Capítulo 1 - infinitelightnovel.files.wordpress.com · claramente a data e o tempo atual. Domingo,...

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Capítulo 1 Parte 1 Katon, koton. A cadeira de balanço feita de madeira fazia sons gentis, para trás e para frente na varanda. A suave luz do sol no outono brilhava sobre a copa de uma árvore. Uma pequena brisa gentilmente soprou acima da superfície de um lago distante. As bochechas dela estavam sobre o meu peito e ela respirava com suavidade enquanto dormia. O tempo, preenchido com uma maravilhosa tranquilidade, continuava a fluir estável. Katon, koton. Eu balancei a cadeira e gentilmente acariciei os cabelos castanhos da garota. Embora ela já estivesse dormindo, um sorriso se formou em seus lábios. Um grupo de fadas[1] brincavam no gramado a nossa frente. O cheiro de bife na cozinha emergia distante, sendo possível escutá-lo ferver. Eu desejei que esse mundo gentil, em uma pequena casa no coração de uma floresta, durasse para sempre. Mas eu sabia que era um desejo impossível. Katon, koton. Enquanto os pés da cadeira continuaram a soar, as areias do tempo caiam aos poucos. Eu tentei colocar essa garota mais perto do meu peito, como se eu pudesse resistir a essa sina. Entretanto, meus braços agora só estavam abraçando o ar. Eu rapidamente abri meus olhos assustados, Seu corpo, que estava contra o meu há apenas alguns segundos, tinha desaparecido completamente, eu me levantei da cadeira e procurei pelo lugar. Como uma cortina de um palco que agora caia, a cor do pôr-do-sol desaparecia e havia escuridão. A terrível escuridão começou a matar aquela floresta e pintá-la com o negro. Eu me levantei e senti o vento frio do inverno e chamei pelo nome dela. Mas não houve resposta. Nem no jardim da frente onde as fadas brincavam, nem na

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Capítulo 1

Parte 1

Katon, koton.

A cadeira de balanço feita de madeira fazia sons gentis, para trás e para frente na

varanda.

A suave luz do sol no outono brilhava sobre a copa de uma árvore. Uma pequena brisa

gentilmente soprou acima da superfície de um lago distante.

As bochechas dela estavam sobre o meu peito e ela respirava com suavidade enquanto

dormia.

O tempo, preenchido com uma maravilhosa tranquilidade, continuava a fluir estável.

Katon, koton.

Eu balancei a cadeira e gentilmente acariciei os cabelos castanhos da garota. Embora

ela já estivesse dormindo, um sorriso se formou em seus lábios.

Um grupo de fadas[1] brincavam no gramado a nossa frente. O cheiro de bife na

cozinha emergia distante, sendo possível escutá-lo ferver. Eu desejei que esse mundo gentil,

em uma pequena casa no coração de uma floresta, durasse para sempre. Mas eu sabia que era

um desejo impossível.

Katon, koton.

Enquanto os pés da cadeira continuaram a soar, as areias do tempo caiam aos poucos.

Eu tentei colocar essa garota mais perto do meu peito, como se eu pudesse resistir a

essa sina.

Entretanto, meus braços agora só estavam abraçando o ar.

Eu rapidamente abri meus olhos assustados, Seu corpo, que estava contra o meu há

apenas alguns segundos, tinha desaparecido completamente, eu me levantei da cadeira e

procurei pelo lugar.

Como uma cortina de um palco que agora caia, a cor do pôr-do-sol desaparecia e havia

escuridão. A terrível escuridão começou a matar aquela floresta e pintá-la com o negro.

Eu me levantei e senti o vento frio do inverno e chamei pelo nome dela.

Mas não houve resposta. Nem no jardim da frente onde as fadas brincavam, nem na

cozinha—ela não podia mais ser encontrada em lugar algum.

Antes que eu percebesse, toda a casa estava cercada pela escuridão. Os móveis das

casas e as paredes começaram a cair e desaparecer como se fossem feitas de papel. Apenas a

cadeira de balanço e eu sobramos em meio à escuridão. Mesmo não tendo ninguém sentado

naquela cadeira, ela continuava a balançar, para trás e para frente, sem mudança.

Katon, koton.

Katon, koton.

Eu fechei meus olhos, forcei meus ouvidos e reuni toda a minha força para chamar o

nome dela.

Meus olhos se abriram quando ouvi a voz alta e clara. Eu não sabia mais se eu havia

gritado apenas no sonho ou se eu chamei por ela na realidade.

Deitado na cama, eu fechei meus olhos e tentei retornar ao inicio do meu sonho, mas

logo eu desisti e depois de um tempo, voltei a abrir meus olhos lentamente.

Finas tábuas de madeira entraram na minha visão ao invés de painéis brancos de

hospital. Eu estava deitado em uma cama macia, com um cobertor em vez de algum tipo de

material em gel.

Esse era meu---Esse é o quarto de Kirigaya Kazuto no mundo real.

Eu levantei um pouco meu corpo e olhei ao meu redor. O quarto em tatame possuía

um chão incomum feito de madeira natural. Apenas três coisas podiam ser encontradas

naquele quarto: Um computador, um roteador e a cama em que eu estava sentado.

Um velho aparelho em forma de elmo estava no centro, ao lado dos roteadores na

vertical.

Seu nome era «NERvGear», um modelo de interface de imersão total para RV que me

prendeu dentro de uma realidade virtual por cerca de dois anos. Depois de uma longa e difícil

batalha, eu finalmente havia me libertado daquela maquina e finalmente podia ver e tocar o

mundo real.

Sim, eu havia voltado.

Mas, a garota que lutava com sua espada e havia ligado seu coração ao meu estava...

Uma dor perfurou meu peito, eu desviei meu olhar para longe do NERvGear para

depois levantar, encarei o espelho que estava na parede. O painel EL na parede mostrou

claramente a data e o tempo atual.

Domingo, 19 de Janeiro, 2025. 7:15 AM.

Dois meses se passaram desde que eu voltei ao mundo real, mas eu ainda não me

acostumei com minha aparência. Apesar do espadachim Kirito e o atual Kirigaya Kazuto

deveriam ter a mesma aparência, minha perda de massa ainda não estava totalmente

recuperada, e esse meu corpo magro abaixo da minha camisa era extremamente frágil.

Eu subitamente percebi que duas linhas de lágrimas brilhavam no meu rosto, refletidas

no espelho, que foram retiradas pela minha mão direita.

“Eu me tornei um completo bebê chorão... Asuna.”

Eu murmurei e andei até a janela grande no canto sul do meu quarto. Eu abri as

cortinas com ambas as mãos e encarei a luz do sol de um dia de inverno que morria com o

amarelo pálido dentro do meu quarto.

[1]: É subjetivo, porém utilizei fadas. “Sprites” incluem na mesma categoria, duendes.

Em todo caso, criaturas que brincam no jardim e fazem travessuras. Não é muito comum no

Brasil.

Parte 2

Kirigaya Suguha estava muito feliz enquanto atravessava o quintal repleto de neve e

então, acelerou.

A neve que caiu nos últimos dois dias tinha derretido completamente e no meio de

uma manhã de Janeiro, o ar estava extremamente gelado.

Ela parou na beira da lagoa, que estava ainda coberta por uma fina camada de gelo e

com o shinai[1] em sua mão direita, golpeou a ponta de um pinheiro negro. Para acabar com

toda a sonolência que ainda persistia em seu corpo, ela respirou fundo várias vezes, colocou

ambas as mãos nos joelhos e começou seus exercícios de alongamento.

Seus músculos, que ainda não estavam despertos totalmente, aos poucos se soltaram.

Primeiro os joelhos, então ela sentiu o formigamento, informando que o sangue estava

circulando em seus joelhos e tornozelos.

Suguha esticou-se fazendo o movimento para alcançar os pés com ambas as mãos e

aos poucos inclinando-se e voltando a sua posição inicial---até que ela parou abruptamente. O

gelo liso que se formou acima do lago refletia sua aparência.

Seu cabelo curto, cortado até a linha dos ombros e acima das sobrancelhas, estava

negro com um reflexo azul. Suas sobrancelhas partilhavam a mesma tinta negra e eram muito

grossas, abaixo delas estavam dois olhos preenchidos por um espírito inabalável. Juntos, seu

reflexo parecia possuir uma aparência pueril. O branco tradicional do dōgi[2] e o negro longo

do hakama[3] apenas ajudavam a acentuar isso.

----Como eu pensei... Eu não me pareço... com o Onii-chan...

Esse era um pensamento que estava preenchendo muito sua mente recentemente. Ela

pensava isso toda vez que via a sim mesma na entrada do banheiro. Não era como se ela não

gostasse da sua aparência; ela não se importava com coisas assim, mas desde que seu irmão

Kazuto voltou para essa casa, sua mente começou de forma subconsciente a fazer

comparações.

---É inútil, não importa quantas vezes eu pense nisso.

Suguha balançou sua cabeça teimosa e voltou ao alongamento.

Depois de terminar seu alongamento, ela pegou o shinai que tinha deixado ao lado do

pinheiro negro. Ela o agarrou, sentindo a familiaridade na palma de sua mão pelo longo tempo

de uso; então ela se endireitou e assumiu uma postura concentrada.

Respirou fundo e mantendo sua postura----seguiu-se em um instante, em um

movimento cheio de vigor, ela atacou com a parte frontal do shinai, seu movimento parecia

afiado, a ponto de conseguir cortar o ar daquela manhã, o que assustou os pardais que

descansavam ali, os fazendo voar apressados.

A casa da família Kirigaya era no velho estilo japonês, próxima as ruas do sul de

Saitama. Toda a família já viveu em algum momento aqui, assim como o avô de Suguha, que

faleceu quatro anos atrás e era uma pessoa rigorosa e um tanto antiquada.

Ele trabalhou na polícia por muitos anos e era um famoso praticante de kendo quando

jovem. Ele esperava que seu único filho, que era o pai de Suguha, seguisse os seus passos no

caminho do kendo. Seu pai treinou com o shinai até o ensino superior, mas então ele desistiu

para estudar nos Estados Unidos e eventualmente conquistou um emprego em uma

companhia estrangeira de segurança financeira. Depois de ser transferido para filial japonesa,

ele conheceu e se casou com a mãe de Suguha, Midori, mas continuou com sua rotina de

viagens, atravessando o Oceano Pacífico. Naquele tempo, o avô de Suguha redirecionou sua

paixão a ela e Kazuto, que era um ano mais velho.

Suguha e seu irmão foram mandados a se juntar ao dojo de kendo da vizinhança

durante o ensino fundamental, mas por causa da influência da mãe como editora de uma

revista de computadores, seu irmão se apaixonou mais pelo teclado do que pelo shinai e

abandonou o dojo em dois anos. Entretanto, Suguha não era como seu irmão. Ela descobriu

que tinha afinidade com o kendo e continuou a praticar com seu shinai mesmo após a morte

de seu avô.

Suguha agora tem quinze anos. No ano passado, ela avançou o suficiente para ser

considerada uma das melhores do país em competições do ensino médio. Na primavera, ela

havia sido recrutada por uma das mais famosas escolas da prefeitura.

Mas----

No passado, ela nunca teria se perdido em seu caminho, ela realmente gostava do

kendo: não apenas por retribuir as expectativas em torno dela, como também a fazia feliz.

Mas, dois anos atrás, quando seu irmão se envolveu em um incidente que chocou todo

o Japão, um abalo atingiu seu coração. Pode-se dizer que ela arrependia-se profundamente.

Mesmo que seu irmão tivesse desistido do kendo quando ela tinha sete anos, uma terrível

distância se formou entre eles e Suguha lamentava muito por nunca ter se esforçado para

acabar com essa distância e aproximar-se dele.

O irmão que colocou de lado o shinai e passava agora todos os dias imerso em meio a

computadores, como se procurasse saciar uma sede por algo. Ele construiu uma maquina

usando partes de computadores e ajudou no programa de sua mãe quando ele ainda estava no

fundamental. Para Suguha, as coisas que ele falava eram de outro planeta.

É claro, a escola deu algumas aulas de utilização do computador a Suguha e ela possuía

um pequeno computador em seu quarto. Entretanto, seu conhecimento sobre computadores

era limitado a enviar e-mails e navegar na internet; era impossível para ela entender o mundo

em que seu irmão vivia. Especialmente no caso dos jogos de RPG em rede que seu irmão era

viciado, e os quais ela sempre achou detestáveis. Mesmo com o desenvolvimento de uma

personalidade falsa, ela deduziu que era impossível se aproximar de outra pessoa utilizando

uma máscara.

Desde a da infância, Suguha e seu irmão compartilhavam um relacionamento próximo

ao de melhores amigos. Mas desde que seu irmão a deixou por um mundo completamente

diferente, Suguha fora atormentada pela solidão, dedicando-se totalmente ao kendo. A

distância entre eles continuou a crescer e as conversas diárias continuaram a diminuir; antes

que Suguha percebesse, o relacionamento entre eles havia decaído ao de meros conhecidos.

Mas verdade seja dita, Suguha constantemente sentia-se sozinha. Ela queria falar mais

com seu irmão. Ela queria entender o mundo em que seu irão vivia e queria que seu irmão

viesse e assistisse as suas competições.

Entretanto, no momento em que ela estava para expressar esses sentimentos, aquele

incidente aconteceu.

O aterrorizante pesadelo conhecido como “SWORD ART ONLINE”. Dez mil vidas em

todo o Japão estavam confinadas em uma prisão eletrônica, enquanto seus corpos

permaneciam em um sono profundo.

Seu irmão foi admitido em um dos maiores hospitais de Saitama. Então, na primeira

vez que Suguha fora visitá-lo...

Quando ela viu o seu irmão em coma, deitado em uma cama de hospital com várias

seringas e tubos presos ao seu corpo, enquanto sua mente estava presa por aquele elmo,

Suguha começou a chorar. Era primeira vez desde seu nascimento que ela chorava, ela

simplesmente agarrou o irmão e chorou em voz alta.

Talvez nunca mais houvesse uma oportunidade para que eles trocassem palavras

novamente. Por que ela não tentou acabar com a distância entre eles antes? Isso não teria sido

difícil; isso teria sido possível para ela.

Foi ali que ela começou a reconsiderar com seriedade por que motivos ela continuava a

praticar o kendo, e o que seus verdadeiros sentimentos eram. Mas ela estava tão perdida, que

nunca encontrou uma resposta. Durante seus quatorze e quinze anos, quando ela não podia

ver seu irmão, Suguha entrou no ensino médio graças as recomendações de terceiros sobre

ela, mas mesmo que ela continuasse a perseguir esse caminho, a dúvida em seu coração não

iria desaparecer.

Se seu irmão voltasse, então ela iria definitivamente falar muito com ele. Ela iria acabar

com toda a sua confusão e ansiedade, e falar a ele sobre seus pensamentos de forma franca.

Então, dois meses atrás, depois que Suguha tomou sua decisão, um milagre ocorreu. Seu irmão

quebrou a maldição com suas próprias forças e retornou.

----Mas naquele momento, o relacionamento com seu irmão havia mudado

drasticamente, Suguha ouviu pessoalmente de sua mãe, Midori, que Kazuto não era seu irmão

de verdade, mas na verdade um primo.

Seu pai, Minetaka era filho único, mas sua mãe Midori tinha uma irmã mais velha que

havia falecido mais cedo; entretanto, Suguha não sabia disso. Por causa disso, quando Suguha

descobriu que Kazuto era o filho da irmã de sua mãe, ela se descobriu mais perdida e já não

tinha mais certeza sobre o relacionamento que eles mantinham. Deveriam eles ser um pouco

mais distantes? Eles deveriam manter-se os mesmos? Ela não tinha ideia de como ela poderia

expressar-se quanto a esse relacionamento.

...Err. Mas havia uma coisa, algo que não havia mudado...

Com Suguha refletindo sobre tudo isso, ela golpeou com o shinai como se tentasse

cortar sua própria linha de pensamento. Era muito assustador continuar com aqueles

pensamentos, então ela começou a praticar com o shinai para redirecionar sua atenção.

Quando ela terminou o número necessário para completar a série, o ângulo do sol da

manhã havia mudado de forma significativa. Ela limpou o suor da testa, abaixou o shinai e se

virou de volta para a casa...

"Ah..."

No momento em que olhou para casa, Suguha subitamente congelou seus passos.

Ela não tinha percebido que Kazuto, que estava vestindo uma camisola e sentava-se na

varanda, esteve olhando em sua direção. Quando seus olhos se encontraram, ele sorriu e falou:

“Bom dia.”

Quando ele disse isso, jogou uma pequena garrafa de água mineral com sua mão

esquerda. Suguha a pegou com a direita antes de responder:

“B-Bom dia... Sério, se você estava me assistindo? Deveria ter dito alguma coisa.”

“Mas, parecia que você estava muito concentrada.”

“Nem tanto, eu estou sempre assim.”

Suguha secretamente sentiu-se muito feliz por eles poderem falar um com o outro com

tanta naturalidade nesses dois meses. Ela escolheu um lugar a direita de Kazuto e manteve uma

delicada distância dele e sentou-se. Colocando o shinai de lado, ela abriu a garrafa e colocou

sua boca; a água fria passou pelo seu corpo quente, sentido um prazer refrescante.

“Vejo que você manteve esse tempo todo...”

Kazuto pegou o shinai de Suguha e o balançou de leve com sua mão direita, mesmo

sentado. Ele imediatamente moveu a cabeça para o lado e disse:

“Tão leve...”

“Huh?”

Suguha tirou a garrafa da boca e olhou para Kazuto.

“Isso é feito de bambu original, então é um tanto pesado, na verdade. É cerca de

cinquenta gramas mais pesado que um feito de carbono.”

“Ah, uh huh, Isso... É meramente o que eu senti... Mas quando tornasse uma

comparação...”

Kazuto subitamente puxou a garrafa das mãos de Suguha e bebeu todo o líquido

restante de forma apressada.

“Ah...”

O rosto de Suguha começou a enrubescer sem mesmo pensar nisso. Ela moveu os

lábios e disse com falsa tristeza.

“Você, com o que você está tentando comparar?”

Kazuto pegou a garrafa vazia e a colocou na varanda quando se levantou sem

responder.

“Ei, que tal um duelo comigo?”

Estupeficada, Suguha olhou para o rosto de Kazuto.

“Como... Em uma partida?”

“Sim”

Kazuto assentiu como se fosse natural, mesmo que ele não tivesse nenhum interesse

em kendo.

“E quanto aos protetores...?”

“Hmmm, acho que tudo bem se não usarmos... Mas seria ruim se você se machucasse.

Eu acho que os protetores do vovô ainda estão por aí, então vamos para o dojo.”

"Oooh."

Suguha esqueceu completamente da hesitação de antes e se perguntou por que ele

falou algo assim tão subitamente; ela sorriu e disse:

“Você não está muito confiante? Uma partida contra alguém que chegou as quartas de

final no nacional? Além disso...”

A sua expressão facial então mudou.

“Está tudo bem com o seu corpo...? Você não pode se descuidar...”

“Hehe, Eu vou mostrar os resultados do meu treinamento diário de reabilitação na

academia.”

Kazuto riu e começou a andar rapidamente em direção dos fundos da casa. Suguha o

seguiu apressada.

A casa dos Kirigaya era bastante espaçosa, e o dojo ficava no lado leste do quarto da

mãe deles. Eles respeitaram a vontade do avô e não o demoliram. Então Suguha o usava para

sua prática diária, o local a final, tinha sido mantido e todo o equipamento necessário estava

ali.

Os dois entraram no dojo descalços, inclinaram-se um frente ao outro, e começaram a

preparar-se. Por sorte, o aspecto físico do avô deles era o mesmo de Kazuto; os protetores que

eles pegaram eram velhos, mas serviam. Quando eles terminaram de colocar os elmos, ao

mesmo tempo, andaram em direção do centro do dojo e se curvaram novamente.

Suguha lentamente levantou-se da posição sentada, segurando o seu shinai favorito

com firmeza e colocou-se em posição. Enquanto isso, Kazuto---

“O-O que é isso, Onii-chan?”

Após ver a posição de Kazuto, ela deixou isso escapar sem pensar. Incomum era o único

modo de descrevê-lo. Sua perna esquerda estava meio passo a frente do corpo, sua cintura

estava baixa, o shinai na mão direita estava posicionado para baixo, quase tocando o chão. Sua

mão esquerda estava tocando a alça apenas pelo bem da aparência.

“Se tivéssemos um árbitro aqui, ele estaria muito irritado.”

“Tá tudo bem, esse é o meu estilo de espada.”

Suguha respirou fundo e reajustou sua postura. Kazuto aumentou ainda mais a

distância entre seu pé e o corpo e abaixou o centro do corpo.

Suguha pensava em disparar com força suficiente para um ataque direto e poderoso

contra seu oponente, mas a posição esquisita de Kazuto a fezela ficar em dúvida sobre o que

fazer. Apesar de haver uma abertura clara, não parecia ser fácil tirar vantagem dela... Aquela

posição parecia ser o resultado de muitos anos de experiência---

Entretanto, aquilo não era possível. Kazuto havia usado o shinai por apenas dois anos,

quando ele tinha sete ou oito anos. Ele devia ter aprendido apenas o básico naquela época.

Como se tivesse percebido a confusão de Suguha, Kazuto começou a se mover. Ele

correu em um ângulo baixo como se movesse seu shinai em um golpe levantado, vindo de

baixo pela direita. Não era uma velocidade de se surpreender, mas ainda assim era um ataque

súbito. Suguha moveu-se por reflexo. E sua perna direita deu uma abertura.

“Kote!!”[4]

Suguha golpeou para baixo, mirando o antebraço de Kazuto, isso o deveria ter atingido

em cheio, mas o seu ataque esplêndido cortou apenas o ar.

Era uma esquiva inacreditável. Kazuto havia libertado sua mão esquerda com um

movimento no punho da espada, puxando-a para o seu corpo. Aquilo era mesmo possível?

Mirando em Suguha, tomada pela surpresa, o shinai segurado pela mão direita de Kirito

atacou. Mesmo confundida, ela conseguiu desviar.

Novamente eles estavam em posições opostas, encarando um ao outro, enquanto

aumentavam a distância entre eles novamente, a consciência de Suguha havia mudado

completamente. Uma tensão agradável aumentava em seu corpo, como se seu sangue

estivesse fervendo. No mesmo instante, era o momento de Suguha atacar. Seu ataque

poderoso; um golpe no antebraço—

Mas como na outra vez, Kazuto se esquivou com habilidade. Ele moveu os braços para

trás, girou o corpo e permitiu que o Shinai de Suguha deslizasse a sua frente. Suguha estava

pasma. Seus ataques velozes eram elogiados com frequência no clube, e ela não tinha

nenhuma lembrança de alguém ter sido capaz de desviar de todos os seus ataques

consecutivos.

Ficando séria, Suguha começou a atacar com ferocidade, fazendo a ponta do shinai

avançar continuamente, golpeando mais rapidamente do que podia respirar, mas Kazuto

continuava esquivando e esquivando. Os movimentos firmes de seus olhos pareciam dizer que

ele já havia compreendido completamente os movimentos do shinai de Suguha.

Irritada, Suguha forçou uma aproximação, prendendo seu shinai contra o de Kazuto,

Contra o torso e as pernas bem treinadas de Suguha, Kazuto começou a fraquejar por causa da

pressão excessiva. Sem deixá-lo escapar, Suguha percebeu o momento e lançou um ataque

final direto na cabeça de Kazuto.

“Men!!”[5]

“Ah”, Suguha finalmente percebeu, mas era tarde demais. Ela não se segurou nesse

ataque, e a pancada atingiu com força a proteção de metal na cabeça de Kazuto, causando um

som metálico. Bashiin! O som ressoou dentro do dojo.

Kazuto cambaleou para trás e depois de alguns passos, parou.

“E-Está tudo bem, Onii-chan!?”

Suguha perguntou desesperada, Kazuto levantou aos poucos a mão esquerda para

mostrar que estava bem.

“... Ah, Eu perdi. Sugu, você é mesmo forte; Heathcliff nem se compara a você.”

“... Você está mesmo bem...?”

“Sim. A partida acabou.”

Depois de dizer isso, Kazuto deu alguns passos para trás e fez alguns movimentos

estranhos. Ele balançou seu shinai na mão esquerda e depois, na direita, então o colocou nas

suas costas e fez um som parecido um “hyuhyun”. Depois disso, ele passou a mão na cabeça,

coberta pela máscara, com a mão esquerda gerando um som grave. Tudo isso fez Suguha ficar

realmente preocupada.

“Ah, sua cabeça foi atingida, então...”

“N-Não!! É apenas um velho hábito...”

Depois de curvarem-se em respeito um ao outro, Kazuto terminou com sua postura

formal e começou a retirar os protetores.

Os dois deixaram o dojo juntos e foram ao banheiro, tirar o suor que estava em seus

rostos. Ela originalmente planejava apenas brincar um pouco; nunca estava em seus planos

tornar aquilo algo sério, que deixasse seu corpo superaquecido.

“Sabe, eu fique realmente surpresa. Onii-chan, quando você esteve praticando?”

“Eh, aquele era o meu padrão de ataque... Mas parece que habilidades não podem ser

ativadas sem o auxílio do sistema.”

Mais uma vez, Kazuto murmurou algo que não fazia nenhum sentido.

“Mas, isso foi mesmo divertido. Talvez eu devesse praticar kendo novamente...”

“Mesmo!? Sério!?”

Suguha subitamente ficou energética e um sorriso se abriu em seu rosto, enquanto ela

continuava insistindo em uma resposta.

“Sugu, você poderia me ensinar?”

“É-É claro! Nós vamos treinar juntos!”

“Nós temos que esperar até a recuperação total dos meus músculos.”

Kazuto assentiu e Suguha sorriu com sinceridade. O pensamento de praticar kendo

juntos a fez ficar tão feliz que lágrimas caiam de seus olhos.

“Ei... Onii-chan... Eu...”

Apesar de Suguha não entender o porquê do repentino interesse Kazuto pelo kendo,

ela continuava mesmo feliz e queria também falar para ele sobre seu novo interesse.

Entretanto, ela rapidamente mudou de ideia e guardou as palavras que iria dizer.

“Hm?”

“Err, Eu acho que é melhor deixar como segredo por enquanto.”

“O que há com isso!?"

Os dois secaram suas cabeças e então voltaram para a casa principal pelos fundos. A

mãe, Midori, estava sempre trabalhando de manhã, então Suguha e Kazuto faziam turnos para

preparar o café da manhã.

“Eu vou tomar um banho, Onii-chan. Você tem planos para hoje?”

“Ah... Hoje... Eu... Eu vou ao hospital...”

“...”

A animação de Suguha desapareceu quando ela ouviu aquela resposta calma.

“Entendo, você vai visitar aquela pessoa.”

“Ah... Essa é a única coisa que eu posso fazer nesse momento.”

Essa pessoa era a pessoa mais importante para ele naquele outro mundo, e Suguha

ouviu isso diretamente dele, um mês atrás. Naquele dia, Suguha estava no quarto de Kazuto; os

dois sentados frente a frente, enquanto Kazuto cuidava da sua xícara de café e explicava todos

os detalhes. Havia uma Suguha que nunca acreditou que fosse possível alguém se apaixonar

em um mundo virtual. Mas agora, ela podia de alguma forma entender. Além disso---sempre

que Kazuto falava dessa pessoa, lágrimas surgiam em seus olhos.

Kazuto disse que eles estiveram juntos até o último momento. Que ambos iriam

retornar ao mundo real juntos, mas enquanto Kazuto havia recuperado sua consciência, aquela

pessoa continuava dormindo. Nada aconteceu---ou talvez algo tenha acontecido e ninguém

saiba. Mesmo com isso, sempre que ele tinha tempo, Kazuto ia ao hospital visitá-la a cada três

dias, para ver aquela pessoa.

Suguha podia ver claramente; Kazuto, sentando em frente a essa pessoa dormindo,

segurando sua mão assim como ela segurou a dele, chamando-a incessantemente. Assim que

ela visualizava essa imagem, um sentimento que não podia ser descrito emergia em seu

coração. Seu peito começava a doer e até mesmo respirar tornava-se difícil. Ela abraçava a si

mesma com ambas as mãos e imediatamente sentou onde estava.

Ela queria que Kazuto continuasse sorrindo, desde que ele voltou daquele mundo,

Kazuto se tornou muito mais aberto do que antes. Ele começou a falar mais com Suguha. Ele

até mesmo se tornou gentil e não mais fazia pedidos irresponsáveis. Era como se eles tivessem

voltado aos tempos de infância. Portanto ela percebeu o quanto aquela pessoa era importante

para o seu irmão, quando viu suas lágrimas. Naquele momento, ela começou a convencer-se

de algo.

---Mas, Eu... Eu já percebi...

Quando Kazuto fechou seus olhos, tentando se lembrar daquela pessoa, Suguha sentiu

que seu coração não podia parar de doer, enquanto ela tentava desesperadamente esconder

com outro sentimento.

---Ei, Onii-chan. Eu, Eu já sei.

Os irmãos de antes haviam se tornado agora primos; ainda assim, Suguha não entendia

como isso pode ter acontecido.

Mas algo havia mudado. Apesar dela não querer pensar nisso agora, um pequeno

segredo continuou a aquecer o seu coração.

Talvez fosse possível que ela gostasse do Onii-chan; mas se for assim, então está tudo

bem.

[1]: Espada de madeira utilizada no kendo.

[2]: Parte superior do uniforme de treinamento, também conhecido como Keikogi.

[3]: Parte inferior do uniforme de treinamento. Aquelas saias.

[4]: Protetor dos braços. É comum no kendo anunciar a parte do corpo atingida.

[5]: Protetor da cabeça.

Parte 3

Depois do meu banho, eu troquei minhas roupas e sai na bicicleta que eu havia

comprado cerca de um mês atrás. De bicicleta, os 15 quilômetros até o meu destino eram um

tanto longe, mas o exercício era bom para uma pessoa em recuperação como eu.

Minha jornada me levou até o recém construído hospital na saída da cidade de

Tokozawa, Prefeitura de Saitama.

Ela descansava em silêncio no último andar daquele hospital.

Dois meses atrás, no topo do 75º andar de «Aincrad», eu havia derrotado o último

«Espada Santa» Heathcliff, e dessa forma terminado aquele jogo da morte. Após isso, eu

acordei em um quarto de hospital, então percebi; eu havia retornado para o mundo real.

Mas ela, minha parceira, a pessoa mais importante para mim. Asuna «Flash», não

havia.

Os inquéritos sobre ela não tiveram nenhuma resultado. Depois de recuperar a

consciência em um hospital em Tóquio e andar pelo hospital sem nenhum rumo, eu fui

descoberto pelas enfermeiras que me levaram de volta ao quarto. Dez minutos depois, um

homem vestido com roupas ocidentais apareceu diante de mim, declarando-se um

representante do «Ministério de Assuntos Internos – Divisão de contra medidas ao Incidente

SAO».

Essa organização de nome grande parece que se formou imediatamente após o inicio

do incidente SAO, mas nesses dois anos, não houve nada que eles pudessem fazer. Entretanto,

isso também era algo inevitável. Se eles cometessem o deslize de desestabilizar o servidor feito

pelo programador Kayaba Akihiko, a mente por de trás do incidente, dez mil pessoas teriam

seus cérebros destruídos. E ninguém queria essa responsabilidade.

Reagrupando-se, eles fizeram as preparações para melhor observar a situação das

vítimas que estavam no hospital. A única esperança deles, uma pequena luz, mas de imenso

significado- era obtendo informações dos jogadores utilizando os dados do servidor.

Eles acabaram por seguir meu progresso nas linhas de frente, levando em conta meu

nível, posição e papel como jogador vital no chamado «Grupo de Captura» que tentava

completar Sword Art Online. Por causa disso, quando os jogadores de SAO acordaram ao redor

do país, os agentes do ministério entraram no meu quarto, tentando entender o que havia

acontecido.

Eu revelei minhas condições ao oficial do governo de óculos escuros, que estava no

meu quarto. Eu iria dizer a eles tudo que eu sabia. Em troca, eles iriam me dizer tudo que eu

queria saber.

A coisa que eu mais desejava saber, é claro, era a localização de Asuna. Depois de

alguns minutos no telefone, o homem de óculos escuros se virou e falou, com um sentimento

de confusão evidente em seu rosto.

“Yuuki Asuna foi colocada em outra instituição médica em Tokorozawa. Entretanto, ela

ainda não despertou... Não apenas ela, mas outros 300 usuários ao redor do país ainda não

acordaram.”

Inicialmente nós pensávamos que isso era apenas o resultado de um lag no servidor.

Porém, as horas tornaram-se dias enquanto Asuna e os outros ainda não acordavam.

Ele havia dito. Ele havia dito com toda certeza que iria libertar todos os jogadores

sobreviventes. Além disso, ele não possuía mais nenhuma razão para mentir. Ele havia

desaparecido junto a aquele mundo, isso é o que eu acredito de toda certeza.

Porém, tendo sido um erro técnico ou um incidente causado pela vontade de alguém, o

servidor de SAO, que deveria ter sido completamente formatado/resetado, continuava em

operação. O NERvGear de Asuna não era exceção, ainda pretendo sua alma. O quão longe ela

estava, eu não tinha ideia, mas se... Se... Se eu pudesse voltar para aquele mundo mais uma

vez-

Se Suguha soubesse o que eu fiz, ela ficaria furiosa. Deixei um recado, entrei no meu

quarto e coloquei meu NERvGear, iniciando o SAO. É claro que, uma mensagem de erro

apareceu, mostrando sua mensagem fria diante dos meus olhos, «Erro: Falha na Conexão»

Uma vez que minha reabilitação estava completa, minha liberdade para mover-me

estava recuperada e daquele dia em diante, eu periodicamente visitava a Asuna.

Eram momentos difíceis. O sentimento de algo importante ter sido arrancado de mim

era ainda mais doloroso que qualquer dor física ou mental. Mais do que isso, tornava-me uma

criança patética e inútil.

Continuando o passeio de 40 minutos, pedalando em marcha lenta, eu sai da estrada

principal e desci uma por uma colina. Logo, uma enorme construção apareceu na minha frente.

Era uma construção privada, uma obra de arte, uma instituição médica.

O segurança da entrada, já familiar com meu rosto, não me incomodou nem fez

nenhuma pergunta. Eu guardei minha bicicleta no canto de um enorme estacionamento. Na

recepção do primeiro andar, que mais parecia a entrada de um hotel cinco estrelas, eu recebi o

passe de visitante. Eu o coloquei no meu peito e segui para o elevador.

Após alguns segundos, eu cheguei ao último andar, o décimo oitavo, e a porta se abriu

lentamente. Eu andei ao sul por um corredor vazio. Nesse andar ficavam os pacientes

internados há muito tempo, mas parece que era uma ocorrência rara. Finalmente, ao fim do

corredor, uma porta de verde pálido surgiu. Havia uma placa metálica com inscrições no muro

ao lado da porta.

«Yuuki Asuna» era o que estava mostrando o display, então eu segui em frente. Peguei

o cartão de passe e o coloquei na ponta da máquina e o retirei. A porta se abriu em um som

eletrônico.

Parado naquele quarto, eu fui dominado pela fragrância refrescante das flores. Flores

frescas em oposição ao clima frio do inverno decoravam o quarto. O interior do quarto de

hospital era espaçoso e mantinha as cortinas fechadas, das quais eu lentamente me aproximei.

“Por favor, faça-a acordar--” Eu toquei o tecido, rezando por um milagre e gentilmente

separei as cortinas.

Ela estava em uma unidade de tratamento intensivo similar a qual eu estava – até

mesmo o colchão era o mesmo. A luz do sol atravessou a proteção branca, caindo sobre o rosto

de Asuna. Se eu não soubesse, eu diria que ela estava apenas dormindo.

Quando eu a visitei pela primeira vez, eu tive esse pensamento: ela iria desaprovar vê-

la daquela forma? Tais preocupações desapareceram aos poucos. Ela era mesmo linda.

Seu belo cabelo castanho, ondulado como a água na superfície branca ao seu redor;

sua pele branca quase translúcida, com um pequeno tom de rosa nas suas bochechas.

Do pescoço à clavícula, sua aparência parecia a mesma com a daquele mundo. Lábios

cor de cereja. Cílios longos, trêmulos, como se fossem se abrir a qualquer momento. Se não

fosse aquele elmo, é claro.

NERvGear. Suas três luzes LED trêmulas que brilhavam como estrelas, demonstrando

que ele continuava operando. Mesmo agora, a alma dela estava presa em algum mundo. Eu

pego em sua mão pequena com as minhas duas, sentindo seu calor, o sentimento firme que

vem dela é o mesmo de antes. Eu seguro minha respiração, tentando desesperadamente

segurar as lágrimas antes que elas caiam...

“Asuna...”

O som do alarme me faz voltar para a realidade. Sem que eu percebesse, já era meio-

dia.

“Eu tenho que ir, Asuna. Eu volto logo.”

Eu então noto o som da porta se abrindo e mudo minha atenção para os dois homens

entrando na sala.

“Oh, Kirigaya-kun. Perdoe-me pelo incômodo.”

Um homem velho está na minha frente, com uma expressão calma. Colocando seu

cartão de volta no bolso. Tanto seu físico quanto sua aparência, falam que ele é um homem

espirituoso e confiante, mas os cabelos cinza eram o resultado de dois anos de preocupação

com sua filha. Esse é o pai de Asuna, Yuuki Shouzou, eu tinha ouvido anteriormente de Asuna

que o pai dela era um empresário, mas isso não evitou minha surpresa quando descobri que

ele era o CEO da companhia de eletrônicos «RECTO».

Eu curvo minha cabeça e falo.

“Olá. Desculpe interrompê-lo, Yuuki-san.”

“Não é nada, não é nada. Tendo você vindo aqui sempre, eu que deveria me desculpar.

Eu tenho certeza que essa criança também ficaria agradecida.”

Ele andou até a cama de Asuna, passando a mão sobre os cabelos dela, enquanto

olhava com tristeza para o rosto de Asuna. Depois de alguns segundos, ele me apresentou o

homem que havia ficado para trás.

“Creio que ainda não o conheça. Ele é o diretor do nosso instituto de pesquisa, Sugou-

kun.”

Minha primeira impressão dele era positiva. Ele era alto, vestia uma roupa cinza escura,

com um par de óculos amarelos firmes acima do seu nariz. Seus olhos estavam escondidos por

de trás daquelas lentes e um sorriso perpétuo completava a imagem, eu creio que ele havia

recentemente passado dos 30.

Ele estendeu sua mão e disse:

“É um prazer conhecê-lo, Meu nome é Sugou Nobuyuki. Você deve ser o herói,

Kirigaya-kun.”

“Kirigaya Kazuto. Prazer em conhecê-lo.”

Cumprimentei Sugou e me virei em direção de Yuuki Shoujou, sua mão estava

segurando Asuna e sua cabeça estava abaixada.

“Sobre isso, desculpe. Os servidores de SAO foram transferidos. Esse incidente é como

se fosse algo que você vê apenas na televisão. Ele é o filho em que mais confio. Por um tempo

agora, ele não vai ter contato com a família.”

“Presidente, isso é-”

Sugou soltou minha mão e voltou-se para Shoujou para falar.

“No mês que vem, eu quero falar claramente a todos.”

“É isso mesmo? Mas está tudo bem mesmo? Ela ainda é jovem, sua vida apenas

começou...”

“Minha decisão está tomada, eu quero aproveitar enquanto Asuna ainda está bonita...

e vesti-la com um vestido de noiva.”

“Parece que você pensou muito nisso.”

“Bem, eu vou indo. Até mais, Kirigaya-kun.”

Ele assentiu com a cabeça, se virou e andou em direção da porta, que se fechou atrás

dele. Os únicos homens na sala eram Sugou e eu.

Sugou Nobuyuki lentamente se moveu e sentou-se ao lado oposto a mim da cama. Ele

passou a mão pelos cabelos castanhos de Asuna, fazendo barulhos com a mão esquerda. Isso

me encheu de repulsa.

“Quando vocês estavam no jogo, você viveu com a Asuna, não é mesmo?” Nobuyuki-

san disse.

“... uhm..”

“Nesse caso, nosso relacionamento vai ser um tanto complicado.”

Sugou levantou o rosto e nós fizemos contato ocular. Naquele momento, eu percebi

que minha primeira impressão daquele homem estava muito distante da verdade.

Atrás daqueles óculos finos, suas pequenas pupilas davam a impressão de sanpaku[1].

Lábios curvados em um sorriso. Juntos, davam um sentimento de insensibilidade e frieza. Suor

frio caia pelo meu corpo.

“Sobre o que eu havia dito...”

Sugou deu um sorriso entediado.

“É isso mesmo, Asuna irá se casar comigo.”

Eu não podia dizer uma palavra. O que ele disse? A observação de Sugou fez meu corpo

explodir em um frio. Depois de alguns segundos com aquele silêncio mortal, eu consegui cuspir

aqui “Você pensa que eu vou deixar isso acontecer?”

“Oh, é claro. Para receber a aprovação dela nessas circunstâncias é impossível. No

papel, eu sou o filho adotivo da família Yuuki. Na realidade, porém, ela me odiava já há algum

tempo.”

Os dedos de Sugou se aproximaram dos lábios de Asuna.

“Pare!”

Eu subconsciente agarrei a mão de Sugou, o afastando do rosto de Asuna.

Furioso, eu gritei “Seu desgraçado... Como ousa explorar a condição da Asuna?!”

“Explorar? Não, não. Isso está nos limites. Honestamente, Kirigaya-kun. Você sabe o

que aconteceu com a companhia que fez SAO, «Argas»?

“Eu ouvi que eles quebraram.”

“Correto. Os custos de desenvolvimento, além de todos os danos causados os

colocaram em débito e a companhia logo declarou falência. Então, a manutenção do servidor

de SAO passou para as mãos do departamento de tecnologia FullDive da RECTO. Mais

especificamente, meu departamento.”

Do outro lado da cama, Sugou voltou a olhar para mim, revelando um sorriso

demoníaco, ele voltou a tocar as bochechas de Asuna.

“Ou seja, ela está viva por que eu permito. Então, você não acha que eu deveria ser

compensado por esses problemas? Estou errado?”

Ouvir isso apenas fortaleceu minhas convicções.

Esse homem quer explorar a condição de Asuna e usá-la para conquistar suas

ambições.

Ficando de pé e virando-se, olhando com desprezo para mim, o sorriso desapareceu de

seu rosto. Em um tom gélido, ele falou mais uma vez.

“Eu não sei o que aconteceu entre você e Asuna naquele jogo, mas eu quero você fora

da vida dela de agora em diante, eu espero que você não venha fazer mais contanto com Yuuki

e sua família.”

Eu apertei meus punhos, raiva e minha incapacidade de fazer algo. Eu me senti tão

impotente.

Depois de algum tempo em silêncio, Sugou voltou em seu tom zombeiro:

“A cerimônia de casamento vai ser semana que vem, bem aqui, nesta ala. Eu espero

que você venha. Esperamos encontrá-lo aqui, Herói-kun.”

Eu queria uma espada. Eu perfuraria seu coração e cortaria seu pescoço. Eu não sei se

ele sentiu esses pensamentos que ferviam dentro de mim, mas ele bateu no meu ombro e

partiu, saindo do quarto.

Enquanto eu voltava para casa, a memória daquele encontro continuava fresca na

minha mente. Eu me deitei na cama e comecei a encarar o teto em um estado de estupor.

Isso mesmo, Asuna irá se casar comigo.

Ela está viva por que eu permito isso.

Meu encontro com Sugou se repetiu de novo e de novo na minha cabeça, como um

filme em loop. Meu coração batia como um metal retorcido quente.

Sugou era a pessoa que sempre esteve mais próximo da família Yuuki. Essa também era

razão dele ter se tornado o noivo de Asuna. Ele recebeu a confiança de Yuuki Shoujo e também

possuía uma grande responsabilidade na Recto. Asuna provavelmente teve esse casamento

arranjado com esse homem antes mesmo de nos conhecermos em Aincrad. Comparado a ele,

nosso tempo juntos foi provavelmente nada mais que uma ilusão. A indignação de ter de

entregar Asuna aos desejos daquele homem, que eram na melhor das hipóteses, caprichos de

uma criança pequena.

Para nós, o castelo flutuante de Aincrad era o mundo real. Os votos que nós trocamos

ali, as palavras, tudo brilhava como uma joia.

«Eu quero ficar do lado do Kirito para sempre»

“Desculpe-me... Desculpe-me, Asuna... Eu... Não posso fazer nada...”

Lágrimas de tristeza desceram pelo meu rosto, potsu, potsu, até o topo do meu punho

fechado.

[1]: Olhos afiados, culturalmente, uma pessoa com olhos de sanpuku é “fria, cruel”.

Alguém aí gritou Hajime Saito de Samurai X?

Parte 4

“Onii-chan, o banheiro está livre!”

Suguha gritou em direção do quarto de Kazuto, localizado no segundo andar, mas não

houve resposta.

Naquela noite, depois de voltar do hospital, Kazuto se trancou no quarto sozinho, sem

descer para o jantar.

Suguha colocou a mão sobre a maçaneta, mas hesitou. Se ele não estava dormindo,

então talvez ele tivesse pego um resfriado, ela pensou. O que lhe deu forças para girar a

maçaneta.

Kacha~. A porta revelou um quarto escuro.

Ele deve estar dormindo, ela pensou, e quando ela se virou para deixar o quarto, uma

rajada de vento frio soprou, fazendo-a se arrepiar. A janela parecia que estava aberta. Não

havia outra explicação, ela pensou, balançando a cabeça.

Ela atravessou o quarto em passos silenciosos, se aproximando da janela... Apenas para

encontrar seu irmão bem acordado, curvado em cima da cama.

“Ah, Onii-chan. Desculpe-me, eu pensei que você estava dormindo.” foi a resposta

imediata de Suguha.

Depois de alguns segundos de silêncio, Kazuto respondeu com uma voz sem nenhum

traço de emoção, “Desculpe, mas você poderia me deixar sozinho?”

“Mas, mas, o quarto está tão frio...”

Suguha pegou as mãos de Kazuto por um momento. Elas estavam frias como gelo.

Um pouco de luz entrou pelas cortinas, vindo de um poste na rua, iluminando o rosto

de Kazuto. Naquele momento, Suguha entendeu que algo havia acontecido com seu irmão.

“O que houve?”

“Nada.”

Sua resposta não foi mais do que um sussurro

“Mas...”

Sem esperar ela terminar, ele escondeu o rosto com as mãos. Escondendo-se de

Suguha, e com um pingo de amor próprio, ele disse, “Eu sou mesmo inútil. Não faz muito

tempo que eu jurei nunca dizer de novo essas palavras nefastas...”

Com apenas metade de suas palavras, Suguha já havia entendido o que aconteceu.

Falando em uma voz trêmula, quase silenciosa, ela perguntou, “Aquela pessoa... Asuna-san... O

que aconteceu com ela?”

O corpo tenso de Kazuto, em voz baixa, repleta de dor, respondeu “Asuna... Se foi...

Para algum lugar. Um lugar distante... Um lugar... Onde minhas mãos não podem alcançá-la.”

Aquilo estava claro para ela. Ver Kazuto, chorando como uma criança na sua frente. O

coração de Suguha sentia-se tocado.

Ela fechou a janela, puxou as cortinas, ligou o ar condicionado e sentou-se ao seu lado.

Ela hesitou por um momento, antes de pegar naquelas mãos frias novamente. O corpo curvado

de Kazuto relaxou por um instante.

Suguha sussurrou em sua orelha.

“Anime-se. Se ela é mesmo a pessoa que você ama, então não desista dela tão fácil.”

Essas palavras não vieram facilmente, e falá-las fez o seu coração ser atravessado por

uma espada. Um sentimento profundo de seu coração começou a fazer seu peito doer. Eu

gosto do Kazuto Onii-chan, esse foi o sentimento poderoso que veio em Suguha naquela vez.

Eu também. Eu não posso mais mentir para mim mesma.

Suguha ajudou seu irmão, gentilmente o movendo em sua cama, pegando os

cobertores, então os colocando sobre seu corpo.

Quanto tempo ela junto a ele, ela não sabia, mas o choro abafado de Kazuto se tornou

um pacífico silêncio de sono, Suguha fechou seus olhos, enquanto seu coração sussurrou

silencioso para ela—Minha única opção é desistir. Tudo que eu posso fazer é enterrar esse

sentimento, cada vez mais fundo. Por que no coração de Kazuto, ela já está lá. Lágrimas

começaram a cair pelas bochechas de Suguha, antes de desaparecer inteiramente.

Meu sono doce e suave foi destruído por uma explosão súbita de calor.

Eu não estava totalmente acordado, mas havia algo quente em cima de mim, como se

fosse a luz do sol, atravessando os galhos de uma árvore e tocando minha bochecha.

Meus olhos estavam fechados e eu abracei a forma adormecida. Nós estávamos pertos

o suficiente para que eu pudesse ouvir sua respiração, então eu abri meus olhos um pouco e-

“Uwwah!?”

Eu segurei um grito e me afastei uns cinquenta centímetros, meu corpo voltou a uma

posição sentada e eu rapidamente olhei ao redor.

Isso era o que eu sempre via em meus sonhos. Aincrad, o vigésimo segundo andar,

minha casa na floresta—impossível. Partes da realidade estavam aqui, meu quarto e minha

cama. Entretanto, para parte de mim, havia outra pessoa.

Eu estava mudo. Totalmente acordado, eu me afastei rápido e coloquei o cobertor

sobre o meu lugar. O cabelo escuro curto, suas sobrancelhas proeminentes, Suguha estava

deitada de pijamas com meu travesseiro.

“Como... Como isso...”

Depois de pensar com cuidado, finalmente lembrei o que havia acontecido ontem à

noite. É mesmo, ontem à noite, depois de voltar do hospital, parece que eu falei um pouco com

a Suguha. E vendo o desespero e a dor que me fez chorar, ela me confortou, e eventualmente,

eu acabei dormindo.

“Honestamente, como uma criança...”

Depois de sentir-me um tanto envergonhado, eu olhei para Suguha, que sempre foi de

dormir rápido, ela não devia estar fazendo isso.

Eu subitamente lembrei que algo similar aconteceu 'naquele' mundo. Suguha era

muito parecida com a Beast Tamer[1] que eu encontrei uma vez no quadragésimo andar. Ela,

também, acabou se arrastando para minha cama, me causando problemas parecidos.

Eu sorri enquanto lembrava. Meu encontro com Asuna e Sugou Nobuyuki continuava a

me encher de preocupação, mas um pouco daquela dor lentamente desapareceu ontem à

noite.

Minhas memórias daquele mundo—o castelo voador de Aincrad—são um preciso

tesouro para mim. Memórias felizes, memórias tristes—mais do que eu possa contar—mas

todas elas são reais. Eu não devo tratá-las de outra forma, incluindo o encontro entre Asuna e

Eu nesse mundo mais uma vez. Deve haver algo que eu possa fazer.

Justamente enquanto eu pensava nisso, na minha frente, Suguha murmurou algo

enquanto dormia que entrou por meus ouvidos.

“Desistir... Não é permitido...”

“O que você disse está absolutamente correto.” Eu sussurrei de volta. Então, sentando-

me. Eu toquei o rosto de Suguha com meu dedo.

“Ei, acorda. Já é de manhã.”

“Hmmph.”

Ela soltou um gemido de insatisfação, então alcancei as cobertas e belisquei suas

bochechas.

Suguha finalmente abriu seus olhos.

“Ah. Bom dia, Onii-chan.” ela murmurou, enquanto levantava-se dos cobertores

preguiçosa.

Então, ela olhou para mim com surpresa e rapidamente olhou ao redor. Seus olhos

semi-abertos, ainda adormecidos se abriram e suas bochechas ficaram vermelhas.

“Ah! Um, Eu...”

Suas orelhas ficaram vermelhas, seu corpo, rígido. E ela subitamente saltou e correu

para fora do quarto o mais rápido que pode.

“Honestamente...”

Eu balancei minha cabeça, então me levantei para abrir a janela, respirei fundo o ar frio

para me livrar da fadiga.

«Notícias» chegaram enquanto eu pegava uma muda de roupa para tomar banho.

Havia um som eletrônico e eu pude ver o alerta de e-mail piscando, então me sentei e

toquei no terminal EL.

Como já se passaram dois anos enquanto eu estive dormindo, a estrutura dos

computadores passou por muitas modificações. O mais legal é que o velho HDD (Hard Disk

Drive) desapareceu completamente e foi substituído pelo moderno SSD( Solid Storage Drive)

que se tornou o novo padrão e cria uma MRAM ultra volátil. Não há lag durante a

transferência: a mensagem é enviada e recebida instantaneamente. O e-mail enviado que tinha

acabado de chegar, tinha como 'remetente' <Egil>.

No 50º andar do bloco principal de Aincrad vivia Egil, o dono de uma loja que ficava em

'Algate'. Nós nos encontramos pela primeira vez no dia 20 em Tóquio e trocamos endereços de

e-mails, mas essa era a primeira vez que nós estávamos de fato se contatando. O título da

mensagem era: “OLHE ISSO.” Quando eu abri, não havia texto, apenas uma imagem.

Eu abaixei a imagem e ampliei a foto no monitor. A imagem começou a ser ampliada na

tela.

A composição era incrível. Você podia ver as cores características e que a luz

obviamente não era do mundo real, mas gráficos criados por computador. Um mundo ilusório.

Em primeiro plano havia uma gaiola dourada com uma mesa e uma cadeira brancas. Uma

garota em um vestido branco sentada, olhando cuidadosamente para fora da gaiola, no seu

rosto--

“Asuna!?”

A imagem era muito irregular, mas essa garota, com seus cabelos castanhos era, sem

dúvida alguma, Asuna. O seu rosto desolado e suas mãos sobre a mesa. Uma olhada mais

cuidadosa mostrava assas transparentes por de trás dela.

Eu agarrei o telefone em cima da mesa e como um disparo, comecei a digitar o número

que estava na minha agenda. A chamada deve ter durado apenas alguns segundos, mas eu

senti como se tivesse passado horas. Finalmente, a linha foi estabelecida e uma voz profunda

respondeu do outro lado.

“Alô.”

“Ei!! O que é essa imagem afinal!?”

“Olha, Kirito, você devia ao menos se apresentar.”

“Eu não tenho tempo! Rápido, me conte!”

“É uma longa história. Você pode vir aqui?”

“Estou a caminho. Logo estarei aí.”

Sem nem esperar uma resposta, eu desliguei o telefone e troquei de roupa. Eu nem

tomei banho, sequei meu cabelo e calcei meus sapatos o mais rápido possível em toda minha

vida. Sem nem perceber eu já estava na minha bicicleta, correndo. Nunca essa estrada pareceu

tão longa, mesmo eu já tendo passado por ela incontáveis vezes.

O bar e café do Egil é localizado em Taito Okachimachi e eu logo vi um letreiro escuro

de metal, decorado com dois dados, cujo nome era «Dicey Café»

Eu abri a porta e ouvi um barulho de sino na porta. O homem careca do outro lado do

balcão olhou para mim e riu. Nenhum cliente estava visível.

“Oh, você é bem rápido.”

“Os negócios estão fracos como de costume. Como que isso sobreviveu nos últimos

dois anos?”

“Claro que está lento agora, mas melhora durante a noite.”

A conversa leve me acalmou um pouco, como se eu tivesse voltado para esse mundo.

Nosso encontro fora algo que aconteceu no fim do mês passado. Naquele tempo, eu

recebi os nomes verdadeiros e endereços de alguns jogadores do Ministério de Assuntos

Internos. Cline, Nishida, Scilica e Lizbet, além de outros jogadores. Apesar de haver vários

jogadores que eu queria ver de novo, as coisas estavam enfrentando seus próprios problemas

agora que eles voltaram para o mundo real, então manter contato era difícil. O primeiro lugar

que eu visitei foi essa loja.

“Então, o que você quer eu lhe diga?”

O dono da loja parecia um tanto infeliz.

Seu nome verdadeiro é Andrew Gilbert Mills. Eu achei incrível que ele tenha uma loja

no mundo real também.

Apesar de ser Afro-Americano por etnia, seus pais sempre gostaram do Japão e ele

abriu o seu bar café aqui, em Okachimachi com 25 anos. Além disso, entre seus clientes, ele

conheceu uma bela e virtuosa esposa. Afinal; ele também; esteve preso no mundo de SAO por

dois anos. Ao retornar, a loja que ele esperava estar fechada há muito tempo havia sido salva

pelos esforços da sua esposa. Uma estória realmente tocante.

Para falar a verdade, era um tanto estranho não ter muitos clientes. A loja possuía um

layout compacto, mas com quatro cadeiras e um balcão. Era um lugar brilhante e colorido,

tanto atraente quanto relaxante.

Eu sentei em um banco de couro, pedi uma xícara de café e comecei a questionar Egil

sobre a imagem.

“Então, qual é o lance dessa imagem?”

O dono da loja não respondeu imediatamente. Ao invés disso, ele trouxe um pacote

retangular que estava em baixo do balcão e me entregou.

O pacote era claramente um jogo. Particularmente, eu tomei nota de algo escrito no

canto direito superior: «Amusphere».

“Eu nunca ouvi falar sobre esse hardware.”

“«Amusphere». Isso apareceu quando nós estávamos naquele mundo. Ele é o futuro

da tecnologia FullDive, o sucessor do NERvGear.

Enquanto eu olhava para o logo em um misto de sentimentos, Egil me deu uma

explicação simples.

Depois do incidente, o NERvGear foi taxado de 'maquina do demônio' então nenhum

produtor de manufaturados quis se envolver com a tecnologia FullDive para jogos. Entretanto,

6 meses depois do Incidente SAO, uma nova companha foi fundada com o slogan “segurança

absoluta”. Essa companhia lançou os modelos sucessores do NERvGear e nós que estávamos

presos em Aincrad naquele tempo, não tivemos conhecimento disso.

Isso me ajudou a entender a situação um pouco melhor, mas porque eu não venho

dando muita atenção aos jogos que se seguiram depois do que aconteceu, eu ainda não tenho

total entendimento das coisas.

“Então, isso também é um VRMMO?”

Eu passei minha mão nisso e cuidadosamente inspecionei. As imagens mostravam uma

floresta densa como uma lua cheia no alto, na frente uma garota com roupas de fantasia.

Espada em mão, ela atravessava o céu com um par de assas transparente. Abaixo da ilustração,

o título— «Alfheim Online»

“Alfheim... Online? O que isso deveria se significar?”

“Justamente como soa o nome. Significa 'Casa dos Elfos.'”[2]

“Elfos? Eu ainda não entendo. Esse jogo não é muito sério, é?”

“Isso, huh, talvez seja. Eu ouvi que é bem difícil, na verdade.”

Egil colocou uma xícara de café na minha frente, rindo, eu levantei a xícara e apreciei a

fragrância, quando voltei a perguntar.

“Qual o nível de dificuldade?”

“O sistemas de SKILL é no extremo e o jogo é focado nas habilidades dos jogadores.

Cometer PK é algo encorajado.”

“Extremo...?”

“«Níveis» não existem nesse jogo. Todas as habilidades só evoluem através da

repetição. O sistema de batalhas é baseado nas habilidades atléticas dos jogadores, em vez das

Sword Skills[3] de SAO, mas com pequenas diferenças, a tecnologia é a mesma de SAO.

“Ah. Isso parece bem impressionante.”

Deixei escapar um assobio de apreciação. A criação do Castelo Voador Aincrad tomou

todos os esforços do gênio insano Akihiko Kayaba. Alguém ter conseguido criar um mundo

virtual do mesmo nível é um tanto difícil de acreditar.

“PK é encorajado?”

“Na criação do personagem, os jogadores escolhem uma entre várias raças de fadas e

apenas através de raças opostas que isso é possível.”

“Isso torna as coisas tão difíceis que é quase ridículo. Independente de ter sido feita

com um alto nível de tecnologia, parece ser o tipo de coisa feita apenas para jogadores

fanáticos. Eu duvido que seja tão popular assim.” Eu disse com uma careta.

Quando Egil escutou isso, ele trocou a expressão séria por um sorriso.

“Eu costumava pensar assim também, mas agora eu penso que é vai ser muito popular

com o público atual, por causa do fator principal desse jogo: você tem a habilidade de «Voar».”

“Voar...?”

“Com asas de fadas. Diferente dos jogos anteriores, o controlador é equipado com

apetrechos de voo, permitindo aos usuários voarem livremente.”

Eu nunca pensei nas possibilidades de voar antes. Depois que o NERvGear foi

desenvolvido, muitos jogos de voo foram desenvolvidos, mas eles eram todos baseados no

controle de veículos. Voar por meios humanos nunca fora introduzido por que o jogador não

tinha experiência de voar antes, então ele é incapaz de controlar o voo.

Nesses mundos imaginários, as coisas que o jogador podem fazer são as mesmas que

ele pode no mundo real. Por outro lado, coisas que não podem ser feitas aqui no mundo real,

não podem ser feitas lá. Colocar asas não é o mais difícil, mas sim o movimento muscular

associado com a movimentação das asas.

Em SAO, Asuna e eu possuíamos uma incrível habilidade de salto, então nós podíamos

imitar um voo, mas isso e um voo livre são coisas de mundos diferentes.

“O mero conceito de voar já incrível e tudo mais, porém, como isso funciona?”

“Quem sabe, mas deve ser bem problemático. Para começar, você tem que operar o

controle de apenas uma mão.”

“...”

Subitamente, eu senti um desejo de desafiar esse jogo, mas imediatamente isso me

deixou, me fazendo voltar para o café.

“Tá certo. Eu já tenho uma ideia de como é esse jogo agora. De volta ao principal, o

que é exatamente essa foto?”

Egil trouxe um pedaço de papel debaixo do balcão e colocou na minha frente.

Precisamente, algumas fotos.

“O que você vê?”

Depois de ouvir a pergunta, eu comecei a olhar para imagem um pouco, antes de

finalmente responder.

“Tão parecida... Com a Asuna...”

“Achei que você iria pensar o mesmo. É uma screenshot do jogo, a resolução está

muito ruim.”

“Rápido, explique.”

“Essa é uma screenshot desse jogo, Alfheim Online.”

Egil me entregou o jogo e as fotos. Havia uma screenshot do jogo, que mostrava o

mapa-múndi, bem como os territórios e na área central havia uma árvore enorme.

“Essa é a Árvore do mundo, ou Yggdrasil.”[4]

Egil apontou para a árvore.

“O objetivo dos jogadores é ser a primeira raça a chegar à cidade no topo dessa

árvore.”

“Não é permitido você simplesmente voar até lá, então?”

“Independente do quanto de resistência e energia você tiver, ainda existem limites.

Chegar aos ramos mais baixos dessa forma é quase impossível. Entretanto, sempre aparecem

pessoas com ideias malucas, como um grupo de cinco que usaram o sistema de voos como um

foguete multiestágio usando eles mesmos para impulsionar.”

“Hahaha, entendo. Mesmo que você diga que é maluquice, ainda é criativo.”

“Ah, aparentemente foi um sucesso. Entretanto, os galhos ainda são muito fracos,

então só podemos considerar em partes o feito deles. Para provar que eles conseguiram, ele

tiraram várias fotos. Uma delas, era essa gaiola pendurada em um galho enorme.”

“Gaiola do pássaro.”

Minhas palavras estavam carregadas com um sentimento indescritível, que fez minha

testa franzir. Estar preso... Esse pensamento surgiu de imediato na minha mente.

“Essa foto foi tirada assim que eles chegaram lá.”

“Mas por que a Asuna está aí?”

Eu Bambulagrbambargambambam o jogo de novo e olhei.

Foquei-me na imagem da foto. «RECTO Progress» .

“Qual o problema, Kirito? Seu rosto está um tanto pálido.”

“Nada... Não há mais fotos? Por exemplo, de «Outras pessoas do SAO», além da Asuna,

que não retornaram ainda?”

Na minha pergunta, o gerente da loja franziu a testa e balançou a cabeça.

“Não, embora eu já tenha ouvido coisas nesse sentido. Mas essas fotos do «Alfheim

Online» não podem explicar nada. Não se anime por tão pouco.”

“É... Eu sei.”

Eu olhei para baixo, pensando no que aquele homem- Sugou Nobuyuki – disse para

mim.

O gerente dos servidores de SAO era agora ele, que havia dito, com toda certeza, que

os servidores eram como uma caixa preta e que não podiam ser manipulados externamente.

Naquele momento, isso fez sentido para mim.

Entretanto, se Asuna continuasse dormindo, isso seria favorável a ele. Além do mais, a

garota que parecida com a Asuna estava presa em um VRMMO feito por nada mais nada

menos do que uma subsidiária da RECTO. Não havia como isso ser coincidência.

Eu considerei contatar o Ministério de Assuntos Internos, mas imediatamente mudei

de ideia. Minhas ideias ainda eram muito vagas e eu não tinha provas concretas.

Eu levantei a cabeça, o encanando.

“Egil, eu posso pegar isso?”

“Sem problemas... Você quer dar uma olhada?”

“Sim, eu quero confirmar por mim mesmo.”

Pela primeira vez, Egil deixou mostrar uma expressão duvidosa. Nós entendíamos os

perigos das Realidades Virtuais.

Eu encolhi os braços e comecei a rir.

“Eu acho que se eu vou tentar jogar isso, eu vou ter que comprar um novo console.”

“Você pode jogá-lo com o NERvGear. AmuSphere é apenas uma versão melhorada.”

“Isso é ótimo.”

Cruzei os braços e Egil sorriu de leve.

“Bem, não seria a primeira vez que você resgata alguém preso na própria consciência.”

“Não importa quantas vezes ela esteja presa ou aprisionada ou quantas vezes eu tenha

que fazer isso.”

E assim era. Asuna e eu não tivemos nenhum contato exceto a Internet via Nerve Gear.

Eu nunca recebi nada além disso. Nem cartas, nem sua voz.

Mas esses dias estavam esperando para terminar. Terminei meu café em um gole, e

levantei-me, O balcão de Egil era antigo, igual a sua loja em SAO, sem nenhuma caixa

registradora eletrônica e como lá, eu peguei algumas moedas e coloquei sobre o balcão.

“Então, eu vou indo agora. Obrigado pela recepção e pelas informações.”

“Você pode me pagar com outras informações. Você precisa resgatar a Asuna, para

pormos um fim nisso.”

“Isso mesmo. Algum dia, isso vai acabar.”

Eu bati a palma da minha mão com o punho. Então, abri a porta e saí.

[1]: Literalmente, um domador(a) de feras. São os personagens que lutam usando

monstros ou que os têm como companheiros (pets)

[2]: Mitologia Nórdica. Alf (elfo) heim (lar, casa).

[3]: As habilidades com espada. Como é um termo do jogo, decidi mantê-lo.

[4]: Mitologia Nórdica. Yggdrasil é uma árvore mitológica cuja as raizes estão no no

mundo infeior, é da sua madeira que foi feito o martelo do Deus Thor.

Parte 5

Suguha se deitou na cama, antes de rolar e enterrar seu rosto no travesseiro, chutando

a cama por alguns minutos.

Já era meio dia, mas ela ainda estava de pijamas. Hoje era segunda, 20 de Janeiro e as

férias de inverno já haviam acabado, mas Suguha, que estava no terceiro semestre do seu

terceiro ano do ginásio então ela podia começar a ir as aulas quando ela quisesse. Por essa

razão, ela ia apenas para dar um sinal de vida no clube de kendo.

Agora mesmo, sua mente estava repetindo a lembrança de novo e de novo, e ela já

havia perdido a conta de quantas vezes ela se repetiu. Ontem a noite – em uma tentativa de

aquecer seu irmão, ela acabou indo parar de baixo dos cobertores junto com ele, seus corpos

inseparavelmente perto um do outro antes de dormirem juntos. Demorou menos do que dez

segundos antes do sono, e sua fraca resistência agora era motivo de arrependimento.

“... Eu sou uma idiota! Idiota! Idiota!” ela gritou para dentro, enquanto golpeava o

travesseiro com seus punhos.

Ao menos eu podia ter acordado antes dele e escapado, mas ele acordou primeiro,

como eu posso olhar para ele agora?

Seu sentimento de vergonha junto aos seus sentimentos ocultos de amor e a dor

aguda em seu peito a impediam de respirar. Ela cobriu o rosto com ambas as mãos e

subitamente percebeu que estava de pijamas quando ainda estava ao lado do seu irmão,

causando outra pulsar profundo em seu coração.

De qualquer forma, golpear com shinai vai fazer tudo desaparecer, ela determinou,

levantando-se. No seu nervosismo, ela ficou na dúvida se seria melhor vestir seu kendogi[1] ou

roupas casuais, mas ela rapidamente trocou-se e partiu em direção do pátio para praticar.

Kazuto estava fora em algum lugar- ela não sabia onde exatamente e sua mãe, Midori,

sempre saia para trabalhar antes do meio-dia. Seu pai, Minetaka havia voltado para os Estados

Unidos fazia um ano, deixando Suguha sozinha em casa. Ela pegou um pão de queijo no canto

da mesa do café manhã, colocando direto na boca em um gesto grosseiro, enquanto sua outra

mão alcançava uma jarra de suco de laranja, antes de se sentar no corredor.

Justamente no momento em que ela dava uma grande mordida, Kazuto apareceu na

entrada, colocando sua bicicleta e a fitando.

"Guu!!"

Um pedaço do pão de queijo desceu por sua garganta e ela começou a acenar

freneticamente com a mão direita para pegar o jarro de suco- para perceber que ele estava

longe.

"Uahh, guu~~!"

"Whoa!"

Kazuto correu para o lado de Suguha, pegando a jarra e a inserindo com pressa em sua

boca. Bebendo desesperada o líquido frio, ela finalmente conseguiu engolir o pedaço da

comida presa.

“Uah! Morrer... Eu pensei que dessa vez eu iria morrer com certeza!”

“Que garota impaciente! Você sabe que se deve mastigar um pouco antes de comer?”

“Mmm ~”

Envergonhada, ela abaixou sua cabeça e olhou para os pés, Kazuto sentou-se ao seu

lado, abaixou-se e começou a desatar os tênis. Na visão periférica de Suguha, ela viu o perfil de

Kazuto, mais uma vez mordendo seu pão de queijo. E bem naquele momento, ele falou, “Certo,

sobre ontem à noite...”

Suguha subitamente engasgou e voltou a beber o suco.

"Ah, ah!"

"Então... Hã, Obrigado!”

"Eh...?"

Ouvindo aquelas palavras inesperadas, Suguha só pode encarar Kazuto.

“Graças a você, meu ânimo foi restaurado... Eu não posso desistir. Eu vou salvá-la e

trazê-la de volta para conhecer você.”

Suguha, suportando a dor em seu coração, sorriu e respondeu. “Mm. Ganbatte![2] Eu

também quero conhecer a Asuna.”

“Vocês duas iriam se dar bem.”

Kazuto deu um tapinha de leve no rosto de Suguha e se levantou.

“Então, te vejo mais tarde.”

Com isso, Kazuto começou a subir para o segundo andar e o vendo passar, Suguha

colocou o último pedaço do pão de queijo na boca.

Faça o seu melhor... Por mim também...

Alcançando o poço no pátio, Suguha começou seu suburi[3]. Segurando seu shinai, ela

começou a movê-lo no que poderia ser chamado de uma dança e lentamente começou a

aquecer seu corpo.

No passado, golpear com seu shinai era tudo que ela precisava para clarear sua mente,

mas hoje era decididamente diferente. O que estava em sua mente era impossível de apagar,

mesmo com ela presa agora a aquele lugar.

--Eu gostando do Onii-chan... Isso é mesmo certo?

Ontem a noite, por causa de tais pensamentos, ela decidiu desistir. Mas dentro do seu

coração, apenas seu Onii-chan estava; ela claramente entendia, que não podia fazer nada

quanto a essa dor.

--Mas... Talvez seja melhor assim.

Ela estava divida, em um conflito incerto do por que dela estar tão consciente dos

sentimentos que ela tinha por Kazuto. Ela, entretanto, sabia quando isso tinha começado.

Dois meses atrás, sua mãe foi contatada pelo hospital e ela disparou para o local sem

um único traço de hesitação, para estar ao lado do Kazuto, seus olhos brilhavam em lágrimas e

ela sorria de satisfação. Kazuto a alcançou, a respondendo em um tom nostálgico. Começando

naquele momento, um sentimento começou a ressoar pelo coração de Suguha, eu quero estar

perto dele, eu quero falar mais com ele, eu quero me jogar ao lado dele. Mas isso, é claro, não

era possível.

Apenas ficando ao seu lado e o observado era suficiente. Suguha assegurou a si

mesma, enquanto ela golpeava com seu shinai mais uma vez. Ela perdeu a noção do tempo

enquanto praticava, e só voltou a si, notando o tempo que se passou quando olhou no relógio,

apenas para ver que o sol tinha desaparecido sobre ela.

“Ah, eu não posso continuar assim. Eu tenho que encontrar uma pessoa.”

Cessando seus golpes vazios, ela colocou o shinai ao lado de um pinheiro e pegou sua

toalha para limpar o suor. Enquanto ela levantava a cabeça para olhar para o céu, o azul do céu

foi coberto pelas nuvens.

[1]: Roupas adequadas para a prática desportiva. Variam de acordo com o esporte.

[2]:”Se esforce!” “Faça seu melhor!”

[3]: Movimentos de aquecimento.

Parte 6

Eu entro de volta ao meu quarto, mudado, coloco meu telefone para o modo

silencioso. Sento na cama e abro minha mochila, tirando o jogo que Egil me deu.

«Alfheim Online».

Eu não ouvi muito sobre o jogo, então eu li o manual de instruções. Originalmente,

antes de jogar um MMMORPG, eu coletava informação através de revistas e fóruns, mas dessa

vez eu não tinha tempo para hesitar. Eu abri o pacote do jogo e coloquei o ROM dentro. Inseri

o roteador do Nerve Gear e coloquei o ROM na abertura. Depois de alguns segundos, o

indicador principal parou de piscar e ficou estável.

Sentando na cama, eu coloquei o «NERvGear» em meus olhos com ambas as mãos.

O antes brilhante NERvGear agora estava um tanto danificado pelo tempo, a pintura

estava gasta em vários lugares. Por dois anos, isso fora minha prisão e um companheiro de

armas confiável.

--Mais uma vez, por favor, empreste-me sua força.

Com isso em mente. Eu coloco o NERvGear sobre minha cabeça e afivelo a proteção no

queixo. Com tudo posicionado eu desço os óculos, fechando meus olhos.

Animação e ansiedade dominam meu coração, que bate acelerado, enquanto eu tento

desacelerar as batidas do meu coração, eu digo “CONEXÃO LIGAR!”

A luz passou através de minhas pálpebras fechadas e desapareceu de repente. A

transmissão dos meus nervos óticos foi cortada e meus olhos foram envolvidos pela escuridão.

Imediatamente, uma luz com as cores do arco-íris apareceu, então uma forma escrita

«NERvGear» gradualmente tornou-se um logo. As imagens, que antes estavam turvas, com o

propósito de confirmar a conexão com meu cortex visual, foram desaparecendo e uma linha de

texto abaixo do logo confirmava que a conexão visual estava OK.

Depois veio o teste de som e muitos sons estranhos soaram. Os sons que antes

pareciam distorcidos foram aos poucos se tornando belos e mudaram para uma harmonia

singular, antes de gradualmente diminuírem e logo morrerem. Quando isso se completou, uma

nova linha de texto apareceu confirmando que a conexão com o nervo auditor estava também

OK.

A conexão inicial procedeu. Agora eram as sensações de toque e gravidade, que me

fizeram parar de sentir minha cama e meu peso. Enquanto os testes de conexão continuavam

em vários sentidos, o número de Ok’s indicando conexões sucedidas aumentava. Se a

tecnologia FULLDIVE de fato evoluiu, então esse processo deve ter sido reduzido de forma

dramática, mas tudo que eu posso fazer é esperar enquanto termina.

Enfim, o OK final apareceu, no instante seguinte eu estava caindo em meio à escuridão

em direção das cores do arco-íris, para um mundo ilusório. Depois de passar por uma série de

anéis, eu cheguei a um mundo diferente.

--Na verdade, ainda é cedo para dizer isso. Fora da escuridão, surgiu uma interface de

registro de conta. O logo principal de Alfheim Online apareceu gradualmente, acompanhado

por uma voz feminina suave.

Seguindo as instruções dadas, eu comecei a criar minha conta e personagem. Na altura

do peito estava um teclado virtual pálido e brilhante. Eu entrei com o ID do Usuário e a senha

como solicitado. Após muitos anos de experiência antes de começar SAO, esse procedimento

era de certa forma, familiar. Se esse fosse um jogo baixado eu normalmente teria de selecionar

a forma de pagamento, mas como eu comprei o jogo, ele veio com um mês de

experimentação.

Depois, era o momento de escolher o nick do meu personagem. Eu não dei muita

atenção, mas coloque o nome «Kirito»

Esse nome é uma abreviação do meu nome verdadeiro, Kirigaya Kazuto e não havia

muitos que soubessem disso. Aqueles que sabiam disso eram apenas o time de resgate do

Ministério de Assuntos Internos e aqueles que tem uma conexão próxima; o presidente da

Recto, Yuuki Shoujou e aquele Sugou. É claro, isso também inclui Egil e Asuna, que ainda não

acordou. Mesmo Suguha nem meus pais sabem disso.

No incidente SAO, nenhuma informação veio ao público, especialmente os nomes dos

personagens, isso por que naquele mundo brigas entre jogadores eram freqüentes, e

resultavam em mortes horríveis no mundo real. Se publicação irrestrita de informação fosse

permitida, não seria difícil imaginar o número de processos que seriam iniciados.

Até o momento, a culpa pelas mortes em SAO foram inteiramente colocadas nos

ombros de Kayaba Akihiko cuja localização continua desconhecida. Parentes dos jogadores

continuam a processar a Argus por danos, como consequência houve a quebra da companhia.

Enquanto a companhia suportava sozinha a puxada na cortina de Kayaba, a torrente inevitável

de processos por danos continuava em todo o país.

Acabei percebendo que o nome era do conhecimento por Sugou Nobuyuki e havia se

tornado um nome bem conhecido, então eu o mudei para forma romanizada do que na forma

de Kana[1]. Meu gênero escolhido era, é claro, masculino.

Então, uma voz me avisa que eu precisava criar meu personagem. É aqui que o jogador

escolhe como o personagem deve parecer. Muitos dos parâmetros são escolhidos

aleatoriamente pelo sistema e o sistema não explica como mudá-los. O que incomodava é que

mais informações adicionais seriam pedidas para mudar minha aparência, do jeito que estava,

estava bom.

Existem nove raças diferentes de fadas para escolher na hora de decidir a classe do

meu personagem. Todas as raças tinham seus pontos fortes e fracos, que eram explicados

antes de eu escolher. Salamanders, Sylphs e Gnomos eram bastante comuns em RPGs, mas

Caith Siths e Leprechauns nem tanto.

Eu não planejo jogar esse jogo com seriedade, então qualquer coisa está bom. Então

como eu gostava do inicial, com equipamentos escuros, eu selecionei «Spriggan» e apertei OK.

Depois de completar configuração inicial, uma voz artificial dsse “Boa sorte”, eu fui

enviado novamente em um vórtex de luz. De acordo com aquela voz, eu estava sendo enviado

a cidade inicial da minha raça, os Spriggans. O ponto de inicio do jogo. A sensação do chão

desapareceu e foi substituída por uma sensação de flutuar, então de estar entrando em um

novo mundo. Uma luz brilhante marcava a transição e um novo mundo aos poucos imergia,

ganhando forma. Eu estava caindo em direção de um vilarejo, vindo da escuridão.

Depois de dois meses longe do FullDuve, o estimulo voltou a despertar meus nervos.

Dessa maneira, eu lentamente me aproximei do castelo no centro da cidade-

Naquele instante, uma cena diante dos meus olhos me fez congelar. Defeitos aqui e ali

começaram a aparecer e alguns polígonos, desaparecer. Um barulho como de um trovão pode

ser ouvido naquele mundo. A resolução de todos os objetos se distorceu e o mundo se

dissolveu, entrando em colapso.

“O que-O que diabos!?”

Nem mesmo o som do meu grito pode ser ouvido-Eu comecei a cair de forma violenta

novamente. Em direção a vasta escuridão, eu estava caindo em uma queda livre.

“O que eu faço agora!? AHHHHHHHH!”

Meus gritos foram absorvidos pela escuridão do vácuo, antes de desaparecer.