CONTROLE DE QUALIDADE NO EMPREGO DAS ROCHAS ORNAMENTAIS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

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CONTROLE DE QUALIDADE NO EMPREGO DAS ROCHAS ORNAMENTAIS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Vanildo Almeida Mendes 1 e Francisco Wilson Hollanda Vidal 2 1 Geólogo CPRM – SUREG-RE Av. Sul, 2291 – Afogados – Recife – PE – CEP 50.770-011 Fone: (81)3428-0623 - E-mail: [email protected] 2 Engº de Minas, DSc. Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCT ABIROCHAS – Rua Barão de Studart, 2360 – sala 406 – Bairro Aldeota – 60.120-002 – Fortaleza-CE Fone: (85) 246-2600 Fax: (85) 246-0262 E_mail: [email protected] RESUMO O emprego de rochas ornamentais como material de revestimento, principalmente na construção civil, tem avançado bastante em nosso país, principalmente em fachadas de edifícios públicos, comerciais e residenciais. Entretanto a sua aplicação sem controle técnico, tem causado vários problemas de características tecnológicas, os quais podem ser evitados com a adoção de um rígido controle de qualidade. Muitos insucessos tem ocorrido com as rochas ornamentais devido a falta de conhecimento das características naturais que o material traz, como também daquelas induzidas pelos métodos de lavras e processos de beneficiamento. O conhecimento das propriedades físicas, físico-mecânicas e das características químico-mineralógicas das rochas usadas como rochas ornamentais e de revestimento são fatores técnicos-econômicos que influenciam na qualidade do produto e consequentemente na formação de preço de mercado, além da estética e beleza do material. Conhecendo-se as condições ambientais as quais os revestimentos estarão sujeitos e efetuando-se uma análise das características dos materiais disponíveis no mercado, pode-se reunir valiosos subsídios para a seleção daqueles que melhor se adequem aos requisitos do projeto pretendido. As características tenológicas das rochas, bem como a previsão do seu desempenho em serviço, são obtidos através de análises e ensaios executados segundo procedimentos rigorosos, normalizados por entidades nacionais e internacionais. Os procedimentos a serem adotados devem passar inicialmente pela definição das características petrográficas e tecnológicas da rocha a ser empregada, levando-se em conta as condições ambientais a que estará sujeito o material, culminando com a seleção visual e paginação das placas de rochas quando prontas para aplicação. INTRODUÇÃO O uso da pedra nasceu com o próprio homem e tem marcado cada momento da evolução humana. Em todas as fases da história das civilizações a utilização da rocha vem se constituíndo num modelo, caracterizando as cidades, estradas, castelos, templos e a decoração em geral. Não só vivenciou a evolução da arquitetura, mas também

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CONTROLE  DE QUALIDADE  NO  EMPREGO  DAS  ROCHAS  ORNAMENTAIS  NA  CONSTRUÇÃO  CIVIL

Vanildo Almeida Mendes1 e Francisco Wilson Hollanda Vidal2

1Geólogo CPRM – SUREG-REAv. Sul, 2291 – Afogados – Recife – PE – CEP 50.770-011Fone: (81)3428-0623  -  E-mail: [email protected]

2Engº de Minas, DSc. Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTABIROCHAS – Rua Barão de Studart, 2360 – sala 406 – Bairro Aldeota – 60.120-002 – Fortaleza-CE

Fone: (85) 246-2600          Fax: (85) 246-0262         E_mail: [email protected]

RESUMO 

O emprego de rochas ornamentais como material de revestimento, principalmente na construção civil,  tem avançado bastante em nosso país, principalmente em fachadas de edifícios públicos, comerciais e residenciais. Entretanto a sua aplicação sem controle técnico, tem causado vários problemas de características tecnológicas, os quais podem ser evitados com a adoção de um rígido controle de qualidade.

 Muitos insucessos tem ocorrido com as rochas ornamentais devido a falta de conhecimento das características

naturais que o material traz, como também daquelas induzidas pelos métodos de lavras e processos de beneficiamento. O conhecimento das propriedades físicas, físico-mecânicas e das características químico-mineralógicas das rochas

usadas como rochas ornamentais e de revestimento são fatores técnicos-econômicos que influenciam na qualidade do produto e consequentemente na formação de preço de mercado, além da estética e beleza do material.

 Conhecendo-se as condições ambientais as quais os revestimentos estarão sujeitos e efetuando-se uma análise das

características dos materiais disponíveis no mercado, pode-se reunir valiosos subsídios para  a seleção daqueles que melhor se adequem aos requisitos do projeto pretendido.

 As características tenológicas das rochas, bem como a previsão do seu desempenho em serviço, são obtidos

através de análises e ensaios executados segundo procedimentos rigorosos, normalizados por entidades nacionais e internacionais. 

Os procedimentos a serem adotados devem passar inicialmente pela definição das características petrográficas e tecnológicas da rocha a ser empregada, levando-se em conta as  condições ambientais a que estará sujeito o material, culminando com a seleção visual e paginação das placas de rochas quando prontas para aplicação.  INTRODUÇÃO 

O uso da pedra nasceu com o próprio homem e tem marcado cada momento da evolução humana. Em todas as fases da história das civilizações a utilização da rocha vem se constituíndo num modelo, caracterizando as cidades, estradas, castelos, templos e a decoração em geral. Não só vivenciou a evolução da arquitetura, mas tambémcontribuiu com o crescimento cultural e sócio-econômico dos povos. Como exemplos pode-se lembrar das pirâmides do Antigo Egito e o uso do arco estrutural em pedra, como elemento de importância no império romano e na sua expansão pela Europa, principalmente  na bacia do Mediterrâneo. 

Efetivamente a segunda metade do século XX pode ser considerada como a nova idade da pedra, constituindo o período de sua  maior utilização e da melhoria dos métodos de extração e beneficiamento bem como, acabamento, uso e aplicação da rocha ornamental. 

Atualmente, o mercado oferta uma ampla variedade de materiais pétreos, que devido a sua versatilidade e possibilidades de uso, em diferentes situações não oferece limites à criatividade dos projetistas, permitindo a aplicação de materiais em diferentes formas e tamanhos. Entretanto, a  facilidade e abundância de rochas com excelente efeito estético-decorativo, podem levar a escolhas inadequadas. Convém lembrar, que as rochas constituem um produto natural, com características químico-mineralógicas e físico-mecânicos distintas, sendo o  conhecimento destes parâmetros de fundamental importância para fins de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Em sentido mais amplo, escolhas inadequadas de rochas ornamentais aliada a sua incompatibilidade com o ambiente de aplicação, tendem não só a piorar o aspecto estético e funcional da obra, mas também prejudicar os requisitos de durabilidade e segurança, comprometendo-a inexoravelmente. 

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Na busca da melhoria das técnicas de emprego de placas pétreas como revestimento, este trabalho procura mostrar a importância do controle de qualidade no uso da rocha ornamental, indicando a necessidade de acompanhamento de profissionais habilitados desde a extração da rocha na jazida, passando pelo beneficiamento/acabamento até sua aplicação na obra. 

 DEFINIÇÃO DE ROCHA ORNAMENTAL 

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), as rochas ornamentais constituem um material rochoso natural, submetido a diferentes graus de aperfeiçoamento (apicoado, frameado, polido e recortado) e utilizado para exercer uma função estética. No que concerne à rocha natural, a referida norma estipula constituir um material que deve ser submetido aos diversos processos de desdobramento e beneficiamento final, sendo empregado no acabamento de superfícies tais como: pisos e fachadas. No momento, as rochas ornamentais são bastante empregadas na arquitetura, tanto na decoração de ambientes, quanto na condição de revestimentos verticais (fachadas e paredes internas) e horizontais (pisos) de exteriores e interiores. Como conseqüência, acham-se expostas às condições ambientais do local de uso, isto é, a ação dos agentes intempéricos, industriais, degradadores domésticos e, sendo imprescindível portanto à adoção de certos critérios técnicos, visando preservar, na integra, as  qualidades estético-decorativas do produto, junto ao caráter funcional do material. 

Em termos de classificação as rochas ornamentais e de revestimentos dividem-se em duas categorias comerciais: granitos e mármores. A primeira engloba a família das rochas silicáticas, incluindo os tipos ígneos: ácidos, intermediários e básicos, tanto de origem plutônica, quanto sub-vulcânicas a vulcânicas. Ainda associados ao primeiro tipo, têm-se as rochas metamórficas e as sedimentares com diagênese alta, litologicamente representados comercialmente por quartzitos, arenitos, conglomerados e as  rochas migmatíticas, intensamente dobradas, geralmente de estrutura nebulítica, e cores variadas. A segunda família acha-se representada por mármores tanto de origem sedimentar, quanto metamórfica. As rochas comercialmente designadas por mármores englobam as rochas carbonatadas, incluindo calcários, dolimitos e seus correspondentes metamórficos (os mármores, propriamente ditos). Os calcários são rochas sedimentares compostos principalmente de calcita (carbonato de cálcio), enquanto os dolomitos são rochas também sedimentares formados sobretudo por dolomita (carbonato de cálcio e magnésio).

 Os mármores tipo travertinos, a exemplo dos calcários, são rochas carbonatadas, geralmente de origem sedimentar,

essencialmente calcíticos que podem apresentar-se pouco ou não metamorfisados e são definidos pela sua coloração geralmente creme a bege-amarelada.

 Existem ainda as pedras naturais. Esta denominação é empregada pelo mercado para as rochas geralmente

utilizadas em placas e/ou lajotas, não polidas, como as ardósias, os calcários, os gnaisses milomitizados e os quartzitos foliados, utilizados in natura.

 Em função da grande variedade de tipos, composições, cores, caracteres estruturais e texturais, os denominados

granitos são as rochas mais utilizadas no revestimento, seguidas dos mármores nacionais e importados, utilizados notadamente no acabamento de interiores.  

Dessa forma, verifica-se que a utilização de uma rocha para fins está inteiramente relacionada a fatores geológicos, representados pela: cor, textura, homogeneidade, nível de deformação a que foi submetido o corpo rochoso e as suas propriedades químico-mineralógica e físico-mecânicas. Tais parâmetros no final condicionarão os usos mais específicos da rocha, no tocante ao seu emprego como revestimento, pois em função do ambiente a que forem submetidas responderá pela sua durabilidade, frente à ação do intemperismo, abrasão, dilatação térmica linear e resistência à compressão e à flexão. Portanto a interação destes fatores, com o local de aplicação da rocha, definirão o seu bom desempenho em serviço. Conceito de Qualidade de uma Rocha Com Fins Ornamentais 

O termo rocha de qualidade restringe-se, praticamente, ao efeito estético-decorativo, onde a cor, textura, homogeneidade, padrão estrutural e originalidade da pedra, constituem elementos  dominantes. Entretanto, associados a estes elementos de caráter estético, têm-se a densidade do fraturamento, o percentual de xenólitos, veios e o modo da ocorrência, que estão relacionados às condições de lavra. Além desses critérios, deve-se levar em conta as características   petrográficas e tecnológicas da  rocha. Em síntese, conceitua-se como rocha de qualidade aquelas que alinham o efeito estético-decorativo, com as condições de lavra e o beneficiamento dentro das normas da ABNT, que regem a normalização de análises e ensaios tecnológicos.

 Convém mencionar que a denominação rochas de qualidade, pode-se estender ao denominado fator nobreza, isto é

aquelas que são passíveis de negociação no mercado nacional e internacional de blocos e de materiais acabados, que devido ao rigor das normas internacionais apresentam, apresentam caracteres químico-mineralógicos e físico-mecânicos compatíveis com o seu emprego como rocha ornamental.  

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 Importância da Definição das Características Petrográficas e Tecnológicas das Rochas  das Ornamentais

 Por suas características naturais, as rochas ornamentais precisam do conhecimento da sua composição mineral e

caracteres petrográficos, químicos e mecânicos para o seu emprego, além da extração e sua transformação em formas e dimensões compatíveis com o projeto arquitetônico. Tais parâmetros juntamente com os aspectos cromáticos e texturais, constituem em última análise, as diretrizes básicas que delineam a sua utilização em serviço.

 Convêm frisar que as rochas ornamentais, quando em uso, acham-se submetidas às mais variadas solicitações,

como desgaste por atrito, impacto, ação de agentes intempéricos e ataques pela utilização de produtos de limpeza. Em conseqüência verifica-se que a caracterização tecnológica desses materiais é imprescindível para seu emprego correto, garantindo a estabilidade e segurança do revestimento.

 As características tecnológicas das rochas são obtidas através de análises e ensaios executados, segundo

procedimentos rigorosos, normatizados por entidades nacionais e estrangeiras, dentre as quais citam-se: Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT,  American  Society for Testing and materials- Astm, a Deutsch Institut für Normung – DIN e a Association Français du Normalisation - AFNOR. 

 Para a caracterização tecnológica das rochas ornamentais, são utilizados os seguintes ensaios: 

o         análise petrográfica;

o         determinação de índices físicos, tais como: massa especifica aparente, absorção d’água e porosidade;

o         determinação do desgaste amsler (atrito);

o         definição do coeficiente de dilatação térmica linear;

o         índice de resistência ao impacto;

o         determinação da resistência à compressão uniaxial;

o         ensaios de gelo e degelo;

o         determinação do módulo de deformabilidade elástico;

o         determinação do módulo de resistência à flexão;

o         execução de ensaios de alterabilidade ou de resistência ao ataque químico

  

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES DA ROCHA 

A avaliação das propriedades químico-mineralógicas e físico- mecânicas das rochas, a partir das análises e  ensaios anteriormente relacionados, demonstram que elas devem ser consideradas sob três aspectos principais:

           Índices de qualidade          Parâmetros a serem utilizados nos cálculos de materiais para a Construção Civil                               Definições das especificações para o emprego dos diversos tipos rochas 

Convém frisar que melhor será a qualidade de uma rocha, quanto menor for á presença de minerais deletérios e o valor dos índices de porosidade, absorção d’água, resistência ao atrito (desgaste Amsler) e do coeficiente de dilatação térmica linear. Por outro lado, a qualidade da rocha será melhor, quanto maior for o valor da resistência à compressão uniaxial, do seu módulo de elasticidade, da resistência ao impacto, da flexão e dos ensaios de gelo e degelo. 

Como parâmetros a serem empregados nos cálculos de materiais para os projetos arquitetônicos merecem destaque: a massa específica e a resistência à flexão, cujos valores entram diretamente nos cálculos das dimensões e espessuras das chapas  utilizadas como revestimento fixado  através de grampos. Outro dado importante a ser considerado é o valor do coeficiente de dilatação térmica linear, o qual constitui a base para a definição do espaçamento entre as juntas. No que se refere ao modulo de resistência à flexão, a norma norte-americana específica que os valores abaixo de 10,34 MPa são considerados restritivos, necessitando de placas com espessuras maiores para suportarem as solicitações de flexões causadas pela carga do vento. No caso das peças utilizadas como revestimento do teto, sofrerão a incidência da ação do próprio peso. Com intuito de familiarizar os usuários de rochas ornamentais, serão transcritas as equações que permitem a determinação do coeficiente de dilatação térmica linear, da resistência à flexão e do cálculo da espessura   das chapas. 

O coeficiente de dilatação térmica linear  é determinado pela seguinte expressão:                      B =              L                               Lo.T

       B  = coeficiente de dilatação térmica linear

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      L = incremento do comprimento do corpo de prova      Lo = comprimento inicial do corpo de prova      T   = incremento da temperatura  em Oº C                      O índice de resistência à  flexão  é calculado através da seguinte expressão:                                   R=    3PL                              2bd2             Onde : R= Tensão de ruptura de flexão (Mpa)P= força de ruptura (KN) (P= força de ruptura no  ensaio de tração ou flexão)L= comprimento do corpo de prova (chapa)b= largura do corpo de prova (chapa)d = espessura do corpo de prova (chapa)          Conseqüentemente a espessura da placa é calculada pela seguinte expressão:                        d2   =   3PL                                  2bR                         d  =   √3PL                                    2bR                     

No caso de revestimento de fachadas P é considerado como o valor da força exercida pelo vento, no caso das pedras de teto será considerado o próprio peso do material.                                Interpretação dos Resultados de Caracterização Tecnológicas e a Sua Correlação com o  Ambiente de Aplicação.  

De posse dos resultados das análises petrográficas e dos ensaios de caracterização tecnológica, podemos definir as possibilidades de emprego da rocha  para fins ornamentais. A Tabela 1 apresenta os valores limites estabelecidos pela Norma ASTM para os diferentes ensaios tecnológicos.   TABELA 1- Valores  Limites  Especificados  pela ASTM para Propriedades de Rochas  Usadas como

Revestimentos.

TIPO DE ROCHA

DENSIDADE( Kg/m3)

(ASTM C97)

ABSORÇÃO(%)

(ASTM C97)

COMPRESSÃO UNIAXIAL (Mpa)

ASTM C 170)

MÓDULO DE

RUPTURA( Mpa)

( ASTMc99)

FLEXÃO( Mpa)

( ASTM c880)

ESPECIFECACÃO( ASTm)

Granito > 2500 < 0,40 >31 > 10,34 > 8,27 C 615-92

Mármore  Travertino  Calcítico  Serpentínico  Dolomítico

>2595>2800> 2690> 2305

<   0,75 > 52 > 7 C 503-89

Calcário   baixa densidade   média densidade   alta densidade

1760-21602160-2560

<12,0<   7,5< 3,0

.>   12> 28> 55

> 2,9>  3,4>   6,9

C 568-89

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>2560

Arenito>60% SiO2> 90% SiO2>   95% SiO2

>2160>2400>2500

< 20,0<   3,0<   1,0

.> 13,8> 68,9> 137,9

> 2,1> 6,9> 13,9

C 616-89

FONTE : FRAZÃO E FARJALLAT ( 1996)

Na Tabela 2, ( Frazão e Farjallat, 1996), propuseram uma especificação para o emprego de mármores e granitos na construção civil.  

TABELA 2- Valores de Algumas Propriedades de Rochas Ornamentais Brasileiras.

Tipo Limites Densidade( Kg/m3)

Porosidade( % )

Absorção( %)

Desgaste(mm)

Impacto(m)

CompressãoUniaxial( Mpa)

Flexão(Mpa)

DilataçãoTérmica

( 10  mm/mº

C)

GranitosLato Sensu( N=158)

Mínimo 2545 0,07 0,02 0,34 0,22 52 7,4 5,1

Máximo 3504 2,92 1,14 2,02 0,98 323 48,1 16,1

Média 2680 0,58 0,21 0,69 0,48 158 18,5 9,4

MármoreLato Sensu ( N=19)

Mínimo 2606 0,02 0,01 1,19 0,22 37 6,0 3,2

Máximo 3035 2,62 1,01 8,08 0,88 214 28,5 17,3

Média 2792 0,51 1,88 3,59 0,44 110 14,6 10,1

 FONTE: FRAZÃO E FARJALLAT ( 1996)

Em conseqüência, os valores obtidos constituem referências para avaliar as características da rocha e o seu desempenho em serviço. Convém lembrar da necessidade do conhecimento das condições ambientais onde o material será aplicado, visando correlacioná-lo com os caracteres das rochas e escolher os materiais mais compatíveis com o meio físico a que se destina. Como exemplo, cita-se o granito Marrom Imperial, o qual por tratar-se de um mela-sienito é pobre em quartzo, que responde pela resistência ao desgaste. Este fato, aliado ao predomínio do feldspato e a sua textura grosseira porfirítica, resulta em um baixo índice de resistência ao atrito, em conseqüência esta rocha quando aplicada em revestimentos verticais de interiores e exteriores respondem favoravelmente ao uso. Mas quando utilizada na condição de pisos sofre acentuado desgaste por abrasão e perde o brilho, tornando-se um material fosco.  

Convém citar que o aparecimento de certas patologias, tais como; manchamento, eflorescência de sais minerais, pontos de oxidação e de dissolução, resultam do alto índice de porosidade, permeabilidade e absorção d’água das rochas.  As quais na maioria das vezes, ao absorverem água provocam o carreamento de sais minerais oriundos da argamassa, que ao cristalizarem no seu interior provocam danos ao material. Tais problemas podem ser evitados com a simples elaboração e interpretação dos resultados analíticos dos materiais disponíveis. De acordo com os parâmetros obtidos, sua substituição por outras rochas, com menores índices é o mais indicado e recomendado.  

Portanto, verifica-se que durante a elaboração de um projeto de revestimento com materiais pétreos, torna-se imprescindível  uma  interpretação criteriosa desses resultados e posteriormente a adequação da  rocha  a um meio, mais condizente com as suas propriedades químico-mineralógicas e físico-mecânicas. 

Ë importante ressaltar a necessidade da realização dos ensaios experimentais de alterabilidade, os quais irão definir o comportamento da rocha ante as agressividades dos agentes químicos durante o uso em serviço, ou  pela  ação do intemperismo,  principalmente, em locais de clima quente e úmido. Segundo Frasca (2001), a durabilidade da rocha está baseada no período de tempo em que ela pode manter suas características inatas em uso, sendo conseqüência das condições do ambiente de aplicação e dos caracteres físicos mecânicos das litologias empregadas. Conclui-se assim, que o respeito e adoção de tais critérios evitarão o aparecimento de patologias e contribuirá para a manutenção do padrão estético do material, propiciando a durabilidade e segurança da obra. Abaixo, seguem 4 (quatro) fotografias, onde estão ressaltadas as patologias sofridas pelas rochas, decorrentes da inadequação do material ao meio físico onde foi aplicado.

 

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Emprego da rocha Ornamental como Material de Revestimento 

O incremento de placas pétreas como revestimentos de interiores e exteriores deve-se a grande versatilidade e resistência da rocha, a qual permite aos projetistas exercitarem a sua criatividade ao proporem a adoção de formas e dimensões variáveis, de acordo com as concepções do projeto, contribuindo desse modo tanto para a beleza da obra, quanto para sua segurança. Entretanto, o uso deste material deve ser precedido de uma série de cuidados, os quais se fazem necessários desde a fase de elaboração do projeto até a utilização do revestimento.

O projeto de revestimento, com placas de rocha, deve levar em consideração os seguintes parâmetros: 

1- Escolha do material rochoso, inicialmente  a partir do aspecto estético, seguido dos valores dos resultados das análises petrográficas e dos ensaios de caracterização tecnológica. 

 2-Elaboração de material descritivo do projeto, com as especificações da rocha e dos serviços, inclusive com a

adoção de um controle de qualidade que irá definir a tolerância mínima e máxima permitida para os desvios de prumo e planeza das placas, em função do permitido para o revestimento incluindo também, as especificações dos furos, ranhuras, detalhes construtivos dos encaixes e do acabamento de borda de cada peça. 

3-Definir, em função dos valores obtidos a partir dos ensaios de determinação dos    índices de resistência à flexão, massa específica e do coeficiente de dilatação térmica linear, as espessuras e dimensões das peças, o espaçamento das juntas e a especificação dos componentes de fixação.

 4-Fazer a numeração das placas numa ordem de assentamento, principalmente se as mesmas forem oriundas de

rochas ditas movimentadas (ex. gnaisses e migmatitos). Analisar a posição dos componentes de fixação, o suporte a ser revestido e definir os esforços e as agressões químicas e físicas a que estará submetido o revestimento. 

Em síntese, a escolha de materiais pétreos para recobrimento de fachadas internas e externas, além de pisos para interiores e exteriores, somente deverão ser definidos a partir das seguintes características: aspecto estético-decorativo da rocha; avaliação da sua composição minero-petrográfica e propriedades físico-mecânicas do litótipo escolhido; definição do sistema de fixação a ser adotado e do conhecimento das cargas atuantes sobre o revestimento. Nas obras de grande porte o controle de qualidade da rocha começa na própria jazida a partir da lavra e da escolha dos blocos a serem beneficiados, passando pela industrialização, notadamente nos processos de serragem, lavagem, polimento e acabamento das placas; finalizando com uma rígida análise das peças recebidas no canteiro de obra e dos elementos e processos de fixação a serem utilizados. Durante á visita ao local da pedreira, serão observados a continuidade litológica, textural e cromática do material, além da avaliação da capacidade de produção instalada na lavra, com intuito de garantir o suprimento da obra 

 No caso de materiais com alto índice de porosidade e absorção, mas que tenham sido escolhidos em função do

projeto arquitetônico, sua utilização só deve ser feita após passarem por um processo de impermeabilização. Tal premissa, tem por base evitar o aparecimento de patologias que poderão comprometer a estética e funcionalidade do revestimento. O mesmo

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cuidado deve-se ter em função da presença dos planos de fraqueza da rocha, tais como fraturas de tensão e de cisalhamento, cujas placas portadoras não devem ser utilizadas, afim de não comprometer a segurança da obra.

 Importância do Controle de Qualidade e dos Procedimentos a Serem Adotados        Com o objetivo de evitar-se o aparecimento de patologias nos materiais aplicados como revestimento, deve-se adotar um rígido controle de qualidade nas peças a serem fixadas. Tal fato, tem por finalidade inibir em futuro próximo o aparecimento de fissuras, quebramentos, fraturas, manchas, pontos de oxidação, eflorescência e de dissolução. Convém frisar, que o aparecimento de tais defeitos, além do aspecto estético-decorativo da edificação, contribui para provocar instabilidade no revestimento, o que poderá vir ocasionar sérios problemas no futuro. Inicialmente deve-se realizar uma criteriosa análise visual das placas a serem recebidas, com a finalidade de verificar suas dimensões, planeza, desvios de prumo das peças, presença de manchas, xenólitos, veios, pontos de oxidação,  seu esquadrejamento, a posição dos furos e bitola de cada placa. Em seguida, deve ser providenciada a lavagem das peças, com o intuito de verificar a presença de fraturas. Após a elaboração desse rígido controle, as placas, fora de especificação e as portadoras de fissuras, deverão ser devolvidas e trocadas por outras em perfeitas condições de uso. 

No que concerne ao piso, às dimensões dos componentes devem ser rigorosamente avaliadas, assim como a eqüidistância das juntas entre os componentes, de modo a respeitar o coeficiente de dilatação térmica linear da rocha. É de bom alvitre observar a retilineidade do plano da placa, além da presença de fissuras e quebramentos na mesma, pois a persistência destes defeitos provocará descolamento das peças assentadas.  CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Com base nos elementos abordados, pode-se concluir que a realização dos ensaios de caracterização tecnológica, associado a um rigoroso controle de qualidade, são atividades de fundamental importância durante a execução de um projeto de aplicação de rochas ornamentais como revestimento. Salientando-se que nos paises do chamado primeiro mundo, principalmente na Itália e Alemanha, tais procedimentos fazem parte da metodologia normal de trabalho. Em função da adoção destas metodologias, nas obras lá edificadas não se notam as patologias citadas no presente texto e tão comuns em nossas edificações. Com base neste estudo é mister criar, em nossos arquitetos e construtores, a cultura do emprego da rocha ornamental, notadamente do granito, afim de que a metodologia ora apresentada passe a constituir um procedimento normal, durante a utilização de material pétreo  em nossa indústria da construção. 

Segundo Flain (2001), a análise das patologias existentes em revestimentos pétreos de fachadas, em inúmeros edifícios, constitui uma fonte de contribuição  para o aperfeiçoamento dos processos de produção desses revestimentos. A simples observação e interpretação dos mesmos podem auxiliar na escolha de rochas mais condizentes com o ambiente de aplicação, levando à  minimização de patologias e contribuindo assim para a manutenção da estética e durabilidade da edificação.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SUPERINTENDÊNCIA DE GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS DA BAHIA: AZEVEDO, Hélio Carvalho Antunes de (coord.); COSTA, Paulo Henrique de º (coord.). Catálogo de Rochas Ornamentais da Bahia- Brasil. Salvador, 1994. 148p.  FRAZÃO, Ely Borges;  FARJALLT, Jose Eduardo Siqueira. Proposta de Especificação para Rochas Silicáticas de Revestimento. In Congresso Brasileiro de Geologia de        Engenharia,8, 1996, Rio de Janeiro- Anais – Rio de Janeiro:ABGE. V-1,p. 369-380.  FRAZÃO, Ely Borges; FARJALLAT, Jose Eduardo Siqueira . Seleção de Pedras para     Revestimento para Propriedades Requeridas. São Paulo. IPT- 1996. FLAIN, Eleana Patta. Uso e Aplicação de Revestimento com Placas de Rochas. In 1º  Seminário de Rochas Ornamentais do Nordeste 1, Recife,1998. FLAIN, Eleana Patta. Processos de Assentamento de Rochas Ornamentais Como Revestimentos. In I Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 1, Salvador- Ba., 2001. FRASCÁ, Maria Heloisa B.º- Qualificação de RochaS Ornamentais Para Revestimentos de Edificações: Caracterização Tecnológica e Ensaios de Alterabilidade . In : I Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 1, Salvador- Ba., 2001. 

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MENDES, Vanildo – PAIVA, Ivo P.- Caracterização Tecnológicas de Rochas Ornamentais na Construção Civil: Estudo de Caso na Edificação do Tribunal de Justiça de Pernambuco.In;i Simpósio de rochas Ornamentais do Nordeste, 1, Salvador- Ba,2001.                          

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