Começou a "uberização" da propaganda

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154 Revista ABA - ed. 159 V ocê sabe quando custava con- tratar um locutor fluente em inglês e alugar um estúdio para gravar o áudio de um vídeo? Bem caro. Hoje, por 70 dólares é possível escolher em um úni- co site dentre vários profissio- nais nativos em inglês ao redor do mundo, en- viar o texto e receber o áudio de volta. Simples, barato, eficiente e já utilizado por grandes mar- cas e agências do mundo todo. Da criação de uma marca até campanhas e produção de filmes, da automatização da compra de mídia até a contratação direta de blogueiros de forma programática, há pesso- as e startups no mundo inteiro prontas para lhe estender o mouse. Enquanto você lê este artigo, em algum lugar do planeta, um empre- endedor está montando um produto ou uma plataforma para tornar a vida dos anunciantes e das agências mais fácil. O funcionamento dessas plataformas é muito parecido com o do aplicativo Uber. Nele, motoristas se cadastram, fazem um teste e começam a vender serviços de caro- na. Uma rota bem mais simples do que se ele decidisse virar um taxista, pois isso o obriga- ria a entrar num mundo de burocracia, taxas, alvarás e intermediários. OPINIÃO Fernando Teixeira COMEÇOU A “UBERIZAÇÃO” NA PROPAGANDA Os modelos de negócio baseados em comissão sofrem, enquanto empreendedores que pensam em escala prosperam.

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Você sabe quando custava con-tratar um locutor fluente em inglês e alugar um estúdio para gravar o áudio de um vídeo? Bem caro. Hoje, por 70 dólares é possível escolher em um úni-co site dentre vários profissio-

nais nativos em inglês ao redor do mundo, en-viar o texto e receber o áudio de volta. Simples, barato, eficiente e já utilizado por grandes mar-cas e agências do mundo todo.

Da criação de uma marca até campanhas e produção de filmes, da automatização da compra de mídia até a contratação direta de blogueiros de forma programática, há pesso-as e startups no mundo inteiro prontas para lhe estender o mouse. Enquanto você lê este artigo, em algum lugar do planeta, um empre-endedor está montando um produto ou uma plataforma para tornar a vida dos anunciantes e das agências mais fácil.

O funcionamento dessas plataformas é muito parecido com o do aplicativo Uber. Nele, motoristas se cadastram, fazem um teste e começam a vender serviços de caro-na. Uma rota bem mais simples do que se ele decidisse virar um taxista, pois isso o obriga-ria a entrar num mundo de burocracia, taxas, alvarás e intermediários.

OPINIÃOFernando Teixeira

COMEÇOU A “UBERIZAÇÃO”

NA PROPAGANDA

Os modelos de negócio baseados em comissão sofrem, enquanto empreendedores que pensam em escala prosperam.

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O mais interessante da analogia com o Uber, porém, está na forma como o APP oferece esse serviço para os clientes: ele é um Produto Digital. Num produto digital, o consumidor não paga pelo processo de desenvolvimento, só pelo benefício recebido, com o apertar de um botão. Assim, em-bora o investimento inicial seja alto para montar um Uber, hoje, para cada novo usuário no sistema, não há aumento de custo para a empresa Uber. Quan-to mais gente, maior a escala, melhor.

No passado, a dificuldade para um taxista tra-balhar conteve a competição no setor. No mundo da propaganda, ocorreu um fenômeno parecido. Hoje, graças à pulverização das formas de contato com consumidores e à tecnologia nas operações, vivemos uma revolução parecida. Os modelos de negócio baseados em comissão sofrem, enquan-to empreendedores que pensam em escala pros-peram. Hoje, nos Estados Unidos, aproximada-mente 50% das vagas de criação (de redatores e designers até diretores de criação) não estão nas agências, comparado com 30%, em 2010*.

Para as agências, será cada vez mais difícil reter ou recuperar seus talentos pagando caro, porque seguindo essa tendência eles sairão de qualquer jeito para montar suas startups, seus produtos digitais no mundo da propagan-da, complementares ao serviço das agências. Se juntarmos essa evasão com a infinidade de novas tecnologias que surgem a cada dia, po-demos parar para pensar se os modelos de full-

-service e AOR (Agency Of Record – agências únicas para clientes) não podem andar juntos com algo mais dinâmico, mais Uber, reunindo diferentes peças de diferentes startups. Já os anunciantes precisam começar a levar em con-ta que sua principal preocupação deve ser com qualidade, seja ela entregue somente pela AOR, seja com outros talentos e recursos onde quer que eles estejam.

Um feliz exemplo de empresa que conseguiu pegar carona na “Uberização” foi a Salesforce, o maior CRM do mundo. Em vez de contratar um exército de programadores para escrever códigos e produtos para diversos clientes, a companhia montou uma plataforma-base e abriu conectores para startups montarem e venderem produtos di-reto para clientes. O resultado? Hoje, metade dos 6 bilhões de dólares de receita da Salesforce vem dessas parcerias**.

Fernando TeixeiraGeneral Manager – Brazil da TOMORRO\\\* W

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