Caderno Especial - Migração - 10.12.2004

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Metrópolevive 3.ªRevolução Industrial

Aface cosmopolita doturismode negócios

Temporada profissional no Brasilserve de teste para estrangeiros,como o mexicano Alfonso Acosta.q PÁGS. 2 e 3

ARQUIVO/AE

MIGRAÇÃO

A expressão “cair no mundo”significou, para levas de mi-grantes e imigrantes até os anos70, trocar a terra de origem porSão Paulo, conquistar um lugarna indústria nascente ou no co-mércio crescente. Vir “de malae cuia” para ficar, fugindo da se-ca e da fome do Nordeste, dasperseguições políticas e criseseconômicas de nações vizinhasou distantes, em busca do bási-co para a sobrevivência ou dasmelhores condições para o al-cance do sucesso, da riqueza.Significou conquistar a “terradas oportunidades”. Hoje, “cairno mundo” tem tantos destinosquanto a vida permitir – um de-les, São Paulo.

Significa deixar a terra natale aqui permanecer enquanto du-rar o contrato de trabalho, o pro-jeto ou o curso escolhido. Signi-fica ser migrante flutuante, pormeses ou alguns anos, na novaterra de oportunidades, abando-nada pela velha indústria datransformação, mas reconquis-tada pela indústria da tecnolo-gia, dos softwares, dos serviçosde tecnologia da informação,das telecomunicações, dos têx-teis, da química fina e outros.

Essa São Paulo assistiu à emi-gração de plantas produtivas,mas continuou abrigando seuscentros de planejamento e deci-são. A perda do emprego indus-trial não resultou da redução daatividade na capital e nas redon-

dezas, mas na sua moderniza-ção. O emprego se desindustria-lizou. São Paulo ganhou umanova indústria.

Entre 1998 e 2003, a cidaderecebeu US$ 21,8 bilhões eminvestimentos no setor de servi-ços e US$ 3,4 bilhões na indús-tria modernizada. Houve redu-ção de um terço no tradicionalemprego industrial entre 1989e 1996.

Vagas enxutas na indústria eexigência de qualificação cadavez mais abrangente fizeram osexcluídos no processo de reor-denamento produtivo – e seusparentes – buscar no comércioinformal a chance de sobrevi-ver. Ainda assim, o aumento nonúmero de vagas no mercado

formal paulistano representaum atrativo para os estrangei-ros e migrantes. Segundo da-dos do Dieese, em 1985, 14,1%das pessoas ocupadas da capi-tal estavam no setor de comér-cio. Em 2003, o porcentual su-biu para 16,5%.

SAGAA cidade é tão vibrante quantoantes. Torna-se paixão de mui-tos, que ainda decidem ficar.Repetindo a saga dos que com-puseram os mais intensos flu-xos migratórios da história pau-listana, formaram famílias etransformaram São Paulo namaior concentração nordestinafora do Nordeste, japonesa forado Japão e italiana fora da Itá-lia, alguns milhares de migran-tes e imigrantes ainda se unem,a cada ano, aos parentes queaqui se instalaram ou aos ami-gos do novo ramo profissional.

Os menos capacitados pulve-rizam ainda mais as pobres peri-ferias, lotadas de barracos, mes-mo de alvenaria. A carente re-gião do Campo Limpo, na zonasul, nunca deixou de crescer,apesar da estagnação da econo-mia. Aumentou 2,43% no perío-do de 1991 a 1996, enquanto omunicípio, no mesmo períodoregistrou queda de 1,9% a

0,4%. Reúne hoje 25% da con-centração de submoradias domunicípio. Em 1992, a carên-cia nos bairros que formam odistrito chegava a 425 creches,61 escolas de educação infantile 40 postos de saúde.

Entre 1973 e 1987, a popula-ção favelada em São Paulo au-mentou de 71,8 mil para quase2 milhões de habitantes, em 1,9mil favelas. Outros 2,5 milhõesde pessoas ocuparam loteamen-tos irregulares na periferia. Noranking nacional, São Pauloocupa o primeiro lugar em con-centração de favelas.

O impacto urbano provoca-do pela reorganização do setorprodutivo e pela vinda dos no-vos moradores da São Paulo, ci-dade dos serviços, também é ex-pressivo nos antigos bairros in-dustriais, de galpões e vilas ope-rárias, e nas vizinhanças dos ei-xos comerciais recentementeconstruídos para receber a cha-mada indústria limpa e os edifí-cios inteligentes das empresasde tecnologia.

Sofisticados condomínios re-sidenciais são erguidos paraquem quer morar perto do traba-lho. Flats se multiplicaram so-bremaneira para os funcioná-rios de médio escalão do setorde serviços – em 1999, São Pau-

lo tinha 8 mil flats em operaçãoe 17 mil em construção. Nas ci-dades próximas, as construto-ras e incorporadoras lançaminúmeros condomínios fecha-dos horizontais para receber al-tos executivos estrangeiros.

Os hotéis também se moderni-zam para atender ao turismo denegócios, impulsionado pelas fei-ras, convenções e a própria roti-na das multinacionais que torna-ram comum o intercâmbio deprofissionais. A cidade recebe90 mil eventos de negócios porano em 330 mil m² disponíveisnos centros de convenções. SãoPaulo tem 1.153 hotéis de todosos tipos, dos quais quase 200 depadrão internacional. Diferentessotaques e idiomas se misturam

em um setor que movimenta R$8 bilhões por ano.

A face cosmopolita é atendidapelo setor gastronômico, conside-rado por muitos especialistas co-mo um dos mais completos domundo, e pelo cultural, repleto

de bons e grandes espetáculos. Oconvívio de temperos resultouna emergente cozinha contempo-rânea paulistana, liderada porchefs da cidade, migrantes e es-trangeiros. Essa integração tam-bém se revela nas montagens mu-sicais e teatrais, das amadoras àssuperproduções.

A onda da reestruturação daatividade produtiva atingiu ain-da escolas e universidades pau-listanas, hoje responsáveis peloabrigo dos filhos de estrangei-ros e pela formação de alto ní-vel daqueles que atuarão nas no-vas companhias aqui instaladase de quem foi enviado para de-pois ser um multiplicador de co-nhecimento nas nações em de-senvolvimento.

São Paulo serve e é servida pe-los novos migrantes e imigran-tes. Assusta pela grandeza, pelaconcentração dos prédios e atraipelos shoppings, pela noite e pe-la receptividade do seu povo. Édefinida pelo colombiano Fre-ddy Guarín, gerente de marke-ting da indústria farmacêuticaPfizer como “uma loucura boa”.

Apesar de caótica, São Paulose mantém como destino certo.“Embora sujo, cinzento e desor-ganizado, é o lugar onde tudoacontece”, diz a professora ho-landesa Carmen Sokker.●

Otrabalho ‘estrangeiro’aserviçodanovaSãoPauloEmcontrastecomantigosmigrantes,quevinhamparaficar,profissionaisdosetor terciáriofazemdacidadedestinotemporário

Um francês, um japonês e umbaiano comandam gastronomia dehotel cinco estrelas da cidade.qPÁG. 6

Curso Estadode JornalismoEste caderno foi produzidopela turma que hoje concluio 15º Curso Intensivo deJornalismo Aplicado.

ESPECIAL

Turismo de negóciosé atendido por 1.153hotéis e movimentaR$ 8 bilhões por ano

FOTOS: NIELS ANDREAS/AE

Expansão do setorde serviços atraiprofissionais cadavez mais qualificados

DANIELLA SASAKI/AE

20041984

%HermesFileInfo:H-1:20041210:

O ESTADO DE S. PAULO H SEXTA-FEIRA10 DE DEZEMBRO DE 2004

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HISTÓRIA ECONÔMICA

FIM DO SÉCULO 19●● Os lucros do café são utiliza-dos para financiar as primeirasindústrias de São Paulo. A ênfa-se é dada nos setores alimentí-cio e têxtil

1910●● A 1.ª Guerra Mundial e as difi-culdades econômicas dos paíseseuropeus favorecem a migração.O movimento coincide com o de-senvolvimento da indústria paulis-tana

1920●● As indústrias do municípiode São Paulo já produzemaproximadamente um terço dosbens industriais do país

1930●● Cresce a indústria de bens deconsumo não-duráveis, como cal-çados e alimentícia. O café perdeimportância econômica com a cri-se de1929

1940●● A cidade já é o maior núcleoindustrial da América Latina. A 2 .ªGuerra Mundial traz imigrantesjaponeses e europeus para o país

1950●● A cidade emprega 56% da mão-de-obra industrial brasileira. Em-presas começam a migrar para oABC – Santo André, São Bernardodo Campo e São Caetano do Sul –e para o interior do Estado

1960●● Diminui o ritmo de crescimen-to da indústria e o setor de servi-ços cresce. Grandes fluxos demineiros e nordestinos come-çam a chegar à capital e tornam-se operários

1970●● A indústria começa a empregarmenos, graças à automatização eao aumento da produtividade. Aterceirização se acentua. Os latino-americanos perseguidos pelasditaduras fogem para o Brasil

1980●● O Produto Interno Bruto (PIB)do setor de serviços atingeR$ 49,8 bilhões e supera o PIBindustrial em R$ 900 milhões nacidade de São Paulo

1990●● A produção industrial dimi-nui, mas ainda supera qual-quer Estado. Bolivianos come-çam a chegar para trabalharno ramo de confecções

2000●● A 3 .ª Revolução Industrial seconsolida com a expansão dos se-tores de telecomunicação, automa-ção e química fina. Permanecem asindústrias têxtil e automobilística,da 1.ª e 2 .ª Revolução Industrial

Dochãode fábricaaohigh techParque fabril tradicional cede espaço para empresas de software, telecomunicações e financeiras na capital

INDÚSTRIA E SERVIÇOS

A indústria de transformaçãodeu lugar às fábricas de softwaree suas linhas de produção, de on-de despontam soluções tecnológi-cas que revolucionam a gestãoempresarial.A privatização no se-tor de telecomunicações trouxegrandesgruposmultinacionais pa-ra a capital, onde ibéricos, italia-nos e mexicanos transformaram atelefonia. A internacionalizaçãochegou aos bancos. Para “tocar”o novo setor de serviços, que seimpôs como a vocação atual dacapital paulista, chegam novosprofissionais, compondo um flu-xo de migração e imigração me-nos intenso que o das décadas de50a 70,mas completamente hete-rogêneo.Reúnedesde altos execu-tivosdo setor financeiro, com am-pla experiência mundial, a nordes-tinos aventureiros e sonhadores.

Entre os anos de 1985 e 1996,o Produto Interno Bruto (PIB)Municipal do setor industrial osci-lou entre R$ 46,7 bilhões e R$49,6 bilhões. No setor de servi-ços, a escalada partiu de R$ 42,1bilhões e atingiu R$ 76,9 bilhões,segundo o Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (Ipea).

O setor de serviços, que se ins-talou em São Paulo substituindo aindústria convencional, é movi-do, principalmente, pelas áreas deTecnologiada Informação (TI), fi-nanceira e de telecomunicações.Conforme a Fundação Seade, en-tre1998e2003, as empresas de te-lecomunicações anunciaram in-vestimentos de US$ 2,3 bilhõesna capital. Entre as empresas deatividades ligadas à informática, aprevisão chegou a US$ 579,3 mi-lhões.Nesse período, foraminves-tidos US$ 21,8 bilhões em servi-ços e US$ 3,4 bilhões na indús-tria, de acordo com dados de 513empresas contabilizadas pela Fun-dação Seade.

O pólo industrial paulistano setransforma. As plantas tradicio-nais reduziram sua participaçãona produção nacional de 15% pa-ra 9,4% entre 1985 e 2000, comoexplica o professor de EconomiaAurílio Caiado, da Universidadede Sorocaba. O perfil do segmen-to também muda. Caiado afirmaque a produção industrial da cida-de ficou ainda mais seletiva. Aparticipação da indústria tradicio-nal diminuiu e, ao mesmo tempo,a indústria tecnologicamentemais complexa cresceu.

Siderurgia e equipamentos ce-deram espaço a microinformáti-ca, química fina (medicamentos,por exemplo) e telecomunica-ções. Para Caiado, a nova indús-tria se concentra em São Paulo,pois a cidade se tornou um centrode pesquisa com as universidadese se confirma como maior merca-do consumidor nacional. “É a 3.ªRevolução Industrial.”

Mesmo com esse avanço, o se-tor de confecção se manteve, des-de a 1.ª Revolução Industrial, co-mo um dos mais importantes des-tinos da mão-de-obra. Em 2001,empregava 61,7 mil paulistanos –11,76% dos empregos da indús-tria local, segundo a FundaçãoSeade.

As precárias oficinas têxteis doBrás e do Bom Retiro, no centrode São Paulo, abrigam a maiorparte dos imigrantes. Os bolivia-nos chegam à capital para fugirdas dificuldades econômicas doseu país. Mas não conseguem es-capar de longas jornadas de traba-lho, baixos salários e clandestini-dade. “Recebem de R$ 0,30 a R$1 por peça produzida, trabalhan-do de 12 a 15 horas por dia. Nãodenunciamporque é a única chan-cede emprego deles”, diz aprocu-radora-chefe do Ministério Públi-co do Trabalho em São Paulo, Al-mara Nogueira Mendes. Segundoo presidente da Câmara de Indús-tria e Comércio Brasil - Bolívia,Elio García, cerca de 60 mil boli-vianos legais e ilegais moram nacapital paulista.

POSTOS ESTRATÉGICOSBemdistante das fronteiras de Co-rumbá (MS), por onde entra boaparte dos bolivianos, o AeroportoInternacional de São Paulo, emCumbica, Guarulhos, é porta deentrada para trabalhadores do se-torde serviços edanova indústria.

Profissionais de tecnologiacom alta qualificação e executi-vos de diversos países desembar-cam em solo paulistano para ocu-par cargos estratégicos e postosque exigem alta capacitação.

“Nos anos 90, há uma redefini-

ção no conceito de migrante. Nãoexiste mais somente o migrantede baixa renda. O novo migranteé de classe média e média alta”,afirma a socióloga Rosana Bae-ninger, da Universidade Estadualde Campinas (Unicamp).

O engenheiro americano An-thony Barnhart chegou em 2000para dar um curso de 30 dias so-bre a nova plataforma tecnológi-ca da multinacional de TI onde

trabalhava. Uma falha, justamen-te de tecnologia, mudou seus pla-nos. Uma semana antes de voltarpara casa, um caixa eletrônico ins-talado em um shopping engoliuseu cartão magnético. No termi-nal ao lado, a gaúcha VanessaAcorssi teve o mesmo problema.Osdois esperaram pelo auxílio dobancopor quatro horas, tempo su-ficiente para aproximá-los. Bar-nhart desistiu dos Estados Unidose casou com a gaúcha.

A decisão obrigou o americanoa pedir demissão e começar a ba-ter às portas de empresas de TI.Mas não conseguia uma vaga,apesar dobomcurrículo edo satis-fatório desempenho nas entrevis-tas. Vanessa acredita que a nacio-nalidade do marido fazia com queas pessoas o considerassem arro-

gante. Passou a repetir um conse-lho para que pudesse mudar suaimagem. “Vai bem humilde, peloamor de Deus. Tira a Mont Blance leva a Bic”, sugeria. Coincidên-cia ou não, após adotar a estraté-gia, foi admitido pela companhiaalemã SAP.

Apesar de deixar seu país, Bar-nhart conservou hábitos como ogolfe. Foi no campo de golfe,aliás, queconheceu o indiano Sun-deep Jinsi e o holandês Casparvan Rijnbach, também casadoscom brasileiras e empregados dosetor de serviços.

Jinsi e Rijnbach também tive-ramque se acostumar comacultu-ra brasileira. No primeiro dia detrabalho, Jinsi marcou quatro reu-niões. A primeira durou duas ho-ras. “O cara só falava do Corin-thians. Com três reuniões marca-das, eu só pensava: ‘mas, o que éCorinthians?’.”

Jinsi trabalha com vendas deequipamentos para televisão. Pa-ra “quebrar o gelo” com as secre-tárias das empresas que visita, co-meçouaver novelas. “Quandovo-cênão sabeoqueénovela, não sa-be o que é cultura brasileira.”

Barnhart, Jinsi e Rijnbachatuam no setor de TI, que reúne10 mil empreendimentos na capi-tal, conforme o Sindicato dasEm-presas de Processamento de Da-dos e Serviços de Informática doEstado de São Paulo (Seprosp).As companhias dessa área em ex-pansão empregam aproximada-mente 30 mil pessoas. O mercadonacional investiu US$ 19 bilhões

em TI este ano, segundo estimati-va da E-Consulting. A quantia su-pera em 8,5% o valor investidoem 2003. As empresas de infor-mática registraram R$ 3,3 bilhõescomovalor adicionado (valor efe-tivamente gerado na produção).

Tambémem crescimento, o se-tor de telecomunicações contabili-zouvalor adicionado de R$ 7,7bi-lhões. Esse desempenho só foipossível pela expansão da telefo-nia no Brasil após a privatização.O processo, em 1998, abriu espa-ço para a entrada de empresas es-trangeiras de telefonia. A capitalpaulista recebeu grupos de dife-rentes origens, como ibéricos (Te-lefônica e Vivo), italianos (Tim) emexicanos (Embratel e Claro).

A abertura econômica brasilei-ra nos anos 90 também trouxe in-vestimentos estrangeiros aos ban-cos.APesquisa daAtividade Eco-nômicaPaulista (Paep), da Funda-çãoSeade,mostra um intensopro-cesso de fusões e compras a partirde1995.Dois anos antes, apartici-pação dos grupos estrangeirosnos ativos do setor bancário noBrasil representava 8,35% do to-tal. Em 2001, subiu para quase30%. A capital, segundo a Funda-ção Seade, no mesmo ano, conta-bilizouR$204,1 bilhões em depó-sitos, 76,88% do movimento ban-cário estadual.

Estrangeiros vieram para diri-gir as instituições. O segmentonão tem informações sobre imi-grantes,mas dadosdo UnibancoeJP Morgan, únicos entre oito em-preendimentosque forneceramle-

vantamento ao Estado – outrosnão, “por segurança” –, dão pistassobre a participação de estrangei-ros na mão-de-obra capacitada.

O JP Morgan tem 8 profissio-nais de outros países entre 230funcionários. O Unibanco tem 79estrangeiros em São Paulo. Umdeles é o português Tiago Neves,diretor-executivo, que chegou em1995. “Em Portugal, a economiaé estável, o que torna o trabalhono Brasil desafiante e arrojado”,afirma.

TELECOMUNICAÇÕESMultinacionais de telecomunica-ções, após a privatização, eleva-ram a oferta de empregos. Na ca-pital, o setor emprega 16,2 mil

pessoas – 13 mil em telefonia fi-xa, conformeo Sindicato dos Tra-balhadores em Empresas de Tele-comunicação e Operadores deMesas Telefônicas no Estado deSão Paulo (Sintetel).

Aexpansão também é observa-da no telemarketing. Entre 1998 e2004, a oferta no setor cresceu de200 mil para 550 mil empregosno País. Quatro em cada dez em-pregados trabalham na capital.

A terceirização de mais de30% das operadoras da capital é a

principal razão para o crescimen-to. “As empresas terceirizadasatendem à exigência de tecnolo-gia e maiorqualificação noatendi-mento, o que as empresas, por sisó, não poderiam cumprir”, expli-ca o presidente da AssociaçãoBrasileira de Telemarketing(ABT),TopázioSilveira Neto. Pa-ra ele, a formação heterogênea dapopulação da capital favorece aqualidade no atendimento.

As operadoras de telefonia fixae celular também acolhem cente-nas de migrantes e imigrantes.Dos 2 mil funcionários da Vivoque atuam na capital paulista, 270vieram de outros estados, a maiorparte (41%) do Rio de Janeiro,uma das antigas sedes da empre-sa. Na TIM, ocorre o contrário.Somente 20 entre os 1,5 mil fun-cionários noEstado vieramde ou-tras partes do País ou do exterior.

GiuseppeGlionnadeixou há se-te anos a função de técnico naTIM Itália para vir ao Brasil. DeBelo Horizonte até a capital pau-lista, passou por engenharia e pes-quisa até assumir a gerência terri-torial de rede. “Qualquer expe-riência em São Paulo é uma óti-ma oportunidade na carreira.”

O benefício foi além da áreaprofissional. Formado em Física,Glionna termina agora seu douto-radoemFísicaQuântica,pelaUni-versidade de São Paulo (USP) epela Universidade Federal de Mi-nas Gerais (UFMG). “Há um ní-vel excelente de universidades,pessoal preparado, boas bibliote-cas e riqueza científica.” ●

ENCONTRO – O golfe aproximou o americano Anthony Bamhart, o indiano Sundeep Jinsi e o holandês Caspar van Rijnbach

QUEDA – Indústria tradicional paulistana vem perdendo espaço

17,9 milFoi o acréscimo de estrangeirosna capital paulista entre 2002 e2003, segundo PesquisaNacional por Amostra deDomicílios do IBGE

25 milÉ o saldo da entrada e saída deimigração na década de 90. Trësdécadas atrás, o númeroera de 2,2 milhões, conformedados do IBGE

340 milEstrangeiros chegaram ao Brasilentre 1946 e 1953, o que superouem 4,3 vezes a imigração nosoito anos anteriores

65,4%Dos empregos na capitalpaulista estão ligados ao setor deserviços, de acordo cominformações de 2002 daFundação Sistema Estadual deAnálise de Dados (Seade)

R$ 0,30A R$ 1 é o que ganha umboliviano por peça produzida nasoficinas têxteis da região centralda cidade

8%Da mão-de-obra industrial domunicípio de São Paulo estáempregada nos Bairros do BomRetiro e do Brás

Por ser heterogênea,população paulistanafavorece expansão dotelemarketing

Cidade de São Paulotem 10 mil empresasde TI, segundo dadosde sindicato do setor

ARQUIVO/AE

OS NÚMEROS

NIELS ANDREAS/AE

%HermesFileInfo:H-2:20041210:H2 ESPECIALSEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004 ● O ESTADO DE S.PAULO

Page 3: Caderno Especial - Migração - 10.12.2004

Na limpeza dacidade, 70% são migrantes

TRABALHO PESADO: Excluída deempresas que exigem alta escolari-dade e conhecimento de idiomase informática, a maioria dos recém-chegados busca o trabalho braçal.Há 70 mil trabalhadores represen-tados pelo Sindicato dos Trabalha-dores em Empresas de Asseio eConservação e Limpeza Urbanade São Paulo. Aproximadamente70% deles são migrantes e a qua-se totalidade dos demais é forma-da por filhos ou parentes de mi-grantes vindos há décadas, segun-do estimativas da entidade.No ramo há 32 anos, Joaquim Fer-racini, dono de uma empresa deserviços de limpeza, conta quesempre foi evidente o predomíniode migrantes no setor. A oferta demão-de-obra é ainda abundanteno segmento e a indicação de no-vos funcionários é feita freqüente-mente por antigos empregados.“Tem funcionário com até seis pa-

rentes na fila para entrar”, diz. Fer-racini veio de Ibiúna (SP), no come-ço da década de 70. Foi motoristaem uma empresa de manutenção,supervisor, gerente, e resolveucriar a própria companhia.Conforme o Sindicato das Empre-sas de Asseio e Conservação doEstado de São Paulo, a região me-tropolitana da capital absorve70% da prestação desse tipo deserviço oferecida no Estado. Ape-sar disso, quase 90% das cercade 2.200 empresas da área estãoinstaladas em outro município.A razão é a alíquota do ImpostoSobre Serviços (ISS). Até o come-ço de 2004, a Prefeitura de SãoPaulo taxava em 5% o faturamen-to bruto da empresa prestadorado serviço. Na tentativa de frear afuga das companhias para o Gran-de ABC, a administração reduziu oimposto a 2% e passou a cobrardo cliente.

EmSãoPaulo,nemtodosquevêmficamSenãoencontramemprego,migrantesvoltamparacasa,constatapesquisador

Paulinho: Até Lulaficaria sem empregoPara sindicalista, ele e o presidentenão teriam chance na nova metrópole

Bolivianos tentam a sorte nasoficinas do Brás e Bom RetiroOs dois bairros abrigam a maior parte dos imigrantes clandestinos de São Paulo

Para os bolivianos que têm co-mo destino a confecção paulis-tana, não importa o relógio.Nas escuras oficinas, eles dor-mem, comem e trabalham diase noites. O fim-de-semana nemsempre é sinônimo de descan-so. Na feira ao redor da PraçaKantuta, no Pari, zona norte, alegião boliviana se encontraaos domingos para comer, be-ber, comprar artesanato e se di-vertir com futebol e música.Joaquin Dorado, 33 anos, autô-nomo no setor da costura, cortacabelos em um salão improvisa-do em duas barracas. "Fazer oquê, tenho que aceitar essa rea-lidade senão vou viver na rua."

Disciplinados, os imigrantesda Bolívia se encaixam no per-fil que patrões brasileiros, co-reanos e mesmo bolivianos bus-

cam para suas confecções. “Éuma mão-de-obra abundante ebarata, eficientíssima em traba-lhos manuais. Eles vêm atrásde emprego e não se queixamda quantidade de horas traba-lhadas”, analisa o presidente daCâmara de Indústria e Comér-cio Brasil-Boliviana, Elio Gar-cia. O secretário municipal doTrabalho, Márcio Pochmann,completa a descrição do qua-dro. “Eles não estão 'roubando'empregos de brasileiros, por-que dificilmente um brasileiroaceitaria trabalhar assim.”

Um emprego garantido, po-rém, pode não excluir umagrande dor-de-cabeça: a ilegali-dade. A procuradora Cristina

Brasiliano explica que o focodo Ministério Público do Tra-balho mudou do problema dairregularidade para o aspectosocial da questão. “Eles preci-sam de ajuda. Não queremosque sejam expulsos”. Um obs-táculo é o pacto de silêncio en-tre exploradores e explorados.Com medo, os bolivianos nãodenunciam e as poucas infor-mações chegam pelo sindicatoou por terceiros.

Além disso, a clandestinida-de traz prejuízos pela falta deimpostos arrecadados. Se a pe-quena oficina de confecção seregulariza como microempresa– com arrecadação até R$ 120mil mensais – paga à ReceitaFederal de 3 a 5% do total deseu lucro.

Entre os imigrantes, há aven-tureiros que chegam sem desti-no certo. “Eu e meus primos jo-gamos uma moeda para decidirse escolheríamos Argentina ouBrasil. Deu Brasil”, conta Gus-tavo Moya, 43 anos, que dei-xou a capital boliviana, La Paz,no início dos anos 80. Sem di-nheiro, passou noites nas Pra-ças da Sé e da República. Hoje,é gerente de uma loja de máqui-nas de costura na Luz, masnem todos têm a mesma sorte.“Quando as promessas não seconcretizam, muitos voltam pa-ra casa”, diz Elio Garcia.

A maioria dos bolivianos vi-ve na região do Bom Retiro edo Brás. Juntos, os dois bairrosdetêm 8% da mão-de-obra in-dustrial paulistana. Essas re-giões exibem um perfil diferen-te do resto da cidade, com cer-ca de 40% de trabalhadores naindústria – os demais bairrosapresentam, em média, 14,5%,de acordo com dados de 2001da Fundação Seade.

Antes dos bolivianos, vie-

ram os coreanos. Para o geren-te do Departamento de Infra-es-trutura e Capacitação Tecnoló-gica da Associação Brasileirade Indústria Têxtil e de Confec-ção, Sylvio Napoli, muitos de-les trouxeram conhecidos paraajudar nas confecções. “Infeliz-mente, nem sempre de formacorreta em relação às obriga-ções trabalhistas.”

A coreana Keum Sook Park,46 anos, não gosta de falar so-

bre as irregularidades da vi-da de imigrante. Há 15 anos,ela produz e vende roupasna Rua José Paulino, noBom Retiro. Ela veio a SãoPaulo atrás de trabalho no se-tor têxtil, onde já atuavamseus pais e primos. “Todosos coreanos fazem roupa.Brasil é terra grande, temmais chance. Coréia é difí-cil, pequena, trabalho só emfábrica”.●

A exigência de alta qualificaçãona nova São Paulo vocacionadaaos serviços era insignificante naantiga cidade, onde chaminés des-pontavam no horizonte. Mesmocom escassa formação, migrantese imigrantes conseguiam empre-go sem dificuldades. “Se o presi-denteLulaoueu,que fomosoperá-rios, precisássemos trabalharna in-dústriahoje, estaríamos desempre-gados”, diz o presidente da ForçaSindical, Paulo Pereira da Silva.

Lula e Paulinho contaram coma expansão da indústria na GrandeSão Paulo a partir dos anos 50. Aescassez de mão-de-obra no pós-guerra desencadeou um esforçopara trazer imigrantes. Entre 1946e 1953, chegaram ao País 340 milestrangeiros, 4,3 vezes mais doque nos oito anos anteriores.“Com o fim da guerra, parte damão-de-obra européia precisavaemigrar. Isso coincidiu com a in-dustrialização do Brasil”, explicaOdairPaiva, historiadordaUniver-sidade Estadual Paulista (Unesp).

Na mesma época, milhares demigrantes vieram atrás de oportu-nidades na indústria e na constru-ção civil. Segundo Paiva, enquan-to grande parte dos imigrantes vi-nha sozinha, os migrantes traziamsuas famílias. “O presidente Lulaé o exemplo típico.”

Aos 7 anos, em 1952, Lula de-sembarcou com a mãe e os 7 ir-mãos no Estado, vindo do sertãopernambucano. Dezoito anos de-pois, Lula era um dos 735,6 milnordestinos na capital – 51,3% docontingente de migrantes.

Nas duas décadas seguintes, onúmero de nordestinos aumentou44,3 mil ao ano, conforme o IB-GE. Mais 11,2 mil brasileiros deoutros Estados completaram oquadro anual de migrantes. Dadosde 2003 mostram uma redução,masaindaháumdesembarquesig-nificativo na capital.

APesquisaNacional porAmos-tra de Domicílios (Pnad), do IB-GE, contabilizou, entre 2002 e2003, aumento de 35,1 mil na po-pulação de migrantes. Registrou,ainda, crescimento no número deimigrantes na nova São Paulo – oacréscimo foi de 19,7 mil.

O mexicano Alfonso GuzmanAcosta, 34 anos, precisou de ape-nas duas semanas para decidir fi-carnoPaís eengrossar essa estatís-tica. O engenheiro da Volkswa-gen no México veio em julho de2002 e pediu a transferência paraSão Bernardo do Campo. A espo-sa, Lizbeth, topou na hora. O casalnão precisaria abandonar o espor-te preferido, o “agility” – modali-dade praticada com cachorro, di-fundida no Brasil.

O retorno de Alfonso, porém,estámarcadopara daqui a seisme-ses, quando vence o contrato detrabalho.”É muito bom atuar noBrasil,mas as viagens fazem parteda minha rotina.”

Trabalhar no Brasil pode ren-der promoções na carreira interna-cional. O americano ThomasBrewer assumiu a direção de mar-keting da Ford, função antes ocu-pada por Barry Engle, atual dire-tor da marca nos Estados Unidos.

Brewer era gerente regional devendas em Detroit e, mesmo sur-preso, gostou da transferência. Elee a esposa já tinham passado pornove mudanças, mas nunca forado país. “Eu não sei se ficaria até ofinal do contrato se minha famíliaestivesse infeliz aqui.” No Brasil,a esposadesfruta devantagens, co-mobabáparaos filhos e tempopa-ra estudos e o voluntariado.

Brewer teve que se adaptar aomercado instável, taxas de juros eriscopaís, o queodeixoumais fle-xívele sociável. “Aprendiqueven-der carros para americanos é mui-todiferentedevenderparabrasilei-ros”, diz.●

❝O consenso é de que nãohaverá um fluxo migratóriocomo nos anos 70 ❜❜CLÁUDIO DEDECCAECONOMISTA

❝Eu e meus primosjogamos uma moedapara decidir seescolheríamos Argentinaou Brasil. Deu Brasil ❜❜GUSTAVO MOYAIMIGRANTE BOLIVIANO

❝Se o presidente Lulaou eu, precisássemostrabalhar na indústriahoje, estaríamosdesempregados ❜❜PAULO PEREIRA DA SILVAPRESIDENTE DA FORÇA SINDICAL

BICO - Aos domingos, Joaquin Dorado troca a agulha pela tesoura

INDÚSTRIA E SERVIÇOS

Longe dos rentáveis empre-gos nas companhias de tecnolo-gia da informação, financeirase de telefonia, milhares de mi-grantes fazem o serviço pesadoda cidade. Estão em empresasde limpeza e manutenção pre-dial. São garçons, porteiros e se-guranças, na maioria, nordesti-nos. “Antes, vinham muitos mi-neiros e paranaenses, agora sãomais baianos e cearenses”, dizo economista da Unicamp Cláu-dio Dedecca.

A origem de quem vem a SãoPaulo em busca de emprego mu-dou com a intensidade do fluxomigratório. A migração líquida(saldo da entrada e saída de mi-grantes) caiu drasticamente. Nadécada de 70, superava 2 mi-lhões de pessoas; nos anos 90,foi de cerca de 25 mil.

Os dados explicam por que omigrante não é responsável pe-la elevação do índice de desem-prego. “Para a dinâmica do mer-cado, esse valor não é significa-tivo. Com ou sem eles, a situa-ção não seria diferente”, diz De-decca.

Pesquisas mostram que o mi-grante só vem à capital se tiveraqui uma rede social para ampa-rá-lo, como parentes ou ami-gos, e a sinalização de trabalho.A taxa de desemprego entreeles é pequena, porque voltampara casa se não encontram ser-

viço. “É a migração de retor-no”, define o economista.

Cristina Maria de Oliveira,de 36 anos, veio da Bahia háum ano e arrumou um espaçona casa da irmã, que sustentaseis crianças com um saláriomínimo. Como não conseguiuemprego, Cristina quer voltarcom seus quatro filhos. Falta odinheiro das passagens para No-va Colina, onde ficou o outro fi-lho. Com R$ 300 no bolso – me-nos da metade do que precisa –foi pedir dinheiro no TerminalRodoviário do Tietê.

Mas quem consegue trabalho

pretende ficar. Arantes Mene-zes dos Santos também chegoua São Paulo em 2003. Cansadode trabalhar em roças de feijãoe milho em Presidente Dutra(BA) sem perspectiva de futuromelhor, veio parar em solo pau-listano porque tinha um primoaqui. Passou os três primeirosmeses desempregado. “Sofri echeguei a passar fome. Andavapela rua, olhava pra cima, pen-sei que ia ficar louco.” Hoje égarçom, ganha R$ 501 fixosmais gorjetas e manda boa partedo dinheiro para os pais e três ir-

mãos no sertão da Bahia. Nãofaz planos de voltar, mas tam-bém não quer que a família ve-nha para São Paulo. “O começoaqui é muito sofrido.”

DESTINO TRADICIONALCláudio Dedecca destaca aárea de serviços como destinotradicional de migrantes. Masantes, existia o “efeito escorre-gador” que os levava à constru-ção civil e às indústrias. Hoje,o fenômeno perdeu força.

A mudança no “efeito escor-regador” começa na década de80 e se acentua nos anos 90com a estagnação econômica,que reduziu a oferta de empre-go na indústria e construção ci-vil. Para Dedecca, a desacelera-ção do processo migratório de-ve continuar. “O consenso é deque não haverá um fluxo migra-tório como na década de 70.”Hoje, quando o crescimentoeconômico ocorre, atinge vá-rias regiões do País, o que per-mite ao trabalhador procuraremprego na sua terra.●

Base da mão-de-obrabarata para pequenasconfecções de SãoPaulo vem da Bolívia

FRASES

MUDANÇA – O baiano Arantes Menezes dos Santos, de 24 anos, trocou a roça no sertão por um emprego de garçom na capital paulista

NIELS ANDREAS/AE

Para economista,‘efeito escorregador’conduzia migrantes àindústria nos anos 70

NIELS ANDREAS/AE

%HermesFileInfo:H-3:20041210: ESPECIAL H3O ESTADO DE S.PAULO ● SEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004

Page 4: Caderno Especial - Migração - 10.12.2004

❝Vim com a esperançade trabalhar numa loja degrife. Mas, como nãotenho curso superior, sóconsegui vagas nocomércio informal❜❜CARLA DE SOUZAAMBULANTE

❝Em cidade grande, agente tem mais chance❜❜BETO CHENCOMERCIANTE TAIWANÊS

POPULAR – Na Rua 25 de Março, o jovem baiano Anderson trabalha para ajudar no sustento da família

COMÉRCIO

Os sotaques de coreanos, chine-ses, árabes enordestinos se mistu-ram nas ruas comerciais mais co-nhecidas de São Paulo. Dos 430mil empregados no comérciopau-listano, pelo menos 30% são mi-grantes e imigrantes. Entre os es-trangeiros, a maioria é formadapor chineses e coreanos. Os nor-destinos continuam predominan-do entre os migrantes. Têm pordestino o comércio popular, quemovimenta, somente na Rua 25de Março, cerca de R$ 1 bilhãopor ano, ouocomércio de luxo, re-presentadopelasmaiores grifes in-ternacionais.

Com a queda da atividade in-dustrial, a partir da década de 80,o mercado paulistano se abriu pa-ra o setor de serviços. As novasempresas, ligadas sobretudo à tec-nologia e telecomunicações, pas-saram a importar funcionários es-trangeiros para parte dos seus car-gos executivos. Os novos migran-tes, com nível superior, ocupamosescalões médios dessas compa-nhias. Aqueles que não possuem

qualificação são absorvidos pelosserviços de manutenção. Os ex-cluídos desse mercado têm comoalternativa o comércio.

Em São Paulo desde 2001, An-derson Santos, de 17 anos, traba-lha há dois meses em uma loja dearmarinhos na Rua 25 de Março.Saiu de Feira de Santana, na Ba-hia, comamãeequatro irmãospa-ra encontrar o pai que já vivia nacapital. “Parei de estudar no pri-meiro ano do colegial para traba-lhar”, conta. Após a separaçãodos pais, tornou-se, com um ir-mão, arrimo da família. O rapazainda temesperançade voltar à es-cola. “Quero crescer mais na lojapara depois buscar algo maior.”

Reduto do comércio de luxo, aRua Oscar Freire também atraitrabalhadores de fora da cidade.A participação de estrangeiros es-tá estampada nos nomes. Chris-tian Dior, Mont Blanc e Cartiersão algumas das grifes que domi-nam o mercado de confecções ejoalherias sofisticadas. Vendedo-ra da Louis Vuitton, Raquel dosSantos veio de Florianópolis hánoveanospara fazer um curso téc-nico de prótese dentária. Mas foio trabalho no comércio, na épocafonte temporária de sustento, quevirou profissão. A catarinenseconquistou independência e con-forto na sofisticação, tanto queconfessa gastar com o supérfluo.“Sou muito consumista”, admite,aos risos.

Nos últimos 20 anos, São Pau-lo tornou-se destino para o novofluxo de imigrantes – os latinos easiáticos. Os primeiros chegaramcomo refugiados das crises deseus países e das perseguiçõesdas ditaduras, freqüentes na déca-da de 70. Os asiáticos encontra-ram aqui mercado amplo paraseus produtos, na maioria contra-bandeados e vendidos por ambu-lantes.

Nos anos 60, os migrantes quechegavam a São Paulo eram inse-ridos no mercado formal após umcurto período de adaptação. “Ha-via uma exclusão temporária,mas logo a maioria deixava a in-formalidade para atuar na indús-tria, principalmente na constru-ção civil”, explica a professora deSociologia da Pontifícia Universi-dadeCatólica deSãoPaulo (PUC-SP), Mônica Souza.

Àmedidaqueoperfil econômi-co da cidade era alterado, muitosmigrantes perdiam o emprego –entre outros motivos, por falta dequalificação para atuar no setorde serviços. “Isso contribuiu paraa expansão da informalidade nosanos 80”, avalia a socióloga.Atualmente, prevalece no Estadode São Paulo a migração de ummunicípio para outro. Em menorescala, ainda se observa o movi-mento tradicional, dos demais Es-tados para a capital paulista.

A maranhense Carla de Souzasonha, desde 1999, em ter um em-prego com carteira assinada em

São Paulo. “Vim com a esperan-ça de trabalhar numa loja de grife.Mas, como não tenho curso supe-rior, só consegui vagas no comér-cio informal.” Ao longo dos últi-mos cinco anos, Carla já vendeubijuterias em várias ruas do cen-tro. Com renda mensal de R$300,00, planeja voltar para o Ma-ranhãono fimde2005. “Queroes-tudar para, quem sabe, realizarmeu sonho de trabalhar no comér-cio de luxo de São Paulo”.

A situação caótica no campoburocrático e tributário brasileiroé apontada pelo presidente da As-sociação Comercial de São Paulo(ACSP), Guilherme Afif Domin-gos, como um dosmotivos que le-vam muitos trabalhadores para ocomércio informal. “Quanto maissimplificadoo sistemade legaliza-çãodocomércio,mais fácil identi-ficar as atividades ilícitas”, afir-ma.Umaformade resolver aques-tão seria diminuir a necessidadede arrecadação de impostos pelogoverno. “Além disso, serviçospúblicos de melhor qualidade fa-riam com que as pessoas estives-sem dispostas a abrir mão de parteda renda”, explica o professor deEconomia da Fundação GetúlioVargas (FGV), Ciro Biderman.

Ocomérciopaulistano tem, ain-da assim, espaço para quem vemde fora com a intenção de abrir opróprio negócio. O bairro doBom Retiro, conhecido pela ocu-pação italiana, hoje é o destinodos asiáticos. Das 240 lojas daRua José Paulino, 170 pertencema coreanos. Foi ali que a famíliaKim montou sua confecção, em1982, e em seguida abriu uma lo-ja. “A Coréia é muito pequena e aconcorrência é grande”, contaLais Kim. A primeira atividadede seu pai, Fernando Jung HoKim, foi em uma indústria têxtil.Hoje, Lais é advogada e ajuda ospais na loja nos finais de semana.

PERFILO perfil do comerciário é variadono mercado paulistano. A infor-matização nos estabelecimentoscontribuiu para essa mudança. Opresidente do sindicato da catego-ria em São Paulo, Ricardo Pathá,cita o exemplo dos supermerca-dos. “São lojas que exigem traba-lhadores mais qualificados.” Aes-se novo perfil somam-se os anti-gos, dos árabes e nordestinos.

Na mais famosa rua comercialda cidade, a 25 de Março, há ára-bes receosos emser árabes, nume-rosos e enigmáticos chineses, ar-gentinos se passando por india-nos.No total, são 60 mil emprega-dos, com destaque para os nordes-tinos. Nos bastidores da multidãoque se amontoa em busca do pre-ço mais barato, os donos e funcio-nários das lojas se destacam pelahistória de luta por dias melhores.

O presidente de honra daUnião dos Lojistas da 25 deMarço e Adjacências (Univin-co), Rezkalla Tuma, afirma quea mudança de maior impactonos últimos 10 anos foi no mo-delo de estabelecimento. A cria-ção de minishoppings ou boxesde venda resultou em um novoperfil de comerciário. “Atual-mente, a colônia árabe represen-ta 60% do comércio da área.Mas esse número tem reduzidonos últimos tempos, com a cres-cente presença oriental no bair-ro”, afirma Tuma. De acordocom a Univinco, em média, 300mil pessoas circulam diariamen-te pela 25 de Março. O númeropode atingir 1 milhão às véspe-ras de datas comemorativas. Nolocal, existem 3 mil estabeleci-mentos comerciais – 60% con-centram-se nos shoppings e ga-lerias e 40% se referem às lojasde rua e edifícios.

Símbolo do comércio da re-gião, Niazi Chohfi é dono deuma loja têxtil que leva seu no-me. Seus pais chegaram no Por-to de Santos em 1900, vindos dacidade de Homs, na Síria. Segun-do o comerciante, os sírios ti-nham dificuldade em aprender alíngua portuguesa. “Tinha genteque ensinava errado aos imigran-tes. Um, por exemplo, ia para asfazendas e gritava: ‘meia para opescoço, colarinho para ospés’”, conta. Aos 92 anos, Cho-hfi não acha que a invasão orien-tal e a constante presença de am-bulantes no comércio da 25 deMarço esteja prejudicando suacompanhia. “Quem trabalha,

tem. O Sol nasce para todos.”Ao contrário da 25 de Mar-

ço, o Bairro da Liberdade so-freu uma mudança em sua es-trutura. A predominância nãoé mais de japoneses. Há tam-bém chineses e coreanos – pro-prietários de armarinhos, res-taurantes e lojas de importadosespalhados pelo bairro.

O historiador e professor daUniversidade Estadual Paulista(Unesp), Odair Paiva, lembraque esses imigrantes vêm paraSão Paulo há bastante tempo.“O que ocorreu nas últimas dé-cadas foi apenas a intensifica-ção desse fluxo.”

Há 15 anos o taiwanês BetoChen está no Brasil. Aos 39anos, tem uma loja de importa-dos no Sogo Plaza Shopping, naLiberdade. Em Taiwan, ele játrabalhava no comércio. Antesde se tornar lojista foi vendedorem outros lugares. A escolhapor São Paulo foi óbvia. “Emuma cidade grande a gente temmais chances”, explica. O Sogoé um retrato do bairro oriental –das 90 lojas, cerca de 20% sãopropriedade de imigrantes.

ParaRicardoPathá, outra carac-terísticadesses imigrantes éperpe-tuar as origens. “Os comerciantesempregam pessoas de mesma na-cionalidade.” Quando questiona-das sobre o fato de algumas lojassó empregarem descendentescom fluência em japonês, a lojistaMidori Hommoto responde quepessoas idosas da colônia, em suamaioria, não falam português e sóvão às lojas em que confiam.

LUXOPara atender o público demaior poder aquisitivo, a fran-cesa Claudine Nectoux foicontratada pela Louis Vuittonem 1989. "Ter a mesma nacio-nalidade da marca conferiu le-gitimidade à loja.” Hoje, ge-rente da joalheria Cartier,Claudine conta que resolveuficar no País depois da abertu-ra do mercado aos produtos es-trangeiros durante o governoCollor. Com mais grifes inter-nacionais, as possibilidadesem São Paulo aumentaram pa-ra os imigrantes.

O mercado de luxo da cida-de virou referência pois estáem expansão, e São Paulo éum grande pólo consumidor.Tanto investidores internacio-nais quanto donos de fran-quias são atraídos pelo públi-co bem informado, que valo-riza a sofisticação. “Além dis-so, o Brasil está na moda”, co-menta Michelle Nasser, só-cia das lojas Empório Gior-gio Armani, D&G e Ermene-gildo Zegna. Filha de umegípcio e uma marroquina,Michelle nasceu na Suíça e,há 25 anos, vive no País.

Depois de sair do centro,nos anos 80, esse comérciose estabeleceu em shoppin-gs e regiões como a da RuaOscar Freire. “Por motivode segurança e conforto,não deve voltar tão cedo pa-ra o centro”, avalia o diretor-superintendente da ACSP,Roberto Ordini.●

URBANISMO

A mudança na atividade econô-mica paulistana tem impactoconsiderável no ordenamentourbano. O endereço dos mi-grantes e imigrantes, das ve-lhas e novas levas, influen-ciam a especulação imobiliá-ria, seja no setor comercial ouresidencial. Os eixos escolhi-dos para a instalação dos pré-dios inteligentes, que abrigamas empresas de tecnologia e te-lecomunicações, transformam-se em vizinhança disputada pa-ra os condomínios de alto pa-drão. A nova indústria é limpae não mais desvaloriza os arre-dores. A velha deixa a cidadee, nos lugares dos seus gal-pões, surgem novos empreen-dimentos.

Locais como o centro comer-cial de Santo Amaro, o Brás eo Bom Retiro são onde migran-tes e imigrantes têm grande in-fluência na composição urba-na. O professor da Faculdadede Arquitetura e Urbanismoda Universidade de São Paulo(FAU-USP) Eduardo AlbertoCuce Nobre destaca que, em al-guns locais, o desenvolvimen-to urbano está intimamente li-gado aos grupos étnicos.

O bairro do Brás, por exem-plo, teve como primeiro grupodominante os italianos, quevieram trabalhar na indústriade transformação. Hoje, a re-gião é ocupada por coreanos enordestinos, envolvidos com aindústria têxtil. No Bom Reti-ro, os antigos judeus, que até adécada de 70 dominavam o co-mércio, foram substituídostambém por coreanos e suasempresas têxteis.

O diretor da Empresa Brasi-leira de Estudos de Patrimônio(Embraesp), Luiz Paulo Pom-péia, diz que esse é um dospoucos bairros em que as rela-ções entre as mudanças na po-pulação e na atividade comer-cial se firmaram em um proces-so completo. Outras regiões dacidade, como a Mooca, queperdeu suas indústrias nos últi-mos anos, têm ainda a maiorparte dos galpões vagos. Omercado imobiliário ainda nãodefiniu a tendência de ocupa-ção do bairro.

O professor Nobre cita tam-bém o caso do bairro da Pom-péia, na zona oeste, onde, nolugar das antigas vilas operá-rias, foram erguidos grandesedifícios, “cercados por altosmuros”. Para ele, isso evita oconvívio social. “É uma carac-terística anti-urbana”.

Em Santo Amaro, destinopreferencial das primeiras le-vas de nordestinos vindos aSão Paulo, a região do Largo13 foi tomada pelo comércio“especializado” para atender aesse público. “A maioria dospaulistanos nem sabe o que sevende lá”, aposta Pompéia.

FRONTEIRASA partir da década de 80, outramodificação ocorrida na cida-de foi a expansão rumo às fron-teiras. Segundo Nobre, o de-senvolvimento foi alcançandobairros como Tatuapé e Penha,tornando-os alvo da especula-ção imobiliária. Isso empurrouas famílias mais pobres, masnão necessariamente migran-tes, para regiões extremas dacapital. Com crescimento de-sordenado, sem infra-estrutu-ra, locais como Guaianases eGuarapiranga tornaram-segrandes bairros dormitórios.

“A vinda de migrantes geradois processos: ao chegar, embusca de emprego, vão morarnas pensões da região central.Quando o dinheiro acaba, vãopara o lugar mais barato, ondenão há infra-estrutura, que é aperiferia”, explica Pompéia.

Com a perda do perfil indus-trial da cidade de São Paulo, al-gumas famílias foram prejudi-cadas. A aposentada FranciscaMarques Dias, de 62 anos, mo-radora do Jardim Donária, noJaraguá, vive desde os oito emSão Paulo. Vinda de São Joãodo Piauí (PI), trabalhou no co-mércio e o marido na indús-tria. Durante esse período, a fa-mília morou no ABC. Quandoas fábricas em que o maridoatuou foram para outros muni-cípios, a família, sem a mesmarenda de antes, foi obrigada amudar para o Jardim Donária,onde está há três anos.●

COMÉRCIO EM NÚMEROS

Popularoude luxo, comércioofereceoportunidadesMigrantes e imigrantesocupamquaseumterçodasvagasdosetor

R$185 biValor movimentado pelocomércio em 2003

430 milPessoas estão empregadas nosetor do comércio na capital.Desse total, 30% são compostasde migrantes e imigrantes

300 milPessoas circulam diariamentepela Rua 25 de Março, regiãocentral da cidade

Entre os imigrantes,chineses e coreanosdominam a cena docomércio paulistano

FRASES

GRIFE – Raquel saiu de Santa Catarina para estudar e hoje é vendedora em uma loja de luxo nos Jardins

NIELS ANDREAS/AE

Migração eeconomiaainda alterama paisagem

DANIELLA SASAKI/AE

%HermesFileInfo:H-4:20041210:H4 ESPECIALSEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004 ● O ESTADO DE S.PAULO

Page 5: Caderno Especial - Migração - 10.12.2004

ExcelênciaconquistauniversitárioestrangeiroConvêniosinternacionaisequalidadereconhecidaatraemalunosparaaUSP

Escola bilíngüetraduz a nova cidadeImigrantes e até brasileiros matriculamseus filhos nos colégios internacionais

❝A turma mangava dojeito que ela fala❜❜MARIA LUZINETE SILVA

MÃE DA ESTUDANTE JAMIRE

❝Um funcionário disseque não havia lugar nempara brasileiros, muitomenos para bolivianos❜❜MARIA

COSTUREIRA BOLIVIANA

❝Todos têm a mesmacapacidade❜❜CELSO TUTIYA1º LUGAR NO VESTIBULARDE MEDICINA DA USP

Discriminação cria barreirasna convivência entre estudantesVítimas de preconceito, alunos têm dificuldades para entrar e permanecer na escola

A concorrência por uma vaga emuniversidades e escolas públicasde São Paulo é muito maior doque nos municípios de origem.Da falta de estrutura das redes pú-blicas para atender os “estrangei-ros” ao mito de que os primeiroslugares nos vestibulares são sem-pre dos descendentes de orien-tais, o preconceito é um dos prin-cipais adversários de quem esco-lhe a cidade para aprender.

Características físicas ou cultu-rais e até o sotaque podem fazerdos candidatos a alunos vítimasdo preconceito. “As peculiarida-des causam estranhamento”, ex-plica a professora da Faculdadede Educação da USP Nilce da Sil-va. Segundo ela, a língua servecomo mecanismo de status sociale um sotaque diferente pode pro-vocar rejeição.

Nas redes municipal e estadual,oficialmente, a vaga está garanti-da para todos, mas nem sempre amatrícula é certa. A boliviana Ma-ria (nome fictício) tem dois filhos,de 9 e 11 anos, nascidos no Brasil.Mesmo assim, quase teve a vagapara o mais novo negada em umaescolamunicipal noPari, zonanor-te. “Um funcionário disse que nãohavia lugar nem para brasileiros,muito menos para bolivianos.”

Com a baiana Michelle Silva,de 14 anos, o problema foi maisgrave. Quando chegou a São Pau-lo, estava prestes a cursar a 3ª sé-rie, mas voltou à 1ª. “O pai delanão conseguiu mandar os docu-mentos”, explica a mãe, Rosáliados Santos. “Um ano depois, pu-

lei da 2ª para a 4ª série, mas conti-nuo atrasada”, lamenta Michelle,hoje concluindo a 5ª.

Segundo a diretora da Secreta-ria Municipal de Educação Marí-via Torelli, a lei estabelece que oaluno migrante ou imigrante devepassar por avaliação. As Secreta-rias Estadual e Municipal não têmprogramas de acolhimento paraquem vem de outras localidades.“Trabalhamosadiversidade cultu-ral na escola”, justifica Sônia Ma-ria Silva, da Secretaria Estadual.Emcontrapartida, a sociedadepro-cura soluções. A ONG PresençaAmérica Latina promove aulas deespanhol a professores da redemunicipal, no Pari, zona norte.

Para a professora Nilce da Sil-va, da USP, a inclusão propostapelas secretarias pode configurarexclusão. “Nas escolas públicashá sul-americanos e nordestinosque não têm acompanhamentoespecializado”, reclama. As go-zações fizeram a cearense Jami-re dos Santos Silva, de 15 anos,abandonar a escola depois de bri-gar com colegas. “A turma man-gava do jeito que ela fala”, recor-da a mãe, Maria Luzinete Silva.

VESTIBULAROs estereótipos também se repe-tem com os descendentes deorientais, que já foram alvo debrincadeiras de mau gosto. O pro-

fessor de Biologia Ernesto Bir-ner, do Anglo, lembra que con-correntes usavam camisetascom a inscrição “Mate um ja-ponês e garanta sua vaga.”

Primeiro lugar em Medici-na na USP, Celso Tutiya, de19 anos, não acredita em dife-rença entre etnias. “Todos têma mesma capacidade.” Para acoordenadora da Fuvest, Ma-ria Theresa Rocco, a crença deque os primeiros lugares sãosempre dos orientais é mito.“Apenas 14% dos vestibulan-dos são descendentes de orien-tais. A carga genética nadatem a ver com a inteligência.É visão preconceituosa.”●

EDUCAÇÃO

O paraguaio Rubén Darío Bar-rientos pensou e decidiu pela Uni-versidade de São Paulo (USP)quando seus pais lhe disseram pa-ra escolher qualquer país para es-tudar. A cabo-verdiana Ruth Ne-ves dos Santos tinha Portugal eCuba como opções para cursarMedicina e também preferiu amaioruniversidadepública paulis-ta. São dois dos 221 estudantes es-trangeiros que hoje freqüentamum dos 189 cursos da USP.

O número é pequeno diantedos 42.970 brasileiros matricula-

dos na instituição, mas pesa. “Apresençade estrangeiros leva à in-ternacionalização da universida-de por meiodo intercâmbio cultu-ral entre os alunos”, afirmaa coor-denadora de Programas Interna-cionais da USP, Hilza Godoy.

Cadacaso trazumapeculiarida-de. Ruth é uma privilegiada emseu país. Cabo Verde não tem fa-culdades públicas e acordos inter-nacionais garantem vagas para osmelhores alunos doensino médio.“A vaga na USP é uma das maisdisputadas”, afirma. O acordocomCaboVerde integraoProgra-ma Estudantes Convênio (PEC),que recebe alunos principalmenteda África e da América Latina.

A meta de Ruth vai além do di-ploma de médica. São pessoas co-moelaquevãodesenvolver a inte-lectualidade de seu país. A profes-soradaFaculdade deEducaçãodaUSP Nilce da Silva explica que

países como Cabo Verde estãocom a estrutura educacional emconstrução. “Eles vêm a São Pau-loembuscade formaçãoacadêmi-ca nos níveis de graduação ou depós-graduação.” Ruth sabe queseu esforço na faculdade é funda-mental para o crescimento de Ca-boVerde.Por isso,nãopretende fi-car, apesar de bem acolhida.

A facilidade de adaptação in-fluenciou a escolha do paraguaioBarrientos. Em 2000, ele veio aSão Paulo para estudar Publicida-de e Propaganda. Optou pelo Bra-sil por achar que o ensino na Ar-gentina seria semelhante ao deseu país e por temer um choquecultural maior na Europa ou nosEstados Unidos. Quando se for-mar, no final do ano, voltará aoParaguai. “O mercado paraguaiorecebe bem o profissional gradua-do no Brasil. Sair do país valorizao currículo”, acredita Barrientos.

Nem sempre os estudantesvêm ao Brasil para suprir carên-cias do ensino em seus países. OfrancêsArnaudGuérin, por exem-plo, estuda na Escola Politécnicada USP. O diploma será forneci-dopela universidade paulista e pe-la École Centrale de Lyon, naFrança, onde começou a estudarEngenharia de Produção.

A união curricular faz parte doPrograma de Mobilidade de Gra-duação da USP. Alunos da Poli-técnica terminam os estudos naFrança ou vice-versa. SegundoHilza Godoy, o objetivo é elevaro currículo dos estudantes. Ou-tros nove franceses estudam nes-sas condições.

O consulado francês tenta am-pliar o programa para outras uni-versidades em São Paulo. Recen-temente, aFundação Getúlio Var-gas (FGV-Eaesp) acertou a dupladiplomação com instituições fran-cesas. Sebastian Roy, adido doconsulado, diz que a divulgação

do idioma francês e o estreitamen-to de relações entre os países sãorazõespara o acordo. “Mas aprin-cipal é o fortalecimento do currí-culo do estudante francês, que te-rá um diploma globalizado, insti-tuído por excelentes faculdades”,destaca.

BRASILEIROSAlém dos alunos estrangeiros, aUSP também atrai gente de váriasregiões do País. São 2.706 estu-dantes de outros estados, sendo1.027 de Minas Gerais. Entre elesestá Liliane Callegari, de 22 anos,nascida em Uberaba, estudantede Arquitetura e Urbanismo. “Ti-nha o curso na minha cidade, masera particular, caro e não reconhe-cido pelo MEC”, afirma. Esco-lheu a USP pela formação maisabrangente eo alto reconhecimen-to no mercado. “Gosto de saberque meu curso tem um papel nahistória da arquitetura no Brasil.”

Liliane sofreu para adaptar-se àvida paulistana. Veio sem conhe-cer a cidade e, para não ficar só,acabou se aproximando dos cole-gasda faculdadeque tambémche-garamdeoutrosEstados. “Até ho-je não ando muito com o pessoalde São Paulo.” Apesar de sentirfalta da família, Liliane pretendecontinuar na cidade depois de seformar, mesmo insatisfeita. “Euqueria paz, ter as coisas por perto,não levar duas horas para chegaraos lugares. E queijo bom!”●

NÚMEROS DA USP

Em fundo vermelho, cor da sortepara os chineses, os ideogramasprateados desejavam Feliz Ano-Novo. Trabalho caprichado deBruno, de nove anos, aluno demandarim do Colégio Sidarta, lo-calizado em Cotia, a 20 quilôme-tros de São Paulo. “Igualzinho!”,elogiou o professor taiwanês WuKuang Yih ao comparar o traba-lho do garoto ao seu.

A escola segue padrão interna-cional, com período integral e en-sino bilíngüe - português e inglês.É uma das instituições que aten-dem filhos de imigrantes e da po-pulação local. “Dominar o inglêsé preocupação dos pais brasilei-ros e as escolas suprem essa de-manda”, analisa Eliane Nogueira,daOrganização das Escolas Bilín-gües do Estado de São Paulo.

Alguns colégios vão além. NoSidarta, as disciplinas de cultura elíngua chinesas atraem brasileiroscomo Bruno. “Não é muito difí-cil, tem de estudar os ideogra-mas”, conta. Dos 414 alunos, ape-nas 12% são estrangeiros.

A partir da 5ª série, os alunosoptam entre o mandarim e o espa-nhol. A portuguesa Inês Vilares,de 14 anos, continuou estudandoo idioma asiático. “É complicado.Cada ideograma tem quatro signi-ficados.” Inês chegou ao Brasil hádois anos e meio.

Mudar para um país desconhe-cido deixou de ser novidade parao argentino Ignacio, de 12 anos.Seu pai já trabalhou na Venezuelae nos Estados Unidos. Aluno daGraded School, no Morumbi, Ig-nacio vê poucas diferenças entreas escolas pelas quais passou. “Ocurrículo é muito parecido.”

Além dos colégios tradicio-nais, as pré-escolas bilíngües sãoum novo segmento da educação.A advogada Leila Palmieri abriu

uma unidade há dez anos noBrooklin, zona sul. Dos 140 alu-nos, 30%são estrangeiros, amaio-ria de expatriados. “Geralmente,são filhos de executivos.” A chile-na Gretel Tardío chegou à pré-es-colade seu filho indicada por ami-gos. Lucas, de dois anos, é educa-do em inglês e português. “Emqualquer país que a gente vá, ha-verá escola em inglês.”

PROFESSORESDominar o segundo idiomaéobri-gaçãoe as escolas de línguas proli-feram. Elas são atrativo para es-trangeiros dispostos a lecionar pe-la remuneração que assegura via-gens pelo País, como Maricar-men Álvarez. Formada em Letrasna Espanha, veio para dar aulasparticulares e, com o dinheiro, co-nhecer o Nordeste.

Às vezes, uma estada curtatransforma-se em uma vida. Emi-lio Fernández chegou, vindo daEspanha, há 51 anos.Fugia do re-gime franquista.Apesar de não fa-lar português, conseguiu empre-go em uma semana. “Aqui haviachances e eu só queria sair daque-la situação horrível ”, lembra. De-pois de vários trabalhos, deu au-las e foi diretor do Instituto de Ar-te e Decoração, fechado no regi-me militar. Atuou em publicidadee,mais tarde, voltou a ensinar.En-cantado pela cidade de São Paulo,Fernández, aos 76 anos, ainda le-ciona espanhol.

Um outro amor trouxe a holan-desa Carmen Sokker ao País.Apaixonada por um brasileiro,formou família em São Paulo. Di-vorciou-se e continuou na capital,onde se casou de novo e, hoje, en-sina holandês. “Embora a cidadeseja suja, cinzenta e desorganiza-da, admito que é o lugar do Brasilonde tudo acontece.”●

LONGE DE CASA – A cabo-verdiana Ruth dos Santos e o paraguaio Rubén Barrientos pretendem voltar para a terra natal depois de formados

43.191Alunos estão matriculadosnos 189 cursos de graduaçãoda universidade

221Estudantes vêm deoutros países

54,29%São naturais de países africa-nos ou da América Latina

2.706Alunos vindos de outrosestados do Brasil

37,95%Desse total são mineiros

R$ 520É o valor que Ruth recebe pormês do governo de CaboVerde para estudar na USP

MÍMICA – Wu Kuang Yih recorre a gestos para ensinar mandarim

INTERAÇÃO – Professoras de escola no Pari tiveram aulas de espanhol

FRASES

Instituição recebeprincipalmente alunosde países da Áfricae da América Latina

JOSÉ CORDEIRO/AE

NIELS ANDREAS/AE

NIELS ANDREAS/AE

%HermesFileInfo:H-5:20041210: ESPECIAL H5O ESTADO DE S.PAULO ● SEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004

Page 6: Caderno Especial - Migração - 10.12.2004

Curso Intensivo de JornalismoAplicadoAv. Eng. Caetano Álvares, 5502598-900 - São Paulo - SPFone: 11-3856.2187Fax: [email protected]://www.estadao.com.br/talentos

Coordenação:Francisco Ornellas eLuiz Carlos RamosEdição: Márcia GuerreiroDiagramação: Suely AndreazziReportagem:alunos do 15º CursoIntensivo de Jornalismo Aplicado

Tu, tchê, továrich:a arte é poliglotaOs ‘továrichi’ – camaradas, em russo – semisturama santistas e gaúchos nos palcos

GASTRONOMIA

Do berço miscigenado paulistanoestá nascendo uma nova geraçãogastronômica.AgaúchaCarlaPer-nambuco, a argentina Paola Caro-sella e dois paulistanos, Alex Ata-la eCássio Machado, sãoo produ-to e o futuro da gastronomia local.Osmigrantes e estrangeiros, prota-gonistasde sempre, estãohoje jun-tos de paulistanos na chamada co-zinha contemporânea.O resultadodamisturanão podia ser outra coi-sa se não a mistura.

“Isso é saldo do convívio de di-versas culinárias na cidade de SãoPaulo”, teoriza a especialista Cris-tina Putz, autora do livro HistóriadaGastronomiaPaulistana. É de-la o conceito “cozinha contempo-rânea paulistana” – a mistura dasculinárias de São Paulo, do Brasile do mundo.

Pioneiro entre os gourmets es-trangeiros, o francês LaurentSuaudeaucomemora a nova gera-ção. “O Brasil está evoluindo pa-ra não importar mais tantos che-fs”, sentencia. Há 24 anos no Bra-sil, prevê que, em 5 anos, um bra-sileiro será o melhor do País, dife-rente do ocorrido até hoje. “Ouuma brasileira”, arrisca.

A referência é clara. A gaúchaCarla Pernambuco, 45 anos, dorestaurante Carlota, é o ícone dageração. Morou em Porto Alegre,Brasília, Rio de Janeiro, NovaYork e São Paulo, e é capaz demisturar temperos e tradições dacozinha brasileira com elementosde outras culturas. “Como SãoPaulo, Nova York reúne culiná-rias de todos os lugares”, conta.

Os chefs estrangeiros chega-ram na cidade nos anos 80, e aqui

encontraram um povo acostuma-do às influências culturais que re-montamàorigemcolonial do Bra-sil. “Começou a aparecer a voca-ção de São Paulo para abrigargrande variedade de cozinhas”,explica Cristina Putz.

Tanto que em 1997 a cidadefoi reconhecida como CapitalMundial da Gastronomia. “Chefsdo mundo inteiro procuram NovaYork e São Paulo atrás de status edinheiro”, avalia Cristina.

Antes de escolher o Brasil, agourmet argentina Paola Caro-sella, do restaurante Julia Cocina,estava justamente em Nova York.Com 32 anos, depois de trabalharnosprincipais centrosgastronômi-cos do mundo, se fixou em São

Paulo. “A cidade reúne o que háde melhor na minha área”, revelaa chef, eleita revelação do ano pe-lo Prêmio Gula 2004, o mais im-portante do País.

Mas oque parece tendência ab-soluta é exceção. Os principaischefs em exercício na cidade sãoestrangeiros. Nas cozinhas, amaioria ainda é nordestina.

A pequena cidade de Pedro Se-gundo, no Piauí, com 35 mil habi-tantes, “exportou” 20 funcioná-rios para o restaurante Supra. Atradição migratória se mantém: opai traz o filho, que traz a irmã,que traz amigos. “Começou as-sim e hoje todos temos trabalho”,se orgulha a atendente Ivone Felí-cio, 32 anos - 8 em São Paulo.●

❝Além de São Paulo,apenas Nova York atraitantos chefes em buscade status e dinheiro❜❜CRISTINA PUTZESPECIALISTA EM GASTRONOMIA

❝O principal chef doPaís, daqui a mais oumenos cinco anos, vaiser um brasileiro. Ouuma brasileira❜❜LAURENT SUAUDEAU

CHEF FRANCÊS

Nova geração de chefs, antigasafra de garçons e cozinheirosChefsnacionais ganhamespaçoe nordestinos ainda sãomaioria nas cozinhas e salões

CULTURA

Participar de uma seleção rigoro-sa, mudar de país e viajar milha-res de quilômetros para ganhar,em média, R$ 6,6 mil por mês.Dos 109 músicos da OrquestraSinfônica do Estado de São Pau-lo (Osesp), 35 fizeram esta esco-lha. Vindos do leste europeu –Rússia, Bulgária e Romênia, prin-cipalmente – a maioria é especia-lista em instrumentos de cordas.De acordo com o professor demúsica da ECA-USP, RonaldoMiranda, a Europa Oriental é umpólo de “exportação” por ser re-conhecida pelo bom ensino deviolinos, violas e violoncelos.

“Vale mais a pena tocar aquido que em uma orquestra de umacidade menor dos Estados Uni-dos ou da Europa”, diz Miranda.“Mas questões pessoais tambéminfluenciam – sejam indicaçõesde amigos ou vontade de conhe-cer outros lugares”, completa.

A violista russa Olga Vasilevi-ch,28anos, passouemumconcur-so para uma orquestra alemã háquatro anos, mas ao saber por umamigo russo da chance de tocar naOsesp, mudou de idéia. “Queriaconhecer outros lugares. Arris-quei, fiz o teste e passei”, lembra.Foi seu primeiro trabalho profis-sional. “Nocomeço,meus amigosrussos viajaram e fiquei sozinha.Não falava português nem paracomprar um pãozinho”, brinca.

Após quase quatro anos emSão Paulo, aprendeu português,fez amigos e arranjou um namo-rado brasileiro. “A diferençadaqui é o calor humano, o con-tato entre as pessoas. Na Euro-pa cada um fica no seu canto.”

TEATROPara o santista Éderson Marques,saxofonista do musical Chicago,a cidade é sinônimo de trabalho.O espetáculo, avaliado em R$ 10milhões, atraiu 100 mil pessoasde outras cidades em 9 meses detemporada. “Estou aqui por cau-sa do Chicago. Mas assim queterminar, vou embora. Não meadaptei.”

No último dia 27, 31.483 es-pectadores assistiam às 105 pe-ças apresentadas na noite paulis-tana. Nelas trabalham, formal-mente, menos de 2 mil profissio-nais, estima a Associação de Pro-dutores de Espetáculos de SãoPaulo (Apetesp).

O número exclui as produ-ções amadoras, diz o ex-coorde-nador do teatro amador da Se-cretaria do Estado, Efren Co-lombani. “É impossível quanti-ficar os espetáculos da cidade.Espaços abrem e fecham a ca-da semana, atraindo os profis-sionais. Desses, 40% são de fo-ra de São Paulo”, estima.

Segundo o Ministério do Tra-balho, 22.436 artistas estão re-gulamentados no Estado e me-nos de 10% está formalmenteempregado. Ainda assim, a ci-dade é a principal alternativapara quem quer trabalhar comarte.

O espetáculo Terça Insana éum exemplo da diversidade dacena teatral da cidade. No elen-co, há dois paulistanos, umbaiano e três gaúchos, entreeles Gracie Gianoukas, em SãoPaulo desde 1984. Para a atriz,o profissional qualificado podenão acompanhar o ritmo daqui.“São Paulo é uma entidade. Ouela te abraça ou ela te chuta.”●

TURISMO DE NEGÓCIOS

Em meio ao burburinho nos gran-des hotéis e nos eventos de negó-cios, um ouvido atento percebe amistura de sotaques e idiomas.Não só dos turistas, mas tambémde migrantes e imigrantes queatuam nosetor. É a babel paulista-na no turismo de negócios, quemovimenta R$ 8 bilhões anuais,segundo o São Paulo Convention& Visitors Bureau (SPCVB).

Levantamento feito em algunsdos grandes hotéis da cidade mos-traque cerca demetadedosprofis-sionais é migrante – a maioria emcargos menos qualificados – e ospoucos estrangeiros, em geral,ocupam postos de chefia e vivemhá bastante tempo no Brasil. Osimigrantes recentes são profissio-nais de redes internacionais que,como nômades, circulam por ho-téis em vários países.

No Intercontinental São Pau-lo, 64% dos 180 funcionáriossão migrantes (camareiras, cozi-nheiros e garçons) e 4 são estran-geiros. No Crowne Plaza, são160 – 2 estrangeiros e 40% mi-grantes, concentrados na cozi-nha e governança. O Transaméri-ca tem 317 empregados – 158 mi-grantes e 2 estrangeiros.

Especialistas concordam que

hojehámão-de-obranacional qua-lificada, o que não ocorria nosanos 70, quando as redes hotelei-ras chegaram. Para a consultoraManuela Garni, da Hotel Invest-ment Advisors (HIA), os hotéispreferem trabalhadores locais, ex-ceto os recém-inaugurados.

É o caso do Gran Hyatt SãoPaulo, inaugurado em 2002. Cin-co dos nove diretores são estran-geiros, como o francês FrédéricBoulin, que já rodou o mundo.

“O Hyatt preferiu trazer quem jáconhecia a cultura da empresa”,explica o diretor de RH, o espa-nhol Miguel Bermejo. Os chefsespecializados também foram im-portados: Pascal Valero (França)e Yasuo Isai (Japão). Já o chef dacozinha italiana é o baiano Vin-cent Pellegrini. Ao todo, são cer-ca de 400 funcionários. “Eu pode-ria falar que 50% é da cidade e50% é de fora”, palpita Bermejo.

Executivos são os principaishóspedes dos grandes hotéis. OSPCVB estima que, por ano,

4,5 milhões de pessoas visitamos 90 mil eventos da cidade, en-tre eles, as feiras de negócios.

Em São Paulo, das 21 empre-sas organizadoras de feiras asso-ciadas à União Brasileira das Em-presas Promotoras de Feiras(Ubrafe), 6 são comandadas pormigrantes e 6 por imigrantes.

De Portugal, Holanda, Itália eAlemanha, mudaram-se para a ci-dade com a missão de ganhar di-nheiro para suas matrizes, mascriaramraízes numa das metrópo-les mais cosmopolitas do mundo.

O holandês Joris Wan Wijk, de39 anos, casado com umabrasilei-ra, não quer voltar para a Holan-da. “Vim há dez anos a trabalho eme apaixonei pelas pessoas.”

Os outros seis dirigentes vie-ram do Rio de Janeiro, Bahia, Pa-rá, Minas Gerais e do interior deSão Paulo. Segundo o presidentedo SPCVB, Roberto Gheler, a ci-dade recebe todo o Brasil, mas al-gumas regiões predominam, co-mo Minas e estados do Sul. “Dointerior do Estado, chegam mui-tos estudantes também”, observa.

Gheler afirma, no entanto, queestrangeiros e brasileiros conti-nuarão a dividir espaço nessaárea. “Desde que o Brasil abriusua economia, a tendência é a in-ternacionalização dos negócios eo intercâmbio de profissionais.”●

EXPEDIENTE

Emhotéisefeiras,nemsóvisitantesvêmdeforaProfissionaisdetodooPaístrabalhamcomestrangeirosdePortugal,Espanha,Itália,Alemanha,FrançaeJapão

FRASES

CONTERRÂNEOS – No restaurante Supra, a maioria dos funcionários vem de Pedro Segundo, no Piauí

NIELS ANDREAS/AE

Migrantes comandammetade das empresasque organizam feirasde negócios na cidade

GLOBAL – Espanhol Miguel Bermejo trouxe francês, japonês e baiano para comandar cozinhas do Hyatt

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NIELS ANDREAS/AE

%HermesFileInfo:H-6:20041210:H6 ESPECIALSEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004 ● O ESTADO DE S.PAULO