CERTIFICAÇÃO DO TURISMO SUSTENTÁVEL PARA MEIOS DE...

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI PROGRAMA DE MESTRADO EM HOSPITALIDADE CERTIFICAÇÃO DO TURISMO SUSTENTÁVEL PARA MEIOS DE HOSPEDAGEM. UM ESTUDO SOBRE O CAMINHO DO OURO DE PARATY-RJ. AFONSO GETÚLIO ZUCARATO São Paulo 2006

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

PROGRAMA DE MESTRADO EM HOSPITALIDADE

CERTIFICAO DO TURISMO SUSTENTVEL PARA MEIOS DE HOSPEDAGEM. UM ESTUDO SOBRE O

CAMINHO DO OURO DE PARATY-RJ.

AFONSO GETLIO ZUCARATO

So Paulo

2006

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

PROGRAMA DE MESTRADO EM HOSPITALIDADE

CERTIFICAO DO TURISMO SUSTENTVEL PARA MEIOS DE HOSPEDAGEM. UM ESTUDO SOBRE O

CAMINHO DO OURO DE PARATY-RJ.

AFONSO GETLIO ZUCARATO

Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno de ttulo de Mestre em Hospitalidade, rea de concentrao Planejamento e Gesto Estratgica em Hospitalidade e linha de pesquisa Polticas e Gesto em Hospitalidade e Turismo, da Universidade Anhembi Morumbi, sob orientao do Prof. Dr. Davis Gruber Sansolo.

So Paulo 2006

AFONSO GETLIO ZUCARATO

CERTIFICAO DO TURISMO SUSTENTVEL PARA MEIOS DE HOSPEDAGEM. UM ESTUDO SOBRE O CAMINHO DO OURO DE

PARATY-RJ.

BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Davis Gruber Sansolo __________________________ Prof Dra. Ada de Freitas Manetti Dencker __________________________ Profa. Dra. Rita de Cssia Ariza Cruz __________________________

DEDICATRIA

minha esposa Ana pela dedicao, incentivo, colaborao na leitura, reviso, comentrios e compreenso pela minha ausncia durante meus estudos. Aos meus filhos, noras e netos: Alexandre, D e Alice; Augusto e Mariana; Andr, Renata e Lucas, de quem tenho muito orgulho, e aos meus pais Afonso (in memria) e Thereza, meus eternos professores.

AGRADECIMENTOS

Essa mais uma importante etapa que completo. Uma meta cumprida para um novo momento na minha vida pessoal e profissional quero, aqui expressar os meus agradecimentos queles que direta ou indiretamente contriburam para que essa importante conquista fosse alcanada. A Deus pela vida e pela constante motivao que a cada dia nos abre novos caminhos. A minha esposa Ana, pelo incentivo, apoio, ajuda nas revises, e que soube entender minha ausncia durante meus estudos. Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos e incentivos durante o programa em particular as Prof Clia Maria de Moraes Dias e Ada de Freitas Manetti Dencker na qualificao. Ao meu orientador e amigo Davis, de quem recebi inmeras contribuies e com competncia me orientou nesses quase 2 anos de trabalho. E finalmente as inmeras pessoas e amigos de Paraty, que contriburam de forma significativa para a realizao desse projeto de forma particular: Alejandro Carmos Pousada Lagune Blue; Jos Cludio de Arajo ex-prefeito de Paraty; Rodrigo e Dione da comunidade da Trindade; Cau monitor ambiental da APA do Cairuu; Terezinha Comunidade Quilombola Campinho Independncia; Luiz Armando Frana Associao de Guias; Jos Gomes da Silva Presidente da Associao Comercial e Industrial; Maria Auxiliadora Coordenadora do Balco Sebrae; Joo Fernandes Oliveira (Joo Bee) Coordenador do Projeto de Revitalizao do Caminho do Ouro; Marcos Ribas Stio Histrico e Ecolgico Caminho do Ouro; Domingos Oliveira Folha do Litoral; Maria Jos Rameck Instituto Histrico; Gilberto Instituto Estadual de Floresta; Rui Zilnet Assessor de Imprensa do Gabinete do Deputado estadual Andr do PV e aos proprietrios das pousadas do caminho do ouro que participaram dos estudos de caso.

RESUMO

O final do sculo XX marca a crtica e o questionamento sobre os conceitos clssicos de desenvolvimento focado em aspectos econmicos; preocupaes quanto relao do meio ambiente com a economia provocaram o debate sobre o significado do desenvolvimento sustentvel, mais especificamente relacionado s atividades tursticas em funo do crescimento dessa atividade em muitas localidades. Assim, a correlao entre o turismo e o meio ambiente, particularmente em reas protegidas, ganha destaque nas agendas de governos e da sociedade. O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de verificar a compatibilidade do programa de certificao do turismo sustentvel PCTS para meios de hospedagem no mbito das pousadas do Caminho do Ouro no municpio de Paraty RJ. Trata-se de um estudo de caso com uma abordagem hipottica dedutiva. Os dados foram coletados por meio de entrevista em profundidade com os proprietrios das pousadas e representantes da comunidade paratiense. Os resultados da pesquisa apontam que o programa tem baixa compatibilidade de implementao, por no considerar as caractersticas e peculiaridades regionais, as especificidades das empresas, o custo de implementao e entraves diversos. Apesar dessas evidncias, o pequeno porte dos meios de hospedagem, e a boa conscincia dos proprietrios quanto ao meio ambiente so indicadores de que um processo de gesto ambiental perfeitamente possvel de ser implementado. Diante desse cenrio, com apoios institucionais adequados e o uso de mtodos de planejamento participativo j conhecidos, como a metodologia Dlis, um programa de certificao do turismo pode ser construdo e implementado, resultando de um processo coletivo de relevncia local que possibilita o desenvolvimento econmico de forma sustentvel a longo prazo.

Palavras chaves: Certificao do turismo sustentvel; Gesto ambiental; Turismo em reas de proteo.

ABSTRACT

At the end of 20th Century the criticism and the questioning about the classic concepts of development focused on the economic aspects are marked. Concerns about the relationship between environment and economy provoked debates covering the meaning of the sustainable development, more specifically related to touristic activities due to its growth in many places. Thus, the correlation between the tourism and environment, particularly in protected areas, became more evident in government and societys agendas. This present study was developed aiming to verify the compatibility of the certification program of the sustainable tourism PCTS, for lodging in the Gold Trail, located in Paraty-RJ. This study case uses a deductive hypothetical approach. Data was collected in a detailed process interviewing lodging owners and other people representing the local community of Paraty. The research results show that the program has low implementation compatibility, for not considering regional characteristics and peculiarities in addition to the specificities of the companies, the high cost of implementation and other obstacles. In spite of these evidences, the small size of the lodging companies and the owners awareness about the environment indicates that it is possible to implement a process of environmental management. In face of this scenario, with an adequate institutional supports as well as the use of already known methods of shared planning as the Dlis methodology, a program of certification tourism can be built and implemented, resulting from a collective process of local relevance allowing the long term economic development in a sustainable form.

Keywords: Certification for sustainable tourism; Environment management; Tourism in protected areas.

SUMRIO

LISTA DE ILUSTRAES.................................................................................10

LISTA DE SIGLAS.............................................................................................12

INTRODUO...................................................................................................15

CAPITULO 1...................................................................................27

TURISMO SUSTENTVEL E A CERTIFICAO DO TURISMO

1.1. OS PROGRAMAS DE CERTIFICAO DO TURISMO.............................32

1.2 . A CERTIFICAO DO TURISMO NO BRASIL.........................................49

1.2.1 O programa de certificao do turismo sustentvel PCTS.............50

CAPITULO 2

OS MEIOS DE HOSPEDAGEM E A GESTO AMBIENTAL.........55

2.1. A GESTO AMBIENTAL............................................................................55

2.1.1. Sistema de gesto ambiental SGA....................................................58

2.1.2 Normas tcnicas de suporte a gesto ambiental................................60

2.1.2.1. Normas ambientais...............................................................................60

2.1.2.2. Outras normas......................................................................................61

2.2. A GESTO AMBIENTAL NOS MEIOS DE HOSPEDAGEM......................64

CAPITULO 3...................................................................................73

ANALISE DO OBJETO DE ESTUDO: AS POUSADAS NO CAMINHO DO OURO DE PARATY RJ.......................................73

3.1. O TERRITRIO DE PARATY.....................................................................73

3.2. O TURISTA E OS MEIOS DE HOSPEDAGEM EM PARATY....................79

3.2.1. Os meios de hospedagem....................................................................81

3.3. O TURISMO E O CAMINHO DO OURO DE PARATY...............................84

3.3.2. As pousadas no Caminho do Ouro......................................................90

CAPITULO 4...................................................................................92

ANALISE DOS RESULTADOS DO CAMPO................................92

4.1. ESTUDO DE CASO....................................................................................93

4.1.1. Estudo de caso 1...................................................................................93

4.1.2. Estudo de caso 2...................................................................................96

4.1.3. Estudo de caso 3...................................................................................99

4.1.4. Estudo de caso 4.................................................................................102

4.2.ANLISE DOS DADOS.............................................................................105

CONSIDERAES FINAIS............................................................................110

REFERNCIAS...............................................................................................113

APNDICES....................................................................................................131

10

LISTA DE ILUSTRAOES

Grficos 01. Atrativos visitados por estao...............................................................80

02. Tipo de turismo visitado por estao.......................................................81

03. Capacidade total de alojamento de campistas por macrorregio...........83

Quadros 01. Situaes relevantes para diferentes estratgias de pesquisa...............18

02. Questes e objetivo geral e especficos do estudo de caso...................19

03. Objetivos e especficos do estudo de caso.............................................20

04. Principais eventos globais sobre a questo ambiental...........................28

05. Principais programas de certificao no mundo.....................................34

06. Comparao entre as metodologias processo e desempenho............40

07. Nvel de conformidade ou de sustentabilidade CST............................45

08. Princpios para o turismo de natureza e ecoturismo Neap..................46

09. Nvel de conformidade ou de sustentabilidade CST............................93

10. Resultado do grau de sustentabilidade do estudo de caso 1.................96

11. Resultado do grau de sustentabilidade do estudo de caso 2..................99

12. Resultado do grau de sustentabilidade do estudo de caso 3................102

13. Resultado do grau de sustentabilidade do estudo de caso 4................105

14. Resumo do grau de sustentabilidade dos casos estudados.................106

15. Evoluo histrica da normalizao......................................................147

Tabelas 01. Exemplo de plano de ao para reduo de impacto ambiental

em meios de hospedagem.......................................................................71

02. Diviso dos visitantes por meio de hospedagem de Paraty...................82

03. Dados gerais dos meios de hospedagem de Paraty...............................83

11

Figuras 01. Exemplo dos indicadores de benchmarks...............................................43

02. Sector baseline and best practice performance levels...43

03. Fragmento do questionrio de auto-avaliao do programa CST..........44

04. Ciclo do plan-do-check-act de implementao do sistema de gesto da

sustentabilidade.......................................................................................52

05. Funcionamento do sistema de gesto da sustentabilidade....................52

06. Motivao das empresas para proteger o ambiente...............................57

07. Relao estratgica entre os meios de hospedagem e o meio

ambiente.................................................................................................65

08. Ciclo tradicional de processos em meios de hospedagem.....................69

09. Ciclo ambiental sustentvel em meios de hospedagem.........................71

10. Localizao do municpio de Paraty........................................................73

11. reas de conservao do municpio de Paraty.......................................76

12. Ampliao da ocupao do solo na regio central de Paraty.................79

13. As trs rotas que ligavam as regies mineradoras ao litoral...................84

14. Imagem da maquete do traado original do caminho do ouro e da

rodovia ParatyCunha.............................................................................87

12

LISTA DE SIGLAS

ABIH Associao Brasileira da Indstria de Hotis

ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

APA rea de Proteo Permanente

Cetesb Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CBTS Conselho Brasileiro do Turismo Sustentvel

CIEP Centro Integrado de Educao Pblica

CMAD Comisso Mundial de Ambiente e Desenvolvimento

CST Certificacin para la Sostenibilidad Turstica

DLIS Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel

Embratur Empresa Brasileira de Turismo

Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecurria

EMS Environmental Management System

ESOSOC Conselho Econmico e Social das Naes Unidas

Fiesp Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

Funbio Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

GCOS Global Climate Observing System

GEOR Gesto Estratgica Orientada para Resultados

GRI Global Reporting Initiative

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Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IDH ndice de Desenvolvimento Humano

IEB Instituto de Ecoturismo Brasil

IH Instituto de Hospitalidade

IHEI International Hotels Environmental Initiatives

IISD International Institute for Sustainable Development

ISO International Standard Organization

IUCN International Union for Conservation of Nature and Natural Resources

NEAP Nature and Ecotourism Accreditation Program

NSSD National Strategies for Sustainable Development

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

OECD Organization for Economic Co-operation and Development

OMT Organizao Mundial do Turismo

ONG Organizao No-Governamental

ONU Organizaes das Naes Unidas

PCTS Programa de Certificao do Turismo Sustentvel

PEGN Pequenas Empresas Grandes Negcios

PIB Produto Interno Bruto

PNSB Parque Nacional da Serra da Bocaina

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Pnuma Programa das Naes Unidas para o Ambiente

Sebrae Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

SGA Sistema de Gesto Ambiental

TIES The International Ecotourism Society

TOI Tour Operators Initiative for Sustainable Tourism Development

UH Unidades Habitacionais

UC Unidade de Conservao

Unep United Nation Environment Programme

WTO World Tourism Organization

WTTC World Travel & Tourism Council

WWF World Wildlife Fund

15

INTRODUO

A presente dissertao foi desenvolvida no Programa de

Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, em So Paulo,

e tem como rea de concentrao em planejamento e gesto estratgica e

como linha de pesquisa polticas e gesto em hospitalidade e turismo, sob

orientao do Prof. Dr. Davis Gruber Sansolo.

O trabalho busca analisar a compatibilidade do programa de

certificao do turismo sustentvel PCTS com os meios de hospedagem, do

Caminho do Ouro1, avalia seu grau de sustentabilidade e como o

gerenciamento ambiental realizado por esses empreendimentos (ferramentas

de gesto, indicadores, possveis entraves etc.).

O Caminho do Ouro, compreendido neste estudo, est situado no

municpio de Paraty RJ, e tem como referncia geogrfica a rodovia Paraty-

Cunha RJ-165. Esse segmento est inserido na zona de amortecimento2 do

Parque Nacional da Serra da Bocaina PNSB, por isso precisa de especial

ateno quanto ao seu uso e o gerenciamento dos recursos naturais.

Alm dos atrativos naturais, como fazendas histricas, trilhas, rios

e cachoeiras, a regio ganhou interesse extra para os turistas no final da

dcada de 1990 com o projeto de sua revitalizao. Observa-se desde ento o

crescimento do nmero de meios de hospedagem na regio; at 2000 havia

apenas uma pousada operando.

Este projeto est estruturado em quatro captulos, alm da

introduo. O primeiro captulo Turismo sustentvel e a certificao do

turismo descreve as preocupaes da sociedade contempornea quanto

1Foi um dos principais portes de entrada para o interior do Brasil no perodo colonial, com uma extenso de 1410 km. Foi construdo por escravos entre os sculos XVII e XVIII, e por ele se escoavam as riquezas produzidas pelas regies mineradoras das Gerais. 2 Zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservao, onde as atividades humanas esto sujeitas as normas e restries especficas, com o propsito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. (Lei n. 9.985, cap. 1,art.2 8).

16

sustentabilidade. O objetivo o entendimento das profundas transformaes

ocorridas na sociedade ps-moderna, quando as questes ambientais ganham

gradualmente destaque, quer por medidas impostas na legislao quer por um

aumento da conscincia ecolgica, e que vem transformando diversos setores

da economia, entre eles o do turismo. Analisa iniciativas, tanto pblicas como

privadas, com o intuito de promover prticas sustentveis e fomentar o

planejamento de seu uso nas atividades tursticas. So levantados os principais

programas de certificao da atualidade, seus pontos em comum e as

recomendaes da OMT quanto sua implementao. Esses elementos foram

comparados como as propostas do programa brasileiro PCTS.

No segundo captulo A gesto ambiental e os meios de

hospedagem analisa-se a gesto ambiental como o conjunto de

procedimentos que visa adequar e conciliar o desenvolvimento e qualidade

ambiental e as normas tcnicas de apoio sua gesto. Em seguida,

caracterizam-se os meios de hospedagem que, devido infra-estrutura de que

dispem, viabilizam a permanncia do turista no local e acabam sendo

responsveis pela criao de uma srie de inter-relaes que influenciam na

gesto do lugar turstico.

O terceiro captulo foca o objeto de estudo: as pousadas no

Caminho do Ouro no municpio de Paraty RJ. Nele possvel entender as

caractersticas do territrio e como aconteceu seu processo de turistificao

assim como o papel que o turismo representa na economia atual. Contextualiza

o Caminho do Ouro e as pousadas nele inseridas.

No ltimo captulo so apresentados quatro estudos de caso de

pousadas do Caminho do Ouro, com informaes de cada empreendimento,

ferramentas de gerenciamento ambiental que utilizam e avalia o grau de

sustentabilidade de cada uma. Tambm se faz uma anlise comparativa dos

empreendimentos, levando-se em considerao os objetivos propostos pela

pesquisa, alm dos comentrios finais e recomendaes para futuros projetos.

A regio de Paraty vem chamando ateno da comunidade

acadmica, sendo objeto de estudo de diversas pesquisas cientficas, algumas

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j concludas, outras ainda em andamento, a saber: Sobre uso e ocupao do

solo: CURY, Isabelle (2002); MOURE, Laura Bahia Ramos (2003); CUNHA,

Fernanda Craveiro (dissertao em andamento); gesto ambiental

BENCHIMOL, Mariana de Faria (dissertao em andamento); e conflitos

fundirios GOMES, Laura Jane (2002) GAVIRIA, Margarita Rosa (tese em

andamento), somente para citar algumas.

Observa-se nos trabalhos mencionados acima que o uso e

ocupao do solo foi e continua sendo uma questo complexa em Paraty, pois

parte predominante do territrio (80%), est situada em reas protegidas,

como: o Parque Nacional da Serra da Bocaina PNSB, o Parque Estadual de

Paraty-Mirim, a rea de Preservao Ambiental de Cairuu, a Estao

Ecolgica Tamoios (terrestre e martima), a terra indgena Guarani-Araponga, a

Reserva Ecolgica da Joatinga e o Quilombo do Campinho, o que restringe sua

utilizao para fins econmicos pelos setores primrio e secundrio. O turismo

acaba se beneficiando dessa condio, pois ajuda a preservao de boa parte

dos atrativos naturais. Entretanto, o crescimento desordenado dessa atividade

associado falta de infra-estrutura urbana e turstica, j desperta

preocupaes em reas como Trindade e Praia do Sono.

Para procurar entender essas questes sobre meios de

hospedagem em reas de conservao e como a gesto ambiental e a

certificao podem contribuir para a sustentabilidade dessas reas, foi

realizado um estudo o caso das pousadas do Caminho do Ouro no municpio

de Paraty-RJ, localizadas no entorno, na chamada zona de amortecimento do

Parque Nacional da Serra da Bocaina.

O procedimento metodolgico para a realizao do presente

estudo segue a linha hipottica dedutiva, que de acordo com Rauen (2002),

aborda a realidade a partir de consideraes universais, leis e teorias, para

ento avaliar os fenmenos particulares.

De acordo com Yin (2005, p. 21-23), a lgica de como se

coletam e analisam as provas empricas que vai definir a estratgia de

pesquisa a ser adotada. Assim, ela deve ser definida em funo do tipo de

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questo apresentada segundo trs condies essenciais (Quadro 01). A

primeira e mais relevante para a escolha da estratgia a forma da pesquisa.

A deste trabalho, segundo o seu como tem enfoque explanatrio,

considerando-se a pesquisa histrica e estudo de caso. A segunda condio

determinante da estratgia de pesquisa a abrangncia do controle que o

pesquisador tem sobre os eventos comportamentais, o que neste caso no

relevante. A terceira condio visa o enfoque dos acontecimentos

contemporneos. Tomando-se como parmetro as condies acima, a

indicao mais adequada o estudo de caso. Para tanto, se usa o quadro a

seguir como orientao.

Estratgia Forma de questo de pesquisa

Exige controle sobre eventos e comportamentais

Focaliza acontecimentos contemporneos

Experimento Como, por que sim sim

Levantamento Quem, o que, onde,

quantos, quanto

no sim

Anlise de arquivos Quem, o que, onde,

quantos, quanto

no sim/no

Pesquisa histrica Como, por que no no

Estudo de caso Como, por que no no

Quadro 01: Situaes relevantes para diferentes estratgias de pesquisa Fonte: COSMOS Corporation, citado por YIN, 2005, p. 24.

Pondere-se que os fatores acima descritos que conduzem

escolha mais precisa da pesquisa, segundo os critrios bsicos propostos por

Vergara (1998). Assim, esta pesquisa classificada, quanto aos fins, como

exploratria, pelo fato do tema ser recente e ainda pouco contemplado na

literatura. Quanto aos meios de investigao, como pesquisa de campo por

meio do mtodo de estudo de caso que contribui para a compreenso de

fenmenos contemporneos (individuais, organizacionais e polticos), quando

os limites entre o fenmeno e o contexto no esto claramente definidos (YIN,

2005, p.32) e bibliogrfica.

Assim, um projeto de pesquisa que adota o mtodo de estudo de

caso dever considerar cinco componentes, a saber: (1) as questes do

estudo, (2) as proposies, (3) unidade de anlise, (4) a ligao lgica dos

dados s proposies e (5) critrios para interpretar os resultados (idem, p.42).

19

As questes formuladas para este estudo de caso e sua relao

com os objetivos propostos esto expressas no quadro abaixo:

Questes do estudo de caso Objetivos do estudo de caso

Como as pousadas do Caminho do Ouro de

Paraty esto aplicando prticas de

sustentabilidade em seus processos e servios

tendo como objetivo um programa de

certificao nos meios de hospedagem?

Objetivo geral: verificar a compatibilidade do programa de certificao proposto pelo IH

PCTS (atualmente sob responsabilidade do

Ministrio do Turismo com as pousadas do

Caminho do Ouro de Paraty

! Quais so os instrumentos utilizados

pelos meios de hospedagem para o

monitoramento das questes

ambientais?

! Como verificada pela pousada a

avaliao de seu desempenho

ambiental?

! Se, conhece e o que pensa o

pousadeiro sobre a adoo de um

programa de certificao

Objetivos especficos:

! Diagnosticar e identificar a situao e o

nvel de sustentabilidade das pousadas

........................................

! Verificar os indicadores adotados pelas

pousadas para medir e monitorar as aes

desenvolvidas

! Verificar os possveis entraves e

dificuldades para implementao de um

programa de certificao do turismo

sustentvel

Quadro 02: Questes e objetivos geral e especfico do estudo de caso

Para responder ao problema de pesquisa proposto (como as

pousadas do Caminho do Ouro de Paraty esto aplicando prticas de

sustentabilidade em seus processos e servios tendo como objetivo um

programa de certificao nos meios de hospedagem?) e, conseqentemente,

ao objetivo geral: verificar a compatibilidade do programa de certificao

proposto pelo IH PCTS com as pousadas do Caminho do Ouro de Paraty,

houve a necessidade de se definir os propsitos do estudo, que esto

relacionados com os objetivos especficos enumerados no quadro seguinte.

20

Objetivo especfico 1: Diagnosticar e identificar a situao e o nvel de sustentabilidade das pousadas

! Identificar como as pousadas gerenciam os impactos ambientais que so passveis de ser causados pela atividade

! Identificar quais so as polticas e os programas de gerenciamento ambiental existentes

! Verificar se existe o envolvimento de todos os funcionrios na gesto ambiental ! Verificar se a pousada participa de grupo e/ou associao ligado conservao

ambiental Objetivo especfico 2: Verificar os indicadores adotados pelas pousadas para medir e monitorar as aes desenvolvidas

! Verificar quais indicadores so usados para medir o desempenho ambiental ! Verificar se os resultados demonstrados pelos indicadores so utilizados para a

definio das medidas a serem adotadas ! Identificar quais os problemas mais crticos, que recebem maior ateno e se possuem

indicadores de desempenho Objetivo especfico 3: Verificar os possveis entraves e dificuldades para implementao de um programa de certificao do turismo sustentvel

! Verificar o nvel de envolvimento da pousada no gerenciamento ambiental do entorno ! Verificar o nvel de infra-estrutura do entorno para o gerenciamento ambiental ! Verificar o nvel de comprometimento das polticas pblicas com a questo ambiental ! Identificar as dificuldades para adoo de boas prticas ambientais

Quadro 03: Objetivos especficos do estudo de caso

A unidade de anlise considerada neste estudo de caso a

delimitao da questo da sustentabilidade ambiental com vista implantao

de um programa de certificao, nos moldes propostos pelo PCTS nas

pousadas localizadas no Caminho do Ouro no Municpio de Paraty-RJ.

Para a conexo lgica dos dados com os pressupostos definidos

para o estudo e os critrios para a interpretao dos resultados foram utilizados

os princpios sugeridos por Yin (2005, p.107), que so:

(i) a utilizao de diversas fontes de dados, visando proporcionar ao pesquisador uma abordagem mais ampla dos casos, possibilitando a anlise cruzada de informaes

(ii) criao de banco de dados com estudos de caso para facilitar o acesso a informaes, documentao e evidncias

(iii) encadeamento de evidncias (ligaes explcitas entre as questes feitas, os dados coletados e as concluses a que se chegou)

21

Na coleta das evidncias empregaram-se as seguintes tcnicas

(idem, p.111-132):

! Documentao: em livros, textos para a fundamentao emprica do

referencial terico, anlise de diversos programas de certificao;

arquivos do Instituto de Patrimnio Histrico de Paraty e Prefeitura

Municipal (Plano Diretor de Turismo 2003 e reviso do Plano Diretor

do municpio) e coletnea de artigos do jornal Folha do Litoral (2000 a

2006).

! Entrevistas informais e formais, com questionrios semi-estruturados,

com proprietrios de pousadas, entidades locais e formadores de

opinio.

! Observao direta, quando do inventrio no territrio, realizao do

campo e participao como ouvinte nas audincias pblicas para

discusso do anteprojeto do cdigo ambiental e da apresentao das

emendas reviso do Plano Diretor.

A estratgia geral para a anlise das evidncias baseou-se em

proposies tericas (ibidem, p. 140), j que tanto os objetivos quanto as

questes da pesquisa refletem as proposies levantadas na reviso da

literatura, bem como a possibilidade de surgimento de novas abordagens sobre

o tema tratado. Foram usadas as tcnicas abaixo:

! Adequao de padro: uma das estratgias mais desejveis para a

anlise do estudo de caso. Essa lgica em que se compara um padro

fundamentalmente emprico com outro de base prognstica, sendo os

padres coincidentes os resultados podem reforar a validade interna do

estudo de caso (op. cit, p.145).

! Triangulao: tcnica de cruzamento dos dados obtidos das diversas

fontes (ROBSON, 1993).

22

O projeto de pesquisa foi elaborado em duas fases, que sero

detalhadas a seguir:

A primeira fase foi exploratria e, dado o seu carter flexvel, no que concerne ao planejamento, foi dividida em trs etapas, sendo a primeira

de carter bibliogrfico. Essa tcnica, de acordo com Gil (1999, p.83), permite

ao pesquisador, alm de tomar contato de maneira mais profunda com o

problema da pesquisa, uma reflexo sobre as diferentes vertentes do assunto.

Desta forma buscou-se coletar um conjunto de informaes sobre os principais

programas de certificao da atualidade com o intuito de se compreender as

ferramentas e suas aplicaes nos diversos contextos e ambientes: praia,

meios de hospedagens, restaurantes, marinas, parques, ecoturismo etc. Essa

fase permitiu listar os elementos, os problemas e as crticas de um programa

de certificao, suas aplicaes e implicaes, tanto no ambiente, como na

sociedade ou no empreendimento. Ainda nessa fase, foram realizados um

levantamento e uma anlise de toda a documentao, alm da norma NIH-

54:2004 proposta pelo Programa de Certificao do Turismo Sustentvel

(PCTS) do Instituto de Hospitalidade.

Na segunda etapa foi realizado um trabalho de campo, para

coleta de dados, no perodo de 1 a 7 de agosto de 2005, com o objetivo de

conhecer e levantar elementos sobre as atividades tursticas e os meios de

hospedagem no municpio de Paraty para subsidiar a formatao da pesquisa

de campo.

O municpio de Paraty guarda um pouco da histria da

colonizao brasileira, possuindo caractersticas muito peculiares, sendo que

80% de seu territrio se localiza em reas de conservao. Rene no mesmo

espao geogrfico uma rea tombada pelo Patrimnio Histrico Artstico

Nacional, o Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB), o Parque Estadual

de Paraty-Mirim, a rea de Preservao Ambiental (APA) de Cairu, a terra

indgena Guarani-Araponga, a reserva extrativista da Joatinga, e a comunidade

quilombola Campinho Paraty, alm de uma dezena de praias e ilhas

paradisacas.

23

Um ponto que chamou a ateno foi o grande nmero de

pousadas, o principal tipo de meios de hospedagem de Paraty. Esses

equipamentos esto espalhados pelos diferentes pontos do territrio e

procuram adaptar-se s caractersticas de onde esto instaladas. Assim,

existem pousadas que ocupam prdios, fazendas e engenhos histricos, alm

de construes inseridas no contexto litorneo e outras que ocupam rea de

conservao permanente.

Nessa etapa levantaram-se informaes concernentes s

caractersticas da regio, dos equipamentos, ocupao, sazonalidade,

problemas operacionais, infraestrutura etc. Foram realizadas visitas s

diferentes macrorregies que compem o municpio. Utilizaram-se tambm as

tcnicas de observao e de registro fotogrfico, anotaes de campo e

algumas entrevistas exploratrias no estruturadas com proprietrios de

pousadas, restaurantes da Vila de Trindade, com a lder da comunidade

quilombola e monitor da APA da Cairuu.

As informaes coletadas nessas entrevistas permitiram uma

avaliao, ainda que preliminar, da complexidade do territrio e dos meios de

hospedagens distribudos pelas diversas regies, bem como delimitar de forma

mais precisa a rea a ser estudada. Debatida essa problemtica com o

orientador da pesquisa (Prof. Dr. Davis Sansolo), optou-se por focar o objeto

deste estudo nas pousadas inseridas no Caminho do Ouro, localizadas no

entorno, na chamada zona de amortecimento do PNSB, pelas peculiariedades

em seu macroambiente.

A terceira etapa constituiu-se de uma segunda pesquisa

bibliogrfica em diversas fontes, como UNEP (2005), CEBALLOS-LASCURIN

(1996), MITRAUD (2003), KINKER (2002) e GOMES (2002), a fim de encontrar

uma fundamentao terica da problemtica, alm de ferramentas de gesto

do turismo nas reas de conservao. Nela tambm se buscou definir os

instrumentos a serem usados para a coleta dos dados definio do protocolo

do estudo de caso. O programa PCTS possui um questionrio de auto-

avaliao que foi analisado para uma possvel aplicao, mas em funo de

sua complexidade, optou-se pelo modelo utilizado no programa da Costa Rica

24

(apndice B) por ser mais simples, alm de ter sido um dos benchmarkings

para o programa brasileiro (o questionrio avalia o mesmo conjunto de fatores

do PCTS)

Na segunda fase: foram realizados dois campos, entre 15 e 25 de agosto de 2006, para coleta dos dados.

No primeiro campo foram realizadas as seguintes atividades:

! Inventrio territorial: o trecho objeto do estudo compreende uma

extenso aproximada de 10 km (do trevo da rodovia RioSantos,

pela a rodovia RJ-165 ParatyCunha, at o inicio do Parque Nacional

da Serra da Bocaina). A rea tem uma ocupao mista (urbana e

rural) e conta com trs bairros: Pantanal, Ponta Branca e Penha. De

acordo com o Plano de Manejo do PNSB (IBAMA, 2000, p, 5.154),

Ponta Branca encontra-se na zona de amortecimento e Penha

dentro do parque.

! Inventrio das pousadas localizadas no Caminho do Ouro: foram

identificadas 10 pousadas, que foram divididas em duas categorias:

a) administrada pelo proprietrio nessa foram constatadas 2 subcategorias: empresa constituda com CNPJ e pouso familiar

criada por lei municipal n 116/2005; b) administrada por terceiro ! Inventrio dos atrativos tursticos da regio. Os mais relevantes so:

cachoeiras da Pedra Branca e do Tobog, Fazenda e Engenho

Murycana, Engenho DOuro, atelis e restaurantes

! Entrevistas em profundidade com representantes da comunidade

(Associao Comercial e Industrial, Balco Sebrae, Associao de

Guias, Projeto Caminho do Ouro, DLIS Desenvolvimento Local

Integrado Sustentvel; IEF Instituto Estadual de Florestas e do Sitio

Histrico-Ecolgico Caminho do Ouro). As entrevistas foram de

aproximadamente 1 hora e seu roteiro est no apndice C.

! Visita ao Sitio Histrico-Ecolgico Caminho do Ouro; Centro de

Informaes ao Turista do Caminho do Ouro/Estrada Real e

Exposio O Caminho do Ouro Espao 2

25

! Participao como ouvinte da audincia pblica realizada em 17 de

agosto no CIEP D. Pedro I, onde foi apresentado e discutido o

anteprojeto de lei do cdigo ambiental do estado do Rio de Janeiro.

O evento contou com a participao de autoridades estaduais,

municipais (da regio), representantes de rgos de fiscalizao

(Ibama, IEF) e das comunidades locais.

No segundo campo foram realizadas:

! Entrevistas em profundidade com os proprietrios das pousadas: 4 entrevistas, com a aplicao de questionrios de auto-avaliao assim distribudos: 2 proprietrios administradores, 1

gerente de pousada e 1 proprietrio de pousada familiar. As

entrevistas e a aplicao do questionrio duraram aproximadamente

duas horas e meia. Seus roteiros e o questionrio de auto-avaliao

se encontram no apndice A e B, respectivamente. O critrio de

escolha das pousadas foi intencional considerando-se os seguintes

aspectos: (i) 2 pousadas localizadas do lado esquerdo (tendo como

referncia o sentido Paraty-Cunha) da estrada e 2 do lado direito

tendo como divisa o rio Perequ-Au; (ii) 2 pousadas de maior porte,

a pousada mais antiga e um pouso familiar

! Pesquisa na Prefeitura Municipal sobre a legislao de pouso

familiar, reviso do plano diretor e informaes tursticas

! Pesquisa no Instituto Histrico de Paraty sobre documentao do

Caminho do Ouro

! Participao como ouvinte da audincia pblica em 25 de agosto de

2006, em que foram apresentadas e discutidas as principais

emendas reviso do plano diretor de Paraty, fruto das reunies

temticas realizadas com as comunidades.

A importncia desse estudo reside no fato de que o atual

programa de certificao do turismo sustentvel PCTS, atualmente focado na

qualificao de mo-de-obra e de pequenos meios de hospedagem, est em

26

fase final de elaborao, pelo Ministrio do Turismo, e apresenta diversos

entraves de ordem institucional e legal, desconsidera as peculiaridades de

cada regio e recomendaes de organismos internacionais sobre o tema, traz

uma complexidade burocrtica e tcnica que possivelmente exclua seu

principal pblico-alvo (pequenos meios de hospedagem) seus parmetros de

conformidades (apesar de terem indicadores econmicos, sociais e ambientais)

so previstos por desempenho de cada equipamento, o que no

necessariamente significa que esses venham a respeitar as caractersticas

geogrficas, polticas, socioeconmicas e culturais da regio onde esto

instalados, tais aspectos sero detalhados durante a exposio do trabalho.

27

CAPTULO 1

TURISMO SUSTENTVEL E A CERTIFICAO DO TURISMO

O advento da Revoluo Industrial imprimiu um ritmo acelerado

aos processos de industrializao e urbanizao, o que contribuiu de forma

significativa para a degradao ambiental em diversas escalas, da local mais

facilmente perceptvel, global, cujas interferncias antrpicas nos processos

naturais ainda no podem ser mensuradas com preciso, como argumenta

Carlos (2000).

A temtica ambiental comea a ser discutida sob uma perspectiva

de relaes internacionais no incio do sculo XX, segundo Ribeiro (2001), com

acordos entre pases na tentativa de conter a ao predatria dos

colonizadores. Tais tentativas, entretanto, no alcanaram os objetivos

propostos. Somente a partir dos anos de 1960, como ilustra o quadro 04 a

seguir, que o tema comeou a atrair a ateno para uma realidade pouco

observada e a entrar na agenda de discusses quando movimentos globais,

desastres ambientais e publicaes importantes abriram o debate sobre

questes como os processos de urbanizao acelerada, crescimento e

desigual distribuio demogrfica, a expanso descontrolada do uso da energia

nuclear, o consumo excessivo de recursos no-renovveis, os fenmenos

crescentes de perda e desertificao do solo, a contaminao txica dos

recursos naturais, o desflorestamento, a reduo da biodiversidade e da

diversidade cultural, a gerao do efeito estufa e a reduo da camada de

oznio e suas implicaes no equilbrio climtico, a pobreza, o crescimento

econmico e o meio ambiente, como, afirma Lima (1997).

Compatibilizar o crescimento econmico com o uso sustentvel

dos recursos naturais era o novo paradigma conceitual que emergia em

contraponto modernidade vigente, conclui Becker (1997).

28

Ano Evento

1961 o Fundao da World Wildlife Fund (WWF)

1962 o Rachel Carson publica Silent Spring

1967 o Formado o Environmental Defense Fund

1968 o Garrett Hardin publica The Tragedy of the Commons, o Conferncia das Naes Unidas sobre a Biosfera. o Paul Ehrlich publica The Population Bomb

1969 o Formada a ONG Friends of the Earth

1970 o Formado o Natural Resources Defense Council

1971 o Fundao das duas maiores ONGs o Greenpeace e Amigos da Terra o Estabelecido o Polluter pay principle pelo OECD Council. o Publicado Only one Earth por Ren Dubos e Barbara Ward

1972 o Conferncia das Naes Unidas sobre o Ambiente Humano o Conveno da Unesco sobre a Proteo do Patrimnio Mundial Cultural e Natural o Clube de Roma publica Os Limites do Crescimento

1977 o Conferncia Internacional das Naes Unidas para o combate desertificao

1979 o Primeira Conferncia Mundial sobre o clima.

1980 o Estabelecido o Programa Mundial do Clima. o Lanamento da Estratgia de Conservao Mundial pela UICN, pelo PNUMA e pelo WWF

1982 o A Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar o PNUA organiza a Conferncia Estocolmo+10, em Nairobi. o ONU adota a carta mundial da natureza

1984 o Conferncia Mundial da Indstria sobre Gesto Ambiental o Acidente qumico em Bhopal (ndia)

1985 o Conveno de Viena sobre a Proteo da Camada de Oznio o Conferncia internacional sobre mudanas climticas

1986 o Acidente nuclear em Chernobyl na ex-Unio Sovitica

1987 o Adoo do protocolo de Montreal (camada de oznio) o Publicao do relatrio Brundtland Nosso futuro comum

1989 o Acidente com o petroleiro Exxon Valdez

1990 o Criao do Sistema Global de Observao do Clima (GCOS)

1991 o Criado o Fundo Mundial para o meio ambiente

1992 o Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) o Conveno sobre a Diversidade Biolgica o Conveno das Naes Unidas sobre mudanas climticas

1995 o Cpula Mundial para o Desenvolvimento Social

1996 o Criao da ISO14000 para Sistemas de Gesto Ambiental

1997 o Adoo do Protocolo de Kyoto o A Cpula Rio + 5 avalia a implantao da Agenda 21

1999 o Lanamento do pacto global sobre trabalho, direitos humanos e proteo ambiental

2000 o Adoo do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurana o Cpula do Milnio, com a declarao do Milnio o Frum Mundial da gua

2001 o Conveno de Estocolmo sobre Poluentes Orgnicos Persistentes

2002 o Cpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentvel Rio + 10 o Lanado o Global Reporting Initiative (GRI)

2005 o Entra em vigor o Protocolo de Kyoto o Publicado o Millennium Ecosystem Assessment

Quadro 04: Principais Eventos Globais sobre a questo ambiental Fonte: IISD 2005, organizado com traduo livre do autor (2006)

29

Assim, ao analisar a segunda metade do sculo XX autores como

Brseke (1995), Castells (1999), Morin (2002), Sachs (2002), apenas para citar

alguns, discutem as profundas transformaes acontecidas tanto sociais como

individuais e que determinaram uma nova perspectiva de desenvolvimento

tendo como princpios: (i) a satisfao das necessidades bsicas da populao

(ii) a solidariedade com as geraes futuras, (iii) a participao da populao

envolvida, (iv) a preservao dos recursos naturais, (v) a elaborao de um

sistema social que garanta emprego, segurana social e respeito a outras

culturas e (vi) programa de educao. Tais princpios entraram na pauta das

discusses e alertaram governantes e governados para um novo modelo de desenvolvimento e sobre a fragilidade e risco do planeta, impulsionando

naes e a sociedade civil a se estruturarem com rgos e legislao

ambiental organizaes no governamentais, etc. Ampliaram-se tambm as

discusses sobre o conceito de desenvolvimento multidimensional que passou

de um foco imediatista e mercantilista para um visionrio humanista com

preocupaes para as geraes futuras que suscita reflexes como:

[...] O desenvolvimento, do modo como concebido, ignora aquilo que no calculvel nem mensurvel: a vida, o sofrimento, a alegria, o amor, e o nico critrio pelo qual mede a satisfao o crescimento (da produo, da produtividade, da receita monetria). Definido unicamente em termos quantitativos, ele ignora as qualidades, as qualidades de existncia, as qualidades de solidariedade, as qualidades do meio, a qualidade de vida. (MORIN, 2002)

[...] desenvolvimento, tem sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e lev-los a aceitar sacrifcios, para legitimar a destruio de formas de culturas arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio fsico, para justificar formas de dependncias que reforam o carter predatrio do sistema produtivo. Cabe, portanto afirmar que a idia de desenvolvimento econmico um simples mito. (FURTADO 1996 apud LIMA 1997, p.7)

30

Segundo Becker (op.cit.), com a ps-modernidade1 emerge, na

sociedade capitalista ocidental, um novo consumidor mais exigente, bem

informado e influenciado por um mundo globalizado, que atinge a cultura e a

economia entre outros setores sociais, no qual as questes ambientais ganham

gradualmente destaque quer por medidas impostas na legislao quer por um

aumento da conscincia ecolgica.

As crticas e questionamentos sobre os conceitos clssicos de

desenvolvimento, que emergiram com a ps-modernidade, tambm atingem as

atividades tursticas (HARVEY, 1999; FEATHERSTON,(s/d); JAMESON, 1997).

Nesse perodo, a correlao entre o turismo e o meio ambiente ganha maior

destaque nas agendas de governos e da sociedade como um todo, com a

criao de mecanismo para o gerenciamento dos potenciais impactos

causados pela exploso do turismo de massa. Tambm a imagem de que o

turismo representava uma suposta indstria sem chamins, poderosa e limpa,

passa a ser questionada, segundo Ceballos-Lascurin (1996). Ao questionar o

desenvolvimento do turismo, Krippendort (1970 apud SHRER 2005) afirma

que o crescimento tem limites, assim como a explorao dos recursos

naturais, das florestas ou dos recursos do mar: a paisagem precisa ser tratada

com carinho, assim como a biodiversidade e a diversidade cultural dos povos.

Assim, compatibilizar o crescimento econmico e o uso dos

recursos naturais com a melhoria das condies de vida das populaes

transcendeu o discurso ambientalista para compromissos internacionais

(MORIN, 2002; RIBEIRO, 2001; SACHS, 2002).

Paralelamente ao crescimento do debate sobre a crise ambiental

mundial surgiram novos conceitos, e o mercado segmenta-se com designaes

prprias, como turismo verde e ecoturismo, introduzidas como alternativas ao

turismo convencional que possuem em comum a marca da natureza como

valor agregado a um produto. Em alguns casos, conceitos conservacionistas

so considerados; em outros, a natureza figura como uma mera mercadoria.

1 A ps-modernidade pode ser caracterizada como uma reao da cultura ao modo como se desenvolveram historicamente os ideais da modernidade, associada perda de otimismo e confiana no potencial universal do projeto moderno (CHEVITARESE, 2001).

31

nesse sentido a crtica feita por Bertonciello (1998) exploso do turismo

alternativo (ecoturismo2) realizado em reas com pouca ou nenhuma infra-

estrutura, e os possveis impactos gerados por tais atividades podem ser mais

prejudiciais do que em destinos de turismo de massa j tradicionais e com

infra-estrutura completa.

Dada a importncia que o turismo3 passou a ter para muitas

localidades, com freqncia se tornando sua principal atividade econmica , a

Organizao Mundial do Turismo OMT reconhecem a necessidade de

desenvolver estratgias para que ele satisfizesse no s as expectativas

econmicas, mas tambm respeitasse os valores sociais, culturais, polticos,

econmicos e ambientais, tornando-se uma atividade sustentvel a longo

prazo. Para tanto, foram criados4: os princpios para um turismo sustentvel e

suas relaes com o entorno; a Agenda 21 para viagens e turismo; o Cdigo

Mundial de tica do Turismo e definido o conceito de turismo sustentvel, que

foi revisado em 2004:

As diretrizes para o desenvolvimento do turismo sustentvel e as prticas de gesto ambiental so aplicveis a todas as formas de turismo, em todos os tipos de destinos, incluindo o turismo de massa e seus diversos segmentos. Os princpios de sustentabilidade5 se referem aos aspectos ambientais, econmicos e socioculturais, devendo estabelecer um equilbrio adequado entre as trs dimenses para garantir sua sustentabilidade no longo prazo (WTO 2004).

2 O termo ecoturismo foi cunhada por Hector Ceballos-Lascurlin em 1983 e usada para descrever uma nova forma de viagem que comea a ser desenvolvida (Ceballos-Lascurlin 1996, p.21). 3 O setor de turismo j representa 10% do PIB mundial, sendo uma das atividades que mais geram emprego no planeta. O nmero de chegadas internacionais passou de 25 milhes em 1950 para 808 milhes em 2005. A OMT prev uma taxa de crescimento mdio anual da ordem de 4,1%; isso significa que em 2020 sero 1,56 bilho de turistas. Fonte: relatrio WTOsTourism Vision 2020. Disponvel em http://www.world-tourism.org/facts/wtb.html 4 Ver detalhes em: http://www.world-tourism.org/espanol/frameset/frame_sustainable.html 5 Para esse trabalho ser adotada a viso de Sachs (2001) sobre sustentabilidade. Para ele, sustentabilidade constitui uma via intermediria entre o ecologismo absoluto e o economicismo arrogante, um conceito dinmico que visa promover o desenvolvimento scio-econmico eqitativo, que leva em conta as necessidades crescentes das populaes e a preservao ambiental, num contexto internacional em constante expanso, possuindo as seguintes dimenses: social, cultural, ecolgica, ambiental, territorial, econmica e poltica (nacional e internacional).

32

Assim, observa-se que, nas ltimas dcadas, to importante

quanto a promoo do turismo, o planejamento e o gerenciamento dos seus

efeitos sobre os destinos, comunidades e, mais especificamente, sobre o futuro

de ecossistemas, regies e naes passam a ser de fundamental importncia,

uma vez que:

[...] os impactos da atividade turstica podem ir muito alm da degradao ambiental, por vezes irrecupervel; suas conseqncias podero alcanar negativamente culturas e relaes sociais, criando conflitos e inviabilizando o desenvolvimento das reas atingidas pelo seu crescimento. O planejamento se impe como um instrumento indispensvel, dentro de uma abordagem sistmica, como requerido pela noo de processo do conceito de sustentabilidade. (FRAGA 2003, p.6).

Diversas iniciativas, tanto pblicas como privadas, surgiram nesse

perodo como conseqncia natural da mudana de paradigmas quanto ao

padro de desenvolvimento, da redefinio do papel do Estado, de uma maior

participao da sociedade civil e do crescimento das preocupaes quanto

utilizao dos recursos naturais com o intuito de promover prticas

sustentveis e fomentar o planejamento de seu uso nas atividades tursticas.

Tais iniciativas foram traduzidas por programas de qualidade; cdigos de

conduta de organismos internacionais e de associaes de classe e de

empresa; benchmarks; programas de boas prticas; uso de indicadores;

ecolabels (rtulo e/ou selo ecolgico ou verde) e programas de certificao etc.

1.1. OS PROGRAMAS DE CERTIFICAO DO TURISMO

Os programas de certificao so apontados por diversas

entidades, como The International Ecotourism Society TIES, United Nations

Environment Program UNEP, World Wildlife Foundation WWF, World

Travel & Tourism Council WTTC, World Tourism Organization WTO e

Greenpeace, somente para citar algumas, como importantes ferramentas que

buscam garantir um equilbrio entre as diversas dimenses da sustentabilidade

33

e podem trazer enormes benefcios sociedade, ao meio-ambiente, aos

governos, s empresas privadas e aos consumidores que, tendo mais

informaes, podem tomar decises mais criteriosas quanto s suas viagens e

destinos, tendo garantia e segurana quanto aos produtos e a qualidade dos

servios prestados.

Chafe (2004), ao avaliar pesquisas realizadas com a turistas e

operadores sobre meios de hospedagem na Alemanha, Austrlia, Itlia, Costa

Rica, Dinamarca e Inglaterra, em turismo interno e externo, afirma que mais de

2/3 dos viajantes reconhecem a importncia da adoo de ecolabels pela

hotelaria e usualmente preferem esses estabelecimentos, e se dispondo-se a

pagar mais caro por isso.

Certificao:

[...] uma ferramenta que tem por objetivo identificar ou atestar a qualidade de um produto ou do seu processo de produo. Para garantir a credibilidade do certificado, o processo deve ser independente, tecnicamente consistente, no discriminatrio, transparente e voluntrio. Este mecanismo de controle social sobre a origem de produtos tursticos , portanto, no governamental e voluntrio. Ele deve ser baseado numa avaliao independente dos aspectos sociais, econmicos e ambientais de projetos de infra-estrutura e operaes tursticas, que devem seguir padres descritos no conjunto de princpios e critrios, elaborados de forma participativa. Na prtica, a avaliao realizada utilizando-se uma matriz de indicadores de qualidade social, econmica e ambiental apresentados de forma regionalizada (WWF, 2005).

Os primeiros programas de certificao do turismo surgiram na

dcada de 1980 no bojo dos sistemas de qualidade produzidos pelas normas

ISO 9000. De acordo com o WWF, existem atualmente no mundo mais de 250

tipos de mecanismos de certificao (prmios e selos), que atestam a

qualidade de produtos e servios de turismo. Entre esses, mais de 100 emitem

algum tipo de selo. Se, por um lado, essa proliferao evidencia o interesse em

transformar o turismo em uma atividade sustentvel, por outro pode e costuma

gerar descrdito e confuso no mercado consumidor e investidor, pois muitas

vezes a certificao utilizada muito mais como ferramenta de marketing do

34

que como compromisso scio-ambiental da empresa. Para ilustrar isso o

quadro abaixo demonstra alguns dos programas em operao na atualidade:

Nome Escopo geogrfico

Aplicao Descrio

Blue Flag Internacional praias e marinas Desde 1987, simboliza o mais alto padro de qualidade ambiental para: gua, limpeza das praias, destinao de lixo. Fornece informaes atualizadas para os visitantes e promove a educao ambiental, visando conscientiz-los sobre a necessidade de preservao do eco-sistema costeiro

Certification Sustainable Tourism Program (CST)

Costa Rica hotis, restaurantes e operadores tursticos (incluindo transportes)

um produto do Instituto do Turismo da Costa Rica (ICT) e consiste em uma escala de 1 a 5 nveis de sustentabilidade do turismo. O CST certifica o turismo em bases e nveis que sempre contemplam o modelo do negocio sustentvel e leva em considerao o gerenciamento dos recursos scio-culturais e naturais

Green Deal Guatemala hotis, restaurantes, comunidade e operadores tursticos (incluindo transportes)

Tem certificado o turismo sustentvel baseado em processo especfico de gerenciamento de performance, abrangendo o controle ambiental e os aspectos scio-culturais

Green Globe 21 Internacional hotis, restaurantes, comunidade e operadores tursticos (incluindo transportes) e escritrios

benchmarking mundial para programas de certificao que facilitam a sustentabilidade. Est baseado na Agenda 21 e nos princpios de desenvolvimento sustentvel aprovados durante a Eco-92. H 3 nveis: afiliado, benchmarking e certificado

Green Seal, Inc Estados Unidos hotis, motis, chals

Desde 1995, o selo verde concedido aos produtos que se encontram dentro dos padres ambientais estabelecidos para cada categoria de produto, que passam por rigorosa avaliao, testes, bem como por auditoria local. Os padres Green Seal so ajustados de modo a identificar os produtos preferidos atualmente em funo de seus diferenciais ambientais, assim estabelecendo os padres para o mercado

Green Tourism Business Scheme

Reino Unido e Esccia

B&B, hospedarias, hotis, albergues, albergues da juventude, parques, motis, chals; atraes tursticas, e operadores tursticos

Desde 1998, oferece prmios nas categorias bronze, prata e ouro para fornecedores de turismo que cumprirem os critrios mais importantes em todas as suas categorias ambientais.

Quadro 05: Principais programas de certificao no mundo. Fonte: Organizado pelo autor (2005) (*) O termo internacional designa que o programa utilizado por diversos pases.

35

Nome Escopo

geogrfico Aplicao Descrio

Ibexes Sua

hotis e restaurantes

Sustentabilidade o foco central desse ecolabel s empresas que possuem praticas ambientais, sociais e econmicas responsveis. H 5 nveis de Ibexes

La Clef Verte Frana acampamentos, campings

Desde 1999, concede o seu ecolabel aos acampamentos que adotam prticas de negcio responsveis, mantm a biodiversidade e preservam os recursos naturais

Legambiente Itlia acomodaes, hotis e Acampamentos camping

Desde 1997, concede o seu ecolabel sacomodaes comprometidas com a proteoambiental e s prticas de negciossustentveis

Milieubarometer Environmental Barometer

Pases Baixos acampamentos camping e albergues

Desde 1998, mostra aos visitantes o nvel da qualidade ambiental concedido aos fornecedores do turismo, em trs categorias diferentes: bronze, prata e ouro que cumprem seus elevados padres

Nature and Ecotourism Accreditation Program (NEAP)

Austrlia

acomodaes, roteiros e atraes

Certifica produtos ecoturismo e roteiros no empresas. A certificao baseada em um compromisso sobre as melhores prticas de ecologia sustentvel e no gerenciamento da rea natural e a compartilhamento de experincias de ecoturismo de qualidade. Est sendo exportado como programa como o padro internacional do ecoturismo

PAN Parks Europa Parques nacionais e reservas florestais

Garante a proteo de natureza do capital natural da Europa certificando os parques que passam por verificao realizada por peritos independentes, de acordo com princpios, critrios e indicadores do ncleo do programa. Esses princpios cobrem aspectos ambientais, sociais, econmicos e culturais relevantes, e asseguram padres novos para conservao e o desenvolvimento sustentvel

Qualmark Nova Zelndia acomodaes, transporte e turismo de negcio

a marca oficial de qualidade do turismo desse pas. Todos os negcios e acomodao de turismo que tm essa certificao foram avaliadas por profissionais com credibilidade e independentemente baseados na qualidade, servio e custo. Recebem de 1 a 5 estrelas pela avaliao. As prticas de sustentabilidade do negcio no so avaliadas atualmente pelo programa.

Saskatchewan Ecotourism Accreditation Program

Saskatchewan, Canad

acomodaes, atraes e guiastursticos

A Sociedade de Ecotourismo de Saskatchewan (ESS) certifica as atraes e os negcios do ecoturismo que seguem os princpios do ecoturismo e que se encontram com critrios de qualidade e prticas de negcio sustentvel

Quadro 05 cont.: Principais programas de certificao no mundo. Fonte: Organizado pelo autor (2005)

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Nome Escopo

geogrfico Aplicao Descrio

SmartVoyager Equador Ilhas Galpagos

barcos de turismo Este selo de certificao d aos viajantes das Ilhas Galpagos garantia de que seu operador se importa com conservao das ilhas e que ele toma todas as medidas para assegurar que os passageiros desfrutem de uma aventura memorvel e educacional sem prejudicar o local e o flora

The Green Key Dinamarca, Estnia, Groenlndia e Sucia

hotis, albergues da juventude, centros de convenes, camping, reas de lazer e restaurantes

Desde 1994, oferece um "diploma" aos fornecedores do turismo responsvel que cumprem uma longa lista de critrios ambientais, incluindo aquelas relacionadas poltica da empresa e seus planos de aes. As visitas de inspeo so freqentes e ajudam assegurar a credibilidade do programa

The Luxembourg Ecolabel

Luxemburgo

acomodaes, hotis, albergues da juventude, flats, camping

Desde 1999, promove o turismo ambiental e social responsvel com o apoio do Ministrio do Turismo do pas em cooperao com o do Meio-Ambiente.

The Swan

Dinamarca, Islndia, Finlndia, Noruega e Sucia

hotis, albergues da juventude e outros meios de hospedagens

Desde 1999, garante que os produtos e os servios se encontram dentro de padres ambientais elevados. Promove auditorias peridicas, avaliando o seu ciclo de vida, impactos, qualidade e desempenho. Seus critrios ambientais so revisados regularmente para assegurar que seus produtos e servios estejam bem acima dos padres da indstria.

Umweltzeichen ustria hotis, albergues da juventude, camping flats e restaurantes

Desde 1997, este o smbolo austraco para a proteo ambiental, que garante a conformidade com elevados padres ambientais.

VISIT Europa acomodaes, atraes tursticas e operadores

uma a iniciativa europia para a promoo de ecolabel e desenvolvimento sustentvel do turismo. O programa tem duplo objetivo. Um convite voltado aos consumidores, "sua VISITA faz a diferena a escolha sua!" e outro aos fornecedores do turismo: usar a VISIT como a plataforma para as iniciativas voluntrias para o turismo sustentvel

Ecotel Amrica do Norte, Amrica Latina e sia

hotis e resorts Desde 1994 desenvolve um programa de responsabilidade ambiental. A Certificao tem 5 globos, um para cada categoria: compromisso ambiental; gerenciamento de resduos slidos; eficincia energtica; preservao&conservao da gua; educao ambiental aos colaboradores e comunidade

Eco-Certified Sustainable Travel

Estados Unidos acomodaes, atraes tursticas, operadores e sua rea administrativa

Desde 2002, tem desenvolvido um programa de ecocertificao para os fornecedores de viagens e de turismo que incorpora viabilidade financeira, prticas de negcio ambiental e social responsveis em suas operaes

Quadro 05 cont.: Principais programas de certificao no mundo. Fonte: Organizado pelo autor (2005)

37

Conforme fica demonstrado no quadro acima, h programas de

certificao muito especficos, como o Pan Parks, aplicados a parques

nacionais e reservas florestais, SmartVoyager, para barcos de turismo, e Blue

Flag, para praias e marinas, e outros mais abrangentes que contemplam

praticamente todas as atividades relacionadas com o turismo (meios de

hospedagem, restaurantes, localidades, operadores, roteiros, produtos

tursticos e guias). So exemplos desse segundo grupo Green Globe 21,

Certification Sustainable Tourism Program (CST), Nature and Ecotourism

Accreditaton Program (NEAP), Green Tourism Business Scheme, Visit, e Eco-

Certified Sustainable Travel, entre outros.

Dado o nmero de programas de certificao existentes nas

diversas regies do globo, que se utilizavam de diferentes critrios para conferir

a certificao, foi publicado em 2000, pelo WWF, o relatrio Synergy, que

analisou os mais representativos programas e apontou as principais lacunas

existentes: (i) muitos desses selos no detm o alcance de sustentabilidade

que dizem promover; (ii) o alcance dos selos limitado a determinados

segmentos como, por exemplo, hotis ou regies especficas; (iii) a maior parte

deles est restrita a apenas um elemento de sustentabilidade, geralmente a do

meio natural, negligenciando o meio social ou o econmico; (iv) a maior parte

dos selos est baseada em processos de gesto interna, com poucos

indicadores de desempenho externo (impactos socioambientais, por exemplo);

(v) a maioria no possui um rgo fiscalizador independente do processo,

ficando a certificadora sem prestar contas sociedade e/ou aos envolvidos no

processo (SYNERGY 2000, p.56).

O Acordo de Mohonk6, publicado em seguida, trouxe as

recomendaes visando a criao de padres mnimos apropriados ao

processo de certificao do turismo sustentvel e do ecoturismo em nvel

global, envolvendo aspectos nas reas operacionais, socioculturais, ambientais

e econmicas.

6 Ver detalhes sobre o acordo: http://www.rainforest-alliance.org/programs/tourism/certification /mohonk.pdf

38

Para Maclaren (2002), da TIES, um sistema de certificao com

credibilidade deve ter os seguintes elementos:

(i) padres/critrios apropriados, adequados, desenvolvidos e aceitos por todas as partes interessadas; (ii) assessores qualificados e treinados e critrios definidos para treinamento e qualificao; (iii) operaes ticas e profissionais em todos os nveis, sem favoritismo ou conflito de interesses; (iv) equipe de certificao qualificada e operao autofinanciada, se existirem diferentes certificadores, um mecanismo de credibilidade tambm ser necessrio; (v) transparncia; (vi) procedimentos definidos; (vii) mecanismos de apelao; (viii) reconhecimento de agncia promotora e dos consumidores pelo cumprimento dos critrios estabelecidos; (ix) aceitao pelo mercado e pelos rgos reguladores: marketing e promoo.

Considerando o crescimento do nmero de sistemas de

certificao e outras iniciativas voluntrias, a WTO realizou um estudo global

denominado Voluntary Initiatives for Sustainable Tourism: Worldwide Inventory

and Comparative Analysis of 104 Eco-labels, Awards and Self-commitments,7

publicado em 2003, com recomendaes para que os governos nacionais

incentivem e ofeream os suportes legais e institucionais fomentando a criao

e o desenvolvimento de um sistema de programas de certificao do turismo

sustentvel. Tais programas precisam ser desenvolvidos respeitando as

caractersticas geogrficas, polticas, socioeconmicas e culturais de cada pas

ou regio.

Segundo Honey&Rome (2001, p.23-45), os diferentes atores

ambientalistas, setor do turismo, pases receptores, comunidades receptoras, consumidores e agncias internacionais de financiamento buscam a

certificao com interesses distintos e isso tem ajudado a produzir diferentes

programas de certificao, que se utilizam basicamente de duas metodologias:

Certificao baseada em processo: sistema de gerenciamento

ambiental (SGA) Environmental Management System (EMS). Esse mtodo

tornou-se uma ferramenta muito conhecida, ajudando a produzir estudos para a

determinao de padres mnimos de conduta. O programa prev o

7 Ver detalhes em www.wto.org

39

treinamento dos colaboradores e disponibiliza um conjunto de sistemas para o

monitoramento que atenda a objetivos ambientais estabelecidos, tais como:

poluio, consumo de gua, reduo de insumos energticos etc.

considerado sistema de gerenciamento ambiental aquele que obedece aos

procedimentos determinados por normas tcnicas internacionalmente

reconhecidas, como ISO 14001 ou BS 7750.

Certificao baseada em performance ou desempenho: esses

programas usam um conjunto externo de critrios que englobam aspectos

ambientais, scio-culturais, econmicos ou benchmarks para avaliar todas as

empresas que buscam a certificao. Atualmente, um nmero crescente de

programas tem adotado esse modelo ou uma combinao das duas

metodologias processo e desempenho. So usados principalmente em

programas de certificao nacional ou subnacional, que comparam e julgam

negcios ante a um conjunto comum de critrios. Na maioria dos casos, um

auditor independente contratado para inspecionar e avaliar produtos e

servios e assegurar que o critrio adotado seja usado. Nesse caso, o negcio,

produto ou servio certificado e recebe um selo/logotipo que pode ter vrios

nveis, com a finalidade de indicar o estado atual e estimular a implementao

de melhorias visando atingir critrio mais alto.

Essas duas metodologias so implementadas de forma

semelhante: ambas envolvem auditoria (prpria, contratada ou independente);

outorgam uma premiao (um selo/logomarca ou diploma) queles que

conquistam a certificao. Entretanto, saber distinguir as diferenas entre

essas metodologias de vital importncia para qualquer anlise sobre os

programas de certificao, quer para o turismo quer para qualquer outro setor

da economia. Porque, conforme Honey&Rome (ver quadro abaixo), em alguns

programas mais antigos a certificao est apoiada em sistema de

gerenciamento ambiental das empresas. Assim, no h garantia de que tais

empresas certificadas atuem de forma social e ambientalmente responsvel. O

aumento da percepo da existncia de tais falhas nessa metodologia e o

reconhecimento de que para ser crveis os programas de certificao precisam

ser baseados em performance de desempenho, ou seja, devem estar

40

vinculados a um conjunto externo de padres indicadores que possam ser

usados para medir qualquer empresa, servio ou produto.

Processo

Performance ou desempenho

o SGA estabelece determinados critrios para monitoramento

o No h padres universais, o que dificulta a comparao entre negcios

o Preveno no assegurada pelos

controles internos e documentao

o Normalmente requer consultores externos mais caros

o nfase na reduo de custos e do impacto ambiental

o O selo/logo obtido pela implantao

do processo, no pelo cumprimento dos objetivos

o Apropriado para grande organizaes

o Mede o resultado, no a inteno

o Os critrios comuns permitem comparaes entre negcios certificados

o Inclui uma lista de verificao clara para ambos: negcio e consumidores

o Mais transparente, menos caro

o Pode incluir os critrios: social, econmico e ambiental, dentro e fora do negcio

o O selo/logo obtido pelo conjunto dos

critrios e pode ter diferentes nveis

o Pode ser aplicado a todos os tipos de negcios

Quadro 06: Comparao entre as metodologias, processo e desempenho Fonte: Honey&Rome (2001, p.23-33), organizado pelo autor

As duas metodologias so empregadas nos atuais programas de

certificao do turismo, que Honney&Rome (ibidem) segmenta em trs tipos:

o Turismo de massa: emprega como metodologia o sistema de

gerenciamento ambiental SGA (por processo), tendo como matriz

as normas ISO 14001 e seus componentes. Em geral satisfaz as

necessidades de negcio (melhoria contnua, reduo de custo,

suporte tcnico etc.) gerando diferenciao no mercado e na

publicidade. Entretanto, freqentemente oferece informao

incompleta ou mesmo enganosa aos consumidores. Minimiza ou

ignora necessidades de pases (particularmente em

desenvolvimento ou subdesenvolvidos), comunidades locais, ONGs

41

e a proteo ambiental, alm dos negcios imediatos da empresa.

Exemplo: Ecotel8.

o Turismo sustentvel: emprega como metodologia a performance

ou desempenho em que h um equilbrio entre o interno (o negcio

em si, produtos e servios) e o externo (a comunidade

circunvizinha e o ambiente fsico). H, entretanto, programas que

empregam as duas metodologias, processos para a planta fsica e

desempenho para os aspectos externos. Possuem uma melhor

avaliao, embora no satisfaam completamente a necessidade

do negcio, consumidores, governos anfitries e comunidades. O

lado negativo que certos programas no conseguem distinguir

adequadamente a operao dos negcios das reas naturais

prximas, podendo ser relativamente caro para pequenos e mdios

negcios, que podem no ter recursos financeiros ou mercado

consumidor suficiente, deixando a sensao de que as

comunidades locais e ONGs esto sendo marginalizadas.

Exemplo: Certification Sustainable Tourism Program (CST),

(CST9) Costa Rica e Green Globe 21.

o Ecoturismo: emprega na certificao a mesma metodologia do

turismo sustentvel, tendendo a favorecer negcios pequenos e

mdios, mais respeitoso com as necessidades de comunidades

locais e conservao, ajuda o pblico que distingue os negcios das

reas geogrficas, transferindo maior credibilidade ao programa.

Contudo, normalmente tais programas carecem de recursos

suficientes para as auditorias necessrias e sua autopromoo. Por

isso, muitas vezes no satisfazem as necessidades dos negcios

que certificam, dos governos e do pblico do ecoturismo. Exemplo:

Nature and Ecotourism Accreditation Program (Neap10) Austrlia

Ainda que haja distines entre os programas de certificao, h

muitos pontos comuns: sua aplicao voluntria; todos possuem uma marca

8 Detalhes do programa: ver em http://concepthospitality.com/ecotel/ECOTEL.htm 9 Detalhes do programa: ver em www.turismo-sostenible.com.cr e www.greenglobe21.com 10 Detalhes do programa: ver em www.neap.com.au

42

ou selo; exigem o cumprimento ou superao de normas; requerem uma

avaliao e auditoria peridica e independente; exigem filiao e o pagamento

de taxa.

Dentre os diversos programas analisados durante a pesquisa

cabem trs destaques pelas suas peculiaridades e so utilizados atualmente

como benchmarkings programas de certificao em diversos pases so eles:

Green Globe 21, Certification Sustainable Tourism Program (CST) e Nature and

Ecotourism Accreditation Program (Neap), que sero detalhados a seguir.

o Green Globe 21: desenvolvido pelo World Travel & Tourism

Council (WTTC) e lanado em 1994, visando promover o

desempenho contnuo do turismo sustentvel. Revisado e

ampliado em 1999, incorporou as recomendaes da Agenda 21,

e passa exigir uma auditoria independente. Em 2001 adota

indicadores de desempenho baseados nos benchmarkings, com

atualizao anual. Adota um processo em trs nveis, chamado

ABC:

o Afiliao: etapa em que empresas de turismo conhecem o programa, seus benefcios e principais

requisitos. So desenvolvidos treinamentos sobre os

princpios da sustentabilidade, constroem-se as

estratgias e fixam-se objetivos que devem ser

alcanados;

o Benchmarking: a empresa pode ser benchmarking independentemente de ser ainda certificada. Os

projetos que forem obtendo ndices de performance

acima dos padres mnimos estabelecidos para o

segmento recebero pontos (de 1 a 6), conforme ilustra

a figura abaixo. A empresa receber a logomarca Green

Globe 21 (sem o tick), identificando no a certificao,

mas que ela tem um projeto em construo;

43

Hot

el (B

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el (V

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ArgentinaAustraliaBrazilCanadaCaribbeanChileChinaDenmarkEgyptFiji

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www.greenglobe21.com

Country

Accomodation

Bus

Com

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Sector Baseline and Best Practice Performance Levels

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TRAVEL & TOURISM INDUSTRY

Baseline and Best Practice Benchmarks

Figura 02: Sector baseline and best practice performance levels Fonte: http://www.earthcheck.org/ec%20Report%20Examples.htm

Figura 01: Exemplo dos indicadores de benchmarks Fonte: http://www.earthcheck.org/ec%20Report%20Examples.htm

44

o Certificada: quando a empresa satisfizer todos os requisitos do programa, isto , quando alcanar todos

os indicadores de benchmark ela certificada aps

uma auditoria realizada por empresa independente.

Depois de aprovada a empresa pode utilizar o logo

completo e tem validade de 1 ano.

o Certification Sustainable Tourism Program (CST): um programa

do Instituto do Turismo da Costa Rica (ICT) e contou com a

cooperao da Universidade de Harvard, entrando em operao

em 1997, com o objetivo de abranger todos os segmentos de

turismo: de massa; turismo sustentvel e o ecoturismo. Utiliza

metodologia mista: sistema de gerenciamento ambiental para os

requisitos para planta fsica (ISO14000) e outro baseado em

performance de desempenho. O questionrio contm um

checklist de 153 critrios (a figura abaixo ilustra um fragmento do

questionrio), em quatro categorias:

Desechos orgnicos 10.5 Se utilizan basureros adecuados para el depsito y manejo de desechos

orgnicos. Ponderacin: 1 [ ]s [ ]no

10.6 Los desechos orgnicos producidos en el hotel son utilizados en un programa de compostaje u otra aplicacin apropiada. Ponderacin: 2 [ ]s [ ]no [ ]n/a Desechos inorgnicos

10.7 La empresa dispone de recipientes adecuados para la separacin de la basura (aluminio, plstico, vidrio y papel) Ponderacin: 2 [ ]s [ ]no

10.8 El personal de limpieza de habitaciones separa la basura cuando el cliente no lo hace. Ponderacin: 2 [ ]s [ ]no

10.9 Existe un sitio acondicionado en el cual se realiza la separacin final de los desechos. Ponderacin: 1 [ ]s [ ]no

10.10 El hotel participa en un programa de reciclaje al cual se envan los desechos debidamente clasificados. Ponderacin: 3 [ ]s [ ]no

Figura 03: Fragmento do questionrio de auto-avaliao do programa

45

o Planta de servio: avalia os aspectos relacionados aos

processos internos da empresa, o gerenciamento e

controle de gua, energia, tratamento de resduos e

treinamento; o Entorno fsico-biolgico: avalia a interao da empresa com

o meio ambiente circundante, focando o tratamento de

gua servida e a proteo da flora e fauna entre outros;

o Entorno socioeconmico: avalia a identificao e interao

do estabelecimento com a comunidade local. Exemplo: em

que grau o empreendimento colabora no crescimento e

desenvolvimento da regio (gerao de empregos e outros

benefcios); o Cliente externo: avalia as aes desenvolvidas pela

gerncia visando a participao do cliente na

implementao das polticas de sustentabilidade da

empresa.

o Para cada um desses aspectos h perguntas especificas, que

servem para avaliar o quanto as empresas cumprem os padres

pr-fixados. O CST tem uma escala de 0 a 5, e cada nmero

indica a posio relativa da empresa em termos de

sustentabilidade, conforme o demonstra o quadro abaixo. Vem

sendo considerado modelo para diversos paises da Amrica

Central e foi um dos benchmarkers para o programa brasileiro:

NVEL % conformidade ou atendimento

0 < 20

1 21 - 39

2 40 - 59

3 60 - 79

4 80 - 90

5 >95

Quadro 07: Nvel de conformidade ou de sustentabilidade

46

o Nature and Ecotourism Accreditation Program (Neap): lanado

em 2001, considerado o primeiro e o melhor programa do

gnero no mundo e vem sendo adotado por diversos paises como

um benchmarking internacional. Foi desenvolvidos pelo segmento

de ecoturismo devido necessidade de identificar de forma

diferenciada os destinos genunos e operadores de turismo de

natureza na Austrlia. O programa assegura ao setor as reas

protegidas, comunidades locais e ao turista a segurana de que o

produto certificado tem o compromisso de aplicao das melhores

prticas de sustentabilidade ecolgicas e de gerenciamento da

rea natural, bem como proporciona experincias de qualidade

em ecoturismo. Ele certifica produtos e no empresas. H trs

tipos de produtos de turismo de natureza ou ecoturismo que

podem ser certificados: roteiros, atraes e acomodaes. Os

produtos, para ser certificados, precisam seguir os seguintes

princpios:

Quadro 08: Princpios para o turismo de natureza e para ecoturismo

A metodologia empregada nesse programa de certificao

baseada em performance, considerando os princpios enumerados. A

47

certificao valida por trs anos, sendo anualmente renovada por auditoria

independente.

Apesar de serem indiscutveis os benefcios advindos dos

programas de certificao do turismo, cabem algumas consideraes:

o Muitos programas certificam a empresa, no levando em

considerao outras empresas ou atividades relacionadas com o

turismo que ocupam o mesmo territrio;

o As muitas empresas adotam um programa de certificao na

busca de um diferencial mercadolgico com os seus clientes, de

pouca repercusso no seu entorno;

o Os custos de implantao e manuteno so caros, e a

complexidade tcnica e burocrtica para consegui-las exclui uma

parcela significativa de empresas do setor de turismo que, em sua

maioria, de pequeno porte;

o A dificuldade de parmetros de avaliao de conformidade11 que

respeitem as caractersticas geogrficas, polticas,

socioeconmicas e culturais em todos os nveis;

o Falta de apoio legal claramente definido, pois a legislao do

turismo ainda est em construo como o caso brasileiro;

o A deciso sobre a certificao em sua maioria feita de cima para

baixo, com pouca ou nenhuma participao dos demais atores

sociais (stakeholders);

Apesar dos aspectos acima mencionados, o uso de programa de

certificao tem demonstrado ser uma importante ferramenta pedaggica na

promoo de mudanas comportamentais, alcanando resultados significativos

j comprovados em outros programas, como de qualidade total e de gesto

11 So quaisquer atividades que tenham como objetivo verificar de forma direta ou indiretamente, se os requisitos especificados pelo comprador de um produto ou servio esto sendo atendidos. Tais requisitos normalmente so estabelecidos previamente sob forma de uma norma tcnica, um regulamento tcnico ou uma especificao. Cartilha da Confederao Nacional da Indstria (CNI) Barreiras tcnicas 2002 (p.30-55).

48

ambiental. Assim, a certificao associada a uma gesto participativa do local

onde o turismo acontece vem sendo apontada, segundo a UNEP (op.cit.), como

a estratgia mais eficiente de gesto pblica para o desenvolvimento do turismo

sustentvel, como argumenta Franco (2000, p.8):

[...] o desenvolvimento de uma localidade depende da gente que nela vive, depende tambm de muitos outros determinantes e condicionantes que os economistas em geral tendem a desprezar ou a julgar como externalidades. O desenvolvimento local um modo de promover o desenvolvimento que leva em conta o papel de todos esses fatores para tornar dinmicas potencialidades que podem ser identificadas quando olhamos para uma unidade socioterritorial delimitada.

Esses argumentos puderam ser constatados durante a pesquisa

de campo no municpio de Paraty-RJ, onde desde 2000 funciona o Frum Dlis12

(Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel). A equipe de coordenao

composta por 21 representantes de entidades civis, prefeitura, Sebrae,

Associao Comercial e Industrial de Paraty Acip, Conselho Municipal das

Associaes de Moradores de Paraty Comamp e um da comunidade caiara.

O frum se firmou como protagonista do processo e catalisador de vrios

projetos e veio atender s demandas estruturais da comunidade, por meio de

um conjunto de prticas de diagnsticos e planejamento participativo baseadas

na identificao das potencialidades locais, na conformao da demanda

pblica da localidade e na oferta articulada e convergente de programas e

aes governamentais e no-governamentais voltadas ao atendimento dessa.

Dentre as diversas aes desenvolvidas nesse seis anos esto: Agenda 21 do

municpio, Revitalizao do Caminho do Ouro, Projeto de Agroecoturismo,

Plano Diretor de Turismo, Roteiros tursticos de Paraty e a Reviso do Plano

Diretor de Paraty.

12 O Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel um processo de promoo do desenvolvimento, por meio de parcerias entre Estado e Sociedade, no qual ocorrem aes multissetoriais integradas, convergentes numa dada localidade, segundo uma metodologia que prev, no mnimo, capacitao para a gesto; diagnstico e planejamento participativos; articulao da oferta pblica de programas com a demanda social da localidade; monitoramento e avaliao; fomento vocao empreendedora e criao de uma nova institucionalidade participativa, o Frum de DLIS. Para maiores detalhes ver www.rededlis.org.br

49

1.2. A certificao do turismo no Brasil

As primeiras iniciativas relativas certificao das atividades

relacionadas ao turismo de natureza no Brasil, a exemplo do que aconteceu no

mercado internacional, aconteceram no incio dos anos 1990, com a busca,

pelo setor hoteleiro, da certificao da qualidade tot