Carneiro-PRÁTICAS, DISCURSOS E ARENAS- NOTAS SOBRE A SOCIOANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

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    Marcelo Sampaio Carneiro

    PRTICAS, DISCURSOS E ARENAS: NOTAS SOBRE A

    SOCIOANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

    A combinao de heranas da etnologia e da sociologia da escola de Chicagocaracteriza uma das mais profcuas e atuais abordagens tericas para o estudo dos

    processos de desenvolvimento. Trata-se da socioantropologia do desenvolvimento,

    !ue se contrap"e # sociologia !uantitativista, # etnologia patrimonialista focalizadano informante privilegiado e #s sociologia e antropologia ensasticas, privilegiando oestudo emprico multidimensional dos grupos sociais, atrav$s da an%lise de suaspr%ticas e representa"es &ver 'livier de (ardan, ))*, + /ierschenc0, +12.

    3ste artigo pretende discutir a contribuio e os limites desse tipo de an%lise + apart ir da abordagem elaborada por 'livier de (ardan e seus colegas da Associao3uro-Africana para a Antropologia da 4udana (ocial e o 5esenvolvimento &A6A52,7!ue prop"e uma ferramenta de investigao no-normativa sobre os processos dedesenvolvimento e apresenta diversas inova"es metodolgicas para o estudo dessesprocessos, combinando rigor analtico com um di%logo respeitoso com os grupos !ueso ob8eto da interveno dos dispositivos de desenvolvimento.

    ' te9to vai articular dois nveis de refle9o. 3m um primeiro momento, a :nfasese dar% sobre a tra8etria recente dos estudos sobre processos de desenvolvimento,!ue, partindo de uma crtica # sociologia do desenvolvimento e # antropologia para odesenvolvimento, enunciam o surgimento de novas abordagens. ;esse momentodaremos :nfase ao surgimento da crtica # antropologia do desenvolvimento realizadapor autores ps-estruturalistas &3scobar, ))

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    ;este segundo momento apresento os principaiselementos !ue os autores da socioantropologia dodesenvolvimento destacam como constitutivos de suaabordagem, procurando, ao mesmo tempo, estabelecer umaseparao com crtica discursiva do desenvolvimento =&3scobar, ))2 e uma identificao com a sociologia dodesenvolvimento centrada nos atores de ;orman >ong eseus colegas da ?niversidade de @ageningen*&>ong, ))=+1 Arce >ong, +12.

    Ao longo desta segunda parte destaco tamb$m asprincipais crticas levantadas por autores da escola de@ageningen &Arce >ong, +12 # tentativa de 'livier de

    (ardan e seus colegas de fundar uma socioantropologia dodesenvolvimento baseada no conceito do entrelaamentodas lgicas sociais &'livier de (ardan, + /ierschenc0,+12 e sustento a necessidade de diferenciar a utilizaodos conceitos de campo e arena para dar conta das rela"esde poder presentes nas situa"es analisadas pelasocioantropologia do desenvolvimento.

    1. A SOCIOANTROPOLOGIA EAS NOVAS ANTROPOLOGIASDO DESENVOLVIMENTO

    A tra8etria dos estudos sobre o desenvolvimento pode serassociada, pelo menos nas duas d$cadas posteriores #(egunda Buerra 4undial, aos destinos da sociologia e daeconomia do desenvolvimento. Como sublinhou aDmond/ou-don, num artigo !ue e9amina as causas do declniodesse tipo de abordagemE

    F...G !uando fazemos a lista de trabalhos sociolgicos,de ci:ncia poltica ou de economia !ue chamaram aateno, ou dos grandes nomes associados # noo dedesenvolvimento, podemos assinalar sem dificuldade!ue esses trabalhos datam, em sua maioria, dos anoscin!uenta e sessenta, com seu declnio iniciando nos

    anos setenta &/oudon, +, p. +*72.3sse perodo de apogeu da sociologia e da economia

    do desenvolvimento foi tamb$m a idade de ouro dase9plica"es macrossociolgicas sobre os fatores do atraso,do tradicionalismo, do subdesenvolvimento e dos mecanis-mos &teorias2 necess%rios para super%-los. 6ara >ong &))=,+12, o predomnio desse tipo de abordagem estrutural,somado #s fragilidades das an%lises dos processos de

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    desenvolvimento

    !uetomavam aperspectivadoatorcomoumelementocentra

    l,acabou porcontribuirpara odeclnio dosestudossobreo

    desenvolvimento.

    ;o casoespecficodos3stados?nido

    s, atra8etria deinsero depro-fissionais daantrop

    ologia nas institui"es respons%veis pelo assessoramentodas a"es de desenvolvimento percorreu, ao longo dos$culo HH, pelo menos tr:s fases importantes. I 5e acordo

    com anc &)2, um primeiro momento de fora ocorreuno perodo posterior # (egunda Buerra 4undial,trabalhando em organismos internos (Bureau of IndianAffairs) e na diviso de desenvolvimento comunit%rio daJCA (International Cooperation Administration),passando por

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    um perodo de crise no final dos anos )I, !uandoeclodiram denKncias da participao de antroplogos ema"es de contra-insurg:ncia nos pases do chamado Terceiro4undo, tendo um renascimento nos anos )1, com o pro-cesso de reorganizao da ag:ncia americana dedesenvolvimento internacional &?(AJ52, sucessora daJCA.Ainda segundo essa autora, a abordagem antropolgicaelaborada nesse Kltimo perodo, com a ocupao de postos na?(AJ5 e em outras ag:ncias de desenvolvimento, ser%caracterizada por sua Lmodernidade, novidade, construtiva,desembaraada de seus comple9osL, adotando umaLabordagem positiva e cora8osa do chamado

    desenvolvimento, mesmo !uando considerado os aspectosnegativos provocados pelo progresso t$cnicoL. (egundo essatica, o desenvolvimento econMmico e social $ um bem cu8osefeitos positivos devem ser divididos com as popula"esmais desprovidas e !ue os profissionais da antropologia dodesenvolvimento deveriam ser capazes, L!uando colocadosfrente a um tipo especfico de pro8eto, de prever, com umapreciso consider%vel, de !ue maneira as popula"es locaisvo responderL &anc, )E =*-=I72.

    ?m dos autores centrais no estabelecimento dessaantropologia do desenvolvimento ser% 4ichael Cernea, entoconselheiro do /anco 4undial, !ue organizar% a obra

    Primeiro as pessoas: variveis sociolgicas no desenvolvimentorural &Cernea, ))*2, sintetizando a e9peri:ncia dessaantropologia do desenvolvimento inserida nas institui"esinternacionais de cooperao. Como descreve esse autor, nasegunda metade dos anos )1 houve uma incorporao maisforte dos conhecimentos socioantropolgicos nas a"es dedesenvolvimento.

    A mudana, !ue consistiu em deslocar a :nfase !uasee9clusiva da infraestrutura fsica para o reconhecimentodas estruturas sociais e em reorientar um oscilanteetnocentrismo presente nas interven"es dedesenvolvimento para o reconhecimento das culturasindgenas, fez parte de uma viragem para pro8etos de

    desenvolvimento centrados nos protagonistas &aspessoas2 &Cernea, ))*E +I2.

    ' trabalho desses antroplogos inseridos nasinstitui"es de desenvolvimento ser% classificado por3scobar &))12 como de uma antropologia para odesenvolvimento (development anthropology) (egundo 3scobar,a antropologia associada ao desenvolvimento surgiu emfuno dos insucessos da teoria e da pr%tica do

    desenvolvimento1

    econcretizou-secom aentrada deantroplogosnocorpo

    defuncion%riosdasag:nciasinternacionais dedesenvolvime

    nto&?(AJ5,/anco4undial2 edaincorporaodosfatores

    sociaiseculturais nasan%lisessobreo

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    desenvolvimento &3scobar, ))E III2.Como sublinhou Nart &++E 2, essa entrada em cena

    dos antroplogos no corpo funcional das ag:ncias de

    desenvolvimento implicou a realizao de estudos prprios #abordagem dessa disciplina, Lcom seus m$todos de pes!uisade campo, a imerso por um longo perodo de tempo 8unto aogrupo estudado, a ideologia de ir ao encontro das pessoasF...G, uma hostilidade geral face aos m$todos estatsticos, aosdocumentos liter%rios e todas as t$cnicas da buro

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    craciaL, cu8os trabalhos mais importantes sero produzidos

    por autores como Cernea e NoroOitz.;os anos )), outra vertente da antropologia norte-

    americana se interessar% pelo estudo dos processos epr%ticas do desenvolvimento &ebrec!ue, +E *2.

    6ara essa abordagem, o sis tema de a8uda aodesenvolvimento $ visto como uma m%!uina !ue despolitizaos temas !ue deve enfrentar &reduo da pobreza, combateao desmatamento, reduo do a!uecimento global etc.2, !ueinventa problemas com os !uais sua e!pertise pode lidar e!ue desconsidera outros !ue seriam politicamenteespinhosos &3scobar, ))E II1 PaugQre, +E 2.

    3m entrevista na !ual realiza um balano da suaabordagem, Arturo 3scobar destaca um conceito comocentral - o de regularidade discursiva &Pou-cault2 - para osestudos inspirados na antropologia do desenvolvimento.3ste conceito ele utilizar% para criticar o !ue seria a

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    principalmarcadocampodeatuao dasag:ncias edosprofissionais dodesenvolvimento,comoaparecenessee9certo deentrevistaconcedidaporele aAndreu

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    ou o /anco 4undial - essa posio tem !ue estar nomesmo espao discursivo. F... G 'u se8a, se algu$m iriafalar de desenvolvimento - pelo menos at$ o final dosanos ) - teria !ue repetir o discurso, e assim foi,com muitas varia"es, por!ue o discurso do /anco4undial sem dKvida $ muito distinto do discurso demuitas ';Bs, por$m, num dado nvel, no plano dasregularidades discursivas, me parece !ue todos osagentes !ue ocuparam ou !ue continuam ocupando essegrande espao discursivo do desenvolvimento teriam!ue se envolver com esse discurso &ecasens, +E=)2.

    3ssa ruptura com o discurso do desenvolvimento levar%3scobar &))1E **=2 a propugnar uma nova forma de pensar arelao com a ideia de !ue as sociedades devem sermodificadas por algo definido como o desenvolvimento,dando origem ao termo vagamente definido de ps-desenvolvimento,) termo com o !ual pretende reunire9peri:ncias realizadas por grupos sociais autMnomos, apartir de situa"es locais isoladas da lgica do capital e daao estatal.

    5e forma semelhante, num artigo em !ue critica oconceito de desenvolvimento sustent%vel, ele prop"e umanova linguagem para tratar das rela"es entre sociedade enatureza !ue permita L#s comunidades e na"es do terceiromundo reposicionarem-se nos espaos das conversa"es eprocessos globais !ue esto &re2configurando o mundoL&3scobar, ))*E +2.

    'utra vertente de renovao da antropologia dodesenvolvimento ser% estabelecida por pes!uisadoreseuropeus no Smbito da Associao 3uro-Africana pelaAntropologia da 4udana (ocial e do 5esenvolvimento&A6A52. (egundo /ierschen0 &+2, essa antropologia dodesenvolvimento tipicamente europeia tem suas razes nostrabalhos de ;orman >ong, na ?niversidade de @ageningen,e de -6. 'livier de (ardan, na 3scola de Altos 3studos emCi:ncias (ociais &3N3((2 de 4arselha.

    6ara 'livier de (ardan &+2 o ponto comum dessasduas tradi"es !ue confluram para a antropologia dodesenvolvimento da A6A5 $ a ateno conferida # dinSmicadas lgicas sociais presentes nas situa"es de interao em!ue desenrolam as a"es de desenvolvimento.

    3ssa perspectiva da diversidade de lgicas sociais emimbricao e em interao foi desenvolvida, no !ueconcerne # antropologia do desenvolvimento, por doispolos, de maneira independenteE um poloprincipalmente anglfono, em torno de ;orman >ong,

    naNo

    landaumpoloma

    isfrancfono,c

    onfiguradopelaA

    6A5&'livie

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    r de (ardan, +E 1=72.

    Apesar da cr tica #s pr%ticas e aos discursos dasag:ncias de desenvolvimento, os trabalhos desses

    pes!uisadores tomam certa distSncia da abordagem ps-estruturalista do desenvolvimento, estabelecendo comoprograma de investigao o e9ame aprofundado dosprocessos de mudana socioeconMmica e poltica, procurandotornar e9tico o conceito de desenvolvimento, analisando-ocomo uma situao especf ica. 6ara esses autores odesenvolvimento pode ser concebido comoE

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    o con8unto dos processos sociais induzidos por

    opera"es voluntaristas de transformao de um meiosocial, empreendidos por meio de orientao deinstitui"es ou atores e9teriores a esse meio, e !ue sebaseiam no transplante de recursos eRou t$cnicas eRousaberes. 3ssa definio pode se aplicar #s a"es dedesenvolvimento operacionalizadas tanto nos pasesdo ;orte como a!ueles do (ul. U a presena de umaconfigurao desenvolvimentista !ue define ae9ist:ncia mesma do desenvolvimento, isto $, esseuniverso largamente cosmopolita de e9perts, deadministradores, de respons%veis por ';Bs, depes!uisadores, de t$cnicos, de chefes de pro8etos, deagentes de campo, de intermedi%rios, de animadoresde grupos ou de associa"es, !ue vivem de algumaforma do desenvolvimento dos outros e mobilizam ougerem, por conta disso, recursos materiais esimblicos consider%veis &'livier de (ardan, ))*E 12.

    'utro aspecto !ue pode ser considerado como umponto forte da antropologia do desenvolvimento da A6A5 $a importSncia conferida aos atores nos processos dedesenvolvimento. 5e forma semelhante # antropologia de-senvolvida pelos pes!uisadores da ?niversidade de@ageningen &>ong, ))=2, os estudos da A6A5 observamos atores como capazes e competentes, tomando paraan%lise as intera"es !ue ocorrem ao longo das a"es dedesenvolvimento.

    A importSncia metodolgica conferida aos atores &suasestrat$gias e suas lgicas2 leva 'livier de (ardan e colegasa privilegiarem a an%lise dos atores em interao em arenasespecficas, tomando a dimenso do conflito como umaporta de entrada para seus estudos &/ierschenc0, +12.;esse tipo de abordagem a interao dos atores dasituao de desenvolvimento $ tratada como uma Lentradafecunda na realidade social, meio para decifrar as estrat$-gias dos atores e os constrangimentos dos conte9tosL,permitindo o acesso #s pr%ticas e #s representa"es, aosfenMmenos con8unturais e estruturais &'livier de (ardan,+E 1=+2.

    ?m conceito central dessa abordagem $ o doentrela"amento &enchev:tre-ment2 das lgicas sociais, !uecompreende a situao de desenvolvimento como Lumcampo social !ue coloca em relao, com uma intensidadeparticular, atores diversos, interesses heterog:neos, lgicasde ao plurais e universos simblicos divergentesL&/ierschenc0, +12. 3ste cruzamento produz realidadesmKltiplas e divergentes, uma interao !ue tem comoresultado final uma situao social diferente da pro8etada

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    pelosatores,comcaractersticasprprias,!uenoestopresentes nomomentoinicialdoprocesso.

    6odemosdizer!ueessaorientaodasocioantropologiadodesenvol-vimento, deconsiderarosatores!uesoob8etos daaodedesenvolvi

    mento como capazes, como coprodutores das interven"esde desenvolvimento, se insere em um movimento maisgeral da socioantropologia francesa contempo-rSnea + !ue,contrapondo-se #s abordagens estruturalistas, destaca ascompet:ncias e a capacidade dos atores em interferir nosseus respectivos conte9tos de atuao &/oltans0i, ))5osse, ))* 'livier de (ardan, +b2. 'u se8a, trata-sede um tipo de abordagem !ue, mesmo considerando osconte9tos e os

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    constrangimentos !ue envolvem !ual!uer ao, destaca osatores como capazes de interferir nas a"es e nas polticas

    !ue lhes so direcionadas.3ntretanto, no processo de valorizao do ator, essa

    socioantropologia do desenvolvimento faz !uesto de sedissociar da abordagem !ue classifica como LpopulismoideolgicoL, cu8o principal defeito consiste na valorizao deforma acrtica da capacidade de ao dos grupos sociaismarginalizados, identificando nas popula"es rurais ou nocampesinato somente !ualidades positivas &'livier de(ardan, ))*E *2. Contra esse tipo de populismo 7 a so-cioantropologia do desenvolvimento vai defender opopulismo metodolgico, !ue Lconsidera !ue os grupos ouatores de bai9o possuem conhecimentos e estrat$gias !ue

    precisam ser investigadas, mas, sem se pronunciar sobre seuvalor ou sua validadeL &'livier de (ardan, +E 172.

    3ssa nova forma de analisar implica tomar os processosde desenvolvimento em seus diversos nveis, articulandodiferentes escalas de an%lise, Ldesde os grupos focais dospro8etos, a burocracia desses pro8etos, as categorias !ueorientam as pr%ticas dos agentes do desenvolvimento, osaparatos do 3stado e seu pessoal , as organiza"es dodesenvolvimento &governamentais ou no2, burocraciasnacionais e multilaterais do desenvolvimentoL &/ierschenc0,+12.

    Como indica essa breve reviso de literatura, a refle9o

    antropolgica sobre a pr%tica e o discurso das a"es dedesenvolvimento ganhou impulso nas Kltimas d$cadas dos$culo HH, permitindo, por um lado, a forte crtica das a"esde desenvolvimento e, por outro, a constituio de umadisputa terica entre &pelo menos2 duas formas de apresentaro !ue seria uma renovada antropologia do desenvolvimento.3ste debate pode ser apresentado como o confronto entre acorrente centrada na desconstruo do discurso dodesenvolvimento e a verso crtica da aodesenvolvimentista centrada na abordagem doentrelaamento das lgicas sociais &A6A52.3ntretanto,apesar dessas diverg:ncias, vale destacar a e9ist:ncia de

    pontos comuns reclamados por essas duas abordagens. 5oisdeles nos parecem mais estimulantes, caso da abertura denovos campos de investigao=* e da necessidade de renovao dos estudos sobre odesenvolvimento pelo con8unto das ci:ncias sociais, uma vez!ue ela e9ige a construo de novos conceitos, a elaboraode novas estrat$gias de investigao e de novos dispositivosmetodolgicos, !uest"es !ue e9ploraremos na pr9ima seo

    desteartigo.

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    2. SOBRE OS MRITOS DA SOCIOANTROPOLOGIADO DESENVOLVIMENTO

    A abordagem da socioantropologia do desenvolvimentopossui diversos m$ritos, dentre os !uais considero como osmais importantes a sua :nfase na produo de estudos sobreprocessos de desenvolvimento com forte ancoragememprica e a procura de uma abordagem terica consistente,recusando o discurso f%cil do desconstrutivismo e dochamado populismo ideolgico.

    A preocupao com a dimenso terica est%relacionada com a necessidade de dissociar a antropologia

    do desenvolvimento de uma simples aplicao deconhecimentos antropolgicos, procurando conferirlegitimidade a essa subdisciplina, de forma !ue ela possaser considerada como um campo de estudos to nobre!uanto os ob8etos mais cl%ssicos da antropologia&parentesco e religio2 &'livier de (ardan, +=/ierschenc0, +2.

    'utra caracterstica importante da socioantropologiado desenvolvimento $ a recusa da separaoI (grandpartage) de ob8etos de estudo entre a sociologia e aantropologia. ;esse sentido, ela procura combinar astradi"es da sociologia da 3scola de Chicago com a

    pes!uisa etnogr%fica &'livier de (ardan, ))*E 2.

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    prio

    rimoraiseideolgicoseutilizav

    %riosm$todosdapes!uisadec

    ampo habituais da etnologia, para estudar,simultaneamente, as institui"es do desenvolvimento eas popula"es !ue com elas se relacionam, as in-tera"es entre Ld$veloppeurs et d$velopp$sL e as

    estrat$gias de atores pertencentes a mundos sociaisdiferentes !ue so colocados em contato pela pr%tica epelas polticas do desenvolvimento &'livier de (ardan,+1E *=12.

    ' estado de alerta !uanto # intromisso de aspectosmorais e normativos nas an%lises da socioantropologia dodesenvolvimento no implica uma postura naif oupositivista !uanto # relao entre interesses sociais eci:ncia,

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    mas uma preocupao em definir procedimentos deinvestigao !ue permitam o controle desses aspectos, deforma !ue as influ:ncias relativas #s escolhas polticas dopes!uisador situem-se a montante e a 8usante do processo deinvestigao &'livier de (ardan, +aE 7+2.

    ;esse mesmo sentido podemos identif icar a an%liseapresentada por >avigne-5elville &)))2, cu8o foco $ arelao entre a produo de conhecimentos pelasci:ncias sociais e apreciao de problemas colocadospelos atores no campo do desenvolvimento. 6ara esseautor, a socioantropologia do desenvolvimento nodesconhece a necessidade da crtica #s institui"es e aosprocedimentos das ag:ncias de desenvolvimento, bemcomo das rela"es de poder presentes nas diversasarenas das a"es de desenvolvimento, contudo, procuratamb$m oferecerEF... G ferramentas de an%lise e dedistanciamento crtico para a!ueles !ue no interiordesse sistema procuram realizar honestamente seutrabalho e a favorecer a construo de dispositivos deinterveno cu8as montagens institucionais, m$todos detrabalho e procedimentos de deciso se apoiem sobre oreconhecimento e !ue levem em considerao os 8ogosentre os atores e !ue permitam um certo ree!uilbriodas rela"es de poder &autonomia de deciso, acesso ainformao, acesso aos financiamentos etc.2 entre osatores, tornando a interveno menos heterMnoma&>avigne-5elville, )))E +I2.

    ;o plano mais especfico da operacionalizao dessaabordagem sobre estudos de desenvolvimento gostaria dedestacar duas contribui"esE i2 a an%lise dos diferentes nveisde coer:ncia da ao desenvolvimentista e, ii2 a discussosobre o papel desempenhado pelas representa"es eesteretipos incorporados pelos atores da configuraodesenvolvimentista.

    2.1. Sobre a coer!c"a #o$ %ro&e'o$ #e#e$e!(o)("*e!'o e $+a rece%-o %e)oca*a#o %/b)"co0a)(o

    ?m dos pontos mais des tacados pelas an%lises dasocioantropologia do desenvolvimento diz respeito aosdesencontros entre os ob8etivos visados e os resultadosobtidos pela ao de desenvolvimento.1 3n!uanto numa abordagem ps-estruturalista esse gap seriavisto como um dado !uase !ue imanente da aodesenvolvimentista, a socioantropologia do desenvolvimentodestaca dois aspectos !ue dificultam a coincid:ncia entreob8etivos e resultadosE i2 a comple9idade !ue marca a

    e9ecuo deum

    pro8eto dedesenvolvimento eosdiferentesnveisdecoer:n

    cia!uedevemseralcanadonessae9ecuo e,ii2 otipo de

    recepoRreao!ueessepro8eto ter%de seupKblico-alvo.

    ;o casodaprimeira!uesto,'livier de

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    (ardan &))*2 sugere a e9ist:ncia de pelo menos !uatronveis de coer:ncia !ue um pro8eto de desenvolvimento deveapresentar. ' primeiro n#vel corresponde # coer:ncia do

    pro8eto com o paradigma !ue lhe orienta. ' segundo est%relacionado com a ade!uao do pro8eto ao ambientemacroeconMmico em !ue se encontra inserido. A terceiradimens$o refere-se # coer:ncia entre os ob8etivosapresentados pelo pro8eto e a

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    atuao pr%tica dos organismos financiadores, en!uanto o

    %uarto e &ltimo n#vel de coer:ncia est% relacionado com algica de funcionamento da organizao !ue realiza opro8eto.

    A observao desses diferentes nveis de coer:ncia!ue devem perpassar uma ao de desenvolvimento apontapara a comple9idade inscrita na opera-cionalizao de umpro8eto, cu8a e9ecuo Lenvolve um con8unto diferenciadode atores sociais, oriundos de mundos diferentes e cu8oscomportamentos so orientados por lgicas mKltiplasL&'livier de (ardan, ))*E +*2.

    6ara e9emplificar a pertin:ncia dessas orienta"esindicadas pela so-cioantropologia do desenvolvimento

    apresento a seguir alguns e9emplos de contradi"es entre osnveis de coer:ncia de a"es &pro8etos2 de desenvolvimento!ue estudei nos Kltimos anos.

    ' primeiro caso refere-se # proposta dedesenvolvimento regional integrado apresentada pelogoverno federal !uando da e9ecuo do 6rograma BrandeCara8%s, na AmazMnia 'riental brasileira &6into, )+2,cu8os resultados mostraram !ue a ideia de desenvolvimentoregional integrado, articulando as diferentes regi"es esetores econMmicos da regio atravessada pela principalinfraestrutura do 6rograma &a 3strada de Perro Cara8%s2,ficaram apenas no papel.

    Tomando o argumento da necess%ria coer:ncia entreos diferentes nveis de coer:ncia de um pro8etodesenvolvimento, podemos nos perguntar se a con8unturaeconMmica na !ual esse 6rograma foi elaborado nocontinha de antemo os fundamentos de seu fracassoen!uanto ao de desenvolvimento regional integrado, umavez !ue sua apresentao ocorreu num momento em !ue o3stado brasileiro passava a enfrentar dificuldades definanciamento e com a reduo de sua capacidadeoperacional na regio AmazMnica &Carneiro,))=2.

    5a mesma forma, poderamos indagar o !ue poderia

    ser esperado das a"es de apoio a pe!uenos pro8etos dedesenvolvimento sustent%vel dirigidos por organiza"esindgenas e camponesas na AmazMnia brasileira pelo6rograma 6iloto de 6roteo #s Plorestas Tropicais &66B-12,) !uando todo um con8unto de polticas &fundi%ria,agrcola, creditcia, fiscal etc.2 operava em sentidocontr%rio ao desenvolvimento da produo agroe9trativistaV

    'utro aspecto destacado pela socioantropologia dodesenvolvimento refere-se #s diferentes formas pelas !uais

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    umpro8eto dedesen

    volvimento$recebido porseupKblico-alvo.(egundoessa

    abordagem,doisprincpiosoperamnessassitua"esEumprinc

    pio deseleo eumprincpio decontorno dopro8eto&'livier de

    (ardan,))*2.Tantoem umcasocomoem

    outro o !ue prevalece $ a ideia !ue o pKblico da aodesenvolvimentista no $ passivo, atuando, pelo contr%rio,atrav$s de mecanismos de seleo e de recusa do !ue lhe $proposto pelo dispositivo da ao de desenvolvimento.

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    3sses princpios so operados de forma diferenciadasegundo o conte9to e as lgicas !ue presidem a ao dopKblico-alvo, !ue, segundo 'livier de (ar-dan &))*E 7=-712 pode funcionar numa perspectiva de obter segurana, deampliar o tempo ou o escopo dos benefcios recebidos, ousimplesmente de se apropriar do !ue lhe $ oferecido pelaao de desenvolvimento.

    ?m e9emplo dessas estrat$gias &de seleo e decontorno2 operando num pro8eto de desenvolvimento podeser vista no caso da proposta de incluso de assentados dereforma agr%ria no abastecimento de mat$ria-prima para aindKstria madeireira na AmazMnia, denominada de florestasfamiliares &>ima et al., +72. 3laborada com o intuito deviabilizar a e9plorao da reserva legal dos assentamentos ede favorecer economicamente os assentados, a propostaacabou sendo instrumentalizada por agentes da indKstriamadeireira, !ue viram nela a possibilidade de obter o recursoflorestal necess%rio, sem se comprometer com as e9ig:nciasde logo prazo !ue a e9plorao atrav$s do mane8o florestale9ige &Carneiro, ++2.

    2.2. Re%re$e!'ae$ e e$'ere'"%o$ #o *+!#o a $er3a&+#a#o3?m Kltimo aspecto !ue pode ser destacado dessa abordagem$ a constatao de !ue a ao desenvolvimentis ta $organizada a partir de Lum con8unto de representa"es !ueestruturam a percepo !ue os atores da configuraodesenvolvimentista possuem do mundo dese8ado e do mundorealL &'livier de (ardan, ))*E *)2. 3ssas representa"es dosenso comum douto, chamadas pelo autor de infraideologiasdo desenvolvimento, !ue so partilhadas pelos atorespresentes na configurao desenvolvimentista, !ual!uer !uese8a sua filiao poltica, so normalmente produzidas apart ir de teoriza"es acad:micas e possuem como principaldefeito o fato de procurar generalizar e9plica"es !ue sonecessariamente parciais.

    'utra forma de apresentar esse descompasso entrerealidade &real de refer:ncia2 e a interpretao cientfica +aparece para os autores da socioantro-pologia dodesenvolvimento como o produto das diferentes formas !uelevam ao !ue eles denominam dos e!uvocos dasuperinterpretao, isto $, relacionado com a pro8eo de ume9cesso de sentido sobre a an%lise dos dados &'livier de(ardan, +aE +*)2. 3sse e9cesso interpretativo $ visto

    comooresulta

    do deduastend:ncias,comoo frutodeLumapro8eoe9cessiva de

    preconcep-"eseRoudeumapreguiametodolgicaL,cu8o

    resultado semanifesta deformasdiversas&reduo dae9plicao aum

    Knicofator,obsesso dacoer:ncia,generalizao

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    abusiva etc.2, !uando da elaborao de interpreta"es sobre arealidade estudada.

    3ssa preponderSncia do esteretipo sobre a realidade $

    um aspecto comumente observ%vel em a"es &polticaspKblicas2 !ue t:m o campesinato como pKblico-alvo. ;o casobrasileiro ele aparece geralmente com a identificao doscamponeses como um grupo social avesso aos estmulos

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    de mercado ou incapazes de adotar os padr"es ditosmodernos da tecnologia agrcola.

    6or outro lado, podemos destacar !ue essasubstituio da realidade pelo esteretipo no $ privil$giosomente das ag:ncias internacionais de desenvolvimento oude pro8etos oriundos de rgos governamentais, mas !ueperpassam o con8unto do campo das a"es dedesenvolvimento, influenciando as a"es de entidades e';Bs situadas no polo dominado desse campo, como podeser visto na tend:ncia a considerar os camponeses &ou asmulheres camponesas2 como propensos a uma relao maissustent%vel &ou agroecolgica+2 com o meio ambiente,desconsiderando o conte9to dessa relao ou a tra8etria dogrupo estudado.

    3sses e9emplos mostram a inade!uao da tentativade inde9ao de uma substSncia ao comportamento dosatores sociais !ue so o alvo da atuao desenvolvimentista&ou ps-desenvolvimentista, nos termos de 3scobar2, pois,como aponta a teorizao sociolgica contemporSnea, naobservao e descrio do mundo social $ preciso escapardas tenta"es essencial istas de definio dos atores&agentes2 sociais, procurando pens%-los sempre segundo suatra8etria histrica, o conte9to de insero e a relaoestabelecida com outros atores &agentes2 &/ourdieu @ac!uant, ))+2.

    4. LIMITES DA ABORDAGEM

    ?mas das caracter sticas mais salien tes dasocioantropologia do desenvolvimento $ a tran!uilidadecom !ue seus autores circulam entre as diferentesabordagens tericas das Ci:ncias (ociais, defendendo o usocombinado dessas diferentes perspectivas, se8am elasholistas, individualistas ou interacionistas. ' importantenesse processo $ separar os elementos ideolgicos dos

    componentes metodolgicos dessas abordagens, utilizando-os de forma razo%vel no estudo de !uest"es concretas.

    Tentar, no Smbito das configura"es de pensamentocontemporSneas das ci:ncias sociais, distinguir entreuma postura metodolgica &produtiva - em condi"esempricas - em termos de conhecimento2 e umadimenso ideolgica &contraproducente em termos deconhecimento - mas, no necessariamente em termospolticos ou sociais2 no $ para ns uma posiofilosfica, mas um segredo de nosso ofcio, um

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    segr

    edoparticularmenteimportante,

    principalmentesefazemosda

    busca do rigor um ob8etivo central &'livier de (ardan,+aE +=)2.

    Aps recusar o uso ideolgico das diferentes

    perspectivas tericas &ho-listas, individualistas,interacionistas2, 'livier de (ardan &+aE +*I2 defende umuso plural &ou ecl$tico2 dessas formas de abordagem dosocial, apesar de estar ciente das dificuldades !ue essapostura apresenta &L$ difci l reivindicar de maneira forte oecletismo terico e uma certa prud:ncia $ necess%riaL2.

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    ' uso ecl$tico de contribui"es oriundas de diferentescorpos tericos aparecem para 'livier de (ardan &))*E )2como uma necessidade de romper com o esprito de escola ++ea compreenso de !ue as disputas de paradigmas nas ci:nciassociais implica uma esp$cie de lei, segundo a !ual Lcadanovo ponto de vista se constitui atrav$s da oposio ao pontode vista anteriorL, contribuindo, dessa forma, para aformao de ortodo9ias e no para o di%logo entre diferentespontos de vista.

    Todavia, 8ustamente o uso ecl$tico de abordagensdiferentes+7!uanto ao papel do ator e da estrutura nos estudossobre desenvolvimento ser% ob8eto de uma crtica dirigida a'livier de (ardan por autores da chamada 3scola de@ageningen. Como apresento em seguida, Arce >ong&+12 defendem a utilizao de uma perspectiva centradanos atores como o caminho mais interessante da an%lise deprocessos de desenvolvimento, destacando, por outro lado, osproblemas relacionados com a utilizao do conceito deentrelaamento das lgicas sociais.

    ' uso ecl$tico de dois conceitos - campo e arena -tamb$m nos parece um elemento discutvel da perspectivaterica defendida pela socioantropo-logia dodesenvolvimento, uma vez !ue eles remetem a corpostericos &pelo menos o conceito de campo2 bastantefechados, motivo pelo !ual sustento !ue a utilizao de um ede outro no pode ser feita de forma to livre como propugna'livier de (ardan.

    4.1. I!'erac"o!"$*o *e'o#5"co o+ 'eor"a ce!'ra#a !o$a'ore$6Aps criticar a disputa entre individualismo e holismometodolgico, procurando situar-se a meio caminho dessasabordagens, 'livier de (ardan defende, em outro momento,uma abordagem classificada como interacionista meto-dolgica,+= o !ue lhe permite apresentar a perspectiva daantropologia do desenvolvimento da A6A5 e da 3scola de

    @ageningen como centradas na an%lise do Lentrelaamentodas lgicas sociaisL dos diferentes atores presentes nasarenas em !uem se desenrolam os processos dedesenvolvimento &'livier de (ardan, +2.

    Como sugerem os autores da socioantropologia dodesenvolvimento, tomar a ideia do entrelaamento daslgicas sociais como chave para a an%lise dos processos dedesenvolvimento implica considerar as mKltiplas lgicas !ue

    funcionamnesses

    processos,observandocomoelas secombinamou sere8eitam,dando

    origem aumfenMmenonovo,!ue $oresultado daaode-

    senvolvimentista,produto estediferente do!uefoipro8etadopelosagentes dodesenvolvimento oudosinteresses dopKblic

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    o-alvo da ao desenvolvimentista.

    A noo de entrelaamento implica uma ideia demescla, de mistura, de interpenetrao de estrat$gias e

    lgicas sociais !ue do origem a um produto finaldotado de !ualidades prprias, no !ual no $ possvelreconhecer a marca dos seus componentes iniciais&/ierschenc0, +1E 772.

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    Contudo, em artigo apresentado na obra comemorativa

    dos trabalhos de 'livier de (ardan &/ierschenc0 et al.,+12, Alberto Arce e ;orman >ong - representantes da3scola de @ageningen - recusam a ideia de !ue seustrabalhos possam ser considerados como baseados noentrelaamento de lgicas sociais, defendendo a perspectivade an%lise centrada nos atores.

    A maior vantagem da an%lise centrada no ator $ !ueela permite e9plorar um amplo le!ue de capacidades!ue os atores possuem para intervir no mundomaterial e social, conferindo especial ateno aostipos de conflitos e negocia"es relacionadas com asformas de interface social e a emerg:ncia de pr%ticas!ue modificam modos de vida e identidades e9istentese !ue no podem ser facilmente assimiladas nasrotinas estabelecidas cotidianamente. Tais rela"essociais e interfaces enri!uecem as e9peri:ncias devida dos atores por meios !ue afetam suas liga"es esentimentos individuais. 3sses Kltimos no podem serreduzidos de forma simples # noo de entrelaamentode lgicas sociais &Arce >ong, +1E -)2.

    Arce >ong &+1E )2 tamb$m criticam a ideia de!ue sua abordagem possa ser reduzida ou en!uadrada emuma an%lise !ue tem como elemento central o conceito delgicas sociais. 6ara esses autores, pensar o desenvol-vimento a partir do cruzamento de diferentes lgicas

    elaboradas por grupos sociais acaba por conferir umaspecto es!uem%tico e fi9o #s dimens"es mais importantes!ue caracterizam uma interao, ou se8a, os elementoscontingentes, ambivalentes e heterog:neos !ue marcam asa"es sociais. 6or este motivo eles preferem utilizar anoo de interface, a partir da !ual procuram apreender omovimento dos atores nas situa"es analisadas.

    6odemos compreender melhor essa opo dessesautores pelo conceito de interface vis-#-vis o deentrelaamento das lgicas sociais pelo foco do primeiro nainterao dos indivduos em relao - os Lelos e redes !uese desenvolvem entre indivduos ou partesL &>ong, +1E

    =+2 -, o !ue pode permitir aos autores da escola de@ageningen um certo deslei9o com os componentes maisestruturais !ue marcam as situa"es de desenvolvimento oua fazer com !ue eles propugnem a necessidade dareconstruo do conceito de estrutura &>ong ong,

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    +1E72.

    3ssevi$sinteracionista doconceito deestrutura de>onge seuscolegastalvezpossaser8ustificadopelotipodeob8etodeestudoabordado&transmisso deconhecimentos,interaocamponeses!

    t$cnicos,relao doscamponesescom omerca

    do2, mas $ de difcil sustentao !uando pensamos emsitua"es de desenvolvimento !ue envolvem odeslocamento forado de pessoas para a construo dehidrel$tricas &Castro, )) 4agalhes, ))2, para basesmilitares &(ouza Pilho, +)2 ou outros tipos de grandespro8etos industriais &

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    4.2. Are!a o+ Ca*%o6?m dos recursos utilizados pela socioantropologia dodesenvolvimento para abordar as situa"es dedesenvolvimento $ o conceito de arena,+*apesar da utilizaopor parte dos seus autores do conceito de campo +I e, porvezes, da citao da e9presso configurao &configuraodesenvolvimentista2.

    6ara a socioantropologia do desenvolvimento, umaarena+1 se caracteriza como um lugar de confronto entregrupos &atores2 estrat$gicos heterog:neos movidos porinteresses &materiais e simblicos2, atores esses dotados de

    Lpoderes relacionais distribudos de forma desigualL &'livierde (ardan, ))*E 1=2. 6or outro lado, assinala !ue arena $tamb$m uma noo de natureza intera-cionista, !ue toma umespao social em um sentido mais imediato no !ual os atorespossuem algum tipo de consci:ncia das disputas !ue sedesenrolam em seu interior.

    Fo conceito de arenaG 3voca, ao mesmo tempo, umaescala mais restrita e uma consci:ncia mais clara dosenfrentamentos por parte dos atores. ?ma arena, nosentido !ue ns a entendemos, $ um lugar deconfronta"es concretas de atores sociais em interaoacerca de !uest"es comuns. 3la se refere a um espaoLlocalL. ?m pro8eto de desenvolvimento $ uma arena.F...G. Arena possui um conteKdo descritivo mais forte!ue o de campo &'livier de (ardan, ))*E 1-1)2.

    Algumas das caractersticas citadas nessa definiomostram !ue, apesar de pr9imos, os conceitos de arena e decampo no so intercambi%veis, pois, como argumenta'livier de (ardan, o conceito de campo possui um uso denatureza mais macro e $ trabalhado numa perspectivaestrutural, Lmesmo se o uso da imagem do 'ogo e asrefer:ncias ao habitus introduzem uma dimenso estrat$gicae permitem levar em considerao as tomadas de posi"$o dosagentesL &'livier de (ardanE 1, grifo no original2.

    Contudo, apesar de apontar essas diferenas e suaprefer:ncia pelo conceito de arena, 'livier de (ardan &+E172 defende a possibilidade da utilizao da an%lise dodesenvolvimento em termos da teoria dos campos, com odetalhe !ue o uso dessa teoria e9igiria uma descrio maispronunciada do sistema de fora e das posi"es estatut%riasocupadas pelos agentes da arenaRcampo desenvolvimentistaem !uesto. Trabalhando nessa perspectiva, >avigne-5elville&)))2 argumenta !ue o uso da teoria dos campos seria um

    complementoindispens%vel #an%lisemicrossociolgicado8ogodeatoresemconfigura"esdesenvolvimentistasconcretas.6araesseautorE

    F...Gumaan%lisebourdieusia

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    na em termos de campo, de sistema de posi"es e dedisposi"es seria, sem nenhuma dKvida, frutfera parapMr em evid:ncia as lgicas estruturais e os mecanismosde reproduo do sistema de a8uda &do desenvolvi-

    mento2, sua hegemonia crescente e sua capacidade deneutral izar as an%lises crt icas produzidas comregularidade no interior e fora do sistema de a8uda aodesenvolvimento &>avigne-5elville, )))E ++2.

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    A!ui aparece uma vez mais o Lecletismo impenitenteLdos autores da so-cioantropologia do desenvolvimento, aoproporem o uso de conceitos oriundos de abordagens

    tericas opostas para o estudo de situa"es dedesenvolvimento. 3ntretanto, $ possvel !uestionar sobre apertin:ncia da complementaridade entre uma an%lise micro&arena2 e uma perspectiva macro &campo2, uma vez !ue oestudo de situa"es sociais em termos da teoria dos camposimplica considerar os agentes &com suas disposi"es ehaitus) de uma forma bastante diferente da !uenormalmente $ utilizada numa abordagem !ue pensa osatores em interao &arena2 com uma forte capacidade deag:ncia, de manipulao dos recursos e da prpriasituao.A esse respeito podemos citar a cr tica de/ourdieu ao interacionismo &metodolgico2 da abordagem

    dos fenMmenos econMmicos em termos de redes sociais,soluo !ue, segundo esse autor, tem por conse!u:nciaLfazer desaparecer todos os efeitos da estrutura social etodas as rela"es ob8etivas de poderL, representando umafalsa alternativa ao debate entre holismo e individualismometodolgico &/ourdieu, +E +=+2.

    Al$m dessa crtica, outra dificuldade em conciliarestudos sobre processos de desenvolvimento com a teoriados campos diz respeito ao tipo de investimentoinvestigativo !ue essa teoria e9ige, com a an%lise do tipo decapital especfico do campo em !uesto, das disposi"es edo posicionamento dos agentes nesse campo, +

    +)

    das rela"es estabelecidas com outros campos&campo poltico, campo intelectual2, o !ue faz com !ue, namaior parte das vezes, a meno # teoria dos camposrealizada por estudiosos do desenvolvimento se8a denatureza apenas metafrica.5e forma semelhante, mas emsentido contr%rio, outros utilizadores do conceito de arenana socioantropologia francesa, como 5aniel C$fai &))I2,procuram sublinhar as diferenas desse conceito em relaoao de campo, recusando a ideia de !ue os atores seorientem na arena buscando acumular diferentes esp$ciesde capitais e !ue a publicidade &!ue marca o conceito dearena pKblica2 se8a uma esp$cie de illusio !ue caberia #

    an%lise sociolgica desconstruir.Creio !ue no por outro motivo as posi"es maisrecentes dos defensores da socioantropologia dodesenvolvimento &'livier de (ardan, +* +12 somarcadas pelo privilegiamento de uma abordagem centradana interao e pela utilizao do conceito de arena, 7

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    7dei9ando de lado os componentes mais estruturais &ouLdominoc:ntricosL2 !ue normalmente esto associados #abordagem de /ourdieu. 7+

    CONCLUS7O

    ?m dos principais m$ritos da socioantropologia dodesenvolvimento $ o de procurar estabelecer uma baseconsistente aos estudos sobre os processos dedesenvolvimento, conferindo a esse campo de investigaoum estatuto terico respeit%vel em consonSncia com o debatecontemporSneo das Ci:ncias (ociais.

    ;esse movimento, seus defensores foram levados arefinar sua argumentao, detalhando suas escolhas tericasao mesmo tempo em !ue se posicionaram face #s abordagensconcorrentes, escolhendo o populismo metodolgico e aantropologia do desenvolvimento ps-estruturalista comoadvers%rios,77 ao mesmo tempo em !ue procuram estabeleceruma aliana com os trabalhos de ;orman >ong e seuscolegas da ?niversidade de @ageningen.(e no campo dosestudos sobre desenvolvimento a posio da socioan-tropologia do desenvolvimento $ clara e facilmentesustent%vel, com sua recusa aos e9cessos do populismoideolgico e da abordagem desconstrutivista, suas escolhasno debate mais amplo das Ci:ncias (ociais nem sempre semostraram coerentes, necessitando de retif ica"es aposteriori

    A tentativa de conciliar conceitos oriundos de escolastericas diferentes &campo e arena2, bem como o esforo emunificar um con8unto de trabalhos sobre o desenvolvimentoem torno da ideia do entrelaamento de lgicas sociaismostram as dificuldades enfrentadas por uma abordagem!ue, situando-se num campo disciplinar especfico &dasocioantropologia desenvolvimento2, tem de enfrentar odesafio de produzir e9plica"es !ue lidam com os principaistermos do debate contemporSneo das Ci:ncias (ociais.

    Afinal de contas, !ue tema mais espinhoso paraenfrentar o debate sobre a articulao entre ao e estrutura,acerca das rela"es entre dimens"es macro e micro da vidasocial &'livier de (ardan, +aE +=I-+*+2 7=7*!ue o das opera"es de desenvolvimentoV Como pensar, pore9emplo, a relao entre comunidades ou grupos sociaisatingidos por obras de grande envergadura - vide a literaturasobre a implantao de grandes pro8etos de investimento

    &ibeiro,))ong

    &+12#tentativa deresolverpartedessedebatecom orecurso ao

    conceito deentrelaamentodaslgicassociai

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    s mostra !ue o esforo da socioantropologia dodesenvolvimento em pMr um fim #s !uerelas entre escolas depensamento &'livier de (ardan, +aE +*I2 est% longe de ser

    alcanado, e9igindo um esforo maior na apresentao dosseus argumentos interpretativos.

    ' anKncio da ampliao do campo de estudos dessaabordagem, designada agora como uma socioantropologiados espaos pKblicos africanos 7I &'livier de (ardan, +12,apenas amplia os desafios dessa proposta de investigao,!ue estende seus horizontes para um le!ue maior de ob8etosde investigao.

    ecebido para publicao em 8unho de +.

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    Marcelo Sampaio Carneiro $ doutor em(ociologia pela ?niversidade Pederal do io deaneiro &?P2, com est%gio na Ucole de Nautes

    Utudes en (ciences (ociales &3N3((2. U professordo 6rograma de 6s-Braduao em Ci:ncias (ociais

    da ?niversidade Pederal do 4aranho &?P4A2.6ublicou recentemente &em co-autoria2 os livrosE A

    terceira margem do rio: ensaios sore a realidade doaranh$o no novo mil*nio &+)2 e A agricultura

    familiar da so'a na regi$o sul e o monocultivo noaranh$o &+2 e o artigoE L3ntre o 3stado, a

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    ARTIGO I MRCELO SAMPAIO CARNEIROPRTICAS, DISCURSOS EARENAS: NOTAS SOBRE A SOCIOANTROPOLOGIA DODESENVOLVIMENTO

    sociedade e

    omerca

    doEan%lise dos

    dispositivos

    degovern

    anada

    indKstria

    florestal na

    AmazMniaL

    &++2.

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    NOTAS

    Tamb$m identificada como antropologia dodesenvolvimento da A6A5, rede depes!uisadores !ue foi criada no incio dosanos )) e, como o prprio nome sugere,reKne pes!uisadores e praticantes europeus eafricanos !ue t:m no estudo de processos dedesenvolvimento seu ob8etivo comum&/ierschenc0, +2.

    + 3ssa refle9o nasceu nas discuss"es

    realizadas no Smbito do pro8eto de pes!uisaLAmazMnia e os 6aradigmas do5esenvolvimentoL, !ue foi desenvolvido comrecursos do 6rograma de CooperaoAcad:mica da Coordenao deAperfeioamento de 6essoal de ;vel(uperior - CA63( &6'CA52 e !ue contoucom a participao de professores do6rograma de 6s-Braduao em Ci:ncias(ociais da ?niversidade Pederal doAmazonas &66BC('CR?P4A2, do 6rogramade 6s-Braduao em (ociologia e

    Antropologia da ?niversidade Pederal do iode aneiro &66B(AR?P2 e do 6rograma de6s-Braduao em Ci:ncias (ociais da?niversidade Pederal do 6ar%&66BC(R?P6A2.

    7 A A6A5 possui um boletim disponvel nainternet no !ual podem ser encontradascontribui"es sobre os principais temasestudados por seus pes!uisadores.

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    realizados pela denominada escola de@ageningen &Nolanda2 referem-se aos trab-alhos impulsionados, a partir de ), por

    ;orman >ong e !ue sero identificados pelaeti!ueta da Lan%lise orientada para os atoresL&Buivant, ))1 5e >a 6ena, +12.

    I 6ara /ierschen0 &+E I-12 o antecedentehistrico dessa utilizao da antropologia porinstitui"es de desenvolvim

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    entos $ a antropologia aplicada, tal comoesta foi elaborada por antroplogosamericanos desde os anos )7, em tra-balhos sobre reservas indgenas,organiza"es industriais e estudos decomunidades rurais, no Smbito do ;eO5eal da administrao oosevelt.

    1 A evoluo do nKmero de antroplogosno Smbito da ?(-AJ5 $ destacada por

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    !uem odis

    curso&dodesenvolvimento2 $produzido

    e,ain-damenos,comoele$recebi

    doepodeserdesconstrudoL&/iers

    chenc0,+E72.

    Comono

    caso dos conceitos de populismo,individualismo e holismo, 'livier de(ardan tamb$m distingue um bom e um

    mau uso do conceito de interao. ' mauuso do conceito de interao seria a!uele!ue o confina #s Lsitua"es de interao ena busca de uma gram%tica formal dessasintera"es &os trabalhos de orientaoetnometodolgica ilustram bem essasarmadilhas2L &'livier de (ardan, +E1=+2.

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    + 3sse $ t amb$m o espr ito da sociologiado desenvolvimento orientada para os atoresde ;orman >ong e seus colaboradores &>ong ong, +12.

    7 ' polo oposto dessa abordagem seria o!ue 'livier de (ar-dan &))*E I-12classif ica como LmiserabilismoL, !ueconsistiria em negar !ual!uer capacidade aosdespossudos de reagirem face aosmecanismos de dominao, tomando comorefer:ncia a crtica de ean-Claude 6asserona algumas an%lises de 6ierre /ourdieu.

    = 6ara /ierschenc0 &+E =2 as diferenasentre esses dois tipos de antropologia dodesenvolvimento podem tamb$m serrelacionados a algumas caracterst icasespecficas dos locais &3uropa e Am$rica do;orte2 de sua elaborao. 5iferenas !uedizem respeito ao pertencimento a comuni-dades epist:micas, a tradi"es discursivas,bem como ao mercado editorial.

    * 5entre os temas novos indicados para ainvestigao esto o estudo dos Lantecedentes

    histricos do desenvolvimento a etnografiadas institui"es do desenvolvimento, daslinguagens e suas subdivis"es a an%lise dacontestao e das resist:ncias as interven"esdo desenvolvimento as biografias crticas eas autobiograf ias dos praticantes dodesenvolvimentoL &3scobar, ))1E *=2.

    I (egundo C$fai &+7E =12 essaseparao foi erodida, entre outras coisas,pela utilizao crescente da etnografia para oestudo de !uest"es !ue eram e9ploradasunicamente por socilogos, Labrindo caminho

    para uma autorrefle9o sobre as figuras damodernidadeL1 ' ! ue e !uivale # defesa de u m papel

    reformista para a socioantropologia dodesenvolvimentoE L' papel pr%tico dasCi:ncias (ociais no deve se reduzirunicamente a uma funo crtica e deprotesto. A mod$stia do reformismo, em

    mat$riadodesenvolvimentocomoalhures,possuitan-tagrandeza!uantoabravuradodenuncismoL&'livierde(ardan,+=E72.

    Como

    destaca/ar$&))1Ep.=+2ELentre

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    decis"es ou orienta"es macroeconMmicas e ainstalao de polticas e pro8etos de a8udae9iste todo um con8unto de media"es ins-titucionais e humanas !ue possuem relaocom as conse!u:ncias dessas a"esL. Acrtica da suposta racionalidade

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    da ao plane8ada pelo 3stado tamb$m $um dos focos das an%lises de >ong &)+,+12.

    )39peri:ncias !ue foram apoiadas noSmbito do 65A, subprograma integrantedo 66B-1, !ue visava identificar e apoiarformas sustent%veis de gesto dosrecursos naturais na AmazMnia e na 4ataAtlSntica. ?ma avaliao dessase9peri:ncias desenvolvidas na AmazMniapode ser verificada no trabalho L3studosda AmazMniaE avaliao de vinte pro8etos

    65AL &/rasil, +=2.+3m obra recente, 'livier de (ardan&+aE )2 discute os aspectosepistemolgicos da produo deconhecimento pela socioantropologia,chamando a ateno para a crtica dailuso realista oriunda do positivismocl%ssico, ao mesmo tempo em !uedefende a e9ist:ncia de um real derefer:ncia, passvel de ser conhecido &deforma parcial2 atrav$s dos instrumentosde investigao.

    +Buivant &))1E =++2 faz uma crticapert inente desse tipo de idealizaoe9istente nos discursos !ue defendem aagroecologia, contrapondo-a de formadicotMmica ao conhecimento cientfico-t$cnico.

    ++39ceo feita # crtica constante desseautor #s abordagens culturalistas !uemarcam parte importante dos estudosantropolgicos. 6ara 'livier de (ardan, oculturalismo funciona como uma esp$ciede holismo ideolgico na antropologia,

    reduzindo as realidades estudadas aoconceito de cultura, pensado como algohomog:neo e !ue e9plica ofuncionamento dessa realidade &'livierde (ardan, +aE77 +bE 2.

    +7'utro tipo de crtica $ a feita por Copans&+1E 12, !ue contesta a

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    socioantr

    opologiadodesenvolvimento-umtipo

    nobredeantropologiasemnome,t$cnica,semrefer:nciaehistria-porinibir oestabelecimentodeumaver

    dadeira antropologia social na Yfrica.+=

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    socioantropologia do desenvolvimento&'livier de (ardan,

    ))*E 1I2.+I' conceito de campo nos permite analisar as

    situa"es de desenvolvimento como um todoestruturado no !ual determinados agentes&dominantesRdominados2, dotados de umcon8unto variado &em termos de volume eestrutura2 de capitais, estabelecem rela"esde cooperao e disputa &/ourdieu @ac!uant, ))+2.

    +15efinida como arena poltica, uma vez !ue asa"es analisadas ocorrem sempre em umconte9to de Lconfrontao e de luta deinflu:ncia entre um con8unto de atoressociais !ue esto implicados F...G com a buscade vantagens e de inconvenientes !ue todaao de desenvolvimento sup"eL &'livier de(ardan, ))*E 1*2.

    +;orman >ong trabalha com o conceito decampo social, contudo, faz !uesto dedestacar a diferena entre sua abordagem -!ue inclui os conceitos de arena e domnio-da perspectiva estrutural !ue o conceito decampo assume com /ourdieu &>ong, +1E+72.

    +)Como assinalou >oiZc @ac!uant &/ourdieu @ac!uant, ))+E +=2 os conceitos de campo ehabitus so insepar%veis. ' habitussignificando os es!uemas mentais e corporaisde percepo, apreciao e ao !uepossibilitam a atuao dos agentes no campo,e este Kltimo fornecendo o !uadro geral em!ue essa ao transcorre.

    73sse $ o caso, por e9emplo, da utilizaodesse conceito por ibeiro &+2 em artigosobre o campo do poder presente nas a"esde desenvolvimento.

    7'utro tipo de crtica feita ao uso do conceitode arena por 'livier de (ardan remete #dificuldade em isolar nos estudos sobresitua"es de desenvolvimento as influ:nciasde atores !ue no esto diretamente

    envolvidos,emcontato,noespaolocalestudado,mas!ue

    desempenhamumpapelfundamental naelab

    oraodaa8uda aodesenvolvimento&/ar$,

    +1EI2.

    7+6araumacrti

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    ca # utilizao indiscriminada da teoria doscampos, ver >ahire &+2, !ue sublinha,entre outros aspectos, !ue nem todas asesferas da vida social so passveis de umaan%lise em termos dessa teoria.

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    773m te9to produzido em +, comrefle9"es elaboradas a partir de cursosrealizado na ;eO (chool for (ocialesearch de ;ova [or0, /ierschenc0relativiza um pouco essa oposio entre asocioantropologia do desenvolvimento ea nova antropologia do desenvolvimentoanglfona, destacando as caractersticasprprias de cada um desses estilos defazer antropologia do desenvolvimento,conforme indicado na nota =.

    7=Al$m dos pontos em comum ressaltadosao longo do art igo entre essas duasabordagens, vale sublinhar !ue a

    abordagem centrada nos atores tamb$mcritica a forma como os autores ps-estruturalistas utilizam o conceito dediscurso &>ong, +1E 7*2.

    7*6ara Chauveau &+12, a combinao dadescrio em senso restrito, fundada naobservao de campo, com a descrioem sentido amplo, baseada em dados noobservados, proposta por 'livier de(ardan permanece um tema no resolvidopela socioantropologia do de-senvolvimento.

    7IComo destaca 'livier de (ardan &+1E*=2E L's temas da socioantropologia dosespaos pKblicos africanos, !ue sereferem no seu essencial ao estudo daproduo e gesto de bens e serviospKblicos ou coletivos na Yfrica, incluem,por conseguinte, as opera"es dedesenvolvimentoL.

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    RE8ER9NCIAS BIBLIOGR8ICAS

    /ar$, ean-Pranois. 5e lZanthropologie audeveloppement et retour. +evue iers onde,+1, ), p. *)-I.

    \\\. >Zanthropologie et les politi!ues ded$veloppement.errain, ))1, +. 5isponvel emWhttpERRterrain.revues.orgRdocument7.html X. Acesso em out.+./ierschenc0, Thomas. Anthropologie etd$veloppement. Nistoriciser et localiser lesapproches. -or.ing Papers, +, 1b.5epartment of AnthropologiD and African(tudies, ?niversitat ohannes Butemberg -4ainz.

    \\\. 3nchev:trement des logi!ues sociales Eean-6ierre'livier de (ardan, un anthropologue dud$veloppement. JnE /ierschenc0, Thomas etalli &orgs.2. /ne anthropologie entre rigueur etengagement 6arisR>eidenE ]arthalaRA6A5,

    +1, p. +*-=1.\\\et al. &orgs.2. ?ne anthropologie entrerigueur et en-gagementE 3ssais autour de lZoeuvre de ean-6ierre 'livier de (ardan. 6arisR>eidenE ]arthalaRA6A5,+1./oltans0i, >uc. 0amour et la 'ustice commecompetences: trois essais de sociologie del1action 6arisE 3d. 4$taili$, ))./oudon, aDmond. Brandeur et d$cadence

    des sciences du d$veloppementE une $tude desociologie de la coinas- sance. I1Annie2ociologi%ue, ))+, =+, p. +*7-+1=.

    /ourdieu, 6ierre. 3es structures sociales del14conomie 6arisE

    (euil, +.

    \\\ @ac!uant, >oiZc. +4ponses 5 Por une

    anthropologi

    e

    r4fle!ive6arisE(euil,))+./rasil.4inist$riodo4eioAmbie

    nte.(ecretaria deCoor-denao daAmazMnia.6rograma6ilotopara

    6roteo dasPlorestasTropicais.(ubprograma6ro8etos5emo

    nstrativos.6studos daAma78nia:Avalia"$o devinte

    http://terrain.revues.org/document3180.htmlhttp://terrain.revues.org/document3180.htmlhttp://terrain.revues.org/document3180.htmlhttp://terrain.revues.org/document3180.html
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    ARTIGO I MRCELOSAMPAIO CARNEIRO

    pro'etos P9A /rasliaE 4inist$rio do 4eioAmbiente, +=.Carneiro, 4arcelo (. Jnvestimento estatal e

    movimentos sociais na AmazMnia 'rientalEbreve an%lise do incio da d$cada.9esenvolvimento Cidadania, ))=, 7R7, p.+-+1.

    \\\. 3ntre o 3stado, a sociedade e o mercadoEan%lisedos dispositivos de governana da indKstriaflorestal na AmazMnia. Cadernos do C+;,++, +*, p.17-I.

    153

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    Castro, 3dna 4. . esist:ncia dosatingidos pela barragem de Tucuru econstruo de identidades. JnE Castro, 3dna N$bete, ean &orgs.2. livier de 2ardan 6arisR>eidenE ]arthalaRA6A5, +1, p. ==7-=1=.Copans, ean. >es frontiQres africaines delZanthropologie. ?n demi-siQcle

    dZinterpellations. =ounal des Anthropologues,+1, -. 5isponvel emWhttpERR8da.revues.orgR+=)). htmlX. Acessoem * mar. +.5e >a 6ena, Buillermo. 6resentacin. JnE>ong, ;orman. 2ociolog#a del desarrollo: unaperspectiva centrada en el actor 4$9ico, 5.P.E Centro de Jnvestigaciones D 3studios

    http://jda.revues.org/2499.htmlhttp://jda.revues.org/2499.html
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    ARTIGO I MRCELOSAMPAIO CARNEIRO

    (upe-rioresen

    Antropologa(ocial,+1,p. 1-.5osse,Pranois.

    0empire dusens31humanisation desscienceshumaines6arisE>a

    5$couverte,))*.3scobar,Arturo.AnthropologDandand

    developmenten-counterE thema0ing andmar0e

    ting of development anthropologD.American 6thnologist, )), R=, p. I*-I+.

    \\\. 3l desarrollo sostenible. 5ialogo dediscursos. 6cologia

    Pol#tica, ))*, ), p. 1-+I.

    ???. 3a invencin del ercer undo 5construccin y deconstruc5cin del desarrollo /arcelonaE Brupo3ditorial ;orma, ))I.

    \\\. Anthropologie et d$veloppement.+evue Internationale

    des 2ciences 2ociales, ))1, *=, p. *7)-**).

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    PaugQre, 3lsa. +egards sur la cultured4veloppementiste: representations et effets nonintentionnels 5ocument de Travail, n^ +.6arisE B3T, +.Buivant, ulia (. Neterogeneidade deconhecimentos no desenvolvimento ruralsustent%vel. Cadernos de Ci*ncia e ecnologia,))1, =R7, p. =-==I.Namel, ac!ues. >a socio-anthropologie, unnouveau lien entre la sociologie etlZanthropologie. 2ocio5anthropologie, ))1, .5isponvel em WhttpERRsocio-anthropologie.revues. orgRinde917.htmlX.Acesso em * mar. +.Nart, ]eith. _uel!ues confidences surlZanthropologie du d$veloppement.6thnographi%ues, ++, +. 5isponvel emWhttpERRethnographi!ues.orgRdocumentsRarticleRarNart. htmlX. Acesso em + ago. +*.Nirschman, Albert. A economia como ci*nciamoral e pol#tica (o 6auloE /rasiliense, )*.uan, (alvador. >a Lsocio-anthropologieLE

    champ, paradig-me ou disciplineV egardspart iculiers sur les entretiens de longue dur$eou dZobservation. Bulletin de 4thodologie2ociologi%ue, +*, 1. 5isponvel emWhttpERRbms.revues. orgRinde9I).htmlX.Acesso em +I mar. +.>ahire, /ernard. Champ, hors-champ,contrechamp. JnE\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\.&org.2. 3e travail sociologi%ue de PierreBourdieu: dettes et criti%ues 6arisE >a5$couverte, +, p. +7-*1.>avigne-5elville , 6hilippe. Jmpassescognitives et e9pertise en sciences socialesErefl$9ions # propos du d$veloppe-ment ruralen Afri!ue. Coop4rer Au'ourd1hui, ))), )&B3T, >es documents de la 5irectionscientifi!ue, +p.2>ima, 3irivelthon et al. @lorestas familiares:

    umpactoscio-ambientalentre aindKstriamadeireira eaagriculturafa-miliarnaAmazMnia./el$mEJ6A4,+7.>ong,;orman.2ociologiadeldesarrollo:umaperspectivacen5tradaem elactor4$9ico, 5.PECentrodeJnvestigaciones D3studios

    http://socio-anthropologie.revues.org/index73.htmlhttp://socio-anthropologie.revues.org/index73.htmlhttp://ethnographiques.org/documents/article/arHart.htmlhttp://ethnographiques.org/documents/article/arHart.htmlhttp://bms.revues.org/index869.htmlhttp://socio-anthropologie.revues.org/index73.htmlhttp://socio-anthropologie.revues.org/index73.htmlhttp://ethnographiques.org/documents/article/arHart.htmlhttp://ethnographiques.org/documents/article/arHart.htmlhttp://bms.revues.org/index869.html
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    (uperiores en Antropologa (ocial, +1.\\\. 5u paradigme perdu au paradigme... .

    retrouv$V 6orune sociologie du d$veloppement orient$evers les acteurs. 3e Bulletin de APA9, ))=,1. 5isponvel em WhttpERRapad.revues.orgRdocument+7.htmlX. Acesso em* ago. +).

    ???. Introdu"$o sociologia do desenvolvimentorural io de

    aneiroE `ahar, )+.

    155

    http://apad.revues.org/document2183.htmlhttp://apad.revues.org/document2183.htmlhttp://apad.revues.org/document2183.htmlhttp://apad.revues.org/document2183.html
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    156

    \\\ ondresE >ongmans,))=, p.I+-).>ebrec!ue, 4arie Prance. >Zanthropologiedu d$veloppement au temps de lamondialisation.Anthropologies et 2oci4t4s,+, R+=, p. *1-1.

    4agalhes, (onia. 39propriao emobilizao - a dupla face da relao entreos grandes pro8etos e a populaocamponesa. JnE N$bette, ean &org.2. >cerco est se fechando: o impacto do grandecapital na Ama78nia 6etrpolisRio deaneiroR/el$mE

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    ARTIGO I MRCELOSAMPAIO CARNEIRO

    1=, p.7I-=.

    \\\.

    >estroisapprochesenanthropologie dud$veloppe-

    ment.+evueiersonde

    ,

    +,I,p.1+)-1*=.

    ???.

    Anthropologie et

    develo

    ppment:

    essai

    ensocio5

    anthro

    polo5

    gie duchang

    ement

    social6arisEA6A5R]arthala,

    ))*.

    6into, >Kcio P. Cara's > ata%ue ao cora"$oda Ama78nia io de aneiroE 4arco `ero,

    )+.anc, 3lisabeth. > Zanthropologie dudeveloppement au9 Utats-?nisE forces etpromesses dZune nouvelle profession.Cahiers des 2ciences ;umaines, ), +=R=, p.=*7-=I).ecasens, Andreu

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    ist, Bilberto. 3e d4veloppement ;istoired1une croyance occi5dentale 7. ed. 6arisE >es

    6resses de (ciences 6o, +1.ibeiro, Bustavo >. 6oder, redes e ideologiano campo do desenvolvimento.

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    AZEVEDO AMARAL E O SCULO DO CORPORATIVISMO, DEMICHAEL MANOILESCO, NO BRASIL DE VARGAS

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    Resumo:3sse artigo tem como ob8etivo a an%lise dascontribui"es de uma abordagem intelectual,denominada socioantro-pologia dodesenvolvimento, para a an%lise de situa"es&6rogramas, pro8etos, a"es2 de desenvolvimento.' te9to articula dois nveis de ref le9o.Jnicialmente, a :nfase se dar% sobre a tra8etriarecente dos estudos sobre processos dedesenvolvimento, !ue, partindo de uma crtica #antropologia para o desenvolvimento enunciam osurgimento de novas abordagens. 3m um segundo

    momento, o foco ser% direcionado para adiscusso da socioantropologia do de-senvolvimento, destacando a metodologia dessaproposta de invest igao, analisando seus pontosfortes e fr%geis . Apesar das fragil idadesidentificadas consideramos !ue o balano daproposta da socioantropologia do desenvol-vimento $ amplamente favor%vel, principalmenteo !ue concerne ao propsito dessa corrente emestabelecer uma base consistente aos estudossobre os processos de desenvolvimento,conferindo a esse campo de investigao um es-

    tatuto terico respeit%vel, em consonSncia com as!uest"es presentes no debate contemporSneo dasCi:ncias (ociais.

    Palavras-cave:(ocioantropologia5esenvolvimentoArenas, 6r%ticas5iscursos.

    CNO CN IU~lCO

    ^4! o

    !"s#rac#:This paper aims to analDze the contribution ofthe approach of the socioanthropologD ofdevelopment to the investigation ofdevelopment situations, such as programs,pro8ects, and actions. Jt combines tOo levels ofconsideration. The first level emphasizes therecent path of studies on developmental

    processes, from Ohich neO approachesemerge. The second level considers thediscussion of the socioanthropologD ofdevelopment, highlighting its methodologD andta0ing stoc0 of its strong and Oea0 points.5espite some fragilities, the approach of thesocioan-thropologD of development is seen asbroadlD favourable, mainlD concerning its goalof providing a solid basis for the studies on the

    developmentalprocesses, Ohichcan bestoO onthis research fielda respectabletheoretical status.

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    $e%&or's:

    (ocioanthropologD 5evelopment Arenas6ractices 5iscourses.

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