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Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores portugueses de meio-fundo e fundo enquanto jovens Orientador: Professor Doutor Paulo Jorge Colaço de Oliveira Vanessa Patrícia Martins Pacheco Setembro, 2015 Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Ciências do Desporto, área de Especialização em Desporto para Crianças e Jovens, nos termos do Decreto-lei n.º 74/2006, de 24 de Março

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Caracterização do treino de alguns dos melhores

corredores portugueses de meio-fundo e fundo

enquanto jovens

Orientador: Professor Doutor Paulo Jorge Colaço de Oliveira

Vanessa Patrícia Martins Pacheco

Setembro, 2015

Dissertação apresentada com vista à

obtenção do grau de Mestre em

Ciências do Desporto, área de

Especialização em Desporto para

Crianças e Jovens, nos termos do

Decreto-lei n.º 74/2006, de 24 de

Março

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II

Pacheco, V. (2015). Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores

portugueses de meio-fundo e fundo enquanto jovens. Porto: V. Pacheco.

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade

do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: Atletismo; Meio-Fundo e Fundo; Jovens; Processo de

Treino.

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III

Agradecimentos

Agradeço ao Professor Paulo Colaço por ter aceite orientar-me durante

todo o processo, e por toda a paciência e atenção disponibilizada.

Agradeço à coordenadora de mestrado, Professora Isabel Mesquita, pela

sua disponibilidade e competência ao longo de todo o mestrado.

Agradeço aos meus pais por acreditarem e investirem no meu trabalho.

Agradeço ainda a todos os meus amigos por todo o apoio incondicional,

em especial à Rita Neves, pela sua ajuda fundamental e pelo tempo dedicado.

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V

Índice Geral

Índice Geral ........................................................................................................ V

Índice de Figuras .............................................................................................. VII

Índice de Tabelas .............................................................................................. IX

Resumo ............................................................................................................. XI

Abstract ........................................................................................................... XIII

1. Introdução ................................................................................................. 17

2. Revisão da Literatura ................................................................................ 21

2.1 Processo de Treino de Meio-Fundo e Fundo em Crianças e Jovens .. 21

2.2. O Treino de Meio-Fundo e Fundo no Quénia ...................................... 23

2.3. Planificação e Estruturação do Treino................................................. 25

2.4. Meios e Métodos de Treino ................................................................. 27

2.4.1. Corrida Contínua .......................................................................... 27

2.4.2. Fartlek ........................................................................................... 27

2.4.3. Treino Intervalado ......................................................................... 28

2.4.4. Treino de Força ............................................................................ 29

2.4.5. Técnica de Corrida ....................................................................... 32

3. Objetivos ................................................................................................... 35

4. Material e Métodos .................................................................................... 39

4.1. Caracterização da Amostra ................................................................. 39

4.2. Instrumentos de Avaliação e Procedimentos ...................................... 40

4.2.1. Recolha de Dados ........................................................................ 41

4.2.2. Tratamento dos Dados ................................................................. 41

5. Apresentação e Discussão de Resultados ................................................ 45

5.1. Iniciação na Modalidade de Atletismo ................................................. 45

5.2. Meios e Métodos de Treino ao Longo do Percurso no Atletismo ........ 47

5.2.1. Corrida Contínua .......................................................................... 48

5.2.2. Velocidade .................................................................................... 48

5.2.3. Técnica de Corrida ....................................................................... 49

5.2.4. Treino de Força ............................................................................ 49

5.2.5. Treino Intervalado ......................................................................... 51

5.2.6. Fartlek ........................................................................................... 52

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VI

5.3. Planificação anual de treino ................................................................ 52

5.4. Volume semanal de treino ................................................................... 53

6. Conclusão ................................................................................................. 57

7. Bibliografia ................................................................................................ 61

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VII

Índice de Figuras

Figura 1 - Ano de iniciação na modalidade de Atletismo .................................. 45

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IX

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Organização da carreira desportiva no Atletismo (Direcção Técnica

Nacional, 2010) ................................................................................................ 25

Tabela 2 - Participações em Campeonatos Europeus e Mundiais e Jogos

Olímpicos ......................................................................................................... 39

Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47

Tabela 4 - Diversificação de métodos de treino de força ................................. 50

Tabela 5 - O treino intervalado como meio e método de treino no Meio-Fundo e

Fundo ............................................................................................................... 51

Tabela 6 - Valores médios e respetivo desvio padrão, valores mínimos e

máximos, e variância do número de unidades de treino realizadas por semana

pelos atletas nos diferentes escalões ............................................................... 53

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XI

Resumo

Portugal vive uma crise de resultados, no Atletismo, na disciplina de Meio-

Fundo e Fundo. Atualmente estamos perante um decréscimo de resultados

nesta disciplina, ainda que consigamos ser representados por algumas atletas

femininas a nível europeu e mundial; por contraste, no passado, foram

alcançadas grandes marcas por atletas como Carlos Lopes e Fernando

Mamede. Desde então, Portugal não conseguiu igualar estes feitos,

especialmente no setor masculino. O processo de treino dos atletas é o fator que

levanta mais dúvidas: Será que no passado, o treino das grandes referências

desportivas da corrida em Portugal, tinha características que não estão

presentes atualmente? Para responder a esta e outras questões torna-se

necessário conhecer o trabalho realizado na formação desportiva que terá

conduzido alguns dos melhores corredores portugueses do passado a atingirem

um sucesso internacional tão elevado enquanto seniores.

Este trabalho tem como objetivo estudar e caraterizar o tipo de treino

realizado e as metodologias utilizadas por alguns dos melhores atletas

masculinos portugueses de sempre, no Meio-Fundo e Fundo. De modo a cumprir

este objetivo procedeu-se à análise de um conjunto de entrevistas a 14 desses

atletas.

Com este estudo podemos concluir que os nossos atletas de elite do

passado realizaram um trabalho centrado na corrida contínua, no treino formal,

complementado com uma prática desportiva informal, mais alargada enquanto

jovens. A procura constante da competição, associada a intensidade e volumes

de treino, sugerem uma base de treino elevada ao nível da corrida. Este facto

terá justificado os elevados resultados obtidos, ainda que o trabalho de base, ao

nível da técnica de corrida e desenvolvimento da força, durante o treino formal,

tenha ficado aquém do esperado.

PALAVRAS-CHAVE: Atletismo; Meio-fundo e Fundo; Jovens; Processo de

Treino.

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XIII

Abstract

Portugal is facing a crisis in the results of middle-distance and long-

distance running competitions in Athletics. Nowadays, we are being presented

with increasingly worse results in these modalities, although there are still female

athletes representing this country in European and World events; in contrast, in

the past, great scores were achieved by athletes such as Carlos Lopes and

Fernando Mamede. Since then, Portugal has not yet managed to match these

results, especially in the male sector.

The training process of the athletes is something that raises many

questions: is there such a gap between the training performed by the great

athletes of the past and what is currently being done? To answer this and other

issues, it is necessary to understand the work that lead the best Portuguese

runners of the past to achieve, as adult athletes, such big international success.

The purpose of this work is to study and characterize the types and

methodologies of training employed by some of the best male Portuguese

athletes to compete in middle-distance and long-distance running events. In order

to do so, interviews to 14 of them were analyzed.

With this study, we can conclude that our elite athletes of the past have

performed, while they were young, a training focused on continuous running, as

formal training, complemented with a wide range of informal sports activities. The

constant pursuit for competition, associated with the intensity and training

volumes, suggest a high basis of training in terms of running. This fact justifies

the obtained results, although the work basis, in terms of running technique and

strength development, during the formal training, did not have as much quality as

expected.

KEYWORDS: Athletics; Middle and Long-distance; Young Athletes; Training

Process.

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Capítulo 1

Introdução

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17

1. Introdução

Portugal vive uma crise de resultados no Meio-Fundo e Fundo. Ainda que

atualmente consiga ser representado por algumas atletas femininas em provas

a nível europeu e mundial, como Dulce Félix e Sara Moreira, estamos perante

um decréscimo de resultados. Por contraste, no passado foram obtidos

excelentes resultados nesta disciplina do Atletismo, por atletas como Carlos

Lopes, Fernando Mamede e Rosa Mota. Desde então Portugal não conseguiu

alcançar o mesmo nível de resultados, especialmente no setor masculino.

Existirão certamente diversos fatores que justificarão esta perda de nível

competitivo, sendo o processo de treino um dos que levanta mais dúvidas e

questões. Será que, no passado, o treino das grandes referências desportivas

da corrida em Portugal tinha características que não estão presentes

atualmente? Para responder a esta e outras questões torna-se necessário

conhecer melhor que trabalho na sua formação desportiva terá levado os

melhores corredores portugueses do passado a atingirem um sucesso

internacional tão elevado enquanto seniores. Este trabalho centrar-se-á portanto

na caraterização do treino realizado por alguns dos melhores atletas

portugueses de sempre no Meio-Fundo e Fundo, ao longo do seu processo de

formação desportiva.

Uma das inquietações que despoleta este estudo é se o treino realizado

pelas nossas referências da corrida no passado foi sustentado numa base

multilateral e multidesportiva ou se foi um treino centrado no volume, como o

exemplo de muitos atletas africanos, conhecidos pelos elevados volumes de

corrida realizados enquanto jovens. São vários os autores que defendem que a

base do treino de formação deve ser multilateral e com diversificação de

estímulos (Bompa, 2005, p.42; Gambetta, 1986; Jurisma, 1980; Kepka, 1994;

Lowes, 2005; Markus, 1976; Matweiev, 1990; Platonov, 1994; Proença, 1986;

Rolim, 1998; Schiffer, 2008) em contraste, são conhecidas as grandes

conquistas no Meio-Fundo e Fundo dos atletas africanos, que têm uma base

treino centrada no volume de treino e na elevada quantidade de quilómetros

percorridos (Denison, 2004; Paiva, 1995), e particularmente enquanto jovens.

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18

Não foi propósito deste estudo caraterizar o treino atual de jovens

corredores portugueses, mas sim acrescentar novos contributos relativos à

caraterização do treino dos melhores corredores portugueses de sempre,

especificamente no seu percurso de formação desportiva. Conseguimos para

isso utilizar um conjunto de dados relativos aos nossos melhores corredores de

sempre, como Carlos Lopes, Fernando Mamede, José Regalo, Ezequiel

Canário, entre outros.

De modo a concretizar o propósito do trabalho, a estrutura deste estudo

apresentará os seguintes capítulos: i) a Introdução, que descreve o estado do

conhecimento na área, e apresenta alguns problemas ainda não resolvidos,

define o objetivo principal do trabalho e por último apresenta um enunciado

resumido da estrutura do mesmo; ii) a Revisão da Literatura, que define o estado

atual de conhecimentos; iii) os Objetivos e Hipóteses, em que os estarão

sistematizados os objetivos gerais e específicos do trabalho; iv) Material e

Métodos, contendo a descrição e caracterização da amostra, a identificação das

técnicas e métodos, bem como os instrumentos utilizados e aos procedimentos

estatísticos empregues; v) a Apresentação e Discussão dos Resultados, em que

serão apresentados os resultados tratados e discutidos, analisando a sua

coerência e relação com a literatura; vi) a Conclusão, contendo uma

apresentação sintética das conclusões do trabalho, reportadas aos objetivos

definidos e culminando em níveis de generalização e abrangência; vii) por último

apresenta-se o capítulo da Bibliografia, que se reporta a todas as referências

utilizadas e toda a literatura útil na realização deste trabalho.

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Capítulo 2

Revisão da Literatura

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2. Revisão da Literatura

2.1 Processo de Treino de Meio-Fundo e Fundo em Crianças e

Jovens

O interesse na disciplina de Meio Fundo e Fundo da modalidade de

Atletismo surgiu obviamente pelo interesse demonstrado pela modalidade no

passado, e também pelo facto de os resultados alcançados por atletas como

Carlos Lopes, Fernando Mamede, Rosa Mota e mais recentemente Fernanda

Ribeiro, Carla Sacramento, Rui Silva e Paulo Guerra, se estarem a transformar

em memórias de um passado longínquo. Desde então Portugal ainda não

conseguiu ser representado por atletas com o mesmo estatuto.

A inquietação que fez nascer a investigação e a motiva é a de que

atualmente Portugal não consegue alcançar os resultados e potenciar atletas

como nas décadas anteriores, na disciplina de Atletismo de Meio-Fundo e Fundo.

Os motivos que despoletam esta situação poderão ser vários, desde a opção de

outro estilo de vida por parte dos atletas, até à inadequação do processo de

treino dos mesmos. Esta inadequação do treino gera maior preocupação e

necessidade de estudo da anamnese do treino que foi realizado. Uma vez que o

atleta está motivado e comprometido com o processo de treino, é preocupante

que este não consiga atingir os objetivos definidos em conjunto com o treinador.

O treino deveria potenciar as capacidades do atleta e o seu crescimento

desportivo. São vários os casos de desistência de atletas com talento natural

que após vários anos de dedicação à modalidade não conseguiram alcançar os

merecidos resultados desportivos, falhando as suas expectativas (Babo, 1996;

Cachada, 1994; Garcia e Marques, 1995).

O jovem talento não deve ser encarado como um adulto em miniatura

(Jones, 1993; Rolim, 1998, p.16), assim como os adultos não devem servir como

principais referências teóricas e práticas para o treino de Meio-Fundo e Fundo

de crianças e jovens. No entanto, o que é frequente acontecer é a adaptação

dos principais conteúdos e estrutura do modelo adulto de treino, impondo cargas

de treino elevadas no treino dos jovens. Isto poderá conduzir o atleta a um estado

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de sobretreino. Por outro lado, o treino realizado poderá ser insuficiente para a

criação de novas adaptações, que se traduz em subtreino. Assim, a adoção de

cargas desadequadas impossibilita a evolução do atleta e compromete o seu

percurso; bem como deve ser dada a importância merecida aos momentos de

recuperação e regeneração, pois sem os quais os efeitos positivos da carga de

treino são eliminados (Pedro e Colaço, 2001). Torna-se então fundamental

individualizar os estímulos ao atleta em todas as metodologias e métodos de

treino (Molfetta, 2009), até mesmo na corrida contínua (Proença, 1986), para que

o organismo adquira as adaptações desejadas (Platonov, 1994); trabalhando na

fronteira entre o subtreino e o sobretreino (Seiler e Kjerland, 2006). A

variabilidade do treino, através da manipulação dos meios e métodos de treino

é fundamental para o atleta se adaptar ao aumento progressivo da carga, que

por sua vez garante a evolução do atleta (Abrantes, 2006, p.114; Bompa, 2005,

p. 41; Rolim 1998, p.56).

No processo de treino de crianças e jovens, deve ser dada prioridade à

qualidade dos estímulos e à sua diversificação (Gambetta, 1986; Jurisma, 1980;

Kepka, 1994; Lowes, 2005; Markus, 1976; Matweiev, 1990; Platonov, 1994;

Proença, 1986; Rolim, 1998), em detrimento da quantidade e volume de treino.

Uma vez que o jovem já possui um talento natural para o Meio-Fundo e Fundo,

nomeadamente na capacidade aeróbia, é importante que se procure

desenvolver os aspetos técnicos da corrida, a força, a coordenação e o equilíbrio

(Bompa, 2005, p.41; Proença, 1986). O desenvolvimento da capacidade motora

de coordenação, assim como o aumento de unidades motoras recrutadas no

treino, e outro tipo de adaptações neurológicas irá justificar os ganhos de força

(Shiffer, 2013).

Uma vez que o atleta já apresenta uma boa capacidade aeróbia, mais

importante do que estimular as fibras lentas, é estimular as fibras rápidas

(Proença, 1986; Pohlitz, 1988, citado por Rolim, 1998, p.47), através de jogos e

do treino de propriocetividade, melhorando a sua velocidade. Com a melhoria da

velocidade potenciamos o jovem a ser capaz de variar o ritmo de corrida. Shiffer

(2013) refere ainda que apesar da fraca performance em exercícios anaeróbios,

a sua capacidade anaeróbia aumenta com treino anaeróbio. Aqui, os jogos que

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solicitam a capacidade de velocidade são importantes, para a estimulação de

diferentes níveis de intensidade e que ao mesmo tempo desenvolvem o espírito

competitivo do jovem. De modo a promover a evolução desportiva poderão ser

estabelecidos objetivos nos diferentes testes e jogos, motivando o atleta e

fazendo com que se supere a si próprio.

O treino multidesportivo deve estar presente de modo a desenvolver

várias e diferentes capacidades motoras (Bompa, 2005, p.42; Gambetta, 1986;

Rolim, 1998; Schiffer, 2008), não limitando a capacidade de movimento do atleta,

em oposição a um estilo de treino centrado no volume e na quantidade de

quilómetros percorridos. Na formação desportiva do jovem é importante recorrer

a métodos de treino diversificados e descentralizados do alcance de mínimos.

Os bons resultados poderão surgir, mas apenas como fruto de uma cuidada

planificação e estruturação de treino.

2.2. O Treino de Meio-Fundo e Fundo no Quénia

Ainda que se defenda que o treino em volume não deve ser prioritário no

treino em crianças e jovens, é um facto que no treino de Meio-Fundo e Fundo

realizado pelos quenianos, a metodologia presente é caraterizada pelo volume

de treino. No Quénia, a corrida contínua de longa duração é o método de treino

mais utilizado, havendo jovens que objetivam os 100km de corrida contínua por

semana (Paiva, 1995). Os atletas de elite com resultados desportivos de topo

foram localizados como sendo originários de grupos étnicos e tribos, estes

corredores conseguiram-se destacar internacionalmente, e desde 1990 que

conquistam sucessivamente títulos coletivos e individuais em provas de Meio-

Fundo e Fundo (Marc et al., 2014; Onywere et al., 2006, 2009; Scott et al., 2003).

Após a sua afirmação nesta disciplina, foi desenvolvida pela Federação de

Atletismo do Quénia uma boa estrutura competitiva, organizando regularmente

competições regionais e internacionais de corta-mato. Aqui a Federação de

Atletismo do Quénia, desenvolveu um trabalho de deteção e seleção de talentos

e um programa nacional de treino, em que as metodologias permanecem quase

inalteradas desde 1983. O nível de rendimento alcançado também proporcionou

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a melhoria e criação de infraestruturas, potenciando as condições de treino

(Paiva, 1995).

As caraterísticas inatas do somatótipo ectomorfo dos corredores de elite

quenianos contribui em parte para o seu sucesso em competições, devido à sua

eficiência metabólica e biomecânica (Billat et al., 2003; Larsen et al., 2004; Saltin

et al., 1995; Wilber e Pitsiladis, 2012). Os atletas quenianos além do talento

natural e das suas características morfológicas inatas para a disciplina de Meio-

Fundo e Fundo, os atletas quenianos sentem a necessidade de afirmação pela

sua fraca qualidade de vida. Estes jovens sentem-se motivados pela valorização

dos seus bons resultados desportivos. Algo influenciador da sua constante

afirmação é o meio que os envolve: vivem a 2000 metros de altitude; têm uma

alimentação proporcional às suas condições de vida; e são poucas as

alternativas a uma futuro desportivo prestigiado e recompensado pelo governo.

(Onywere et al., 2006, 2009)

Relativamente à metodologia de treino dos atletas quenianos, consiste em

corrida contínua de longa duração; alternâncias de ritmo durante a corrida

(fartlek); treino intervalado extensivo curto (150 metros a 200 metros, com tempo

de recuperação curto e várias repetições); treino de rampas, em 90 minutos de

corrida contínua, ou 20 a 30 repetições de 150 metros a 300 metros em

intensidade média, 60 a 80 minutos de 10 a 20 repetições dos 60 aos 150 metros;

ainda realizam uma corrida de 10 a 15 km, em grupo, em ritmo de competição,

denominada “pulk run”, não existindo um tipo de treino individualizado; por fim,

o treino em circuito com a utilização de cargas ligeiras, aparelhos ou o peso do

corpo, é apenas utilizado em atletas das Forças Armadas. O dia descanso é

definido pelo atleta, tendo em conta as suas próprias sensações (Paiva, 1995).

Verificámos portanto que o processo de treino no Quénia é caracterizado

pela dificuldade, sacrifício, esforço e pela competitividade com outros jovens que

procuram alcançar melhor qualidade de vida através do desporto; os resultados

são assim alcançados por este método (Denison, 2004). Em Portugal é

importante que os atletas se sintam motivados a superarem-se constantemente

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tendo por base o conhecimento e a formação; em vez de uma estrutura de treino

demasiado exigente, sacrificante e pouco apelativa.

2.3. Planificação e Estruturação do Treino

O treino com jovens deve ser encarado como um processo educativo

projetado para o desenvolvimento das funções e capacidades dos mesmos. De

modo a elaborar um processo de formação eficaz, deve-se conciliar as condições

culturais, psicológicas e biológicas dos atletas com as componentes do treino e

a estrutura do desporto, nunca descurando os períodos propícios de estimulação

das capacidades motoras (Kepka, 1994).

É fundamental que o treinador conheça o atleta, de modo a produzir uma

planificação e estruturação do treino adequada ao mesmo; uma vez que nem

sempre a idade biológica e o seu estado de maturação correspondem à sua

idade cronológica (Direção Técnica Nacional, 2010).

Tabela 1 - Organização da carreira desportiva no Atletismo (Direcção Técnica Nacional, 2010)

Etapa Idades Escalões Objetivos

Fundamentos Até aos 10 anos Benjamins Aquisição das habilidades motoras básicas:

correr, saltar, lançar

Aprendizagem 10 – 13 Benjamins

Infantis

Aprender a treinar e treinar para aprender

Desenvolvimento 14 – 16 Iniciados

Juvenis

Treinar para treinar e desenvolver as

capacidades condicionais e técnicas de um

grupo de disciplinas

Especialização 17 – 19 Juvenis

Juniores

Treinar para competir e especializar numa

disciplina

Rendimento Mais de 19 Seniores Treinar para ganhar e otimizar o rendimento

A planificação das sessões de treino, de acordo com a Direção Técnica

Nacional (2010), deve obedecer à seguinte forma:

- Até aos 10 anos: 1 a 2 treinos semanais;

- Dos 10 aos 13 anos: 2 treinos semanais para Benjamins B e 3 treinos

semanais para os Infantis;

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- Dos 14 aos 16 anos: devido às diferenças da “idade biológica”, justifica-

se a amplitude de um mínimo de 4 treinos semanais a um máximo de 6 treinos

semanais;

- Dos 17 aos 19: mínimo de 6 treinos semanais; podendo ser introduzidos

os treinos bidiários, principalmente na segunda época de Juniores.

É importante referir que o treino bidiário é um método original da escola

de meio-fundo e fundo húngara (Paiva, 1995), em que os atletas realizam dois

treinos por dia e por vezes 3 treinos por dia.

- Mais de 19 anos: varia de acordo com as necessidades do atleta e com

o período da época, entre os 6 treinos (período competitivo) e os 12 treinos

(período preparatório).

No escalão de Benjamins a competição por equipas deve ser privilegiada,

através de formas jogadas (Gambetta, 1986; Marques, 1997) e com provas

adaptadas; atribuindo prémios a todos os participantes (Direção Técnica

Nacional, 2010). A estrutura das competições deve ser associada a convívios

desportivos (Proença, 1986), de modo a proporcionar momentos agradáveis e

experiências motivadoras aos atletas (Rolim, 1998).

Na etapa de Aprendizagem (Benjamins/Infantis), deve permanecer a

promoção do convívio e da competição por equipas, atribuindo prémios a todos

os participantes (Proença, 1986). A competição deve ser encarada como mais

uma componente no processo de treino, que aparece ao longo de toda a época

e deve servir como fator de motivação (Direção Técnica Nacional, 2010).

Na etapa de Desenvolvimento (Iniciados/Juvenis), é fundamental que o

planeamento da época seja feito em função das carências ao nível do treino e

não em função da competição (Direção Técnica Nacional, 2010). Aqui, o período

de preparação deve ser maior do que o período competitivo (Marques, 1997;

Platonov, 1994); e a competição serve como meio de controlo de treino e

motivação dos atletas. Esta periodização deve ocorrer ajustadamente à

organização do sistema educativo (Direcção Técnica Nacional, 2010; Manno,

1984; Marques, 1997). Uma vez que os resultados são consequência da

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27

evolução técnica e da capacidade condicional, é importante incutir também os

valores competitivos e uma atitude competitiva correta (Direção Técnica

Nacional, 2010).

Por último, na etapa de Especialização (Juvenis/Juniores), a participação

competitiva passa a ter uma importância muito maior, existindo inclusive um

calendário competitivo internacional (Marques, 1997); no entanto deve ser

garantida a continuidade da evolução do atleta, ao nível técnico e da sua

condição física (Direção Técnica, 2010). A atitude competitiva ganha forma nesta

etapa, de forma a preparar os jovens para o escalão de Seniores, em que a

competição é o objetivo da preparação. Neste momento o planeamento do treino

já pode ser elaborado tendo em conta o calendário competitivo, surgindo a dupla

periodização (Direção Técnica Nacional, 2010; Ferreira, 1994).

2.4. Meios e Métodos de Treino

2.4.1. Corrida Contínua

A corrida contínua tem lugar no treino durante todo o ano, e varia de

acordo com o período de treino. As unidades de treino de corrida contínua vão

diminuindo ao longo da época (Paiva, 1995). O volume e a intensidade da corrida

contínua deve ter em conta a especificidade da distância de competição. Ainda

que o treino de Meio-Fundo e Fundo dependa em grande parte da capacidade

aeróbia, é importante não exagerar no treino de volume de corrida. Através deste

método o atleta desenvolve a sua capacidade de realizar esforços prolongados.

2.4.2. Fartlek

O Fartlek consiste no treino da potência aeróbia, através da variabilidade

das intensidades de corrida (Ahmed et al., 2011), tendo em conta indicações do

treinador ou do próprio atleta, assim como as características do terreno. A

necessidade de desenvolver a velocidade e a resistência em simultâneo surgiu

pelo treinador sueco Gosse Holmer, criando este método. Este método está

frequentemente presente no treino de atletas de 1500 metros até 3000 metros.

Segundo Bravo et al. (1990) este tipo de treino não deverá exceder uma hora de

esforço.

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28

2.4.3. Treino Intervalado

Independentemente da especialidade, o atleta deve percorrer parte da

distância de competição na velocidade desejada de competição; para tal utiliza-

se o treino intervalado (Pereira, 1981).

Este método de treino pode ser classificado em função da distância e da

intensidade em Treino Intervalado Extensivo Médio, Treino Intervalado Extensivo

Curto, e Treino Intervalado Intensivo. O primeiro é também conhecido como

Treino de Ritmo. As distâncias utilizadas são de 3000m, 2000m, 1500, ou

1000m. No macrociclo de verão apenas são utilizadas as distâncias de 2000m e

1000m nos corredores de 10000m; e a distância de 1000m para corredores de

5000m. Os tempos de recuperação utilizados são de 5 a 6 minutos entre as

repetições de 3000m; e 4 minutos para as outras distâncias, valor que vai

decrescendo até aos 3 minutos. Assim, há um aumento de volume e um aumento

da intensidade. Através da escola australiana, foi adotada a possibilidade de

realizar um treino eficaz que alia a corrida contínua ao treino intervalado

extensivo médio (Paiva, 1995).

O Treino Intervalado Extensivo Curto foi criado na Alemanha por

Gerschler (Paiva, 1995). Este método foi utilizado por Moniz Pereira na sua

metodologia de treino em repetições sob distâncias de 100m, 150m, 200m ou

400m; com intervalos entre os 60 e os 90 segundos (Paiva, 1995). Na época de

Verão, com o aumento das competições em pista, predominavam as distâncias

de 100m e 150m, e as repetições variavam entre o mínimo de dez e o máximo

de vinte (Pereira, 1990, citado por Abrantes, 1990).

Por último, o Treino Intervalado Intensivo Curto, também chamado de

treino de velocidade por Moniz Pereira, é caracterizado pela intensidade elevada

e surge no início do macrociclo de Verão. Moniz Pereira selecionou as distâncias

de 300m, 400m e 500m para corredores de 5000m e 10000m; e de 150m, 200m,

250m, 300m, 400m e 500m para corredores de meio-fundo curto. Este tipo de

trabalho não era efetuado mais do que uma vez por semana e não mais do que

4 repetições; iniciando da maior distância para a menor; com intervalos que

rondam os 3 minutos (Pereira, 1981). Através destas sessões de treino de maior

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29

intensidade, o atleta irá desenvolver a sua economia de corrida (Daniels, 1998;

Sjoden e Svedenhag, 1985). Apesar de ter sido utilizado para trabalhar a

velocidade, este método de treino desenvolve essencialmente a velocidade de

resistência (Paiva, 1995).

2.4.4. Treino de Força

O treino de força deve fazer parte das sessões de treino (Carvalho, 1996).

O treino de força em crianças e jovens é seguro se devidamente conduzido e

estruturado, sendo uma parte essencial do treino no ponto de vista da saúde e

da performance (Oltmanns e Zawieja, 2011). Apresentar melhorias na corrida

implica o desenvolvimento da força e da capacidade de se movimentar

suportando o próprio peso do corpo. O treino de força deve servir também como

preventor de lesões, e é importante que este tipo de treino esteja presente em

todas as semanas de treino, pelo menos uma vez. (Barnes e Kilding, 2015;

Johnston et al., 1997; Paqvolainen et al., 1999; Saunders et al., 2006; Spurs et

al., 2003; Turner et al., 2003). Aqui, poderão ser utilizados diferentes meios e

métodos de treino com o objetivo de aumentar os níveis de força, como os treinos

em circuito; o treino em rampas e escadas; a corrida de curta distância em areia

e dunas; a inclusão de exercícios de treino de força isométrica e pliometria; e

também através da utilização de bolas medicinais e cargas adicionais.

O treino em diversos tipos de piso (estrada, relva, terra batida, areia e

dunas) proporciona ao atleta uma maior capacidade de adaptação e estabilidade

ao nível das articulações, fortalecendo-as (Karve e Tiwari, 2010). O método de

treino em areia e dunas é proveniente da escola australiana e foi adotado por

Moniz Pereira no treino de meio-fundo e fundo (Paiva,1995). A combinação de

treinos em diferentes pisos irá permitir ao atleta desenvolver os níveis de força

durante a corrida. A corrida em areia ou dunas pode ser alternada entre areia

molhada ou seca, e com subidas e descidas, e ainda em diferentes intensidades

de corrida.

O treino com cargas adicionais poderá ser utilizado na parte inicial da

época de modo a promover um aumento rápido dos níveis de força, mas tendo

sempre em conta que estes ganhos rápidos de força não se traduzem em

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30

especificidade; e é através do treino da utilização eficaz da força, de forma

específica, que conseguimos melhorar a corrida (Pedro e Colaço, 2001).

Apesar de não ser um tipo de treino comum no Meio-Fundo e Fundo, o

treino com pesos livres é frequentemente realizado (utilizando, por exemplo,

halteres). Neste tipo de exercício, é exigido ao atleta que supere os

desequilíbrios e a instabilidade causada pela carga adicional, provocando o

desenvolvimento da sua estrutura muscular e desencadeando maior eficácia no

seu movimento; ou seja, predominantemente o atleta desenvolverá a sua

capacidade de mobilizar as estruturas musculares. No entanto, este tipo de treino

em Meio-Fundo e Fundo é apenas utilizado quando surge a necessidade de

realizar um reforço muscular maior ou hipertrofia; o que significa que este tipo de

trabalho apenas é utilizado em momentos específicos da época (período

preparatório e recuperação de lesões) (Pedro e Colaço, 2001).

A presença de objetos, como por exemplo bolas medicinais, confere ao

treino caraterísticas lúdicas, o que por sua vez faz com que os jovens se sintam

motivados no treino (Rolim, 1998); a sua presença é imprescindível nos períodos

preparatórios, devido ao desenvolvimento do nível de força geral que

proporciona.

O treino em circuito é um tipo de treino bastante versátil, de intensidade

elevada e que é fortemente utilizado no Meio-Fundo e Fundo. Através dele

conseguimos selecionar um conjunto de exercícios, com transferência para a

corrida, que produzam ganhos significativos nos níveis de força e na componente

cardiovascular. É um tipo de treino que pode ser bastante diversificado e

adaptado às características do atleta. Na sessão de treino podem ser

adicionadas cargas ligeiras e com seleção de estruturas musculares específicas

a serem trabalhadas. Relativamente à estrutura, podem ser determinadas 8 a 12

estações ou exercícios de 30 segundos de execução e 30 segundos de intervalo;

este conjunto de estações ou exercícios podiam ser repetidos entre 1 a 3 séries

de 3 minutos de intervalo entre elas (Pedro e Colaço, 2001). Assim, revela-se

um treino bastante motivador para os jovens atletas, pela sua caraterística de

diversificação e porque permite controlar a evolução no número de repetições.

Page 31: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

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O treino de força isométrica é utilizado na prevenção de lesões, mas

também para garantir melhorias ao nível do controlo postural e corrigir posturas

(Heitkamp, 2001). Nos jovens, o desenvolvimento do controlo postural poderá

traduzir-se na melhoria técnica e na ausência de lesões, e por isso revela-se

fundamental a sua presença na estrutura de treino. Ainda na melhoria do controlo

postural, os exercícios estáticos revelam-se importantes, uma vez que permitem

o recrutamento de fibras musculares de diferentes grupos musculares. Este tipo

de exercício poderá ser realizado ao longo de toda a época e não depende de

um local nem de condições específicas para ser realizado.

O treino de escadas produz um aumento dos níveis de força elástica,

através de uma boa relação entre o número de degraus, a sua altura, a forma de

recuperação e o intervalo. Este tipo de treino também se torna eficaz no

desenvolvimento da componente pliométrica, que apesar de estar pouco

presente na corrida, após vários apoios consecutivos poderá retardar o sintoma

de fadiga e por sua vez melhorar a performance. As melhorias ao nível da tensão

muscular, causadas pelo treino pliométrico, influenciarão a economia de corrida

(Chelby e Denis, 2001; Dalleau et al., 1998; Spurs et al., 2003)

O treino em Rampas é frequentemente utilizado como reforço da

musculatura dos membros inferiores e aumento da potência; e deve ser utilizado

ao longo de todo o ano. Podem ser utilizadas várias inclinações e várias

distâncias, entre os 60m e os 250m, conciliando com um intervalo de

recuperação, entre 2 minutos e 5 minutos. O treino realizado em subida ou em

descida na rampa proporciona vantagens à corrida, se efetuado com uma

postura técnica correta. O treino em subida pode também aumentar a

capacidade do atleta de terminar mais rápido a prova. O treino em descidas é

uma forma de melhorar a técnica de corrida e os níveis de força excêntrica, que

por sua vez, aumentará a velocidade do atleta. Este tipo de treino não deve ser

realizado em rampas demasiado inclinadas e sem um trabalho prévio de

flexibilidade, prevenindo lesões. (Pedro e Colaço, 2001)

Page 32: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

32

2.4.5. Técnica de Corrida

O treino de técnica de corrida não deve ser descurado e é fundamental

para um corredor de Meio fundo e Fundo melhorar o seu desempenho (Adrian e

Cooper, 1989; Carr, 2004; Saunders et al., 2004), ainda que assuma uma maior

importância nas disciplinas técnicas. A um corredor de Meio Fundo e Fundo é

exigido uma corrida tecnicamente bem executada em situações de fadiga

prolongada (Buckalew, 1985), o que faz com que as sessões de treino de técnica

de corrida sejam mais longas. A eficácia da corrida durante o esforço influência

o rendimento e a prevenção de lesões, assim como depende da conciliação de

sessões de treino de força com sessões de treino de técnica (Garcia-Verdugo e

Leibar, 1997).

Os jovens corredores devem ser obrigatoriamente sujeitos às sessões de

treino de técnica de corrida com maior exigência e rigor uma vez que se

encontram numa fase propícia ao desenvolvimento de uma estrutura técnica de

corrida mais correta. Isto poderá significar no seu futuro desportivo o alcance de

níveis de rendimento mais elevados (Colaço, 2006). Neste momento é

importante a intervenção do treinador na correção de erros que possam

prejudicar a corrida e na potenciação das ações técnicas do jovem corredor

(Knudson e Morrison, 1997). Com o treino da técnica estimulamos o sistema

neuromuscular (Bravo et al., 1990), para que este desencadeie o mais rápido

possível os estímulos adequados; e este tipo de trabalho é fundamental em

momentos de mudança de ritmo na corrida. (Bushnell e Hunter, 2007)

Este foi um dos métodos de treino menos utilizado por Moniz Pereira na

sua metodologia de treino (Paiva, 1995). Todavia, como nos temos apercebido

ao longo do tempo, a técnica de corrida é fundamental ao longo de todo o

percurso desportivo, principalmente na formação de jovens corredores; e poderá

fazer a diferença em frações de segundo num alto nível de rendimento.

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Capítulo 3

Objetivos

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3. Objetivos

O objetivo geral deste trabalho consiste em caraterizar o tipo de treino

realizado e as metodologias de treino aplicadas, enquanto jovens, a vários dos

melhores atletas portugueses sempre de Meio-Fundo e Fundo, de modo a

compreender como treinaram nos escalões de formação atletas que obtiveram

sucesso a nível europeu e/ou mundial na modalidade de Atletismo, desde o

escalão em que integraram a modalidade até ao escalão de júnior.

Como objetivos específicos, foram definidos os seguintes pontos:

- Perceber quando foi o momento de iniciação na prática e na modalidade

de Atletismo e se isso influenciou o alcance e o seu desenvolvimento no Meio-

Fundo e Fundo;

- Analisar se existem diferenças significativas ao nível da metodologia de

treino a que os atletas foram sujeitos e as metodologias referenciadas pela

literatura;

- Analisar o volume de treino semanal e a estrutura da planificação anual

do treino; e perceber se está em concordância com o indicado pela literatura.

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Capítulo 4

Material e Métodos

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4. Material e Métodos

4.1. Caracterização da Amostra

A amostra foi constituída por um conjunto de 14 atletas masculinos

portugueses, de atletismo, na disciplina de meio-fundo e fundo. De modo a

caracterizar estes atletas, encontra-se abaixo uma tabela com as suas

participações em provas europeias, mundiais e em Jogos Olímpicos.

Tabela 2 - Participações em Campeonatos Europeus e Mundiais e Jogos Olímpicos

Atleta Campeonatos Europeus

Campeonatos do Mundo

Jogos Olímpicos

António Pinto

3 Participações (1 medalha de ouro)

8 Participações 1988 - Seul 10000m (13º lugar) 1996 - Atlanta Maratona (14º lugar) 2000 - Sydney Maratona (11º lugar)

Ezequiel Canário

2 Participações 1 Participação 1984 - Los Angeles 5000 m (9º lugar) 1988 - Seoul 10000m (Qualificações)

Carlos Monteiro

2 Participações

José Regalo

3 Participações (3 medalhas de ouro)

6 Participações 1988 – Considerado o 3º melhor atleta Mundial do ranking de 5000 m.

1988 – Seoul 5000m (3º lugar Semi-final)

Luís Jesus

10 Participações 1996–Atlanta1500m/5000m (Qualificações/Semi-final)

Raimundo Santos

1 Participação 1992 – Barcelona 5000m (Qualificações)

Carlos Lopes

4 Participações 1 Participação em campeonato do mundo de pista; 5 Participações em mundiais de corta-mato (3 medalhas de ouro e 2 de prata)

1972 - Munique 5000m/10000m (Qualificações) 1976 - Montreal 10000m (medalha de prata) 1984 - Los Angeles Maratona (Medalha de ouro)

Aniceto Simões

6 Participações 7 Participações 1976 – Montreal 5000m (8ºlugar)

Rafael Marques

3 Participações

Paulo Guerra

9 Participações (4 medalhas de ouro e 1 medalha de prata)

13 Participações (1 medalha de bronze)

Fernando Mamede

3 Participações 13 Participações (2 medalhas de bronze)

1984 – Los Angeles 5000m (Desistiu) 1976 – Montreal 1500m/800m (Meias-Finais/Qualificações) 1972 - Munique1500m/800m/4x400m (Qualificações)

Luís Horta 1 Participação

Domingos Castro

21 Participações (1 medalha de prata)

1992 – Barcelona 5000m (11ºlugar) 1988 – Seoul 5000m (4ºlugar) 2000 – Sidney Maratona (18ºlugar) 1996 – Atlanta Maratona (15ºlugar)

António Leitão

4 Participações (1 medalha de bronze)

8 Participações 1984 – Los Angeles 5000m (3ºlugar)

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40

4.2. Instrumentos de Avaliação e Procedimentos

A investigação qualitativa centra-se na compreensão dos problemas,

procurando a fundamentação de certos comportamentos ou atitudes. Neste

contexto, o investigador é o “instrumento” de recolha de dados, e a validade e

fiabilidade dos dados depende da sua sensibilidade, integridade e conhecimento.

Segundo Bogdan e Biklen (1994) e Tuckman (2002) existem três grandes

grupos de métodos de recolha de dados que se podem utilizar como fontes de

informação nas investigações qualitativas: observação, o inquérito (entrevista ou

questionário) e análise de documentos. A técnica utilizada foi a entrevista, que é

a fonte de informação mais comum nos estudos qualitativos (Gratton e Jones,

2004; Jones, 2005; Smith e Caddick, 2012). Na entrevista, a recolha da

informação está centrada na perspetiva dos participantes e existe conversação

entre o entrevistador e o entrevistado (Bogdan e Biklen, 1994).

Procedeu-se à aplicação do método da entrevista semi-estruturada de

resposta aberta, previamente elaboradas, com questões descritivas relativas aos

meios e métodos de treino dos atletas nos escalões jovens durante a sua prática

de Atletismo. Este método permite ao entrevistador colocar as questões

principais da ordem que achar conveniente durante o desenrolar da entrevista e

que possa até colocar outras questões de modo a confirmar ou obter mais

informação. Além disto, é permitido que o conteúdo e as questões sejam

adaptadas ao entrevistado, em função do seu nível de conhecimento,

compreensão e recetividade (Moreira, 1994).

A entrevista revelou-se fundamental para desmistificar a anamnese do

treino dos atletas durante os escalões jovens. Durante as entrevistas face-a-face

foi permitido aos entrevistados descreverem as suas experiências, fornecendo

uma ideia de algumas semanas típicas de treino desde o escalão em que

iniciaram até ao escalão de Juniores.

As principais dificuldades durante a recolha dos dados foram a necessidade

de recorrer constantemente à memória dos entrevistados, dado o grande

distanciamento no tempo, em alguns casos. Assim, as respostas poderiam ser

Page 41: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

41

vagas e pouco elucidativas. Além disto, os atletas utilizaram durante as

entrevistas diferentes terminologias e conceitos para os mesmos treinos, o que

se revelou uma dificuldade na organização do trabalho.

4.2.1. Recolha de Dados

Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos num grupo de trabalho

em que me insiro, formado por docentes e alunos da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto. Para a realização das entrevistas os atletas foram

contactados pessoalmente e as entrevistas foram gravadas com um gravador de

voz.

Os entrevistados foram esclarecidos acerca do propósito do estudo, tendo

havido preocupação de não influenciar as respostas. Durante a entrevista houve

a preocupação do entrevistador adotar uma postura de ouvinte, concedendo ao

entrevistado espaço e tempo ilimitado para construir a resposta mais adequada.

O tempo médio das entrevistas foi de aproximadamente 13 minutos.

4.2.2. Tratamento dos Dados

Na entrevista, os relatos dos atletas foram gravados para posterior

transcrição e tratamento das respostas (Guerra, 2006). Após gravação, as

entrevistas foram redigidas e transcritas na sua totalidade. Posteriormente fez-

se uma análise ao conteúdo das entrevistas e o registo descritivo e sumário de

todo o conteúdo das entrevistas. Alguns dados foram registados e tratados

utilizando o programa Excel; nomeadamente para o cálculo de médias e

respetivos desvios padrões.

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Capítulo 5

Apresentação e Discussão de Resultados

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5. Apresentação e Discussão de Resultados

Neste capítulo, irão ser apresentados os dados obtidos pelas entrevistas,

relativos ao processo de treino dos melhores atletas portugueses de sempre no

Meio-Fundo e Fundo; assim como também será discutido: a idade de iniciação

dos atletas da amostra na modalidade de Atletismo; os meios e métodos de

treino utilizados ao longo do seu percurso no Atletismo; a planificação anual de

treino; e por último, o volume semanal de treino, nomeadamente a quantidade

de treinos por semana. Os resultados obtidos irão ser confrontados e

comparados com o que é referido pela literatura.

5.1. Iniciação na Modalidade de Atletismo

Figura 1 - Ano de iniciação na modalidade de Atletismo

Como podemos verificar pela figura 1, a maior parte dos atletas iniciaram

a prática regular e da modalidade de Atletismo no 2º ano do escalão de iniciado.

Ainda que apenas tenham iniciado a prática formal de Atletismo no escalão de

iniciado, foi referido nas entrevistas pela maior parte dos atletas que antes de

iniciarem o treino regular de Atletismo, tiveram presente uma prática de atividade

0

1

2

3

4

5

Infantil1ºano

Infantil2ºano

Iniciado1ºano

Iniciado2ºano

Juvenil1ºano

Juvenil2ºano

Júnior1ºano

Júnior2ºano

Iniciação na Modalidade de Atletismo

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46

física informal bastante abrangente. Vários atletas da amostra tinham de

percorrer grandes distâncias das suas casas até à escola, assim como durante

os seus tempos livres e períodos de férias, os atletas recordaram que utilizavam

a rua e os espaços verdes como palco para as suas brincadeiras e aventuras

durante a sua infância. A sua infância foi rica em atividades livres e movimento,

motivado pelo seu contexto social e cultural de vida.

Esta realidade está em consonância o que caracteriza o modo de vida de

muitos atletas africanos de referência o que nos leva a sugerir que o volume

global da prática desportiva informal em jovens poderá determinar muito do

sucesso que poderá vir a ser alcançado por estes atletas enquanto seniores.

Deste modo, a prática de atividades motoras informais na juventude pode

desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento físico; no controlo

postural e no desenvolvimento da habilidade de locomoção e transporte do corpo

(Neto, 2004).

O modelo social em que os atletas da amostra se inseriam permitia-lhes

realizar um grande volume de prática de exercício físico informal e

desenvolverem atividades no meio em que se encontram e habitam, uma vez

que os níveis globais de atividade física podem ser aumentados através de

atividades livres particularmente em espaços ao ar livre (Dowda, 2002). Este

facto permitiu o desenvolvimento dos seus padrões motores. Mais tarde, quando

ingressaram na modalidade de Atletismo, ainda que os treinos não tenham sido

caraterizados pela multilateralidade e diversidade de meios e métodos de treino,

as diferentes experiências motoras durante a juventude motivaram o seu

sucesso na modalidade.

Este poderá ser um fator muito relevante no que diz respeito ao treino de

jovens para o Meio Fundo e Fundo. De facto, é evidente o elevado nível de

atividade de jovens que chegam ao alto rendimento, traduzido muitas vezes por

volumes de treino não quantificados mas capazes de induzir efeitos de treino em

jovens em crescimento.

Relativamente ao nível de atividade física, haviam poucos hábitos

sedentários da população, e o envolvimento eletrónico não influenciava os

Page 47: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

47

contextos de vida diários dos jovens. Além disto, a pouca densidade

populacional; o reduzido tráfego urbano; a grande quantidade de espaço

disponível para as atividades de rua; assim como a ausência de insegurança no

meio escolar e habitacional (Neto, 2004), que fazia com que os jovens tivessem

mais facilidade em brincarem fora do espaço habitacional. Sabemos que os

níveis globais de atividade física podem ser aumentados através de atividades

livres em espaços ao ar livre (Dowda, 2002).

Os jovens passavam mais tempo a brincar ao ar livre (Hillman, 2006;

Karsten, 2005), e por isso os níveis de atividade física eram mais altos do que

os dos jovens da atualidade (Arez & Neto, 1999; Bogin, 1999; Neto, 2001;

Pellegrini & Smith, 1998; Piéron, 1999; Serrano, 2004; Serrano & Neto, 1997).

Estes estudos confirmam que antes os jovens eram mais independentes,

nomeadamente nas suas deslocações entre casa e escola. Esta independência

permitia às crianças percorrerem diariamente vários quilómetros e estarem

sujeitos a um grande volume de atividade física informal.

De modo a compensar a falta de prática informal que vivemos atualmente

e a sua consequente insuficiência ao nível do desenvolvimento das capacidades

físicas, provavelmente fará sentido proporcionar às crianças uma prática

desportiva precoce. Esta prática precoce faz todo o sentido quando permite às

crianças compensar os níveis de força e resistência de base que devem ser

naturalmente adquiridos nesta fase pela atividade informal.

5.2. Meios e Métodos de Treino ao Longo do Percurso no Atletismo

Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação

Meios e Métodos Utiliza Não utiliza Percentagem (positiva)

Corrida Contínua 14 0 100%

Treino Intervalado 12 2 86%

Fartlek 7 7 50%

Treino de Força 5 9 36%

Velocidade 5 9 36%

Técnica de Corrida 3 11 21%

Page 48: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

48

5.2.1. Corrida Contínua

Pela tabela 3 podemos verificar que o método de treino mais utilizado no

percurso dos atletas no Atletismo, desde o seu ingresso na modalidade até ao

escalão de júnior, foi a Corrida Contínua. Todos os atletas utilizaram este método

de treino em todos os escalões de formação e durante toda a época; variando

apenas a duração. Durante a entrevista a um dos atletas, foi afirmado que a

única metodologia que utilizou até ao escalão de júnior foi o treino de corrida

contínua. Os períodos de corrida contínua variaram entre os 20 minutos e os 90

minutos; com aumento progressivo da duração dos períodos de corrida do

escalão de infantil até ao escalão de júnior.

Segundo Paiva (1995), a corrida contínua deve ter lugar no treino durante

todo o ano; e varia de acordo com o período de treino. O volume e a intensidade

da corrida contínua deve ter em conta a especificidade da distância de

competição. Este método é fundamental para desenvolver a sua capacidade de

realizar esforços prolongados; assim como tem um papel importante na

recuperação (Pedro e Colaço, 2001). Ainda que o treino de Meio-Fundo e Fundo

dependa, em grande parte, da capacidade aeróbia, é importante não exagerar,

e não realizar treinos apenas baseados em grandes volumes de corrida contínua.

São vários os autores que defendem que deve ser dada prioridade ao estímulo

das fibras rápidas em detrimento do estímulo das fibras lentas (Proença, 1986;

Pohlitz, 1988, citado por Rolim, 1998, p.47). Assim, deve ser dada ênfase ao

treino de velocidade.

5.2.2. Velocidade

Como podemos ver pela tabela 3, apenas 5 atletas da amostra realizaram

durante a formação, o treino de velocidade.

A estimulação das fibras rápidas é referida na literatura como fundamental

durante o processo de formação em detrimento de um estilo de treino centrado

no volume (Proença, 1986; Pohlitz, 1988, citado por Rolim, 1998, p.47).

Uma vez que o atleta já apresenta uma boa capacidade aeróbia, mais

importante do que estimular as fibras lentas, é estimular as fibras rápidas

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49

(Proença, 1986; Pohlitz, 1988, citado por Rolim, 1998, p.47), através de jogos e

do treino de propriocetividade, melhorando a sua velocidade. Com a melhoria da

velocidade potenciamos o jovem a ser capaz de variar o ritmo de corrida. Os

jogos que solicitam a capacidade de velocidade são importantes, para a

estimulação de diferentes níveis de intensidade.

5.2.3. Técnica de Corrida

Na tabela 3 verificámos que a Técnica de Corrida apenas foi treinada por

3 dos 14 atletas ao longo do seu percurso.

Segunda a literatura, a técnica de corrida é importante na melhoria da

eficácia de corrida e na prevenção de lesões (Garcia-Verdugo e Leibar, 1997);

sendo que é considerada indispensável e um método de treino obrigatório no

processo de formação (Colaço, 2006). Isto deve-se ao facto, de nesta fase, o

organismo do jovem corredor se encontrar predisposto à aquisição de novas

habilidades e ao seu desenvolvimento.

Ainda que a Técnica de Corrida diminua a sua importância ao longo do

percurso desportivo, é fundamental incluir no treino nos escalões de formação

(Colaço, 2006).

5.2.4. Treino de Força

Também verificámos pela tabela 3 que apenas 5 dos 14 atletas utilizaram

no seu percurso de formação o treino de força.

Segundo Carvalho (1996), o treino de força deve fazer parte das sessões

de treino; assim como é seguro ser realizado por jovens se devidamente

conduzido e estruturado e é uma parte essencial do treino no ponto de vista da

saúde e da performance (Oltmanns e Zawieja, 2011). Apresentar melhorias na

corrida implica o desenvolvimento da força e da capacidade de se movimentar

suportando o próprio peso do corpo. O treino de força deve servir também como

preventor de lesões, e é importante que este tipo de treino esteja presente em

todas as semanas de treino, pelo menos uma vez. (Barnes e Kilding, 2015;

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50

Johnston et al., 1997; Paqvolainen et al., 1999; Saunders et al., 2006; Spurs et

al., 2003; Turner et al., 2003).

Tabela 4 - Diversificação de métodos de treino de força

Meios e Métodos Utiliza Não utiliza Percentagem (positiva)

Treino de Rampas 4 10 29%

Treino de Areia e Dunas 2 12 14%

Areia/Dunas e Rampas 1 14 7%

Treino com Cargas Adicionais 0 14 0%

Treino em circuito 0 14 0%

Treino de Escadas 0 14 0%

Treino com bolas medicinais 0 14 0%

Na tabela 4 podemos verificar que apenas foram utilizados o treino de

rampas e areia e dunas; tendo em conta que apenas 5 atletas dos 14 tinham

realizado treino de força. Verificamos portanto que 4 atletas do total de 14

utilizaram treino em rampas; e 2 atletas do total de 14 utilizaram treino em areia

e dunas; sendo que apenas 1 utilizou simultaneamente durante a época

desportiva, o treino de rampas e areia/dunas.

O treino em rampas e o treino em areia e dunas são dois meios de treino

de força. O treino em diversos tipos de piso (estrada, relva, terra batida, areia e

dunas) disponibiliza ao atleta uma maior capacidade de adaptação e estabilidade

ao nível das articulações, fortalecendo-as (Karve e Tiwari, 2010).

O treino em rampas é referido na literatura também como meio de reforço

muscular; proporcionando vantagens à corrida quando executado com a postura

técnica adequada, em descida ou subida (Pedro e Colaço, 2001).

De modo a não tornar o treino monótono e pouco motivador, podem ser

integrados no treino objetos que promovam os níveis de força, como por exemplo

bolas medicinais, que confere ao treino caraterísticas lúdicas; e que por sua vez

faz com que os jovens se sintam motivados no treino (Rolim, 1998). Também o

treino da força sob a forma de circuito poderá ser bastante motivador para os

jovens atletas, pela sua caraterística de diversificação e porque permite controlar

a evolução no número de repetições (Pedro e Colaço, 2001).

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51

Outro método de treino de força é o treino de pliometria, que proporciona

melhorias ao nível da tensão muscular; e que por sua vez influenciará a

economia de corrida (Chelby e Denis, 2001; Dalleau et al., 1998; Spurs et al.,

2003).

Também o treino de força isométrica (Heitkamp, 2001); o treino em

circuito, caracterizado pela possibilidade de seleção de conjuntos de diferentes

exercícios; o treino com objetos que promovam os níveis de força; e o treino

pliométrico (Chelby e Denis, 2001; Dalleau et al., 1998; Spurs et al., 2003)

poderão ser utilizados como meios de desenvolvimento de força com

caraterísticas lúdicas. Estes tipos de treino fazem com que os jovens se sintam

mais motivados no treino (Rolim, 1998).

5.2.5. Treino Intervalado

Tabela 5 - O treino intervalado como meio e método de treino no Meio-Fundo e Fundo

Meios e Métodos de Treino Utiliza Não Utiliza Percentagem (positiva)

Treino Intervalado Extensivo Curto 11 3 79%

Treino Intervalado Extensivo Médio 10 4 71%

Treino Intervalado Intensivo Curto 5 9 36%

Através desta tabela (tabela 5) podemos verificar que o treino Intervalado

Extensivo Curto foi o tipo de treino intervalado mais utilizado; 11 dos 14 atletas

realizaram este tipo de treino.

O treino intervalado é fundamental para o atleta e é um dos principais

métodos de treino; permite ao atleta percorrer parte da distância de competição

à velocidade desejada (Pereira, 1981); assim como desenvolver a sua

velocidade de resistência (Paiva, 1995).

O treino intervalado intensivo curto apenas foi utilizado por 5 dos 14

atletas e por isso foi o tipo de treino intervalado menos utilizado no percurso dos

atletas. Este tipo de treino permite ao atleta de 5000 metros e 10000 metros

correr distâncias com grande intensidade, que variam entre os 300m e os 500m.

Através destas sessões de treino de maior intensidade, o atleta irá desenvolver

a sua economia de corrida (Daniels, 1998; Sjoden e Svedenhag, 1985). Apesar

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52

de ter sido utilizado para desenvolver a velocidade, este método de treino

desenvolve essencialmente a velocidade de resistência (Paiva, 1995).

Aqui o objetivo o atleta percorrer parte da distância de competição na

velocidade desejada de competição (Pereira, 1981). Isto através de repetições

de 1000 metros, 1500 metros, 2000 metros, ou 3000 metros; e tempos de

recuperação entre os 3 e os 6 minutos (dependendo da distância), de modo a

haver um aumento de volume e um aumento da intensidade (Paiva, 1995).

5.2.6. Fartlek

O Fartlek foi um método utilizado por metade dos atletas. Este método de

treino originário da Suécia é fundamental para desenvolver em simultâneo a

velocidade e a resistência; é dirigido para corredores de 1500 metros até 3000

metros. Permite aos atletas treinar a potência aeróbia através das mudanças de

intensidade, e por isso é caracterizado como um trabalho de grande intensidade

com variações de ritmo de corrida (Ahmed et al., 2011).

5.3. Planificação anual de treino

A estrutura de planificação do treino de 12 de 14 atletas da amostra foi

caracterizada pela dupla periodização. Isto significa que 85% dos atletas da

amostra apresentou na sua planificação anual de treino com diferenças nos

meios e métodos de treino utilizados ao longo do ano, dividindo em dois

períodos: Macrociclo de Inverno (aproximadamente desde Outubro até Março) e

Macrociclo de Verão (desde Março até aproximadamente Junho). Os outros 2

atletas da amostra não evidenciaram diferenças significativas ao longo de toda

a época desportiva no seu processo de formação.

Estas caraterísticas do processo de treino não estão em concordância

com a Direção Técnica Nacional (2010), que defende que até ao escalão de

Juvenis/Juniores o planeamento anual de treino deve ser feito em função das

carências ao nível do treino.

No entanto, a partir do escalão de Juniores, inclusive, a atitude

competitiva começa a ganhar forma e competição é o objetivo da preparação.

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53

Neste momento a planificação do treino já pode ser elaborada tendo em conta o

calendário competitivo, surgindo a dupla periodização (Direção Técnica

Nacional, 2010; Ferreira, 1994). Nesta fase a dupla periodização permitirá o

desenvolvimento de adaptações positivas para toda a época desportiva.

A organização destes modelos de treino podem permitir uma melhor

consolidação de adaptações no treino; evitar o excesso de competições e

canalizar as atletas para um modelo de preparação desportiva a longo prazo que

permita no futuro um elevado retorno da sua capacidade competitiva.

5.4. Volume semanal de treino

Tabela 6 - Valores médios e respetivo desvio padrão, valores mínimos e máximos, e variância do número

de unidades de treino realizadas por semana pelos atletas nos diferentes escalões

Escalão Média ± Desvio Padrão Mínimo Máximo

Infantil (n=2) 3,5 ± 0,5 3 4

Iniciado (n=6) 3,5 ± 1,0 2 5

Juvenil (n=9) 4,8 ± 1,5 3 7

Júnior (n=14) 6,4 ± 1,9 3 10

Face à elevada amplitude de valores observada nos escalões de juvenil e

júnior, é legítimo pensar que estes atletas estavam sujeitos a diferentes

perspetivas e entendimentos diferentes sobre o volume de treino semanal,

traduzido pelo número de treinos semanais.

Tal amplitude pode ser justificada por dificuldades, como por exemplo,

falta de instalações, falta de tempo para treinar por parte do treinador e/ou

atletas, condições climatéricas, numeroso grupo de trabalho, e até diferentes

níveis de motivação dos jovens.

No escalão infantil a média de treinos semanais foi 4; tendo em conta que

do total de 2 atletas que treinaram neste escalão, um atleta teve 3 treinos por

semana e o outro 4 treinos.

De acordo com a Direção Técnica Nacional (2010), no escalão de infantis

(12 e 13 anos) a planificação das sessões de treino deve obedecer a 3 treinos

Page 54: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

54

semanais; o que não coincide apenas com o número de treinos de um dos atletas

que treinaram neste escalão.

No escalão de Iniciados verificámos pela tabela que os atletas tiveram

uma média de 4 treinos semanais; tendo em conta que do total de seis atletas

que treinaram neste escalão, o atleta com maior número de treinos, tinha 5

treinos semanais; e o atleta com menor número de treinos tinha 2 treinos

semanais.

No escalão de iniciados, o valor médio do número de treinos semanais foi

4; do conjunto de 6 atletas, o número de treinos variou entre os 2 e os 5

No escalão de Juvenis a média de treinos semanais foi de 5 treinos; tendo

em conta que do total de nove atletas que treinaram neste escalão, o número de

treinos variou entre os 3 e os 7.

Segundo a Direção Técnica Nacional (2010), nos escalões

iniciados/juvenis (14 aos 16 anos), devido às diferenças da “idade biológica”,

justifica-se a amplitude de um mínimo de 4 treinos semanais a um máximo de 6

treinos semanais. Assim nestes escalões, a média do número de treinos

semanais está de acordo com as recomendações da Direção Técnica Nacional

(2010).

Por último, no escalão de Juniores o valor médio de treinos semanais foi

de 6 treinos. No escalão de juniores, do conjunto de 14 atletas, o valor mínimo

de treinos semanais foi 3 e o valor máximo foi 10.

O valor médio do número de treinos neste escalão corresponde às

indicações da Direção Técnica Nacional (2010), que afirma que nos escalões

Juvenis/Juniores (dos 17 aos 19anos) o valor mínimo de treinos semanais deve

ser 6.

Além disto também é defendido pela literatura referida no parágrafo

anterior que podem ser introduzidos os treinos bidiários, principalmente na

segunda época de Juniores, podendo chegar aos oito treinos semanais (dois

treinos bidiários). Não foram referidos a utilização de treinos bidiários pelos 14

atletas que constituem a amostra.

Page 55: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

Capítulo 6

Conclusão

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57

6. Conclusão

Considerando os meios e métodos de treino utilizados pelos atletas da

amostra enquanto jovens, podemos concluir que a diversidade de estímulos e

de trabalho multidesportivo não foi uma realidade. Os resultados sugerem

contudo, que terá havido uma prática desportiva informal muito alargada destes

atletas enquanto jovens.

Os atletas da amostra não iniciaram a prática de atletismo nos escalões

mais baixos. Contudo, a prática desportiva informal terá existido desde idades

muito jovens.

A planificação anual de treino foi desenhada em função da competição e

não das necessidades individuais dos atletas. Contudo, é notória a necessidade

destes conseguirem obter rendimento desportivo em frequente situações

competitivas.

A quantidade de treinos semanais está de acordo com o recomendado

pela literatura e apenas nos atletas que se iniciaram no escalão infantil o número

de sessões terá sido mais elevado. Contudo, os dados sugerem que as

intensidades e volumes de treino foram uma preocupação constante dessas

sessões de treino.

A realização deste trabalho suscita-nos a necessidade de se avaliar a

forma como treinam os jovens atualmente; no sentido de se estabelecerem

comparações com a forma como treinaram os nossos melhores atletas de

sempre, e perceber se será no processo de treino que estará a justificação para

menores níveis de rendimento.

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Capítulo 7

Bibliografia

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Page 61: Caracterização do treino de alguns dos melhores corredores ... · Tabela 3 - Meios e métodos de treino utilizados no processo de formação ..... 47 Tabela 4 - Diversificação

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