CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: ANÁLISE DESSA … · informação e conhecimento, ... não...

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VÍVIAN LAUX BISCHOFF

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: ANÁLISE DESSA VERT ENTE DE ENSINO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA

CANOAS, 2008

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VÍVIAN LAUX BISCHOFF

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: ANÁLISE DESSA VERT ENTE DE ENSINO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA

CANOAS, 2008

Trabalho de conclusão apresentado para o curso de Licenciatura em Química do UNILASALLE –Centro Universitário La Salle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Química, sob orientação do Profª. Drª. Maira Ferreira.

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TERMO DE APROVAÇÃO

VÍVIAN LAUX BISCHOFF

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: ANÁLISE DESSA VERT ENTE

DE ENSINO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Química, do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, pela seguinte

avaliadora:

Profª. Ms. Maira Ferreira Unilasalle

Canoas, dezembro de 2008.

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Ao final do curso de Química Licenciatura, agradeço a todos os meus familiares

e amigos pelo apoio e carinho, em especial aos meus pais, Ronaldo e Osmilda, e meu

marido Nilton.

Agradeço também a todos os meus professores e em especial a minha

orientadora Maira Ferreira pelo conhecimento compartilhado e atenção que me foi dada

ao longo de toda a graduação.

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RESUMO

O presente trabalho consiste em um estudo sobre a abordagem de ensino denominada Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) em livros didáticos de química de Ensino Médio, buscando ver o modo como os temas CTS meio ambiente, saúde e consumo são apresentados nesses livros. A pesquisa indicou que, embora com diferentes ênfases, os temas CTS têm sido tratados nos livros didáticos, sendo comum o uso de imagens e caixas de texto para sua apresentação. Em alguns livros, os temas são organizadores dos conteúdos de Química, caracterizando a inclusão dos assuntos como conteúdos CTS, mas eu outros, a abordagem CTS é utilizada apenas para exemplificar a aplicação de conteúdos químicos ao cotidiano. Palavras-chave: Ensino de Química, CTS, Análise de Livro didático, PCNs.

ABSTRACT

This paper consists of a study on the approach to teaching called Science, Technology and Society (CTS) in textbooks of chemistry in high school, trying to see how the issues means CTS environment, health and consumption are presented in these books. The research indicated that, although with different emphases, topics have been CTS treated in textbooks, and the common use of images and boxes the text for your presentation. In some books, the themes are organizers of the contents of Chemistry, characterizing the inclusion of CTS matters as content, but I others, the approach is CTS used only to illustrate the application of chemical content the daily. Keywords: Teaching of Chemistry, CTS, Analysis of Textbooks, PCNs.

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LISTA DE QUADROS:

Quadro 1 - Aspectos da Abordagem de CTS............ ................................................ 15 Quadro 2 - Categorias de ensino de CTS............. ..................................................... 16 Quadro 3 – Livros selecionados para análise........ ................................................... 31 Quadro 4 – Classificação da proporção entre conteúd o CTS e conteúdos de Química ............................................ ............................................................................ 32 Quadro 5: Levantamento de dados dos livros didático s......................................... 34 Quadro 6 – Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 1....................... 35 Quadro 7: Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 2......................... 42 Quadro 8: Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 3 A ..................... 48 Quadro 9: Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 3 B ..................... 49

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................. ........................................................... 11 2.1 CTS: Ensino de Ciência, Tecnologia e Sociedade: uma vertente importante no

ensino de ciências ................................. ......................................................................11

2.1.1 Escolha de temas e formas de abordagem no ensino de química por CTS:.........17

2.2 CTS e as Orientações Curriculares para o Ensino de Química..........................21

2.3 Livros didáticos e a abordagem de CTS .......... ....................................................24

3 METODOLOGIA DO TRABALHO.......................... ................................................... 28 4 ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS..................... ................................................... 34 5 CONCLUSÃO ........................................ .................................................................... 53 REFERÊNCIAS............................................................................................................. 56

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1 INTRODUÇÃO

Durante muito tempo a escola foi conhecida como local onde se adquire

informação e conhecimento, tendo a finalidade de acumular conceitos científicos que

eram transmitidos aos seus alunos (PIERSON, 2007). Hoje vivemos em uma sociedade

onde a informação está disponível a todos, não somente no ambiente escolar mas no

cotidiano dos alunos através da internet, televisão, revistas, livros e jornais. Devido a

estas mudanças na sociedade atual a escola muda seu papel, passando de informador

para formador, ensinando aos alunos como buscar conhecimentos necessários para

viver em sociedade de forma conciente e responsável.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as Orientações Curriculares

para o Ensino Médio, após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em

1996, foram criados com o objetivo de serem auxiliares na tranformação do sistema

educacional, em busca da melhora da qualidade do ensino frente a um mundo em

constante mudança. Segundo as Orientações Curriculares Nacionais (2008) o novo

ensino médio, nos termos da lei, de sua regulamentação e de seu encaminhamento,

deixa de ser simplesmente preparatório para o ensino superior ou estritamente

profissionalizante, para assumir necessariamente a responsabilidade de completar a

educação básica. Em qualquer de suas modalidades, isso significa preparar para a

vida, qualificar para a cidadania e capacitar para o aprendizado permanente, em

eventual prosseguimento dos estudos ou diretamente no mundo do trabalho.

Durante os estágios que realizei na graduação percebi que ao seguir uma

listagem de conteúdos de forma descontextualizada os alunos demostravam menos

interesse e uma maior dificuldade no entendimento do conteúdo químico, não

conseguindo fazer a relação entre o conteúdo estudado e a relação com a sua vida. Em

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uma das escolas que realizei estágio, em um primeiro ano do ensino médio, a

orientadora escolar propôs um projeto de ensino interdisciplinar partindo do tema Meio

Ambiente, onde cada disciplina deveria desenvolver o tema e no final do projeto seria

realizada uma apresentação dos resultados alcançados. Neste momento percebi que,

na disciplina de química, esses projetos aconteciam de forma superficial, não utilizando

conceitos específicos das áreas de conecimento para resolver problemas referentes ao

tema proposto. Este foi o motivo pelo qual me interessei em fazer este trabalho de

conclusão. Inicialmente pensei estudar projetos de ensino que partissem de um tema

gerador para tratar conteúdos químicos.

Neste trabalho inicial fiz uma revisão bibliográfica sobre estratégias de ensino por

projetos de pesquisa. Martins (2007) afirma que esta metodologia permite superar a

pedagogia tradicional, tornando o ensino mais dinâmico e diversificado pelo ensino

interdisciplinar. O autor afima, ainda, que os alunos aprendem pondo em prática

princípios do método científico, resultando em respostas sobre as indagações dos

alunos sobre o tema, no surgimento de novas idéias e de novos conhecimentos sobre

os fatos, na discussão e reflexão dos resultados obtidos, além de trazer outra visão das

coisas e dos fatos, diferente do senso comum. Meu projeto de pesquisa foi, então,

analisar projetos de ensino que estariam em andamento nas escolas, verificando a

forma de abordagem dos conteúdos de química, mas tive que abandonar esta intenção

porque ao pesquisar em sites ou outros materiais informativos das escolas verifiquei a

pouca disponibilidade de informações sobre os projetos, o que tornou essa pesquisa

inviável, uma vez que eu não poderia ir pessoalmente às escolas.

Mas este trabalho não foi em vão, porque li muitos artigos sobre a vertente de

ensino com enfoque em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), o que me manteve

interessada em estudar este assunto e resolvi verificar de que forma esta vertente está

sendo utilizada no meio escolar. Os objetivos principais da educação por CTS, segundo

Auler (2007), são promover o interesse dos estudantes em relacionar ciência com

aspectos tecnológicos e sociais, discutir as implicações sociais e éticas relacionadas ao

uso da tecnologia, adquirir uma compreeensão da natureza da ciência e do trabalho

científico, formar cidadãos científica e tecnologicamente alfabetizados que sejam

capazes de tomar decisões informadas e desenvolver o pensamento crítico e a

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independência intelectual. Verifiquei, também, que nesta vertente de ensino os

conteúdos são abordados de forma diferenciada partindo sempre de temas do cotidiano

dos alunos para desenvolver os conteúdos químicos.

Sabendo que, o livro didático é um dos materiais mais utilizados pelos

professores, sendo muitas vezes o único, decidi analisar como o ensino por CTS têm

sido apresentado nos livros didáticos de química do ensino médio.

Assim apresento este trabalho de conclusão de curso que foi organizado em

cinco capítulos. No primeiro capítulo, faço uma introdução, no segundo capítulo trago a

fundamentação teórica abordando uma revisão sobre aspectos referentes ao ensino por

Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS); à presença da vertente CTS nos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio; e, ainda, sobre metodologias de pesquisa

em análises de livros didáticos. No terceiro capítulo descrevo a metodologia utilizada

para o desenvolvimento do presente trabalho de conclusão, especificando a seleção e

os critérios de análise dos livros didáticos selecionados. No quarto capítulo destaco os

resultados da pesquisa e finalizando, apresento algumas considerações finais sobre o

trabalho realizado.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CTS: Ensino de Ciência, Tecnologia e Sociedade: uma vertente importante no

ensino de ciências

O movimento mundial denominado Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) está

vinculado à formação do cidadão, a partir de aspectos sociais relativos ao tratamento

de aplicações de Ciência e Tecnologia na educação escolar, em um caráter

interdisciplinar.

O ensino de CTS embora não seja uma vertente nova, começou a tomar um

importante rumo a partir de meados de 1960 e início dos anos 1970, como resposta ao

sentimento crescentemente generalizado, de que o desenvolvimento científico e

tecnológico não possuía uma relação linear com o bem-estar social, como se tinha feito

crer desde o século XIX e renovado logo após a Segunda Guerra Mundial.

Segundo Santos (2002) o agravamento dos problemas ambientais pós-guerra, a

tomada de consciência de muitos intelectuais com relação às questões éticas, a

qualidade de vida da sociedade industrializada, a necessidade da participação popular

nas decisões públicas, estas cada vez mais sob o controle de uma elite que detém o

conhecimento científico e, sobretudo, o medo e a frustração decorrentes dos excessos

tecnológicos propiciaram as condições para o surgimento de propostas de ensino CTS.

Segundo Santos (1997) uma segunda justificativa para o surgimento do movimento de

CTS relaciona-se a mudança de visão sobre a natureza da ciênca e seu papel na

sociedade.

Os estudos curriculares de CTS, segundo Linsingen (2007), iniciaram na Europa

e América do Norte, em três grandes direções: no campo da pesquisa, como uma

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alternativa à reflexão acadêmica tradicional sobre ciência e tecnologia; no campo das

políticas públicas, defendendo a regulação social da ciência e da tecnologia,

promovendo a criação de mecanismos democráticos facilitadores da abertura dos

processos de tomada de decisão sobre questões de políticas científico-tecnológicas; e,

no campo da educação, promovendo a introdução de programas e disciplinas CTS no

ensino médio e universitário, referidos à nova imagem da ciência e da tecnologia.

Santos e Mortimer (2002) destacam que a autora Krasilchik ao discutir a

evolução da inovação educacional dos currículos de ciências no Brasil, no período de

1950 a 1985, assinala que, na década de setenta, os currículos começaram a

incorporar uma visão de ciência como produto do contexto econômico, político e social.

Já na década de oitenta, a renovação do ensino de ciências passou a se orientar pelo

objetivo de analisar as implicações sociais do desenvolvimento científico e tecnológico.

Em 1990, foi organizada pelo Ministério da Educação, em Brasília, a

“Conferência Internacional sobre Ensino de Ciências para o Século XXI: ACT –

Alfabetização em ciência e tecnologia”, na qual foram apresentados vários trabalhos do

movimento internacional de Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) no ensino de

ciências. Santos (2008) destaca que nos anos seguintes, começam a surgir pesquisas

em Programas de Pós-Graduação envolvendo a temática CTS no ensino de ciências.

Na década de 1990, começa a aparecer, então a apresentação de trabalhos em

congressos e a publicação de artigos sobre a temática CTS, além da publicação de

livros sobre o assunto. Na presente década, vem se intensificando o interesse da

temática CTS que começa a ficar cada vez mais presente nos periódicos de ensino de

ciências. Com destaque nesses estudos, o autor cita o Programa de Pós-Graduação

em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina, que

já produziu seis dissertações de mestrado e duas teses de doutorado sobre a temática

CTS.

Santos e Mortimer (2002) destacam vários materiais didáticos e projetos

curriculares brasileiros que foram elaborados, incorporando elementos dessa

perspectiva. Dentre os materiais didáticos, os autores citam: o projeto Unidades

Modulares de Química (AMBROGI et al., 1987), as propostas pedagógicas de Lutfi

(1988 e 1992), a coleção de livros do Grupo de Pesquisa em Ensino de Química da

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USP – GEPEQ, (1993, 1995, 1998), a coleção de livros de física do GREF (1990, 1991

e 1993), o livro Química na Sociedade (MÓL; SANTOS, 2000) e o livro Química,

Energia e Ambiente (MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI, 1999). Dentre as

recomendações curriculares, podem ser destacadas a Proposta Curricular de Ensino de

Química da CENP/SE do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1988), as

recomendações para o currículo do magistério de Ciscato e Beltran (1991), e a

Proposta Curricular de Química para o Ensino Médio do Estado de Minas (MORTIMER,

MACHADO; ROMANELLI, 1998).

Para caracterizar CTS, Santos (1997) destaca alguns autores com suas

considerações sobre o tema. Um dos autores a caracterizar o ensino de CTS é

Hofstein, o qual destaca que CTS significa o ensino do conteúdo de ciências no

contexto autêntico do seu meio tecnológico social, onde os estudantes tendem a

integrar sua compreensão pessoal do mundo natural (conteúdos da ciência) com o

mundo contruído pelo homem (tecnologia) e o mundo social do dia-a dia (sociedade).

Outro autor destacado pelo autor é Roby, o qual considera que os cursos de CTS visam

trazer para os estudantes conhecimentos que os levem a participar da sociedade

moderna, no sentido de buscar alternativas de aplicações de ciência e tecnologia,

dentro de uma visão de bem-estar social. Solomons, outro autor citado por Santos

(1997), aborda os três componentes do CTS separadamente, onde a ciência deve ser

ensinada quanto ao caráter próvisório e incerto das teorias científicas, a tecnologia

quanto a aplicação de diferentes formas de conhecimento para atender às

necessidades sociais e a sociedade que deve levar os alunos a perceberem o poder da

influência que eles têm como cidadãos, estimulando a participação democrática na

sociedade através de suas opiniões. Santos (1997) destaca, ainda, que Holman, em

texto no editorial do International Jornal of Science Education, afirma que o ensino não

atende exclusivamente aos interesses de uma educação científica, mas, deve existir

uma ênfase na cidadania, ao preparar os estudantes para o seu papel em uma

sociedade democrática. Para Santos (1997), o vínculo de CTS aos direitos do cidadão e

a sua participação na sociedade democrática é citado pela maioria dos autores

pesquisados per ele.

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Conforme Santos (2008) o objetivo central, portanto, do ensino de CTS na

educação básica é promover a educação científica e tecnológica dos cidadãos,

auxiliando o aluno a construir conhecimentos, habilidades e valores necessários para

tomar decisões responsáveis sobre questões de ciência e tecnologia na sociedade e

atuar na solução de tais questões. Dentre as habilidades e valores que devem ser

desenvolvidas, o autor cita a auto-estima, a comunicação escrita e oral, o pensamento

lógico e racional para solucionar problemas, a tomada de decisão, o aprendizado

colaborativo/cooperativo, a responsabilidade social, o exercício da cidadania, a

flexibilidade cognitiva e o interesse em atuar em questões sociais. Os valores

destacados pelo autor são estão vinculados aos interesses coletivos, como os de

solidariedade, de fraternidade, de consciência do compromisso social, de reciprocidade,

de respeito ao próximo e de generosidade. Segundo Santos e Mortimer (2002), será por

meio da discussão desses valores que contribuiremos na formação de cidadãos críticos

comprometidos com a sociedade. Linsingen (2007) afirma que educar numa

perspectiva de CTS, é fundamentalmente, possibilitar uma formação para uma maior

inserção social das pessoas no sentido de se tornarem aptas a participar dos processos

de tomadas de decisão conscientes e negociadas envolvendo ciência e tecnologia.

Os cursos de CTS se organizam segundo uma abordagem interdisciplinar de

ensino de ciências, relacionando a solução de problemas da vida real que envolvem

aspectos sociais, tecnológicos, econômicos e políticos a fim de desenvolver a

capacidade de tomada de decisão, preparando o indivíduo para participar ativamente

na sociedade democrática (SANTOS, 1997). Desta forma os conceitos são trabalhados

em uma pespectiva relacional, de maneira a evidenciar as diferentes dimensões do

conhecimento estudado, sobretudo as interações entre ciência, tecnologia e sociedade

(SANTOS, 2002). Aikehead (apud. SANTOS, 1997) destaca nove aspectos da

abordagem de CTS, destacando a interdependência da natureza da ciência, tecnologia

e da sociedade numa perspectiva social.

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Quadro 1 - Aspectos da Abordagem de CTS

ASPECTOS DA ABORDAGEM DE CTS ASPECTOS DE CTS ESCLARECIMENTOS

1. Natureza da Ciência Ciência é uma busca de conecimentos dentro de uma pespectiva social.

2. Natureza da Tecnologia Tecnologia envolve o uso do conhecimento científico e de outros conhecimentos para resolver problemas práticos. A humanidade sempre teve tecnologia.

3. Natureza da Sociedade A sociedade é uma instituição humana na qual ocorrem mudanças científicas e tecnológicas.

4. Efeitos da Ciência Sobre a Tecnologia

A produção de novos conhecimentos tem estimulado mudanças tecnológicas.

5. Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade

A tecnologia disponível a um grupo humano influencia sobremaneira o estilo de vida desse grupo.

6. Efeito da Sociedade sobre a Ciência

Por meio de investimentos e outras pressões, a sociedade influencia a direção da pesquisa científica.

7. Efeito da Ciência sobre a Sociedade

O desenvolvimento de teorias científicas podem influenciar a maneira como as pessoas pensam sobre si próprias e sobre problemas e soluções.

8. Efeito da Sociedade sobre a Tecnologia

Pressões públicas e privadas podem influenciar a direção em que os problemas são resolvidos e, em conseqüência, promover mudanças tecnológicas.

9. Efeito da Tecnologia sobre a Ciência

A disponibilidade dos recursos tecnológicos limitará ou ampliará os progressos científicos.

Fonte: Aikenhead apud Santos, 2002, p.12.

Santos e Mortimer (2002) destacam que nem todas as propostas de ensino que

vêm sendo denominadas CTS estão centradas nos nove aspectos citados acima. Isso

tem levado ao estabelecimento de classificações de cursos conforme o foco central. A

diferença entre as categorias para agrupar os cursos é função da prioridade que tem

sido atribuída para cada um dos objetivos gerais de CTS e da proporção entre o

conteúdo de CTS e o conteúdo puro de ciências (Santos e Mortimer, 2002). A

classificação, apresentada no quadro 2, utilizada pelos autores é de Aikenhead (1994),

ilustra essas diferenças. À medida que se progride nas categorias, a avaliação de

conteúdos CTS aumenta progressivamente em relação à avaliação do conteúdo puro

de ciências. Nessa escala, a categoria 1 corresponderia a 0% de avaliação de

conteúdos CTS e a categoria 8 a 100% .

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Quadro 2 - Categorias de ensino de CTS

Categorias Descrição Exemplos

1. Conteúdo de CTS como elemento de motivação.

Ensino tradicional de ciências acrescido da menção ao conteúdo de CTS com a função de tornar as aulas mais interessantes.

O que muitos professores fazem para “dourar a pílula” de cursos puramente conceituai.

2. Incorporação eventual do conteúdo de CTS ao conteúdo programático.

Ensino tradicional de ciências acrescido de pequenos estudos de conteúdo de CTS incorporados como apêndices aos tópicos de ciências. O conteúdo de CTS não é resultado do uso de temas unificadores.

Science and Technology in Society (SATIS, UK), Consumer Science (EUA), Values in School Science (EUA).

3. Incorporação sistemática do conteúdo de CTS ao conteúdo programático.

Ensino tradicional de ciências acrescido de uma série de pequenos estudos de conteúdo de CTS integrados aos tópicos de ciências, com a função de explorar sistematicamente o conteúdo de CTS. Esses conteúdos formam temas unificadores.

Havard Project Physics (EUA), Science and Social Issues (EUA), Nelson Chemistry (Canadá), Interactive Teaching Units for Chemistry (UK), Science, Technology and Society, Block J. (EUA). Three SATIS 16-19 modules (What is Science? What is Technology? How Does Society decide? – UK).

4. Disciplina científica (Química, Física e Biologia) por meio de conteúdo de CTS

Os temas de CTS são utilizados para organizar o conteúdo de ciências e a sua seqüência, mas a seleção do conteúdo científico ainda é a feita partir de uma disciplina. A lista dos tópicos científicos puros é muito semelhante àquela da categoria 3, embora a seqüência possa ser bem diferente.

ChemCon (EUA), os módulos holandeses de física como Light Sources and Ionizing Radiation (Holanda: PLON), Science and Society Teaching nits (Canadá), Chemical Education for Public Understandig (EUA), Science Teachers’ Association of victoira Physics Series (Austrália).

5. Ciências por meio do conteúdo de CTS

CTS organiza o conteúdo e sua seqüência. O conteúdo de ciências é multidisciplinar, sendo ditado pelo conteúdo de CTS. A lista de tópicos científicos puros assemelha-se à listagem de tópicos importantes a partir de uma variedade de cursos de ensino tradicional de ciências.

Logical Reasoning in Science and Technology (Canadá), Modular STS (EUA), Global Science (EUA), Dutch Environmental Project (Holanda), Salters’ Science Project (UK)

6. Ciências com conteúdo de CTS

O conteúdo de CTS é o foco do ensino. O conteúdo relevante de ciências enriquece a aprendizagem.

Exploring the Nature of Science (Ing.) Society Environment and Energy Development Studies (SEEDS) modules (EUA), Science and Technology 11 (Canadá)

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7. Incorporação das Ciências ao conteúdo de CTS

O conteúdo de CTS é o foco do currículo. O conteúdo relevante de ciências é mencionado, mas não é ensinado sistematicamente. Pode ser dada ênfase aos princípios gerais da ciência.

Studies in a Social Context (SISCON) in Schools (UK), Modular Courses in Technology (UK), Science A Way of Knowning (Canadá), Science Technology and Society (Austrália), Creative Role Playing Exercises in Science and Technology (EUA), Issues for Today (Canadá), Interactions in Science and Society – vídeos (EUA), Perspectives in Science (Canadá)

8. Conteúdo de CTS Estudo de uma questão tecnológica ou social importante. O conteúdo de ciências é mencionado somente para indicar uma vinculação com as ciências.

Science and Society (UK.), Innovations:The Social Consequencies of Science and Technology program (EUA), Preparing for Tomorrow’s World (EUA), Values and Biology (EUA).

Fonte: Aikenhead apud Santos, 2002, p.15.

Segundo Santos e Mortimer (2002), o autor Aikenhead (1994) considera que,

embora nenhuma das categorias possa representar o modelo real de CTS, as

categorias de 3 a 6 são as que representam a visão mais comumente citada na

literatura. Um curso classificado na categoria 1 talvez nem pudesse ser considerado

como CTS, dado o baixo status atribuído ao conteúdo de CTS. Já a categoria 8 refere-

se a cursos radicais de CTS, em que os conteúdos de ciências propriamente ditos

praticamente não são abordados. Percebe-se, assim, que até a categoria 4 há uma

maior ênfase no ensino conceitual de ciências e, a partir da categoria 5, a ênfase muda

para a compreensão dos aspectos das inter-relações de CTS.

2.1.1 Escolha de temas e formas de abordagem no ensino de química por CTS:

Santos (1997) destaca os conteúdos propostos em cursos de CTS pesquisados

pelo autor Aikenhead, conforme abaixo:

a) Interação entre ciência, tecnologia e sociedade;

b) Processos tecnológicos;

c) Temas sociais relativos à ciência e a tecnologia;

d) Aspectos filosóficos e históricos da ciência;

e) Aspectos sociais de interesse da comunidade cintífica;

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Segundo Santos (1997) a inclusão de temas sociais é recomendada em muitas

publicações, tendo como justificativa o fato de evidenciarem as inter-relações dos

aspectos de CTS e propiciarem as condições para o desenvolvimento de atitudes de

tomada de decisão dos alunos. O autor destaca, entre diversas listas de temas uma

primeira, apresentada na Conferência Internacional sobre “Ciência e Educação

Tecnológica e as Futuras Necessidades Humanas”, realizada em 1985, que os temas

sociais mais abordados nos cursos de CTS:

a) Saúde;

b) Alimentação e Agricultura;

c) Recursos Energéticos;

d) Terra, Água e Recursos Minerais;

e) Indústria e Tecnologia;

f) Ambiente;

g) Transferência de Informação e Tecnologia;

h) Ética e Responsabilidade Social.

A segunda lista citada por Santos (1997) foi organizada por Bybee em 1987, a

partir de pesquisa sobre ensino de CTS, por meio de consulta a alunos, professores,

grupos internacionais de educadores de ciências, cientistas e engenheiros, compondo

os seguintes temas:

a) Qualidade do ar e atmosfera;

b) Fome mundial e Fontes de Alimentos;

c) Guerra Tecnológica;

d) Crescimento populacional;

e) Recursos Hidricos;

f) Falta de Energia;

g) Substâncias Perigosas;

h) Saúde Humana e Doenças;

i) Uso da Terra;

j) Reatores Nucleares;

k) Animais e Plantas em extinção;

l) Recursos Minerais.

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Dentre os projetos de química pesquisados por Santos (1997) destacam-se os

temas: Fornecimento das necessidades de água, conservação dos recursos hidrícos;

petróleo; alimentos; química nuclear; ar e clima, saúde; poluição; produtos químicos no

lar; tecnologias atuais e alternativas para tratamento de resíduos; terra; atmosfera;

energia e água.

Pesquisando em artigos sobre temas utilizados para ensino por CTS mais atuais

foi possível verificar que os temas citados acima são ainda utilizados e outros, também

foram incluídos, tais como os assuntos sobre drogas, reciclagem de materiais, aditivos

e conservação de alimentos, conscientização ambiental, aquecimento global, química

dos fármacos, polímeros, cosméticos, biodiesel, entre outros. Nas Orientações

Curriculares Nacionais (2008) estão destacados temas que podem ser utilizados como

organizadores do currículo da escola como, por exemplo, poluição, recursos

energéticos, saúde, cosméticos, plásticos, metais, lixo, química agrícola, energia

nuclear, petróleo, alimentos, medicamentos, agrotóxicos, águas, atmosfera, solos,

vidros, cerâmicas, nanotecnologia. Essas orientações incluem a recomendação de que

a escola utilize sempre temas de acordo com as condições e os interesses dos sujeitos

no âmbito da comunidade escolar, e que os temas possam ser identificados a partir de

uma diversidade de temas locais ou globais.

Mesmo com projetos de ensino de CTS abordando temas sociais distintos, com

maior ou menor inclusão de conteúdos específicos de ciências, Santos (1997) constata

que todos possuem uma estrutura característica, baseada em algumas etapas

conforme descrito por Aikenhead (Apud SANTOS, 1997), no esquema que segue:

Figura 1 – Sequência da Estrutura dos Materiais de CTS FONTE: Aikenhead apud Santos,1997, p. 78

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A sequência adotada nos projetos segue os seguintes passos: uma questão

social é introduzida, uma tecnologia relacionada ao tema social é analisada; o conteúdo

científico é definido em função do tema social e da tecnologia introduzida; a tecnologia

correlata é estudada em função do conteúdo apresentado; a questão social original é

novamente discutida (Santos, 1997).

Santos (1997) destaca o autor Lowe, que por sua vez apresenta três tipos de

abordagem de temas de CTS. Uma abordagem é ensinar uma área da ciência com

aspectos relevantes que sejam compreendidos como próprios de CTS. A segunda

abordagem é introduzir uma aplicação tecnológica a fim de iniciar uma matéria que leve

aos conceitos científicos, antes de, finalmente, discutir algumas questões mais amplas

ao aplicações simultâneas do mesmo princípio. A terceira abordagem inicia com um

problema central, estudando os conceitos de ciência necessários para atacar o

problema.

Santos (1997) cita ainda alguns projetos curriculares de química e a forma de

abordagem dos temas. Entre eles o autor destaca o projeto CHEMCOM, composto por

unidades que tratam de problemas relacionado com a química, onde apresentam-se

primeiro os problemas, durante a discussão dos mesmos são introduzidos os conceitos

químicos e conceitos das ciências sociais e ao final o aluno formula soluções para o

problema.

Dentre projetos de ensino pesquisados por Santos (1997), o autor destaca que a

sequência de interface entre Ciência, Tecnologia e Sociedade ideal parece ser a

representas pela figura 1, na qual parte-se dos temas sociais para os conceitos

científicos e desses retorna para os temas.

Quando se verifica as estratégias de ensino de CTS utilizadas, Santos (1997) faz

uma revisão da literatura, destacando que são várias as estratégias de ensino

utilizadas, como jogos de simulação e desempenho de papéis, fóruns e debates,

projetos individuais e em grupos, pesquisas de campo, palestras de convidados, ação

comunitária, visita a indústrias, utilização de entrevistas, análise de dados de

computador, utilização de filmes, kits, jogos e videoclips, entre outros.

As estratégias de ensino frequentemente utilizadas nos cursos de CTS

pressupõem e implicam a participação ativa dos alunos mediada pela ação docente,

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significando a adoção de uma concepção construtivista para o processo de ensino e

aprendizagem, caracterizado pela construção e reconstrução do conhecimento pelos

alunos (SANTOS, 1997). O aluno é sempre instigado a desenvolver atitudes de tomada

de decisão e consolidação da cidadania.

Em relação ao processo de avaliação nos cursos de CTS, em artigos

pesquisados, pouco se fala sobre metodologias de avaliação do aluno. Thomas (apud

SANTOS, 1997, p. 87) destaca a dificuldade de avaliar segundo o caráter subjetivo das

opiniões dos alunos e sobre a dificuldade na elaboração de questões sobre situações

concretas do cotidiano para que o aluno faça a devida interpretação. Os autores Yager

e Mccormack (apud SANTOS, 1997) citam ainda aspectos relevantes a serem

considerados no processo de avaliação que compreende áreas de domínio do ensino

de ciências, relacionados a seguir:

a) Conhecimento e compreensão (domínio da informação);

b) Exploração e descoberta (domínio do processo da ciência);

c) Imaginação e criação (domínio da criatividade);

d) Sensibilização e valorização (domínio das opiniões);

e) Uso e aplicações (domínio das aplicações e conexões).

O domínio das aplicações da ciência e tecnologia à sociedade e suas

interelações são enfatizadas nos cursos de CTS, sendo este o diferencial para com os

demais cursos. Por esse motivo é a área mais enfatizada nas avaliações uma vez que

poucos cursos concentram a sua atenção para tal área (YAGER e MCCORMACK apud

SANTOS, 1997, p. 87).

2.2 CTS e as Orientações Curriculares para o Ensino de Química

Partindo de princípios definidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educacao,

sancionada em dezembro de 1996, o Ministério da Educação, num trabalho conjunto

com educadores de todo o País, chegou a um novo perfil para o currículo, apoiado em

competências básicas para a inserção dos jovens na vida adulta o qual foi apresentado

com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Estes foram criados

a fim de dar significado ao conhecimento escolar, mediante a contextualização; evitar a

22

compartimentalização, mediante a interdisciplinaridade além de incentivar o raciocínio e

a capacidade de aprender. Os PCNs cumprem o duplo papel de difundir os princípios

da reforma curricular e orientar o professor, na busca de novas abordagens e

metodologias.

As Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias, destacam que:

A contextualização no currículo da base comum poderá ser constituída por meio da abordagem de temas sociais e situações reais de forma dinamicamente articulada, que possibilitem a discussão, trasversalmente aos conteúdos e aos conceitos de Química, de aspectos sociocientíficos concernentes a questões ambientais, econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas. (2008, p.118).

A necessidade de um novo modelo de ensino que atenda tanto as Orientações

Curriculares quanto à visão do papel da escola como formadora de cidadãos críticos e

conscientes que, devido ao mercado de trabalho precisar de profissionais com

iniciativa, devem ser também autônomos, criativos e reflexivos, leva a uma

reestruturação do ensino. Conforme os PCNs, a consolidação do Estado democrático,

as novas tecnologias e as mudanças na produção de bens, serviços e conhecimentos

exigem que a escola possibilite aos alunos integrarem-se ao mundo contemporâneo

nas dimensões fundamentais da cidadania e do trabalho (BRASIL, 1999). Com isso, o

ensino de química deveria possibilitar, entre outros, a análise crítica e compreensão das

informações vinculadas nos meios de comunicação, o desenvolvimento da

argumentação e a criação de soluções para problemas do cotidiano.

Nos PCN Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (1999) a

organização dos conteúdos leva em consideração duas perspectivas, a vivência dos

individual dos alunos com seus conhecimentos escolares, suas histórias pessoais,

tradições culturais, relação com os fatos e fenômenos do cotidiano e informações

veiculadas pela mídia, e a que considera a sociedade em sua interação com o mundo,

evidenciando como os saberes científico e tecnológico vêm interferindo na produção, na

cultura e no ambiente. Destaca, também, que para o aluno ter uma aprendizagem

significativa, com construção de conhecimento, a mesma não pode ocorrer através da

transmissão de informações. Uma maneira sugerida pelos PCN+ para alcançar este

objetivo é a organização dos conteúdos a serem ensinados por temas estruturadores,

23

que são formados por um eixo central com objetos de estudo, conceitos, linguagens,

habilidades e procedimentos próprios, desenvolvendo de forma articulada um conjunto

de conhecimentos.

Muitos destes conceitos aparecem nos conceitos de Ensino de Ciências

Tecnologia e Sociedade, onde os temas sociais relativos a ciência e tecnologia são

abordados de forma interdisciplinar. As Orientações Curriculares descrevem que a

abordagem de temas sociais deve ocorrer articulada aos conteúdos químicos de forma

que os alunos entendam o mundo social que estão inseridos e desenvolvam a

capacidade de tomada de decisão em questões sobre a Química e a Tecnologia e

desenvolvam também atitudes e valores comprometidos com a cidadania.

Devido as mudanças propostas para o currículo pelos PCNs e por novas

vertentes de ensino como o CTS torna-se necessário o desenvolvimento de materiais

didáticos que contemplem a contextualização, a interdisciplaridade e a flexibilidade. Nas

Orientações Curriculares para o Ensino de Química são apresentados alguns temas

geradores e materiais didáticos que não repetem a tradicional divisão clássica e

fragmentada dos conteúdos de química. Os exemplos de temas geradores são sempre

citados como possibilidades de abordagem, mas tanto em CTS como nos PCNs é

descrito que outros temas não citados nos documentos também podem ser utilizados

caso se identifiquem com a realidade local.

Em relação aos materiais didáticos, as Orientações Curriculares Nacionais

(2008) citam revistas como a Revista Ciência Hoje, editada pela Sociedade Brasileira

para o Progresso da Ciência (SBPC), a Scientific American, a Revista Galileu e a

Revista Química Nova na Escola como materiais que podem ser utilizados como fonte

de pesquisa de artigos sobre os temas sociais. As Orientações Curriculares Nacionais

destacam ainda alguns livros que são ordenados a partir de temas geradores, de onde

emergem os conhecimentos químicos de base comum, como os desenvolvidos pela

Projeto de Ensino de Química e Sociedade da Universidade de Brasília. Ainda outras

possibilidades de materiais são os produzidos pelo Centro de Ensino de Ciências de

São Paulo e também os materiais produzidos pelo Grupo de Pesquisa em Ensino de

Química da USP, não esquecendo que isso também é possível a partir de organização

dos conteúdos através de atividades experimentais, entre outros.

24

De um modo ou de outro, a forma de abordagem de ensino por CTS atende aos

pressupostos sugeridos nas Orientações Curriculares Nacionais, onde o principal

objetivo é superar a visão compartimentada e descontextualizada dos conceitos

químicos, tratando estes conceitos como provisórios e fazendo com que a

aprendizagem ocorra no sentido de formar cidadãos críticos e capazes de tomar

decisões sobre problemas que envolvem o seu cotidiano.

2.3 Livros didáticos e a abordagem de CTS

O livro didático é considerado em diversos artigos o instrumento mais utilizado

como orientador dos trabalhos na sala de aula.

Um levantamento realizado pela Área de Educação Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (AEQ/UFRGS) com a colaboração do Centro de Ciências do Rio Grande do Sul (CECIRS) demonstrou que o currículo mínimo sugerido pelas 39 Delegacias de Educação do Estado é muito semelhante aos programas dos livros didáticos, comprovando a influência do mercado editorial nas salas de aula. (LOGUERCIO; DEL PINO, 1995, p.1).

Com o objetivo de proporcionar o acesso ao livro didático a todos os alunos da

rede de ensino público do país, o Ministério da Educação implantou em 2004 o

Programa Nacional do Livro Didático, inicialmente de forma experimental com os alunos

do norte e nordeste, nas disciplinas de Português e Matemática do primeira ano do

ensino médio. A definição do programa e a forma de atendimento aos alunos das três

séries do ensino médio foram definidas através da Resolução n° 38 do Fundo Nacional

do Desenvolvimento da Educação (FNDE). Os livros de química foram escolhidos pelas

escolas em 2007 a partir de uma lista de seis livros aprovados pelo Ministério da

Educação, e distribuídos em 2008, totalizando 7,2 milhões de livros, segundo dados do

Ministério da Educação.

Considerando, então, a importância e a disponibilidade dos livros didáticos em

todas as escolas, o fato de a vertente de Ensino de Química caracterizado pela relação

entre Ciência, Tecnologia e Sociedade ser, ou nascer, tratada em livros de grandes

editoras pode ser um indicativo de que os temas sociais estejam sendo discutidos no

meio escolar.

25

Segundo Lopes (1992) diferentes trabalhos revelam o grau de comprometimento

entre a má qualidade do ensino e a má qualidade da literatura didática. A autora afirma

que o livro como modelo padrão e sua autoridade absoluta sustenta uma clientela de

professores que, devido a deficiências na sua formação, não desenvolvem ou

organizam seus próprios métodos de trabalho. A autora destaca ainda as dificuldades

do magistério público e privado que, além da falta de tempo e das más condições do

ensino, se acomoda com as facilidades oferecidas pelos livros-textos.

Alguns trabalhos têm sido feitos para verificar a qualidade dos livros didáticos

editados e a forma de abordagem dos conteúdos. Artigos citam metodologias

específicas para análise de livros, os autores Loguercio, Ebling e Del Pino (2001)

propõem uma análise geral dos livros didáticos considerando como itens de análise os

recursos visuais, os recursos pedagógicos e a proposta pedagógica do livro. Outras

análises se referem aos aspectos específicos dos livros didáticos, como por exemplo, o

trabalho de Carneiro, Santos e Mol (2005), nesse, os pesquisadores analisam a função

pedagógica e a concepção dos professores a respeito do livro didático, com o objetivo

de verificar aspectos positivos e negativos de um livro caracterizado como inovador

quanto a forma de abordagem dos conteúdos.

Quanto aos aspectos gerais analisados em livros didáticos Loguercio e Del Pino

(2001) definem como primeiro critério para avaliação a análise dos recursos visuais,

levando em consideração a qualidade do livro, a uniformidade gráfica e a existência ou

não de poluição visual, referindo-se a uma grande quantidade de textos e figuras

sobrepostas, como obstáculos à aprendizagem. Esses autores analisam também, a

presença ou não de obstáculos epistemológicos, considerados barreiras na construção

do conhecimento científico. Os obstáculos citados pelos autores são os seguintes:

obstáculos animistas, que usam metáforas com o corpo humano e fenômenos vitais

para explicar conceitos que muitas vezes não são compreendidos e, apenas

operacionalizados; obstáculos realistas, que descrevem apenas o macroscópico não

conseguindo evoluir para o nível abstrato; obstáculos verbais, os que se apresentam no

uso indiscriminado de termos de linguagem comum resultando na fixação de conceitos

errados e constituindo uma barreira na aprendizagem de conceitos científicos;

obstáculos substancialistas apresentam uma tendência de generalização das

26

características vinculadas às substâncias e não na interação entre estas. Consideram

também como obstáculo o currículo oculto, caracterizando-se por manifestações

pessoais de conceitos preconceituosos ou não, que não deveriam estar descritos no

livro didático.

Outro critério verificado pelos autores refere-se à Proposta Pedagógica, a qual é

analisada considerando-se a forma de encadeamento dos conteúdos e como estes se

apresentam. Analisam se, no desenvolvimento dos conteúdos, os conceitos são

abordados do macroscópico para o microscópico ou ao contrário. Sabemos que a

química é uma ciência muito abstrata, então, o ideal seria partir do macroscópico para o

microscópico e partir do concreto para o abstrato. Nesse sentido também é necessário

fazer a relação entre fatos para uma melhor compreensão dos conteúdos. Para

Loguercio e Del Pino (2001) a verdadeira aprendizagem está intimamente ligada ao

conhecimento operativo, onde os alunos consigam estabelecer relações entre

fenômenos a partir de conhecimentos específicos, factuais e figurativos da disciplina de

química. Mas os autores consideram também a importância da experimentação,

verificando as experiências propostas, se são meramente ilustrativas, apenas

confirmando o que foi dito em sala de aula ou se são investigativas, instigando os

alunos à pesquisa e ao crescimento intelectual. Com relação ao cotidiano os autores

chamam a atenção para que se olhe a proposta do livro com relação à inserção no

cotidiano nos textos e atividades, a fim de analisar se os conteúdos estão

contextualizados permitindo aos alunos relacionarem fatos e problemas do cotidiano

com os conteúdos ou se o cotidiano é introduzido apenas como exemplo ou para

ilustrar os textos. Com relação aos exercícios afirmam que deve-se verificar qual o tipo

de exercício abordado pelos livros, se são exercícios figurativos, que buscam o

conhecimento de origem perceptual e imitativo, ou se são exercícios operativos que

possibilitam a transferência de conceitos para a compreensão da solução para os

problemas.

Além desses, outros critérios podem ser utilizados para análise de livro didático,

como por exemplo, a forma de contextualização de conhecimentos químicos, a

abordagem de temas do cotidiano, a abordagem do conteúdo através de projetos de

27

pesquisa ou através de ensino CTS, entre outros. Foi nessa dimensão que desenvolvi a

análise dos livros didáticos.

28

3 METODOLOGIA DO TRABALHO

Após definir o assunto para o projeto de pesquisa, comecei uma busca por

artigos e livros que tratavam de ensino utilizando a vertente CTS, buscando conhecer

histórico, aspectos teóricos, formas de aplicação e temas geradores. Observei que em

muitas revistas e periódicos essa vertente tem sido muito discutida. Trago como

exemplos a Revista Química Nova na Escola e a Revista Ciência e Ensino, sendo que

nesta última há uma edição exclusiva sobre CTS. Isso mostra que este assunto tem

sido discutido no meio escolar, e vem sendo apresentado como metodologia de ensino

que busca a formação de cidadãos críticos em relação à ciência e à sua interrelação

com a tecnologia, visando formar alunos capazes de tomar decisões sobre aspectos

relacionados à sociedade em que vivem. Além de olhar e estudar os artigos, fiz uma

revisão bibliográfica em alguns livros que tratam sobre este assunto.

Após o levantamento de artigos e textos sobre CTS em periódicos, pesquisei em

livros de química e no site do MEC, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) e as

Orientações Curriculares Nacionais (2008), buscando verificar quais orientações estão

sendo dadas para as Escolas quanto aos objetivos do ensino médio. Finalizei a revisão

bibliográfica verificando trabalhos sobre a análise de livros didáticos, procurando ver

que critérios e metodologias de análise têm sido utilizadas em pesquisas de livros

didáticos.

A pesquisa sobre a abordagem de CTS em livros didáticos de Química

disponibilizados no mercado, foi realizada, independentemente dos livros serem

recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático. A decisão de analisar os

livros partiu do pressuposto de que o livro didático parece ser ainda um dos materiais

mais utilizados pelos professores para preparação de suas aulas, servindo de guia

29

para organização dos conteúdos nas escolas. Para selecionar os livros, fiz uma

pesquisa consultando sites de editoras e de livrarias, na internet. Os critérios

estabelecidos para a consulta e seleção dos livros foram os seguintes: a inscrição dos

termos ciência, tecnologia e sociedade ou formação da cidadania nas capas ou

contracapas dos livros; ou a indicação nos textos de apresentação de haver

contextualização de temas ou uma forma diferenciada de abordagem dos conteúdos.

Segundo esses critérios, inicialmente, foram selecionados os seguintes títulos:

1. Usberco, Joao; Salvador, Edgard. Química. Volume único, 7° ed, Saraiva: 2006.

Resumo citado no site da editora: Esta obra foi reformulada preservando e

aprofundando suas características principais: ser sintética e abrangente e apresentar a

interação dos conteúdos ao cotidiano. Numa linguagem clara e compreensível, com

tratamento gráfico atraente e moderno, a obra motiva o aluno para o estudo por permitir

a compreensão das conseqüências da Ciência e da Tecnologia na vida das pessoas e

no meio ambiente. Acompanha Tabelas e CD-ROM.

2. Benabou, Joseph Elias; Usberco, Joao; Salvador, Edgard. - Col. Química no

Corpo Humano, Saraiva: 2004.

A coleção está dividida em dois volumes, A Composição dos Alimentos e

Química e Aparência.

Resumo citado no site da editora: Uma coleção extramamente adequada aos

estudantes, permitindo ao professor uma abordagem contextualizada de uma série de

conceitos fundamentais em quimica a partir de temas envolventes e interessantes. A

coleção Química no corpo humano tem como principal objetivo abordar temas

relacionados ao cotidiano, apresentando aos professores uma proposta inovadora.

O volume A Composição dos Alimentos abrange várias ciências em torno do

tema alimentação, não apenas discutindo aspectos biológicos e sociais, mas também, e

principalmente, mantendo o foco na química relacionada à alimentação, o que torna

este volume da coleção muito rico e interessante. Conteúdo em destaque Fotos,

ilustrações e boxes explicativos com curiosidades e informações adicionais

complementam cada volume da coleção.

30

O volume Química e Aparência explica a composição dos sabonetes, xampus,

tratamento e tinturas de cabelos, higiene bucal e desodorantes, dando um panorama

geral dos processos químicos envolvidos na higiene pessoal.

3. Reis, Martha. Completamente Química: Química Orgânica: Ciências, Tecnologia

e Sociedade. Editora: FTD, 2001.

Resumo citado no site da editora: A coleção Completamente Química

desenvolve a teoria com rigor científico e auxilia a classe no entendimento, partindo do

que é palpável, do que pode ser sentido, tocado e observado. Com isso, aos poucos, o

aluno evolui para um raciocínio abstrato. São três volumes com sete seções cada um

que aproximam a teoria do dia-a-dia do jovem estudante. Isso otimiza o aprendizado,

deixando-o mais dinâmico. O livro traz também atividades distribuídas de forma

sistemática, organizada e graduada. Exercícios dissertativos e atividades práticas

complementam a obra.

4. Santos, Wildson L.P.; Mol, Gerson de Souza. Química e Sociedade. Editora

Nova Geração: 2007.

Resumo ao professor: Este livro foi elaborado pelos participantes do Projeto de ensino

de Química e Sociedade (PEQUIS), grupo que desenvolve as suas atividades, no

Laboratório de Pesquisas em Ensino de Química (LPEQ), do Instituto de Química da

Universidade de Brasília (UnB). O trabalho empreendido buscou unir resultados de

pesquisas em ensino de Química a uma proposta curricular que se enquadrasse nas

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) e nos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM).

5. Krasilchik, Myrian; Marandino, Martha. Ensino de Ciências e Cidadania. Editora

Moderna: 2007.

Resumo: O domínio da linguagem científica é uma exigência ao cidadão do século XXI

que quiser compreender as mudanças por que passa a sociedade, posicionar-se

perante elas e participar das decisões que a podem mudar.

Este livro analisa algumas das exigências atuais do ensino de ciências e traz sugestões

31

de atividades interdisciplinares de alfabetização científica. Cada proposta de atividade

apresenta os conceitos de modo significativo para o estudante, discute os valores

éticos envolvidos, descreve a metodologia utilizada e as habilidades que serão

desenvolvidas.

Após o levantamento dos títulos nos sites das livrarias e editoras, fui até as

editoras Scipione, Moderna, Saraiva, Ática e FTD para coletar mais dados sobre as

bibliografias e finalizar a lista dos livros que seriam analisados. Após essa avaliação,

decidi excluir da pesquisa os seguintes livros: Química, volume único, 7° ed., Usberco e

Salvador (2004) porque não reconheci um ensino de Química voltado à CTS, e o livro

Ensino de Ciências e Cidadania de Krasilchik e Marandino (2007), por ser um livro

voltado para a disciplina de ciências do ensino fundamental. A seguir apresento os

livros selecionados para este trabalho de conclusão:

Quadro 3 – Livros selecionados para análise

Livro 1 Química e Sociedade. Santos, Wildson L.P.; Mol, Gerson de Souza.

Editora Nova Geração: 2007.

Livro 2 Completamente Química: Química Orgânica: Ci ências, Tecnologia e

Sociedade. Reis, Martha. Editora: FTD, 2001.

Livro 3 Coleção Química no Corpo Humano, Usberco, Salvador; Benabou,

Joseph Elias. Editora Saraiva.

A. A Composição dos Alimentos , 2004.

B. Química e Aparência, 2006

Fonte: Autoria própria, 2008.

Uma vez selecionados os livros, busquei estabelecer critérios de análise que

indicasse a abordagem de Ciência, Tecnologia e Sociedade nesses materiais.

Apresento, a seguir, os critérios utilizados para a análise dos livros avaliando todos

capítulos dos livros que, a partir de agora, serão identificados pelos números 1, 2 e 3.

a) Análise das unidades e seções;

b) Análise dos temas e conteúdos presentes nas unidades que compõem os livros;

32

c) Recursos Visuais: verificando o número de imagens associadas aos conteúdos

de CTS, procurando ver, também, se as imagens presentes no livro didático

relacionam-se à CTS de forma integrada e contextualizada ao conteúdo

proposto. Para análise das imagens associadas serão considerados os seguintes

enfoques: imagens associadas aos temas:

− SAÚDE: alimentação, drogas, bebidas, medicamentos, etc;

− MEIO AMBIENTE: poluição, lixo, recursos hídricos, etc;

− CONSUMO: produtos e serviços, cosméticos, processos industriais, etc.

d) Textos: de modo semelhante ao feito com as imagens, apontar a quantidade de

textos relacionados aos temas saúde, meio ambiente, consumo. Analisar a forma

de apresentação dos temas de CTS: se estão integrados no conteúdo ou se são

apresentados na forma de complementos, em caixas de texto ou quadros

específicos;

e) Classificação, conforme apresentação a seguir, adaptada do quadro 2

(AIKENHEAD apud SANTOS, 2002, p.16), apresentado anteriormente, em

função da prioridade que tem sido atribuída para os objetivos gerais de CTS e a

proporção entre os conteúdos de CTS e os conteúdos de Química. Não utilizei as

categorias na íntegra, pois entendo que em livros didáticos de Química o máximo

alcançado é a categoria 4 já que o eixo da análise é a disciplina de Química.

Quadro 4 – Classificação da proporção entre conteúdo CTS e conteúdos de Química

Categorias Descrição 1. Conteúdo de CTS como elemento de motivação.

Ensino tradicional de Química acrescido da menção ao conteúdo de CTS com a função de tornar as aulas mais interessantes.

2. Incorporação eventual do conteúdo de CTS ao conteúdo programático.

Ensino tradicional de Química acrescido de pequenos estudos de conteúdo de CTS incorporados como apêndices aos tópicos de Química. O conteúdo de CTS não é resultado do uso de temas unificadores.

3. Incorporação sistemática do conteúdo de CTS ao conteúdo programático.

Ensino tradicional de Química acrescido de uma série de pequenos estudos de conteúdo de CTS integrados aos tópicos de ciências, com a função de explorar sistematicamente o conteúdo de CTS. Esses conteúdos formam temas unificadores.

4. Conteúdos de Química abordados por meio de conteúdo de CTS

Os temas de CTS são utilizados para organizar o conteúdo de Química e a sua seqüência, mas a seleção do conteúdo científico ainda é a feita partir de uma disciplina.

33

5. Disciplina de Química por meio do conteúdo de CTS

CTS organiza o conteúdo e sua seqüência. O conteúdo de Química é multidisciplinar, sendo ditado pelo conteúdo de CTS. A lista de tópicos científicos puros assemelha-se à listagem de tópicos importantes a partir de uma variedade de cursos de ensino tradicional de Química.

Fonte: Autoria própria, 2008.

34

4 ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS

Ao iniciar a análise dos livros realizei um levantamento de cada livro quanto ao

número de páginas, de unidades, total de imagens, de imagens relacionadas à CTS e

de textos ou seções contendo CTS, conforme tabela que segue:

Quadro 5: Levantamento de dados dos livros didáticos

Livro N° de

páginas

N° de

unidades

N° imagens

total

imagens

CTS

N° de textos

que abordadom

CTS

1 744 9

(26 capítulos) 1133 743 53

2 624 11

(74 capítulos) 354 208 50

A 80 4 146 100 30 3

B 62 5 120 82 25

Fonte: Autoria própria, 2008.

Livro 1:

O livro 1, um livro de química geral, está voltado para as três séries do ensino

médio e, foi lançado, segundo Santos (2004), como uma proposta metodológica do

Projeto de Ensino de Química e Sociedade que inclui um reordenamento dos

conteúdos, de forma a integrá-los e estabelecer uma abordagem fenomenológica no

início do processo de elaboração conceitual, permitindo que o aluno construa e

35

reelabore seus modelos mentais, contando com a mediação do professor e do texto

didático.

O livro é dividido em 9 unidades, e em todas elas há abordagem associada ao

CTS nas seguintes seções:

a) Tema em Foco: discute o tema social abordado na unidade;

b) Notícias: artigos de jornais ou revistas;

c) Controvérsias Científicas: opiniões de cientistas sobre um mesmo tópico;

d) Pense, Debata e Entenda: questões para discussão sobre o Tema em Foco;

e) Questões interdisciplinares: discussão de temas com outras disciplinas;

f) Conceitos químicos: conteúdo programático de química;

g) Pense: explora as concepções prévias dos alunos e estabelece uma conexão

entre suas concepções e o novo conceito que será apresentado;

h) Conceito em Destaque: conceito químico central na unidade;

i) Conhecendo um Pouco Mais: enriquece o coneúdo abordado;

j) Química na Escola: atividades práticas de observação e coleta de dados;

k) Atividades e Exercícios do capítulo e Exercícios de revisão da unidade: com

atividades de construção do conhecimento e revisão com exercícios de

vestibular;

l) Ação e Cidadania: com proposta de projetos que façam os alunos explorarem o

mundo que os cercam.

Para uma visualização de quais conteúdos estão ligados a algum tema, organizei

o quadro a seguir, onde estão relacionados conteúdos que são abordados através de

CTS e conteúdos que estão na unidade, mas não precisariam da abordagem CTS para

ter seu entendimento.

Quadro 6 – Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 1

UNIDADE: TEMA:

TEMA ESPECÍFICO: CONTEÚDOS ABORDADOS:

CIDADANIA

TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

IDENTIFICAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS

UNIDADE 1: A CIÊNCIA DOS

MATERIAIS E O

MEIO AMBIENTE E CONSUMO

LIXO

CONSTITUIÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS

36

MÉTODOS DE SEPARAÇÃO

CIDADANIA

HISTÓRIA DA QUÍMICA

PROPRIEDADES DAS SUBSTANCIAS

LIXO

SOLUBILIDADE

MEIO AMBIENTE E CONSUMO

POLUIÇÃO E DESENVOLVIMEN

TO CIDADANIA

SAÚDE TABAGISMO CIDADANIA

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

GRANDEZAS DO ESTADO GASOSO

SUJEIRA NO AR COMBUSTÃO COMPLETA E INCOMPLETA

MEIO AMBIENTE

EFEITO ESTUFA/ AQUEC.GLOBAL

CIDADANIA

MOTOR DE COMBUSTÃO PROPRIEDADES DOS GASES MEIO

AMBIENTE E CONSUMO CAMADA DE

OZÔNIO REAÇÕES QUÍMÍCAS / CIDADANIA

MEDIDAS

LEIS DOS GASES

TEORIA CINÉTICA DOS GASES

UNIDADE 2: MODELOS DE

PARTÍCULAS E POLUIÇÃO

ATMOSFÉRICA

QUÍMICO E SUAS ATIVIDADES

RADIAÇÃO SOLAR

CIDADANIA

AGRICULTURA CIDADANIA

MEIO AMBIENTE,

CONSUMO E SAÚDE AGRICULTURA ELEMENTOS QUÍMICOS

ADUBOS SUBSTÂNCIAS IÔNICAS FABRICAÇÃO

VIDRO PROPRIEDADES DOS SAIS CONSUMO

PROCESSOS INDUSTRIAIS

ÓXIDOS IÔNICOS

AGROTÓXICOS SUBSTÂNCIAS MOLECULARES

TRANSGÊNICOS CIDADANIA

GASOLINA POLARIDADE DAS MOLÉCULAS

MEIO AMBIENTE,

CONSUMO E SAÚDE AGRICULT.

DESENV. SUSTENTÁVEL

CIDADANIA

CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS

LEIS PERIÓDICAS

MODELOS GEOMÉTRICOS

MODELOS ATÔMICOS

UNIDADE 3: ELEMENTOS,

INTERAÇÕES E AGRICULTURA

SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS

SAÚDE E BELEZA CIDADANIA

37

CONSUMO OBESIDADE QUANTIDADE DE MATÉRIA

SAÚDE ANABOLIZANTES CIDADANIA

PRODUTOS DE LIMPEZA CÁLCULOS QUÍMICOS

ÁGUA OXIGENADA NO

CABELO REAÇÃO QUÍMICA

SABÃO

INTERAÇÕES MOLECULARES/TENSÃO SUPERFICIAL/COMPOSIÇÃO/ESTEQUIOMETRIA

COSMÉTICOS CIDADANIA

SABÃO RENDIMENTO DAS REAÇÕES

PRODUTOS QUIM DOMÉSTICOS

CIDADANIA

PRODUTOS QUIM DOMÉSTICOS

SOLUÇÕES COLÓIDES E AGREGADOS

QUÍMICA DA PELE/PERFUMES

COMPOSTOS ORGÂNICOS

CONSUMO E SAÚDE

SUCOS CONCENTRAÇÃO

GASOLINA COMPOSIÇÃO DE PROD COMERCIAIS CONSUMO PRODUTOS QUIM

DOMÉSTICOS DILUIÇÃO DE SOLUÇÕES

CONSUMO E SAÚDE ÉTICA DA BELEZA CIDADANIA

CONSTANTE DE AVOGADRO

UNIDADE 4: CÁLCULOS,

SOLUÇÕES E ESTÉTICA

MASSA ATÔMICA, MOLECULAR E MOLAR

PETRÓLEO ENERGIA

PETRÓLEO HIDROCARBONETOS

PETRÓLEO PROCESSOS INDUSTRIAIS E APLICAÇÕES

COMBUSTÍVEIS TERMOQUÍMICA

CONSUMO

COMBUSTÍVEIS REAÇÕES DE COMBUSTÃO CONSUMO E

MEIO AMBIENTE

ENERGIAS ALTERNATIVAS

CIDADANIA

CONSUMO COMBUSTÃO CINÉTICA QUÍMICA

LEIS DA TERMODINÂMICA

LEI DE HESS

ENTROPIA

ENERGIA DE LIGAÇÃO

UNIDADE 5: TERMOQUÍMICA

CINÉTICA E RECURSOS

ENERGÉTICOS

ENERGIA LIVRE

38

MECANISMOS DE REAÇÃO

NOMENCLATURA

EQUILÍBRIO TÉRMICO

VARIAÇÃO DE ENERGIA EM REAÇÕES QUÍMICAS

ENTALPIA

MEIO AMBIENTE

POLUIÇÃO DOS RIOS

CIDADANIA

FALTA DE ÁGUA PROPRIEDADES DA ÁGUA MEIO AMBIENTE E CONSUMO ÁGUA SOLUBILIDADE

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS

ACIDOS E BASES

CHUVA ÁCIDA REAÇÕES QUÍMICAS

MEIO AMBIENTE

POLUIÇÃO DAS

ÁGUAS REAÇÕES DE NEUTRALIZAÇÃO

MEIO AMBIENTE E

SAÚDE

SANEAMENTO BÁSICO

CIDADANIA

MEIO AMBIENTE

POLUIÇÃO ALTERAÇÕES NO EQUILÍBRIO QUÍMICO

SAÚDE ÁGUA PARA

TODOS CIDADANIA

REAÇÕES QUÍMICAS E REVERSIBILIDADE EQUILÍBRIO QUÍMICO

PRINCÍPIO DE LE CHATERLIER

ASPECTOS QUANTITATIVOS DO EQUILÍBRIO QUÍMICO

PROPRIEDADES COLIGATIVAS DA ÁGUA

AS TEORIAS DE ÁCIDOS E BASES

UNIDADE 6: EQUILÍBRIO QUÍMICO E

ÁGUA

NOMENCLATURA ACIDOS-BASES-SAIS

CIDADANIA ALIMENTOS

BIOQUÍMICA

DIETA CIDADANIA

ALIMENTOS CONSERVAÇÃO E ADITIVOS QUÍMICOS

CONSUMO E SAÚDE

QUALIDADE DE VIDA

CIDADANIA

39

FÓRMULAS QUÍMICAS E AÇÃO NO ORGANISMO FÁRMACOS

CIDADANIA

SAÚDE CIDADANIA

MEDICAMENTOS GENÉRICOS

CIDADANIA

DROGAS QUE MATAM

ÁLCOOL/ CIDADANIA

SAÚDE

VENENOS: O RISCO ESTÁ DO

NOSSO LADO CIDADANIA

PLÁSTICOS E O AMBIENTE

CIDADANIA CONSUMO E MEIO

AMBIENTE RECICLAGEM DE PLÁSTICO

CIDADANIA

SINTESE DE MATERIAIS CONSUMO INDUSTRIA

QUIMICA CIDADANIA

CLASSIFICAÇÃO ORGÂNICA

PLÁSTICOS E POLÍMEROS

PROPRIEDADES DOS POLÍMEROS

PROPRIEDADES DAS SUBST. ORGÂNICAS

ACIDEZ E BASICIDADE DE SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS

REAÇÕES DE POLIMERIZAÇÃO

TIPOS DE PLÁSTICOS

BORRACHAS

NOMENCLATURA ORGANICA: REGRAS GERAIS

SÍNTESE ORGÂNICA

CATÁLISE ORGÂNICA

UNIDADE 7: A QUÍMICA DE

NOSSAS VIDAS

NOMENCLATURA ORGANICA: REGRAS P/ FUNÇÕES ESPECÍFICAS

METAIS NO DIA A DIA

CIDADANIA CONSUMO

METALURGIA REAÇÕES DE OBTENÇÃO DE METAIS

MEIO AMBIENTE

DESCARTE DE PILHAS E BATERIAS

CIDADANIA

CONSUMO E

MEIO METAIS

SOCIEDADE E CIDADANIA

40

AMBIENTE AMBIENTE

NÚMERO DE OXIDAÇÃO BALANCEAMENTO DE REAÇÕES DE OXI-REDUÇÃO OXI-REDUÇÃO ENTRE METAIS

PILHA DE DANIELL

POTENCIAL PADRÃO DE REDUÇÃO

POTENCIAL ELÉTRICO DAS PILHAS

TIPOS DE PILHAS E BATERIAS

ELETRÓLISE

ASPECTOS QUANTITATIVOS DA ELETRÓLISE

PROPRIEDADES DOS METAIS

LIGAÇÕES METÁLICAS

LIGAS METÁLICAS

UNIDADE 8:

METAIS, PILHAS E BATERIAS

OXI-REDUÇÃO

RADIOATIVIDADE MODELOS E TEORIAS

DESASTRES RADIOATIVOS

CIDADANIA SAÚDE,

CONSUMO E MEIO

AMBIENTE ENERGIA NUCLEAR CIDADANIA

SAÚDE MEDICINA QUÍMICA NUCLEAR SAÚDE,

CONSUMO E MEIO

AMBIENTE

RADIOATIVIDADE MEIO AMBIENTE/CIDADANIA

MODELO QUANTICO

RADIOATIVIDADE CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA E TABELA PERIÓDICA LIGAÇÕES QUÍMICAS E MODELOS QUANTICOS FISSÃO NUCLEAR

FUSÃO NUCLEAR

BOMBAS ATÔMICAS

UNIDADE 9: ÁTOMO,

RADIOATIVIDADE E ENERGIA

NUCLEAR

LIXO NUCLEAR

Fonte: Autoria própria, 2008.

Analisando o quadro 5 é possível verificar que em algumas unidades a

abordagem por CTS está mais presente, sendo os temas de CTS organizadores dos

conteúdos. Já nas unidades 5, 7, 8 e 9 verifica-se um maior número de conteúdos

desvinculados à CTS, sendo tratados de forma isolada ao tema da unidade. Ao verificar

41

a proporção entre conteúdos de CTS e conteúdos de Química, considero que nas

primeiras unidades do livro os conteúdos de CTS são utilizados para organizar o

conteúdo de Química e a sua sequência mas, nas últimas unidades é possível

identificar um maior distanciamento entre o conteúdo teórico e a abordagem dos temas,

onde a apresentação dos conteúdos ocorrem de forma tradicional e os conteúdos CTS

são incorporados como apêndices aos tópicos de Química. O livro é intermediário entre

usar conteúdos como exemplo e usar conteúdo como explicação.

Ao analisar os textos relacionados com abordagem em CTS observa-se que de

um total de 53 textos, 25 textos abordam temas relacionados ao meio ambiente, como

poluíção do ar e águas, recursos hídricos, cuidados ambientais, entre outros. 23 textos

abordam temas relacionados à saúde, como doenças, cuidados relacionados a higiente

e estética, entre outros. Os demais 36 textos abordam temas relacionados ao consumo,

como processos industriais, alimentos, equipamentos e eletrodomésticos, entre outros.

Ressalto que alguns textos relacionam-se a mais de um tema e, por este motivo o

somatório é maior que o total de textos relacionados à CTS no livro didático.

O mesmo critério foi utilizado para analisar as imagens. Assim, das 743 imagens

relacionadas à CTS, 174 estão relacionadas à temas ligados ao meio ambiente, 141

relacionadas ao tema saúde e 428 imagens relacionadas ao tema consumo. As

imagens estão sempre destacadas, pelo colorido ou pelo tamanho, recurso que tem

sido muito utilizado pelos livros didáticos como forma de tornar mais atraentes os

assuntos que apresenta.

Livro 2:

O livro 2 refere na capa os termos Ciência, Tecnologia e Sociedade e na

apresentação a autora descreve que o livro foi planejado para ser completo em todos

os sentidos, na teoria, nos exercícios, nos testes, nas atividades práticas, no aspecto

social, abrangendo absolutamente tudo o que está relacionado à Química,

questionando se não seria a química que está relacionada a tudo.

O livro escolhido para análise foi o terceiro volume, que trata de Química

Orgânica, sendo dividido em 11 unidades com sete seções fixas, dispostas entre um

42

capítulo e outro, tratando dos mais diversos aspectos da química. Segundo a autora,

isso visa otimizar o aprendizado e torná-lo mais dinâmico e relacionado à vida das

pessoas. As seções dos livros são as seguintes:

a) História da Química: destacando o desenvolvimento histórico da ciência;

b) Química Industrial: discutindo processos industriais;

c) Pratique Química: atividades experimentais que podem ser feitas em casa;

d) Química Ambiental: questões polêmicas relacionadas ao meio ambiente;

e) A Química do Consumidor: procura explicar fenômenos que ocorrem com

produtos utilizados no dia-a-dia;

f) A teoria na prática: experimentos que explicam a teoria de assuntos específicos;

g) Vida de Cientista: cientistas que contruíram o conhecimento químico e tiveram

influência no desenvolvimento da sociedade.

Para uma visualização de quais conteúdos estão ligados aos diferentes temas,

organizei o quadro a seguir, onde estão relacionados conteúdos que são abordados

através de CTS e conteúdos que estão na unidade, mas não precisariam da abordagem

CTS para ter seu entendimento.

Quadro 7: Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 2

UNIDADE: TEMA TEMA ESPECÍFICO: CONTEÚDOS ABORDADOS:

MEIO AMBIENTE POLUIÇÃO DOS RIOS COMPOSTOS QUÍMICOS BIODEGRADÁVEIS

COSMÉTICOS CADEIAS CARBÔNICAS

CONSUMO DETERGENTES NOMENCLATURA OFICIAL

COMPOSTAGEM E INCINERAÇÃO DO LIXO

ATERRO SANITÁRIO MEIO AMBIENTE

QUÍMICA AMBIENTAL

HISTÓRIA DA QUÍMICA

CADEIAS RAMIFICADAS

HIDROCARBONETOS

UNIDADE 1:

INTRODUÇÃO À ORGÂNICA

SÉRIES ORGÂNICAS

43

CONSUMO SACHÊS PERFUMADOS DE PARAFINA

ALCANOS

MEIO AMBIENTE QUÍMICA AMBIENTAL HALETOS ORGÂNICOS GASOLINA

ADULTERADA CONSUMO HISTÓRIA DA

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

ALCADIENOS

ALCENOS

ALCINOS

CICLANOS E CICLENOS

UNIDADE 2: HIDROCARBONET

OS E HALETOS

AROMÁTICOS

CONSUMO E MEIO AMBIENTE

PAPEL RECICLADO MADEIRA

HISTÓRIA DE POLÍMEROS SINTÉTICOS

POLÍMEROS CONSUMO

INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

MEIO AMBIENTE QUÍMICA AMBIENTAL

PETRÓLEO

HULHA OU CARVÃO MINERAL

POLÍMEROS DE ADIÇÃO COMUM

POLÍMEROS DE ADIÇÃO 1,4

COPOLÍMEROS SINTÉTICOS

UNIDADE 3: PETROQUÍMICA E

POLÍMEROS

POLÍMEROS DE CONDENSAÇÃO

HISTÓRICO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS

ÁLCOOIS CONSUMO E

SAÚDE QUÍMICA DO CONSUMIDOR:

CERVEJA

CONSUMO FABRICAÇÃO DE

VINHO

SAÚDE ALCOOLISMO

ÉTERES

FENÓIS E ENÓIS

ALDEÍDOS

CETONAS

UNIDADE 4: FUNÇÕES

ORGÂNICAS I

ÁCIDOS CARBOXÍLICOS

CONSUMO BALAS DE ABACAXI ÉSTERES

44

CONSUMO SABÕES DE POTÁSSIO E SÓDIO

SAIS DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS

SAÚDE CIGARROS AMINAS

CONSUMO HISTÓRIA DOS CORANTES AMIDAS

CONSUMO FABRICAÇÃO DE EXPLOSIVOS QUÍMICOS

SAÚDE TABAGISMO

NITROCOMPOSTOS

SAIS DE AMÔNIO QUATERNÁRIO ÁCIDOS SULFÔNICOS

UNIDADE 5: FUNÇÕES

ORGÂNICAS II

COMPOSTOS ISÔMEROS

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

MODERADORES DE APETITE

SAÚDE E CONSUMO

IOGURTE DE MORANGO

CONSUMO HISTÓRIA QUÍMICA:

CARBONO ASSIMÉTRICO

SAÚDE DROGAS

PSICOTRÓPICAS

SAÚDE E CONSUMO

LEITE COM ÔMEGA 3 E ÔMEGA 6

ISOMERIA PLANA

ISOMERIA GEOMÉTRICA

ISOMERIA E e Z

ISOMERIA OPTICA

SEPARAÇÃO DE RACÊMICOS

UNIDADE 6: ISOMERIA

BIOMOLÉCULAS

COSMÉTICOS: CONDICIONADORES PARA CABELOS HISTÓRIA DA QUÍMICA

CONSUMO

CURTUME

CONSUMO E SAÚDE

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

LIPÍDIOS

UNIDADE 7: BIOQUÍMICA

GLUCÍDIOS

45

AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS ENZIMAS E VITAMINAS

ÁCIDOS NUCLÉICOS

SAÚDE E MEIO AMBIENTE

HISTÓRIA DA QUÍMICA: VAZAMENTO DE ISOCIANETO DE

METILA

ISONITRILOS E ISONITRILAS

SAÚDE, MEIO AMBIENTE E CONSUMO

FABRICAÇÃO DE AGROTÓXICOS

SAÚDE E CONSUMO

INSETICIDAS DE USO DOMÉSTICO

CONSUMO TINGIMENTO COM

CORANTES NATURAIS

CONSUMO ARMAS QUÍMICAS

ANIDRIDOS DE ÁCIDO

CLORETOS DE ÁCIDO

NITRILOS E NITRILAS

COMPOSTOS DE GRIGNARD

COMPOSTOS SULFURADOS

UNIDADE 8: FUNÇÕES

ORGÂNICAS III

COMPOSTOS HETEROCÍCLICOS

GEL PARA CRAVOS E ESPINHAS SAÚDE E

CONSUMO FRANGO COM PROTEÍNA DE SOJA

FABRICAÇÃO DE FUMAÇA LÍQUIDA

CONSUMO HISTÓRIA DA QUÍMICA:

COLAS E ADESIVOS

SAÚDE E MEIO AMBIENTE

POLUIÇÃO EM AMBIENTES FECHADOS

CONCEITOS DE ÁCIDO E BASE

RUPTURAS DE LIGAÇÃO

SUBSTITUIÇÃO EM ALCANOS

UNIDADE 9: SUBSTITUIÇÃO E

ADIÇÃO

SUBSTITUIÇÃO EM AROMÁTICOS

46

DERIVADOS HOMOLOGOS DO BENZENO

SUBSTITIÇÃO EM HALETOS

ADIÇÃO: ALIFÁTICOS ALICÍCLICOS

CICLANOS E AROMÁTICOS

SAÚDE AIDS ÓLEOS

BRONZEADORES A BASE DE TERPENOS

SAÚDE E CONSUMO

ADOÇANTES ARTIFICIAIS

CONSUMO FABRICAÇÃO DE

TINTAS E VERNIZES

MEIO AMBIENTE QUÍMICA AMBIENTAL: FOME E DESPERDÍCIO

ELIMINAÇÃO EM ÁLCOOIS

ELIMINAÇÃO EM HALETOS

REAÇÕES COM SÓDIO E NAOH

REAÇÕES ESPECÍFICAS

REAÇÕES DE IDENTIFICAÇÃO

UNIDADE 10: ELIMINAÇÃO E

OUTRAS REAÇÕES

TRANSFERÊNCIA DE ELÉTRONS

CREME PARA CELULITE PERMANENTE, RELAXAMENTO E TINTURA

INDÚSTRIA DA CASTANHA DO CAJU

A FOTOGRAFIA

CONSUMO

QUIMILUMINESCÊNCIA

MEIO AMBIENTE QUÍMICA AMBIENTAL: MÃO-DE-OBRA NA INDÚSTRIA

OXIDAÇÃO BRANDA

UNIDADE 11: OXIDAÇÃO E

REDUÇÃO

OXIDAÇÃO ENÉRGICA

47

ÓXIDO-REDUÇÃO DE ÁLCOOIS

REDUÇÃO DE CARBONÍLICOS

REDUÇÃO DE NITROGENADOS

Fonte: Autoria própria, 2008.

Ao analisar o quadro acima é possível observar que o livro aborda muitos temas

relacionados à CTS, mas que estes não estão interligados aos conteúdos químicos. Na

maioria dos casos os temas poderiam ser trabalhados sem ter o conhecimento do

conteúdo químico que é desenvolvido na unidade. Verificando a proporção entre

conteúdos de CTS e conteúdos de Química, considero que, em alguns momentos o

livro apresenta um ensino tradicional de Química acrescido da menção ao conteúdo de

CTS com a função de tornar as aulas mais interessantes, na forma de exemplos e

imagens que ilustrem o conteúdo teórico. Em outros momentos, no decorrer do ensino

tradicional de Química são acrescidos pequenos estudos de conteúdos de CTS

incorporados como apêndices aos tópicos de Química. O uso de conteúdos CTS se

configura como exemplificação do conteúdo de Química.

Em relação às imagens, estas são apresentadas em tamanho pequeno, na

lateral da página, sempre exemplificando o assunto que está sendo tratado na unidade.

O livro traz também, em muitas unidades, fotos de modelos Stuart e Modelos de Bolas

e Varetas de moléculas, sempre ao lado da fórmula estrutural que é descrita no

decorrer do conteúdo. Do total de 208 imagens, 31 imagens estão relacionadas ao

tema meio ambiente, 34 imagens estão relacioandas ao tema saúde e 147 imagens

estão relacionadas ao tema consumo.

Os textos de CTS abordados ao longo do livro estão sempre em seções

especiais, separados dos conteúdos químicos tradicionais. Em um total de 50 textos

relacionados a temas de CTS, 13 abordam temas relacionados ao meio ambiente, 14

textos abordam temas relacioandos à saúde e 29 textos abordam o tema consumo.

48

Livro 3: Módulos A e B

O livro 3 é a coleção Química no Corpo Humano, coleção esta que, segundo os

autores, trata conceitos fundamentais de química a partir de temas envolventes e

interessantes, permitindo ao professor uma abordagem contextualizada, sendo

considerada uma proposta inovadora.

O primeiro módulo analisado, Química dos Alimentos, abrange várias ciências

em torno do tema alimentação, não apenas discutindo aspectos biológicos e sociais,

mas também, mantendo o foco na química relacionada à alimentação, tornando a

coleção rica e interessante. O livro divide-se em 4 unidades. Estão listados no quadro 7

todos os temas e conteúdos apresentados no livro:

Quadro 8: Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 3 A

UNIDADE: TEMA TEMA ESPECÍFICO: CONTEÚDOS ABORDADOS:

UNIDADE 1: ALIMENTAÇÃO

SAÚDE E CONSUMO

VONTADE DE COMER/JEJUM

/DESNUTRIÇÃO/OBESIDADE

SUBSTÂNCIAS IÔNICAS

IONS NO ORGANISMO UNIDADE 2: COMPOSIÇÃO

DOS ALIMENTOS SAÚDE COMPOSIÇÃO

SUBST. MOLECULARES

ÁGUA

CARBOIDRATOS

FOTOSSÍNTESE

DIABETES

PROTEÍNAS

LIPÍDEOS: REAÇÕES

LIPOPROTEÍNAS

VITAMINAS

DIETAS

REAÇÕES QUÍMICAS ENVOLVIDAS NOS PROCESSOS

DECAIMENTO RADIOATIVO ISOMERIA GEOMÉTRICA

UNIDADE 3: SUBSTÂNCIAS ESSENCIAIS

SAÚDE E CONSUMO

SUBSTÂNCIAS

SAIS MINERAIS

CÁLCULO DE ENERGIA DE REAÇÃO

EVITANDO A OBESIDADE UNIDADE 4: BALANÇO ENERGÉTICO NA

ALIMENTAÇÃO

SAÚDE E CONSUMO

BALANÇO ENERGÉTICO

DIETA SAUDÁVEL: LIGHT x DIET; PIRÂMIDES DE ALIMENTAÇÃO

49

Fonte: Autoria própria, 2008.

O segundo módulo analisado, Química e Aparência, explica a composição

química dos sabonetes, xampus, tratamento e tinturas de cabelos, higiene bucal, uso

de desodorantes, dando um panorama geral dos processos químicos envolvidos na

higiene pessoal. No suplemento de trabalho, que é um anexo ao livro, os autores

destacam que a Coleção Química do Corpo Humano relaciona diferentes ramos do

conhecimento humano, como a Química, Biologia, Física, História e Medicina, sendo

que o Módulo Química e Aparência privilegia as áreas de conhecimento Química e

Biologia.

Para análise mais detalhada dos temas e conteúdos abordados, segue descrição

no quadro 8. O livro é dividido em 5 unidades, conforme descrito abaixo:

Quadro 9: Descrição de temas e conteúdos abordados no livro 3 B

UNIDADE: TEMA TEMA ESPECÍFICO: CONTEÚDOS ABORDADOS:

UNIDADE 1: INTRODUÇÃO

CONSUMO HISTÓRIA DO SABÃO

SUBSTÂNCIAS ÁCIDAS E ALCALINAS

MATERIAIS GRAXOS

MATERIAIS ALCALINOS

SABÃO

SAPONIFICAÇÃO

ESTRUTURA DOS SABÕES E SABONETES

UNIDADE 2: A QUÍMICA DO SABÃO

CONSUMO

PRODUÇÃO DE SABÕES E

SABONETES SABÃO X DETERGENTE

PRODUTO IÔNICO DA ÁGUA

PH

ALCALINIDADE

UNIDADE 3: CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES

DOS SABÕES

CONSUMO SABÃO

TENSÃO SUPERFICIAL DA ÁGUA

TENSÃO SUPERFICIAL DA ÁGUA CONSUMO AÇÃO DETERGENTE SUBSTÂNCIAS POLARES E

APOLARES

UNIDADE 4: LIMPEZA COM

SABÃO E DETERGENTE

CONSUMO E MEIO

AMBIENTE

CAMINHO DO SABÃO APÓS LAVAGEM /

QUÍMICA AMBIENTAL

SUBSTÂNCIAS BIODEGRADÁVEIS

HIGIENE PESSOAL NO DIA-A DIA

A PELE: CONSTITUIÇÃO, TIPOS PROBLEMAS RELACIONADOS

50

PH

ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO

LIGAÇÕES INTERMOLECULARES

QUEIMADURAS DE PELE

CUIDADOS COM A PELE

TATUAGENS E PIGMENTOS

ANATOMIA/ TIPOS

TIPOS DE SURFACTANTES

CPMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS XAMPUS E CONDICIONADORES

CABELO

COR DO CABELO E TINTURAS

FORMA DOS CABELOS E SUA MUDANÇA

INTERAÇÕES QUÍMICAS

ANATOMIA

LIMPEZA: COMPOSIÇÃO DO CREME DENTAL

PLACA BACTERIANA

DEMINERALIZAÇÃO

UNIDADE 5: OS TENSOATIVOS E A HIGIENE PESSOAL

CONSUMO E SAÚDE

OS DENTES

TÁRTARO

Fonte: Autoria própria, 2008.

Todas as unidades, nos dois módulos, a abordagem por CTS está presente. Os

conteúdos são utilizados para explicar os temas, não estando organizados de forma

tradicional. Em relação à proporção de conteúdos de CTS relacionados com conteúdos

químicos, pode-se considerar que o livro utiliza os temas de CTS para organizar os

conteúdos de Química e a sua seqüência. Existe um caráter interdiscilinar, pois

relaciona os conteúdos de Química com biologia e tópicos de outras disciplinas, mas

preserva ainda um caráter disciplinar. Os dois módulos da coleção usam o conteúdo

como explicação e não como exemplo.

Analisando as imagens presentes no livro 3, módulos A e B, pude verificar que

estão em grande quantidade em relação ao número de páginas, e normalmente em

tamanho grande, com os textos intercalados. As fórmulas estruturais não foram

contadas como figuras, mas estão sempre destacadas em quadros coloridos. Percebe-

se o caráter interdisciplinar das imagens, pois apresentam mapas, materiais

relacionados à História além de imagens relacionadas aos conhecimentos de Biologia e

Química. Ao analisar o número de imagens, no módulo A verifiquei que 66 estão

51

relacionadas a temas ligados à saúde e 39 estão relacionadas ao tema consumo, não

apresentando imagens relacionadas ao meio ambiente. No módulo B, 37 referem-se ao

tema saúde, 45 abordam o tema consumo e 3 abordam o tema meio ambiente,

considerando que, nos dois módulos, algumas imagens foram classificadas em mais de

um tema.

Em relação aos textos relacionados à abordadagem CTS pode-se verificar que

estão integrados ao conteúdo disciplinar, não sendo apresentado em caixas de textos e

quadros específicos. Em geral os textos têm a mesma cor de página que os conteúdos,

não demonstrando diferença entre eles, são organizadores dos conteúdos. No módulo

A, de um total de 30 textos, 27 estão relacioandos à saúde, 11 estão relacionados a

consumo e, não há textos relacionados ao tema meio ambiente. No módulo B, do total

de 25 textos, 23 estão relacionados ao tema saúde, 14 estão relacionados ao tema

consumo e 1 está relacioando ao tema meio ambiente.

Ao final das análises pude perceber que diferentes livros, tanto os livros mais

tradicionais quanto os livros que se aproximam dos paradidáticos ou livros que se auto

consideram inovadores abordam conteúdos de CTS, mesmo que, com ênfases

diferentes. No Livro 1 a abordagem CTS aparece mais claramente em algumas

unidades, pois nessas unidades os temas sociais são organizadores dos conteúdos

apesar de ser um livro voltado para todo o ensino médio e que apresenta todos os

conteúdos específicos de química encontrados nos livros tradicionais. Verificou-se que

em algumas unidades os temas não conseguem unificar todo o conteúdo abordado,

mas na maior parte do livro os autores conseguem fazer com que a partir de temas o

conteúdo Químico seja trabalhado.

No livro 2 a vinculação ao CTS funciona como acessório, mesmo que na capa do

livro CTS seja anunciado, verificando-se uma divisão clara entre o tema e o conteúdo

específico. Muitos temas são desenvolvidos no livro, podendo ser uma fonte

interessante para organização e planejamento, desde que mais integrados aos

conteúdos dados, pois parece mais justificar o estudo do conteúdo químico. Neste livro

observa-se ainda uma grande ênfase no tema consumo, utilizando imagens e textos de

processos industriais e produtos e serviços do cotidiano dos alunos.

52

Já, na coleção 3, os módulos A e B são livros de apoio didático, onde os

conteúdos são desenvolvidos a partir de um tema geral, relacionado sempre à vida

cotidiana. Desta forma a organização curricular por CTS fica facilitada já que os autores

podem partir de temas para organizar os conteúdos, não precisando cumprir uma grade

curricular tradicional.

.

53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que, na atualidade, é notável a importância da vertente CTS na

educação em Ciências e sabendo a importância que o livro didático assume em aulas

de Ensino Médio, desenvolvi este trabalho de pesquisa que visou analisar a abordagem

da vertente CTS, movimento que procura associar a aprendizagem de conteúdos

científicos relacionando-os com aspectos tecnológicos e sociais, na configuração dos

conteúdos de Química em livros didáticos. Ao final deste trabalho chego a algumas

conclusões que agora passo a descrever.

Os livros analisados: o livro 1, que se autodenomina inovador, o livro 2 que

considero mais tradicional; e o livro 3, composto por dois módulos de livros de apoio

didático, abordam temas ou conteúdos CTS, mesmo que em diferentes dimensões.

Considerando a categorização em função da prioridade que tem sido atribuída para

cada um dos objetivos gerais de CTS e da proporção entre o conteúdo de CTS e o

conteúdo puro de ciências, foi possível verificar que em parte das unidades e capítulos

do livro 1 e nos módulos que compõem o livro 3, o conteúdo de Química torna-se um

meio para a aprendizagem dos conteúdos CTS, ou seja, os conteúdos de Química são

usados como explicação dos problemas apresentados nos conteúdos CTS. Já, em

outras unidades do livro 1 e na maior parte do livro 2 (o livro mais tradicional), os

conteúdos de Química são o fim em si mesmo, sendo que os conteúdos ou temas CTS

como, por exemplo, meio ambiente, saúde e consumo, aparecem apenas como

exemplificação de uma situação que ilustra os conteúdos de Química em questão.

Em todos os livros analisados, as imagens aparecem em grande número e com

bastante destaque, em relação aos textos. Pode-se dizer que os temas CTS são,

preferencialmente, caracterizados por imagens, sendo que as imagens tanto servem

54

para problematizar os temas que envolvem conteúdos CTS como, por exemplo, os que

tratam a produção industrial em relação aos cuidados com o ambiente ou em relação

ao consumo, quanto são utilizadas para ilustrar um conteúdo químico apresentado.

Além das imagens, esses temas são focalizados, muitas vezes, em recortes de textos

da mídia, como os textos extraídos de jornais e revistas, o que de certo modo torna o

livro didático mais interessante e atual, uma estratégia que tem sido bastante utilizada

pelas editoras de livros didáticos.

Dentre os assuntos que categorizei como temas CTS, consumo é o que mais

aparece representado em imagens e textos. Esse tema aparece associado a diversos

conteúdos químicos e, embora, em alguns capítulos do livro 1 e em boa parte dos

módulos do livro 3 seja problematizado em função das conseqüências ambientais ou

efeitos na saúde, na maior parte das vezes, está inserido nos livros apenas para ilustrar

e mostrar o uso de produtos na vida cotidiana.

Com relação aos textos analisados, pude verificar que os relacionados ao

consumo são destaque em três dos quatro livros analisados, sendo que na maior parte

das vezes a questão do consumo não é problematizada ou questionada, podendo-se

ver o livro didático como mais um espaço onde as pessoas encontram as “novidades”

que “precisam” adquirir. A partir desses dados, podemos e devemos pensar acerca da

contribuição do livro didático na instituição (bastante criticada na escola e na sociedade)

do crescente consumismo nas sociedades contemporâneas. Esse tipo de reflexão é o

que reafirma a contribuição da vertente CTS na educação em Ciências, considerando

que seu principal objetivo é a formação de cidadãos críticos e conscientes.

Uma outra consideração que faço é que para falar de temas CTS, os livros se

utilizam de caixas de texto em seções especiais como, por exemplo, a seção Tema em

Foco, no livro 1, demonstrando que os temas CTS não estão ainda integrados

completamente aos “conteúdos”, havendo uma separação clara entre tais temas e os

conteúdos de Química. No livro 2, esta separação é ainda mais clara, pois o tema está

sempre em seções específicas, como Química Ambiental e Química Industrial, sendo

que em poucas situações os conteúdos são utilizados para explicar o tema proposto.

No livro 3, módulos 3A e 3B, os temas CTS já estão mais integrados aos conteúdos

55

químicos, indicando que a abordagem dos conteúdos CTS e dos conteúdos Químicos

ocorrem com o entrelaçamento desses conteúdos, em forma de espiral.

Ainda, com relação aos temas CTS, percebe-se que o uso de temas ligados ao

consumo, saúde e meio ambiente vem de encontro com o descrito nos Parâmetros

Currículares Nacionais (PCNs), que propõem o ensino por temas como organizadores

do currículo da escola. Esta definição dos PCNs pode estar contribuindo para que as

editoras revejam a forma de organização dos conteúdos nos livros didáticos. Outro

aspecto que vem reafirmar a inclusão de abordagens de conteúdos ou temas CTS em

livros didáticos, são as avaliações externas do ensino, como o Exame Nacional do

Ensino Médio (ENEM), cuja proposta de avaliação está representada por questões e

problemas que tratam os conteúdos de forma contextualizada e interdisciplinar, a

exemplo da forma como os temas e conteúdos CTS são tratados, e diferente do modo

como vinham sendo tratados os conteúdos em suas áreas disciplinares.

Sendo a formação da cidadania uma meta na abordagem de ensino CTS, que

afirma ser necessário tratar, na escola, temas de interesse social, é importante destacar

que em diferentes livros, de uma forma ou de outra, estão sendo abordados temas

sociais relevantes para os estudantes. Cabe ao professor contextualizar estes temas,

utilizando os conceitos de sua área disciplinar como fundamento que auxilie o

estudante a compreender melhor a sua realidade. Isso implica pensar na

(re)organização do currículo de sua escola, bem como, no papel que o livro didático

assume neste currículo.

56

REFERÊNCIAS

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