Cérebro, Comportamento e Evolução

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Cérebro, comportamento e evolução Uma introdução à neurociência evolutiva Caio Maximino Laboratório de Neurociências e Comportamento UFPA

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Cérebro, comportamento e evolução

Uma introdução à neurociência evolutiva

Caio MaximinoLaboratório de Neurociências e Comportamento

UFPA

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Definindo o problema

Biologia evolutiva

Neurociência(s)Biologia do

desenvolvimento

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Definindo o problema: Biologia evolutiva

Biologia evolutiva

Neurociência(s)Biologia do

desenvolvimento

“Nada na biologia faz sentido a não ser à luz da evolução”Theodosius Dobzhansky

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Definindo o problema: Biologia evolutiva

Reconstrução da história evolutiva(Macroevolução)

Mecanismos evolucionários(Microevolução)

COMO UM DETERMINADO CARACTEREEVOLUIU ATÉ SEU ESTADO ATUAL?

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Padrões evolutivos: Macroevolução

Toda a vida é unida pela história evolutiva

A filogenia é a história evolutiva das espécies, e pode ser representada por uma árvore filogenética.

2 padrões de evolução subjazem à filogenia: Cladogênese: uma linhagem

divide-se em duas ou mais linhagens distintas (uma das quais continua a representar a população ancestral).

Anagênese: mudanças ocorrem dentro de uma linhagem

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Princípio de Hardy-Weinberg

A variação genética introduzida pelo processo de meiose e pela fertilização aleatória não altera o pool gênico de uma população

As freqüências de alelos em uma população irão nos manter constantes indefinidamente (equilíbrio) a não ser que uma influência “disruptiva” seja introduzida.

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Desvios do equilíbrio: Microevolução A evolução acontece quando as populações

desviam-se do equilíbrio de Hardy-Weinberg Mecanismos:

Mutação Seleção Migração Deriva genética Reprodução não-aleatória

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Microevolução: Mutação

Uma mutação é uma mudança aleatória no material genético do organismo.

Mutações herdáveis podem levar a mudanças no pool gênico de uma população.

Novas mutações podem ser: Deletérias Neutras Vantajosas

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Seleção

Fenótipos herdáveis que conferem vantagens adaptativas tornam-se mais comuns em uma população.

Existem 3 modos principais de seleção natural: Seleção direcional Seleção diversificante Seleção estabilizadora

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Deriva genética

Em uma população finita, mudanças aleatórias nas freqüências genotípicas irão se acumular conforme o tempo passa.

Quanto menor a população, maior o efeito de deriva genética no pool gênico.

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Macroevolução + microevolução

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Moléculas

Organelas

Células

Sistemas locais

Sistemas inter-regionais

Definindo o problema: Neurociências

Biologia evolutiva

Neurociência(s)Biologia do

desenvolvimento

O estudo do cérebro em seus diversos níveis de organização.

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Definindo o problema: Biologia do desenvolvimento

Biologia evolutiva

Neurociência(s)Biologia do

desenvolvimento

Estudo da embriogênese e de outros processos de desenvolvimento.

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Desenvolvimento do cérebro

A identidade da célula neural é controlada pela linhagem celular e por interações indutivas (gradientes químicos)

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Desenvolvimento do cérebro

As vias axônicas são formadas em resposta a indícios locais de orientação

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Desenvolvimento do cérebro

A formação das sinapses depende de interações indutivas entre o neurônio pré- e o pós-sináptico

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Desenvolvimento do cérebro

A sobrevivência dos neurônios é regulada pelas interações com seus alvos

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Juntando tudo...

A neurociência evolutiva é o estudo de como o cérebro (em todos os seus níveis de organização, incluindo o desenvolvimento) evoluiu até seu estado atual.

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Juntando tudo...Genótipo

Fenótipo

Genes

EstruturasFisiologiaComportamento

MoléculasMoléculas

Sistemas inter-regionaisSistemas inter-regionais

?

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Juntando tudo...Genótipo

Módulos genéticos

Unidades morfogenéticas

Processos epigenéticos

Fenótipo

Genes

Rede de genesCascatas de genes

Condensações decélulas

Induções embriônicasInterações entre tecidosIntegração funcional

EstruturasFisiologiaComportamento

MoléculasMoléculas

Sistemas inter-regionaisSistemas inter-regionais

CélulasCélulas

Sistemas locaisSistemas locais

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Temas principais

A evolução é não-linear

O que permanece? Homologias

O que muda? Homoplasias

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Reformulando os temas principais

O quê muda?

Quando muda?

Como muda?

Por que muda?

Padrões

Processos

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Conservação: Moléculas, embriões e planos básicos

Moléculas

Organelas

Células

Sistemas locais

Sistemas inter-regionais

Mai

or c

onse

rvaç

ão

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Conservação em sistemas de neuropeptídeos

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Conservação em neurômeros

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Conservação no plano básico

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Mudanças no tamanho do cérebro

O cérebro aumentou e diminuiu várias vezes...

... para além de expectativas alométricas...

... gerando conseqüências adaptativas.

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Mudanças no tamanho do cérebro: Conseqüências adaptativas Aumento / diminuição no número de

neurônios.

Maior modularização.

Menor conectividade de sistemas locais.

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Custo metabólico e velocidades de condução

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Mudanças no tamanho de regiões

Regiões individuais podem aumentar ou diminuir de tamanho...

... em concerto ou em mosaico...

... de forma dependente do desenvolvimento.

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Mudanças no tamanho de regiões: Heterocronia (“tardio = grande”)

Finlay & Darlington (1995): regiões que surgem “tardiamente” no desenvolvimento tendem a ser maiores.

Possível explicação: Mais tempo de desenvolvimento gera mais “rodadas” de neurogênese.

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Mudanças no tamanho de regiões: Organização interna

Conforme uma região muda de tamanho, muda também a sua organização interna...

... com alterações no número de tipos de neurônio...

... e no padrão de sub-divisões da região.

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Mudanças no tamanho de regiões: Conseqüências para a conectividade

Deacon (1990): “grande = mais conectado”.

Possível explicação: competição durante a formação de conexões neurais.

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Recapitulando...↑ Tamanho do cérebro

↑ Número de regiões

↑ Número de subdivisões

↓ Número de conexões

aferentes

↑ Tamanho de regiões

Modularidade

↑ Número de conexões

eferentes

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Há uma tendência para a modularidade conforme o cérebro aumenta de tamanho

A modularidade também tem origem no desenvolvimento: Neurômeros.

A modularidade é uma conseqüência da seleção natural (maior especialização) e do desenvolvimento (restrições evolutivas).

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No que os mamíferos diferem dos outros vertebrados?

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No que os mamíferos diferem dos outros vertebrados? Aumento alométrico

do cérebro gerou aumento do neocórtex.

O que salta aos olhos: Conexões auditivas vindas do tálamo dorsal.

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Ainda outro exemplo: Hipocampo

O hipocampo é conservado em todos os vertebrados que possuem mandíbulas.

Esta estrutura parece estar ligada a memória e emoção.

Em mamíferos, existem novidades no hipocampoCircuito tri-sinápticoEntrada sensorial do neocórtex

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Recapitulando, novamente...

Nos mamíferos, há um aumento no neocórtex (previsto pela regra de “tardio = grande” e pelo tamanho do cérebro).

Novas conexões com o tálamo dorsal (previsto pela regra de “grande = mais conectado”).

Maior modularidade do córtex.

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Uma nota sobre a convergência

DVR de aves: principal região sensório-motora do telencéfalo.

Provavelmente, análoga ao neocórtex de mamíferos.

Outras adaptações análogas: Endotermia, postura ereta, audição de alta freqüência.

Essas convergências explicam porque algumas aves são tão “inteligentes” quanto os mamíferos.

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O que há de novo no cérebro humano? É difícil comparar cérebros humanos com

o de outros animais. Precisamos também entender a evolução

do cérebro e do comportamento de outros primatas.

Muitas das mudanças evolutivas estão ligadas às leis que se aplicam a outros vertebrados.

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O que mudou para os primatas?

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Aumento no número de neurônios, e não no tamanho deles

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Evolução acelerada de genes ligados ao tamanho

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Seleção sexual no cérebro primata

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Essas mudanças fogem às leis que analisamos? Neocórtex desproporcionalmente grande

(“Tardio = grande”). Neocórtex com muitas conexões (“Grande

= mais conectado”) conexões corticoespinais.

Maior lateralização.

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Um exemplo importante: Córtex pré-frontal lateral Aumento

desproporcional do córtex pré-frontal lateral.

Área ligada à inibição comportamental.

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Córtex pré-frontal lateral

Última área cortical a se desenvolver Síndrome disexecutiva

Atenção sustentada diminuída Memória operacional diminuída Memória de curto prazo diminuída Dificuldade de planejamento e raciocínio Síndrome de dependência ambiental Dificuldade de inibição das emoções Depressão Comportamento de utilização Comportamento de perseverança Agressão e comportamento sexual

inapropriados

Freud: “É impossível desprezar o ponto até o qual a civilização é construída sobre uma renúncia ao instinto”

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Uma lição de humildade: Custos dessa evolução Aumento do cérebro tem custos

Metabólicos

De desenvolvimento (p. ex., nascimento).

De vulnerabilidade a lesões.

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À guisa de conclusão...

Um conjunto de leis pode ser obtido do estudo da evolução do cérebro em vertebrados.

Essas leis geram restrições evolutivas (“subida íngreme”).

Os padrões de conservação e divergência na evolução do cérebro nos permitem generalizações e discriminações.