CAMPOS, Os Fundamentos Da Constituição Subjetiva Segundo Laplanche

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    ÉRICO BRUNO VIANA CAMPOSUniversidade Estadual

    Paulista (UNESP)[email protected] 

    R Este artigo apresenta a concepção de subjetividade nateoria de Jean Laplanche a partir de sua problematização dateoria das pulsões na metapsicologia que levou à proposta dateoria da sedução generalizada. O objetivo é mostrar como nes-sa concepção a alteridade se apresenta de forma traumática naconstituição originária da subjetividade, endossando certas po-

    sições na literatura psicanalítica que defendem a violência sim-bólica como aspecto fundamental do sujeito do inconsciente.Palavras-chave  P; J L; A.S G.

    As article presents the concept of subjectivity in the the-ory of Jean Laplanche from his questioning of metapsychology´sdrive theory which led to the proposal of the theory of gener-alized seduction. The objective is to show how in this concep-tion otherness is presented in a traumatic way in the primaryconstitution of subjectivity, endorsing certain positions in the

    psychoanalytic literature that advocate symbolic violence as afundamental aspect of the subject of psychoanalysis.Kw Psychoanalysis; Jean Laplanche; Otherness; Gene-ralized seduction.

    Introdução

    Dentre os psicanalistas de língua francesa, certamenteJean Laplanche é o nome mais conhecido depois de Jac-ques Lacan. Tamanho sucesso se deve provavelmente àgrande penetração de sua obra mais conhecida, o Vocabulárioda Psicanálise, escrita em parceria com Jean-Bertrand Pontalis,no meio acadêmico da psicologia e da psicanálise no Brasil. Talvocabulário é bibliograa básica de qualquer curso de psicaná-lise e foi responsável pela consolidação de um sotaque francêsno jargão psicanalítico nacional. A importância de Laplanche,contudo, não se reduz a esse feito. Além de contribuições teó-ricas e metodológicas fundamentais, esse autor é até hoje gu-ra importante no movimento psicanalítico internacional, sendoresponsável por nada menos do que a coordenação da atual edi-ção das obras completas de Freud na França.

    OS FUNDAMENTOS DA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA SEGUNDO LAPLANCHE

    The Foundations of Subjective Constitution According to Laplanche

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    22Impulso, Piracicaba • 22(55), 21-34, set.-dez. 2012 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767

    O propósito deste artigo é apresentarminimamente o percurso autoral de Laplan-che em sua inserção no movimento psica-nalítico francês e mundial, destacando a suarelevância para a Psicanálise Contemporânea.Para tanto, iremos apresentar as principaiscontribuições teóricas de Laplanche para aPsicanálise, todas partindo de problemáticasintrínsecas à obra de Freud e ao contexto psi-canalítico em que se desenvolveu. São elas:(1) as aplicações do método psicanalítico e arenovação da escuta psicanalítica; (2) a teo-ria das pulsões e o desvio biologizante; (3) ateoria da sedução generalizada e as origensdo psiquismo. Em todas essas frentes, a obrade Jean Laplanche aponta para o papel da

    alteridade na constituição da subjetividade eda teoria psicanalítica. Como veremos, essaproblemática, por sua vez, implica discussãosobre a ética da psicanálise que aponta parauma matriz intersubjetiva traumática na cons-tituição do sujeito.

    Trajetória de LaplancheJean Laplanche, nascido em 21 de junho

    de 1924, é um psicanalista pertencente à ter-ceira geração de analistas franceses. Sua for-

    mação inicial foi na Escola Normal Superior,tendo passado um período na Universidadede Harvard, obtendo agregação em Filosoa,em 1950. Nesse mesmo ano, começou a fa-zer terapia psicanalítica com Jacques Lacan.Empreendeu a seguir uma formação médicae, posteriormente, deu início à formação empsicanálise. Quando iniciou sua formaçãopropriamente analítica, tomou partido da re-cém-criada Sociedade Francesa de Psicanálise

    (SFP), originada em 1953 a partir de uma cisãoliderada por Daniel Lagache, Jacques Lacan eFrançoise Dolto na Sociedade Psicanalítica deParis (SPP) em torno da questão da análise lei-ga. Seguiu assim seu analista e posterior men-tor, tornando-se um dos principais discípulosiniciais de Lacan.

    Contudo, a sua adesão ao movimentolacaniano logo levou a algumas diferençasteóricas, em especial por meio de críticas àradicalidade dos pressupostos linguísticos e

    estruturalistas que marcaram a segunda fasedo pensamento de Lacan. Essas diferençasacabaram por ser explicitadas em evento aca-dêmico que marcou época na história da psi-canálise francesa: o III Colóquio de Bonneval,organizado pelo psiquiatra Henri Ey, em 1960(EY, 1969), que contou com a participação demuitos autores acadêmicos de destaque dis-cutindo a questão do inconsciente:

    Foi no Colóquio de Bonneval, em1960, que a tese lacaniana da pri-mazia da linguagem sobre o in-consciente viu-se discutida pordois dos mais brilhantes discípulosdo mestre: Serge Leclaire e Jean

    Laplanche. Em sua exposição inti-tulada “O inconsciente: um estudopsicanalítico”, cada um desses doisautores formulou uma posição dife-rente. Enquanto Leclaire demons-trou, através de um caso clínico (o“Homem do Licorne”), a validadeda proposição da primazia do sig-nicante, Laplanche, ao contrário,inverteu-a, sustentando a idéia deque “o inconsciente é a condição da

    linguagem” (ROUDINESCO e PLON,1998, p. 378).

      Assim, pode se armar que Laplan-che foi discípulo de Lacan até meados de1960, quando iniciou um percurso própriode teorização e de ensino. Nisso foi muitoinuenciado por Daniel Lagache, aquele quefoi, com Jacques Lacan, um dos principais es-timuladores do desenvolvimento da psicanáli-

    se no meio universitário francês. Foi por meiodo convite de Lagache que Laplanche passoua ensinar na Sorbonne, o que levou também àproposição do projeto do famoso Vocabulárioda Psicanálise, que tinha como meta ser umlivro de referência de caráter didático, maisadequado aos padrões acadêmicos de ensino.Esse projeto, dirigido por Lagache e desenvol-vido por Laplanche em parceria com outropsicanalista da SFP, Jean-Bertrand Pontalis,foi publicado em 1967 e logo se tornou obra

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    de referência mundial, tendo sido traduzidopara mais de 15 idiomas.

    Laplanche não seguiu Lacan no novo cis-ma do movimento psicanalítico francês queocorreu em 1964, tendo permanecido comomembro da SFP e, por conseguinte, fazendoparte da  Associação Psicanalítica da França  –organização fundada naquele mesmo ano eque passou a reunir as duas sociedades fran-cesas reconhecidas pela  Associação Psicana-lítica Internacional  (IPA). Partindo da experi-ência universitária na Sorbonne, Laplancheprosseguiu para a Universidade de Paris VII,onde participou da implantação da Unidadede Ensino e Pesquisa (Unité d’Enseignement etRecherche  – UER) de Ciências Humanas Clíni-

    cas, que foi o primeiro departamento de pes-quisa e formação psicanalítica no meio univer-sitário francês.

    Esse movimento de entrada da psicaná-lise na Universidade de Paris VII foi comple-mentado pelo trabalho de outro pesquisadore teórico, Pierre Fédida, que implementouum laboratório de estudos em psicopatologiacom forte base psicanalítica, o que contribuiupara que aquela instituição tenha sido a gran-de pioneira no desenvolvimento de pesquisa

    psicanalítica universitária e seja referência atéhoje nesse campo. Foi no contexto desse de-partamento que Laplanche estabeleceu seuensino e pesquisa em psicanálise, desenvolvi-dos a partir de 1969 na forma de semináriossemestrais que versavam sobre problemáticasespecícas da obra de Freud. Esses seminá-rios foram posteriormente, já na década de1980, publicados na forma de livros, geran-do a coleção homônima Problemáticas: I – A

    Angústia (LAPLANCHE, 1998); II – Castraçãoe Simbolizações (LAPLANCHE, 1988d); III – ASublimação (LAPLANCHE, 1989); IV – O In-consciente e o Id (LAPLANCHE, 1992b); V – ATina: a transcendência da transferência (LA-PLANCHE, 1993).

    O trabalho de Laplanche constituiu umatradição de estudos rigorosos do pensamentofreudiano baseados naquilo que, apesar dasreservas do próprio autor com relação aos ter-mos, podemos chamar de uma hermenêutica

    da obra freudiana. [Não sei se é uma boa pala-vra... Laplanche critica muito a hermenêuticae diz não a estar fazendo. Evidentemente, nãoé por isso que ela não deva ser usada, mas, sese vai fazê-lo, é preciso lembrar desse poréme justicar o uso]. Sua proposta é fazer umaleitura interpretativa propriamente psicana-lítica, o que, aliado ao trabalho de formaçãode pesquisadores, conferiu a esse autor umagrande autoridade e reputação no campo te-órico e conceitual da psicanálise. Coube a eletambém um papel importante na divulgaçãodo saber e das pesquisas psicanalíticas, o quefez que dirigisse alguns projetos editoriais im-portantes em parceria com a Presses Universi-taires de France (PUF), em especial a Biblioteca

    de Psicanálise, de 1973, a coleção Novas Vozesem Psicanálise, de 1979, e a Revista Psicanálisena Universidade, de 1975 a 1994.

    Tamanha reputação acadêmica na lei-tura e interpretação de textos freudianoslevou Laplanche a ser considerado uma ver-dadeira sumidade em terminologia psicana-lítica, o que acabou resultando no convite,no final da década de 1980, para ser o coor-denador editorial da tradução francesa dasObras Completas de Freud (LAPLANCHE,

    COTET e BOURGUIGNON, 1992 ; ROUDI-NESCO e PLON, 1998). Tratava-se de umatarefa árdua, uma vez que embora tenhase constituído uma ampla tradição france-sa de psicanálise, até então não havia umatradução uniforme e completa das obras deFreud na França, estando os textos publica-dos em diferentes traduções por diferenteseditoras. Além da dificuldade propriamenteeditorial, havia agora, depois de inúmeras

    cisões no movimento psicanalítico francês,uma ampla gama de instituições psicanalíti-cas que outorgavam para si o mérito de se-rem herdeiros legítimos da tradição freudia-na. Isso levou a equipe editorial a publicarum estudo prévio, justificando os princípiosque orientariam as escolhas terminológi-cas, conceituais e estilísticas (LAPLANCHE,COTET, BOURGUIGNON, 1992), o que não ospoupou de críticas ao longo da publicaçãodos volumes. O trabalho das obras comple-

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    tas em francês, embora seja o projeto edito-rial recente mais sistemático e rigoroso decompilação dos textos freudianos, acabouse mostrando uma tradução bastante es-pecífica do ponto de vista da terminologia,já que os editores utilizaram muitos neolo-gismos para delimitar a especificidade dosconceitos psicanalíticos, resultando em umtexto muito artificial do ponto de vista es-tilístico. É, inclusive, uma terminologia bemdiferente daquela estabelecida duas déca-das antes no vocabulário, e que acabou setornando referência no jargão psicanalíticointernacional, em especial na Europa e naAmérica Latina, incluindo o Brasil.

    Fora o trabalho propriamente interpre-

    tativo, tradutivo e editorial de Laplanche,suas pesquisas levaram a um caminho deteorização original centrado em problemasfundamentais da psicanálise decorrentesdos referenciais epistemológicos e ontológi-cos da teoria de Freud. Preocupa-se, sobre-tudo, em analisar as ambiguidades da teoriae os traços de “recalcamento” de elementosimportantes por parte de seu autor. Issoimplica armar que Laplanche se preocupamais em “psicanalisar” a teoria psicanalítica

    do que propriamente fazer uma análise epis-temológica clássica de seus conceitos. Issoo coloca como um dos autores, ao lado deLacan, que propõe um amplo revisionismodos fundamentos do legado freudiano. Seusquestionamentos incidem sobre as origensdo aparelho psíquico, articulando a discus-são sobre a natureza das pulsões com a te-orização sobre o lugar do outro na constitui-ção da subjetividade, o que o levou a propor

    uma teoria da sedução generalizada comoresposta aos impasses metapsicológicos dei-xados por Freud.

    A obra de Laplanche é uma das mais re -presentativas do vigor teórico da psicanálisefrancesa e se tornou bastante inuente naAmérica Latina. É um autor bastante lido noBrasil, em grande parte pelo caráter acadêmi-co de seu trabalho e pelo intenso intercâmbioentre as instituições universitárias brasileirase francesas.

    Questões de Método e asProblemáticas

    A caracterização de uma metodologiapropriamente psicanalítica de leitura foi umdos méritos de Laplanche. É nos seus semi-

    nários de problematização dos conceitosfreudianos que vamos encontrar a discussãosobre a questão da compreensão, interpreta-ção e exegese da teoria psicanalítica. Ali en-contramos explicitada uma perspectiva dialó-gica, interpretativa e desconstrutiva, expressana concepção de fazer o texto trabalhar , pormeio da “utilização de conceitos analíticoscomo chave de uma nova hermenêutica” (LA-PLANCHE, 1998a, p. 10). Desse modo, o autorarma uma posição relativamente original que

    é a possibilidade de ler os escritos psicanalíti-cos com o próprio método psicanalítico. Issosignica não uma interpretação das fantasiasinconscientes dos autores-psicanalistas, masa utilização do próprio método psicanalíticocomo instrumento de leitura da teoria e deseus conceitos. Esse método está baseadoem um princípio de análise igualitária, que éo aplainamento ou desmantelamento dosenunciados textuais a partir de uma atençãoigualmente utuante. Com isso, crescem deimportância a absurdidade dos detalhes, os es-quecimentos e deslocamentos de um texto. Aideia é destituir os “remanejamentos egoicos”(LAPLANCHE, 1988a, p. 30) da doutrina freu-diana, desmontando os conceitos da obra.

    A ideia fundamental de percorrer a obraem todos os sentidos, sem nada omitir ouprivilegiar a priori, possibilitando a emergên-cia de uma problemática que não se resolvelinearmente e que, ao contrário, constrói um

    campo intermediário de exigências  teóricas (LAPLANCHE, 1998, p. 10) é um procedimen-to interpretativo interessante que lança luzsobre a própria concepção do movimento dopensamento freudiano. Cabe assinalar queessa abordagem coloca em questão a próprianoção de desenvolvimento teórico. Em vez deum desenvolvimento linear, o que se observasão as contingências da articulação de umaproblemática, cuja temporalidade está próxi-ma daquela própria da psicanálise: repetição,

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    retorno do reprimido, ressignicação a poste-riori, etc. A ideia de uma estrutura do pensa-mento freudiano, assim, só pode ser entendi-da no sentido de um equilíbrio dinâmico entrepolaridades que nunca se dissolvem.

    Trata-se, portanto, de uma perspectivade leitura histórica, interpretativa e proble-matizante dos conceitos psicanalíticos, querevela, portanto, um inconsciente no texto,ou seja, uma alteridade radical no próprionível dos enunciados discursivos que opera,dinamizando um movimento próprio, o qual,por sua vez, implica uma concepção de senti-do ou direcionamento último no movimentodo pensamento de um autor apenas comouma forma de ideal regulador. Trata-se de

    uma temporalidade espiral e, ao mesmo tem-po, polarizada em torno de oposições. Essastensões criam linhas de força que possibilitama concatenação de um desenvolvimento teó-rico o qual, contudo, não pode ter a preten-são de verdade absoluta, uma vez que essa éhistórica e contextualizada.

    É essa orientação metodológica que iráorientar todo o trabalho de investigação deLaplanche, sendo fundamento de sua própriaatividade de teorização. Como se pode notar, é

    um procedimento metodológico que tem am-plas implicações éticas, pois parte da aplicaçãoda escuta propriamente psicanalítica como ins-trumento do próprio teorizar, abrindo espaçopara uma dimensão de alteridade relativamen-te nova, mais próxima das discussões contem-porâneas acerca da hermenêutica: a alterida-de intrínseca ao próprio texto; o texto comoagente de efeitos de signicação. Portanto, éno rastro do inconsciente no texto e na obra

    de Freud que Laplanche irá erigir toda a suarevisão das origens do aparelho psíquico e dasubjetividade do ponto de vista psicanalítico.

    Entre o Fundamento Naturalista e oLinguístico

    A preocupação com a natureza do in-consciente e com a teoria da sexualidade éum eixo importante do pensamento de JeanLaplanche, o qual se insere em uma proble-mática bastante cara ao movimento psicana-

    lítico francês. Tanto como Lacan, Laplanchetambém toma para si a tarefa de resgatar osfundamentos da psicanálise e corrigir certastendências naturalistas, positivistas e funcio-nalistas da teoria freudiana. O intuito aí é des-colar a concepção de sujeito da psicanálisede um fundamento epistemológico própriodas ciências naturais, tal como defendidopor Freud. A questão recai sobre a própriaconcepção de sexualidade como paradigmapara pensar a subjetividade humana e seuenraizamento em uma teoria pulsional cujamarca biológica e funcional é patente. Assim,é a própria ideia de pulsão como um impulsonatural cuja fonte é somática e que se expres-sa no psiquismo na forma de representantes,

    possibilitando a articulação entre as dimen-sões corporal/biológica e mental/simbólica,que é colocada em questão por Laplanche.Seu grande esforço é descolar denitivamen-te o registro do desejo do registro da necessi-dade, endossando a proposta de alinhamentoda psicanálise com o campo das ciências hu-manas e da linguagem típica da psicanálisefrancesa. Portanto, podemos dizer que umadas características do trabalho de Laplancheé uma crítica ao chamado desvio biologizante

    do pensamento freudiano.Contudo, a crítica ao desvio biologizan-

    te não chega ao endosso de uma concepçãoestruturalista pura do sujeito do inconsciente,tal como insistia Lacan na segunda fase deseu pensamento. A preocupação em sair dofundamento biológico e naturalista freudianosem cair em um fundamento exclusivamentelinguístico marcou as primeiras produçõespsicanalíticas de Laplanche e, também, seu

    progressivo distanciamento em relação aoantigo mestre.Já no famoso colóquio de Bonneval so-

    bre o inconsciente, em 1960, Laplanche defen-de a inversão da proposta lacaniana de referiras leis do processo primário às leis fundamen-tais da linguística, por meio da submissão dosmecanismos de deslocamento e condensa-ção às guras da metáfora e da metonímia.Para tanto, parte da referência freudiana dalinguagem ao sistema das representações de

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    palavra e, portanto, ao pré-consciente e aoprocesso secundário. Além disso, retoma ahipótese da constituição do inconsciente pormeio do recalcamento originário para susten-tar níveis de simbolização pré-linguísticos. De-ne, a partir daí, um encadeamento progressi-vo de modalidades simbólicas na constituiçãodo aparelho psíquico, da qual apenas o nívelmais elevado é de caráter propriamente lin-guístico: “quanto ao estatuto ontológico doinconsciente assim constituído, será necessá-rio lembrar que, se é um estatuto de lingua-gem, essa linguagem não pode, em absoluto,ser assimilada à nossa linguagem “verbal”?”(LAPLANCHE e LECLAIRE, 1992, p. 255).

     Esse percurso leva os autores a propo-

    rem a denição de três formas de simboliza-ção que, por sua vez, remeteriam a três níveisde organização dos conteúdos inconscientes:a imago, a fantasia inconsciente e o complexo.Nessa perspectiva, essas operações simbóli-cas pré-linguísticas serão condição da emer-gência da linguagem propriamente dita, o queimplica que é o inconsciente a condição dalinguagem e não a linguagem condição do in-consciente, como armava a tese estruturalis-ta lacaniana. Nas palavras dos autores, tem-se

    a “perspectiva de um inconsciente estrutura-do como uma certa linguagem primária e cor-relato necessário da linguagem propriamentedita” (LAPLANCHE e LECLAIRE, 1992, p. 256).

    No momento da chamada excomunhãolacaniana, em 1964, Laplanche escreve comPontalis um artigo na esteira da conclusão daparceria de ambos no Vocabulário da Psicanáli-se. Publicado originalmente na famosa revistaTempos Modernos e reeditado 20 anos depois,

    esse texto é bastante ilustrativo das questõesque irão orientar o direcionamento das inves-tigações posteriores de Laplanche. Trata-sede nada mais do que um estudo sobre umconceito fundamental para a metapsicologia:a fantasia. A fantasia é o estofo do aparelhopsíquico e da concepção de inconsciente. Dis-cutir a gênese e os desdobramentos do con-ceito de fantasia em Freud é abordar a própriaconcepção de representação psíquica e de sig-nicação em psicanálise. Nesse texto, o autor

    claramente procura se distanciar de duas con-cepções clássicas de fantasia na psicanálisepós-freudiana: a lacaniana, calcada no univer-salismo da estrutura linguística, e a kleiniana,calcada no individualismo do mundo interno,buscando justamente uma posição intermedi-ária que possa servir de articulação estrutu-rante entre a dimensão interna e a externa daexperiência subjetiva. Para tanto, irá resgatara força da concepção de posterioridade dotrauma na teoria da sedução, de Freud, comoarticulador epistemológico necessário parapensar a subjetividade em psicanálise, o queimplicaria, por sua vez, na armação de umasexualidade que se originaria do outro:

    Ora, com a teoria da sedução, pode--se dizer que todo  o traumatismoprovém simultaneamente do ex-terior  e do interior. Do exterior,porquanto é do outro que a sexua-lidade chega ao sujeito, do interior,pois que jorra desse exterior inte-riorizado, dessa ‘reminiscência’ deque, segundo uma bela fórmula, so-frem os histéricos e na qual já reco-nhecemos a fantasia (LAPLANCHE e

    PONTALIS, 1985, p. 31)

    O abandono por Freud da teoria da se-dução, por sua vez, levaria a um desequilíbrioe a um apagamento da concepção de fantasiacomo estrutura pré-subjetiva que mediariae faria a conjunção entre os dois tempos da“cena” e a uma valorização do polo exclusiva-mente internalista de uma realidade psíquica.Isso levou os autores a criticarem a saída freu-

    diana que foi armar uma fantasia origináriade cunho logenético como recurso para ga-rantir a universalidade do complexo de Édipo.

    Assim, embora reconheçam a necessi-dade de pensar uma fantasia originária paraexplicar a origem das fantasias e, por conse-guinte, de toda a estrutura da subjetividadeinconsciente, os autores preferem resgatar osentido e a estrutura mítica da fantasia, comouma forma de narrativa retroativa sobre osenigmas da história do sujeito. Isso quer dizer

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    que a fantasia originária teria uma lógica míticana medida em que teria um papel estruturan-te nas origens da subjetividade. Daí propria-mente a ideia de que as origens das fantasiaspróprias de uma pessoa em particular seriamderivações de uma fantasia das origens univer-sal. Evidentemente, é na esteira do mito dasorigens freudiano e de sua interpretação porLacan que os autores se colocam, pois tambéminvertem a proposição original para armarque é o lugar simbólico do pai morto que criaa possibilidade da encarnação de um pai real.Contudo, se distanciam de Lacan ao critica-rem a assimilação da fantasia originária a umainterpretação estruturalista pura em que estaguraria como uma ordem simbólica universal

    e impessoal que determinaria a subjetividade.Para tanto, armam que enquanto fantasia, ouseja, enredo narrativo imaginário, as fantasiasoriginárias não poderiam ser assimiladas a umaestrutura transcendente:

    Não nos apressemos, entretanto,em substituir a ‘explicação logené-tica’ por uma interpretação de tipoestruturalista. Aquém da história dosujeito mas, não obstante, na his-

    tória, discurso e cadeia simbólica,embora impregnada de imaginário,estrutura, embora arrumada a partirde elementos contingentes, a fanta-sia originária é, em primeiro lugar,fantasia e como tal marcada por cer-tos traços que a tornam dicilmen-te assimilável a um puro esquematranscendente, mesmo que venhaa fornecer à experiência suas condi-

    ções de possibilidade (LAPLANCHE ePONTALIS, 1985, p. 55-56)

    Portanto, longe de tentarem simplicara denição de fantasia, os autores ressaltamjustamente a sua polissemia e complexidade– articulador entre interno e externo, indivi-dual e coletivo, histórico e estrutural – o quejusticaria o trinômio do título do artigo: fan-tasia originária, fantasias das origens, origensda fantasia. A questão passa a ser como então

    poderíamos compreender a complexidadeinerente ao conceito psicanalítico de fantasia.A proposta dos autores é resgatar propria-mente a conotação de “cena” nas fantasiasem regime de processo primário, em queestas aparecem não tanto como objetos dedesejo, mas como uma construção imagináriaem que o sujeito não tem lugar, ou melhor,está disperso por todos os lugares. Essa épropriamente a denição do potencial estru-turante da fantasia, na medida em que guracomo um roteiro de múltiplas entradas:

    ‘Um pai seduz uma lha’, tal seria,por exemplo, a formulação resumi-da da fantasia de sedução. A marca

    do processo primário não é, nessecaso, a ausência de organização,como às vezes tem sido armado,mas esse caráter particular da es-trutura: ela constitui um roteiro demúltiplas entradas, no qual nada dizque o sujeito encontrará de imedia-to o seu lugar no termo flha; é pos-sível vê-lo xar-se igualmente empai  ou até mesmo em seduz’ (LA-PLANCHE e PONTALIS, 1985, p. 72)

    Fica claro, assim, o intuito de Laplancheem consolidar sua distinção em relação ao per-curso de Lacan no que tange à concepção desujeito em psicanálise. Sua intenção é criticaro desvio biologizante em Freud e sua tendên-cia a armar uma constituição autóctone dosujeito. Seu caminho será ressaltar o papel daintersubjetividade na constituição do circuitopulsional e da dimensão de desejo própria do

    humano. Para tanto, irá seguir a trilha das ori-gens da sexualidade até o exame do tempohipoteticamente autônomo na gênese do su-jeito: o autoerotismo como um estágio naturale anobjetal da libido, que se confundiria com onarcisismo primário no nal da obra freudiana.

    Esse caminho levará a proposta de iso-lar a dimensão simbólica, intersubjetiva e in-determinada nos impulsos humanos de suadimensão propriamente biológica, autócto-ne e determinada. Enm, trata-se da famosa

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    distinção, cara à psicanálise francesa, entre aordem do desejo, propriamente pulsional, ea ordem da necessidade, propriamente ins-tintiva. Esse ponto já havia sido estabelecidona terminologia do Vocabulário da Psicanálise(LAPLANCHE e PONTALIS, 1998), mas seráaprofundado em uma ampla revisão da teo-ria pulsional freudiana cujo intuito declaradoserá integrar as duas teorias pulsionais. Nes-sa proposta, apresenta uma distinção funda-mental entre as funções de autoconservação– antigas pulsões do ego – e as pulsões sexu-ais, propondo que somente no campo dessasúltimas é que se diferenciariam propriamenteas pulsões de vida e de morte (LAPLANCHE,1988c, p. 17). Somente a esse segundo grupo

    caberiam as características próprias da pul-são (fonte, objeto, pressão, meta) que teria,portanto uma origem distinta das funções deautoconservação do organismo, uma vez queseria constituída pela instalação do recalqueoriginário, segundo a teoria da sedução gene-ralizada que propõe.

    Tem-se, portanto, que, para Laplanche,a teoria das pulsões teria uma dupla grada-ção: (1) a distinção entre funções de autocon-servação e de pulsões sexuais e, dentro desta

    segunda categoria, (2) as pulsões de vida e demorte. Embora essa sistematização pareçaanular as contradições inerentes à teoria pul-sional, a questão não é tão simples. Isso por-que as relações entre as funções de autocon-servação do organismo e a pulsão sexual sãobastante complexas, envolvendo justamentea questão da passagem da função biológicapara a sexualidade tal como a investigaçãopsicanalítica pôde concebê-la: uma satisfação

    de desejo independente de seu objeto e suafunção biológica. Não se trata, portanto, derelegar o biológico a um campo distinto dopulsional, mas compreender como o própriopulsional se inltra no biológico, destituindo--o de sua posição original. É preciso lembrarque a grande originalidade freudiana é operara sexualização das funções de autoconserva-ção do indivíduo.

    A maior prova disso é a introdução doconceito de narcisismo. Ao armar que o ego

    é sujeito ao investimento da pulsão sexual eque essa etapa é fundamental na constituiçãodele, o que se tem é o reconhecimento da im-bricação profunda entre as funções de auto-conservação e a sexualidade. A complexidadedessa relação em Laplanche é atestada pelaarmação de uma relação vicariante entre es-ses polos da atividade humana, que se susten-ta no resgate da hipótese do apoio das pulsõessexuais nas funções de autoconservação parapensar a progressão do desenvolvimento dalibido, bem como na metáfora da recuperaçãodos alicerces para pensar a ação da retroaçãona constituição da subjetividade:

    Recuperar os alicerces é, após es-

    coramento, escavar as fundaçõespara recimentá-las de maneira maissólida (...) sem ter mudado nadanas estruturas. Evidentemente,forneço essa imagem para gurara ‘vicariança’ da auto-conservaçãopela sexualidade no ser humano(LAPLANCHE, 1992a, p. 65).

    Esse percurso teórico de Laplanchemostra a sua concepção própria de sujeito

    da psicanálise, alicerçada em uma deniçãoprópria dos conceitos metapsicológicos fun-damentais de inconsciente, fantasia, sexuali-dade e pulsão. Nessa perspectiva, o sujeito doinconsciente deve ser entendido como umadimensão constituinte e constitutiva da sub-jetividade humana, produto de sua condição“linguageira” ou semiótica:

    A outra característica, que não é to-

    talmente independente da primeira,é que o objeto da psicanálise não éo objeto humano em geral; não setrata do homem que podemos de-limitar através de várias ciências – apsicologia, a sociologia, a história, aantropologia –, mas do objeto hu-mano, na medida em que formula,que dá forma essencialmente nalinguagem do tratamento, porém,de maneira mais profunda, este é

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    um movimento de sua vida inteira.Uma epistemologia e uma teoria dapsicanálise devem levar em conta,na própria base, o fato de que o su-jeito humano é um ser teorizante, eteorizante de si mesmo, quero dizerque ele teoriza a si mesmo, que elese autoteoriza, ou então, se esse ter-mo de teoria mete muito medo, queele se auto-simboliza. A simboliza-ção que lhe surge no tratamento, in-terpretação ou auto-interpretação,movimento da interpretação entreo analista e o analisado, essa simbo-lização é ressimbolização com baseem primeiras simbolizações, dessas

    simbolizações originárias em cujorastro nos colocaremos necessaria-mente nesta procura dos fundamen-tos. (LAPLANCHE, 1992a, p. 10-11)

    A busca das origens dessa concepçãode sujeito propriamente psicanalítica, por suavez, seguirá a trilha aberta pela teoria da sedu-ção na discussão sobre a incidência do outrona origem da subjetividade.

    Sedução Generalizada eIntersubjetividade Traumática

    Como vimos, já no estudo sobre as fan-tasias originárias, Laplanche armou a ne-cessidade de resgatar a teoria da seduçãoem Freud como elemento importante para aconstituição da fantasia. A sequência de seusestudos irá cada vez mais aprofundar o estu-do das origens da sexualidade, levando-o apensar e tematizar com profundidade a pro-

    blemática do originário na psicanálise. Trata--se de um caminho que parte da discussão doautoerotismo como estágio anobjetal parapensar os efeitos da linguagem sobre o orga-nismo humano na forma de uma sedução ge-neralizada que seria constitutiva do núcleo doinconsciente, por meio do recalque originário.

    Isso implica que a problemática do fun-damento biológico do sujeito da psicanáliseremete, em Laplanche, à discussão sobre ooriginário, uma vez que retirar a fonte da pul-

    são de uma concepção biológica e naturalis-ta implica a reconsideração do problema dasorigens do inconsciente. A saída laplanchiana– assim como a de Lacan – é postular um fun-damento estritamente semiótico para as pul-sões e para o inconsciente, de tal forma que oinconsciente seja fruto da operação constitu-tiva da defesa primária.

    Os primórdios da teoria da sedução gene-ralizada foram desenvolvidos por Laplanchedesde a década de 1960, mas sua plena siste-matização e consideração como a síntese deuma contribuição especíca ao legado freu-diano remetem somente ao nal da década de1970. Ela propõe uma ampla rearticulação dosfundamentos da teoria psicanalítica, priorizan-

    do, como o próprio nome já diz, um resgate dopapel da sedução, supostamente abandonadoao longo do desenvolvimento da psicanálise.

     Como se sabe, a teoria da sedução “res-trita” foi uma hipótese adotada no início dasinvestigações psicanalíticas para explicar agênese do trauma psíquico em função de umaressignicação de eventos vividos na infância.Foi abandonada em 1897 por Freud e deu lugara duas concepções que seriam fundamentaispara a concepção da Psicanálise como cam-

    po de saber, que foram a noção de realidadepsíquica, por meio do conceito de fantasiainconsciente, e a concepção de uma sexuali-dade infantil. Essa teoria da sedução, emboraequivocada em seus aspectos restritos, impli-cava uma concepção revolucionária de tempo-ralidade, que não foi abandonada por Freud:a ideia de um traumatismo em dois tempos,decorrente da signicação a posteriori de umregistro mnêmico, ou seja, de uma tradução

    de registros representacionais que implicariareposicionamentos tópicos. Esses fatores, queLaplanche chama de “força” na teoria da se-dução restrita (1988b, p. 112), serão aquisiçõesfundamentais da racionalidade psicanalítica.

    A inovação propriamente laplanchiananão está em resgatar os elementos dessa pri-meira teoria da sedução ou mesmo a noçãode a posteriori, mas indicar os remanejamen-tos nais da obra freudiana no sentido deum resgate da ideia de sedução precoce e

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    rearticulá-los em uma teoria coerente sobreo originário. Embora essas indicações estejampresentes na última década do pensamentofreudiano, faltou uma ampla restituição dasedução no conjunto da teoria freudiana. La-planche se propõe a sanar essa falha por meiode uma generalização que parte de uma críti-ca das concepções de atividade e passividadepor meio da ideia de um “a mais” de signi -cação no confronto da criança com o mundoadulto, tributária, por sua vez, das proposi-ções de Ferenczi de uma “confusão de lín-guas”. Segundo esse autor, haveria um trau-matismo inerente ao encontro da linguagemadulta com a infantil, resultando em um errode interpretação da sedução adulta sobre o

    corpo infantil (LAPLANCHE, 1988b).Retomando a teoria do trauma e da res-signicação a posteriori, Laplanche resgatauma hipótese bastante remota e por vezesesquecida de Freud, a saber, a de o traumaser fruto de falhas na ressignicação de dife-rentes níveis de simbolização operantes noaparelho psíquico. Essa perspectiva mais pro-priamente semiótica – já que a simbolização éfruto de níveis de interpretação e tradução desentido das fantasias – faz que o autor venha

    a se voltar para a questão dos deslizamentosde sentido entre as modalidades de registrode signicação, para pensar a fantasia comouma espécie de “erro” de tradução causandoum excesso traumático na passagem de umamodalidade de simbolização para outra. A ar-ticulação dessa teoria da linguagem marcadapor múltiplos níveis de signicação com a hi-pótese de um traumatismo oriundo da “con-fusão de línguas” entre adulto e criança será o

    cerne da teoria da sedução generalizada.Desse modo, é por meio da apropriaçãoda noção ferencziana de uma confusão de lín-guas entre criança e adulto e de uma conside-ração bastante ampla do que seriam as moda-lidades semiológicas (verbalizações, gestos eexpressões, afetos, etc.), que Laplanche pro-põe a ideia fundamental de um potencial trau-mático da linguagem adulta em função de umsentido ignorado que é expressão do incons-ciente parental. Esse será o sentido de uma

    sedução generalizada do bebê pelos cuidadosda função materna como condição necessá-ria para a constituição do circuito pulsional, oque fará que esse momento de identicaçãoprimária seja propriamente o momento ori-ginário da subjetividade inconsciente. Assim,a origem da pulsão é simultânea ao recalqueoriginário, e se dá por meio de uma identica-ção narcísica primária com os signicantes dodesejo materno.

    Contudo, diferentemente da concepçãolacaniana de um recalque do signicante dodesejo materno ao qual o sujeito está identi-cado, Laplanche ressalta que a identicaçãonarcísica não é exatamente especular, no sen-tido do desejo infantil ser reexo alienado do

    desejo materno. Na concepção laplanchiana,esse momento narcísico é traumático porquealém da dinâmica positiva da identicaçãoopera também uma dimensão propriamentetraumática que é o excesso de sentido perpe-trado pelos signicantes maternos. Portanto,os signicantes maternos, mais do que convo-car ao sentido, também instalam enigmas quedemandam simbolização. A dinâmica identi-catória com os signifcantes enigmáticos é oque dará origem ao recalque originário:

    Pelo termo sedução originária  qua-licamos, portanto, esta situaçãofundamental na qual o adulto pro-põe à criança signicantes não-ver-bais, tanto quanto verbais, e atécomportamentais, impregnados designicações sexuais inconscientes.Do que chamo signifcantes enig -máticos, não é necessário procurar

    longe para encontrar exemplosconcretos. O próprio seio, órgãoaparentemente natural da lactação:podemos negligenciar ainda seuinvestimento sexual e inconscientemaior pela mulher? (LAPLANCHE,1988b, p. 119).

    A característica distintiva da propostade Laplanche é que o processo identicatórioque está na origem do recalque originário é

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    fundamentalmente negativo, uma vez que éo resto não simbolizado desses signicantesenigmáticos que irá se instalar como o objeto--fonte da pulsão:

    Recentemente traçamos o esque-ma geral com maior precisão a pro-pósito da pulsão. É a confrontaçãode um indivíduo cujas montagenssomatopsíquicas se situam de ma-neira predominantemente ao nívelda necessidade, com signicantesemanando do adulto, ligados à sa-tisfação destas necessidades, masveiculando com eles a potenciali-dade, a interrogação puramente

    potencial de outras mensagens –sexuais. O trabalho de domínio ede simbolização deste ‘signicanteenigmático’ termina necessaria-mente em restos ‘fueros’  incons-cientes, que chamamos ‘objetos--fontes’ da pulsão (LAPLANCHE,1988b, p. 120)

    Assim, é essa sedução precoce, originá-ria e generalizada que fornece o solo constitu-

    tivo do próprio circuito pulsional. O originárioé entendido como fruto de uma confronta-ção do organismo biológico dotado de mon-tagens somatopsíquicas com signicantesemanados do adulto, ligados à satisfaçãodas necessidades biológicas, mas veiculandouma interrogação puramente potencial demensagens de cunho sexual. Isto quer dizerque é a signicação proveniente do outro hu-mano como uma intencionalidade suposta,

    porém incompreendida, que invoca e consti-tui a sexualidade. Esses primeiros registros,portanto, indicariam uma forma de registropré-simbólica, que demandaria tradução emsignicações mais elaboradas, criando umaexigência constante de simbolização.

    Uma apresentação um pouco mais ex-tensa e didática da teoria da sedução genera-lizada é feita no livro Novos Fundamentos paraa Psicanálise (LAPLANCHE, 1992a, p. 111-157)que, ademais, sintetiza muitas das posições

    desse autor sobre o legado freudiano. Ali,ele irá partir também dos aspectos tópico,temporal e tradutivo da sedução restrita e dateoria do trauma ferencziana para desenvol-ver sua hipótese de uma sedução origináriaproduzida por signicantes enigmáticos. Po-rém, dessa vez, dá especial atenção para ossignicantes referentes às fantasias das ce-nas originárias (nascimento, coito parental,castração, diferença de gêneros, etc.) comoos elementos primordiais de incidência do po-tencial traumático. Com isso, cada vez mais oautor vai se aproximando de uma concepçãofundacional sobre a estrutura do aparelhopsíquico em que o originário é dissociado damitologia cientíca em que Freud o enrai-

    zara, a ponto de armar que “o originário éum aprofundamento da noção de real (o realhumano, evidentemente) em direção às situ-ações inelutáveis que o fundam; o originárioé uma categoria da efetividade (LAPLANCHE,1992b, p. 137).

    Desse modo, a sedução originária operapor meio de um fornecimento de signican-tes enigmáticos que irão encontrar apoio nasfunções biológicas de autoconservação. É aintencionalidade semiótica que irá sobrepujar

    o funcionamento no nível da mera necessida-de, implementando uma nova modalidade deregulação. Esse momento, em que o signican-te enigmático instala-se no corpo e congurapropriamente uma zona erógena circunscre-vendo limites corporais que serão referênciasimportantes do que virá a ser o ego-instância,é denominado de implantação.  O signicanteenigmático, portanto, é inicialmente externoao ego, sendo então progressivamente inter-

    nalizado e inscrito. A estimulação incessantedesse resquício traumático engendra mecanis-mos defensivos que irão progressivamente es-tabelecendo ressignicações sobre essa marcaoriginária. Essas defesas primárias, que consti-tuem processos de simbolização e são media-das por identicações com o objeto, irão cons-tituir propriamente o recalcamento originário.

    Podemos então armar que para La-planche o ser humano é entendido comoum ser semiótico, de caráter autotradutivo

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    e autoteorizante, que se origina da operaçãofundamental em que os signicantes enigmá-ticos se implantam como restos e inscriçõesmnêmicas rudimentares que atuarão comoincitadores do processo de simbolização eengendradores da pulsão. Dessa forma, ossignicantes enigmáticos são compreendidoscomo os verdadeiros “objetos-fontes” da pul-são, instalados pelo traumatismo da sexuali-dade proveniente do outro.

    A constituição de todo esse circuitopulsional, por sua vez, seria dada pelo recal-camento originário, que envolveria um pro-cesso de substituição signicante que o autordenomina de metábole. Esse neologismo as-semelha-se às guras de linguagem da metá-

    fora e da metonímia utilizadas por Lacan emsua própria concepção do recalque origináriocomo advento da metáfora paterna, mas pro-cura ressaltar a ação metabolizante das ope-rações semióticas constituintes do aparelhopsíquico e do circuito pulsional:

    Propusemos um esquema para esseprocesso, o da substituição signi-cante ou metábole, com suas diver-sas modalidades. Relembro aqui o

    esquema, parcialmente derivadode Lacan, mas numa direção total-mente diferente que, aliás, Lacancriticou especicamente. Trata-sedo fato de que um primeiro par sig-nicante-signicado é submetido àação de um segundo par que, destavez, é um par de dois signicantes(...) Quando a ligação de S2 com S1 é(no essencial) uma ligação de ana-

    logia, essa metábole é chamada demetáfora; quando a ligação entreS2 e S1 é de pura contiguidade, essametábole é chamada de metonímia.A metábole é, portanto, o gênerocomum à metáfora e à metonímia.(...) (LAPLANCHE, 1992a, p. 139-140)

    A consolidação dessa operação originá-ria, contudo, dependeria de um segundo mo-mento, aquele do recalque secundário que,

    em termos laplanchianos, seria propriamenteo de introdução do recalque e da identica-ção paterna por meio da resolução do com-plexo de Édipo. Isso quer dizer que os meca-nismos de interpretação de sentido operamem diversos níveis de simbolização, o que im-plica que a signicação a posteriori não operaapenas no recalcamento originário, estandopresente, também, no complexo de Édipo ena dinâmica de identicações, angústias edefesas que levará à formação do superego.Assim, quando a dinâmica triangular se orga-niza e se conguram o recalcamento propria-mente dito e a dinâmica edípica, está em jogotambém um movimento de ressignicação,que vem conrmar, reforçar e consolidar as

    próprias fantasias originárias, ou nas palavrasde Laplanche: “o recalcamento originário ne-cessita de uma chancela para ser mantido, ne-cessita do recalcamento secundário” (1992a, p.145). Decorrerá daí um maior escalonamentode níveis do aparelho psíquico, comportandoagora a instância superegoica. De qualquerforma, é importante entender que, na lógicalaplanchiana, não se trata propriamente deuma nova inscrição independente da anterior,mas de uma mudança no estatuto dessas sig-

    nicações, por meio de modicações em suasrelações de simbolização.

    O que é particularmente interessantedessa proposta é a armação peremptória dopapel do outro na constituição da subjetivida-de. Além disso, sua concepção de originárioimplica uma compreensão semiótica e nãobiológica das origens do inconsciente e da pul-são. Como podemos ver, trata-se de um autorque honra a tradição francesa de reposiciona-

    mento epistemológico dos fundamentos dapsicanálise, colocando em evidência o papelda alteridade e da linguagem na denição doobjeto próprio da psicanálise: o inconsciente.

    Pode se notar que o percurso laplanchia-no se aproxima das concepções lacanianas.Contudo, toda a proposta laplanchiana surgede sua crítica à primazia da linguagem concedi-da por Lacan na compreensão do inconscientee envereda por uma noção mais ampla do queviria a ser o “signicante”, uma vez que esse

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    não se restringiria apenas a signos linguísti-cos, mas a uma gama mais ampla de articu-lações semióticas, incluindo aspectos verbaise imagéticos, além do próprio hiato inerenteaos processos de interpretação que implica,portanto, em uma negatividade intrínsecaaos processos de linguagem. Pode-se armar,portanto, que a diferença fundamental entreas perspectivas dos dois autores é o caráterdo signicante, que era entendido de formaextremamente restrita na concepção estrutu-ral lacaniana e passa a ser bem mais ampla naconcepção hermenêutica laplanchiana. Alémdisso, Laplanche vem ressaltar também a im-portância fundamental dos afetos na teoriapsicanalítica e sua resistência a conformação

    da subjetividade a um registro puramente se-miótico. Daí, inclusive, a importância de seusestudos sobre a angústia para pensar a teoriapsicanalítica (LAPLANCHE, 1998).

    Nisso Laplanche fez coro com outroscríticos da fase mais estruturalista de Lacan.É verdade, por outro lado, que precisamosfazer justiça e lembrar que os próprios desdo-bramentos da teoria lacaniana e do lacanismoseguiram no sentido de ultrapassar essas limi-tações de um estruturalismo linguístico estri-

    to na abordagem do sujeito do inconsciente.Outro aspecto, contudo, precisa ser res-

    saltado no que tange às contribuições espe-cícas de Laplanche. Trata-se do caráter maispropriamente traumático que a experiênciaintersubjetiva tem na constituição da subjeti-vidade. Aqui Laplanche também é representa-tivo da tradição francesa em psicanálise, queinsiste na concepção de uma violência simbó-lica como condição de instauração da subje-

    tividade (COSTA, 1988). Representa tambémclaramente uma posição teórica em psicanáli-se que ressalta a relevância e a prevalência deuma intersubjetividade traumática  (COELHOJUNIOR e FIGUEIREDO, 2003, 2004) na consi-deração da subjetividade humana.

     Tem-se, portanto, que por meio de umateoria da sedução generalizada Laplanchechega à proposição de uma intersubjetivida-de traumática na constituição originária dasubjetividade. Nessa perspectiva, o circuito

    pulsional se origina da instalação do objeto--fonte da pulsão que é fruto da demanda deinterpretação e da inscrição e em negativo dalinguagem do outro sobre o organismo huma-no. É uma espécie de “resto não assimilado”por meio do qual a pulsão brota, ou seja, trata--se de uma negatividade e de uma irrepresen-tabilidade fundantes, o que vem corroborar aideia de que a pulsão de morte é a condiçãooriginária da vida pulsional. Assim, podemosnotar que, tal como a fantasia, a pulsão temum originário, pois é simultaneamente efeitoe causa da alteridade radical no seio da sub-jetividade, o que reitera a sua posição comoconceito fundamental da psicanálise.

    ConclusãoNeste artigo, partimos do histórico e dacontextualização da obra de Jean Laplanchepara indicar sua pertinência e relevância paraa psicanálise. Para entender seu alcance, pre-cisamos entender a proposta de revisionismodos fundamentos da psicanálise tanto no ní-vel da teoria quanto no do método. Partimosentão para a apresentação das concepçõesde sedução, fantasia e recalque originários,chegando não só a uma correção do desvio

    biologizante na teoria da sexualidade, comotambém a uma armação do papel funda-mental do outro na constituição do sujeito doinconsciente e, por conseguinte, para a pró-pria concepção de homem.

    Ao m desse percurso, podemos armarque Laplanche é um dos autores da psicanálisecontemporânea que insiste no posicionamen-to ontológico e epistemológico que reconhe-ce a alteridade como aspecto fundamental da

    subjetividade. Sua concepção especíca desujeito da psicanálise, por sua vez, endossa adimensão propriamente traumática da subje-tividade em seu nível originário, colocando aviolência simbólica como um aspecto consti-tutivo do inconsciente e do circuito pulsional.Sua concepção de subjetividade ressalta a di-mensão propriamente enigmática, histórica esingular dos processos de simbolização, emdetrimento de positividade de uma suposiçãopuramente estrutural de sujeito.

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    O sentido geral dessas proposições con-ceituais é a armação da alteridade como ca-tegoria central para a psicanálise, implicando,necessariamente, um posicionamento éticode acolhimento da diferença, valorização dos

    conitos e interpretação dos sentidos comoforma de elaboração do desejo. Isso faz desseautor, portanto, uma referência fundamentalpara a discussão sobre a alteridade e a éticaem psicanálise.

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    D :É B V C (UNESP)

    Psicólogo, mestre e doutor em psicologia pelo IP-USPProfessor assistente doutor do departamento

    de psicologia da Faculdade de Ciências da UNESP em Bauru

    Recebido: 18/10/2011Aprovado: 25/09/2012