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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa São Carlos 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE

COOPERATIVAS POPULARES

Lia Botta Riani Costa

São Carlos 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE

COOPERATIVAS POPULARES

Lia Botta Riani Costa

Monografia apresentada como parte das exigências para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, sob orientação da Profa Dra Ana Lucia Cortegoso.

São Carlos

2005

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Aos meus pais, exemplos de amor e dedicação, pelos valores que me passaram, pelo incentivo e pela liberdade.

Aos meus quatro irmãos, pelo

companheirismo e pela energia. À Ana Lucia, pela disposição,

pela paciência e pelos ensinamentos. Aos meus amigos, pela

motivação e pela alegria.

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Sumário

Resumo............................................................................................................................................

Capítulo 1. Prazer e sofrimento no trabalho em empreendimentos solidários:

conhecimento disponível e lacunas a preencher........................................................................1

Prazer e sofrimento no trabalho.........................................................................................1 A organização do trabalho no Capitalismo........................................................................5 Breve histórico das organizações de trabalho capitalistas.................................................7 Economia solidária: um novo modo de organização.........................................................9 A economia solidária no Brasil........................................................................................13 Sobre as cooperativas.......................................................................................................14

Capítulo 2. Caracterizando sofrimento e prazer no trabalho: aspectos metodológicos......18

Participantes......................................................................................................................18 Informações a obter..........................................................................................................18 Fontes de informações utilizadas......................................................................................20 Material.............................................................................................................................20

Procedimentos para coleta de dados.................................................................................20 Contato inicial com os participantes e caracterização do empreendimento....................................................................................................20

Entrevistas.............................................................................................................21 Análise de documentos ................................................................................25

Análise dos dados.............................................................................................................26 Capítulo 3. Fatores relacionados a prazer e sofrimento no trabalho de participantes de

empreendimentos solidários: o caso de uma cooperativa de limpeza....................................27

Capítulo 4. Prazer e sofrimento no trabalho em empreendimentos solidários: contingências complexas controlando comportamentos individuais e práticas culturais...44 Participação dos membros nas decisões da cooperativa...................................................44 Inexistência de patrão.......................................................................................................49 Papel da diretoria..............................................................................................................50 Importância das assembléias............................................................................................51 Relevância de diferentes aspectos do trabalho.................................................................51 Situação de trabalho ideal para as entrevistadas...............................................................53 Motivos que levam as cooperadas a executarem suas funções........................................56 Indicações de prazer e sofrimento pelas cooperadas........................................................57 Características do empreendimento que deveriam ser alteradas, de acordo com as opiniões das entrevistadas............................................................................................................59 Expectativas: o que as entrevistadas imaginam que os demais membros esperam delas e o que elas esperam deles..............................................................................................................60 Regras como fundamentos dos relatos.............................................................................62 Referências Bibliográficas........................................................................................................65

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Índice de quadros, tabelas e figuras Quadro 1- Distribuição da ocorrência ou não de menções aos participantes do estudo como líderes do grupo..................................................................................................................18

Quadro 2- Questões da entrevista com os participantes e informações que acessaram...23

Quadro 3- Distribuição das respostas das entrevistadas em relação ao papel da diretoria do empreendimento......................................................................................................................29 Quadro 4- Categorias de respostas dadas pelas diretoras e por outros membros sobre a possibilidade de participação nas tomadas de decisão.................................................................30 Quadro 5- Categorias de respostas dadas pelas diretoras e por outros membros para a questão 12, sobre a necessidade ou não de haver assembléias.....................................................30 Quadro 6- Categorias das respostas que justificam o julgamento das diretoras e dos outros membros sobre o fato de não haver um patrão no empreendimento.................................31 Quadro 7- Categorias de respostas dadas pelas diretoras e por outros membros referentes a características da cooperativa que deveriam ser alteradas.........................................................36

Quadro 8- Categorias de respostas referentes a diretoria e referentes a todos os membros sobre o que os entrevistados acham que é esperado do seu trabalho...........................................36 Quadro 9- Respostas das diretoras e dos outros membros a respeito das expectativas que têm dos trabalhos dos demais.......................................................................................................37 Quadro 10- Relatos das cooperadas sobre o horário ideal de trabalho.............................38 Quadro 11- Relatos das cooperadas sobre a divisão de tarefas ideal...............................38 Quadro 12- Relatos das cooperadas sobre o ambiente de trabalho ideal..........................39 Quadro 13- Relatos das cooperadas sobre a responsabilidade ideal para se ter no trabalho.........................................................................................................................................40 Quadro 14- Relatos das cooperadas sobre a remuneração ideal.......................................41 Quadro 15- Relatos das cooperadas sobre o como os relacionamentos pessoais devem ser no trabalho....................................................................................................................................42 Quadro 16- Relatos das cooperadas sobre como deveria ser a divisão ideal de trabalho.43 Tabela 1- Respostas relativas ao julgamento das entrevistadas sobre o fato de não terem patrão............................................................................................................................................31

Tabela 2- Freqüência das respostas encontradas sobre as razões que levam as entrevistadas a executarem suas tarefas.................................................................................32 Tabela 3- Categorias citadas pelas entrevistadas quanto a características do trabalho relacionadas a prazer e sofrimento.........................................................................................34

Figura 1- Distribuição de número de entrevistadas que colocaram cada um dos aspectos do trabalho avaliados em primeiro lugar......................................................................................27 Figura 2- Número de entrevistadas que colocaram cada alternativa em quarto lugar......27

Apêndices Apêndice 1- Roteiro da entrevista inicial para caracterização do empreendimento Apêndice 2- Roteiro da entrevista com os cooperados participantes do estudo Apêndice 3- Termo de compromisso do pesquisador Apêndice 4- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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Resumo

São muitas as características da organização do trabalho que estão relacionadas a prazer

e sofrimento dos trabalhadores. Todos os aspectos que caracterizam as condições em que os

trabalhadores atuam, como distribuição de tarefas, tipos de relações estabelecidas, tomadas de

decisões, forma como o trabalho é controlado, esclarecimento do significado do trabalho, entre

outros, juntos contribuem para que o trabalhador participe ativamente, cumpra seu dever,

procure inovar e buscar contribuições, sinta-se motivado (ou os respectivos inversos,

dependendo da situação), o que irá influenciar o modo como interage e se relaciona nos vários

ambientes de que faz parte. Mudanças na maneira de organizar o trabalho têm sido

implementadas tanto para garantir o bem-estar do trabalhador quanto para maximizar a

produção do empreendimento. As pesquisas existentes na área focam principalmente empresas

tradicionais, enquanto a presente pretende investigar as situações em que trabalhadores de

empreendimentos fundamentados na economia solidária estão atuando, já que os princípios que

guiam tais empreendimentos possivelmente proporcionem experiências diferentes daquelas que

os trabalhadores de empresas capitalistas vivem. Neste sentido, o presente estudo tem como

objetivo geral pesquisar quais seriam os fatores relacionados a prazer e sofrimento no trabalho

neste tipo de empreendimento. Os meios para obtenção das informações acerca das condições

em que trabalham os cooperados serão a realização de entrevistas com os cooperados, a

observação de reuniões e de momentos de execução das tarefas e a análise de documentos. Tais

dados permitirão a identificação da forma como os trabalhadores estão organizados e o

reconhecimento de indicativos de prazer e sofrimento nestas pessoas, decorrendo daí a produção

de conhecimento a respeito da problemática abordada.

Palavras-chave: organização do trabalho, prazer e sofrimento do trabalhador,

empreendimento solidário, cooperativas populares.

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Capítulo 1

Prazer e sofrimento no trabalho em empreendimentos solidários: conhecimento disponível

e lacunas a preencher

Prazer e sofrimento no trabalho

Diante da constatação de que uma grande quantidade de pessoas sofre no trabalho

devido a fatores relacionados à sua organização, e tendo em vista que uma reorganização

poderia proporcionar vivências mais prazerosas, o tema sofrimento e prazer no trabalho adquire

importância e é alvo de preocupação e interesse.

As condições de vida e de trabalho têm sido objeto de estudo por parte de historiadores,

sociólogos, cientistas políticos, antropólogos, psicólogos, entre outros. E mais especificamente,

a relação entre saúde (física e psicológica) e trabalho, tem sido objeto de investigação de

profissionais, como psicólogos organizacionais.

Podemos nos confrontar com duas proposições contraditórias sobre o mesmo fato

humano: é milenar a afirmação de que o trabalho adoece, como também o é a de que ele serve

para proporcionar a cura de inúmeras doenças (Medeiros, 2002). Seligman-Silva indica que o

trabalho pode significar satisfação e desenvolvimento de potenciais pessoais e coletivos,

constituindo situações de bem-estar e vitalidade, como pode estar estreitamente ligado ao

desenvolvimento de transtornos que se expressam em termos psicossociais, psicossomáticos ou

até mesmo psiquiátricos (Medeiros, 2002). Assim, o significado do trabalho pode ser

relacionado a um valor positivo: possibilidade de realização, de satisfação, de crescimento, além

de sustento à família. Mas em várias situações o trabalho acaba sendo fonte de cansaço físico e

mental, de fadiga, angústia, medo e depressão. No entanto, a percepção de desgaste depende das

diferenças marcadas pela história pessoal, personalidade e situação presente de cada um.

Em termos teóricos, a organização do trabalho pode ser definida como a divisão do

trabalho, derivando o conteúdo das tarefas e a divisão de homens representados nos tipos de

comando, responsabilidades e relações com hierarquia e pares (Dejours, 1987; citado por

Mendes, 1996). Para Dejours, é a organização do trabalho que é a responsável pelo sofrimento

mental (Medeiros, 2002).

O desenvolvimento das concepções teóricas sobre prazer-sofrimento e organização do

trabalho tem duas etapas distintas e complementares. Num primeiro momento, o sofrimento é

classificado em patológico e criativo. O patológico gera sentimentos de insatisfação, tédio e

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ansiedade, enquanto o criativo é a transformação do patológico, através da ressonância

simbólica, que permite a negociação do desejo do trabalhador com a realidade do trabalho.

O sofrimento patológico se expressa num sentimento do trabalhador de indignidade,

inutilidade, desqualificação e vivência depressiva, todos relacionados com a significação e

reconhecimento do trabalho para si mesmo e para os outros, bem como com o conteúdo

significativo da tarefa, relações com hierarquia e coletivo de trabalhadores.

O sofrimento, então, é visto como uma vivência subjetiva que surge da discrepância

entre uma situação ideal e uma situação presente. Esta discrepância geralmente está associada à

história de vida do sujeito.

O prazer é visto como um processo de sublimação vinculado à escolha profissional e ao

sofrimento criativo, que é transformado caso haja flexibilidade em relação a divisão de trabalho

e de homens. Caso contrário, quando existe rigidez na organização do trabalho, o sofrimento

tende a permanecer, levando o trabalhador a elaborar mecanismos de defesas psicológicas

individuais ou coletivos para manter seu equilíbrio psíquico e evitar descompensações

psicopatológicas ou psicossomáticas.

A forma de expressão desse sofrimento não é necessariamente racional e consciente,

podendo se manifestar pela desmotivação e deteriorização do clima das relações sociais,

transformando-se numa vivência penosa para o sujeito, mascarada pelas estratégias defensivas

(Jayet, 1994; citado por Mendes, 1996). Por isso, uma das formas de investigação do sofrimento

é entender a dinâmica entre a percepção do sofrimento pelo trabalhador e seu mascaramento

pelas defesas.

Num segundo momento, o prazer-sofrimento é estudado em função da forma como os

homens se engajam na dinâmica de construção e evolução da organização do trabalho, onde os

esforços dos trabalhadores são dirigidos à utilização da inteligência astuciosa, para elaboração e

construção de opinião sobre as arbitrariedades, contradições, regras e dificuldades no trabalho, e

ao debate de opiniões e deliberações, que visam acompanhar as decisões e mudanças relativas à

organização do trabalho (Dejours, 1993; citado por Mendes, 1996). As opiniões são resultantes

da experiência pessoal no trabalho, da interpretação das prescrições, valores, obrigações morais,

preferências e personalidade.

Em uma pesquisa realizada por Mendes (1996) em uma empresa pública de

telecomunicações, foram encontrados alguns fatores relacionados ao sofrimento.

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• Divisão do trabalho e conteúdo da tarefa:

Foi detectada a presença de fatores relacionados ao sofrimento, como a

despersonalização em relação ao produto, quando os sujeitos comentam que não vêem

resultados no seu trabalho. Além de frustrações causadas pelo adormecimento intelectual, foi

observado ainda que, à medida que não existe oportunidade para pensar a prática de trabalho,

ocorre dissociação entre planejamento e execução. O sentimento de desvalorização pode ser

conseqüência do conflito gerado pela discrepância entre as estratégias utilizadas pela empresa

para alcançar seus objetivos, e as aspirações de realização profissional. As vivências de prazer

foram observadas nos relatos em que existe uma correspondência entre trabalho prescrito e o

real.

• Relações com hierarquia e com pares:

Parece que o sofrimento predomina quando a margem de liberdade é restrita. Muitas

vezes, estas restrições estão relacionadas ao poder político, ao controle de informações e à falta

de participação nas decisões, reforçada pelo individualismo entre os colegas, o que pode ter

como resultado um sentimento de impotência diante da estrutura organizacional. De acordo com

as interpretações da fala, os sujeitos nem sempre expressam diretamente o sofrimento causado

pelo trabalho, especialmente pela fragilização das relações com os pares. Os relatos demonstram

que o espaço público de discussão é inexistente. Isto quer dizer que a cooperação, confiança e

estabelecimento de regras comuns não ocorrem no grupo pesquisado. Essas verbalizações

permitem apontar para a não existência de um coletivo de trabalho, havendo um

comprometimento do processo de transformação do sofrimento em prazer.

De acordo com o conjunto das verbalizações, parece que o sofrimento emerge quando os

sujeitos se referem aos princípios tayloristas, como a divisão do trabalho; às tarefas repetitivas,

automatizadas e padronizadas; e às restrições do grau de autonomia técnica e qualificação e da

margem de liberdade, expressa na rigidez e controle hierárquico. As vivências de prazer

ocorrem quando os sujeitos conseguem obter um representação global do processo de trabalho,

participar da elaboração dos procedimentos técnicos na tarefa, especialmente a criatividade.

Pesquisas da área mostram que muitos trabalhadores encaram seu cotidiano como uma

luta permanente, em que precisam assumir atitudes defensivas e se opor às formas de

dominação instauradas no local de trabalho (Pereira, 1979; citado por Silva, 1994). O

sofrimento pode surgir também pelo sentimento de perda de liberdade no trabalho, pela

monotonia, pelo sentimento de impotência, pelo cansaço, pela dificuldade de conciliação entre

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trabalho e família, pelo tipo de relação com a chefia, pelo ritmo de trabalho, pela sobrecarga

física e mental, para citar alguns fatores.

Estudos epidemiológicos relativos às doenças no trabalho têm revelado um elevado

índice das que se enquadram na área da Saúde Mental, e que têm como fatores desencadeantes,

sentimentos pessoais tais como angústias e ansiedades, o que é popularmente chamado de

stress. Para Gutierrez e Osterman (citados por Medeiros, 2002), “stress é entendido como o

desequilíbrio do sentimento de bem-estar que vai além dos níveis usuais de tolerância. É o

resultado não somente de fatores de trabalho, mas de falta de equilíbrio entre os fatores de stress

e de apoio que estão presentes no trabalho, na vida social e no terreno pessoal”.

De acordo com Lima (1996), a ergonomia demonstra em suas análises da situação de

trabalho, que os fatores mediatos e imateriais da situação de trabalho (tempo de trabalho,

relações hierárquicas, aspectos organizacionais, etc) são preponderantes sobre os fatores

imediatos (ambiente físico, características fisiológicas ou psicológicas dos trabalhadores, etc).

Assim, enquanto estes fatores imateriais forem considerados como apenas mais um dentre

outros, negando-os como estruturadores de uma situação de trabalho, a compreensão do

adoecimento pelo trabalho e as tentativas de atuação sobre o mesmo não terão efetividade

(Bernardino e Bento, 2002).

Como condições que podem contribuir para originar perturbações, Seligmann-Silva

(1994) aponta uma série delas tais como: tarefas que exigem permanente e intenso controle

emocional, tarefas com grande responsabilidade com vidas humanas, com valores vultuosos ou

com a própria continuidade da produção. Outras situações referidas são a não utilização de

equipamentos de proteção individual por parte dos trabalhadores nos casos de situações que

ameaçam sua integridade física, a estrutura temporal do trabalho – jornadas de trabalho,

organização de turnos, folgas, pausas, pressão de tempo -, a densidade do trabalho- com o

avanço tecnológico aumenta-se o esforço mental -, e o controle no trabalho, que pode gerar

ansiedade, acarretando em tensão e fadiga mental. Além disso, deve-se atentar para as

necessidades psicológicas do trabalhador, tal como a necessidade de reconhecimento social da

situação de trabalho. Assim, a organização do trabalho deve ser analisada em relação a vários

aspectos, como relação entre trabalhadores, importância do trabalho, periculosidade da tarefa,

jornada, turno, folgas, descanso, pausa, exigências cognitivas, controle de produtividade,

possibilidade de autonomia, uso de criatividade, reconhecimento social do trabalho e aspectos

do ambiente de trabalho, para que se tenha um relação multicausal das perturbações

apresentadas pelos trabalhadores.

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Dejours salienta que o trabalhador não pode ser considerado como um motor humano,

pois está sempre sofrendo excitações externas e internas que o modificam permanentemente;

não é uma máquina nova que chega ao trabalho, já que possui uma história pessoal “que se

concretiza por uma certa qualidade de suas aspirações, desejos, motivações e necessidades

psicológicas, que integram sua história passada”, fazendo-o único e pessoal. Em função de sua

história, o trabalhador irá dispor de vias de descargas preferenciais (Medeiros, 2002).

A organização do trabalho no Capitalismo

As pesquisas feitas até o momento a respeito de sofrimento e prazer no trabalho tratam

quase que exclusivamente de organizações capitalistas. E estas derivam de teorias do trabalho

como o taylorismo, cujo autor exclui os fatores psicológicos e fisiológicos humanos referentes à

vida social e desconsidera o acúmulo de fadiga e a fadiga nervosa; e o fordismo, que absorveu

as idéias de Taylor para aplicá-las às linhas de produção com o objetivo de intensificar o ritmo

de trabalho (Silva, 1994).

Antes do surgimento do capitalismo, o que existia era a produção simples de

mercadorias, em que os agentes eram os possuidores individuais dos seus meios de produção e

distribuição e portanto também dos produtos de sua atividade, que eles intercambiavam em

mercados. O agente era, neste modo, quase sempre uma família ou um domicílio, cujos

membros trabalhavam em conjunto, usufruindo coletivamente dos resultados de sua atividade.

A agricultura familiar, o artesanato e o pequeno comércio são exemplos de atividades

integrantes deste modo de produção. O capitalismo nega este modo de produção ao separar a

posse e o uso dos meios de produção e distribuição. Esta separação surge mais ou menos

naturalmente do funcionamento dos mercados, em que os vitoriosos no jogo competitivo

acabam por se apoderar dos meios de produção dos derrotados (Singer, 2000).

O capitalismo é um modo de produção em que os meios de produção e de distribuição,

assim como o trabalho, se tornam mercadorias, apropriadas privadamente. Os meios de

produção e distribuição tornam-se capital à medida que se concentram nas mãos duma minoria,

enquanto a maioria se limita à posse de sua capacidade individual de trabalho (Singer, 2000).

Enquanto a existência da força de trabalho como uma mercadoria implica na separação

do trabalhador dos meios de produção, o processo de trabalho reúne-os novamente. No

capitalismo, eles estão reunidos sob condições que são estabelecidas pelo capital e com a

finalidade de perseguir os objetivos do capital, como a valorização, atingida através da

maximização da produção de mais-valia e, tanto quanto possível, da eliminação de todos os

outros objetivos potencialmente conflitantes. Assim, o processo de trabalho capitalista é a

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unidade entre os processos de valorização e o processo de trabalho real sob a adequada base de

uma forma específica de organização social da trabalho.

As formas que constituem a base da subordinação real são: trabalho assalariado

(trabalhadores sem nenhum acesso aos meios de subsistência exceto através da venda da força

de trabalho); meios de produção sob a forma de mercadorias; meios de subsistência sob a forma

de mercadorias; o produto sob a forma de mercadorias. As formas de coerção nos modos pré-

capitalistas de produção eram diretamente políticas e sociais. Na fase de transição, a compulsão

assume pela primeira vez uma forma econômica – a compulsão para vender a força de trabalho,

para sobreviver. Este poder econômico do capital sobre o trabalho possibilita ao capital, embora

dependendo de métodos e meios de produção inalterados, coagir o trabalhador a um grau de

intensidade, duração e continuidade de produção (Mepham, 1976).

A valorização é o objetivo da gerência capitalista. A maquinofatura é a base material que

permite ao capital tomar o poder sobre o processo de trabalho e, a partir daí, traduzir este

objetivo num sistema de relações concretas de produção. Ela permite ao capital projetar o

processo de trabalho de modo a obter ao máximo grau possível, com base num nível de

desenvolvimento dado, as seguintes características: velocidade na execução das tarefas;

intensificação na execução das tarefas; precisão, previsibilidade e qualidade máximas nas

transformações a serem efetuadas no objeto de trabalho; continuidade na produção; trabalho

barato e funções de trabalho tais que o trabalhador seja facilmente substituível; economia de

matéria-prima. O poder que tem o capital para perseguir estes objetivos é, em parte, o poder do

capital para selecionar, projetar ou desenvolver a maquinaria e outros aspectos da tecnologia

envolvida no processo de trabalho. O capital também tem, e deve ter, o poder para projetar e

operar a organização social da produção dentro da empresa. Deve assim organizar não apenas as

máquinas e sua integração, mas também um sistema de relações de poder, cuja função última

consiste em definir e fazer valer a disciplina do processo de trabalho. Além disso, deve

organizar um processo de produção, difusão e processamento da informação, que é um

pressuposto do funcionamento correto dos sistemas de máquinas e de disciplina.

As três características básicas da organização capitalista do processo de trabalho são: (a)

a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual; (b) o controle hierárquico; (c)

fragmentação/ desqualificação do trabalho.

(a) A divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual

A divisão entre concepção e execução é imanente ao processo de trabalho capitalista, e

nesse sentido pode-se falar de uma imanente divisão entre trabalho intelectual e trabalho

manual. Constitui um aspecto do monopólio que o capital tem sobre o conhecimento e o poder

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de projetar sistemas de produção. Só por meio da posse e da reprodução desse monopólio pode

o capital impor seus objetivos. Vista sob essa ótica, a divisão não tem nada a ver com a divisão

entre funções mentais e físicas do organismo humano, tomadas num sentido puramente abstrato

- o trabalho humano envolve percepção e pensamento, da mesma forma que todo trabalho

mental envolve alguma atividade corporal. Claramente, portanto, do ponto de vista da teoria do

processo de trabalho capitalista, a divisão importante é aquela entre os que produzem ou

aplicam o conhecimento científico e tecnológico no projeto de sistemas de produção e na

resolução cotidiana dos problemas envolvidos na operação do sistema e aqueles cuja relação

com o sistema de produção é calculada, padronizada e especificada previamente pelo capital,

com o objetivo de produzir um produto que seja previamente conhecido com precisão.

(b) Hierarquia

Esta é imanente ao processo de trabalho capitalista em virtude de sua natureza

inerentemente antagônica. A disciplina é essencial, de forma que o capital possa alocar tarefas,

impor velocidades e intensificações, punir a má qualidade, e assim por diante. O capital é

forçado a tratar o trabalhador de forma subjetiva, isto é, no interesse da eficiência é forçado a

levar em consideração a especificidade do trabalhador, distinguindo-o da máquina. Mas é

também forçado a manter sua relação com o trabalhador dentro de limites rígidos – limites

definidos pelo contrato salarial na esfera da troca e pelo objetivo da valorização na esfera da

produção. O que é essencial à hierarquia capitalista é que é o capital que, ao final das contas, dá

as regras no interior do processo de trabalho.

(c ) Fragmentação/ Desqualificação

A desqualificação é inerente ao processo de trabalho capitalista porque o capital deve

visar ter funções de trabalho que sejam rotinas calculáveis, padronizáveis, porque este trabalho

deve ser executado à velocidade máxima e com o mínimo de porosidade e porque o capital quer

força de trabalho que seja barata e facilmente substituível.

Breve histórico das organizações de trabalho capitalistas

Diante da necessidade de aumentar a produção e diminuir o custo dos produtos, surge o

modelo de produção de massa nos Estados Unidos, no início do século XX. Taylor introduz a

Organização Científica do Trabalho, defendendo a existência de um modo ótimo para a

realização do trabalho, definido e padronizado através do estudo de tempos e movimentos, que

elimina a variabilidade e iniciativa individual através da imposição de um método e tempo

padrão de execução (Fleury e Vargas, 1994, citados por Bernardino e Bento, 2002). Os

trabalhadores são selecionados cientificamente e mais um princípio é estabelecido: a cisão entre

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planejamento e execução - a gerência “conhece” o trabalho, sendo responsável pelo

planejamento e controle do mesmo, manipulando idéias e informações sem contato direto com o

real. Foi a intercambialidade das peças, a possibilidade de ajusta-las entre si, que primeiro

permitiu uma diminuição significativa no tempo de montagem dos produtos; a linha de

montagem móvel acentuou essa diminuição, determinando ciclos de trabalho ainda mais curtos,

com o trabalhador parado, fazendo movimentos repetidos e em ritmo acelerado, determinados

pela máquina (Womack, 1992, citado por Bernardino e Bento, 2002).

O trabalho na produção em massa caracteriza-se, enfim, pelo ritmo intenso, utilizado na

realização de tarefas simples e extremamente repetitivas e pela baixa exigência cognitiva

(devido à cisão entre planejamento e execução). Verifica-se, então, sofrimento físico, pelo

esforço músculo-esquelético exigido; mental, pela pouca utilização das potencialidades

cognitivas; e psíquico, em resposta à alta exigência de produtividade.

Ohno, o principal mentor da Escola Japonesa, coloca que o Fordismo é a técnica

indicada para a economia de custos de fabricação para mercados em expansão de produtos

idênticos, ao passo que o sistema Toyota seria a técnica de produção a custos baixos para

mercados estagnados e economias de crescimento lento, ou ainda para mercados em expansão,

de produtos variados e diferenciados (Coriat, 1993; citado por Bernardino e Bento, 2002). Essas

últimas eram características do mercado japonês após a Segunda Guerra Mundial. Esse fato

associado às condições históricas e sociais do país (crise determinando demissão e posterior

estabilização dos funcionários que ficaram empregados; governo japonês proibindo

investimentos externos no setor automobilístico, etc), permitiram o desenvolvimento da

Produção Enxuta (Womack, 1992; citado por Bernardino e Bento, 2002). A produção enxuta,

atendendo às necessidades de maior flexbilização da produção, determina mudanças em

diferentes frentes. A base tecnológica se automatiza. Modificam-se as relações de trabalho, as

atividades passam a ser realizadas em grupo, exigindo multifuncionalidade e menor

hierarquização. Preconiza-se a participação dos trabalhadores para a melhoria da produção. As

relações entre empresas dentro de uma mesma cadeia tornam-se mais próximas e complexas.

Um dos principais aspectos que caracterizam a produção enxuta é o controle da produção,

determinado por dois princípios básicos, o JIT (Just In Time) e o TQC (Total Quality Control),

que buscam alta qualidade e produtividade, negando-se a possibilidade de ineficiência e

desperdício. Essa nova forma de organização permite e estimula que os problemas venham à

tona, para discuti-los e solucioná-los. O perfil da mão-de-obra se modifica, deixando de ser

mera repetidora de movimentos simples, passando a ser responsável por um maior número de

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atividades (relacionadas à produção e ao controle de qualidade), necessitando de qualificação,

iniciativa e motivação constante.

É importante ressaltar, também, que na esfera das empresas, as questões sobre

adoecimento se colocam, mas com algumas diferenças em relação à esfera da Saúde: as

considerações de que as condições de trabalho que vão além da tolerância humana normal

podem afetar seriamente os trabalhadores, acarretando danos em sua saúde física e mental,

acarretam também uma elevação nos custos da produção da empresa, e fazem com que diversos

especialistas passem a estudar maneiras de se baixar os custos relativos às perdas de pessoal e

de produção, identificando fatores que contribuem para o adoecimento, e incrementando

medidas de intervenções preventivas no trabalho. Além disso, a maior ou menor satisfação com

a tarefa, comunhão com a proposta e a identificação com o método de realização, são elementos

importantes que também interferem no processo de trabalho (Medeiros, 2002).

Entretanto, apesar do avanço representado pela adoção de sistemas produtivos mais

flexíveis, o sofrimento no trabalho, causador de adoecimento, incapacitação e danos sociais,

continua presente; mas este perfil de sofrimento tem características diferentes em relação à

produção em massa. No modelo da produção enxuta, a relação atividade/trabalhador tem maior

possibilidade de trazer satisfação do que no trabalho taylorizado. O trabalho em grupo, a maior

autonomia para sua realização, a variedade de atividades desenvolvidas durante a jornada de

trabalho, a possibilidade de compreensão e responsabilização pelo bom andamento do processo

produtivo, as oportunidades e importância da qualificação profissional, nos apresentam um

sistema produtivo onde possivelmente trabalhar traz mais satisfação do que sobrecarga e

sofrimento.

Economia solidária: um novo modo de organização

Tendo em vista que estas mudanças (trazidas pela reestruturação produtiva) beneficiam

o trabalhador, é aceitável supor que nas empresas em que se propõem uma administração

autogestionária, as relações proporcionadas neste tipo de empreendimento têm mais chance de

satisfazer seus membros do que aquelas existentes em empresas tradicionais que impõem um

determinado ritmo aos trabalhadores.

A economia solidária surge como modo de produção e distribuição alternativo ao

capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram (ou temem ficar)

marginalizados do mercado de trabalho, já que o aproveitamento incompleto da capacidade de

trabalho do proletariado (o que Marx chamou de “exército industrial de reserva”) é

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característica do capitalismo. A economia solidária casa o princípio da unidade entre posse e

uso dos meios de produção e distribuição com o princípio da socialização desses meios.

Para compreender a lógica da economia solidária é fundamental considerar a crítica

operária e socialista ao capitalismo. O que ela condena no capitalismo é antes de tudo a ditadura

do capital na empresa, o poder ilimitado que o direito de propriedade proporciona ao dono dos

meios de produção (Singer, 2000). Isso faz com que qualquer trabalhador deva obediência

irrestrita às ordens emanadas do dono, que todo fruto do trabalho coletivo seja propriedade do

capitalista e que o trabalhador só faça juz ao salário previsto contratualmente e aos seus direitos

legais.

A crítica ao capitalismo prossegue ao considerar os seus efeitos extra-empresa: a

crescente desigualdade entre a classe capitalista, cuja riqueza aumenta coma acumulação do

capital, e a classe trabalhadora, cujos ganhos são apenas suficientes para reproduzir sua força de

trabalho cotidianamente e produzir nova força de trabalho – os seus descendentes – que

substituirão os trabalhadores aposentados e os sustentarão mediante suas contribuições

previdenciárias (Singer, 2000).

Os resultados históricos do projeto em construção de economia solidária podem ser

sintetizados do seguinte modo: 1. homens e mulheres vitimados pelo capital organizam-se como

produtores associados tendo em vista não só ganhar a vida mas reintegrar-se à divisão social do

trabalho em condições de competir com as empresas capitalistas; 2. pequenos produtores de

mercadorias, do campo e da cidade, se associam para comprar e vender em conjunto, visando

economias de escala, e passam eventualmente a criar empresas de produção socializada, de

propriedade deles; 3. assalariados se associam para adquirir em conjunto bens e serviços de

consumo, visando ganhos de escala e melhor qualidade de vida; 4. pequenos produtores e

assalariados se associam para reunir suas poupanças em fundos rotativos que lhe permitem

obter empréstimos a juros baixos e eventualmente financiar empreendimentos solidários; 5. os

mesmos criam também associações mútuas de seguros, cooperativas de habitação etc (Singer,

2000).

Há indiscutivelmente forte afinidade entre as classes trabalhadoras e os princípios que

regem a economia solidária. Fica em aberto a questão se esta afinidade se deve ao cálculo

probabilístico que mostra à maioria dos trabalhadores que suas chances de ascender à classe

dominante são mínimas ou se o anticapitalismo da maioria dos trabalhadores decorre de sua

consciência de classe, adquirida com a prática da luta de classes ao longo da vida (Singer,

2000).

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Toda empresa solidária é ao mesmo tempo uma associação comunitária. Quem se

associa a ela não faz um contrato de trabalho mas entra numa união em que o seu destino

individual se funde com os de seus companheiros. Por isso, o processo de aprendizado coletivo

que vai viabilizar a empresa começa antes mesmo que ela venha funcionar. Na sua gestação, os

futuros sócios interagem, fazem cursos de cooperativismo ou similares e de preparação

profissional e se estruturam politicamente ao elaborar o estatuto da empresa. Assim, quando

a empresa solidária começa a funcionar, os sócios já têm certa prática em autogestão, embora

lhes falte, possivelmente, toda competência específica para operar no ramo de negócios

escolhido.

Numa empresa autogestionária, a propriedade pertence a um coletivo composto por

associados que são, ao mesmo tempo, proprietários e trabalhadores. Cada associado detém um

número de cotas-partes da empresa, e essas cotas são baseadas no padrão de rendimento da

classe trabalhadora.

As principais mudanças introduzidas pelas empresas autogestionárias no processo de

trabalho dizem respeito à divisão de tarefas, às cadências e, em geral, ao que na empresa

capitalista corresponde ao controle do trabalho – que no sistema autogestionário é denominado

regulação do trabalho (Vieitez e Dal Ri, 2001).

Os quatro temas sobre os quais a regulação incide são: a divisão do trabalho fabril em

funções intelectuais e manuais, o parcelamento minucioso das funções, o ritmo e análise do

processo de trabalho. No que diz respeito à divisão do trabalho, há uma significativa alteração

na tradicional bipartição da fábrica em setor com funções de execução e setor com funções de

direção, pois os associados são ao mesmo tempo os trabalhadores e os dirigentes da

organização. A quebra do sistema de funções especializadas e fixas remete a quatro itens:

desenvolvimento profissional – há liberdade para que os trabalhadores aprendam novas funções

se assim o desejarem; flexibilização da disposição funcional dos trabalhadores – em caso de

necessidade, o associado deve assumir outras funções dentro da empresa; polivalência –

medidas são tomadas para propiciar novos aprendizados e a mudança de funções; e rodízio de

funções. Isso ocorre como decorrência da existência de valores de identidade coletiva em

formação, da necessidade de otimizar a utilização de um quadro fixo e estável de associados e

do interesse na qualificação dos associados.

A estrutura de poder que emerge nessas organizações expressa, por um lado, a situação

de classe dos trabalhadores e, por outro, a negação do sistema de classes. O capital foi

suprimido no âmbito da empresa. Os trabalhadores encontram-se em condições de igualdade,

uns com os outros, frente à ausência de propriedade, riqueza ou poder, o que se expressa no

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plano subjetivo como uma aspiração à integração igualitária e democrática no novo

empreendimento. Essa igualdade se encontra expressa formalmente na assembléia geral do

coletivo dos trabalhadores, fórum no qual engendra-se a empresa autogestionária e no qual

todos têm o direito de se expressar e deliberar livremente. A assembléia geral é o espaço

primordial para o exercício da gestão, é o próprio trabalhador coletivo no pleno exercício de

suas funções autogestionárias (Vieitez e Dal Ri, 2001).

Um dos princípios de organização das empresas autogestionárias é a constituição de

empresa, ou seja, um conjunto de ordenamentos que define e norteia os principais aspectos da

sua vida. Essa constituição aparece na forma de estatutos que regem as relações estabelecidas

(Vieitez e Dal Ri, 2001).

Como bases de sustentação à economia solidária é necessário garantir fontes de

financiamento, redes de comercialização, assessoria técnico-científica, formação continuada dos

trabalhadores e apoio institucional e legal por parte das autoridades governamentais. O que

debilita o desenvolvimento da economia solidária é que a maior parte de suas unidades atuam

isoladamente em mercados dominados por empresas capitalistas, com pouco ou nenhum acesso

a crédito, a redes de comercialização, à assessoria tecnológica etc. A construção dum setor

integrado de empresas e instituições que se regem pelos princípios da economia solidária é

condição essencial para evitar a degeneração ou até mesmo a falência. A construção da

competência nos princípios da solidariedade é perfeitamente possível desde que cada

empreendimento possa se financiar, abastecer-se, escoar sua produção, aperfeiçoar-se

tecnologicamente e educar seus membros em intercâmbio com outros empreendimentos

solidários. Em relação ao apoio do governo, o desenvolvimento da economia solidária e sua

integração num setor pode se dar de baixo para cima, por iniciativa das próprias empresas e

instituições de apoio, sem interferência direta de autoridades governamentais. Esta alternativa

parece preferível sobretudo para preservar a autenticidade das organizações solidárias, quer da

sua democracia interna e da sua autonomia externa (Singer, 2000).

A adequação dos produtos ao mercado, a competitividade dos preços, as características

dos mercados consumidores, a estabilidade dos produtos nesses mercados e as políticas de

vendas são indicadores que incidem no desempenho das empresas em curto prazo. Além disso,

os relacionamentos das empresas autogestionárias com os vários sujeitos que atuam nos

mercados de produtos e serviços também devem ser considerados.

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A economia solidária no Brasil

A economia solidária no Brasil resulta de movimentos sociais que reagem à crise de

desemprego em massa, que tem seu início em 1981 e se agrava com a abertura do mercado

interno à importações, a partir de 1990. Em 1991, tem início o apoio de assessores sindicais a

operários que conseguem se apossar da massa falida da empresa que antes os empregava,

formando uma cooperativa de produção, que retoma as operações e assim “salva” os postos de

trabalho até então ameaçados de fechamento. Três anos depois, diversas empresa

autogestionárias fundam a Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas

Autogestionárias e de Participação Acionária (Anteag). Outro movimento que luta contra a

exclusão é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que se empenha na

organização de moradores do campo e mais tarde também de cidades, que desejam se integrar à

economia mediante a obtenção de terra mantida improdutiva em latifúndios (Singer,2000).

Como decorrência do grande movimento de Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela

Vida, que mobilizou milhões de pessoas entre 1992 e 1994, surgiram também as Incubadoras

Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP), que pertencem a universidades e se dedicam à

organização da população mais pobre em cooperativas de produção ou de trabalho, às quais dão

pleno apoio administrativo, jurídico-legal e ideológico na formação política, entre outros.

Outras entidades importantes de apoio à economia solidária são a Agência de Desenvolvimento

Solidário (ADS), da grande central sindical CUT, em parceria com a Unitrabalho e o Dieese, o

Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos, Sociais e Econômicos, que assessora todos

os sindicatos brasileiros há mais de quarenta anos (Singer, 2000).

O intenso crescimento das cooperativas e associações de produção autogestionárias está

indubitavelmente associada ao desemprego e à precarização do trabalho, que está excluindo

milhões do mercado formal de trabalho. Mas a economia solidária está longe de ser uma reação

espontânea de pessoas atingidas pela crise. A idéia de se juntar e organizar uma atividade

econômica coletiva, à base de participação igualitária nas decisões e no capital é levada para os

trabalhadores por meio de entidades , como a Anteag, o MST, as ITCP e a ADS, que estão

reinventando a economia solidária na atual conjuntura brasileira (Singer, 2000).

Com o objetivo de gerar trabalho e renda por meio da economia solidária, os

trabalhadores mostram enorme dedicação e disposição de suportar sacrifícios, sendo este

empenho recompensado pela oportunidade de resgate da cidadania, já que podem experimentar

em suas vidas o gozo de direitos iguais para todos, o prazer de poderem se exprimir livremente

e de serem escutados e o orgulho de perceber que suas opiniões são respeitadas e pesam no

destino do coletivo. Assim , é possível considerar a organização de empreendimentos solidários

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o início de revoluções locais, que mudam o relacionamento entre os cooperados e destes com a

família, vizinhos, autoridades públicas, religiosas, intelectuais etc. Trata-se de revoluções tanto

no nível individual como no social. Esse caráter revolucionário da economia solidária abre-lhe a

perspectiva de superar a condição de mero paliativo contra o desemprego e a exclusão (Singer,

2000).

Sobre as cooperativas

O surgimento das primeiras cooperativas está registrado no início do século XIX,

especialmente na Alemanha e na Inglaterra. Mas através de uma pesquisa histórica, como feita

por Rech (2000), observa-se que tipos semelhantes de organização apareceram muito antes

disso, como por exemplo os grêmios do antigo Egito, os orglonas e tiasas na Grécia, os incas e

os astecas na América; que tinham formas expressivas de solidariedade e cooperação no

trabalho e na vida em geral. Mas foi no século XIX que as cooperativas se organizaram no

modelo atual.

Os chamados socialistas utópicos entendiam a cooperativa como um dos caminhos para

uma nova ordem econômica e social. No entanto, nos países onde se intentou implantar uma

experiência socialista, o papel das cooperativas, mesmo que tenham exercido uma importante

atividade na organização dos camponeses, sempre foi interpretado como instrumento

complementar aos planos de coletivização governamental e não como iniciativa autônoma dos

trabalhadores.

Já os liberais e os fisiocratas capitalistas entendiam as cooperativas como corretivo dos

defeitos do sistema capitalista. Neste caso, a cooperativa viria atenuar as características

egoísticas e concentradoras de capital do sistema vigente. Pó isso é que nas primeiras

experiências de cooperativa foi apresentada a proposta de eliminação do lucro e o fim da

concorrência interna e a simplificação da repartição dos ganhos.

No Brasil, a preocupação dos poderes públicos em intervir nas cooperativas manifestou-

se em 1932 com a primeira lei básica específica do cooperativismo e tinha como objetivo

enfrentar, pela diversificação agrícola, as quebras provocadas pelos problemas com o comércio

internacional do café.

A cooperativa é uma iniciativa autônoma de pessoas, caracterizada por possuir dupla

natureza, já que é simultaneamente uma entidade social (um grupo organizado de pessoas) e

uma unidade econômica (uma empresa financiada, administrada e controlada

comunitariamente), tendo como objetivo principal de ser utilizada diretamente pelos associados

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como meio para prover bens e serviços que necessitam e que não conseguem obter

individualmente em condições semelhantes.

Os princípios cooperativistas são:

• Livre acesso e adesão voluntária,

• Controle, organização e gestão democrática,

• Participação econômica dos seus associados,

• Autonomia e independência,

• Educação, capacitação e informação,

• Cooperação entre as cooperativas e

• Compromisso com a comunidade.

O costume e a própria tradição cooperativista, visando preservar o princípio da

democracia, procuram garantir mecanismos de gestão participativa, como: conselho de

administração e assembléia geral, e determinação de que cada sócio tenha apenas um voto.

Uma das primeiras atividades educativas da cooperativa deve ser a busca da conciliação

dos interesses individuais com o bem comum, procurando meios para que todos os sócios

tenham condições plenas de participação – onde as pessoas se sintam integrantes autônomos da

cooperativa; e suas sugestões, críticas, intervenções sejam ouvidas e levadas em conta.

Numa cooperativa não se pode assumir uma postura de subordinado, mas é necessário se

envolver, participar e se esforçar para que a cooperativa siga em frente. Para isso, é necessário

que as pessoas que vão participar da cooperativa assumam a sua posição de donos, sujeitos do

empreendimento e não de meros participantes. A questão de ser dono pode ser vista como

problemática se pensarmos que é necessário que haja uma superação de uma situação até então

existente, que haja necessidade de haver uma mudança de mentalidade.

Um grande problema relacionado às cooperativas é o fato de que a absorção da idéia

cooperativista pelo sistema capitalista inviabilizou as possibilidades da cooperação total e as

cooperativas capitularam quase sempre ao predomínio do capital e acabaram por pender muito

mais em direção a empresas com características profundamente comerciais e pouco se

importando com os interesses dos trabalhadores. Além disso, a permanente pressão e a

necessidade de enfrentamento da concorrência provocaram dificuldades de relacionamento no

conjunto do movimento cooperativista desencadeando, em determinados momentos, verdadeiras

lutas para a conquista e manutenção de espaços comerciais e mercados, colocando cada uma

isolada na luta pela própria sobrevivência. Outro problema se refere à questão do lucro, já que,

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mesmo tendo o nome de sobras, nem sempre o espírito inicial de não buscá-lo se mantém nas

operações de compras, vendas e retorno aos sócios. Finalmente, nas relações internas, na

estrutura das cooperativas ocorreram problemas com promoções pessoais à custa de outros,

criando disparidades de capitalização e concentração de poder, além de sérios arranhões na

democracia.

A empresa autogestionária, apesar de eliminar algumas determinações que originam os

conflitos ligados às relações de trabalho capitalista, preservam elementos fundamentais do

trabalho alienado em seu atual estágio de desenvolvimento. Desse modo, conflitos decorrentes

da alienação do trabalho, modificados em sua substância e manifestação fenomênica, não

apenas subsistem nas empresas autogestionárias como ainda constituem um dos eixos sobre o

qual ela se move (Vieitez e Dal Ri, 2001).

As empresas autogestionárias alteraram pouco os processos de trabalho oriundos das

empresas capitalistas, particularmente no que tange às relações dos trabalhadores com as

máquinas e equipamentos, tecnologias de produção e materiais objetos de transformação. Como

conseqüência desse fato, as condições dos trabalhadores das empresas autogestionárias

mantêm-se próximas às das demais empresas no que se refere especificamente a esse tema

(Vieitez e Dal Ri, 2001). Essa situação dos trabalhadores no processo de trabalho encontra-se

em contradição tanto com a estrutura geral das relações de trabalho, quanto com os propósitos

democráticos declarados das empresas autogestionárias. No entanto, as dificuldades para mudar

a organização do processo de trabalho são evidentes: as máquinas, equipamentos e tecnologias

de produção utilizadas determinam, em grande parte, a organização do processo de trabalho. As

empresas autogestionárias não podem modificar a concepção do sistema de máquinas e

equipamentos, pois a mudança desses implementos depende de forças sociais que transcendem

a simples vontade e a possibilidade das organizações.

Um outro fator diz respeito à real adesão ou não dos associados aos princípios solidários,

já que isto poderá influenciar no seu engajamento. As experiências serão, provavelmente,

vivenciadas de maneiras diversas, de acordo com o ideal que leva a pessoa a participar do

empreendimento.

As dificuldades e desafios encontrados pelos membros das cooperativas em relação ao

tipo de tarefa realizado, às relações de trabalho estabelecidas, ao duplo papel - de ser ao mesmo

tempo proprietário e trabalhador – e em relação à mudança de mentalidade necessária ao tornar-

se dono (e não mais subordinado) também devem influenciar suas vivências de prazer e

sofrimento.

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Admite-se que este “novo” tipo de organização do trabalho proporcione experiências

que possam estar relacionadas ao sofrimento do trabalhador, e disso decorre a necessidade e

importância, tanto científica quanto social, de se investigar essas relações.

O presente estudo teve como objetivo principal analisar as condições de trabalho de uma

determinada cooperativa com o intuito de revelar possíveis fontes de sofrimento e prazer para os

cooperados. A hipótese era a de que as diferenças entre as condições de trabalho em empresas

capitalistas e as organizações cooperativas proporcionem diferentes vivências de prazer e

sofrimento. Como objetivo específico, pretendeu-se verificar o modo de conciliação entre

execução e administração do trabalho pelos cooperados. O fato de que aos membros é

determinada mais uma função, a de participar das assembléias para tomadas de decisões em

grupo, pode proporcionar tanto prazer (pelos sentimentos positivos relacionados a essa função),

quanto sofrimento (proporcionado por sentimentos negativos em relação a mais uma

incumbência). O propósito foi identificar quais seriam esses sentimentos (positivos e negativos)

relacionados ao papel de membro de uma cooperativa (ao menos desta cooperativa estudada).

Assim, procurou-se investigar como se dá a organização de determinada cooperativa,

como se dá a adesão aos princípios solidários, sob controle de quê os cooperados atuam, quais

as dificuldades encontradas pelos cooperados, e, por fim, caracterizar possíveis fontes de prazer

e sofrimento nesse tipo de empreendimento (cooperativas populares, especificamente) através

da busca por indicativos nos relatos das pessoas.

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Capítulo 2

Caracterizando sofrimento e prazer no trabalho: aspectos metodológicos

Participantes

Os participantes da pesquisa foram membros de uma cooperativa que presta serviços de

limpeza, localizada na cidade de São Carlos. A escolha dos membros do empreendimento que

iriam participar da pesquisa como entrevistados foi baseada em alguns critérios. Primeiramente,

foram selecionados os membros que já haviam participado como diretores e os que eram

diretores atualmente - 4 membros. Em seguida, mais quatro membros foram selecionados de

acordo com os resultados de uma pesquisa sobre liderança realizada no mesmo empreendimento

que solicitava aos entrevistados que apontassem pessoas que se destacavam por serem líderes,

mesmo que não formalmente, no grupo. No Quadro 1 são apresentadas as indicações ou não de

participantes do grupo como líderes na pesquisa citada. Os outros seis entrevistados foram

escolhidos aleatoriamente, na tentativa de que a amostra pudesse ser representativa da

cooperativa. Todos os participantes precisaram ter aceitado, anteriormente, colaborar com a

pesquisa, e tiveram que assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Entrevistada Citada? Laura Sim Daniela Sim Célia Sim Lúcia Sim Marilene Não Flávia Sim Melina Não Raquel Não Maria Não Rosina Não Rebeca Não Ana Sim Sandra Sim Denise Sim

Quadro 1: Distribuição da ocorrência ou não de menções aos participantes do estudo como líderes do grupo. Os nomes dos participantes são fictícios.

Informações a obter

A coleta de dados foi guiada pela pergunta: Quais são as fontes de prazer e sofrimento

decorrentes da forma como o trabalho está organizado na cooperativa popular? Ou: Quais são as

condições de trabalho relacionadas a prazer e sofrimento no âmbito das cooperativas?

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Assim, houve necessidade de definir quais eram as características relacionadas às

diferentes variáveis: forma de organização do trabalho (condições de trabalho) e experiências de

prazer e sofrimento dos cooperados (indicativos de prazer e sofrimento no trabalho).

Condições de trabalho existentes na cooperativa:

• Tipo de relações estabelecidas,

• Esquema de horário,

• Tratamento diante de faltas e atrasos,

• Divisão de tarefas,

• Organização da diretoria,

• Processo de tomada de decisões,

• Freqüência das Assembléias,

• Participação nas assembléias,

• Atividades existentes na cooperativa (atividades previstas e atividades

desenvolvidas),

• Fato de os cooperados não terem patrão,

• Fato de terem múltiplo papel dentro da cooperativa (administrar e executar as

tarefas),

• Fato de terem que fazer reunião para tomar decisões,

• Primeiro contato com os princípios solidários,

• Opinião dos cooperados a respeito de tais princípios,

• Incorporação de tais princípios,

• Engajamento dos membros no empreendimento,

• Conhecimento sobre o significado de seu trabalho por parte dos trabalhadores,

• Entendimento por parte dos trabalhadores da importância do seu trabalho e do

seu papel dentro deste processo.

Em relação às experiências de prazer e sofrimento dos cooperados, as características

observadas estão presentes na forma como cada trabalhador lida com o seu trabalho. Assim, os

pesquisadores estiveram em busca de indicativos de prazer e sofrimento nas pessoas.

• Queixas em relação ao trabalho e aspectos que mais agradam em seu trabalho

(indicações de satisfação-insatisfação aos vários aspectos do trabalho),

• Freqüência com que realiza as atividades,

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• Grau de qualidade do trabalho,

• Tipo de atividade desempenhada,

• Sob controle de quê atua (pessoa trabalha apenas quando alguém lhe ordena ou

toma iniciativas independentemente dessa supervisão?),

• Presença de inovação e busca por contribuições,

• Relacionamento com companheiros de trabalho,

• Características atribuídas à pessoa pelos seus companheiros de trabalho,

• Participação nas Assembléias,

• Tipo de participação nas tomadas de decisão.

Fontes de informações utilizadas

Para a realização da coleta de dados foram utilizadas as seguintes fontes:

• fala dos cooperados a respeito de seu trabalho e

• documentos e atas de reuniões.

Material

O material necessário para a realização da coleta de dados consistiu em:

• material para impressão dos termos de consentimento e dos protocolos de

registro: computador, impressora, papel;

• caderneta para anotações e

• fichas a serem utilizadas na análise dos documentos, para que informações

relevantes fossem registradas.

Procedimentos para coleta de dados

Contato inicial com os participantes e caracterização do empreendimento

Anteriormente à coleta dos dados os pesquisadores tiveram um contato inicial com os

cooperados1. Isso aconteceu por meio de visitas aos locais de trabalho e aos locais em que as

assembléias eram realizadas nos quais a pesquisa foi explicada aos cooperados e estes e os

pesquisadores conversaram sobre este e outros assuntos, com o intuito de “quebrar o gelo”.

1 Esse contato inicial tem por finalidade estabelecer uma relação transparente e proveitosa entre os pesquisadores e os participantes.

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Após esta fase de adaptação, a coleta de dados foi iniciada.

Este contato permitiu aos pesquisadores obter informações a respeito do que investigar

(cada empreendimento tem características peculiares às quais deve-se estar atento). Neste

contato foi realizada uma primeira entrevista com uma das diretoras do empreendimento para

que os pesquisadores entrassem em contato com a organização e funcionamento da cooperativa.

Procurou-se saber:

• os tipos de relações estabelecidas,

• os esquemas de horários,

• a ocorrência e as medidas tomadas diante de faltas e atrasos,

• quais as atividades desenvolvidas pela cooperativa,

• como estão divididas as tarefas entre os membros,

• como se dá a estruturação da diretoria e como ocorre a escolha da diretoria,

• como se dão as tomadas de decisão, (aproveitar para perguntar se todas as

decisões devem ser tomadas em assembléias e de que maneira isto ocorre)

• a freqüência com que as assembléias ocorrem, (aproveitar para saber se há

obrigatoriedade de participação e como o múltiplo o papel está estabelecido)

• como ocorre a introdução dos membros aos princípios solidários.

Entrevistas

A realização de entrevistas com os cooperados foi a fonte de informações mais

importante utilizada para a coleta de dados. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas,

realizadas no próprio ambiente de trabalho ou na sede da cooperativa, e as investigações

voltaram-se à descoberta das opiniões das pessoas sobre quais seriam as possíveis fontes de

prazer e sofrimento naquela cooperativa2.

Após a entrevista inicial (Apêndice 1) a respeito da organização e funcionamento da

cooperativa, foram realizadas entrevistas individuais com os participantes da pesquisa

(Apêndice 2), que assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido preparado pelos

pesquisadores. Estas entrevistas procuraram acessar as opiniões individuais a respeito das

2 Sem deixar de levar em consideração que através desse meio serão obtidas informações a respeito das interpretações individuais relacionadas à organização do trabalho, estas serão oportunidades de desenvolver a análise sob o ponto de vista dos entrevistados. Além disso, pelo fato de estarem participando da pesquisa colegas de trabalho, durante a entrevista o entrevistado estará sendo questionado a respeito dos comportamentos de seus companheiros de jornada; pois desta forma poderão decorrer análises sobre como determinada pessoa lida com o trabalho visto de um foco diferente do dela própria.

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características da organização e do funcionamento do empreendimento em que trabalham (estas

características foram abordadas e descobertas na entrevista inicial).

Assim, as informações obtidas desta forma foram:

• motivos que levaram a pessoa a fazer parte do empreendimento,

• horários de trabalho,

• tarefas pelas quais é responsável,

• visão do papel da diretoria e avaliação a respeito da centralização ou

descentralização do poder,

• participação nas tomadas de decisão e avaliação da oportunidade de participar

deste processo,

• freqüência com que vai às assembléias, participação nelas e modo como avalia

esta oportunidade,

• avaliação do fato de não ter patrão (questionamento a respeito de como julga este

fato neste empreendimento – se de fato há descentralização, sobre a mudança de

mentalidade – verificar se a pessoa havia trabalhado anteriormente em empresas

tradicionais e como ela lida com esta diferença e sobre a responsabilidade do

duplo papel – mais responsabilidade ou sobrecarga),

• primeiro contato com os princípios solidários (como ocorreu e qual a avaliação

do processo),

• opinião a respeito dos princípios solidários (facilidade de segui-los e como isso

ocorre neste empreendimento),

• incorporação de tais princípios, (relacionar esta resposta com a pergunta anterior

a respeito do motivo que levou a pessoa a entrar na cooperativa – se foi por

ideais solidários ou não)

• engajamento no empreendimento

• conhecimento sobre o significado de seu trabalho,

• entendimento da importância de seu trabalho e de seu papel dentro do processo.

(Questões mais voltadas para os indicativos de prazer-sofrimento no trabalho)

• aspectos que mais valoriza no trabalho,

• características do empreendimento que mais agradam a pessoa,

• queixas em relação ao trabalho,

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• Freqüência com que realiza as atividades,

• Grau de qualidade do trabalho (verificar também como a pessoa acha que seus

colegas de trabalho e o líder da equipe avaliam seu trabalho),

• Sob controle de quê atua (pessoa trabalha em função de ordens ou procura ser

independente dessa supervisão?),

• Presença de inovação e busca por contribuições,

• Relacionamento com companheiros de trabalho,

• Características atribuídas à pessoa pelos seus companheiros de trabalho (existirá

uma lista determinando a que membro os comentários estarão sendo destinados).

O Quadro 2 mostra as questões que conduziram as entrevistas com os participantes e as

informações obtidas através delas.

Questões Informações obtidas Quais são suas experiências profissionais anteriores? Experiência profissional

Por que decidiu participar da cooperativa? Motivos pelos quais ingressaram no

empreendimento

Quais eram suas expectativas em relação à

cooperativa antes de seu ingresso?

O que o entrevistado esperava do trabalho na

cooperativa antes de inicia-lo

Atualmente você tem outra ocupação além da

cooperativa? Se sim, qual e por quê?

Relevância do trabalho na cooperativa para a pessoa

Em relação à atividade desenvolvida por você na

cooperativa, esta é uma atividade para a qual você

havia se preparado anteriormente?

Experiência do entrevistado em relação à atividade

exercida na cooperativa

Você gosta de realizar esta atividade? Gosto do entrevistado em relação à atividade

Qual é a função da sua tarefa para o andamento da

cooperativa? Com o que seu trabalho contribui para

este andamento?

Avaliação que o entrevistado faz de sua função na

cooperativa e relevância que atribui à mesma

Qual é seu horário de trabalho? O que você

acha dele?

Avaliação do entrevistado em relação ao seu horário

de trabalho

Como você avalia o papel da diretoria? As funções

são divididas com o restante dos membros

(centralização ou descentralização)? Se sim, como

isto é feito?

Avaliação que o entrevistado faz a respeito da

diretoria do empreendiemnto

Você participa das tomadas de decisão? Como isto

acontece?

Modo como as decisões são tomadas e avaliação do

entrevistado a respeito disso

O que você acha de poder participar? Avaliação do entrevistado sobre a oportunidade de

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participar das decisões

Quando você acha que precisa e quando acha que é

desnecessário chamar assembléia para tomar

decisões? Acontece de serem chamadas assembléias

para situações que você considera desnecessárias? E

o que você pensa sobre isso?

Avaliação do entrevistado sobre decisões que

necessitam ser decididas em assembléias

Você costuma freqüentar as assembléias? E durante

a reunião você tem o costume de dar suas opiniões,

de falar quando acha que algo deve ser mudado na

cooperativa?

Freqüência com que o entrevistado vai às

assembléias e modo como se comporta nelas

O que você acha de não ter um patrão? Avaliação do entrevistado a respeito do fato de não

existir um patrão no empreendimento

Você sabe quais são os conceitos da economia

solidária? Se sim, quando você teve o primeiro

contato com eles?

Conhecimento do entrevistado sobre os conceitos da

economia solidária e ocasiões em que teve contato

com eles

O que você acha deles? É fácil segui-los, agir de

acordo com eles?

Avaliação do entrevistado a respeito dos conceitos

da economia solidária

Em relação à faltas, com que freqüência você

costuma faltar do seu trabalho? Por que motivos

você falta?

Freqüência de faltas do entrevistado e razões pelas

quais elas ocorrem

E o que acontece quando você falta: o trabalho fica

acumulado, alguém o substitui, você é punido?

Providências tomadas diante do absenteísmo

Como você acha que seus colegas de trabalho e o

líder avaliam seu trabalho?

Como o entrevistado imagina que os outros

membros do empreendimento avaliam seu trabalho

Qual seria a razão pela qual você executa sua tarefa? Razões que motivam o entrevistador a trabalhar

Você acha melhor fazer por si ou gosta quando

alguém lhe orienta sobre o que fazer? Por quê?

Preferência do entrevistado a respeito de trabalhar

por si ou ser orientado

Como você avalia suas relações com seus colegas de

trabalho? Existem desentendimentos? E quando

existe, como normalmente vocês resolvem?

Avaliação do entrevistado a respeito do

relacionamento entre ele e os outros membros e

forma como os desentendimentos são resolvidos

Vocês costumam trocar informações e conversar

sobre aspectos do trabalho? E sobre outros assuntos,

fora do trabalho, vocês costumam conversar? Em

que momento?

Tipo de relacionamento estabelecido entre o

entrevistado e seus colegas de trablho

Do que você mais gosta do trabalho na cooperativa?

Quais são as coisas que te dão mais prazer?

Características do trabalho na cooperativa que estão

relacionados a prazer para o entrevistado

Quais são as coisas que te causam mais sofrimento

no trabalho na cooperativa?

Características do trabalho na cooperativa que estão

relacionadas a sofrimento para o entrevistado

Analise algumas características do empreendimento. Avaliação do entrevistado a respeito de

características do trabalho na cooperativa

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Você acha que existem coisas que precisariam ser

alteradas na cooperativa? O que? E por que?

Opinião do entrevistado a respeito de características

da cooperativa que deveriam ser mudadas

O que você acha que existe de diferença entre o

trabalho na cooperativa e o trabalho como

empregada?

Opinião do entrevistado a respeito de diferenças

entre o trabalho na cooperativa e o trabalho em

organizações tradicionais do trabalho

Você teria preferência por um emprego com carteira

assinada para fazer as mesmas coisas que faz na

cooperativa? Por que?

Preferência do entrevistado entre trabalhar como

cooperado ou trabalhar como empregada

O que você acha que as pessoas esperam de você na

cooperativa? Por que?

Opinião do entrevistado a respeito das expectativas

de outras pessoas sobre o seu trabalho

O que você espera de seus companheiros de trabalho

na cooperativa? Explique.

Expectativas do entrevistado a respeito do trabalho

dos outros membros do empreendimento

Se você pudesse escolher só uma coisa em grande

quantidade na sua situação de trabalho, e as outras

todas fossem médias, qual escolheria: a)

remuneração, b) prazer no que faz, c) relação com as

outras pessoas, d) participação nas decisões sobre o

trabalho

Relevância de aspectos do trabalho como

reforçadores para o entrevistado

Imagine uma situação ideal de trabalho (horários,

divisão de tarefas, ambiente de trabalho,

responsabilidades, remuneração, relacionamento

entre as pessoas, hierarquia). Como ela seria?

Opinião do entrevistado a respeito de características

de uma situação ideal de trabalho

Quadro 2: Questões da entrevista com os participantes e informações que acessaram.

Análise de documentos

A análise de documentos e de atas foi uma fonte adicional de informações, através da

qual foi possível ter acesso à forma como o trabalho está organizado, ao histórico daquele

empreendimento e à participação dos diferentes membros; na dependência de como estas atas

são construídas.

O que observar:

• Histórico do empreendimento,

• Aspectos da organização do empreendimento,

• Características do trabalho desenvolvido pelo empreendimento,

• Modo como são tratados os trabalhadores,

• Freqüência dos membros nas assembléias,

• Assuntos abordados com mais freqüência,

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• Tomadas de decisões,

• Participação das pessoas na discussão.

Análise dos dados

As informações obtidas por meio das entrevistas foram organizadas nas folhas de

registros e o pesquisador encarregado da análise fez anotações e comentários relevantes para a

posterior análise qualitativa das falas dos cooperados.

A partir das fichas de registro em que estavam contidas as informações obtidas através

da investigação dos documentos, a análise foi realizada também de acordo com as

características pré-definidas para cada variável presente no estudo.

Apenas uma das 33 questões presentes na entrevista já era categorizada, e a análise da

questão (32) foi realizada através das categorias pré-definidas pelos pesquisadores. Foram

analisadas as freqüências com que cada uma das quatro alternativas apresentada obteve nas

quatro posições de prioridade: 1º lugar, 2º lugar, 3º lugar e 4º lugar. Primeiramente os dados

foram tabulados, e depois representados em forma de gráficos, tabelas e quadros.

Todas as outras questões eram apresentadas de forma não categorizada, e por isso a

primeira fase de análise destas questões foi estabelecer categorias de respostas de acordo com as

falas das cooperadas entrevistadas. Após esta fase, os dados foram organizados e representados

através de tabelas e quadros.

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Capítulo 3

Fatores relacionados a prazer e sofrimento no trabalho de participantes de

empreendimentos solidários: o caso de uma cooperativa de limpeza

São apresentados, a seguir, dados relativos a alguns dos relatos obtidos junto aos

participantes do estudo, selecionados dentre as informações coletadas nas entrevistas.

A distribuição das respostas dadas pelas entrevistadas em relação à relevância de

características de seu trabalho aparece nas Figuras 1 e 2, que mostram as indicações de cada

característica para o primeiro e para o último lugar, respectivamente.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

a b c d

nº indicações

Figura 1: Distribuição de número de entrevistadas que colocaram cada um

dos aspectos do trabalho avaliados em primeiro lugar.

0

1

2

3

4

5

6

a b c d

nº indicações

Figura 2: Número de entrevistadas que colocaram cada alternativa em

quarto lugar.

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A Figura 1 mostra as indicações ao primeiro lugar para cada um dos aspectos do

trabalho abordados. O aspecto do trabalho indicado como mais relevante por oito dos catorze

entrevistados - 71% do total - foi “relação com outras pessoas”. O aspecto “remuneração”

obteve apenas uma indicação ao primeiro lugar; “prazer no que faz” obteve três indicações;

“relação com as outras pessoas” obteve oito indicações; e “participação nas decisões” obteve

três indicações.

Na Figura 2 pode-se observar que os aspectos “remuneração” e “prazer no que faz”

obtiveram três indicações para o quarto lugar cada um e “relação com as outras pessoas” obteve

apenas uma indicação. A “participação nas decisões sobre o trabalho” apresentou maior número

de indicações para o quarto lugar, tendo sido apontada na última posição por seis das catorze

entrevistadas.

Em relação à avaliação e ao julgamento que cada cooperada entrevistada fazia do papel

da diretoria do empreendimento, as respostas dadas pelas diretoras e as respostas dadas pelas

cooperadas entrevistadas que não participam da diretoria serão apresentadas separadamente.

Essa distribuição aparece representada no Quadro 3, no qual aparecem os relatos de cada

representante desses dois grupos, acerca de seu próprio subgrupo e do outro subgrupo

considerado.

Dos relatos obtidos, 86% são referentes ao grupo das diretoras, e o restante é referente

ao grupo das cooperadas que não participam da diretoria. Esses relatos estão separados,

também, de acordo com o tipo de julgamento da característica abordada: positivo ou negativo.

A maior parte das respostas apresentadas (aproximadamente 67%, sendo 13% referentes aos

relatos das diretoras e 54% referentes aos relatos das demais cooperadas) era de caráter

negativo, em que as entrevistadas se queixavam dos comportamentos das pessoas de seu próprio

grupo ou do outro grupo.

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A quem se refere a informação/valor

Informações de membros da diretoria

Informações de não participantes da diretoria

Diretoras, de caráter positivo

“Tem que ter diretoria senão fica bagunçado.”, “É muito importante porque tem muita coisa para resolver.”

“A diretoria administra, arruma outros contratos pra gente que está desempregada. É bom.” “O papel é cuidar dos documentos, procurar mais emprego, fazer pagamento. A diretoria na tem tanto poder, tem assembléia.”, “A diretoria organiza. Elas estão levando a cooperativa para frente. Está dando resultados.”, “A cooperativa cresceu muito e expandiu em todas as áreas: assembléias estão melhores, tem mais diálogo, têm mais contratos, tem a sede, dá para conversar com todo mundo, o fundo cresceu. Elas estão sempre querendo que cresça. Acho muito interessante o trabalho da diretoria.”, “Em relação ao pagamento, eu concordo. Elas são muito justas.”,

Diretoras, de caráter negativo

“To um pouco cansada, to carregada. Tem hora que estressa, viu?”.

“Os problemas são resolvidos só entre elas.”, “O trabalho da diretoria está médio. Coitadas, elas estão se esforçando muito para dar médio. Mas é complicado, é muita responsabilidade, muita coisa pra resolver.”, “Elas decidem sempre sozinhas. Não decidem com o grupo todo. Eu acho ruim.”, “Eu achava que a diretoria precisava estar passando tudo para a gente, mas não é.”, “Acho bom, mas poderia melhorar. A divisão das tarefas, porque elas ficam super atarefadas.”, “Nós temos assembléia. Não pode ficar só entre as três da diretoria.”, “O trabalho delas é bom, tirando algumas falhas: não passam o que acontece para os cooperados, não admitem quando estão erradas. São falhas que têm que ser corrigidas.”, “Nem tudo o que é decidido em assembléia é cumprido.”, “Todos os problemas tinham que ir para assembléia.”, “Tem que passar para todo mundo.”, “Todo mundo tem que decidir.”.

Sobre outros membros, de caráter negativo

“Os outros membros se acomodam, não querem participar. Querem trabalhar e ganhar seu dinheiro.”, “Os cooperados deixam para a diretoria resolver tudo. Isso a gente quer mudar.”.

“A diretoria fica super atarefada enquanto tem outras cooperadas que poderiam ajudar.”.

Quadro 3: Distribuição das respostas das entrevistadas, em relação ao papel da diretoria do empreendimento.

O Quadro 4 apresenta as categorias de respostas estabelecidas de acordo com as opiniões

das cooperadas entrevistadas sobre a possibilidade de participarem das tomadas de decisão do

empreendimento, e as respostas das diretoras aparecem separadas das respostas das cooperadas

que não fazem parte da diretoria.

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Para diretoras Para outros membros 1) dividir responsabilidades 2) diminuir a sobrecarga

1) importância de serem colocados diferentes pontos de vista 2) sentimento positivo decorrente de contribuir 3) fato de todos terem acesso às informações 4) diminuição de reclamações decorrente da oportunidade de debater

Quadro 4: Categorias de respostas dadas pelas diretoras e por outros membros sobre a possibilidade de participação nas tomadas de decisão.

As informações obtidas através dos relatos das diretoras dizem respeito à divisão de

responsabilidade e à diminuição da sobrecarga. Os demais membros se referem à importância

do contato com diferentes pontos de vista, ao sentimento positivo decorrente da oportunidade de

contribuição, ao fato de todos os membros terem acesso às informações e à diminuição de

reclamações, visto que há possibilidade de debater as decisões.

As categorias de respostas obtidas a respeito da necessidade ou não de haver assembléias

para tomar decisões sobre diferentes assuntos aparecem no Quadro 5, no qual as respostas das

diretoras e dos outros membros também aparecem representadas separadamente.

Para diretoras Para outros membros 1) nada é resolvido sem assembléia 2) função da diretoria é fazer cumprir regras

1) necessidade de resolver todos os assuntos em assembléias 2) alguns assuntos de pouca importância não precisam ser discutidos em assembléia 3) necessidade de os membros terem acesso às informações

Quadro 5: Categorias de respostas dadas pelas diretoras e por outros membros para a questão 12, sobre a necessidade ou não de haver assembléias.

Dentre as respostas, algumas se referem ao papel da diretoria, outras se referem a

conseqüências do fato de haver assembléia e outras se referem à necessidade de a característica

de um empreendimento solidário de realizar assembléias para tomar as decisões ser respeitada.

Em relação ao fato de não existir um “patrão” no empreendimento, as respostas das

cooperadas entrevistadas foram analisadas de duas formas. A primeira análise pretendeu

verificar o julgamento das cooperadas entrevistadas sobre o fato de não terem um patrão, e a

Tabela 1 mostra as categorias e as freqüências de respostas encontradas: bom, complicado, não

há diferença, importante, interessante, estranho e fonte de dor de cabeça.

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Categorias de julgamento Freqüência Bom 6 Meio complicado 3 Não há diferença 2 Importante 1 Interessante 1 Estranho 1 Fonte de “dor de cabeça” 1 Tabela 1: Respostas relativas ao julgamento das entrevistadas sobre o fato de não terem patrão.

A segunda análise realizada objetivou verificar as conseqüências decorrentes do fato de

não haver um patrão no empreendimento, na opinião das entrevistadas, e as categorias de dados

obtidas foram separadas em respostas de diretoras e respostas de membros que não fazem parte

da diretoria, e aparecem representadas no Quadro 6.

Para diretoras Para outros membros Relatos de caráter positivo: 1) “Importante”: possibilidade de conhecer diferentes opiniões, aumenta responsabilidade do grupo; 2)”Bom”: aumenta autonomia e responsabilidade; Relatos de caráter negativo: 3) “Meio complicado”: membros chamam diretoras de “chefe”, membros acham que as diretoras apenas mandam e não fazem nada

Relatos de caráter positivo: 1) “Interessante, bom”: desenvolvimento de responsabilidade para o grupo; 2)”Bom”: possibilidade de aprendizagem, responsabilidade para o grupo, fato de não haver cobrança; Relatos de caráter negativo: 3) “Não interfere em nada”: de qualquer maneira há alguém com autoridade, necessidade de haver assembléias, importância de haver alguém para organizar o serviço, autonomia e liberdade; 4) “estranho”: ruim não ter vínculo empregatício, necessidade de haver alguém à frente do negócio; 5) “Um pouco complicado”: necessidade de alguém chamar a atenção, liberdade; 6) “Fonte de dor de cabeça”: possibilita falta de compromisso das pessoas

Quadro 6: Categorias das respostas que justificam o julgamento das diretoras e dos outros membros sobre o fato de não haver um patrão no empreendimento.

Seis das 14 entrevistadas disseram que achavam “bom” não terem patrão. Diferentes

justificativas foram utilizadas, como o aumento de responsabilidade, a possibilidade de

aprendizagem, o fato de não haver cobrança e o fato de a responsabilidade estar dividida entre o

grupo.

Três entrevistadas disseram que trabalhar sem ter patrão é “meio complicado”. Dessas

três, uma é diretora, e justifica seu julgamento dizendo que os outros membros acham que as

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diretoras apenas mandam e não fazem nada, e que eles não têm autonomia, visto que não estão

acostumados a trabalharem sem patrão. A segunda entrevistada que respondeu que achava “um

pouco complicado” não ter patrão justificou sua resposta dizendo que “é bom ter alguém para

chamar a atenção e melhorar cada vez mais”. A terceira pessoa que julgou o fato de não ter

patrão como “um pouquinho complicado”, apesar de ter feito tal julgamento, disse em seguida

apenas aspectos positivos decorrentes deste fato, como a liberdade e o fato de não ter que se

submeter a patrão mal-humorado.

Das duas entrevistadas que disseram que não faz diferença não haver patrão, uma delas

relatou que “de um jeito ou de outro, tem alguém que manda”. A outra entrevistada que disse

não haver diferença, distinguiu um tipo do outro (“Porque com patrão, você é mandado pela

pessoa, e sem patrão, é você e seu serviço.”), mas disse que o serviço é o mesmo.

A pessoa que disse ser importante não haver patrão, justificou sua resposta dizendo que

isso “traz responsabilidade” e possibilita o contato com “diferentes opiniões”. A entrevistada

que julgou o fato como interessante, disse que as pessoas “ganham mais responsabilidade”. A

entrevistada que julgou o fato como estranho, disse: “Sem patrão é estranho porque tem que ser

registrado. E deveria ter um patrão para estar à frente da cooperativa na hora da disputa com a

concorrência.”

As informações a respeito das razões que levam as cooperadas entrevistadas a

executarem suas tarefas foram categorizadas e estão representadas na Tabela 2, de acordo com a

freqüência em que apareceram.

Categorias encontradas Freqüência (número de citações) Comprometimento com o grupo 5 Compromisso, auto-controle 4 Oportunidade de aprendizagem 3 Garantia do trabalho 2 Gosto pela atividade 1 Oportunidade de escolha 1 Compreensão, empatia 1 Hábito 1 Evitação de intervenções de outras pessoas

1

Auto-conhecimento 1 Necessidade financeira 1 Tabela 2: Freqüência das respostas encontradas sobre as razões que levam as entrevistadas a executarem suas tarefas.

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A resposta que apareceu com maior freqüência (cinco cooperadas citaram), foi

“comprometimento com o grupo”, em que as cooperadas diziam se preocuparem em fazer sua

parte do trabalho do grupo e com a imagem da cooperativa. “Compromisso e auto-controle” foi

a resposta que apresentou a segunda maior freqüência (quatro citações), e as cooperadas diziam

que faziam seu trabalho porque sabiam o que tinha que ser feito e, portanto, faziam. Em terceiro

lugar, apareceu a resposta “oportunidade de aprendizagem”, com três citações, em relação à

qual as cooperadas diziam que faziam suas tarefas porque assim tinham a oportunidade de

aprender. Duas cooperadas disseram que faziam suas tarefas e cumpriam seus deveres para

garantir seu trabalho, sendo que trabalhar é importante e necessário. Outras respostas foram

dadas por apenas uma pessoa: gosto pela atividade, oportunidade de escolha, compreensão e

empatia, hábito, evitação de intervenções de outras pessoas, auto-conhecimento e necessidade

financeira.

As características do trabalho na cooperativa relacionadas a prazer e sofrimento, de

acordo com os relatos das cooperadas entrevistadas, aparecem representadas na Tabela 3, que

mostra as categorias encontradas, as referências de prazer e sofrimento e as freqüências em que

foram indicadas.

A primeira categoria, “oportunidade de trabalho na comunidade”, foi citada por duas

entrevistadas, sendo que uma delas indicou o fato de a cooperativa proporcionar oportunidade

para as pessoas da comunidade trabalharem e, a outra, o fato de a cooperativa empregar pessoas

sem fazer discriminação e sem pedir experiência anterior.

A segunda categoria, “relação com pessoas dos locais de trabalho”, foi citada por quatro

entrevistadas. Três delas indicaram aspectos positivos, que seriam indicativos de prazer, sendo

que duas falaram que gostavam de “lidar com pessoas” e a outra disse que gostava de se

comunicar com os usuários da sala de apoio em que trabalhava. A quarta pessoa, que abordou

um aspecto negativo, disse que se sentia humilhada quando era maltratada pelos usuários do

serviço.

A categoria “relações entre membros” foi citada por sete entrevistadas, sendo duas

citações relacionadas a prazer - amizade e colaboração entre os membros-, e cinco citações

relacionadas a sofrimento - fofoca, discriminação, discussões, desentendimentos e “más

línguas”.

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categoria Indicativo de prazer Número de indicações

Indicativo de sofrimento

Número de indicações

oportunidade de trabalho na comunidade

- fato de a cooperativa proporcionar serviço para pessoas da comunidade - fato de facilitar a entrada de pessoas por não discriminar e não pedir experiência

2 0

relação com pessoas dos locais de trabalho

- comunicação com professores e alunos, usuários dos serviços da sala de apoio - lidar com pessoas

3 mal trato por parte dos usuários do serviço

1

relações entre membros

- amizade - colaboração 2 - fofoca - discriminação - discussões - desentendimentos - más línguas

5

oportunidade de trabalho para a pessoa

- fato de ter emprego 2 0

remuneração - dinheiro recebido - salário é o que compensa - tranqüilidade de chegar ao fim do mês e receber, e ser independente financeiramente - dinheiro recebido e economizado

4 0

participação no processo decisório

oportunidade de participar das assembléias

1 - concentração do processo decisório - não cumprimento das decisões das assembléias

2

atividades específicas do trabalho

lidar com pessoas 3 - misturar produtos de limpeza - carregar retroprojetores

2

vínculo empregatício

0 - fato de o trabalho não ser registrado

1

fazer cumprir normas

0 - intermediar e resolver discussões e aplicar advertências

1

liberdade - fato de ter liberdade no trabalho

1 0

gosta de tudo - tudo na cooperativa agrada - nada causa sofrimento - não ter que ficar em casa

4 0

Tabela 3: Categorias citadas pelas entrevistadas quanto a características do trabalho relacionadas a prazer e sofrimento.

Duas entrevistadas responderam que o fato de estarem empregadas era o que mais lhes

agradava, e a resposta foi categorizada como “oportunidade de trabalho para a pessoa”. Quatro

entrevistadas tiveram suas respostas incluídas na categoria “remuneração”. Uma disse que o que

mais gostava era o fato de receber dinheiro (além de poder participar das assembléias), outra

disse que o que estava “compensando” era o “salário”, a terceira disse que o melhor era “saber

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que você vai chegar no fim do mês e ter seu salário na mão e não ter que ficar implorando para

as pessoas”, e a última disse “meu dinheirinho, eu emprego bem ele”.

A categoria “participação no processo decisório” foi citada por três pessoas. Uma delas

relatou o aspecto positivo, dizendo que gostava de ter a oportunidade de participar das

assembléias. Duas entrevistadas abordaram o aspecto negativo, sendo que uma delas colocou

que o processo decisório é concentrado (“não gosto quando as coisas são resolvidas só entre

duas pessoas”), e outra ressaltou o não cumprimento das decisões tomadas em assembléia (“não

cumprir as coisas que são determinadas”).

Cinco entrevistadas falaram de atividades específicas do trabalho. Três disseram que

gostavam de “lidar com pessoas”, colocando o aspecto positivo de sua tarefa. As outras duas

abordaram aspectos do trabalho que as fazem sofrer: misturar produtos de limpeza e carregar

retroprojetores.

Uma entrevistada disse que o que lhe causava sofrimento era o fato de, na cooperativa,

não haver vínculo empregatício (“Não ser registrada. É o que me faz pensar em sair da

cooperativa”). Uma das entrevistadas teve sua resposta categorizada como “fazer cumprir

normas”, visto que era uma diretora que colocou que não gostava de ter que “resolver as

discussões e quando tem que dar uma dura, uma advertência”.

Em relação a mais um indicativo de prazer, uma entrevistada disse que o que mais

gostava na cooperativa era a “liberdade”. Quatro cooperadas disseram que gostavam de tudo na

cooperativa, sendo que uma respondeu a questão relacionada a prazer dizendo “eu gosto de

tudo”, e as outras três responderam a questão relacionada a sofrimento dizendo que “nada” as

fazia sofrer, sendo que uma delas disse: “odeio ficar em casa, então não quero ir embora”.

As opiniões das cooperadas a respeito de características da cooperativa que precisariam

ser alteradas foram categorizadas e separadas nos blocos de diretoras e de membros que não

fazem parte da diretoria. O Quadro 7 mostra as diferentes categorias de opiniões apresentadas.

As respostas das diretoras eram referentes a mudanças de comportamento dos

cooperados pelo fato de fazerem parte de uma cooperativa, a relações de parentesco

problemáticas e ao interesse dos cooperados pelo crescimento da cooperativa. As respostas dos

outros membros, dentre as quais foram incluídas respostas das diretoras quando estas não

enfocavam essa função especialmente, relataram a necessidade de todas as decisões serem

discutidas em assembléias, de o contrato permitir aumentos salariais, de todos terem direitos

iguais, de todos conhecerem o estatuto do empreendimento, do cumprimento das leis, de as

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decisões serem firmes e claras, de todos terem acesso às informações, de haver respeito entre os

cooperados e de as decisões da assembléia serem cumpridas.

Para diretoras Para outros membros 1) membros deveriam mudar comportamentos por estarem em uma cooperativa: guardar os abonos para o fim do ano, preocuparem-se menos com os problemas alheios 2) relações de parentesco problemáticas 3) necessidade de os cooperados terem mais interesse pelo crescimento da cooperativa

1) necessidade de todas as decisões irem para a assembléia 2) necessidade de o contrato permitir aumentos salariais 3) necessidade de todos terem direitos iguais 4) necessidade de todos conhecerem o estatuto 5) necessidade de as leis serem cumpridas 6) necessidade de as decisões serem firmes e claras 7) necessidade de todos terem acesso às informações 8) necessidade de os cooperados respeitarem os demais 9) necessidade de cumprimento das decisões das assembléias

Quadro 7: Categorias de respostas dadas pelas diretoras e por outros membros referentes a características da cooperativa que deveriam ser alteradas.

Os dados a respeito do que os cooperados do empreendimento estudado imaginavam que

as outras pessoas esperavam deles na cooperativa aparecem representados no Quadro 8.

Referências à diretoria Referências a todos 1) outras cooperadas esperam que a diretoria resolva tudo

1) esperam que faça um bom trabalho 2) um espera apoio do outro 3) esperam que realize o trabalho direito para preservar a imagem da cooperativa 4) esperam que trabalhe com responsabilidade 5) esperam que colabore com o crescimento da cooperativa 6) esperam que dê bom exemplo 7) esperam que cumpra deveres e regras 8) família acha que é importante trabalhar 9) família espera retorno financeiro

Quadro 8: Categorias de respostas referentes a diretoria e referentes a todos os membros sobre o que os entrevistados acham que é esperado do seu trabalho.

Em relação à diretoria, os relatos a esse respeito estavam relacionadas ao fato de os

outros membros da cooperativa esperarem da diretoria a resolução de todos os problemas do

empreendimento, de acordo com o ponto de vista delas. Em relação às respostas referentes a

todos os membros, os cooperados relataram que achavam que as pessoas esperavam que eles

fizessem bem o seu trabalho, que pudessem contar com o apoio deles, que preservassem a

imagem da cooperativa fazendo um trabalho de qualidade, que tivessem responsabilidade, que

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colaborassem com o crescimento da cooperativa, que dessem bons exemplos para os demais e

que cumprissem seus deveres. Essas respostas dizem respeito aos outros cooperados, mas as

entrevistadas também responderam sobre suas famílias, dizendo que seus familiares achavam

importante elas trabalharem e que esperavam retorno financeiro de seu trabalho.

Informações a respeito das expectativas das cooperadas entrevistadas em relação ao

trabalho dos outros membros do empreendimento aparecem no Quadro 9.

Expectativas em relação à diretoria Expectativas em relação a todos os membros

1) que os cooperados conversem com mais educação e respeito 2) que os cooperados se interessem mais pelo crescimento da cooperativa

1) um espera apoio do outro 2) que façam o trabalho bem feito para preservar a imagem da cooperativa 3) que tenham responsabilidade 4) que sejam amigos e unidos 5) que cumpram deveres e regras 6) que dêem mais valor à cooperativa 7) que trabalhem 8) que melhorem 9) que façam suas funções 10) que colaborem com o crescimento da cooperativa

Quadro 9: Respostas das diretoras e dos outros membros a respeito das expectativas que têm dos trabalhos dos demais.

As diretoras, quando responderam enfocando sua função de diretora, disseram que

esperavam que os outros membros tivessem mais respeito ao conversarem com elas e que

tivessem mais interesse pelo crescimento da cooperativa. As respostas dos outros membros,

dentre as quais aparecem também as respostas das diretoras quando não enfocaram sua função

administrativa, sobre o que esperavam do trabalho de seus pares incluíram: apoio, trabalho com

qualidade para preservar a imagem da cooperativa, responsabilidade, amizade e união,

cumprimento de deveres, maior valorização do empreendimento, realização do trabalho,

aperfeiçoamento e colaboração para o crescimento da cooperativa.

A respeito das opiniões das entrevistadas sobre o que seria, para elas, uma situação de

trabalho ideal , as informações obtidas se referem ao horário de trabalho, à divisão das tarefas,

ao ambiente de trabalho, às responsabilidades, à remuneração, aos relacionamentos pessoais e à

divisão do poder. Em muitas de suas respostas, as cooperadas faziam referências às condições

atuais em que trabalhavam, e os dados aparecem representados através da própria fala das

entrevistadas nos Quadros 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16.

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entrevistadas respostas 1 “Não trabalhar de sábado” 2 “De noite eu não gosto. Esse que eu faço é o que gosto: de

dia” 3 “Das 7 às 16 hs. O horário que eu faço é ruim, das 19 às 7hs” 4 “Meu horário está ótimo” 5 “Esse meu das 7 às 16hs” 6 “Das 7 às 17hs. Faço das 11h15min às 15hs e das 17h15min às

21hs” 7 “Das 8 às 16 ou 17hs, com pelo menos uma hora e meia de

almoço. Meu horário é esse, mas o almoço é curto” 8 “Esse que eu faço” 9 “Das 7 às 14hs. Porque eu acostumei no posto, de frentista. Eu

estudo, pra mim seria melhor. Saio às 16h10min, mas preferiria sair mais cedo”

10 “Esse horário que eu faço está bom” 11 “Meu horário é ideal” 12 “Esse que eu escolhi” 13 “O meu horário” 14 “Das 8 às 12hs e das 14 às 17hs. O meu é das 7 às 13hs e das

15h30min às 18hs” Quadro 10: Relatos das cooperadas sobre o horário ideal de trabalho.

entrevistadas respostas 1 “Divisão igual” (diretora) 2 “Como é cooperativa, todo mundo tem que fazer igual, tem

que ser dividido mesmo” (diretora) 3 “Assim como está” 4 “Tem que ser igual. E é” (diretora) 5 “Tudo igual. Cada um tem que ter sua responsabilidade” 6 “Do jeito que é, é igual, está bom” 7 “A divisão está boa. Está ótima” 8 “Tudo igual” 9 “Tem que ser tudo igual” 10 “Tem que ser tudo igual” 11 “É divisão igual” 12 “Todo mundo tem que ter uma tarefa para fazer na

cooperativa. Nem sempre tem.” 13 “Igual por igual” 14 “Distribuir conforme cada lugar. O contratante precisa de tal

coisa... Do jeito que é.” Quadro 11: Relatos das cooperadas sobre a divisão de tarefas ideal.

Em relação ao horário de trabalho, algumas entrevistadas colocaram horários ou dias em

que gostariam de não estar trabalhando, outras se referiram a horários em que estavam

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acostumadas a trabalhar e outras disseram que gostavam do horário em que trabalham

ultimamente na cooperativa.

Em relação à divisão das tarefas no trabalho, cujos relatos das cooperadas estão

apresentados no Quadro 11, a grande maioria das entrevistadas abordou a questão da igualdade,

sendo que algumas se referiram ao fato de a cooperativa ter como uma de suas regras a divisão

igualitária, e outras disseram que é importante cada membro ter sua responsabilidade. 42% das

entrevistadas respondeu que a divisão da forma como está sendo feita na cooperativa este

“ótima”, “ideal” ou “boa”. Uma das entrevistadas relatou que é importante que todos tenham

tarefas a cumprir, o que às vezes não acontece na cooperativa.

Entrevistadas Respostas 1 “Na sede da diretoria as portas são ruins e o pó é ruim. É

muito aberto, muito exposto. Tem que ter mais segurança porque os cooperados chegam e entram gritando.” (diretora)

2 “Hoje esse ambiente da sede é bom” (diretora) 3 “Está bom” 4 “Não tem do que reclamar” (diretora) 5 “O ambiente é bom, as pessoas são boas” 6 “Esse aqui está tudo em ordem” 7 “É gostoso assim” 8 “Tem que ser descontraído” 9 “O trabalho da gente é a segunda casa. Tem que ser

descontraído, não muito sério” 10 “Do jeito que está, está bom” 11 “Descontraído” 12 “Tem que ser descontraído, que você se sinta à vontade” 13 “Quem tem seus problemas, que largue em casa. Você tem

que estar com a mesma feição, ninguém tem que aturar seus problemas”

14 “Mais para descontraído. Até porque sou faladeira” Quadro 12: Relatos das cooperadas sobre o ambiente de trabalho ideal.

O Quadro 12 mostra as respostas das entrevistadas sobre o ambiente de trabalho, em que

a maioria das entrevistadas disse que preferia um ambiente descontraído (palavra utilizada pela

entrevistadora para explicar a pergunta). Uma das diretoras colocou que o fato de a sede ser um

lugar muito exposto possibilita abordagens dos outros cooperados; e as outras duas disseram

que o ambiente está “bom”.

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Grande parte das entrevistadas disse que o ambiente de trabalho da cooperativa é bom ,

que “assim como está, está bom, ideal”. Quando apresentam justificativas para seus

julgamentos, algumas se referem ao relacionamento entre as pessoas, uma se refere ao fato de o

trabalho ser a segunda casa, outra se refere ao fato de ser importante deixar os problemas

pessoais de lado quando se está trabalhando e outra se refere a uma característica pessoal que é

beneficiada por um ambiente descontraído - ser “faladeira”.

entrevistadas Respostas 1 “Aqui sobrecarrega muito a diretoria. Tem

que ter mais gente interessada.” (diretora) 2 “Sempre tive responsabilidade. Mas se todo

mundo tivesse a responsabilidade que a diretoria tem, estava bom” (diretora)

3 “Mais responsabilidade” 4 “É bom. Quando pega, tem que ir firme”

(diretora) 5 “É bom ensinar os que não sabem para

ensinarem os outros” 6 “Muita. Quanto mais tiver, melhor.” 7 “Que divida com os outros. A gente tem

que ter” 8 “Tem que ter responsabilidade” 9 “Responsabilidade é bom porque ajuda a

gente a crescer” 10 “Todo mundo igual” 11 “Tem que ter responsabilidade igual” 12 “Nos ATs eu na tinha responsabilidade.

Hoje eu tenho, sei das minhas obrigações” 13 “Responsabilidade eu acho uma boa” 14 ---- Quadro 13: Relatos das cooperadas sobre a responsabilidade ideal para se ter no trabalho. A respeito da característica “responsabilidade”, as diretoras disseram que a diretoria tem

muita responsabilidade, colocando que este não é o ideal, por sobrecarrega-las. Uma delas diz

que seria bom se todos tivessem a responsabilidade como as diretoras. As outras cooperadas

referiram-se à importância de se ter responsabilidade e ao fato de quanto mais responsabilidade

tiver, melhor é. Uma delas relata que é bom ensinar os outros membros, outra diz que

responsabilidade “ajuda a crescer”, outras dizem que todas devem ter responsabilidade igual e

outra diz que é responsável por saber das suas obrigações.

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entrevistadas respostas 1 “Agora está pouquíssimo. Tem INSS, passe... Os contratos

têm que ser mais elaborados para ter ajustes anuais de salário” 2 “Estamos dando preço muito mais baixo que as outras

empresas. Se pudesse ser um pouco mais... As coisas sobem.” 3 “Está bom” 4 “Está bom” 5 “Que desse para a escola da minha filha, para pagar as contas,

as compras...” 6 “Que desse para fazer o pedido e pagar as contas. Não dá nem

pra fazer o pedido, e tem as contas...” 7 “Eu estou economizando.Acho que deveria ser um pouco

mais. Mas para mim, no momento, está bom” 8 “Para poder sobreviver e que possa proporcionar momentos de

lazer. Não só trabalhar e comer...” 9 “Poder me sustentar e sobrar um pouco. Dar pelo menos pra

gente viver.” 10 “Pagar tudo o que deve. O que tem está suficiente” 11 “O que eu tenho. Que dê para me manter.” 12 “Não quero comprar tudo, mas pelo menos ter uma vida

estável” 13 “Comprar mais coisas para mim, para os meus filhos, arrumar

minha casa, quando precisar gastar com remédio...” 14 “Pelo menos R$ 650,00. Meu dinheiro, eu invisto nas minhas

filhas. E quanto mais, melhor pra investir.” Quadro 14: Relatos das cooperadas sobre a remuneração ideal. Sobre a remuneração, em relação à quantidade recebida atualmente, algumas disseram

que o valor está baixo e outras disseram que a quantidade está boa. Uma diz que o dinheiro

ultimamente está “pouquíssimo”, outra diz que o valor está mais baixo que em outras empresas,

outra diz que “não dá nem para fazer o pedido”, outra diz que acha que “deveria ser um pouco

mais”. Uma diretora fala sobre o contrato da cooperativa, que deveria ser reelaborado para

permitir ajustes anuais de salário e preço do serviço. De outro lado, duas entrevistadas disseram

que o salário está bom, mas sem apresentar justificativas; uma diz que para ela, no momento,

está bom; outra diz que o que tem está suficiente e ressalta a importância de pagar o que se

deve; outra diz que o que tem, “dá para sobreviver”.

Em relação aos gastos que têm, as entrevistadas se referiram a gastos com compras, com

a escola dos filhos, com as contas, com a saúde, com dívidas.

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entrevistadas Respostas 1 “Falar mais com calma, não gritar. Os cooperados gostam

de ameaçar.” (diretora) 2 “As pessoas deveriam ter mais tolerância.” (diretora) 3 “Bom” 4 “Ótimo” 5 “Aqui no AT está bom. O mais sincero possível” 6 “Tem que se dar bem. O melhor possível.” 7 “Têm que ser amigos. E com pessoas de fora da

cooperativa que trabalham no posto, também” 8 “Um ambiente de respeito” 9 “Tem que ser bom, senão não vai. Senão fica um clima

tenso, um não vai querer ajudar o outro, e assim não dá. Precisa do outro.”

10 “Tem que se dar bem. Senão não tem trabalho e ninguém concorda com nada”

11 “Tem que ser bom” 12 “União e colaboração” 13 “No meu trabalho, a gente se dá super bem. O que tem que

falar, você fala aqui.” 14 “Procurar fazer o possível para ser um relacionamento

bom. É difícil trabalhar com clima pesado.” Quadro 15: Relatos das cooperadas sobre o como os relacionamentos pessoais devem ser no trabalho. Sobre os “relacionamentos pessoais”, as diretoras apresentaram respostas que se

referiam a queixas sobre o modo como são tratadas pelos outros membros, destacando a

necessidade de os membros falarem com mais calma e terem mais tolerância. Os demais

membros responderam dizendo que é importante que o relacionamento entre as pessoas seja o

melhor possível, que deve haver respeito, que se o relacionamento não for bom, “não dá”.

Algumas cooperadas disseram que o relacionamento que têm com as pessoas no trabalho atual

está “bom”, “ótimo”.

Finalmente, em relação à divisão de poder no trabalho, a maioria das entrevistadas disse

que a divisão deve ser igualitária. Nesta questão, mais uma vez as diretoras reclamam da

sobrecarga que têm, cobrando maior colaboração por parte dos demais. Uma das diretoras diz

que, por não terem patrão, os cooperados devem fazer o que for necessário. Outra diz que o

poder tem que ser dividido, que os cooperados devem tomar as decisões, porque “a diretoria não

é patrão”. Grande parte das demais cooperadas diz achar que a divisão de poder deve ser igual

entre os membros. Uma diz que acha que deve haver participação de todos, outra diz que em

uma cooperativa tem que ser tudo igual, outra diz que as pessoas com maior experiência

deveriam ter um certo poder dentro da cooperativa, outra diz que a presidente deveria passar as

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decisões de forma firme, outra diz que não se pode deixar o poder subir à cabeça, outra diz que

problemas sérios devem ser divididos, outra fala que seria interessante todos poderem passar

nos postos de trabalho para orientar e outra diz que “ninguém manda em ninguém”.

entrevistadas respostas 1 “Não ter patrão é bom, mas os cooperados

têm que fazer também. Eles querem que a diretoria faça tudo por eles.” (diretora)

2 “Tem que ser dividido, porque a diretoria não é patrão. Os cooperados podem tomar decisões.” (diretora)

3 “Deveria ter participação de todos” 4 “Acho que não tem que ter divisão. Tem

que ser tudo igual.” 5 “Tudo igual. Cooperativa tem que ser tudo

igual. Poder não leva a nada.” 6 “As pessoas que têm mais experiência

deveriam ter uma carta branca para poder chamar a atenção. Tem coisa que acontece que a gente não pode falar. A diretoria teria este poder. Se a diretoria não dá a liberdade de os mais velhos do posto dizerem o que acham, de poder chamar o grupo para uma reunião com a diretoria para resolver...”

7 “A presidente tem que ter firmeza no que falar. O que é certo, é certo. O que é errado, é errado. Dividir é melhor.”

8 “Dá para dividir. Porque às vezes o poder sobe à cabeça e as pessoas acham que podem mandar.”

9 “Na cooperativa, não sei se é assim mesmo, mas é a presidente que toma algumas decisões e outras leva para a assembléia. O ideal é ser tudo igual. Problemas sérios, teria que dividir.”

10 “Tudo igual” 11 “Tem que ser tudo igual” 12 “O poder tem que ser dividido. No caso de

patrão, ele chega e te chama. Mas é legal qualquer pessoa poder passar nos postos de trabalho para ver como está e orientar outras pessoas.”

13 “Ninguém manda em ninguém. Esses tempos discuti com a D e com a L (diretoras) sobre isso.”

14 “Acho que tem que ser igual” Quadro 16: Relatos das cooperadas sobre como deveria ser a divisão ideal de trabalho.

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Capítulo 4

Prazer e sofrimento no trabalho em empreendimentos solidários: contingências complexas

controlando comportamentos individuais e práticas culturais

O presente estudo teve por objetivo caracterizar aspectos do trabalho relacionados a

prazer e sofrimento para indivíduos que fazem parte de empreendimentos solidários, e foi

desenvolvido em uma cooperativa de trabalho. A pergunta que conduziu tal estudo foi se as

fontes de prazer e sofrimento percebidas pelos cooperados participantes seriam diferentes das

fontes de prazer e sofrimento que costumam ser encontradas em empreendimentos capitalistas.

Estudos anteriores sugerem que uma importante fonte de sofrimento indicada por trabalhadores

desse tipo de organização tradicional do trabalho é o fato de não haver possibilidade de

participação nas decisões (Mendes, 1996) o que, teoricamente, não existiria nas cooperativas,

que são empreendimentos organizados em torno de princípios, dentre os quais destaca-se a

autogestão e a participação igualitária e democrática dos membros, independentemente de sua

participação financeira no empreendimento. Em cooperativas reais, os trabalhadores são,

também, os donos- ou controladores - dos bens e do capital (Veiga e Fonseca, 2001).

Participação dos membros nas decisões da cooperativa

Uma queixa apresentada por uma das diretoras entrevistadas é o fato de ela ter que

intervir nas brigas e fazer com que todos os membros cumpram as normas da cooperativa. Essas

brigas, indicadas como sendo freqüentes, são fonte de sofrimento para as diretoras, e,

provavelmente para todos os outros membros também, visto que citam desentendimentos,

discussões e fofocas como características relacionadas a sofrimento no trabalho. A queixa de

uma diretora aponta uma outra característica: a dificuldade de os cooperados incorporarem as

normas da cooperativa e se comportarem de acordo com elas. Isso, com certeza, colabora para

que a cooperativa permaneça distante do ideal buscado pela economia solidária, e fortalece a

cultura existente no empreendimento estudado. Esta cultura, de acordo com os relatos das

entrevistadas, parece ser uma cultura de resolver desentendimentos em forma de brigas, em que

as diretoras são muitas vezes abordadas de forma agressiva. Essa é uma fonte de sofrimento

indicada por muitas cooperadas em diversos momentos das entrevistas realizadas. As diretoras

queixam-se da forma como são tratadas pelos demais membros, e uma delas, inclusive, relata

que o espaço físico da sede da diretoria deveria ser modificado para que impossibilitasse as

abordagens agressivas por parte deles. As diretoras indicam, ao falarem de aspectos da

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cooperativa que deveriam ser alterados, que os cooperados deveriam conversar com elas com

“mais respeito e calma”, o que aponta para esta mesma característica abordada. No entanto, não

se pode desprezar a possibilidade de que a informação não corresponda a fatos reais, ou mesmo

parcialmente reais, já que são relatos das cooperadas.

Os relatos das cooperadas entrevistadas sugerem que, na cooperativa estudada, a divisão

igualitária do poder é algo dificilmente aplicável, e que o processo decisório, apesar da

existência das assembléias, fica concentrado nas mãos dos diretores do empreendimento. Essa

característica pôde ser observada tanto nos relatos das próprias diretoras, que se queixam da

sobrecarga, quanto nos relatos das demais cooperadas entrevistadas, que relatam que deveriam

participar mais. No entanto, pelo fato de essas informações terem sido obtidas através da fala

das cooperadas, é necessário que se tome cuidado com conclusões e generalizações, e, além

disso, é necessário considerar que o que as cooperadas relatam é que a diretoria concentra

tarefas e informações, mas não relatam diretamente que há concentração de poder.

Além de sugerir certa concentração de poder na cooperativa, os relatos das entrevistadas

indicaram que as ocasiões definidas para que as decisões sejam tomadas em conjunto - as

assembléias - são, algumas vezes, tulmutuadas, o que agrava tal situação. De acordo com a

diretora entrevistada na fase de caracterização do empreendimento estudado, os membros

podem faltar das assembléias apenas três vezes durante o ano, sendo que elas são mensais.

Nessas reuniões, as cooperadas indicam que é freqüente que as discussões sobre os assuntos

abordados sejam transformadas em brigas, em que as pessoas falam em tom de voz alto e

utilizam palavras ofensivas. A pesquisadora, durante o período de coleta de dados para a

pesquisa, teve oportunidade de observar uma assembléia, a primeira reunião geral depois de

terem entrado para o empreendimento um número de pessoas igual ao que havia anteriormente,

dobrando o número de cooperados. Por este fato, e também pelo tipo de assunto abordado na

reunião, a pesquisadora presenciou situações como as descritas pelas entrevistadas: pessoas

falando em tom de voz alto e ofendendo os demais. Entretanto, não se pode generalizar tal

observação, pois aquele era um momento muito particular pelo qual a cooperativa estava

passando. E, apesar de os relatos das entrevistadas concordarem com tal observação, eles não

podem ser relacionados diretamente com o que ocorre na realidade.

Em nenhum momento as cooperadas entrevistadas, nem diretoras nem as demais,

citaram ocasiões de decisões conjuntas fora das assembléias, o que provavelmente implica em

os membros relacionarem diretamente decisões conjuntas e brigas (decisões conjuntas = brigas).

Esta relação não é, necessariamente, feita por cooperados de diferentes empreendimentos

solidários, mas é algo que parece existir nesta cooperativa, o que pode acarretar em fontes de

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sofrimento para os cooperados. Intervenções nesse sentido poderiam abordar formas de esta

participação de todos os membros ser mais produtiva, sendo realizada de uma forma que todos

tivessem a oportunidade de opinar, sem que os diferentes pontos de vista se tornassem estopins

para brigas. Essas alternativas poderiam ser pensadas no âmbito da cooperativa como um todo,

e implantadas para que inúmeras fontes de sofrimento fossem extintas. No entanto, antes de

concluir que a oportunidade de participação eficaz estaria relacionada a prazer para os

cooperados, seria adequado considerar que muito freqüentemente aparecem evidências de as

pessoas se esquivarem de tomar decisões, a menos que os resultados destas decisões interessem

muito diretamente a elas.

Tentativas no sentido de criar oportunidades de participação de todos, além das

assembléias, têm sido feitas, embora os resultados tenham sido, por enquanto, pouco

significativos, de acordo com uma representante da incubadora que presta orientação à

cooperativa estudada. Exemplos de novas estratégias são: destacar uma pessoa a mais, a ser

paga pela cooperativa, para dividir tarefas administrativas; mobilizar uma comissão, formada

em assembléia, para acompanhamento da compra da sede; retomar tarefas assumidas por

pessoas e que foram interrompidas, etc. Estas iniciativas procuram aumentar a participação dos

membros, além de desvincular as tomadas de decisões conjuntas dos momentos de assembléias,

exclusivamente.

A reflexão a respeito de formas mais eficazes de participação depende de uma análise

anterior, em relação ao fato de o julgamento sobre a importância de diferentes temas ser algo

pessoal, particular; visto que uma pessoa pode considerar importante ser discutido

conjuntamente um assunto em relação ao qual outra pessoa acha desnecessária a participação de

todos. Para exemplificar tal diversidade, em seu relato, uma cooperada descreve que os assuntos

importantes são os relacionados às trocas de postos de trabalho e às decisões sobre a

continuidade ou não de membros que cometeram erros. Para outros membros, os assuntos

importantes podem ser outros.

Uma das características do empreendimento estudado que pode estar relacionada à

dificuldade dos membros de comportarem-se de acordo com os princípios da economia solidária

é o fato de duas das três diretoras terem deixado de trabalhar em postos de serviço para ficarem

apenas com as funções administrativas. Suas funções ficaram sendo a de visitar os locais de

trabalho com determinada freqüência, e a de realizar atividades de busca de trabalho, contato

com contratantes, aquisição de produtos etc, além de passarem um tempo na sede da

cooperativa, executando outras tarefas de administração do empreendimento. A respeito desse

fato, os dados encontrados mostram que os relatos da diretora que continua trabalhando em

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postos de serviço são mais parecidos com os relatos das cooperadas que não fazem parte da

diretoria do que com os das outras duas diretoras, visto que ela quase não se refere às suas

funções de diretora, e comenta os mesmos aspectos relatados pelas demais cooperadas sobre os

diversos assuntos abordados. Apesar de esse movimento de duas das três diretoras terem

passado a fazer apenas funções da diretoria ter seus fundamentos, isso pode contribuir com certa

divisão do poder, visto que os cooperados podem não ver a cooperativa como um

empreendimento em que os todos estão em um mesmo patamar. Isso está estritamente

relacionado às queixas, tanto de diretoras quanto dos demais membros, a respeito da falta de

participação.

Em diversos momentos, as diretoras apresentaram queixas em relação à sobrecarga de

sua função, colocando a necessidade da colaboração dos outros cooperados; enquanto, de outro

lado, os cooperados que não fazem parte da diretoria indicaram que a diretoria deveria dividir

suas funções entre todos os cooperados. Isso sugere a seguinte conclusão: se as diretoras

sentem-se sobrecarregadas e os outros membros acham que elas deveriam dividir suas funções

com eles, tudo parece estar resolvido. Entretanto, isso que parece ser um par perfeito, na

realidade não é. Talvez os cooperados que não fazem parte da diretoria não tenham realmente

interesse em participar mais, ou até têm interesse, mas estão acomodados na situação em que se

encontram. Para exemplificar tal falta de iniciativa de envolvimento em atividades

administrativas por parte dos cooperados, informações obtidas através do contato com

representantes da incubadora mostram que, durante o ano em que a pesquisa foi realizada, as

pessoas foram convidadas para participarem de atividades como formulação de regimento

interno, elaboração e execução de curso de cooperativismo, apoio à contabilidade, substituição

da diretoria no plantão da sede, desenvolvimento de habilidades de uso de computador, entre

outras. Apenas em alguns poucos casos, e com algumas poucas pessoas, esta inserção

ultrapassou o “concordar em participar”, uma vez que a maioria destas pessoas simplesmente

não aparecia nos momentos marcados.

Afinal, a tarefa de administrar a cooperativa é árdua, e os cooperados podem dizer que

gostariam de participar mais, simplesmente por saberem que esta é uma regra da cooperativa.

Entretanto, caso eles realmente tenham vontade de participar mais, então seria possível pensar

em alternativas para que isso seja praticado na cooperativa. Se a sobrecarga é uma fonte de

sofrimento para as diretoras e a falta de oportunidade de participação o é para os outros

membros, então uma resolução nesse sentido seria algo que minimizaria o sofrimento dos

trabalhadores desse empreendimento no geral.

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Apesar de ter aparecido diversas vezes durante as entrevistas, o aspecto “oportunidade

de participação” foi indicado em último lugar por seis das catorze entrevistas ao falarem a

respeito da relevância de alguns aspectos do trabalho, quando comparando este aspecto com

“remuneração”, “prazer no que faz” e “relação entre os membros”. Isso pode ter acontecido

porque, apesar de ser um aspecto importante, a “oportunidade de participação” seja menos

relevante do que os outros três aspectos abordados. No entanto, diante de tantas queixas a

respeito desse aspecto em outros momentos das entrevistas, percebe-se a relevância que tem; e a

combinação desses dois tipos de dados pode parecer contraditória. O que provavelmente tenha

acontecido é que as cooperadas entrevistadas não descreveram bem o que as fazia sofrer quando

isto era perguntado para elas diretamente; mas descreveram indiretamente suas fontes de

sofrimento quando conversaram sobre as características do empreendimento. Estas informações,

obtidas de forma indireta, são muito importante de serem consideradas, pois podem demonstrar

os reais sentimentos das entrevistadas, e isto aponta para a relevância do aspecto “oportunidade

de participação”. Além do mais, é importante considerar as diferenças existentes entre o que é

relatado e o que é vivido na realidade. Entretanto, de um outro ponto de vista, o fato de as

cooperadas indicarem a falta de oportunidade de participação como queixa pode decorrer do

fato de que, em uma cooperativa, uma das regras é a participação de todos e a decisão coletiva,

sendo esta uma norma que deveria ser respeitada. As cooperadas relatam que isto muitas vezes

não é obedecido, mas não necessariamente tenham interesse em participar realmente das

decisões. Esta falta de interesse pode ser conseqüência da não incorporação dos princípios

solidários por parte dos cooperados.

Para finalizar este tópico, algo de extrema importância para a análise realizada é o fato

de as queixas, pelo menos parte delas, relacionadas ao processo de tomada de decisão, podem

ter mais a ver com o fato de as decisões tomadas desagradarem a pessoa do que com o fato de

não haver oportunidade de participação. Isso porque é relativamente comum que a análise das

situações, a partir das quais são tomadas decisões na cooperativa, seja feita, pelo menos por

algumas pessoas, considerando o próprio interesse envolvido; e o conflito de interesses está

presente quando as decisões atingem diretamente as pessoas ou seus familiares. Desta forma,

certos interesses são contrariados a partir de decisões que são tomadas coletivamente. Isto

costuma desencadear “campanhas” de descrédito em relação a quem tem que implementar a

decisão e tentativas de reverter decisões coletivas a partir de “conchavos” fora das assembléias,

de acordo com uma representante da incubadora. Esta é uma situação complexa, e essa

complexidade é aumentada pelo fato de a pesquisa trabalhar com relatos verbais, tanto da

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diretoria quanto dos membros. Assim, qualquer tipo de conclusão só pode ser anunciada como

uma possibilidade explicativa, e não como um fato.

Inexistência de patrão

O primeiro ponto observado a partir das informações obtidas a respeito da inexistência

de um patrão formal na cooperativa é que as pessoas estão acostumadas a trabalharem para um

patrão e têm dificuldade quando não há uma pessoa nesta posição, e este ponto se refere ao

aprendizado que as pessoas tiveram em organizações do trabalho tradicionais. Entretanto, como

na maioria dos casos as pessoas da cooperativa não tiveram, anteriormente, experiências com

situações de trabalho assalariado, dados obtidos através das entrevistas e do contato com

representantes da incubadora; o próprio contexto social de desigualdade e privação, bem como

reforços derivados de comportamentos competitivos em um contexto de recursos escassos,

podem ser suficientes para produzirem tais comportamentos.

Uma das entrevistadas, ao falar sobre o fato de não ter patrão, refere-se à inexistência de

vínculo empregatício. Esta é uma das características de um empreendimento baseado na

economia solidária e, ao se referir a este aspecto, a cooperada estava falando sobre as

características de um trabalho organizado de forma diferente do que a maioria da população está

acostumada. Isso, mais uma vez, mostra a confusão que algumas pessoas podem fazer entre as

características de empreendimentos solidários e as características de organizações tradicionais.

Um segundo ponto diz respeito ao fato de alguns membros dizerem que mesmo não

havendo um patrão na cooperativa, sempre há uma pessoa que assume uma posição de

comando, podendo esta ser o chefe do posto de trabalho que contrata o serviço da cooperativa

ou alguns membros do próprio empreendimento. Neste momento cabe ressaltar que o fato de

não haver uma pessoa com um cargo formal de patrão do empreendimento não garante que não

haja uma divisão hierárquica. Inclusive, de acordo com a fala de uma das diretoras, os

cooperados acabam denominando as diretoras de “chefes”, agindo como se isso fosse verdade.

Dessa forma, o trabalho de administração pode acabar realmente por acumular nas mãos dos

membros da diretoria, o que provoca uma divisão de poderes na cooperativa.

Muitos membros colocam que o fato de não haver patrão no empreendimento possibilita

que todos participem das decisões, e que isto aumenta a responsabilidade do grupo. Parece

haver um sentimento positivo em relação a isso, pois os membros parecem sentir-se mais

autônomos e importantes. Por outro lado, outros membros colocam que a falta de patrão permite

que algumas pessoas ajam descompromissadamente em relação à cooperativa pelo fato de não

haver uma autoridade para cobrar-lhes. No entanto, mesmo não havendo esta função

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formalmente estabelecida no empreendimento, pode haver pessoas a quem os cooperados

devem se reportar, de acordo com algumas cooperadas. Além disso, existe a cobrança dos pares,

que muitas vezes passa despercebida, mas que influencia muito o comportamento dos

trabalhadores. Esta “pressão horizontal” provavelmente existe na cooperativa, o que é

confirmado por respostas do tipo “faço pela imagem da cooperativa”, “faço para o grupo não ter

problema”, “faço porque tenho a minha parte do trabalho em grupo”, entre outras.

A necessidade de compromisso é algo que deve ser abordado com os cooperados a partir

do momento que ingressam na cooperativa, já que esta é uma forma diferente de organizar o

trabalho, necessitando, portanto, de atitudes e comportamentos diferentes das pessoas.

Papel da diretoria

Em relação ao papel da diretoria, as opiniões das diretoras a respeito de seu próprio

trabalho são geralmente relacionadas à sobrecarga. Quando falam sobre os outros membros, elas

normalmente se queixam da falta de interesse destes em colaborarem mais com o trabalho da

diretoria. Os membros que não fazem parte da diretoria na maioria das vezes se queixam da

falta de participação deles nas decisões tomadas pela diretoria. A discussão levantada sobre a

conciliação desses dois pontos de vista cabe ser desenvolvida novamente neste momento, já que

os dois lados se queixam da falta de participação.

Já foram citadas algumas tentativas realizadas na cooperativa, no sentido de criar

oportunidades de participação de todos e de desvincular as tomadas de decisões conjuntas dos

momentos de assembléias, exclusivamente. Muitas vezes as assembléias são vistas de forma

negativa pelos membros, visto que em muitas ocasiões estas discussões transformam-se em

brigas, e se estes forem os únicos momentos em que os membros têm oportunidade de

participar, eles poderiam acabar por relacionar diretamente decisões conjuntas com brigas.

Ainda a respeito do papel da diretoria do empreendimento, uma entrevistada, ao dizer

que os outros cooperados deveriam colaborar mais com a diretoria, colocou a responsabilidade

da participação para eles próprios e não para os diretores, dizendo que “a diretoria fica super

atarefada enquanto tem outras cooperadas que poderiam ajudar”. Essa cooperada toca num

ponto importante da análise: a divisão do poder não depende somente da diretoria dar

oportunidade para os outros, mas depende também de os outros mostrarem interesse e

colaborarem. Apesar disso, tem havido, na cooperativa estudada, de acordo com a representante

da incubadora, investimentos no sentido de envolver as pessoas, embora os resultados tenham

sido sofríveis até o momento. A qualidade das condições que estão sendo criadas vale ser

questionada, e, além disso, cabe ressaltar que a diretoria tem muitas coisas para cuidar, o que

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dificulta que ela se dedique muito a “caçar”, convencer e garantir a manutenção das pessoas nas

atividades.

Importância das assembléias

A assembléia é um momento que a cooperativa reserva para que todos possam expor

suas idéias e para que as decisões sejam compartilhadas, e alguns membros se queixam de que

muitas decisões importantes não são levadas para a assembléia. A dificuldade é de se definir o

que é importante e o que não é importante, já que este julgamento é pessoal. Seria necessário

estabelecer a importância de cada assunto e definir quais deles deveriam ir para decisão coletiva

e quais não, ou seja, seria necessário diferenciar níveis de decisão. Por exemplo: podem existir

decisões que são relativas a questões de execução daquilo que é decidido em assembléia e que

devem ser tomadas no dia a dia, sendo necessário definir se essas decisões cabem aos

responsáveis pela diretoria tomarem ou se devem ir para a assembléia também.

Sobre os relatos das cooperadas entrevistadas a respeito das assembléias, é interessante

notar que nos relatos das diretoras, os verbos aparecem no presente (“nada é decidido só entre a

gente”, “as decisões são votadas em assembléia”), enquanto muitos dos outros membros usam

condicionais (“teria que ser com todo mundo”, “tinha que saber e discutir as decisões”, “todos

os assuntos deveriam ser decididos em assembléia”). Os verbos no presente dão a impressão de

que as regras são cumpridas e os verbos no pretérito dão a idéia contrária. Mas em ambos os

casos, os relatos aparecem na forma de regras cumpridas ou não cumpridas na cooperativa.

Relevância de diferentes aspectos do trabalho

Em relação aos aspectos do trabalho que mais reforçavam as cooperadas entrevistadas,

“o bom relacionamento entre as pessoas” foi um aspecto apontado por diferentes entrevistadas,

em diferentes momentos, como relevante. Algumas comentaram que, se as pessoas não se dão

bem, fica difícil fazer o trabalho e mais difícil ainda este ser eficiente. Essas citações podem ser

baseadas em regras, como “trabalho bem feito é aquele que é feito com felicidade” ou

“trabalhador feliz trabalha mais”, que podem ter sido ouvidas pelas cooperadas tanto em seu

ambiente de trabalho quanto em outras ocasiões. É importante considerar, portanto, que as

respostas das cooperadas podem estar embasadas em regras, e não em experiências que tenham

realmente vivido. Ou seja, quando elas têm seus relatos fundamentados em regras, podem estar

falando a respeito de algo que não experenciam em seu dia-a-dia, mas que ouviram de outros, e

acabam repetindo. Caso os relatos das cooperadas sejam realmente baseados em regras que não

são vividas por elas, a análise que leva em consideração tal fato sugere que a situação de

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trabalho que vivem pode ser diferente da que relatam. Por outro lado, caso seus relatos sejam

baseadas em fatos que experenciam em suas vidas diárias, então eles são mais condizentes com

a realidade. Intervenções com o objetivo de provocar mudanças na cooperativa, dependem desta

informação para serem programadas e implementadas.

Em relação ao “relacionamento interpessoal”, algumas cooperadas disseram que um

grande problema da cooperativa são as discussões e brigas entre os cooperados, indicados como

fontes de sofrimento para as entrevistadas. Algumas vezes esta queixa aparecia acompanhada de

um comentário de melhora nos tempos atuais, o que sugere a existência de tentativas para que a

cooperativa se desenvolva. Esse tipo de relato, sim, pode ser baseado em experiências vividas,

já que se refere a mudanças que ocorreram no empreendimento. No entanto, deve ser

considerado que os relatos são pontos de vista das entrevistadas, e que as experiências de cada

uma podem ser diferentes.

Em relação à “remuneração”, este foi um aspecto que apareceu como sendo de muita

importância. Algumas cooperadas, quando questionadas sobre o salário da cooperativa,

reclamaram do valor deste e do fato de o contrato não permitir aumento salarial. Algumas

disseram que o salário deve ser suficiente para a sobrevivência da família e outras disseram que

seria interessante se sobrasse dinheiro também para o lazer. É interessante observar que o relato

de cada cooperada em relação ao aspecto “remuneração” depende do papel que ocupa na

família: se mora sozinha, se mora com os pais e usa o dinheiro para gastos pessoais, se tem

filhos para sustentar, se sua renda é complementar ou a única da casa. Sendo assim, as

necessidades variam muito.

Em poucos casos as cooperadas diziam estar satisfeitas com a remuneração atual, sendo

que as diretoras colocaram que o preço dado pela cooperativa está abaixo do mercado. No

entanto, de acordo com uma pesquisa realizada pela incubadora, a remuneração das pessoas na

cooperativa está acima do que recebem assalariados que realizam trabalhos equivalente em

empresas capitalistas que atuam no mercado, oferecendo serviço terceirizado de limpeza.

Algumas cooperadas, inclusive diretoras, colocaram que os contratos deveriam ser revistos para

que houvesse possibilidade de aumentos anuais. É interessante ressaltar que algumas

cooperadas usaram o termo “salário” quando se referiram à remuneração, apesar de este não ser

um termo utilizado no contexto da economia solidária. O fato de elas usarem tal termo pode ser

indicativo da confusão do sistema de organização cooperativo com o da empresa capitalista.

A remuneração, como reforço artificial generalizado, é um dos mais importantes

motivadores do trabalhador. Por serem de uma população de baixa renda, grande parte das

cooperadas entrevistadas trabalha por necessidade financeira, o que faz com que este seja um

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aspecto importante, podendo tornar-se fonte de prazer ou e sofrimento. Muitas das cooperadas,

inclusive, ingressaram na cooperativa por ser esta uma oportunidade de trabalho e por terem

uma fonte de renda.

Nesse ponto, cabe refletir sobre a importância do dinheiro para as pessoas, pois o fato de

a pessoa viver em condições restritas financeiramente não deve ser relacionado com uma maior

preocupação com o dinheiro. Inclusive, pessoas que possuem mais dinheiro podem, às vezes,

preocuparem-se mais com ele do que as que possuem pouco dele.

Ao fazer uma comparação a respeito da dimensão tempo na qual as pessoas se

relacionam com bens materiais, cabe ressaltar que grande parte das pessoas que trabalham na

cooperativa estudada tinha – e terá, se deixar de trabalhar nela – renda zero. A preocupação

dessas pessoas em relação ao dinheiro é, muito freqüentemente, relativa a um período de 24

horas ou menos, e pode ser resumida em: o que vou comer – ou dar de comer – hoje. É o caso

de alguns cooperados que são suplentes. Os que estão trabalhando regularmente, ou seja, com

uma posição em um posto de trabalho, já vivem uma situação em que estão podendo pensar em

um período maior, talvez um mês. Há outros segmentos da população em que o “tempo” de

referência é uma geração, e a preocupação é referente aos bens que passarão para outra geração.

Preocupar-se com dinheiro, nestes diferentes contextos, tem significados variados.

“Prazer no que faz” foi um aspecto que não recebeu destaque como reforçador para as

cooperadas entrevistadas. O fato de os trabalhadores não indicarem tal aspecto como de muita

relevância não deve ser interpretado como indicativo de que as pessoas não priorizam trabalhar

de forma prazerosa. Em primeiro lugar, esse é um aspecto muito distante para a maioria dos

trabalhadores, e por isso pode parecer inacessível para muito deles. Além disso, apesar de não

relatarem o aspecto “prazer no que faz” como sendo de muita importância, as cooperadas

entrevistadas se queixam de muitas experiências por estas serem fontes de sofrimento e indicam

outras experiências como sendo fontes de prazer. O fato de seus relatos apontarem tais

características indica que as cooperadas percebem determinadas vivências como positivas e

outras como negativas, o que mostra a relevância do aspecto “prazer no que faz".

Situação ideal de trabalho para as entrevistadas

Em relação ao horário de trabalho, ele depende do posto em que as cooperadas

trabalham, sendo que, em alguns deles, há possibilidade de escolha. Uma das entrevistadas

indicou que gosta do seu horário porque foi ela quem o escolheu, e essa resposta mostra a

importância de se possibilitar escolhas por parte dos trabalhadores que executarão a tarefa.

Tallvez seja o modo como as pessoas estruturam o seu dia-a-dia, distribuindo as atividades nos

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períodos do dia ou nos dias da semana, que fundamente as respostas em relação ao horário de

trabalho. O que pôde ser notado, neste estudo, é que os trabalhadores estruturam o seu dia de

acordo com o horário em que trabalham, distribuindo as demais atividades nos horários

restantes. E é por esse motivo que o item “horário de trabalho” se torna tão importante, visto

que, em algumas situações, pode ser uma fonte de sofrimento para os trabalhadores; quando,

por exemplo, ficam impedidos de praticar atividades que seriam necessárias ou prazerosas por

terem determinado horário ocupado com seu trabalho; ou quando não conseguem conciliar

atividades do trabalho com atividades da casa ou da família.

Sobre a “divisão de tarefas”, a maioria das cooperadas diz que o ideal é que a divisão

seja igualitária, sendo que algumas indicam que a divisão igualitária é regra da cooperativa

(“como é cooperativa, tem que ser tudo igual”) e outras, que é importante cada um ter sua parte

do trabalho a cumprir. Na cooperativa estudada, a divisão das tarefas pode não ser realizada

pelos próprios membros da cooperativa, visto que pode depender do posto de trabalho em que

atuam, da função exercida dentro do posto, do número de cooperadas no posto, do horário em

que trabalham. No entanto, é importante ressaltar que, apesar de alguns aspectos dependerem

das necessidades do contratante, o modo como o trabalho é feito não é definido por ele, mas

pela própria cooperativa.

Ainda sobre a divisão das tarefas, uma das cooperadas entrevistadas indicou a

necessidade de todos os cooperados terem uma parte das tarefas a cumprir, e o contexto das

respostas sugere que ela estava se referindo ao fato de às vezes não haver postos de trabalho

suficientes para que todos os cooperados possam trabalhar, sendo que alguns ficam com cargos

de suplentes.. O que acontece na cooperativa estudada, de acordo com a diretora entrevistada na

fase de caracterização, é que os cooperados são alocados de acordo com a necessidade de

trabalho nos postos, e esta alocação é realizada com base em alguns critérios, como tempo que o

cooperado está na cooperativa e tempo em que está sem trabalho. O que pôde ser notado é que o

fato de não estar alocado em determinado momento é uma fonte de sofrimento para os

trabalhadores desta cooperativa.

A respeito do “ambiente de trabalho”, em muitas das entrevistas houve necessidade de a

pesquisadora explicar para as cooperadas o que pretendia com a pergunta. Durante sua

explicação, usava a dicotomia “descontraído X sério”, o que acabou por influenciar, de certa

maneira, as respostas de algumas entrevistadas, visto que elas responderam com base nesses

conceitos. Sendo assim, em muitas das respostas das entrevistadas apareceu a palavra

“descontraído”. Talvez, se não houvesse intervenção por parte da entrevistadora, elas não

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usassem exatamente esta palavra para expressarem como gostariam que fosse o ambiente de

trabalho, mas algumas vezes esta intervenção foi necessária.

Em relação ao ambiente de trabalho, uma das diretoras entrevistadas fala sobre como a

estrutura física do espaço em que fica a sede da cooperativa possibilita abordagens por parte dos

outros cooperados, relato no qual está implícita a queixa de que os cooperados entram na sede

com muita facilidade para discutir com as diretoras, sendo muitas vezes agressivos com elas.

Essa mesma diretora coloca essa mesma queixa em momentos diferentes da entrevista,

reclamando das abordagens agressivas dos cooperados em relação à diretoria. Nesse caso, o que

precisaria ser mudado é o modo como as pessoas estão acostumadas a resolver os problemas na

cooperativa, e não simplesmente o espaço físico. O espaço físico pode facilitar ou não

determinados comportamentos, mas o que ocorre na cooperativa estudada é que os cooperados

já se acostumaram a abordar as diretoras dessa forma, a discutir em tom agressivo nas

assembléias e a brigar uns com os outros. Essa forma de “resolver” os problemas na cooperativa

foi uma das características apontadas como fonte de sofrimento por parte das entrevistadas em

momentos diferentes da entrevista. A “cultura”, ou seja, o modo como as coisas são conduzidas

pelas pessoas neste empreendimento, foi construída durante toda a sua existência, e portanto

não é facilmente alterada. No entanto, existem maneiras de tentar reverter a situação e ensinar as

pessoas, por meio de treinamentos e, principalmente, por meio da apresentação de modelos

adequados diários.

Sobre o aspecto “responsabilidade”, as cooperadas falaram a respeito disso com base em

duas definições para esta palavra: significando comprometimento ou significando tarefas

(responsabilidades = tarefas a serem cumpridas). Talvez tivesse sido melhor que os

pesquisadores utilizassem outra palavra que não causasse tal problema. Ao falarem sobre

“responsabilidade”, as diretoras se queixam da sobrecarga, explicitando cansaço e indicando

que sentem falta da cooperação dos outros cooperados. No entanto, o fato de duas das três

diretoras estarem, no momento, apenas fazendo a função de diretora e não trabalhando em

postos de trabalho, pode criar certa hierarquia no empreendimento, o que pode dificultar que os

cooperados as vejam como cooperados como os outros. Isso remete para o fato de haver ou não

possibilidade de não se criar hierarquia nenhuma dentro dos empreendimentos solidários. Em

alguns momentos, as condições e as necessidades específicas impedem que determinadas regras

sejam seguidas, tornando a prática diferente da teoria.

Os relatos das entrevistadas em relação a “responsabilidade” demonstraram um aspecto

interessante, já que as diretoras indicaram que têm muita responsabilidade, queixando-se da

falta de colaboração das outras; e as outras, que têm menos, colocaram que “é bom” ter bastante

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responsabilidade. As pessoas que não têm a responsabilidade de conduzir o empreendimento

provavelmente desconhecem a dificuldade de tal função, e a resposta delas sobre “quanto mais

responsabilidade, melhor” é baseada em uma regra, e não baseada em experiências vividas.

Além disso, há o problema de a palavra ser usada em sentidos diferentes por cada pessoa.

Os relatos a respeito dos “relacionamentos pessoais” foram, algumas vezes, baseados em

regras do tipo “com clima pesado é ruim de trabalhar”. Interessante verificar se essas regras são

incorporadas porque as pessoas já viveram tais condições ou se são apenas ouvidas de outros.

Isso se deve ao fato de as cooperadas compartilharem suas idéias e o grupo formar opiniões

conjuntas, ou ao fato de essas regras serem passadas para todas em algum momento?

Provavelmente essas regras são ouvidas pelas cooperadas não só em seu ambiente de trabalho,

mas também em outras situações do dia-a-dia, por este ser um tema muito abordado na

atualidade.

Motivos que levam as cooperadas a executarem suas funções

Algumas cooperadas entrevistadas colocaram que o que as faz executar suas tarefas é o

comprometimento com o grupo, o que sugere a existência da já citada “cobrança horizontal”.

Tal cobrança parece ser um dos “combustíveis” que movem os trabalhadores de

empreendimentos solidários a cumprirem sues deveres.

Outras cooperadas disseram que é a responsabilidade que as leva a executar sua função,

e, neste caso, o termo foi entendido como sendo “compromisso e auto-controle”, no sentido de

que a pessoa faz porque sabe o que tem que ser feito.

Essas foram as duas respostas que mais apareceram para esta questão, e daí decorre a

importância da “cobrança horizontal” e do compromisso que os cooperados assumem ao iniciar

um trabalho em um empreendimento solidário. Essas são condutas que devem ser incorporadas

por todos os membros de cooperativas desde que ingressam nelas, para que sejam diminuídas as

fontes de sofrimento e aumentadas as de prazer. Nos relatos, tais condutas aparecem como

regras, provavelmente passadas para as cooperadas a partir do momento em que iniciaram seu

trabalho na cooperativa, e é importante analisar se tais regras foram incorporadas por elas,

tornando-se auto-regras, ou não.

Outras respostas citadas por mais de uma entrevistada a respeito das razões que as levam

a executarem suas funções foram: oportunidade de aprendizagem e garantia do trabalho. O fato

de o trabalho proporcionar aprendizado e crescimento para os trabalhadores é apontado como

uma fonte de prazer pelas cooperadas que citaram tal característica, indicando sua importância.

Ao responderem que executam suas tarefas para não perderem o trabalho, algumas cooperadas

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mostram que para elas o importante é trabalhar, tanto para se ocuparem quanto para terem uma

fonte de renda. Nestes casos parece que o que as leva a executarem suas tarefas não é nenhuma

característica daquele trabalho específico, mas sim a necessidade ou vontade de trabalhar, ou até

mesmo o fato de estar fora de casa por determinado período do dia.

Ao se referirem às razões que as levam a atuar, as cooperadas dão dicas de

características do trabalho que lhes proporcionam prazer ou sofrimento. Oportunidade de

aprendizagem, possibilidade de escolha, fato de ter trabalho e renda mensal, por exemplo, são

aspectos apontados como fontes de prazer. Ficar sem trabalhar e ser punido por não executar

bem sua tarefa são, ao contrário, aspectos relacionados a sofrimento.

Indicações de prazer e sofrimento pelas entrevistadas

Sobre as características do trabalho que proporcionam prazer ou causam sofrimento nos

cooperados, a categoria mais citada foi “relação entre os membros”, e quando indicada como

fonte de prazer, apareceram relatos a respeito da amizade que existe entre as pessoas e da

colaboração entre as mesmas. Sobre a amizade, é interessante mencionar que muitos dos

membros da cooperativa estudada já se relacionavam antes de ingressar em tal empreendimento,

visto que o grupo formador da cooperativa é um grupo de pessoas de um determinado bairro da

cidade. Assim, algumas relações de amizade já estavam estabelecidas antes de as pessoas

passarem a trabalhar juntas.

Sobre a colaboração, indicada por uma das entrevistadas como fonte de prazer, é

interessante notar que ela toca em um ponto que é justamente algo relatado como fonte de

sofrimento por outros membros em diferentes momentos das entrevistas, ao abordarem a falta

de colaboração. Pode ser que as vivências dos diferentes membros sejam diferentes, e por isso

um pode relatar determinado aspecto como fonte de prazer, e outro, o mesmo aspecto como

fonte de sofrimento. A variável é a mesma, mas os valores desta variável são diferentes, sendo

que em um caso o resultado é prazer, e no outro, sofrimento, tal como já se podia esperar, no

caso desta variável. Ainda sobre essa variação, talvez as vivências não sejam diferentes, mas

sim a forma de olhar para o mesmo aspecto, o que possibilita diferentes interpretações.

Cinco cooperadas citaram características da “relação entre os membros” que são fontes

de sofrimento para elas: fofoca, discriminação, discussões, desentendimentos e más línguas. Em

relação aos desentendimentos, esta foi uma queixa presente em diversos momentos das

entrevistas, quando as cooperadas se referiam às discussões e brigas freqüentes na cooperativa.

Nas assembléias, nas passagens dos membros pela sede da diretoria ou mesmo em encontros

casuais entre membros, muitas vezes as conversas tornam-se discussões conduzidas de forma

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agressiva e interminável. Uma das diretoras diz que intermediar estes conflitos é uma fonte de

sofrimento para ela, e muitos membros dizem que a ocorrência destes é causa de sofrimento

para eles. O fato de a “cultura” da cooperativa parecer ser uma cultura de discussões é algo que

deve ser mostrado para todos os membros, para que eles possam refletir sobre sua parcela de

colaboração para que esta forma de relacionar com os demais permaneça.

A respeito de “atividades específicas do trabalho”, três cooperadas disseram ser uma

fonte de prazer ter, dentre as suas atividades, a oportunidade de lidar com pessoas em seus

postos de trabalho. Do lado negativo, uma cooperada indica ser uma fonte de sofrimento ter que

lidar com maus tratos por parte de usuários do serviço que presta. Aqui cabe salientar que

mesmo sendo uma fonte de prazer lidar com pessoas, há ocasiões em que estas pessoas tornam-

se causadoras de sofrimento devido ao modo como tratam as cooperadas. Em relação a

atividades específicas do trabalho que causam sofrimento nas cooperadas, uma delas citou a

atividade de misturar produtos de limpeza e outra citou a atividade de carregar retroprojetores.

Estas são atividades específicas de determinados postos de trabalho, e existe a possibilidade de

esses danos serem minimizados, utilizando-se máscara e luvas no caso da mistura de produtos e

equipamentos que facilitem o transporte de retroprojetores.

Em relação ao aspecto “participação no processo decisório”, já abordado anteriormente,

este apareceu como indicativo de prazer quando ressaltada a oportunidade de participação

existente na cooperativa. Por mais que as decisões conjuntas pareçam não estarem sendo

conduzidas de uma forma ideal, as ocasiões que proporcionam esta oportunidade para os

cooperados são suficientes para que sejam referidas como fontes de prazer, visto que em

organizações capitalistas esta oportunidade simplesmente não existe.

Por outro lado, como indicativos de sofrimento, foram citados a concentração do

processo decisório e o não cumprimento das decisões tomadas nas assembléias. Como muitas

das reclamações das entrevistadas estavam relacionadas à concentração do processo decisório,

e, por outro lado, as diretoras reclamavam da falta de participação dos outros membros e da

sobrecarga da diretoria, pôde-se notar que nenhum dos lados está satisfeito com o modo como

as coisas estão organizadas, e o que parece acontecer é que os cooperados apenas reclamam e a

diretoria não vê alternativas para mudar, ou quando vê, tem dificuldade em conseguir aderência

dos cooperados para coloca-las em prática.

A remuneração foi citada por quatro cooperadas como sendo fonte de prazer. Uma das

entrevistadas diz que o bom é ter seu dinheiro e não ter que ficar implorando pra ninguém,

resposta na qual está implícita a sensação de independência da pessoa como fonte de prazer para

ela.

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Uma cooperada entrevistada diz que gosta de trabalhar pelo fato de não ter que ficar em

casa. Neste caso, a cooperada não justifica sua resposta sobre gostar de tudo no trabalho com

alguma característica daquela organização do trabalho específica, mas diz que é bom não estar

em casa, o que pode significar que o trabalho é, para ela, uma fuga de situações aversivas

existentes no seu ambiente familiar.

Características do empreendimento que deveriam ser alteradas, de acordo com as

opiniões das entrevistadas

Os relatos das diretoras a esse respeito referiram-se a comportamentos dos outros

cooperados que deveriam ser mudados: guardarem abono para o final do ano3, preocuparem-se

menos com os problemas alheios, interessarem-se mais pelo crescimento da cooperativa. Além

disso, uma delas indica que as relações de parentesco entre os membros são problemáticas, o

que provavelmente acaba dificultando algumas decisões, provavelmente devido ao conflito de

interesses.

Em relação às respostas dadas pelas outras entrevistadas que não fazem parte da

diretoria, praticamente todos os relatos diziam respeito a cobranças de mudanças de atitudes das

diretoras: necessidade de todas as decisões irem para assembléia, de o contrato permitir

aumentos salariais, de todos terem direitos iguais, de todos conhecerem o estatuto, de as leis

serem cumpridas, de as decisões serem firmes e claras e de todos terem acesso às informações.

Todas estas categorias de respostas são citadas pelas cooperadas de forma que elas parecem

estar cobrando mudanças de atitudes das diretoras para que o trabalho na cooperativa melhore.

Elas parecem não terem “incorporado o ideal cooperativo”, parecem não “estarem na luta” para

que o empreendimento se desenvolva com a participação de todos, apesar de abordarem isso em

diversos momentos das entrevistas. Porque se elas dependem de decisões e atitudes das

diretoras, então não parecem estar querendo participar ativamente destas mudanças.

Em relação ao relato de uma cooperada que indica a necessidade de as decisões das

diretoras serem firmes, isso pode ser entendido como o contrário daquilo de que alguns se

queixam em relação à centralização. Afinal, as diretoras devem ser firmes ou devem dar mais

oportunidade de os demais participarem? Além disso, as duas menções são incompatíveis, ou há

3 Todos os meses os cooperados recebem uma taxa, que é chamada de “abono”, ao invés de receberem uma quantidade maior ao final do ano, que nas organizações tradicionais seria o “décimo terceiro”. O que ocorre é que muitas vezes os cooperados reclamam por não receberem o “décimo terceiro”, e a diretora diz que eles deveriam guardar os abonos durante os meses, sem retira-los, para que ao final do ano tivessem algo parecido com o “décimo terceiro”. No entanto, os cooperados dizem que, pela situação financeira em que vivem, é difícil ter um dinheiro todo mês e conseguir não utiliza-lo.

Page 67: CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E …bdsepsi/129a.pdf · SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa ... Apêndice 3- Termo

como uma mesma pessoa considerar que, apesar de permitir participação de todos, a diretora

deve ser firme nas decisões que tomar? Essa segunda interpretação parece menos aceitável.

Expectativas: o que as entrevistadas imaginam que os demais membros esperam

delas e o que elas esperam deles

Em relação ao que os cooperados imaginam que as pessoas esperam deles em relação ao

trabalho na cooperativa, as respostas foram dadas tanto pensando nessas pessoas como a família

do cooperado quanto nas outras pessoas da cooperativa.

As diretoras colocam que os membros da cooperativa delegam toda a tarefa de

administração para a diretoria, apesar do fato de que em uma cooperativa esta tarefa teria que

ser realizada pela coletividade. Elas ressaltam que alguns membros parecem achar que não é

necessário realizar assembléias, mas que tudo poderia ser resolvido apenas entre a diretoria.

Mais uma vez, nota-se que as diretoras sentem necessidade de apoio dos outros membros para

as funções administrativas, mesmo que em alguns momentos estes relatem que gostariam de

participar mais intensamente. O questionamento que surge é: a diretoria realmente não cria

oportunidade para os outros participarem ou há falta de interesse dos membros? É possível que

haja uma mescla de ambos, e é importante colocar que esta interpretação não pretende

culpabilizar nem um nem outro. Um trabalho direcionado para ambos os lados da problemática

poderia diminuir esta fonte de conflito e sofrimento, que hoje é muito presente na cooperativa

estudada.

Em relação às respostas dadas pelas demais cooperadas entrevistadas e às respostas

dadas pelas diretoras sem que enfocassem seu papel de diretora, em geral, giraram em torno do

fato de os outros membros esperarem colaboração, tanto para a execução do trabalho em equipe,

quanto para preservar a imagem da cooperativa. A maioria das entrevistadas, ao falar sobre o

que os outros esperam delas, refere-se a um bom trabalho, variando entre preservar a imagem

do empreendimento, dar bom exemplo e colaborar para o crescimento da cooperativa. Neste

momento, mais uma vez, aparece a “cobrança horizontal”, em que os cooperados sentem que

devem colaborar com o grupo. Algumas cooperadas responderam pensando também em suas

famílias, mencionando que seus familiares achavam importante que elas trabalhassem e que se

preocupavam com o retorno financeiro. É importante notar que as cooperadas que mais se

preocupam com o retorno financeiro são aquelas que tem um papel importante como provedoras

da casa, relatando gastos com a educação dos filhos, com remédios, com alimentação.

Cooperadas que não têm sua remuneração como fonte importante de renda da casa parecem

Page 68: CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E …bdsepsi/129a.pdf · SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa ... Apêndice 3- Termo

preocuparem-se menos com isso, e como uma delas, que tinha dezoito anos de idade e não tinha

sua renda como importante para a casa, diz “no momento, para mim, o salário está bom”.

Nos relatos a respeito do que as entrevistadas esperavam dos demais cooperados, nota-

se, também, uma preocupação das cooperadas entrevistadas com a imagem do empreendimento

e com o trabalho do grupo. Essa preocupação aparece outras vezes durante as entrevistas, e

pode ter sido “provocada” a partir de cursos a respeito de comportamentos cooperativos e

também durante reuniões em que é cobrada uma postura nesse sentido. Como discutido

anteriormente, para que as pessoas trabalhem em um empreendimento solidário seria importante

que fossem orientadas em relação aos princípios que guiam tal tipo de empreendimento e

mudassem determinadas atitudes com as quais estavam habituados em outros tipos de

organização. Parece que na cooperativa estudada há uma preocupação neste sentido, o que é

revelado pelos relatos das entrevistadas. Entretanto, esse processo de mudança de

comportamento está em fase de desenvolvimento, e este é um dos motivos relacionados aos

problemas encontrados na cooperativa, que podem ser indicativos de sofrimento para os

cooperados.

Novamente, muitas das respostas parecem ser baseadas em regras das entrevistadas, e,

como em muitas vezes as respostas coincidem, provavelmente estas tenham sido regras

passadas ou aprendidas no ambiente da cooperativa, talvez da mesma forma como são

transmitidos os princípios que fundamentam a preocupação dos membros com a imagem da

cooperativa. É importante ressaltar que essa preocupação aparece nos relatos das entrevistadas,

mas não se sabe se os comportamentos delas estão sendo coerentes com esta preocupação, ou

não. Diante das queixas das diretoras sobre a falta de colaboração, essa coerência parece ainda

não existir por completo. Em relação às queixas das diretoras, elas indicam que gostariam que

os cooperados conversassem com elas com mais respeito e calma, visto que muitas vezes elas

são cobradas de forma agressiva por eles. As diretoras também indicam que gostariam que os

cooperados tivessem mais interesse pelo crescimento da cooperativa. A partir desses relatos

pode-se observar que as regras colocadas pelas entrevistadas muitas vezes não estão realmente

relacionadas com comportamentos delas no dia-a-dia da cooperativa. No entanto, o fato de duas

das três diretoras terem abandonado seus postos de trabalho para cuidarem apenas da

administração, pode colaborar para que os demais as vejam como “chefes”, como elas próprias

mencionam, e não se comportem de acordo com as regras de um empreendimento solidário, ou

seja, não mudem seus comportamentos em relação ao trabalho.

Algumas cooperadas, quando falaram sobre suas expectativas em relação aos outros

membros, dizem que esperam simplesmente que os outros trabalhem, enquanto outras se

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referem ao crescimento e à imagem da cooperativa, sendo que estas últimas podem estar

relacionadas a regras e à “cobrança horizontal”.

Regras como fundamentos dos relatos

No geral, como já mencionado, muitos dos relatos das cooperadas entrevistadas eram

baseadas em regras, como, por exemplo, quando uma entrevistada diz que “como é cooperativa,

tem que ser tudo igual”. Isso aparece em diferentes momentos das entrevistas, e cabe a

observação de que talvez muitas das respostas das cooperadas tenham sido guiadas por regras, e

não por opiniões delas próprias. De fato, é difícil saber quando uma resposta informa sobre uma

regra que se tornou uma auto-regra para a pessoa ou quando o relato da pessoa descreve uma

regra não incorporada por ela. Ou quando a regra colocada condiz com as contingências a que a

pessoa está exposta na realidade, ou não. As pessoas têm contato com regras durante toda a sua

história de vida, podendo ou não incorpora-las como auto-regras. No caso das regras colocadas

durante as entrevistas, provavelmente elas tenham sido transmitidas para os cooperados com o

objetivo de instruí-los a respeito da forma como uma cooperativa deve ser organizada. Eles

parecem terem absorvido tais instruções. Basta saber se seus comportamentos são coerentes

com elas.

A respeito disso, cabe, mais uma vez, ressaltar a necessidade de os membros de uma

organização baseada na economia solidária mudarem seus comportamentos. Como, até hoje, a

maioria das pessoas teve contato apenas com organizações estruturadas pelo modelo capitalista,

visto que este modelo foi implementado de forma intensa no mundo, e, de outro lado, a

economia solidária é um modelo relativamente novo, que surgiu como resposta às decorrências

do capitalismo, estas pessoas aprenderam a comportar-se de acordo com essa organização do

trabalho, sendo competitivas e acostumando-se com a divisão de poder. Além disso, mesmo que

as pessoas que trabalhem, hoje, em organizações solidárias, não tenham tido experiências com

situação de trabalho assalariado, como já mencionado, o contexto social de desigualdade, bem

como reforços derivados de comportamentos direcionados para a competição podem ser

suficientes para criar um padrão comportamental próprio do capitalismo, qual seja,

individualista e competitivo. Comportar-se de acordo com os ideais solidários depende de

desaprender algumas coisas e aprender outras. Só assim uma cooperativa poderá ser conduzida

de forma realmente solidária: quando seus membros incorporarem o ideal que fundamenta esse

modelo, colocando-o em prática.

Page 70: CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E …bdsepsi/129a.pdf · SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa ... Apêndice 3- Termo

A cooperativa estudada é um empreendimento incubado, sendo apoiado por uma

incubadora de cooperativas que tem como objetivo final desincubar os empreendimentos aos

quais presta orientação, de forma a estrutura-los e torna-los auto-gestionáveis. Entretanto, esta

cooperativa, apesar do tempo de incubação, ainda não conseguiu se estruturar de forma que

pudesse ser desincubada, visto que não funciona independente das orientações da incubadora.

Provavelmente, algo que contribui para este adiamento é o fato de os cooperados não se

comportarem do modo como a economia solidária propõe. Como já colocado, a prática é

diferente da teoria por diversos fatores, mas quando se busca um ideal, pode-se chegar a algo

próximo a ele.

Entretanto, de acordo com informações da incubadora, no início da cooperativa, só havia

pessoas em situações precárias de vida, sendo que algumas não tinham sequer documentos que

lhes dessem existência legal. Atualmente, a despeito das tantas adversidades, são 150 pessoas

conseguindo renda, gerando benefícios para pelo menos o dobro de famílias, e tendo dado

muitos passos na direção desejada – ainda que outros tantos possam faltar.

Não há uma receita pronta para a implantação do cooperativismo, apesar de ele existir há

quase dois séculos. Antes de tudo, o cooperativismo é uma filosofia do homem na sociedade em

que vive, um pensamento que procura construir uma nova maneira de processar a economia

baseando-se no trabalho e não no lucro; na ajuda mútua e não na concorrência e competição;

nos valores e necessidades humanas e não na acumulação individual do dinheiro e na

exploração do trabalho de outras mulheres e homens. É a filosofia que procura estruturar um

sistema que propicie o desenvolvimento integral do indivíduo por meio do coletivo (Veiga e

Fonseca, 2001).

Muitas das teorias que embasam a economia solidária pretendem minimizar e até

extinguir problemas encontrados nas organizações capitalistas, estruturando o trabalho de forma

alternativa. Entretanto, com os resultados da presente pesquisa pôde-se observar que, na prática,

os conceitos teóricos são difíceis de serem aplicados. Ao realizar a presente pesquisa, os

pesquisadores puderam notar que muitas das aspirações dos teóricos da economia solidária são

difíceis de serem contempladas no dia-a-dia da cooperativa. Um fator que agrava tal situação é a

diferença existente entre o trabalho com o qual as pessoas estão acostumadas, ou seja, o

trabalho baseado no modelo capitalista, e o trabalho imaginado pela economia solidária. Isso

porque as pessoas, até o momento em que passaram a fazer parte de um empreendimento

solidário, mesmo não tendo tido experiências em empregos tradicionais, podem ter aprendido a

comportar-se de acordo com as regras do capitalismo, modelo que rege a economia e a vida das

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pessoas até hoje. Quando iniciam um trabalho solidário, a dificuldade para abandonar aquilo

tudo o que foi aprendido é grande. Sendo assim, é perfeitamente entendível o fato de a prática

ser diferente da teoria no caso de cooperativas. Além disso, a cooperativa estudada é uma

cooperativa popular, organizada pela população de um bairro da periferia da cidade. Grande

parte dos cooperados entrou para trabalhar no empreendimento sem ter conhecimento dos ideais

solidários, e, portanto, sem que a luta pelo cooperativismo fosse o alvo de sua conduta. Eles

apenas encontraram na cooperativa uma oportunidade de trabalharem, e entraram nela para

trabalhar. Além disso, os passos dados pela cooperativa até hoje, são passos importantes da

caminhada realizada pela economia solidária, e impulsionarão novas etapas que conduzirão à

superação das dificuldades encontradas na atualidade.

É importante ressaltar que as informações obtidas pelo presente estudo são originárias de

uma organização em particular, vivendo um momento específico de sua trajetória, sendo,

portanto, um recorte, que impossibilita generalizações, mesmo para dentro do empreendimento.

A presente pesquisa pôde constatar algumas características da organização do trabalho

na cooperativa estudada que são indicativos de prazer e sofrimento, na opinião das cooperadas

entrevistadas. No entanto, visto que a amostra estudada foi pequena e os dados obtidos através

dos relatos das entrevistadas foram parciais, afirmações conclusivas foram impossibilitadas, e

dúvidas a respeito da abrangência de tais informações acabaram por serem despertadas. Um

acompanhamento contínuo da cooperativa poderia, inclusive, contrariar a análise realizada

nessas páginas, já que esta se baseou em dados acanhados e centrados em relatos de pessoas

envolvidas no processo, que, além de tudo, é um processo novo para todos.

Essa constatação sugere a necessidade de novos estudos que possam contribuir para o

desenvolvimento da análise proposta pelo presente estudo, para que possam ser elaboradas

intervenções no sentido de minimizar fontes de sofrimento e maximizar as de prazer, no

ambiente de trabalho.

Page 72: CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E …bdsepsi/129a.pdf · SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa ... Apêndice 3- Termo

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VIEITEZ, C. G. e DAL RI, N. M., Trabalho associado: cooperativas e empresas de

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Page 74: CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E …bdsepsi/129a.pdf · SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa ... Apêndice 3- Termo

APÊNDICES

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APÊNDICE 1

Roteiro da entrevista inicial para caracterização do empreendimento

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Entrevista inicial

Entrevistador:_________________________________Data:_________________ Entrevistado:_______________________________________________________ Há quanto tempo você trabalha nesta cooperativa? Por qual(is) motivo(s) entrou? Quais funções você já ocupou? 1) Há quanto tempo este empreendimento existe? 2) Como este empreendimento começou? De quem partiu a idéia de começar? 3) Qual é a situação atual do empreendimento (jurídica, financeira, número de membros)? 4) Quais são as tarefas necessárias para o desenvolvimento da atividade da cooperativa? Quais são os cargos ou funções existentes? 5) Como é estruturada a diretoria? 6) Quando há troca de diretoria, como é o processo de escolha? 7) Qual é o esquema de horário (horário de entrada, intervalos, horário de saída) do empreendimento? Existem diferentes turnos? 8) Há faltas e atrasos para o trabalho? Com que freqüência? Quais são as medidas tomadas? 9) Como é feito o pagamento aos membros (esquema de remuneração)? 10) Quando há uma decisão a ser tomada, como se dá este processo de decisão? Há diferentes processos para os diferentes tipos de assunto? 11) Com que freqüência ocorrem assembléias? 12) Quantas e que pessoas participam das assembléias? 13) Há obrigatoriedade de comparecimento nas assembléias? Como isto é exposto aos participantes? E como é feito o controle? 14) Os membros participam de que maneira das discussões e decisões? De que maneira são expostas as idéias? 15) Como ocorrem as assembléias: quem dirige, como acontece a discussão e como se dá a tomada de decisão?

16) Quando há um problema inesperado e há necessidade de uma tomada de decisão imediata, como esta decisão é tomada (depende do tipo de assunto?)?

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17) Quando entram membros novos para o empreendimento, como eles são integrados à organização (como são introduzidos aos conceitos da economia solidária, se há treinamento para a função específica que exercerão?)?

Page 78: CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E …bdsepsi/129a.pdf · SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES Lia Botta Riani Costa ... Apêndice 3- Termo

APÊNDICE 2

Roteiro da entrevista com os cooperados participantes do estudo

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Entrevista

Entrevistador:___________________________________Data:_______________

Entrevistado

Nome

Há quanto tempo está na cooperativa?

Qual é a função que ocupa na cooperativa atualmente?

Já ocupou outras funções? Quais?

Pretende continuar na cooperativa? Por quê?

1) Quais são suas experiências profissionais anteriores?

trabal

ho

época local duraç

ão

Por

que

busco

u

trabal

ho?

Por

que

deixo

u o

trabal

ho?

2) Por que decidiu participar da cooperativa (quais são os motivos que colaboraram

com a decisão: conhecer algum membro, autonomia e independência financeira,

participação nas decisões/ responsabilidades pela cooperativa, igualdade de deveres e

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direitos, forma de divisão do trabalho, remuneração do trabalho, gosto pelo trabalho,

necessidade de trabalhar mesmo não gostando do que faz, ideais solidários)?

3) Quais eram suas expectativas em relação à cooperativa antes de seu ingresso, em

relação à:

remuner

ação

condiçõe

s de

trabalho

divisão

das

tarefas

relação

entre os

membro

s

fato de

não ter

patrão

4) Atualmente você tem outra ocupação além da cooperativa? Se sim, qual e por quê?

5) Em relação à atividade desenvolvida por você na cooperativa, esta é uma atividade

para a qual você havia se preparado anteriormente (já trabalhava ou pensava em

trabalhar com isso?)?

6) Você gosta de realizar esta atividade (preferências e aspirações)?

7) Qual é a função da sua tarefa para o andamento da cooperativa? Com o que seu

trabalho contribui para este andamento?

8) Qual é seu horário de trabalho? O que você acha dele?

9) Como você avalia o papel da diretoria? As funções são divididas com o restante dos

membros (centralização ou descentralização)? Se sim, como isto é feito?

10) Você participa das tomadas de decisão? Como isto acontece?

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11) O que você acha de poder participar (julgamento: oportunidade ou incumbência)?

12) Quando você acha que precisa e quando acha que é desnecessário chamar

assembléia para tomar decisões? Acontece de serem chamadas assembléias para

situações que você considera desnecessárias? E o que você pensa sobre isso?

13) Você costuma freqüentar as assembléias? E durante a reunião você tem o costume de

dar suas opiniões, de falar quando acha que algo deve ser mudado na cooperativa?

14) O que você acha de não ter um patrão (se sente mais responsável ou perdido,

mudança de mentalidade, responsabilidade do múltiplo papel – mais

responsabilidade ou sobrecarga?)?

15) Você sabe quais são os conceitos da economia solidária (pedir pra dizer alguns)? Se

sim, quando você teve o primeiro contato com eles?

16) O que você acha deles? É fácil segui-los, agir de acordo com eles?

17)Em relação à faltas, com que frequência você costuma faltar do seu trabalho? Por que

motivos você falta?

18) E o que acontece quando você falta: o trabalho fica acumulado, alguém o substitui,

você é punido?

19) Como você acha que seus colegas de trabalho e o líder avaliam seu trabalho?

20) Qual seria a razão pela qual você executa sua tarefa (quais os motivos que o levam a

realizá-la?)?

21) Você acha melhor fazer por si ou gosta quando alguém lhe orienta sobre o que fazer?

Por quê?

22) Como você avalia suas relações com seus colegas de trabalho? Existem

desentendimentos? E quando existe, como normalmente vocês resolvem?

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23) Vocês costumam trocar informações e conversar sobre aspectos do trabalho? E sobre

outros assuntos, fora do trabalho, vocês costumam conversar? Em que momento?

24) Do que você mais gosta do trabalho na cooperativa? Quais são as coisas que te dão

mais prazer?

25) Quais são as coisas que te causam mais sofrimento no trabalho na cooperativa?

26)Analise algumas características do empreendimento:

Situaçõe

s de

trabalho

(horário,

divisão

tarefas,

materiai

s,

barulho,

luminosi

dade...)

Ambient

e de

trabalho

(tenso

ou

descontr

aído...)

Relacion

amento

entre as

pessoas

Remune

ração

(valor,

forma de

pagamen

to, época

de

pagamen

to...)

Respons

abilida-

des

(múltipl

o papel)

27)Você acha que existem coisas que precisariam ser alteradas na cooperativa? O que? E

por que?

29) O que você acha que existe de diferença entre o trabalho na cooperativa e o trabalho

como empregada?

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30) Você teria preferência por um emprego com carteira assinada para fazer as mesmas

coisas que faz na cooperativa? Por que?

31) O que você acha que as pessoas esperam de você na cooperativa? (sua família, seus

companheiros de trabalho, a diretoria do empreendimento...) Por que?

31) O que você espera de seus companheiros de trabalho na cooperativa? Explique.

32) Se você pudesse escolher só uma coisa em grande quantidade na sua situação de

trabalho, e as outras todas fossem médias, qual escolheria: (fazer hierarquia)

a) remuneração

b) prazer no que faz

c) relação com as outras pessoas

d) participação nas decisões sobre o trabalho

33) Imagine uma situação ideal de trabalho (horários, divisão de tarefas, ambiente de

trabalho, responsabilidades, remuneração, relacionamento entre as pessoas,

hierarquia). Como ela seria?

Ho

rári

o

Div

isã

o

de

tare

fas

Am

bie

nte

de

tra

bal

ho

Res

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Div

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er

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APÊNDICE 3

Termo de compromisso do pesquisador

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Termo de Compromisso do Pesquisador

Eu, Ana Lúcia Cortegoso, pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa: “CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES” comprometo-me em cumprir os termos da resolução 196/96 do Ministério da Saúde.

Sem mais, subscrevo-me,

______________________________________

Profa. Ana Lúcia Cortegoso

Docente do Departamento de Psicologia

UFSCar

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APÊNDICE 4

Termo de consentimento livre e esclarecido

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Estudo: “ CONDIÇÕES DE TRABALHO RELACIONADAS A PRAZER E SOFRIMENTO

DOS TRABALHADORES NO ÂMBITO DE COOPERATIVAS POPULARES”.

Eu, ___________________________________________, abaixo assinado, declaro que 1) concordo voluntariamente em participar do estudo acima, oferecendo informações que

possibilitem identificar condições de trabalho que possam estar relacionadas a condições de prazer e sofrimento no âmbito de meu trabalho (objetivo), por meio de entrevistas e observações de atividades de trabalho (atividades das quais participarei), inclusive reuniões, desde que haja acordo de todos os participantes;

2) recebi informações detalhadas sobre a natureza e objetivos do estudo e sobre as solicitações

que me serão feitas, conforme indicado no item 1 acima; 3) tenho conhecimento de que sou livre para desistir do estudo a qualquer momento, sem

necessidade de justificar minha decisão. Caso isso ocorra, comprometo-me a avisar os pesquisadores o mais rápido possível.

4) tenho conhecimento de que minha participação é sigilosa, isto é, que meu nome não será

divulgado em qualquer publicação, relatório ou comunicação científica referentes aos resultados da pesquisa. Além disso, eu não tenho direito de restringir de maneira alguma o uso dos resultados obtidos, desde que eu não seja identificado como sujeito do estudo;

5) que disponho de informações para entrar em contato com o pesquisador responsável,

durante o estudo, caso seja necessário. Nome:.................................................................................................Data:............... Assinatura:................................................................................................................

Confirmo ter explicado a natureza, objetivos desse estudo ao voluntário acima.

Nome:.ANA LUCIA CORTEGOSO Assinatura:.................................................. Telefones: (16) 260-8361 (Departamento de Psicologia-UFSCar); (16) 3368-1529 (res)