Enem 2014: como fazer uma redao nota 1.000

Confira as cinco competncias cobradas na prova federal, saiba quais falhas so fatais e leia textos que obtiveram nota mxima

A pontuao atribuda correo da redao varia de 0 a 1.000 pontos. Em 2013,das 5.049.248 redaes corrigidas, 106.742 receberam nota zero. Pouco menos de 33.000 estavam em branco e cerca de 73.000 foram anuladas por desrespeitarem alguma norma da avaliao. Do outro lado, apenas 481 conquistaram a to sonhada nota 1.000.

No existe uma frmula perfeita para tirar nota mxima na redao do Enem, mas algumas orientaes so importantes garantir um bom resultado.

Confira as principais orientaes nas listas abaixo:

As cinco competncias avaliadas na redao do Enem

1.Domnio da norma padro da lngua escritaNessa competncia, o avaliador espera que o candidato demonstre conhecimento da modalidade escrita formal da lngua. Em outras palavras, que ele saiba que existe diferena entre a fala e a escrita.

Existem algumas palavras que usamos no dia a dia que a norma culta no reconhece na escrita padro, diz Dran Ferreira, professor de lngua portuguesa e redao do Cursinho da Poli. Como exemplo podemos citar o verbo ter no sentido de existir, que muito usado em conversas informais, mas que na redao deve dar lugar a existir ou haver.

O texto dissertativo-argumentativo precisa ser claro, objetivo e direto. preciso ficar atento principalmente obedincia s regras de concordncia nominal e verbal, pontuao, flexo de nomes e verbos e grafia das palavras, diz Francisco Plato Savioli, supervisor de portugus do Anglo Vestibulares.

2.Compreenso da proposta e escrita de um texto dissertativoNessa segunda competncia, o aluno avaliado de acordo com a compreenso da proposta de redao esta exige que o candidato escreva um texto dissertativo-argumentativo, um tipo de texto que demonstra a verdade de uma ideia ou uma tese.

A 'fuga do tema' um dos erros mais comuns e pode render nota zero na redao, diz Francisco Plato Savioli, supervisor de portugus do Anglo Vestibulares. O professor conta que a maioria dos alunos falha em dois aspectos: no l por completo todos os textos de apoio ou a proposta e se concentra apenas em um dos itens pedidos.

Os textos de apoio servem apenas para despertar uma reflexo sobre o tema. preciso evitar ficar preso s ideias apresentadas neles. Pense bem sobre o tema que foi proposto e decida como abord-lo, qual ser seu ponto de vista e como ir defend-lo, diz Savioli.

3.Defender um ponto de vista e argumentar bemO terceiro aspecto a ser avaliado a forma como o participante da prova seleciona, relaciona, organiza e interpreta informaes, fatos, opinies e argumentos em defesa do seu ponto de vista. A ideia a ser defendida precisa estar clara no texto e necessrio trazer argumentos que justifiquem a sua posio em relao temtica proposta na redao.

"O estudante deve trazer um repertrio amplo para que consiga sustentar seus argumentos", diz Francisco Plato Savioli, supervisor de portugus do Anglo Vestibulares. A ideia que a redao no desperte nenhum tipo de contestao ao leitor, diz Savioli.

4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos lingusticosNessa competncia, o avaliador ir julgar a estrutura do texto e apresentao da argumentao. Os mecanismos lingusticos, que so basicamente palavras que conectam as declaraes, so essenciais para desenvolver as ideias sobre o tema proposto de maneira clara e lgica.

As frases e os pargrafos devem estabelecer uma relao entre si e garantir uma sequncia coerente do texto. Nesse caso, os conectivos como 'e', 'tambm', 'mas' e 'porque' so grandes aliados, diz Dran Ferreira, professor de lngua portuguesa e redao do Cursinho da Poli.

Para garantir a coerncia do texto, tambm preciso ficar atento utilizao de preposies, conjunes, advrbios e locues adverbiais. Esses recursos possibilitam uma correlao entre oraes, frases e pargrafos.

5.Elaborar proposta de interveno para o problema abordadoA ltima competncia avalia se o candidato apresenta uma proposta de interveno ao problema em questo. Nessa parte, fundamental detalhar meios que respeitem os direitos humanos, o que implica em no romper com valores como cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural.

Muitos candidatos resumem essa parte do texto em um desejo ou um aconselhamento, sugerindo que o governo ou a sociedade faa algo, entretanto esse procedimento no suficiente., diz Francisco Plato Savioli, supervisor de portugus do Anglo Vestibulares.

O professor alerta que importante que o candidato trabalhe detalhadamente alguns aspectos: escrever exatamente o que deve ser feito, por quem deve ser feito, como deve ser feito, para quem deve ser feito e para que deve ser feito.

Como feita a correo das provas de redao

1.Duas avaliaes iniciais

A redao do Enem lida por dois avaliadores. Cada um deles atribui notas de 0 a 200 a cada uma das cinco competncias avaliadas.

A nota final do candidato a mdia dos conceitos atribudos pelos dois avaliadores. A nota varia de 0 a 1.000.

2.O terceiro avaliador

H casos em que um terceiro avaliador convocado elaborar a nota final da redao. Isso acontece em duas situaes: 1. quando h uma diferena de 100 ou mais pontos entre as notas finais atribudas pelos dois primeiros avaliadores 2. quando h uma diferena de 80 pontos em alguma das competncias avaliadas Se a diferena entre a nota do terceiro avaliador e a dos demais corretores no for superior a 100 pontos, o conceito final do parcipante ser a mdia das duas notas que mais se aproximam.

3.Avaliao final

Nos casos em que a diferena de 100 pontos entre os trs avaliadores persiste, uma banca composta por outros trs profissionais convocada. Aps a avaliao dos trs integrantes, uma nova nota atribuda ao candidato.

Por que uma redao recebe zero

1. Fuga do tema

A redao elaborada pelos participantes do Enem deve estar relacionada ao tema proposto pelos examinadores e aos textos motivadores apresentados na prova. A fuga total do tema resulta em nota zero na correo. Desde 2013, os candidatos que escrevem em sua redao trechos ou pargrafos sem ligao com o tema proposto tambm tm a redao anulada.

O Ministrio da Educao (MEC) implantou a norma para evitar deboches como os ocorridos na prova de 2012. Naquela edio, participantes incluram nos textosreceita de macarro instantneoe athino de clube de futebol. Assim mesmo, obtiveram pontuao relativamente boa.

2. Folha em branco

Fique atento para no entregar a folha de redao em branco. Mesmo que seu texto esteja escrito na folha de rascunho, no se esquea de pass-lo a limpo para a folha de redao. Cuidado tambm com o nmero de linhas. Um texto que apresenta at sete linhas considerado insuficiente, independente do contedo. Alm disso, se a redao apresentar linhas com cpia dos textos motivadores, esses trechos so anulados e somente o restante da redao ser avaliado.

3. Dissertao x narrao

O exame federal exige um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo. Ou seja, um texto em que o autor apresenta argumentos para discutir um tema proposto, acrescentando seu ponto de vista a respeito. importante lembrar que o Enem no aceita outros tipos de textos, como a narrao e a poesia, que rendem zero a seus autores.

4. Insultos, desenhos...

A redao no pode apresentar insultos. Isso significa que qualquer tipo de xingamento levar a uma nota zero. Tambm esto proibidos desenhos na folha de resposta. Nesses casos, considera-se que o candidato est zombando dos avaliadores.

5. Desrespeito aos direitos humanos

Nenhuma posio adotada pelos participantes na redao do Enem pode desrespeitar os direitos humanos. Na prtica, isso significa que no so aceitas afirmaes consideradas ofensivas a pessoas e as diferenas entre raas, sexos e cultura, por exemplo. O desrespeito aos direitos humanos punido com a anulao da redao.

Redaes nota 1.000 no Enem comentadas por professores

Leia a ntegra de dois textos apresentados por estudantes em edies passados da prova. Abaixo de cada pargrafo, em vermelho, esto os comentrios dos professores Tiago Fernandes, do CPV Vestibulares, e Eclcia Pereira, do Cursinho da Poli, respectivamente.

REDAO 1Redes sociais: o uso exige cautela'

"Redes sociais: o uso exige cautela", por Camila Pereira Zucconi Viosa-MG um timo TTULO e j indica a posio da candidata sobre o tema.

Uma caracterstica inerente s sociedades humanas sempre buscar novas maneiras de se comunicar: cartas, telegramas e telefonemas so apenas alguns dos vrios exemplos de meios comunicativos que o homem desenvolveu com base nessa perspectiva. E, atualmente, o mais recente e talvez o mais fascinante desses meios so as redes virtuais, consagradas pelo uso, que se tornam cada vez mais comuns. (A contextualizao desta INTRODUO muito boa. A candidata acerta ao citar a evoluo sofrida pelos meios de comunicao.)

Orkut, Twiter e Facebook so alguns exemplos das redes sociais (virtuais) mais acessadas do mundo e, convenhamos, a popularidade das mesmas se tornou tamanha que no ter uma pgina nessas redes praticamente como no estar integrado ao atual mundo globalizado. Atravs desse novo meio as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro, compartilham ideias e opinies, organizam movimentos, como os que derrubaram governos autoritrios no mundo rabe e, literalmente, se mostram para a sociedade. Nesse momento que nos convm cautela e reflexo para saber at que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem. (A autora do texto entendeu satisfatoriamente a proposta. Ao desenvolver sua ideia, mostra um conhecimento de mundo amplo, citando amizades, informaes disseminadas e movimento polticos. Cabe destacar um ponto negativo na passagem: o uso do termo "convenhamos", tpico da lngua falada e que deve ser evitado em textos mais formais.)

No saber os limites da nossa exposio nas redes virtuais pode nos custar caro e colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. Afinal, a partir do momento em que colocamos informaes na rede, foge do nosso controle a conscincia das dimenses de at onde elas podem chegar. Sendo assim, apresentar informaes pessoais em tais redes pode nos tornar um tanto quanto vulnerveis moralmente. (A primeira frase bastante adequada. A partir dela, so discutidos prejuzos integridade do indivduo em razo do mau uso das redes sociais.)

Percebemos, portanto, que o novo fenmeno das redes sociais se revela como uma eficiente e inovadora ferramenta de comunicao da sociedade, mas que traz seus riscos e revela sua faceta perversa queles que no bem distinguem os limites entre as esferas pblicas e privadas jogando na rede informaes que podem prejudicar sua prpria reputao e se tornar objeto para denegrir a imagem de outros, o que, sem dvidas, um grande problema. (O pargrafo relaciona as duas ideias desenvolvidas anteriormente, o que positivo. H, contudo, um reparo a ser feito: a utilizao de um nico e longo perodo. Essa construo deve ser evitada, pois d margem a erros e dificulta a leitura.)

Dado isso, essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usurios da rede tenham plena conscincia de que tornar pblica determinadas informaes requer cuidado e, acima de tudo, bom senso, para que nem a prpria imagem, nem a do prximo possa ser prejudicada. Isso poderia ser feito pelos prprios governos de cada pas, e pelas prprias comunidades virtuais atravs das redes sociais, afinal, se essas revelaram sua eficincia e sucesso como objeto da comunicao, sero, certamente, o melhor meio para alertar os usurios a respeito dos riscos de seu uso e os cuidados necessrios para tal. (A soluo sugerida nesta CONCLUSO adequada porque procura combater o problema apresentado: a confuso entre pblico e privado. A autora faz um apelo ao bom senso, acrescentando que estado e comunidades virtuais devem cooperar no assunto. A posio satisfaz a orientao do Enem, que demanda do estudante uma proposta de interveno especfica e realizvel.)

REDAO 2

Redao de Alline Rodrigues da Silva

Redao sem ttulo de autoria de Alline Rodrigues da Silva (Uberaba-MG)A crescente popularizao do uso da internet em grande parte do globo terrestre uma das principais caractersticas do sculo XXI. Tal popularizao apresenta grande relevncia e gera impactos sociais, polticos e econmicos na sociedade atual. Nesta INTRODUO, a estudante opta por iniciar tratando do fenmeno da internet, deixando de fora a questo pblico/privado. Assim mesmo, ela deixa claro que entendeu a proposta, ao abordar o assunto logo no incio do pargrafo seguinte. O emprego da expresso "tal popularizao" garante a ligao entre as ideias, o que essencial para a coeso do texto.

Um importante questionamento em relao a esse expressivo uso da internet o fato de existir uma linha tnue entre o pblico e privado nas redes sociais. Estas, constantemente so utilizadas para propagar ideias, divulgar o talento de pessoas at ento annimas, manter e criar vnculos afetivos, mas, em contrapartida tambm podem expor indivduos mais do que o necessrio, em alguns casos agredindo a sua privacidade. Ao escolher expresses como "uma linha tnue", "propagar ideias" e "vnculos afetivos", a autora expressa viso crtica sobre o assunto. Problemas de pontuao: uso errado de vrgulas nos trechos "Estas, constantemente so..." (seperando sujeito e verbo) e "... mas, em contrapartida tambm" (falta o sinal aps "contrapartida"). Apesar disso, os erros no comprometem a clareza do raciocnio.

Recentemente , ocorreram dois fatos que exemplificam ambas as situaes. A Primavera rabe, nome dado a uma srie de revolues ocorridas em pases rabes, teve as redes sociais como importante meio de disseminao de ideias revolucionrias e conscientizao desses povos dos problemas polticos, sociais e econmicos que assolam esses pases. Neste caso, a internet agiu e continua agindo de forma benfica, derrubando governos autoritrios e pressionando melhorias sociais. O argumento tem estreita relao com a tese defendida e revela um raciocnio lgico da aluna.

Em outro caso, bastante divulgado tambm na mdia, a internet serviu como instrumento de violao da privacidade. Fotos ntimas da atriz hollywoodiana Scarlett Johansson foram acessadas por um hacker atravs de seu celular e divulgadas pela internet para o mundo inteiro, causando um enorme constrangimento para a atriz. Os argumentos so precisos e evidenciam o carter analtico do texto. Os exemplos escolhidos cumprem o papel de fundamentar as crticas e validar a proposta futura de que h necessidade de conscientizao em relao s informaes postadas nas redes.

Analisando situaes semelhantes s citadas anteriormente, conclui-se que necessrio que haja uma conscientizao por parte dos internautas de que aquilo que for uma utilidade pblica ou algo que no agrida ou exponha um indivduo pode e deve ser divulgado. J o que for privado e extremamente pessoal deve ser preservado e distanciado do mundo virtual , que compartilha informaes para um grande nmero de pessoas em um curto intervalo de tempo. Dessa forma, situaes realmente desagradveis no incrvel universo da internet sero evitadas. Nesta CONCLUSO, o mrito da soluo no est na inovao absoluta da proposta, mas na articulao clara e coerente com a tese defendida pela candidata desde o incio do texto, alm do reconhecimento de que o meio virtual "incrvel", ou seja, no representa um mal por si s.