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Como Está Escrito Um Breve Argumento Em Defesa do Caraísmo Shawn Lichaa Nehemia Gordon Meir Rekhavi Hilkiah Press 2006

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  • Como Est Escrito

    Um Breve Argumento Em Defesa do Carasmo

    Shawn Lichaa Nehemia Gordon

    Meir Rekhavi

    Hilkiah Press 2006

  • A portada deste livro tem a ilustrao artstica das pedras sobre as quais Josu escreveu a Torah in t e i ra (Josu 8:32), como lhe foi ordenado em Deuteronmio 27:2-3. Quando Josu lhe leio a Torah inscrita sobre esses pedras ao Povo de Israel, as Escrituras dizem que ele leio tudo o que Moiss ordenou, como est escrito:

    No houve palavra nenhuma de tudo quanto ordenou Moiss que Josu no fizesse ler perante toda a congregao de Israel, e das mulheres, dos meninos, e dos estrangeiros que moravam entre eles. (Josu 8:35)

    O que permanece destas pedras ainda pode estar enterrado em algum lugar do Monte Eval, perto de Shechem. O altar correspondente, levantado por Josu (Deut. 27:5-7; Jos. 8:30-31) foi desenterrado pelo arquelogo Adam Zertal em 1982. Aparece um quadro deste altar na contra portada do livro.

    Portadas desenhadas por S. Kim Glassman.

    Primeira Edio em Ingls, 2002. Segunda Edio Revisada, 2006.

    Primeira Edio Castelhana, 2007 Traduzida por Daniel Lpez

    ISBN 0-9762637-1-8

    ISBN 978-0-9762637-1-5

    Copyright 2006 pelos Autores, Direitos Reservados. www.Karaite-Korner.org www.HilkiahPress.com

    [email protected] Este livro poder ser copiado sem alteraes, inteira ou parcialmente, com fines no comerciais, sempre que se lhe da crdito aos autores.

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    Reconhecimentos Este livro foi inspirao de Shawn Lichaa, quem to habilmente entrelaou as contribuies dos trs autores para formar uma sola obra coerente. Algumas pores foram adaptadas dos escritos do lembrado Mordecai Alfandari (QEPD). Os autores desejam agradecer as numerosas pessoas que fizeram a prova de leitura i editaram borradores do livro, e providenciaram inestimveis sugestes. Este projeto jamais tivera sido possvel sem o apoio do Movimento Carata Mundial, e seu desejo de pr o carasmo ao alcance das comunidades caratas de Norte Amrica e do mundo. Agradecimentos especiais Universidade Judaica Carata (www.kjuonline.com) por seus esforos em conseguir a publicao da segunda edio deste livro. Finalmente, os autores desejam agradecer aos membros de Karaite Jews of America (www.karaites.org), os quais abraaram este projeto de todo corao, e nos proporcionaram comentrios a cada passo.

  • ndice

    Reconhecimentos ..................... Error! Bookmark not defined. O qu o Carasmo? ........................................................................ 5 Histria do Carasmo ....................................................................... 6 A Dependncia Psicolgica da Lei Oral .................................... 10 Escuadrinhai Bem as Escrituras ..................................................11 Razes Lgicas pelas que o Carata Rejeita a Lei Oral ............ 12 Razes Textuais pelas que o Carata Rejeita a Lei Oral ........... 14 Alegatos Talmdicos e Respostas Caratas ................................ 16 Perguntas Frequentes .................................................................... 24 Exemplo Prtico da Exegese Carata .......................................... 27 O Calendrio Bblico ..................................................................... 29 Exegese Carata: A Celebrao de Sukkt ................................. 37 Concluso ....................................................................................... 40 Sobre os Autores ........................................................................... 41

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    Que o Carasmo? O Carasmo a forma original de Judasmo ordenada por Deus ao Povo Judeu na Torah. Os Caratas aceitam o Tanach (a Bblia Judaica) como a palavra de Deus e como a nica autoridade religiosa. Ao mesmo tempo, os Caratas rejeitam os acrscimos humanos Torah tal como a Lei Oral Rabnica (veja: Textos Base pelos quais os Caratas rejeitam a Lei Oral). Como Deuteronmio 4:2 afirma: No acrescentareis palavra que eu vos mando nem diminureis dela... o Judasmo Carata tambm rejeita o principio Rabnico pelo qual os Rabinos so as nicas autoridades para interpretar a Bblia. Os Caratas acreditam que cada judeu tem a obrigao de estudar a Torah e decidir por si mesmo/mesma a interpretao correta dos mandamentos de YHWH (Deus), j que no final ser o individuo, no uma autoridade central, quem ser responsvel de suas prprias aes. Este princpio foi muito bem expressado por Anan ben David Hanas, um dos grandes lderes do Carasmo que afirmou: Procura bem na Escritura e no confie em minha opinio* Os Caratas no rejeitam toda a interpretao e no entendem a Bblia literalmente j que tudo requer interpretao. Entretanto, os Caratas exigem que cada interpretao seja submetida ao mesmo exame detalhado seja qual for sua fonte.

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    Histria do Carasmo O Carasmo existe desde que Deus deu suas leis ao Povo Judeu [Israel]. No princpio aqueles que seguiam as leis de YHWH foram chamados simplesmente "Justos" e somente no 9 sculo E.C. que eles foram chamados de Caratas. A pergunta sobre o motivo por que os seguidores de Deus so chamados hoje de Caratas realmente uma questo relacionada com a origem das demais seitas. No inicio no existia nenhuma razo para etiquetar de seita separada aos "Justos" porque to somente havia uma seita que consistia em todo o Povo Judeu. Ao longo da histria, os "Justos" assumiram diversos nomes tais como Saduceus, Betusianos, Ananitas, e Caratas, para assim se distinguir das distintas seitas que iam aparecendo.

    Perodo Bblico Os Justos No Perodo Bblico o povo descrito como pertencendo a duas categorias: os pecadores e os justos. Frequentemente falsos profetas que afirmavam serem portadores de uma mensagem de Deus conduziram o povo ao pecado. Em alguns perodos, a maioria de Israel seguiu estes profetas falsos e aqueles que permaneciam fieis a YHWH no foram seno uns poucos (por exemplo, Elias no Monte Carmelo). Deus enviou seus profetas "desde a manh at a tarde" chamando o povo ao arrependimento, mas muito frequentemente somente castigando a nao com uma grande calamidade YHWH conseguia que escutassem. Grande parte da histria Bblica uma repetio do familiar ciclo de pecado, castigo, arrependimento e resgate.

    Perodo do Segundo Templo Saduceus e Boetusianos A primeira referencia na histria de Israel a mais de uma seita ocorreu uns 200 anos depois do fim do perodo Bblico, no primeiro sculo a.C. Varias fontes nos falam de duas seitas contrrias, os Saduceus (Zadokitas) e os Fariseus.

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    Os Saduceus seguiam a Torah tal como foi escrita enquanto que os Fariseus acreditavam em uma segunda "Torah Oral" que eles acrescentaram escrita. O Segundo perodo do Templo viu o surgimento de vrias seitas alm das existentes, entre elas outro grupo que somente seguia a Torah escrita, os chamados Betusianos e uma seita chamada os Essnios que acrescentou vrios livros a Bblia (tambm conhecida por a "Seita" do Mar Morto).

    Como os Caratas, aqueles que os seguiram, os Saduceus e os Betusianos continuaram a tradio, originada por Moiss, de guardar os mandamentos da Torah sem acrscimos (Deuteronmio 4:2). Constantemente vemos na literatura antiga que os Saduceus negavam as doutrinas da imortalidade da alma e do premio e castigo na "outra vida". Se isto verdade ou no de pouca transcendncia j que eles chegaram at estas crenas baseados em uma interpretao honrada da Bblia (inclusive quando a maioria dos Caratas discorda deles nestas doutrinas). Por outro lado, os Fariseus acreditavam que a interpretao de um mestre em particular era divina e elevaram estes ensinamentos ao nvel da mesma Torah. Com o passar do tempo esta doutrina foi se expandindo e os Fariseus afirmaram que estes ensinamentos tinham sua origem no prprio Deus sob a forma de uma segunda, "Torah Oral". Inclusive foram to longe que at garantir que quando dois mestres ensinavam interpretaes da Bblia diametralmente opostas, ambas as interpretaes eram de Deus.1 A terceira seita maior, os Essnios, tinha uma Bblia que abrangia mais do que nossos 24 Livros e como resultado tinham prticas alheias a nossa Bblia, prticas tais como um calendrio solar.

    1 Rabbi Aba disse no nome de Samuel: Trs anos a Casa de Shammai e a Casa de Hillel estiveram divididas. Estes disseram: a lei segundo ns e aqueles disserem: a lei segundo ns. Uma voz anglica surgiu e disse 'Ambas estas e essas so as palavras do Deus vivente. '" (Talmud Babli, Erubin 13b) Na teologia Rabnica este incidente a que nos referimos como prova da regra geral afirma que quando dois Rabinos discordam, as opinies contrrias de ambos so "palavras do Deus

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    Quanto tempo estas trs seitas continuaram coexistindo desconhecido. Constantemente se pensa que os Essnios e os Saduceus deixaram de existir com a destruio do Templo no ano 70 E.C. Todavia isto parece improvvel j que as escrituras dos Essnios aparecem to tarde como no 10sculo, o que parece indicar que sobreviveram muito depois da destruio do Templo. As referncias aos Saduceus e os Betusianos continuaram aparecendo na literatura posterior ao ano70 E.C., eles tambm parecem ter sobrevivido durante algum tempo.

    Idade Media Ananitas e Caratas No incio da Idade Mdia, os Fariseus continuaram crescendo. Comearam a se chamar Rabinos e somente usavam o nome Fariseus ao recordar eventos histricos do perodo do Segundo Templo. No 7 sculo, o Imprio islmico invadiu o Oriente Mdio. Os muulmanos no tinham interesse em impor a prtica religiosa islmica aos Judeus e deram para eles certo grau de autonomia sob um sistema conhecido como o Exilarcado. O Exilarcado tinha sido fundado centenas de anos antes sob o governo Sassnida, mas at o momento s tinha influencia na Babilnia e Prsia. De um dia para outro os Rabanitas deixaram de ser um fenmeno Babilnico localizado a um poder poltico que se expandiu ao longo de grande parte do Oriente Mdio. Dos sculos 3 ao 5 os Rabanitas Babilnicos desenvolveram um corpo de lei religiosa conhecido como o Talmud Babilnico que impuseram a cada Judeu no Imprio.

    A resistncia aos Rabanitas foi feroz, sobretudo nas provncias orientais do Imprio, inclusive naquelas que nunca haviam ouvido falar do Talmud. Os relatos dos historiadores nos falam de lderes Judeus cuja resistncia contra o Talmud ps eles em conflito direto com o governo islmico que tinha autorizado aos Rabinos e tinha lhes dado autoridade sobre outros Judeus. Um lder da resistncia que se negou a aceitar o Talmud foi chamado Abu Isa al-Isphahani, de quem se diz que conduziu um exrcito de Judeus contra o governo muulmano.

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    Outras tentativas de descartar o Talmud tambm se empreenderam, mas todas falharam e os Rabanitas e seu Talmud pareciam imbatveis.

    Ento no 8 sculo um ltimo vislumbre de esperana apareceu em forma de um sutil lder chamado Anan ben David. Anan organizou vrios elementos anti-Talmdicos e pressionou ao Califado muulmano para que estabelecessem um segundo Exilarcado para aqueles que rejeitavam o Talmud. Os muulmanos concederam para Anan e para seus seguidores a liberdade religiosa para praticar o Judasmo de sua prpria forma. Anan reuniu um grande grupo de seguidores que chegaram a ser conhecidos como os Ananitas. Algum tempo depois da morte de Anan seus seguidores se uniram a outros grupos que professavam a f s no Tanach e assumiram o nome dos "Seguidores da Bblia" ou em Hebraico "Bnei Mikra". Posteriormente "Bnei Mikra" foi abreviado para "Karaim" ou em portugus "Caratas".

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    A Dependncia Psicolgica Lei Oral

    Uma comum afirmao Rabnica afirma que a Torah no mais do que o esqueleto, a estrutura da f judaica. Sua afirmao vai alm, afirmam que sendo um esqueleto, necessita de carne e sangue para faz-la vibrante e viva. Os Rabinos tm encontrado esta vibrao materializada em sua "Lei Oral". Contudo, uma investigao cuidadosa demonstra que a "Lei Oral" Rabnica no a carne e o sangue que dizem que a Torah no tem, porm o fracasso resultante ao no investigar nas Escrituras em busca de seu verdadeiro significado. Com a ausncia de tal busca, o Talmud chega freqentemente a concluses errneas em relao ao texto Bblico. A maior vergonha que dito para a maioria dos judeus que a Torah um documento incompleto e deve ser complementada com este acompanhamento Oral, e isto, apesar do claro ensinamento no prprio Tanach que garante: "A Torah de YHWH perfeita" (Salmos 19:8).2 Ento, esses estudantes sinceramente interessados em conhecer o verdadeiro significado de uma passagem se encontram psicologicamente dependentes da "Lei Oral". Sentem que as respostas no se encontram dentro do prprio Tanach e em conseqncia no empreendem os passos necessrios para encontr-las dentro do Tanach. A necessidade de uma "Lei Oral" para interpretar os mandamentos se torna ento, de auto-reforo, impedindo que a pessoa pesquise a prpria Bblia em busca de respostas. Tenha certeza, entretanto, que a maior parte do significado dos mandamentos e princpios pode ser determinada com uma pesquisa honrada e completa do texto. O que no pode ser determinado se deve a nossa incapacidade em recuperar o claro significado do texto, o qual estava disponvel ao simples Israelita no momento do recebimento da Torah.

    2 A palavra traduzida por "Perfeita" tambm tem o significado de "completa".

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    Esquadrinhai bem as Escrituras

    O principio fundamental do Carasmo o seguinte: "Esquadrinhe as escrituras e no confie em minha opinio". J que ao final, cada um de ns responsvel de nossas prprias decises e atos, importante que cada um de ns examine os problemas religiosos que concernem a nossa vida diria. Todavia, somos animados a buscar a opinio de outros, indispensvel que no aceitemos essas opinies sem comprovar que tenham sentido no contexto da narrativa Bblica. Inclusive, devem ser verificadas as interpretaes resultantes deste trabalho para se certificar de que so compatveis com a mensagem do Tanach. Uma mente aberta e um pesquisador motivado trabalhando com as ferramentas corretas gradualmente entender as complexidades da Bblia Hebraica e poder independentemente decidir quais so as interpretaes corretas.

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    Razes lgicas pelas que os Caratas rejeitam a Lei Oral.

    Antes de examinar as razes textuais pelas quais os

    Caratas crem somente na Torah Escrita, importante entender seus motivos lgicos.

    1. Ao longo da Bblia Hebraica, a palavra Torah (no sentido de corpus de Instruo Divina) usada sempre no singular. Se a Mishna3 fosse uma autntica Torah (oral), com toda certeza a existncia de duas Torot (plural de Torah) teria sido mencionada pelo menos uma vez em alguma parte nas Escrituras. Por outro lado, os Rabanitas afirmam especificamente que h duas Torahs, a Torah Escrita e a Torah Oral.4 Todavia, o termo Torah, com o sentido de "compilao da instruo Divina" nunca aparece no plural em todo o Tanach, todos os versculos que encontramos no Tanach ao respeito esto sempre no singular, a Torah de Moiss, nunca as Torahs de Moiss. 2. Ao longo das seis divises da Mishna no aparece a frmula Bblica: "E YHWH disse a Moiss e Aaro". Ao invs na Mishna aparece: "Tal Rabino disse a tal outro Rabino". Portanto a Mishna claramente palavras de homens.

    3 O Talmud est dividido em duas partes - a Mishnah e a Gemarah. A Mishnah a "Lei Oral" e a Gemarah um comentrio sobre a Mishnah. 4 "Nossos Rabinos ensinam que: Certo pago veio uma vez diante de Shammai e perguntou-lhe: quantas Torot existem? Duas, respondeu. A Torah Escrita e a Torah Oral". (Talmud Bavli, Shabbath 31a)

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    3. O Tanach nos informa que a Torah escrita se perdeu e foi esquecida (ambas as coisas) durante mais de 50 anos e depois foi redescoberta pelos sacerdotes do Templo (2 Reis 22:8; 2 Crnicas 34:15). inconcebvel que a Lei Oral pudesse ser recordada quando inclusive a Lei Escrita, da qual a Lei Oral depende para alcanar seu completo significado, foi esquecida. 4. Os Rabinos afirmam que a "Lei Oral" foi dada no Monte Sinai como a interpretao oficial da Torah. Mas, se algum olhar a Mishna e, o Talmud, ver que em realidade esto cheios de opinies de Rabinos que discordam entre si sobre quase todos os problemas. Os Rabinos explicam que sempre que existem certas discordncias, "ambas as opinies so palavras do Deus vivente". Mesmo que nos digam que possvel, que dois indivduos ilustrados alcancem diferentes concluses vlidas, a razo nos dita que ao menos um deles est equivocado. Os Caratas mantm que irracional acreditar que Deus contradiga a si mesmo.

    5. Os Rabinos mantm que a "Lei Oral" foi entregue a Moiss no Sinai. difcil de acreditar nisto j que a prpria Torah no foi entregue em sua integridade a Moiss e aos Israelitas no Sinai. Ao contrrio, foi entregue aos Israelitas no deserto, em uma srie de revelaes ao longo de um perodo de mais de 40 anos. Cada revelao tomou uma forma similar a do versculo seguinte: "Falou YHWH a Moiss no deserto do Sinai, no primeiro ms do segundo ano de sua sada da terra do Egito, e lhe disse: .... "(Nmeros 9:1). Se os Rabinos tm a razo isto significa que Moiss aprendeu a "Lei Oral" e sua explicao dos versculos chave antes que ele tivesse aprendido estes versos chave!

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    Razes textuais pelas quais os Caratas rejeitam a Lei Oral

    As objees lgicas "Lei Oral" no teriam sentido se no fossem apoiadas em firmes evidncias Bblicas. Frequentemente lhes damos alguns dos muitos exemplos que demonstram que a Lei Escrita a nica instruo de Deus dada aos Israelitas: 1) Ento YHWH, teu Deus, te far prosperar..., porque YHWH tornar a alegrar-se de ti para bem, da maneira que se alegrou de teus pais, quando obedeceres a voz de YHWH, teu Deus, e guardares seus mandamentos e seus estatutos escritos neste livro da Lei (Deuteronmio 30:9-10). 2) e Moiss escreveu esta Lei e a entregou aos sacerdotes, filhos de Levi... (Deuteronmio 31:9). 3) Quando todo Israel ir para se apresentar diante de YHWH, teu Deus no lugar que ele escolha, tu lers esta Lei diante de todo o Israel, para que todos eles escutem. (Deut. 31:11). 4) Nunca se afastar de tua boca este livro da Lei (Torah), porm de dia e de noite nele meditars, para guardares e fazeres conforme a tudo o que nele est escrito. (Josu 1:8). 5) Depois disto leu todas as bnos e as maldies, conforme a tudo o que est escrito no livro da Lei. No houve nenhuma palavra de tudo o que Moiss ordenou, que Josu no leu diante de toda a congregao de Israel, diante das mulheres, das crianas e dos estrangeiros que habitavam entre eles. (Josu 8: 34-35).

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    Este ltimo versculo seria o resumo perfeito de toda a argumentao Carata. Declara explicitamente que Josu leu todas e cada uma das palavras que Moiss ordenou ler. "Ler" algo implica que este algo est escrito. Neste caso, o versculo indica que ele leu o texto "assim como est escrito". Se Moiss tivesse dado uma segunda "Torah Oral" aos Israelitas, Josu no poderia "ler" todas as palavras que Moiss tinha ordenado. Alm disso, o versculo 1 afirma que a nica coisa que ns devemos fazer para que YHWH se agrade de ns, seguir os mandamentos escritos. Isto nega a importncia de uma suposta "Lei Oral", j que Deus no daria uma "Lei Oral", que como os Rabinos afirmam religiosamente obrigatria, e logo negaria sua importncia. Em conjunto estes versculos provam que os Israelitas receberam uma nica lei de YHWH, que todas as palavras da lei foram escritas de modo que pudessem ser lidas e obedecidas pela nao de Israel para ganhar o favor de YHWH.

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    Afirmaes Talmdicas e Respostas Caratas

    Discutindo este problema com estudantes do Talmd, algum se encontrar invariavelmente com muitas das tpicas afirmaes Rabnicas sobre versculos que eles crem que aludem "Lei Oral" ou que ao menos necessitam de um acompanhamento oral que explique o versculo. Inclusive se algum encontra algum destes versculos no conjunto da Bblia Hebraica, algum encontrar que estes versculos realmente no fazem referncia "Lei Oral", nem precisam de uma Lei Oral para sua compreenso. Afirmao #1: "-nos dito para matarmos os animais como Deus ordenou, todavia, em nenhuma parte do Tanach inteiro Deus nos diz como matar os animais". Resposta: Para tentar demonstrar a existncia da "Lei Oral" os estudantes do Talmud constantemente citam Deuteronmio 12: 21 que afirma: "... poders matar das vacas e das ovelhas que YHWH tenha te dado, como eu te mandei ...". Os Rabinos afirmam que a frase "como eu te mandei" se refere s partes da "Lei Oral" que explicam os mtodos apropriados de matar um animal. Existem muitos requisitos expostos no Talmud sobre o modo "apropriado" de matar um animal; todavia, estes so os costumes daqueles que escrevem o Talmud ao invs das leis de Deus. O aspecto mais equivocado da afirmao de que esta passagem se refere a uma suposta lei oral que ignora o contexto da passagem. No menos de 5 versculos antes vemos que a prpria Torah dita como devemos matar os animais: "Poders sacrificar e comer a carne... conforme a teu desejo... s que sangue no comereis; sobre a terra o derramareis como gua. (Deuteronmio 12: 15-16).

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    Disto, aprendemos que para matar um animal apropriadamente devemos faz-lo de maneira que verta seu sangue na terra - em oposio a permitir que seja endurecido nas veias do animal sacrificado. Esta leitura confirmada pelas linhas posteriores relacionadas com o prprio versculo em questo: "Portanto, te mantenhas firme em no comer sangue, porque o sangue a vida, e no comers a vida junto com a carne..." (Deuteronmio 12: 23). De fato, este versculo declara que o nico requisito em relao ao abate, no contexto desta passagem, o de ns no comermos o sangue. Ao matar um animal de modo que o sangue deixe suas veias, assim como Deus ordenou, ns evitamos consumir o sangue do animal, seguindo o mandamento de Deuteronmio 12: 15-16. Afirmao #2: "De fato h lugares onde a palavra Torah usada em sua forma plural (Torot), ento ..., como os Caratas podem afirmar que no h nenhuma referncia a duas Torot na Bblia?". Resposta: Mesmo que a palavra Torah aparea em sua forma plural ao longo da Bblia Hebraica, o termo Torah, no sentido de corpo coletivo de leis dado por Deus, s usado no singular. Compare os versculos seguintes para ver a diferena entre o uso da palavra no sentido de uma instruo especfica e o uso da palavra no sentido da coleo de leis divinas. Versculos do Tipo 1: A palavra Torah usado no singular ao referir-se Torah, o conjunto de instrues de Deus: "E Moiss escreveu esta Lei (Torah), e a entregou aos sacerdotes, filhos de Levi ... (Deuteronmio 31:9). Aqui a palavra Torah foi traduzida como "lei", em referncia ao conjunto total de obras que Deus ordenou a Moiss que escrevesse. O termo Torah nunca usado no plural em casos como os do Tipo 1. Se voc desejar ver mais versculos deste tipo, veja: Textos Base pelos quais os Caratas rejeitam a "Lei Oral".

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    Versculos do Tipo 2: O singular de Torah usado com um significado diferente ao do total de Torah: "Esta , pois, a Torah [a introduo] de Nazir no dia que se cumprir o tempo de seu nazirato: Vir a porta da Tenda da reunio". (Nmeros 6: 13) claro que aqui todavia a palavra Torah usada no singular, no se refere a Instruo coletiva de Deus, isto , no se refere a Torah. Os versculos do Tipo 2 se referem s leis especficas tais como aquelas que tm a ver com animais, indivduos, ou grupos. Se voc desejar ver mais versculos deste tipo, veja Nmeros 5: 29-31, Levtico 7:1, e Levtico 11: 46-47. Versculos do Tipo 3: Aqui a palavra Torah no plural usada com um significado diferente ao do conjunto da Torah: "Estes so os estatutos, ordenanas e os ensinamentos (v' hatorot) que YHWH estabeleceu entre ele e os filhos de Israel no Monte Sinai por meio de Moiss" (Lev. 26: 46). Aqui a palavra Torah usada em sua forma plural; no entanto, aqui esta "Torah" qualitativamente diferente da Torah dos versculos do tipo 1, isto , no se refere a Torah. Ns vemos que este versculo usa a palavra Torah com o significado de instrues gerais ou ensinamentos contidos na Torah. Ns entendemos isto a partir de seu contexto j que usado com as palavras "ordenanas" e "estatutos" que tambm se refere a artigos contidos na Torah. Todos os versculos que se referem ao plural de Torah so deste tipo. Alm disso, nos dito que estes ensinamentos (torot) foram escritos de modo que nos chegaram da mo de Moiss. Ento, no podem estar referindo-se a "Lei Oral". Outros versculos deste tipo: xodo 18:20 e Neemias 9: 18. Para resumir, o termo Torah significa "ensinamento, lei". Pode referir-se a uma lei especfica, como em "Esta a Torah do sacrificio pela culpa" (Levtico 7: 1), ou pode se referir ao corpo coletivo de lei divina, como em "o livro da Torah de Moiss". (Josu 8: 31).

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    Quando aparece no plural como "Torot", est sempre formando parte de uma serie de palavras em relao a leis especficas: "e lhes destes juzos retos, Torahs verdadeiras, e estatutos e mandamentos bons". (Neemias 9:13). Obviamente neste ltimo versculo a palavra Torah um sinnimo de mandamento, estatuto, etc., e se refere a leis especficas, no ao corpo coletivo da instruo divina. As pessoas que interpretam este versculo como uma referncia a lei "Lei Oral" tambm teriam que defender que "os estatutos e mandamentos" se referem a mltiplos corpos de lei (pelo menos 4, j que os dois esto no plural!). Estes versculos s tem sentido se todos estes termos esto se referindo a palavras diferentes em relao a leis especficas. Afirmao #3: "No Livro de Daniel ns vemos que Daniel orava trs vezes ao dia voltado em direo a Jerusalm. Isto algo que ele aprendeu da "Lei Oral" j que no ordenado na Torah". Resposta: De fato, Daniel 6:11 afirma: "entrou em sua casa; abertas as janelas de seu quarto que davam para Jerusalm, se ajoelhava trs vezes ao dia, orava e dava graas diante de seu Deus...". Uma afirmao comum dos estudantes do movimento Rabnico que j que a Torah no nos diz para orarmos em direo a Jerusalm ou quantas vezes ao dia devemos orar, estas coisas s poderiam ser conhecidas graas lei oral. Esta afirmao ilustra uma diferena significante entre os Caratas e os Rabanitas. Os Caratas acreditam que cada palavra e, cada exemplo do Tanach est ali por alguma razo, ento os Caratas usam todo o Tanach para deduzir princpios religiosos e o significado dos mandamentos, enquanto que os rabanitas geralmente se limitam somente a Torah e ao Talmud. verdade que a Torah no menciona que ns devemos orar com o rosto voltado para Jerusalm, mas o conceito vem da dedicao do Primeiro Templo de Salomo.

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    Provavelmente falando sob a inspirao divina, Salomo diz que quando ns estamos cativos em uma terra estrangeira ou estamos fazendo a obra de Deus em uma terra estrangeira, ns podemos orar em direo a Jerusalm de modo que Deus mantenha nossa causa. Salomo declara: Se teu povo sair para a batalha contra seus inimigos pelo caminho que tu lhes mandares, e orarem a YHWH com o rosto voltado para a cidade que tu escolheste e em direo a casa que eu edifiquei ao teu nome, tu ouviras nos cus sua orao e sua splica, e lhes far justia. (1 Reis 8:44-45). Como resultado, todos os judeus fora de Jerusalm oram em direo a Jerusalm. Esta ideia tambm ilustrada em Salmos 138:2: "Prostrar-me-ei em direo ao teu Templo Sagrado...". A respeito do nmero de oraes dirias, h muitas opinies boas. Daniel escolheu orar trs vezes ao dia, enquanto que a pessoa que escreveu Salmos 119 orava a Deus sete vezes ao dia (Salmos 119:164 e 169-176). Disto aprendemos que o nmero de vezes que uma pessoa deve orar a Deus ao dia depende do individuo. Hoje em dia, j que as oraes so um substituto dos sacrifcios (veja Osias 14:3; Salmos 141:2), ns devemos orar pelo menos duas vezes ao dia, de domingo a sexta-feira e trs vezes por dia no sbado. J que eram oferecidos dois sacrifcios e um sacrifcio Sabatino especial oferecido no Shabat. Finalmente, o livro de Daniel ilustra um ponto a mais que h para ressaltar. Ao orar, Daniel se prostrava totalmente (isto , ele orava de joelhos). Nos tempos Bblicos a prostrao plena, era quase sinnimo de orao (veja tambm Salmos 95:6 e Salmos 138:2). Nas terras Orientais at o final do Perido Medieval os Rabanitas oravam prostrados plenamente. Atualmente, nas Congregaes Rabanitas muito Ortodoxas, em Yom Kippur toda a congregao se prostra totalmente. At o dia de hoje, os Caratas praticam a prostrao plena em suas oraes.

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    Exegese Carata: Tefillin e Mezuzot

    O termo exegese bblica significa explicao ou anlise crtica/interpretao da Bblia. O Carasmo interpreta a Bblia considerando todas e cada uma das evidncias bblicas que possa dispor. Como foi mencionado nas pginas anteriores, os Caratas no entendem a Bblia literalmente. Um exemplo disto encontrado nos versculos da Bblia relacionados com os Tefillin Rabanitas. Os versculos em questo dizem assim: - Ser como um sinal em tua mo e como um Zicharon (memorial) diante de teus olhos. (xodo 13:9) - Ser, pois, como um sinal em tua mo e Totafot (como um memorial) diante de teus olhos. (xodo 13:16) - As atars como um sinal em tua mo, e estaro como Totafot (frontais) entre teus olhos. (Deuteronmio 6:8) - E as atareis como sinal em vossa mo e sero como Totafot (insgnias) entre vossos olhos. (Deuteronmio 11:18) Vemos que em uma das quatro passagens "relacionadas com Tefillin" a palavra Totafot (que os Rabinos traduziram arbitrariamente como "frontais") substituda com a palavra Zicharon. A palavra Zicharon quer dizer "lembrana" ou "recordao" e indica que ns devemos recordar cumprir as Palavras de Deus como se estivessem situadas entre nossos olhos. Isto o que indubitavelmente entenderam os antigos Israelitas, sendo que vemos frases similares de uso metafrico ao longo do Tanach. Por exemplo, do mesmo modo que o Tanach nos ordena escrever as palavras nos umbrais de nossas portas (Deut. 6:9), tambm diz para escrevermos nas tbuas de nosso corao (Provrbios 7:3). J que o significado de escrev-las nas tbuas de nosso corao evidentemente metafrico, tambm devemos concluir que o mandamento de escrev-las nos umbrais das portas de nossa casa tambm metafrico.

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    Em ambos os casos, entender o versculo "literalmente" requereria o ato impossvel de escrever a maior parte da Torah em um espao to minsculo.5 Note nos versculos seguintes como os Israelitas usaram frases similares daquelas das "passagens relacionadas com Tefillin" para denotar imagens claramente metafricas: - Escuta filho meu, a instruo de teu pai e no abandones a Torah de tua me, porque adorno de graa sero em tua cabea, e colares em teu pescoo. (Provrbios 1: 8-9) - Nunca se afastem de ti a misericrdia e a verdade: at-las em teu pescoo, escreve-las na tbua de teu corao. (Provrbios 3:3) - Guarda filho meu, a Mitzvot de teu pai e no abandones a Torah de tua me. At-los sempre em teu corao, enla-los em teu pescoo. (Provrbios 6:20-21) - Guarda meus mandamentos e vivers, e guarda minha Torah como a menina de teus olhos. At-los em teus dedos, escrev-los na tbua de teu corao. (Provrbios 7:3) - Porei minha lei em sua mente e a escreverei em seu corao. (Jeremias 31:33) Alm disso, as prprias passagens em que aparecem os chamados Tefillim empregam toda uma srie de recursos metafricos. Como por exemplo, "... que a lei de YHWH esteja em tua boca". (xodo 13:9) e "colocareis estas minhas palavras em vosso corao e em vossa alma". (Deut. 11:18) Considerando o contexto das "passagens relacionadas com os Tefillin" e os versculos anteriores, seria apropriado traduzi-los como segue: - Ser como um sinal em tua mo e como um memorial (Zicharon) diante de teus olhos. (xodo 13:9)

    5 O texto sagrado no faz a menor meno de que somente devam ser escritas umas poucas frases. Ao contrrio, feito referncia a: "Estas palavras que eu te ordeno hoje" se referindo ao longo discurso exortativo de Moiss descrito passo a passo em Deuteronmio 1 ao 30.

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    - Ser, ento, como um sinal em tua mo e como um memorial (Totafot6) diante de teus olhos. (xodo 13:16) - As atars como um sinal em tua mo, e sero como lembrana (Totafot) entre teus olhos. (Deuteronmio 6:8) - As atareis como sinal em vossa mo e sero de recordao (Totafot) entre teus olhos. (Deuteronmio 11:18) A concluso que chegam os Caratas desta anlise que nunca existiu nenhum mandamento que ordenasse usar Tefillin ou colocar Mezuzot nas portas. Estes versculos ilustram a importncia de considerar sempre os mandamentos para que possamos cumpri-los. O singular da palavra "Totafot" usado no Hebraico da Mishna referindo-se a certo tipo de toucado ou tiara. Alguns relacionaram a palavra Totafot com a palavra Hebraica Netifa que significa "que pendura", enquanto que a maioria das concordncias o tem relacionado com a raiz Hebraica raramente usada que significa "rodear". Cada uma das trs possibilidades redunda no significado metafrico da passagem..7

    6 O singular da palavra "Totafot" usado no Hebraico da Mishna referindo-se a certo tipo de toucado ou tiara. Alguns relacionaram a palavra Totafot com a palavra Hebraica Netifa que significa "que pendura", enquanto que a maioria das concordncias o tem relacionado com a raiz Hebraica raramente usada que significa "rodear". Cada uma das trs possibilidades redunda no significado metafrico da passagem. 7 O dicionrio cientfico do hebraico bblico Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon, escreve sobre a palavra totafot: Este mandamento, originalmente figurado para a lembrana perpetua, foi tomado literalmente pelos judeus posteriores e de a vem o costume de colocar filactrias. (p.378).

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    Perguntas Frequentes 1) Os Caratas crem que todo o contedo no Talmud est equivocado? No: Afirmar que cada interpretao contida no Talmud est equivocada seria o mesmo que afirmar que uma determinada viso est equivocada simplesmente por ser dos Caratas. Este no um procedimento apropriado de debate, nem conduz a encontrar a verdade que h atrs de alguns assuntos tratados no Tanach. Ao avaliar uma interpretao, deve-se olhar a interpretao ao invs da pessoa que mantm tal interpretao. Sendo assim, apropriado dizer que devemos olhar a mensagem e no ao mensageiro. Por outro lado, ler o Talmud e consider-lo como a palavra final em relao aos problemas que baralharmos inaceitvel especialmente porque constantemente o Talmud tira concluses desprovidas de apoio Bblico. 2) Como que os Caratas discordam das interpretaes dos milhares de Rabinos que tm lido a Bblia e das palavras do Talmud que tm resistido a prova do tempo?

    O nmero de Caratas ou Rabanitas que sustentam uma determinada opinio no importante se a opinio est equivocada. Uma pergunta similar pode ser feita sobre o porqu os Judeus escolhem no aceitar a Jesus quando tantos Cristos o fazem. Certamente, nenhum Rabino mudar suas crenas simplesmente porque, em relao populao mundial, os Cristos superam em nmero aos Judeus. Alm disso, a existncia/sobrevivncia de um texto no prova de veracidade. Sua capacidade para superar a prova do tempo normalmente no um bom indicio para que algum deva extrair princpios de vida que sirvam de guia. O fato de que o Talmud estivera durante muito tempo no Judasmo Rabnico no deve convencer a ningum de sua autenticidade como palavra de Deus.

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    O Novo Testamento Cristo tem sobrevivido durante 1900 anos e inclusive mais velho que o Talmud! Mas apesar disto nenhum Rabino o aceitaria como "a verdade" somente porque tem sobrevivido durante tantos sculos.

    3) Os Caratas so considerados Judeus?

    Sim: Os Caratas crem em um Deus, na origem divina dos 24 livros da Bblia Hebraica, e na vinda de um Messias. Os Caratas so reconhecidos como Judeus pelo estado de Israel. Alm disso, cada israelita tem um carto de identidade e neste carto de identidade est registrada a afiliao religiosa/tnica do possuidor. O carto de identidade que pertence a um Carata registra "Judeu" no espao reservado para sua afiliao religiosa/tnica. Os Caratas tambm so beneficiados pelo Direito Israelita de Retorno - o direito de todos os Judeus onde quer que residam, de voltar para Israel e obter a cidadania imediatamente-. Recentemente o governo de Israel publicou um selo em honra dos Judeus Caratas. Os inexorveis seguidores da tradio Rabnica, no entanto, defendero que os Caratas no so Judeus. Existem duas razes em que eles amparam esta afirmao. Uma que os Caratas simplesmente no seguem as "leis" dos Rabinos. A outra que os Caratas ao longo da histria tenderam a seguir o modelo Bblico no reconhecimento da genealogia patrilinear - a crena que a condio de Judeu (ou mais especificamente de Israelita) transmitida atravs do pai. Os Rabinos, por outro lado, reconhecem a linha matrilinear - a crena que algum Judeu se sua me judia. Consequentemente, se um homem Carata se casasse com uma mulher no judia, os Rabinos no considerariam a criana Judia, enquanto que os Caratas sim considerariam a criana Judia.8 8 E vice-versa, se uma mulher Rabanita se casasse com um homem no Judeu, alguns Caratas no considerariam seus filhos como Judeus.

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    As duas afirmaes que os Rabinos fazem ao dizer que os Caratas no so Judeus so afirmaes desafortunadas. Os Caratas geralmente consideram aos Rabanitas como Judeus e ao invs de focalizar os debates sobre se os Rabanitas so ou no Judeus, os Caratas colocam sua ateno em alcanar a correta compreenso dos mandamentos da Torah. A mesma diviso que os Ortodoxos tm mostrado ao dizer que os Caratas no so Judeus tambm tem guiado as grandes disputas dentro do movimento Rabnico ao se negar a reconhecer aos Reformistas ou inclusive aos Conservadores como Judeus. Para que o movimento Judaico possa avanar em direo a um caminho de unidade e entendimento da Torah, no devemos nos excluir uns aos outros nos chamando de "no Judeus". Ao contrrio, em ordem para podermos alcanar uma terra comum, devemos permitir um debate to livre como for possvel em temas relacionados com nossa observncia cotidiana como Judeus. Sem levar em conta que certo Carata, Rabanita, ou a autoridade poltica pudesse afirmar sobre quem Judeu, o modelo Bblico sugere que qualquer varo que 1) se circuncida, [e qualquer pessoa que] 2) aceita ao Deus de Israel como seu prprio Deus, e 3) aceita ao Povo de Israel como seu prprio Povo um autntico Judeu [Israelita]. (Veja em xodo 12:43-49 e Rut 1:16). 4) Os Caratas seguem a Bblia literalmente? No: Como se tem dito nas passagens do inicio, cada palavra da Torah (e inclusive de toda a Bblia Hebraica) est sujeita a interpretao. Esta interpretao deve estar, todavia de acordo com o resto da Bblia e tambm deve estar de acordo com o claro significado do texto que estivera disponvel ao Israelita comum no momento do recebimento da Torah. De fato, existem exemplos onde so os Rabinos que fazem uma interpretao

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    "literal" dos mandamentos enquanto que os Caratas sempre os entenderam com um sentido "metafrico". (Veja: Exegese Carata: Tefillin e Mezuzot. Um Exemplo Prtico). Lemos em Deuteronmio 31: 12-13 que a Torah devia ser lida em cada stimo ano diante da congregao de todo Israel - homens, mulheres, e crianas-. Em uma era em que os livros escritos eram raros, esta leitura pblica era uma fonte primria para aprender a Torah. Em consequncia, devemos assumir que qualquer interpretao que fizermos de um texto Bblico, deveria ter sido clarssima para o antigo Israelita presente nessa leitura pblica, do contrrio essa interpretao no correta. Isto no exige estendermos uma ponte de 3500 anos no idioma e cultura. Para fazer isto ns devemos estudar em todo o Tanach empregando mtodos cientficos de Lingstica Hebraica e exegese contextual. 5) Os Caratas no tm seus prprios costumes? Sim, mas no passam disto - costumes -. Qualquer Carata que tente converter estes costumes em lei est violando o mandamento da Torah que probe acrescentar ou subtrair a palavra de Deus. (Deuteronmio 4:2). A mesma afirmao vlida para os Rabanitas que convertem os costumes Rabnicos em lei. 6) Sendo que os Caratas no tm Rabinos, que ttulo dado para aqueles que possuem conhecimento do Tanach? Na tradio dos Caratas, tais pessoas so chamadas de Hakhamim (Homens ou Mulheres Sbios) ou Hakham (Homem Sbio)/Hakhama (mulher sbia). O ttulo de Hakham, ao contrrio do de Rabino ou Sacerdote, no denota uma posio clerical, porm indica que algum alcanou certo nvel de conhecimento a respeito do Tanach. Para ser um Hakham, necessrio ter um profundo conhecimento de lingstica, dominar as complexidades do Hebraico Bblico, e

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    deve manejar com facilidade os diferentes meios para a anlise Bblica. Algo muito interessante que enquanto os Rabanitas Ortodoxos no permitem que uma mulher se torne Rabina, uma mulher, sim, pode tornar-se Hakhama. De fato, no sculo 10, muito antes do modernismo, o lder da proeminente e poderosa comunidade Carata da Espanha foi uma mulher a quem os Caratas chamavam "Mestre [al-Mualema]". 7) No verdade que Anan ben David (Hanasi) inventou o Carasmo no sculo 8? Como foi dito na Histria do Carasmo, sempre houve uma continuidade de Judeus que no acreditaram no Talmud. Anan deu-lhes simplesmente unidade representando-lhes diante das autoridades muulmanas. Isto provocou sua liberdade para praticar o Judasmo ao modo de seus antepassados o qual lhes fora negado previamente sob a perseguio do Exilarcado Rabbanita. 8) Os Caratas acendem as Velas de Shabbat? No: Os Caratas sempre creram que no permitido acender nenhum tipo de fogo no Shabbat. Ao contrrio da beno Rabnica que afirma, "Bendito sejas tu, Senhor, nosso Deus, Rei do Universo que nos santificas com Teus mandamentos e nos ordenaste acender as Velas de Shabbat", em nenhuma parte da Torah escrita ou inclusive na "Lei Oral" Rabnica aparece um mandamento que ordene acender as Velas de Shabbat. Todavia a Torah probe este ato. Sendo que nos ordenado no acrescentar ou tirar das palavras da Torah (cf. Deuteronmio 4:2). (Para uma anlise tcnica deste problema, por favor, leia o Apndice A.)

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    O Calendrio Bblico

    O Amadurecimento da Cevada e a fixao do Ano Novo

    A Bblia indica que o primeiro ms do ano coincide com a primeira lua nova depois de que a cevada estiver madura (Hebraico: Aviv). Isto chamado de o ms de Aviv e o ms em que abandonamos o Egito. No dia 15 deste ms comea a Pscoa9 (xodo 12:2, xodo 13:4, xodo 23:15).

    Em alguns anos, temos que esperar um ms lunar extra (chamado ms bissexto) para que a cevada esteja madura. Os Rabinos, no tempo em que no tinham acesso a terra de Israel, desenvolveram um sistema para aproximar-se ao mtodo de madurao da cevada. Os Rabinos adotaram um ciclo de 19 anos que acrescenta a cada segundo ou terceiro ano um ano bissexto (ano de 13 meses lunares), tendo um total de sete anos bissextos distribudos ao longo do ciclo de 19 anos. Por outro lado, at o sculo 18, os Caratas do Egito, Sria, e Israel enviavam observadores ao longo da terra de Israel para examinar o estado da cevada. Os Caratas que viviam em pases distantes da Terra de Israel realmente eram incapazes de seguir Aviv; no entanto, o reconheciam como o verdadeiro calendrio. Quando o viajante ocasional do Oriente Mdio atravessava estas distantes comunidades Caratas, perguntava a respeito de Aviv e ajustavam as festas de acordo com a informao subministrada nesse ano.

    9 A palavra Pesach, normalmente traduzida como Pscoa, se refere exclusivamente ao Sacrifcio de Pscoa. A festa conhecida como Pscoa, em Portugus, mencionada na Bblia como Hag Hamatzot, a Festa dos Pes Azimos. Para evitar confuses, quando nos refiramos festa neste trabalho usaremos o termo Pscoa ou ento Festa dos Pes zimos, e para referir-nos ao sacrifcio usaremos o termo Sacrifcio de Pscoa.

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    Tambm declaravam que em quanto suas comunidades fossem abenoadas com a volta para a Terra de Israel, voltariam imediatamente a seguir e guardar as festas de acordo com o mtodo Bblico de Aviv.

    De fato, at o 2 sculo d.C. os Rabanitas continuaram guardando o calendrio de Aviv. Mesmo que os Rabanitas complementavam a observao da cevada com seus clculos astronmicos do equincio (que eles aprenderam de astrlogos) e com outros fatores - no Bblicos - cujo uso os Caratas objetam, no entanto os escritos revelam que eles reconheciam que a cevada tem uma importncia especial na hora de intercalar o ano. Uma Brayta (sculo 2 d.C. de origem Tanaitica) citada no Talmud Babilnico diz o que segue:

    Nossos Rabinos ensinaram: O ano intercalado baseado em trs coisas: em Aviv, nas frutas das rvores, e no equincio. Baseado em duas delas o ano intercalado, mas baseando-se apenas em uma o ano no intercalado. E quando Aviv uma delas todos estamos satisfeitos. (Sindrio Bavli 11b)

    Outra Brayta relata:

    Nossos Rabinos ensinaram: O ano intercalado baseado em [Aviv] em trs regies: Judia, Transjordnia, e Galilia. Baseado em duas delas o ano intercalado, mas baseado em somente uma delas o ano no intercalado. E quando a Judia uma delas todos estamos satisfeitos porque a Oferenda do Omer [A Oferenda do feixe de Cevada] s pode vir da Judia. (Sindrio Bavli 11b)

    Assim, inclusive a literatura Rabnica da nfase a importncia do grau de amadurecimento da cevada na hora de determinar o comeo do Novo Ano.

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    A Lua Nova

    Uma caracterstica dos Caratas observantes sempre tem sido seu cumprimento da prtica Bblica de usar o mtodo fsico de viso da lua para declarar os novos meses e fixar as datas das festas. Originalmente os Rabanitas tambm seguiam este calendrio e discutido seu alcance no Talmud (veja Mishnah Rosh Hashanah). Os Rabanitas continuaram com o mtodo de observar a apario da Lua Nova at pelo menos o 2 Sculo d.C., mas gradualmente o substituram com os primitivos clculos com os que tentavam se aproximar ao ciclo lunar.10 Em contraste, os Caratas permaneciam fieis ao verdadeiro calendrio Bblico e continuaram seguindo o mtodo de observao da Lua Nova ao longo da idade media. O compromisso dos Caratas com o calendrio Bblico estava to inculcado em sua conscincia que tinha se incorporado um juramento solene a sua cerimnia de casamento "guardar os tempos Santos ordenados segundo a visibilidade da Lua Nova e a constatao de Aviv (madurao das espigas da cevada) na Terra de Israel". Do mesmo modo, nas Grandes Festas, a congregao de Caratas declarava a verdade do calendrio em relao Lua Nova e Aviv.

    A Bblia indica claramente que a lua determina o calendrio Bblico. A evidncia disto vem do Salmo 104:19 em que declarado: "Fez a lua para os Mo'adim [os tempos indicados]." Guardar as festas em seu momento correto um mandamento direto da Torah, como est escrito: "Estes so os Mo'adim [os tempos indicados] de YHWH, as reunies santas que convocareis nas datas indicadas [Mo'adam]" (Levtico 23:4). Durante a maioria dos servios nas festas Caratas, este versculo lido em voz alta pelo hazzan e repetido por toda a congregao expressando a adeso dos Caratas a este claro mandato bblico.

    10 Hoje em dia pode ser feita predies muito mais exatas.

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    Na poca em que os Israelitas no tinham acesso dirio a Terra de Israel, os Rabinos desenvolveram um sistema para calcular com aproximao a nova apario da lua. Hoje, no entanto, agora que ns temos acesso Terra de Israel, podemos retomar o mtodo de avistamento da lua em vrios lugares de Israel. Estes novos avistamentos da lua revelam que os clculos Rabnicos para o calendrio so constantemente incorretos.

    Quando se pergunta por que no mudam seu mtodo de determinar a lua nova pelo real mtodo de avistamento lunar, os Rabinos frequentemente respondem que s o Sindrio11 pode declarar uma lua nova.12 Sendo que hoje no temos o Sindrio, eles vo mais alm a suas afirmaes afirmando que devemos seguir os clculos Rabnicos que tm predito as luas novas. Esta a ideia apresentada no seguinte artigo do Chabad, o movimento Judaico, com respeito ao comeo da Pscoa:

    ... se existisse um Sindrio hoje, o prximo Dia de Lua Nova de Nisan no cairia no domingo [no dia 25 de maro de 2001], porm na tera-feira [no dia 27 de maro de 2001], sendo que a primeira ocasio possvel para ver a Lua Nova ser na segunda-feira [noite].

    (Extrado de uma entrevista com o experto em Lua Nova o Dr. Roy Hoffman da Universidade Hebraica de Jerusalm em Tse'irei Chabad [o Movimento Chabad Juvenil], Sichat Hashavua, Parashat Vayakhel-Pekudei, 5761 [Assunto No. 742] p.4)

    Muito interessante, o Dr. Hoffman tinha razo e a lua nova foi vista na segunda-feira pela noite quando ele (e os Caratas) tinham predito. 11 O Sindrio era um conselho de ancios no antigo Israel. 12 Ironicamente, os Rabinos afirmam que somente o Sindrio pode declarar uma lua nova, quando, ao mesmo tempo, so eles que instituram um sistema que arbitrariamente (que ningum se sinta ofendido) declara as luas novas.

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    Ento, os Caratas observantes celebraram o inicio da Pscoa na segunda-feira de noite, enquanto que Os Rabanitas a celebraram no sbado noite - dois dias antes. As implicaes disto so serias sendo que nos ltimos dias de Pscoa baseados na visibilidade da lua, os Rabanitas estavam comendo po fermentado! por este motivo que os Caratas no podem adotar o calendrio Rabnico e devem continuar usando o mtodo de observao da lua nova.13

    Mesmo que o calendrio dos Rabanitas serviu para uma necessidade das comunidades judaicas distantes de Israel em um momento em que os judeus estavam desterrados de Israel, agora devemos, sendo que temos acesso a Terra de Israel, voltar ao mtodo de observao fsica da cevada e da lua.

    Shavuot

    Outro problema significativo que divide aos Rabanitas e os Caratas em relao ao calendrio Bblico a localizao de Shavuot - A Festa das Semanas. Deus nos disse que contssemos 50 dias (com Shavuot que o 50 dia) a partir do momento da Pscoa. Os Caratas e os Rabanitas concordam neste ponto. Contudo discordam sobre quando se inicia realmente a contagem. A Torah declara o seguinte:

    Contareis sete Shabbats completos [em Hebraico: Shabbatot] do dia que seguir ao sbado [em Hebraico: Shabbat], desde o dia em que oferecestes o Omer [Feixe] de oferta de movimento. At o dia seguinte ao stimo Shabbat [Hebraico: Shabbat] contareis cinquenta dias... Neste mesmo dia convocareis uma santa reunio." (Lev. 23:15-16, 21).

    13 Inclusive os Caratas pensavam, em esperar a apario fsica da lua nova para determinar suas festas, sendo que conhecido com um grau de certeza muito alto quando a lua nova vai ser visvel na maioria dos meses, o qual torna fcil preparar de antemo as festas.

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    Os Caratas creem que o Shabbat ao que feito referencia na primeira linha o Shabbat (da noite de sexta-feira at a noite de sbado) com o qual se conclui a semana.

    Eles acreditam que a contagem dos cinquenta dias at o inicio de Shavuot o primeiro domingo durante a Pscoa, isto , o dia seguinte depois do Shabbat.14 Os Rabinos e os Fariseus, anteriores a eles, acreditam que a palavra o Shabbat na primeira linha se refere ao primeiro dia da Festa de Pes zimos, mesmo a palavra o Shabbat em outras linhas ser traduzido como semanas. Assim, segundo a contagem Rabnica, Shavuot sempre cai no dia 6 de Sivan que 50 dias depois do primeiro dia da Festa dos Pes zimos. Para os Rabanitas o dia da semana em que comea Shavuot varia de ano em ano. Por outro lado, os Caratas sempre celebram Shavuot no domingo, sendo que este o dia depois do stimo Shabbat. Para os Caratas a data de Shavuot varia de ano em ano.

    Seguidamente esto os clssicos argumentos Caratas sobre a localizao de Shavuot:

    1) Shavuot a nica festa da Bblia Hebraica da qual no fixada uma data. Em troca no ordenado contarmos os dias at Shavuot. Se Deus quisesse que ns celebrssemos Shavuot na mesma data todos os anos, teria ordenado na Torah que celebrssemos Shavuot em determinada data, tal e como fez com as demais festas. S tem sentido que no fosse dada nenhuma data para Shavuot se a data variasse todos os anos devido a que o perodo de tempo especificado partisse de um ponto no fixo.

    14 Se o primeiro dia da Festa dos Pes Azimos comear na noite de um Sbado como acontece no livro de Josu, ento a contagem comea este dia. (Compare Josu 5:11 com Levtico 23:14).

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    2) A interpretao Rabnica requer que a primeira apario da palavra o Shabbat se refira ao primeiro dia da Festa de Pes zimos. Mesmo que teoricamente pudesse estar referindo-se ao primeiro dia de Pscoa, sendo que o trabalho proibido para este dia, a Torah nunca descreve este dia como um Shabbat, com feito com respeito Yom Kippur, nem tampouco descrito como um Shabbaton; como feito ao referir-se Yom Teruah, o primeiro dia de Succot, e Shemini Atzeret (o dia depois do stimo dia de Succot). Alm disso, se iniciarmos a contagem a partir do primeiro dia de Pscoa, o 50 dia no seria o dia seguinte depois do stimo Shabbat (Levtico 23:16), sendo que o 49 dia no um Shabbat nem um dia de descanso, inclusive segundo a tradio Rabnica, ao menos que o 49 dia caia no Shabbat.

    Alm disso, a Escritura diz "no Dia seguinte depois do Shabbat" com o artigo definido, indicando que a Escritura faz referencia ao Shabbat de Gnesis como est escrito uns poucos versculos antes, "ele [o 7 Dia] um Shabbat dedicado a YHWH onde quer que habiteis." (Levtico 23:3). Se a Escritura se referisse a um dia distinto, ao geralmente conhecido como Shabbat, teria o mencionado especificamente.

    3) Insistindo no argumento, os Rabinos traduzem a palavra o Shabbat na primeira vez que ela aparece como "festa"- afirmando que se refere ao primeiro dia da Festa de Pes zimos - e a segunda e terceira vez que aparece o termo o Shabbat como semana. Portanto traduzem o versculo como:

    Contareis sete semanas completas (em Hebraico: Shabbatot) do dia que segue ao sbado (em Hebraico: Shabbat), do dia em que oferecestes o Omer [o Feixe] da oferta de movimento. No dia seguinte da stima semana (em Hebraico: Shabbat) contareis cinqenta dias... Neste mesmo dia convocareis uma reunio santa. (Levtico 23,15-16.21)

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    Se esta a traduo/interpretao correta, como os Rabanitas afirmam, encontramos que no primeiro caso o significado de "Shabbat" Festa e nos outros dois casos seu significado uma semana que contem nela um Shabbat. Esta uma interpretao insustentvel. Sendo que a Torah menciona "Shabbat" duas vezes na mesma frase e no deveria ter dois significados diferentes ao menos que a Escritura indicasse explicitamente qual .

    Por estes motivos, os Caratas celebram sempre Shavuot no domingo, no 50 dia comeando com o domingo que cai durante a Festa de Pscoa.

    Yom Teruah - o Rosh Hashanah Rabanita

    O calendrio Bblico/Carata tambm difere do Calendrio Rabnico na observao do Novo Ano Judaico. O calendrio Rabanita situa o inicio do ano Rosh Hashanah em uma festa a qual a Bblia se refere como a Yom Teruah (Dia de Aclamao), que cai no primeiro dia do Stimo ms.15 Como acabamos de discutir, os Caratas celebram o Ano Novo no ms da Festa dos Pes zimos. Sendo que a Torah afirma: "Este ms ser para vs o principal entre os meses; ser para vs o primeiro dos meses do ano" (xodo 12:2). Depois desta explcita declarao, a Torah procede a descrever a cerimnia do Sacrifcio de Pscoa que tem que cair neste Primeiro ms. Da mesma forma, Levtico 23 e Nmeros 28 mencionam as festas e em ambas as passagens so descritas o Sacrifcio de Pscoa no Primeiro ms e Yom Teruah no Stimo ms.

    Os Caratas no fazem soar um Shofar em Yom Teruah. Isto porque no h nenhum mandamento que ordene isto. Segundo a tradio Rabnica Teruah (da Raiz Hebraica: ) se refere a

    15 Os Rabinos afirmam, todavia, que esta data no o Ano Novo para o povo Judeu, porm o Ano Novo para o mundo. Sendo que alguns argumentam que este o dia no qual foi criado o mundo. Contudo, isto no tem uma base no Tanach.

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    um som criado por um Shofar (Corno de Carneiro).16 Contudo, a mesma palavra da raiz () usada em Nmeros 23:21 para significar aclamao17 e em Nmeros 10:5-6 onde nos dito para fazermos soar trombetas prateadas.

    interessante que cinco versculos para frente Deus ordena fazermos soar18 as trombetas prateadas na Lua Nova, isto , o primeiro dia de cada ms (veja Nmeros 10:10). O que claramente se deduz de todos estes versculos que a palavra Teruah, mencionada nesta ocasio aps a palavra dia, um termo geral que descreve um grande barulho feito tanto pelo corno de um Carneiro, como por uma trombeta prateada, por cmbalos, ou inclusive por uma congregao orando a Deus.

    Sendo que feito soar um corno sob a forma de uma trombeta em cada primeiro dia de ms, devemos perguntar por que Yom Teruah, o primeiro dia do Stimo Ms deixado de lado como uma santa assembleia. Infelizmente, a prpria Torah no nos diz por que este dia deixado de lado como um Mo'ed (Tempo Indicado). No entanto, sendo que o inicio do ms em que Yom Kippur e Succot ocorrem, sua importncia resulta evidente. Isto parece ser um dia nacional para que os Israelitas se prepararem para as prximas festas. Em uma sociedade agrcola, Succot, uma festa de agradecimento a Deus pela colheita e pedindo uma colheita saudvel para o prximo ano, de suma importncia. Os Caratas sempre tiveram Yom Teruah como um dia nacional de orao e preparao para as prximas festas do Stimo Ms.

    16 A raiz Hebraica usada, certamente, em relao com um Shofar em Levtico 25:9. 17 Clamar a Deus em orao aparece expressado em outros lugares do Tanach tais como: Povos todos, batei palmas, aclamai (da raiz ) a Deus com voz de jbilo! (Salmos 47:1), aqui foi usada a mesma raiz do verbo que na palavra Teruah. Alm disto, a raiz verbal de Teruah tambm usada para descrever o som forte (da raiz ) dos cmbalos: Louvai-o com cmbalos ressoantes! Louvai-o com cmbalos de jbilo (da raiz )! (Salmo 150:5). 18 A raiz do verbo com a qual foi composta a palavra Teruah no foi usado aqui.

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    Exegese Carata:

    A Observncia de Succot

    Acaba-se de enfatizar o significado de Succot em relao Yom Teruah e Yom Kippur. Devido a sua importncia, indispensvel entender como celebrar corretamente esta festa. Para compreender corretamente como deve ser celebrada esta festa h que realizar uma busca ao longo do Tanach.

    Em Levtico 23:40 dito: "pegareis" no primeiro dia "ramos com frutos das melhores rvores19, ramos de palmeiras, ramos de rvores frondosas e salgueiros dos riachos", e durante sete dias vos regozijareis diante de YHWH, vosso Deus". A lei e as tradies Rabnicas dizem que estes quatro artigos - chamados as Quatro Espcies - sejam levados em um feixe "Lulav" e meneado durante o servio de orao. Ao descrever este feixe o Talmud afirma:

    O Rabino Ishmael diz: "Trs ramos de murta e dois de salgueiros, um ramo da Palmeira e um de cidra ..." O Rabino Akiva diz: "Assim como h um nico ramo de palmeira e um de cidra, do mesmo modo h somente um de murta e um ramo de salgueiro". (Mishnah Succot 3:4)

    Aqui dois proeminentes Rabinos discordam sobre as caractersticas exatas dadas por Deus no Monte Sinai em relao a como construir o Lulav. Os Caratas apontam a tais discordncias como a prova de que as palavras do Talmud no so de origem Divina, mas humana, sendo que Deus no haveria de contradizer-se de modo to claro e manifesto.

    19 Outros traduzem: fruta do rvore esplendoroso.

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    Mesmo que a prpria Torah possa nos parecer pouco clara, aos leitores modernos sobre o que se supe, o primeiro dia deve ser feito com os artigos recolhidos, o esclarecimento dado nos livros posteriores da Bblia. No livro de Neemias, os Israelitas redescobrem por si mesmos o verdadeiro significado dos mandamentos relacionados com Succot:

    "E eles encontraram escrito na lei que YHWH havia mandado por meio de Moiss, que os filhos de Israel habitassem em tabernculos (Succot) na festa solene do stimo ms; e que fizeram saber e fizeram apregoar [o que tinham ouvido na leitura pblica] por todas suas cidades e por Jerusalm, dizendo: "Sai ao monte e trazei ramos de Oliveira silvestre, de murta, de palmeiras e de toda rvore frondosa, para fazer tabernculos, como est escrito". O povo, ento, saiu, e trouxeram ramos e eles fizeram tabernculos, cada um sobre seu terrao, em seus ptios, nos ptios da casa de Deus, na praa da porta de Efraim. (Neemias 8:14:16)

    Claramente, segundo o livro de Neemias, as "quatro espcies" sero usadas como materiais para construir uma Succah. Note que segundo Neemias 8:15 a Torah requer usarmos as "quatro espcies" para construir uma Succah, por quanto o livro de Neemias afirma "est escrito". Em 23:40 entendiam que era lhes ordenado pegar as "quatro espcies" com o propsito de construir Succot. Os Caratas sempre tm aceito a interpretao de Neemias 8:14-16 frente s interpretaes contraditrias expressas no Talmud.

  • COMO ESTA ESCRITO

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    Concluso Enquanto a exegese Carata se mantm fiel ao texto Bblico em busca do significado que fora claro para aqueles que receberam a Torah, a exegese Rabanita sustenta que as opinies e decises de seus Sbios so santas, inclusive quando essas opinies se distanciem da norma Bblica. Os Caratas acreditam que a prpria Bblia Hebraica a expresso completa do Deus de Israel. Como vimos nos exemplos de exegese Carata com respeito ao Tefillin, a fixao das Festas Bblicas, e a observncia de Succot, uma busca diligente ao longo do Tanach necessria antes de tirar qualquer concluso nas interpretaes dos mandamentos. Inclusive depois de uma busca diligente, pode estar nos faltando a evidncia Bblica para tirar uma concluso convincente. Por causa das diversas calamidades sofridas pelos Israelitas ao longo da histria, perdemos o claro significado do texto. No entanto, esta busca resulta necessria para aqueles que procuram continuar cumprindo com os mandamentos expressados na Torah. Isto o que significa a frase de Anan, "Esquadrinhai a Escritura...". Em termos singelos este o principal argumento do Carasmo.

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    Acerca dos Autores Shawn Lichaa nasceu e se criou numa famlia Carata de Egito. Como membro ativo da comunidade, Shawn ha ensinado estudos judaicos em sinagogas, ha servido de Diretor de Programao Alpha Epsilon Pi: Fraternidade Judia de Norte Amrica, e ha trabalhado muito com a diretiva dos Judeus Karatas de Amrica (KJA). Shawn o contato primrio para as pessoas que desejam informao sobre o Carasmo a travs do site da KJA, www.Karaites.org.

    Nehemia Gordon Nasceu numa famlia Rabanita Ortodoxa, mas abraou o Judasmo Carata em sua juventude. Nehemia autor, conferencista e mestre, e tem grado em estudos bblicos e arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalm. Nehemia ha servido comunidade Judia Carata em vrias maneiras, entre elas como membro da Diretiva da Sinagoga Carata em Jerusalm, como membro do Conselho Religioso do Judasmo Carata Universal e seu Conselho Supremo, e como membro fundador do Movimento Carata Mundial e do site www.Karaite-Korner.org.

    Meir Rekhavi abraou o Judasmo Carata em 1981 quando estudava numa Yeshiva Rabbanita em Jerusalm. Foi ensinado pelo Hakham Carata Mordecai Alfandari. Meir membro fundador o Movimento Carata Mundial, e Reitor da Universidade Judaica Carata (KJU). autor duma Haggadah de Pscoa Carata e tem publicado uma srie de estudos do site www.karaites.org.uk. Meir prestou servio nas Foras de Defesa Israelenses, cursou Estudos Bblicos e Historia na Universidade de Londres, e Tecnologia de Hardware de Computador e Matemtica Superior na Universidad Metropolitana de Leeds. Ele ativo na sua comunidade judaica local, e ocupou posies com a Associao Judaica da Vivenda, e de professor de meio tempo na Escola Primaria Judaica local.