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Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.66, n.2, p.497-504, 2014
Capacidade funcional em cavalos de salto suplementados com linhaa
[Functional capacity of jumping horses supplemented with linseed]
K. Oliveira1, R. Heinrichs
1, C. Costa
2, D.D. Millen
1, P.R.L. Meirelles
2
1Unesp-Campus Experimental de Dracena Dracena, SP
2Unesp-Campus de Botucatu Botucatu, SP
RESUMO
Objetivou-se avaliar a suplementao com linhaa, como fonte do cido graxo mega-3, sobre a
capacidade funcional de cavalos de salto. Foram utilizados seis equinos distribudos em dois quadrados
latinos 3x3 balanceados. Os grupos experimentais consistiram em nveis crescentes de linhaa (na forma
de farinha e leo de linhaa na proporo de 75:25, respectivamente), resultando nos tratamentos de 0
(controle), 60 e 120g/cavalo/dia de linhaa. Os cavalos foram suplementados por perodo de 30 dias. A
atividade fsica consistiu em trabalho para salto no nvel de equitao fundamental. As variveis
funcionais mensuradas foram ndice de claudicao (IC), comprimento da passada e biometria da
articulao metacarpofalangeana MCF (circunferncia e ngulo de flexo). Observou-se efeito
significativo da suplementao com linhaa, independentemente da dosagem, sobre o IC. Ainda, o
fornecimento de 120g de linhaa/cavalo/dia aumentou o comprimento da passada dos cavalos ao trote
(P
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assim, mais sujeita a leses (Richardson, 2003).
Ainda deve-se considerar o agravante de que, no
Brasil, muitos cavalos destinados ao salto so
adquiridos como descarte em hipdromos, j
com alteraes iniciais na articulao MCF que
se agravam com o treinamento para o salto.
Portanto, a claudicao a principal causa na
reduo de performance nesse esporte, podendo
limitar ou mesmo encerrar a atividade atltica de
cavalos (Jackman, 2004).
As desordens ou injrias nos cavalos de esporte
so resultantes do estresse gerado pelo
treinamento excessivo, leses por esforo
repetitivo, sobrecarga de peso em animais
adultos e o avano da idade (envelhecimento)
que causam inflamao, inchao, claudicao,
menor mobilidade articular, menor comprimento
da passada e dor (Manhart et al., 2009; Abreu et
al., 2011). Essas aes submetem as articulaes
do animal ao estresse contnuo, propiciando o
incio do processo degenerativo da cartilagem
articular, com a liberao de componentes
inflamatrios. Durante processo inflamatrio, as
clulas da membrana sinovial, denominadas
sinovicitos, sintetizam eicosanoides do cido
araquidnio, proveniente do cido graxo
linoleico da famlia mega-6, na membrana
celular do tecido lesionado, como as
prostaglandinas E e I, que, por sua vez, causam
dor e inchao no local, sendo as responsveis
pela continuidade da inflamao de maneira
crnica (Evans et al., 2006; Goodrich e Nixon,
2006; King et al., 2008).
Contudo, as mudanas iniciais de alteraes em
tecidos moles periarticulares e da cartilagem
articular so difceis de serem diagnosticadas
(Rasera et al., 2007). De acordo com May
(1994), essas desordens articulares em sua
fase primria so designadas idiopticas, ou seja,
no havendo etiologia identificvel. Assim,
suplementos articulares tm sido administrados
aos cavalos pelos proprietrios e treinadores com
a finalidade de prevenir a ocorrncia de
patologias articulares. Nesse sentido, pesquisas
tm investigado a adio de cido graxo mega-3
(-3) dieta de equinos por diminuir o potencial
para inflamao no nvel celular, bem como por
apresentar propriedades antioxidantes (Williams
e Lamprecht, 2008).
O cido graxo mega-3 (C18:3; n-3,
compreendendo 18 tomos de carbono e 3
ligaes duplas) compete com a famlia mega-6
durante o metabolismo pela incorporao
dentro das membranas celulares, como
a sinovial (Hansen et al., 2002; Jerosch, 2011).
Quando metabolizado, o mega-3 resulta em
eicosanoides menos potentes ou eicosanoides
anti-inflamatrios (Manhart et al., 2009).
Estudos em vrias espcies tm demonstrado que
a suplementao com mega-3 reduz a dor e
retarda o processo de degenerao da cartilagem
das articulaes, melhorando suas capacidades
funcionais. (Kremer et al., 1990; Lau et al.,
1993; Hansen et al., 2004; Woodward et al.,
2007). Contudo, so escassas pesquisas visando
ao uso do cido graxo mega-3 na alimentao
de cavalos atletas.
Ainda, sabe-se que as desordens articulares so
consideradas a causa mais comum de
claudicao em equinos, levando a uma perda
funcional progressiva e, consequentemente, ao
baixo desempenho e abandono precoce das
atividades esportivas. Nesse sentido, o estudo
objetivou avaliar a suplementao com linhaa,
como fonte do cido graxo mega-3, sobre a
capacidade funcional de cavalos de salto.
MATERIAL E MTODOS
O experimento foi desenvolvido no Centro
Hpico de Piracicaba, em So Paulo,
especializado no treinamento de cavalos para
salto. Seis equinos das raas Brasileiro de
hipismo, Puro Sangue Ingls e mestio, sendo
duas unidades experimentais de cada raa, foram
selecionados na prpria escola de equitao.
Nesse grupo de animais havia quatro cavalos
castrados e duas guas, com idade e peso
vivo (PV) mdios de dez anos e 500kg,
respectivamente. O critrio para incluso dos
cavalos no ensaio considerou idade entre cinco e
15 anos, nenhuma claudicao visvel ao trote
sob todas as circunstncias e ausncia de
tratamento com anti-inflamatrio, por 21 dias
antes do incio da pesquisa. O experimento
consistiu em trs nveis crescentes de
suplementao com linhaa como fornecedora do
cido graxo mega-3, ou seja, grupo controle
sem o recebimento de linhaa e dois grupos
experimentais suplementados com linhaa.
Usaram-se como fonte de linhaa a farinha
e leo de linhaa na proporo de 75:25,
respectivamente, resultando no consumo pelos
cavalos de 0, 60 e 120g de linhaa.
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Foi utilizado o delineamento experimental em
quadrado latino (QL) 3x3 (3 tratamentos x 3
perodos) duplicado. Assim, o ensaio conteve
dois QL, que ocorreram simultaneamente,
resultando em seis repeties por tratamento.
Cada QL foi constitudo por trs equinos, sendo
uma unidade de cada raa, e por dois cavalos
castrados e uma gua, da seguinte forma: um
cavalo Brasileiro de hipismo, uma gua Puro
Sangue Ingls e um cavalo mestio. O uso de QL
duplicado possibilitou o balanceamento do
mesmo, evitando-se assim qualquer possvel
interferncia residual de um determinado
tratamento em relao ao tratamento seguinte,
designado pelo rodzio do QL, sobre as variveis
monitoradas, seguindo procedimento
recomendado por Sampaio (1998).
O ensaio conteve perodo pr-experimental de 30
dias e perodo experimental de 90 dias. No
perodo pr-experimental, os cavalos foram
trabalhados para atingir condicionamento fsico
(muscular e articular), bem como todos os
cavalos foram submetidos avaliao de
claudicao para determinar leses pr-existentes
ou defeitos de andamento, que poderiam trazer
confundimento s mensuraes experimentais,
sendo considerados como fonte de claudicao.
Durante perodo experimental, cada QL foi
executado em 30 dias, resultando em perodo
experimental total de trs meses, para concluir o
rodzio dos QL do estudo.
No perodo experimental, a quantidade de
alimento fornecida aos animais foi estabelecida
segundo as recomendaes do National Research
Council (NRC, 2007), visando atender s
exigncias nutricionais para a categoria. A
ingesto diria de matria seca foi de 2,0% do
PV, composta por 50% de concentrado e 50% de
feno de tifton, com fornecimento de sal mineral
ad libitum. A dieta foi fornecida em trs
refeies dirias, s 7h00, 12h30 e 18h00. Os
animais foram mantidos em baia medindo 4x4m
e exercitados cinco dias/semana, permitindo-se
acesso a piquete sem vegetao por dois dias na
semana. Impossibilitou-se aos cavalos pastejar,
bem como o consumo de qualquer outro
nutriente diferente daquele estipulado em sua
rao diria. Ainda, providenciou-se o mesmo
ferrador e frequncia de ferrageamento a cada 45
dias.
A atividade fsica, durante o perodo
experimental, consistiu em trabalho para salto,
no nvel de equitao fundamental (obstculos
at 90cm de altura), com durao de 50 minutos,
de acordo com Equine Training Manual (2007).
Os cavalos usados nas aulas foram caminhados
por 10 minutos, trotados por 25 minutos e
galopados por 15 minutos. As sesses de saltos
foram desenvolvidas duas vezes por semana e a
realizao de figuras de cho, exerccios de
transio (trote/galope e galope/trote) e cavalete
ao trote, exigidos diariamente. Os equinos
exercitaram-se em arena aberta, com pista de
areia plana, contendo 2,5 5,0cm de espessura.
Realizaram-se as mensuraes das variveis nas
semanas 4, 8 e 12 do perodo experimental. As
variveis funcionais monitoradas