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Suzel Aline Fortes Duarte Comportamento sísmico de nós de pórtico debetão armado reforçados com laminados deCFRP inseridos no betão de recobrimento Suzel Aline Fortes Duarte outubro de 2013 UMinho | 2013 Comportamento sísmico de nós de pórtico debetão armado reforçados com laminados deCFRP inseridos no betão de recobrimento Universidade do Minho Escola de Engenharia

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  • Suzel Aline Fortes Duarte

    Comportamento sísmico de nós de pórticodebetão armado reforçados com laminadosdeCFRP inseridos no betão de recobrimento

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    Universidade do MinhoEscola de Engenharia

  • outubro de 2013

    Tese de MestradoCiclo de Estudos Integrados Conducentes aoGrau de Mestre em Engenharia CivilPerfil de Estruturas e Geotecnia

    Trabalho efetuado sob a orientação doProfessor Doutor José Sena Cruz

    Suzel Aline Fortes Duarte

    Comportamento sísmico de nós de pórticodebetão armado reforçados com laminadosdeCFRP inseridos no betão de recobrimento

    Universidade do MinhoEscola de Engenharia

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    AGRADECIMENTOS

    A presente dissertação foi realizada no Departamento de Engenharia Civil (DEC) da

    Universidade do Minho, e está integrada num projeto de investigação subordinada ao

    tema “Estudo do comportamento de nós de pórticos de betão armado”, utilizando como

    material de reforço os CFRP “(Carbon Fiber Reinforced Polymer)”.

    Com a conclusão deste trabalho, gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos

    a todos aqueles, que de forma direta ou indireta ajudaram ao longo desta dissertação.

    Ao Professor José Sena Cruz, sob cuja orientação decorreu a realização da presente

    dissertação, quero expressar o meu profundo agradecimento pelos seus ensinamentos e

    orientação dispensada ao longo deste trabalho.

    Aos meus colegas Luca Fasan e Fabio Li Prizzi, que também participaram no

    desenvolvimento do trabalho, partilha de conhecimentos e disponibilidade.

    Aos doutorandos Esmaeel Esmaeeli e Hadi Baghi pelo apoio que deram para a execução

    do mesmo.

    Ao Laboratório de Estruturas de Engenharia Civil da Universidade do Minho, em

    especial ao Sr. António Matos e ao Engenheiro Marco Jorge pela ajuda prestada na

    realização deste trabalho.

    Ao laboratório de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro onde decorreram os

    ensaios, ao professor Humberto Varum e ao Engenheiro José Melo pela ajuda prestada

    na realização dos ensaios.

    O presente trabalho contou ainda com a colaboração das seguintes empresas: S&P

    Clever Reinforcement Ibérica Lda., Hilty Portugal-Produtos e Serviços, Lda. E Sika

    Portugal – Produtos Construção e indústria, S.A.

    Ao meu companheiro José Carlos Oliveira, pelo apoio incondicional, ao incentivo, a

    motivação e ao carinho prestado durante este trabalho.

    À minha família que mesmo à distância sempre me apoiaram.

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  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    RESUMO

    A necessidade de reforço das estruturas de edifícios de betão armado pode resultar de

    acidentes, de causas naturais (e.g. sismos), de projeto e/ou construção deficientes,

    alteração de critérios regulamentares ou falta de manutenção entre outras causas.

    Neste contexto, no âmbito da presente Dissertação, pretende estudar-se a aplicação da

    técnica de reforço designada NSM (“Near Surface Mouted”) a nós de pórtico de betão

    armado representativos de edifícios do final da década de 70, quando submetidos a

    ações cíclicas. Na técnica NSM os reforços em polímeros reforçados com fibras (FRP)

    são inseridos em finos entalhes abertos no betão de recobrimento. Normalmente estes

    reforços são fixos ao betão com recurso a adesivos de origem epoxídica.

    Os edifícios de betão armado do final da década de 70 são caraterizados por

    apresentarem betões de baixa resistência, armaduras lisas e ausência de critérios de

    dimensionamento adequados à ação dos sismos.

    Este trabalho é iniciado com uma revisão bibliográfica sobre o estado do conhecimento

    atual no que diz respeito à utilização de materiais compósitos no reforço de estruturas de

    betão armado, com particular destaque para as técnicas de reforço em nós de pórtico de

    betão.

    Segue-se a descrição da técnica de reforço a estudar, bem como a sua aplicação aos nós

    de pórtico a estudar por via experimental. Os ensaios experimentais realizados tiveram

    como objetivo fundamental validar a técnica de reforço proposta. Para tal foram

    ensaiados com quatro nós de pórtico de betão armado, com distintas soluções de

    reforço.

    Estes quatro nós, foram posteriormente submetidos a ensaio cíclico. Os resultados

    destes ensaios revelaram que a técnica proposta constitui uma solução promissora para o

    reforço de nós de pórtico quando submetidos a ações desta natureza.

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  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    ABSTRACT

    The need for strengthening of reinforced concrete buildings can result in accidents,

    natural causes (earthquakes), design and / or construction disabled, changing regulatory

    criteria or lack of maintenance among other causes.

    In this context, the scope of this dissertation aims to study the application of the NSM

    strengthening technique called us gantry concrete buildings representative of the late

    70s, when subjected to cyclic loads. In technical NSM reinforcements in fiber

    reinforced polymers (FRP) are inserted into thin open slots in the concrete cover.

    Usually these reinforcements are fixed to concrete using epoxy adhesives source.

    The reinforced concrete buildings of the late 70s are characterized by presenting

    concrete with low resistance, smooth and no armor design criteria appropriate to the

    action of earthquakes.

    This paper starts with a literature review on the state of current knowledge regarding the

    use of composites in strengthening of concrete structures, with particular emphasis on

    the techniques of reinforcement in concrete.

    Below is the description of the reinforcement technique to study as well as its

    application to the study we gantry via experimental. Experimental tests were performed

    to validate the fundamental goal of strengthening technical proposal. To this end we

    were tested with four gantry reinforced concrete reinforcement with different solutions.

    These were later subjected to cyclic test. The results of these trials showed that the

    proposed technique is a promising solution for the enhancement of us gantry when

    subject to cyclic loads.

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    PALAVRAS-CHAVE

    Nós de pórtico

    Betão Armado

    Ligações Viga Pilar

    Polímeros Reforçados com Fibras (FRP)

    Técnica de reforço NSM (“Near Suurface Mounted”)

    Ação Cíclica

    KEY WORDS

    Frame Joint

    Concrete

    Beam-column joints

    Fiber reinforced polymer (FRP)

    NSM Technique

    Cyclic load

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    ÍNDICE

    CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1

    1.1 Contextualização e motivação ................................................................................ 1

    1.2. Objetivos ................................................................................................................ 3

    1.3. Estrutura da Dissertação ........................................................................................ 4

    2.1 Materiais Compósitos de FRP no reforço de estruturas ......................................... 6

    2.2 Técnicas de reforço de nós de pórtico................................................................... 12

    2.2.1 Técnica de reparação com epóxi .................................................................... 13

    2.2.2. Remoção e Substituição do betão.................................................................. 15

    2.2.3- Encamisamento de secções com betão armado ............................................ 16

    2.2.4- Encamisamento de secções com chapas de aço ............................................ 18

    2.2.5. Encamisamento com blocos de alvenaria...................................................... 21

    2.2.6. Compósitos poliméricos reforçados com fibras ............................................ 21

    2.3 Materiais de matriz cimentícia “ECC” ................................................................. 26

    2.3.1- Características de desempenho ..................................................................... 27

    2.3.2 Propriedades Mecânicas dos ECC.................................................................. 29

    CAPÍTULO 3. TÉCNICA DE REFORÇO PROPOSTA ............................................... 33

    3.1 Conceção dos protótipos ....................................................................................... 34

    3.2 Caraterização dos Materiais .................................................................................. 37

    3.3 Configuração do Ensaio ........................................................................................ 38

    3.4 Esquema de monitorização ................................................................................... 40

    3.5 Pré-danificação dos protótipos .............................................................................. 41

    3.6 Reparação e reforço dos protótipos ...................................................................... 44

    3.6.1 Soluções de reforço pré-fabricadas ................................................................ 45

    3.6.1.1 Solução de reforço 1- JPA-1 ....................................................................... 45

    3.6.1.2 Solução de reforço 2 – JPC ......................................................................... 49

    3.6.2 Soluções de reforço betonadas in situ ............................................................ 51

    3.6.2.1 Solução de reforço 3 - JPA-3 ...................................................................... 51

    3.6.2.2 Solução de reforço 4 – JPB ......................................................................... 52

    3.7 Descrição e caraterização dos materiais utilizados na reparação/ reforço ............ 55

    4.1- Força versus deslocamento .................................................................................. 57

    4.2 Energia dissipada .................................................................................................. 60

    4.3 Rigidez inicial e degradação de rigidez ................................................................ 62

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    4.4 Degradação da Força ............................................................................................ 65

    4.5 Modos de rotura .................................................................................................... 67

    CAPÍTULO 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 71

    5.1 Conclusões gerais ................................................................................................. 71

    5.2 Propostas para Trabalhos Futuros ......................................................................... 72

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 74

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    ÍNDICE DE FIGURAS

    Figura 1- Compósitos de FRP (formas pré-fabricado e curado in situ).(Juvantes 2011) . 8

    Figura 2- Materiais compósitos de CFRP (Dias 2008)..................................................... 9

    Figura 3- Vantagem de utilização de compósitos de CFRP (Dias 2008) ....................... 11

    Figura 4- Exemplos de aplicação dos materiais compósitos de CFRP na Engenharia

    Civil (Sena Cruz 2011) ................................................................................................... 12

    Figura 5- Rotura do nó viga-pilar em 1999 Izmit/Turquia (Engindeniz 2004) .............. 13

    Figura 6- Exemplo de remoção e substituição do betão (Costa 2011) ........................... 15

    Figura 7- Soluções de encamisamento em vigas e pilares (Gomes)............................... 17

    Figura 8- Soluções de reforço em pilares (Gomes) ........................................................ 17

    Figura 9- Exemplos de soluções de reforço (Cardozo 2004) ......................................... 19

    Figura 10- Soluções de reforço adotadas. (Engindeniz 2004) ........................................ 20

    Figura 11- Solução de reforço adotada. (Engindeniz 2004) ........................................... 20

    Figura 12- Diagrama Tensão- Deformação do betão submetido a diferentes tipos de

    confinamentos (Sousa 2008) .......................................................................................... 22

    Figura 13- Técnicas de reforço (Sena Cruz 2011) .......................................................... 23

    Figura 14- Exemplificação dos procedimentos a aplicar na técnica de reforço NSM

    (Salvador 2008) .............................................................................................................. 26

    Figura 15- Comportamento tensão-deformação de matrizes cimentícias (Li 2004) ...... 28

    Figura 16- Padrão de fissuração de um elemento de ECC (Garcez 2009) ..................... 30

    Figura 17- Curvas de elementos produzidos com betão com estribos a) sem estribos b)

    com estribos (Garcez) ..................................................................................................... 30

    Figura 18- Comportamento de elementos a) de betão armado; b) de ECC sem estribos

    (Garcez 2009) ................................................................................................................. 31

    Figura 19- Geometria dos protótipos (dimensões em mm). (Fernandes 2012) .............. 34

    Figura 20- Detalhes da armadura dos protótipos JPA-1 e JPA-3 (dimensões em mm).

    (Fernandes 2012) ............................................................................................................ 35

    Figura 21- Detalhes da armadura do protótipo JPB (dimensões em mm). (Fernandes

    2012) ............................................................................................................................... 36

    Figura 22- Detalhes da armadura do protótipo JPC (dimensões em mm). (Fernandes

    2012) ............................................................................................................................... 36

    Figura 23- Pormenorização das secções transversais (Fernandes 2012) ........................ 37

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    Figura 24- a) Esquema estrutural e condições de apoio adotadas no ensaio; b) Esquema

    de ensaio. (Fernandes 2012) ........................................................................................... 39

    Figura 25- Vista geral (Fernandes 2012) ........................................................................ 39

    Figura 26-Esquema de monitorização dos ensaios realizados (Fernandes 2012) .......... 41

    Figura 27- Lei de deslocamentos laterais imposta no topo do pilar (Fernandes 2012) .. 42

    Figura 28- Configuração do reforço aplicado a protótipo JPA-1 ................................... 45

    Figura 29- Procedimentos de reforço com a técnica NSM no protótipo JPA-1 ............. 47

    Figura 30- Procedimentos de aplicação da técnica NSM nos painéis pré-fabricados .... 48

    Figura 31-Preparação dos protótipos pré-fabricados ...................................................... 48

    Figura 32- Configuração do reforço a ser aplicado no protótipo JPC ............................ 49

    Figura 33- Procedimentos de aplicação da técnica NSM no protótipo JPC ................... 50

    Figura 34- Configuração do reforço a ser aplicado no protótipo JPA-3 ........................ 51

    Figura 35- Procedimentos de aplicação da técnica NSM no protótipo JPA-3 ............... 52

    Figura 36-Configuração do reforço a ser aplicado no protótipo JPB ............................. 53

    Figura 37- Solução de ancoragem adotados nos laminados ........................................... 54

    Figura 38- Procedimentos de aplicação da técnica NSM nas faces laterais do protótipo

    JPB .................................................................................................................................. 54

    Figura 39- Relação Força versus deslocamento: (a) JPA-1, (b) JPA-3, (c) JPC, (d) JPB.

    ........................................................................................................................................ 59

    Figura 40- Energia dissipada em função do número de ciclos para cada protótipo:

    (a)JPA-1, (b) JPC, (c) JPA-3, (d) JPB ............................................................................ 62

    Figura 41- Degradação da rigidez: (a) JPA-1, (b) JPC, (c) JPA-3, (d) JPB ................... 64

    Figura 42- Degradação da força para os protótipos: (a) JPA-1; (b) JPC; (c) JPA-3; (d)

    JPB .................................................................................................................................. 66

    Figura 43- Danos observados nos protótipos após o ensaio: (a) JPA-1-R; (b) JPC-R; .. 68

    Figura 44- Danos observados nos protótipos após o ensaio: (a) JPA-3-R; (b) JPB-R ... 70

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    ÍNDICE DE TABELAS

    Tabela 1- Propriedades das Armaduras .......................................................................... 35

    Tabela 2- Propriedades Mecânicas do Aço .................................................................... 38

    Tabela 3- Tabela Resumo dos resultados em termos de Força - Deslocamento dos

    respetivos protótipos (Fernandes 2012) .......................................................................... 43

    Tabela 4- Resultados obtidos em termos de relação força-deslocamento para os

    protótipos ensaiados……………………………………………………………………59

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    Lista de símbolos

    NSM – Near Suurfaces Mounted

    FRP – Polímeros reforçados com fibras (fiber reinforced polymers)

    CFRP – Polímeros reforçados com fibras de carbono (carbon fiber reinforced polymers)

    ECC – Engineered cementitious composites

    LVDT – transdutor de deslocamentos (linear voltage displacement transformer)

    EC – Eurocódigo

    ρl – armadura

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  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

    1.1 Contextualização e motivação

    Ao longo do século XX, o betão armado como material de construção, demonstrou as

    suas variadas potencialidades. Consequentemente, observou-se uma utilização massiva

    do mesmo. Porém, ao longo dos anos emergiram alguns problemas que vinham sendo

    negligenciados. Isto porque, muitos dos edifícios dimensionados e construídos antes da

    primeira metade do século XX, apresentavam deficientes características, principalmente

    quando solicitados por ações cíclicas devido à utilização de betões de fraca resistência,

    armaduras lisas, à fraca aderência das armaduras ao betão e à falta de disposições

    construtivas especificas à ação do sismo. Consequentemente, muitos destes edifícios

    apresentam elevada vulnerabilidade sísmica.

    Uma das causas comum de dano e colapso de edifícios de betão armado desta época,

    quando sujeitos à ação sísmica, é devido à ocorrência de mecanismos de

    escorregamento das armaduras por consequência da degradação da aderência aço-betão,

    conduzindo ao colapso parcial ou global da estrutura.

    Em Portugal, a ocorrência de sismos pode dizer-se que não é, nem muito intensa nem

    muito frequente. No entanto no passado já ocorreram diversos sismos com elevada

    magnitude e intensidade com consequências catastróficas que abalaram o país. Dado o

    risco de perdas humanas e de bens materiais devido aos sismos, torna-se necessário o

    estudo do comportamento sísmico de modo a assegurar que, quer as novas construções,

    quer as existentes apresentam comportamento adequado.

    Em Portugal, no final da década de 70 já existiam algumas regulamentações específicas

    para as construções de betão armado, destacando-se a publicação em 1961 do RSEP

    (Regulamento de Solicitações em Edifícios e Pontes) e a publicação do REBA em 1967

    (Regulamento de Estruturas de Betão Armado). Anteriormente à publicação destas

    regulamentações, os edifícios eram construídos sem se basear em critérios de análise e

    caraterização da ação sísmica que permitissem o seu dimensionamento à mesma. Em

    virtude dessa conceção estrutural resultou um grande número de edifícios com

    deficientes capacidades de resistência, deformações elevadas e danos concentrados nos

    nós quando submetidos ao sismo. Nesse contexto, torna-se necessária uma avaliação

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    2

    estrutural da vulnerabilidade sísmica destes edifícios para uma intervenção a nível de

    reforço e/ou reabilitação dos mesmos.

    Para que estes edifícios possam vir a desempenhar novas funções com segurança, a

    necessidade de reparação/reabilitação está diretamente relacionada com uma análise

    técnica e económica para se definir o tipo de intervenção a adotar.

    As razões que levam às intervenções de reforço num dado elemento estrutural podem

    ser devidas: à alteração do tipo de utilização (ações superiores às dimensionadas em

    projeto), deterioração dos materiais (o que resulta na diminuição das suas resistências),

    à alteração das suas funcionalidades ou erros de projeto/construção (Sena Cruz 2008).

    Os projetistas são confrontados, em algumas circunstâncias de intervenções de reforço,

    por situações que, devido a condicionantes de projeto, os limitam a nível da solução

    estrutural e dos materiais a escolher. Nesta perspetiva demonstra-se claramente a

    necessidade de se desenvolver ferramentas no âmbito de avaliação, reabilitação e/ou

    reforço dos edifícios existentes de modo a melhorar as suas respostas a nível sísmico.

    Nos últimos anos houve um acréscimo significativo de estudo e investigação, tendo já

    sido publicados vários estudos e documentos com o objetivo de conceder aos projetistas

    informações necessárias para o correto dimensionamento de projetos de reforço

    estrutural com materiais compósitos, para responder a tais necessidades (Barros 2007).

    O incremento da necessidade de reabilitar e reforçar as estruturas de betão está também

    relacionado com as desvantagens apresentadas pelas técnicas de reforço tradicionais

    retraindo projetistas e, sobretudo, donos de obra, pelo impacto estético (entre outros)

    que estas intervenções impõem.

    O aparecimento dos compósitos FRP em projetos de reforço e a sua crescente utilização

    deve-se às grandes vantagens deste material, que essencialmente se caraterizam por:

    elevada rigidez e resistência à tração, baixo peso específico, elevado comportamento à

    fadiga e elevada resistência à corrosão.

    Os mesmos compósitos asseguram uma variada oferta a nível de dimensões, quase

    ilimitadas em termos de comprimento e entre eles existem também alguns tipos que se

    adaptam perfeitamente a superfícies curvas.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    3

    Outro fator caracterizador das vantagens de utilização dos compósitos FRP é a adequada

    ligação ao betão, pela compatibilidade de deformações e da perfeita conjugação química

    entre eles, o que permite a construção de estruturas mais leves, mais resistentes e com

    maior durabilidade (Dias 2008).

    Em termos mecânicos, as suas elevadas vantagens propiciam soluções de reforço que

    conseguem garantir aumentos consideráveis na capacidade resistente dos elementos

    estruturais, sem infligir alterações significativas na arquitetura da estrutura inicial e com

    uso de pequenas quantidades de reforço.

    1.2. Objetivos

    Uma vez que estes edifícios da década de 70 foram construídos sem considerar a ação

    sísmica, estes constituem um risco elevado para a população, tornando imprescindível

    uma avaliação consistente das suas vulnerabilidades.

    De acordo com a investigação experimental que tem vindo a ser desenvolvida e os

    danos observados após os sismos ocorridos, ficou demonstrado que as deficiências na

    pormenorização das armaduras dos nós e a inadequada ancoragem das armaduras levam

    à rotura frágil das ligações viga-pilar, e consequentemente, de todo o edifício.

    Dos vários estudos experimentais que têm investigado o comportamento cíclico da

    ligação viga-pilar, poucos estão direcionados à análise do comportamento das ligações

    com pormenorização de armaduras típicas da década de 70, deixando assim uma lacuna

    nesta área.

    De acordo com o exposto anteriormente, a presente dissertação tem como objetivo

    desenvolver um trabalho experimental, de uma forma sustentada, que permitisse dar

    resposta a esta questão.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    4

    Assim os principais objetivos definidos para a presente dissertação foram os seguintes:

    . Efetuar uma compilação sobre o estado de conhecimento atual do comportamento

    cíclico de ligações viga-pilar representativos de edifícios da década de 70, com

    deficiente dimensionamento ao sismo, bem como de materiais e técnicas de reforço de

    nós de pórtico;

    . Realização de um programa experimental que permita validar a técnica de reforço

    proposta, de forma que seja garantido o controlo da qualidade de aplicação do reforço

    de CFRP (“ Polímeros reforçados com fibras de carbono”);

    . Participar na implementação das técnicas de reforço impostas;

    . Comparar a eficácia das duas técnicas principais de reforço propostas;

    . Tratar e interpretar os resultados obtidos nos ensaios experimentais.

    1.3. Estrutura da Dissertação

    Incluindo a presente introdução, esta dissertação está organizada em cinco capítulos. No

    primeiro capítulo apresenta-se, de forma resumida, o enquadramento sobre a temática

    desta dissertação, os objetivos e a estratégia adotada para alcançar os objetivos

    propostos.

    No Capítulo 2, descreve-se, de forma resumida, o resultado do trabalho de pesquisa

    bibliográfica efetuado sobre a temática desta dissertação. Após o enquadramento da

    utilização dos materiais compósitos de CFRP no reforço de estruturas de betão armado,

    são apresentadas, de forma genérica, as técnicas de reforço que recorrem aos referidos

    materiais, bem como as principais vantagens e desvantagens da técnica de reforço NSM,

    utilizada no âmbito da presente dissertação. Tendo em consideração uma base de dados

    referente a resultados de trabalhos de investigação experimental já realizados. Numa

    fase seguinte é dado particular destaque aos novos materiais de matriz cimentícia

    “ECC”, bem como o seu elevado desempenho como material de construção, e sua

    potencial aplicação no âmbito da técnica de reforço em análise.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    5

    No Capítulo 3, são apresentadas as principais características dos materiais usados e as

    soluções de reforço adotadas. Este capítulo descreve também a configuração do ensaio e

    a instrumentação necessária para a realização dos mesmos.

    No Capítulo 4, apresentam-se os resultados e respetiva análise dos ensaios

    experimentais realizados, nomeadamente a relação força-deslocamento, a degradação da

    rigidez, energia dissipada e os modos de rotura. Estes resultados são relativos aos

    protótipos ensaiados antes e após a aplicação do reforço.

    No Capítulo 5, apresentam-se as conclusões finais da dissertação e são avançadas

    algumas sugestões visando desenvolvimentos futuros.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

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    CAPÍTULO 2. ESTADO DA ARTE

    Este capítulo resulta da pesquisa bibliográfica realizada no âmbito desta dissertação.

    Inicialmente é feito o enquadramento da utilização dos materiais compósitos em CFRP

    no reforço de estruturas de betão armado. Posteriormente, são apresentadas as técnicas

    de reforço para nós de pórtico de betão armado, com particular relevo para a técnica da

    inserção de compósitos no betão de recobrimento (NSM). São realizadas algumas

    considerações relativamente a alguns aspetos tecnológicos da aplicação dos reforços de

    CFRP e ao desempenho estrutural dos elementos reforçados. Uma segunda fase deste

    capítulo será dedicada aos novos materiais de matriz cimentícia e ao seu elevado

    desempenho na Engenharia.

    2.1 Materiais Compósitos de FRP no reforço de estruturas

    As estruturas de betão armado são projetadas de acordo com exigências e

    recomendações, pelo qual devem obedecer requisitos de segurança, funcionalidade e

    durabilidade ao longo do seu período de vida útil. No entanto, são observadas

    regularmente situações em que as condições de segurança não são atendidas

    satisfatoriamente. O cenário descrito deve-se às seguintes causas: alteração do tipo de

    utilização num determinado edifício (alteração das cargas a atuar na estrutura);

    deterioração dos materiais derivados da diminuição da sua resistência ao longo dos anos

    de vida útil; erros de projeto ou de construção; problemas a nível de conceção estrutural,

    nomeadamente alteração dos códigos; ocorrência de catástrofes naturais ou vandalismo.

    Os problemas anteriormente mencionados podem ser resolvidos com determinados tipos

    de intervenção, tais como: demolição do edifício; reforço ao nível dos elementos

    estruturais ou alteração dos elementos estruturais. Nestes casos, o tipo de intervenção a

    implementar depende de uma avaliação de acordo com as condições de segurança e

    económicas da referida situação. De acordo com estudos, tem-se constatado que o

    reforço/reabilitação das estruturas tem sido a opção mais utilizada, com enorme

    relevância na área da construção civil. Tendo em conta o tipo de solicitação do elemento

    estrutural, poderá corresponder a diferentes tipos de sistemas de reforço, como também

    ao aumento da resistência à flexão, ao corte, e ainda a necessidade de aumentar o

    confinamento do betão (Dias 2008).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    7

    As técnicas de reforço que foram mais utlizadas em elementos estruturais nos últimos

    anos são: colagem exterior de chapas metálicas, o encamisamento das secções e a

    aplicação de pré-esforço exterior. A técnica de colagem externa de chapas metálicas

    com epóxi tem sido a mais utilizada. Trata-se de uma técnica com algumas vantagens,

    tais como: facilidade de execução e ao amplo conhecimento do comportamento do

    material, mas também apresenta alguns inconvenientes que possam comprometer a sua

    utilização, nomeadamente degradação do material na zona da ligação betão/aço devido à

    corrosão do aço, dificuldade de circulação em obra, devido ao seu elevado peso próprio,

    limitação a nível de dimensões das chapas e em superfícies curvas.

    Outra técnica bastante eficiente no que se diz respeito ao aumento da ductilidade,

    resistência e rigidez é a do encamisamento das secções. Porém tem consequências que

    possam repercutir no peso próprio da estrutura, devido ao aumento considerável das

    suas secções transversais e das cargas a atuar no mesmo. Também pode influenciar o

    espaço em obra na zona da operação do reforço.

    Para além destas duas técnicas, a técnica de aplicação de pré-esforço exterior foi muito

    utilizada no passado. Embora seja uma técnica que permite o controlo simultâneo da

    deformação e da capacidade de carga da estrutura, implica a necessidade,

    imprescindível, de proteção à corrosão das armaduras de pré-esforço. Os aspetos mais

    negativos desta técnica são a exposição exterior ao fogo, ao vandalismo, necessidade de

    adoção de sistemas de ancoragem e ao eventual acréscimo de esforços nas zonas não

    reforçadas.

    Visto que a necessidade de reabilitar, reparar e reforçar as estruturas tem vindo a

    aumentar consideravelmente, e dado ao excelente comportamento do material em

    diversas industrias, a engenharia civil, tem vindo a despertar cada vez mais o interesse

    nos materiais compósitos reforçados com fibras (FRP), devido aos seus benefícios

    quando empregue no reforço de estruturas, dos quais podemos citar elevada resistência

    mecânica, durabilidade, capacidade de absorver e dissipar energia, resistência ao fogo.

    Os materiais compósitos de FRP (Figura 2) são constituídos essencialmente por fibras

    embebidas numa matriz polimérica. As fibras são o agente estrutural dos materiais

    compósitos de FRP e a matriz a segunda componente. As fibras são dispostas em forma

    de filamentos de pequeno diâmetro, apresentando elevado modo de elasticidade e

    resistência à tração, uma baixa densidade e um comportamento frágil. Podem ser

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    8

    apresentadas numa direção (compósitos de FRP unidirecionais – sendo que a orientação

    unidirecional lhes confere a maximização da resistência e da rigidez na direção

    longitudinal) ou em várias direções (compósitos de FRP multidirecionais) (Juvantes

    2011).

    De facto, constituem boas alternativas às técnicas de reforço tradicionais. Estes sistemas

    de reforço são constituídos por três principais componentes: o compósito FRP, o

    adesivo responsável pela ligação entre o material e o FRP e a resina de preparação da

    camada a reforçar.

    De acordo com o agrupamento dos materiais constituintes, a comercialização dos

    sistemas de FRP é feita por dois grupos, os sistemas Pré-fabricados e os sistemas

    curados in situ (Figura 1).

    Figura 1- Compósitos de FRP (formas pré-fabricado e curado in situ).(Juvantes 2011)

    Os compósitos de FRP´s que constituem os sistemas Pré-fabricados são resultantes da

    consolidação de um processo de pultrusão que integra um conjunto de feixes de fibra

    contínuas e unidirecionais repletas de uma resina termoendurecível, em que são

    controladas a espessura e a largura em fábrica. Trata-se do produto final a aplicar em

    obra, sem necessidade de polimerização para a sua aplicação. A forma comercial mais

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    9

    utilizada é o laminado que se apresenta normalmente com a espessura de 1.2 a 1.4 mm e

    largura variável.

    De acordo com os fabricantes as características mecânicas dos laminados são obtidas

    por ensaios e planos que respeitam regras de controlo de qualidade. O adesivo que é

    adicionado ao sistema para estabelecer a colagem do material ao laminado, é

    normalmente um material do tipo epóxido.

    Os sistemas curados in situ são normalmente apresentados com a designação de Mantas

    ou Tecidos, que são feixes de fibras contínuas em forma de fios em estado seco ou pré-

    impregnado.

    As Mantas apresentam-se em folhas com espessuras entre 0.1 a 0.2 mm e larguras entre

    25 a 30 cm e são constituídas por fibras unidirecionais.

    Os Tecidos são bi ou multidirecionalmente, apresentadas como fibras entrelaçadas com

    larguras de aproximadamente 60 cm. A percentagem das fibras é apresentada em peso

    do produto por (g/ ).

    A resina de saturação que constitui o sistema tem o objetivo de estabelecer a ligação

    entre o material a colar e o FRP. Visto que, com a mistura da fibra e a resina só se

    obtém o FRP após a execução do reforço in situ, ou seja após a polimerização da resina.

    Figura 2- Materiais compósitos de CFRP (Dias 2008)

    Relativamente aos materiais tradicionalmente utilizados na construção, nomeadamente

    o aço, o betão e a madeira, os compósitos de CFRP apresentam inúmeras vantagens, das

    quais se podem realçar, elevados valores das relações resistência à tração/peso e

    rigidez/peso e pela elevada resistência à corrosão. Também tendo em conta o elevado

    desempenho e o reduzido peso especifico que apresentam de acordo com as

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    10

    características mecânicas, pode-se obter soluções de reforço leves e vantagens

    associados aos aspetos como: facilidade de manuseamento em obra, facilidade de

    transporte, aumento pouco significativo das cargas na estrutura inicial e a arquitetura

    inicial é minimamente alterada. Dado às elevadas características mecânicas e a elevada

    resistência à corrosão, os CFRP podem ser utilizadas em diferentes campos de aplicação

    nomeadamente nas zonas costeiras. Acresce que este tipo de material apresenta

    características muito importantes como a versatilidade em dimensões e a adaptabilidade

    a qualquer tipo de superfície, o que não acontece com as chapas metálicas. Também ao

    contrário das chapas metálicas, este material apresenta-se em termos de comprimento,

    com dimensões quase ilimitadas, pelo que não é necessário executar emendas no

    reforço.

    O tipo de reforço pode ser aplicado, dispondo a direção das fibras o mais próximo

    possível da direção das tensões principais de tração, de forma a otimizar o seu

    desempenho.

    Os materiais compósitos de CFRP apresentam vantagens face aos materiais tradicionais

    de acordo com o desempenho mecânico e durabilidade, mas quanto ao comportamento à

    ação do fogo, quando exposto às altas temperaturas deve-se ter especial atenção, devido

    à presença das resinas e adesivos. Como a temperatura de transição vítrea da cola é

    aproximadamente de 50 a 60ºC, quando diretamente exposto à ação de temperaturas

    elevadas, nomeadamente do fogo, poderá resultar na sua degradação e

    consequentemente a diminuição das características mecânicas do CFRP.

    Quando avaliado individualmente, o elevado custo dos materiais compósitos de CFRP,

    pode ser considerado um obstáculo à sua utilização, mas no âmbito da

    instalação/reforço apresenta-se entre as outras técnicas de reforço, como uma das mais

    competitivas. Graças ao diminuto peso específico dos CFRP pode-se obter facilidade de

    transporte e da operação de reforço.

    Pode-se dizer que é uma técnica simples e rápida de executar, mesmo quando se trata de

    zonas de difícil acesso ou zonas em que podem não ser asseguradas condições de

    segurança (zonas em que o transito possa ser interrompido, conforme representada na

    Figura 3).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    11

    Figura 3- Vantagem de utilização de compósitos de CFRP (Dias 2008)

    Além disso, algumas tarefas para a execução do reforço de CFRP podem ser realizadas

    fora do local da obra, em que não exige elementos de suporte, o que poderá reduzir o

    tempo de execução do reforço in situ.

    Quanto aos custos, se incluirmos os custos de manutenção durante a vida útil da

    estrutura reforçada, a técnica dos materiais compósitos de CFRP pode ter uma

    significativa vantagem em relação às outras técnicas.

    Para além dos aspetos económicos, o sucesso desta técnica de reforço deve-se às

    propriedades dos materiais, a simplicidade e a rapidez de execução do reforço, custos de

    manutenção após reforço e ao facto de não alterar com significância a geometria inicial

    da estrutura.

    Face ao que foi anteriormente mencionado, atualmente a técnica de reforço com CFRP é

    considerada igualmente ou mais eficaz que as técnicas de reforço tradicionais. O que

    explica a sua crescente utilização nas obras de reforço de estruturas (ver Figura 4).

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    12

    Figura 4- Exemplos de aplicação dos materiais compósitos de CFRP na Engenharia Civil (Sena Cruz 2011)

    2.2 Técnicas de reforço de nós de pórtico

    Existem duas grandes possibilidades de intervenções relativamente às operações de

    reparação/reforço de estruturas: a primeira são intervenções ao nível global da estrutura,

    que envolvam um aumento significativo da capacidade resistente; e um segundo tipo

    mais direcionado para intervenções particulares na estrutura, que privilegiam um

    pequeno aumento de resistência, proporcionando o aumento da ductilidade. Este tipo de

    reforço incide numa zona particular da estrutura, normalmente incide nas zonas das

    rótulas plásticas.

    O desempenho das ligações viga-pilar tem vindo a ser reconhecido como uma das

    causas significativas que afetam o comportamento geral das estruturas de betão armado

    submetido a grandes cargas laterais (Figura 5). Uma vez que os reforços sísmicos nestes

    tipos de ligações, mais utilizados não asseguram mecanismos de rotura dúctil

    desejáveis, a necessidade de reforçar na zona dos nós de pórtico de betão armado poderá

    ser considerada pela necessidade de aumentar a ductilidade, a resistência na zona do nó

    (viga e pilar) e por consequência assegurar mecanismos de rotura dúctil (Engindeniz

    2004).

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    13

    Figura 5- Rotura do nó viga-pilar em 1999 Izmit/Turquia (Engindeniz 2004)

    Existem algumas técnicas de reforço com o fim de solucionar os problemas atrás

    mencionados e que podem ser agrupadas da seguinte forma: reparação com epóxi

    (injeção de resinas epoxídicas nas fendas de elementos pouco degradados), remoção e

    substituição do betão em zonas mais degradadas, encamisamento de secções com betão

    armado, blocos de alvenaria ou com placas de aço, e ainda reforço com recurso a

    materiais compósitos.

    2.2.1 Técnica de reparação com epóxi

    Estruturas de betão armado têm vindo a ser reparadas usando esta técnica de injeção de

    epóxi sob pressão com auxílio de um compressor, com o objetivo de garantir o perfeito

    enchimento das fissuras. Mais recentemente, foi proposta uma nova técnica de

    reparação de epóxi com impregnação a vácuo, em que a zona a injetar é sujeita a vácuo

    e o material é colocado posteriormente sob pressão (Costa 2011).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    14

    Estas duas técnicas de reforço são dimensionadas de acordo com as características

    geométricas da estrutura e com o desempenho desejado, devendo-se levar em conta as

    propriedades e características dos materiais que o compõem, a interação destes

    materiais, as condições de execução do reforço e profundidade das fendas.

    French et al.(1990) estudaram a eficácia de ambas as técnicas de reparação com epóxi,

    para reparar duas juntas interiores moderadamente danificadas, devido a ancoragem

    inadequada das vigas contínuas. Por impregnação a vácuo os pontos de entrada do epóxi

    foram localizadas na parte inferior de cada viga e na zona a reparar na base do pilar. O

    vácuo foi aplicado por meio de três tubos ligados na parte superior da zona do pilar a

    reparar. Ambas as técnicas de reparação foram bem-sucedidas, ao restaurar mais de 85

    por cento da rigidez, resistência e características de dissipação de energia dos provetes

    originais. A principal conclusão demonstra que a impregnação de vácuo apresenta um

    meio eficaz de reparação de grandes zonas de danos, e em zonas de acessibilidade

    reduzida.

    Corazao e Durrani (1989) testaram uma ligação viga-pilar-laje reparada através de

    injeção de epóxi, com um grande número de fendas de largura inferior a 3,2 mm. Após

    a reparação, os padrões de fissuração observados foram semelhantes, exceto que antes

    da reparação, as fissuras na zona de ligação viga-pilar foram de maiores dimensões. Isto

    devido ao aumento do deslizamento dos varões longitudinais no interior do nó, que

    também resultaram na diminuição da rigidez. A força máxima e a capacidade de

    dissipação de energia foram relativamente restauradas. Assim concluíram que a injeção

    de epóxi é adequada para a reparação de vigas e lajes, mas alertaram que a injeção em

    nós de vigas e pilares pode ser muito difícil e a sua eficácia depende muito da qualidade

    do trabalho.

    De acordo Engindeniz et el. e de estudos que fizeram, chegaram à conclusão que a

    reparação por injeção de epóxi em ligações ditou que o processo de reparação é

    particularmente eficaz em melhorar a resistência, a rigidez e a capacidade de dissipação

    de energia do provete.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    15

    2.2.2. Remoção e Substituição do betão

    A técnica de remoção parcial ou total para a substituição de betão (ver Figura 6) é

    utilizada para nós fortemente danificadas. Antes da remoção do betão danificado, a

    estrutura deve ser temporariamente suportada para assegurar a estabilidade.

    Dependendo da quantidade de betão removido e das condições que se encontram as

    armaduras, pode ser adicionada ou substituída a armadura longitudinal. Geralmente é

    utilizado para substituição um betão de alta resistência e de baixa retração. Deve-se ter

    especial atenção, de forma a garantir uma boa ligação entre o novo betão e o existente.

    Figura 6- Exemplo de remoção e substituição do betão (Costa 2011)

    Corazao e Durrani (1989) estudaram uma ligação de viga-pilar, removendo e

    substituindo o betão no interior da ligação e as porções adjacentes das vigas e pilares. O

    provete recuperou completamente a sua resistência e rigidez, mas não a capacidade de

    dissipação de energia, o que foi atribuído devido à taxa reduzida do dano, face ao betão

    de alta resistência utilizado nos reparos. Os investigadores afirmaram que, quando o

    escoramento for assegurado, esta técnica é adequada para a reparação de danos

    localizados nos nós, quando submetidos à flexão nas vigas, mas substituir o betão nos

    nós pode não ser muito prático numa construção.

    De acordo com um programa experimental realizado por Karayannis et al. (1998)

    também incluiu seis protótipos de nós exteriores que apresentaram algumas fissuras

    concentradas nas ligações viga/pilar e uma perda de quantidade considerável de betão

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    16

    nesta zona. Este tipo de fissuras pode ser atribuído ao fato de 2 dos nós não

    apresentarem quaisquer estribos e apresentarem uma resistência à flexão muito baixa.

    Primeiro os nós foram reparados com um betão de alta resistência nas zonas com falta

    de betão. E, de seguida, com uma injeção de epóxi nas fendas adjacentes. A reparação

    não alterou o modo de rotura dos protótipos com ou sem estribos, apesar de um

    aumento de 39 a 71% na carga de pico,15 a 39% em rigidez, e 19 a 34% da capacidade

    de dissipação de energia. Os dois protótipos com estribos, no entanto, melhoraram

    consideravelmente após a reparação e aumentou a carga de pico, a energia dissipada

    aumentou em 42% a rigidez.

    Por sua vez, Tsonos (1999) reforçou duas ligações viga-pilar exteriores e idênticas

    através da remoção do betão em toda a região do nó e da parte das extremidades do

    pilar, substituindo-o por uma argamassa de alta resistência. A reparação resultou em

    aumentos significativos em resistência, rigidez e capacidade de dissipação de energia,

    especialmente no final dos testes. Após a reparação, os provetes exibiram o mesmo

    modo de rotura que as mesmas sem reparar. Assim, concluiu que o requisito de

    armadura transversal conjunta pode não ser necessária quando a argamassa usada para a

    reparação de articulações muito danificados for de alta resistência.

    Os resultados da experiência acima mencionados mostram que esta técnica pode ser

    utilizada para reparação, por si só, para substituição do betão por outro de alta

    resistência.

    2.2.3- Encamisamento de secções com betão armado

    A técnica de reforço de um elemento estrutural por encamisamento consiste no aumento

    da secção transversal pela adição de uma armadura suplementar e de uma camada de

    betão que envolve a secção inicial e na qual ficam inseridas as novas armaduras. Esta

    técnica de reforço por encamisamento pode ser aplicada em vigas ou pilares. Pode ser

    aplicado nas vigas e poderá ser efetuado o reforço apenas para a flexão - Figura7 a) - ou

    à flexão e ao esforço transverso - Figura7 b).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    17

    Figura 7- Soluções de encamisamento em vigas e pilares (Gomes)

    No caso dos pilares (ver Figura 8), pode ser aplicado o reforço ao esforço transverso

    e/ou à flexão, e também é possível acrescentar a resistência à compressão e a

    ductilidade pela adição da nova armadura devido ao efeito de confinamento.

    Figura 8- Soluções de reforço em pilares (Gomes)

    Corazao e Durrani (1989) estudaram três ligações viga-pilar (dois exteriores e um

    interior), por encamisamento do pilar e na região do nó. De acordo com as dificuldades

    sentidas in situ na região do nó devido aos problemas de flexão, o reforço adicional do

    nó foi modificado para um conjunto de buchas e um gancho. O encamisamento da

    secção com betão, por si só não era adequado para restaurar o desempenho dos pilares

    sem abordar o problema de transferência de carga entre vigas e pilares. A rigidez e

    capacidade de dissipação de energia nos três nós viga-pilar foram aumentados e o dano

    foi recuperado com sucesso.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    18

    Testes realizados por Alcocer e Jirsa (1993) em quatro nós de viga- pilar- laje

    submetidos à uma carga bidirecional, foi necessário fazer furos nas vigas para soldar e

    colocar cantoneiras de aço destinadas a resistir à expansão lateral das barras da

    articulação e de garantir confinamento conjunto da estrutura. Sendo que a zona

    reforçada era a zona com maiores danos, com os resultados garantiram com sucesso um

    maior confinamento.

    Tsonos (1999) estudou a utilização de um revestimento de argamassa de cimento para a

    reparação e reforço em ligações externas, o qual reforçou a região do nó e o pilar.

    Também adicionou cantoneiras de aço espaçadas aos pilares. A relação entre a

    resistência a flexão e ao corte, bem como o reforço transversal do conjunto foram

    testados, observaram que a rotura por corte no nó não ocorreu após o reforço, houve um

    aumento significativo de dissipação de energia.

    2.2.4- Encamisamento de secções com chapas de aço

    Esta técnica de encamisamento é mais vocacionada para intervenções pontuais ou

    localizadas, que em processos de reforço ou reabilitação estrutural pode privilegiar o

    aumento da ductilidade, como também proporcionar um pequeno aumento da

    resistência. O aumento do confinamento conseguido na zona de formação das rótulas

    plásticas é conseguido pela melhoria da ductilidade proporcionada pelo encamisamento

    localizado. Sendo que o tipo de material utilizado no encamisamento influencia

    fortemente a rigidez do pilar reparado/reforçado.

    A técnica de encamisamento de secções utilizando chapas metálicas (“Steel Jacketing”

    na nomenclatura inglesa) é aplicada normalmente para reforço de pilares (Figura 9) e

    consiste no envolvimento da secção deste por chapas metálicas. Este tipo de reforço

    poderá ser aplicado a nível global ou local da estrutura. A nível local pode ser aplicada

    nas zonas de secções críticas (nós de pórtico, zonas de emenda de varões).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    19

    Figura 9- Exemplos de soluções de reforço (Cardozo 2004)

    A introdução de chapas de aço nas faces dos pilares pode garantir um aumento da

    resistência à flexão e do esforço transverso pela inserção da armadura adicional, e

    garantir um aumento da rigidez e da ductilidade do elemento reforçado, o que também

    poderá favorecer um aumento da resistência à compressão do betão por confinamento

    das chapas. Isto se admitirmos uma perfeita ligação entre o material de reforço e a

    secção existente. Pois a eficácia desta técnica depende essencialmente da perfeita

    ligação entre os dois materiais e também da correta ligação entre as fronteiras das

    chapas de reforço.

    Quando temos um tipo de reforço local, a ligação entre as chapas metálicas de reforço e

    o betão existente é conseguido através da colagem destas à superfície do betão com uma

    resina epóxida ou de uma argamassa também epóxida.

    Quando se trata de reforços do tipo global a ligação entre os materiais é garantida a

    partir de uma injeção de uma calda cimentícia não retráctil ou de uma resina epóxida

    líquida no espaço entre a superfície de betão e as chapas de reforço.

    Migliacci et al. (1983) estudaram quatro protótipos de ligações viga-pilar exteriores

    reforçados com chapas de aço coladas com epóxi às vigas e aos pilares, e tiras de aço

    que foram soldadas nos vértices. Duas das amostras foram pré-esforçadas com cintas de

    aço. A capacidade de dissipação de energia das amostras sem pré-esforço foi restaurada,

    enquanto nas amostras que foram pré-esforçadas a capacidade de dissipação de energia

    teve um acréscimo de cerca de 35%.

    Corazao e Durrani (1989) reforçaram um nó exterior e um nó interior de uma ligação

    viga-pilar-laje, com parafusos e placas de aço ligadas por epóxi em cada pilar e

    cantoneiras soldadas e aparafusadas, enquanto na zona das juntas utilizaram uma

    argamassa (como mostra a figura 10).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    20

    Figura 10- Soluções de reforço adotadas. (Engindeniz 2004)

    As placas de aço coladas em cada face das colunas superior e inferior foram

    aparafusadas ao betão perto dos ângulos da junta. No caso da junta interior, uma placa

    foi também ligada e aparafusada à parte inferior da junta alargada. Para ambas as

    amostras não houve evidência de danos nos pilares. Na articulação exterior a resistência,

    a rigidez inicial, e dissipação de energia da junta exterior foram aumentadas em cerca

    18, 12 e 2%, respetivamente. Os aumentos correspondentes para a articulação interior

    foram 21, 34, e 13%, respetivamente.

    Beres et al. (1999) consideraram duas diferentes configurações de placa externas

    ancoradas e às vigas para uma das suas articulações internas, como apresenta a Figura

    11.

    Figura 11- Solução de reforço adotada. (Engindeniz 2004)

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    21

    Para evitar o arrancamento dos varões, o nó foi reforçado por meio de parafusos ligados

    a duas placas de aço. Verificou-se um aumento de 20% da força de pico, 10 a 20% de

    aumento na rigidez, e não houve alteração significativa na dissipação de energia. O

    objetivo de aumentar a resistência à flexão e o confinamento foram ambos conseguidos

    com sucesso.

    2.2.5. Encamisamento com blocos de alvenaria

    Tendo em conta estudos realizados por Bracci et al. (1995) que analisaram o reforço de

    ligações, utilizando blocos de alvenaria em pilares de betão armado, foi construída uma

    faixa em torno dos nós e os espaços existentes entre eles foram rebocados. A capacidade

    de corte foi aumentada, devido a um reforço de armadura longitudinal que foi

    acrescentado ao longo dos nós. Num segundo método, a alvenaria foi reforçada

    verticalmente com armadura pós-tensionada. As ligações viga-pilar foram reforçadas ao

    corte por envolvimento com aros retangulares passando por furos nas vigas. Foi feita

    uma análise dinâmica não-linear e os resultados demonstraram que o comportamento

    viga forte e pilar fraco foi melhorado e foi alcançado um adequado controlo das

    fissuras.

    Embora, apresente as mesmas limitações que a técnica de encamisamento com betão

    armado devido aos enchimentos de alvenaria parciais, tem uma desvantagem funcional

    adicionado ao aumento da perda de espaço interno entre os vãos.

    2.2.6. Compósitos poliméricos reforçados com fibras

    A partir de 1998, a pesquisa sobre o reforço de juntas viga-pilar com a utilização de

    polímeros (FRP) compósitos reforçados por fibras tem vindo a aumentar

    exponencialmente.

    Os estudos desenvolvidos sobre esta técnica têm demostrado a efetividade deste tipo de

    reforço e algumas consequências óbvias, tais como: melhoria da ductilidade, o aumento

    da resistência à compressão do elemento reforçado e a proteção das armaduras do pilar

    contra a corrosão e contra agentes ambientais agressivos.

    O confinamento externo contínuo garantido pelo betão e proporcionado pelo colete de

    FRP pode relacionar-se com o aumento de resistência à compressão e deformação na

    rotura.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    22

    Na figura seguinte pode-se observar os diagramas de tensão-deformação do betão

    quando submetidos a diversos tipos de confinamento, chegando a conclusão que a

    ductilidade do elemento é proporcionada pela presença do confinamento com o FRP.

    Figura 12- Diagrama Tensão- Deformação do betão submetido a diferentes tipos de confinamentos (Sousa 2008)

    As técnicas mais utilizadas para aplicação de FRP´s são, em geral, baseadas na

    utilização de laminados unidirecionais através da (i) aplicação de mantas (sistemas

    curados in situ) ou laminados (sistemas pré-fabricados) colados externamente sobre a

    superfície do elemento estrutural a reforçar (EBR – “Externally Bonded Reinforcement”

    na literatura inglesa); (ii) inserção de laminados (ou varões) em ranhuras abertas no

    betão de recobrimento (NSM – “ Near-Surface Mounted”, na literatura técnica inglesa).

    A ligação entre os FRP’s e o betão é normalmente garantida por colas, nomeadamente

    adesivos epóxi.

    No entanto, também são apontados alguns inconvenientes para as duas técnicas

    referidas, nomeadamente o elevado custo inicial do sistema de reforço, o facto destes

    sistemas de reforço não permitirem a exploração adequada das potencialidades dos

    FRP´S à tração (no momento de rotura do elemento reforçado a máxima tensão

    instalada no FRP é muito inferior à sua resistência à tração) e a averiguação dos modos

    de rotura frágeis antes da formação de rótulas plásticas nos elementos do nó. Também

    propicia a concentração de tensões na zona de intervenção e são necessários diferentes

    trabalhos de preparação e morosos que podem pôr em causa a competitividade destas

    técnicas.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    23

    Em geral os modos de rotura apresentados pelas duas técnicas acima mencionadas são o

    descolamento do FRP quando usada a técnica EBR e destacamento da camada de betão

    de recobrimento quando aplicada a técnica NSM.

    Tendo em conta os inconvenientes apresentados acima e na tentativa de combater a

    rotura precoce do reforço com FRP’s, têm sido feitos alguns estudos e adicionados

    alguns complementos, por exemplo a aplicação de sistemas de ancoragem compostos

    por chapas de aço aparafusadas nas extremidades do reforço, ou o uso de cintas em

    manta de FRP.

    Foi desenvolvida uma técnica alternativa à técnica de reforço EBR (ver Figura 13), que

    tem como objetivo a utilização de laminados de FRP apenas ancorados ao betão através

    de ancoragens mecânicas (MF-FRP - Mechanically Fastened, na literatura técnica

    inglesa).

    Esta técnica é utilizada no reforço à flexão de elementos de betão armado e foram

    evidenciadas melhorias na capacidade resistente à flexão e pouca ou nenhuma perda de

    ductilidade.

    Também foi proposta recentemente outra técnica de reforço designada MF-EBR

    (Mechanically Fastened and Externally Bonded Reinforcement) que utiliza laminados

    multidirecionais de CFRP (MDL-CFRP). Os laminados são colados e fixados

    mecanicamente através de ancoragens.

    Esta técnica tem como objetivo explorar o descolamento prematuro apresentado na

    técnica EBR e as falhas locais observadas na técnica MF-FRP.

    Figura 13- Técnicas de reforço (Sena Cruz 2011)

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    24

    Tendo em conta a técnica de reforço NSM proposta no âmbito da presente dissertação

    para nós de pórtico de betão armado, o correto funcionamento deste tipo de reforço

    depende não só do controlo de qualidade como também dos procedimentos de reforço e

    dos materiais aplicados. Para tal, para que se consiga um rigoroso controlo da qualidade

    de aplicação da técnica existe um conjunto de procedimentos que o técnico deve

    conhecer para garantir as boas práticas de execução desta técnica de reforço. Os

    referidos procedimentos são os seguintes (de acordo com a Figura14):

    • Após a marcação da posição exata dos entalhes nas faces dos elementos a reforçar,

    recorre-se a uma máquina de corte com disco diamantado e que contém um dispositivo

    de controlo do alinhamento e da profundidade do entalhe. É essencial garantir que não

    se provoquem danos nas armaduras existentes (longitudinais e transversais) que

    eventualmente possam ser atravessadas pelo entalhe no momento em que se está a

    proceder à abertura dos entalhes.

    Portanto, para garantir que tais situações não ocorram em obra, é essencial que nos

    desenhos de execução do reforço de CFRP, segundo a técnica NSM, apareça de uma

    forma clara, quer a altura que o entalhe deve ter como a localização das armaduras

    existentes, e que no momento da execução dos entalhes se tenha em atenção eventuais

    desvios entre o que está no projeto de estabilidade (betão armado) e o que foi executado

    em obra. Tudo isto justifica uma verificação minuciosa in situ, previamente à

    elaboração do projeto do reforço de CFRP, da localização das armaduras e da espessura

    do betão de recobrimento.

    • De forma a proporcionar a melhor aderência possível na ligação betão-adesivo, deve-

    se garantir que a superfície de betão a reforçar esteja seca, isenta de gorduras e que não

    apresente partículas soltas. Assim, deve-se verificar antes da aplicação do reforço, se o

    betão se encontra seco e proceder à limpeza dos entalhes com a aplicação de ar

    comprimido;

    • Os laminados de CFRP, fornecidos em rolo, já com a secção transversal definitiva, são

    cortados transversalmente ao eixo das fibras de acordo com o comprimento desejado.

    Posteriormente, de forma a proporcionar as melhores condições de aderência, entre o

    adesivo e o CFRP, devem ser removidas as sujidades que eventualmente os laminados

    contenham (gorduras, pó, etc.) por intermédio da limpeza com acetona. Também deve-

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    25

    se ter em conta um aspeto muito importante relativamente aos laminados, que se trata da

    necessidade de realização de ensaios previamente à aplicação do reforço, de forma a

    garantir que satisfazem os valores das propriedades do material considerado na fase de

    projeto.

    • Deve-se começar por colocar o número exato de laminados a aplicar, junto do

    elemento estrutural a reforçar, para que o técnico não se esqueça de inserir um

    determinado CFRP, o adesivo epoxídico deve ser produzido de acordo com as

    recomendações estabelecidas pelo fabricante. A dosagem é composta por dois

    componentes (componente A- a resina e componente B- o endurecedor), deve-se

    respeitar o tempo e o modo de utilização do adesivo (“potlife”).

    • O adesivo deve ser preenchido nas ranhuras;

    • O adesivo também deve ser aplicado nas faces dos laminados;

    • Após a introdução dos laminados nas ranhuras, deve ser retirado o adesivo em

    excesso. Nesta etapa deve-se ter especial atenção à presença de espaços vazios que

    possam criar bolhas de ar e pôr em causa a eficiência da ligação betão-adesivo-CFRP.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    26

    Figura 14- Exemplificação dos procedimentos a aplicar na técnica de reforço NSM (Salvador 2008)

    2.3 Materiais de matriz cimentícia “ECC”

    No contexto das estruturas o betão como material estrutural de construção apresenta

    vantagens de fabricação e aplicação, contudo é considerado um material frágil, com

    pouca resistência a deformações e reduzida capacidade de suporte de cargas de tração.

    Nas últimas décadas tem-se verificado inovações a nível da sua tecnologia de produção.

    Isso advém da necessidade de atender às novas exigências e de se conseguir um betão

    com características adequadas de eficiência e durabilidade (Barros 2011).

    Com os avanços que têm havido na engenharia estrutural, conseguiu-se estabelecer o

    conceito de betão reforçado com fibras que consiste num betão que incorpora fibras de

    reduzidas dimensões.

    Esta ligação conseguida a nível dessas escalas de comprimento preconiza a integração

    composta de materiais para melhorar o seu desempenho em termos de resposta de

    carga-deformação, absorção de energia, capacidade de deformação, estabilidade

    estrutural, tolerância aos danos, eficiência da construção e as necessidades de

    reabilitação.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    27

    Esta abordagem deve beneficiar o custo de estruturas recentes de segurança e do ciclo

    de vida, também permitirá desenvolver soluções novas, soluções para aplicações

    exigentes com as condições ambientais e de carregamento graves, tais como estruturas

    resistentes às ações sísmicas.

    Os compósitos cimentícios designados por (ECC) “Engineered cementitious

    composites” (na nomenclatura inglesa) são materiais cimentícios reforçados com fibras,

    com um comportamento deformacional similar à dos metais. O ECC pode ser composto

    por uma variedade de fibras, incluindo poliméricos, de aço e de carbono. As matrizes

    utilizadas são compostas na maior parte de cimento, argamassa e cinzas. Até agora, a

    maioria das pesquisas tem sido conduzida com uma fibra de polietileno PVA

    (polietileno álcool polivinílico) de elevado módulo de elasticidade numa matriz de

    cimento. A combinação de um composto de cimento, mais dúctil com reforço estrutural

    (FRP), tem tido resultado direto na compatibilidade da tensão e deformação. Este

    comportamento obtém-se pela formação de múltiplas fissuras por todo o comprimento

    da amostra, assegurando uma maior ductilidade.

    Além disso, os elementos de ECC com reforço de FRP longitudinal mostram reduzidos

    deslocamentos residuais após a descarga. Além da localização das fissuras no ECC, o

    reforço ao confinamento, resistência à deformação e resistência à encurvadura, também

    reduz significativamente os requisitos de reforço de aço transversal e levam a uma

    dissipação de energia estável (Esmaeeli 2013).

    2.3.1- Características de desempenho

    O comportamento deformacional de compósitos cimentícios, tais como do betão, betão

    reforçado com fibras (FRC) e compósitos reforçados com fibras de alto desempenho são

    tipicamente distinguidos de acordo com as suas características de tensão-deformação de

    tração e da resposta pós-fissuração em particular (ver figura 15). As matrizes frágeis,

    como argamassa e betão simples, perdem a capacidade de carga de tração quase

    imediatamente após a formação da primeira fenda. A adição de fibras em betão armado

    convencional pode aumentar a tenacidade da matriz de cimento, no entanto, a sua

    tensão/força e, especialmente, a capacidade elástica além das primeiras fissuras não são

    reforçadas. É, portanto, considerado um material quase frágil com amolecimento do

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    28

    comportamento de tensão/deformação, isto é uma diminuição da carga e localização

    imediata da deformação do compósito na primeira fissura da matriz.

    Tendo em conta estudos desenvolvidos por Naamã e Reinhardt (1995), o ECC

    representa uma classe particular de betões de alto desempenho que são definidos por

    uma resistência final maior após a formação das fissuras durante o múltiplo processo de

    deformação inelástico. Em contraste com a deformação localizada em betões

    convencionais, a deformação do ECC é considerada uniforme a uma macro escala, o

    que é uma propriedade do material que não depende da durabilidade.

    O ECC tem geralmente uma resistência à tração de 5-8MPa, o espaçamento entre as

    múltiplas fissuras do ECC é da ordem de vários milímetros, enquanto a largura das

    fendas são limitadas ao fim de 100 m. Além dos ingredientes comuns compósitos

    cimentícios, tais como cimento, areia, cinzas, água e aditivos, o ECC utiliza um pouco

    aleatoriamente, fibras de PVA orientadas em frações de fibras moderadas (Volume de

    fibras = 1,5% a 2%).

    Figura 15- Comportamento tensão-deformação de matrizes cimentícias (Li 2004)

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    29

    2.3.2 Propriedades Mecânicas dos ECC

    Os ECC´s são compósitos reforçados com fibras, caraterizados pela elevada ductilidade

    à tração. Uma das características que distinguem e justificam as diferenças de

    comportamento estrutural entre os outros materiais são o comportamento de

    endurecimento sob deformação e a capacidade de múltipla deformação.

    De acordo com Li (2004), são dimensionados para resistir a elevadas cargas de tração e

    ao corte. Devido a sua elevada ductilidade, estas possuem elevada capacidade de

    absorção de anergia e de deformação sob carregamentos de tração, resultado da

    capacidade de formar diversas fissuras e de pequenas dimensões durante o processo de

    rotura dos compósitos.

    Para se compreender o comportamento dos ECC´s são utilizados os conceitos da

    micromecânica, que estabelecem relações entre o comportamento mecânico dos

    compósitos e as propriedades individuais dos mesmos e da matriz.

    No ECC após a primeira fissura dá-se um aumento ou uma estabilização na capacidade

    de carga do compósito, uma vez que apos a abertura da primeira fissura, o carregamento

    suportado pela matriz é transferido para um conjunto de fibras de pequeno diâmetro,

    com boa resistência à tração e adequada aderência à matriz, que atravessam a fissura.

    Estas fibras têm capacidade de suportar e transferir as cargas para outro ponto da matriz,

    resultando numa nova fissura, e assim de forma sucessiva resultando em múltiplas

    microfissuras ao longo do compósito, assegurando a integridade global e não

    permitindo a rotura do elemento. Este comportamento é o responsável pela sua

    característica que maior importância que é a ductilidade. Por consequência, uma menor

    probabilidade de ocorrer um dano estrutural derivado da rotura dos compósitos num

    elemento de ECC.

    Li (1998) realizou ensaios à flexão com um elemento de ECC. Salientou que o

    comportamento de endurecimento do ECC é o responsável pela sua alta tolerância ao

    dano e à tenacidade e também por permitir que o compósito sofra deformações sem

    romper (ver Figura 16).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    30

    Figura 16- Padrão de fissuração de um elemento de ECC (Garcez 2009)

    Também afirmou que os ECC´s possuem uma elevada resistência ao corte, quando

    submetidos a este tipo de carregamento, desenvolvendo assim varias fissuras alinhadas

    na direção normal à direção das tensões principais de tração. Sendo que o

    comportamento à tração é dúctil, então a resposta ao corte também é dúctil. Por isso, os

    elementos de ECC podem utilizar uma pequena quantidade de armadura ao corte, ou até

    mesmo dispensá-lo.

    Para justificar este comportamento pode-se observar na Figura seguinte, os dados

    provenientes dos ensaios realizados por Li (1998). Através dos resultados concluiu que

    o elemento de ECC sem estribos demonstrou uma elevada capacidade de carga e

    elevada capacidade de absorção de energia.

    a) b)

    Figura 17- Curvas de elementos produzidos com ECC a) com estribos b) sem estribos (Garcez).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    31

    Também estudou a tolerância aos danos, e verificou que o elemento confecionado com

    ECC (sem estribos) é superior ao elemento de betão armado (Figura 18).

    Figura 18- Comportamento de elementos a) de betão armado; b) de ECC sem estribos (Garcez 2009)

    Segundo Li este comportamento derivado do processo de desenvolvimento de várias

    fissuras geralmente inferiores a 100 m, pode representar uma causa importante no

    aumento da durabilidade das estruturas, quando submetidas à cargas severas.

    Yang et al. (2008), realizaram ensaios com protótipos com 3 dias de idade, que foram

    pré-carregados até atingirem deformações específicas. De acordo com os resultados

    evidenciaram que a rigidez diminui drasticamente devido a presença das fissuras

    provocadas pelo pré-carregamento.

    Aspeto importante que serve de diferenciação do ECC em relação aos betões

    convencionais, porque durante o processo de carregamento o elemento de ECC sofre

    uma diminuição da sua rigidez, isto entre a fase transitória da elástica para a inelástica,

    sem comprometer a redução da sua capacidade de carga. Portanto torna-se possível tirar

    proveito da ductilidade do material na resposta final de uma estrutura, sem ter em conta

    apenas o reforço promovido pelas armaduras ou confinamentos externos (Garcez 2009).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    32

    2.3.3 ECC no reforço/reabilitação de estruturas

    Após os avanços conseguidos no desenvolvimento deste material de alto desempenho, e

    do seu excelente comportamento, este demonstra uma boa opção para utilização em

    intervenções de reabilitação/reforço.

    Normalmente as reabilitações/reforços efetuadas em elementos de betão convencional

    perdem durabilidade. Isto deve-se à uma má escolha do material utilizado. Dos vários

    estudos desenvolvidos relativamente ao ECC, também demonstra um elevado

    desempenho quanto à durabilidade sob diversas condições ambientais.

    Também, graças a sua elevada capacidade de deformação à flexão, este possui grandes

    vantagens quanto ao reforço sísmico, pela necessidade dos elementos estruturais

    resistirem a grandes esforços de flexão, ao corte e à fadiga, como também prolongar a

    sua vida útil em serviço.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    33

    CAPÍTULO 3. TÉCNICA DE REFORÇO PROPOSTA

    Este capítulo tem como objetivo apresentar, de forma sucinta, a aplicação da técnica de

    reforço proposta para o reforço de nós dos pórticos de betão armado submetidos a ações

    sísmicas e descrever a configuração de ensaio usada para a realização dos ensaios.

    São apresentadas as propriedades dos materiais aplicados nos ensaios experimentais

    efetuados e descreve-se de forma concisa a conceção dos protótipos adotados e os

    procedimentos para a aplicação do reforço.

    O trabalho experimental desenvolvido foi realizado em duas fases. A primeira,

    executada numa fase anterior a esta dissertação, sob coordenação e execução da

    Universidade de Aveiro, cujo objetivo principal era compreender o comportamento de

    nós de pórtico de betão armado pertencentes a estruturas de edifícios do final da década

    de 70. Quatro nós deste programa experimental serviram de base à segunda fase do

    trabalho.

    A segunda fase, no qual foram reforçados quatro nós de pórtico de betão armado, com

    duas soluções de reforço principais e distintas.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    34

    3.1 Conceção dos protótipos

    Para avaliar a eficácia da técnica NSM no reforço de nós de pórtico de betão armado à

    ação sísmica, foram estudados quatro protótipos à escala real (cujas designações são

    JPA-1, JPA-3, JPB e JPC), e cuja geometria em planta se representa na figura seguinte.

    Figura 19- Geometria dos protótipos (dimensões em mm). (Fernandes 2012)

    Estes protótipos pretendem simular a partir do centro do nó, 2 meios vãos de vigas e

    meios vãos de pilares. Os pilares têm secção transversal quadrada ,

    enquanto que as duas vigas apresentam uma secção transversal retangular de

    .

    A tabela seguinte apresenta informação diversa relativamente às armaduras utilizadas

    em cada protótipo, nomeadamente: diâmetro, percentagem longitudinal de armadura (ρl)

    e percentagem transversal de armadura (ρl). Estes parâmetros foram calculados de

    acordo com o Eurocódigo 2.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    35

    Tabela 1- Propriedades das armaduras

    Viga Pilar

    Armadura Longitudinal Armadura Transversal Armadura Longitudinal Armadura Transversal

    Protótipo Diâmetro (mm)

    ρl, viga

    (%) Diâmetro

    (mm) ρw, viga

    (%) Diâmetro

    (mm)

    ρl, pilar

    (%) Diâmetro

    (mm) ρw, pilar

    (%)

    JPA-1

    12

    0.6

    8

    0.17

    12

    0.5

    8

    0.13

    JPA-3 0.6 0.17 0.5 0.13

    JPC 0.6 0.34 1.0 0.34

    JPB 0.6 0.17 1.0 0.13

    Nas figuras que se seguem apresentam-se os detalhes relativos à pormenorização das

    armaduras.

    Figura 20- Detalhes da armadura dos protótipos JPA-1 e JPA-3 (dimensões em mm). (Fernandes 2012)

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    36

    Figura 21- Detalhes da armadura do protótipo JPB (dimensões em mm). (Fernandes 2012)

    Figura 22- Detalhes da armadura do protótipo JPC (dimensões em mm). (Fernandes 2012)

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    37

    Secção A-A Secção C-C Secção E-E

    Secção B-B Secção D-D Secção F-F

    Figura 23- Pormenorização das secções transversais (Fernandes 2012)

    3.2 Caraterização dos Materiais

    Foram realizados ensaios de caraterização do betão aos 28 dias de idade, de acordo com

    o especificado na norma NP EN1992-1-1. Para tal efetuaram-se ensaios de compressão

    uniaxial com cubos de 0,15 × 0,15 × 0,15 m3 que permitiu concluir que a resistência

    média à compressão é igual a 23,8 MPa, à qual corresponde a classe C16/C20 do betão

    de acordo com a classificação da NP EN1992-1-1.

    Na tabela seguinte apresentam-se as propriedades mecânicas médias do aço da

    armadura longitudinal usadas no âmbito do presente programa experimental.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    38

    Tabela 2- Propriedades Mecânicas do Aço

    Propriedades Valor

    Tensão de Cedência 590 (MPa)

    Tensão Máxima 640 (MPa)

    Módulo de Elasticidade 198 (GPa)

    3.3 Configuração do Ensaio

    Na Figura 24 são representadas as condições de apoio e as solicitações aplicadas

    (esforço axial N e força lateral FP), de acordo com o funcionamento estrutural projetado,

    assim como o esquema de ensaio adotado para simular as condições de ligação e de

    carregamento. A força no topo do pilar (dP) foi aplicada por um servo atuador

    (SVACT), ao qual corresponde um valor de força FP. O esforço axial foi aplicado no

    pilar por recurso a um atuador (ACT) no topo do pilar que faz reação num sistema

    estrutural composto por dois varões de aço ligados transversalmente ao pilar,

    constituindo assim, um sistema autoequilibrado. Sendo que, o provete é ensaiado na

    horizontal. Para minimizar eventuais esforços e deformações verticais consequentes do

    peso próprio do provete, este é apoiado verticalmente por quatro pontos, com recurso a

    esferas com reduzido atrito. Os apoios deslizantes nas vigas são executados com recurso

    a um sistema de rolamentos que têm como objetivo impedir o deslocamento transversal

    da viga, mas não o longitudinal. Testes realizados anteriormente, comprovam que o

    conjunto dos atritos desenvolvidos nas esferas de apoio do provete e nos rolamentos de

    apoio das vigas correspondem a uma diferença entre forças horizontais (diferença entre

    a reação horizontal registada no apoio transversal do pilar e a força aplicada pelo servo-

    atuador) de valor igual a 1KN (2.5% da carga lateral máxima aplicada) (Fernandes

    2010).

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    39

    Figura 24- a) Esquema estrutural e condições de apoio adotadas no ensaio; b) Esquema de ensaio. (Fernandes 2012)

    Figura 25- Vista geral (Fernandes 2012)

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    40

    Os ensaios cíclicos foram realizados, tendo em conta o controlo de deslocamento e

    consistiram na imposição de uma lei de deslocamentos (dP) laterais no topo do pilar. A

    lei de deslocamentos impostos para os quatro provetes é representada na Figura 27.

    Consiste, na imposição de ciclos completos com inversão de sinal para dezoito níveis de

    deslocamento, com amplitude crescente até atingir o máximo de 120 mm. Para cada

    nível de deslocamento, repetem-se três ciclos de igual amplitude e completos. No

    mesmo topo do pilar onde foram impostos os deslocamentos laterais (dP), foi também

    aplicado o esforço axial de valor aproximadamente constante, igual a 200 kN para o

    protótipo JPA-1, correspondendo a uma carga axial normalizado igual a 9,4%, e de 450

    kN para os protótipos JPA-3, JPB e JPC, correspondendo a uma carga axial

    normalizado igual a 21,3%. Estes ensaios foram realizados pelo Laboratório do

    Departamento de Engenharia Civil em Aveiro.

    3.4 Esquema de monitorização

    A monitorização dos ensaios foi realizada através da colocação de um conjunto de

    sensores, nomeadamente transdutores de deslocamento (LVDTs), extensómetros (SG –

    Strain Gauges) e potenciómetros. Os LVDT´s são destinados à medição dos

    deslocamentos verticais e horizontais na zona do apoio no pilar e nas vigas, como

    também de rotações. Nos potenciómetros pretendem registar-se os deslocamentos

    relativos ocorridos na zona central dos protótipos. A extensometria está fora do âmbito

    desta dissertação, embora de acordo com os resultados obtidos podem-se verificar que o

    nível de extensões obtido foi significativo, dado que se observou a rotura dos

    laminados.

  • Dissertação de Mestrado – Suzel Duarte

    41

    Figura 26-E