Cimento Afagado

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receita “betonilha afagada tradicional // cimento afagado à costa da colher” uma vez que parece que este é um tema que interessa a muitos, fica aqui um registo detalhado e comentado. agradecem-se comentários e descrições de ensaios de cada qual, os bons e os maus exemplos. obviamente esta não é a única maneira de fazer este trabalho, já fizemos diversas experiências. cada pedreiro tem a sua técnica e manha – e a isso se chama a arte! ….normalmente, e fará um grande fincapé, preferirá a sua arte a qualquer outra que queiramos impingir. cada pedreiro, cada resultado! espero que o relato possa ser útil. condições base desta experiência: a base era um enchimento de betão leve – betonilha com argila expandida. a base estava bem seca. (não é aconselhável a execução directa sobre bases pouco rígidas (tabuados, etc.), demasiado porosas (madeiras), ou demasiado absorventes (argamassas pobres ou de cal, terreno natural, etc.). as superfícies flexíveis provocarão fendilhação mais profunda e naturalmente indesejada, ao longo do tempo a argamassa continuará a fendilhar sobre a vibração do pavimento e terá tendência a descolar . as superfícies absorventes, que “puxam demasiado depressa”, provocarão fendilhação superficial (menor escala) por cura demasiado rápida e consecutiva retracção. Um boa solução é isolar a betonilha da base introduzindo um filme de polietileno (plástico). Antigamente

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receita “betonilha afagada tradicional // cimento afagado à costa da colher”

uma vez que parece que este é um tema que interessa a muitos, fica aqui um registo detalhado e comentado.

agradecem-se comentários e descrições de ensaios de cada qual, os bons e os maus exemplos.

obviamente esta não é a única maneira de fazer este trabalho, já fizemos diversas experiências. cada pedreiro tem a sua técnica e manha – e a isso se chama a arte! ….normalmente, e fará um grande fincapé, preferirá a sua arte a qualquer outra que queiramos impingir. cada pedreiro, cada resultado!

espero que o relato possa ser útil.

condições base desta experiência:

a base era um enchimento de betão leve – betonilha com argila expandida. a base estava bem seca.

(não é aconselhável a execução directa sobre bases pouco rígidas (tabuados, etc.), demasiado porosas (madeiras), ou demasiado absorventes (argamassas pobres ou de cal, terreno natural, etc.). as superfícies flexíveis provocarão fendilhação mais profunda e naturalmente indesejada, ao longo do tempo a argamassa continuará a fendilhar sobre a vibração do pavimento e terá tendência a descolar . as superfícies absorventes, que “puxam demasiado depressa”, provocarão fendilhação superficial (menor escala) por cura demasiado rápida e consecutiva retracção. Um boa solução é isolar a betonilha da base introduzindo um filme de polietileno (plástico). Antigamente separavam-se estas massas das lajes de estrutura (criando um “menisco”) com jornais e com as sacas de cimentos.

betonilhas esquartejadas – juntas de dilatação/ riscos de colher

em grandes superfícies é inevitável introduzir juntas, caso contrário há que saber viver com a fissuração, ou mesmo o descolamento da camada da aguada. A junta é normalmente uma rectícula de riscos introduzidos com a ponta da colher.

normalmente, em interiores e em pequenos espaços, introduzimos, na vertical (ao cutelo) e na ligação da massa com a parede um filme de espuma de polietileno (tipo soalho flutuante). no final da cura aparam-se as pontas. este filme dará aproximadamente 3-5mm a cada lado da massa para expansão e retracção.

neste caso existe um pré-impermeabilização do chão e das paredes até à 15cm de altura (cota do limpo do pavimento) com uma tela asfáltica soldada. Esta tela substitui a espuma de polietileno.

em seguida, é deitada a betonilha. é uma argamassa de areia de rio e cimento, muito seca, praticamente sem água. se por acaso for colocada demasiado húmida é necessário aguardar a sua secagem.

neste caso, o chão tem uma pendente de 1cm. existe portanto uma rampa de 4 a 5 cm, no sentido do duche, que é necessário encher. os níveis foram previamente preparados com duas réguas que tamponam as extremidades do espaço.

estas betonilhas não devem ser executadas com menos de 3cm pois fendilham e partem facilmente.

para já é só enchido aproximadamente 2-3cm.

 

de seguida é colocada uma rede de capoeira, daí que só tenham sido enchidos 2 a 3cm. Esta rede unifica e dispersa os esforços internos na argamassa evitando fendilhação e quebra. funciona com uma armadura de laje a pequena escala.

pode-se agora espalhar a restante argamassa de enchimento sobre a rede. a malha tem de ficar bem embebida na argamassa. pontas de fora darão pontos de ferrugem visíveis e picos nos pés!

utilizando as réguas que tamponam as massas como mestras, com uma régua de madeira apoiada entre as duas, são criadas duas mestras de massa paralelas às paredes.

usando as mestras laterais de massa e um régua de madeira é nivelado o interior da argamassa.

 

uma vez nivelada, a argamassa é regularizada à talocha.

 

as depressões são enchidas com argamassa que é afagada à talocha novamente.

 

e a massa depois de afagada à talocha (tipo roscone). a massa deve ir sendo feita à medida do que se consegue trabalhar, mediante o acesso do braço e a superfície possível de executar.

 

de seguida, à mão é deitado o cimento em pó, directamente a partir do saco, sobre a argamassa.

 

observando se a própria argamassa (se estiver húmida) puxa o pó, salpicar com uma brocha.

 

com as costas da colher, em movimentos semi-circulares, vai-se afagando a pasta superfícial. neste caso o pó foi demasiado humedecido e teve de se esperar a secagem.

 

esta pasta – aguada – apesar de demasiado liquida será o acabamento final e ficará completamente unida à argamassa da base.

 

 

a massa, foi já toda preparada, o pedreiro, no centro (zona que acabará no final), fará todo o redor. o procedimento é repetido, desta vez, sem humedecer demasiado. 1ºo pó.

 

2º humedecer com o auxilio da brocha. 3º afagar com as costas da colher.

 

e o procedimento, a partir do espalhar do pó-de-cimento, é repetido até obter um bom acabamento, evitando os vincos da colher. (que são inevitáveis e muito característicos).

a aguada enquanto muito molhada fará bolhas de ar (que puderão ser quebradas e reafagadas, como se de papel autocolante se tratasse), enquanto muito seca começará a vir arrancada, colada à colher.

a repetição é necessária até à homogeneidade da textura e da secagem aparente da camada superficial.

…mais uma camada geral…

 

o resultado.

ficará agora a secar, transpirando durante uns dias. se a humidade do ar estiver baixa será conveniente fazer uma cura controlada, regando periodicamente. ao final de umas horas está pronto a ser pisado. não convem ser sujo uma vez que nesta fase é muito poroso e absorve todas as sujidades não sendo possível a sua limpeza.

a secagem demora semanas. quanto mais demorada melhor o resultado. (menor fendilhação)

o acabamento da superfície será com um primário impermeabilizante para pedra e betão seguido de cera acrílica.

2 Responses to “betonilha afagada tradicional // cimento afagado à costa da colher”

1. Ivo Silva Says: 

October 28th, 2008 at 11:25

Devo dizer que está aqui um excelente manual de instruções e aplicação de

argamassa armada (segundo as técnicas tradicionais que ainda recordo)!!

Muito explicita e bem documentada fotograficamente. Se me é permitida a

opinião, se for adicionado na argamassa um adjuvante de impermeabilização,

a sua trabalhabilidade aumenta e a microfissuração diminui. Abraço

2. Marta Cabral Says: 

January 1st, 2009 at 11:41

Gostei muito de ver as imagens pois são muito esclarecedoras de todo o

processo. Tenho uma habitação que está na fase de secagem do pavimento

em betonilha afagada e bancadas mas gostava de saber ao certo qual o

impermeabilizante, a marca do produto e onde posso adquirir assim como a

cera acrílica.

Ando a pesquisar mas gostava de saber concretamente o nome do produto,

pois quero que fique com um aspecto final bonito.

Obrigada

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