Caso Clinico - Asma y TBC

download Caso Clinico - Asma y TBC

of 6

Transcript of Caso Clinico - Asma y TBC

  • 7/23/2019 Caso Clinico - Asma y TBC

    1/6

    Asma e Tuberculose

    Casoclnico

  • 7/23/2019 Caso Clinico - Asma y TBC

    2/6

    Asma e Tuberculose

    Caso clnico 1GAF, 46 anos, sexo feminino, branca, casada.

    Paciente asmtica em uso de formoterol 12 mcg /

    budesonida 400 mcg, duas vezes ao dia. Apresentouemagrecimento com tosse produtiva e febre diria

    por trs meses. A radiografia apresentou opacidades

    apicais bilaterais e PPD com 21 mm. Apesar de a

    baciloscopia do escarro ter sido negativa, foi iniciado

    tratamento para tuberculose pulmonar baseado nas

    apresentaes clnica e radiolgica.

    Aps um ms de utilizao de esquema trplice,

    regrediram todos os sintomas relacionados tuber-

    culose. A paciente completou o tratamento em seismeses e recebeu alta do Ambulatrio de Tuberculose.

    Durante todo o perodo, manteve a asma controlada

    com o uso da combinao formoterol / budesonida,

    no sendo necessrio o uso de corticoide oral, antibi-

    ticos ou associao de outros antiasmticos.

    Caso clnico 2NS, 32 anos, sexo masculino, branco, solteiro.

    Paciente asmtico em uso de formoterol 12 mcg /budesonida 400 mcg, duas vezes ao dia. Apresentou

    tosse produtiva e perda ponderal por dois meses. Ra-

    diografia com infiltrado micronodular difuso bilateral.

    A broncofibroscopia demonstrou leso ulcerada en-

    dobrnquica; a bipsia revelou tratar-se de processo

    inflamatrio crnico granulomatoso. Realizado diag-

    nstico de tuberculose pulmonar e endobrnquica, e

    iniciado esquema trplice.Aps dois meses de uso das drogas antitubercu-

    lose, regrediram os sintomas da doena. O paciente

    completou o tratamento em seis meses, com melhora

    clnica e radiolgica, e recebeu alta ambulatorial. Du-

    rante todo o perodo, manteve a asma controlada com

    o uso da combinao formoterol / budesonida, no

    sendo necessrio o uso de corticoide oral, antibiti-

    cos ou associao de outros antiasmticos.

    Caso clnico 3AC, 60 anos, sexo feminino, negra, viva.

    A paciente apresentava histrico sugestivo de

    asma na infncia, mas nunca investigou ou tratou.

    Procurou o servio por tosse produtiva e dispneia

    progressiva com seis meses de durao. A radiogra-

    fia torcica apresentou infiltrado micronodular difuso

    bilateral e a pesquisa de BAAR no escarro deu positi-

    va, diagnstico confirmado por meio de cultura.Aps trs meses de medicao antituberculose, a

    paciente apresentou melhora da dispneia, que agora

    se manifestava aos grandes esforos; a tosse pas-

    sou a ser seca, mas iniciou com sibilncia difusa. Foi

    Mauro Gomes CRM-SP 59917

    Mestre em Medicina e professor da disciplina de Pneumologia daFaculdade de Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo.

    Coordenador do Ambulatrio de Tuberculose e Bronquiectasiasda Santa Casa de Misericrdia de So Paulo.

    Mdico colaborador da disciplina de Pneumologia da Unifesp Ambulatrio de DPOC.

    Caso clnico

  • 7/23/2019 Caso Clinico - Asma y TBC

    3/6

    1a

    1b

    2a

    2b

    introduzida a combinao formoterol 12 mcg / bude-sonida 400 mcg, duas vezes ao dia, com regresso

    total do quadro. Aps seis meses de tratamento, hou-

    ve regresso clnica e radiolgica, recebendo alta do

    Ambulatrio de Tuberculose.

    DiscussoEstimativas da Organizao Mundial da Sade

    apontam que cerca de cem milhes de pessoas no

    mundo so infectadas a cada ano pelo bacilo da tu-berculose, com trs milhes de mortes anuais. No

    Brasil, estima-se uma incidncia de cerca de 110 mil

    casos novos anuais de tuberculose. Com relao

    asma, segundo a Global Initiative for Asthma (GINA),

    estima-se que mais de 300 milhes de pessoas te-

    nham a doena ao redor do mundo, com evidncias

    de aumento da prevalncia em vrios pases. No

    Brasil, a estimativa que mais de 10% da populao

    tenha asma, situao que pode ser ainda pior se en-tendermos que h subdiagnstico da doena.1

    Com essa alta prevalncia das duas doenas, se-

    ria de se esperar o achado frequente da associao

    entre asma e tuberculose na prtica diria, mas no

    isso que comumente se observa. No Ambulatrio deTuberculose da Santa Casa de Misericrdia de So

    Paulo, entre 554 pacientes tratados por tuberculose,

    oito (1,4%) se apresentaram com essa associao,

    sendo que apenas um doente apresentou descontrole

    da asma durante o tratamento da tuberculose.

    Existem poucos estudos relacionando asma e

    tuberculose. Em um deles, foram encontrados nveis

    aumentados de TNF-alfa nas duas doenas, mas po-

    limorfismo do gen G-308A foi relacionado asma, eno tuberculose.2

    Uma possvel explicao para a pouca frequncia

    da associao entre asma e tuberculose pode estar

    relacionada ao fato de que as vias da resposta imune

    so diferentes nas duas doenas. Os linfcitos T, cha-

    mados auxiliares, podem produzir dois tipos de res-

    posta inflamatria, as quais so chamadas de reao

    do tipo Th1 (mediada principalmente pela interleuci-

    na 2 e pelo interferon-gama) e do tipo Th2 (mediadapelas interleucinas 4, 5, 6, 10 e 13). Na tuberculose,

    h predomnio de resposta do tipo Th1, o que favo-

    rece a doena a limitar-se e a localizar-se, enquanto

    na asma h predominncia do tipo de resposta Th2.

    Figura 1a e 1b Radiografias em posio posteroanterior de caso detuberculose com apresentao radiolgica difusa bilateral antes e apstratamento

    Figura 2a e 2b Cortes tomogrficos com ndulos centrolobularesdi-fusos bilaterais, bronquiectasias e opacidades irregulares, bilaterais, emcaso de tuberculose

  • 7/23/2019 Caso Clinico - Asma y TBC

    4/6

    Embora isso seja fato, controverso para explicar abaixa associao entre asma e tuberculose. Essa ex-

    plicao no esclarece todas as situaes, visto que,

    nas formas disseminadas da tuberculose, h predo-

    mnio de resposta do tipo Th2.3 Coincidncia ou no,

    nos trs casos relatados, a apresentao radiolgica

    da tuberculose no era localizada (figuras 1 e 2).

    Baseado nesse aspecto imunolgico, elaborou-se a

    hiptese, igualmente sujeita a questionamentos, de que

    a infeco pelo Mycobacterium tuberculosispoderia pre-venir o aparecimento de doenas alrgicas, como a asma

    brnquica,4 embora alguns autores refiram esse achado

    como significativo apenas nas mulheres.5Outro conceito

    que refora essa afirmao do possvel efeito protetor

    da contaminao pelo bacilo de Koch o de que influ-

    ncias externas ao sistema imune, no perodo neonatal,

    podem apresentar consequncias tardias na infncia e

    na expresso da asma. Estudo realizado em pas com

    baixa prevalncia de tuberculose reforou essa viso aodemonstrar que a vacinao com BCG no recm-nato

    poderia reduzir a prevalncia de doenas alrgicas na

    adolescncia por afetar a resposta pelas clulas-T nos

    indivduos com predisposio gentica alrgica.6

    Dados do estudo ISAAC (International Study of As-thma and Allergies in Childhood) demonstraram relao

    inversa entre as notificaes por tuberculose e a preva-

    lncia de sintomas asmticos nas crianas e nos ado-

    lescentes estudados, sendo isso mais forte no grupo de

    crianas entre seis a sete anos de idade.7No entanto

    estudo brasileiro que utilizou dados extrados do prprio

    ISAAC no corroborou essa afirmao em nosso meio.

    Os autores concluram que no se pode dizer que h

    relao inversa entre a prevalncia de doenas atpi-cas, como rinoconjuntivite, eczema atpico e asma, e a

    tuberculose entre os adolescentes brasileiros.8

    Apesar de o chiado ser uma caracterstica da asma,

    o diagnstico de sibilncia torcica, isoladamente, no

    pode ser interpretado como sintoma, principalmente se

    apresentar incio na idade adulta. Formas de tubercu-

    lose endobrnquica podem cursar com sibilncia, e a

    no investigao acarreta atraso no tratamento e gra-

    ves consequncias. Na infncia, o diagnstico diferen-cial entre as duas situaes pode ser mais difcil, sendo

    que, por vezes, crianas apresentando chiado no peito

    podem ser diagnosticadas como asmticas quando, na

    realidade, apresentam tuberculose.9

    Figura 1a e 1b Radiografias em posio posteroanterior de caso detuberculose com apresentao radiolgica difusa bilateral antes e apstratamento

    Figura 2a e 2b Cortes tomogrficos com ndulos centrolobularesdi-fusos bilaterais, bronquiectasias e opacidades irregulares, bilaterais, emcaso de tuberculose

  • 7/23/2019 Caso Clinico - Asma y TBC

    5/6

    Caso clnico Asma e Tuberculose uma publicao peridica da Phoenix Comunicao Integrada patrocinada por Novartis. Jornalista Responsvel: Jos Antonio Mariano (MTb:22.273-SP). Tiragem: XX.X00 exemplares. Endereo: Rua Gomes Freire, 439 cj. 6 CEP 05075-010 So Paulo SP. Tel.: (11) 3645-2171 Fax: (11) 3831-8560 Home page:www.editoraphoenix.com.br E-mail: [email protected]. Nenhuma parte desta edio pode ser reproduzida, gravada em sistema de armazenamento ou transmitidade forma alguma por qualquer meio. phx am xx/xx/10

    O tratamento da asma baseia-se no uso do cor-

    ticoide inalatrio, muitas vezes associado ao bron-

    codilatador de longa ao. No h evidncias que

    contraindiquem a teraputica habitual da asma br-

    nquica durante o tratamento da tuberculose. O uso

    de broncodilatadores, sejam de ao curta, sejamde longa, deve ser empregado de acordo com suas

    indicaes baseadas no estudo da asma. Quanto ao

    corticoide inalatrio, no h estudos que enfoquem a

    especfica questo do seu uso na associao entre

    asma e tuberculose. Apesar de faltarem evidncias

    que indiquem sua utilizao, tambm no h evidn-

    cias que contraindiquem seu uso. H um relato na

    literatura de paciente que desenvolveu forma endo-

    brnquica de tuberculose depois de nove anos doincio de tratamento com beclometasona inalatria.

    Apesar da fraca evidncia entre causa e efeito dessa

    medicao para o surgimento da tuberculose, durante

    o tratamento da infeco, foi suspenso o uso do cor-

    ticoide inalado, com posterior recrudescimento dos

    sintomas asmticos. Aps a reintroduo do corticoi-

    de, houve melhora da asma e a paciente no evoluiu

    com estenose brnquica.10 Nos casos de associao

    asma e tuberculose que tivemos a oportunidade deacompanhar, a associao formoterol / budesonida

    manteve o controle da asma e no interferiu no resul-

    tado do tratamento da tuberculose.

    Como no h estudos sobre a utilizao de dro-

    gas antiasmticas nessa situao em particular, de

    associao de asma e tuberculose, entendemos que,

    desde que esteja sendo aplicada a teraputica antitu-

    berculose, devemos seguir o tratamento recomenda-

    do para a asma, com a finalidade de no se perder o

    controle dessa doena. Mesmo as maiores doses de

    corticoide inalatrio utilizadas na asma so pequenas

    quando comparadas s empregadas na corticote-

    rapia oral das formas de tuberculose pericrdica oumenngea, e, mesmo assim, h resposta adequada

    do tratamento da infeco tuberculosa.

    Outro achado comum na observao clnica de

    doentes tratados por tuberculose o surgimento de

    sibilncia aps o tratamento da infeco. As informa-

    es sobre o tema so escassas na literatura, e esses

    pacientes acabam seguindo o tratamento preconiza-

    do pelas diretrizes de asma ou DPOC. Os pacientes

    tratados por tuberculose e que apresentam limitaoao fluxo areo tendem a apresentar maior reatividade

    ao teste de broncoprovocao11 e a desenvolver mais

    dispneia ao exerccio.12 O distrbio ventilatrio com-

    binado parece ser o mais frequente nos portadores

    de sequela de tuberculose, sendo mais acentuado

    naqueles que apresentam envolvimento pulmonar

    radiologicamente mais extensos.13A sibilncia aps

    o tratamento da tuberculose tambm pode estar re-

    lacionada ao desenvolvimento de bronquiectasias, eas evidncias para utilizao de broncodilatadores ou

    de corticoides inalatrios tambm no existem para

    essa situao especfica. Essas drogas podem ser

    recomendadas nas condies em que as bronquiec-

    tasias se associam asma ou DPOC, mas no h

    evidncias alm daquelas j existentes para asma ou

    para DPOC.14

    Referncias bibliogrficas

    1. Masoli M, Fabian D, Holt S, Beasley R. Global burden of asthma. [Acesso em 2009 Jan 7.] Disponvel em: www.ginasthma.org. 2.Kumar V, Khosla R,Gupta V, Sarin BC, Sehajpal PK. Differential association of tumour necrosis factor-alpha single nucleotide polymorphism (-308) with tuberculosis andbronchial asthma. Natl Med J India. 2008;21(3):120-2. 3.Orme IM, Andersen P, Boom WT. T cell response to Mycobacterium tuberculosis. J Infect Dis.1993;167:1481-97.4. von Mutius E, Pearce N, Beasley R, Cheng S, von Ehrenstein O, Bjrkstn B, et al. International patterns of tuberculosis and theprevalence of symptoms of asthma, rhinitis, and eczema. Thorax. 2000;55(6):449-53. 5.von Hertzen L, Klaukka T, Mattila H, Haahtela T. Mycobacteriumtuberculosis infection and the subsequent development of asthma and allergic conditions. J Allergy Clin Immunol. 1999;104(6):1211-4. 6.Marks GB,Ng K, Zhou J, Toelle BG, Xuan W, Belousova EG, et al. The effect of neonatal BCG vaccination on atopy and asthma at age 7 to 14 years: an historicalcohort study in a community with a very low prevalence of tuberculosis infection and a high prevalence of atopic disease. J Allergy Clin Immunol.2003;111(3):541-9. 7. Shirtcliffe P, Weatherall M, Beasley R. International study of asthma and allergies in childhood. An inverse correlation betweenestimated tuberculosis notification rates and asthma symptoms. Respirology. 2002;7(2):153-5. 8.Sol D, Camelo-Nunes IC, Wandalsen GF, Sarinho E,Sarinho S, Britto M, et al. Ecological correlation among prevalence of asthma symptoms, rhinoconjunctivitis and atopic eczema with notifications of tu-berculosis and measles in the Brazilian population. Pediatr Allergy Immunol. 2005;16(7):582-6. 9.Kurokawa La Scala CS, La Scala CR, Wandalsen GF, Ma-lozzi MC, Naspitz CK, Sol D. Childhood tuberculosis diagnosed and managed as asthma: case report. Allergol Immunopathol (Madr). 2006;34(6):276-9.10.Suzuki K, Tanaka H, Fujishima T, Teramoto S, Kaneko S, Saikai T, et al. A case of endobronchial tuberculosis associated with bronchial asthma treatedwith high doses of inhaled corticosteroid. Nihon Kokyuki Gakkai Zasshi. 2001;39(9):699-704. 11.Badivuku S, Pavlovic M, Plavec D, Turk R. Tuberculosis

    pulmonar inactiva y reactividad bronquial inespecfica. Rev Med Chile. 1995;123(8):967-73.12. Jimnez PP, Torres V, Lehmann FP, Hernndez CE, AlvarezMM, Meneses MM, et al. Limitacin crnica al flujo areo en pacientes con secuelas de tuberculosis pulmonar: caracterizacin y comparacin con EPOC.Rev Chil Enferm Respir. 2006;22(2):98-104.13. Ramos LMM, Sulmonett N, Ferreira CS, Henriques JF, Miranda SS. Perfil funcional de pacientes portadoresde sequela de tuberculose de um hospital universitrio. J Bras Pneumol. 2006;32(1):43-7.14. Nitin K, et al. Cochrane database of systematic reviews. In:The Cochrane Library,Issue 3, Art. No. CD000996. DOI: 10.1002/14651858.CD000996.pub2. Aziz S, et al. Cochrane database of systematic reviews. In: TheCochrane Library, Issue 3, Art. No. CD002155. DOI: 10.1002/14651858.CD002155.pub3.

  • 7/23/2019 Caso Clinico - Asma y TBC

    6/6

    FAVOR DEVOLVER ESTE MATERIAL

    AO REPRESENTANTE DA EDITORA