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  • MODELO MATEMTICO PARA RESOLUO DA EQUAO

    DE QUANTIDADE DE MOVIMENTO DA CAMADA LIMITE

    TURBULENTA COM TRANSPIRAO

    Caroline Satye Martins Nakama

    Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho apresenta o modelo matemtico desenvolvido por pesquisadores da

    Universidade de Stanford para obteno do perfil da camada limite turbulenta com

    transpirao a partir de dados experimentais. Para definir as condies de contorno dos

    experimentos conduzidos que resultassem em um modelo generalizado, o conceito de

    camadas limites de equilbrio foi utilizado. O modelo de Stanford foca na regio mais interna

    da camada limite e prope uma expresso para a funo de amortecimento para o

    comprimento de mistura do modelo de Van Driest dependente do gradiente de presso do

    escoamento e da velocidade de transpirao na superfcie.

    Palavras-chave: Camada limite turbulenta, transpirao, modelagem matemtica,

    quantidade de movimento.

    ABSTRACT

    This paper presents a mathematical model developed by researchers at Stanford University to

    obtain a profile of transpired turbulent boundary layer from experimental data. In order to

    define the boundary conditions of the conducted experiments that would result in a

    generalized model, the concept of equilibrium boundary layers was used. The Stanford model

    focuses on the innermost region of the boundary layer and proposes an expression for the

    damping function for the van Driest model mixing length dependent on the pressure gradient

    and the velocity of the transpired fluid on the surface.

    Keywords: Turbulent boundary layer, transpiration, mathematical model, momentum.

    1 INTRODUO

    A camada limite turbulenta com

    transpirao, ou seja, injeo ou suco de

    fluido atravs de uma superfcie porosa,

    uma variao do problema geral da camada

    limite turbulenta de interesse na

    engenharia. Uma aplicao clssica a

    injeo de um fluido refrigerante para

    proteo de superfcies em escoamentos de

    fluidos quentes. A suco pode ser

    utilizada para evitar ou induzir o

    descolamento da camada limite em

    problemas aerodinmicos.

    Com o avano da computao digital

    a partir da metade do sculo XX e as

    tcnicas de diferenas finitas, passou a ser

    possvel a resoluo matemtica das

    equaes diferenciais parciais da camada

    limite. Entretanto, o emprego de condies

    de contorno adequadas e modelos que

    representam bem o fenmeno fsico so

    fundamentais para resultados realistas. Na

    dcada de 70, pesquisadores da

    Universidade de Stanford propuseram um

    modelo para o clculo da camada limite

    turbulenta com transpirao e gradiente de

  • presso desenvolvido a partir de dados

    obtidos experimentalmente.

    Segundo Kays and Moffat (1975),

    para definir os experimentos que pudessem

    gerar um modelo generalizado e fixar

    algumas condies de contorno, utilizou-se

    o conceito de uma famlia de camadas

    limites turbulentas semelhantes, chamada

    camadas limites de equilbrio. Todos os

    experimentos conduzidos foram realizados

    em um tnel de vento, sendo a superfcie

    inferior uma placa porosa com medidores

    para vazo de transpirao e a parte

    superior uma superfcie de controle para

    variar a velocidade do escoamento livre.

    Ar foi o fluido empregado tanto no

    escoamento principal quanto na injeo

    com pequenas variaes de temperatura

    para minimizar os efeitos da variao das

    propriedades na camada limite.

    2 DESENVOLVIMENTO

    2.1 Camadas limites de equilbrio

    De acordo com Kays and Moffat

    (1975), em camadas limites laminares,

    possvel obter perfis de velocidades

    similares fixando o valor de uma razo de

    condies de contorno apropriada. Dessa

    forma, possvel reduzir a equao

    diferencial parcial para uma equao

    ordinria e resolve-la para todo um grupo

    de escoamentos. Para camadas limites

    turbulentas, a possibilidade de

    classificao de um grupo de escoamentos

    tambm seria interessante. Entretanto, essa

    abordagem dificultada pela existncia de

    duas regies distintas na camada limite

    turbulenta: uma camada mais externa, que

    compreende quase toda a espessura da

    camada limite, e uma camada interna,

    independente da externa.

    Kays and Crawford (1980) afirmam

    que possvel observar um grupo

    semelhante na camada interna com as

    coordenadas y+ e u

    +, porm isso no faz

    com que escoamentos sejam semelhantes

    na camada externa. Os autores, ento,

    apresentam a proposta de Clauser feita em

    1954, chamando as camadas limites

    turbulentas satisfatoriamente semelhantes

    na regio mais externa da camada limite

    turbulenta de camadas limites de

    equilbrio. A camada limite de equilbrio

    a aquela que o perfil de velocidade traado

    em coordenadas de velocity defect

    universal, seguindo

    (

    )

    onde, independente de x,

    ( )

    Na proposta de Clauser, h tambm

    um fator de forma, G, que deve ser

    constante, independente de x.

    (

    )

    Para casos com gradiente de presso

    e transpirao, necessrio analisar

    tambm os parmetros de transpirao, Bm,

    e de gradiente de presso, . O parmetro de transpirao a razo entre o fluxo de

    quantidade de movimento transpirado e a

    tenso de cisalhamento na parede, dado por

    O parmetro de presso a razo entre as

    foras de presso e a tenso de

    cisalhamento na parede

    (

    )

    Provou-se experimentalmente que, se

    Bm ou for mantido constante, G ser constante, o que tambm vlido para (Bm

    + ) constante. Para manter constante, preciso que a velocidade do escoamento

    livre varie de acordo com

  • e para Bm constante, a velocidade do fluido

    transpirado na parede deve seguir

    2.2 Modelo de Stanford

    Para a modelagem do problema

    estudado, apresentado por Kays and

    Moffat (1975) e ilustrado pela Figura 1,

    devem-se considerar propriedades do

    fluido constante e baixa velocidade de

    escoamento, assim as equaes de

    quantidade de movimento e de energia se

    tornam independentes, camada limite

    bidimensional, escoamento em estado

    estacionrio, superfcie aerodinamicamente

    lisa e velocidade de injeo ou suco

    uniforme para uma dada proporo da rea

    da placa relativamente grande quando

    comparada espessura da regio interna da

    camada limite.

    Figura 1. Representao grfica da camada limite

    turbulenta com transpirao. (Kays e Moffat, 1975)

    A equao de quantidade de

    movimento da camada limite pode ser

    expressa por

    (

    )

    Se o valor de for conhecido em todos os pontos, a equao acima pode ser

    resolvida para qualquer condio de

    contorno. Este termo pode ser definido

    atravs do conceito de difusividade

    turbilhonar de quantidade de movimento.

    Na parte mais interna da camada

    limite, a teoria de comprimento de mistura

    do Prandtl pode ser utilizada para

    determinar essa difusividade turbilhonar.

    |

    |

    A parte mais interna da camada

    limite pode ser dividida em duas partes:

    uma imediatamente adjacente parede,

    onde as foras viscosas so predominantes

    e M tende a zero, chamada de subcamada viscosa, e uma regio mais afastada, onde

    o transporte turbulento responsvel por

    quase toda transferncia de quantidade de

    movimento, mas as escala e intensidade de

    turbulncia ainda so dependentes da

    proximidade da parede. Nessa parte mais

    afastada, o comprimento de mistura

    proporcional distncia da parede.

    Onde k, determinado experimentalmente,

    0,41, inclusive para casos com transpirao

    e gradiente de presso. Para a modelagem

    da regio logo aps a parede, uma funo

    de amortecimento pose ser utilizada para

    representar toda a regio interna da camada

    limite turbulenta. Essa abordagem foi

    primeiro proposta por Van Driest em 1956

    e pode ser observada na Figura 2.

    (

    )

    Onde A+ a espessura efetiva da

    subcamada viscosa e y+ a distncia

    adimensional da superfcie, dada por

  • Figura 2. Perfil da camada limite turbulenta em

    coordenadas de parede adimensionais. (Kays e

    Crawford, 1980)

    Segundo Kays e Moffat (1975), a

    espessura efetiva da subcamada viscosa,

    apesar de representar uma pequena frao

    de toda camada limite, o parmetro mais

    importante no clculo da camada limite

    turbulenta, pois a regio onde ocorre a

    maior mudana de velocidade do fluido.

    Os pesquisadores da Universidade de

    Stanford determinaram experimentalmente

    uma expresso para A+ considerando

    transpirao e gradiente de presso. Neste

    caso, A+ depende do parmetro de

    gradiente de presso adimensional, p+, e do

    parmetro de transpirao adimensional,

    v0+, como pode ser observado na Figura 3.

    [ (

    )]

    Onde , e . Se , e . Se

    , .

    Figura 3. Variao de A+ em funo de p+ e v0

    +. (Kays

    e Moffat, 1975)

    Kays and Crawford (1980)

    apresentam uma possvel explicao

    terica para a expresso obtida, partindo da

    hiptese que a subcamada viscosa se ajusta

    para que um nmero de Reynolds de

    turbulncia seja sempre o mesmo em seu

    limite externo. Este nmero de Reynolds

    definido como

    Pela definio de y+ e considerando

    que logo depois do limite externo da

    subcamada l igual a ky e aproximadamente igual a t, tem-se

    Ret, ento, pode ser reescrito como

    A partir de dados experimentais,

    descobriu-se que quando y+ igual a 3A

    +,

    Ret 31, independente de v0+ e de p

    +.

    ( )(

    )

  • (

    )

    Testando a equao acima para

    diferentes valores de v0+ e p

    +, os autores

    encontraram valores para A+ prximos a

    valores fornecidos pelo modelo

    desenvolvido. Alm disso, considerando

    que a equao integrada de quantidade de

    movimento para uma regio da camada

    limite prxima parede pode ser

    representada por

    fica evidente, qualitativamente, a

    influncia da transpirao e do gradiente

    de presso na espessura efetiva da

    subcamada viscosa.

    O modelo apresentado foi

    desenvolvido para condies de equilbrio.

    Em casos onde h mudanas bruscas de v0+

    ou p+, a subcamada no modificada

    instantaneamente e, portanto, A+ no

    assumo imediatamente um novo valor de

    equilbrio. Nestes casos, possvel utilizar

    uma equao para calcular o A+ efetivo

    local em funo do A+ calculado para o

    equilbrio atravs do modelo de Stanford.

    Onde C uma constante emprica igual a

    4000 e x+ dado por

    De acordo com Kays e Moffat

    (1975), o modelo foi testado para predio

    de alguns exemplos de camada limite. Os

    resultados obtidos para o caso de um

    escoamento com pequena desacelerao e

    injeo de fluido, por exemplo,

    apresentaram excelente concordncia com

    os dados experimentais, como possvel

    observar na Figura 4.

    Figura 4. Comparao entre os valores medidos e

    calculados de fator de atrito para escoamento com

    leve desacelerao e injeo. (Kays e Moffat, 1975)

    3 CONSIDERAES FINAIS

    Partindo do conceito de camadas

    limites de equilbrio, possvel determinar

    as condies de contorno para os

    experimentos conduzidos e,

    consequentemente, os escoamentos para os

    quais o modelo vlido.

    O trabalho desenvolvido pelos

    pesquisadores da Universidade de Stanford

    foi uma importante contribuio para o

    estudo da camada limite turbulenta com

    transpirao na dcada de 70, tanto por

    todo o conjunto de dados experimentais

    levantados, como pelo modelo proposto.

    Atualmente, os estudos relacionados a este

    tema so mais voltados para aplicaes

    prticas, sendo tambm mais especficos.

    Alguns trabalhos avaliam a influncia da

    camada limite turbulenta no processo de

    transferncia de calor e massa, sendo o

    trabalho aqui apresentado uma referncia

    para estudo e anlise inicial.

    NOMENCLATURA

    A+ Comprimento caracterstico

    adimensional da funo de

    amortecimento

    Bm Parmetro de transpirao

    cf Coeficiente de atrito

  • D Funo de amortecimento para o

    modelo de comprimento de mistura

    G Fator de forma de Clauser

    k Constante do comprimento de

    mistura

    l Comprimento de mistura

    lt Escala de comprimento da

    turbulncia

    m Expoente que descreve a variao da

    velocidade do escoamento livre com

    desacelerao

    P Presso

    p+ Presso adimensional em

    coordenadas de parede

    Ret Nmero de Reynolds de turbulncia

    u Velocidade, em m/s

    u Flutuao de u, em m/s

    Mdia temporal da velocidade

    u+ Velocidade adimensional em

    coordenadas de parede

    U Velocidade do escoamento livre, em

    m/s

    U Velocidade de atrito, dada por

    v0 Velocidade do fluido transpirado na

    parede

    v0+ Velocidade adimensional do fluido

    transpirado na parede em

    coordenadas de parede

    v Flutuao de v

    Mdia temporal da velocidade

    x Distncia na direo do escoamento,

    em m

    y Distncia normal em relao

    parede, em m

    y+ Distncia da parede adimensional

    em coordenadas de parede

    Parmetro de gradiente de presso

    1 Espessura de deslocamento do escoamento principal, dada por

    (

    )

    3 Espessura de Clauser

    M Difusividade turbilhonar para quantidade de movimento

    Densidade, kg/m3

    Tenso de cisalhamento, em N/m2

    0 Tenso de cisalhamento na superfcie, em N/m

    2

    t Tenso de cisalhamento turbulenta

    Viscosidade cinemtica, em m2/s

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    KAYS, W.M. AND CRAWFORD, M.E.

    Convective Heat and Mass Transfer. McGraw-

    Hill, 1980.

    KAYS, W.M. AND MOFFAT, R.J. The

    Behavior of Transpired Turbulent Boundary

    Layers. Report No HMT-20. Stanford

    University, 1975.