος e universo infinito”

• Vinícius França Feitas (UFMG/Université Paris I Panthéon-Sorbonne) | “A ciência política de Thomas Reid (1710-1796)

• Kissel Goldblum (PPGLM/UFRJ) | “A superação da hermenêutica subjetiva na teoria do conhecimento de Espinosa”

• Miécimo Ribeiro Moreira Júnior (PPGLM/UFRJ) | “O Estado fiscal-militar e a tolerância religiosa”

• Zander Lessa Gueiros (UFF) | “Contra-atos: a noção de obstáculos epistemológicos na filosofia de Gaston Bachelard”

• Wescley Fernandes Araújo Freire (UERJ/UFMA) | “Os ‘pontos cegos’ da proposta habermasiana da tradução semântica das pretensões religiosas na esfera pública pós-secular”

◼ 12:00 – Almoço

◼ 14:00 – CONFERÊNCIA: “Viajantes do Porão ao Sótão: Filosofando com Gaston

Bachelard” Local: Sala Celso Lemos - 308

Mediadora: Luciana Chachá (PPGLM/UFRJ).

Profª. Marly Bulcão (UERJ)

◼ 15:30 – Mesas de Comunicação

MESA 07 – Filosofia Medieval MESA 08 – Filosofia e Ensino

Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 106

Mediador: Luciana Chachá Mediador: Rayane Araújo

• Pedro Thyago dos Santos Ferreira (PPGLM/UFRJ) | “A substancialidade da alma humana em Tomás de Aquino”

• Izaquiel Arruda Siqueira (UFPE) | “A Crise na Educação em Hannah Arendt: para além de uma análise conceitual”

• Luiz Fernando Pereira de Aguiar (USP) | “Sigério de Brabant e a distinção real entre esse e essentia”

• Bruno Tavares Assunção (UERJ) | “O que pode um professor de Filosofia? A reflexão em torno da responsabilidade ético-política do ensino de Filosofia”

◼ 17:00 – Intervalo

◼ 17:30 – CONFERÊNCIA: “De lógica e feminismo, uma dança” Local: Sala Celso Lemos (308).

Mediadora: Michelle Montoya (PPGLM/UFRJ)

Profª. Gisele Secco (UFSM)

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QUARTA-FEIRA (03/10/18)

◼ 10:00 – Mesas de Comunicação

MESA 09 - Hume MESA 10 – Filosofia da Mente

Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 106

Mediador: Thiago Augusto Mediador: Rosi Morokawa

• Hugo Macedo Arruda (UFMG) | “Os elementos da Filosofia de Hume”

• Maria Clara Fonseca Fanaya (UFSC) | “A conceitualidade da experiência e a presença de um eu no mundo: uma discussão na filosofia de McDowell”

• Carlota Salgadinho Ferreira (PUC-Rio) | “Do problema da existência de outras mentes na epistemologia de Hume”

• Deyvisson Fernandes Barbosa (PUC-Rio) | “Aprendendo a se iludir: ou sobre as raízes socioculturais da percepção”

• Mario Tito Ferreira Moreno (PPGLM/UFRJ) | “Uma possível aproximação entre Hume e Bermudez com relação à razão dos animais não-humanos”

• Filipe Herkenhoff Carijó (PPGLM/UFRJ) | “As condições da percepção direta”

◼ 12:00 – Almoço

◼ 14:20 – Mesas de Comunicação

MESA 11 – Filosofia Antiga MESA 12 – Ética e Metaetica

Local: Sala Celso Lemos - 308 Local: Sala 106 Mediador: Camila Rauber Mediador: Pablo Barbosa

• João Carlos Pereira da Silva (PPGLM/UFRJ) | “O que Sócrates sabia? Uma reflexão acerca da ignorância socrática”

• Evelyn Kellen Domingos Costa Lima (UFRRJ) | “Críticas ao naturalismo moral de P. F. Strawson e caminhos para avaliar sua posição”

• Felipe Ayres (PPGLM/UFRJ) | “A acústica da escrita no ‘Fedro’”

• Mariana Cabral Falqueiro (PPGLM/UFRJ) | “Truthmaker e fatos morais”

• Felipe Ramos Gall (PUC-Rio) | “O paradigma mitológico do monarca no ‘Político’ de Platão”

• Daniel Linhares Araujo da Silva (UERJ) | “Considerações sobre o hedonismo hipermoderno e suas implicações éticas”

• Jorge Quintas (UERJ) | “Elementos discursivos e retóricos no Sócrates de Hannah Arendt”

◼ 17:00 – Intervalo

◼ 17:30 – CONFERÊNCIA: “Vida e morte em Schopenhauer e os "fins" da natureza

na metafísica da vontade” Local: Sala Celso Lemos (308).

Mediador: Kissel Goldblum (PPGLM/UFRJ)

Prof. William Mattioli (UFRJ)

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QUINTA-FEIRA (04/10/18)

◼ 10:00 – Mesas de Comunicação

MESA 13 - Estética MESA 14 – Filosofia Moderna

Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 106

Mediador: Michelle Montoya Mediador: Daniele Pacheco

• Gabriel Almeida Assumpção (UFMG) | “Schelling e a crítica à subjetividade como princípio do saber”

• Andréa Alves de Abreu (PPGLM/UFRJ) | “Acaso un dios me ha condenado al tiempo, esa larga ilusión: a metafísica de Descartes e o poema em Borges”

• Wagner de Avila Quevedo (UFMG) | “O programa de Hölderlin para Iena (1794-1795): ideias estéticas além de Kant e Schiller”

• Fellipe Pinheiro de Oliveira (PPGLM/UFRJ e CEFET-RJ) | “Sobre a analogia cartesiana entre ideia e imagem”

• Rosi Leny Morokawa (PPGLM/UFRJ) | “Algumas considerações sobre definição de arte”

• Sacha Zilber Kontic (USP) | “A passividade dos seres: Malebranche e a noção cartesiana de substância”

◼ 12:00 – Almoço

◼ 14:00 – Mesas de Comunicação

MESA 15 – Filosofia Contemporânea II MESA 16 – Aristóteles e Plotino

Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 106

Mediador: Priscila Cupello Mediador: Luciana Chachá

• Verena Seelaender da Costa (UERJ) | “Sobrenome e nome próprio na filosofia de Walter Benjamin”

• Matheus Oliveira Damião (UFRJ) | “As dimensões de lugar em Aristóteles”

• Edson Lenine Gomes Prado (UFScar) | “Merleau-Ponty entre Schelling e Husserl”

• João Gabriel Borges Ribeiro (UFRJ) | “Amizade política em Aristóteles”

• Rodrigo Viana Passos (PUC-Rio) | “A gênese hermenêutica da criação: em busca do autor perdido”

• Deysielle Costa das Chagas (PUC-Rio) | “A descida da alma: a vontade instintiva e a necessidade da geração dos sensíveis em Plotino”

◼ 16:20 – CONFERÊNCIA: “Dívidas e deveres na teoria aristotélica da amizade” Local: Sala Celso Lemos - 308.

Mediador: Thiago Augusto (PPGLM/UFRJ).

Prof. Daniel Nascimento (PPGLM/UFRJ)

◼ 17:30 – Intervalo

◼ 18:00 – Palestra e relançamento do livro: “Metafísica da vontade, metafísica do

impossível: a dimensão pulsional como terceiro excluído” Local: Sala Celso Lemos - 308

Mediadora: Priscila Cupello (PPGLM/UFRJ)

Prof. Diogo Bogéa (UERJ)

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SEXTA-FEIRA (05/10/17)

◼ 10:00 – Mesas de Comunicação

MESA 17 – Lógica e Filosofia da Matemática MESA 18 – Platão Local: Sala Celso Lemos – 308 Local: Sala 106

Mediador: Rosi Morokawa Mediador: Felipe Ayres

• German Lourenço Mejia (PUC-Rio) | “Princípio de não-contradição e objetos indeterminados”

• Kellen Ferreira de Moraes (UFMG) | “Platão e a retórica de seus contemporâneos”

• Elliot Santovich Scaramal (PPGLM/UFRJ) | “Noções Completas e uma semântica leibniziana para sentenças singulares”

• Ottávio de Azevedo Oliveira Rodrigues (UFF) | “Liame e lacuna no discurso sofístico do Eutidemo de Platão”

• Félix Pinheiro (UFSC) | “Considerações sobre a aplicabilidade do conhecimento matemático através da filosofia da medição contemporânea”

• Antônio Lessa Kerstenetzky (USP) | “Há uma reflexão sobre a potência filosófica da escrita na República de Platão?”

◼ 12:00 – Almoço

◼ 14:00 – Mesas de Comunicação

MESA 19 – Filosofia e Ciência MESA 20 – Ética

Local: Sala Celso Lemos - 308 Local: Sala 106

Mediador: Michelle Montoya Mediador: Daniele Pacheco

• Ludmila Aster Souza Gomes (UFMG) | “Os fundamentos transcendentais da ciência newtoniana”

• Marcos Cesar Paes de Carvalho Filho (UERJ) | “Veracidade, mentira e direito a partir de ‘Sobre o suposto direito de mentir por amor à humanidade’ de Kant”

• Almir Paulo Rangel de Almeida (PPGLM/UFRJ) | “A relação da ciência moderna com a metafísica”

• Danilo Figueiroa (UFRRJ) | “A natureza da compaixão em Schopenhauer: mistério e cotidiano”

◼ 15:30 – Intervalo

◼ 16:00 – MESA DE DEBATE (Encerramento): “Os desafios do ensino de Filosofia

no Brasil” Local: Salão Nobre

Mediadora: Daniele Pacheco (PPGLM/UFRJ)

Prof. Antonio Saturnino Braga (PPGLM/UFRJ)

Profª. Íris Oliveira (FE/UFRJ)

Prof. Márcio Nicodemos (DIESP/SEEDUC-RJ e FE/UFRJ)

Prof. Rodrigo Santos (CEFET-RJ)

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Sumário de Resumos

RESUMO DAS CONFERÊNCIAS .................................................................................... 12

Viajantes do Porão ao Sótão: Filosofando com Gaston Bachelard ...................... 12

Prof.ª Drª. Marly Bulcão (UERJ) ................................................................................. 12

De lógica e feminismo, uma dança ............................................................................ 13

Prof.ª Dr.ª Gisele Dalva Secco (UFSM) ....................................................................... 13

Vida e morte em Schopenhauer e os “fins” da natureza na metafísica da vontade

........................................................................................................................................ 13

Prof. Dr. William Mattioli (UFRJ) ............................................................................... 13

Dívidas e deveres na teoria aristotélica da amizade ............................................... 14

Prof. Dr. Daniel Nascimento (PPGLM/UFRJ) ............................................................. 14

RESUMO DAS COMUNICAÇÕES* ................................................................................. 15

* Resumos em ordem alfabética por nome de autor(a)

Tribunal e Anarquia: a teoria das Ideias em Deleuze e Kant .................................. 16

Ádamo da Veiga (PUC-Rio) ......................................................................................... 16

A relação da ciência moderna com a metafísica ..................................................... 17

Almir Paulo Rangel de Almeida (PPGLM/UFRJ) ......................................................... 17

“Aguenta, coração; já suportaste coisas piores” (República, 441b; Odisséia, XX,

v. 17)............................................................................................................................... 18

André Luiz Braga da Silva (USP) ................................................................................. 18

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Acaso un dios me ha condenado al tiempo, esa larga ilusión: a metafísica em

Descartes e o poema em Borges ............................................................................... 19

Andréa Alves de Abreu (PPGLM/UFRJ) ...................................................................... 19

Há uma reflexão sobre a potência filosófica da escrita na República de Platão?

........................................................................................................................................ 20

Antônio Lessa Kerstenetzky (USP) ............................................................................... 20

O que pode um professor de Filosofia? A reflexão em torno da responsabilidade

ético-política do ensino de Filosofia ......................................................................... 21

Bruno Tavares Assunção (UERJ) ................................................................................. 21

Do problema da existência de outras mentes na epistemologia de Hume .......... 22

Carlota Salgadinho Ferreira (PUC-Rio) ...................................................................... 22

Considerações sobre o hedonismo hipermoderno e suas implicações éticas ... 23

Daniel Linhares Araujo da Silva (UERJ) ..................................................................... 23

A relação entre Mentira Útil e Opinião ...................................................................... 24

Danielle Ferreira da Rocha (UFRRJ) .......................................................................... 24

A natureza da compaixão em Schopenhauer: mistério e cotidiano ...................... 25

Danilo Figueiroa (UFRRJ) .......................................................................................... 25

A ontologia materialista de Hobbes .......................................................................... 26

David Emanuel de Souza Coelho (UFMG) ................................................................... 26

A descida da alma: a vontade instintiva e a necessidade da geração dos

sensíveis em Plotino.................................................................................................... 27

Deysielle Costa das Chagas (PUC-Rio) ....................................................................... 27

Aprendendo a se iludir: ou sobre as raízes socioculturais da percepção ........... 28

Deyvisson Fernandes Barbosa (PUC-Rio) ................................................................... 28

Merleau-Ponty entre Schelling e Husserl .................................................................. 29

Edson Lenine Gomes Prado (UFSCar)......................................................................... 29

A Cidade e o Controle dos Corpos ............................................................................ 30

Eduardo Spengler (UERJ) ............................................................................................ 30

Noções Completas e uma semântica leibniziana para sentenças singulares ..... 31

Elliot Santovich Scaramal (PPGLM/UFRJ) ................................................................. 31

Críticas ao naturalismo moral de P. F. Strawson e caminhos para avaliar sua

posição .......................................................................................................................... 32

Evelyn Kellen Domingos Costa Lima (UFRRJ) ............................................................ 32

A acústica da escrita no Fedro................................................................................... 33

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Felipe Ayres (PPGLM/UFRJ) ...................................................................................... 33

O paradigma mitológico do monarca no “Político”, de Platão .............................. 34

Felipe Ramos Gall (PUC-Rio)...................................................................................... 34

Considerações sobre a aplicabilidade do conhecimento matemático através da

filosofia da medição contemporânea ........................................................................ 35

Félix Pinheiro (UFSC) ................................................................................................. 35

Sobre a analogia cartesiana entre ideia e imagem .................................................. 36

Fellipe Pinheiro de Oliveira (PPGLM/UFRJ e CEFET-RJ) ......................................... 36

As condições da percepção direta ............................................................................ 37

Filipe Herkenhoff Carijó (PPGLM/UFRJ) ................................................................... 37

Koyré: κόσμος e universo infinito ............................................................................. 38

Filipe Monteiro Morgado (UFF) .................................................................................. 38

Schelling e a crítica à subjetividade como princípio do saber .............................. 39

Gabriel Almeida Assumpção (UFMG).......................................................................... 39

Princípio de não-contradição e objetos indeterminados ........................................ 40

Germna Lourenço Mejia (PUC-Rio) ............................................................................ 40

Os Elementos da Filosofia de Hume ......................................................................... 41

Hugo Macedo Arruda (UFMG) .................................................................................... 41

A Crise na Educação em Hannah Arendt: para além de uma análise conceitual 42

Izaquiel Arruda Siqueira (UFPE) ................................................................................. 42

O que Sócrates sabia? Uma reflexão acerca da ignorância socrática ................. 43

João Carlos Pereira da Silva (PPGLM/UFRJ) ............................................................. 43

Amizade política em Aristóteles................................................................................. 44

João Gabriel Borges Ribeiro (UFRJ) ........................................................................... 44

Elementos Discursivos e Retóricos no Sócrates de Hannah Arendt .................... 45

Jorge Quintas (UERJ) .................................................................................................. 45

Marx e a democracia .................................................................................................... 46

José Francisco de Andrade Alvarenga (PUC-Rio) ....................................................... 46

Platão e a retórica de seus contemporâneos ........................................................... 47

Kellen Ferreira de Moraes (UFMG) ............................................................................ 47

A superação da hermenêutica subjetiva na teoria do conhecimento de Espinosa

........................................................................................................................................ 48

Kissel Goldblum (PPGLM/UFRJ) ................................................................................ 48

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Os fundamentos transcendentais da ciência Newtoniana ..................................... 49

Ludmila Aster Souza Gomes (UFMG) .......................................................................... 49

Sigério de Brabant e a distinção real entre esse e essentia .................................. 50

Luiz Fernando Pereira de Aguiar (USP) ...................................................................... 50

Schelling e o ceticismo ............................................................................................... 51

Luiz Filipe da Silva Oliveira (UFJF) ............................................................................ 51

Veracidade, mentira e direito a partir de “Sobre o suposto direito de mentir por

amor à humanidade” de Kant ..................................................................................... 52

Marcos Cesar Paes de Carvalho Filho (UERJ) ............................................................ 52

A conceitualidade da experiência e a presença de um eu no mundo: uma

discussão na filosofia de McDowell .......................................................................... 53

Maria Clara Fonseca Fanaya (UFSC) ......................................................................... 53

Truthmaker e fatos morais .......................................................................................... 54

Mariana Cabral Falqueiro (PPGLM/UFRJ) ................................................................ 54

Uma possível aproximação entre Hume e Bermudez com relação à razão dos

animais não-humanos ................................................................................................. 55

Mario Tito Ferreira Moreno (UFRJ)............................................................................ 55

As dimensões de lugar em Aristóteles ..................................................................... 56

Matheus Oliveira Damião (UFRJ) ............................................................................... 56

Liberdade de expressão versus discurso de ódio: uma tensão irremediável? ... 57

Michelle Cardoso Montoya (PPGLM/UFRJ)................................................................ 57

O Estado fiscal-militar e a tolerância religiosa ........................................................ 58

Miécimo Ribeiro Moreira Júnior (UFRRJ/PPGLM) ..................................................... 58

Liame e lacuna no discurso sofístico do Eutidemo de Platão ............................... 59

Ottávio de Azevedo Oliveira Rodrigues (PFI-UFF) ...................................................... 59

A Substancialidade da Alma Humana em Tomás de Aquino ................................. 60

Pedro Thyago dos Santos Ferreira (UFRJ) .................................................................. 60

O Sócrates de Foucault e a Estilística da Existência .............................................. 61

Priscila Céspede Cupello (PPGLM/UFRJ) .................................................................. 61

O passado por vir ou a memória do futuro na filosofia de Bergson ..................... 62

Rafael Ávila Matede (PUC-SP) .................................................................................... 62

Loucura e Verdade em História da Loucura de Michel Foucault ........................... 63

Raphael Thomas Ferreira Mende Pedgen (UERJ) ........................................................ 63

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A gênese hermenêutica da criação: em busca do autor perdido .......................... 64

Rodrigo Viana Passos (PUC-Rio) ................................................................................ 64

Algumas considerações sobre Definição de Arte ................................................... 65

Rosi Leny Morokawa (PPGLM/UFRJ) ......................................................................... 65

A passividade dos seres: Malebranche e a noção cartesiana de substância ..... 66

Sacha Zilber Kontic (USP) ........................................................................................... 66

O pluralismo democrático na teoria da justiça de Rawls ....................................... 67

Thiago Augusto Passos Bezerra (PPGLM/UFRJ)......................................................... 67

Sobrenome e nome próprio na filosofia de Walter Benjamin ................................ 68

Verena Seelaender da Costa (UERJ) ............................................................................ 68

A ciência política de Thomas Reid (1710-1796) ....................................................... 69

Vinícius França Freitas (UFMG/Université Paris I Panthéon-Sorbonne) .................... 69

Adução e análise de algumas questões vinculadas à “filosofia pré-socrática”:

um reporte aos estudos empreendidos por André Laks ........................................ 70

Viviane Veloso Pereira Rodegheri (UFRRJ) ................................................................ 70

O programa de Hölderlin para Iena (1794-1795): Ideias estéticas além de Kant e

Schiller ........................................................................................................................... 71

Wagner de Avila Quevedo (UFMG) ............................................................................. 71

Crise na democracia e a criação de muros – definições a partir (da dificuldade)

do diálogo com o totalitarismo .................................................................................. 72

Wagner de Moraes Pinheiro (CEFET Maracanã) ........................................................ 72

Os “pontos cegos” da proposta habermasiana da tradução semântica das

pretensões religiosas na esfera pública pós-secular ............................................. 73

Wescley Fernandes Araújo Freire (UERJ/UFMA) ....................................................... 73

Contra-atos: A noção de obstáculos epistemológicos na filosofia de Gaston

Bachelard ...................................................................................................................... 74

Zander Lessa Gueiros (UFF) ....................................................................................... 74

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RESUMO DAS CONFERÊNCIAS

Viajantes do Porão ao Sótão: Filosofando com Gaston Bachelard

Prof.ª Drª. Marly Bulcão (UERJ)

O tema central da conferência é mostrar os aspectos principais da epistemologia e da poética

de Gaston Bachelard, mostrando que se trata de um pensador original que, desconstruindo

paradigmas do saber da tradição, consegue expressar adequadamente a trajetória da ciência

atual, além de, no campo da imaginação, ressaltar o processo de criação que faz com que a

imagem não seja mais uma cópia do real, mas sim uma realidade autônoma e objetiva. Partindo

da noção de casa onírica apresentada pelo filósofo em A poética do espaço, a conferência vai

deixar claro que o homem é em última instância um viajante do porão ao sótão, seguindo

sempre em sua vida um caminho que vai da razão à imaginação e vice-versa. Filosofando com

Gaston Bachelard será fácil depreender as contribuições do pensador francês para uma nova

pedagogia da razão e da imaginação que, fundamentando-se na ideia de que a verdadeira

realidade do tempo é o instante, nos leva a repensar a questão do sujeito e os fundamentos da

pedagogia da tradição, o que resulta em um novo significado de educação e uma nova proposta

pedagógica.

Palavras Chaves: Gaston Bachelard; razão; imaginação; pedagogia

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13

De lógica e feminismo, uma dança

Prof.ª Dr.ª Gisele Dalva Secco (UFSM)

Entendidas de maneira geral, as expressões “lógica” e “feminismo” designam práticas cuja

relação perece, até o momento, não ter sido objeto de atenção por parte de seus praticantes, em

especial aqueles dedicados à filosofia. Do contrário, algumas perspectivas feministas em

filosofia alegam que a lógica, como tradicional partilha de saber, estrutura-se e desenvolve-se

de modo a excluir aspectos relevantes da experiência das mulheres no mundo. Essas

perspectivas parecem implicar, quando não explicitamente postulam, ou uma necessidade de

afastamento entre lógica e feminismo ou, ao menos, a necessidade de uma reinvenção de

métodos e pressupostos canônicos em lógica, de modo a contemplar as mais determinantes

demandas dos movimentos feministas. O objetivo desta exposição é, primeiramente, delinear

um cenário em que figurem as críticas mais comuns dirigidas à lógica desde perspectivas

feministas – o que por certo exige esclarecimentos acerca dos sentidos do conceito de lógica

nelas mobilizados. Em segundo lugar, por meio de exemplos de práticas didáticas concretas,

argumentarei em favor da plausibilidade da colaboração entre lógica e feminismo, visando o

aprimoramento de alguns aspectos de ambas as práticas, com especial atenção ao âmbito do

ensino de filosofia.

Vida e morte em Schopenhauer e os “fins” da natureza na metafísica da vontade

Prof. Dr. William Mattioli (UFRJ)

O que é a vida para Schopenhauer? Qual a relação entre sua concepção da vida e o conceito de

vontade, expresso muitas vezes pela fórmula “vontade de vida”? Teria a vida um estatuto

metafísico, ou seria ela apenas uma manifestação fenomênica determinada de um princípio que

em si mesmo não pode ser identificado com nenhum tipo de “força vital”? Dizer que a vontade

é essencialmente uma vontade de vida é compreender este princípio metafísico como orientado

teleologicamente à produção material da vida biológica? E se este for o caso, como conciliar

essa concepção com a tese schopenhaueriana de que o fim da vida, no sentido finalista de uma

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meta, e não de encerramento ou término, é a morte? Essas são as questões principais que

nortearão nossa apresentação.

Dívidas e deveres na teoria aristotélica da amizade

Prof. Dr. Daniel Nascimento (PPGLM/UFRJ)

A teoria aristotélica da amizade desenvolvida nos livros VIII e IX da Ethica Nicomachea pode

e deve ser compreendida como uma teoria acerca da maneira como os seres humanos formam

comunidades e das consequências normativas que são geradas pela criação dessas comunidades

para os indivíduos que delas fazem parte. Dentre estas consequências, uma das mais

importantes é sem dúvida alguma a criação de certas “dívidas” entre os indivíduos. Embora

Aristóteles reconheça que a existência dessas dívidas implica a existência de certas relações

normativas muito precisas entre credores e devedores, ele jamais nos ofereceu uma explicação

detalhada de tais relações. Minha hipótese é que essas relações possam ser descritas de forma

particularmente perspícua com a ajuda dos incidentes hohfeldianos, introduzidos originalmente

por Wesley Newcomb Hohfeld em 1913, e de algumas das principais contribuições que nos

foram oferecidas nos últimos dois séculos acerca da maneira como nós empregamos o termo

‘dever’. Para fundamentar minha hipótese, apresentarei uma interpretação não apenas da

maneira como Aristóteles pensa as dívidas e as suas consequências normativas, mas também

para alguns trechos da literatura grega que nos oferecem preciosos testemunhos acerca de como

as dívidas e suas consequências normativas eram pensadas dentre os gregos. Tal como pretendo

mostrar, tudo indica que, tanto o texto em Aristóteles quanto antes dele, os gregos pensavam

que as dívidas de fato envolviam as mesmas relações normativas que são denotadas pelos

incidentes hohfeldianos e por um certo emprego do termo ‘dever’ que é muito comum dentre

nós.

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RESUMO DAS COMUNICAÇÕES

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Tribunal e Anarquia: a teoria das Ideias em Deleuze e Kant

Ádamo da Veiga (PUC-Rio)

Neste trabalho, procuraremos demonstrar como a filosofia de Deleuze pode ser considerada

plenamente uma ontologia pós-crítica na medida em que se situa dentro da problemática

kantiana, oferecendo, no entanto, outros caminhos e outras saídas que não as oferecidas por

Kant. Há uma retomada do interesse especulativo na filosofia contemporânea, voltada às

possibilidades de investigação daquilo que é exterior às condições de manifestação a um

sujeito. A filosofia de Deleuze, desde “Diferença e Repetição”, já parece orientada para essa

questão: como coloca Daniel Smith, dentre outros, o livro se pretende uma reescrita da “Crítica

da Razão Pura”, e pretenderemos argumentar que o cerne desta reescrita passa justamente por

uma reversão do conceito de “Ideia”, tal como colocado por Kant, de tal forma a lhe dar uma

orientação ontológica. Para Deleuze, a Ideia já não é mais uma “[...] totalidade das condições

para um condicionado dado”, mas uma condição que não excede aquilo que ela condiciona.

Trata-se de um princípio imanente de gênese e não mais um condicionamento transcendente.

A Ideia, para Kant, possui um uso regulativo, se reportando a necessidade de uma totalidade

máxima do entendimento para além de qualquer experiência possível; para Deleuze, esse “para

além” consiste no princípio constitutivo do próprio pensamento, das faculdades e seu acordo a

partir de uma alteridade intrínseca: o não-pensado no pensamento, o não-sensível na

sensibilidade. Esta alteridade é o cerne do conceito de Ideia: se para Kant, ela consiste em um

princípio máximo de totalização identitária, para Deleuze ela atesta a diferença enquanto

númeno. Pretenderemos, assim, expor essa questão de modo a justificar a natureza pós-crítica

da filosofia deleuziana.

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A relação da ciência moderna com a metafísica

Almir Paulo Rangel de Almeida (PPGLM/UFRJ)

Podemos dizer que a Ciência começou a ser gerada (ainda sem esse nome) nos séculos XVII e

XVIII, tendo duas principais correntes em disputa: o Empirismo e o Racionalismo. De um lado,

os britânicos, majoritariamente adeptos da doutrina empirista, defendo que todo o

conhecimento provém da experiência e um método indutivo e observacional para se gerar

conhecimento, que mais tarde originou o atual método das ciências naturais. Enquanto isso, os

racionalistas tendem a seguir Descartes em sua cautela quanto aos sentidos e sua preferência à

intuição, a razão e a dedução, tendo um método muito mais voltado às ciências formais. Assim

sendo, nossa exposição consistirá de um estudo primeiro do Empirismo, depois faremos o

mesmo com o Racionalismo, em seguida analisaremos a relação de cada uma das correntes

com a metafísica e assim poderemos concluir porque e como a ciência atual adotou o método

empírico como base de sua metodologia ao invés de um método mais próximo do sugerido

pelos racionalistas.

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“Aguenta, coração; já suportaste coisas piores” (República, 441b; Odisséia, XX, v.

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André Luiz Braga da Silva (USP)

Na abertura do Livro II da República de Platão (357a-367d), os personagens Glauco e

Adimanto mostram a Sócrates que não havia sido propriamente respondida a questão que guiou

a discussão no Livro I – de qual vida é a melhor a ser vivida, a justa ou a injusta (Rep. 336e;

344e; 352d; 354a). Sócrates diz que é preciso então investigar o que viria a ser a justiça e a

injustiça, e como elas surgem na alma do indivíduo. Além disso, ele diz que, antes de realizar

essa busca na alma individual, seria mais fácil primeiro realizá-la num modelo maior e mais

fácil de ser visto, e propõe para tanto o modelo de uma cidade. Todos concordam e assim é

feito: uma cidade é criada “em palavras”. No Livro IV, a investigação acerca dessa cidade

alcança a conclusão de que a cidade justa é aquela que tem três partes ou gêneros de habitantes

nela, e que a justiça consistira num tipo de relação harmoniosa entre essas partes ou gêneros.

Resta averiguar se estas características do modelo (a cidade) são verificáveis também na alma

do indivíduo. Para realizar esta averiguação, Sócrates propõe aquilo que ficou conhecido como

o “Princípio de Não-Contradição” ou “Princípio dos Opostos” da República: não é possível “o

mesmo ente, com relação ao mesmo, segundo o mesmo e ao mesmo tempo, sofrer, fazer ou ser

coisas contrárias” (República, IV, 436e8-437a2). Nossos objetivos são: i) apresentar um

possível antecedente pré-socrático deste Princípio; ii) explicitar de que modo esse Princípio

opera na República no sentido de comprovar que a natureza da alma é plural como a da cidade;

iii) apresentar o exemplo homérico que aponta para essa natureza; iv) esmiuçar algumas

possíveis contestações que poderiam ser feitas ao Princípio, bem como as respostas que o

diálogo fornece a elas.

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Acaso un dios me ha condenado al tiempo, esa larga ilusión: a metafísica em

Descartes e o poema em Borges

Andréa Alves de Abreu (PPGLM/UFRJ)

Em La Cifra, Jorge Luis Borges publica seu poema a Descartes. Escritor, ensaísta e poeta,

Borges, também, compôs poemas a Spinoza, Heráclito e Platão. Autodefinindo-se “um

argentino extraviado na metafísica”, seus escritos incorporam o gênero literário fantástico

negando a oposição binária argumentos impossíveis versus argumentos lógicos.

No poema, a referência ao Deus Enganador aparece como uma possibilidade (“acaso un dios

me engaña”) e sua função é condenar o narrador Descartes ao tempo, “esa larga ilusión”. O

objetivo desse trabalho foi descrever que a ilusão a que se remete Borges pode ser sustentada

por Guerroult (1953) ao defender que o tempo, na filosofia cartesiana, é descontínuo e que a

noção de continuidade é dada pela percepção humana que encontra continuidade no que é, de

fato, descontínuo.

A palavra ilusão, presente no poema, não foi tomada nem como engano, nem como inocência,

nem como erro a ser corrigido. Seu caráter remonta a algo que não é, mas que se sustenta como

sendo. Na expressão “larga ilusión”, a palavra “larga”, se traduzida como prolongada, implica

a noção de continuidade, de algo que se estende. Nesse caso, uma ilusão que se estende

pressupõe o tempo em que ela se estende, e o tempo é, justamente, aquilo que é apontado como

ilusão.

Supõe-se que a ilusão do tempo não pode ser substituída por algo não ilusório. Referir-se a essa

ilusão, seja poética ou metafisicamente, não a desqualifica. Antes, remete à condição do

homem no mundo a qual a poesia borgeana tensionou e que a metafísica de Guerroult (1953)

depreendeu do sistema filosófico cartesiano.

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Há uma reflexão sobre a potência filosófica da escrita na República de Platão?

Antônio Lessa Kerstenetzky (USP)

No corpus platônico, só no Fedro um personagem explicitamente se posiciona sobre a

possibilidade de se fazer filosofia por escrito (247c-275b), e lá a conclusão é negativa: um texto

não tem características que são fundamentais para o exercício dialético. Aqui, proponho que

há elementos nos dois primeiros livros da República que não apenas justificam a mudança de

método de investigação de Sócrates, mas também introduzem um novo estilo platônico como

solução aos problemas apontados no Fedro.

Mostro como Platão deixou rastros narrativos no primeiro livro mostrando que o ‘fracasso’ de

Sócrates de convencer seus interlocutores pode ser lido, na chave do Fedro, como o fracasso

de Platão de engajar seus leitores em um exercício dialético nos diálogos de ‘juventude’, dos

quais o primeiro livro é um pastiche.

A insuficiência do estilo de juventude é estabelecida, assim, em dois níveis: ‘dentro’ do

diálogo, o próprio Sócrates não atenderia à curiosidade filosófica de personagens como

Gláucon e Adimanto se continuasse a usar métodos refutativos. Do ponto do fazer literário,

Platão mostra a incapacidade do estilo dos diálogos ‘socráticos’ de engajar o leitor em um

exercício dialético. Ele escreve, por exemplo, personagens que articulam insatisfações que o

próprio leitor pode ter diante de um diálogo socrático. Além disso, temos uma plateia

silenciosa: personagens que não falam e que, portanto, não podem ser mobilizados através de

um teste elêntico de crenças, assim como o leitor. A alternância constante de personagens

simula algo que ocorre com o texto: passado de mão em mão, será alvo de críticas vindas de

leitores com diferentes níveis de interesse e posições. Defendo que, com Gláucon e Adimanto,

Platão buscou ao mesmo tempo articular quem seria o leitor ideal da República e inseri-lo no

próprio diálogo, com o resultado de Sócrates fazer discursos, mudança radical do ponto de vista

estilístico.

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O que pode um professor de Filosofia? A reflexão em torno da responsabilidade

ético-política do ensino de Filosofia

Bruno Tavares Assunção (UERJ)

O presente trabalho tem por objetivo refletir e apontar as implicações ético-políticas em torno

do ensino de Filosofia. Há quase uma década o ensino de filosofia teve a sua reinserção no

currículo do ensino médio, suscitando uma gama de discussões e medidas em seu entorno.

Tendo como viés o conceito de responsabilidade, a partir do existencialismo de Jean-Paul

Sartre, é fundamental a reflexão acerca da questão do ensino filosófico considerando a esfera

da responsabilidade para com o outro. Compreender a relação apontada por Sartre, esta relação

do Para-si e do Para-outro, é fundamental para dimensionar a importância de sua filosofia como

constituinte de uma perspectiva do homem não apenas para o início do século, mas, sobretudo,

para retornarmos ao passado e nos projetarmos ao futuro com o intuito de objetivarmos a ideia

de responsabilidade, acima de tudo.

Garantir o acesso ao ensino filosófico compreende, acima de tudo, um compromisso com toda

a humanidade. Somente a partir da reflexão de sua existência, da existência do outro e do

mundo, o Para-si compreende-se como consciência partícipe de seu papel político no mundo e

a experiência da filosofia torna-se possível.

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Do problema da existência de outras mentes na epistemologia de Hume

Carlota Salgadinho Ferreira (PUC-Rio)

Em T 1.4.2, Hume mostra ser indecidível por processos racionais - por demonstração e

raciocínios causais - a questão de saber se os objetos do conhecimento, paixões e, mais em

geral, juízos, existem exterior (fora) e independentemente da mente. A razão para isso é que

não existe contradição em se conceber que as questões de facto existem apenas enquanto são

apreendidas pelos sentidos, portanto, ambos os casos são igualmente possíveis. Porém, como

notaram A. J. Ayer, J. Passmore e K. Smith, Hume não coloca a questão de saber como se

explica a atribuição de uma mente a outro indivíduo, cujo corpo é tão apreensível pelos sentidos

quanto outros objetos (não classificados como humanos). Apesar de os corpos serem

observáveis, é impossível ter uma impressão das impressões dos outros, tampouco dos seus

raciocínios, paixões e motivos. Ainda assim, atribuo-os a mentes mediante a constatação da

sua semelhança com a minha própria – única à qual tenho um acesso privilegiado. Nesta

comunicação, em primeiro lugar, pretendo explicar a importância do fenómeno da crença na

existência de outras mentes para a constituição de um plano intersubjetivo, principalmente no

âmbito das paixões e da troca argumentativa: como se formula a ideia desse outro eu

relativamente ao qual se desenvolvem paixões? Como se gera a ideia desse (outro) eu na minha

mente? Como reconheço os raciocínios dos outros como tendo a mesma natureza que os meus?

Em segundo lugar, pretendo expor uma explicação que julgo plausível para este fenómeno,

construída a partir de algumas teses que protagonizam o livro I do Tratado da Natureza

Humana, procurando desenvolver como se estrutura, epistemicamente, o acesso a outras

mentes – das quais não se pode ter uma impressão, que é o que, aparentemente, suscita a cadeia

de associações de ideias envolvidas na atribuição da existência exterior aos corpos.

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Considerações sobre o hedonismo hipermoderno e suas implicações éticas

Daniel Linhares Araujo da Silva (UERJ)

Deseja-se apresentar neste trabalho algumas questões exploradas pela tese de doutorado, ainda

em curso, “O fenômeno hedonista hipermoderno: Oportunidades para uma ética do cultivo de

si e do cuidado do outro”, a qual investiga os fenômenos circundantes ao hedonismo

hipermoderno e sua viabilidade ética quando se lança a hipótese de um hedonismo temperante.

Tem-se como primeira tarefa delinear o conceito de hedonismo, procurando compreendê-lo em

duas perspectivas: uma que percebe o hedonismo enquanto uma perspectiva ética; e outra que

o toma como um modo de vida que escolhe e alça o prazer como meio para uma estetização da

existência. A partir dessa reflexão, e considerando válido o pressuposto da hipermodernidade,

estruturado e apresentado por Gilles Lipovetsky, tem-se como segundo objetivo apresentar aqui

os elementos que permitem ou não afirmar a existência de uma cultura hedonista

contemporânea, reconhecendo suas fronteiras e sua autenticidade, e investigando, sobretudo,

suas principais implicações éticas correlacionadas a fenômenos como o individualismo e o

neonarcisismo.

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A relação entre Mentira Útil e Opinião

Danielle Ferreira da Rocha (UFRRJ)

Este trabalho terá como objetivo, a partir da leitura, sobretudo da obra A República, de Platão,

tratar da questão da Mentira, discernindo, por suas características dissonantes, duas de suas

formas. Uma, que por estar dissociada da verdade, se configura à maneira de um engano

completo por parte de quem adere a ela, sendo capaz de confundir suas ações, e que deve, por

isso, ser rejeitada; e uma segunda que se utiliza da multiplicidade aparente para fazer surgir,

como que por detrás das alegorias do discurso, a verdade, sendo apenas uma mentira por

palavras, uma espécie de ficção, e que pode cumprir com diversas funções dentro de uma

cidade, como por exemplo, na educação. Assim, a completa mentira pode causar grandes

prejuízos, mas aquela mentira que não for isenta de misturas, mas que for acrescida o mais

possível de verdades, torna-se um composto benéfico, como se dá com os remédios, que

possuem caráter dúbio, e podem ora matar, ora curar. Portanto, os mesmos cuidados que temos,

tanto com a elaboração, quanto com a prescrição dos remédios para o corpo, delegando essa

função aos médicos, como lhes compete, devem ser tomados em relação a mentira, cabendo

aos chefes das cidades, que têm a competência para direcionar os cidadãos, fornecer os moldes

sob os quais se deve forjar todas essas mentiras a que chamaremos úteis e que devem ser

prescritas conforme a necessidade da cidade e de seus cidadãos. A julgar, a partir, por exemplo,

do papel que exerce na educação, veremos que a Mentira Útil, ou também Mentira Nobre, por

sua própria constituição, parte verdadeira e parte falsa, é capaz de fornecer um direcionamento

aos cidadãos, que parece se distinguir tanto do conhecimento, quanto da ignorância absolutos,

dando aos cidadãos, uma noção que se encontra numa posição intermédia entre estes, assim, o

segundo objetivo será a elucidação disso que chamamos conhecimento e ignorância, bem como

a posição do que é chamado por Platão de opinião em relação a eles.

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A natureza da compaixão em Schopenhauer: mistério e cotidiano

Danilo Figueiroa (UFRRJ)

Este trabalho empreende um estudo sobre a natureza e o significado moral das ações humanas

a partir do pensamento de Arthur Schopenhauer. Trata-se de uma investigação da chamada

ética da compaixão schopenhaueriana que tem por objetivo central destacar as diferenças e

particularidades dos aspectos metafísicos e misteriosos do ato compassivo em relação à

compaixão como algo empírico, cotidiano ou mesmo como ação planejada. Após breve

exposição de elementos centrais da metafísica da vontade e da metafísica da ética do filósofo

de Frankfurt, procuramos sustentar a seguinte hipótese: se Schopenhauer propôs uma análise

da moral e do fenômeno ético originário (a compaixão) – principalmente em O mundo como

vontade e representação – pelo prisma metafísico de uma ação que pode ser descrita como

imediata e repentina, ele também apresentou o fenômeno de tal compaixão – notadamente em

alguns parágrafos de Sobre o fundamento da moral – sob um viés empírico, que admite até

mesmo a necessidade de ponderações racionais com as quais, somente após debates, por

exemplo, decide-se pela execução ou não de uma ação compassiva. Mostramos que esses

aspectos menos misteriosos da compaixão podem ser notados, sobretudo, no âmbito das

virtudes da justiça e da caridade, graus da compaixão ou ações derivadas dela. Mas indicamos

também que, devido à inclusão dos animais irracionais na fundamentação da moralidade,

elementos textuais como o elogio e o apoio do pensador às Sociedades Protetoras dos Animais

podem ilustrar a face mediata e ativa da compaixão. Pois se é por compaixão que alguém cria

uma organização de caridade ou de proteção a pessoas ou a animais sofredores, decerto a

compaixão como fenômeno misterioso e imediato, tomada estritamente em termos de “o grande

mistério da ética”, não bastaria para mover e manter a ação até a sua concretização final. Seria

necessário reconhecer também o papel ativo do intelecto como mediador de motivos e ações.

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A ontologia materialista de Hobbes

David Emanuel de Souza Coelho (UFMG)

Hobbes propõe uma ontologia puramente materialista. Nas palavras do filósofo, apenas o que

é corpo pode ser considerado existente. O que não for corpo simplesmente não possui

existência. Certamente, trata-se de uma posição radicalizada a partir da nova metodologia

científica, emergida no período da chamada revolução científica. Nesta nova metodologia,

passou-se a se considerar como sendo passível de tratamento científico o âmbito da matéria, a

qual poderia ter tratamento quantitativo. As visões escolásticas em torno de qualidades ocultas

ou de essências são abandonadas. Ou seja, a matéria, o corpo, passam a assumir papel central

na investigação científica. Há, deste modo, o surgimento de uma ontologia materialista, embora

esta ainda esteja fortemente implícita. Na verdade, no período moderno (entre os séculos XVI

e XVII), existe um enorme esforço para compatibilizar esta nova metodologia materialista com

antigas visões metafísicas de cunho não material. Basta citar o exemplo de Descartes que

duplica a realidade, instituindo uma ontologia dual, material e ideal. Hobbes, portanto, parece

ser um caso especial do período, pois ele rompe com a conciliação e abraça radicalmente o

materialismo, chegando mesmo a defender a corporalidade de Deus. Meu objetivo, na

comunicação, será expor de que forma o filósofo inglês concebe e articula tal visão ontológica.

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A descida da alma: a vontade instintiva e a necessidade da geração dos sensíveis

em Plotino

Deysielle Costa das Chagas (PUC-Rio)

O presente artigo objetiva analisar o dilema que se apresenta dentro do sistema filosófico

plotiniano – inclusive manifesto pelo próprio autor – acerca das razões da descida da Alma à

matéria. A estrutura do sistema filosófico plotiniano consiste na hierarquia das hipóstases

inteligíveis constituída pelo Uno-Bem (hén-agathós), pela Inteligência (nous) e pela Alma

(psykhé) e, a partir desta, a relação com a realidade sensível. Plotino apresenta-nos o Uno-Bem

como princípio primeiro de tudo, superabundante, causa de si mesmo e potência infinita das

coisas. A Inteligência deriva diretamente do Uno-Bem. Enquanto o Uno-Bem é potência de

todas as coisas, a Inteligência é a própria “todas as coisas” em sua unidade inteligível. Da

mesma maneira que através da Inteligência o Uno-Bem faz-se Ser e Pensar, é através da Alma

que esta Inteligência se desdobra na realidade sensível introduzindo nela o ser e a forma.

Contudo, ao exercer esse papel, a Alma pode ser afetada por aquilo que está abaixo dela, e, se

ela se omitisse desta relação com a realidade inferior (a matéria), os sensíveis não viriam a ser.

Qual seria então a real razão de sua descida? A Alma, por causa de seu intuito de dar vida e

ordem, desceria ao corpo de bom grado, por sua própria vontade (hekoûsa), ou existiria uma

obrigação a sua descida segundo a lei de processão, sendo ela forçada (biastheîsai) por uma

ordem superior à cumprir sua função, ou ainda existiria um outro motivo além desses? Temos

portanto o dilema acerca da vontade e da necessidade para a compreensão deste ponto da teoria

de nosso autor. Para tal análise, fundamentar-nos-emos no tratado “Sobre a Descida da Alma

aos Corpos” (En. IV 8 [6]), em que Plotino afirma a existência de uma vontade instintiva da

alma tender ao corpo para dar-lhe forma e ordená-lo. É este conceito de vontade instintiva que

conciliará, na filosofia plotiniana, vontade e necessidade, que, apesar de serem opostas, são

razões simultaneamente atuantes na descida da Alma.

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Aprendendo a se iludir: ou sobre as raízes socioculturais da percepção

Deyvisson Fernandes Barbosa (PUC-Rio)

Nesta apresentação, eu defendo que as mais variadas formas de ilusões ópticas nos ensinam

bastante sobre o que deve ser considerado quando estamos tentando elaborar uma teoria da

percepção, ao menos uma teoria fundamental da percepção. Para este evento, eu uso a famosa

ilusão de Müller-Lyer como exemplo. Uma característica dessa ilusão óptica é que ela é sempre

dependente de um certo contexto cultural. Em outras palavras, a possibilidade de uma

suscetibilidade universal à ilusão de Müller é, ao meu ver, simplesmente descartada a

posteriori. Assim, a pergunta fascinante aqui é: o que as ilusões ópticas, em especial a de

Müller-Lyer, nos ensinam sobre o erro na percepção? A minha resposta é, à primeira vista,

bastante simples: o erro na percepção é sempre contextual, biológico, cultural e corporificado.

Entender como erramos é, eu defendo, entender como a nossa história de engajamentos com o

ambiente, e os padrões de comportamento que herdamos ao longo da nossa história natural,

nos tornou mais vulneráveis ou mais ilesos a certos desencontros nos atos perceptivos (Vide

Hutto & Myin 2017). Se a minha análise está correta, uma teoria fundamental da percepção

deveria enfatizar, em primeiro lugar, a nossa história interativa com as ofertas mundanas.

Assim como, por exemplo, a língua dominante de uma determinada comunidade molda o nosso

modo de pensar desta como um todo, a nossa história de engajamentos com o mundo explica,

literalmente, como tendemos a perceber de uma certa forma e não de outra. Na instigante

formulação de Andy Clark (2015b, 05, ênfases originais), nós percebemos os “patterns that

matter for the interactions that matter”. Com isso em mente, uma teoria fundamental da

percepção demanda, por natureza, uma boa explicação de como herdamos os padrões (úteis)

de comportamentos dos nossos ancestrais. Uma vez que essa explicação seja alcançada,

seremos capazes de discernir quais são os elementos cruciais, e indispensáveis, para uma teoria

fundamental da percepção.

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Merleau-Ponty entre Schelling e Husserl

Edson Lenine Gomes Prado (UFSCar)

Quando retomamos o exame da história filosófica da ideia de natureza empreendido por

Merleau-Ponty em seus cursos ministrados no Collège de France na segunda metade dos anos

cinquenta, salta à vista o lugar central que adquire neles o pensamento de Schelling. Para além

dos quadros da ontologia cartesiana em que a natureza é sinônimo de existência em si, sem

interior e orientação, Merleau-Ponty parece encontrar na Naturphilosophie elaborada pelo do

autor do "Sistema do idealismo transcendental", elementos para evidenciar que a natureza é

uma atividade produtora que excede as relações mecânicas, desvelando-se portadora de

interioridade e de expressividade, ou ainda, para mostrar que a natureza se configura como uma

produtividade originária que continua sob as produções artificiais do homem. Mas se é assim,

ou seja, se a filosofia de Schelling contribui sobremaneira para descortinar uma concepção de

natureza livre dos prejuízos daquela formulada por Descartes, ao nos voltarmos para outros

escritos de Merleau-Ponty redigidos no mesmo período, em particular o decisivo ensaio "O

filósofo e sua sombra", notamos que ela contribui também para mediar ou colocar em novos

termos o longo diálogo que Merleau-Ponty entretém com a fenomenologia de Husserl.

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A Cidade e o Controle dos Corpos

Eduardo Spengler (UERJ)

O artigo busca entender como a cidade tal como hoje existente é um produto da sociedade

francesa do século XVII-XVIII após as consequências da peste, as quais levaram ao surgimento

do modelo inclusivo do pestilento, à estrutura de vigilância do Panoptico e a descoberta da

sociedade disciplinar por Foucault. Foi utilizada a análise arqueológica de Foucault pra analisar

os discursos sobre a cidade, sendo a obra Vigiar e Punir o cerne da investigação buscando

dialogar com outras correntes de pensamento, como o contratualismo. Como um subproduto

da sua investigação sobre as prisões, Foucault descobriu como se deu a construção das cidades

como espaços de controle e disciplinação dos corpos pelo modelo de inclusão que a peste

trouxe às cidades europeias em oposição ao anterior modelo de exclusão, que era implantado

como medida contra a lepra e a loucura. Este modelo de inclusão/exclusão tem paralelo com o

modelo de punição/disciplinarização. Segundo o autor, nas cidades, os corpos disciplinados

devem ser esquadrinhados e vigiados todo o tempo da forma mais econômica possível para o

sistema de controle. A indisciplinaridade dos corpos deve ser punida pelas forças de repressão

de uma hierarquia rígida que faz com que a cidade funcione como um enorme mecanismo

penal. Foi a partir do século XVIII que, para além da punição dos corpos, surgiu toda uma

economia dos corpos, uma disciplinarização destes por meio do exercício de uma vigilância

constante sobre estes, o novo modelo disciplinar. A tecnopolítica da punição não se deu mais

pelo suplício, mas pela vigilância e disciplina constante dos corpos. A cidade não deve ser

tomada como algo dado e necessário, e nunca entendida como um processo linear histórico ou

como um processo teleológico. Contesta-se o mito contratualista e a visão eurocentrada de

cidade como fim evolucionário humano, além do discurso da superioridade do sistema

civilizatório ocidental.

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Noções Completas e uma semântica leibniziana para sentenças singulares

Elliot Santovich Scaramal (PPGLM/UFRJ)

O objetivo desta comunicação é mostrar que e como a Doutrina da Noção Completa (DNC)

oferece, não apenas uma teoria das representações do entendimento divino, mas uma semântica

profunda universal para sentenças singulares. Entenderemos por “DNC” a tese de que haveria

conteúdos conceituais que satisfariam a propriedade de segunda ordem de completude de notas

características, i.e., a propriedade de “ser um conceito P tal que, para todo conceito simples Q,

ou bem Q ou bem ¬Q seja uma nota de P”. Em primeiro lugar, para defender que a DNC oferece

uma semântica para sentenças singulares, tentaremos demonstrar que, dado o

comprometimento de Leibniz com duas teses logico-metafísicas, (i) o Princípio de Completa

Determinação e (ii) o Princípio de Identidade dos Indiscerníveis, tais conceitos só poderiam ser

instanciados com unicidade, assim como qualquer objeto só poderia instanciar um conceito

dessa sorte, sob pena de contradição ao contrário, de modo que tais conceitos seriam aptos a

estabelecer os critérios exaustivos de identidade de um indivíduo possível. Assim, seríamos

capazes de prover definições contextuais para termos singulares, similares às da Teoria das

Descrições de Russell, de modo que para cada sentença singular em gramática superficial Q(a),

houvesse um e somente um correspondente em semântica profunda “Ɐx (P(x) →Q(x))” em

que “P(x)” fosse uma noção completa e “Q(x)” uma suposta nota de “P(x)”.

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Críticas ao naturalismo moral de P. F. Strawson e caminhos para avaliar sua

posição

Evelyn Kellen Domingos Costa Lima (UFRRJ)

A articulação de P.F. Strawson, em Freedom and Resentment, estabelece uma justificação para

a liberdade. O seu argumento é bem-sucedido? Russell afirma que não porque Strawson falha

no estabelecimento de distinções essenciais para o problema da justificação da liberdade.

Acreditando endossar um naturalismo brando (type-naturalism), Strawson estaria, segundo

Russell, endossando, na verdade, um naturalismo duro e implausível (token-naturalism); Para

replicar a posição incompatibilista, Strawson assumiria dois argumentos, um racionalista e um

naturalista, que são conflitantes. No primeiro, ele aceita que há situações em que recuamos

diante das nossas atitudes reativas por considerá-las inapropriadas. No segundo, entende que

nenhum raciocínio é capaz de nos fazer descartar nossas propensões naturais a sentimentos e

atitudes morais. Dessa forma, nessa interpretação russelliana, Strawson defenderia que

podemos e não podemos nos abster de atitudes reativas. Por fim, Russell argumenta que o

incompatibilista afirmaria apenas que se a tese do determinismo for verdadeira, então não

estamos justificados, dadas as circunstâncias tais quais são, a assumir os sentimentos e atitudes

reativas (ainda que sejamos propensos a eles). Nesse caminho, parece-nos que o ponto central

de Russell é que Strawson não dá uma resposta satisfatória ao incompatibilista, mas propõe

uma posição naturalista forte e injustificável. Nesse trabalho, colocaremos em perspectiva a

crítica de Russell para entender se de fato Strawson defende as duas estratégias, naturalista e

racionalista, e se o incompatibilista, nesse contexto, está em melhor posição de argumentação.

Pretendemos, finalmente, analisar se a crítica de Russell tem força suficiente para nos fazer

reavaliar a saída que Strawson deu ao problema e investigar outros caminhos que o

compatibilismo strawsoniano poderia admitir para atingir seu objetivo

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A acústica da escrita no Fedro

Felipe Ayres (PPGLM/UFRJ)

O problema da escrita no Fedro será abordado aqui a partir de um viés inusitado, a saber, aquele

da “acústica” do diálogo. Por “acústica”, compreender-se-á aqui a relação nada óbvia entre o

espaço físico em que o Fedro se desenrola e as falas que não só o detalham, mas, também,

informam-no e o determinam. Antecipa-se que tal abordagem é depreendida como uma

aproximação ainda tentativa do problema e, portanto, limita-se a mapear o mais eficazmente

possível as suas injunções mais nevrálgicas.

A escolha por um viés acústico, malgrado sua aparente excentricidade, pretende se justificar

pelo próprio tratamento que o problema da escrita recebe no Fedro, mais notadamente ao final

do diálogo. Em uma de suas observações sobre os discursos escritos, a personagem Sócrates

os caracteriza ambiguamente como mudos, porém repetitivos: “caso lhes pergunte algo [aos

seres retratados pela pintura], silenciam total e solenemente. E assim também [fazem] os

discursos [escritos]. [...] Eles significam sempre apenas uma coisa” (ἐὰν δ ̓ἀνέρῃ τι, σεμνῶς

πάνυ σιγᾷ. ταὐτὸν δὲ καὶ οἱ λόγοι [...], ἕν τι σημαίνει μόνον ταὐτὸν ἀεί – 275d4-7). Devido, ao

curioso estatuto do qual o som, discursivo ou não, goza no diálogo, opta-se aqui por supor que

aí se encontra uma chave interpretativa valiosa. O “som” de um discurso escrito seria aquele,

muito particular, de um silêncio total e solene a se repetir indefinidamente.

A partir dessa caracterização, torna-se lícito tanto aproximar a abordagem dos discursos

escritos no Fedro àquela dos falados, quanto investigar o “silêncio repetitivo” que erige o

próprio diálogo por meio da sua inquietante “acústica”. Propor-se-á que o problema dos

discursos escritos não reside na sua materialidade estéril, por oposição a uma palavra viva e

fecunda, mas antes, em uma postura “ingênua” do leitor diante daquilo que, aos seus olhos,

tão-somente repete o seu silenciar.

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O paradigma mitológico do monarca no “Político”, de Platão

Felipe Ramos Gall (PUC-Rio)

A descrição que Platão faz do político é bastante paradoxal. O personagem do Estrangeiro de

Eleia define o sofista e o político nos dois diálogos que têm como título essas figuras. Segundo

ele, haveria uma confusão da parte do público geral quanto a eles, daí a necessidade de

distingui-los. Contudo, aparentemente o sofista seria facilmente confundido com o político

somente num regime democrático, mas beiraria o impossível confundir o sofista com um rei,

pois a figura do rei pressupõe uma autoridade inquestionável. Entretanto, o paradigma do

político, segundo o Estrangeiro, é o do monarca. Proponho neste trabalho que o aspecto comum

que possibilita a confusão entre o sofista e o político enquanto rei é o uso e a necessidade de

"métis", astúcia, e que a justificativa para isso, no caso do rei, está nos textos da tradição arcaica

grega.

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Considerações sobre a aplicabilidade do conhecimento matemático através da

filosofia da medição contemporânea

Félix Pinheiro (UFSC)

O presente trabalho possui por objetivo oferecer breves considerações sobre a aplicabilidade

do conhecimento matemático, tendo como guia condutor as reflexões contemporâneas em

filosofia da medição. A questão da aplicabilidade da matemática constitui um problema

filosófico clássico, com vieses epistêmicos e metafísicos. Do ponto de vista epistêmico, os

procedimentos de medida na prática científica oferecem um conjunto de estudos de casos, nos

quais o conhecimento matemático está vinculado com o mundo e aplicado à natureza. A

literatura da área oferece diversos tratamentos sobre as fundações desse vínculo, em especial,

através de 3 tópicos, que serão discutidos nesse trabalho: (1) argumentos de indispensabilidade

que visam justificar a própria matemática; (2) justificativas filosóficas da aplicação bem-

sucedida da matemática às teorias científicas; e (3) discussões sobre a aplicação de números

reais à medição de grandezas físicas. Tais tópicos remontam pelo menos até Kant, porém estão

presentes na literatura subsequente, como em Helmholtz, Hölder, Dedeking e Grassmann.

Nesse trabalho, focaremos na recepção, influência e atualização das ideias desses autores,

efetuados na filosofia da medição contemporânea.

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Sobre a analogia cartesiana entre ideia e imagem

Fellipe Pinheiro de Oliveira (PPGLM/UFRJ e CEFET-RJ)

A teoria cartesiana das ideias é um tema profusamente discutido entre os estudiosos do

cartesianismo, fundamentalmente por consistir no estabelecimento e elaboração de um

elemento chave para o sistema cartesiano: a estrutura e a natureza das ideias. É sabido que é a

partir da análise introspectiva das ideias de que o sujeito pensante tem consciência que

Descartes pode levar a cabo o projeto de encontrar algo que exista para além do próprio sujeito.

Essa análise, que se pode denominar via cartesiana, é precisamente o momento do texto da

Terceira Meditação em que surge uma teoria das ideias que comporta alguns aspectos cuja

leitura apressada das Meditações pode ofuscar. Nesse sentido, a fim de explicitar que aspectos

são esses, propõe-se nessa comunicação discutir o conceito cartesiano de ideia tendo como

orientação o debate acerca do sentido próprio em que ideia é definida como imagem das coisas.

A hipótese principal da comunicação defende que a analogia com a imagem na definição de

ideia pretende apenas reter o caráter intencional próprio das imagens como o principal aspecto

das ideias, sem, entretanto, importar delas a noção de reprodução figurativa, o que responde

satisfatoriamente as objeções de Hobbes e garante a consistência da via cartesiana.

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As condições da percepção direta

Filipe Herkenhoff Carijó (PPGLM/UFRJ)

Eu apresento um argumento contra o realismo direto, isto é, contra a tese segundo a qual nós

percebemos diretamente objetos externos como árvores, cadeiras e pessoas, os quais, assim,

explicam o caráter qualitativo de nossas experiências perceptivas. Defenderei a tese oposta de

acordo com a qual o caráter qualitativo de nossas experiências deve-se inteiramente a estados

internos a nós. O argumento começa com a defesa da ideia de que toda teoria filosófica da

percepção deve responder à seguinte questão, à qual chamarei “questão especial da percepção”:

em que condições um objeto é um objeto direto da percepção? As teorias da percepção

contemporâneas não buscam, em geral, responder a essa questão sobre as condições da

percepção direta; ao invés disso, limitam-se, normalmente, a dizer quais são os objetos diretos

da percepção (p. ex., objetos externos como cadeiras, árvores, etc.; ou então objetos

dependentes da mente, os chamados sense-data; ou ainda partes do cérebro). Eu argumento

que a questão teórica primordial, nesse campo, não é “quais os objetos diretos da percepção?”,

e sim a mencionada questão especial da percepção, já que toda resposta suficientemente precisa

à segunda questão implica em uma resposta à primeira, mas não o inverso. Isto é, se soubermos

a que condições precisas um objeto precisa satisfazer para ser objeto direto de uma experiência,

e se tivermos conhecimento empírico suficiente, seremos capazes de deduzir daí, para cada

experiência particular, quais os seus objetos diretos. Teremos, por outras palavras, uma teoria

universal da percepção. Eu mostro então que, ao contrário do que se passa com diferentes

versões do realismo indireto, o realismo direto não é capaz de fornecer uma resposta justificada

à questão especial da percepção. Ele é, assim, incapaz de tornar-se, sem arbitrariedade, uma

teoria universal da percepção. As razões pelas quais ele não pode tornar-se uma teoria universal

deveriam convencer-nos, como argumento, de que ele é falso.

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Koyré: κόσμος e universo infinito

Filipe Monteiro Morgado (UFF)

O presente resumo objetiva apresentar, brevemente, a tese do filósofo francorruso Alexandre

Koyré (1892-1964) a respeito da revolução científica dos séculos XVI e XVII. Conforme o

referido autor, acima do avanço técnico e tecnológico daquela revolução, está um

impressionante avanço teórico. Tal avanço configura-se na “matematização da natureza” muito

mais do que no “assenhoramento da natureza”, pondo, sobre o desenvolvimento técnico e

tecnológico, o teórico. No entanto, além de fornecer o diagnóstico da principal característica

da citada revolução, Koyré encontrou-se sob a exigência de apresentar a razão de possibilidade

dessa matematização, isto é, não lhe bastou expor a “matematização da natureza” como o

principal traço daquela revolução científica, foi preciso, também, explicar como ela se tornou

pensável. Ela só o foi em razão de uma mudança da “mentalidade” da época, substituindo uma

ideia de mundo por outra, a ideia de “κόσμος” pela de “universo infinito”, transpondo os

objetos reais do “espaço como um conjunto de lugares” para o “espaço da geometria

euclidiana”. Doravante, tornou-se possível pensar corpos que se movem retilínea e

uniformemente, em direção ao infinito, tal como o descreve o “princípio da inércia”, não

obstante, corpo real nenhum se movimente assim. Para a ciência, o “real” acessível pela

experiência comum, cotidiana, corriqueira, empírica, não é o verdadeiro, isto é, na ciência, não

há o equacionamento entre “real” e “verdadeiro”, abrindo a verdade até mesmo pelas portas do

impossível. Em suma, destruiu-se um mundo e se criou outro: a ciência moderna destituiu de

realidade o mundo real e passou a explicá-lo através do impossível, fez ruir o “κόσμος” e

efetuou a emergência, no tratamento da natureza, do “universo infinito”, sendo este o

pressuposto da referida matematização ocorrida na revolução científica dos séculos XVI e

XVII.

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Schelling e a crítica à subjetividade como princípio do saber

Gabriel Almeida Assumpção (UFMG)

Friedrich Schelling desenvolve várias formas diferentes de filosofia, e nota-se um progressivo

declínio do otimismo em relação à capacidade do sujeito do conhecimento. A pesquisa busca

indicar como esse declínio ocorre e em que medida reflete um distanciamento progressivo de

Kant e uma aproximação crescente de neoplatônicos e Spinoza. Apontaremos aspectos

epistemológicos, ecológicos e metafísicos vinculados à crescente crítica de Schelling à

subjetividade moderna.

Inicialmente, há adesão a Fichte e Kant, reconhecendo-se a filosofia crítica como ponto de

partida do conhecimento e defesa da liberdade. Schelling chega a elaborar uma noção de Eu

absoluto como princípio do saber humano, pensando a filosofia em termos de uma oposição

dogmatismo/criticismo, em que as duas filosofias são legítimas, havendo, no entanto,

superioridade da filosofia crítica por ser uma filosofia valorizadora da liberdade.

Uma mudança inicial se dá com a filosofia da natureza desenvolvida já pelo jovem Schelling,

ao longo de dez anos, envolvendo afiliações filosóficas (neoplatônicos, Spinoza) que

distanciam o filósofo dos pais da subjetividade moderna: Descartes, Kant e Fichte. Schelling

criticará duramente o pensamento dualista e a ideia de domínio da natureza, ou uso da natureza

para realização de deveres morais, pensando a subjetividade como gerada a partir da própria

natureza, como um desdobramento dela, e não mera oposição ao eu.

No início dos anos 1800, Schelling integra filosofia crítica e filosofia da natureza em um todo

maior, conhecido como filosofia da identidade. Nesse pensamento, Schelling radicalizará sua

crítica à subjetividade a ao pensamento moderno, notando que tanto o idealismo quanto o

realismo são unilaterais, sendo que o princípio no subjetivo (como o idealista faz) ou no

objetivo (como no procedimento realista) não gera filosofias fecundas. A alternativa proposta

pro Schelling é o ponto de indiferenciação entre sujeito e objeto.

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Princípio de não-contradição e objetos indeterminados

Germna Lourenço Mejia (PUC-Rio)

Apresentaremos um argumento em defesa do princípio de não-contradição (PNC) baseado na

Metafísica de Aristóteles. Em Met. 1006a – 1009a, Aristóteles propõe uma série de argumentos

contra aqueles que duvidam da validade do PNC; selecionaremos um argumento e sugeriremos

nossa interpretação. Feito isso, há dois objetivos principais em nossa apresentação: (1) situar

esse argumento no contexto maior da Metafísica que busca a caracterização do que é uma

substância (cf. em especial, Met. VII); e (2) sugerir uma elucidação, uma forma de

compreensão, do conceito de indeterminado (aoriston) de Anaxágoras utilizando o fato de

Aristóteles mencionar esse pré-socrático em meio a sua argumentação em defesa do PNC. O

argumento selecionado começaria, segundo nossa interpretação, pedindo que o adversário do

PNC indique um objeto concreto nos arredores e termina explicitando que uma condição para

isso é a de que o adversário deve fazer uso (mesmo que implícito) do PNC, pois rejeitar todas

as instâncias do princípio impediria uma identificação determinada de um objeto. Em linhas

gerais, há duas etapas principais ou resultados parciais, no decorrer da argumentação: (a)

qualquer objeto particular é um objeto particular de um certo tipo e (b) se um objeto particular

é de um certo tipo, então segue-se que ele não pode ser de um tipo diferente daquele que ele é.

A primeira etapa ou resultado (a) servirá para tentarmos cumprir nosso primeiro objetivo (1);

enquanto a segunda (b), nosso objetivo (2). De maneira sumária, de (a) Aristóteles teria um

resultado sobre substância: toda substância deve ser um certo isto. E de (b) mostraríamos o que

significa um objeto indeterminado em princípio: para cada tentativa de classifica-lo como um

G, também podemos classifica-lo como um não-G e não existe, em princípio, aspectos que

possamos vir descobrir tal que em um aspecto ele seja G e, em outro aspecto, um não-G.

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Os Elementos da Filosofia de Hume

Hugo Macedo Arruda (UFMG)

A primeira parte do Tratado da natureza humana (intitulada “Das ideias, sua origem,

composição, conexão, abstração &c”) contem o que David Hume chamou de “elementos desta

filosofia” (T 1.1.5.7). As sete seções abrigam, ao mesmo tempo, o núcleo de sua teoria das

percepções e as bases do método experimental praticado ao longo de seus escritos. O objetivo

deste trabalho é apresentar algumas dificuldades interpretativas persistentes em torno dos

“princípios básicos” (Garrett, 2011) da filosofia de Hume. Começo com reflexões acerca do

estatuto metafísico-epistemológico dos “princípios” na filosofia moderna através de contrastes

pontuais entre a maneira racionalista e a empirista. Na sequência, apresento os quatro

“princípios básicos” (Garrett, 2011: 53): (i) da cópia (T 1.1.1.7); (ii) da separabilidade (T

1.1.7.3); (iii) da conceptibilidade (T 1.1.7.6); (iv) da associação de ideias (T 1.1.4.6). Termino

com atenção especial à dificuldade de conciliação entre os princípios e a concepção de

percepções simples (puzzle encarado por Garrett, 2011; Haakarainen, 2012; Schmicking, 2004;

e Frasca-Spada, 2007).

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A Crise na Educação em Hannah Arendt: para além de uma análise conceitual

Izaquiel Arruda Siqueira (UFPE)

Este trabalho integra a pesquisa de Mestrado, em andamento, vinculada ao núcleo de

Subjetividades Coletivas, Movimentos Sociais e Educação Popular do Programa de Pós-

Graduação em Educação da UFPE. Neste, buscamos percorrer, a partir de uma leitura

hermenêutica, o ensaio “A crise na educação” escrito pela filósofa alemã, Hannah Arendt. Nele,

podemos encontrar uma proposta de compreensão da crise na educação americana gerada pela

crise política no mundo moderno e somada a outros fatores, encontrando respaldo em várias

áreas, assumindo múltiplas formas e trazendo, em si, a característica de não ser uma crise

isolada, localizada, mas subsistente dentro de um contexto mais amplo e não especificamente

dentro de um sistema escolar. Não se trata, portanto, de uma crise da educação, mas, na

educação que atingiu aquilo que constitui sua essência, a natalidade. Diante disso, na medida

em que buscamos interpretar este ensaio, procuramos, no mesmo movimento, fazer uma análise

conceitual, já que a obra contém vários conceitos que compõem todo o arcabouço teórico

arendtiano. Este estudo se caracteriza como bibliográfico, partindo do pensamento político-

filosófico arendtiano (Arendt, 2004, 2013, 2014) como, também, de outros teóricos que

pensaram sobre o tema (Almeida, 2011; Andrade, 2012; Carvalho, 2017). Os estudos já

desenvolvidos sobre tal problemática possibilitam formular algumas hipóteses de resultados

esperados para esta análise: a) a crise no mundo moderno ainda permanece nos dias de hoje, se

apresentando a partir de várias outras disposições; b) a crise da autoridade nos parece ainda

mais forte que à época do ensaio, subsistindo uma impotência quanto à autoridade escolar e

dos adultos; c) a rendição da educação às pedagogias inovadoras que, a priori, não formam a

partir de um ideal de transmissão de uma tradição, mas, educam a partir de categorias que

visam um aprender a aprender; dentre outros resultados.

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O que Sócrates sabia? Uma reflexão acerca da ignorância socrática

João Carlos Pereira da Silva (PPGLM/UFRJ)

O presente trabalho é resultado de uma reflexão acerca do modo como Sócrates teria

desenvolvido e vivido sua filosofia, modo esse que contemplava o élenkos e sua famigerada

ironia no exercício da dialética que, sobretudo durante os primeiros diálogos platônicos, se

caracterizava pela forma refutativa das teses ali discutidas. Esse período destrutivo da filosofia

socrática é o momento sobre o qual os filósofos céticos da Academia, em um período bem

posterior a Platão, se inspiraram para reivindicarem para o seu ceticismo uma filiação às

filosofias socrática e platônica. Dada essa breve contextualização, nosso objetivo é investigar

de que maneira o método socrático de filosofar é apresentado e desenvolvido em duas obras de

Platão, a Apologia, uma obra do período inicial; e o Teeteto, obra do período de maturidade,

todavia, muito pertinente por se tratar de um diálogo que tem como tema a busca por uma

definição universal sobre aquilo que seria o conhecimento (epistême), e que termina com um

desfecho aporético, assim como os primeiros diálogos. Nas duas obras se observa não apenas

uma similaridade da descrição e do exercício do método socrático, bem como a alegação de

ignorância por parte de Sócrates além da associação de sua atividade filosófica a um exercício

divino, exercício esse que, a nosso ver, é o elemento garantidor de qualquer conhecimento que

possa vir a ser associado a Sócrates, apesar de sua alegação de ignorância.

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Amizade política em Aristóteles

João Gabriel Borges Ribeiro (UFRJ)

A noção de amizade presenta na cultura da Grécia clássica diverge da contemporânea. Fraisse

salienta que devemos atentar ao fato de que a palavra grega usada para a descrever, φιλíα,

possui maior abrangência semântica do que a nossa. Entretanto, precisar o seu significado ainda

gera problemas para os intérpretes. O modelo aristotélico é aqui paradigmático, mas rico em

dificuldades. A primeira delas é o fato de existirem dois livros da Ethica Nicomachea, o VIII

e o IX, voltados para este tema. Além disso, a Ethica Eudemia possui também um livro

dedicado à amizade. Causa espanto notar que os tratamentos dados para ela divergem bastante.

De modo geral, Aristóteles diz que a amizade é uma virtude e parece dividi-la em três tipos:

uma baseada na utilidade, outra no prazer, e outra na virtude. A relação entre estes tipos é

controversa. Alguns, como Zingano, entendem como homonímia focal, já outros, como

Fortenbaugh, a compreendem como uma forma de analogia. É preciso atentar para a existência

de um tipo de amizade pouco abordada, a amizade política. Não há em nenhum momento uma

descrição sistemática dela, entretanto, nos capítulos IX-XII do livro VIII da Ethica Nicomachea

ele disserta sobre a relação entre a amizade e a comunidade. Há claras semelhanças aqui com

a Política. A teoria dos tipos de constituição, por exemplo, é aqui antecipada. Entretanto, seria

esse mesmo um tipo de amizade? Outra questão: por que então esta amizade é tão pouco

mencionada na própria Política? A literatura secundária diverge. Annas diz que Aristóteles não

está realmente interessado no tema, Cooper a considera uma amizade “diluída”. Por outro lado,

Stern-Gillet considera que ela representa um papel central no pensamento moral e político de

Aristóteles. Pretendo discorrer a respeito da relação entre amizade e justiça, tentando entender

de que modo ela funciona como um fator unificador da comunidade política. Para isso, tentarei

precisar de qual dos tipos de amizade é a amizade política.

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Elementos Discursivos e Retóricos no Sócrates de Hannah Arendt

Jorge Quintas (UERJ)

Pretendo analisar nesse trabalho a relação da retórica Aristotélica, entendida como “a outra

face da dialética”, com o conceito de persuasão que Hannah Arendt examina no ensaio

“Sócrates”, presente na obra A Promessa da Política, mostrando como esse conceito deve ser

compreendido em um contexto de crítica da filósofa ao platonismo. Hannah Arendt mostra em

“Sócrates” as consequências do pensamento platônico e aristotélico terem surgido no momento

de decadência da pólis grega. Para Hannah Arendt, esse momento de ruptura entre o

pensamento político e filosófico pode ser identificado no julgamento e na condenação de

Sócrates. A filósofa alemã afirma que esse fato leva Platão a desesperar da vida na pólis e

duvidar da validade da persuasão, o que se relaciona com sua denúncia sobre a doxa. Porém,

para Hannah Arendt, a oposição entre verdade e opinião é uma conclusão anti-socrática de

Platão. Já que Sócrates compreendia que “a doxa não era nem ilusão subjetiva, nem distorção

arbitrária, mas aquilo a que a verdade invariavelmente aderia”. Portanto, ao ignorar o sentido

de doxa ligado à vida pública como um “aparecer” e compreendido como linguagem própria

da política, Platão, para ela, se aproxima da ilusão da fuga do filósofo da esfera da pluralidade.

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Marx e a democracia

José Francisco de Andrade Alvarenga (PUC-Rio)

Esta apresentação tem como objetivo investigar o conceito de “verdadeira democracia”

formulado por Marx em 1843. Analisa-se em maior profundidade o movimento argumentativo

elaborado por Marx a respeito da recusa e superação da filosofia do direito de Hegel. Com base

na análise da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, demonstra-se que a crítica de Marx à

filosofia do direito de Hegel, no entanto, não recusa o diagnóstico efetuado por esse último a

respeito da problemática política fundamental da modernidade: a contradição entre a sociedade

civil e o Estado, que é a causa da alienação do povo. Se em Hegel encontramos a proposta de

um conjunto de mediações do Estado na sociedade civil e desta naquele (burocracia, opinião

pública, imprensa, etc.) para a supressão da distância da sociedade civil da vida política, por

meio da universalidade do Estado, Marx defenderá o projeto da realização total do “ser

genérico” na democracia. Na “verdadeira democracia”, portanto, todo o domínio formal do

Estado torna-se uma autodeterminação do povo. Este conceito de “verdadeira democracia”

implica, por conseguinte, uma compreensão não institucional da política. Significa pensar a

política fora das instituições, fora do Estado, fora do direito. A ideia de “verdadeira

democracia” é pensada, portanto, não como uma forma institucional, mas como um processo

constituinte permanente, dando uma expressão consistente da contínua autocrítica da sociedade

civil.

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Platão e a retórica de seus contemporâneos

Kellen Ferreira de Moraes (UFMG)

No diálogo Fedro, importante obra platônica conhecida e aclamada por várias razões, entre

elas, aquela que nos convém, situada na passagem 266c - 267d, encontramos uma breve história

da retórica criada por Platão.

"F: Falas do magistral Teodoro?

S: Pois claro! Diz que se deve produzir uma refutação e refutação complementar, tanto na

acusação como na defesa. E o Evento de Paros (...) censura indireta em verso mnemônico -

que homem sábio. E quanto a Tísias e Górgias - que viram verossimilhanças como mais

dignas de honra do que as verdades e que por força do discurso fazem parecer grandes coisas

pequenas e pequenas coisas grandes (...). Certa vez, a ouvir-me falar disso Pródico, riu-se e

disse-me que só ele descobriu o que necessita uma arte de discursos: nem devem ser longos,

nem curtos, mas moderados (Fedro, 266e - 267b)."

A partir deste quadro elaborado pelo ateniense, buscaremos compreender o motivo pelo qual

Platão resgata, neste diálogo, importantes figuras públicas do cenário retórico e oratório grego.

Tentaremos conceber, através da bibliografia existente, como a palavra “retórica” muda de

significado no diálogo Fedro em detrimento ao uso da mesma por autores como Isócrates (278e

- 279b), Górgias (ao relembrar a ode de purificação do poeta Estesícoro, 243a - b, evidenciando

o Elogio de Helena, Platão retoma tanto o retor Górgias, quanto Isócrates - ambos escreveram

um elogio à espartana) e Lísias (autor do primeiro discurso do diálogo 230e - 234c),

personagens, ao nosso ver, presentes de modo direto e indireto no texto platônico.

Pretendemos, portanto, nesta comunicação, identificar a importância destes autores na crítica

platônica à retórica, recorrendo a alguns dos textos atribuídos a eles pela tradição,

estabelecendo um vivo diálogo entre as obras.

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A superação da hermenêutica subjetiva na teoria do conhecimento de Espinosa

Kissel Goldblum (PPGLM/UFRJ)

Na primeira parte da Ética, na qual Espinosa trata sobre Deus, o autor expõe a estrutura

ontológica do mundo, baseada em uma substância única composta por infinitos atributos, cada

um dos quais modificados por infinitos modos: “Pois além da substância e dos modos nada

existe, e os modos nada mais são do que afecções dos atributos de Deus” (SPINOZA, 2007, p.

51). Se além de Deus não pode existir outra substância, devemos compreender o homem como

um modo de um atributo de Deus e não como uma substância separada da Natureza. Parte

essencial da Ética, os gêneros de conhecimento, são as maneiras pelas quais é possível conhecer

a substância e seus atributos. Estes mesmos gêneros do conhecimento têm sido,

tradicionalmente, analisados da perspectiva de ‘faculdades humanas’ e consequentemente são

compreendidos como resultado de interpretações, de uma hermenêutica subjetiva. Pretendo

expor uma linha de análise que revela o processo de conhecer de maneira distinta, a saber:

tomando-o como o próprio meio pelo qual Deus conhece a si mesmo, isto é, compreendendo o

estudo da epistemologia espinosana como inerente à sua teoria ontológica. “Seus três gêneros

do conhecimento não se referem a três gêneros de alguma faculdade humana; ao contrário, eles

são as três maneiras pelas quais Deus conhece a sua própria natureza” (VINCIGUERRA, 2012,

p.136).

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Os fundamentos transcendentais da ciência Newtoniana

Ludmila Aster Souza Gomes (UFMG)

Em minha pesquisa, proponho investigar e discutir os fundamentos metafísicos da ciência

natural, a saber, da ciência newtoniana, tal como proposto por Immanuel Kant em seus

Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza (MAN, 1786). Minha investigação tem como

foco duas questões: i) como a física de Newton pode ser compreendida como uma aplicação

concreta da filosofia transcendental desenvolvida por Kant na Crítica da Razão Pura (KrV,

1781, 1787), conferindo, assim, sentido e significado aos seus princípios e ii) como a filosofia

transcendental pode ser assumida como uma metodologia de explicitação de diversos conceitos

e princípios de caráter metafísico contidos de maneira implícita na ciência empírica.

Neste trabalho parto hipótese de que a filosofia transcendental pode ser interpretada como

condição de possibilidade de inteligibilidade do mundo natural. Dada essa hipótese, pretendo,

em um primeiro momento, explicitar a análise feita por Kant da ciência newtoniana, utilizando

os PMCN como a principal referência, na medida em que o objetivo de Kant neste texto é

mostrar de modo sistemático e articulado a conexão existente entre os princípios do

entendimento puro, apresentados na Crítica da Razão Pura, e os princípios da física

newtoniana. Em um segundo momento, pretendo mostrar que a filosofia transcendental é

utilizada como um método de análise para explicitar os conceitos e princípios de caráter

metafísicos contidos na Física de Newton. Por fim, em um terceiro momento, como resultado

dos dois primeiros passos, pretendo mostrar que a física newtoniana é uma aplicação in

concreto da filosofia transcendental. Resultando, portanto, em uma solução em potencial para

uma interpretação da filosofia transcendental na qual, esta (filosofia transcendental) poderá ser

compreendida enquanto uma condição de possibilidade de interpretação do mundo natural.

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Sigério de Brabant e a distinção real entre esse e essentia

Luiz Fernando Pereira de Aguiar (USP)

A querela sobre o estabelecimento dos termos ente, ser e essência toma um importante período

da Idade Média tardia e mobilizou os trabalhos de Tomás de Aquino, Alberto Magno,

Boaventura, Egídio Romano, Henrique de Gand, dentre outros. Sigério de Brabant, Mestre de

Artes da Sorbonne no século XIII, insere-se nesse debate defendendo o que pode ser tomado

como uma tese contrária àquela dos autores citados, em especial, a de Tomás de Aquino –

como defendida em De ente et essentia. A tese de Sigério, tal qual exposta na introdução de

suas reportações intituladas Quaestiones in Metaphysicam (manuscritos Munique, Cambridge

e Paris), é: a) ser (esse) pertence à essência (essentia) dos causados, não sendo de nenhum modo

dela distinta e, b) ente (ens) e coisa (res), dessa maneira, significam o mesmo suposto

(suppositum) segundo a essência e intenção (intentio) de modos diversos: ente significa o

suposto a modo de ato e coisa a modo de hábito – o que implicaria a defesa da identidade real

entre ente e coisa. Nessa essa apresentação, analisaremos o primeiro passo de Sigério para

defender sua tese: a desmobilização do argumento da distinção real entre esse e essentia,

argumento atribuído a Alberto Magno e Avicena. Para isso, nós analisaremos as lin. 81-106,

do manuscrito de Munique das Questões em Metafísica, tal qual editada por Dunphy em 1981.

Tentaremos mostrar que, para defender a negação da distinção real, Sigério não precisaria se

comprometer com nenhum argumento ontologicamente marcado, nesse momento de seu texto.

De outra maneira, ao fazer uma análise interna do argumento atribuído a Alberto e Avicena,

Sigério chega à conclusão de que ele é insustentável em seus próprios termos; em especial,

contrariamente às interpretações canônicas, não precisamos supor o “sed contra” das lin. 88-

92, argumento que assume algumas premissas ontologicamente marcadas, como sendo um

argumento endossado a priori por Sigério.

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Schelling e o ceticismo

Luiz Filipe da Silva Oliveira (UFJF)

Nosso trabalho tem por objetivo trazer um esclarecimento preciso das relações e diálogos que

se desenvolveram entre o pensamento schellinguiano e a tradição do ceticismo, mais

especificamente o ceticismo de Gottlob Ernst Schulze. Primeiramente pretendemos ilustrar [1]

como que o pensamento de Schelling tem nas críticas céticas à filosofia crítica kantiana, ao

modo como foi apresentada por Reinhold, sua condição de possibilidade. Mais especificamente

nesta parte nos dedicaremos ao Über die Möglichkeit einer Form der Philosophie überhaupt,

e as Philosophische Briefe über Dogmatismus und Kritizismus, publicados em 1794 e 1796

respectivamente. Tendo isto estabelecido, num segundo momento a incumbência será voltada

a [2] apresentar como Schelling estabelece em filosofia um novo método e princípio visando

pôr-se para além das possibilidades do discurso cético. Esta posição visava fundamentar a

existência de um princípio absoluto como condição de possibilidade de todas as coisas. Diante

disto, este não poderia ser deduzido por relações de pensamento – principal método utilizado

pelo ceticismo. Ao postular uma identidade fundamental entre sujeito e objeto, acreditou se

distanciar, estando para além, da fonte de cognição advinda da representação da qual o

ceticismo se apoiava. Uma crítica cética ao modo como foi construída no Aenesidemus de

Schulze ao princípio da consciência de Reinhold não caberia no sistema schellinguiano, pois o

princípio da identidade não serve para ele como uma lei de relações do pensamento. Não é, por

isso, um meio de derivar uma coisa de outra. Apesar desta posição já estar em germe no período

de produção da sua Naturphilosophie, vai ser mais claramente posto, principalmente com a

discussão acalorada com Schulze entre os anos de 1803 e 1806, a partir da Identitätsphilosophie

que vai tomar forma definitiva.

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Veracidade, mentira e direito a partir de “Sobre o suposto direito de mentir por

amor à humanidade” de Kant

Marcos Cesar Paes de Carvalho Filho (UERJ)

Partindo da discussão presente no opúsculo kantiano “Sobre o suposto direito de mentir por

amor à humanidade” (1797), essa apresentação buscará expor como ali são tratados os

conceitos de “mentira” e “veracidade” e o papel que estes ocupam no interior da filosofia

prática do filósofo de Königsberg. O texto aqui trabalhado surge em resposta ao ensaio “Das

reações políticas”, publicado na revista A França no ano de 1797, onde, partindo de um

exemplo supostamente dado por Kant, Benjamin Constant defenda a possibilidade de mentiras

moralmente justificáveis. Através de uma análise dos argumentos apresentados por Kant –

argumentos estes que, num registro diferente do de Constant, tomam a mentira como um

problema jurídico-moral –, discutiremos os limites entre moral, política e direito no artigo

kantiano.

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A conceitualidade da experiência e a presença de um eu no mundo: uma

discussão na filosofia de McDowell

Maria Clara Fonseca Fanaya (UFSC)

A tese central de John McDowell é a ideia de que o conteúdo da experiência não pode ser

desprovido de conceitualidade, além disso, ele pretende encontrar um modo de demonstrar que

o mundo exerce um papel normativo sobre o conteúdo de nossos pensamentos. Tendo isso em

vista, o objetivo principal desta pesquisa é o de analisar a maneira como McDowell relaciona

a conceitualidade da experiência com a presença de um eu no mundo, a partir da introdução de

seu conceito de segunda natureza, levando em consideração, principalmente, a forma como,

para ele, a espontaneidade pertence ao modo do ser humano realizar a sua potencialidade

animal. Esse objetivo de pesquisa surge a partir da forma como McDowell argumenta que a

segunda natureza é o conceito que nos permite conceber que o espaço das razões – ao qual

pertencem os pensamentos conceituais - não é dualisticamente oposto à nossa natureza animal,

mas em vez disso, é justamente por meio dela que diversas operações da natureza incluem

circunstâncias cujas descrições as colocam no espaço lógico das razões – permitindo, assim,

que as impressões possam se acomodar na natureza.

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Truthmaker e fatos morais

Mariana Cabral Falqueiro (PPGLM/UFRJ)

A proposta deste trabalho é identificar uma teoria do truthmaker que possa auxiliar o

pensamento ético na liquidação de conflitos entre determinadas questões da própria ética, na

medida em que, ao assumirmos um posicionamento da existência de um truthmaker e

aplicarmos este à ética como sendo portadora de verdade, e, portanto, poderemos admitir que

há valores de verdade na ética, estaremos lançando luz aos debates existentes tanto da ética

quanto do truthmaker. Quando estamos a tratar de truthmaker há, pelo menos em princípio, o

entendimento que se determinada entidade p qualquer é verdadeira é pelo motivo que algo fez

com que tal entidade fosse verdadeira. Nesse sentido, podemos observar uma relação

determinada que conjugue algo que faz com que outra coisa seja verdadeira, como uma relação

de fazedor de verdade com a de portador da verdade. Nesse sentido, a investigação perpassa

desde o questionamento se existem mesmo truthmaker, se sim, quais seriam os portadores da

verdade e como podem ser estabelecidas estas relações entre truthmaker e os portadores de

verdade, entre outras indagações. De modo geral, podemos afirmar que, em certo sentido, falar

de truthmaker é também falar sobre o que é verdadeiro, ou seja, o entendimento que

estabelecemos de truthmaker deve estar associado ao que entendemos do que seja verdadeiro,

que pode ser denominado como portador de verdade. Alguns irão dizer que os portadores de

verdades são proposições, já outros dirão que são os julgamentos dispostos nas sentenças,

havendo neste sentido, uma variação do que possamos estabelecer algo como sendo verdadeiro.

Na presente pesquisa, temos algo no âmbito da ética elencado como sendo o portador de

verdade, que podemos adiantar de antemão os fatos morais como principal candidato a tornar-

se um portador de verdade.

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Uma possível aproximação entre Hume e Bermudez com relação à razão dos

animais não-humanos

Mario Tito Ferreira Moreno (UFRJ)

O objetivo do presente trabalho é estender a discussão da seção IX da Investigação Sobre o

Entendimento Humano de David Hume, que trata das operações racionais dos animais, para

uma discussão sobre a possibilidade de tais animais não-humanos terem a consciência de que

fazem inferências. Para tal proposta além do texto do próprio autor contaremos com o

comentário da Professora Deborah Boyle em seu texto “Hume on Animal Reason”, no qual a

seção citada da obra do filósofo escocês é minuciosamente dissecada, analisada e debatida.

Além disso, o trabalho terá como norteador a distinção de consciência de si e consciência das

coisas presente no texto “The Paradox of Self- consciusness” de José Bermudez. A partir dos

conceitos de consciência de si e das coisas apresentados por Bermudez, seriam os animais não-

humanos citados na EHU portadores de alguma delas? É possível apontar alguma convergência

entre os autores no que se concerne a tal temática? São as questões que nortearão nosso

trabalho.

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As dimensões de lugar em Aristóteles

Matheus Oliveira Damião (UFRJ)

O presente trabalho tem por objetivo principal discutir as diferenças assinaladas por Aristóteles

em Física IV acerca de duas caracterizações do que ele chama de as partes e as espécies de

lugar [tópos], isto é, o alto e baixo, e as restantes das dimensões [diastáseis], cotejando a

passagem com o tratamento dado a elas também no De incessu animalium e no De caelo. Pode-

se falar de tais dimensões de dois modos, ora (i) em relação à posição [thésis] ora (ii) em relação

à potência [dýnamei]. Enquanto em (i) a dimensão é alterável a depender do referente, já que

se virada a direita, por exemplo, pode se tornar a esquerda, no caso (ii) cada uma se distingue

naturalmente [phýsei], na medida em que as dimensões se diferem também pela potência, isto

é, pelo movimento em direção a uma dimensão. Para entender as duas caracterizações, além de

recorrer a Física IV, investigaremos passagens do De incessu animalium que lidam com os

pares das dimensões como partes do corpo cuja caracterização não se dá em relação a posição

[thésis], mas sim em relação a uma potência da alma. Em seguida, recorremos ao De caelo II

2 onde Aristóteles, seguindo o De incessu animalium, apresenta as dimensões dos inanimados

como posições alteráveis, ao que contrapõe as dimensões dos seres animados, cuja

caracterização é relativa às potências da alma –adotando semelhantemente a oposição posição-

potência de Física IV. Por fim, esboçaremos alguns pontos de contato e de separação entre as

duas caracterizações das dimensões na Física IV e no De caelo II 2 – que segue o De incessu

–, as quais expressam, de duas formas distintas, um modo de falar acerca do onde.

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Liberdade de expressão versus discurso de ódio: uma tensão irremediável?

Michelle Cardoso Montoya (PPGLM/UFRJ)

Um dos princípios que rege as sociedades liberais e democráticas é a garantia da liberdade de

expressão: o direito de expressarmos nossas opiniões e proferirmos publicamente nossos

anseios e desejos. Contudo, esse princípio, vez ou outra, dá margem a abertura de espaços para

que se profira discursos que podem ser muito desagradáveis, instaurando uma tensão entre o

que pode ser socialmente tolerável ou não de ser dito numa sociedade livre. O problema apenas

se acentua quando é aventada a possibilidade de criarmos mecanismos especiais de proteção

para que discursos de ódio não sejam perpetuados ou se estendam de modo persuasivo ao ponto

de desencadear danosas em nosso cotidiano, reproduzindo situações de subordinação ou

discriminação que são dirigidas a certos grupos.

As filósofas Ishani Maitra e Mary Kate McGowan (2012) buscam esclarecer em seus trabalhos

recentes acerca dos valores do discurso e do princípio de liberdade de expressão quais são as

tensões existentes entre as funções do discurso e os males que são produzidos nas interações

sociais, entendendo o discurso como um elemento possível de desencadear ações prejudiciais,

uma vez que ele é permeado pelo conflito de valores que seus agentes o atribuem. Atualmente,

temos ao menos três posturas centrais que são defendidas acerca dessa discussão: (1) liberdade

de expressão permite o fluxo de ideias para se chegar ao conhecimento e melhor justificação

social das crenças, tendo por limite não ultrapassar o direito dos outros (Mill, 1978); (2) que a

liberdade de expressão tem valor político e é crucial para a democracia (Alexander e Horton,

1984; 1994, Fish) e (3) que a liberdade de expressão não deve ser constantemente freada, tendo

em vista que integra o exercício da autonomia (Meiklejohn,1972). Sendo assim, pretendemos

apresentar uma breve contextualização das posturas centrais defendidas acerca da tensão entre

liberdade de expressão e discurso de ódio, para apresentarmos a solução proposta pelas

filósofas.

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O Estado fiscal-militar e a tolerância religiosa

Miécimo Ribeiro Moreira Júnior (UFRRJ/PPGLM)

Costumamos falar sobre a secularização ocorrida na modernidade como uma separação

intermitente entre Estado e Igreja – que de fato ocorreu. As seitas organizadas perderam

gradualmente a função e o poder de cobrar impostos, de realizar julgamentos, de controlar a

arquivologia, o monopólio do ensino e sua capacidade de forçar a adesão dos membros da

sociedade civil ao seu conjunto de credos. O que motivou esse processo é uma questão um

pouco mais delicada do que se costuma ser propagandeado. É indiscutível que a secularização

do pensamento político foi importante, mas também devemos considerar a mobilização

institucional e social entorno de uma trégua das guerras civis religiosas e a gradual

transformação dos Estados medievais no Estado fiscal-militar. Se no contexto do século XVI

a concepção platônica-medieval de governo como a cabeça que guia a nau da sociedade já era

obsoleta, tampouco tentaremos explicar o gradual distanciamento entre Estado e religião como

uma decisão racional unilateral. Ainda que com forte influência da tese do economista Mark

Koyama de que a tolerância religiosa é um efeito das transformações fiscais ocorridas nos

Estados modernos europeus, manteremos essa tese sob suspeita para não cair na armadilha de

pensar que esse processo foi guiado, não por uma racionalidade filosófica, mas por uma razão

de mercado. É natural que em momentos de grande esperança nas realizações da razão

estivéssemos inclinados a acreditar que a tolerância foi uma conquista coletiva da razão. Mas

as frustrações de nosso tempo em relação ao progresso político e econômico nos apontam

alternativas mais sóbrias de lidar com a questão.

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Liame e lacuna no discurso sofístico do Eutidemo de Platão

Ottávio de Azevedo Oliveira Rodrigues (PFI-UFF)

Platão, em seu diálogo Eutidemo, traz-nos Sócrates narrando um encontro que tivera com os

irmãos sofistas Eutidemo e Dionisodoro. Os sofistas, em três momentos do diálogo, assumem

a condução da conversação para fazer uma exibição (epídeixis) dos seus saberes. Nesta

exibição, os irmãos lançam mão de uma série de recursos argumentativos tipicamente

associados ao movimento sofista, como, por exemplo, o uso da homonímia e de ambiguidades

sintáticas. O jovem Ctesipo, que se junta a Sócrates e aos sofistas para acompanhar a

conversação, chega ao ponto de advertir Eutidemo por considerar que ele, em seus argumentos,

não “combina fio com fio” (ou línon línōi synápteis, 298c), uma vez que ele e seu irmão não

se envergonham de afirmar consequências absurdas. Eutidemo, Dionisodoro e Ctesipo

envolvem-se em uma teia de argumentos que os leva a concluir que Sócrates não teria um pai,

o pai de Eutidemo seria também pai de todos, a sua mãe seria a mãe do ouriço do mar e, além

disso, Ctesipo e Eutidemo teriam como progenitor um cão (298c-e). Estas passagens são a

expressão mais exagerada da acusação de conduzir a conversação como uma mera brincadeira

(paidiá), que atravessa todo o diálogo. No entanto, é justamente por causa deste exagero

platônico que estas mesmas passagens são excepcionalmente reveladoras do expediente de uma

certa sofística que não se envergonha de apresentar a filosofia como artifício da linguagem.

Nosso trabalho pretende, portanto, ocupar-se dos artifícios argumentativos empregados pelos

irmãos ao longo deste diálogo, para extrair, daqueles exageros, as posições destes sofistas a

respeito da linguagem.

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A Substancialidade da Alma Humana em Tomás de Aquino

Pedro Thyago dos Santos Ferreira (UFRJ)

A definição da alma humana que se pode retirar dos escritos de Tomás de Aquino é aquela que,

de algum modo, já encontramos nas obras aristotélicas: a alma humana é a forma substancial

do corpo humano potencialmente vivo, ou seja, é o princípio de atualização da matéria-prima,

sendo responsável por torná-la uma substância em ato, por organizá-la como um corpo humano

e por conferir-lhe as faculdades e operações correspondentes à espécie humana. Todavia, a

psicologia tomista apresenta vários elementos obscuros. Dentre eles, destaca-se a classificação

da alma como uma substância ou um hoc aliquid. Com efeito, as filosofias aristotélica e tomista

utilizam os termos substância e hoc aliquid para se referir especialmente aos compostos

hilemórficos. Deste modo, chega-se ao seguinte problema: se a alma humana é parte de um

composto hilemórfico, então como poderia ser chamada de substância ou de hoc aliquid?

O objetivo de nossa comunicação consistirá em mostrar qual é a estratégia subjacente à

classificação dada por Tomás à alma humana. Defendemos que tal estratégia remonta a

Aristóteles e consiste em atribuir diferentes significados aos termos substância e hoc aliquid.

A novidade de Tomás de Aquino está em expandir este campo semântico, introduzindo um

significado que se aplica exclusivamente à alma humana, a saber, o sentido peculiar.

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O Sócrates de Foucault e a Estilística da Existência

Priscila Céspede Cupello (PPGLM/UFRJ)

Este trabalho consiste no debate do tema da estilística da existência nos trabalhos de Michel

Foucault, abordando questões sobre o sentido da vida e qual vida vale a pena ser vivida,

principalmente, a partir da análise dos cursos ministrados no Collège de France, entre os anos

de 1981 a 1984, os quais foram publicados em formato de livros e intitulados: “A Hermenêutica

do Sujeito” (1981-1982), “O governo de si e dos outros” (1982-1983), “A Coragem de

Verdade” (1983-1984). Nosso foco de análise recai na figura de Sócrates. Questionar-se sobre

a vida e morte de Sócrates nos faz deparar com algumas questões filosóficas essenciais, tais

como: qual a melhor forma de viver? Por que modo de vida seria digno morrer? O que é uma

bela vida? O que é uma vida enquanto obra de arte? Como uma vida virtuosa relaciona-se com

a eudaimonía?

A dificuldade em se falar sobre o filósofo ateniense está em consonância com a complexidade

que é se questionar sobre a problemática da vida que vale a pena ser vivida. Este assunto

aparece em alguns diálogos platônicos, nos quais o filósofo encontra-se preocupado com o

viver não refletido da maioria dos atenienses. Foucault descreve Sócrates com o primeiro

filósofo a se preocupar com a noção de cuidado de si e dedicar sua vida a missão do exame de

si mesmo e dos outros. Essa vida baseada na reflexão constante e no autoexame é constituinte

de uma vida virtuosa.

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O passado por vir ou a memória do futuro na filosofia de Bergson

Rafael Ávila Matede (PUC-SP)

Na obra Matéria e Memória Bergson afirma que poderíamos assumir a precedência do possível

ao real se mantivéssemos nossa atenção voltada apenas para a matéria inerte. Nesse caso, é

possível constatar que todas as porções da matéria inerte “agem e reagem umas sobre as outras

em todas as suas partes elementares segundo leis constantes”, permitindo às ciências

competentes calcular e prever o que se passará com cada uma delas, já que o seu futuro “deve

estar contido em seu presente e a elas nada acrescentar de novo”.

O mesmo não ocorre quando se trata da matéria viva: em oposição ao inerte, as ações do ser

vivo não poderiam “rigorosamente ser deduzidas dos fenômenos anteriores como um

movimento de um movimento, e com isso ele acrescenta verdadeiramente algo de novo ao

universo e à sua história”. O intervalo que a matéria viva opera entre o movimento que recebe

e o movimento que executará à sua escolha, ao romper com o automatismo da ordem causal,

cria o possível e não mais o necessário. Sendo assim, ao introduzir o vivente como centro de

indeterminação, Bergson inverte a ordem dos termos: “é o real que se faz possível e não o

possível que se torna real”.

No entanto, se por força da memória o futuro do ser vivo ainda está implicado no conjunto de

suas experiências passadas tal como afirma Bergson e dessa maneira suas ações seriam

relativamente previsíveis, como o ser vivo poderia criar um sentido de futuro irredutível a

qualquer passado, como não reproduziria necessariamente uma relação de causalidade

semelhante à ordem causal que ordena as relações previsíveis do mundo inerte?

O presente estudo pretende, através da análise de partes da teoria da memória em Bergson,

verificar a hipótese da produção do novo a partir da “memória-espírito”, uma forma de

memória possivelmente capaz de engendrar um sentido de futuro irredutível a qualquer

passado. Paralelamente, torna-se relevante uma breve exposição da crítica bergsoniana ao

problema metafísico sobre o possível e o real.

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Loucura e Verdade em História da Loucura de Michel Foucault

Raphael Thomas Ferreira Mende Pedgen (UERJ)

Pretendemos analisar o modo como Foucault compreendeu o conceito de loucura presente em

História da Loucura contextualizando o tema a partir do modo como sua filosofia problematiza

a noção de sujeito no pensamento moderno. História da Loucura buscou descrever a

consolidação de uma forma de saber indicando as operações por meio das quais se codificou o

fenômeno da loucura a partir de uma grade conceitual que tinha como eixo central a noção de

doença mental. Assim, ao descrever a constituição da psiquiatria como dita ciência, coube ao

autor estudar, não as pretensas “descobertas” teóricas dos primeiros alienistas, mas sim as

condições históricas que possibilitaram a captura conceitual da loucura pela percepção médica.

Ao deslocar o eixo de análise do discurso psiquiátrico para uma apreensão da experiência da

loucura no ocidente clássico, Foucault pode identificar uma série de temas polêmicos referentes

às condições de delimitação desse objeto sobre o qual iria se sobrepor a medicina ocidental.

Mais do que a loucura propriamente, tratava-se da produção de um discurso de verdade sobre

o homem e se a reflexão recaia-se sobre uma verdade antropológica, ela só o fazia, pois, tinha

como condição de enunciação a constituição de um espaço de verdade situado no homem por

meio de uma leitura (ou captura) médica sobre a loucura em geral. Nesse aspecto, cabe indicar

que o interesse que conduzira Foucault à psiquiatria dizia mais respeito aos procedimentos de

objetivação de uma verdade do homem do que aos discursos teóricos sobre alienação mental

produzidos a partir do início do século XIX.

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A gênese hermenêutica da criação: em busca do autor perdido

Rodrigo Viana Passos (PUC-Rio)

O presente trabalho busca refletir, a partir do paradigma da hermenêutica-filosófica, sobre o

lugar hermenêutico do autor de uma obra artística consumada e lançada ao mundo para ser

experienciada. No fundo é perguntar: quando nos pomos diante da obra, o que buscamos é

autor e sua consciência criadora expressa na obra ou algo diverso e independente – um

conteúdo em si mesmo subsistente? Tal problema pode ser extraído das próprias considerações

de Gadamer sobre o acontecimento artístico presentes tanto em Verdade e Método, quanto em

seus artigos periféricos sobre estética (vol. 8 e 9, Gesammelte Werke). Lá o encontramos

preocupado em deslocar a experiência estética de um âmbito puramente subjetivo – consciência

estética aliada a um tipo de consciência histórica – para um âmbito ontológico de

acontecimento da verdade. A obra, sob esse novo olhar, passa a ser compreendida como

parâmetro de si mesma, ou seja, ela própria possui o primado da experiência estética na medida

em que se configura como representação (Darstellung) de uma verdade. Por outro lado, parece

ser legítimo questionar se o autor deixa de ter qualquer função hermenêutica aí. E se tem, qual

o caráter de tal presença autoral na obra? Acreditamos que, à princípio, não se pode

compreender a tese gadameriana como “anti-autoral”, promovendo uma cisão artificiosa entre

a obra e sua origem. O autor é o mediador original da verdade desvelada e a configuração

artística final: um verdadeiro “sacerdote” da verdade.

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Algumas considerações sobre Definição de Arte

Rosi Leny Morokawa (PPGLM/UFRJ)

A resposta à questão “O que é a arte?” ganhou destaque entre as discussões filosóficas da

segunda metade do século XX. A diversidade da produção artística do período instigou novas

elaborações teóricas sobre arte. Alguns filósofos, Morris Weitz, William Kennick, entre outros,

defenderam que não é possível definir arte em termos de condições necessárias e suficientes

que algo deva satisfazer para ser arte. Como resposta à posição não-definicional da arte, outros

filósofos – Arthur Danto, Jerrold Levinson, George Dickie, Monroe Beardsley – apresentaram

distintas propostas de definições de arte. O debate se refinou de tal modo que parte da discussão

sobre definição de arte é sobre o que é uma definição de arte. Neste trabalho, pretendo

apresentar algumas questões sobre a terminologia e classificação de definição de arte,

mostrando brevemente as principais definições propostas no período. De modo que possamos

ter um panorama geral acerca do problema da definição de arte.

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A passividade dos seres: Malebranche e a noção cartesiana de substância

Sacha Zilber Kontic (USP)

A presente comunicação visa analisar a noção de substância na filosofia de Malebranche a

partir de sua leitura da filosofia de Descartes. Tomaremos como ponto de partida a crítica que

ambos os autores fazem da concepção aristotélica e escolástica de substância ou de forma

substancial, que lhes permite elaborar uma física na qual os corpos podem ser considerados

como seres essencialmente passivos e que prescinde de qualquer referência a faculdades,

qualidades ou virtudes. Malebranche, contudo, parece se distanciar da filosofia de Descartes

na medida em que estende essa passividade a todas as substâncias criadas, incluindo portanto

a alma. Contrariamente a Descartes, para quem a vontade garantia uma atividade intrínseca às

substâncias espirituais, o oratoriano extirpa das substâncias qualquer atividade ou potência

própria, atribuindo apenas a Deus a eficácia real para produzir efeitos no mundo criado.

Buscaremos assim examinar os pontos comuns e divergentes da noção de substância em ambos

os autores, de modo a delimitar os elementos que permitem com que Malebranche generalize

a passividade que Descartes atribui aos corpos para as substâncias em geral. Passividade que,

como veremos, se encontra no fundamento tanto da doutrina da visão das ideias em Deus, como

em seu ocasionalismo.

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O pluralismo democrático na teoria da justiça de Rawls

Thiago Augusto Passos Bezerra (PPGLM/UFRJ)

De modo geral, podemos afirmar que Rawls sustenta a tese segundo a qual cidadãos de

sociedades democráticas devem avaliar e, quando necessário, transformar a estrutura social de

acordo com critérios igualitários de justiça, justificado por meio de um argumento moral

contratualista. No que concerne aos princípios de justiça, Rawls argumenta que são resultado

de um processo hipotético de deliberação entre os agentes morais livres e iguais motivados

pelo interesse em conceber e aplicar critérios de justiça responsáveis por organizarem o arranjo

institucional básico da sociedade em que vivem. Em "Liberalismo Político", o filósofo

reconhece que qualquer concepção de justiça precisa ser compatível com a diversidade natural

de doutrinas filosóficas, morais ou religiosas encontradas na vida política dessas sociedades,

ao denominar essa exigência como o “fato do pluralismo razoável” entre diferentes concepções

de bem. O pluralismo de valores e a diversidade de estilos de vida são características

inalienáveis da razão humana em liberdade, quer dizer, apenas o uso sistemático e opressivo

da coerção estatal poderiam suprimir esse conflito, obrigando os cidadãos a endossarem uma

mesma doutrina moral. Trata-se de uma pluralidade que é ao mesmo tempo conflitiva e

razoável, contraditórias entre si e compatíveis com as instituições políticas de uma democracia.

No entanto, o pluralismo democrático coloca uma pergunta exigente ao Contratualismo

rawlsiano, isto é; como é possível esperarmos que uma mesma concepção de justiça, mesmo a

justiça como equidade defendida por ele, seja assumida por todos como a concepção pública

comum para avaliação das instituições sociais e, ao mesmo tempo, não opressiva? Para tanto é

preciso ler "Uma Teoria da Justiça" a partir das reformulações feitas por Rawls em

"Liberalismo Político" para analisarmos com quais argumentos o filósofo tenta responder a

essa questão premente à sua concepção política de justiça.

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Sobrenome e nome próprio na filosofia de Walter Benjamin

Verena Seelaender da Costa (UERJ)

Na presente comunicação buscaremos apresentar o nome como elemento mais básico da teoria

da linguagem do filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940). Para esse fim, procuraremos

em especial, mas não restritamente, nos ensaios “Sobre a linguagem em geral e sobre a

linguagem do homem” (1916) e “Sobre a capacidade mimética” (1933) as indicações de que,

para Benjamin, os conceitos de nome próprio e sobrenome são fundamentais para compreender

a própria linguagem, seja ela humana ou não. Na visão de Benjamin, a linguagem não estava

restrita ao uso humano, sendo possível falar em uma linguagem dos animais, das plantas e até

mesmo dos seres inanimados. A linguagem é, inclusive, múltipla dentro de uma mesma língua,

o que explicaria a existência de uma linguagem específica como a da música, por exemplo, que

nada tem a ver com a nacionalidade – ou até mesmo espécie – de seu falante. O nome, no

entanto, exatamente por ser de uso exclusivo do ser humano, é o elo que realiza a relação entre

humano e mundo, que torna, nas palavras benjaminianas, possível a existência de uma

“comunidade mágica com as coisas” (Benjamin, 2013, p. 60).

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A ciência política de Thomas Reid (1710-1796)

Vinícius França Freitas (UFMG/Université Paris I Panthéon-Sorbonne)

O objetivo deste trabalho é compreender dois aspectos do pensamento político de Thomas Reid

(1710-1796), a saber, a estrutura do conhecimento político e a natureza de seus princípios. Na

primeira seção, pretendo apresentar o que o filósofo entende por ciência política, a ciência

acerca das ações de um corpo de indivíduos reunidos em sociedade, dedicando-me à discussão

de sua compreensão de ciência e de conhecimento científico. De acordo com Reid, todo

conhecimento que se pretende científico deve ser construído de acordo com o ‘sistema

axiomático’ proposto por Euclides no âmbito da geometria. É nesta perspectiva que se deve

pensar a possibilidade de uma ciência política. O conhecimento político depende

fundamentalmente da capacidade do cientista de identificar princípios primeiros (axiomas) a

partir dos quais os seus raciocínios sobre as ações dos seres humanos em sociedade possam ser

desenvolvidos. Na segunda seção, argumento que, diferentemente dos princípios primeiros de

outros campos do saber, como, por exemplo, a filosofia da mente e a moral, os princípios

primeiros da ciência política não são princípios primeiros do senso comum. A política é

fundada sobre uma forma de conhecimento empírico que não pode ser identificada com o senso

comum, com os julgamentos e crenças devidos à constituição original da mente que são

compartilhadas pela maior parte dos seres humanos (como, por exemplo, as crenças na

existência das operações e emoções da mente atestada pela consciência, na existência dos

eventos passados atestados pela memória ou na existência dos objetos externos percebidos

pelos sentidos).

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Adução e análise de algumas questões vinculadas à “filosofia pré-socrática”: um

reporte aos estudos empreendidos por André Laks

Viviane Veloso Pereira Rodegheri (UFRRJ)

A denominação de “filósofos pré-socráticos” atribuída a determinados pensadores da

antiguidade clássica ocidental é bastante consuetudinária em se tratando de compêndios, livros

didáticos e enciclopédias cujo intento baseia-se em explicitar, em linhas gerais, o conteúdo das

teorias expostas por esses egrégios indivíduos. Entretanto, estes materiais não costumam

salientar a existência de diferentes perspectivas, por vezes conflitantes, que discorrem acerca

do quão apropriado é o emprego de tais termos. De acordo com as investigações concretizadas

pelo pesquisador André Laks, enfatizadas sobretudo em sua obra Introdução à “Filosofia Pré-

Socrática” e em artigos relacionados, o estabelecimento da designação “filosofia pré-

socrática” implica consequências usualmente ignoradas. Em primeiro lugar, trata-se de uma

classificação anacrônica, já que os filósofos desse período não poderiam utilizar por referência

Sócrates para aludirem a si mesmos. Em segundo lugar, associar-lhes o atributo de “filósofos”

constituiu procedimento mais tardio, já que a formalização desse conceito só sucedeu no final

do período tido como “pré-socrático”. Em que consistiria a origem, então, dessa categoria?

Segundo Laks, é possível identificar ao menos dois modelos de historiografia filosófica

divergentes que se concentram em expender, cada qual, um posicionamento sobre o uso da

plana “filosofia pré-socrática”: um, originário da tradição fenomenológica, relacionada a

Gadamer, e outro, da tradição racionalista, representada, nesse aspecto, principalmente, por

Cassirer – cujas contribuições são menos conhecidas do que as daquele e, poderia-se dizer, até

mesmo por elas ofuscadas. Conquanto Laks esteja mais propenso a anuir o segundo modelo,

não deixa de realçar as críticas que são inerentes a ambos. O presente trabalho aspira, portanto,

à lacônica exposição dessas duas vertentes indicadas por Laks e à sua respectiva

problematização.

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O programa de Hölderlin para Iena (1794-1795): Ideias estéticas além de Kant e

Schiller

Wagner de Avila Quevedo (UFMG)

A concepção filosófica de Hölderlin compõe-se de duas percepções fundamentais: a

indivisibilidade do racional e do sensível presente na ideia platônica de beleza, e a

compreensão, de fundo espinosista, de que a unidade assim pensada apreende-se como

diferenciada em si mesma. A presente comunicação aborda a primeira percepção. Em fins de

1794, Hölderlin abandona o preceptorado na casa dos von Kalb e muda-se para Iena, onde

trabalha em seu Hipérion e assiste às preleções de Fichte. No entanto ele não chega na cidade

de mãos vazias. Numa carta a Christian Neuffer, de outubro de 1794, Hölderlin manifesta a

intenção de escrever um ensaio sobre as ideias estéticas de Kant, que deveria servir como

comentário do Fedro, de Platão, ao mesmo tempo que avançaria, mais do que Schiller teria

ousado, para além do limite kantiano através de uma simplificação de sua estética. Como o

texto jamais foi escrito, o presente trabalho apresenta os elementos articulados na carta e

procura reconstituir os marcos gerais do ensaio planejado.

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Crise na democracia e a criação de muros – definições a partir (da dificuldade) do

diálogo com o totalitarismo

Wagner de Moraes Pinheiro (CEFET Maracanã)

O trabalho aponta o amor ao mundo como deflagrador da limitação e perigos da visão de

democracia apenas como antitotalitária. Com isso, pretende-se mostrar o amor ao mundo como

a construção da responsabilidade para com o espaço democrático. Segundo Arendt, após a

derrota da Alemanha nazista, a conotação de democracia, gradativamente, tomou o

entendimento de "muro". A tentativa, no entanto, elimina a responsabilidade do juízo reflexivo

e da compreensão sobre as situações limite (border-situation), com respostas preconceituosas

que espelham uma democracia que acaba por espelhar, de certa forma, o pensamento totalitário.

Isolar o totalitarismo numa ilha solitária é um caminho incipiente e até superficial para a

compreensão do espaço democrático. Pois, ao colocar rótulos de mal, baseado num único

objeto, exime-se o juízo sobre o próprio espaço democrático, com uma resposta pronta. Assim,

Hannah Arendt desenvolve a crítica à superficialidade contida na proposta de democracia como

mero "antitotalitarismo", por não entrar nas nuances do espaço democrático e suas

responsabilidades sobre o posicionamento para com o outro. Arendt questiona o que estamos

fazendo – e neste sentido quer entender como o espaço democrático entra em choque num

diálogo interminável de compreensão com o pensamento totalitário. No propósito de perpetuar

o mal radical, antes visto no governo nazista, constantes alvos para a democracia levaram ao

exercício da construção de seus muros. Numa crítica atual a esta visão, acredita-se que o amor

ao mundo desenha uma espécie de responsabilidade única para a relação com o espaço

democrático, ao consagrar a necessidade de compreensão da situação limite em seu caráter

inédito. O amor impele a um agir, como o causador de um movimento, para a política. Conclui-

se que o amor ao mundo é uma alternativa eficiente para se compreender o espaço democrático,

por unir os homens dentro deste apesar de suas potenciais diferenças.

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Os “pontos cegos” da proposta habermasiana da tradução semântica das

pretensões religiosas na esfera pública pós-secular

Wescley Fernandes Araújo Freire (UERJ/UFMA)

A partir das contribuições de Charles Taylor, Peter Berger, José Casanova, Warren Goldstein,

Tariq Modood e Veit Bader, discute-se a “revisão” da tese da secularização [I] e a emergência

da sociedade pós-secular como forma de integração social pós-tradicional [II]. No ethos

democrático pós-secular, como cidadãos religiosos e seculares se autocompreendem e se

reconhecem mutuamente como membros de uma comunidade política de indivíduos livres e

iguais, orientando a ação social tendo em vista o que é comum, conforme suas

responsabilidades? Para Habermas, o liberalismo político precisa ser consequente quanto à

aplicação de seus pressupostos normativos, permitindo a inclusão e participação livre e igual

de cidadãos religiosos no debate político da esfera pública mediante adoção do proviso

(cláusula da tradução dos argumentos religiosos em argumentos seculares por meio do “uso

público da razão”). Após caracterizar a versão habermasiana do proviso [III], passo a apresentar

e caracterizar seus "pontos cegos", particularmente no que tange a tradução semântica dos

conteúdos religiosos [IV]: a) o conceito de tradução; b) o “programa da tradução”; c) o

“caminho da tradução”; d) o local da tradução; e) os sujeitos da tradução (tipologia ideal); f)

As pretensões de validade relacionadas à tradução; e g) o resultado da tradução. A tentativa

inicial de delinear um “contexto de tradução”, capaz de articular tais elementos teórico-

conceituais, baseia-se nas contribuições teóricas do conceito de “contextos de justificação” e

da tese da teoria dos “contextos de justiça”, desenvolvidas por Rainer Forst na obra homóloga

Contextos de Justiça (1994). Portanto, convém apresentar os pressupostos teóricos, esboçar os

elementos integrantes (ainda que provisoriamente), a função político-normativa de um

“contexto de tradução” e, por fim, avaliar a relevância teórica desse conceito e sua inclusão no

quadro teórico da Teoria Crítica da religião habermasiana [V].

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Contra-atos: A noção de obstáculos epistemológicos na filosofia de Gaston

Bachelard

Zander Lessa Gueiros (UFF)

O presente trabalho tem como objetivo investigar os contra-atos naturais, isto é, a formação de

obstáculos, bem como analisar os atos epistemológicos na filosofia de Gaston Bachelard, cujos

temais são centrais para a compreensão da problemática da construção do objeto científico na

contemporaneidade. Em todo itinerário epistemológico bachelardiano, é notório que a noção

de objeto dado cede lugar à de objeto construído, que o ideal de cientificidade não está mais

limitado à descrição da realidade, mas na coerência racional e técnica realizada. Pesquisar a

relevância nocional de obstáculos e atos é fundamental para apreendermos, em toda sua

dialética, a dinamicidade e a novidade do pensamento científico contemporâneo,

imprescindível à constituição do real científico. As mecânicas relativística, quântica e

ondulatória são o triunfo do Novo espírito científico sobre os preconceitos do senso comum

que obstaculizavam, de forma inconsciente, os avanços do conhecimento. A epistemologia de

Bachelard pretende estabelecer uma filosofia adequada ao pensamento científico atual,

demarcar as condições reais do trabalho científico. A exigência racionalista busca liberar o

pensamento dos obstáculos imaginários e impulsiona o espírito a realizar um ato. Entender

como são formados os obstáculos (a experiência primeira, ..., o animismo, o substancialismo)

é de grande enlevo para o domínio da ciência. Superar tais entraves consiste em resistir à

sedução da primeira escolha, negar o saber imediato, não fornecer um caráter pragmático ao

conhecimento científico com generalizações vagas e imprecisas dos conceitos. Bachelard, por

seu turno, registra o acelerado crescimento promovido pelas Mecânicas relativística,

ondulatória e quântica que, classificadas por ele como microfísicas, inauguram um território

epistemologicamente novo, redimensionando a concepção filosófica de ciência como

construção em contraposição à noção como representação do real.