Casamento D. Leonor e frederico III
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A cidade como palco: as festas do casamento de Leonor de Portugal com
Frederico III da Alemanha
Vista panorâmica da cidade de Lisboa no princípio do século XVI, segundo uma
iluminura atribuída a Francisco de Holanda (Museu Condes Castro Guimarães, Cascais);
no ponto mais alto, o morro do castelo, ficava situado o palácio real, e um pouco mais
abaixo, na encosta, a sé catedral; é também visível a praça do rossio e o cais da ribeira.
- Entre os dias 13 e 25 de Outubro de 1451 a cidade de Lisboa foi o
palco e o cenário de um conjunto variado de festejos para comemorar
o casamento da infanta Leonor de Portugal, irmã do então rei Afonso
V, com o imperador da Alemanha, Frederico III.
Nicolau Lanckman de Valckenstein, capelão imperial e
embaixador alemão em Portugal, escreveu um relato muito
pormenorizado dos vários festejos que antecederam a partida
da princesa Leonor; apresenta-se aqui um pequeno excerto
ilustrativo da sua obra:
"No dia 14 do mês de Outubro (...). Depois, prosseguindo, em quarto
lugar, em frente da igreja metropolitana onde repousa o corpo de S.
Vicente, estava o reverendíssimo senhor arcebispo, com os seus
cónegos e outros muitos clérigos, paramentados, aclamando a
senhora desposada, a imperatriz, Dona Leonor, que tinha chegado à
sua frente, com os irmãos, as irmãs e os embaixadores, a cavalo com
muito povo. A todos eles o dito senhor arcebispo deu-lhes a bênção.
(...) Entretanto, uma criança, vestida de anjo, descia da torre alta da
igreja, por um engenho de homens, trazendo uma coroa de ouro à
senhora imperatriz, e cantando suspensa no ar (...). Havia sido
armado aí um local à maneira de Paraíso e dele uma criança
angelical, descia pelo ar das alturas, de certa janela da torre,
trazendo rosas numa bacia dourada (...). (...) estava reunido muito
povo, quase vinte mil pessoas de ambos os sexos, e foi pronunciado
perante toda a multidão um discurso por um notável doutor, durante
quase meia hora, em honra e louvor do sereníssimo senhor
imperador, o esposo, e da sua dilecta esposa Dona Leonor (...)."
Aires Augusto Nascimento (trad.), Leonor de Portugal, Imperatriz da
Alemanha, Lisboa, Edições Cosmos, 1986.
- Aqui estiveram presentes embaixadores que representavam os reis
de toda a Europa.
- Tipos de festejos: durante dias e noites realizam-se, em privado ou
perante a população lisboeta: banquetes, danças, jogos, cortejos,
touradas e matança de touros, cuja carne era distribuída pelo povo,
exibição de animais e homens exóticos que haviam sido trazidos de
África, torneios, justas, duelos e caçadas, representações teatrais,
declamações de discursos de homenagem à princesa tornada
imperatriz, cerimónias religiosas, festas populares e folguedos vários.
- Locais: este conjunto de festas ocorreu em locais distintos da
cidade: no castelo, onde então se localizava o Paço régio, em outros
palácios, na sé catedral, nas praças, como a do Rossio, e nas próprias
ruas.
- No itinerário das festas, o palácio e a catedral constituíam os
"palcos" mais importantes, por representarem o poder político e o
religioso, respectivamente, que se impunham sobre a cidade e os
seus habitantes.
- O significado da festa: estas festas foram, assim, uma ocasião
privilegiada para a encenação e exibição propagandística do poder do
rei de Portugal, perante os embaixadores europeus e os seus
súbditos. Mostram também o grau de desenvolvimento que as
cidades alcançaram no século XV, que se havia iniciado no século XII,
e a sua centralidade política, administrativa e cultural.