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    210 • Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.210-12, set. 2006. Suplemento n.5.

    XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Físicados países de língua portuguesa

    Conhecimento tático-técnico: eixo pendular da ação tática

    (criativa) nos jogos esportivos coletivos

    Pablo Juan GRECOEscola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

    Introdução

    Na evolução dos paradigmas teóricos da psicologia até asteorias cognitivas e ecológicas hoje, tem se avançado na produçãodo conhecimento sobre o comportamento do ser humano. Áreascorrelatas como as ciências da computação, da inteligênciaartificial, tem também contribuído nessa busca de informação. A partir das obras cognitivistas de MILLER , G ALANTER  e PRIBRAM(1973), e NEISSER   (1974) tem se procurando sair docomportamentalismo e compreender, cada vez mais, o modocomo as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam,sobre a informação (S TERNBERG, 2000).

     A compreensão das estruturas e função dos processos cognitivos(ex: atenção, percepção, pensamento) têm sido o desafio dospesquisadores do comportamento humano. NEISSER  (1974) postulaque o conhecimento oferece a estrutura de sustentação dos processoscognitivos, destacando a abordagem ecológica da cognição. Osestudos do conhecimento tem sido realizados geralmente em

    associação com pesquisas sobre memória, sendo muitas vezes tratadoscomo equivalentes (SQUIRE & K  ANDELL, 2003). O conhecimento esuas formas de aquisição i.e, as aprendizagens de novas informaçõessimbólicas, o formato, qual forma de organização que asrepresentações mentais assumem (E YSENCK  & K EANE, 1994), têmsido pesquisados de forma racionalista e empírica (M ANDL, FRIEDRICH& HRON, 1988).

    Segundo M ARINA (1995) o conhecimento se origina nosprocessos de percepção e de pensamento, conhecer é semprereferir o novo ou desconhecido com o velho ou conhecido;assim, oportuniza-se através do conhecimento a aquisição ecompreensão dos processos psíquicos. Não existe consensoteórico sobre o que é conhecimento, sendo considerado o

    resultado do saber, uma informação que “é representadamentalmente em um formato específico e estruturado,organizado, de alguma forma” (E YSENCK  & K EANE, 1994).

    Na epistemologia bem como na psicologia distinguem-se duasclasses de estruturas do conhecimento: a) Conhecimento Declarativo(CD), são os fatos que podem ser declarados, sua organização tem aforma de séries de fatos conectados e passiveis de descrição.Determina a possibilidade de escolha, constituída de um corpoorganizado de informações factuais (Exemplo: falar qual é a melhordecisão, passar ou lançar); e b) Conhecimento Processual (CP),fundamental em ações de grande habilidade; procedimentos motoresque podem ser executados (Exemplo: amarrar os cordões dos sapatos,andar de bicicleta). Inclui-se também nesta categoria a execução dauma técnica, um gesto técnico que pode ser aplicado em uma situaçãode jogo.A diferença entre ambas formas de conhecimento pode sercaracterizada conforme R  YLE (1949), citado por S TERNBERG (2000),

    entre “saber o que (CD)” e “saber como (CP)”. Segundo S TERNBERG(2000) o conhecimento de procedimentos envolve algum grau dehabilidade que aumenta em conseqüência da prática, até que odesempenho necessite de pouca atenção consciente, isto é, atravésdo processo de ensino-aprendizagem, ocorra a automatização.Segundo SQUIRE e K  ANDEL (2003) “todas as formas de conhecimentonão declarativo são geralmente implícitas e não são facilmenteexplicitadas relatadas verbalmente”. A representação doconhecimento não declarativo resulta da experiência em executarum procedimento, uma ação. Em todos esses processos oconhecimento oferece o suporte necessário à comparação, sendoque ambas formas de conhecimento “CD e CP” interagem naprocura das soluções ambientais.

    Na área do Treinamento Esportivo a formulação dosconstrutos capacidade de jogo, capacidades táticas,comportamento tático, se relacionam particularmente com apsicologia cognitiva, na compreensão da complexa unidadecognição-ação. Na práxis do treinamento esportivo existe umacarência de modelos teóricos que descrevam a ação esportiva eas interações com o conhecimento (e seus processos subjacentes)

    com a capacidade táctica-técnica. Faltam também, modelos parao ensino-aprendizagem, e métodos de diagnóstico e prognóstico

    Discussão

    do rendimento. Eis o desafio para pesquisadores e treinadores.Nos Jogos esportivos coletivos, decorrente dos problemas

    situacionais e da das exigências organizacionais das tarefas aserem realizadas, apresenta-se uma alta exigência cognitiva noscomportamentos dos atletas (G ARGANTA, 2002). Os processosdecisionais são dinâmicos dentro de um marco sócio-ambientaldelimitado pelo contexto situacional específico (ecológico), único,

    dificilmente reproduzível, portanto, os comportamentos dosatletas caracterizam-se como eminentemente táticos. A dimensão

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     Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.210-12, set. 2006. Suplemento n.5. • 211

    XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Físicados países de língua portuguesa

       M  e  s  a   R  e   d  o  n   d  a

       T  r  e   i  n  a  m  e  n   t  o ,   T

       é  c  n   i  c  a  e   T   á   t   i  c  a   E  s  p  o

      r   t   i  v  a

    tática se constitui a partir da configuração mental do atleta de diferentescenários do jogo, ele é um ser decisor (G ARGANTA, 2002).

    Um dos primeiros modelos da ação tática, que apresenta umainteração “cognição-ação” foi proposto por M AHLO (1970). O

    autor descreve a ação tática em três fases seqüenciais: a)Percepção e análise da situação; b) Solução mental do problema;c) Resolução motora do mesmo. O resultado da ação ecomparado com os objetivos a serem alcançados, processadosna memória para estar disponível em próximos eventos. T AVARES(1995) referenciado em TEMPRADO  e F AMOSE  (1993) cita osmodelos de processamento da informação nos seus estádios depercepção (vertente perceptiva de identificação do sinal), decisão(seleção da resposta) e de operações de programação motora(execução da ação). Estes modelos da ação (tática), e seusprocessos cognitivos subjacentes, apóiam-se nas teorias doprocessamento da informação, com estádios ou fases que se

    sucedem cronologicamente. GRÉHAIGNE  e GODBOUT  (1995)citados por G ARGANTA  (2004) colocam que o sistema deconhecimento que suporta a ação tática é constituído pelas: a)Regras de ação (orientações básicas acerca do conhecimento dojogo), b) As regras de gestão e organização do jogo (relacionadas

    com a lógica interna da atividade) e finalmente, c) Dascapacidades motoras (abrangem a percepção e a execução daação motora). SONNENSCHEIN (1987) com base nas teorias daação (NITSCH, 1986) formulou um modelo teórico definindo os

    elementos constitutivos da ação tática a partir da estrutura doconhecimento (técnico–táctico), a qual se encontra em interaçãocom: a) A capacidade de percepção - processo de recepção,elaboração, controle e avaliação da informação, na interação dascapacidades de selecionar e codificar informação -, e b) Acapacidade de tomada de decisão - elaboração de planos echamada dos planos para executar a ação -. Na solução dosproblemas do jogo, as três estruturas se inter-relacionam, sãopré-requisitos bem como sua resultante na expressão do nívelde conhecimento técnico-tático que o atleta dispõe.

    Observando sob o prisma pedagógico a importância doconhecimento para os processos de ensino-aprendizagem-

    treinamento tático-técnico apresenta-se a seguir um ensaioteórico sobre a relação entre conhecimento e os diferentesprocessos cognitivos que definem um comportamento tático, omesmo pode ser interpretado como um modelo da ação técnico-tática para os jogos esportivos.

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