EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE...

68
ELIANA MARIA VARISE EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE POSTURAL DE INDIVÍDUOS PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2012

Transcript of EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE...

Page 1: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

ELIANA MARIA VARISE

EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE POSTURAL DE

INDIVÍDUOS PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2012

Page 2: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

ii

ELIANA MARIA VARISE

EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE POSTURAL DE

INDIVÍDUOS PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

Projeto de Pesquisa apresentado ao

Programa de Mestrado em Fisioterapia

da Universidade Cidade de São Paulo,

como requisito para obtenção do título

de Mestre, sob orientação da Profa. Dra.

Sandra Regina Alouche e co-orientação

da Profa. Dra. Sandra M. S. F. Freitas.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2012

Page 3: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

iii

Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

V312e

Varise, Eliana Maria. Efeitos da dupla tarefa cognitiva no controle postural de indivíduos pós-acidente vascular encefálico. / Eliana Maria Varise. --- São Paulo, 2012. 67 p.; anexos. Bibliografia Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientadora: Profª. Dra. Sandra Regina Alouche. 1. Cérebro. 2. Equilíbrio postural. 3. Acidente vascular cerebral. 4. Cognição. I. Alouche, Sandra Regina, orient. II. Título.

CDD 615.82

Page 4: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

iv

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Sandra Regina Alouche _____________________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Prof. Dr. Luis Mochizuki _____________________________________

Universidade de São Paulo

Profa. Dra. Mônica Rodrigues Perracini ____________________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Page 5: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

v

DEDICATÓRIA

Àquele cuja trajetória de vida foi alterada em consequência de um evento

neurológico.

Aos profissionais da reabilitação que emprestam suas habilidades, agregam

conhecimentos e transformam pessoas com a subjetividade arrasada, em cidadãos

fortalecidos.

Page 6: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

vi

AGRADECIMENTOS

“Perdoemos as pedras da vida pelo ouro de experiência e de luz que nos oferecem.”

Dr. Bezerra de Menezes

À minha família, meu alicerce.

Meus pais, Élzio e Eliedes: o apoio incondicional.

Minhas irmãs, Érica e Élcia: as melhores e grandes amigas.

Du, Ana Paula e Lucas: pelo carinho.

Queridas Sandra R. Alouche e Sandra M.S.F. de Freitas: competência e

simplicidade podem caminhar lado a lado. Orientadoras, amigas, conselheiras... não há

como expressar a gratidão que cultivo por vocês. Que privilégio presenciar as

discussões e decisões profissionais. Quantas e quantas vezes agradeci em silêncio essa

oportunidade, um presente “caprichosamente” preparado por Deus, para demonstrar

pouco a pouco que.... tudo se encontrava no seu devido lugar.

Sandra Regina Alouche, minha orientadora. Obrigada pelo acolhimento na

dissertação do mestrado e por entender com tanta sensibilidade o significado do

“Projeto Atitude Plena”. Acima de tudo, obrigada por abraçar a causa e contribuir com o

direcionamento para novos caminhos acadêmicos. Que honra compartilhar sua parceria,

seus conhecimentos e dom da oratória.

Sandra M. S. F. de Freitas, imagino que sejam poucas as alunas com chance de

ser (co-orientada ou orientada?) por um “gênio”. Uma professora dotada de

generosidade e que faz questão (devido à sua natureza) de transmitir os ensinamentos

com carinho, pautados em ética e exemplo. Obrigada à Clara e à Camila por

compartilharem sua mãe comigo durante essa jornada.

Page 7: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

vii

Professora Mônica Perracini, uma das principais motivações por eu ter buscado

a Unicid. Impressiona a excelente reputação que o meio acadêmico e clínico cultiva por

seu trabalho e pela sua postura profissional. Obrigada pelos ensinamentos.

Ao Professor Leonardo Costa, pela consideração e modo respeitoso com o qual

nos recebeu, pela seriedade e assistência dedicada durante o processo.

À Bianca Pinto Cunha por me ajudar no uso da plataforma de força e direcionar

muitos procedimentos durante o estudo. Especialmente, agradeço por compartilhar o

trabalho durante as coletas de dados em conjunto com Iara Araújo, a quem também

faço questão de expressar os meus agradecimentos.

Débora B. Carvalho, pela parceria e companheirismo em cada dia dessa

vivência no mestrado, momentos que nos tornaram profissionais e pessoas, certamente,

mais preparadas.

À Flávia Alencar, sempre disposta a estender a mão. Obrigada pela paciência

com a qual me ajudou a encarar alguns assuntos (pra mim) de maior complexidade

(informática e estatística).

À Renata M. Banjai e Flávia P. P. Silva, obrigada por dedicarem o tempo

restrito à busca de materiais determinantes para minha dissertação.

Aos prezados coordenadores da Graduação do Curso de Fisioterapia da

Uninove: Ana Lúcia Colabone, Marcelo Frigero, Fernanda Varkala Lanuez e

Tabajara Gonzalez, pela compreensão, apoio e por tornarem o trabalho no interior

dessa instituição, digno e gratificante.

Page 8: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

viii

RESUMO

Introdução: As tarefas cotidianas realizadas isoladamente ou em associação a outras

atividades dependem do controle postural. Lesões nos hemisférios cerebrais alteram esse tal

controle. Esse estudo analisou os efeitos da dupla tarefa (DT) e da lateralidade da lesão

hemisférica sobre o controle postural pós-acidente vascular encefálico (AVE). Método: Doze

indivíduos (seis com AVE à direita e seis à esquerda) do grupo experimental (GAVE) e 10

sadios do grupo controle (GC) tiveram a oscilação postural analisada durante postura ereta sobre

uma plataforma de força, isoladamente (TS) ou associada à memorização visual (DT) de figuras

apresentadas num monitor. Análises de variância foram utilizadas inicialmente para

comparações das variáveis entre dois grupos (GC e GAVE) e tarefas (TS e DT) e,

posteriormente, considerando-se o hemisfério lesionado, direito (GAVED) ou esquerdo

(GAVEE). Resultados: Todas as variáveis foram maiores para o GAVE comparado ao GC

[AMdO AP (0,33±0,02 cm) e (0,24±0,25 cm); ML (0,22±0,02 cm) e (0,10±0,02 cm); VMd ML

(0,46±0,04 cm/s) e (0,28±0,04 cm/s); área de elipse (0,90±0,13 cm2) (0,31±0,14 cm

2)]. A

AMdO AP reduziu durante a DT (0,27±0,02 cm) em relação a TS (0,31±0,02 cm) para ambos

os grupos. A AMdO na direção ML e a área da elipse foram maiores para o GAVED (0,27±0,03

cm e 1,21±0,20 cm2, respectivamente) do que no GAVEE (0,16±0,03 cm e 0,58±0,20 cm

2).

Houve interação entre os fatores grupo e tarefa, GAVED oscilou mais (0,31±0,03 cm) do

GAVEE (0,15±0,03 cm). A área da elipse do GAVED foi maior (1,21±0,20 cm2) do que o

GAVEE (0,58±0,20 cm2). Conclusão: O GAVE apresentou maior oscilação do CP que o GC,

principalmente no GAVED. A oscilação reduziu para ambos os grupos durante a DT, exceto na

variável AMdO direção ML que aumentou no GAVED. O uso da memorização visual como DT

pode ser uma estratégia terapêutica apropriada para que esses indivíduos possam lidar com suas

instabilidades posturais.

Palavras-chave: Cérebro, equilíbrio postural, acidente vascular cerebral, cognição.

Page 9: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

ix

ABSTRACT

Introduction: The daily life activities performed alone or in association with other

activities are dependent on the postural control. Lesions in the cerebral hemispheres affect such

control. This study investigated the effects of dual-task (DT) and the side of the brain lesion on

the postural control after a cerebrovascular accident (CVA). Method: Twelve individuals (six

after a right CVA and six after a left CVA) of the experimental group (CVAG) and 10 healthy

individuals of the control group (CG) were analyzed. The center of pressure (CP) sway during

quiet standing was measured, alone (simple task, ST) or associated with a DT using a force

plate. The DT consisted in the visual memorization of the figures presented on a screen. The

mean sway amplitude (SMA), mean velocity (MV) anterior-posterior (AP) and medial-lateral

(ML) and the area of the ellipse were analyzed. The first analysis of variance with main factor

group (CG e CVAG) and task (TS and DT) were realized and, posteriorly, a second analysis,

considering the side of the hemisphere lesion (right, RCVAG or left, LCVAG). Results: The

CVAG presented increased CP sway in relation to the CG, in the variables: SMA AP (0.33±0.02

cm) and (0.24±0.25 cm); SMA ML (0.22±0.02 cm) and (0.10±0.02 cm); MV ML (0.46±0.04

cm/s) and (0.28±0.04 cm/s); ellipse area (0.90±0.13 cm2) (0.31±0.14 cm

2). The SMA AP

reduced during the DT (0.27±0.02 cm) in relation to TS (0.31±0.02 cm) for both groups. The

SMA ML was greater for the RCVAG (0.27±0.03 cm) than for the LCVAG (0.16±0.03 cm).

There was an interaction between the factors group and task, RCVAG oscillated more

(0.31±0.03 cm) than the LCVAG (0.15±0.03 cm). The ellipse area of the RCVAG was greater

(1.21±0.20 cm2) than that of the LCVAG (0.58±0.20 cm

2). Conclusion: The results showed that

the CVA presented greater CP sway than the CG, principally, the RCVAG. The sway reduced

for both groups during the DT, except for the SMA in the ML direction that increased for

RCVAG.

Keywords: Brain, postural equillibrium, stroke, cognition.

Page 10: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Posição adotada pelo participante na postura ereta quieta sobre a plataforma

de força durante as tarefas experimentais.

Figura 2: Posição adotada pelo participante sentado durante as tarefas experimentais.

Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor na dupla tarefa.

Figura 4: Estatocinesigrama de um indivíduo representativo de cada grupo estudado

sendo GC=grupo controle; GAVED=grupo AVE com lesão hemisférica esquerda;

GAVED=grupo AVE com lesão hemisférica direita; CP=controle postural; AP= ântero-

posterior; ML = médio-lateral (em centímetros).

Figura 5: Amplitude média de oscilação do centro de pressão (AMdO) dos grupos em

cada condição estudada, sendo GC=grupo controle; GAVEE=grupo AVE com lesão

hemisférica esquerda; GAVED=grupo AVE com lesão hemisférica direita; TS=tarefa

simples; DT=dupla tarefa; AP= ântero-posterior; ML=médio-lateral; cm=centímetros.

Figura 6: Velocidade média da oscilação do centro de pressão (VMd) dos grupos em

cada condição estudada, sendo GC=grupo controle; GAVEE=grupo AVE com lesão

hemisférica direita; GAVEE=grupo AVE lesão hemisférica esquerda; TS=tarefa

simples; DT=dupla tarefa; AP=ântero-posterior; ML=médio-lateral; cm/s=centímetros

por segundo.

Figura 7: Área da elipse do centro de pressão dos grupos em cada condição estudada,

sendo GC=grupo controle; GAVEE=grupo AVE com lesão hemisférica direita;

GAVEE=grupo AVE lesão hemisférica esquerda; TS=tarefa simples; DT=dupla tarefa;

AP=ântero-posterior; ML=médio-lateral; cm2=centímetros ao quadrado.

Page 11: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Dados sócio-demográficos e clínicos dos grupos estudados.

Tabela 2. Valores da mediana do número de acertos nas duas tentativas de

memorização na postura ereta e sentado do escore total no teste de percepção para os

grupos estudados.

Page 12: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

xii

LISTA DE ABREVIATURAS

AMdO: Amplitude média de oscilação

ANOVA: Análise de variância

AP: Ântero-posterior

AVE: Acidente vascular encefálico

AV: Acuidade visual

cm: centímetros

cm/s: centímetros por segundo

cm2: centímetros quadrado

CG: Centro de gravidade

CM: Centro de massa

CP: Centro de pressão

DT: Dupla tarefa

F: força

GAVED: Grupo de adultos pós acidente vascular encefálico em hemisfério direito

GAVEE: Grupo de adultos pós acidente vascular encefálico em hemisfério esquerdo

GC: Grupo controle

Hz: Hertz

M: Momento

ML: Médio-lateral

n.a.: não se aplica

SNC: Sistema nervoso central

TS: Tarefa simples

VMd: Velocidade média

Page 13: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

xiii

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1: Aceite do Projeto no Comitê de Ética e Pesquisa

ANEXO 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

ANEXO 3: Tabela de referência para avaliação de sensibilidade cutânea

ANEXO 4: Inventário de Edinburgh

ANEXO 5: Mini-Exame do Estado Mental

ANEXO 6: Teste de Percepção Visual Sem Movimento

Page 14: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

xiv

SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................................viii

ABSTRACT.................................................................................................................................ix

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................................x

LISTA DE TABELAS.................................................................................................................xi

LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................................xii

LISTA DE ANEXOS.................................................................................................................xiii

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................15

2. OBJETIVOS..................................................................................................................17

2.1. Objetivo Geral........................................................................................................17

2.2. Objetivos Específicos e Hipóteses.........................................................................17

3. REVISÃO DA LITERATURA.....................................................................................19

3.1. Controle postural e postura ereta quieta.............................................................19

3.2. Controle postural após lesões encéfalo-vasculares..............................................22

3.3. Dupla tarefa cognitiva e suas influências sobre o controlepostural..................25

4. MATERIAIS E MÉTODO...........................................................................................31

4.1. Tipo de estudo e aspectos éticos............................................................................31

4.2. Participantes...........................................................................................................31

4.3. Instrumentos de avaliação.....................................................................................32

4.4. Procedimentos Experimentais..............................................................................34

4.5. Processamento e Análise dos Dados.....................................................................37

4.6. Análise Estatística..................................................................................................38

5. RESULTADOS..............................................................................................................40

6. DISCUSSÃO..................................................................................................................47

7. CONCLUSÃO................................................................................................................52

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................53

ANEXOS...............................................................................................................................62

Page 15: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

15

1. INTRODUÇÃO

Para assegurar o controle da postura ereta quieta no espaço, informações

sensoriais distintas são integradas no lobo parietal inferior do hemisfério cerebral direito

a fim de que estratégias neuromotoras adequadas sejam estabelecidas1,2

. Em grande

parte das atividades diárias, no entanto, o controle da postura ereta ocorre

concomitantemente à realização de outras tarefas cognitivas e motoras, o que pode gerar

concorrência entre elas. Jovens sadios aumentam a oscilação do centro de pressão (CP)

enquanto pronunciam uma contagem numérica regressiva, mas o mesmo não ocorre

quando essa mesma atividade é realizada em silêncio3. Por outro lado, indivíduos idosos

sadios respondem (apertando um botão) a um estímulo auditivo mais rapidamente

quando estão sentados do que na postura ereta4.

Indivíduos sadios apresentam oscilação do CP mesmo quando são instruídos a

permanecer o mais parado possível. Esta oscilação aumenta, tanto na direção ântero-

posterior quanto médio-lateral, na vigência de lesão em áreas sensório-motoras

cerebrais, como as decorrentes do acidente vascular encefálico (AVE). Fatores como a

redução da atenção, a percepção distorcida dos limites de estabilidade do corpo no

espaço e a lentificação das respostas neuromotoras são apontados como causadores

deste aumento da oscilação. A fim de atenuar esses efeitos perturbadores sobre o

controle postural, estratégias compensatórias são adotadas e os sistemas preservados,

como a visão, passam a ser utilizados além do habitual5,6

. Além disso, as lesões nos

hemisférios cerebrais direito e esquerdo geram alterações distintas no controle postural.

Nas lesões no hemisfério esquerdo, a relação espacial entre os segmentos corporais fica

alterada7 enquanto nas lesões do hemisfério direito, a percepção espacial de

verticalidade do corpo é, prioritariamente, alterada1.

Page 16: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

16

Os efeitos da dupla tarefa (DT) cognitiva sobre o controle postural de indivíduos

com lesão em hemisfério cerebral direito ou esquerdo pós-AVE, são divergentes. A

oscilação do CP conforme a lateralidade da lesão hemisférica foi comparada a de

indivíduos sadios durante a tarefa de memorizar auditivamente, sete itens de uma lista

de mercado8. Houve redução da oscilação do CP para ambos os grupos durante a DT,

sugerindo que o direcionamento da atenção para um foco externo pode aumentar a

ativação dos processos automáticos envolvidos no controle postural. Não houve

diferença quanto à lateralidade da lesão hemisférica. Em outro estudo foi verificado um

aumento da oscilação do CP no grupo pós-AVE e maior assimetria corporal pós-lesão

hemisférica direita, nas condições de olhos fechados e durante a dupla tarefa (pronúncia

regressiva de um dígito a partir de 50, após sinal auditivo). A capacidade atencional foi

mencionada como uma das possíveis causas do aumento da oscilação9.

Sendo assim, a influência dos hemisférios cerebrais direito e esquerdo sobre o

controle postural durante a dupla tarefa cognitiva não está claro. Além disso, não se

sabe se o uso da informação visual durante a memorização de imagens na postura ereta

pode interferir nas estratégias compensatórias utilizadas pela visão durante o controle

postural em indivíduos com lesão hemisférica pós-AVE.

Page 17: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

17

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Verificar os efeitos da adição de uma tarefa cognitiva secundária sobre o

controle postural de adultos pós-lesão em hemisfério cerebral direito ou esquerdo.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

2.2.1. Comparar a oscilação postural de adultos com hemiparesia com a de

indivíduos sadios durante a manutenção da postura ereta quieta, com e sem a

associação da DT cognitiva secundária.

Hipótese: Na postura ereta quieta, enquanto realizam DT cognitiva secundária

simultânea, tanto os adultos com hemiparesia quanto os indivíduos sadios reduzem a

oscilação postural, porém os adultos com hemiparesia mantém a oscilação postural

maior que os indivíduos sadios.

2.2.2. Comparar a influência da lateralidade pós-lesão hemisférica no controle

da postura ereta quieta com e sem a associação da DT cognitiva secundária.

Hipótese: Na postura ereta quieta, adultos com hemiparesia pós-lesão em

hemisfério direito apresentam oscilação postural reduzida em relação aos adultos pós-

lesão em hemisfério esquerdo.

2.3.3. Comparar o desempenho na tarefa cognitiva de indivíduos sadios e de

indivíduos com hemiparesia na postura sentada e na postura ereta.

Page 18: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

18

Hipótese: Na postura sentada, o desempenho da atividade cognitiva dos

indivíduos sadios e dos indivíduos com hemiparesia é melhor, quando comparado com

o desempenho na postura ereta.

Page 19: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

19

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Controle postural e postura ereta quieta

A maior parte das atividades diárias implica na realização de tarefas simultâneas,

pré-requisitos para uma funcionalidade bem sucedida e, amplamente dependente da

orientação vertical do corpo parado ou em deslocamento, associadamente às tarefas que

implicam o uso do raciocínio, da memória e da atenção10,11

.

A habilidade de manter o equilíbrio dentro de padrões de segurança significa

contar com a capacidade de ação antecipatória e preparatória dos sistemas sensório-

motores frente às demandas posturais, com base em experiências prévias e adaptações

às tarefas específicas influenciadas pelo ambiente12

. Estratégias posturais são utilizadas

para preservar o centro de gravidade (CG) dentro dos limites impostos pela base de

suporte, na tentativa de manter o corpo o mais parado possível, mesmo que oscilando

constantemente13

.

O controle postural envolve componentes sensório-motor e músculo-esquelético

que participam de dois objetivos comportamentais: a orientação e o equilíbrio postural.

Para manter o equilíbrio postural é necessário contar com a orientação dos segmentos

do corpo frente às influências do ambiente e das exigências posturais. Ao assegurar que

o corpo permaneça na posição desejada mantemos o equilíbrio estático e, para movê-lo

de uma maneira controlada, o equilíbrio dinâmico14

. Tais controles dependem da

capacidade do sistema nervoso central (SNC) em detectar as instabilidades provenientes

da produção das forças internas (somáticas e viscerais) e das influências externas do

ambiente (gravidade, os ruídos, as superfícies desniveladas e presença de transeuntes)

15. Ao receber essas informações e integrá-las, o sistema neuromuscular é responsável

Page 20: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

20

pela manutenção da postura e a elaboração de ajustes adequados entre os segmentos

corporais, associando a manutenção da postura com a funcionalidade5,16,17

. Desta forma,

o corpo humano reage ativamente para se manter o mais parado possível 12,13

.

O controle postural pode ser analisado de modo fidedigno, com uso de uma

plataforma de força que capta através dos sensores, as forças e os momentos aplicados

sobre elas para permitir a análise de variáveis como a amplitude, o deslocamento e

velocidade do centro de pressão (CP) e área da elipse, calculados 2 no plano ântero-

posterior (AP) e médio-lateral (ML)18

.

Na postura ereta quieta, com os pés afastados, pequenas oscilações posturais

ocorrem principalmente no plano sagital (ântero-posterior) e são controladas pela

ativação da estratégia do tornozelo. À medida que essa estratégia não suporta a demanda

para assegurar a manutenção do equilíbrio, o quadril é acionado para gerar movimentos

amplos do tronco no plano sagital12,19,20

. As reações de equilíbrio desempenhadas pelas

estratégias de tornozelo e quadril contam com a rigidez passiva da estrutura

músculotendínea, cujo papel na estabilização da postura ereta consiste em neutralizar a

atuação do momento da força da gravidade que impulsiona o corpo para frente13,21

.

Quando as estratégias de equilíbrio são insuficientes para manter a base de suporte

inalterada, entram em ação as estratégias de proteção e do passo2,12,17,19

.

O controle postural depende da integração de vários tipos de informações

sensoriais15,19

. O sistema visual informa sobre a verticalidade na postura ereta quieta e

auxilia na orientação e posição dos segmentos do corpo entre si e do corpo todo em

relação ao ambiente5,6

. Além disso, tem a finalidade de evitar obstáculos durante a

deambulação14

. O sistema vestibular detecta as acelerações lineares e angulares da

cabeça fornecendo informações sobre os movimentos dos olhos, posição da cabeça e a

direção da gravidade22

. O sistema somatossensorial, com seus múltiplos sensores,

Page 21: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

21

detecta a posição dos segmentos corporais e a velocidade dos movimentos destes

segmentos e seu contato com objetos externos (incluindo o solo)2. Estudos demonstram

que os sistemas sensoriais proprioceptivos são os primeiros a captarem as perturbações

decorrentes de oscilações com velocidades baixas e controladas pela estratégia de

tornozelo, seguida das modalidades visual e vestibular2,22,23

. A contribuição relativa dos

sistemas foi testada em indivíduos sadios, pela manipulação da entrada de cada

modalidade sensorial, enquanto a oscilação postural era mensurada. O sistema nervoso

central utiliza as informações aferentes para manter a postura ereta em percentuais

aproximados de, 70% do sistema somatossensorial, 20% do sistema vestibular e 10% do

sistema visual24

. Entre os idosos esses valores são redistribuídos em 56,3%; 22,4% e

21,3%25

.

Na maioria das vezes, as diferentes modalidades sensoriais se complementam

para manter o controle postural2. Quando há conflito entre as informações, o centro de

integração sensorial situado, principalmente, nos lobos parietal e insular direito

organizam o trânsito das informações eferentes e aferentes26

. Diante dos conflitos

sensoriais, mecanismos de reponderação do sistema nervoso elegem qual canal sensorial

deve predominar e, quais as respostas que serão mais apropriadas para cada

momento14,20

. Indivíduos sadios priorizam, naturalmente, o uso das referências

sensoriais que consideram adequadas e capazes de transmitir informações confiáveis

para o controle postural2,12,18,21

. No entanto, o SNC pode decidir equivocadamente e ser

induzido ao erro2 por entrar em conflito no momento de priorizar ou rejeitar as

informações sensoriais14,20,24,27,28

.

No controle postural, quando há perturbação na integração das informações

sensoriais aumenta-se o risco de quedas, especialmente, diante das falhas das aferências

visuais6,18,28

. As perturbações cognitivas e comportamentais, tais como a expectativa, a

Page 22: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

22

atenção, a verbalização e a evocação da memória, aumentam as exigências para

assegurar a postura ereta10,29,30

. A degradação na entrada dos sistemas sensoriais com o

decorrer dos anos influencia o processamento central das informações sensoriais,

principalmente entre os adultos mais velhos18,28,31

.

3.2. Controle postural após lesões encélafo-vasculares

O controle da postura ereta quieta é alterado por lesão hemisférica pós-Acidente

Vascular Encefálico (AVE). Essas lesões podem ser utilizadas como modelo para o

estudo do papel dos hemisférios cerebrais sobre o controle postural. Nesses casos,

associar as alterações neuromotoras, somatossensoriais e cognitivas, desafia as

habilidades do controle postural reativo e antecipatório, contribuindo com as assimetrias

corporais9 e podem resultar em quedas

11,14,30,32.

Em todo mundo, aproximadamente 15 milhões de indivíduos por ano são

acometidos por doenças encéfalo-vascular e, o déficit neurológico mais frequentemente

é a hemiparesia33-35

. O AVE é o surgimento agudo de uma disfunção no cérebro causada

por anormalidade da circulação em áreas focais do território carotídeo (isquemia ou

hemorragia ou ambas) que pode acarretar em sinais e sintomas neurológicos por um

período de pelo menos 24 horas, e proporcionalmente à magnitude da área atingida36,37

.

O AVE representa grande ônus em termos socioeconômicos e o seu principal

fator de risco é a hipertensão arterial sistêmica. Os infartos que comprometem a

irrigação das áreas hemisféricas nutridas pela artéria cerebral média, estão associados a

maior dependência da visão para controlar a oscilação do corpo no espaço38

. Manor e

colaboradores 20106 procuraram relacionar a dependência da visão com o controle

postural em pacientes pós-AVE isquêmico, com o volume cerebral regional detectados

Page 23: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

23

em ressonância magnética no território da artéria cerebral média do hemisfério direito e

do esquerdo. A postura ereta foi analisadas em duas condições, com olhos abertos pós-

lesão hemisférica direita houve um aumento da velocidade de oscilação, quanto menor o

volume occipital e, com olhos fechados, o mesmo foi observado quanto menor volume

cerebelar. Essas associações não foram observadas em indivíduos pós-lesão hemisférica

esquerda e nos indivíduos sadios do grupo controle.

Outros estudos mostraram que indivíduos com hemiparesia pós-AVE por

comprometimento da artéria cerebral média direita, apresentam alterações quanto à

percepção subjetiva de verticalidade do corpo em relação à gravidade e à

propriocepção5,38

; tendem a desencadear disfunções na integração sensorial, e causar

dependência excessiva da visão durante as tarefas que exijam do corpo controle postural

estático ou dinâmico39

. de Haart e colaboradores 200417

verificaram que o grau de

dependência visual dos pacientes pode refletir na redução do controle postural no plano

frontal, devido à maior integração somatossensorial proprioceptiva e exteroceptiva.

Estes dados verificaram que houve uma maior utilização do membro inferior parético

nos indivíduos estudados. Como as informações processadas podem não ser tão

confiáveis devido aos danos decorrentes de um evento neurológico, outras áreas

encefálicas tentam suprir as demandas para proporcionar maior confiança para o

controle postural durante a divisão atencional com atividades cognitivas.

Algumas características descritas em indivíduos pós-AVE estão relacionadas

com a lateralidade da lesão7. A afasia é relacionada pós-lesão hemisférica esquerda,

enquanto que os déficits cognitivos, a negligência e o controle postural são associados

pós-lesão hemisférica direita1,40-42

, devido a presença de lesões na área de integração

sensorial situadas no lobo parietal do hemisfério cerebral direito e do lobo da ínsula

Page 24: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

24

26,40,43. Esses achados corroboram

7 sobre a maior amplitude nos movimentos do tronco

ser verificada por avaliação cinemática pós-lesão hemisférica direita.

Ioffe e colaboradores44

verificaram que as influências hemisféricas no controle

postural de indivíduos pós-AVE, sugerem que as estruturas motoras do hemisfério

direito estejam mais envolvidas no controle preciso da trajetória do CP. Esses autores

estudaram indivíduos pós-lesão hemisférica na postura ereta, enquanto moviam o CP

para comandar um cursor expresso numa tela para cumprir objetivos pré-estabelecidos.

Os resultados corroboraram aos achados de Kinsella e Ford43

mostrando um maior

déficit no controle postural nos indivíduos pós-lesão hemisférica direita por isquemia no

território da artéria cerebral média.

Nichols45

detectou uma relação direta entre o aumento da oscilação postural na

direção AP e ML e a redução da transferência do peso do corpo para o lado parético

pós-lesão hemisférica independentemente da lateralidade. O autor verificou redução da

habilidade do controle postural durante a marcha. Peurala e colaboradores46

descreveram um menor potencial ambulatorial aos indivíduos pós-lesão hemisférica

direita. Os autores verificaram um aumento da velocidade de deslocamento nas direções

AP e ML, principalmente nos indivíduos pós-lesão hemisférica direita com negligência

espacial unilateral, em relação aos indivíduos pós-lesão hemisférica esquerda.

3.3. Dupla tarefa cognitiva e suas influências sobre o controle postural

O ser humano realiza múltiplas atividades simultaneamente no seu dia-a-dia e,

diante das alterações decorrentes do processo de envelhecimento18,30

ou após disfunção

do sistema nervoso, executar tarefas básicas como pensar ou falar enquanto o corpo é

mantido na postura ereta, pode ser desafiador8,9

.

Page 25: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

25

A tarefa de controle postural requer recursos atencionais mesmo quando é

classificada como automática47

. Esses recursos são indispensáveis, capazes de interagir

e competir com demandas de outra tarefa. A atenção envolve a capacidade de

processamento das informações26,48,49

. Quando duas tarefas são desempenhadas

simultaneamente, o grau de exigência para realizá-las pode exceder a capacidade total

de atenção do indivíduo e, então, o desempenho de uma, de outra ou de ambas pode

diminuir50

.

Para realizar uma atividade o indivíduo deve permanecer atento e com o foco

atencional concentrado26,48,49

, como ocorre, por exemplo, durante o rastreamento visual

na postura ereta quieta ou durante o deslocamento enquanto um projeto mentalmente é

elaborado. O processamento neural automático identifica a ‘tarefa simples’ que dispensa

menor demanda atencional. Quando se trata de uma tarefa complexa, o controle motor

ocorre por processos conscientes e pautados pela divisão da demanda atencional com a

postura10,11,47

. As tarefas podem incluir manejo, transporte e manipulação de objetos

(tarefa motora)51

ou depender de elaboração mental (tarefa cognitiva) como a atenção, a

evocação da memória cinestésica, auditiva ou visual com ou sem articulação da palavra

falada. As tarefas cognitivas se relacionam com atividades de rastreamento visual ou

auditivo, cálculos aritméticos, nomes de pessoas e lugares, animais e objetos30,47,52

.

Nas tarefas duplas, uma delas (tarefa principal) passa a ser o foco de interesse na

análise do desempenho, ao mesmo tempo em que outra atividade (tarefa secundária)

compete com a primeira e quase sempre a perturba50

. Ao ser desempenhada, uma tarefa

dupla possibilita que a capacidade individual de processamento de duas informações ao

mesmo tempo, seja avaliada. Caso não ocorra prejuízo no desempenho de alguma delas,

demonstra-se que os requisitos atencionais da primeira, independem da segunda. No

entanto, se o nível de desempenho obtido em uma das tarefas diminui em comparação

Page 26: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

26

com esta mesma tarefa realizada isoladamente, significa que os requisitos atencionais

excedem a capacidade do indivíduo em realizá-las simultaneamente, interferindo no

desempenho9,47,48

. A atividade das áreas associativas do córtex intra e inter-hemisférios

funcionam diferente durante tarefas secundárias de natureza motora, quando

comparados com os mecanismos envolvidos nas tarefas cognitivas33,53

. Tarefas

relacionadas à linguagem (fala) parecem aumentar as interferências no equilíbrio

dinâmico dos indivíduos idosos e com instabilidade postural, em comparação com as

tarefas visuo espaciais ou relacionadas à memória10,11

.

As tarefas desafiadoras e relacionadas com o controle postural podem interferir

na oscilação postural e no desempenho da atividade secundária, quando realizadas

simultaneamente a uma tarefa secundária cognitiva que demanda atenção. Kerr e

colaboradores54

demonstraram que a memória visuo espacial interferiu sobre o controle

postural e, de acordo com os autores, isso ocorreu pelo fato do controle da postura

contar com a participação efetiva da visão para a noção espacial. Na tarefa com

associação da articulação da palavra falada, estudos verificaram uma queda de

rendimento entre os idosos, mas não entre adultos jovens, demonstrando que nem todas

as tarefas de natureza cognitiva afetam o controle postural55

.

Há controvérsias entre os estudos sobre o impacto que uma tarefa cognitiva

causa no controle postural. Alguns autores referem que a oscilação do CP permanece

inalterada54

durante a DT cognitiva, enquanto outros afirmam que a oscilação do corpo

aumenta55

, pois a alocação da atenção para uma tarefa secundária durante a postura

ereta pode reduzir os recursos atencionais dedicados a estabilidade do corpo9,10

.

Entretanto, autores4 verificaram que durante a DT cognitiva ocorre uma redução na

oscilação do CP ao se delegar mais aparato aos processos sensório-motores. Nessa

condição, há um aumento da estabilidade do corpo enquanto as tarefas competem entre

Page 27: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

27

si, em comparação com situações onde o foco atencional permanece direcionado

unicamente à postura ereta quieta. O comportamento do indivíduo relacionado com a

redução ou o aumento do deslocamento corporal devido ao acréscimo da tarefa

cognitiva secundária parece ser determinado pela natureza da tarefa, seu grau de

complexidade e pelas características da população avaliada9.

Swan e colaboradores11

estudaram a influência do grau de dificuldade das tarefas

relacionadas ao controle postural, das tarefas cognitivas ou da combinação entre elas, na

oscilação do CP em adultos sadios jovens e não jovens. Indivíduos idosos apresentaram

uma redução da oscilação durante as atividades de controle postural mais complexas,

como sentar e levantar, enquanto contavam regressivamente ou usavam a visão ou

audição para memorizar11

. Neste estudo foi demonstrado que a capacidade cognitiva

declinou com a idade. Sendo assim, é provável que as tarefas de memória tenham

imposto uma carga cognitiva adicional em adultos não jovens do que para adultos

jovens, fazendo supor que a dificuldade da tarefa cognitiva, e não da tarefa postural,

parece ser a responsável pelos resultados obtidos. Em outro estudo56

demonstrou-se que

o aumento do número de dígitos associado à tarefa primária de controle postural pode

reduzir a oscilação postural proporcionalmente ao aumento da complexidade da tarefa

cognitiva.

Uma questão importante que permanece é por que há redução da oscilação

postural quando as pessoas executam uma tarefa cognitiva? Swan e colaboradores57

verificaram que a tarefa cognitiva secundária perturbadora do controle postural, pode

dificultar os ajustar necessários para a manutenção da postura e diminuir ou não o

desempenho cognitivo. Entretanto, quando a habilidade motora se tornar automática, a

atenção volta a ser direcionada para os desafios da segunda tarefa realizada

Page 28: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

28

simultaneamente58,59

. O grau de dificuldade das tarefas cognitivas precisa ter seus

efeitos esclarecidos entre os sexos, idades e pessoas com déficit de controle postural9,29

.

Yardley e colaboradores3 utilizaram tarefas secundárias de contagem regressiva

em voz alta (atenção e articulação), e silenciosa (sem demandas de articulação),

repetição de números (articulação sozinho) e nenhuma tarefa concorrente. Os autores

concluíram que o aumento da instabilidade produzida pela aritmética mental pode ter

ocorrido pelo efeito da articulação da palavra mediada pelo ato respiratório envolvido

no discurso, perturbador direto do controle postural.

Alguns autores60,61

avaliaram o impacto de tarefas secundárias cognitiva com

três diferentes graus de exigências relacionados com respostas verbais a estímulos

visuais e auditivos, sobre o controle postural. Os resultados mostraram redução

significativa da oscilação do CP enquanto as tarefas cognitivas eram realizadas

simultaneamente e, esse efeito foi mantido pelo menos 10 segundos após o desempenho

de qualquer uma das tarefas cognitivas secundárias propostas, independentemente da

demanda da tarefa.

Woollacott e Shumway-Cook29

estudaram idosos em atividades cognitivas

secundárias sobre completar frases com articulação da palavra, julgamento e orientação

pelo processamento visuo espacial, as quais foram usadas para concorrer com tarefas

posturais de graus de complexidades distintos. Mesmo na tarefa postural mais difícil,

como permanecer em pé sobre uma espuma, o número ou a precisão das respostas não

foi afetado, mas houve um aumento da oscilação do CP.

A capacidade atencional de indivíduos após um AVE é menor do que nos

indivíduos sadios, pois a demanda de atenção aumenta conforme o grau da dificuldade

para manter a postura durante a tarefa9,48

. Hyndman e colaboradores62

verificaram uma

diminuição da oscilação do CP em indivíduos pós-AVE nos sentidos AP e ML, quando

Page 29: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

29

uma dupla tarefa cognitiva (pronunciar uma lista de compras) foi adicionada associada à

postura ereta quieta. Neste estudo, a oscilação postural foi medida por meio de uma

plataforma de força na posição preferida, com os pés juntos e com os olhos fechados,

aos 6 e 12 meses após a alta hospitalar. Durante as comparações com e sem dupla tarefa

associada, houve redução da oscilação na direção AP e ML durante a DT. Além disso,

houve uma tendência da oscilação reduzir na avaliação de 12 meses em comparação

com a avaliação de 6 meses e, neste caso, significativa apenas para a direção ML. No

estudo do controle postural relacionado a outros autores Bensoussam e colaboradores9

indivíduos com hemiparesia aumentaram a oscilação do CP e os indivíduos pós-lesão

hemisférica direita apresentaram maior assimetria corporal nas condições: olhos

fechados e durante a DT (pronúncia regressiva de um dígito a partir de 50, após sinal

auditivo). Nesse estudo, a capacidade atencional foi mencionada como uma das

possíveis causas do aumento da oscilação do CP do grupo AVE durante a DT,

entretanto, não é possível assegurar se o aumento da oscilação foi gerado pela

articulação da palavra que pode gerar perturbação para a postura ereta. Ainda neste

estudo, 19 dos 23 participantes do grupo AVE apresentavam dois episódios

neurológicos e os autores não especificaram o número de tentativas por condição e, se

foram aleatorizadas.

Apesar da semelhança anatômica entre os hemisférios cerebrais, suas

características funcionais são distintas e conforme a lateralidade hemisférica o controle

postural pode ser perturbado de modo específico. Nas lesões no hemisfério esquerdo, a

noção espacial durante as atividades dos membros superiores ficam prejudicadas7. Já

nas lesões do hemisfério direito, a percepção espacial de verticalidade do corpo é aquela

que, prioritariamente, apresenta alterações1,63

. Entende-se que realizar uma tarefa

atencional (não automatizada) possibilita avaliar o grau de sua interferência exercida

Page 30: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

30

sobre uma outra tarefa, como por exemplo, manter-se em pé. Esse achado ressalta a

necessidade do entendimento do papel dos hemisférios cerebrais no controle postural

durante a execução de uma tarefa secundária.

As funções do hemisfério cerebral direito e esquerdo relacionadas com o

controle postural durante a DT cognitiva precisa ser esclarecido, assim como, se o fato

de desviar a atenção para memorizar objetos visualmente, pode interferir na manutenção

da postura ereta quieta pós-AVE.

Page 31: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

31

4. MATERIAIS E MÉTODO

4.1. Tipo de Estudo e Aspectos Éticos

Trata-se de um estudo do tipo experimental e transversal, aprovado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa da Universidade Cidade de São Paulo, sob protocolo número

13508426 (Anexo 1).

4.2. Participantes

Os participantes, convidados pessoalmente ou por contato telefônico para

participar do estudo no Laboratório de Análise do Movimento (LAM-I) da Universidade

Cidade de São Paulo, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, no qual

constavam todos os procedimentos aos quais seriam submetidos (Anexo 2).

A amostra do grupo experimental (GAVE) foi composta por 12 indivíduos com

idades de 40 até 70 anos, com episódio único de lesão encéfalo-vascular isquêmica

comprovada por exame de tomografia computadorizada e/ou ressonância nuclear

magnética, em território vascular hemisférico direito ou esquerdo da artéria cerebral

média ou artéria cerebral anterior e que tenha resultado em hemiparesia. Todos tinham

habilidade de permanecer na postura ereta sem apoio e descalços por pelo menos um

minuto. Foram incluídos no grupo controle (GC), 10 indivíduos sadios pareados em

relação ao sexo e faixa etária com o grupo experimental. Os grupos controle e

experimental foram recrutados da mesma comunidade.

Foram excluídos do estudo participantes clinicamente instáveis, com histórico de

vertigem antes e depois do AVE, episódio vascular em tronco encefálico ou cerebelo,

Page 32: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

32

com sintomas de claustrofobia e distúrbio vestibular, presença de alterações que

impeçam a compreensão das tarefas ou identificação dos objetos, estado de confusão

mental, com diminuição da sensibilidade plantar, acuidade visual insuficiente para

identificar a imagem dos objetos projetadas a um metro de distância.

Dados sócio-demográficos e clínicos foram coletados para caracterização dos

grupos de estudo, sejam eles: data de nascimento; data do quadro ictal e tempo de lesão;

história da moléstia atual incluindo qualquer programa de reabilitação realizado até a

data da avaliação; queixas e doenças referidas; medicamentos; identificação e avaliação

da dor.

4.3. Instrumentos de avaliação

Instrumentos de avaliação foram utilizados como forma de caracterizar os

participantes do estudo. Além disso, alguns dos instrumentos foram utilizados para

avaliação dos critérios de exclusão do estudo. Nestes casos, o critério utilizado será

especificado após sua descrição.

Entre os instrumentos aplicados para avaliar a sensibilidade cutânea dos

participantes, foi utilizado o Estesiômetro Semmes-Weinstein®64

(Anexo 3) composto

por sete monofilamentos de diferentes espessuras e pesos. diferentes espessuras e pesos.

A capacidade de sentir os mais leves, 0,05g (verde) e 0,2g (azul), é considerada normal

para o pé; e esta capacidade diminui progressivamente para os monofilamentos de 2g

(violeta), 4g (Vermelho escuro), 10g (laranja), 300g (vermelho magenta) e pressão

profunda (preto) para nenhuma resposta. Esse instrumento foi utilizado para avaliar a

integridade sensorial dos membros inferiores (face plantar dos pés) da seguinte forma: o

participante com os olhos fechados, sentado, era instruído a referir qual região do pé era

Page 33: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

33

tocada pelo monofilamento. O filamento deveria envergar durante a aplicação da força

axial exercida pelo examinador e o teste ser demonstrado em área do corpo com

sensibilidade normal para assegurar a confiança do examinador e do indivíduo antes do

teste ser iniciado. O teste iniciava com a aplicação do monofilamento mais leve (verde),

sendo repetida até três vezes em intervalos de tempo variados. A orientação da resposta

durante a sensação de toque foi “sim” e também, o participante deveria apontar o local

testado. Caso nenhuma resposta fosse manifestada, o teste deveria prosseguir com a

aplicação do próximo monofilamento mais pesado, sucessivamente. Os indivíduos que

obtiveram resposta positiva apenas para os filamentos de espessura maior que o da cor

laranja (maior que 10g), indicando sensibilidade somente para pressão profunda, foram

excluídos do estudo.

O Teste de Snellen65

foi utilizado para avaliar a acuidade visual. Uma tabela

com imagens da letra E em tamanhos e orientações diferentes foi apresentada a uma

distância de 3 metros do participante. O avaliador apontou 3 letras em cada linha do

teste a partir da linha de número 0,5, evoluindo para linhas com letras de tamanho

menor (ou maior), diante de duas respostas corretas (ou erradas) em cada uma das linhas

apresentadas. O teste foi realizado com o participante sentado para ser avaliado o olho

esquerdo e direito, individualmente. Os indivíduos que utilizavam óculos permaneciam

com ele durante todos os testes. O avaliador anotou o valor da linha onde o indivíduo

acertou as três indicações para ser incluído no estudo.

O Teste de Dominância Motora pelo inventário de Edinburgh66

foi utilizado em

sua versão modificada (Anexo 4). Trata-se de um questionário constituído de 10 itens

que determina a mão utilizada durante determinadas tarefas como: comer, usar uma

tesoura, usar a faca, dentre outros. O pesquisador lê os itens ao participante, que terá

como opções de resposta: mão direita, mão esquerda ou ambas. Todos os participantes

Page 34: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

34

do estudo mostraram dominância motora manual direita de pelo menos 80%. Os

participantes com valores menores foram excluídos do estudo.

O Mini-Exame do Estado Mental67

avaliou os domínios: orientação temporal e

espacial, atenção, memória, cálculo, linguagem e habilidade de copiar um desenho. O

exame gera uma pontuação máxima de 30 (Anexo 5). Os resultados foram classificados

conforme pontuações por escolaridade: para analfabetos ≤ 20 pontos; de 1 até 4 anos de

escolaridade, 25 pontos; de 8 a 5 anos de escolaridade, 26,5 pontos; de 9 a 11 anos de

escolaridade, 28 pontos e para indivíduos com mais de 11 anos de escolaridade, 30

pontos. Foram incluídos no estudo indivíduos que apresentaram escore maior do que o

indicado para sua escolaridade.

O Teste de Percepção Visual Sem Movimento68

é um teste composto por 36

ítens organizados em seis habilidades diferentes de percepção visual (orientação

espacial/relacionamentos, discriminação visual, percepção figura-fundo, fechamento

visual, memória visual, e constância forma) para indivíduos de 0 a 95 anos, com e sem

comprometimento neurológico (Anexo 6). Os ítens foram apresentados em desenhos

preto e branco, formato de múltipla escolha e não requeriram habilidade motora para ser

respondido. Esse teste não separa os domínios em subescalas para análises individuais,

apesar de auxiliar na identificação de inabilidades específicas. Para cada acerto foi

atribuído um ponto.

4.4. Procedimentos experimentais

A oscilação postural foi mensurada durante a manutenção da postura ereta quieta

sobre uma plataforma de força (Modelo OR6-7, AMTI com dimensões de 46,4 x 50,8 x

8,25 cm) para registro dos três componentes da força (Fx, Fy e Fz, onde x, y e z são as

Page 35: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

35

direções ântero-posterior, médio-lateral e vertical, respectivamente) e os três

componentes do momento de força (Mx, My e Mz). Para a captação dos registros na

plataforma a frequência utilizada foi de 100 Hz com uso do programa LabView 2009.

Os indivíduos testados permaneceram na postura ereta quieta (Figura 1),

descalços e posicionados confortavelmente em duas condições experimentais:

isoladamente (TS) e em conjunto com uma tarefa secundária cognitiva (DT). O

desempenho da tarefa cognitiva isoladamente também foi avaliado com o indivíduo

sentado em uma cadeira. A ordem de realização de cada uma das três atividades

propostas foi aleatorizada entre os participantes.

Na primeira tentativa sobre a plataforma de força, os pés eram contornados com

giz para assegurar que a base de suporte permaneceria inalterada em todas as tentativas.

As distâncias entre os dois hálux, as bordas laterais dos pés e os calcâneos também

foram mensuradas. Para cada condição testada (TS e DT) os participantes realizaram

duas tentativas de 35 segundos. Antes do início das coletas, cada participante recebia

instruções para manter-se em silêncio, com os olhos abertos e o corpo o mais parado

possível. Quando sentados (Figura 2), os participantes permaneceram com o tronco

apoiado, ângulo articular dos quadris, joelhos e tornozelos mantidos a 90° e os pés

apoiados no solo, para realizarem a tarefa cognitiva. Em todas as condições os

participantes eram posicionados a um metro de distância de um monitor de 15

polegadas com fundo branco. Na TS, os participantes foram instruídos a fixar o olhar no

alvo (círculo preto de 3 cm) localizado no centro da tela situada na altura dos olhos.

Page 36: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

36

Figura 1. Posição adotada pelo participante na postura ereta quieta sobre a plataforma

de força durante as tarefas experimentais.

Figura 2. Posição adotada pelo participante sentado durante as tarefas experimentais.

Na DT, duas sequências de dez imagens (Figura 3) foram projetadas no monitor.

A escolha das imagens utilizadas na DT foi baseada em diferentes temas comuns do

cotidiano, sejam eles: alimentação, lazer e animais. No início de cada tentativa uma tela

Page 37: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

37

de fundo branco foi apresentada para simbolizar o início da sequência das dez figuras

programadas, automaticamente, para mudar a cada três segundos. Os participantes

foram orientados a manter atenção na atividade e memorizar as imagens até que a

sequência fosse encerrada com a aparição de uma tela com fundo branco. Ao término da

tentativa o participante deveria citar as imagens memorizadas independentemente da

ordem, e o avaliador anotava os acertos na ficha de coleta, assim como as

particularidades destacadas sobre o desempenho. Durante essa fase de citação das

imagens memorizadas, nenhuma aquisição de dados da plataforma de força foi

realizada.

Figura 3. Sequências das dez imagens projetadas no monitor na DT.

Um tempo para descanso foi permitido sempre que necessário, embora tenham

sido adotados intervalos de 1 minuto entre as tentativas e 5 minutos entre condições. Por

questão de segurança, um segundo avaliador permanecia próximo e atrás do participante

durante a coleta de dados.

4.5. Processamento e análise dos dados

Os dados da plataforma de força foram utilizados para calcular a posição do

centro de pressão (CP) foram CP= [My + (-h × Fx)] / Fz, onde a letra h significa a altura

da base de apoio acima da plataforma de força. As séries temporais do CP foram

Page 38: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

38

filtradas utilizando um filtro passa-baixa Butterworth, de 2ª ordem, de 10 Hz. Os

primeiros e últimos 2,5 segundos das tentativas foram descartados da análise para

eliminar os efeitos da expectativa do início e ansiedade do final do período de coleta.

Foram calculadas as variáveis dependentes relacionadas à oscilação postural e,

definidas por uma análise global das séries temporais do CP: área da oscilação total

utilizando registros do CP das duas direções (ântero-posterior, AP e médio-lateral, ML)

e amplitude média de oscilação (AMdO) e velocidade média (VMd) do CP para cada

direção separadamente. AMdO foi calculada pelo desvio padrão da série temporal do

CP; VMd calculada como a somatória das diferenças entre cada par de quadros da série

temporal do CP, dividida pelo tempo total da tentativa (no presente estudo, 30

segundos, já que os primeiros e últimos 2,5 segundos foram descartados da análise). A

área de oscilação total foi calculada por meio do método estatístico de análise dos

componentes principais para determinação da área de uma elipse englobando 85% dos

dados do CP. A média entre as duas tentativas para cada variável foi calculada e

utilizada para análise estatística.

4.6. Análise estatística

Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa estatístico

SPSS 13.0. Inicialmente foram realizados testes de normalidade em todos os dados

analisados, a qual foi confirmada. Para verificar se o efeito da DT sobre a oscilação

postural foi realizada uma análise de variância para cada variável (ANOVA 2 x 2),

tendo como fatores grupo (GAVE e GC) e tarefa (TS e DT). Uma segunda ANOVA (2

x 2) foi realizada para comparar os grupos pós-lesão em hemisfério direito e esquerdo.

Para tanto foram considerados como fatores principais grupo (GAVED e GAVEE) e

Page 39: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

39

tarefa (TS e DT). Testes post-hoc com ajustes de Bonferroni foram realizados quando

apropriado. O valor de significância foi mantido em 0,05.

Page 40: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

40

5. RESULTADOS

As características sócio-demográficas e clínicas dos grupos estudados, GAVE e

GC, são apresentadas na Tabela 1. Não houve diferença entre grupos na idade, massa,

estatura e tempo de lesão.

Tabela 1. Dados sócio-demográficos e clínicos dos grupos estudados.

Não houve diferença no número de acertos na tarefa cognitiva com o

participante na postura ereta ou sentado. Também não houve diferença significante entre

os grupos para a tarefa de percepção visual (Tabela 2).

Page 41: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

41

Tabela 2. Valores da mediana do número de acertos nas duas tentativas de

memorização com o participante na postura ereta e sentado do escore total no teste de

percepção para os grupos estudados.

A representação do estatocinesigrama para um indivíduo representativo de cada

grupo estudado pode ser vista na figura 4.

Page 42: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

42

Figura 4. Estatocinesigrama de um indivíduo representativo de cada grupo estudado

sendo GC=grupo controle; GAVED=grupo AVE com lesão hemisférica esquerda;

GAVED=grupo AVE com lesão hemisférica direita; CP=controle postural; AP= ântero-

posterior; ML = médio-lateral (em centímetros).

Page 43: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

43

Em relação à análise da amplitude média de oscilação para a direção AP, foi

observada uma diferença estatisticamente significante (F1,20=7,8; p=0,01) entre os

grupos estudados. O grupo GC (0,24±0,25 cm) oscilou menos do que o grupo com

GAVE (0,33±0,02 cm). Foi observada uma diferença significativa entre as tarefas

(F1,20=4,18; p=0,05). Houve maior oscilação durante a TS (0,31±0,02 cm) quando

comparada à DT (0,27±0,02 cm). Não houve interação significativa entre os fatores

grupo e tarefa (F1,20 = 0,35; p=0,56). Na comparação entre GAVED e GAVEE para

amplitude média na direção AP, não foram observadas diferenças entre os grupos

(F1,10=3,09; p=0,11), entre tarefas (F1,10=3,29; p=0,10) ou interação entre os fatores

(F1,10=0,43; p=0,53). O GAVED apresentou uma amplitude de 0,38 (±0,03) cm

enquanto o GAVEE de 0,30 (±0,03) cm (Figura 5).

Na análise da AMdO para a direção ML (Figura 5), foi observada uma diferença

estatisticamente significante (F1,20=14,73; p=0,001) entre os grupos. O GC (0,10±0,02

cm) apresentou uma amplitude de oscilação menor do que o GAVE (0,22±0,02 cm).

Não foi observada diferença entre as tarefas (F1,20=2,08; p=0,17). A oscilação na TS foi

de 0,15±0,01 cm e na DT de 0,17±0,02 cm. Não houve interação significativa entre os

fatores grupo e tarefa (F1,20 = 0,45; p=0,51). Quando comparados os GAVED e GAVEE

foram observadas diferenças significativas (F1,10=6,70; p=0,03) entre os grupos mas não

entre as tarefas (F1,10=4,12; p=0,70). Houve ainda interação entre os fatores grupo e

tarefa (F1,10=14,08; p=0,004). O GAVED apresentou maior oscilação postural

(0,31±0,03 cm) do que o GAVEE (0,15±0,03 cm) na DT, mas na TS a oscilação foi

similar entre os dois grupos (GAVED=0,23±0,03 cm; GAVEE=0,17±0,03 cm).

Page 44: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

44

Figura 5: Amplitude média de oscilação do centro de pressão (AMdO) dos grupos em

cada condição estudada, sendo GC=grupo controle; GAVEE=grupo AVE com lesão

hemisférica esquerda; GAVED=grupo AVE com lesão hemisférica direita; TS=tarefa

simples; DT=dupla tarefa; AP= ântero-posterior; ML=médio-lateral; cm=centímetros.

Em relação à análise da VMd do CP para a direção AP não foi observada uma

diferença (F1,20=2,10; p=0,16) entre os grupos GC (0,70±0,09 cm/s) e GAVE

(0,89±0,09 cm/s). A velocidade foi similar (F1,20=0,65; p=0,43) para a TS (0,81±0,07

cm/s) e para a DT (0,77±0,07 cm/s). Não foi observada interação significativa entre os

fatores grupo e tarefa (F1,20=0,88; p=0,36). Não foram observadas diferenças entre

GAVED e GAVEE (F1,10=0,07; p=0,79), entre as tarefas (F1,10=0,00; p=0,93) ou

interação entre os fatores (F1,10=1,98; p=0,19). O GAVED apresentou uma velocidade

de 0,91 (±0,15) cm/s e o GAVEE de 0,85 (±0,14) cm/s (Figura 6).

A VMd do CP para a direção ML foi observada uma diferença (F1,20=10,10;

p=0,005) entre os grupos. O grupo GC (0,28±0,04 cm/s) apresentou uma VMd menor

do que o GAVE (0,46±0,04 cm/s). Não houve diferença entre as tarefas (F1,20=0,38;

Page 45: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

45

p=0,55) ou interação significativa entre os fatores grupo e tarefa para esta variável

(F1,20=0,06; p=0,80). Na comparação entre GAVED (0,50±0,7 cm/s) e GAVEE

(0,43±0,28 cm/s) não foram observadas diferenças entre os grupos (F1,10=0,62; p=0,45),

entre as tarefas (F1,10=0,05; p=0,82) ou interação entre os fatores (F1,10=2,45; p=0,15)

(Figura 6).

Figura 6. Velocidade média da oscilação do centro de pressão (VMd) dos grupos em

cada condição estudada, sendo GC=grupo controle; GAVEE=grupo AVE com lesão

hemisférica direita; GAVEE=grupo AVE lesão hemisférica esquerda; TS=tarefa

simples; DT=dupla tarefa; AP=ântero-posterior; ML=médio-lateral; cm/s=centímetros

por segundo.

Na análise da área da elipse (Figura 7), foi observada uma diferença

estatisticamente significante (F1,20=10,16; p=0,005) entre os grupos. O grupo GC

(0,31±0,14 cm2) apresentou uma área da elipse menor quando comparada com o GAVE

(0,90±0,13 cm2). Não foi observada diferença (F1,20=0,11; p=0,75) na área da elipse

Page 46: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

46

entre as tarefas (TS=0,61±0,11 cm2; DT=0,60±0,09 cm

2). Não houve interação

significativa entre os fatores grupo e tarefa (F1,20= 0,24; p=0,63). Foi observada

diferença (F1,10=4,95; p=0,05) entre GAVED e GAVEE para a área da elipse, mas não

entre as tarefas (F1,10=0,27; p=0,62) ou interação significativa entre os fatores

(F1,10=1,65; p=0,23). O GAVED apresentou a área da elipse de 1,21 (±0,20) cm2 e o

GAVEE de 0,58 (± 0,20) cm2.

Figura 7: Área da elipse do centro de pressão dos grupos em cada condição estudada,

sendo GC=grupo controle; GAVEE=grupo AVE com lesão hemisférica direita;

GAVEE=grupo AVE lesão hemisférica esquerda; TS=tarefa simples; DT=dupla tarefa;

AP=ântero-posterior; ML=médio-lateral; cm2=centímetros ao quadrado.

Page 47: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

47

6. DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostram que a adição da tarefa secundária cognitiva

gera diferentes efeitos no controle da postura ereta, em função da direção que o corpo

oscila e da lateralidade da lesão encefálica analisadas. Na condição de DT, houve uma

redução da oscilação do CP na direção AP tanto para os indivíduos sadios como para

aqueles após lesão encefálica. No entanto, a lateralidade da lesão hemisférica

influenciou de forma diferenciada os grupos estudados no controle postural na direção

ML durante a DT. Apenas para esta condição, a lesão em hemisfério direito gerou um

aumento da amplitude média de oscilação do CP na direção ML em comparação com a

lesão em hemisfério esquerdo. No entanto, para todos os grupos e condições, o

desempenho na tarefa cognitiva foi similar quando os participantes do estudo a

realizaram sentados e na postura ereta quieta.

Os indivíduos pós-lesão hemisférica encefálica à direita ou esquerda

apresentaram maior AMdO do CP nas direções AP e ML, VMd na direção ML e área de

elipse nas duas condições testadas, na TS e DT, quando comparados com indivíduos

sadios. Tais resultados têm sido descritos em indivíduos pós-lesão hemisférica e

atribuídos à redução da atenção9, à percepção distorcida dos limites de estabilidade do

corpo no espaço1 e às disfunções das respostas neuromotoras

46.

Os resultados do presente estudo mostram que a ocorrência de uma lesão em

hemisfério direito aumenta a AMdO na direção ML e a área de elipse, em relação a

lesão em hemisfério esquerdo. O mesmo foi encontrado nos estudos de Peronneou e

colaboradores1

e Peurala e colaboradores 46

. Esses resultados podem ser atribuídos à

falha do processamento das informações sensoriais situado, principalmente, nos lobos

parietal e insular direito26

. Estas áreas são responsáveis pelo trânsito das informações

Page 48: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

48

que norteiam as respostas neuromotoras para que a postura se mantenha ereta e o mais

parada possível1,41,63

. A maior assimetria corporal pós-lesão hemisférica direita9 pode

ser outra justificativa para o aumento da oscilação no GAVED. Entretanto, não

podemos sustentar esta afirmação visto que no presente estudo somente uma plataforma

de força foi utilizada.

Peurala e colaboradores46

verificaram maior VMd de oscilação do CP nos

indivíduos com hemiparesia nas direções AP e ML. Os autores justificaram esse achado

pela degradação na captação e processamento dos canais sensoriais pós-lesão

hemisférica, que podem fazer com que o SNC estabeleça parâmetros duvidosos sobre os

reais limites de estabilidade da base de suporte e, desse modo, causar incertezas sobre a

noção do corpo no espaço40,69

.

Neste estudo, houve redução da amplitude de oscilação na direção AP durante a

DT em relação à TS em todos os grupos. Esses efeitos, que parecem ser determinados

pela natureza e complexidade das atividades desempenhadas54,57,58

, foram encontrados

entre os jovens54,60

; em idosos sadios4,11,57

e, pós-lesão encefálica8,62

.

Hyndman e colaboradores8 sugeriram que a redução da oscilação do CP durante

a DT cognitiva de memorização auditiva de uma lista com sete itens de mercado em um

grupo de 36 indivíduos pós-AVE, estava relacionada com a competição entre as tarefas.

Outros autores descreveram que o desvio da atenção dos próprios movimentos (foco

interno) para a tarefa cognitiva (foco externo) melhoraria a ativação dos mecanismos

automáticos posturais que acarreta no aumento da rigidez muscular e,

consequentemente, na redução da oscilação do CP70-73

.

Nos resultados do presente estudo o GAVED apresentou aumento da AMdO

durante a DT na direção ML, enquanto que o GAVEE reduziu a oscilação do CP nessa

mesma condição. Ressalta-se que quando o nível de desempenho de uma das tarefas

Page 49: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

49

envolvidas na DT diminui em comparação com esta mesma tarefa realizada

isoladamente, implica que os requisitos atencionais excederam a capacidade do

indivíduo em realizá-las simultaneamente, comprometendo o desempenho desta

tarefa53,61,74

. Estudos mostram que a capacidade atencional de indivíduos com

hemiparesia é menor do que nos indivíduos sadios9,48

e, que a demanda de atenção

aumenta conforme o grau de dificuldade para controlar a postura ereta quieta63

. Como

no presente estudo o desempenho cognitivo foi mantido nas duas condições

experimentais (nas posturas ereta quieta e sentada), é possível sugerir que o foco

atencional permaneceu na tarefa secundária durante a memorização.

A percepção dos limites de estabilidade seguros para a projeção do corpo no

espaço depende, principalmente, das áreas do hemisfério parietal direito1 estabelecida

durante o desenvolvimento neuropsicomotor. A partir dos movimentos extensores e

flexores do corpo no plano sagital o controle postural na direção AP é primeiramente

desenvolvido75

. Esses movimentos são aperfeiçoados durante a inter-relação entre os

diversos graus de liberdade proporcionados pelas experiências individuais exploratórias

realizadas pelo corpo em várias direções, conforme as exigências do ambiente26,76-78

.

Hadders-Algra e colaboradores75

revelaram que nesse processo, a ativação sinérgica dos

músculos extensores dorsais ocorre antes e mais rapidamente do que a ativação

sinérgica entre os flexores ventrais. Nessa fase o SNC utilizaria o sinergismo extensor

"fixo" como uma solução temporária para sustentar a postura vertical. Com o aumento

da influência cortical sobre o controle postural, o sinergismo extensor seria modulado

gradualmente, de acordo com a aquisição de habilidades de ficar em pé e andar (dos 9

meses aos 3 anos). Massion76

verificou que a representação espacial desse controle se

desenvolve ao longo do eixo céfalo-caudal na relação estabelecida com o mundo ao

redor. Os módulos desse desenvolvimento espacial são constituídos por três níveis,

Page 50: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

50

iniciados pelos movimentos da cabeça e, direcionados pelas aferências visuais,

vestibulares e proprioceptivas do pescoço (reflexos labirínticos). Em seguida, os

receptores localizados na área lombar (ao redor dos rins) enviam informações para o

tronco adquirir controle contra a gravidade (reflexos posturais da coluna lombar)79

; e,

finalmente no terceiro nível, as informações geradas nas solas e nos músculos dos pés e

dos membros inferiores aprimoram o desenvolvimento do controle da posição ereta80

.

Assim, a ocorrência de uma lesão hemisférica durante a idade adulta pode comprometer

esses limites do corpo no espaço estabelecidos e, alterar a oscilação do CP1,63

.

No presente estudo os GAVE e GC reduziram a amplitude de oscilação do CP

nas direções AP e ML durante a DT. Para estes grupos o desvio da atenção para a tarefa

secundária (foco externo) pode ter ativado os mecanismos posturais automáticos de

modo mais eficiente70,71

. Em contrapartida, o GAVED também reduziu a oscilação na

direção AP, mas aumentou na direção ML durante a DT. A necessidade de compartilhar

o recurso visual para manter a postura com a memorização visual das figuras parece ter

alterado o fluxo das informações sensoriais disponíveis para este grupo. Isto pode ter

sido suficiente para o GAVED controlar a oscilação postural na direção AP,

primeiramente desenvolvida, mas excedido sua capacidade para controlar a oscilação

postural na direção ML.

Haart e colaboradores17

verificaram um aumento da oscilação do CP na direção

ML em indivíduos pós-lesão hemisférica durante a DT aritmética. Apesar dos autores

não terem avaliado a simetria corporal, eles observaram que o grau de dependência

visual dos indivíduos refletiu na melhora do equilíbrio no plano frontal indicando uma

melhora da integração somatossensorial que, por sua vez, levaria a uma maior utilização

do membro inferior parético. Bensoussan e colaboradores9 observaram indivíduos com

hemiparesia e também constataram um aumento da oscilação durante o deslocamento

Page 51: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

51

do CP, mas sem comparar o desempenho entre hemisférios. Ainda, os autores

verificaram uma maior assimetria corporal nos indivíduos pós-lesão hemisférica direita

nas condições: olhos fechados e durante a DT (pronúncia regressiva de um dígito a

partir de 50, após o sinal auditivo). Neste estudo, não é possível assegurar, no entanto,

se o aumento da oscilação foi gerado apenas pela articulação da palavra envolvida na

DT.

Os participantes do GC e GAVE do presente estudo apresentaram escores

semelhantes quando avaliados pelo Teste de Percepção Visual sem Movimento68

.

Ressalta-se, no entanto, que a amostra reduzida nos grupos de lesão em hemisfério

esquerdo e direito, uma limitação deste estudo, pode não ter permitido que possíveis

alterações perceptuais fossem evidenciadas por este teste.

Os resultados deste estudo demonstraram que a divisão da demanda atencional

durante a DT cognitiva de memorização visual, pode aumentar a AMdO na direção ML

pós-lesão hemisférica direita, pela maior dependência que esse canal sensorial gera para

essa população durante o controle postural. Essa perturbação pode ser responsável pela

redução do estado funcional desses indivíduos62

. É possível sugerir diante dos dados do

presente estudo, que as estratégias eficientes para o tratamento desta população, podem

estar relacionadas com propostas terapêuticas desafiadoras que os ajude a lidar com seus

limites de estabilidade para melhora da percepção espacial e da noção de verticalidade

do corpo no espaço.

Page 52: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

52

CONCLUSÃO

As lesões hemisféricas cerebrais geram maior oscilação do CP durante a postura

ereta quieta assim como durante a DT cognitiva.

Tanto indivíduos sadios quanto aqueles com lesão hemisférica pós-AVE

reduzem a oscilação do CP durante a DT, exceto nas lesões do hemisfério direito, as

quais geram um aumento da amplitude média de oscilação do CP na direção ML e na

área da elipse na condição de DT. No entanto, indivíduos sadios e com hemiparesia pós-

AVE apresentam desempenho similar na tarefa cognitiva na postura ereta e quando

sentados.

Novos estudos precisam ser realizados para ampliar a compreensão sobre o

papel dos hemisférios durante o controle postural associado a tarefas não posturais.

Page 53: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Perennou DA, Leblond C, Amblard B, Micallef JP, Rouget E, Pelissier J. The

polymodal sensory cortex is crucial for controlling lateral postural stability: evidence

from stroke patients. Brain Res Bull. 2000; 53(3):359-65.

2. Winter DA. Biomechanics and Motor Control of human movement. 3rd ed.:

John Wiley & Sons; 2005.

3. Yardley L, Gardner M, Leadbetter A, Lavie N. Effect of articulatory and mental

tasks on postural control. Neuroreport. 1999; 10(2):215-9.

4. Lajoie Y, Teasdale N, Bard C, Fleury M. Attentional demands for static and

dynamic equilibrium. Exp Brain Res. 1993; 97(1):139-44.

5. Marigold DS, Eng JJ. The relationship of asymmetric weight-bearing with

postural sway and visual reliance in stroke. Gait Posture. 2006; 23(2):249-55.

6. Manor B, Hu K, Zhao P, Selim M, Alsop D, Novak P, et al. Altered control of

postural sway following cerebral infarction: a cross-sectional analysis. Neurology.

2010; 74(6):458-64.

7. Esparza DY, Archambault PS, Winstein CJ, Levin MF. Hemispheric

specialization in the co-ordination of arm and trunk movements during pointing in

patients with unilateral brain damage. Exp Brain Res. 2003; 148(4):488-97.

8. Hyndman D, Ashburn A, Yardley L, Stack E. Interference between balance, gait

and cognitive task performance among people with stroke living in the community.

Disabil Rehabil. 2006; 28(13-14):849-56.

9. Bensoussan L, Viton JM, Schieppati M, Collado H, Milhe de Bovis V, Mesure

S, et al. Changes in postural control in hemiplegic patients after stroke performing a

dual task. Arch Phys Med Rehabil. 2007; 88(8):1009-15.

Page 54: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

54

10. Silsupadol P, Shumway-Cook A, Lugade V, van Donkelaar P, Chou LS, Mayr

U, et al. Effects of single-task versus dual-task training on balance performance in older

adults: a double-blind, randomized controlled trial. Arch Phys Med Rehabil. 2009;

90(3):381-7.

11. Swan L, Otani H, Loubert PV. Reducing postural sway by manipulating the

difficulty levels of a cognitive task and a balance task. Gait Posture. 2007; 26(3):470-4.

12. Rothwell JC. Control human voluntary movement Postural Control: 1993. p.

209-20p.

13. Duarte M, Freitas SM. Revision of posturography based on force plate for

balance evaluation. Rev Bras Fisioter. 2010; 14(3):183-92.

14. Horak FB. Postural orientation and equilibrium. In: Rotwell LB. Exercise:

Regulation and integration of multiple systems.New York: Published for the American

Physiological Society; 1996. p. 254-91.

15. Harris JE, Eng JJ, Marigold DS, Tokuno CD, Louis CL. Relationship of balance

and mobility to fall incidence in people with chronic stroke. Phys Ther. 2005;

85(2):150-8.

16. Brown LA, Sleik RJ, Polych MA, Gage WH. Is the prioritization of postural

control altered in conditions of postural threat in younger and older adults? J Gerontol A

Biol Sci Med Sci. 2002; 57(12):M785-92.

17. de Haart M, Geurts AC, Huidekoper SC, Fasotti L, van Limbeek J. Recovery of

standing balance in postacute stroke patients: a rehabilitation cohort study. Arch Phys

Med Rehabil. 2004; 85(6):886-95.

18. Jancova J. Measuring the balance control system--review. Acta Medica (Hradec

Kralove). 2008; 51(3):129-37.

Page 55: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

55

19. Horak FB, Nashner LM. Central programming of postural movements:

adaptation to altered support-surface configurations. J Neurophysiol. 1986; 55(6):1369-

81.

20. Horak FB. Postural orientation and equilibrium: what do we need to know about

neural control of balance to prevent falls? Age Ageing. 2006; 35 Suppl 2:ii7-ii11.

21. Latash ML. Neurophysiological Basis of Movement. Second Edition ed.: 2008.

22. Fitzpatrick R, McCloskey DI. Proprioceptive, visual and vestibular thresholds

for the perception of sway during standing in humans. J Physiol. 1994; 478 ( Pt 1):173-

86.

23. Fitzpatrick R, Rogers DK, McCloskey DI. Stable human standing with lower-

limb muscle afferents providing the only sensory input. J Physiol. 1994; 480 ( Pt

2):395-403.

24. Peterka JR. Sensorimotor integration in human postural control. J Neurophysiol.

2002; 88(3):1097–118

25. Lord SR, Clark, R.D., Webster, I.W. . Postural stability and associated

physiological factors in a population of aged persons. . J Gerontolol. 1991; 46(3):M69-

76.

26. Romanovich LA. Fundamentos de neuropsicologia. Livros técnicos e científicos

editora S.A. ed. Rio de Janeiro: 1981.

27. Latash ML, Fitzpatrick, R.C., McCloskey, D.J., . Proprioceptive, visual and

vestibular threshold for the perception of sway during standing in humans. J Physiol.

1994; 478( 1):173–86.

28. Oie KS, Kiemel T, Jeka JJ. Multisensory fusion: simultaneous re-weighting of

vision and touch for the control of human posture. Brain Res Cogn Brain Res. 2002;

14(1):164-76.

Page 56: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

56

29. Woollacott M, Shumway-Cook A. Attention and the control of posture and gait:

a review of an emerging area of research. Gait Posture. 2002; 16(1):1-14.

30. Swanenburg J, de Bruin ED, Favero K, Uebelhart D, Mulder T. The reliability of

postural balance measures in single and dual tasking in elderly fallers and non-fallers.

BMC Musculoskelet Disord. 2008; 9:162.

31. Sturnieks DL, St George R, Lord SR. Balance disorders in the elderly.

Neurophysiol Clin. 2008; 38(6):467-78.

32. Sterzi R, Bottini, G., Celani, M.G., Righetti, E., Lamassa, M., Ricci, S., and

Vallar, G. Hemianophia, hemianaesthesia, hemiplegia after right and lefth hemisphere

damage. A hemispheric difference. J Neurol Neurosurg Physichiatry. 1993; 56:308-10p.

33. Radanovic M. Características do atendimento de pacientes com acidente

vascular cerebral em hospital secundário. Arq Neuropsiquiatr. 2000; 58 (1):99-106.

34. Broderick JP, William, M. Feinberg Lecture: Stroke therapy in the year 2025.

Stroke. 2004; 35:205-11p.

35. André C. Manual do AVC. 2ª edição ed. Rio de Janeiro: 2006.

36. Di Fabio RP, Badke MB, McEvoy A, Breunig A. Influence of local sensory

afference in the calibration of human balance responses. Exp Brain Res. 1990;

80(3):591-9.

37. Di Fabio RP, Badke MB. Relationship of sensory organization to balance

function in patients with hemiplegia. Phys Ther. 1990; 70(9):542-8.

38. Bonan IV, Colle FM, Guichard JP, Vicaut E, Eisenfisz M, Tran Ba Huy P, et al.

Reliance on visual information after stroke. Part I: Balance on dynamic posturography.

Arch Phys Med Rehabil. 2004; 85(2):268-73.

39. Ikai T, Kamikubo T, Takehara I, Nishi M, Miyano S. Dynamic postural control

in patients with hemiparesis. Am J Phys Med Rehabil. 2003; 82(6):463-9; quiz 70-2, 84.

Page 57: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

57

40. Karnath HO, Ferber S, Dichgans J. The neural representation of postural control

in humans. Proc Natl Acad Sci U S A. 2000; 97(25):13931-6.

41. Laufer Y, Sivan, D., Schwarzmann, R., Sprecher, E. Standing balance and

functional recovery of patients with right and left hemiparesis in the early stages of

rehabilitation. Neurorehabil Neural Repair. 2003; 17(4):207–13.

42. Tyson SF, Hanley M, Chillala J, Selley A, Tallis RC. Balance disability after

stroke. Phys Ther. 2006; 86(1):30-8.

43. Kinsella G, Ford B. Acute recovery from patterns in stroke patients:

neuropsychological factors. Med J Aust. 1980; 2(12):663-6.

44. Ioffe ME, Chernikova LA, Umarova RM, Katsuba NA, Kulikov MA. Learning

postural tasks in hemiparetic patients with lesions of left versus right hemisphere. Exp

Brain Res. 2010; 201(4):753-61.

45. Nichols DS. Balance retraining after stroke using force platform biofeedback.

Phys Ther. 1997; 77(5):553-8.

46. Peurala SH, Kononen P, Pitkanen K, Sivenius J, Tarkka IM. Postural instability

in patients with chronic stroke. Restor Neurol Neurosci. 2007; 25(2):101-8.

47. Cluff T, Gharib T, Balasubramaniam R. Attentional influences on the

performance of secondary physical tasks during posture control. Exp Brain Res. 2010;

203(4):647-58.

48. Marshall SC, Grinnell D, Heisel B, Newall A, Hunt L. Attentional deficits in

stroke patients: a visual dual task experiment. Arch Phys Med Rehabil. 1997; 78(1):7-

12.

49. Prigatano GP. Neuropsychology, the patient's experience, and the political forces

within our field. Arch Clin Neuropsychol. 2000; 15(1):71-82.

Page 58: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

58

50. Haggard P, Cockburn J, Cock J, Fordham C, Wade D. Interference between gait

and cognitive tasks in a rehabilitating neurological population. J Neurol Neurosurg

Psychiatry. 2000; 69(4):479-86.

51. Yang YR, Wang RY, Chen YC, Kao MJ. Dual-task exercise improves walking

ability in chronic stroke: a randomized controlled trial. Arch Phys Med Rehabil. 2007;

88(10):1236-40.

52. Woollacott MH, Shumway-Cook A, Nashner LM. Aging and posture control:

changes in sensory organization and muscular coordination. Int J Aging Hum Dev.

1986; 23(2):97-114.

53. Olivier I, Cuisinier R, Vaugoyeau M, Nougier V, Assaiante C. Age-related

differences in cognitive and postural dual-task performance. Gait Posture. 2010;

32(4):494-9.

54. Kerr B, Condon SM, McDonald LA. Cognitive spatial processing and the

regulation of posture. J Exp Psychol Hum Percept Perform. 1985; 11(5):617-22.

55. Yardley L, Gardner M, Lavie N, Gresty M. Attentional demands of perception

of passive self-motion in darkness. Neuropsychologia. 1999; 37(11):1293-301.

56. Riley MA, Baker AA, Schmit JM, Weaver E. Effects of visual and auditory

short-term memory tasks on the spatiotemporal dynamics and variability of postural

sway. J Mot Behav. 2005; 37(4):311-24.

57. Swan L, Otani H, Loubert PV, Sheffert SM, Dunbar GL. Improving balance by

performing a secondary cognitive task. Br J Psychol. 2004; 95(Pt 1):31-40.

58. Beilock SL, Carr TH, MacMahon C, Starkes JL. When paying attention becomes

counterproductive: impact of divided versus skill-focused attention on novice and

experienced performance of sensorimotor skills. J Exp Psychol Appl. 2002; 8(1):6-16.

Page 59: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

59

59. Beilock SL, Wierenga SA, Carr TH. Expertise, attention, and memory in

sensorimotor skill execution: impact of novel task constraints on dual-task performance

and episodic memory. Q J Exp Psychol A. 2002; 55(4):1211-40.

60. Vuillerme N, Nougier V, Teasdale N. Effects of a reaction time task on postural

control in humans. Neurosci Lett. 2000; 291(2):77-80.

61. Vuillerme NaN, G. How attentional focus on body sway affects postural control

during quiet standing. Psychological Research 2007; 71(2):192-200.

62. Hyndman D, Pickering RM, Ashburn A. Reduced sway during dual task balance

performance among people with stroke at 6 and 12 months after discharge from

hospital. Neurorehabil Neural Repair. 2009; 23(8):847-54.

63. Perennou DA, Amblard B, Laassel el M, Benaim C, Herisson C, Pelissier J.

Understanding the pusher behavior of some stroke patients with spatial deficits: a pilot

study. Arch Phys Med Rehabil. 2002; 83(4):570-5.

64. Lehman LF, Orsini MB, Nicholl AR. The development and adaptation of the

Semmes-Weinstein monofilaments in Brazil. J Hand Ther. 1993; 6(4):290-7.

65. Lovie-Kitchin JE. Validity and reliability of visual acuity measurements.

Ophthalmic Physiol Opt. 1988; 8(4):363-70.

66. Oldfield RC. The assessment and analysis of handedness: the Edinburgh

inventory. Neuropsychologia. 1971; 9(1):97-113.

67. Brucki SM, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci PH, Okamoto IH. [Suggestions

for utilization of the mini-mental state examination in Brazil]. Arq Neuropsiquiatr.

2003; 61(3B):777-81.

68. Cate Y, Richards L. Relationship between performance on tests of basic visual

functions and visual-perceptual processing in persons after brain injury. Am J Occup

Ther. 2000; 54(3):326-34.

Page 60: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

60

69. Perennou DA, Mazibrada G, Chauvineau V, Greenwood R, Rothwell J, Gresty

MA, et al. Lateropulsion, pushing and verticality perception in hemisphere stroke: a

causal relationship? Brain. 2008; 131(Pt 9):2401-13.

70. Wulf G, McNevin N, Shea CH. The automaticity of complex motor skill

learning as a function of attentional focus. Q J Exp Psychol A. 2001; 54(4):1143-54.

71. Wulf G, Prinz W. Directing attention to movement effects enhances learning: a

review. Psychon Bull Rev. 2001; 8(4):648-60.

72. Wulf G, Shea C, Park JH. Attention and motor performance: preferences for and

advantages of an external focus. Res Q Exerc Sport. 2001; 72(4):335-44.

73. McNevin NH, Wulf G. Attentional focus on supra-postural tasks affects postural

control. Hum Mov Sci. 2002; 21(2):187-202.

74. Maki BE, McIlroy WE. Influence of arousal and attention on the control of

postural sway. J Vestib Res. 1996; 6(1):53-9.

75. Hadders-Algra M, Brogren E, Forssberg H. Development of postural control--

differences between ventral and dorsal muscles? Neurosci Biobehav Rev. 1998;

22(4):501-6.

76. Massion J. Postural control systems in developmental perspective. Neurosci

Biobehav Rev. 1998; 22(4):465-72.

77. Massion J, Alexandrov A, Frolov A. Why and how are posture and movement

coordinated? Prog Brain Res. 2004; 143:13-27.

78. Anauate MC. Intervenção em agnosia visual e distúrbios visuoespaciais: uma

abordagem da Terapia ocupacional. . In: EDUNISC. Tecnologia em (RE) Habilitação:

uma perspectiva multidisciplinar.São Paulo: 1998. p. 213-5p.

Page 61: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

61

79. Tokizane T, Murao M, Ogata T, Kondo T. Electromyographic studies on tonic

neck, lumbar and labyrinthine reflexes in normal persons. Jpn J Physiol. 1951; 2(2):130-

46.

80. Gordon CR, Fletcher WA, Melvill Jones G, Block EW. Adaptive plasticity in

the control of locomotor trajectory. Exp Brain Res. 1995; 102(3):540-5.

Page 62: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

62

ANEXO 1: Aceite do Projeto no Comitê de Ética em Pesquisa

Page 63: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

63

ANEXO 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Page 64: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

64

Page 65: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

65

ANEXO 3: Tabela de referência para avaliação de sensibilidade cutânea

Page 66: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

66

ANEXO 4: Inventário de Edinburgh

INVENTÁRIO DE EDINBURGH

Por favor, indique sua preferência manual nas seguintes atividades, assinalando + na coluna

apropriada. Quando sua preferência for tão forte de modo a você não ser capaz de usar a outra mão,

assinale ++. Se não existir preferência, assinale + nas duas colunas.

ESQUERDA DIREITA

1. Escrever

2. Desenhar

3. Jogar uma pedra

4. Usar uma tesoura

5. Escovar os dentes

6. Usar uma faca (sem o garfo)

7. Usar uma colher

8. Usar uma vassora (mão superior)

9. Acender um fósforo

10. Abrir a tampa de um vidro (mão que segura a tampa)

Com qual pé você prefere chutar?

Qual olho você usa quando está usando um só?

Page 67: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

67

ANEXO 5: Mini-Exame do Estado Mental

Page 68: EFEITOS DA DUPLA TAREFA COGNITIVA NO CONTROLE …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/mestrado... · Figura 3: Sequências das dez imagens projetadas no monitor

68

ANEXO 6: Teste de Percepção Visual Sem Movimento

TESTE DE PERCEPÇÃO VISUAL SEM MOVIMENTO

(MOTOR FREE VISUAL PERCEPTION TEST FORM) NOME:_________________________________ IDADE:_______ GÊNERO: F / M DATA:_____/_____/______

DIAGNÓSTICO:_______________________________________________ DÉFICIT VISUAL: SIM / NÃO EXAMINADOR:______________________________________

(Respostas em menos do que 1 minuto Não mais do que 8 erros; não contar ao paciente se a resposta está correta ou errada)

Exemplo A B C D Tempo Tente este exemplo. Olhe a figura acima. Encontre-a nas figuras abaixo.

Após o avaliado responder: As próximas questões serão desta forma. 1 A B C D 2 A B C D 3 A B C D 4 A B C D Sem

Tempo Esta é uma nova seção. Olhe a figura acima. Onde ela está escondida nas figuras abaixo? Após o avaliado responder: As próximas questões serão desta forma.

5 A B C D 6 A B C D

7 A B C D 8 A B C D Exemplo A B C D Esta é uma nova seção. Tente este exemplo. Olhe a figura acima.

Encontre-a nas figuras abaixo. Ela pode ser menor, maior, mais escura, invertida.

9 A B C D 10 A B C D 11 A B C D 12 A B C D

13 A B C D Exemplo A B C D Esta é uma nova seção. Tente este exemplo. Olhe a figura (mostrar por 5

segundos e virar a página). Agora a encontre aqui (mostrar a próxima página). Após o avaliado responder: As próximas questões serão desta forma.

14 A B C D 15 A B C D 16 A B C D 17 A B C D 18 A B C D

19 A B C D 20 A B C D 21 A B C D Exemplo A B C D Esta é uma nova seção. Tente este exemplo. Se nós terminássemos as

figuras abaixo, qual delas seria exatamente igual a figura acima? Após o avaliado responder: As próximas questões serão desta forma.

22 A B C D 23 A B C D 24 A B C D

25 A B C D 26 A B C D 27 A B C D 28 A B C D 29 A B C D 30 A B C D 31 A B C D 32 A B C D

Exemplo A B C D Esta é uma nova seção. Tente este exemplo. Qual figura é diferente das outras ou qual não é a mesma? Após o avaliado responder: As próximas questões serão desta forma.

33 A B C D 34 A B C D 35 A B C D 36 A B C D Observação: