Coelho, 2013 - Implementação da NP EN ISO 22000-2005

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  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    IMPLEMENTAO DA NP EN ISO 22000:2005 SISTEMAS DE GESTO DA

    SEGURANA ALIMENTAR NUM LAGAR DE AZEITE TRADICIONAL

    Jos Miguel Candeias Fernandes Coelho

    CONSTITUIO DO JRI: ORIENTADOR:

    Doutor Fernando Manuel dAlmeida Bernardo Doutora Maria Joo dos

    Doutor Antnio Salvador Ferreira Henriques Barreto Ramos Fraqueza

    Doutora Maria Joo dos Ramos Fraqueza

    2013

    LISBOA

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    IMPLEMENTAO DA NP EN ISO 22000:2005 SISTEMAS DE GESTO DA

    SEGURANA ALIMENTAR NUM LAGAR DE AZEITE TRADICIONAL

    Jos Miguel Candeias Fernandes Coelho

    DISSERTAO DE MESTRADO EM SEGURANA ALIMENTAR

    CONSTITUIO DO JRI: ORIENTADOR:

    Doutor Fernando Manuel dAlmeida Bernardo Doutora Maria Joo dos

    Doutor Antnio Salvador Ferreira Henriques Barreto Ramos Fraqueza

    Doutora Maria Joo dos Ramos Fraqueza

    2013

    LISBOA

  • i

    minha famlia

  • ii

    Agradecimentos

    A realizao da presente dissertao contou com a colaborao de contributos de diversas

    naturezas, que no podem deixar de ser realados. Venho, assim, expressar os meus sinceros

    agradecimentos:

    - A todos os meus amigos, que ao longo da minha vida, tm estado ao meu lado e me tm

    apoiado na realizao dos meus projectos.

    - gesto da organizao onde este trabalho foi realizado, pela oportunidade, confiana e

    toda a ateno com que sempre me recebeu e a todos os seus colaboradores pela sua constante

    disponibilidade, qual desejo os maiores sucessos.

    - Professora Doutora Maria Joo dos Ramos Fraqueza, pelos importantes ensinamentos

    tcnicos, pela prontido com que sempre me recebeu e esclareceu nas temticas afectas a este

    trabalho, pela amizade, pelo esprito de equipa e pelo interesse crtico que me proporcionou a

    perspiccia de ver mais alm.

    - Ao Coordenador do Mestrado em Segurana Alimentar, Professor Doutor Antnio Salvador

    Barreto, pela sua disponibilidade permanente e por todas as palavras de motivao.

    - D. Maria Paula Silva, pela amabilidade, ateno e profissionalismo com que sempre tratou

    e resolveu as minhas questes.

    - Mestre Lara Sofia Guerreiro pela pessoa especial que em todos os sentidos e que esteve

    sempre de mos estendidas, incentivando-me e pronta para me ajudar nos bons e maus

    momentos ao longo de todo o trabalho.

    - Inspectora Guilhermina, por toda a coragem com que abraa os problemas da vida e me

    inspira nas minha batalhas quotidianas.

    - minha me e ao meu irmo, que so uma luz sempre presente ao longo da minha

    caminhada rumo ao futuro.

    - Aos meus tios por toda a sua amizade, carinho e dedicao.

    - Por fim, Professora Gracinda, para a qual me faltam as palavras para descrever todo o meu

    apreo, amor, carinho, dedicao, as carradas de pacincia e compreenso, a amizade e

    companheirismo, etc., e a quem eu devo tudo o que hoje sou. s o meu dolo av!!!!!!!!!!!

  • iii

    Resumo

    A realizao do presente trabalho teve como objectivo principal, a avaliao do sistema de

    segurana dos alimentos existente num lagar de azeite tradicional, com o pressuposto de

    verificar a sua aptido, no que se refere satisfao dos vrios requisitos definidos na NP EN

    ISO 22000:2005 Sistemas de gesto da segurana alimentar e atendendo ao interesse futuro

    da organizao em se submeter a uma auditoria de certificao. No mesmo so abordadas

    questes, que se relacionam quer a jusante quer a montante do referido referencial,

    reportando-se as mesmas, entre outras, ao processo de certificao em si e relevncia desta

    norma no contexto internacional sendo ainda abordada a sua relao/integrao face a outros

    tipos de referenciais internacionalmente aceites. O azeite, produto central da actividade da

    organizao, tambm referido com o objectivo de dar a conhecer algumas das suas

    caractersticas bem como os seus mtodos de extraco. Com a realizao deste trabalho, foi

    verificado, que apesar da organizao se encontrar no caminho certo, rumo ao seu objectivo

    futuro, ter que melhorar alguns dos seus processos internos j existentes, como o controlo de

    documentos e registos ou a forma como procede ao planeamento das suas actividades, sendo

    necessrio proceder implementao dos procedimento documentados requeridos pelo

    referencial.

    Palavras-chave: Segurana dos alimentos; requisitos, ISO 22000:2005; azeite, lagar.

  • iv

    Abstract

    The current work aimed to evaluate an existing implemented food safety system in a

    traditional olive oil press workshop, intending to verify its suitability in relation to the

    achievement of requirements defined on ISO 22000:2005 Food safety management systems,

    given the future interest of the organization to start a process of certification audits.

    Furthermore, issues are addressed, either downstream either upstream of this referential,

    regarding the certification process and the relevance of this ISO in the international context,

    being discussed its relationship/integration with other accepted similar management

    standards. The olive oil, main product of organization business, was also referred in order

    know some of its characteristics as well as the extraction methods. Following in this work

    was verified that, although the organization is in the right track towards its future goal, will

    have to improve some of the existing internal procedures, such as control of documents and

    records and the way how it is planning its activities, being necessary to implement the

    processes and procedures requested by this international reference.

    Keywords: Food safety; requirements; ISO 22000:2005; olive oil; olive mill.

  • v

    ndice Geral

    Agradecimentos .......................................................................................................................... ii

    Resumo ...................................................................................................................................... iii

    Abstract ...................................................................................................................................... iv

    ndice de Figuras ........................................................................................................................ x

    ndice de Grficos ....................................................................................................................... x

    ndice de Tabelas ........................................................................................................................ x

    Lista de abreviaturas .................................................................................................................. xi

    Introduo ................................................................................................................................... 1

    Captulo I Reviso Bibliogrfica ............................................................................................. 3

    1. Certificao de um sistema de gesto ..................................................................................... 3

    1.1. Conceito e enquadramento .................................................................................................. 3

    1.2. Breve perspectiva nacional e internacional ......................................................................... 4

    1.3. A certificao ISO 22000:2005 no contexto internacional ................................................. 4

    1.4. Processo de certificao....................................................................................................... 5

    1.5. Vantagens e desvantagens da certificao ........................................................................... 9

    2. A NP EN ISO 22000:2005 Sistemas de gesto da segurana alimentar ............................. 9

    2.1. Origem do referncial ......................................................................................................... 9

    2.2. Estrutura e elementos chave ................................................................................................ 9

    2.3. Importncia na indstria alimentar .................................................................................... 10

    2.4. Enquadramento face a outros referenciais normativos ...................................................... 12

    2.4.1. Relao com a NP EN ISO 9001:2008 Sistemas de gesto da qualidade ................... 12

    2.4.2. Relao com outros referenciais de segurana dos alimentos Noes gerais ............. 13

    2.5. A interpretao dos requisitos da NP EN ISO 22000:2005 Breve apresentao ........... 14

    2.5.1. Sistema de gesto alimentar ........................................................................................... 14

    2.5.2. Responsabilidades da gesto .......................................................................................... 16

    2.5.3. Gesto de recursos .......................................................................................................... 19

    2.5.4. Planeamento e realizao de produtos seguros............................................................... 19

    2.5.5. Validao, verificao e melhoria do sistema de gesto da segurana alimentar .......... 26

  • vi

    3. Da oliveira ao fruto .............................................................................................................. 28

    3.1. A oliveira........................................................................................................................... 28

    3.2. A azeitona ......................................................................................................................... 28

    3.2.1. Caractersticas e composio ......................................................................................... 28

    3.2.2. Principais variedades em Portugal ................................................................................. 29

    4. O Azeite ............................................................................................................................... 30

    4.1. Breve anlise da produo e consumo .............................................................................. 30

    4.1.1. Mercado Internacional ................................................................................................... 30

    4.1.2. Mercado Portugus ........................................................................................................ 31

    4.2. Processos de extraco ...................................................................................................... 31

    4.2.1. Sistema de prensas Processo tradicional ..................................................................... 32

    4.2.2. Sistemas de centrifugao .............................................................................................. 33

    4.2.2.1. Sistema de centrifugao de trs sadas ou de trs fases ......................................... 33

    4.2.2.2. Sistema de centrifugao de duas sadas ou de duas fases ...................................... 34

    4.2.3. Principais vantagens e desvantagens dos trs sistemas de extraco ............................. 34

    4.3. Composio qumica e aspectos nutricionais .................................................................... 36

    4.4. Qualidade do azeite e factores que a influenciam ............................................................. 37

    4.4.1. Reaces de degradao do azeite ................................................................................. 39

    4.5. Segurana do azeite Panorama geral .............................................................................. 40

    Captulo II Parte Prtica ........................................................................................................ 43

    1.Material e Mtodos ............................................................................................................... 43

    1.1. Apresentao da empresa em estudo ................................................................................ 43

    1.2. Metodologia de trabalho desenvolvida ............................................................................. 44

    1.2.1. Auditoria de diagnstico para avaliao preliminar ...................................................... 44

    1.2.2. Planeamento do SGSA e elaborao da documentao associada ................................ 46

    1.2.3. Definio de um plano de aces para implementao e funcionamento do SGSA ..... 47

    2. Resultados ............................................................................................................................ 48

    2.1. Sistema de gesto da segurana alimentar Clusula 4 ................................................... 48

    2.1.1 Requisitos gerais Clusula 4.1 ..................................................................................... 48

    2.1.2. Requisitos da documentao Clusula 4.2 .................................................................. 49

  • vii

    2.1.2.1. Generalidades Clusula 4.2.1. .................................................................................. 49

    2.1.2.2. Controlo de documentos Clusula 4.2.2. .................................................................. 49

    2.1.2.3. Controlo dos registos Clusula 4.2.3 ........................................................................ 52

    2.2. Responsabilidade da gesto Clusula 5 .......................................................................... 52

    2.2.1. Comprometimento da gesto Clusula 5.1 .................................................................. 52

    2.2.2. Poltica de segurana alimentar Clusula 5.2 .............................................................. 53

    2.2.3. Planeamento do sistema de gesto da segurana alimentar Clusula 5.3 .................... 53

    2.2.4. Responsabilidade e autoridade Clusula 5.4 ............................................................... 54

    2.2.5. Responsvel da equipa da segurana alimentar Clusula 5.5 ...................................... 54

    2.2.6. Comunicao Clusula 5.6 .......................................................................................... 54

    2.2.6.1. Comunicao externa Clusula 5.6.1 ....................................................................... 54

    2.2.6.2. Comunicao interna Clusula 5.6.2 ........................................................................ 55

    2.2.7. Preparao e resposta emergncia Clusula 5.7 ....................................................... 55

    2.2.8. Reviso pela gesto Clusula 5.8 ................................................................................ 56

    2.3. Gesto de recursos Clusula 6 ........................................................................................ 57

    2.3.1. Proviso de recursos Clusula 6.1 ............................................................................... 57

    2.3.2. Recursos humanos Clusula 6.2 .................................................................................. 57

    2.3.3. Infra-estrutura Clusula 6.3 ......................................................................................... 58

    2.3.4. Ambiente de trabalho Clusula 6.4.............................................................................. 58

    2.4. Planeamento e realizao de produtos seguros Clusula 7............................................. 59

    2.4.1. Generalidades Clusula 7.1 ......................................................................................... 59

    2.4.2. Programa de pr-requisito (PPR) Clusula 7.2 ............................................................ 59

    2.4.3. Etapas preliminares anlise de perigos Clusula 7.3 ................................................ 64

    2.4.3.1. Generalidades Clusula 7.3.1 ................................................................................... 64

    2.4.3.2. Equipa de segurana alimentar Clusula 7.3.2 ......................................................... 64

    2.4.3.3. Caractersticas do produto Clusula 7.3.3 ................................................................ 64

    2.4.3.4. Utilizao prevista do produto Clusula -7.3.4 ........................................................ 65

    2.4.3.5. Fluxogramas, etapas do processo e medidas de controlo Clusula 7.3.5 .............. 65

    2.4.4. Anlise de perigos Clusula 7.4 .................................................................................. 65

    2.4.5. Estabelecimento de programas pr-requisitos operacionais Clusula 7.5 ................... 66

  • viii

    2.4.6. Estabelecimento do plano HACCP Clusula 7.6 ........................................................ 67

    2.4.7. Actualizao da informao preliminar e dos documentos que especificam os PPRs e o

    plano HACCP Clusula 7.7 .................................................................................................. 67

    2.4.8. Planeamento da verificao Clusula 7.8 ................................................................... 67

    2.4.9. Sistema de rastreabilidade Clusula 7.9 ...................................................................... 68

    2.4.10. Controlo da no conformidade Clusula 7.10 ........................................................... 69

    2.5. Validao, verificao e melhoria do SGSA Clusula 8 ............................................... 71

    2.5.1. Generalidades Clusula 8.1 ......................................................................................... 71

    2.5.2. Validao das combinaes das medidas de controlo Clusula 8.2 ........................... 71

    2.5.3. Controlo da monitorizao e medio Clusula 8.3 ................................................... 72

    2.5.4. Verificao do sistema de gesto da segurana alimentar Clusula 8.4 ..................... 72

    2.5.5. Melhoria Clusula 8.5 ................................................................................................. 73

    3. Concluso ............................................................................................................................. 73

    Referencias Bibliogrficas ....................................................................................................... 75

    Anexos ..................................................................................................................................... 90

    Anexo I: Listagem dos principais diplomas legais afectos actividade da organizao. ........ 91

    Anexo I: Listagem dos principais diplomas legais afectos actividade da organizao (cont.).

    .................................................................................................................................................. 92

    Anexo II: Plano de formao. .................................................................................................. 93

    Anexo III: Ficha tcnica do azeite virgem extra. ..................................................................... 94

    Anexo III: Ficha tcnica do azeite virgem extra (cont.) .......................................................... 95

    Anexo IV: Fluxograma de fabrico do azeite. ........................................................................... 96

    Anexo V: Anlise de perigos. .................................................................................................. 97

    Anexo V: Anlise de perigos (continuao). ........................................................................... 98

    Anexo V: Anlise de perigos (continuao). ........................................................................... 99

    Anexo V: Anlise de perigos (continuao) .......................................................................... 100

    Anexo V: Anlise de perigos (continuao). ......................................................................... 101

    Anexo VI: Avaliao da significncia de perigos. ................................................................. 102

    Anexo VI: Avaliao da significncia de perigos (cont.). ..................................................... 103

    Anexo VI: Avaliao da significncia de perigos (cont.). ..................................................... 104

  • ix

    Anexo VI: Avaliao da significncia de perigos (cont.). ...................................................... 105

    Anexo VI: Avaliao da significncia de perigos (cont.). ...................................................... 106

    Anexo VI: Avaliao da significncia de perigos (cont.). ...................................................... 107

    Anexo VII: Programa de pr-requisitos operacionais ............................................................ 108

    Anexo VIII: Plano HACCP. ................................................................................................... 109

  • x

    ndice de Figuras

    Figura 1. Diagrama de fluxo simplificado do processo de certificao. .................................... 6

    Figura 1 (continuao). Diagrama de fluxo simplificado do processo de certificao. ............. 7

    ndice de Grficos

    Grfico 1. Taxa de crescimento mundial por referencial normativo ISO em 2010 (Adaptado

    de: Ramos, 2012). ...................................................................................................................... 5

    ndice de Tabelas

    Tabela 1. Principais vantagens e inconvenientes dos vrios sistemas de extraco (Aires,

    2007). ....................................................................................................................................... 35

  • xi

    Lista de abreviaturas

    APCER Associao Portuguesa de Certificao

    ASAE Autoridade de Segurana Alimentar e Econmica

    BRC British Retail Consortium

    CAC Codex Alimentarius Commission

    CE Comisso Europeia

    COI Consejo Olecola Internacional

    EFSA European Food Safety Authority dita Autoridade Europeia para a Segurana dos Alimentos

    EN European Standard

    EM Estados Membros

    ESA Equipa de Segurana Alimentar

    FAO Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura

    GFSI Global Food Safety Initiative

    GPP Gabinete de Planeamento e Polticas

    HACCP Hazard Analysis and Critical Control Point

    IFS International Food Standard

    IPQ Instituto Portugus da Qualidade

    ISO International Organization for Standardization

    NC No conformidade

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PAS Publicly Available Specification

    PC Ponto de Controlo

    PCC Ponto Crtico de Controlo

    PDCA Plan-Do-Check-Act

    PPR Programa de Pr-requisitos

    PPRO Programa de Pr-requisitos Operacionais

    SGSA Sistema de Gesto da Segurana dos alimentos

    SQF Safe Quality Foods Program

    UE Unio Europeia

  • xii

  • 1

    Introduo

    As modificaes profundas ocorridas nos ltimos anos no estilo de vida das populaes,

    potenciadoras de disseminao de potenciais perigos, com consequente risco para a sade dos

    consumidores, determinaram uma aposta forte em polticas de preveno. A segurana dos

    alimentos assim hoje uma preocupao crescente das sociedades actuais, das organizaes

    internacionais como a OMS (Organizao Mundial de Sade) ou a FAO (Organizao das

    Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura) e da prpria Comisso Europeia (CE).

    Citando Bernardo (2006), a produo e distribuio alimentar tm hoje uma escala de

    contorno planetrio, esto globalizadas. assim facilmente compreensvel, que exista uma

    preocupao acrescida por parte dos diferentes agentes econmicos envolvidos ao longo da

    cadeia de abastecimento dos alimentos, no s com a qualidade dos produtos que

    disponibilizam aos mercados, mas tambm com a segurana que lhes inerente. O conceito

    de segurana dos alimentos, deixou assim de ter uma importncia relativa, afecta apenas a

    uma parte especfica da cadeia de abastecimento, como seja por exemplo o sector da

    transformao ou distribuio, para assumir uma importncia absoluta, abrangendo todos os

    sectores dessa mesma cadeia, desde a produo primria at ao momento da

    distribuio/consumo, ganhando uma relevncia do prado ao prato. A garantia da segurana

    dos alimentos por parte de cada um dos agentes econmicos, deve assim apresentar-se como

    um dos seus principais objectivos, gerando a necessidade nos diferentes operadores de

    implementar sistemas de gesto alimentar, que lidem com os potenciais perigos associados ao

    fornecimento dos seus produtos. De igual modo, torna-se fundamental desenvolver sistemas

    de comunicao eficazes ao longo dessa mesma cadeia, quer a montante quer a jusante da

    posio ocupada pela organizao, de forma a lidar com as necessidades e expectativas

    associadas, quer a cada um dos diferentes parceiros de negcio, quer com os organismos

    oficiais de controlo como o caso da ASAE (Autoridade de Segurana Alimentar e

    Econmica) em Portugal.

    A necessidade de satisfazer as expectativas, quer dos clientes internos (colaboradores dos

    vrios sectores que constituem a empresa), quer dos clientes externos (entidades pblicas,

    organismos regulamentares, fornecedores, clientes, entre outros) leva a que a organizao,

    pretenda submeter o seu sistema actual de funcionamento, em termos de segurana dos

    alimentos, aos critrios de uma norma ISO (International Organization for Standardization).

    A ISO uma organizao internacional, no-governamental com sede em Genebra na Sua,

    constituda por membros provenientes de 163 pases, dos quais se podem referir entre outros a

    Frana, Alemanha, Canad, Blgica, Estados Unidos, Japo, Brasil e Portugal. Nesta

    organizao cada um dos seus membros assume uma posio de igualdade, face aos restantes

  • 2

    membros, independentemente do tamanho ou da fora da sua economia. A sua funo

    elaborar padres ou normas internacionais de modo a facilitar as relaes comerciais entre os

    diferentes pases. Segundo Marcon (2010), a adopo das normas ISO vantajosa para as

    organizaes uma vez que lhes confere maior organizao, produtividade e credibilidade

    elementos facilmente identificveis pelos clientes aumentando a sua competitividade nos

    mercados nacionais e internacionais.

    O presente trabalho teve como objectivo principal, realizar uma anlise ao sistema de

    segurana dos alimentos da empresa de acolhimento, baseado em requisitos da metodologia

    Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controlo, HACCP, do ingls Hazard Analysis and

    Critical Control Point (Codex Alimentarius Comission [CAC], 2003), com a finalidade de

    desenvolver as actividades e processos necessrios, de forma a evidenciar o cumprimento dos

    requisitos estabelecidos, na NP EN ISO 22000:2005 Sistemas de gesto da segurana

    alimentar. O mesmo pretendeu ainda, proporcionar uma viso global de todo o panorama

    envolvente, no qual a norma objecto de estudo se encontra inserida.

    O trabalho encontra-se dividido em dois captulos. No primeiro captulo, foram reunidas as

    temticas relacionadas com o referencial em estudo e com o produto processado na

    organizao, realizando-se o enquadramento geral dos mesmos. Aqui so dadas a conhecer o

    que a certificao e as etapas envolvidas at ao culminar desse processo. De forma a expor o

    referencial 22000:2005, explana-se em mais detalhe o contedo das suas clusulas,

    realizando-se uma breve explicao dos seus requisitos. O impacto e as expectativas geradas

    na indstria alimentar com o aparecimento deste referencial, so igualmente realados,

    evidenciando-se tambm a relao da ISO 22000:2005 face a outros referenciais

    internacionalmente aceites (ex.: ISO 9001:2008, IFS, BRC). Neste captulo pretende-se ainda,

    dar a conhecer o produto central da actividade da organizao, o azeite, tendo sido abordados

    os aspectos considerados mais relevantes. O segundo captulo, foi reservado exposio da

    metodologia seguida para anlise do sistema de segurana alimentar da organizao, sendo

    que no mesmo se d a conhecer a empresa onde o trabalho teve lugar, apresentando-se todos

    os resultados obtidos e concluses.

  • 3

    Captulo I Reviso Bibliogrfica

    1. Certificao de um sistema de gesto

    1.1. Conceito e enquadramento

    A certificao o procedimento mediante o qual uma determinada organizao d uma

    garantia por escrito, de que um determinado produto, processo ou servio, se encontra

    conforme os requisitos especificados. A certificao , por consequncia, o meio que atesta a

    garantia da conformidade, referente a determinado documento normativo e que se materializa

    na emisso de um certificado (Pons & Sivardire, 2002). Segundo o Instituto Portugus da

    Qualidade (IPQ, 2012) a certificao de uma empresa, qualquer que seja a sua dimenso ou

    sector de actividade, consiste no reconhecimento formal por um organismo de certificao

    (entidade externa independente (terceira parte) e preferencialmente acreditada no mbito do

    Sistema Portugus da Qualidade (SPQ)) aps a realizao de uma auditoria, de que essa

    organizao, dispe de um sistema de gesto implementado que cumpre as normas aplicveis,

    dando lugar emisso de um certificado. O recurso a uma certificao de terceira parte,

    realizada por uma entidade externa (organismo de certificao) e independente da

    organizao, tem sido adotado de forma exponencial por empresas de todo o mundo.

    Para esta situao concorrem muitos factores, sendo que entre os mais elementares se

    encontram: o aumento da confiana nos sistemas de certificao; o desejo quer de clientes

    quer dos fornecedores na reduo de custos (substituindo assim muitas auditorias de segunda

    parte, realizadas por clientes ou potenciais clientes com o objectivo de verificar o grau de

    cumprimento dos requisitos afectos, legais e outros subscritos pela organizao (por exemplo,

    ao produto, processo, armazenamento, distribuio, entre outros) por uma nica auditoria de

    terceira parte); e o desenvolvimento em tantos outros pases das infra-estruturas (ex.:

    organismos de acreditao nacionais, organismos de certificao locais, programas de

    formao para auditores e esquemas de certificao de auditores) necessrias para o

    fornecimento de um servio fivel a um custo que se possa considerar razovel (ISO, 2008).

    Contudo, a certificao genuinamente relevante aquela que os clientes concedem a uma

    organizao quando optam pelos seus produtos ou servios, pois em situaes de

    funcionamento normal do mercado, isto significa dizer que a estratgia implementada est a

    ter sucesso (Paiva, Capelas, Sampaio & Saraiva, 2009). No entanto, ao reconhecer que os

    clientes constituem, ou pelo menos devem constituir, um dos objectivos primeiros de uma

    qualquer organizao, h que estar consciente de que a qualidade para o ser, tem de ser visvel

    para o mercado. aqui que a certificao desempenha um papel importante, pois garante que

    existe uma elevada probabilidade de que as coisas sejam feitas de uma forma sistematizada,

  • 4

    documentada e bem suportada, fornecendo por isso mesmo confiana. Um pedido de

    certificao exige um grande envolvimento das diversas partes da organizao, pelo que a

    empresa tem de o querer, salientando-se que cada vez mais se torna uma imposio do

    mercado a nvel internacional (Paiva et al., 2009). A certificao de empresas no

    obrigatria sendo facultativa e devendo ser tomada pelo seu responsvel mximo. Qualquer

    certificao por sua vez temporria, obrigando a empresa a efectuar revises peridicas ao

    sistema, quer atravs de auditorias internas quer por auditorias de acompanhamento. O

    certificado emitido indica a sua data de validade e o respectivo mbito (Instituto de Apoio s

    Pequenas e Mdias Empresas [IAPMEI], 2012).

    Os clientes exigem produtos com caractersticas que satisfaam as suas necessidades e

    expectativas. Estas necessidades e expectativas so traduzidas em especificaes de produtos

    e so referidas genericamente como requisitos do cliente. Devido mutao das necessidades

    e expectativas dos clientes, s presses do mercado e aos avanos tecnolgicos, as

    organizaes so levadas a aperfeioar continuamente os seus produtos e processos (NP EN

    ISO 9000:2005). Certificar uma empresa, deve significar no seu limiar mnimo de bom

    funcionamento, o ponto de partida para atingir a qualidade total, pois o mercado

    (concorrentes e clientes) continuar em mutao (IAPMEI, 2012).

    1.2. Breve perspectiva nacional e internacional

    Apesar da actual conjuntura econmica, verifica-se que a certificao continua a ser um

    objectivo das organizaes no nosso pas. A actividade de certificao tem taxas de

    crescimento superiores s da economia portuguesa, o que traduz a relevncia estratgica que a

    certificao assume de forma transversal em todos os sectores da actividade econmica (Vaz,

    2009). Segundo os resultados publicados na edio da ISO Survey 2010, verificou-se um

    aumento do nmero de certificados emitidos em relao a 2009, numa ordem de grandeza de

    6,23%, representando um total de 145792 certificaes a nvel mundial, sendo os utilizadores

    de uma ou de mais normas de 178 pases (British Assessment Bureau, 2011).

    1.3. A certificao ISO 22000:2005 no contexto internacional

    No que respeita ao nmero de certificados ISO 22000:2005 emitidos, verificou-se segundo a

    informao publicada pela ISO, no seu relatrio ISO Survey 2009, um aumento de 69% dos

    mesmos face ao ano de 2008. Deste modo, foram assim implementados at ao final de

    Dezembro de 2009, pelo menos 13881 Sistemas de Gesto ISO 22000:2005 em 127 pases,

    traduzindo um aumento de 5675 certificados face ao respectivo ano anterior, quando o total de

    certificados emitidos foi de 8206, relativos a 112 pases (ISO, 2010). No Grfico 1,

  • 5

    apresentam-se as taxas de crescimento mundial por referencial normativo ISO, alcanadas em

    2010. Estes dados reflectem de forma clara a importncia actualmente atribuda NP EN ISO

    22000:2005 no mbito da segurana dos alimentos, no que respeita ao panorama internacional

    das organizaes.

    Grfico 1. Taxa de crescimento mundial por referencial normativo ISO em 2010 (Adaptado

    de: Ramos, 2012).

    1.4. Processo de certificao

    Para a realizao deste ponto em particular, foi efectuada uma pesquisa, referente ao processo

    adoptado por alguns organismos de certificao, que em Portugal disponibilizam este tipo de

    servio certificao de acordo com o referencial NP EN ISO 22000: 2005 Sistemas de

    gesto da segurana dos alimentos. Entre os organismos em estudo, encontram-se a Certif

    Associao para a Certificao, Bureau Veritas Portugal, EIC Empresa Internacional de

    Certificao, SGS ICS Servios Internacionais de Certificao e a APCER Associao

    Portuguesa de Certificao. A pesquisa realizada teve assim como objectivo a elaborao de

    um diagrama de fluxo simplificado, que de uma forma genrica conseguisse traduzir todo o

    percurso a realizar (etapas do processo de certificao) por uma empresa que se pretenda

    certificar pela respectiva norma. No entanto importa referir, que o processo que

    posteriormente se apresenta, muito semelhante ao adoptado pelos mesmos organismos de

    certificao, no que respeita certificao referente a outros referenciais normativos, como

    por exemplo a NP EN ISO 9001:2008 Sistemas de Gesto da Qualidade.

    O perodo mdio de durao de um projecto de certificao de uma empresa varivel de

    acordo com vrias caractersticas inerentes organizao em causa, nomeadamente a sua

    dimenso, podendo, no entanto, ser apontado como prazo mdio cerca de 12 meses

    (Associao Empresarial de Portugal [AEP], 2006). As etapas a percorrer referentes ao

    objectivo final de certificao so as que se descrevem na Figura 1.

  • 6

    Figura 1. Diagrama de fluxo simplificado do processo de certificao.

    No Sim

    No Sim

    Escolha do organismo de certificao

    Anlise da documentao pelo organismo de

    certificao

    Envio da documentao requerida para

    instruo do processo de certificao

    Obteno do caderno de especificaes

    Rene a

    informao

    necessria?

    Elaborao do relatrio de

    auditoria

    Realizao de auditoria (1 fase

    pelo organismo de certificao)

    Esta auditoria visa entre outros assuntos:

    Avaliar a preparao do SGSA para a auditoria de 2 fase;

    Conhecer a organizao para melhor planificar a fase seguinte;

    Validar mbito, objectivos e mtodos;

    Identificar potenciais problemas;

    Recolher informaes adicionais se necessrio.

    Rene a

    informao

    necessria?

  • 7

    Figura 1 (continuao). Diagrama de fluxo simplificado do processo de certificao.

    Legenda:

    ----------- Nota explicativa

    Etapa do processo

    Deciso

    No

    Sim

    Encerramento das no

    conformidades detectadas

    Realizao de auditoria (2 fase)

    pelo organismo de certificao

    Elaborao do relatrio de

    auditoria

    Esta auditoria visa entre outros assuntos,

    avaliar a adequao, implementao e

    eficcia do SGSA

    Foram abertas

    no

    conformidades?

    Deciso

    positiva de

    certificao?

    Encerramento das no

    conformidades detectadas

    Atribuio de nmero e emisso de

    certificado

    (vlido por trs anos)

    Auditorias de seguimento Durante este perodo de 3 anos, o organismo

    de certificao realizar auditorias de

    seguimento ao sistema, de maneira a

    assegurar-se que o sistema implementado se

    encontra a funcionar de acordo com o

    estabelecido na respectiva norma. Decorrido este perodo de tempo (3 anos)

    inicia-se novo ciclo Renovao

  • 8

    Segundo ISO (2008), antes da empresa se comprometer com qualquer organismo de

    certificao, recomendvel que seja realizado um estudo s empresas disponveis no

    mercado que prestam este tipo de servio, de maneira a que as mesmas, apresentem as suas

    propostas para a respectiva inteno, esboando os seus servios, preos e respectiva

    calendarizao associada ao processo de certificao. Ainda, segundo ISO (2008), antes de

    contactar qualquer organismo de certificao para dar incio a todo o processo, a organizao

    dever encontrar-se totalmente preparada para o efeito, sendo que o sistema de gesto de

    segurana dos alimentos dever encontrar-se plenamente implementado. Dizer que a

    organizao dever estar bem preparada, significa dizer ter um sistema operacional sem

    problemas, e assegurar-se de que os seus colaboradores compreendem o processo de

    auditoria. assim considerada boa prtica possuir alguma experincia na gesto do referido

    sistema. Muitos dos organismos de certificao podem requerer, por exemplo, registos

    correspondentes aos ltimos trs meses de funcionamento do sistema de gesto, quando dem

    incio reviso da documentao existente.

    Sublinha-se que quando uma organizao toma a deciso de se certificar, deve estar

    plenamente consciente de que a realizao de auditorias implica que a organizao abra

    completamente as suas portas s equipas auditoras, as quais iro, inevitavelmente, necessitar

    de acesso a todas as reas da organizao abrangidas pelo sistema de gesto. As mesmas iro

    certamente querer entrevistar os colaboradores, observar locais e analisar os documentos e

    registos necessrios ao desempenho das suas funes. A organizao auditada dever, ainda,

    disponibilizar alguns dos seus colaboradores para acompanharem a equipa auditora ao longo

    de toda a auditoria. Por outro lado, sendo certo que no momento de realizao da auditoria

    inicial ou de concesso, a organizao dever evidenciar a realizao de pelo menos um ciclo

    de auditoria interna (envolvendo todas as reas abrangidas pelo sistema) e de pelo menos um

    ciclo de reviso do sistema, e sabendo que por sua vez, esta deve ser baseada em fontes de

    informao, tais como as mencionadas aces correctivas e preventivas, chega-se concluso

    que extremamente difcil conseguir reduzir o tempo neste tipo de projectos, se se estiver a

    trabalhar de forma sria (Paiva et al., 2009).

    Os organismos de certificao acreditados, devem realizar a avaliao necessria e cumprir

    com os requisitos da Especificao Tcnica ISO/TS 22003 ou o estabelecido pela sua prpria

    entidade de acreditao (ISO, 2008). A certificao e a acreditao so actividades diferentes,

    sendo a acreditao o reconhecimento da competncia tcnica para exercer as actividades de

    avaliao de conformidade, como por exemplo reconhecimento para a certificao de

    sistemas de gesto, de produtos, entre outros (DQA, 2012). Quer a acreditao quer a

  • 9

    certificao tm sido actividades de sucesso em Portugal, o que significa que ambas tm

    registado nveis de crescimento significativo (Cortez, 2006).

    1.5. Vantagens e desvantagens da certificao

    A certificao implica aces padronizadas e universais, e um fenmeno que se tornou

    numa forma fundamental de coordenao e controlo no mercado global. Muitos factores

    indicam que a certificao aumentou com a globalizao (Poksinska, 2007 cit. por Ramos,

    2009). Segundo Briscoe et al. (2005) e Chang & Lo (2005) cit. por Ramos (2009), a

    certificao conduz a vrias vantagens entre as quais: a consciencializao dos membros da

    empresa acerca do conceito e importncia da qualidade; melhores prticas de gesto (melhoria

    dos processos de gesto, maior integrao dos processos, aumento da produtividade, melhor

    documentao e comunicao interna, clarificao da autoridade e responsabilidade, melhoria

    dos sistemas de auditoria e inspeco); poupana em custos de no qualidade; aumento da

    qualidade e da vantagem competitiva; aumento da satisfao de clientes; e melhor imagem

    externa. No entanto, a certificao apresenta como desvantagens os custos de obteno do

    certificado e sua manuteno, o incremento da burocracia interna, o aumento das cargas

    de trabalho e a subida dos custos totais (Briscoe et al., 2005 cit. por Ramos, 2009).

    2. A NP EN ISO 22000:2005 Sistemas de gesto da segurana alimentar

    2.1. Origem do referncial

    Com o objectivo claro de harmonizar a nvel internacional as vrias directrizes relacionadas

    com sistemas de segurana dos alimentos, o Organismo Dinamarqus de Normalizao (DS)

    submeteu, no seio da ISO, uma proposta de elaborao de uma norma internacional relativa

    concepo e desenvolvimento destes sistemas. Como consequncia, foi criado um grupo de

    trabalho dentro do comit de produtos alimentares da ISO (TC34/WG8) que elaborou a norma

    ISO 22000:2005 Food Safety Management systems Requirements for any organization in

    the food chain (Queiroz, 2006). Em 30 de Julho de 2005 foi publicada a ISO 22000, traduzida

    posteriormente para NP EN ISO 22000:2005 Sistemas de gesto da segurana alimentar

    Requisitos para qualquer organizao que opere na cadeia alimentar (Magalhes, 2007).

    2.2. Estrutura e elementos chave

    A NP EN ISO 22000:2005 constituda por oito captulos, sendo os primeiros trs referentes

    ao objectivo e campo de aplicao da norma, referncia normativa e termos e definies

    aplicveis sua interpretao. Os requisitos a ter em conta na definio do sistema de gesto

    da segurana dos alimentos encontram-se definidos entre os captulos quatro e oito do

  • 10

    referencial, especificando os mesmos, um conjunto coerente de processos de modo a permitir

    gesto de topo, uma concretizao dos seus objectivos de maneira a cumprir a sua poltica

    de gesto. As condies neles estabelecidas referem-se e relacionam-se de uma forma geral,

    com a responsabilidade da gesto, com a gesto dos recursos humanos da organizao, com o

    planeamento dos seus processo de produo com o objectivo de produzir e garantir a

    segurana dos seus produtos, bem como, com as actividades de validao e verificao das

    metodologias a definir rumo a uma melhoria continua, suportada por um correcto

    desenvolvimento documental, privilegiando sempre uma adequada comunicao do risco (NP

    EN ISO 22000:2005).

    A norma combina assim os seguintes elementos chave, geralmente reconhecidos como

    essenciais, que permitem assegurar a segurana dos gneros alimentcios ao longo da cadeia

    alimentar at ao consumidor final, entre os quais a comunicao interactiva, gesto do

    sistema, programas de pr-requisitos e princpios HACCP (NP EN ISO 22000:2005).

    Segundo a APCER (2011), embora no explicitado na NP EN ISO 22000:2005, a abordagem

    por processos est implcita na estrutura da norma e na prpria metodologia HACCP. A

    grande vantagem da abordagem por processos reside no facto de existir um controlo mais

    detalhado e rigoroso do sistema existente, o que proporciona uma maior interligao dos

    processos individuais, dentro do sistema de processos, bem como sobre a sua combinao e

    interaco. Adicionalmente, a metodologia Plan-Do-Check-Act (PDCA) tambm aplicada

    ISO 22000 tem como objectivo a melhoria contnua do sistema de gesto.

    2.3. Importncia na indstria alimentar

    Falar em segurana dos alimentos apenas faz sentido se encararmos a cadeia alimentar e todos

    os seus intervenientes como um todo (Guedes, 2008). A filosofia do prado ao prato sublinha

    que o reconhecimento, por parte do consumidor, da qualidade e da segurana dos alimentos

    deve ser uma prioridade para a indstria (Arvanitoyannis & Tserkezou, 2009). Ao nvel

    global, instituies como a OMS e FAO, que publicaram o Codex Alimentarius, e a ISO esto

    envolvidas.

    J ao nvel da Unio Europeia (UE), a cooperao assegurada pela CE, Autoridade Europeia

    para a Segurana dos Alimentos (EFSA) e pelos Estados-Membros (EM). Considera-se pois,

    que o conhecimento apropriado sobre segurana dos alimentos e o intercmbio de informao

    entre as demais instituies de segurana alimentar a nvel global, europeu e nacional so

    fundamentais para a proteco do consumidor (German Federal Institute for Risk Assessment

    [BfR], 2009).

  • 11

    Sem considerar as consequncias adversas na sade, os surtos de intoxicao de origem

    alimentar resultam na reduo da confiana do consumidor nos alimentos, acarretando

    importantes perdas econmicas para a indstria alimentar (Taylor, 2011). A norma ISO

    22000:2005 pretende oferecer a soluo, ao definir um conjunto de requisitos para um sistema

    de gesto da segurana dos alimentos, que por se tratar de uma norma ISO, tem o

    reconhecimento internacional facilitado, face aos outros referenciais nesta matria

    (Magalhes, 2006; Oliveira, 2006). Uma das principais vantagens, com a utilizao deste

    referencial normativo, o facto de ser aplicvel a todos os sectores da cadeia alimentar,

    destinando-se a todas as organizaes que influenciem a segurana dos alimentos do prado

    ao prato, incluindo a produo de embalagens e a prestao de servios, entre outras

    (Magalhes, 2006). Apesar de muitas empresas, especialmente as de maior dimenso, terem j

    implementado a ISO 22000:2005 ou estarem em vias de o fazer, outras permanecem

    relutantes na sua implementao. De salientar que a principal preocupao deriva da falta de

    informao, associada ao receio de que esta norma seja demasiado exigente em trabalho

    burocrtico (Arvanitoyannis, Palaiokostas, & Panagiotaki, 2009).

    Como consequncia do aumento significativo de doenas causadas por alimentos

    contaminados, tanto em pases desenvolvidos como em pases em vias de desenvolvimento, a

    adopo e implementao de sistemas eficazes de gesto da segurana dos alimentos tornou-

    se necessria (Arvanitoyannis & Kassaveti, 2009). A indstria alimentar est hoje mais

    desperta para aceitar as mudanas e tambm mais capaz para as executar, fruto no s da

    evoluo das metodologias como da maior qualificao tcnica dos seus recursos humanos. A

    indstria agro-alimentar nacional tem procurado, de acordo com os meios que tem ao dispor,

    nomeadamente aos nveis tcnico e de recursos humanos, desenvolver as melhores

    metodologias para garantir a segurana dos alimentos aos consumidores (Queiroz, 2008).

    A norma ISO 22000:2005 apresenta actualmente um grande potencial de aplicao, isto

    porque, por um lado, oferece um nvel acrescido de segurana dos alimentos aos

    consumidores, um factor fundamental para a competitividade das empresas do sector, e por

    outro lado, perante a grande diversidade de normas de segurana dos alimentos (DS 3027,

    EurepGap, IFS, BRC-Food, por exemplo) possibilita uma harmonizao dos requisitos,

    definindo, deste modo, um autntico sistema universal de gesto da segurana dos alimentos

    (Nunes & Cardoso, 2007). A ISO 22000 assume-se como o novo padro internacional

    genrico para sistemas de gesto da segurana dos alimentos, que visa promover a

    conformidade dos produtos e dos servios relativamente a referenciais internacionais,

    providenciando garantias no mbito da qualidade, da segurana e da confiana

    (Arvanitoyannis & Kassaveti, 2009). Esta norma veio assim harmonizar o vasto conjunto de

  • 12

    normas e sistemas relacionados com a garantia da segurana dos gneros alimentcios,

    permitindo que as empresas que a adoptem sejam globalmente reconhecidas nessa matria e

    que vo alm do que requerido pela legislao (APCER, 2011; Queiroz, 2006).

    2.4. Enquadramento face a outros referenciais normativos

    2.4.1. Relao com a NP EN ISO 9001:2008 Sistemas de gesto da qualidade

    A NP EN ISO 22000:2005 foi desenvolvida de acordo com o ISO Guide 72:2001

    Guidelines for the justification and development of management system standards, tendo

    como referncia normativa a ISO 9000:2000 Fundamentals and vocabulary e

    correspondncia com a ISO 9001:2000 Quality management sytems Requirements

    (Queiroz, 2006). Em termos comparativos, a NP EN ISO 22000:2005 tem uma estrutura

    similar ISO 9001:2000 (verso revista em 2008), facto que ir permitir uma perfeita

    integrao, no justificando quaisquer mudanas radicais num sistema de gesto da qualidade

    j existente. Por outro lado a ISO 22000:2005 constitui uma ferramenta adicional ao sistema

    de gesto da qualidade, dando nfase a uma maior responsabilizao e consciencializao

    demonstrvel para com a segurana dos alimentos (Oliveira, 2006).

    Embora a ISO 22000:2005, seja uma norma de carcter geral, esta no foi publicada em

    termos globais com a finalidade de substituir a ISO 9001:2008. O que se pretende, que a

    primeira venha completar a abordagem global da segunda, centralizada na satisfao dos

    clientes, resultando assim da sua interaco conjunta uma abordagem global focada quer na

    segurana dos alimentos quer dos produtos e servios fornecidos no momento do consumo

    (APCER, 2011; Magalhes, 2007). A adopo da ISO 22000:2005, complementando a ISO

    9001 na vertente especfica da segurana dos alimentos das organizaes ligadas cadeia

    alimentar, leva a que a organizao assegure, de forma consistente, que os seus produtos e

    servios so seguros para a alimentao humana. Desta forma, e mais uma vez

    complementando a ISO 9001, aumenta-se a satisfao, a confiana e a fidelizao dos clientes

    e consumidores. Por outro lado, uma vez que uma falha na segurana dos alimentos um

    tema muito meditico e ao qual os consumidores so muito sensveis, a adopo da ISO

    22000 conduz, de forma sustentada, diminuio de ocorrncia de falhas (Neves, 2007).

    A NP EN ISO 9001 encontra-se focada na satisfao do cliente, demonstrando a sua aptido

    para proporcionar produto que v ao encontro dos seus requisitos e dos regulamentos

    aplicveis, visando aumentar a sua satisfao num processo de melhoria contnua. Embora o

    seu carcter seja mais abrangente do que a NP EN ISO 22000:2005, a segurana dos

    alimentos uma dimenso dos requisitos do cliente, nos quais se incluem tambm outros

    requisitos tais como os de qualidade, de servio e de preo, no s do cliente final como de

  • 13

    outros clientes ao longo da cadeia. A NP EN ISO 9001 gere assim todos os requisitos dos

    clientes, incluindo a segurana dos alimentos, enquanto requisito de cliente e requisito legal.

    Contudo, sendo de aplicao geral a todos os sectores de actividade, no prope uma

    abordagem especfica para a segurana dos alimentos. Complementarmente, a certificao

    segundo a NP EN ISO 22000:2005 demonstra a conformidade com a abordagem HACCP, a

    legislao e requisitos do cliente em matria de segurana dos alimentos, promovendo a

    melhoria contnua (APCER, 2011). importante referir, que a grande maioria das normas

    ISO, so normas verticais, especficas para um produto, mtodo ou processo em particular

    (ISO, 2009). No entanto, a norma ISO 22000:2005, semelhana da norma ISO 9001, uma

    norma horizontal, ou seja, uma norma genrica para sistemas de gesto da segurana dos

    alimentos, que pode ser aplicada a qualquer interveniente da cadeia alimentar (Magalhes,

    2007).

    2.4.2. Relao com outros referenciais de segurana dos alimentos Noes gerais

    Magalhes (2006) refere que, ao contrrio do BRC ou do IFS, a ISO 22000:2005 no inclui

    uma lista exaustiva de requisitos de boas prticas. A ISO 22000:2005 tem a implementao de

    boas prticas como requisito na sua estrutura, no entanto, as linhas orientadoras dessas boas

    prticas devem ser definidas pela organizao. Segundo Oliveira (2006), a ISO 22000:2005

    constitui a ferramenta ideal para a correcta implementao do sistema HACCP. Queiroz

    (2006) refere que o processo de planeamento e realizao de produtos seguros da ISO

    22000:2005 assenta numa combinao dinmica dos programas pr-requisitos (PPR) com as

    vrias etapas de implementao, de um sistema baseado nos princpios HACCP descritos pela

    comisso do Codex Alimentarius (CAC/RCP 1-1969 Rev. 4-2003). Um dos requisitos

    especficos da ISO 22000:2005 para as organizaes ao longo da cadeia alimentar consiste em

    criar, implementar e manter programas de pr-requisitos (PPRs) para assistir na eliminao

    dos potenciais perigos da segurana dos alimentos no processo de fabrico (Socit Gnrale

    de Surveillance [SGS], 2009).

    Lloyds Register Quality Assurance, LRQA (2011) menciona que quando a ISO 22000:2005

    sofreu uma reviso pela Global Food Safety Initiative (GFSI) e estava a ser considerada para

    incluso na sua lista de normas reconhecidas (que inclui BRC, IFS, SQF e Dutch HACCP)

    no abrangeu em pormenor os programas de pr-requisitos necessrios satisfao das

    preocupaes sobre segurana dos alimentos, especficas dos fabricantes de alimentos. Assim

    a PAS 220:2008 foi desenvolvida para ser usada juntamente com a ISO 22000:2005,

    definindo os programas de pr-requisitos no includos neste referencial. Desta forma e

    segundo SGS (2009) o referencial PAS 220:2008 complementa os requisitos previstos na ISO

  • 14

    22000:2005, tornando-a mais completa e aproximando-a dos princpios da Global Food

    Safety Initiative (GFSI). Segundo Sansawat e Muliyil (2011) a Foundation for Food Safety

    Certification (FFSC) combinou essencialmente, os requisitos da ISO 22000:2005 com os da

    especificao PAS 220:2008 (ou ISO/ TS 22002-1:2009) e publicou o esquema Food Safety

    System Certification (FSSC) 22000. A combinao destes dois referenciais no esquema FSSC

    22000 levou ao reconhecimento integral do mesmo pela GFSI, constituindo-se como uma

    referncia mundial em termos de segurana dos alimentos.

    2.5. A interpretao dos requisitos da NP EN ISO 22000:2005 Breve apresentao

    2.5.1. Sistema de gesto alimentar

    A existncia de documentao, permite a uma organizao, a comunicao das intenes e a

    consistncia das aces, contribuindo a sua utilizao para a promoo de evidncias

    objectivas do sistema implementado, possibilitando ainda uma rastreabilidade e repetibilidade

    das suas prticas, levando a que seja possvel avaliar a eficcia e a contnua adequao do

    modelo de gesto (NP EN ISO 9000:2005). O tipo e a extenso dessa mesma documentao,

    ir certamente diferir de organizao para organizao, quer seja por motivos relacionados

    com o seu tipo e dimenso, quer por razes de complexidade e interaco dos seus processos

    (ISO/TS 22004:2005). Entre os vrios aspectos a ter em conta, na definio do processo

    documental a acolher, salientam-se a complexidade dos produtos a elaborar, os requisitos do

    cliente, os requisitos regulamentares aplicveis, as capacidades dos recursos humanos

    disponveis, o grau necessrio para demonstrar o entendimento dos requisitos do sistema de

    gesto (NP EN ISO 9000:2005), bem com a extenso do uso das combinaes desenvolvidas

    internamente, referentes aos programas de pr-requisitos, pr-requisitos operacionais e plano

    HACCP (ISO/TS 22004:2005). Segundo a ISO/TR 10013:2001, o estabelecimento de um

    sistema de gesto documentado, devidamente adequado a uma organizao, produz vrios

    benefcios, permitindo auxiliar os colaboradores no entendimento do seu papel na

    organizao, dando-lhes maior facilidade de compreenso ao nvel do propsito e importncia

    do seu papel na empresa, a promoo de uma base de expectativas no desempenho do

    trabalho, o estabelecimento do modo como as aces devem ser realizadas para alcanar os

    requisitos especficos, o desenvolvimento de evidncias objectivas de que os requisitos

    especificados foram alcanados, a promoo de uma estrutura operacional clara e eficiente, a

    promoo de uma base para a melhoria contnua, a promoo de uma base para a auditoria do

    seu sistema de gesto, entre outros.

    Segundo SGS (2007) a norma de referncia, no exige a existncia de um documento de topo

    do sistema tal como um manual de segurana dos alimentos, sendo que no entanto, boa

  • 15

    prtica a existncia de um elemento orientador e estrutural dessa natureza. A documentao

    de suporte deve incluir, para utilizao de todas as parte interessadas, a poltica da segurana

    dos alimentos, bem como os objectivos relacionados com a segurana dos alimentos (APCER,

    2011), podendo estar disponvel em qualquer formato ou tipo de suporte (ex.: papel,

    electrnico, fotografia) (NP EN ISO 9001:2008), de acordo com as necessidades da

    organizao e do utilizador, e deve obrigatoriamente incluir os procedimentos documentados

    requeridos pelo referencial, tais como, controlo dos documentos (requisito 4.2.2), controlo dos

    registos (requisito 4.2.3), correces (requisito 7.10.1), aces correctivas (requisito 7.10.2),

    tratamento de produtos potencialmente no seguros (requisito 7.6.5 e 7.10.3), retiradas

    (requisito 7.10.4) e auditorias internas (requisito 8.4.1) (SGS, 2007; APCER, 2011). Quanto

    ao porqu dos procedimentos documentados requeridos, convm referir que os mesmos,

    definem requisitos associados a prticas fundamentais do funcionamento do sistema, que

    garantem o estabelecimento, implementao, manuteno e permanente actualizao de um

    Sistema de Gesto da Segurana dos Alimentos (SGSA) eficaz, orientado para a segurana do

    consumidor final e para a melhoria contnua, permitindo a sua avaliao objectiva (APCER,

    2011). A organizao deve definir e documentar esses procedimentos de modo ajustado s

    suas necessidades e dos seus utilizadores (Paiva, 2006). No caso de coexistirem diversos

    sistemas de gesto, ser de todo o interesse integrar e partilhar a documentao que lhes diz

    respeito, tendo no entanto em mente, que integrar sistemas de gesto no significa na sua

    essncia integrar documentos (Paiva et al., 2009).

    O controlo da documentao uma das pedras basilares na qual a organizao dever

    repousar todas as suas actividades de funcionamento, apresentando-se como uma espinha

    dorsal de qualquer sistema de gesto (Pires, 2007). Os controlos definidos devem assegurar

    que todas as alteraes propostas so revistas previamente sua implementao para

    determinar os seus efeitos na segurana dos alimentos e o seu impacto sobre o SGSA (NP EN

    ISO 22000:2005). O controlo de documentos, contemplado no ponto 4.2.2. da NP EN ISO

    22000:2005, tem como finalidade assegurar o controlo da documentao relevante para o

    SGSA, interna ou externa organizao, garantindo que a verso actual e aprovada de todos

    os documentos est disponvel e utilizada no local e momento em que necessria (APCER,

    2011) uma vez que o SGSA ir sofrendo alteraes no tempo, bem como as pessoas que

    realizam essas mesmas actividades (ISO, 2008).

    Sendo o cumprimento dos requisitos legais e outros requisitos aplicveis (incluindo

    especificaes subscritas/aceites pela organizao) uma obrigatoriedade para o

    desenvolvimento das actividades, a organizao deve estabelecer uma metodologia para a sua

    identificao, acesso, gesto, manuteno, actualizao, verificao do impacto no SGSA,

  • 16

    eliminao de documentos obsoletos, distribuio/divulgao e atribuio das

    responsabilidades associadas (SGS, 2007; Paiva et al., 2009). Os documentos obsoletos

    devem ser tratados como registos da qualidade (Pires, 2007). De forma a garantir que no

    ocorra a utilizao indevida dos documentos obsoletos, prtica comum que o documento

    que mantido seja identificado como obsoleto (por exemplo com um carimbo) ou o acesso ao

    mesmo limitado (ex.: pasta no computador denominada Obsoletos a que apenas o

    responsvel pelo processo de gesto de documentos tem acesso) (Castilho, 2009).

    No que respeita aos registos e segundo a NP EN ISO 9004:2000, os mesmos devem ser

    estabelecidos e mantidos para proporcionar evidncias da conformidade com os requisitos e

    da operao eficaz do sistema. Os registos constituem um elemento importante de qualquer

    sistema auditvel (Canadian Food Inspection Agency [CFIA], 2010), devendo os mesmos ser

    facilmente identificveis, legveis, prontamente recuperveis e rastreveis actividade,

    produto ou servio envolvido, e ainda estar protegidos contra qualquer tipo de dano

    (Arvanitoyannis & Kassaveti, 2009; Castilho, 2009).

    Deve ser estabelecido pela organizao um procedimento que defina como a empresa se

    prope a identificar, armazenar, proteger, recuperar e aceder aos registos (ISO, 2008). Por

    outro lado, necessrio ter presente que o controlo de registo se encontra associado ao plano

    HACCP (registos que este origina), como forma de evidenciar os controlos necessrios

    monitorizao e verificao dos pontos crticos de controlo (PCC), bem como efectiva

    realizao de actividades de inspeco associadas a possveis desvios que possam ocorrer no

    mbito dos processos do sistema de gesto alimentar implementado (Sherrow, 2008). Ainda

    segundo Castilho (2009), deve ser tido em ateno a confidencialidade que alguns registos

    exigem dada a sua natureza.

    2.5.2. Responsabilidades da gesto

    A gesto de topo encontra-se definida segundo a norma ISO 9000:2005, como pessoa ou

    grupo de pessoas que dirige e controla uma organizao ao mais alto nvel. fundamental que

    este grupo ou pessoa compreenda perfeitamente as implicaes de desenvolver e

    implementar um SGSA e que se comprometa com o processo (ISO, 2008). Segundo Pal

    (2005), um sistema de gesto da segurana dos alimentos devidamente implementado, requer

    que a gesto de topo proporcione os recursos necessrios, tanto ao nvel dos recursos

    materiais, como ao nvel dos recursos humanos. Alli (2004) refere que a gesto de topo a

    principal responsvel por garantir a segurana dos alimentos elaborados, sendo o seu

    envolvimento e comprometimento, um factor essencial para o sucesso do sistema HACCP ou

    de qualquer outro sistema de gesto de segurana dos alimentos. Segundo Jacxsens,

  • 17

    Devlieghere e Uyttendaele (2009), a gesto de topo necessitar de adoptar uma estratgia do

    tipo top-down, focada em transmitir a todos os elementos integrantes da estrutura

    organizacional existente o caminho estratgico delineado, que se pretende que seja seguido e

    adoptado como filosofia de trabalho pela organizao. Desta forma, e segundo ISO (2008), a

    poltica de segurana a base de qualquer sistema de gesto de segurana alimentar. A

    mesma dever ser entendida como um conjunto de grandes linhas de orientao estabelecidas

    pela gesto de topo, para todas as actividades ou operaes que tenham influncia na

    segurana dos alimentos, includos no mbito do SGSA, pelo que dever ser um documento

    tctico estratgico, tendo em vista o papel da organizao na cadeia alimentar (APCER,

    2011). Assim sendo, e segundo a ISO/TS 22004:2005, devem ser definidos objectivos a

    atingir pela organizao, normalmente associados melhoria de um ou mais aspectos do

    sistema de gesto e que os mesmos devero ser do conhecimento de toda a estrutura

    organizacional (Jacxsens et al., 2009). Os objectivos podem ser de melhoria e/ou de

    manuteno do nvel de desempenho existente, sendo que os objectivos de melhoria devero

    ser estabelecidos segundo uma periodicidade definida (Pires, 2007).

    International Register of Certificated Auditors, IRCA (2005) refere que o planeamento do

    sistema de gesto alimentar uma componente de extrema importncia, protegendo o sistema

    de qualquer alterao que o mesmo possa sofrer. Assim sendo a organizao, para alm de

    planear a forma de como os seus objectivos devero ser atingidos, dever assegurar-se que

    sempre que ocorram alteraes de natureza interna ou externa (ex.: alteraes da legislao)

    estas devero ser consideradas pelo SGSA, garantindo que nas fases de transio, esto

    asseguradas as condies (nomeadamente em termos de recursos e mtodos) para de forma

    sistemtica, garantir a segurana dos alimentos (Paiva, 2006). Segundo APCER (2011), o

    planeamento um dos elementos do ciclo PDCA, pelo que acompanhando o mesmo,

    facilmente se conclui que o resultado e desempenho da organizao, dependem em larga

    medida da forma como o planeamento efectuado quer ao nvel da gesto quer ao nvel

    operacional.

    A gesto de topo dever assegurar que as responsabilidades e as autoridades so definidas e

    comunicadas dentro da organizao, de modo a assegurar a operao e manuteno eficazes

    do SGSA (NP EN ISO 22000:2005). Segundo a ISO/TS 22004:2005, o responsvel da equipa

    de segurana dos alimentos o elemento central do sistema de gesto alimentar, devendo o

    mesmo ser um elemento interno da organizao (embora tal no seja requerido como

    condio na norma).

    Para uma empresa alimentar, a comunicao e a gesto estruturada da informao so

    processos vitais (Paz, 2007). Harris e Nelson (2008) referem que a comunicao uma das

  • 18

    mais importantes e dominantes actividades nas organizaes. O objectivo principal da

    comunicao o de apoiar a estratgia da empresa, proporcionando-lhe coerncia e integrao

    face aos objectivos, planos e aces da sua gesto de topo (Business Innovation Center

    Galicia [BIC Galicia], 2006). Segundo Paiva (2006), a informao a trocar deve ter a ver com

    aspectos relevantes relacionados com a segurana dos alimentos, de forma a garantir que

    qualquer potencial perigo relevante seja controlado em alguma etapa na cadeia alimentar.

    Sanchez (2006) refere que a forma como uma organizao concebe e gere o seu processo de

    comunicao, tem mais a dizer-nos a respeito da sua cultura, do que qualquer outro seu

    processo elementar. Citando Rivera, Rojas, Ramrez e Fernandes (2005) fundamental que a

    gesto tenha conhecimento das necessidades dos seus colaboradores, e que acima de tudo

    intervenha activamente para que o processo de comunicao seja completamente

    compreendido por todos. A confiana, qualidade e credibilidade, so pressupostos no

    negociveis da comunicao interna, os quais devem ser claramente percepcionados pelos

    colaboradores (Ruck, 2011). A gesto de topo para alcanar bons resultados comunicacionais,

    dever implementar um fluxo bidireccional (Gibson, 1999). Qualquer pessoa da organizao

    que identifique algum aspecto, que possa ter impacto em termos de segurana dos alimentos,

    deve saber a quem o reportar (Paiva, 2006; ISO/TS 22004:2005). Segundo SGS (2007), cabe

    igualmente gesto de topo da organizao o estabelecimento e comunicao dos

    procedimentos necessrios, de modo a gerir potenciais situaes de emergncia que possam

    ocorrer com potencial impacto em termos de segurana dos alimentos, de forma a assegurar a

    correcta preparao da organizao face a estas situaes.

    Citando Vasconcellos (2005), a gesto de topo deve em intervalos adequados, realizar a

    reviso do sistema implementado, de modo a garantir a sua contnua adequao e eficcia.

    Pires (2007) refere que a reviso do sistema a actividade mais reveladora da integrao e

    alinhamento do sistema de gesto implementado, com o sistema de gesto global da

    organizao. A informao de entrada para a reviso pela gesto, deve ser suficiente de

    maneira a permitir gesto de topo avaliar se o sistema de gesto cumpre ou no com os

    objectivos estabelecidos (ISO, 2008). A sada da reviso pela gesto dever assim consistir

    num planeamento de um novo ciclo de melhoria, assente numa nova reflexo estratgica, que

    resulte na definio de um quadro de desenvolvimento da organizao e do sistema de gesto,

    enquanto ferramenta de apoio actividade da organizao (Paiva, 2009). Convm que sadas

    seleccionadas sejam comunicadas para demonstrar, s pessoas na organizao, como o

    processo de reviso pela gesto conduz a novos objectivos que beneficiaro a organizao

    (NP EN ISO 9004:2000). O custo de tempo despendido relacionado com a reviso do sistema

  • 19

    acaba por compensar o tempo perdido, permitindo de forma antecipada identificar

    determinadas falhas ou desvios ao que foi estabelecido (Kemp, 2006).

    2.5.3. Gesto de recursos

    Segundo Paiva (2009) a necessidade de recursos quer em quantidade, quer em adequao,

    uma situao dinmica dentro de todas as organizaes, estando a frequncia da necessidade e

    de identificaes dos mesmos, dependente da natureza das suas actividades e dos ciclos de

    melhoria da organizao. Segundo APCER (2011), os recursos devem incluir todos os meios

    necessrios (recursos humanos com competncias e formao adequada, infra-estruturas

    fsicas, tecnologia, recursos financeiros, entre outros) para a implementao da estratgia e

    para que os objectivos da organizao sejam atingidos.

    A gesto dos recursos humanos de uma organizao, assume primordial importncia para o

    seu sucesso, pelo que fundamental que exista uma definio clara da metodologia que

    dever ser aplicada na gesto dos mesmos (NP 4427:2004). Segundo CFIA (2010), a

    formao e o treino aumentam a consciencializao de todos os colaboradores quanto s suas

    responsabilidades, relativamente ao seu papel na produo de alimentos seguros. Todas as

    pessoas colocadas nas operaes relacionadas com alimentos que venham a ter contacto

    directo com os mesmos, devero receber formao e/ou treino a um nvel apropriado para as

    operaes que tenham de realizar (Codex Alimentarius Commission [CAC], 2003).

    Considera-se infra-estrutura, o conjunto de elementos inter-relacionados e inter-actuantes de

    instalaes, equipamentos e servios necessrios para o funcionamento de uma organizao

    (NP EN ISO 9000:2005). A determinao de uma infra-estrutura necessria uma actividade

    de planeamento, e a sua disponibilizao uma responsabilidade da gesto de topo (APCER,

    2011). Independentemente de proporcionar as ferramentas, os equipamentos mais eficazes ou

    outras condies que sustentem uma alta produtividade, a organizao dever ter em ateno

    especial, todas as condies que afectem ou possam vir a afectar a inocuidade dos seus

    produtos, como por exemplo requisitos estipulados relativos higiene pessoal, manuteno

    salubre das instalaes, polticas internas a respeito de doenas dos seus colaboradores, entre

    outras (ISO, 2008).

    2.5.4. Planeamento e realizao de produtos seguros

    A NP EN ISO 22000:2005 refere explicitamente que a organizao dever planear e

    desenvolver os processos necessrios para a obteno de produtos seguros. Segundo a Asian

    Productivity Organization, APO (2005), o estabelecimento de um programa de pr-requisitos

    (PPRs) na verdade a nica maneira possvel de manter um nmero baixo de pontos crticos

  • 20

    de controlo (PCCs), possibilitando uma gesto mais fcil do respectivo plano HACCP. Os

    PPRs englobam um conjunto de etapas ou procedimentos que visam controlar as condies

    operacionais dentro dos estabelecimentos alimentares, promovendo condies envolventes

    adequadas produo de alimentos incuos, sendo que a organizao ter que garantir, que os

    critrios utilizados na seleco e aplicao destes programas, vo ao encontro das condies

    internas existentes e reflectem o seu ambiente de trabalho dirio, as suas prticas

    operacionais, as suas polticas internas, bem como os procedimentos ou regulamentos

    associados (CFIA, 2010). Segundo o National Advisory Committee on Microbiological

    Criteria for Food, NACMCF (1997) in Marriott e Gravani (2006) um programa geral de PPRs

    pode incluir: as instalaes (devem encontra-se localizadas, construdas e mantidas de acordo

    com os princpios higinicos de construo); o controlo de fornecedores (deve encontra-se

    estabelecido um programa de seleco e avaliao de fornecedores bem como de auditorias ao

    seu sistema HACCP); as especificaes (devem encontrar-se estabelecidas para todos os

    ingredientes, produtos e materiais de embalagem); os equipamentos de produo (devem ser

    construdos e instalados de forma a serem facilmente higienizados e a sua manuteno

    (preventiva) e calibrao deve obedecer s regras estabelecidas pelo fabricante); a limpeza e

    higienizao (todos os procedimentos devem encontrar-se descritos de maneira a serem

    cumpridos conforme o estabelecido); a higiene pessoal (todas as pessoas afectas rea de

    produo, devem cumprir o estabelecido em termos de critrios de higienizao pessoal); a

    formao (todos os colaboradores devem receber formao sobre higiene pessoal, boas

    prticas de fabrico, limpeza e higienizao, segurana no trabalho e ter conhecimento da

    importncia/impacto das suas funes no controlo dos potenciais perigos identificados); o

    controlo de produtos qumicos (devem ser adoptados procedimentos documentados para

    assegurar a utilizao de produtos qumicos no alimentares); a recepo, armazenamento e

    transporte (as matrias primas e produtos devem ser devidamente armazenadas e manipuladas

    respeitando as devidas regras de higiene); a rastreabilidade e recolha (as matrias e produtos

    devem ser devidamente codificados, devendo existir um sistema de recolha de produto, de

    maneira a ser possvel retirar os mesmos do mercado o mais rapidamente possvel em caso de

    perigo para o consumidor); e o controlo de pragas (deve encontrar-se estabelecido um sistema

    de controlo de pragas).

    A extenso de aplicao de cada um dos pr-requisitos ir variar com as caractersticas da

    actividade alimentar realizada e o respectivo risco de segurana associado (National

    Conference Services [NCS], 2009). Sem recurso a fontes de informao adequadas

    impossvel melhorar de forma sustentvel as condies afectas e envolventes, ao processo

    (Beach, 2011). Os princpios estabelecidos no plano de HACCP no devem subsistir como

  • 21

    um programa isolado devendo antes ser suportados por um slido alicerce de boas prticas de

    fabrico e boas prticas de higiene (Howlett, Bolton & OSullivan, 2005; Parliamentary Office

    of Science and Technology, 2009). A existncia e eficcia dos PPRs deve ser avaliada durante

    o desenvolvimento e implementao do plano de HACCP (CAC, 2003).

    Dever ser nomeada uma equipa da segurana dos alimentos (NP EN ISO 22000:2005). A

    equipa de segurana dos alimentos deve conter indivduos de todos os sectores da empresa,

    com o conhecimento especfico e experincia tcnica adequada sobre os produtos em causa,

    nomeadamente ao nvel da sua produo (fabrico, armazenagem e distribuio), do seu

    consumo e potenciais perigos associados, envolvendo tanto quanto possvel os mais altos

    nveis da gesto (European Commission [EC], 2005). Segundo a NP EN ISO 22000:2005,

    todas as matrias-primas, ingrediente e materiais para contacto com o produto devem ser

    descritos, na extenso necessria conduo da anlise de perigos, incluindo conforme

    apropriado os pontos descritos nas alneas de a) a h) da respectiva norma, devendo essa

    informao ser mantida devidamente actualizada.

    De acordo com World Heath Organization, WHO (2008) dever ser elaborada uma descrio

    detalhada dos produtos elaborados, abrangendo informaes de segurana pertinentes, tais

    como composio fsico-qumica, estrutura fsica, tratamentos aplicados, mtodos e

    procedimentos de embalagem/embalamento, condies de durabilidade e distribuio, entre

    outras, devendo a descrio dos produtos centrar-se em questes da segurana dos alimentos,

    embora possam conter outra informao nomeadamente as relacionadas com parmetros de

    qualidade definidos pela organizao. A utilizao normal ou razoavelmente expectvel,

    resultante do consumo ou utilizao dos produtos por parte dos consumidores, dever ser

    definida e considerada. Particularmente, poder ter que se considerar o consumo dos referidos

    produtos por parte dos denominados grupos de risco, mais vulnerveis da populao (EC,

    2005).

    Os fluxogramas de fabrico elaborados devero proporcionar uma base de trabalho, no sentido

    de avaliar a probabilidade de ocorrncia ou introduo, de possveis perigos alimentares

    associados (CFIA, 2010). O objectivo de se elaborar um fluxograma dos processos envolvidos

    na produo e fornecimento dos produtos elaborados, relaciona-se com o facto de o mesmo

    proporcionar um mtodo simples e claro de cada uma das etapas intervenientes no processo,

    garantido que todos os aspectos da sua produo so considerados (New South Wales [NSW]

    Food Authority, 2005).

    Afonso (2008) entende por perigo, a presena num nvel inaceitvel de um contaminante

    biolgico, qumico ou fsico nas matrias-primas, produtos intermdios ou finais que tenha o

    potencial de causar dano ao consumidor. Segundo CAC (2003) a anlise de perigos o

  • 22

    processo de recolha e estudo de informao a respeito dos potenciais perigos e das condies

    que esto na sua origem, de maneira a concluir quais se revelam importantes para a segurana

    dos alimentos, e por conseguinte devero ser includos no plano HACCP. O importante que

    a equipa de segurana dos alimentos defina a sua metodologia, e se sinta vontade na sua

    utilizao, compreendendo e mantendo a coerncia da anlise e os registos dos resultados

    obtidos (Afonso, 2008). A avaliao de perigos serve para determinar quais os potenciais

    perigos identificados que necessitam de medidas de controlo especficas (Blanc, 2006). A

    ISO/TS 22004:2005 refere que muitas vezes requerida mais do que uma medida de controlo

    para um determinado perigo ou perigos, e que mais do que um dos perigos alimentares pode

    ser controlado pela mesma medida de controlo (mas no necessariamente na mesma

    extenso). Em qualquer dos casos, o importante que a(s) medida(s) seja(m) aplicada(s) na

    origem do perigo (causa), e se necessrio no perigo em si, de modo a evit-lo, elimin-lo ou

    reduzi-lo para nveis aceitveis (Afonso, 2008).

    Uma das sadas da anlise de perigos a determinao dos PPR operacionais (PPROs), os

    quais configuram a preparao da preveno e o desenvolvimento das medidas de controlo

    que lidam com nveis de risco de segurana dos alimentos, imediatamente abaixo daqueles

    que devido sua anlise de risco necessitam de ser geridos pelo plano HACCP

    (Arvanitoyannis & Kassaveti, 2009). Os PPROs so utilizados no controlo ou reduo do

    impacto dos perigos identificados no processo de produo (Pinto & Neves, 2010). Na

    seleco e avaliao das medidas de controlo devem ser definidas as etapas e as medidas

    preventivas onde vo ser controlados os perigos relevantes para garantir a segurana dos

    alimentos, sendo que se as etapas e medidas de controlo, forem geridas pelo plano HACCP

    consideram-se PCC, se forem geridas pelo PPROs consideram-se programas (Magalhes,

    2006).

    Segundo Pinto e Neves (2010), a metodologia HACCP referenciada por vrias organizaes

    como um sistema para analisar e controlar os perigos sanitrios associados a um produto

    alimentar, sendo a sua aplicao obrigatria pelo Regulamento CE n. 852/2004 de 29 de

    Abril. Seng (2009) refere que o HACCP uma ferramenta que permite avaliar perigos e

    estabelecer sistemas de controlo que incidem na preveno, em vez de actuar exclusivamente

    como teste final aos produtos. De acordo com NACMCF (1998) e CFIA (2010),

    considerado ponto crtico de controlo (PCC) um ponto, etapa ou procedimento onde

    determinada medida de controlo pode ser aplicada e que essencial para prevenir, eliminar ou

    reduzir determinado perigo para um nvel considerado aceitvel. Afonso (2006) refere que,

    para que se possa classificar como PCC um ponto de controlo, condio indispensvel que

    se possa actuar sobre ele, atravs da aplicao de uma medida preventiva. Citando CAC

  • 23

    (2003) e WHO (2008), se for identificado um determinado perigo, numa fase cujo seu

    controlo necessrio para manter a inocuidade alimentar e no existir nenhuma medida de

    controlo que possa ser aplicada a essa fase ou a qualquer outra, o produto ou o processo

    devero ser modificados nessa fase em particular ou em qualquer outra fase anterior ou

    posterior, para ser includa uma medida de controlo. Os PCCs devem ser devidamente

    identificados e documentados (Arvanitoyannis & Kassaveti, 2009). Todos os PCCs esto

    includos no plano HACCP (ISO, 2008). Segundo CAC (2009), para cada PCC devem ser

    especificados os seus limites crticos. Os limites crticos so critrios, que distinguem a

    aceitabilidade da inaceitabilidade, apresentando-se como parmetros, que quando

    devidamente mantidos, nos confirmam a inocuidade do produto, de modo a assegurar o nvel

    de segurana dos alimentos identificado como aceitvel, respeitante ao perigo identificado no

    produto final (CFIA, 2010).

    Afonso (2006) refere que os procedimentos de monitorizao devem ser concebidos para

    permitirem a deteco precoce da perda de controlo de um PCC. A monitorizao a medio

    ou observao programada de um PCC, em relao aos seus limites crticos (CAC, 2009).

    Referindo CAC (2003), que os dados obtidos no seguimento das actividades de monitorizao

    devero ser avaliados por uma pessoa designada, que possua os conhecimentos e

    competncias adequadas, para aplicar as medidas correctivas necessrias no seguimento das

    aces a tomar. A pessoa responsvel pela monitorizao deve comunicar todo o processo ou

    produto que no esteja de acordo com os limites crticos e permitir que as aces correctivas

    sejam tomadas imediatamente (Pinto & Neves, 2010). Aps a implementao da aco

    correctiva, deve ser tida em considerao a necessidade de proceder a uma reviso dos limites

    estabelecidos para cada parmetro ou a definio de outra aco correctiva, como forma de

    preveno de uma eventual ocorrncia (APCER, 2011).

    Aps o estudo de que resulta o estabelecimento dos PPROs e do plano HACCP, e uma vez

    que durante as etapas que a eles conduzem pode ser identificada a necessidade de introduzir

    alteraes nos processos/produtos, a organizao deve assegurar que a documentao

    resultante das etapas preliminares se mantm actualizada, nomeadamente no que respeita

    descrio dos produtos, utilizao prevista, fluxogramas, etapas do processo e medidas de

    controlo (SGS, 2007). A organizao dever implementar mecanismos de controlo

    relacionados com a verificao do processo de produo, de forma a assegurar-se que o SGSA

    cumpre os objectivos para os quais foi projectado (Arvanitoyannis & Kassaveti, 2009). A

    verificao como a garantia da qualidade, uma actividade de confirmao do estado de

    sade do sistema, desenvolvida com o propsito de nos assegurarmos que os PCC

    estabelecidos, se encontram verificados de forma adequada e as aces de correco para cada

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    um deles se realizem da forma definida (Jacxsens et al., 2009). Segundo Paiva (2006), as

    actividades de verificao no tm de ser conduzidas por elementos da equipa de segurana

    alimentar (ESA); no entanto, os registos resultantes da implementao de cada uma das

    actividades planeadas devem ser comunicados a esta, de forma a serem avaliados e analisados

    individualmente, permitindo assim avaliar o grau de implementao e eficcia do sistema e as

    suas prticas, bem como a necessidade de desencadear aces de melhoria. A frequncia com

    que devero ser realizadas as actividades de verificao, depende do grau de incerteza

    associado a cada uma das medidas de controlo aplicadas, relativas a determinados nveis de

    aceitao de perigos alimentares ou predeterminados desempenhos, bem como da capacidade

    dos procedimentos de monitorizao implementados para detectar falhas de controlo (ISO/TS

    22004:2005).

    Em coerncia com o estabelecido no Regulamento CE n. 178/2002, a ISO 22000:2005 fixa

    procedimentos para o estabelecimento e aplicao de um sistema de rastreabilidade, definindo

    como objectivo particular a identificao dos lotes de produto e sua relao com os lotes de

    matrias-primas e os registos de processamento da entrega (Queiroz, 2006). O sistema de

    rastreabilidade pode definir-se como um procedimento que permite seguir e localizar os

    produtos, desde a sua produo ao longo da cadeia de comercializao, mediante o registo,

    identificao e transmisso de informao (Food Chain Strategy D