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Ilvana Lima Verde GomesEnfermeira Doutora em S a uacute d e C o l e t i v a p e l a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Docente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e D o u t o r a d o ) d a Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenadora d o C o m i t ecirc d e Eacute t i c a e m Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e enfermeira - Secretaria da Sauacutede do Estado do Cearaacute
Joana Mary Soares NobreFisioterapeuta Mestra em S a uacute d e P uacute b l i c a p e l a Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Eacute docente do C u r s o d e F i s i o t e r a p i a e coordenadora do Programa de Responsabilidade Social d o C e n t r o U n i v e r s i t aacute r i o Estaacutecio do CearaacuteDiscente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo e m S a uacute d e C o l e t i v a (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
POLIacuteTICA GESTAtildeO E SAUacuteDENO CONTEXTO DA COLETIVIDADEConcepccedilatildeo dos alunos e professoresde Sauacutede Coletiva
Ilvana Lima Verde GomesJoana Mary Soares NobreLeandro Arauacutejo Carvalho
(organizadores)
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presente obra eacute constituiacuteda dos resultados Ade pesquisas referenciadas a partir de inquietaccedilotildees de docentes e discentes nas diversas temaacuteticas no contexto da Sauacutede Coletiva da Universidade Estadual do Cearaacute e de convidados externos sinalizando integraccedilatildeo dos pares na perspectiva de subsidiar o puacuteblico de leitores com material atual e diversificado que perpassa nos toacutepicos Poliacutetica e Gestatildeo em Serviccedilos de Sauacutede Enfoque Ecossistecircmico e suas interfaces no controle da dengue Participaccedilatildeo Social Epistemologias Temaacuteticas e Sauacutede Mental E assim poderaacute contribuir de forma efetiva e sistemaacutetica para a Promoccedilatildeo da sauacutede
Cleoneide Paulo Oliveira PinheiroDocente do Centro Universitaacuterio Estaacutecio do Cearaacute
Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Mestre em Sauacutede Coletiva pela
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Discente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em
Sauacutede Coletiva (Doutorado) da
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Ilvana Lima Verde GomesEnfermeira Doutora em S a uacute d e C o l e t i v a p e l a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Docente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e D o u t o r a d o ) d a Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenadora d o C o m i t ecirc d e Eacute t i c a e m Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e enfermeira - Secretaria da Sauacutede do Estado do Cearaacute
Joana Mary Soares NobreFisioterapeuta Mestra em S a uacute d e P uacute b l i c a p e l a Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Eacute docente do C u r s o d e F i s i o t e r a p i a e coordenadora do Programa de Responsabilidade Social d o C e n t r o U n i v e r s i t aacute r i o Estaacutecio do CearaacuteDiscente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo e m S a uacute d e C o l e t i v a (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
POLIacuteTICA GESTAtildeO E SAUacuteDENO CONTEXTO DA COLETIVIDADEConcepccedilatildeo dos alunos e professoresde Sauacutede Coletiva
Ilvana Lima Verde GomesJoana Mary Soares NobreLeandro Arauacutejo Carvalho
(organizadores)
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presente obra eacute constituiacuteda dos resultados Ade pesquisas referenciadas a partir de inquietaccedilotildees de docentes e discentes nas diversas temaacuteticas no contexto da Sauacutede Coletiva da Universidade Estadual do Cearaacute e de convidados externos sinalizando integraccedilatildeo dos pares na perspectiva de subsidiar o puacuteblico de leitores com material atual e diversificado que perpassa nos toacutepicos Poliacutetica e Gestatildeo em Serviccedilos de Sauacutede Enfoque Ecossistecircmico e suas interfaces no controle da dengue Participaccedilatildeo Social Epistemologias Temaacuteticas e Sauacutede Mental E assim poderaacute contribuir de forma efetiva e sistemaacutetica para a Promoccedilatildeo da sauacutede
Cleoneide Paulo Oliveira PinheiroDocente do Centro Universitaacuterio Estaacutecio do Cearaacute
Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Mestre em Sauacutede Coletiva pela
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Discente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em
Sauacutede Coletiva (Doutorado) da
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Universidade Estadual do Cearaacute
ReitorJoseacute Jackson Coelho Sampaio
Vice-ReitorHidelbrando dos Santos Soares
Editora da UECEErasmo Miessa Ruiz
Conselho EditorialAntonio Luciano Pontes
Eduardo Diatahy Bezerra de MenezesEmanuel Angelo da Rocha Fragoso
Francisco Horaacutecio da Silva FrotaFrancisco Josecircnio Camelo Parente
Gisafran Nazareno Mota JucaacuteJoseacute Ferreira Nunes
Lucili Grangeiro CortezLuiz Cruz Lima
Manfredo RamosMarcelo Gurgel Carlos da Silva
Marcony Silva CunhaMaria do Socorro Ferreira Osterne
Maria Salete Bessa JorgeSilvia Maria Noacutebrega Terrien
Conselho ConsultivoAntonio Torres Montenegro (UFPE)
Eliane PZamith Brito (FGV)Homero Santiago (USP)
Ieda aacuteria Alves (USP)Manoel Domingos Neto (UFF)
Maria Liacuterida Callou de Arauacutejoe Mendonccedila(UNIFOR)Maria do Socorro Silva Aragatildeo (UFC)Pierre Salama (Universidade de Paris)
Romeu Gomes (Fiocruz)Tuacutelio Batista Franco (UFF)
Ilvana Lima Verde GomesJoana Mary Soares NobreLeandro Arauacutejo Carvalho
Organizadores
POLIacuteTICA GESTAtildeO E SAUacuteDE NO CONTEXTO DA COLETIVIDADE
Concepccedilatildeo dos alunos e professores de Sauacutede Coletiva
1a
Fortaleza2014
UECE
POLIacuteTICA GESTAtildeO E SAUacuteDE NO CONTEXTO DA COLETIVIDADE Concepccedilatildeo dos alunos e professores de Sauacutede Coletiva
copy 2014 Copyright by Ilvana Lima Verde Gomes Joana Mary Soares Nobre e Leandro Arauacutejo Carvalho
Impresso no Brasil Printed in BrazilEfetuado depoacutesito legal na Biblioteca Nacional
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Editora da Universidade Estadual do Cearaacute ndash EdUECEAv Dr Silas Munguba 1700 ndash Campus do Itaperi ndash Reitoria ndash Fortaleza ndash Cearaacute
CEP 60714-903 ndash Tel (085) 3101-9893 FAX (85) 3101-9893Internet wwwuecebreduece ndash E-mail edueceuecebr
Editora filiada agrave
Coordenaccedilatildeo EditorialErasmo Miessa Ruiz
RevisatildeoVianney Campos de Mesquita
Projeto Graacutefico e CapaJuscelino Guilherme
BibliotecaacuteriaFrancisco Leandro Castro Lopes CRB 31103x
P769 Poliacutetica gestatildeo e sauacutede no contexto da coletividade concepccedilatildeo dos alunos e professores de sauacutede coletiva Ilvana Lima Verde Gomes Joana Mary Soares Nobre Leandro Arauacutejo Carvalho (Orgs) - Fortaleza EdUECE 2014 432 p il
ISBN 978-85-7826-250-1
1 Sauacutede coletiva 2 Sauacutede puacuteblica ndash Cearaacute 3 Dengue I Gomes Ilvana Lima Verde II Nobre Joana Mary Soares III Carvalho Leandro Arauacutejo
CDD 614
AUTORESORGANIZADORES
Ilvana Lima Verde GomesEnfermeira Doutora em Sauacutede Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Docente do Programa de Poacutes-gra-duaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE)Coordenadora do Comi-tecirc de Eacutetica em Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) -Secretaria da Sauacutede do Estado do Cearaacute
Joana Mary Soares NobreFisioterapeuta Mestra em Sauacutede Puacuteblica pela Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Docente do Curso de Fisioterapia e Coordenadora do Programa de Responsabilidade Social do Centro Universitaacuterio Estaacutecio do CearaacuteDiscente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) da Univer-sidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Leandro Arauacutejo CarvalhoProfissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica Mestre em Sauacutede Coletiva Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Pro-grama de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
AUTORESCOLABORADORES
Adriana Catarina de Souza OliveiraEnfermeira Doutora em Sauacutede PuacuteblicaUniversidad de Murcia Mestra em Gestao da Qualidade dos Servicios de SaudeUniver-sidad de Murcia Docente do Curso de Graduaccedilao em Enferma-gem e do Programa de Postgrado em Investigacioacuten em Ciencias Socio SanitariasUniversidad Catoacutelica de MurciaEspantildea
Adriana Ponte Carneiro de MatosFisioterapeuta Mestra em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE) Docente do Centro Universitaacuterio Es-taacutecio do Cearaacute
Amanda Ferreira PereiraEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE) Discente (Doutorado) do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Ana Camila Moura RodriguesEnfermeira Discente do Curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo da Qualidade em Sauacutede e Seguranccedila do Paciente- Universida-de Estadual do Cearaacute (UECE)
Ana Carolina Rocha PeixotoTerapeuta Ocupacional Doutora em Sauacutede Coletiva - Univer-sidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Ana Cleacutea Veras Camurccedila VieiraTerapeuta Ocupacional e Fisioterapeuta Mestra em Educaccedilatildeo em Sauacutede - Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Docente da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Discente (Doutorado) do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva em Associaccedilatildeo Ampla Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Universidade Es-tadual do Cearaacute (UECE) Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
Ana Maria ZuwickMeacutedica psiquiatra Discente (Doutorado) do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva em Associaccedilatildeo Ampla Uni-versidade de Fortaleza (UNIFOR) Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
Andrea CapraraMeacutedico Doutor em Antropologia - Universidade de Montreal Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Andrea Gomes LinardDoutora em Enfermagem Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeo da Uni-versidade da Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Bra-sileira (UNILAB) Bolsista do Programa BPIFUNCAP
Antocircnio Augusto Ferreira CariocaNutricionista Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo - Mestrado Nutriccedilatildeo em Sauacutede Puacuteblica ndash Universidade de Satildeo Paulo
Berenice Temoteo da SilvaEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE) Discente do Programa de Sauacutede Cole-tiva (Doutorado) da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Ciacutecera Beatriz Baratta PinheiroEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE)
Claudia sobral de Oliveira UchoaFonoaudioacuteloga Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Es-tadual do Cearaacute (UECE)
Cyntia Monteiro Vasconcelos MottaFisioterapeuta Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE) Discente do Programa de Poacutes-Gradua-
ccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Daianne Cristina RochaNutricionista Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE) Discente (Doutorado)do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Edina Silva CostaEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE)
Elaine Neves de FreitasFisioterapeuta Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Elzo Pereira Pinto JuniorFisioterapeuta Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Emilia Kelma Alves MarquesFonoaudioacuteloga Mestra em Linguiacutestica e Literatura PUC ndash MG Secretaria da Sauacutede do Estado do Cearaacute (HGF)
Ermanna Peixoto LimaAluna do Curso de EnfermagemUNILAB Bolsista IC do Pro-grama BPIFUNCAP
Francisco Joseacute Maia PintoEstatiacutestico Poacutes-Doutor em Sauacutede Coletiva - Universidade de Satildeo Paulo (USP) Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Geisy Lanne Muniz LunaEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade de For-taleza (UNIFOR)
Gutemberg dos Santos ChavesDiscente do Curso de EnfermagemUNILAB Bolsista IC do Programa Jovens Talentos para CiecircnciaCAPES
Helena Alves de Carvalho SampaioNutricionista Doutora em Farmacologia Centro de Ciecircncias da Sauacutede Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacute-de Coletiva (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Ilse Maria Tigre de Arruda LeitatildeoEnfermeira Discente (Doutorado) do Programa de Poacutes-Gra-duaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva em Associaccedilatildeo Ampla Universida-de de Fortaleza (UNIFOR) Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Mestra em Sauacutede Puacuteblica Docente do Curso de Graduaccedilatildeo em Enferma-gem da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Ilvana Lima Verde GomesEnfermeira Doutora em Sauacutede Coletiva - Universidade do Es-tado do Rio de Janeiro Docente do Programa de Poacutes-gradua-
ccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Universi-dade Estadual do Cearaacute (UECE) Coordenadora do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) - Se-cretaria da Sauacutede do Estado do Cearaacute
Jardenia Chaves DomeneguettiProfissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica Discente do Curso de Mestra-do Profissionalizante em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Docente do curso de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Joana Mary Soares NobreFisioterapeuta Mestra em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Es-tadual do Cearaacute (UECE) Docente do Centro Universitaacuterio Estaacutecio do Cearaacute Discente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Joseacute Wellington de Oliveira LimaMeacutedico Doutor em Science Tropical Public Health Univer-sidade de Harvard Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado e Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Juliana Alencar Moreira BorgesMestra em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Experiecircncia em Vigilacircncia Epidemioloacutegica investi-gaccedilatildeo de oacutebitos anaacutelise atenccedilatildeo baacutesica
Juliana Lucena de Miranda CavalcanteEnfermeira Mestra em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Juliana Pessoa CostaTerapeuta Ocupacional Discente do Programa de Poacutes-Gra-duaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE)
Krysne Kelly de Franccedila OliveiraTerapeuta ocupacional Especialista em Sauacutede Puacuteblica - Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universi-dade Estadual do Cearaacute (UECE)
Laryssa Veras AndradeEnfermeira Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cui-dados Cliacutenicos em Enfermagem e Sauacutede (Mestrado) da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Leandro Arauacutejo CarvalhoProfissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica Mestre em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Pro-grama de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Leilson Lira LimaEnfermeiro Mestre em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cuidados Cliacutenicos e Enfermagem (Doutorado) da Univer-sidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Letiacutecia Lima AguiarEnfermeira Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cui-dados Cliacutenicos em Enfermagem e Sauacutede (Mestrado) da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Curso de
Especializaccedilatildeo em Enfermagem em Nefrologia - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Liacutedia Samara de Castro SandersEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE)
Liacutellian de Queiroz CostaEnfermeira Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Lucia Conde de OliveiraAssistente Social Poacutes-Doutora em Sauacutede Coletiva pelo Ins-tituto de Sauacutede Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Docente do Curso de Serviccedilo Social e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Luiza Jane Eyre de Souza VieiraEnfermeira Doutora em Enfermagem - Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC) Professora Titular do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e Docente do Doutorado em Sauacutede Coletiva em Associaccedilatildeo Ampla - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC)
Marcelo Gurgel Carlos da SilvaMeacutedico Poacutes-Doutor em Economia da Sauacutede - Universidade de Barcelona Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Universidade Es-tadual do Cearaacute (UECE)
Mardecircnia Gomes Ferreira VasconcelosEnfermeira Mestra em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Estadual do Cearaacute Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Cearaacute Discente do Programa Poacutes Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) em Associaccedilatildeo Ampla Universi-dade de Fortaleza (Unifor) Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
Maria Celestina S de OliveiraMedica Mestra em Sauacutede puacuteblica ndash Universidade Estadual do Ceara (UECE) Residente do Hospital Geral Cesar Cals e Irman-dade Beneficente da Santa Casa de Misericoacuterdia de Fortaleza
Maria Gleiciane Lima RochaDiscente do Curso de EnfermagemUNILAB Bolsista IC do Programa BPIFUNCAP
Maria Homeacuteria Leite de Morais SampaioFisioterapeuta Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo de Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Maria Salete Bessa JorgeEnfermeira Doutora em Enfermagem - Universidade de Satildeo Paulo Docente Coordenadora do Programa de Poacutes-gradua-ccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Universi-dade Estadual do Cearaacute (UECE) e do Programa de Poacutes-Gra-duaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva em Associaccedilatildeo Ampla Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
Marilene Calderaro da Silva MungubaTerapeuta ocupacional e fisioterapeuta Poacutes-Doutora em Terapia Ocupacional Social pelo Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Satildeo Carlos (UFSCar) Doutora em Ciecircncias da Sauacutede pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Docente da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Milena Lima de PaulaPsicoacuteloga Mestra em Sauacutede Puacuteblica - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva em Associaccedilatildeo Ampla (Doutorado) Uni-versidade de Fortaleza (UNIFOR) Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
Racircndson Soares de SouzaEnfermeiro Mestre em Cuidados Cliacutenicos em Enfermagem e Sauacutede - Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Raquel Sampaio FlorecircncioEnfermeira Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Rebeka Rafaella Saraiva CarvalhoEnfermeira Mestranda em Sauacutede Coletiva pela Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Roberta Meneses de OliveiraEnfermeira Discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cuidados Cliacutenicos em Enfermagem e Sauacutede (Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Docente do Curso
de Graduaccedilatildeo em Enfermagem da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Rosileacutea Alves de SouzaEnfermeira Doutora em Enfermagem pela Universidade Fe-deral do Cearaacute Docente do Centro Universitaacuterio Estaacutecio do Cearaacute
Selma Nunes DinizEnfermeira Mestra em Sauacutede Coletiva - Universidade Esta-dual do Cearaacute (UECE)
Soraia Pinheiro Machado ArrudaDoutora em Sauacutede Coletiva - Universidade Federal do Mara-nhatildeo Docente da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Talita da Silva NogueiraDiscente do Curso de EnfermagemUNILAB Bolsista ICCNPq
Thereza Maria Magalhatildees MoreiraEnfermeira e Advogada Poacutes-Doutora em Sauacutede Coletiva Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE) Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva (Mestrado e Doutorado) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
Wilson Junior de Arauacutejo CarvalhoFonoaudioacutelogo Poacutes-Doutor pelo Programa de Poacutes-Gradua-ccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Uni-versidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Docente da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE)
SUMAacuteRIO
Agradecimentos 19Prefaacutecio 21Introduccedilatildeo 23
PARTE I - POLIacuteTICA E GESTAtildeO EM SERVIccedilOS DE SAUacuteDE
Capitulo 1- Integralidade da assistecircncia na sauacutede da mulher compreensatildeo de enfermeiros do maciccedilo de Baturiteacute 31Andrea Gomes Linard Ermanna Peixoto Lima Maria Gleiciane Lima Rocha Talita da Silva Nogueira Gutemberg dos Santos Chaves
Capitulo 2- A (in) visibilidade de dados sobre violecircncia contra crianccedila e adolescente com deficiecircncia ante as diretrizes que norteiam a proteccedilatildeo integral 48Ana Cleacutea Veras Camurccedila Vieira Geisy Lanne Muniz Luna Marilene Calde-raro da Silva Munguba Luiza Jane Eyre de Souza Vieira
Capitulo 3- Anaacutelise da produccedilatildeo do cuidado agraves crianccedilas submetidas a implante coclear em um serviccedilo terciaacuterio de sauacutede auditiva de Fortaleza 67Claudia Sobral de Oliveira Uchoa Ilvana Lima Verde Gomes Emiacutelia Kelma Alves Marques Wilson Junior de Arauacutejo Carvalho Leilson Lira de Lima Maria Salete Bessa Jorge
Capitulo 4- Obtenccedilatildeo do consentimento informado e permanecircncia do paciente em uma pesquisa cliacutenica contribuiccedilatildeo da relaccedilatildeo profissional paciente 90Edina Silva Costa Andrea Caprara Amanda Pereira Ferreira Cyntia Mon-teiro Vasconcelos Motta Selma Antunes Nunes Diniz Juliana Alencar Mo-reira Borges
PARTE 2- DENGUE PARTICIPAccedilAtildeO SOCIAL PRAacuteTICAS E SUAS INTERFACES
Capitulo 5- Implantaccedilatildeo da ecossauacutede no controle da dengue implicaccedilotildees da participaccedilatildeo social 110Joana Mary Soares Nobre Andrea Caprara Ana Carolina Rocha Peixoto Ilvana Lima Verde Gomes Rosileacutea Alves de Souza
Capitulo 6- Participaccedilatildeo social e equidade de gecircnero no controle da dengue um processo de implantaccedilatildeo da ecossaacuteude 130Joana Mary Soares Nobre Andrea Caprara Krysne Kelly de Franccedila Oliveira Ana Carolina Rocha Peixoto
Capitulo 7- Praacuteticas de prevenccedilatildeo da dengue sob o olhar das famiacutelias dos profissionais de sauacutede e dos atores envolvidos no programa de controle do vetor 151Edina Silva Costa Andrea Caprara Amanda Pereira Ferreira Cyntia Mon-teiro Vasconcelos Motta Selma Antunes Nunes Diniz Juliana Alencar Mo-reira Borges
Capitulo 8- Significados e dimensotildees do controle do dengue concepccedilotildees de uma comunidade participativa no Municiacutepio de Fortaleza-CE 171Cyntia Monteiro Vasconcelos Motta Krysne Kelly de Franccedila Oliveira Elaine Neves de Freitas Edina Silva Costa Andrea Caprara
Capitulo 9- O discurso do sujeito coletivo sobre sauacutede direito agrave sauacutede e participaccedilatildeo 194Berenice Temoteo da Silva Luacutecia Conde de Oliveira Maria Homeacuteria Leite de Morais Sampaio
PARTE 3- DIVERSIDADES EPISTEMOLoacuteGICAS TEMAacuteTICAS
Capitulo 10- Envelhecimento Populacional dos aspectos histoacutericos do envelhecimento ao perfil demograacutefico de idosos do Cearaacute 217Juliana Lucena de Miranda Cavalcante Liacutellian de Queiroz Costa Elzo Pereira Pinto Junior Edina Silva Costa Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Capitulo 11- Subsiacutedios para Pesquisas sobre a Obesidade a influecircncia da infecccedilatildeo pelo Helicobacter pylori sobre o estado nutricional 236Helena Alves de Carvalho Sampaio Daianne Cristina Rocha Ciacutecera Beatriz Baratta Pinheiro Antocircnio Augusto Ferreira Carioca Soraia Pinheiro Macha-do Arruda Joseacute Wellington de Oliveira Lima
Capitulo 12 - Caracterizaccedilatildeo sociodemograacutefica e de atividade fiacutesica em escolares adultos jovens 253Laryssa Veras Andrade Thereza Maria Magalhatildees Moreira Raquel Sampaio Florecircncio Leandro Arauacutejo Carvalho
Capitulo 13 - Mortalidade infantil anaacutelise de fatores de risco em uma capital do Nordeste brasileiro 270Liacutedia Samara de Castro Sanders Jardenia Chaves Domeneguetti Francisco Joseacute Maia Pinto
Capiacutetulo 14- Humanizaccedilatildeo do parto estudo etnograacutefico em uma maternidade puacuteblica de Fortaleza 293Andrea Caprara Maria Celestina S de Oliveira
Capiacutetulos 15 - Avaliaccedilatildeo das necessidades de familiares de pacientes em unidade de terapia intensiva pediaacutetrica 315 Ilse Maria Tigre de Arruda Leitatildeo Ana Camila Moura Rodrigues Rober-ta Meneses de Oliveira Adriana Catarina de Souza Oliveira Letiacutecia Lima Aguiar Marcelo Gurgel Carlos da Silva
PARTE 4- SAUacuteDE MENTAL E SUBJETIVIDADE
Capiacutetulo 16- Familiares que acompanham usuaacuterios de crackpara o cuidado em Centro de Atenccedilatildeo psicossocial de Aacutelcool e Drogas (CAPS AD) 341Milena de Lima de Paula Maria Salete Bessa Jorge
Capiacutetulo 17- Comportamento de crianccedilas e praacuteticas educativas parentais na contemporaneidade com um rdquoremedinhordquo eacute mais faacutecil 367Ana Maria Zurick Maria Salete Bessa Jorge
Capitulo 18 ndash Itineraacuterio terapecircutico de famiacutelia de pessoas com transtorno mental em crise fluxos e redes de compromissos 389Juliana Pessoa Costa Mardecircnia Gomes Ferreira Vasconcelos Rebeka Rafaella Saraiva Carvalho Maria Salete Bessa Jorge
Capitulo 19 - Planejamento de accedilotildees desinstitucionalizantes com vistas agrave consolidaccedilatildeo do acesso agrave rede assistencial de sauacutede mental 409Racircndson Soares de Sousa Maria Salete Bessa Jorge
AGRADECIMENTOS
A Deus por sua infinita bondadeAo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva
(CCS) da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) por nos dar esta oportunidade e incentivo
A Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) pelo apoio e importacircncia no nosso meio
Aos Docentes discentes profissionais de sauacutede partici-pantes das pesquisas e convidados externos que trouxeram preciosas contribuiccedilotildees e disponibilizaram suas expertises com amor para agregar valores na elaboraccedilatildeo de cada capiacute-tulo que compotildee essa obra aleacutem do prefaacutecio e posfaacutecio e da introduccedilatildeo
Aos familiares que nos apoiaram em toda a trajetoacuteria de nossas vidas em busca de crescimento e maturidade no uni-verso da pesquisa e nos presentearam com o alicerce funda-mental para prosseguir aspirando agrave concretizaccedilatildeo de nossos sonhos
A elaboraccedilatildeo de um livro implica em muitas tarefas e en-volve diversas pessoas tanto as que iratildeo escrever seus capiacutetulos como os que satildeo convidados para fazer prefaacutecio introduccedilatildeo e posfaacutecio organizadores a editora o diagramador parece-ristas e tantos outros natildeo menos importantes A todas essas pessoas que colaboraram conosco neste sonho de publicar um livro o nosso agradecimento
PREFAacuteCIO
O livro ldquoPOLIacuteTICA GESTAtildeO E SAUacuteDE NO CONTEX-TO DA COLETIVIDADE concepccedilatildeo dos alunos e professo-res de Sauacutede Coletivardquo traz uma contribuiccedilatildeo relevante para o campo da sauacutede coletiva pois satildeo recortes de dissertaccedilotildees pro-duzidas no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede Coletiva da Universidade Estadual do Cearaacute programa esse que ao longo dos anos vem contribuindo na formaccedilatildeo de profissionais tanto do nosso Estado como de outros Estados brasileiros
A parceria de professores e alunos na construccedilatildeo das dis-sertaccedilotildees e nos recortes para os capiacutetulos fortaleceu a visatildeo que encontrou-se na sauacutede coletiva a multidisciplinar inter-disciplinar e transdisciplinar jaacute que houve participaccedilatildeo de en-fermeiros nutricionistas fisioterapeutas educadores fiacutesicos meacutedicos psicoacutelogos fonoaudioacutelogos odontoacutelogos unidos na construccedilatildeo de saberes e praacuteticas
Os capiacutetulos deste livro podem servir de fonte de pesquisa para gestores profissionais e estudantes para a elaboraccedilatildeo de projetos ou para embasamento teoacuterico relacionados ao Siste-ma Uacutenico de Sauacutede e a formaccedilatildeo de pessoal
O livro em questatildeo possibilitaraacute de forma significativa a aacuterea de sauacutede coletiva Apresenta um conjunto de dezenove capiacutetulos dividido em quatro as quais se denominam em par-tes Parte I - Poliacutetica e Gestatildeo em Serviccedilos de Sauacutede Parte 2- Dengue Participaccedilatildeo Social Praacuteticas e suas Interfaces Parte 3- Diversidades Epistemoloacutegicas Temaacuteticas e Parte 4- Sauacutede Mental e Subjetividade baseados em dissertaccedilotildees e teses do Programa de Poacutes-Graduaccedilotildees em Sauacutede Coletiva da Universi-dade Estadual do Cearaacute
O livro tem como meacuterito estreitar a parceria entre alunos docentes do PPSAC com a finalidade de promoccedilatildeo da escrita acadecircmica
Enfim deseja-se a todos uma boa leitura e que haja cresci-mento teoacuterico-metodoloacutegico possibilitando um agir para pes-quisa e sua interlocuccedilatildeo com a praacutetica e mudanccedilas no processo de trabalho em que a pesquisa seja a mola propulsora
Ilvana Lima Verde GomesJoana Mary Soares NobreLeandro Arauacutejo carvalho
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1 INTRODUccedilAtildeO
Eacute com grande alegria que atendo ao convite do Mestra-do de Sauacutede Coletiva da Universidade do Estado do Cearaacute para escrever a apresentaccedilatildeo dessa obra organizada por Ilvana Gomes Joana Nobre e Leandro Carvalho que abrange as con-cepccedilotildees de alunos e professores de Sauacutede Coletiva sobre um conjunto de temaacuteticas muito relevantes neste campo
Comeccedilo ressaltando o papel deste esforccedilo editorial em contribuir para o fortalecimento de uma cultura da publicaccedilatildeo acadecircmica no paiacutes jaacute que urge cada vez mais que a Univer-sidade se coloque perante a sociedade sem ficar voltada em si mesma ou limitada tatildeo-somente a sua funccedilatildeo formadora mas sendo tambeacutem espaccedilo de disseminaccedilatildeo do conhecimento produzido entre seus muros Trata-se de importante iniciativa de publicizaccedilatildeo dos trabalhos elaborados que contribui para reforccedilar a necessaacuteria descentralizaccedilatildeo e deslocamento na pro-duccedilatildeo de conhecimento nos cursos de poacutes-graduaccedilatildeo no paiacutes do eixo sulsudeste
Consoante com a visatildeo da Sauacutede Coletiva enquanto cam-po de saberes e praacuteticas sobre o processo sauacutededoenccedila em suas dimensotildees materiais e simboacutelicas bem como das respos-tas sociais organizadas para seu enfrentamento os trabalhos destacam-se pela dimensatildeo interdisciplinar abrangente pela diversidade de temaacuteticas abordadas e abordagens metodoloacutegi-cas utilizadas e pelo comprometimento com as realidades de atenccedilatildeo agrave sauacutede
Igualmente digno de menccedilatildeo eacute o forte enfoque loco-re-gional das investigaccedilotildees realizadas ao mesmo tempo em que se abordam temaacuteticas absolutamente pertinentes em todo con-texto nacional Essa caracteriacutestica eleva as possibilidades de
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que muito dos conhecimentos advindos das pesquisas possam ser apropriados pelos sistemas de sauacutede locais contribuindo na melhoria e aperfeiccediloamento dos processos de cuidado ges-tatildeo e avaliaccedilatildeo dos serviccedilos do SUS no estado do Cearaacute
Sem pretender antecipar o itineraacuterio do leitor cabe trazer aqui uma breve visatildeo geral da diversidade de temas presentes nos dezenove trabalhos incluiacutedos que se organizam em tor-no de quatro eixos centrais Poliacutetica e Gestatildeo em Serviccedilos de Sauacutede Dengue Participaccedilatildeo Social Praacuteticas e suas Interfaces Diversidades Epistemoloacutegicas Temaacuteticas e Sauacutede Mental e Subjetividade
O primeiro eixo organizador mdash Poliacutetica e Gestatildeo em Serviccedilos de Sauacutede mdash se encontra representado por quatro produtos Os autores do manuscrito ldquoIntegralidade da assis-tecircncia na sauacutede da mulher compreensatildeo de enfermeiros do Maciccedilo de Baturiteacuterdquo buscaram conhecer os significados des-se conceito tatildeo polissecircmico nas accedilotildees de combate ao cacircncer ceacutervico-uterino desenvolvidas em unidades baacutesicas de sauacutede de dez municiacutepios dessa regiatildeo cearense e permitindo contri-buir na intensificaccedilatildeo e reorientaccedilatildeo das medidas direcionadas a uma condiccedilatildeo que persiste como grave problema de sauacutede em nosso meio Os resultados do estudo ldquoAnaacutelise da produ-ccedilatildeo do cuidado agraves crianccedilas submetidas a implante coclear em um serviccedilo terciaacuterio de sauacutede auditiva de Fortalezardquo sinalizam para um conjunto de elementos que podem subsidiar um aten-dimento integral de maior qualidade agravequeles que necessitam dessa tecnologia de ponta para o tratamento da surdez ainda de acesso restrito em vaacuterias de nossas localidades Fica claro a partir das discussotildees trazidas no trabalho ldquoA (in) visibilida-de de dados sobre violecircncia contra crianccedila e adolescente com deficiecircncia diante das diretrizes que norteiam a proteccedilatildeo in-
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tegralrdquo o elevado grau de desconhecimento desse problema em consequecircncia da subnotificaccedilatildeo dos casos e do despreparo profissional para lidar com a situaccedilatildeo nos serviccedilos de sauacutede que deveriam realizar seu diagnoacutestico presuntivo e tomar as providecircncias iniciais para garantir sua proteccedilatildeo Finalmente a pesquisa ldquoObtenccedilatildeo do consentimento informado e perma-necircncia do paciente em uma pesquisa cliacutenica contribuiccedilatildeo da relaccedilatildeo profissional pacienterdquo mostrou que embora a ade-satildeo inicial ao projeto de estudo estivesse relacionada agrave busca por cuidados especializados a boa qualidade da relaccedilatildeo entre usuaacuterios e profissionais revela-se fundamental para a colabo-raccedilatildeo e permanecircncia dos indiviacuteduos na investigaccedilatildeo cliacutenica
O segundo eixo mdash Dengue Participaccedilatildeo Social Praacuteti-cas e suas Interfaces mdash congrega um conjunto de produccedilotildees vinculadas ao estudo multicecircntrico ldquoPesquisa ecobiossocial sobre Dengue e Doenccedila de Chagas na Ameacuterica Latina e no Cariberdquo desenvolvido pela Universidade Estadual do Cearaacute e financiado com recursos da UNICEF e do Banco Mundial No trabalho ldquoImplantaccedilatildeo da Ecossauacutede no controle da den-gue implicaccedilotildees da participaccedilatildeo socialrdquo os autores verificam que a participaccedilatildeo de diversos atores sociais estaacute aqueacutem de seu potencial e sinalizam para um conjunto de limitantes a serem sobrepujados para a efetiva mudanccedila das condiccedilotildees subjacen-tes ao controle da doenccedila A importacircncia dessa participaccedilatildeo e a anaacutelise de aspectos mais especiacuteficos relacionados ao gecircnero para a concretizaccedilatildeo da abordagem integrada no domiacutenio da enfermidade eacute tratada na investigaccedilatildeo ldquoParticipaccedilatildeo social e equidade de gecircnero no controle da dengue um processo de implantaccedilatildeo da ecossauacutederdquo O texto ldquoPraacuteticas de prevenccedilatildeo da dengue sob o olhar das famiacutelias dos profissionais de sauacute-de e dos atores envolvidos no programa de controle do vetorrdquo
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retrata a complexidade de inserccedilotildees percepccedilotildees e envolvi-mentos dos diversos atores que devem ser levadas em conta na integraccedilatildeo de esforccedilos que efetivamente atinjam os fato-res ecobiossociais envolvidos na manutenccedilatildeo do vetor e nas accedilotildees de combate prevenccedilatildeo e controle da doenccedila O estudo de caso apresentado em ldquoSignificados e dimensotildees do contro-le do dengue concepccedilotildees de uma comunidade participativa no municiacutepio de Fortaleza-CErdquo desenvolvido em um bairro com organizaccedilatildeo comunitaacuteria soacutelida lideranccedilas comunitaacuterias e centro comunitaacuterio de referecircncia mas que mesmo assim convive com alta incidecircncia da doenccedila Seus resultados reite-ram as complexas relaccedilotildees existentes entre sauacutede ambiente e vetor que dificultam os esforccedilos de participaccedilatildeo e necessitam de integraccedilatildeo interdisciplinar que reconheccedila os saberes locais a fim de construir uma autonomia comunitaacuteria que contribua na superaccedilatildeo dos problemas Finalmente o texto apresentado no ldquoDiscurso do sujeito coletivo sobre sauacutede direito agrave sauacutede e participaccedilatildeordquo eacute oriundo de uma dissertaccedilatildeo de mestrado que investigou as concepccedilotildees de dezoito conselheiros representan-tes de usuaacuterios e trabalhadores sobre sauacutede direito agrave sauacutede e participaccedilatildeo no Conselho Municipal de Sauacutede de Crato Fica evidente o quanto ainda eacute necessaacuterio avanccedilar no compartilha-mento do poder de decisatildeo nos processos de concretizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede e como a articulaccedilatildeo dos conselheiros e seus representados pode se configurar em importante ferramenta de luta nesse sentido
Na sequecircncia as seis produccedilotildees do terceiro eixo mdash Di-versidades Epistemoloacutegicas Temaacuteticas mdash cobrem uma plura-lidade de temas abordados por diversas oacuteticas metodoloacutegicas no campo da produccedilatildeo de conhecimentos ldquoMortalidade in-fantil anaacutelise de fatores de risco em uma capital do Nordeste
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brasileirordquo mostra a importacircncia de um conjunto de fatores associados com a atenccedilatildeo agrave sauacutede da gestante e dos receacutem-nas-cidos contribuintes nesses eventos agregando elementos para que os progressos no controle do indicador em Fortaleza si-gam avanccedilando no sentido de se aproximar do recomendado pelos organismos internacionais Como tambeacutem eacute importante mirar o futuro que jaacute estaacute batendo agraves portas e que se encon-tra representado no progressivo envelhecimento populacional brasileiro a caracterizaccedilatildeo do perfil demograacutefico dos idosos cearenses no periacuteodo de 2000 a 2011 presente no texto ldquoEn-velhecimento populacional dos aspectos histoacutericos do enve-lhecimento ao perfil demograacutefico de idosos do Cearaacuterdquo pode auxiliar no desenvolvimento e direcionamento das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para esta parcela da populaccedilatildeo no estado O desenvolvimento de poliacuteticas promotoras de sauacutede bem su-cedidas necessita levar em conta as especificidades locais de clientelas especiacuteficas e o trabalho ldquoCaracterizaccedilatildeo sociode-mograacutefica e de atividade fiacutesica em escolares adultos jovensrdquo explora esses aspectos em pesquisa realizada em Maracanauacute municiacutepio de meacutedio porte localizado na regiatildeo metropolita-na de Fortaleza e premiado nacionalmente na aacuterea de atenccedilatildeo agrave sauacutede do adolescente e adulto jovem O texto ldquoSubsidian-do pesquisas para a obesidade a influecircncia da infecccedilatildeo pelo Helicobacter pylori sobre o estado nutricionalrdquo apresenta os resultados de um estudo transversal de abordagem quantita-tiva e comparativa que se dedicou a investigar os efeitos da presenccedila deste agente infeccioso sobre o estado nutricional de pacientes atendidos pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede Os autores do trabalho ldquoHumanizaccedilatildeo do parto um estudo etnograacutefico em uma maternidade puacuteblica de Fortalezardquo identificam que o modelo de atendimento agrave gestante ainda se caracteriza pelo
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caraacuteter fundamentalmente teacutecnico e sem considerar as subjeti-vidades das pacientes reforccedilando que a reconstruccedilatildeo das praacute-ticas de sauacutede mais humanizadas durante o preacute-natal ou parto satildeo ainda uma realidade ser perseguida em nossos serviccedilos Fechando este eixo a pesquisa ldquoAvaliaccedilatildeo das necessidades de familiares de pacientes em unidade de terapia intensiva pediaacute-tricardquo utilizou-se do instrumento Inventaacuterio de Necessidades e Estressores de Familiares de Pacientes Internados em Terapia Intensiva para examinar as principais categorias de necessida-des e o grau em que estas eram satisfeitas nos acompanhantes de um hospital puacuteblico de referecircncia de Fortaleza destacando a importacircncia de demandas de conhecimentoinformaccedilatildeo e acesso ao pacientes infantis
Em sua parte uacuteltima o livro apresenta um conjunto de re-flexotildees sobre Sauacutede Mental e Subjetividade O capiacutetulo ldquoFami-liares que acompanham usuaacuterios de crack para o cuidado em Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial de Aacutelcool e Drogasrdquo buscou analisar a partir de entrevistas com trabalhadores de sauacutede familiares e usuaacuterios adultos em tratamento como a famiacutelia eacute incluiacuteda nas accedilotildees desenvolvidas por estes centros Apesar do reconhecimento profissional da importacircncia desse grupo de suporte no cuidado e ressocializaccedilatildeo dos usuaacuterios de drogas as dinacircmicas familiares particulares ainda satildeo pouco conside-radas na realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees devendo adquirir forma mais personalizada para garantir um atendimento mais hu-manizado e integral que possa efetivamente contribuir para mudanccedilas mais duradouras ldquoComportamento de crianccedilas e praacuteticas educativas parentais na contemporaneidade com um lsquoremedinhorsquo eacute mais faacutecilrdquo traz um conjunto de reflexotildees sobre a frequecircncia crescente com que problemas de comportamento envolvidos eou resultantes de condiccedilotildees como dificuldades
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no aprendizado mal conduzidas desagregaccedilatildeo familiar vio-lecircncias intra e extrafamiliares precaacuterias condiccedilotildees econocircmicas e de sauacutede vem sendo medicalizados na sociedade contempo-racircnea e como esta medicalizaccedilatildeo nos serviccedilos de sauacutede men-tal pode contribuir para a patologizaccedilatildeo dos indiviacuteduos Na perspectiva de ampliar os campos de atuaccedilatildeo dos projetos te-rapecircuticos a partir de uma visatildeo integral e contextualizada do ser humano os autores do capiacutetulo ldquoItineraacuterios e redes sociais de apoio das famiacutelias de pessoas em crise psiquiaacutetrica redes e fluxos em busca do cuidado em sauacutederdquo discutem as estrateacutegias fluxos serviccedilos acessados e redes sociais de apoio utilizadas pelos familiares de indiviacuteduos com transtorno mental em situaccedilatildeo de crise atendidos em unidades de atenccedilatildeo agrave sauacutede mental do Municiacutepio de Maracanauacute localizado na regiatildeo me-tropolitana da capital cearense Fechando este eixo e o livro o manuscrito ldquoPlanejamento de accedilotildees (des)institucionalizantes com vista agrave consolidaccedilatildeo do acesso agrave rede assistencial de sauacutede mentalrdquo identificou um leque de problemas que necessitam da elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de estrateacutegias que minimizem fragi-lidades do processo de organizaccedilatildeo da RASM e intensifiquem sua interconexatildeo com as demais redes assistenciais de Forta-leza
Espera-se que os leitores apreciem a leitura escutando e reagindo com reflexotildees e accedilotildees que nos permitam avanccedilar na construccedilatildeo de melhores condiccedilotildees de vida para nossa popula-ccedilatildeo e melhores serviccedilos de sauacutede para todos
Uma boa leituraProfa Dra Rosacircngela Caetano
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ JMS)
PARTE 1
POLIacuteTICA E GESTAtildeO EM SERVIccedilOS DE SAUacuteDE
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CAPIacuteTULO 1
INTEGRALIDADE DA ASSISTecircNCIA NA SAUacute-DE DA MULHER COMPREENSAtildeO DE ENFER-MEIROS DO MACIccedilO DE BATURITeacute
Andrea Gomes LinardErmanna Peixot o Lima
Maria Gleiciane Lima RochaTalita da Silva Nogueira
Gutemberg dos Santos Chaves
INTRODUccedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo Federal Brasileira promulgada em 1988 estabelece as diretrizes para a Organizaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) e destaca a integralidade significando tratar-se de atividades preventivas sem prejuiacutezo dos serviccedilos assisten-ciais O termo integralidade estaacute descrito na Lei Orgacircnica de Sauacutede (Lei 8080 e 814290) como conjunto articulado e con-tiacutenuo de accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais e coletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de com-plexidade (BRASIL 1998)
O Programa Sauacutede da Famiacutelia (PSF) criado em 1994 tem como proposta a reorganizaccedilatildeo dos serviccedilos da Atenccedilatildeo Pri-maacuteria agrave Sauacutede contribuindo para a consolidaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) mediante a substituiccedilatildeo do modelo tra-dicional (KANTORSKIet al 2009)
Com os avanccedilos obtidos a denominaccedilatildeo Programa cede lugar agrave adoccedilatildeo do conceito Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia (ESF) considerando seu papel estrateacutegico na mudanccedila do modelo as-
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sistencial no Paiacutes Essa discussatildeo traz agrave pauta tambeacutem a neces-sidade de investimentos natildeo soacute na quantidade mas tambeacutem na qualidade das Equipes de Sauacutede da Famiacutelia em atuaccedilatildeo envi-dando esforccedilos para que o objetivo antes somente de amplia-ccedilatildeo da estrateacutegia hoje seja de sua consolidaccedilatildeo
Sendo assim o crescimento e a progressiva ampliaccedilatildeo da cobertura da ESF trazem a necessidade de reflexatildeo sobre sua ideia operacionalizaccedilatildeo e sustentabilidade o que reflete tam-beacutem na qualidade de seu desenvolvimento e da atenccedilatildeo agrave sauacute-de prestada pelas equipes (BRASIL 2005)
A ESF veio para constituir perspectiva no concernente agrave atenccedilatildeo primaacuteria substituindo o modelo biomeacutedico por novas praacuteticas assistenciais rompendo com praacuteticas cliacutenicas conven-cionais de sauacutede ensejando maior interaccedilatildeo e respeito entre profissional e usuaacuterio
Em virtude das caracteriacutesticas predominantes nas atuais praacuteticas de sauacutede e suas consequecircncias para a populaccedilatildeo dependente dos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede parece relevante a uniatildeo de esforccedilos para a constituir de uma assistecircncia que incorpore os princiacutepios do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) e ofereccedila um modelo de cuidado integral humanizado e com-prometido em garantir o direito agrave sauacutede e em atender as ne-cessidades socialmente determinadas as quais muitas vezes satildeo imperceptiacuteveis em detrimento do problema bioloacutegico que demanda o serviccedilo (BEHEREGARAY GERHARDT 2010)
O termo integralidade pode ser compreendido sob vaacuterias dimensotildees que permeiam o atendimento agrave populaccedilatildeo preco-nizado pela Constituiccedilatildeo de 1988 Tais dimensotildees direcionam a organizaccedilatildeo expansatildeo e qualificaccedilatildeo das accedilotildees e serviccedilos de sauacutede do SUS com a oferta de um elenco ampliado de servi-ccedilos como imunizaccedilotildees ateacute os serviccedilos de reabilitaccedilatildeo fiacutesica
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e mental aleacutem das accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede em caraacuteter intersetorial
A integralidade traduz-se em realizar atenccedilatildeo integrando accedilotildees de promoccedilatildeo prevenccedilatildeo assistecircncia e reabilitaccedilatildeo pro-movendo acesso aos vaacuterios niacuteveis de atenccedilatildeo e ofertando res-postas ao conjunto de necessidades de sauacutede de uma comuni-dade e natildeo apenas a um recorte de problemas A integralidade exige que a Atenccedilatildeo Baacutesica reconheccedila as necessidades de sauacutede da populaccedilatildeo e os recursos para abordaacute-las (MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE 2010)
O atendimento integral extrapola a estrutura organiza-cional hierarquizada e regionalizada da assistecircncia agrave sauacutede prolonga-se pela qualidade real da atenccedilatildeo individual e cole-tiva assegurada aos usuaacuterios do sistema de sauacutede e requisita o compromisso com o contiacutenuo aprendizado e com a praacutetica multidisciplinar (MACHADO et al 2007)
A implementaccedilatildeo da integralidade da assistecircncia talvez seja nos dias de hoje o maior desafio da sauacutede no Brasil ocor-rente em razatildeo da atual conjuntura que ainda revela um sis-tema estruturado para atender prioritariamente os pacientes com a doenccedila jaacute instalada com foco de atenccedilatildeo no agravo
Com efeito apesar dos avanccedilos obtidos com o SUS seus princiacutepios orientadores ainda natildeo satildeo uma completa realida-de no cotidiano dos serviccedilos de sauacutede Dentre os princiacutepios e diretrizes do SUS talvez o da integralidade seja o que eacute menos visiacutevel na trajetoacuteria do Sistema Uacutenico de Sauacutede e de suas praacuteti-cas As mudanccedilas no sistema com relaccedilatildeo agrave integralidade natildeo se exprimem tatildeo evidentes Elas acontecem de forma sutil mas ainda natildeo ganharam a generalizaccedilatildeo nem a visibilidade que se almeja (LINARD CASTRO CRUZ 2011)
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Nas poliacuteticas de sauacutede as accedilotildees preventivas e assistenciais tecircm impactos distintos as atividades assistenciais respondem agraves necessidades de sauacutede dos usuaacuterios e as accedilotildees preventivas modificam o quadro social de uma doenccedila modificando a de-manda futura para os serviccedilos assistenciais No que se refere agrave gestatildeo em sauacutede eacute preciso democratizar o processo de tra-balho na organizaccedilatildeo dos serviccedilos horizontalizando saberes promovendo as atividades multiprofissionais e interdiscipli-nares incorporando a renovaccedilatildeo das praacuteticas de sauacutede numa perspectiva de integralidade em que a valorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e do cuidado desponta como dimensatildeo baacutesica para a poliacutetica de sauacutede que se desenvolve ativamente no cotidiano dos serviccedilos (PINHEIRO LUZ 2003)
O profissional que busca incorporar a integralidade em seu atendimento amplia suas percepccedilotildees oferecendo uma as-sistecircncia voltada para as reais necessidades do cliente e conse-quentemente supri suas demandas de maneira mais especiacutefica e individualizada respeitando o direito universal e integral agrave sauacutede
Eacute vaacutelido salientar entretanto que a integralidade eacute o prin-ciacutepio mais negligenciado no acircmbito do SUS No iniacutecio da deacute-cada de 1990 a preocupaccedilatildeo com a integralidade limitava-se a alguns centros acadecircmicos e experiecircncias municipais pois a ecircnfase poliacutetica da eacutepoca se concentrava em questotildees de fi-nanciamento e descentralizaccedilatildeo Somente com a expansatildeo e reorientaccedilatildeo do PSF foi possiacutevel enfatizar propostas como territorializaccedilatildeo vigilacircncia em sauacutede acolhimento e viacutenculo retomando a discussatildeo da integralidade expressa pela Refor-ma Sanitaacuteria (PAIM 2009)
Assim a integralidade na Sauacutede da Mulher no que tange agraves accedilotildees de combate ao cacircncer ceacutervico-uterino configura es-
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paccedilo de praacuteticas saberes e discussotildees que dia a dia procura avanccedilar na tentativa de reduzir o perfil de mortalidade do re-ferido agravo a sauacutede
No Brasil ceacutervico-uterino eacute o tipo de cacircncer mais co-mum em algumas aacutereas menos desenvolvidas Sua ocorrecircncia se concentra principalmente em mulheres acima dos 35 anos Dentre todos os tipos de cacircncer eacute o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenccedilatildeo e cura
Como estrateacutegia de prevenccedilatildeo e controle do cacircncer ceacuter-vico-uterino a realizaccedilatildeo do exame citopatoloacutegico de Papa-nicolau eacute reconhecido mundialmente como estrateacutegia segura eficiente indolor de baixo custo e eficaz podendo ser colhido por via de infraestrutura simples e sua aplicaccedilatildeo modificou efetivamente as taxas de incidecircncia e mortalidade (SECRETA-RIA DE SAUacuteDE 2002)
As accedilotildees de prevenccedilatildeo ao cacircncer ceacutervico-uterino satildeo desenvolvidas na contextura da Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia (ESF) mediante consulta meacutedica e de enfermagem que realiza accedilotildees de rastreamento junto agrave populaccedilatildeo feminina Na loacutegica do trabalho por aacuterea adscrita a ESF se propotildee ter equipes res-ponsaacuteveis por famiacutelias de forma que seja possiacutevel estabelecer o viacutenculo profissional-usuaacuterio e estimular a adesatildeo agrave prevenccedilatildeo ginecoloacutegica
Apesar de a neoplasia em foco ser facilmente diagnosti-cada a cifra alberga estimativas preocupantes Para o ano de 2014 no Brasil satildeo esperados 15590 casos novos de cacircncer do colo do uacutetero com um risco estimado de 1533 casos a cada 100 mil mulheres Sem considerar os tumores de pele natildeo me-lanoma o cacircncer do colo do uacutetero eacute o mais incidente na regiatildeo Norte (2357 100 mil) Nas regiotildees Centro-Oeste (2219 100 mil) e Nordeste (1879 100 mil) eacute o segundo mais frequente
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Na regiatildeo Sudeste (1015100 mil) o quarto e na regiatildeo Sul (1587 100 mil) o quinto mais frequente (MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE 2014)
Estas elevadas cifras natildeo se justificam pois a prevenccedilatildeo do cacircncer ceacutervico-uterino eacute eficaz se implementada adequada-mente na ESF A elevada incidecircncia da referida neoplasia pode estar ligada agrave ausecircncia de uma poliacutetica voltada para a educaccedilatildeo em sauacutede bem como agrave baixa qualidade dos serviccedilos de sauacutede Por esse motivo eacute digno de uma atenccedilatildeo especial dos gestores em sauacutede dos profissionais e da sociedade
Segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) o prin-cipal fator de risco para a doenccedila eacute a infecccedilatildeo pelo viacuterus Pa-piloma Humano - HPV Todas as mulheres que iniciaram a atividade sexual satildeo potencialmente susceptiacuteveis ao desenvol-vimento da doenccedila As maacutes condiccedilotildees de higiene alimentaccedilatildeo tabagismo iniacutecio precoce da atividade sexual multiplicidade de parceiros e o uso de contraceptivos orais entretanto tam-beacutem favorecem o surgimento desse cacircncer Tornando-se mais evidente na faixa etaacuteria de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapi-damente ateacute atingir o pico geralmente na faixa de 45 a 49 anos (MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE 2006)
A prevenccedilatildeo do cacircncer ginecoloacutegico assim como o diag-noacutestico precoce e o tratamento requer a implantaccedilatildeo articula-da de medidas como sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo feminina investimento tecnoloacutegico e em recursos humanos organizaccedilatildeo da rede disponibilidade dos tratamentos e me-lhoria dos sistemas de informaccedilatildeo
Assim uma mudanccedila nesse perfil depende de accedilotildees arti-culadas voltadas para a sauacutede envolvendo accedilotildees profissionais poliacuteticas puacuteblicas infraestrutura das unidades de sauacutede e par-ticipaccedilatildeo da comunidade Tais accedilotildees vecircm ao encontro do Pac-
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to pela Vida 2010-2011 que traccedila como um dos seus objetivos ampliar a oferta do exame preventivo do cacircncer do colo do uacutetero visando a alcanccedilar uma cobertura de 80 da popula-ccedilatildeo-alvo
Portanto o cacircncer ceacutervico-uterino deve ser tratado como um contexto de atenccedilatildeo agrave sauacutede relevante no Brasil uma vez que demanda accedilotildees voltadas para a integralidade de uma as-sistecircncia agrave sauacutede ainda em elaboraccedilatildeo no Sistema Uacutenico de Sauacutede
A equipe da ESF pode contribuir para o controle da doen-ccedila por meio das accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede prevenccedilatildeo e detecccedilatildeo precoce realizadas nos serviccedilos bem assim com a realizaccedilatildeo de accedilotildees educativas com a participaccedilatildeo da comu-nidade no sentido de ampliar o conhecimento sobre os fato-res de risco o desenvolvimento da doenccedila e a importacircncia da realizaccedilatildeo perioacutedica do exame preventivo com objetivo de se alcanccedilar resultados satisfatoacuterios para a reduccedilatildeo das taxas de morbimortalidade
A complexidade de se trabalhar ante qualquer fenocircmeno social constituiacutedo com base em conjunto de determinantes condicionantes e fatores sociais e bioloacutegicos exprime uma ne-cessidade de compreensatildeo mais ampla e qualificada sobre o assunto Nessa perspectiva emerge a necessidade de estudos que possam contribuir para a compreensatildeo da integralidade da assistecircncia muito mais aleacutem do simples ato de realizar um atendimento ambulatorial
Em tais circunstacircncias a realidade contemporacircnea traz novos desafios no modo como certos temas satildeo habitualmente abordados especialmente no campo da sauacutede A dimensatildeo e a relevacircncia social e poliacutetica agregadas pelo campo da sauacutede desde a reforma sanitaacuteria e constituiccedilatildeo do Sistema Uacutenico de
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Sauacutede (SUS) tencionam para a sauacutede a ideia de que esta pode contribuir significativamente para a realidade vivida por nos-sa sociedade no que tange ao bem-estar da coletividade e de como a ausecircncia deste bem-estar influencia nas dinacircmicas de funcionamento
A produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea da Sauacutede da Mulher possibilitaraacute a melhoria do serviccedilo de sauacutede no que concerne agrave organizaccedilatildeo do rastreamento do cacircncer cervical e agrave qualifi-caccedilatildeo dos profissionais o fortalecimento da integraccedilatildeo ensi-no-serviccedilo e o impacto positivo na diminuiccedilatildeo do cacircncer de colo do uacutetero contribuindo para melhor qualidade de vida da populaccedilatildeo
No conjunto de profissionais que integram a ESF o enfer-meiro desempenha relevante papel na execuccedilatildeo de accedilotildees que permeiam as esferas gerenciais cliacutenica e educativas No exer-ciacutecio de suas funccedilotildees aleacutem de competecircncia teacutecnica responsa-bilidade e compromisso eacutetico eacute necessaacuterio ao enfermeiro com-preender e discutir de que forma a filosofia de alguns princiacutepios doutrinaacuterios do SUS acontecem na aacuterea da sauacutede feminina
Outros estudos corroboram essa posiccedilatildeo ressaltando a importacircncia de se discutir a concepccedilatildeo do enfermeiro sobre a municipalizaccedilatildeo por se entender que o enfermeiro eacute um agente da equipe multidisciplinar em sauacutede estando diretamente en-volvido com a consolidaccedilatildeo do SUS (MINISTEacuteRIO DA SAUacute-DE 2012)
Dessa maneira as peculiaridades dessa poliacutetica de sauacutede por meio do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) receberam in-fluecircncias da municipalizaccedilatildeo e principalmente pela reorga-nizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica por meio da ESF O cacircncer ceacutervico-uterino ainda constitui um seacuterio problema de sauacutede puacuteblica no Paiacutes apesar da existecircncia de programas da necessidade de
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uma simples tecnologia baixo custo para a prevenccedilatildeo e diag-noacutestico precoce do exame citopatoloacutegico percebe-se a gravi-dade do cenaacuterio epidemioloacutegico
Ante tais fatos surgiu o questionamento qual a concep-ccedilatildeo dos enfermeiros a respeito de integralidade na assistecircn-cia no acircmbito da Sauacutede da Mulher Como esta integralidade acontece nas accedilotildees de combate ao cacircncer cervico-uterino Para responder a tais indagaccedilotildees realizou-se uma investigaccedilatildeo a respeito com os objetivos descritos na sequecircncia
Conhecer os significados sobre integralidade concebidos pelos enfermeiros
Identificar a correlaccedilatildeo feita pelos profissionais entre in-tegralidade da assistecircncia e accedilotildees de combate ao cacircncer ceacutervi-co-uterino
Verificar como os serviccedilos de sauacutede na atenccedilatildeo primaacuteria estatildeo organizados de modo a privilegiar a integralidade da as-sistecircncia
METODOLOGIA
O estudo eacute descritivo-exploratoacuterio com abordagem qua-litativa pois possibilitou uma investigaccedilatildeo detalhada e que melhor harmoniza aos objetivos propostos A pesquisa explo-ratoacuteria permite maior familiaridade com o problema e o apri-moramento de ideias ou descoberta de intuiccedilotildees Enquanto isso a pesquisa descritiva tem por objetivo expor e buscar as explicaccedilotildees de um fenocircmeno (GIL 1999)
Compuseram o universo da pesquisa todos os enfermei-ros lotados nas unidades baacutesicas de sauacutede dos Municiacutepios do Maciccedilo de Baturiteacute vinculadas agrave Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia e que aceitaram participar do estudo
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O nuacutemero de sujeitos envolvidos foi estipulado com base no criteacuterio de saturaccedilatildeo e repeticcedilatildeo ferramenta esta muito utilizada na pesquisa qualitativa onde o fechamento amostral se processa pela suspensatildeo de novos participantes quando os dados obtidos passam a redundacircncia e repeticcedilatildeo Na aborda-gem qualitativa as amostras satildeo propositais e buscam singu-laridade aprofundamento e abrangecircncia da compreensatildeo do fenocircmeno estudado (GIL 1999)
A regiatildeo sob exame foi eleita para loacutecus da pesquisa pelo fato de que neste espaccedilo geograacutefico funciona a UNILAB ins-tituiccedilatildeo a que o projeto estaacute vinculado Esta autarquia federal de acordo com as diretrizes estabelecidas na Lei 12289 san-cionada pelo Presidente da Repuacuteblica em 20 de julho de 2010 alberga a responsabilidade de desenvolver ensino pesquisa e extensatildeo em consonacircncia com as necessidades de sauacutede e edu-caccedilatildeo da regiatildeo do Maciccedilo de Baturiteacute
A coleta de dados aconteceu durante os meses de mar-ccedilo a novembro do ano de 2013 Para a coleta utilizou-se um roteiro de entrevista que abordou questotildees a respeito ao aten-dimento na atenccedilatildeo primaacuteria no contexto da integralidade da assistecircncia na Sauacutede da Mulher organizaccedilatildeo dos serviccedilos oferta de accedilotildees para atender as demandas inerentes ao com-bate do cacircncer de colo uterino e referecircnciacontraAreferecircncia As entrevistas aconteceram na Unidade Baacutesica de Sauacutede apoacutes o expediente de atendimento dos enfermeiros em uma sala reservada na unidade para essa atividade
A entrevista semiestruturada foi utilizada como recurso por permitir certa liberdade ao entrevistado de discorrer apesar da utilizaccedilatildeo de toacutepicos que o pesquisador define a priori Este recurso eacute capaz de orientar uma ldquoconversa com
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finalidaderdquo devendo ser facilitador de abertura ampliaccedilatildeo e aprofundamento da comunicaccedilatildeo (MINAYO 2004)
As informaccedilotildees foram organizadascom suporte nas trans-criccedilotildees das entrevistas e leituras sucessivas das falas onde as ideias centrais ou seja aquelas mais evidentes que descreve-ram de forma sinteacutetica e precisa o sentido das falas forami-dentificadas e registradas As transcriccedilotildees foram organizadas conforme Teacutecnica de Anaacutelise de Conteuacutedo (BARDIN 2004) As categorias posteriormente identificadas foram discutidas com embasamento da literatura
Com o intuito de obedecer agraves diretrizes que regulamen-tam os estudos envolvendo seres humanos para as partici-pantes desta pesquisa foi exibido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com dados referentes ao caraacuteter voluntaacuterio do estudo e possibilidade de desistecircncia a qualquer momento Com o intuito de garantir o anonimato as falas foram identi-ficadas pelo coacutedigo enf seguido do nuacutemero de ordem O es-tudo na fase de projeto de pesquisa foi enviado para o Comitecirc de Eacutetica da Universidade de Fortaleza e aprovado segundo o Parecer nordm20308
RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
Foram entrevistados 47 profissionais graduados em En-fermagem sendo 45 do sexo feminino e dois do masculino Os profissionais estavam lotadas nos Municiacutepios de Acarape Aratuba Aracoiaba Baturiteacute Barreira Itapiuacutena Capistrano Ocara Palmaacutecia e Redenccedilatildeo Os enfermeiros encontravam-se na faixa etaacuteria de 21 a 63 anos com predominacircncia do inter-valo de 21 a 35 O tempo meacutedio de graduaccedilatildeo foi de oito anos o tempo de atuaccedilatildeo profissional da atenccedilatildeo primaacuteria oscilou
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de 2 a 30 anos A maioria possui algum tipo de especializaccedilatildeo As especializaccedilotildees realizadas foram nas seguintes aacutereas Sauacutede Puacuteblica Unidade de Terapia Intensiva Gestatildeo em Sauacutede En-fermagem do Trabalho Obstetriacutecia Urgecircncia e Emergecircncia Sauacutede da Famiacutelia Sauacutede Indiacutegena Sauacutede do Idoso Gestatildeo em Serviccedilos e Sistemas de Sauacutede
A seguir se exibiu as categorias emergidas assinadas na anaacutelise das entrevistas
Significados atribuiacutedos ao termo integralidade
Para os entrevistados o significado de integralidade con-siste em garantir ao usuaacuterio uma assistecircncia integral que as-socie a prevenccedilatildeo e o tratamento considerando a pessoa na totalidade num contexto que englobe suas necessidades
Atender a pacienta de uma forma integral tratar todos os aspectos de doenccedila daquela mulher tratar hipertensatildeo e diabetes tratar de uma forma integral (enf 01)
Eacute um cuidado de assistecircncia prestado aos in-diviacuteduos de modo que ele seja assistido em todos os aspectos onde natildeo tratado somente a doenccedila deve ser tratado de um modo geral natildeo soacute a doenccedila (enf 02)
Eacute a assistecircncia de forma integral em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo agrave sauacutede (enf 03)
Eacute atender desde a prevenccedilatildeo ateacute o diagnoacutes-tico aliaacutes ateacute o final do tratamento (enf 04)
Observar o paciente como um todo anotar todo o estado cliacutenico dele e se necessaacuterio en-caminhar a outro profissional Isso acontece por exemplo uma gestante de risco (enf 05)
Atender a todos em todos os niacuteveis de aten-ccedilatildeo (enf 06)
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A integralidade eacute um atendimento globaliza-do um atendimento que tenha vaacuterias nuan-ces natildeo soacute no tratamento mas tambeacutem na prevenccedilatildeo integral no sentido de atender a todas as necessidades das pacientes (enf 06)
A perspectiva da integralidade aparece no relato dos pro-fissionais associada ao direito universal do usuaacuterio de ser aten-dido em suas necessidades de sauacutede
A integralidade eacute uma ferramenta que nos permite enten-der a magnitude da sauacutede-doenccedila e visualizar como sua am-plitude extrapola o campo bioloacutegico Dessa forma accedilotildees mais efetivas soacute seratildeo possiacuteveis com profissionais que alarguem seus conceitos e atuem equipes multiprofissionais (MACHADO et al 2007)
A garantia de um atendimento integral ultrapassa uma assistecircncia agrave sauacutede hierarquizada e regionalizada abrange o individual e o coletivo e requer um compromisso constante com o aprendizado e a atuaccedilatildeo multiprofissional (CECIM FEUERWERKER 2004)
Esse princiacutepio conduz seu bojo uma discussatildeo criacutetica e propositiva da dissociaccedilatildeo das praacuteticas de sauacutede de cunho pre-ventivo e as praacuteticas assistenciais Articular essas praacuteticas de sauacutede significa propor uma reestruturaccedilatildeo na forma de con-ceber os serviccedilos de sauacutede compreendendo o atendimento numa oacuteptica longitudinal de accedilotildees
Compreensatildeo da integralidade da assistecircncia nas accedilotildees de combate ao cacircncer ceacutervico-uterino
No entendimento dos profissionais as accedilotildees de combate ao cacircncer satildeo percebidas nas perspectivas descritas a seguir
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Eu entendo a integralidade como uma con-tinuidade da assistecircncia se eu faccedilo a coleta e consigo tratar ou se natildeo tenho condiccedilotildees para trataacute-la entatildeo encaminho para o gine-cologista para buscar uma soluccedilatildeo (enf 07)
Conforme o resultado da prevenccedilatildeo ela jaacute vai orientada de alguma forma se apresenta NIC III por exemplo eu explico que ela pre-cisa de maiores cuidados entatildeo ela eacute referen-ciada com os exames (enf 08)
Atraveacutes das orientaccedilotildees palestras conscien-tizaccedilatildeo das mulheres em relaccedilatildeo agraves doenccedilas que podem haver contaminaccedilatildeo pelo HPV e a partir disso a mulher se conscientizar e atraveacutes da conscientizaccedilatildeo e cuidados reali-zar avaliaccedilotildees rotineiras (enf 09)
Fazer a coleta direitinho realizar entrevista pesquisar sobre a famiacutelia e se preciso enca-minhar para realizar exames (enf 10)
Eu entendo a integralidade como uma con-tinuidade da assistecircncia se eu faccedilo a coleta e consigo tratar ou se natildeo tenho condiccedilotildees para trataacute-la entatildeo encaminho para o gine-cologista para buscar uma soluccedilatildeo (enf 11)
Com certeza se identificada uma lesatildeo noacutes possamos dar continuidade ao tratamento encaminhando para um serviccedilo especializa-do e daiacute dependendo do que ocorrer ter esse retorno seria interessante (enf 12)
A integralidade da assistecircncia eacute entendida em termos de lei como um conjunto articulado e contiacutenuo de accedilotildees e ser-viccedilos preventivos e curativos individuais e coletivos exigidos
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para cada caso em todos os niacuteveis de complexidade do sistema (GIOVANELLA 2008)
Accedilotildees como levantar o histoacuterico da paciente realizar a co-leta citoloacutegica identificar a lesatildeo quando possiacutevel implemen-tar um tratamento e encaminhar a paciente para um serviccedilo especializado ilustram a compreensatildeo dos profissionais frente agrave integralidade da assistecircncia
O trabalho na atenccedilatildeo primaacuteria deveraacute ter uma aborda-gem interdisciplinar que conjuguealeacutem das accedilotildees os esforccedilos de uma equipe multiprofissional voltados para a accedilatildeo preven-tiva ante os fatores de risco para o cacircncer ceacutervico-uterino Para tal adoccedilatildeo dos princiacutepios da Educaccedilatildeo em Sauacutede numa pers-pectiva problematizadora que desperte no outro o interesse pelo cuidado eacute condiccedilatildeo fundamental para iniciar uma rela-ccedilatildeo dialoacutegica entre profissionais e paciente
A organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede no atual modelo do Sistema de Sauacutede busca privilegiar espaccedilos nos quais se pos-sa concretiza uma praacutetica cliacutenica com foco na integralidade entretanto a concretude dessa premissa estaraacute relacionada aos determinantes sociais que influenciaram a populaccedilatildeo assistida e os profissionais
CONCLUSOtildeESAgrave integralidade satildeo atribuiacutedos diversos sentidos entre os
quais se destacam aqueles relacionados ao atendimento inte-gral vislumbrando o ser humano em contexto holiacutestico nos trecircs niacuteveis de atenccedilatildeo
A accedilatildeo do enfermeiro na Sauacutede da Mulher deve abranger a manutenccedilatildeo promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede com origem na relaccedilatildeo estabelecida com a paciente que busca o serviccedilo de
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sauacutede mediante estrateacutegias educativas envolvendo a identifi-caccedilatildeo de suas necessidades de sauacutede
Reconhecer a relevacircncia da perspectiva da integralidade na assistecircncia agrave Sauacutede da Mulher implica o envolvimento do enfermeiro que deve se fazer presente natildeo apenas em situaccedilatildeo de doenccedila mastambeacutem em todo o horizonte de atendimento proposto pelo Sistema de Sauacutede
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CAPIacuteTULO 2
A (IN) VISIBILIDADE DE DADOS SOBRE VIOLecircNCIA CONTRA CRIANccedilA E ADOLES-CENTE COM DEFICIecircNCIA DIANTE DAS DIRETRIZES QUE NORTEIAM A PROTEccedilAtildeO INTEGRAL
Ana Cleacutea Veras Camurccedila VieiraGeisy Lane Muniz Luna43
Marilene Calderaro MungubaLuiza Jane Eyre de Souza Vieira
INTRODUccedilAtildeO
A violecircncia evidencia-se como fenocircmeno multicausal e complexo e correlacionando-se com determinantes sociais e econocircmicos principalmente desemprego baixa escolarida-de concentraccedilatildeo de renda exclusatildeo social Aflui aos aspectos comportamentais e culturais resultando em uma interaccedilatildeo de fatores individuais relacionais comunitaacuterios e sociais Nesse iacutenterim o Informe Mundial sobre laviolencia y la salud publi-cado pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (2002) define vio-lecircncia como
O uso intencional da forccedila ou poder em uma forma de ameaccedila ou efetivamente contra si mesmo outra pessoa ou grupo ou comuni-dade que ocasiona ou tem grandes proba-bilidades de ocasionar lesatildeo morte dano psiacutequico alteraccedilotildees do desenvolvimento ou privaccedilotildees (KRUG et al 2002)
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Sendo assim percebe-se que os iacutendices mais elevados de comportamentos violentos em algumas comunidades natildeo po-dem ser explicados por um fator isoladamente Compreender entretanto a maneira como esses fatores estatildeo vinculados agrave violecircncia eacute um dos passos importantes no enfoque da sauacutede puacuteblica para a prevenccedilatildeo do fenocircmeno Em face da realidade eacute relevante conhecer como se articulam as manifestaccedilotildees da violecircncia haja vista o fato dessas situaccedilotildees se modificarem de acordo com o contexto histoacuterico social (FROTA et al 2011)
Em razatildeo dessa complexidade a violecircncia direcionada a crianccedilas e adolescentes eacute muito presente Esta eacute uma reali-dade que constrange e inquieta a sociedade civil e os oacutergatildeos governantes Waiselfisz (2011) acentua ser nessa faixa etaacuteria que duas em cada trecircs mortes se originam numa violecircncia seja ela homiciacutedio suiciacutedio ou acidente de transporte Aleacutem disso com essa faixa etaacuteria eacute difiacutecil distinguir os casos de acidentes ndash que podem acontecer de forma casual e despretensiosa ndash dos de violecircncia por conta da dificuldade em estabelecer o caraacuteter de intencionalidade Os acidentes tambeacutem podem em mui-tos casos ser considerados como modalidade de violecircncia jaacute que estes podem resultar de omissotildees das accedilotildees humanas
Sanchez e Minayo (2004) refletem acerca da magnitude do tema sua repercussatildeo para a sauacutede da populaccedilatildeo brasilei-ra e indaga se o indicador de mortalidade natildeo deveria ser as-sociado a outro que retratasse o significado e a dinacircmica das muacuteltiplas violecircncias considerando o contexto sociocultural e a qualidade de vida de crianccedilas e adolescentes
Essas afirmaccedilotildees retratam a cruel realidade em que estatildeo inseridos as crianccedilas e adolescentes brasileiros contudo esti-ma-se que muito mais preocupante satildeo os dados referentes agrave violecircncia cometida contra crianccedilas e adolescentes com defi-
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ciecircncia haja vista a subnotificaccedilatildeo desses casos e o despreparo profissional para lidar com esse fato
Contextualizando o leitor o modelo da deficiecircncia foi aprovado por lei de 1975 ldquode orientaccedilatildeo em favor das pessoas deficientesrdquo Na realidade o relatoacuterio Bloch-Laineacute de 1967 jaacute o propunha razatildeo pela qual pode ser considerado um texto de transiccedilatildeo entre o modelo de inadaptaccedilatildeo e o de deficiecircncia pa-radoxalmente a lei de 1975 absteacutem-se de qualquer definiccedilatildeo Segundo os relatores de entatildeo exprimir o conceito parecia-lhes totalmente impossiacutevel haja vista as divergecircncias de abor-dagens cientiacuteficas sobre a maneira de tratar o assunto e que do ponto de vista deles era necessaacuterio dar maior abertura possiacutevel sobre o futuro para evitar possiacuteveis exclusotildees dos beneficiaacuterios da lei A deficiecircncia transforma-se em novo ldquosistema de refe-recircncias da accedilatildeo puacuteblicardquo suscetiacutevel de ser aplicado a todas as idades ldquoa deficiecircncia eacute a leirdquo (PLAISANCE 2005)
RETRATOS DA DEFICIecircNCIA
Dados do Censo de 2010 publicados pelo Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) demonstrou a existecircncia ou natildeo de algum tipo de deficiecircncia permanente por autode-claraccedilatildeo Os resultados apontaram que 45606048 brasileiros (239 da populaccedilatildeo total) tecircm algum tipo de deficiecircncia vi-sual auditiva motora e mental ou intelectual (IBGE 2010)
Trazendo essa anaacutelise para o acircmbito regional observa-se que 277 da populaccedilatildeo residente no Cearaacute correspondendo a um total de 2 340 150 cearenses apresentam algum tipo de deficiecircncia percentual acima do registrado nacionalmente (239) e da Regiatildeo Nordeste (266) (IPECE 2012)
Os dados do Censo mostraram que a deficiecircncia chega a
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pessoas em qualquer idade Algumas nascem com ela outras a adquirem ao longo da vida O contingente populacional tem pelo menos uma das deficiecircncias investigadas pelo Censo de 2010 revelados que sua prevalecircncia eacute bastante alta na popula-ccedilatildeo brasileira de 1987 milhotildees (IBGE 2010)
O Programa das Naccedilotildees Unidas para o De-senvolvimento (PNUD) mediante a institu-cionalizaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) mensura o progresso de uma naccedilatildeo a partir da anaacutelise de trecircs dimen-sotildees renda sauacutede e educaccedilatildeo De acordo com o Relatoacuterio do Desenvolvimento Huma-no o (IDH) global de 2012 entre 186 paiacuteses elege a Noruega como o paiacutes que apresentou melhor IDH com 0 955 incluso no bloco de paiacuteses com o iacutendice muito alto O Brasil re-gistrou a 85ordf posiccedilatildeo com o iacutendice de 0 730 atraacutes do Chile Argentina Uruguai Cuba Panamaacute Venezuela Peru (PNUD 2013)
A importacircncia desses dados estaacute no fato que os paiacuteses com iacutendice de desenvolvimento hu-mano baixo (IDH) 99 da populaccedilatildeo tecircm uma deficiecircncia nos paiacuteses com iacutendice de desenvolvimento humano meacutedio a percen-tagem cai para 37 e em paiacuteses de desenvol-vimento humano elevado estima-se que 1 as pessoas com deficiecircncia (PNUD 2013)
A anaacutelise realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute (IPECE) sobre a infacircncia em Fortaleza com os dados socioeconocircmicos divulgados no Censo 2010 mostra que 75 da populaccedilatildeo de zero a 14 anos em Fortale-za possuem algum tipo de deficiecircncia visual (SILVA SILVA 2013)
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A proporccedilatildeo de crianccedilas com problemas de visatildeo aumen-ta significativamente a partir dos seis anos de idade periacuteodo coincidente com o iniacutecio do ciclo escolar para um nuacutemero significativo de crianccedilas Eacute preconizado nas poliacuteticas puacuteblicas o acompanhamento dessas crianccedilas nas creches e escolas Em termos de deficiecircncia auditiva a proporccedilatildeo cai para 2 en-quanto para a deficiecircncia de locomoccedilatildeo e mental essa propor-ccedilatildeo registra 13 e 08 respectivamente Chama-se atenccedilatildeo para o total de 63978 crianccedilas com algum tipo de deficiecircncia que necessita de atenccedilatildeo especial das poliacuteticas puacuteblicas (SIL-VA SILVA 2013)
Em pesquisa realizada no mecircs de abril de 2014 nas bases de dados para indicadores de sauacutede gerais e especiacuteficos para a infacircncia e adolescecircncia (DATASUS SIPIA TABNET-SMS) natildeo foram evidenciadas informaccedilotildees especiacuteficas sobre crianccedila com deficiecircncia associada agraves situaccedilotildees de violecircncia ou mesmo no grande grupo denominado de causas externas consideran-do ainda a populaccedilatildeo 63978 crianccedilas com deficiecircncia
A inexistecircncia de dados que possam proporcionar a vi-gilacircncia em sauacutede da populaccedilatildeo com deficiecircncia demonstra o quanto essa realidade ainda estaacute invisiacutevel apesar de avanccedilos na trajetoacuteria de realizaccedilotildees de eventos internacionais e nacionais poliacuteticas planos e dispositivos legais que norteiam a atenccedilatildeo integral agrave pessoa com deficiecircncia como a Poliacutetica Nacional de Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia (BRASIL 2010) e as dire-trizes que integram as accedilotildees do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiecircncia conhecido como Viver sem Limite (BRASIL 2013)
Esse fato remete a certas inquietaccedilotildees em razatildeo desse contingente populacional como se deu a trajetoacuteria das poliacuteti-cas puacuteblicas que tencionavam proteger e cuidar Quais lacunas
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ainda permanecem para que seja possiacutevel ter maior aproxima-ccedilatildeo dessa realidade
Por mais baacutesicas que sejam as informaccedilotildees estas apontam para potenciais estudos que por sua vez podem se aprofun-dar na anaacutelise das condiccedilotildees de vida e sauacutede da crianccedila com deficiecircncia viacutetima de violecircncia Estudos mostram a importacircn-cia da infacircncia para a formaccedilatildeo do capital humano da pessoa Os efeitos de longo prazo do investimento na formaccedilatildeo do ca-pital humano na infacircncia e adolescecircncia vatildeo desde o aumento dos niacuteveis educacionais maiores salaacuterios e melhores ocupa-ccedilotildees no mercado de trabalho ateacute melhores condiccedilotildees de sauacutede e satisfaccedilatildeo com a vida (SILVA SILVA 2013)
GARANTIA DOS DIREITOS DA CRIANccedilA E ADO-LESCENTE
Iniciou-se no Brasil na deacutecada de 1980 intenso movi-mento com vistas a garantir os direitos das crianccedilas Com a mudanccedila no modelo de sauacutede vigente que buscava uma as-sistecircncia mais integral criou-se o Programa de Assistecircncia In-tegral agrave Sauacutede da Crianccedila (PAISC) em 1984 (BRASIL 1984)
Esta poliacutetica de atenccedilatildeo envolvia accedilotildees de acompanha-mento do crescimento infantil estiacutemulo ao aleitamento ma-terno e orientaccedilatildeo alimentar para o desmame assistecircnciae controle das infecccedilotildees respiratoacuterias agudas controle das doen-ccedilas diarreacuteicas e das prevenidas por imunizaccedilotildees Malgrado priorizar a assistecircncia agrave crianccedila na rede baacutesica de sauacutede tam-beacutem foram implementadas estrateacutegias com vistas a humanizar o preacute-natal e o parto dando mais espaccedilo para a participaccedilatildeo da famiacutelia no cuidado ao bebecirc no acircmbito hospitalar (BRASIL 1984)
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Em relaccedilatildeo agraves conquistas juriacutedicas sobre os maus tratos em 12 de outubro de 1927 o Decreto-Lei 17943 instituiu o primeiro Coacutedigo de Menores no Brasil como medida para sis-tematizar a accedilatildeo de tutela e coerccedilatildeo e por isso o Estado passou a adotaacute-lo Com esse decreto o Brasil comeccedilou a implantar o sistema puacuteblico de atenccedilatildeo agraves crianccedilas e aos jovens em circuns-tacircncias especialmente difiacuteceis (CURY 1987)
A Doutrina de Situaccedilatildeo Irregular descrita desde 1927 juridicamente citada como Coacutedigo de Menores como caraacute-ter ldquomenoristardquo apesar da reformulaccedilatildeo em 1979 manteve-se ideologicamente para intervir com a infacircncia pobre e estigma-tizada As bases conceituais sustentavam a exclusatildeo e o con-trole social da pobreza e a prevenccedilatildeo detinha a instituciona-lizaccedilatildeo conforme o momento poliacutetico da eacutepoca no Paiacutes Esse movimento sem duacutevida marca a transiccedilatildeo paradigmaacutetica en-tre o Direito do Menor para o Direito da Crianccedila e do Adoles-cente (CUSTOacuteDIO 2008 ROSEMBERG MARIANO 2010)
Nos uacuteltimos anos do regime militar no Brasil de 1974 a 1984 havia grande crise econocircmica recessatildeo e o iniacutecio do movimento democraacutetico com participaccedilatildeo social Nessa deacuteca-da de 1970 a 80 muitas conquistas foram possiacuteveis na histoacuteria da sauacutede puacuteblica brasileira Era a luta pela reforma sanitaacuteria Natildeo se pode esquecer o surgimento dos movimentos sociais que denunciavam a ineficiecircncia das estruturas de sauacutede e pre-videnciaacuterias dentre eles o movimento das pessoas com defi-ciecircncia (AGUIAR 2011)
Atualmente estaacute em vigecircncia no Brasil o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (ECA) Lei 8069 de 13 de julho de 1990 que revolucionando em termos doutrinaacuterios e legislati-vos rompeu com a doutrinada situaccedilatildeo irregular e adotou o entendimento da proteccedilatildeo integral (BRASIL 2012a)
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A compreensatildeo sobre a doutrina de proteccedilatildeo integral ad-veacutem de marcos legais como a Declaraccedilatildeo Universal dos Direi-tos da Crianccedila (1959) no cenaacuterio brasileiro que faz parte do ordenamento juriacutedico como marco definitivo somente com a Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direi-to agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dig-nidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircn-cia familiar e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discri-minaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo (BRASIL 1988)
Nas disposiccedilotildees preliminares o ECA afirma que nenhu-ma crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia cruelda-de e opressatildeo punidona forma da lei qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentais (OLIVEIRA 1995) A leitura dessa disposiccedilatildeo pode encher de perplexidade Deve-se perguntar se uma legislaccedilatildeo tatildeo avanccedilada natildeo seria uma contradiccedilatildeo a mais num Paiacutes jaacute tatildeo cheio de contradiccedilotildees (LUNA et al 2010)
Eacute evidente que o dia adia demonstra a grande distacircncia que vai do que a lei dispotildee para a realidade Basta ler os jornais para encontrar cotidianamente o relato da displicecircncia com que satildeo tratadas questotildees de cunho social envolvendo os jo-vens (GONCcedilALVES FERREIRA 2002)
Nesse periacuteodo os estudos sobre deficiecircncia no Brasil fo-ram impulsionados principalmente em 1981 que ficou co-nhecido como Ano Internacional da Pessoa Deficiente A
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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) aprovou em 1982 o Programa de Accedilatildeo Mundial para Pessoas com Deficiecircncia proclamando o periacuteodo de 1983 a 1992 como ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para as Pessoas com Deficiecircnciardquo (ONU1982) Assim a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (ONU 1948) traz ecircnfase no valor da vida humana no respeito agrave liber-dade e na dignidade
Art 1 Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia e devem agir em re-laccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de frater-nidade
Art 3 Todo ser humano tem direito agrave vida agrave liberdade e agrave seguranccedila pessoal
Art 7 Todos satildeo iguais perante a lei e tem direito sem qualquer distinccedilatildeo a igual pro-teccedilatildeo da lei Todos tecircm direito a igual prote-ccedilatildeo contra qualquer discriminaccedilatildeo que viole a presente Declaraccedilatildeo e contra qualquer in-citamento a tal discriminaccedilatildeo (PIOVESAN 2012 p 40)
No acircmbito histoacuterico o Estatuto da Crianccedila e do Adoles-cente (ECA) define o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) como res-ponsaacutevel por garantir ldquoo direito a proteccedilatildeo agrave vida e agrave sauacutederdquo das crianccedilas e adolescentes com deficiecircncia e traz em seus arti-gos 11 e 14 o seguinte
Art 11 Eacute assegurado atendimento integral agrave sauacutede da crianccedila e do adolescente por intermeacutedio do Sistema Uacutenico de Sauacutede ga-rantido o acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e serviccedilos para promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede Paraacutegrafo 1ordm A crian-ccedila e o adolescente portadores de deficiecircncia
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receberatildeo atendimento especializado Como tambeacutem revela em seu capiacutetulo referente ao Direito agrave Educaccedilatildeo Cultura Esporte e Lazer as responsabilidades dos estados para com as crianccedilas e adolescente com deficiecircncia
Art 54 Eacute dever de o Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito inclusive para os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria atendimento educacional especializado aos portadores de deficiecircncia preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL 2012b p 42-43)
O ECA ainda afirma na Convenccedilatildeo sobre Direitos da Crianccedila Parte I artigos 23 que os Estados reconhecem que a crianccedila portadora de deficiecircncias fiacutesicas ou mentais deveraacute desfrutar de uma vida plena e decente em condiccedilotildees que ga-rantam sua dignidade favoreccedilam sua autonomia e facilitem sua participaccedilatildeo ativa na comunidade (BRASIL 2010)
Apesar de uma legislaccedilatildeo que trata da proteccedilatildeo integral das crianccedilas e adolescentes incluindo as portadoras de deficiecircncia iniciam-se no Brasil investigaccedilotildees realizadas pelas comissotildees parlamentares inqueacuterito (CPIs) que datam respectivamente de 1991 e 1993 decorrentes do extermiacutenio de meninos e meni-nas de rua e sobre a prostituiccedilatildeo infanto-juvenil e inserem-se na agenda da sauacutede Conforme estudo realizado por Landini (2006) essas questotildees refletiram diretamente em termos le-gais o reconhecimento e a necessidade de que a crianccedila deve ser protegida de todas as formas de violecircncia e a legislaccedilatildeo vai incorporando artigos e dispositivos que diferenciam cada vez mais a violecircncia sofrida por crianccedilas e adolescentes
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Com origem nesse documento muitas accedilotildees iniciam-se no Brasil Ressalta-se a da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila com caraacuteter intersetorial e portanto contando com a contribuiccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacute-de e de profissionais da aacuterea ao formularem o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia Sexual Infantojuvenil (BRA-SIL 2002)
Posteriormente a Portaria Nordm 936GM de 19 de maio de 2004 cria a Rede Nacional de Prevenccedilatildeo da Violecircncia para sensibilizaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos gestores e profissionais de sauacute-de na identificaccedilatildeo e encaminhamento adequado de situaccedilotildees de violecircncia intrafamiliar e sexual o estiacutemulo agrave articulaccedilatildeo in-tersetorial que envolva a reduccedilatildeo e o controle de situaccedilotildees de abuso exploraccedilatildeo e turismo sexual a implementaccedilatildeo da ficha de notificaccedilatildeo de violecircncia interpessoal o incentivo ao desen-volvimento de planos estaduais e municipais de prevenccedilatildeo da violecircncia o monitoramento e avaliaccedilatildeo do desenvolvimento dos planos estaduais e municipais de prevenccedilatildeo da violecircncia mediante a realizaccedilatildeo de coleta sistematizaccedilatildeo anaacutelise e disse-minaccedilatildeo de informaccedilotildees e a implantaccedilatildeo de Serviccedilos Sentine-la que seratildeo responsaacuteveis pela notificaccedilatildeo dos casos de violecircn-cias (BRASIL 2004)
As temaacuteticas relacionadas agrave proteccedilatildeo e sauacutede das crianccedilas e adolescentes satildeo transversais interdependentes e inseparaacute-veis perpassam o campo social e essa questatildeo seraacute um grande desafio para se alcanccedilar Nesse iacutenterim no ano 2000 a Or-ganizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) ao analisar os maiores problemas mundiais estabeleceu Oito Objetivos do Milecircnio- chamados no Brasil de Oito Jeitos de Mudar o Mundo ndash que devem ser atingidos por todos os paiacuteses ateacute 2015 Entre estes pode-se citar trecircs relacionados agrave defesa dos direitos da crianccedila
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e do adolescente (1) acabar com a fome e a miseacuteria (2) educa-ccedilatildeo baacutesica de qualidade para todos e (3) reduzir a mortalidade infantil (ONU 2000)
Ante tal complexidade houve a preocupaccedilatildeo em padro-nizar o levantamento das estatiacutesticas a respeito das pessoas com deficiecircncia no Brasil em 2005 no Rio de Janeiro junto ao Grupo de Washington sobre Estatiacutesticas das Pessoas com Deficiecircncia (Washington Groupon Disability Statistics - GW) contando com o apoio da Coordenadoria Nacional para In-tegraccedilatildeo da Pessoa Portadora de Deficiecircncia (CORDE) a Se-cretaria Nacional de Promoccedilatildeo dos Direitos da Pessoa com Deficiecircncia (SNPD) a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) representantes dos institutos nacionais de estatiacutestica de cerca de 40paiacuteses e outras organizaccedilotildees internacionais iniciaram le-vantamentos de iacutendices de pessoas com deficiecircncia na popula-ccedilatildeo brasileira (IBGE 2010)
Em 2006 o Ministeacuterio da Sauacutede reformulou os eixos de accedilatildeo atinentes agrave promoccedilatildeo da sauacutede e agrave atenccedilatildeo integral agraves pes-soas em situaccedilatildeo de violecircncia contiacuteguos das diretrizes e accedilotildees especiacuteficas da Poliacutetica Nacional de Promoccedilatildeo da Sauacutede (Porta-ria nordm 6872006) agrave Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Baacutesica (Por-taria nordm 6482006) e agraves diretrizes para organizaccedilatildeo de redes de atenccedilatildeo integral agraves urgecircncias (Portaria nordm 10202009) condes-cendidas com as trecircs esferas de gestatildeo do SUS (BRASIL 2010)
Formulou ainda um documento intitulado ldquoLinha de Cuidado para a Atenccedilatildeo Integral agrave Sauacutede de Crianccedilas Adoles-centes e suas Famiacutelias em Situaccedilatildeo de Violecircncias ndash Orientaccedilatildeo para Gestores e Profissionais de Sauacutederdquo com a finalidade de sensibilizar os agentes envolvidos nessa contiacutenua integralidade do cuidado (BRASIL 2010)
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Trata-se de uma estrateacutegia para a accedilatildeo um caminho para o alcance da atenccedilatildeo integral ou integralidade da atenccedilatildeo um dos princiacutepios do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que propor-ciona a produccedilatildeo de cuidados desde a atenccedilatildeo primaacuteria ateacute o mais complexo niacutevel da atenccedilatildeo exigindo ainda interaccedilatildeo dos demais sistemas de garantias de direitos proteccedilatildeo e defesa de crianccedilas e adolescentes (BRASIL 2010)
A Linha de Cuidado de atendimento agrave crianccedila e ao adoles-cente em situaccedilatildeo de violecircncia tem iniacutecio no primeiro contato independentemente do niacutevel de atenccedilatildeo agrave sauacutede Na Atenccedilatildeo Primaacuteria estatildeo as unidades baacutesicas de sauacutede da famiacutelia a equi-pe de sauacutede da famiacutelia e os agentes comunitaacuterios de sauacutede Em meacutedia e alta complexidade encontram-se os serviccedilos de atenccedilatildeo especializada os hospitais os centros de atenccedilatildeo psi-cossocial e conta com a integraccedilatildeo de uma Rede Intersetorial onde se encontram tambeacutem os conselhos tutelares e demais serviccedilos (BRASIL 2010)
Pode-se destacar que nas situaccedilotildees de violecircncia contra crianccedilas adolescentes idosos e mulheres a legislaccedilatildeo prevecirc a notificaccedilatildeo compulsoacuteria em qualquer suspeita ou caso confir-mado de violecircncia mas ainda natildeo eacute possiacutevel encontrar legisla-ccedilotildees especiacuteficas sobre a proteccedilatildeo da crianccedila e adolescente com deficiecircncia em situaccedilatildeo de violecircncia
Essa realidade nos move a algumas ponderaccedilotildees o Poder Puacuteblico representado pela gestatildeo nos trecircs niacuteveis de governo haacute que enfrentar a fragilidade dos indicadores de sauacutede da popu-laccedilatildeo brasileira considerando a maacute utilizaccedilatildeo ou natildeo utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees em sauacutede e aacutereas convergentes
Outro ponto impulsiona a refletir sobre o desafio expresso aos oacutergatildeos de proteccedilatildeo quanto ao alcance de crianccedilas e adoles-centes com deficiecircncia atendendo o preconizado nas poliacuteticas
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puacuteblicas de sauacutede e proteccedilatildeo integral Por uacuteltimo poreacutem natildeo menos importante diz-se sobre a imperiosa reorientaccedilatildeo da formaccedilatildeo acadecircmica e a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas de educaccedilatildeo permanente de modo longitudinal agrave praacutetica profissional
Observa-se que os profissionais necessitam de esclareci-mento da noccedilatildeo legal de maus-tratosviolecircncia e da concepccedilatildeo de deficiecircncia Dessa forma algumas diversidades de accedilatildeo po-deriam transformar a universidade num foro para discussatildeo e apoio ao fortalecimento de estrateacutegias possibilitando assim que este profissional ao entrar no mercado de trabalho es-teja habilitado e sensiacutevel aos desafios do cotidiano Cuidar de crianccedila e adolescente com deficiecircncia e exposto a situaccedilatildeo de violecircncia requer sensibilidade conhecimento e atitude
Estas dimensotildees devem ser coerentes com as demandas sociais que aportam ao setor sauacutede bem como ao contexto in-tersetorial Por outro lado natildeo eacute possiacutevel omitir os esforccedilos que o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) e o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) empreendem com reformulaccedilotildees de matrizes curricu-lares que privilegiem a agenda de sauacutede e as transformaccedilotildees sociais e econocircmicas do Paiacutes atentando para as especificidades regionais e locais sem contudo excluir as potencialidades e os limites da globalizaccedilatildeo
REFLEXOtildeES INCONCLUSIVAS
Agrave vista desse panorama complexo enfrentar a violecircncia com fundamento em uma perspectiva inclusiva requer com-promisso poliacutetico das naccedilotildees governantes sensiacuteveis agraves iniqui-dades sociais e uma sociedade solidaacuteria e altruiacutesta que esteja disposta a rever e ressignificar padrotildees culturais e comporta-mentais Este tripeacute articulado impulsiona as instituiccedilotildees for-
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madoras agrave ampliaccedilatildeo de suas perspectivas para reconstituiccedilotildees coletivas e sociais mediante a educaccedilatildeo transformadora e a formaccedilatildeo cientiacutefica teacutecnica eacutetica e esteacutetica
Acredita-se que percorrendo essa linha idealizada de modo natural fluiratildeo concepccedilotildees e accedilotildees interdisciplinares brotaraacute o respeito pelo outro emergiratildeo empatias e desejos de alcanccedilar uma sociedade igualitaacuteria inclusiva em que os di-ferentes sejam potencializados em suas singularidades Desse modo o conjunto de instituiccedilotildees atuaraacute de modo coordenado em busca da garantia de acesso a uma rede de serviccedilos de pro-teccedilatildeo beneficiada no arcabouccedilo poliacutetico brasileiro assistecircncia social cultura educaccedilatildeo justiccedila sauacutede seguridade social tra-balho transporte dentre outros segmentos
O estudo pondera a necessidade de serem desenvolvidas diretrizes para crianccedilas e adolescentes com deficiecircncia e expos-tas agraves situaccedilotildees de violecircncia aleacutem de recomendar o aprofun-damento de estudos especiacuteficos nessa parcela da populaccedilatildeo o que pode fomentar discussotildees e reorientaccedilotildees das poliacuteticas
As armas de que se dispotildee para lutar satildeo consciecircncia e conhecimento Nas poliacuteticas puacuteblicas vigentes eacute preciso tor-nar visiacutevel o que aparenta estar invisiacutevel ou seja a proteccedilatildeo agraves crianccedilas e aos adolescentes com deficiecircncia e expostos agrave vio-lecircncia e enfrentar as formas mais insidiosas de preconceito discriminaccedilatildeo estigma e exclusatildeo
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CAPIacuteTULO 3
ANAacuteLISE DA PRODUccedilAtildeO DO CUIDADO agraveS CRIANccedilAS SUBMETIDAS A IMPLANTE COCLEAR EM UM SERVIccedilO TERCIAacuteRIO DE SAUacuteDE AUDITIVA DE FORTALEZA
Claudia sobral de Oliveira UchoaIlvana Lima Verde Gomes
Emilia Kelma Alves MarquesWilson Junior de Araujo Carvalho
Leilson Lira LimaMaria Salete Bessa Jorge
INTRODUccedilAtildeO
A surdez haacute muitos anos desperta interesse dos pesqui-sadores Do ponto de vista do ouvinte ouvir eacute um privileacutegio que condiciona o desenvolvimento de uma crianccedila em todos os seus aspectos Uma crianccedila com uma surdez severa ou pro-funda pode ter prejuiacutezos irreparaacuteveis na aquisiccedilatildeo de lingua-gem e como consequecircncia sequelas em todos os seus aspectos comunicativos cognitivos afetivos e sociais dentre outros
Caracteriza-se como problema sensorial natildeo visiacutevel que acarreta dificuldades na recepccedilatildeo percepccedilatildeo e reconhecimen-to de sons ocorrendo em distintos graus do mais leve ao mais profundo Observa-se que o aspecto mais sensiacutevel nas deficiecircn-cias auditivas eacute a ausecircncia da linguagem oral e essa ausecircncia eacute realccedilada numa sociedade que se comunica principalmente pela linguagem oral (SILVA PEREIRA ZANOLLI 2007) O deacutefice auditivo pode limitar tambeacutem a comunicaccedilatildeo efetiva e
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a interaccedilatildeo social afetando negativamente a qualidade de vida relacionada agrave sauacutede ao estado cognitivo e emocional (AGRA-WAL PLATZ NIPARKO 2008)
De acordo com as estimativas da World Health Organiza-tion (2012) cerca de 360 milhotildees de pessoas no Mundo pos-suem algum tipo de perda auditiva ou seja 10 da populaccedilatildeo sendo 32 milhotildees de crianccedilas No Brasil satildeo 15 milhotildees de pessoas convivendo com o problema Desses 350 mil tem defi-ciecircncia auditiva severa Estima-se que no Brasil de trecircs a qua-tro crianccedilas em 1000 nascem surdas aumentando para dois a quatro em cada 100 receacutem-nascidos quando provenientes de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal - UTIN (USP 2012)
O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garante a universalidade do acesso equidade integralidade e o controle social1 sobre as poliacuteticas de sauacutede auditiva como princiacutepios que estatildeo em consonacircncia com as diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede-SUS (CFFa 2011)
Para minimizar o dano da deficiecircncia auditiva na popu-laccedilatildeo surgiu entatildeo a Poliacutetica Nacional de Sauacutede Auditiva re-gulamentada pelo Ministeacuterio da SauacutedePortaria GM nordm 2073 de 28 de setembro de 2004 e veio como mais um direito ga-rantido por lei aos que necessitam de um serviccedilo especializado (CFFa 2011)
1 Universalidadeequidade integralidadeecontrole social satildeoprinciacutepios constitu-cionais do Sistema Uacutenico de Sauacutede que norteiam o sistema juriacutedico em relaccedilatildeo aoSUSAuniversalidadeestaacutedispostanoartigo196daConstituiccedilatildeoBrasileirade1988ondedizqueldquoasauacutedeeacuteumdireitodetodosedeverdoEstadordquoOsoutrosprinciacutepiosintegralidade(confereaoEstadoodeverdoldquoatendimentointegralcomprioridadeparaasatividadespreventivassemprejuiacutezodosserviccedilosassistenciaisrdquo)aequidade(oEstadodevetratardesigualmenteosdesiguaisconcentrandoseusesforccediloseinvestimentosemzonasterritoriaiscompioresiacutendicesedeacuteficitsnapres-taccedilatildeodoserviccedilopuacuteblico)econtrolesocial(prevecircaldquoparticipaccedilatildeodacomunidaderdquonas accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede atuando na formulaccedilatildeo e no controle da execuccedilatildeodestes)estatildeodispostosnoartigo198
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Entende-se que o objetivo norteador dessa poliacutetica foi entatildeo estruturar uma rede de serviccedilos regionalizada e hierar-quizada que estabeleccedila linhas de cuidados integrados no aten-dimento das principais causas da deficiecircncia auditiva e deter-minar diretrizes para credenciamento de serviccedilos de atenccedilatildeo baacutesica meacutedia e alta complexidade no atendimento da pessoa com deficiecircncia auditiva Essa normatizaccedilatildeo estaacute na Portaria SASMS nordm 587 de 07102004 que definiu a distribuiccedilatildeo da rede estadual para accedilotildees na atenccedilatildeo baacutesica na meacutedia e alta complexidade (BRASIL 2004)
No que diz respeito ao implante coclear sua efetivaccedilatildeo se deu pela Portaria GMMS nordm 1278 de 20 de outubro de 1999 antes mesmo da regulamentaccedilatildeo da portaria da Poliacutetica Nacio-nal de Sauacutede Auditiva Atualmente eacute uma alta tecnologia para o tratamento da surdez e como tecnologia de sauacutede aponta como o recurso que proporciona melhores resultados aos que dela se utilizam (BRASIL 1999)
O implante coclear como possibilidade de superaccedilatildeo de dificuldades no desenvolvimento linguiacutestico de adultos e crianccedilas surdas veio dar outra esperanccedila ao paciente pelo fato de lhe proporcionar a sensaccedilatildeo auditiva e natildeo apenas a sua am-plificaccedilatildeo (MORET BEVILACQUA COSTA 2007)
Por ser contudo um tratamento de alto custo a atenccedilatildeo terciaacuteria que envolve o Programa de Implante Coclear natildeo eacute ainda um serviccedilo universalmente constituiacutedo Ele eacute um pro-grama que afunila a grande demanda de usuaacuterios necessitados dessa tecnologia avanccedilada Infelizmente os serviccedilos que pos-suem o Programa de Implante Coclear ainda natildeo tecircm acesso integral para todos os que necessitam
A praacutetica integral de assistecircncia ao usuaacuterio requer um mo-delo de projetos coletivos integrados aos cuidados de sauacutede
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em que trabalhadores gestores e usuaacuterios devem ser corres-ponsaacuteveis no fazer sauacutede cotidianamente (ASSIS NASCI-MENTO FRANCO et al 2010) O cuidado resulta de trabalho coletivo que envolve relaccedilotildees de trocas comunicaccedilotildees e inuacute-meros atos associados uns aos outros e que entre si formam o processo produtivo da assistecircncia (ALMEIDA FERREIRA FRANCO et al 2010)
A anaacutelise da organizaccedilatildeo do cuidado eacute um elemento im-portante para produccedilatildeo do cuidado e avaliaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede que nos permite olhar a organizaccedilatildeo das praacuteticas as-sistenciais em sauacutede no cotidiano do trabalho de uma equipe que [] eacute capaz de levar os profissionais a refletirem sobre o cuidado que realizam e a relaccedilatildeo que mantecircm com o usuaacuterio possibilitando o exerciacutecio da autoanaacutelise (ALMEIDA FER-REIRA FRANCO et al 2010)
Ante a carecircncia de pesquisas sobre esse enfoque e por ser o implante coclear um serviccedilo novo que cresce a cada dia com a ampliaccedilatildeo pelo Ministeacuterio da Sauacutede de novos serviccedilos habilitados observa-se a necessidade de investigaccedilatildeo do deli-neamento das praacuteticas da produccedilatildeo do cuidado ao usuaacuterio de um serviccedilo terciaacuterio para subsidiar um atendimento integral de mais qualidade para um maior nuacutemero possiacutevel de pessoas com perda auditiva
Destaca-se tambeacutem a importacircncia do conhecimento das formas de acesso dos usuaacuterios das redes de atenccedilatildeo agrave sauacutede auditiva pois mesmo sendo essa rede de serviccedilo organizada em um complexo sistema de regulaccedilatildeo com fluxo uacutenico eacute im-portante conhecer o caminho que um portador de deficiecircncia auditiva percorre identificando sua trajetoacuteria ateacute o serviccedilo ter-ciaacuterio Muitas vezes essa regulaccedilatildeo natildeo eacute realizada de forma
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hierarquizada de acordo com que o preconizam as diretrizes do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS)
Como objeto do estudo a produccedilatildeo do cuidado de um serviccedilo terciaacuterio de sauacutede auditiva traz alguns questionamen-tos como ocorrem o acesso o acolhimento e o viacutenculo das crianccedilas submetidas agrave cirurgia de implante coclear Como eacute a visatildeo dos profissionais e familiares quanto ao processo do cuidado Como se daacute a participaccedilatildeo destes no tratamento e recuperaccedilatildeo da sua sauacutede O modo de cuidado ofertado pelos profissionais promove a responsabilizaccedilatildeo a estes usuaacuterios
O objetivo deste estudo eacute entatildeo analisar a produccedilatildeo do cuidado agraves crianccedilas submetidas a implante coclear em um serviccedilo de sauacutede auditiva terciaacuterio de Fortaleza mediante a identificaccedilatildeo das formas de acesso dos usuaacuterios a esse serviccedilo terciaacuterio de atenccedilatildeo agrave sauacutede auditiva e a descriccedilatildeo do fluxo as-sistencial e das relaccedilotildees entre crianccedilas submetidas ao implante coclear suas famiacutelias e os trabalhadores de sauacutede no cuidado com base na integralidade
O conhecimento do acesso dos usuaacuterios do Programa de Implante Coclear e as linhas de cuidado aos usuaacuterios dessa rede poderatildeo subsidiar a promoccedilatildeo da reordenaccedilatildeo das accedilotildees e serviccedilos para esse puacuteblico
REFERENCIAL TEoacuteRICO
Em 1999 com a publicaccedilatildeo da portaria que aprovou os criteacuterios de indicaccedilatildeo e contraindicaccedilatildeo de implante coclear e as normas para cadastramento de centrosnuacutecleos para rea-lizaccedilatildeo de implante coclear foi dado um grande salto para a criaccedilatildeo de uma poliacutetica nacional que atendesse a necessidades de usuaacuterios com perda auditiva
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A necessidade de instituiccedilatildeo da poliacutetica emergiu prin-cipalmente apoacutes constataccedilatildeo pelo Ministeacuterio da Sauacutede do desequiliacutebrio entre o nuacutemero de procedimentos referentes ao diagnoacutestico e a concessatildeo do aparelho de amplificaccedilatildeo sonora individual (AASI) em comparaccedilatildeo com a produccedilatildeo ambula-torial dos procedimentos de acompanhamento e reabilitaccedilatildeo auditiva como tambeacutem pelo empenho de profissionais da aacuterea da sauacutede (ARAUacuteJO 2011)
A Poliacutetica Nacional de Sauacutede Auditiva implantada pela Portaria Ministerial GM nordm 2073 veio entatildeo com o objetivo de proporcionar uma superaccedilatildeo de dificuldades para questotildees inerentes a problemas auditivos com o objetivo maior de pro-teger recuperar a sauacutede e garantir a qualidade de vida e auto-nomia das pessoas com deficiecircncia auditiva (BRASIL 2004)
Em contrapartida alguns defendem a posiccedilatildeo de que a Libras eacute a liacutengua natural das comunidades surdas e que as liacuten-guas de sinais natildeo satildeo simplesmente miacutemicas e gestos soltos utilizados pelos surdos para facilitar a comunicaccedilatildeo Consti-tuem liacutenguas com estruturas gramaticais proacuteprias compostas pelos niacuteveis linguiacutesticos o fonoloacutegico o morfoloacutegico o sintaacuteti-co e o semacircntico A mesma utiliza-se de sinais em substituiccedilatildeo agrave liacutengua que todos conheccedilaqm em nas comunicaccedilotildees a liacutengua de sons ou oral (LIBRAS 2012)
Eacute necessaacuterio portanto que a famiacutelia esteja ciente e deci-dida sobre a escolha da liacutengua (sinais ou oral) que seja mais adequada para a crianccedila para que possa estar motivada e capaz de colaborar no seu desenvolvimento
Atualmente 143 unidades de serviccedilos de sauacutede auditiva estatildeo habilitadas em todo o Paiacutes para oferecer atendimento ao deficiente auditivo na atenccedilatildeo baacutesica meacutedia e na alta comple-xidade Os Estados do Amazonas Acre e Roraima poreacutem ain-
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da natildeo possuem tais serviccedilos De acordo com o levantamento da produccedilatildeo 2010 dos Serviccedilos de Sauacutede Auditiva habilitados (DATASUS) foram realizados cerca de um milhatildeo e duzentos mil procedimentos da aacuterea de sauacutede auditiva (CFFa 2011)
No Estado do Cearaacute estatildeo credenciadas oito unidades de serviccedilos de sauacutede auditiva Dentre estas cinco localizam-se no municiacutepio de Fortaleza uma em Juazeiro do Norte uma em Sobral e uma em Cascavel (USP 2012)
Para assegurar atenccedilatildeo integral os serviccedilos de sauacutede de-vem estar configurados em redes sustentadas por criteacuterios flu-xos e mecanismos de pactuaccedilatildeo de funcionamento O desenho loacutegico da rede prevecirc a hierarquizaccedilatildeo dos niacuteveis de comple-xidade viabilizando encaminhamentos resolutivos (dentre os vaacuterios equipamentos de sauacutede) A organizaccedilatildeo e o funciona-mento adequados dos sistemas de referecircncia e contrarreferecircn-cia satildeo portanto requisitos fundamentais para o alcance da integralidade (CFFa 2011)
Os serviccedilos de sauacutede auditiva no Brasil abrangem os qua-tro niacuteveis de atenccedilatildeo agrave sauacutede e cada um com suas responsabi-lidades definidas pela Portaria de sauacutede auditiva e devemse articular mediante um sistema de regulaccedilatildeo organizado
Sabe-se hoje que a cirurgia de implante coclear eacute o que haacute de mais moderno no tratamento da surdez tanto de adultos como de crianccedilas surdas O implante coclear ou mais popular-mente conhecido como ouvido biocircnico eacute um aparelho eletrocirc-nico de alta complexidade tecnoloacutegica que nos uacuteltimos anos para restaurar a funccedilatildeo da audiccedilatildeo nos pacientes portadores de surdez profunda que natildeo se beneficiam do uso de proacuteteses auditivas convencionais (OUVIDO BIOcircNICO 2012)
Trata-se de um equipamento eletrocircnico computadori-zado que substitui totalmente o ouvido de pessoas que tecircm
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surdez total ou quase total Assim o implante eacute que estimula diretamente o nervo auditivo por meio de eletrodos situados dentro da coacuteclea e o nervo leva estes sinais para o ceacuterebro Eacute um aparelho muito sofisticado que foi uma das maiores con-quistas da Engenharia ligada agrave Medicina Jaacute existe haacute alguns anos e hoje cerca de 150000 pessoas no Mundo jaacute o estatildeo usando No Brasil cerca de 2000 pessoas jaacute utilizam este apa-relho(OUVIDOBIOcircNICO2012)
No Estado do Cearaacute foram realizadas cerca de 100 cirur-gias no Hospital Geral de Fortaleza uacutenico serviccedilo puacuteblico no Cearaacute cadastrado para tal procedimento
O implante coclear como alternativa de tratamento para crianccedilas deficientes auditivas preacute-linguiacutesticas apresenta inuacute-meras peculiaridades Natildeo se trata apenas de um procedimento ciruacutergico no qual a crianccedila pode ser conduzida exclusivamen-te por seu dispositivo eletrocircnico Constitui-se na verdade de um processo multifatorial que ocorre em trecircs fases distintas na avaliaccedilatildeo preacute-ciruacutergica no ato ciruacutergico e no acompanha-mento (MORET BEVILACQUA COSTA 2007)
Os usuaacuterios com deficiecircncia auditiva tecircm que cumprir al-guns criteacuterios primordiais definidos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede que regulamenta as condiccedilotildees de um candidato estar apto a receber um implante coclear Por isso poucos satildeo os que satildeo privilegiados e recebem pelo SUS toda a assistecircncia que envolve esse Programa (TEIXEIRA 2009) Para se chegar a esse niacutevel de alta complexidade o usuaacuterio deve ser referen-ciado pelos outros niacuteveis de atenccedilatildeo (Conselho Federal de Fo-noaudiologia 2011)
Para que esse novo modelo assistencial em sauacutede em que a atenccedilatildeo ao usuaacuterio eacute o foco eacute necessaacuterio uma mudanccedila no processo de trabalho Essa deveraacute ser fundamentada na pro-
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duccedilatildeo do cuidado na perspectiva da autonomia do sujeito norteada pelo Princiacutepio da Integralidade e requerendo como ferramentas a interdisciplinaridade a intersetorialidade o trabalho em equipe a humanizaccedilatildeo dos serviccedilos e a criaccedilatildeo de viacutenculos entre usuaacuterioprofissionalequipe de sauacutede (RODRI-GUES ARAUacuteJO 2003)
Franco e Mehry (2003) consideram entatildeo a integralidade como um potente dispositivo para desencadear processos de transformaccedilatildeo das praacuteticas de sauacutede permitindo um redire-cionamento do modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede
Nesse acircmbito Assis Nascimento e Franco et al (2010) assinalam que o profissional de sauacutede teria que repensar as praacuteticas desenvolvidas em seu cotidiano e rever os valores e conhecimentos de todos os sujeitos envolvidos no processo de produccedilatildeo social da sauacutede para favorecer a elaboraccedilatildeo de uma consciecircncia sanitaacuteria Esses autores compreendem a respon-sabilizaccedilatildeo da equipe com o usuaacuterio para tornaacute-lo autocircnomo e acompanhar seu processo terapecircutico concebendo a pessoa como sujeito social capaz de traccedilar projetos proacuteprios de de-senvolvimento e ser coparticipante no cuidado a ele oferecido
Eacute preciso portanto compreender a produccedilatildeo do cuidado como cenaacuterio de relaccedilotildees como trabalho vivo em ato consu-mido no momento em que eacute produzido no qual encontros e desencontros satildeo visiacuteveis ou invisiacuteveis em meio ao poder entre sujeitos e territoacuterios (FRANCO MEHRY 2003)
Eacute preciso no entanto (des)constituir a praacutetica centrada no meacutedico e nos saberes pautados nos nuacutecleos especializados sendo necessaacuterio incorporar aos saberes ampliados agrave dimen-satildeo cuidadora de cada trabalhador de sauacutede a valorizaccedilatildeo do outro a preocupaccedilatildeo com o cuidado e o respeito com a visatildeo de mundo de cada um considerando o outro como cuacutemplice
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de estrateacutegias de promoccedilatildeo prevenccedilatildeo cura e reabilitaccedilatildeo dos usuaacuterios
METODOLOGIA
Este eacute um ensaio de natureza qualitativa por ser pertinen-te agrave investigaccedilatildeo das dimensotildees subjetivas que envolvem as praacuteticas de sauacutede Nessa perspectiva a abordagem qualitativa vem ao encontro do objeto de estudo desta pesquisa uma vez que haacute uma preocupaccedilatildeo com o aprofundamento e abrangecircn-cia da compreensatildeo dos processos de trabalho que envolvem o cuidado e a assistecircncia aos usuaacuterios de um serviccedilo de sauacutede
O estudo foi realizado no Hospital Geral de Fortaleza que foi credenciado pelo Ministeacuterio da Sauacutede em 15092009 me-diante a Portaria MS nordm 4402009 para a realizaccedilatildeo de cirurgias de implante coclear O local do estudo foio Setor de Proacutetese Auditiva coordenado pelo Setor de Fonoaudiologia locali-zado no Ambulatoacuterio de Proacutetese Auditiva que divide com a Otorrinolaringologia o Ambulatoacuterio nuacutemero nove do 1ordm an-dar da Unidade Reacutegis Jucaacute
O Programa de Implante Coclear eacute composto de uma equipe compreendendo fonoaudioacutelogos responsaacuteveis pela avaliaccedilatildeo dos candidatos a cirurgia de implante coclear ate-lemetria de respostas neurais (procedimento realizado no ato ciruacutergico) ativaccedilatildeo do implante e mapeamentos de programa-ccedilatildeo perioacutedica e reabilitaccedilatildeo psicoacuteloga cirurgiotildees otorrinola-ringologistas e assistente social
Obedece a uma portaria do Ministeacuterio da Sauacutede que orienta quanto aos criteacuterios a serem cumpridos para escolha dos candidatos a receberem o dispositivo do implante coclear
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As pessoas pertencentes agrave pesquisa foram divididas em dois grupos 15 familiares das crianccedilas operadas pelo progra-ma e cinco profissionais de sauacutede atuantes no Programa de Implante Coclear do Hospital Geral de Fortaleza
As entrevistas foram realizadas apenas com o primeiro grupo aproveitando o momento em que a crianccedila estava em atendimento quando utilizou-se um roteiro de entrevista se-miestruturada aplicada com o objetivo de coletar informaccedilotildees relativas ao acesso da crianccedila ao serviccedilo de implante coclear e ao atendimento recebido As questotildees norteadoras orienta-ram o relato dos entrevistados e natildeo houve limitaccedilatildeo do tempo para a sua aplicaccedilatildeo
Foram entrevistados 17 componentes familiares respon-saacuteveis pelas crianccedilas (sendo 16 matildees e uma irmatilde) dentre as quais duas foram descartadas pois natildeo contribuiacuteram para o objetivo da pesquisa A realizaccedilatildeo da coleta das informaccedilotildees com os usuaacuterios foi realizada nos meses de agosto e setembro de 2013
As entrevistas realizadas com os participantes foram transcritas para melhor utilizaccedilatildeo A anaacutelise dos dados foi baseada nas regras da anaacutelise de conteuacutedo proposta por Flick (2009) que obedece aos seguintes passos siacutentese da anaacutelise de conteuacutedo por meio da omissatildeo de enunciados anaacutelise expli-cativa de conteuacutedo com o esclarecimento de trechos difusos ambiacuteguos ou contraditoacuterios por fim a anaacutelise estruturadora de conteuacutedo por meio da estruturaccedilatildeo no niacutevel formal relativo ao conteuacutedo
O material em anaacutelise eacute avaliado constrastivamente com as leituras reflexivas na tentativa de reduzir o material com base em nuacutecleos de sentidos que posteriormente satildeo agrupa-dos por semelhanccedilas Esta anaacutelise compreende criticamente o
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sentido manifesto ou oculto das comunicaccedilotildees o significado das mensagens com um olhar atento aos objetivos da pesquisa (MOZZATO GEZYBOVSKI 2011)
Apoacutes a transcriccedilatildeo das entrevistas realizou-se levanta-mento e organizaccedilatildeo do material coletado Observando os objetivos propostos pela pesquisa fez-se a primeira leitura do material empiacuterico abstraindo os nuacutecleos de sentido orienta-dos pelas temaacuteticas discutidas Nessa perspectiva buscou-se fazer os recortes de grupos de temas semelhantes reduzindo o material a categorias
Para o grupo dos profissionais de sauacutede foi realizada uma oficina como teacutecnica de coleta de dados agendada previa-mente Todos os participantes do setor de implante coclear do Hospital foram convidados pessoalmente a participar da ofici-na Neste momento foi explicado o objetivo da pesquisa e soli-citada a sua presenccedila no dia marcado Foi utilizado um roteiro com algumas questotildees norteadoras para iniciar o debate entre os profissionais o qual foi gravado mediante o consentimento deles com o intuito de facilitar a posterior anaacutelise dos dados
O grupo foi conduzido por duas moderadoras que ques-tionavam os profissionais a relatarem os fluxos de atendimen-to do serviccedilo seus protocolos de atendimento e as dificulda-des encontradas para sua realizaccedilatildeo Contou com o auxiacutelio de duas colaboradoras para o registro de imagens fotograacuteficas de viacutedeo e gravaccedilatildeo de aacuteudio a fim de auxiliar na coleta de infor-maccedilotildees importantes durante a realizaccedilatildeo da oficina e posterior exame dos indicadores
Durante a oficina foi elaborado com base na ferramenta proposta por Mehry e Franco (2003) o Fluxograma Analisa-dor que eacute um instrumento de autoanaacutelise e de autogestatildeo do processo de trabalho em sauacutede O uso dessa ferramenta se deu
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coletivamente no espaccedilo do serviccedilo mapeando o desenvolvi-mento dos processos no cotidiano tendo como foco central o usuaacuterio
O Fluxograma Analisador permite um olhar agudo sobre os fluxos no momento da produccedilatildeo da assistecircncia agrave sauacutede e a detecccedilatildeo de seus problemas A interaccedilatildeo do grupo levou agrave compreensatildeo dos processos que envolvem sua atividade bem como sua implicaccedilatildeo com uma dada realidade o que lhe daacute a possibilidade de intervir para provocar processos de mudanccedila nos espaccedilos onde atua (FRANCO 2003)
Para a anaacutelise dos processos de trabalho foi considerado o Fluxograma Analisador proposto por Mehry elaborado pelos profissionais durante a oficina
A pesquisa foi submetida ao Comitecirc de Eacutetica em Pesqui-sa da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) como entidade proponente e do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) como uni-dade coparticipante Foi aprovado de acordo com os respec-tivos pareceres nordm 274583 e nordm 301269 O iniacutecio da coleta de dados se deu apoacutes a sua aprovaccedilatildeo Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e posteriormente assi-nado por todos os participantes de acordo com o que rege a Resoluccedilatildeo nordm 46612 do Conselho Nacional de Sauacutede
RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
Observou-se que todos os familiares entrevistados se dis-puseram muito bem a participar da pesquisa Ao primeiro contato com um dos pesquisadores aceitaram prontamente contribuir ou seja natildeo se houve recusa de nenhum familiar Quanto aos profissionais tambeacutem se pode dizer o mesmo Para a realizaccedilatildeo da oficina a fim de elaborar o Fluxograma
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Analisador os profissionais participaram com muita presteza e objetividade
Na anaacutelise das entrevistas com os membros familiares emergiram duas temaacuteticas e suas respectivas categorias Te-maacutetica - Caminho desde a descoberta da surdez ateacute o Serviccedilo de Implante Coclear e as categorias a Descoberta da surdez b Busca pelos serviccedilos de sauacutede e c Acesso ao serviccedilo de implante coclear do HGF A segunda temaacutetica beneficiou a Produccedilatildeo do Cuidado agrave crianccedila submetida agrave cirurgia de im-plante coclear com as categorias a O cuidado pela equipe de sauacutede fluxos de atendimento no serviccedilo de implante coclear b Cuidado pela famiacutelia participaccedilatildeo envolvimento e corres-ponsabilizaccedilatildeo e c Percepccedilotildees diante dos resultados do trata-mento- expectativas e realidade
Observou-se com essas entrevistas que a descoberta da surdez acontece na maioria dos casos em idade tardia muitas vezes por uma atenccedilatildeo baacutesica fragilizada que natildeo detecta essas dificuldades As matildees percebiam que seus filhos podiam ter al-guma dificuldade mas como a surdez se pronuncia como uma dificuldade silenciosa o diagnoacutestico se tornou mais difiacutecil
Costa (2000) reafirma que as suspeitas dos pais acerca de uma possiacutevel surdez natildeo ocorrem logo nos primeiros meses pois o desenvolvimento de uma crianccedila que nasce surda se processa normalmente tal como na crianccedila ouvinte Assim as suspeitas de surdez ficam adormecidas uma vez que as crian-ccedilas surdas como as ouvintes tecircm comportamentos adaptados agraves interaccedilotildees estabelecidas por elas com os adultos mais proacutexi-mos e deste modo soacute por volta de um ano de idade eacute que satildeo notadas as diferenccedilas e as dificuldades de comunicaccedilatildeo
Uma forma de detectar precocemente a surdez de uma crianccedila eacute a realizaccedilatildeo do ldquoTeste da orelhinhardquo ou Triagem
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Auditiva Neonatal nos primeiros dias de vida Apoacutes a sua realizaccedilatildeo eacute possiacutevel iniciar o diagnoacutestico e o tratamento das alteraccedilotildees auditivas precocemente O Conselho Federal de Fo-noaudiologia e outras entidades brasileiras recomendam que o exame seja realizado na maternidade antes da alta hospitalar
Apoacutes a descoberta precoce da surdez o profissional de sauacutede tem papel fundamental na orientaccedilatildeo familiar quanto a todas as possibilidades para essa crianccedila A decisatildeo da famiacutelia afetaraacute todo o seu futuro quanto agrave escolha de um tratamento mais adequado E uma das estrateacutegicas mais acertadas pelos profissionais eacute propiciar aos familiares todas as informaccedilotildees necessaacuterias quanto agrave surdez
Da anaacutelise geral de todas as entrevistas parece ressaltar um aspecto que domina e caracteriza o comportamento desses pais Eacute a preocupaccedilatildeo com a comunicaccedilatildeo como se comunicar com a crianccedila e como esta pode se comunicar com eles e os ou-tros Eacute o que motiva a procura por um atendimento especiali-zado para as suas necessidades O que percebeu-se poreacutem foi uma longa caminhada Alguns familiares peregrinam muitas vezes desorientados sem saber como procurar por esses ser-viccedilos e frequentemente ainda sem diagnoacutestico
Outra situaccedilatildeo que observa-se eacute quando a famiacutelia eacute desa-creditada na sua suspeita atrasando o diagnoacutestico e o iniacutecio do tratamento A insatisfaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio dos profissio-nais meacutedicos para o diagnoacutestico eacute grande por estes natildeo acre-ditarem nas suspeitas dos pais afirmando que a crianccedila ouve Por outro lado tambeacutem se tem o caso de pais que natildeo acredi-tam no diagnoacutestico da surdez contrariando a opiniatildeo meacutedica Os pais entatildeo procuram outros profissionais que confirmem as suas esperanccedilas atrasando assim a intervenccedilatildeo precoce ne-cessaacuteria agrave crianccedila (RODRIGUES PIRES 2002)
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Algumas relataram que ao receberem a notiacutecia logo pro-curaram pelo tratamento de seus filhos poreacutem haacute dificuldades e demora ateacute chegar a um serviccedilo com maior resolubilidade considerando que se trata de serviccedilos que deveriam estar co-nectados para resolver os problemas de sauacutede Eacute visiacutevel a falta de cobertura da assistecircncia na rede baacutesica fazendo com que alguns usuaacuterios busquem de imediato o atendimento numa unidade especializada sem que houvesse um diaacutelogo dos pro-fissionais com as outras instacircncias do cuidado de modo a faci-litar a integraccedilatildeo dos serviccedilos
Nesta busca pelos serviccedilos de sauacutede os usuaacuterios procuram opccedilotildees para conseguir chegar ateacute o serviccedilo de que tanto neces-sitam Segundo os profissionais da equipe de implante coclear essa situaccedilatildeo acontece com frequecircncia Quando satildeo solicitados exames para avaliaccedilatildeo do paciente muitos familiares se utili-zam de planos de sauacutede para a sua realizaccedilatildeo com o intuito re-solver mais rapidamente Encontrou-se tambeacutem uma grande demanda de usuaacuterios que chegam ateacute o serviccedilo terciaacuterio por meio de uma procura espontacircnea
Contrapondo-se essa realidade tambeacutem teve relatos de usuaacuterios que natildeo conseguiram chegar facilmente ateacute os servi-ccedilos de sauacutede auditiva Um fator determinante dessa dificulda-de eacute a distacircncia entre os usuaacuterios e os serviccedilos especializados jaacute que estes se concentram nos grandes centros urbanos
A Rede de Sauacutede Puacuteblica precisa integrar os seus serviccedilos para facilitar os casos em que alguns pacientes tecircm que per-correr muitos quilocircmetros para fazer um tratamento A maio-ria dos municiacutepios oferece esse serviccedilo de transporte de seus usuaacuterios mas agraves vezes natildeo conseguem vaga na data marcada pela grande demanda de pacientes que dele se utilizam A dis-
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tacircncia entre esses serviccedilos especializados e os usuaacuterios com-promete seu atendimento
Eacute imprescindiacutevel que os serviccedilos de sauacutede estejam organi-zados em uma rede de atenccedilatildeo para referenciar seus usuaacuterios sendo observada a classificaccedilatildeo de risco a vulnerabilidade des-se usuaacuterio e a garantia da continuidade do cuidado
Observou-se que todos os usuaacuterios que chegam ateacute o ser-viccedilo de implante coclear relatam a indicaccedilatildeo ou encaminha-mento por um profissional ou ainda outra forma de acesso Natildeo se conseguiu ainda encontrar algum que tenha sido en-caminhado pela Central de Regulaccedilatildeo Isso denota que o aces-so regulado ao serviccedilo terciaacuterio de sauacutede auditiva no Cearaacute por um sistema informatizado ainda natildeo estaacute efetivamente funcionando
Na anaacutelise da oficina realizada com os profissionais de sauacutede foram descritos os fluxos de atendimentos do serviccedilo apresentando tambeacutem alguns ruiacutedos que interferem na con-tinuidade do cuidado a esses usuaacuterios Analisando o fluxo-grama formulado pelos profissionais pode-se verificar como o atendimento do serviccedilo de implante coclear do HGF ocorre
A elaboraccedilatildeo do Fluxograma Analisador funcionou como importante dispositivo para trazer um olhar sobre as relaccedilotildees entre os trabalhadores os usuaacuterios e o serviccedilo Com a com-preensatildeo dessas relaccedilotildees conclui-se que os profissionais de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelos seus usuaacuterios e isso traz uma sig-nificacircncia muito grande no concernente agrave Produccedilatildeo do Cui-dado Tambeacutem ante as diversas entrevistas realizadas pocircde-se compreender de forma geral que os usuaacuterios percebem o acolhimento e consequentemente o cuidado aos seus filhos
Pocircde-se entender entatildeo que a integralidade pode ser al-canccedilada como os diversos dispositivos como o acesso ao ser-
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viccedilo de sauacutede o viacutenculo entre os profissionais e os usuaacuterios e a responsabilizaccedilatildeo e a resolubilidade no estabelecimento das linhas de cuidado em todos os serviccedilos da rede de atenccedilatildeo agrave sauacutede E a articulaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre profissionais de sauacutede e usuaacuterios pode ser vista como possibilidade de abertura para uma comunicaccedilatildeo permitindo melhor compreensatildeo dos seus problemas de sauacutede
CONSIDERAccedilOtildeES FINAIS
Os profissionais de sauacutede do estudo demonstraram pro-funda vinculaccedilatildeo com as famiacutelias e os usuaacuterios Estes se preo-cupam desde o acolhimento ateacute a continuidade do cuidado quando procuram organizar os retornos de acordo com as condiccedilotildees da famiacutelia As praacuteticas acolhedoras e os laccedilos afeti-vos entre os sujeitos possuem uma abordagem que privilegia a continuidade do cuidado e um viacutenculo com a responsabiliza-ccedilatildeo assegurando assim accedilotildees direcionadas para a resoluccedilatildeo dos seus problemas
As famiacutelias das crianccedilas submetidas agrave cirurgia de implante coclear satildeo participativas e envolvidas com o tratamento do filho Satildeo cientes de que eacute parte integrante do processo e que o desenvolvimento da linguagem eacute produto das relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas por esse envolvimento Procuram enca-rar as dificuldades buscando a compreensatildeo dos problemas com a criaccedilatildeo de viacutenculos com a equipe de sauacutede e a necessi-dade de readequaccedilatildeo de comportamentos perante a crianccedila
Essa confianccedila que os pais tecircm nos profissionais eacute fator decisivo para o sucesso do tratamento da crianccedila Outros fa-tores que contribuem para o sucesso do implante coclear satildeo a idade em que a crianccedila recebe o implante coclear o tempo
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de privaccedilatildeo sonora as caracteriacutesticas individuais da crianccedila o acompanhamento ciruacutergico rigoroso e o envolvimento da famiacutelia
Sendo assim o implante coclear por si natildeo garante o sucesso da habilitaccedilatildeo Depende aleacutem de todos os fatores in-triacutensecos agrave reabilitaccedilatildeo auditiva de uma famiacutelia que invista e acredite no seu desenvolvimento Famiacutelia e paciente precisam estar suficientemente motivados para usar o implante e se sub-meterem agraves adaptaccedilotildees que teratildeo que fazer no seu cotidiano
Os pais demonstraram ter muitas expectativas a respeito dos benefiacutecios que o implante coclear poderaacute propiciar na vida de seus filhos O benefiacutecio que mais esperam estaacute relacionado agrave melhoria da comunicaccedilatildeo jaacute que eacute nesse aspecto que os pais encontram dificuldade no conviacutevio com seus filhos Melhorar a comunicaccedilatildeo significa para a maioria deles que o filho possa ouvir e consequentemente falar
Quanto agraves questotildees relacionadas ao conhecimento e compreensatildeo das famiacutelias sobre o tratamento e todas as suas peculiaridades apreende-se que elas satildeo bem orientadas Sa-bem descrever com detalhes todas as fases do tratamento bem como as fases ainda a serem vivenciadas e a necessidade de uma reabilitaccedilatildeo fonoaudioloacutegica sistemaacutetica
Compreendem que o implante coclear pode trazer melhor qualidade de vida aos seus filhos e que iraacute facilitar algumas si-tuaccedilotildees como o estudo o trabalho a comunicaccedilatildeo e socializa-ccedilatildeo e principalmente a possibilidade de melhor se desenvol-verem e no futuro cuidarem da proacutepria vida
Ao depararem a possibilidade de realizar a cirurgia de im-plante coclear para solucionar a surdez de um filho os pais depositam essa expectativa de tal forma que veem o procedi-
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mento como um sonho realizado e essa expectativa pode ser alta e permeada por mitos e fantasias Alguns familiares acre-ditam que o implante coclear eacute a ldquocurardquo a uacutenica possibilidade de ouvir e falar Essa expectativa no entanto deve ser encara-da e desmistificada pela equipe multidisciplinar trazendo para a realidade a condiccedilatildeo de cada crianccedila
A expectativa pelo implante coclear pode produzir nas famiacutelias muitas duacutevidas medos e inseguranccedilas referentes agrave cirurgia considerando que envolve riscos e benefiacutecios Perce-beu-se entretanto que os familiares do estudo se acham segu-ros de sua decisatildeo e que fizeram a melhor escolha pelos seus filhos
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CAPIacuteTULO 4
OBTENccedilAtildeO DO CONSENTIMENTO INFOR-MADO E PERMANecircNCIA DO PACIENTE EM UMA PES-QUISA CLIacuteNICA CONTRIBUIccedilAtildeO DA RELAccedilAtildeO PROFISSIONAL PACIENTE
Edina Silva CostaAndrea Caprara
Amanda Pereira FerreiraCyntia Monteiro Vasconcelos Motta
Selma Antunes Nunes DinizJuliana Alencar Moreira Borges
INTRODUccedilAtildeO
O Consentimento Informado (CI) refere-se ao esclare-cimento do paciente eou responsaacutevel a respeito do procedi-mento ao que seraacute submetido A intenccedilatildeo eacute obter o seu con-sentimento de forma voluntaacuteria por meio da assinatura para a aceitaccedilatildeo de uma intervenccedilatildeo ou participaccedilatildeo em uma pes-quisa especiacutefica Nesse caso o sujeito deve participar de todas as decisotildees e estaremcientes dos riscos benefiacutecios e possiacuteveis consequecircncias que possam ocorrer (VAZ e REIS 2007)
Busca-se com a utilizaccedilatildeo do CI a autonomia dos sujeitos e o resguardo dos princiacutepios de beneficecircncia e justiccedila propa-gados pela Bioeacutetica Esse documento procura haacute algum tempo estabelecer princiacutepios eacuteticos que devem ser seguidos em pes-quisas que envolvem seres humanos (PERES et al 2011)
Os fundamentos do CI encontram respaldo nos direitos individuais contidos de modo impliacutecito na Declaraccedilatildeo Uni-
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versal dos Direitos Humanos (1948) ao expressar que ldquoTodos tecircm direito agrave vida escolha e seguranccedila pessoalrdquo (Art 3deg) ldquoNin-gueacutem seraacute submetido agrave tortura puniccedilatildeo cruel desumana ou degradanterdquo (Art 5deg) (SABATOVSKI e FONTOURA 2009)
No Brasil o CI regulamenta-se pela Resoluccedilatildeo nordm 46612 baseada nos principais documentos internacionais resultantes dos coacutedigos declaraccedilotildees e diretrizes sobre pesquisas cientiacutefi-cas Tambeacutem estabelece exigecircncias eacuteticas para o desenvolvi-mento das pesquisas cientiacuteficas e exige que o esclarecimento dos sujeitos se faccedila em linguagem acessiacutevel ao seu niacutevel socio-cultural dos mesmos (BRASIL 2013)
A obtenccedilatildeo do CI no exerciacutecio das praacuteticas de sauacutede eacute proacutepria das uacuteltimas deacutecadas e caracteriza o aperfeiccediloamento da eacutetica nesse setor constituindo-se como um requerimento obrigatoacuterio na pesquisa que envolve seres humanos em espe-cial na investigaccedilatildeo cliacutenica Uma vez que estudos cliacutenicos re-querem um recrutamento significativo de participantes e satildeo desenvolvidos em sua maioria mediante procedimentos inva-sivos eacute necessaacuterio um cuidado mais detalhado no cumprimen-to dos princiacutepios eacuteticos da pesquisa durante todo o transcorrer do estudo (SILVA OLIVEIRA e MUCCIOLI 2005)
Esse tipo de estudo eacute desenvolvido em todo o Mundo e no Brasil registra crescimento constatado com a criaccedilatildeo da Rede Nacional de Pesquisa Cliacutenica (RNPC) em 2005 cujo objetivo eacute a consolidaccedilatildeo desse tipo de busca no Paiacutes e o incremento da produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica em todo o Territoacuterio Nacio-nal (BRASIL 2011)
Vale destacar o fato de que a crescente participaccedilatildeo do Brasil no cenaacuterio da pesquisa cliacutenica eacute descrita natildeo soacute em es-tudos cliacutenicos nacionais como tambeacutem em estudos multicecircn-tricos desenvolvidos sempre com base nos princiacutepios estabe-
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lecidos pelo Conselho Nacional de Sauacutede (THIERS SINSKEY e BERNDT 2008)
Esse crescimento traz o reconhecimento do Paiacutes como parceiro em pesquisas multicecircntricas Essa globalizaccedilatildeo dos estudos cliacutenicos no entanto ainda eacute predominante na induacutes-tria farmacecircutica multinacional que expande horizontes em busca de outros centros de pesquisa e ampliando sua capacida-de de recrutamento de pacientes (DAINESI e GOLDBAUM 2012) Esse crescimento natildeo ocorre na mesma proporccedilatildeo quando se trata de estudos cliacutenicos nacionais ou multicecircntri-cos na atenccedilatildeo primaacuteria uma vez que no Brasil essa praacutetica ainda eacute pouco realizada e ateacute mesmo a discussatildeo na literatura sobre o tema eacute escassa
Alguns pontos dificultam a realizaccedilatildeo de estudos cliacutenicos multicecircntricos na atenccedilatildeo primaacuteria e podem ser facilmente percebidos quando se observam a falta de estrutura das uni-dades de sauacutede a ausecircncia de profissionais habilitados a obri-gatoriedade do seguimento das condutas eacuteticas estabelecidas pelos protocolos de pesquisa e a necessidade de adaptaccedilatildeo de documentos eacuteticos como o CI para que possam ser desenvol-vidos estudos deste tipo no Brasil
Apesar das dificuldades enfrentadas no desenvolvimento de uma pesquisa cliacutenica na Atenccedilatildeo Primaacuteria natildeo se pode ne-gar sua importacircncia Nesse sentido o Manual sobre Eacutetica com Seres Humanos (2010) da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo expotildee que ldquopesquisas deste tipo podem produzir resultados re-levantes mas para isso devem sempre indicar como requisito fundamental para sua realizaccedilatildeo a o uso do CI o qual exprime que todo participante deve deixar claro a intenccedilatildeo de contri-buir com o estudo mediante assinatura desse documentordquo
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O Manual ressalta ainda que um dos fatores que muito contribui para o desenvolvimento satisfatoacuterio das pesquisas em sauacutede eacute a boa qualidade da relaccedilatildeo profissional paciente (RPP)
Diversos trabalhos apontam que um bom relacionamento com o profissional aumenta a satisfaccedilatildeo do paciente e a quali-dade do serviccedilo de sauacutede (CAPRARA e RODRIGUES 2004)
Tendo por base as consideraccedilotildees retroexpostas observa-se que ante contexto eacutetico da pesquisa com seres humanos o CI aparece sempre como um elemento essencial ao desenvol-vimento das pesquisas em sauacutede e a RPP como ferramenta de maacutexima importacircncia para sua obtenccedilatildeo Assim este es-tudo teve como objetivo verificar qual a influecircncia da RPP para obtenccedilatildeo do Consentimento Informado e permanecircncia do paciente em uma pesquisa cliacutenica desenvolvida na atenccedilatildeo primaacuteria
MeacuteTODOS
Este eacute um estudo de natureza qualitativa do tipo explo-ratoacuterio e descritivo desenvolvido mediante recorte de uma pesquisa multicecircntrica intitulada Consoacutercio Internacional de Pesquisa em Gestatildeo de Risco Avaliaccedilatildeo e Vigilacircncia em Den-gue (IDAMS) financiada pela Uniatildeo Europeia e envolvendo seis paiacuteses Vietnatilde Malaacutesia Indoneacutesia Camboja Alemanha e o Brasil (CearaacuteFortaleza) Que tinha como objetivo identificar o diagnoacutestico precoce e diferencial entre dengue claacutessica e gra-ve distinguindo-as de outras doenccedilas febris em ateacute 72h apoacutes o iniacutecio da febre no Serviccedilo de Atenccedilatildeo Primaacuteria
O experimento foi realizado na Unidade de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede (UAPS) Paracampos unidade de sauacutede
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localizada no bairro Mondubim da cidade de Fortaleza-CE e vinculada agrave Secretaacuteria Executiva Regional V da Prefeitu-ra Municipal Aescolha desta UAPS se deu pelo fato de seus profissionais meacutedicos e enfermeiros terem participado de um treinamento em boas praacuteticas cliacutenicas o que os tornou aptos a colaborarem no atendimento aos pacientes do IDAMS
A coleta dos dados ocorreu nos meses de marccedilo e junho de 2013 por meio de observaccedilotildees participantes diaacuterios de campo e entrevistas A populaccedilatildeo foi composta pelos profis-sionais e pacientes cadastrados no IDAMS o que permitiu a composiccedilatildeo de uma amostra de 15 pacientes e dois profissio-nais constituindo 17 colaboradores
Para anaacutelise dos dados foi utilizada como ferramenta de organizaccedilatildeo o software Qualitative Solutions Research Nvivo (QSR) versatildeo 20 que corresponde a um software desenvolvi-do para realizar a organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados qualitati-vos Desenvolvida pela Universidade de La Trobe Melbourne Austraacutelia este programa ajuda na administraccedilatildeo e siacutentese das ideias dos pesquisadores e fornece a possibilidade de acrescen-tar modificar ligar e cruzar dados originados de documentos textuais (FERREIRA e MACHADO 1999)
Apoacutes realizada a codificaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos dados pelo software QSR Nvivo foi efetuada a anaacutelise temaacutetica dos temas provindos dessa organizaccedilatildeo jaacute que essa teacutecnica eacute consi-derada apropriada para as investigaccedilotildees qualitativas em sauacutede (MINAYO 2010)
Foram levadas em consideraccedilatildeo as exigecircncias contidas na Resoluccedilatildeo nordm 46612 que atualmente regulamenta os as-pectos eacutetico-legais da pesquisa com seres humanos Aos par-ticipantes foram asseguradas a autonomia natildeo maleficecircncia beneficecircncia anonimato privacidade e o direito agrave desistecircncia
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em qualquer etapa da pesquisa Foi solicitada aos participan-tes a assinatura do Termo de Consentimento Informado apoacutes os devidos esclarecimentos sobre esse documento (BRASIL 2007)
ACHADOS E DISCUSSOtildeES
Neste seguimento estatildeo os achados obtidos nas entrevis-tas e observaccedilotildees bem como se promove uma discussatildeo ba-seada nas reflexotildees procedidas Buscou-se compreender por meio das falas e observaccedilotildees de que forma a RPP contribuiu para a assinatura e a permanecircncia do participante em um de-terminado estudo cliacutenico
Na sequecircncia satildeo indicadas as categorias constituiacutedas apoacutes submissatildeo do material coletado no campo de estudo agraves etapas da anaacutelise do software N-VIVO tendo por base os ob-jetivos delineados Satildeo elas PROCURA POR ASSISTEcircNCIA e ACOLHIMENTO E SATISFACcedilAtildeO DO USUAacuteRIO
Procura por Assistecircncia
O foco desta discussatildeo nesse momento se volta breve-mente para a dengue por ser essa a doenccedila acompanhada pelo IDAMS e por ser essa a enfermidade responsaacutevel pela procura de assistecircncia na referida unidade de estudo
A Atenccedilatildeo Primaacuteria oferece um atendimento que utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade para resolver os problemas de sauacutede de maior frequecircncia e de rele-vacircncia em seu territoacuterio A intensidade e o modo de utilizaccedilatildeo desse niacutevel de atenccedilatildeo no entanto estatildeo relacionados agrave capaci-dade de a pessoa se avaliar em seu estado de sauacutede assim como
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suas expectativas e necessidades de sauacutede O relativo grau de autonomia que possui tambeacutem colabora com esta determina-ccedilatildeo (GOLDBAUM GIANINI NOVAES e CEacuteSAR 2005)
A disparidade entre os princiacutepios do SUS e a realidade vi-venciada pelos usuaacuterios da Atenccedilatildeo Primaacuteria favorece a busca pelos serviccedilos de sauacutede apenas quando eacute realmente necessaacuterio
Assim notou-se que a procura pelo serviccedilo de sauacutede mui-tas vezes ocorre pela necessidade real de atendimento a qual pode ser percebida pela presenccedila de sinais e sintomas seja de dengue de qualquer outra doenccedila ou de uma alteraccedilatildeo que requeira cuidados Isto acarreta em uma maior predisposiccedilatildeo do paciente a aceitar o tratamento que for sugerido pelo pro-fissional mesmo que terapia esteja vinculada a estudos cien-tiacuteficos como o que ocorreu com os participantes do IDAMS ao relatarem que inicialmente aceitaram participar do estudo cliacutenico por meio da assinatura do CI em razatildeo da presenccedila dos sintomas de dengue e da promessa da garantia de receber as-sistecircncia conforme o relato apresentado
[] Assinei [o consentimento] porque eu tava tatildeo mal mesmo e eu queria era ser aten-dida eu estava ruim queria ser atendida por-que eu natildeo consegui nem andar direito era febre e vocircmito direto aiacute eu assinei o [consen-timento][] (ANA)
[] Assinei [o consentimento] por que eu tava doente neacute e a [profissional] disse que eu ia fazer os exames pra saber se era den-gue e se fosse fazia o tratamento aqui no posto aiacute assinei [consentimento] porque eu tava doente e queria saber realmente o que era que eu tinha Eacute ruim demais essa doenccedila tava de cama pra se levantar era um sacrifiacutecio [] (JOANA)
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Foi possiacutevel perceber que essa necessidade e busca por cuidado estavam presentes nos pacientes que aceitaram par-ticipar do IDAMS Deixaram claro em suas falas que a adesatildeo agrave pesquisa se deu porque estavam agrave procura de solucionar as necessidades de sauacutede jaacute que a pesquisa oferecia essa possibi-lidade de forma integral diaacuteria e sem a necessidade de per-correr grandes distacircncias para chegar ao serviccedilo por isso eles decidiam assinar o documento CI como se pode identificar
[] Eu assinei [o consentimento] justamen-te por estar doente por que eacute uma garantia de ser atendida aqui perto de casa [] (ANA PAULA)
[] Porque eu achei interessante ia fazer os exames tudo aqui mesmo no posto por-que se eu tivesse com a dengue mesmo ia ser acompanhada aqui mesmo neacute [] (JOSEFA)
A realizaccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas na Atenccedilatildeo Primaacute-ria eacute uma praacutetica bem comum entretanto quando se fala em pesquisa cliacutenica essa praacutetica deixa de ser tatildeo comum e passa a ser um desafio jaacute que a pesquisa cliacutenica ainda eacute objeto de preconceito principalmente em paiacuteses perifeacutericos A origem deste preconceito eacute justificada pelo histoacuterico de certos estudos cientiacuteficos altamente condenaacuteveis do ponto de vista eacutetico (LA-CATIVA et al 2008)
Por diversas razotildees - como falta de estrutura de incen-tivo financeiro e ateacute de profissionais qualificados - natildeo eacute tatildeo comum a realizaccedilatildeo de estudos cliacutenicos na atenccedilatildeo primaacuteria Quando essa praacutetica ocorre um dos motivos se natildeo o principal deles que levam os pacientes a aderir ao estudo no momento que chegam ao serviccedilo em busca de atendimento eacute sem duacutevi-das a busca pela cura
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[] Eu assinei [o consentimento] porque eu queria ficar boa porque queria fazer o tra-tamento Eacute muito ruim vocecirc taacute doente sem poder fazer nada Eu fui bem atendida mas mesmo que natildeo tivesse sido eu tinha assina-do por que eu queria era ficar boa [] (MAR-TA)
[] Todo mundo do posto foi muito legal comigo mas primeiramente minha sauacutede neacute eu tava preocupada comigo neacute queria ficar boa aiacute assinei o [consentimento] [] (MARIA)
A anaacutelise dos dados junto aos participantes do IDAMS revelou a busca e a necessidade de cuidados como fatores pri-mordiais para a adesatildeo ao estudo o que pode ser facilmen-te identificado nas falas dos entrevistados Corroborando os resultados encontrados e referidos pelos participantes apre-senta-se os achados provenientes do discurso dos profissio-nais envolvidos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e conduccedilatildeo do IDAMS em uma unidade da Atenccedilatildeo Primaacuteria
[] O paciente assina o [consentimento] porque ele ta num momento que ele quer atenccedilatildeo ele quer cuidado entatildeo assim de qualquer forma vocecirc explica esclarece a pes-quisa mais eu tenho duacutevida se ele compreen-de realmente a importacircncia da pesquisa [] ele quer participar dessa pesquisa por que ele vai ter o cuidado vai ter atenccedilatildeo durante o estar na pesquisa [] (JOAQUINA)
[] A gente explica que ele vai ter um acom-panhamento tanto faz ele ta na pesquisa quanto natildeo A gente explica que eacute uma pes-quisa muito importante pra sauacutede [] Que
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eacute uma coisa que vai beneficiar o ser humano [] Mas na verdade o que leva ele a assinar eacute por que ele acha que tem uma garantia de assistecircncia que vai ser atendido diariamente [] (PAULA)
Os profissionais expuseram suas concepccedilotildees sobre adesatildeo ao IDAMS em suas falas as quais convergem para a formaccedilatildeo de uma demanda participativa que possui necessidade expliacuteci-ta e expressa de sauacutede Na visatildeo e experiecircncia dos profissionais o paciente acredita que esta necessidade pode ser garantida eou sanada pela participaccedilatildeo no estudo Assim a obtenccedilatildeo do consentimento informado envolve fatores diretamente rela-cionados agraves condiccedilotildees de sauacutede e doenccedila das pessoas agrave busca pelo cuidado ao acesso a exames consultas e acompanhamen-to profissional
Eacute inegaacutevel que as necessidades de assistecircncia e a busca por atendimento profissional implicam a procura pelo serviccedilo de sauacutede e como a garantia de acesso a tal assistecircncia influencia de forma significativa a participaccedilatildeo das pessoas em um deter-minado estudo cliacutenico Esta afirmaccedilatildeo pode ser visualizada nas falas dos participantes e profissionais do IDAMS aqui repro-duzidas conforme mencionado anteriormente ficando claro que a adesatildeo ao estudo pode ser percebida pelos pacientes e pelos profissionais como a garantia de resoluccedilatildeo dos proble-mas de sauacutede
Acolhimento e Satisfaccedilatildeo do Usuaacuterio
Existem vaacuterias definiccedilotildees de acolhimento o que revela os muacuteltiplos sentidos e significados atribuiacutedos a esse termo No setor sauacutede pode-se dizer que o acolhimento eacute uma praacutetica presente em todas as relaccedilotildees de cuidado nos encontros en-
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tre trabalhadores de sauacutede e usuaacuterios nos atos de receber e escutar as pessoas podendo acontecer de formas variadas na praacutetica constitutiva das relaccedilotildees de cuidado (BRASIL 2011)
O acolhimento na Atenccedilatildeo Primaacuteria deve conduzir os processos de trabalho em sauacutede de forma a atender a todos os que procuram o serviccedilo mediante a escuta de seus pedidos e de uma atitude acolhedora com capacidade de natildeo apenas escutar mas tambeacutem de dar respostas adequadas aos usuaacuterios
Nesse funcionamento o acolhimento deixa de ser accedilatildeo contingente na produccedilatildeo da sauacutede e se multiplica em inuacuteme-ras outras accedilotildees contando para isso com o apoio de uma RPP adequada para que se estabeleccedila um viacutenculo entre paciente e profissional (BRASIL 2006)
O estabelecimento dessa boa relaccedilatildeo permite que se esta-beleccedila um viacutenculo entre os envolvidos ampliando a eficaacutecia das accedilotildees de sauacutede e favorecendo a participaccedilatildeo do usuaacuterio durante a prestaccedilatildeo do serviccedilo (SCHIMITH e LIMA 2004)
Vale lembrar que o efeito terapecircutico produzido por uma boa relaccedilatildeo profissional-paciente eacute reconhecido haacute bastante tempo e que quando bem estabelecida essa relaccedilatildeo passa a ter uma importacircncia fundamental para a adesatildeo agraves propostas terapecircuticas e para o sucesso das intervenccedilotildees contribuindo para as diversas formas de cuidado agrave sauacutede inclusive nas ques-totildees cientiacuteficas como as pesquisas cliacutenicas (SUCUPIRA 2007)
Se no primeiro momento a RPP natildeo se mostrou rele-vante na adesatildeo ao estudo IDAMS ao tratar da permanecircncia do paciente no estudo a boa qualidade da RPP se manifestou com o elemento fundante e indispensaacutevel contribuindo indis-cutivelmente para a conduccedilatildeo do IDAMS inclusive para que muitos dos participantes permanecessem ateacute o final Eacute possiacutevel
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identificar nas falas Fato de que a qualidade RPP surge como fator influenciador na permanecircncia do paciente no estudo cliacute-nico
[] Eu cheguei no posto me acabando de fe-bre e dor em todo canto tudo que eu queria era ficar boa aiacute eu assinei [o consentimento] soacute que eu fui muito bem atendida pelos [pro-fissionais da pesquisa] perguntavam o que que eu tinha o que tava sentindo me explica-vam tudo conversavam comigo ligavam pra saber como eu tava fui muito bem tratada E quem eacute que natildeo gosta de ser bem tratada Se eu tivesse sido mal tratada mal atendida eu natildeo tinha voltado natildeo eu tinha procurado outro canto ou entatildeo tinha passado os dias em casa Com certeza eu ter sido bem trata-da bem cuidada influenciou eu ter ficado na pesquisa ateacute o fim [] e foi por que eu levei um monte de furada Se fosse pra participar de outra pesquisa nesse posto eu fazia tudo de novo [] (MARIA)
Com base no acompanhamento do processo de desenvol-vimento do IDAMS foi possiacutevel identificar por via das ob-servaccedilotildees e das entrevistas a real influecircncia da RPP na cola-boraccedilatildeo dos pacientes nos mais variados tipos de tratamento mesmo que este seja oferecido por meio de uma pesquisa cien-tiacutefica que esteja agrave procura de uma forma para diagnoacutestico e tra-tamento de uma doenccedila a caso do estudo IDAMS a dengue
[] Desde o primeiro dia que eu cheguei aqui no posto me atenderam muito bem Quando eu cheguei aqui correram tudo pra cima de mim conversaram comigo me ex-plicaram da pesquisa perguntaram o que eu tava sentindo fiz os exame tudim colo-
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caram soro ficaram me acompanhando de vez em quando ia laacute na sala perguntar se eu tava melhor se a dor de cabeccedila tinha passado todo tempo foram umas pessoas muito legais comigo Eu achei um atendimento excelen-te aiacute pronto por causa disso eu fiquei vindo todo dia ateacute o fim melhor de que ir pra outro canto que natildeo sabia como ia ser atendida neacute Quando elas conversavam comigo eu achava oacutetimo mostrava compromisso querendo sa-ber se eu fiquei boa como eacute que tava como num estava Achei excelente o jeito que [as profissionais] me trataram se fosse hoje eu participava de novo [] (JOANA)
A importacircncia de um viacutenculo e da comunicaccedilatildeo pode ser percebida num relato em que a paciente expotildee a importacircncia destes em seu sentido mais humanizado e completo ao ponto de levar agrave priorizaccedilatildeo de um serviccedilo de sauacutede a outro
[] Eu assinei [o consentimento] porque eu tava muito doente e queria ficar boa mais eu gostei de como me trataram de como con-versaram comigo explicaram [a pesquisa] bem direitinho tiveram cuidado comigo aiacute eu fiquei vindo ate o final ateacute depois de fi-car boa [] se eu tivesse sido mal atendida eu tinha procurado outro canto neacute mesmo eu tendo assinado [o consentimento] mesmo eu estando com febre e com dor eu natildeo tinha mais vindo ruim por ruim fico em casa [] tinha feito como fiz laacute no hospital num fui mais nem laacute por que nem olharam pra mi-nha cara direito me jogaram numa sala com um monte de gente vocecirc natildeo sabe nem o que aquelas pessoas tem aliaacutes num eacute nem uma sala eacute um corredor com um monte de pa-
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ciente gente de todo jeito [] aiacute eu disse vou mim boraacute que aqui eu vou ficar eacute pior [] aiacute fui pra casa depois vim pro posto aqui fiquei na observaccedilatildeo tomei soro os [profissionais] de vez em quando ia laacute saber como era que eu tava conversar comigo aiacute fiz os exames to-mei remeacutedio e fui melhorando chegava aqui jaacute conhecia todo mundo [] (ANTOcircNIA)
De acordo com Possama e Dacoreggio (2008) a comuni-caccedilatildeo eacute um dos pilares da RPP e um instrumento essencial no trabalho do profissional e na promoccedilatildeo da sauacutede Com efeito o diaacutelogo facilita o estabelecimento das relaccedilotildees entre ambos e desde o momento em que o paciente se acha respeitado e toma consciecircncia de sua importacircncia como agente da proacutepria sauacutede ele passa natildeo soacute a cuidar melhor de si como tambeacutem a con-tribuir com as accedilotildees desenvolvidas na unidade de sauacutede Isso tem efeito positivo e direto sobre a sua sauacutede a sauacutede de toda a sociedade e a produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico como ex-potildeem os autores Percebeu-se com base no uacuteltimo depoimen-to acima que a qualidade da RPP ajuda a definir a trajetoacuteria a permanecircncia e os fluxos do paciente entre os serviccedilos de sauacutede
Costa e Azevedo (2010) ensinam que as interaccedilotildees dos pacientes com o profissional natildeo estatildeo relacionadas apenas agrave satisfaccedilatildeo durante uma visita que por si jaacute eacute complexa mas tambeacutem com a colaboraccedilatildeo ao tratamento
Essa colaboraccedilatildeo tambeacutem se evidenciou nas entrevistas com os profissionais atuantes no IDAMS jaacute que a percepccedilatildeo destes no que diz respeito agrave adesatildeo e a permanecircncia no estu-do colaboram com a percepccedilatildeo dos pacientes ficando claro que os profissionais tambeacutem natildeo associam a RPP agrave adesatildeo ao estudo mas quando se refere agrave permanecircncia as falas dos pro-fissionais expotildeem de forma evidente essa influecircncia
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[] essa boa relaccedilatildeo eu acho que natildeo influen-cia na assinatura do Consentimento Infor-mado entatildeo eu acho que o assinar o aderir ao estudo natildeo influencia natildeo Agora pra per-manecer na pesquisa influencia eu acho que quando vocecirc tem uma boa relaccedilatildeo quando cria um vinculo com paciente influencia de-mais os que permaneceram mesmo sem ser da minha equipe criou-se um vinculo por causa da pesquisa por que a gente fica ven-do conversa Eles ficam surpresos por que no dia a dia natildeo eacute esse a metodologia do pro-cesso de trabalho natildeo eacute esse de conversas se importar entatildeo cria viacutenculo e influencia sim na permanecircncia na pesquisa [] (PAULA)
Eacute possiacutevel perceber a importacircncia do investimento na RPP bem como o quanto um simples diaacutelogo desde que acompanhado pela atenccedilatildeo pode ser valorizado pelos que es-tatildeo doentes Esta reflexatildeo deve acompanhar o profissional sob a forma de um respeito maior por aqueles que seratildeo tratadosacompanhados
O estabelecimento de um viacutenculo e de uma empatia entre paciente e profissional eacute por demais importante por permitir que o primeiro fique mais seguro e disposto a colaborar Costa e Azevedo (2010) explicaram que a familiaridade a confianccedila e a colaboraccedilatildeo que surgem graccedilas a uma boa RPP tecircm im-portacircncia fundamental para a efetividade dos processos diag-noacutesticos terapecircuticos e cientiacuteficos indispensaacuteveis ao resultado da arte de cuidar
CONSIDERAccedilOtildeES FINAIS
Eacute inegaacutevel a importacircncia das pesquisas cliacutenicas para o avanccedilo da Ciecircncia pois diversas doenccedilas e agravos foram e
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podem vir a ser diagnosticados controlados e ateacute curados gra-ccedilas a elas Eacute certo que esse tipo de estudo em virtude da sua evoluccedilatildeo histoacuterica necessita de um seguimento eacutetico rigoroso desde a sua composiccedilatildeo ateacute a publicaccedilatildeo dos resultados
As pesquisas cliacutenicas costumam em sua maioria indepen-dentemente do niacutevel de atenccedilatildeo em que sejam realizadas ser demoradas requerendo um acompanhamento do participan-te Nesse sentido a adesatildeo e permanecircncia no IDAMS foram observadas sob a oacuteptica da influecircncia da relaccedilatildeo profissional-paciente que se mostrou a princiacutepio sem grande relevacircncia
Durante as entrevistas profissionais e participantes reite-raram a ideia de que a adesatildeo ao IDAMS natildeo estava relacio-nada agrave presenccedila de um viacutenculo e sim com a busca de cuidados especializados Ao tratar da permanecircncia no estudo ficou cla-ra a existecircncia significativa da valorizaccedilatildeo da RPP nessa cola-boraccedilatildeo no transcorrer do IDAMS em especial das mulheres
Assim a RPP deve ser cada vez mais estimulada tendo sido possiacutevel perceber a relevacircncia do viacutenculo estabelecido entre profissional e paciente se a princiacutepio natildeo existia uma valorizaccedilatildeo desse viacutenculo com o transcorrer do IDAMS essa valorizaccedilatildeo foi surgindo e se fortalecendo contribuindo para o desenvolvimento do estudo cliacutenico
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PARTE 2
DENGUE PARTICIPAccedilAtildeO SOCIAL PRAacuteTICAS E SUAS
INTERFACES
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CAPIacuteTULO 5
IMPLANTAccedilAtildeO DA ECOSSAUacuteDE NO CON-TROLE DA DENGUE IMPLICAccedilOtildeES DA PAR-TICIPAccedilAtildeO SOCIAL
Joana Mary Soares NobreAndrea Caprara
Ana Carolina Rocha PeixotoIlvana Lima Verde Gomes
Rosilea Alves de Souza
INTRODUccedilAtildeO
Em tempos remotos jaacute se pensava na relaccedilatildeo sauacutede-ambiente e seus desdobramentos na deter-minaccedilatildeo e evoluccedilatildeo das doenccedilas (GOUVEIA 1999) A situaccedilatildeo de desequiliacutebrio ambiental favorece a vulnerabili-dade individual e local tornando-se cada vez mais suscetiacutevel aos desastres naturais e ao surgimento de pragas ou epidemias (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DE SAUacuteDE 2009) Enquanto natildeo houver a compreensatildeo das relaccedilotildees modo de produccedilatildeo-consumo e ambiente-sauacutede fica difiacutecil o equiliacutebrio entre a atividade econocircmica e a preservaccedilatildeo ambiental como tambeacutem o desenvolvimento sustentaacutevel e qualidade de vida no Planeta (RIGOTTO 2002 RIOS DERANI 2005 SIQUEIRA MORAES 2009)
A Organizaccedilatildeo Panamericana de Sauacutede (2009) trouxe agrave tona as complexas relaccedilotildees causais entre mudanccedilas ambien-tais e sauacutede humana geradas pela degradaccedilatildeo dos ecossiste-mas que constituem os serviccedilos de suporte para as diversas formas de vida incluindo a espeacutecie humana (CORVALAN
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HALES MICHAEL 2005 FORANTINI 1992 ORGANIZA-CcedilAtildeO PAN-AMERICANA DE SAUacuteDE 2009) Estas repercus-sotildees advindas dos desgastes da interaccedilatildeo sauacutede-ambiente satildeo beneficiadas pela condiccedilatildeo socioeconocircmica desfavoraacutevel que impulsiona a pobreza e as iniquidades socioambientais po-dendo suscitar implicaccedilotildees indesejaacuteveis para a qualidade de vida humana
Reflexo das grandes transformaccedilotildees promovidas pela expansatildeo mundial da civilizaccedilatildeo urbano industrial o esgota-mento dos recursos naturais natildeo ocorre isoladamente pois o homem tambeacutem sofre as consequecircncias maleacuteficas dos maus tratos dos ecossistemas caracteriacutesticas do modelo de desenvol-vimento vigente (PAacuteDUA 2002) Na contramatildeo do panorama vigente procura-se o equiliacutebrio entre a atividade econocircmica e a preservaccedilatildeo ambiental fundamental para o desenvolvimento sustentaacutevel com uma perspectiva de igualdade entre as diver-sas geraccedilotildees (RIOS E DERANI 2005)
Na ocupaccedilatildeo das cidades modernas dos paiacuteses em desen-volvimento como o Brasil as condiccedilotildees ambientais e o com-portamento humano satildeo favoraacuteveis agrave ocorrecircncia de muitas doenccedilas e lesotildees inclusive a dengue o que justifica a necessi-dade de estudar e intervir sobre novos problemas bem como abordar os antigos problemas em uma perspectiva integrado-ra nas praacuteticas da Sauacutede Puacuteblica (BARCELLOS 2006 COS-TA TEIXEIRA 1999)
Desta forma o panorama brasileiro configura-se vulne-raacutevel aos fatores condicionantes para a proliferaccedilatildeo do Aedes aegypti vetor transmissor da dengue ante o clima tropical metroacutepoles com densidade populacional elevada dificuldades dos sistemas de sauacutede desigualdades sociais saneamento baacutesi-co ineficiente violecircncia conduta do ser humano elevada pro-
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duccedilatildeo de lixo e materiais descartaacuteveis meios por demais adep-tos ao ciclo bioloacutegico viacuterus-vetor-homem Assim o controle vetorial eacute a uacutenica opccedilatildeo para proteger o homem (LOPEZ et al 2012 MINAYO et al 2000 SERPA et al 2010 TEIXEIRA et al 2009 COSTA TEIXEIRA 1999)
Componente do cenaacuterio nacional de epidemias de den-gue o Estado do Cearaacute no periacuteodo de 1987 a 2012 registrou seis epidemias da doenccedila Nos trecircs uacuteltimos surtos de dengue estaduais pelo menos 167 (90) municiacutepios tiveram trans-missatildeo da doenccedila (SESA 2013) Sua capital Fortaleza que possui a maior densidade demograacutefica do Paiacutes clima tropical condiccedilotildees socioambientais favoraacuteveis agrave proliferaccedilatildeo do Aedes aegypti acompanha as condiccedilotildees de epidemia no Estado que no periacuteodo de 2007 a 2012 expressou uma distribuiccedilatildeo de sur-tos epidecircmicos predominantes em relaccedilatildeo aos registros esta-duais com um percentil de 63 das confirmaccedilotildees de dengue (SESA 2012)
Nesta conjuntura os enfoques ecossistecircmicos em sauacutede oferecem proeminecircncia nos paiacuteses da Ameacuterica Latina consti-tuindo um potencial para os modos de compreensatildeo e busca de soluccedilotildees na Sauacutede Puacuteblica e por conseguinte exigindo uma anaacutelise criacutetica de suas limitaccedilotildees (OPAS 2009)
Para Gomes e Minayo (2006) o enfoque ecossistecircmico da sauacutede humana busca a vinculaccedilatildeo interdisciplinar da sauacutede e do ambiente por meio do desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegico estabelecido e efetivado conjuntamente com gestores puacuteblicos privados a sociedade civil e as populaccedilotildees locais com vistas a seis princiacutepios pensamento sistecircmico transdis-ciplinaridade participaccedilatildeo social equidade social e de gecircnero sustentabilidade e conhecimento para atuar O enfoque ecos-sistecircmico eacute trazido ainda por Minayo e Miranda (2002) Lebel
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(2005) como tentativa desafiadora de promover uma mudan-ccedila do paradigma antropocecircntrico e de dominaccedilatildeo de acordo com a ocupaccedilatildeo dos grandes centros
Gomes e Minayo (2006) descreveram entre as vantagens da abordagem integrada principalmente no Canadaacute o envol-vimento dos diversos agentes sociais com a participaccedilatildeo social
Mediante a complexidade dos problemas de Sauacutede Puacutebli-ca a participaccedilatildeo tornou-se um processo inclusivo de varia-dos agentes em prol de direitos e funccedilotildees de bens e serviccedilos na s ociedade e na tarefa de promover a sauacutede da populaccedilatildeo sem questionar a participaccedilatildeo como condiccedilatildeo de conquista e garantia de direitos como sauacutede alimentaccedilatildeo transporte mo-radia educaccedilatildeo e trabalho (OLIVEIRA 2009 STRECK 2010) Houve inclusive a valorizaccedilatildeo da participaccedilatildeo dos cidadatildeos como o melhor modo de tratar das questotildees do meio ambiente (THOMASI 2011)
Em tese as formas de participaccedilatildeo social podem es-tar relacionadas tanto agrave histoacuteria como ao regime de governo (DONADONE GRUN 2001) No Brasil despontaram com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 fruto de uma articula-ccedilatildeo de forccedilas poliacuteticas e sociais que possibilitou a inovaccedilatildeo no cenaacuterio poliacutetico (ESCOREL MOREIRA 2009) Desde entatildeo a participaccedilatildeo da comunidade passou a ser um dos requisitos fundamentais (DANTAS et al 2009) Essa participaccedilatildeo ora exprime potencialidade ora limitaccedilatildeo pois as accedilotildees de sauacutede nem sempre estatildeo situadas de forma ordenada e continuam do ponto de vista operativo poliacutetico ou institucional (ORGANI-ZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DE SAUacuteDE 1991)
Dentre alguns desafios metodoloacutegicos fundamentais no relacionado agrave participaccedilatildeo social Minayo (2010 p141) consi-derou que ldquoo conceito de participaccedilatildeo eacute muito mais amplo que
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o da participaccedilatildeo comunitaacuteria incluindo nas reflexotildees e accedilotildees gestores puacuteblicos poliacuteticos e cidadatildeosrdquo
Conceitualmente a participaccedilatildeo popular eacute apontada como indispensaacutevel na condiccedilatildeo de controle de endemias especial-mente no caso da dengue cujo principal vetor estaacute associado intimamente aos modos de vida e moradia nas aacutereas urbanas logo o enfrentamento dessas enfermidades natildeo apenas admite mas requer o envolvimento comunitaacuterio (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DE SAUacuteDE 1991) No acircmbito familiar ela possui funccedilatildeo instrumental e pedagoacutegica pois proporcio-na a formaccedilatildeo de haacutebitos participativos e se acredita que os tornem habilitados a reproduzir em outras relaccedilotildees sociais uma praacutetica de valorizaccedilatildeo do puacuteblico e do coletivo (ESCO-REL MOREIRA 2009) Putnam (1996) entende o capital so-cial como um elemento-chave para o desenvolvimento social e econocircmico poreacutem defende a ideia de que a participaccedilatildeo natildeo deve ser naturalizada como algo positivo em si mesmo tam-pouco desvinculado das relaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteti-cas
Dada a importacircncia do assunto realizou-se a pesquisa com o objetivo de analisar a participaccedilatildeo social na implanta-ccedilatildeo do enfoque ecossistecircmico em sauacutede humana- ecossauacutede no controle da dengue
METODOLOGIA
Este constituiu um ensaio de natureza qualitativa no acircm-bito de um marco conceitual mais amplo caracterizado por Pesquisa Multicecircntrica 2 financiada por UNICEFIDRC amp UNDPWorld BankWHO Special Programme for Research 2 PesquisamulticecircntricaldquoEco-Bio-SocialsobreDengueeDoenccediladeChagasnaAmeacute-
ricaLatinaenoCaribe
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amp Training in Tropical Diseases (TDR) Realizou-se em cin-co bairros do Municiacutepio de Fortaleza (Parreatildeo Messejana Quintino Cunha Joseacute Walter e Passareacute) com o diferencial da abordagem de ecossauacutede no controle da dengue no periacuteodo de junho de 2012 a junho de 2013
Minayo (2010 p 57) relata que a abordagem qualitativa ldquose aplica ao estudo da histoacuteria das relaccedilotildees das represen-taccedilotildees das crenccedilas das percepccedilotildees e das opiniotildees produtos das interpretaccedilotildees que os humanos fazem a respeito de como vivem constroem seus artefatos e a si mesmos sentem e pen-samrdquo
A investigaccedilatildeo dos cinco agregados evidenciou distintas condiccedilotildees espaciais sociais econocircmicas ambientais cultu-rais infraestruturais (saneamento baacutesico) e de lideranccedilas co-munitaacuterias e por conseguinte uma conjuntura urbana pe-culiar agrave proliferaccedilatildeo do Aedes aegypti para a transmissatildeo da dengue Essa condiccedilatildeo associada agrave implantaccedilatildeo do enfoque ecossistecircmico no controle da dengue disponibilizou rica fonte de coleta de dados por meio de trecircs principais teacutecnicas de co-leta de dados anaacutelise documental - diaacuterios de campo produzi-dos pelos pesquisadores responsaacuteveis nos agregados observa-ccedilatildeo sistemaacutetica dos agregados nos bairros Parreatildeo e Passareacute e entrevista aplicada junto aos pesquisadores responsaacuteveis nos agregados a fim de ajuntar mais subsiacutedios agrave anaacutelise de dados
Examinou-se 55 diaacuterios de campo e pocircde-se observar o total de cinco devolutivas 40 encontros e accedilotildees 747 atores sociais participantes nenhum agregado possuiacutea lideranccedila co-munitaacuteria formal um agregado demonstrou iacutendice elevado de recusas Registrou-se ainda cinco entrevistas abertas e 12 ob-servaccedilotildees sistemaacuteticas na sequecircncia catalogou-se os dados que prevaleceram no material coletado
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Com suporte na esquematizaccedilatildeo dos documentos por agregado que conteve as respectivas informaccedilotildees - agentes sociais presentes e seus comentaacuterios existecircncia de lideranccedila comunitaacuteria relatos de recusas situaccedilotildees socioeconocircmicas e populacionais poliacuteticas de controle da dengue de gestatildeo am-biental assim como a percepccedilatildeo dos pesquisadores- foi permi-tida a contextualizaccedilatildeo do comportamento dos atores sociais eevidenciou a participaccedilatildeo na abordagem integrada no con-trole da dengue
Para a anaacutelise do material qualitativo optou-se pela moda-lidade de anaacutelise de conteuacutedo assim conceituada por Minayo (2010 p 303)
Diz respeito a teacutecnicas de pesquisa que permi-tem tornar replicaacuteveis e vaacutelidas as inferecircncias sobre dados de um determinado contexto por meio de procedimentos especializados e cientiacuteficos [] busca a interpretaccedilatildeo cifrada do material de caraacuteter qualitativo
Os sujeitos da pesquisa compreenderam os profissionais de controle de endemias supervisores de endemias (SE) e agente de controle de endemia (ACE) educadores em sauacutede (ES) agentes comunitaacuterios de sauacutede (ACS) Profissionais do PSF - enfermeira (Enf) Profissionais do NASF moradores (M) e pesquisadores (P)
Na realizaccedilatildeo desta pesquisa obedeceu-se agrave Resoluccedilatildeo 46612 do Conselho Nacional de Sauacutede (BRASIL 2012) Para manter o anonimato dos participantes utilizou-se as letras iniciais dos atores sociais seguidas de um algarismo araacutebico sequencial de acordo com a especificidade de cada funccedilatildeo pre-sente nos encontros e accedilotildees dos cinco agregados
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RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
Este estudo focou na participaccedilatildeo social um dos princiacute-pios da ecossauacutede pois se considera importante aprofundar as discussotildees sobre situaccedilotildees problemas identificadas durante os encontros as quais apresentam estreita relaccedilatildeo com fatores ecobiossociais locais agentes sociais presentes falta de interes-se da populaccedilatildeo recusa lixo aacutegua que de certa forma depen-dem dos cuidados da populaccedilatildeo e dos oacutergatildeos puacuteblicos poreacutem sem a intenccedilatildeo de restringir a dimensatildeo desse enfoque
A implantaccedilatildeo da abordagem em ecossauacutede no controle da dengue no Municiacutepio de Fortaleza demonstrou implica-ccedilotildees surgidas na realidade investigada em que a participaccedilatildeo social atingiu parcela miacutenima de agentes (profissionais de en-demias sociedade civil educadores em sauacutede trabalhadores e profissionais de sauacutede) ante o potencial de cada agregado e dos demais setores concernentes ao contexto complexo da doenccedila (REZENDE DANTAS 2009)
Historicamente a participaccedilatildeo social na aacuterea da sauacutede se mostra de vaacuterias formas (1) beneficiaacuterio (2) contribuiccedilatildeo para a promoccedilatildeo da sauacutede (3) participaccedilatildeo comunitaacuteria e por fim (4) visatildeo mais complexa de participaccedilatildeo em sauacutede que reco-nhece as pessoas No que concerne ao crescente interesse da Gestatildeo Puacuteblica local pela introduccedilatildeo da participaccedilatildeo dos ci-dadatildeos tanto na Ameacuterica Latina quanto na Europa ocidental dizem respeito agrave crise do Estado que viu a participaccedilatildeo como estrateacutegia organizacional para controlar a burocracia ineficien-te e passou a ser modelo como de Gestatildeo Puacuteblica em prol da renovaccedilatildeo das relaccedilotildees Governo-Sociedade (MILANI 2008)
Outros fatores condicionantes para a participaccedilatildeo social destacados por Escorel e Moreira (2009) foram os aspectos
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culturais - idade sexo camada social grau e tipo de instruccedilatildeo e de fatores psicossociais como normas e valores de ponde-raccedilotildees sobre os custos e benefiacutecios e as caracteriacutesticas- per-sistecircncia dedicaccedilatildeo disciplina resiliecircncia organizaccedilatildeo auto-compreensatildeo coerecircncia dos objetivos autocriacutetica reflexatildeo as quais associadas a um espaccedilo favoraacutevel permitiratildeo a cultura de participaccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo dos valores democraacuteticos na sociedade
No concernente agraves especificidades dos atores sociais fica-ram aqueacutem dos relatos de Minayo (2002) Dantas e Rezende (2009) quando falaram da inclusatildeo dos gestores puacuteblicos dos poliacuteticos dos empresaacuterios e de todos os outros atores para buscar um processo de articulaccedilatildeo com base em correspon-sabilidade cogestatildeo compromisso sustentabilidade e parti-cipaccedilatildeo (DANTAS REZENDE 2009) Isto porque a partici-paccedilatildeo social deve incluir os gestores puacuteblicos os poliacuteticos os empresaacuterios e todos os outros agentes individuais e coletivos envolvidos direta ou indiretamente com o problema (MINA-YO 2002)
Esse contexto pode ter influenciado o comportamento dos atores sociais durante as intervenccedilotildees da abordagem em ecossauacutede haja vista a representaccedilatildeo de apenas algumas cate-gorias sobremaneira em cenaacuterios com histoacuterico de lideranccedilas comunitaacuterias menor niacutevel socioeconocircmico e condiccedilotildees mais favoraacuteveis agrave proliferaccedilatildeo do Aedes aegypti
As discussotildees dos grupos durante os encontros realizados obedeceram tambeacutem agrave oacuterbita do reduzido envolvimento dos agentes em relaccedilatildeo aos convites feitos tanto pelos agentes de endemias como pelos moradores e pesquisadores e cogitou-se como justificativa falta de interesse recusa ao acesso do agente agraves residecircncias poder aquisitivo mais alto e lideranccedila
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comunitaacuteria inexistente ou pouco proativa mostrando o quatildeo desafiante foram promover a participaccedilatildeo social no processo de implantaccedilatildeo do enfoque ecossistecircmico em sauacutede humana Destacou-se um agregado com maior poder aquisitivo
Ficou 30 das casas sem visita pela recusa ou domiciacutelio sem ningueacutem quando o limite seria 10 Em muitas casas as pessoas estatildeo em casa e natildeo abrem ou pedem para vir depois Sem falar que agraves vezes a gente eacute expulso como cachorro (SE - 1)
No tocante agrave recusa pensou-se ainda na falta de informaccedilatildeo referida por Vaacutezquez etal (2005) ao considerarem a informaccedilatildeo fundamental para o reconhecimento dos me-canismos como alternativa para a atuaccedilatildeo unida aos serviccedilos podendo ser amplamente explorada pela miacutedia E ressaltado pelo mo-rador
Por causa daquela casa que recusou pode chegar a atingir o bairro todo O problema eacute tudo isso aiacute Eu tenho apenas uma suges-tatildeo que os meios de comunicaccedilatildeo tarem re-forccedilando essa recusa aiacute Essa recusa eacute a parte mais importante Soacute os agentes de sauacutede natildeo vatildeo resolver esses problemas Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo importantes Se cada pro-grama tivesse o alerta de deixar o agente en-trar Aiacute sim (M -11)
Como propoacutesito de reverter este quadro de rejeiccedilatildeo con-siderou-se tambeacutem a integraccedilatildeo do trabalho de campo dos agentes de controle de endemias agentes comunitaacuterios de sauacute-de e educador em sauacutede para visitas aos domiciacutelios agraves escolas associaccedilotildees igrejas catoacutelicas e evangeacutelicas solicitando a adesatildeo dos seus liacutederes aleacutem de capacitaccedilatildeo dos profissionais de con-
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trole de endemias no concernente agrave formaccedilatildeo direcionada agrave abordagem no domiciacutelio
Essa dimensatildeo da miacutedia dada pelo morador para solucio-nar as recusas natildeo eacute explicitada pelo PNCD (2002) uma vez que preconiza a comunicaccedilatildeo social tem como objetivo divul-gar e informar sobre as accedilotildees de Educaccedilatildeo Em Sauacutede e mobi-lizaccedilatildeo social para mudanccedila de comportamento e de haacutebitos da populaccedilatildeo buscando evitar a presenccedila e a reproduccedilatildeo do Aedes aegypti nos domiciacutelios - ponto relevante e que poderia ser categoacuterico para a reduccedilatildeo de recusas
Haacute 16 anos Oliveira (1998) jaacute defendeu a ideia de que a mudanccedila de haacutebito do sujeito estaacute centrada na ampliaccedilatildeo e fortalecimento das relaccedilotildees sociais Portanto as propagandas por si natildeo representam real possibilidade de mudanccedila pois em ocasiotildees da pesquisa notou-se que os agentes detinham co-nhecimento poreacutem natildeo o aplicavam no dia a dia
Em vaacuterios momentos da pesquisa observou-se a ldquodistacircn-ciardquo da populaccedilatildeo relativamente ao controle da dengue e con-siderou-se como ldquofalta de interesserdquo podendo ser fruto da so-cializaccedilatildeo poliacutetica destacada em Bobbio Matteuci e Pasquino (1991) dos fatores culturais e psicossociais (ESCOREL MO-REIRA 2009) jaacute mencionados e da violecircncia e das condiccedilotildees socioeconocircmicas comportamento que se observa nos relatos a seguir
Divulguei o que estaacutevamos fazendo para a comunidade mas muitos natildeo queriam nem escutar soacute observar o que poderia haver de benefiacutecios para eles proacuteprios (ACS -1)
A maior dificuldade encontrada foi em rela-ccedilatildeo agrave comunidade onde as pessoas se recu-saram a participar da reuniatildeo conseguimos
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apenas uma moradora entatildeo resolvemos chamar os trabalhadores da escola (que esta-vam laacute) e que residem no bairro para partici-par da devolutiva (P - 8)
Refletiu-se igualmente que essa situaccedilatildeo pode estar rela-cionada com a histoacuteria recente de democratizaccedilatildeo da sauacutede no Paiacutes ou ainda pelo ensino de haacutebitos considerados adequados agrave populaccedilatildeo com base nos preceitos biologicistas atuando na pessoa dissociando-a da escola e do territoacuterio (DANTAS et al 2009)
Se o que se busca eacute a participaccedilatildeo da sociedade brasileira na tomada de decisotildees deve-se realizar amplas campanhas de educaccedilatildeo ao puacuteblico a comeccedilar pelos direitos da populaccedilatildeo com informaccedilatildeo a respeito do funcionamento do SUS Essas campanhas devem orientar-se aos proacuteprios serviccedilos ndash cuja atuaccedilatildeo tem uma forte influencia a atuaccedilatildeo popular Como passo inicial no entanto necessaacuterio embora natildeo suficiente haacute de se garantir o acesso ao atendimento agrave sauacutede (VAZQUEZ et al 2003)
As questotildees de carecircncia de saneamento baacutesico como abastecimento de aacutegua rede de esgotamento sanitaacuterio e coleta de lixo foram marcantes nos agregados de niacutevel socioeconocirc-mico mais baixo Esses serviccedilos precaacuterios representam alto risco para a sauacutede e satildeo fatores que favorecem a degradaccedilatildeo do meio ambiente (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE ndash FUNASA 2004)
Tal situaccedilatildeo eacute replicada na pesquisa conforme comentaacute-rios
As pessoas precisam estocar aacutegua porque natildeo existe um sistema de tratamento de aacutegua (NASF -2)
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Algo que me chamou muita atenccedilatildeo no Quintino foi a enorme quantidade de arma-zenamento de aacutegua Em todos os domiciacutelios que visitamos existia aacutegua armazenada uns de forma correta outras natildeo (P - 9)
Na eacutepoca da chuva natildeo tem quem consiga en-trar na rua devido ao acuacutemulo de aacutegua (P -6)
Quando a coleta seletiva do lixo funcionar de fato ldquovai serrdquo diminuiacuteda vaacuterias doenccedilas oriundas do lixo (M -7)
Na ocasiatildeo da devoluccedilatildeo dos resultados da pesquisa os problemas apontados no grupo focal foram o lixo colocado fora do dia da coleta jogado na correnteza da chuva no quintal sem lideranccedila comunitaacuteria a recusa (8) devido agrave aacuterea de melhor condiccedilatildeo cri-minalidade ou dona de casa sozinha [] Foi sugerido a participaccedilatildeo dos educadores em sauacutede nas reuniotildees (P -7)
A sugestatildeo de colocar um container na via para evitar o acuacutemulo de lixo pelas ruas irri-tou M -6 que falou ldquoeu natildeo aceito de forma nenhuma pois a populaccedilatildeo natildeo tem educa-ccedilatildeo nem higiene e natildeo vatildeo fazer bom uso do containerrdquo Outros temas foram discutidos como condutas de vizinhos ausentes terreno baldio Percebeu-se que estas questotildees levan-tadas pela comunidade satildeo assuntos ligados tambeacutem agrave Gestatildeo Puacuteblica da cidade de For-taleza (P -6)
Isso posto restou denotada a complexidade em solucio-nar problemas intimamente ligados agrave baixa condiccedilatildeo socioe-conocircmica Precisaria contar com a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo de agentes sociais ligados diretamente ao planejamento e exe-
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cuccedilatildeo de programas voltados para a questatildeo econocircmica favo-recendo agrave elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas
Melo e Pasqualetto em 2009 referiram que eacute difiacutecil elimi-nar completamente os casos de dengue mas natildeo eacute impossiacutevel o controle eacute mais faacutecil seu controle desde que haja interesse por parte de todos comunidade e oacutergatildeos de combate deve-se daacute maior atenccedilatildeo agrave elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos para saneamento baacutesico
O controle do vetor da dengue o mosquito Aedes aegyp-ti consiste em medidas contra as larvas e os mosquitos adul-tos Seus criadouros principais satildeo produzidos pelos seres humanos pois consistem em reservatoacuterios artificiais de aacutegua (TAUIL 2006) mas ainda existem pessoas que natildeo se preo-cupam em eliminar os criadouros e esperam soacute pelo controle quiacutemico
No que tange agrave lideranccedila comunitaacuteria na implantaccedilatildeo da ecossauacutede para o controle da denguenatildeo foi observada parti-cipaccedilatildeo ativa principalmente nos locais com pessoas de maior poder aquisitivo
O contexto descrito requer a formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de soluccedilotildees integradas que levem em consideraccedilatildeo os aspec-tos ambientais ecoloacutegicos poliacuteticos sociais culturais e eco-nocircmicos e que envolvam populaccedilotildees locais pesquisadores e gestores de aacutereas diversas (AUGUSTO et al 2005) Estruturas organizacionais como comunidades de praacuteticas e iniciativas de lideranccedilas tecircm um grande papel a desempenhar em apoio agrave constituiccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do campo de ecossauacutede (PASSO et al 2013)
Em recentes avaliaccedilotildees promovidas pela FUNASA quanto ao processo de descentralizaccedilatildeo das accedilotildees de epidemiologia e controle de doenccedilas com a participaccedilatildeo dos gestores estaduais
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e municipais constatou-se a necessidade de melhorar a capa-cidade para a detecccedilatildeo e correccedilatildeo oportuna de problemas que interferem diretamente na efetividade das accedilotildees de prevenccedilatildeo e controle da dengue (PNCD 2002)
CONSIDERAccedilOtildeES FINAIS
A inserccedilatildeo no contexto da participaccedilatildeo social como prin-ciacutepio e intervenccedilatildeo da abordagem ecossauacutede para o controle da dengue ensejou o conhecimento de um conjunto de im-plicaccedilotildees limitantes que se mostraram ao longo do processo Podem ter ocorrido por influecircncia dos aspectos proacuteprios dos agentes sociais e determinantes nas formas diferenciadas de agir no controle da dengue como singularidade sobre o pris-ma cultural socioeconocircmico e de produccedilatildeo social
Assim verificou-se a importacircncia de aprofundar estudos que busquem entender a percepccedilatildeo de cada agente sobre o seu papel nas accedilotildees de controle da dengue favorecendo uma aproximaccedilatildeo com a real participaccedilatildeo social Partindo desse conhecimento acredita-se que seraacute possiacutevel percorrer novos caminhos na compreensatildeo e promoccedilatildeo da participaccedilatildeo social no controle da dengue e por sua vez na implantaccedilatildeo da abor-dagem ecossistecircmica em sauacutede humana
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CAPIacuteTULO 6
PARTICIPAccedilAtildeO SOCIAL E EQUIDADE DE GecircNERO NO CONTROLE DA DENGUE UM PROCESSO DE IMPLANTAccedilAtildeO DA ECOS-SAacuteUDE
Joana Mary Soares NobreAndrea Caprara
Krysne Kelly de Franccedila Oliveira Ana Carolina Rocha Peixoto
INTRODUccedilAtildeO
Houaiss (2010) trouxe o sentido de participaccedilatildeo como fa-zer parte em um evento fazer as pessoas saberem de algo no sentido de comunicar Social que inclui o contato entre as pes-soas e sociedade um agrupamento de pessoas que vivem em colaboraccedilatildeo muacutetua Essa amplitude de significados situa a par-ticipaccedilatildeo como intriacutenseca agrave vida em sociedade natildeo deixando de indicar as contradiccedilotildees nas relaccedilotildees indiviacuteduocoletividade e ao papel mais ou menos ativopassivo de quem participa (ES-COREL MOREIRA 2009)
Os autores consideraram que a participaccedilatildeo embora em situaccedilotildees diacutespares eacute caracterizada pela valorizaccedilatildeo de conta-tos espaccedilos foacuteruns mais bem compartilhados e mais puacuteblicos Nessas condiccedilotildees deve ser estruturada no contexto histoacuterico e social Com essa origem enseja que a pessoa tenha maior con-trole sobre a situaccedilatildeo que lhe afeta direta ou indiretamente e a sociedade onde convive
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A participaccedilatildeo pressupotildee mais espiacuterito puacute-blico do que atitudes voltadas para a afirma-ccedilatildeo de interesse pessoal onde a cidadania implica direitos e deveres para todos e se manteacutem unida por relaccedilotildees horizontais de reciprocidade e confianccedila e natildeo por relaccedilotildees verticais de autoridade e dependecircncia (PUT-NAM 1996 p102)
A participaccedilatildeo social no Brasil despontou com a promul-gaccedilatildeo da Carta Magnade 1988 fruto da articulaccedilatildeo de forccedilas poliacuteticas e sociais que garantiu inovaccedilatildeo no cenaacuterio poliacutetico (ESCOREL MOREIRA 2009) Desde aiacute a participaccedilatildeo da comunidade passou a ser um dos requisitos fundamentais (DANTAS et al 2009)
Conceitualmente participaccedilatildeo social em sauacutede foi de-finida como algo inclusivo de variados atores em prol de di-reitos e usufrutos de bens e serviccedilos na sociedade e na tarefa de promover a sauacutede da populaccedilatildeo (OLIVEIRA 2009) Streck (2010) ensina que a participaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo para a conquista e a garantia de direitos como sauacutede alimentaccedilatildeo transporte moradia educaccedilatildeo e trabalho
O enfoque ecossistecircmico considera o conceito de parti-cipaccedilatildeo social mais amplo do que participaccedilatildeo comunitaacuteria e inclui os gestores puacuteblicos poliacuteticos empresaacuterios e outros agentes individuais e coletivos envolvidos direta ou indire-tamente com o problema valorizando a participaccedilatildeo dos que vivem os problemas ambientais e de sauacutede no seu cotidiano (MINAYO 2002)
Escorel e Moreira (2009) consideraram que o ponto de partida para a participaccedilatildeo social eacute a pessoa buscar intervir na situaccedilatildeo concreta e histoacuterica em que vive construindo-se
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como sujeito social e estaacute condicionada aos fatores idade sexo camada social grau e tipo de instruccedilatildeo e psicossociais como normas e valores ponderaccedilotildees sobre os custos e bene-fiacutecios
A participaccedilatildeo popular eacute apontada como indispensaacutevel na condiccedilatildeo de controle de endemias especialmente no caso da dengue cujo principal vetor estaacute associado intimamente aos modos de vida e moradia nas aacutereas urbanas Por tal motivo o enfrentamento das endemias natildeo apenas admite mas tambeacutem requer o envolvimento comunitaacuterio (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DE SAUacuteDE 2009)
Um dos grandes desafios agrave sauacutede puacuteblica na atualidade eacute o controle da dengue Seu mosquito transmissor de maior im-portacircncia o Aedes aegypti combina alto grau de adaptabilida-de ao ambiente e ao controle quiacutemico realizado agrave facilidade de manutenccedilatildeo de sua espeacutecie proporcionada por potenciais cria-douros existentes no espaccedilo urbano atual dentre outros fatores
Souzaet al (2012) consideraram que dois terccedilos da popu-laccedilatildeo estejam suscetiacuteveis agrave dengue Esta eacute caracterizada como uma doenccedila febril aguda causada por um flaviviacuterus designa-do viacuterus dengue que apresenta quatro sorotipos (DENV 1 DENV 2 DENV 3 e DENV 4) A ausecircncia de uma vacina faz do Aedes aegypti o principal alvo de controle centrando-se em seus estaacutedios larvaacuterios e quando necessaacuterio no mosquito adulto (CAVALCANTI 2013) Sua alta incidecircncia estaacute tradi-cionalmente relacionada inclusive aos aspectos climaacuteticos e densidade demograacutefica (TEIXEIRA et al 2009)
A dimensatildeo epidemioloacutegica dessa doenccedila demonstra elementos bioloacutegicos ecoloacutegicos poliacuteticos e econocircmicos tra-duzindo um problema complexo fato que supotildee um enfoque sistecircmico para seu controle que leve em consideraccedilatildeo as inter
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-relaccedilotildees desses fatores e que envolva os diversos atores sociais (SANTOS AUGUSTO 2011 AUGUSTO et al 2005)
No contexto histoacuterico de combate agrave dengue no Brasil o modelo claacutessico de controle prioriza uso de pesticidas con-firmados ineficazes na atualidade Defende-se uma mudanccedila de paradigma que propotildee um modelo de accedilatildeo baseado na abordagem ecossistecircmica descentralizado e participativo que integra educaccedilatildeo contiacutenua vigilacircncia epidemioloacutegica e ento-moloacutegica aleacutem da intervenccedilatildeo ambiental (AUGUSTO et al 2005) E ainda preconiza a participaccedilatildeo social e a formaccedilatildeo de lideranccedilas no acircmbito comunitaacuterio que promovam accedilotildees seguindo a peculiaridade do contexto local (SANTOS AU-GUSTO 2011) [] O arcabouccedilo conceitual e metodoloacutegico dos enfoques em ecossauacutede representa grande oportunidade para melhorar as estrateacutegias dessa problemaacutetica de maneira mais eficaz e com melhores relaccedilotildees custo-benefiacutecio (PASSO et al 2013)
Em conformidade destaca-se o princiacutepio da equidade de gecircnero da abordagem em ecossauacutede Caprara et al (2006) evi-denciaram a relevacircncia das questotildees de gecircnero no controle da dengue junto aos fatores ecobiossociais que afetam a dinacircmica de transmissatildeo da doenccedila em Fortaleza Nordeste do Brasil com foco na urbanizaccedilatildeo dinacircmicas comunitaacuterias e respon-sabilidade poliacutetica
As relaccedilotildees de gecircnero e a divisatildeo de tarefas influenciam na percepccedilatildeo de doenccedilas endecircmicas como a dengue Eacute impor-tante o resgate do sentimento de coletividade mediante des-mistificaccedilatildeo da culpa individual e a formaccedilatildeo de redes de cui-dado como estrateacutegias a serem promovidas nas comunidades independentemente do sexo da pessoa (WINCH et al 1994 BRITO 2000 GIFFIN 2002 e LEBEL 2003)
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Para Augusto et al (2005) eacute necessaacuterio mudar o foco da participaccedilatildeo do niacutevel da famiacutelia-domiciacutelio para o niacutevel da famiacutelia como rede social incorporando as diversas relaccedilotildees sociais Eles defendem uma atuaccedilatildeo integrada envolvendo as muacuteltiplas redes sociais para viabilizar uma eficiente accedilatildeo cole-tiva no controle do vetor ao niacutevel do bairro ou da comunida-de somado ao envolvimento dos setores privados e puacuteblicos responsaacuteveis pela gestatildeo de aacutereas que oferecem condiccedilotildees fa-voraacuteveis para a proliferaccedilatildeo dos mosquitos sem desprezar as potencialidades especiacuteficas de cada gecircnero
Desse modo o estudo objetivou analisar a participaccedilatildeo social na implantaccedilatildeo da ecossauacutede no contexto da dengue respeitando e valorizando a questatildeo do gecircnero na proposta de integrar as estrateacutegias de controle da dengue na perspectiva de possibilitar uma transformaccedilatildeo social e histoacuterica da recorrecircn-cia de surtos epidecircmicos da enfermidade
METODOLOGIA
Estudo de natureza exploratoacuteria com enfoque de anaacuteli-se qualitativa que se situou dentro de um marco conceitual mais amplo caracterizado por uma Pesquisa Multicecircntrica 3 financiada por UNICEFIDRC amp UNDPWorld BankWHO Special Programme for Research amp Training in Tropical Di-seases (TDR)
Minayo (2010 p 57) relatou que a abordagem qualitativa ldquose aplica ao estudo da histoacuteria das relaccedilotildees das representa-ccedilotildees das crenccedilas das percepccedilotildees e das opiniotildees produtos das interpretaccedilotildees que os humanos fazem a respeito de como vi-vem constroem seus artefatos e a si mesmos sentem e pensamrdquo 3 PesquisamulticecircntricaldquoEco-Bio-SocialsobreDengueeDoenccediladeChagasnaAmeacute-
ricaLatinaenoCaribe
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O estudo foi realizado em cinco bairros do municiacutepio de Fortaleza (Parreatildeo Messejana Quintino Cunha Joseacute Walter e Passareacute) no periacuteodo de junho de 2012 a junho de 2013 Estes fizeram parte da pesquisa multicecircntrica e tiveram como dife-rencial a abordagem de ecossauacutede dentro do contexto tiacutepico no tocante ao controle da dengue e aos fatores ecobiossociais intriacutensecos de cada agregado investigado
A investigaccedilatildeo dos cinco agregados evidenciou distintas condiccedilotildees espaciais sociais econocircmicas ambientais culturais infraestruturais (saneamento baacutesico) e de lideranccedilas comuni-taacuterias e por conseguinte uma conjuntura urbana peculiar agrave proliferaccedilatildeo do Aedes aegypti para a transmissatildeo da dengue Essa condiccedilatildeo associada ao processo de implantaccedilatildeo do enfo-que ecossistecircmico no controle da dengue disponibilizou rica fonte de coleta de dados por meio de trecircs principais teacutecnicas de coleta de dados anaacutelise documental - diaacuterios de campo produ-zidos pelos pesquisadores responsaacuteveis nos agregados obser-vaccedilatildeo sistemaacutetica dos agregados nos bairros Parreatildeo e Passareacute a fim de ajuntar mais subsiacutedios agrave anaacutelise de dados
Examinou-se 55 diaacuterios de campo e 12 observaccedilotildees siste-maacuteticas As informaccedilotildees prevalecentes permitiram a contex-tualizaccedilatildeo do comportamento dos atores sociais clareando a participaccedilatildeo relacionada agrave equidade de gecircnero nos momentos da abordagem integrada no controle da dengue Para a anaacutelise do material qualitativo optou-se pela modalidade de anaacutelise de conteuacutedo que busca a interpretaccedilatildeo cifrada do material de caraacuteter qualitativo (MINAYO 2010)
Os sujeitos da pesquisa compreenderam os profissionais de controle de endemias supervisores de endemias (SE) e agente de controle de endemia (ACE) os educadores em sauacute-de (ES) os agentes comunitaacuterios de sauacutede (ACS) enfermeira
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(Enf) e os moradores (M) Para manter o anonimato dos par-ticipantes elencou-se as iniciais dos atores sociais seguidas de um algarismo araacutebico sequencial de acordo com a especifici-dade de cada funccedilatildeo presente nos encontros e accedilotildees dos cinco agregados
Na realizaccedilatildeo desta pesquisa obedeceu-se agrave Resoluccedilatildeo 46612 do Conselho Nacional de Sauacutede (BRASIL 2012) e a aprovaccedilatildeo do projeto guarda-chuva pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Universidade Estadual do Cearaacute com o nuacutemero de Protocolo 09553425-3
RESULTADOS E DISCUSSAtildeOO estudo para implantaccedilatildeo da abordagem ecossauacutede foi
constituiacutedo por 54 pessoas sendo 27 mulheres e 27 homens inseridos nas diversas categorias participantes durante a in-vestigaccedilatildeo que compreendeu cinco bairros do Municiacutepio de Fortaleza-CE no periacuteodo de 2012-2013 Na meacutedia geral da categoria morador prevaleceu o sexo feminino Jaacute na ca-tegoria de profissionais de endemias -agentes de controle de endemias supervisores de endemias e educadores em sauacutede obteve-se maior nuacutemero de homens nas duas iniciais Consi-derando os profissionais e trabalhadores de sauacutede implicados no processondash PSF NASF e ACS houve predomiacutenio do sexo feminino Essas categorias seratildeo explicitadas nos resultados e nas discussotildees
MoradoresO puacuteblico de moradores presente aos encontros realiza-
dos para implantaccedilatildeo da ecossauacutede correspondeu a um total de 20 pessoas em que o gecircnero feminino atingiu 13 partici-pantes (65 )
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Em consonacircncia com o resultado atual Gonccedilalves et al (2012) detectaram uma maior disposiccedilatildeo do sexo feminino na contribuiccedilatildeo com seu estudo Para eles a sociedade atribui as responsabilidades de cuidados com a casa ao sexo feminino o que pode contribuir com a baixa participaccedilatildeo e interesse dos homens aleacutem do fato de a pesquisa ter ocorrido geralmente no horaacuterio de expediente
Diaz et al (2009) observaram que a participaccedilatildeo de mu-lheres chegou a 70 o que possibilitou as pessoas da mesma comunidade se organizarem voluntaacuteria e livremente em prol da vigilacircncia e controle das condiccedilotildees ambientais que podem ocasionar a transmissatildeo da dengue aleacutem de educaccedilatildeo dos resi-dentes sobre ecossauacutede
A aparente facilidade de abordar mulheres em estudos que favoreccedilam seu envolvimento e participaccedilatildeo no tocante agrave sauacutede mais especificamente no controle da dengue pode ter relaccedilatildeo com sua presenccedila marcante no ambiente domeacutestico pois a mulher ainda exerce inuacutemeras funccedilotildees dentro do domi-ciacutelio como cuidar dos filhos do homem e da proacutepria residecircn-cia (BRITO 2011) Isto faz da mulher uma figura em potencial para o controle do Aedes aegypti desde a rotina domiciliar para evitar seus possiacuteveis criadouros (CLARO et al 2004)
Matos (2012) ressaltou que para ocorrer uma participa-ccedilatildeo significativa no controle da dengue eacute necessaacuterio o envol-vimento dos atores nas praacuteticas propostas pela abordagem de ecossauacutede Detectou no entanto baixa adesatildeo da comunida-de independentemente do gecircnero ante os convites feitos agrave co-munidadepara participar das reuniotildees
Costa et al (2011) constataram que nos anos de 2008 e 2009 o sexo feminino foi o mais acometido por dengue apre-sentando em sua maioria as formas mais graves dengue com
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complicaccedilotildees e choque Os dados corroboram a ligaccedilatildeo da permanecircncia da mulher no ambiente domeacutestico e as caracte-riacutesticas domeacutesticas do vetor facilitando o evento (BARONI OLIVEIRA 2009)
As informaccedilotildees mencionadas demonstram a relevacircncia do envolvimento da mulher nas estrateacutegias de controle da den-gue embora a equidade de gecircnero seja buscada neste processo Accedilotildees direcionadas ao puacuteblico feminino podem trazer impli-caccedilotildees positivas no sentido de envolver o homem de forma indireta ou posteriormente e por fim abranger toda a famiacutelia no contexto da dengue
Profissionais de Endemias
A categoria de profissionais de endemias situou o puacutebli-co masculino no topo 18 pessoas (69) O grupo de agentes de controle de endemias (ACE) configurou sete participantes (3888) do puacuteblico masculino Jaacute o grupo dos supervisores de endemias demostrou interesse em participar da pesquisa re-presentado por oito homens (4444) e trecircs mulheres Quan-to ao grupo dos educadores em sauacutede houve uma quantidade aproximada nas participaccedilotildees cinco pessoas do sexo feminino e trecircs do sexo masculino (1666) apontando predominacircncia feminina
Matos (2012) demonstrou que o agente de endemias eacute comprometido com as questotildees referentes agrave dengue e buscou a adesatildeo da comunidade Poreacutem referiu frustraccedilatildeo devido agrave participaccedilatildeo diminuta da comunidade sem diferenciar o pre-domiacutenio de homens ou mulheres
Oliveira (2004) configurou o universo masculino e jo-vem desses profissionais de controle da dengue Jaacute Maia et
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al (2013) mostraram outra realidade - a atuaccedilatildeo de homens e mulheres no controle de endemias no Municiacutepio de NatalRN com 50 de representaccedilatildeo feminina Acredita-se que o maior envolvimento de homens nessa profissatildeo eacute motivado pelo trabalho que requer o enfrentamento de situaccedilotildees que envolvem uso da forccedila perigo o que favorece a notoacuteria pre-senccedila de homens nessa funccedilatildeo Reforccedilada por Santana (2012) que referiu relatos da rotina de trabalho dos agentes experiecircn-cias com assaltos e a transporte da escada ao percorrer grandes distacircncias casa a casa
Eacute consenso o fato de que cada agente de endemias esteja ligado diretamente ao supervisor de aacuterea que faraacute o elo entre os agentes e o supervisor geral O uacuteltimo tem a funccedilatildeo de pla-nejamento acompanhamento supervisatildeo e avaliaccedilatildeo das ati-vidades operacionais de campo demonstrando conhecimento dos recursos teacutecnicos empregados na vigilacircncia e controle do Aedes aegypti (SECRETARIA DE SAUacuteDE DO ESTADO DE SANTA CATARINA 2007) e eacute claro a importacircncia dos su-pervisores no controle da dengue em razatildeo inclusive do seu poder de decisatildeo e envolvimento com a gestatildeo com vistas a promover novas discussotildees acerca de inovaccedilotildees metodoloacutegi-cas de controle eacute que se torna premente a sua participaccedilatildeo nas accedilotildees em ecossauacutede
Outro agente com papel fundamental no controle da den-gue eacute o educador em Sauacutede Gabriel (2013) mencionou que
[] o educador em sauacutede tem a funccedilatildeo de fa-cilitador das descobertas e reflexotildees dos indi-viacuteduos sobre os aspetos a modificar levando em consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e o ambiente envolvente estimulando-os a agir sobre as proacuteprias vidas
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Esse autor referiu tambeacutem que o desenvolvimento de profissionais qualificados competentes na aacuterea de Educaccedilatildeo em Sauacutede eacute importante pois afeta o desenvolvimento da pro-moccedilatildeo da sauacutede Esses profissionais requerem novos conheci-mentos e ideias para a accedilatildeo minimizando os efeitos do modelo tradicional de controle do dengue pois
[] o conhecimento cientificamente produ-zido no campo da sauacutede intermediado pelos profissionais de sauacutede atinge a vida cotidia-na das pessoas uma vez que a compreensatildeo dos condicionantes do processo sauacutede-doen-ccedila oferece subsiacutedios para a adoccedilatildeo de novos haacutebitos e condutas de sauacutede (ALVES 2005 p 43)
Um ponto que chamou a atenccedilatildeo foi agrave crenccedila de que a mobilizaccedilatildeo popular eacute tarefa exclusiva do educador em sauacute-de Sabe-se este papel eacute de todas as classes trabalhadoras e da populaccedilatildeo em geral - situaccedilatildeo valorizada por Gomes e Mina-yo (2006) quando descreveram como uma das vantagens da abordagem integrada o envolvimento dos diversos atores so-ciais empoderando sujeitos com base na participaccedilatildeo social
Acredita-se que para o controle da dengue eacute necessaacuterio percorrer caminhos alternativos observar o enfoque mul-tidisciplinar somado aos programas tradicionais em curso possibilitando resultados com maiores eficiecircncia e eficaacutecia (QUINTERO et al 2009) aspiraccedilatildeo esta suscitada pelo ES3 que sugeriu fazer encontros intersetoriais a fim de proporcio-nar maior envolvimento da comunidade
Supotildee-se que mergulhar na praacutetica da intersetorialidade traz uma seacuterie de dificuldades a principal seria o intensivo viacutenculo com a formaccedilatildeo verticalizada modelo biomeacutedico he-
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gemocircnico Lima e Vilasbocircas (2011) expressaram para o avan-ccedilo das praacuteticas intersetoriais compromisso coletivo governa-mental e equipe condutora responsaacutevel pelo trabalho Oliveira (1998) defendeu a ideia de que a mudanccedila de haacutebito do sujeito estaacute centrada na ampliaccedilatildeo e fortalecimento das relaccedilotildees so-ciais e natildeo a produccedilatildeo de mais informaccedilotildees
Trabalhadores e Profissionais de Sauacutede
Essa categoria representou a participaccedilatildeo iacutenfima dos tra-balhadores e profissionais de sauacutede no estudo sob relatoacuterio que se distribuiacuteram nos grupos agente comunitaacuterio de sauacutede (ACS) programa de sauacutede da famiacutelia (PSF) e nuacutecleo de apoio agrave sauacutede da famiacutelia (NASF)
Nos diversos encontros promovidos para a implantaccedilatildeo da abordagem integrada no controle da dengue somente oito pessoas estiveram presentes representando todos os grupos dessa categoria foram seis (75) participantes do puacuteblico fe-minino A representaccedilatildeo do PSF foi surpreendente pois ape-nas uma profissional e cinco (62) pessoas marcaram a pre-senccedila do ACS sendo um homem e quatro mulheres
Mertens (2007) destacou a importacircncia de envolver os agentes de sauacutede que sejam moradores dos bairros onde tra-balham no controle da dengue facilitando os contatos com a comunidade e as accedilotildees de vigilacircncia para que se enraiacutezem nas redes sociais Em nenhum momento dos encontros entretan-to foi referida por esses profissionais a efetivaccedilatildeo da atribuiccedilatildeo do ACS presente nas diretrizes da poliacutetica de controle da den-gue nacional (PNCD 2002)
Acredita-se que a reduzida presenccedila do ACS e dos profis-sionais de sauacutede nos encontros da pesquisa pode ter aconteci-
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do em detrimento da alta demanda do setor sauacutede que deteacutem precaacuteria condiccedilatildeo funcional e de infraestrutura mediante as poliacuteticas puacuteblicas vigentes Assim como a proposta do Progra-ma que insinua a sedimentaccedilatildeo das funccedilotildees para a capacitaccedilatildeo os ACSrsquos nas accedilotildees de prevenccedilatildeo e controle da dengue e as equipes PSF nas accedilotildees assistenciais para diagnoacutestico e trata-mento das formas graves e hemorraacutegicas da dengue (PNCD 2002)
Na opiniatildeo dos participantes da implantaccedilatildeo da ecossauacute-de a presenccedila do ACS seria uma soluccedilatildeo para a recusa Essa situaccedilatildeo poderia ter sido amenizada se houvesse a unificaccedilatildeo das aacutereas geograacuteficas de trabalho dos agentes comunitaacuterios de sauacutede (ACS) e dos agentes de controle de endemias (ACE) Conforme as diretrizes do PNCD (2002) deve-se consolidar a inserccedilatildeo do Programa de Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede (PACS) e do Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) nas accedilotildees de prevenccedilatildeo e controle da dengue visando principalmente a promover mudanccedilas de haacutebito da comunidade para manter o ambiente domeacutestico livre do Aedes aegypti
Percebeu-se nos comentaacuterios dos participantes o fato de que o ambiente da pesquisa propondo uma abordagem inte-grada despertou o interesse dos agentes em apresentar solu-ccedilotildees e a ter outra perspectiva transpondo a intervenccedilatildeo tradi-cional como se segue
Os agentes de endemia e os agentes comuni-taacuterios devem se ajudar no sentido de facilitar a entrada nas casas [] (ACS - 2)
Essa aacuterea natildeo tem ACS (ACS - 3)
Laacute a comunidade eacute mais acessiacutevel agrave entra-da dos agentes em suas casas [] o contato agente e comunidade eacute muito mais proacuteximo
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uma vez que eacute facilitado pela presenccedila de um liacuteder comunitaacuterio [] (ACS - 3)
Deveria ter uma maior participaccedilatildeo da miacutedia em chamar essa populaccedilatildeo para engajamen-to e controle das accedilotildees [] (SE -2)
[] o mais importante eacute a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo deixar a populaccedilatildeo ciente [] da responsabilidade de cada um [] do ACS ACE [] e tambeacutem da prioridade desse tra-balho o porquecirc de fazer esse trabalho de casa em casa [] que muitas vezes no quarteiratildeo o agente natildeo consegue entrar nem em 10 do quarteiratildeo por quecirc Porque as pessoas natildeo conhecem [] se tivesse uma maior divulga-ccedilatildeo [] junto agrave comunidade (ES -1)
O plano de accedilatildeo natildeo eacute apenas para a dengue e sim com todos os problemas jaacute abordados aqui e que tem que ser um plano contiacutenuo natildeo pode parar (SE -9)
Eacute necessaacuterio que o governo invista na comu-nidade para que ela participe dos encontros e qualquer outra mobilizaccedilatildeo que eacute realizado e que insistir eacute um ponto forte que aos poucos agraves pessoas vatildeo sensibilizando uns aos outros e cada um vai aderindo o que eacute promovido (SE ndash 10)
O SE-4 relatou que sempre nas reuniotildees ine-rentes ao trabalho deles eacute realizado o convite para o comparecimento de um membro da companhia de aacutegua No entanto natildeo haacute o comparecimento de nenhum representante A CAGECE afirma que o abastecimento ine-ficaz estaacute relacionado ao uso clandestino de aacutegua por parte dos moradores dificultando o fluxo da aacutegua (P -12)
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Esse tipo de accedilatildeo provoca no morador a im-portacircncia do cuidado definitivo no que diz respeito ao depoacutesito caixa drsquoaacutegua em funccedilatildeo da doenccedila dengue (ES ndash 4)
Se o abastecimento fosse regular natildeo haveria tanta oferta para o mosquito (SE - 7)
O panorama dos agregados no relacionado agraves categorias profissionais e gecircneros evidenciou que o bairro de Messejana contabilizou o valor miacutenimo de moradores uma mulher assim como o grupo de trabalhadores e profissionais de sauacutede com um ACS do sexo feminino A presenccedila do NASF aconteceu exclusivamente no bairro Quintino Cunha ao passo que o bairro do Passareacute natildeo contabilizou presenccedila dos trabalhadores e profissionais de sauacutede e teve menor nuacutemero de participan-tes Jaacute o bairro Parreatildeo teve o maior nuacutemero de ES e SE com predomiacutenio do sexo masculino que teve a uacutenica participaccedilatildeo do profissional do PSF O Joseacute Walter destacou-se pelo maior nuacutemero de mulheres participantes principalmente na catego-ria de moradores
Dantas et al (2009) no acircmbito histoacuterico relataram que a sauacutede eacute responsabilidade de variados setores da sociedade puacuteblico privado ONGS e a sociedade por meio de accedilotildees in-terdisciplinares e intersetoriais sendo necessaacuterio que se en-volvam na discussatildeo acerca da qualidade de vida individual e coletiva
Assim o desafio que se impotildee conforme os pensamen-tos de Derrida (2001) estaacute na transformaccedilatildeo de uma cidadania acostumada a exigir e a participar de projetos comuns para as-sumir as responsabilidades visto que ainda persistem os con-ceitos tradicionais de participaccedilatildeo - aspiraccedilotildees estas possiacuteveis pelas accedilotildees da abordagem ecossauacutede
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CONSIDERAccedilOtildeES FINAIS
A implantaccedilatildeo da ecossauacutede no controle da dengue cer-tamente recebeu influecircncia dos aspectos de singularidade culturais socioeconocircmicos e de produccedilatildeo social inerentes aos atores sociais considerados determinantes para as novas formas de pensar e agir no controle da dengue assimiladas e evidenciadas pelos participantes Notou-se inclusive que as mulheres moradoras predominaram em algumas categorias e fortaleceram a crenccedila de que satildeo peccedilas-chave para a mobiliza-ccedilatildeo e o envolvimento da comunidade nas accedilotildees de prevenccedilatildeo da doenccedila
Esse panorama denotou a importacircncia da participaccedilatildeo social da atuaccedilatildeo multissetorial e da equidade de gecircnero para a concretizaccedilatildeo da abordagem integrada no controle dessa enfermidade aleacutem dos outros princiacutepios embora a participa-ccedilatildeo social tenha estado aqueacutem do potencial de cada agregado investigado Com arrimo nessa constataccedilatildeo crecirc-se que seraacute possiacutevel percorrer novos caminhos o entendimento e promo-ccedilatildeo da participaccedilatildeo social e equidade de gecircnero pressupostos da ecossauacutede no controle da dengue e por sua vez realccedilar o envolvimento das mulheres como personagens importantes para a soluccedilatildeo efetiva e sustentaacutevel - realidade que estimulou o entendimento da relaccedilatildeo sauacutede e meio ambiente com vistas agrave condiccedilatildeo de contribuir para a Sauacutede Puacuteblica
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CAPIacuteTULO 7
PRAacuteTICAS DE PREVENccedilAtildeO DA DENGUE SOB O OLHAR DAS FAMIacuteLIAS DOS PROFIS-SIONAIS DE SAUacuteDE E DOS ATORES ENVOL-VIDOS NO PROGRAMA DE CONTROLE DO VETOR
Adriana Ponte Carneiro de MatosCyntia Monteiro Vasconcelos Motta
Edina Silva CostaSelma Nunes Diniz
Andrea CapraraFrancisco Joseacute Maia Pinto
INTRODUccedilAtildeO
A dengue representa um desafio para a Sauacutede Puacuteblica sendo considerada doenccedila reemergente e a arbovirose mais comum e mais distribuiacuteda no Mundo (OMS 2009) O aumen-to da prevalecircncia do dengue tem levado as autoridades sanitaacute-rias a considerarem-no como um dos principais problemas de sauacutede puacuteblica de todo o mundo e com isso dispor de recursos para o enfrentamento dessa problemaacutetica
Seguindo uma sazonalidade existe associaccedilatildeo intensa entre as condiccedilotildees climaacuteticas e a incidecircncia da dengue (DO-NALISIO amp GLASSER 2002) de forma que a morbidade estaacute associada positivamente com a estaccedilatildeo chuvosa pois o vetor prolifera mais com uma umidade relativa alta (ARUNACHA-LAM et al 2010) Aleacutem disso as mudanccedilas demograacuteficas e o intenso fluxo migratoacuterio rural-urbano geram o crescimento
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desordenado das cidades e favorecem a proliferaccedilatildeo do vetor com as precaacuterias condiccedilotildees de saneamento baacutesico (BRAGA amp VALLE 2007)
A relaccedilatildeo entre o abastecimento domeacutestico de aacutegua e a presenccedila de vetor tambeacutem eacute um fator relevante pois tanto o fornecimento irregular de aacutegua quanto a falta de aacutegua encana-da podem levar a uma presenccedila maior de criadouros e tam-beacutem o aumento no uso de embalagens descartaacuteveis para pro-dutos industrializados contribui para o acuacutemulo de recipientes que se tornam possiacuteveis focos do mosquito Essas embalagens e outros produtos satildeo descartadas e ateacute mesmo reaproveitadas pela populaccedilatildeo com finalidades diversas e mantidos no espaccedilo domeacutestico quase sempre mal acondicionados em funccedilatildeo das condiccedilotildees precaacuterias dos domiciacutelios (CLARO TOMASSINI ROSA 2004)
Braga e Valle (2007) acentuam que apesar dos esforccedilos puacuteblicos para uma meta de controle da doenccedila a dengue per-manece como endecircmico com esporaacutedicas epidemias no Brasil Mais recentemente Teixeira (2008) refere ainda que dificulda-des em controlar as infecccedilotildees satildeo vislumbradas por diversos paiacuteses como no Brasil evidenciando que o conhecimento cientiacutefico neste campo da prevenccedilatildeo ainda eacute insuficiente para combater esta virose Nesse sentido sabe-se que ainda natildeo se dispotildee de medicamentos especiacuteficos para as pessoas acometi-das por dengue natildeo se dispotildee de vacina segura e eficaz e dessa forma ao longo dos anos o controle desta virose se manteve centrado apenas no combate ao seu vetor
Peacuterez - Guerra et al (2009) confirmam que o controle do mosquito transmissor foi iniciado por meio de uma poliacutetica centralizadora e vertical caracterizada por programas prati-camente militarizados com o uso de inseticidas que combi-
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nados promoveriam a reduccedilatildeo do nuacutemero de criadouros de mosquitos Posteriormente constatou-se que programas com essas caracteriacutesticas natildeo se sustentam ao longo dos anos e das mudanccedilas sociais
Dessa maneira as poliacuteticas de controle do dengue nas Ameacutericas se resumiram ao combate ao vetor o Aedes aegyp-ti uacutenico transmissor com importacircncia epidemioloacutegica nessa regiatildeo Para diminuir os criadouros do vetor o Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2002) preconizou o saneamento ambiental e o controle quiacutemico e propocircs o incentivo agrave participaccedilatildeo co-munitaacuteria com fortalecimento das atividades de Educaccedilatildeo em Sauacutede Verifica-se entretanto que as campanhas educativas centradas na divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees natildeo produzem mu-danccedilas significativas de comportamento apesar de atingirem a populaccedilatildeo proporcionando conhecimento sobre a dengue seus vetores e as medidas de controle
No artigo de Zambrini (2011) sobre as liccedilotildees aprendidas durante a epidemia de dengue de 2009 na Argentina o autor ressalta que na eacutepoca o Paiacutes apresentava condiccedilotildees ambien-tais favoraacuteveis para o estabelecimento do mosquito transmis-sor com zonas urbanas expressando uma densidade popula-cional alta e com empobrecimento das condiccedilotildees de vida e o sistema de vigilacircncia epidemioloacutegica jaacute previa a vulnerabilida-de da populaccedilatildeo A falta de articulaccedilatildeo entre setores desfavo-receu no entanto a abordagem ante os determinantes sociais e a definiccedilatildeo de prioridades
Uma experiecircncia de Schweigmann e colaboradores (2009) com suporte nesse contexto vivenciado na Argentina estimu-lou intervenccedilotildees por meio da articulaccedilatildeo do programa de con-trole do vetor com o setor da Educaccedilatildeo partindo do princiacutepio de que a informaccedilatildeo adequada eacute o fator decisivo (apesar de natildeo
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suficiente) para a apropriaccedilatildeo do conhecimento e no favoreci-mento de adoccedilatildeo de praacuteticas ambientais saudaacuteveis
Em outra experiecircncia com base na temaacutetica da interseto-rialidade Lima amp Vilasbocircas (2011) descrevem a implantaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais para o controle do dengue na Bahia Brasil Os autores defendem a criaccedilatildeo de um comitecirc interse-torial com uma equipe condutora responsaacutevel pelo trabalho a qual tenha capacidade teacutecnica e poliacutetica com as condiccedilotildees de conduzir acompanhar e avaliar as atividades e estimular a articulaccedilatildeo entre os vaacuterios setores dissipando as barreiras disciplinares
Apesar de estudos mais recentes (SOMMERFELD amp KROEGER 2012 ARUNACHALAN et al 2012) somados agraves reflexotildees das experiecircncias de controle da dengue confluiacuterem para o estiacutemulo ao controle pautado na intersetorialidade e na participaccedilatildeo comunitaacuteria eacute necessaacuterio ressaltar que uma mo-bilizaccedilatildeo em Educaccedilatildeo em Sauacutede por si soacute natildeo eacute capaz de pro-duzir mudanccedilas e controlar problemas de sauacutede Para tanto eacute necessaacuterio que o controle da dengue adquira uma visatildeo mais ampla e possa ser atuante nos determinantes ecobiossociais que envolvem essa enfermidade (TEIXEIRA 2008 ARUNA-CHALAM ET AL 2010 TANA et al 2012) E assim os pro-gramas de controle devem levar em consideraccedilatildeo uma vigilacircn-cia epidemioloacutegica eficaz um controle vetorial sustentaacutevel e sobretudo a promoccedilatildeo de accedilotildees de saneamento baacutesico
Na contextura desta realidade questiona-se quais os pa-peacuteis dos vaacuterios atores sociais no cenaacuterio da dengue em Forta-leza Como realizam suas atividades de controle da dengue O que fazem para diminuir os fatores determinantes da dengue Como cada um deles se articula para melhorar o controle da dengue
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Estes questionamentos somados agrave oportunidade de par-ticipaccedilatildeo no Estudo Multicecircntrico - ldquoPesquisa Ecobiossocial sobre Dengue e Doenccedila de Chagas na Ameacuterica Latina e no Ca-riberdquo desenvolvido pela Universidade Estadual do Cearaacute nos instiga a dialogar com os atores sociais com o objetivo de ana-lisar a perspectiva de familiares profissionais de sauacutede e atores do programa de controle do dengue sobre seu papel presente as praacuteticas de prevenccedilatildeo
METODOLOGIAEste eacute um experimento de abordagem qualitativa realiza-
do no periacuteodo de janeiro de 2011 a maio de 2012 com base no protocolo central do Estudo Multicecircntrico ldquoPesquisa Ecobios-social sobre Dengue e Doenccedila de Chagas na Ameacuterica Latina e no Cariberdquo O estudo adotou uma perspectiva antropoloacutegica baseada principalmente em meacutetodos qualitativos e no Brasil a respectiva anaacutelise foi realizada em aacutereas selecionadas do Mu-niciacutepio de Fortaleza-CE
Administrativamente o Municiacutepio de Fortaleza estaacute divi-dido em seis regiotildees cada uma delas sob o comando de uma Secretaria Executiva Regional (SER) Foram selecionadas dez aacutereas para o estudo apoacutes de sorteios de recortes do mapa do Fortaleza de forma que a cada recorte correspondesse uma lo-calidade com cerca de 100 imoacuteveis
Foi realizado um total de 66 visitas observacionais nos domiciacutelios correspondentes e 31 entrevistas foram gravadas e transcritas e as observaccedilotildees-participantes bem como as con-versas informais com os moradores da aacuterea foram anotadas em diaacuterios de campo e posteriormente codificadas analisadas e interpretadas
Para complementar foram realizados grupos focais para cada aacuterea do estudo agrupando as categorias de atores sociais
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investigadas familiares profissionais de sauacutede (Equipe de Sauacute-de da Famiacutelia) e atores do programa de controle da dengue
Adotou-se como ferramenta para organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pesquisa o software Qualitative Solutions Re-search N-vivo (QSR) versatildeo 20 Inicialmente foram realiza-das leituras sucessivas para atingir uma compreensatildeo geral do sentido dos textos e em seguida cada transcriccedilatildeo de entrevista e nota de diaacuterio de campo foi importada para o software em um arquivo rich text
Apoacutes esse passo durante a leitura de cada arquivo se rela-cionou passagens dos textos a categorias que o pesquisador de-senvolveu com base nos seus objetivos e na compreensatildeo geral do texto (KELLE 2012) A esse passo denomina-se codificaccedilatildeo e a cada categoria o software N-vivo denomina de Node Para o ensaio sob relatoacuterio as passagens foram relacionadas afree nodes ou seja coacutedigos livres ou natildeo hieraacuterquicos A lista resul-tante das passagens dos textos selecionados foi exportada para o software Microsoft Word 2007 e assim os dados puderam ser analisados com apoio na identificaccedilatildeo dos nuacutecleos de sentido e sua posterior anaacutelise e interpretaccedilatildeo (MINAYO 2008)
As categorias analiacuteticas que emergiram durante a anaacutelise dos dados foram A divergecircncia sobre seu papel no controle da dengue e os interesses dos atores A participaccedilatildeo como praacutetica de prevenccedilatildeo e A necessidade de integraccedilatildeo
RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A divergecircncia sobre seu papel no controle do dengue e os interesses dos atores
Os resultados apontaram para uma complexa divergecircn-cia entre os interesses e papeacuteis dos diferentes agentes sociais no cenaacuterio da dengue em Fortaleza As informaccedilotildees colhidas
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retratam a complexidade em que cada ator social se insere se percebe e se envolve nas accedilotildees de combate prevenccedilatildeo e con-trole desta doenccedila
Nas falas dos profissionais de sauacutede destaca-se As pessoas sabem eacute muito divulgado pelos meios de comunicaccedilatildeo Mas laacute na periferia mesmo fazer o trabalho em si que eacute evitar os criadouros do mosquito eacute difiacutecil O grau de instruccedilatildeo eacute menor (P- AacuteREA 10)
As pessoas com descuido deixam caixa drsquoaacutegua aberta acumulam lixo [] Tem tam-beacutem a falta de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo muitas pessoas aglomeradas a falta de abas-tecimento de aacutegua reservatoacuterios de estoque (P- AacuteREA 4)
A informaccedilatildeo tem Todos sabem o que eacute dengue Mas natildeo cuidam das suas casas (P - AacuteREA 3)
As falas dos profissionais atribui a disseminaccedilatildeo da den-gue ao descuido da populaccedilatildeo e registram o desconhecimento da necessidade de desempenhar o seu papel de profissional de sauacutede com uma reflexatildeo do que pode ser melhorado em suas accedilotildees e atitudes Esta atitude eacute negativa visto que conforme Zagury (2006) a culpabilizaccedilatildeo que ocorre quando se imputa responsabilidades isoladas na forma de eleiccedilatildeo automaacutetica de culpados dentro da complexidade do contexto configura uma maneira simplista de debater os problemas que dificulta sua soluccedilatildeo
O papel dos profissionais da Equipe de Sauacutede da Famiacutelia inclui a conduta de se integrarem com a comunidade buscan-do conhecer a realidade vivida por parte de cada integrante seja individual ou coletivamente com o intuito de melhorar a
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qualidade de vida dos integrantes da comunidade assumindo uma postura de agente de transformaccedilatildeo e motivando a parti-cipaccedilatildeo popular O profissional deve buscar entender e aten-der as necessidades reais e potenciais da pessoa seja esta no seu conviacutevio familiar coletivo ou individual (SCHULTZ 2008)
Nos depoimentos dos atores envolvidos no controle da dengue sobressaiacuteram-se
Deveria ter mais agentes O correto era ter uma visita a cada dois meses Ou seja seis vi-sitas em um ano Tem quadra que fica cinco meses sem ser visitada e algumas uma vez ao ano (C-AacuteREA 7)
[] Uma grande reclamaccedilatildeo da populaccedilatildeo eacute o fato da prefeitura natildeo realizar mais a dis-tribuiccedilatildeo de telas para vedaccedilatildeo Antigamente isso era feito mas agora os proacuteprios donos da casa precisam comprar suas telas (C- AacuteREA 4)
Rapaz eu considero nosso papel muito im-portante neacute Porque a gente taacute conscienti-zando a populaccedilatildeo e salvando as vidas dela A gente estaacute eliminando o foco do mosquito Eu creio que a populaccedilatildeo tinha que ter mais consciecircncia neacute Porque o que jaacute repassado por televisatildeo pela gente mesmo eu acho que jaacute eacute bem amplo neacute E pra eles tanto faz como tanto fez (C- AacuteREA 1)
Bem nosso trabalho eacute basicamente procurar encontrar e eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti neacute Esse eacute o nosso trabalho E dar a educaccedilatildeo sanitaacuteria aos moradores e a populaccedilatildeo para como se evitar os criadores em sua residecircncia [] (C-AacuteREA 3)
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As falas dos agentes de endemias revelam que estes assu-mem um papel que denominam de ldquoconscientizaccedilatildeordquo poreacutem contraditoriamente a esta proposta todos reconhecem que suas accedilotildees satildeo ineficazes haja vista que para eles a populaccedilatildeo natildeo cumpre o seu papel Percebe-se mediante seus discursos que os agentes de endemias tambeacutem inculpem o outro seja a Prefeitura seja o Governo do Estado ou ainda a comunidade
O conteuacutedo ofertado pelos agentes de endemias natildeo en-contra eco na populaccedilatildeo simplesmente porque a comunidade natildeo interioriza os conceitos procedentes da abstraccedilatildeo cientiacutefi-ca inserida nos materiais produzidos Infere-se que o trabalho nominado de conscientizaccedilatildeo segue a proposta educativa tra-dicional cuja praacutetica se torna um ato de depositar em que os educandos satildeo os depositaacuterios e o educador o depositante sem haver uma preocupaccedilatildeo com a aplicaccedilatildeo dos conteuacutedos no co-tidiano do educando (MARTINS GARCIA PASSOS 2008)
Assim a conscientizaccedilatildeo referida pelos agentes de ende-mias parece seguir um processo educativo de caraacuteter verticali-zado que natildeo encontra resposta na comunidade Esta realida-de eacute preocupante considerando-se que ao agente comunitaacuterio de endemias (ACE) competem accedilotildees como Educaccedilatildeo em Sauacute-de a mobilizaccedilatildeo comunitaacuteria a identificaccedilatildeo de criadouros e que o distanciamento decorrente deste tipo de comportamen-to dos ACEs compromete a eficaacutecia da Educaccedilatildeo em Sauacutede por eles promovida
Corroborando as dificuldades citadas nos discursos o pretenso papel de educaccedilatildeo visando agrave mudanccedila de haacutebito da comunidade com relaccedilatildeo agraves medidas preventivas de controle da dengue eacute falho pela quantidade de ACEs disponiacuteveis e pelo pouco tempo dispensado em cada imoacutevel com a finalidade de atingir o percentual necessaacuterio
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Nas falas dos membros das famiacutelias chamou atenccedilatildeoAs visitas dos agentes de endemias deve-riam ocorrer com uma frequecircncia maior pois atualmente soacute ocorrem cerca de 3 em 3 meses e com o tempo acabo esquecendo de tomar os cuidados com a aacutegua parada Eu acho muito bonito porque quem combate eacute eles mesmo (MF- AacuteREA 4)
[] O governo jaacute deveria ter uma accedilatildeo mais eficiente jaacute que esperar pela participaccedilatildeo natildeo resolve Num instante criam vacina para gripe por que natildeo tem para dengue Jaacute estaacute com tanto tempo (MF- AacuteREA 5)
A dengue a gente soacute vecirc falar mal O problema eacute do governo que natildeo cuida da gente Esse posto de sauacutede aiacute natildeo serve pra nada Nunca tem meacutedico (MF- AacuteREA 1)
Agraves vezes por que vecirc a casa assim agraves vezes coloca a proacutepria vizinha aiacute agraves vezes coloca lixo o lixo aqui da minha casa eacute condiciona-do em sacos plaacutesticos copinho aparece aiacute mas meu natildeo eacute (MF ndash AacuteREA 9)
De quem eacute a culpa Das pessoas que deixam acumular Natildeo tem higiene Eu tenho que fa-zer neacute Laacute em casa eacute bomba de puxar aacutegua natildeo eacute Cagece Eu encho o balde pra tomar banho mas logo seco A prefeitura deve fa-zer mais visitas agraves casas pois a gente cai na rotina e a gente esquece (MF- AacuteREA 2)
A culpa eacute da populaccedilatildeo eu faccedilo a minha par-te tem gente que natildeo [] (MF ndash AacuteREA 6)
De novo parece evidente nas falas da comunidade o fato de que o ldquoproblemardquo eacute sempre do outro ou pertence ao ou-
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tro seja este o vizinho a Prefeitura ou os oacutergatildeos competentes Tambeacutem a responsabilidade passa a ser do outro e a pessoa natildeo se enquadra como sujeito ativo e participativo no processo de prevenccedilatildeo e controle da dengue
Salta a sensaccedilatildeo de que a comunidade ainda natildeo se apro-priou do seu papel como sujeito ativo de transformaccedilatildeo da realidade neste caso a dengue em nosso meio
A participaccedilatildeo comunitaacuteria como praacutetica de preven-ccedilatildeo
Foi observado com arrimo nas informaccedilotildees coletadas que os atores - sejam eles profissionais de sauacutede atores do contro-le da dengue ou mesmo membros da comunidadendashacreditam que uma boa praacutetica de prevenccedilatildeo decorre da conscientizaccedilatildeo e da participaccedilatildeo comunitaacuteria mas ressaltam tambeacutem a difi-culdade em atingi-la
Eu creio que se natildeo fosse o nosso trabalho [de controle] estaria pior do que estaacute [] A tecla que a gente bate mais eacute a conscientiza-ccedilatildeo do morador Mas aiacute natildeo depende soacute do agente sanitarista depende sim do morador Ele tem que tomar accedilatildeo (C ndash AacuteREA 10)
[] A gente ensina como eacute que se lava o pote Vocecirc lava aquele pote pra ele [o mo-rador] ensinando quando vocecirc passa 2 3 meses depois ele estaacute esperando vocecirc pra lavar Taacute entendendo Ele fica acomodado A populaccedilatildeo mesmo se acomoda porque eles sabem que tem uma pessoa que vai chegar laacute e vai fazer aquilo (C ndash AacuteREA 1)
A dengue eacute um besouro maligno que se fer-roar uma pessoa a pessoa taacute ferrada Entatildeo o
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morador tem que cuidar da casa para natildeo ter febre dor de cabeccedila vocircmito Eu natildeo posso dizer muito porque nunca vi pessoalmente Por aqui natildeo tem isso natildeo Natildeo conheccedilo ningueacutem que jaacute pegou O que a gente sabe eacute mais o que passa no raacutedio e na televisatildeo (MF ndash AacuteREA 1)
O trabalho dos agentes eacute bom eles estatildeo sempre por aqui falta agrave populaccedilatildeo participar (MF ndash AacuteREA 3)
Os discursos anteriores retratam que apesar de todas as categorias de atores afirmarem a importacircncia da participaccedilatildeo comunitaacuteria para a prevenccedilatildeo da doenccedila daacute-se muito creacutedito ao trabalho dos agentes de controle de endemias mas pouco se observa de mudanccedila nas praacuteticas das comunidades
Estudo sobre conhecimentos atitudes e praacuteticas no Nor-deste brasileiro aponta essas informaccedilotildees quando ressalta que os moradores ficam agrave espera de uma accedilatildeo do agente de sauacutede para realizar atividades que poderiam ser incorporadas em sua rotina domeacutestica
Em estudo de Reis Andrade e Cunha (2013) seus dados empiacutericos apontam que pela loacutegica dos profissionais envol-vidos no controle da dengue a populaccedilatildeo confia nos agentes puacuteblicos para realizar as praacuteticas de higiene ambiental no do-miciacutelio e que pela loacutegica da populaccedilatildeo daacute-se pouco creacutedito agrave ocorrecircncia e gravidade da doenccedila
Primeiramente eacute importante salientar que alguns estudos (SANTOS CABRAL AUGUSTO 2011) sobre conhecimento da populaccedilatildeo mostram que a taxa de acerto em inqueacuteritos fei-tos sobre o vetor e a doenccedila eacute alta mas que isto natildeo se reflete na praacutetica Assim natildeo apenas o conhecimento eacute importante mas para Reis Andrade e Cunha (2013) eacute necessaacuteria uma
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abstraccedilatildeo bastante elaborada para entender como um viacuterus ser invisiacutevel pode causar transtornos tatildeo intensos e soacute depois desse processo eacute possiacutevel realizar atividades para estimular uma participaccedilatildeo comunitaacuteria jaacute que ldquosoacute consegue-se fazer a populaccedilatildeo querer algo quando ela entende a necessidade das accedilotildeesrdquo (REIS ANDRADE CUNHA 2013 p 523)
O mais difiacutecil de acabar com a dengue eacute jus-tamente pela mudanccedila de consciecircncia do povo porque eu acho que informaccedilatildeo natildeo falta neacute Noacutes estamos passando de mecircs em mecircs em uma casa na televisatildeo eacute soacute o que tem eacute comercial e propaganda a respeito da den-gue [] A gente trata hoje elimina o foco mas quando passa o outro ciclo o foco ta laacute agraves vezes ateacute no mesmo depoacutesito (C- AacuteREA 3)
A funccedilatildeo eacute eliminar o mosquito e ensinar a populaccedilatildeo como eacute que se previne A gente trabalha na parte da prevenccedilatildeo e no comba-te porque se a gente taacute combatendo a gente taacute prevenindo (C ndash AacuteREA 5)
Percebeu-se uma lacuna nas campanhas educativas cujos conteuacutedos natildeo conseguem ensejar a conscientizaccedilatildeo popular Para Freire (1999) o ponto criacutetico da educaccedilatildeo eacute a conscien-tizaccedilatildeo que deve ter como consequecircncia a promoccedilatildeo de uma mudanccedila entre as pessoas que sairiam de um estaacutedio de alie-naccedilatildeo para uma atitude de reflexatildeo - accedilatildeo Esse teorista defen-de a pedagogia que estabelece relaccedilatildeo de igualdade e criticida-de entre educador e educando em que ambos satildeo herdeiros de experiecircncias criando e recriando integrando-se agrave realida-de enfrentando desafios e apreendendo seus papeacuteis no acircmbito dos seus contextos biopsicossociais
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A necessidade de integraccedilatildeo
Algumas informaccedilotildees coletadas refletem que mesmo os discursos dos atores apontando uma culpabilizaccedilatildeo alguns concordam com a ideia de que a integraccedilatildeo entre os atores seja um elemento-chave para o controle da dengue e assim necessita de reunir esforccedilos de vaacuterios campos para atingir os fatores ecobiossociais envolvidos na manutenccedilatildeo e dispersatildeo desse vetor
Tem ainda a questatildeo governamental soacute vatildeo olhar pra dengue quando taacute na epidemia natildeo eacute utilizado na prevenccedilatildeo (P-AacuteREA 4)
[] A dengue natildeo eacute soacute o posto de sauacutede natildeo Tem que ter mais profissionais Tem que ter materiais para o trabalho Tem que ter sanea-mento Natildeo adianta vocecirc tratar de dengue soacute no posto se existem caixas drsquoaacutegua aacuteguas pa-radas esgotos tudo isso contribui Haacute pes-soal sem condiccedilatildeo de ajeitar a caixa drsquoaacutegua isso contribui (P-AacuteREA 1)
As falas anteriores refletem a noccedilatildeo de que os profissio-nais tambeacutem associam a disseminaccedilatildeo da dengue agrave falta de condiccedilotildees de trabalho e a ausecircncia de accedilatildeo efetiva dos atores poliacuteticos para o controle da doenccedila
A segunda fala reflete a necessidade da intersetorialidade no controle do dengue Lima amp Vilasbocircas (2011) ressaltam que a intersetorialidade pode se tornar um dos eixos principais para a consolidaccedilatildeo de um sistema de sauacutede mais efetivo poreacutem im-plica mudanccedilas seja na gestatildeo ainda muito setorializada seja na implantaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e de promoccedilatildeo da sauacutede evitando a subordinaccedilatildeo de um setor a outro e exi-gindo maior articulaccedilatildeo com membros da populaccedilatildeo
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[] Tecircm equipes que fazem isso as visitas domiciliares os agentes de sauacutede E aiacute vem o mesmo problema da equipe de sauacutede da famiacutelia que estatildeo sempre incompleta falta meacutedico falta enfermeira ou natildeo satildeo cober-tos A gente vecirc a sobrecarga dos exames labo-ratoriais A gente taacute vivendo uma epidemia Ningueacutem ouve falar de alocaccedilatildeo de recursos para isso que foi contratado uma equipe de campanha que a prefeitura fez contrataccedilotildees de equipes extras A gente continua traba-lhando com a mesma maacutequina a mesma quantidade de profissionais que trabalham em dias normais Acho que a gente tem que falar do lixo da proacutepria falta de contrataccedilatildeo de agentes de endemias para vasculhar mes-mo esses terrenos baldios (P-AacuteREA7)
Eacute importante salientar que como parte integrante da Equi-pe de Sauacutede da Famiacutelia os profissionais devem ser peccedilas-cha-ve a fim de romper com o comportamento passivo das equi-pes de sauacutede e estender suas accedilotildees para toda a comunidade responsabilizando-se pelo territoacuterio fundamentado pelos refe-renciais da vigilacircncia e promoccedilatildeo da sauacutede (ALVEZ AERTZ 2011) Os profissionais concordam no entanto com a ideia de que isoladamente a prevenccedilatildeo da dengue natildeo eacute eficaz e ne-cessita de uma seacuterie de atividades justificadas por Sommerfeld amp Kroeger (2013) jaacute que a complexidade dos contextos eco-biossociais ressaltam repetidamente que o controle da dengue exige uma abordagem intersetorial que combine praacuteticas de gestatildeo ambiental com a mobilizaccedilatildeo da comunidade
Uma vez me deram um papel no centro social urbano (onde fica o posto) mas foi soacute essa vez porque laacute no posto eles natildeo ex-plicam nada natildeo ensinam nada Acho que
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a dengue atua mais quando tem aacutegua limpa parada canto brejado e quando chove muito mas na caixa drsquoaacutegua natildeo daacute natildeo (MF - AacuteREA 1)
Natildeo tem outra pessoa para combater natildeo E o povo cooperar tambeacutem porque se natildeo coo-perar natildeo vai acabar nunca esse negoacutecio da dengue Eacute importante o trabalho dos agentes de endemias mas infelizmente a prefeitura natildeo daacute crachaacutes e fardas aos mesmos (MF - AacuteREA 7)
A populaccedilatildeo eacute mobilizada mas enquanto natildeo acontece com algueacutem da famiacutelia natildeo mudam Existe informaccedilatildeo o que falta eacute educaccedilatildeo A responsabilidade deve ser de to-dos Haacute dois anos teve a campanha lsquocasa limpa exemplo de sauacutedersquo na qual a pessoa da comunidade que mantivesse a casa sempre limpa ganhava precircmios [] No CSF sempre tem panfletos e tem tambeacutem uma maquete no posto lsquocasa limpa casa sujarsquo com um ACS ensinando e informando o povo sobre a den-gue e o que deve ser feito em casa para evitar (C-AacuteREA 4)
Oportunamente parece que ocorre uma cultura gover-namental que estaacute implicitamente presente nos discursos de todos os atores sociais de individualizaccedilatildeo das questotildees de prevenccedilatildeo e combate da dengue em que o culpado direto pela doenccedila eacute o vetor (Aedes aegypti como mosquito transmissor) e que a populaccedilatildeo soacute eacute acometida pela doenccedila por natildeo ter as-sumido o seu papel e praticado as orientaccedilotildees de controle e prevenccedilatildeo da doenccedila deixando escondidos o descomprome-timento dos governantes e o mau funcionamento dos serviccedilos puacuteblicos (VALLA et al 1998)
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Analisando os resultados emerge alguns questionamen-tos a atitude e as informaccedilotildees dos profissionais de sauacutede e dos ACEs potencializam as accedilotildees de combate e prevenccedilatildeo da den-gue junto agrave populaccedilatildeo Talvez a ampliaccedilatildeo e o fortalecimento das redes sociais sejam mais efetivos na adesatildeo de cada um dos sujeitos e no cumprimento de seu papel A valorizaccedilatildeo dos atores sociais e o apoio aos sujeitos pode efetivar uma transfor-maccedilatildeo no contexto da dengue bem mais eficaz do que a sim-ples melhoria dos conteuacutedos das informaccedilotildees e as formas de transmiti-los A posiccedilatildeo do Estado que deixa a desejar em suas poliacuteticas puacuteblicas de vigilacircncia sanitaacuteria de coleta seletiva de lixo de pavimentaccedilatildeo das ruas e de abastecimento de aacutegua en-tre outras natildeo pode focar apenas os agentes de endemias e de sauacutede os profissionais da ESF e a populaccedilatildeo como principais transformadores da situaccedilatildeo endecircmica da dengue no Cearaacute
CONSIDERAccedilOtildeES FINAISApoacutes extensa trajetoacuteria em busca de respostas para a pro-
blemaacutetica situaccedilatildeo da dengue na cidade de Fortaleza os resul-tados desvelaram que ao analisar a perspectiva de cada sujeito integrante deste projeto sobre o seu papel na prevenccedilatildeo e no controle do dengue foi possiacutevel perceber comportamentos de culpabilizaccedilatildeo do outro no processo de disseminaccedilatildeo da doen-ccedila de maneira que os papeacuteis social e individual do ator so-cial natildeo satildeo assimilados o que corrobora a pouca eficaacutecia das estrateacutegias educativas para o controle e prevenccedilatildeo da dengue
Dessa maneira os profissionais entendiam que as famiacutelias natildeo cumpriam seu papel de providenciar o descarte correto dos resiacuteduos soacutelidos e cuidar dos seus depoacutesitos enquanto membros da famiacutelia relatavam o papel fundamental do agente sanitarista e vaacuterios fatores intimamente ligados agrave proliferaccedilatildeo
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do mosquito que dependiam da gestatildeo puacuteblica entre os quais a precariedade da coleta de lixo do acesso do caminhatildeo de lixo agraves ruelas do gerenciamento do lixo o irregular abastecimento de aacutegua a falta de saneamento baacutesico etc
Com a ideia de que os atores sociais necessitam de um espaccedilo que facilite a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo e debata sobre os determinantes da dengue em suas respectivas localidades Ante tais achados parece necessaacuterio investir na almejada in-tersetorialidade e participaccedilatildeo social em busca de um empo-deramento comunitaacuterio que transcenderaacute o papel individual para atender ao interesse coletivo e por fim impulsionar a im-plantaccedilatildeo de accedilotildees efetivas no combate agrave dengue
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CAPIacuteTULO 8
SIGNIFICADOS E DIMENSOtildeES DO CONTRO-LE DO DENGUE CONCEPccedilOtildeES DE UMA CO-MUNIDADE PARTICIPATIVA NO MUNICIacute-PIO DE FORTALEZAndashCE
Cyntia Monteiro Vasconcelos MottaKrysne Kelly de Franccedila Oliveira
Elaine Neves de FreitasEdina Silva Costa
Andrea Caprara
INTRODUccedilAtildeO
Em decorrecircncia de sua complexidade a dengue perpassa o tempo as estrateacutegias utilizadas em seu controle e segue in-trigando profissionais gestores e outros agentes sociais envol-vidos em seu contexto Isso a torna uma arbovirose de grande importacircncia para a Sauacutede Puacuteblica
Dados revelados pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) apontam que cerca de 25 bilhotildees de pessoas se encon-tram sob o risco de se infectarem particularmente nos paiacuteses tropicais onde a temperatura e a umidade favorecem a proli-feraccedilatildeo do vetor (OMS 2009)
O Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil em seu documento in-titulado ldquoDiretrizes nacionais para a prevenccedilatildeo e controle de epidemias de denguerdquo confirma a referida estimativa e ainda acrescenta que anualmente a populaccedilatildeo mundial estaacute sob o ris-co de 50 milhotildees de casos de dengue Desses 50 mil necessitam de hospitalizaccedilatildeo e pelo menos 20 mil morrem em consequecircn-cia da doenccedila (BRASIL 2009)
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A relaccedilatildeo com o saneamento ambiental faz-se importante em razatildeo da vulnerabilidade agrave presenccedila de potenciais criadou-ros domiciliares peridomiciliares em logradouros puacuteblicos e no ambiente urbano em geral (SANTOS 2003) A deficiecircncia no abastecimento de aacutegua e na coleta de lixo a utilizaccedilatildeo de materiais biodegradaacuteveis inventados pelo homem como por exemplo pneus velhos garrafas vasos de plantas calhas pisci-nas entre outros tambeacutem contribuem com a problemaacutetica em torno da dengue (ELLIS WILCOX 2009)
Ruacutea-Uribe et al (2013) revelaram uma associaccedilatildeo entre as mudanccedilas nas condiccedilotildees climaacuteticas e a transmissatildeo da doen-ccedila Esta uacuteltima depende de outros fatores mas aqueles consi-derados chaves satildeo a densidade da populaccedilatildeo dos mosquitos vetores (afetada pelas mudanccedilas na temperatura e no regime de chuvas) e o nuacutemero de casos de dengue na populaccedilatildeo em risco de um surto epidecircmico Acrescenta-se a essa informaccedilatildeo o estudo de Teixeira et al (1999) em que foi relatado agrave eacutepoca que a transmissatildeo estaacute condicionada a alguns fatores como a distribuiccedilatildeo a densidade e a dispersatildeo do vetor
Nimmagadda et al (2014) assinalam que a proliferaccedilatildeo de mosquitos e infecccedilotildees por dengue teve um rompante cresci-mento com um aumento de 30 vezes na incidecircncia estima-da nas uacuteltimas cinco deacutecadas Isso decorre de fatores como o crescimento da populaccedilatildeo a raacutepida urbanizaccedilatildeo e falta de me-didas sanitaacuterias apropriadas No Brasil o vetor dessa doenccedila encontra condiccedilotildees ideais para sua proliferaccedilatildeo e manutenccedilatildeo no meio urbano em virtude das condiccedilotildees ambientais os gran-des aglomerados populacionais e o modus vivendi associado agraves precaacuterias condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo
Vale ressaltar que as aacutereas onde ocorre a transmissatildeo au-toacutectone vatildeo se modificando na medida em que se acaba com
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o estoque de pessoas suscetiacuteveis bem como quando se efetua o combate ao vetor Logo o programa de controle deve intuir a ideia de que a doenccedila tende a lsquomigrarrsquo para outras aacutereas que tenham densidade vetorial suficiente para manter o ciclo (TEI-XEIRA et al 2002)
Mediante as questotildees aqui abordadas o olhar sobre a dengue deve ser amplo pois se deve admitir sua complexidade e multifatorialidade e portanto ultrapassar o prisma exclusivo do campo da sauacutede e reforccedilar seus fatores ecobiossociais Para esclarecer tais fatores tem-se que os ecoloacutegicos fazem referecircn-cia ao clima (chuva umidade temperatura entre outros) e ao ambiente natural e antroacutepico (incluindo o ambiente urbano e agriacutecola etc) Os fatores bioloacutegicos se relacionam com o com-portamento do vetor o Aedes aegypti e dinacircmicas de trans-missatildeo da doenccedila Os domiacutenios ecoloacutegico e bioloacutegico estatildeo ligados agrave ecologia da populaccedilatildeo do vetor
Quanto aos fatores sociais estes incorporam uma seacuterie de elementos relacionados aos sistemas de sauacutede incluindo o controle do vetor os serviccedilos de sauacutede e o contexto poliacutetico (por exemplo reformas no setor da sauacutede) serviccedilos puacuteblicos e privados como saneamento e esgoto coleta de lixo e abasteci-mento de aacutegua eventos ldquomacrossociaisrdquo como o crescimento demograacutefico e da urbanizaccedilatildeo e praacuteticas da comunidade e da famiacutelia conhecimentos e atitudes bem como estas satildeo molda-das por forccedilas de grande escala como a pobreza a desigualda-de social e a dinacircmica da comunidade
Parece loacutegico que o olhar sobre a dengue deva perpassar esses fatores entretanto na praacutetica as poliacuteticas puacuteblicas de controle da doenccedila se mantiveram no decorrer dos anos com uma caracteriacutestica verticalizada e centrada apenas no controle quiacutemico Sabe-se do impacto negativo agrave sauacutede e ao meio am-
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biente gerado pelo uso de inseticidas poreacutem a populaccedilatildeo e os proacuteprios gestores situam o controle quiacutemico na suprema-cia em detrimento da participaccedilatildeo popular da mobilizaccedilatildeo da transdisciplinaridade e da intersetorialidade que deveriam nortear qualquer plano de controle da doenccedila
Mertens (2007) confirma essa afirmaccedilatildeo quando ressal-ta que a dengue natildeo tem causa uacutenica e seu controle requer a formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de soluccedilotildees integradas que le-vem em consideraccedilatildeo as inter-relaccedilotildees dos fatores ambientais sociais culturais e econocircmicos e que envolvam os diversos atores sociais como a populaccedilatildeo local os pesquisadores e os gestores de aacutereas
Eacute na busca dessa outra visatildeo na tentativa de que esses atores transformem seu paradigma em relaccedilatildeo a dengue que se admite a importacircncia da abordagem em ecossauacutede ante os fatores ecobiossociais no que tange a sauacutede-doenccedila Por isso mediante as limitaccedilotildees dos programas atuais de controle da dengue fez-se necessaacuterio o uso de abordagens que integrem esses fatores
Assim em 2010 o Special Programme for Research and Training in Tropical Diseases (TDR) da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e o International Development Research Cen-tre (IDRC) lanccedilaram uma iniciativa visando a analisar inter-venccedilotildees de melhoria na prevenccedilatildeo da dengue que valorizam um controle sustentaacutevel e participativo
Entendimento do projeto de intervenccedilatildeo
A iniciativa analisa intervenccedilotildees baseadas num desenho de estudo de clusters-randomizados para a melhoria da pre-venccedilatildeo da dengue e doenccedila de Chagas Com a origem no pre-ceito de que para intervir eacute imprescindiacutevel conhecer bem a
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necessidade do local de intervenccedilatildeo o estudo multicecircntrico designou a fase 1 o primeiro ano do estudo para a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise situacional Nesse periacuteodo que perdurou du-rante os anos de 2010 e 2011 foram realizados levantamentos entomoloacutegicos e pesquisas qualitativas nos locais de estudos
No Brasil a iniciativa concentrou os esforccedilos na melhoria da prevenccedilatildeo dos casos de dengue e os locais foram seleciona-dos na cidade de Fortaleza-Cearaacute Para a seleccedilatildeo dos locais do estudo foram tomados aleatoriamente por meio de quadriacutecu-las do mapa de Fortaleza mediante software AutoCad map e o software ArcView 33 de forma que cada quadriacutecula corres-pondia a um local com cerca de 100 imoacuteveis Cada quadriacutecula correspondia a um cluster traduzidopara portuguecircs como um agregado Assim a pesquisa seguiu com a seleccedilatildeo de dez agre-gados
A intervenccedilatildeo propriamente dita foi designada para a fase 2 inicialmente realizada no periacuteodo de junho de 2012 a junho de 2013 realizada nos mesmos dez agregados A intervenccedilatildeo estaacute alicerccedilada nos princiacutepios da ecossauacutede (mais intimamente aos princiacutepios da participaccedilatildeo sustentabilidade e transdisci-plinaridade) Seguem algumas finalidades
- Capacitar comunidades urbanas com suporte no estiacute-mulo a accedilotildeesde manejo ambiental com foconos recipientes descartados em que foram encontradas formas imaturas do vetor da dengue tanto em suas casas como no seu entorno
- Ter agentes de endemias zoneados e qualificados para fornecer informaccedilotildees corretas sobre a dengue para a populaccedilatildeo
- Promover atividades multissetoriais que permitindo que os agentes de controle da dengue e os profissionais da Estra-teacutegia de Sauacutede da Famiacutelia desempenhem o papel de liacutederes da populaccedilatildeo e educadores
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- Estimular aparceria entrecomunidades urbanas especiacute-ficas de Fortaleza e os muacuteltiplos serviccedilos urbanos do Municiacute-pio da capital baseando-se no manejo de resiacuteduos soacutelidos para contribuir com o controle de vetores urbanos
- Estimular a comunidade e outros agentes envolvidos a estabelecer em estrateacutegias efetivas e sustentaacuteveis quanto ao controle da dengue
Bosi (2012) assinou que haacute um grande investimento em pesquisas do acircmbito da ciecircncia moderna mas salienta que certas iniciativas apesar de grande relevacircncia e potencialidade para o enfrentamentos de questotildees da Sauacutede Puacuteblica soacute seratildeo uacuteteis se e quando forem assimiladas culturalmente
Portanto este experimento se destinou a examinar os sig-nificados e as dimensotildees da controle do dengue em uma co-munidade participativa e assim reconhecer as perspectivas dos atores sociais sobre os desafios e caminhos para o controle da dengue
METODOLOGIAHouve um aprofundamento na abordagem qualitativa no
propoacutesito de trabalhar com o universo dos valores motivos aspiraccedilotildees e atitudes (MINAYO 2008 CAPRARA amp LAN-DIM 2008)
A metodologia contribuiu para o campo da pesquisa pelo fato de o pesquisador buscar os significados dos sujeitos como se fizesse parte do grupo Dessa forma Minayo (2008) garante que a pesquisa social natildeo pode ser definida de forma estaacutetica e as pesquisas qualitativas buscam compreender a conduta hu-mana dando ecircnfase aos significados em seu contexto
Com efeito o estudo de caso destinou-se a analisar a pers-pectiva dos agentes sociais e acredita-se ser uma fase impor-
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tante de um estudo de intervenccedilatildeo a de ldquoouvirrdquo os atores co-munitaacuterios poliacuteticos e sociais envolvidos para com isso natildeo cair no erro que Santos (1995 p 8-9) denomina ldquoa ciecircncia teima em considerar irrelevante ilusoacuterio e falsordquo
Estamos de novo regressados agrave necessidade de perguntar pelas relaccedilotildees entre a ciecircncia e a virtude pelo valor do conhecimento dito ordinaacuterio ou vulgar que noacutes sujeitos indi-viduais ou coletivos criamos e usamos para dar sentido agraves nossas praacuteticas e que a ciecircncia teima em considerar irrelevante ilusoacuterio e falso e temos finalmente de perguntar pelo papel de todo o conhecimento cientiacutefico acumulado no enriquecimento ou no empo-brecimento ou no empobrecimento praacutetico das nossas vidas ou seja pelo contributo positivo ou negativo da ciecircncia para a nossa felicidade
No Brasil a iniciativa selecionou os locais de estudo por meio de um sorteio de dez aacutereas na cidade de Fortaleza-Cearaacute A escolha foi por um agregado do bairro do Quintino Cunha em razatildeo da individualidade do bairro referente agrave organizaccedilatildeo comunitaacuteria jaacute presente e a manutenccedilatildeo da alta incidecircncia dos iacutendices da doenccedila
O bairro do Quintino Cunha expressa uma organizaccedilatildeo comunitaacuteria soacutelida com lideranccedilas comunitaacuterias e centro co-munitaacuterio de referecircncia Para uma pesquisa que parte da pro-posta participativa esse criteacuterio de escolha emergiu da ideia de que existem diversas formas e niacuteveis de participaccedilatildeo pos-siacuteveis e que em muitos casos ldquono hay que pensar en promover desde cero sino de articularnos con procesos participativos que ya existen y que frecuentemente no son reconocidosrdquo (KEIJZER 2005)
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Assim corrobora a questatildeo definida em Horochovski (2006) quando explicita que o empoderamento a ser alcanccedilado natildeo eacute algo que pode ser imposto por outro mas que as popu-laccedilotildees locais tecircm responsabilidade pelos projetos participativos por vezes formulados originalmente por agentes externos
O estudo de caso iniciou em marccedilo do ano de 2011 com anaacutelise situacional do bairro buscando caracteriacutesticas do contex-to socioambiental da localidade A inserccedilatildeo da abordagem ecos-sistecircmica por meio da intervenccedilatildeo propriamente dita se deu no primeiro semestre do ano de 2012 e finalizou em marccedilo de 2013
Foram realizadas observaccedilotildees participantes das visitas domiciliares dos agentes de endemias e entrevistas com ato-res funcionaacuterios do controle de endemias (FCE) funcionaacuterios do Nuacutecleo de Mobilizaccedilatildeo Social (MS) profissionais de sauacutede (PS) funcionaacuterios do Centro Comunitaacuterio (CC) liacutederes co-munitaacuterios (LC) e membros da comunidade (M)
Adotou-se como ferramenta para organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados da pesquisa o software Qualitative Solutions Resear-ch N-vivo (QSR) versatildeo 20 em que foram realizadas leituras sucessivas para atingir uma compreensatildeo geral do sentido dos textos e em seguida cada transcriccedilatildeo de entrevista e nota de diaacuterio de campo foi importada para o software em um arquivo rich text
Apoacutes esse passo durante a leitura de cada arquivo foram relacionadas passagens dos textos a categorias que o pesquisa-dor desenvolveu baseado nos seus objetivos e na compreensatildeo geral do texto (KELLE 2012)
A lista resultante das passagens dos textos selecionados pocircde ser analisada com base na identificaccedilatildeo dos nuacutecleos de sentido e sua posterior anaacutelise e interpretaccedilatildeo (MINAYO 2008)
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RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
O exame das informaccedilotildees analisadas possibilitou estabe-lecer trecircs categorias de anaacutelise Significados sobre a funccedilatildeo no controle da dengue As limitaccedilotildees do programa de controle atual e A idealizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo em Sauacutede
Significados sobre a funccedilatildeo no controle da dengue
Os agentes sociais citaram algumas de suas funccedilotildees no contexto da dengue Para os funcionaacuterios do controle de ende-mias e do Nuacutecleo de Mobilizaccedilatildeo Social
O setor de endemias do focal eacute que abrange diretamente os trabalhos residenciais com-batendo diretamente o mosquito o vetor da dengue e outros que vecircm aparecer (FCE-03)
ldquoA funccedilatildeo do Agente de Endemias por exemplo eacute fazer visitas casa-a-casa encon-trar focos eliminar focos e tratar os depoacutesi-tosrdquo (FCE-01)
O nosso carro chefe eacute a dengue A gente prio-riza mais a dengue que eacute o ano todo Mas a gente fala de DST de HIVAIDS fala de han-seniacutease alcoolismo droga calazar alimenta-ccedilatildeo saudaacutevel leptospirose mas o nosso carro chefe eacute a dengue [] Eacute orientar o que a pes-soa deve prestar atenccedilatildeo ensinar como lavar o tambor ir atraacutes de tampa para o tambor e observar a aacutegua se natildeo estaacute com os cabeccedila-de-prego (MS-01)
Palestras Reuniotildees gincanas exposiccedilotildees passeatas divulgaccedilatildeo em carros de som e vaacute-rias outras atividades (MS-03)
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Nas falas anteriores os funcionaacuterios retratam o que para eles significa a sua funccedilatildeo no controle da dengue ficando claro nas falas o quanto eles referem agrave figura do agente de endemias com atividades nos domiciacutelios para o combate do vetor e agraves atividades de orientaccedilotildees sob a responsabilidade do setor de mobilizaccedilatildeo social
Para os profissionais de sauacutedeO nosso papel tambeacutem eacute promover a sauacutede das pessoas E tambeacutem na parte de orien-taccedilatildeo orientar as famiacutelias principalmente sobre a dengue que eacute uma doenccedila que infe-lizmente natildeo eacute todo mundo que se preocupa E no nosso dia a dia a gente jaacute orienta o que pode ser feito o que a pessoa deve fazer E se o vizinho natildeo faz ela deve orientar ldquoAleacutem de fazer a parte dela tem que orientar o vizinho tambeacutem a fazer sua parte porque a dengue eacute uma doenccedila que estaacute aiacute alastrada e soacute quem pode acabar com ela eacute a proacutepria populaccedilatildeo mesmo atraveacutes do cuidado da sua proacutepria casardquo (PS-03)
ldquoSobre a dengue assim tem sido um dos agravos ateacute recorrentes no territoacuterio e a nos-sa equipe estaacute sempre aberta para ver novos trabalhos para ouvir experiecircncias relatos e contribuir com o possiacutevel que nossa inten-ccedilatildeo eacute essa (PS-01)
Os profissionais de sauacutede admitem seu papel curativo e preventivo no que diz respeito a dengue de forma que satildeo ob-servadas nas falas a importacircncia de atividades de promoccedilatildeo agrave sauacutede das famiacutelias e o reconhecimento da participaccedilatildeo da popular no cuidado da sua casa e nas accedilotildees que envolvem o territoacuterio
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A comunidade estudada tem o apoio de um centro co-munitaacuterio em que satildeo organizadas diversas atividades como grupos de idosos e gestantes cursos de aperfeiccediloamento pro-fissional solicitaccedilatildeo de documentos cadastramento em pro-gramas assistenciais formulaccedilatildeo de projetos para melhoria dos bairros dentre outras Para os funcionaacuterios
Eu trabalho aqui na associaccedilatildeo no centro comunitaacuterio e tenho um movimento social do idoso E o que eu me preocupo de um a dois anos nessa aacuterea ambiental eacute o problema do lixo Eu jaacute tenho um projeto um movi-mento de coleta seletiva Natildeo vai acabar o problema da dengue mas diminuir vai Eu acredito muito nesse projeto nesse trabalho um novo empreendimento que vai aconte-cer [] Quer dizer que quando comeccedilar o projeto de coleta de reciclagem fazer tudo direitinho ter uma articulaccedilatildeo de todas as se-cretarias aiacute vai diminuir os casos dessa doen-ccedila Vai diminuir porque vai ter uma respon-sabilidade de cada morador com o seu lixo O que eu vejo que vai melhorar a questatildeo da sauacutede da dengue e a questatildeo do meio am-biente (CC-01)
Como se trata de uma comunidade organizada e parti-cipativa as lideranccedilas comunitaacuterias aparecem ativamente no cenaacuterio da dengue
Eu faccedilo parte de outros projetos na comu-nidade O que eu sei eacute que a dengue eacute uma coisa que estaacute se alastrando A comunidade estaacute ficando a mercecirc de um mosquito que eacute uma coisa que jaacute era pra se ter feito alguma coisa pra combater esse mosquito [] Eu vou em palestras caminhadas movimentos sociais (LC-01)
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A fala anterior retrata as atividades das lideranccedilas ante o controle da dengue de forma a referir as atividades dos movi-mentos sociais proacuteximos aos membros da comunidade e todo seu esforccedilo em solicitar que os moradores cuidem do seu do-miciacutelio para o controle do vetor
Quando os moradores eram entrevistados os discursos confluiacuteam para a participaccedilatildeo no campo mais individual
Eu estou todo dia juntando o lixo que apa-rece e guardo o lixo dentro de casa e soacute boto no dia que o carro passa [] Qualquer um que entrar laacute aliaacutes tem vez que vatildeo laacute e vecirc neacute Porque eu tenho cuidado a minha caixa drsquoaacutegua eacute bem fechadinha eacute tampada toda chumbadazinha soacute entra soacute mesmo aacutegua e ar outra coisa num entra natildeo de maneira ne-nhuma (M-01)
As falas anteriores instigam a reflexatildeo sobre o diversifica-do papel dos sujeitos na prevenccedilatildeo e no controle da dengue mas tambeacutem trazem a reflexatildeo sobre a diversidade das respon-sabilidades como sujeitos Por exemplo enquanto os funcio-naacuterios dos setores puacuteblicos e os liacutederes comunitaacuterios enfati-zam atividades em um contexto mais coletivo os moradores se reduzem agraves funccedilotildees mais individuais ldquoEu estou todo tempo juntando o lixo [] guardo o lixo [] Eu tenho cuidadordquo
Tal perspectiva entra no loacutecus da discussatildeo sobre a distri-buiccedilatildeo do poder entre as pessoas ou entre os segmentos das sociedades organizadas tendo em vista o poder definido por Lordecirclo e Pontes (2009) como a possibilidade de tomar deci-sotildees e fazer com que estas sejam implementadas
Mesmo sabendo que o Estado eacute a instacircncia de poder mais representativa a sociedade ganhou espaccedilo junto agrave figura do ci-
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dadatildeo entretanto a expectativa contemporacircnea de maior par-ticipaccedilatildeo dos cidadatildeos nas decisotildees de interesse coletivo e natildeo somente no acircmbito individual entra em um embate da dicoto-mia entre o crescente conhecimento produzido pela ciecircncia e o poder poliacutetico de decisatildeo conferido aos representantes sociais interessados que com frequecircncia seguem direccedilotildees divergen-tes (LORDEcircLO PONTES 2009)
Para tanto a abordagem da ecossauacutede tenta neutralizar as divergecircncias por meio da transdisciplinaridade considerando a pesquisa transdisciplinar natildeo somente como a presenccedila de pesquisadores de aacutereas diversas trabalhando juntos mas a in-tegraccedilatildeo de vaacuterios tipos de saberes disciplinares com os signi-ficados e as praacuteticas da experiecircncia dos agentes locais (IRIART amp CAPRARA 2011)
Embora a complexidade do dengue requeira uma abor-dagem transdisciplinar eacute perceptiacutevel nas falas dos sujeitos a dificuldade em se conferir uma discussatildeo horizontal entre en-tes puacuteblicos e os moradores do agregado Considerando essa fragilidade o grupo implantado na localidade foi denominado como interdisciplinar Ainda assim a intervenccedilatildeo fortaleceu a participaccedilatildeo social no processo sauacutede-doenccedila da dengue na medida emque fortaleceu a capacidade de formulaccedilatildeo e nego-ciaccedilatildeo de novas propostas
Essa tentativa de um diaacutelogo mais horizontal entre varia-dosagentes locais tambeacutem foi implementada por uma inter-venccedilatildeo em Havana (IDRC 2006) quando o fortalecimento da participaccedilatildeo foi estruturado com um apoio interdisciplinar como observado na figura A finalidade dessa intervenccedilatildeo era de que as vaacuterias funccedilotildees dos stakeholders (famiacutelias organiza-ccedilotildees organismos e instituiccedilotildees) se reunissem em uma cogestatildeo no processo social da sauacutede para uma melhora do ecossistema
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Figura ndash Modelo de Cogestatildeo para a participaccedilatildeo comunitaacute-ria
Famiacutelias
Organizaciones
Organismos
Instituciones
Produccioacuten socialde la Salud
MEJORAMIENTO DEL ECOSISTEMA
Fonte IDRC 2006
As limitaccedilotildees do programa de controle atual
No Brasil os planos de controle da dengue foram elabo-rados pelo Ministeacuterio da Sauacutede a partir de 1996 ndash o Plano de Erradicaccedilatildeo do Aedes aegypti (PEAa) o Plano de Intensifica-ccedilatildeo das Accedilotildees de Controle da Dengue (PIACD) e o Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD) esse uacuteltimo de ca-raacuteter emergencial a partir de 2002 em virtude da introduccedilatildeo do novo sorotipo (DENV 3) mas que ainda eacute apontado como um programa executado em todos os municiacutepios brasileiros
Apesar do dispecircndio de vultuosos recursos em accedilotildees para o controle da dengue o Brasil ainda enfrenta dificuldades em reduzir as infecccedilotildees no Paiacutes (TEIXEIRA 2008) Com efeito a sensaccedilatildeo de descontentamento eacute referida pelos funcionaacuterios vinculados a essas accedilotildees
No trabalho de combate ao dengue vocecirc estaacute passando de dois em dois meses naquela casa Vocecirc pega um bairro X trabalha naque-le bairro faz as orientaccedilotildees com dois meses volta a passar de novo Aiacute como jaacute passei
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nessa aacuterea eu sei que natildeo vou dizer todos mas de 20 a 30 cai no esquecimento [] Outras natildeo ficam no esquecimento e deixam a doenccedila adentrar em seus proacuteprios lares En-tendeu Natildeo satildeo todos que assimilam e que levam essa campanha ao longo da vida Eu natildeo sei se eacute ignoracircncia do povo ainda Aquela cultura antiga que muitos deles ainda espe-ram por nossa visita Eles natildeo se veem como voluntaacuterios do seu proacuteprio lar Muitos deles soacute esperam pelo agente Por isso que hoje a gente tem que dizer que vocecirc eacute um voluntaacute-rio de sua residecircncia para natildeo deixar que a doenccedila o seu periacutemetro residencial Sempre estatildeo caindo no esquecimento e a gente estaacute aqui para estar relembrando (MS-AacuteREA 3)
Eacute expliacutecita a dificuldade da realizaccedilatildeo das visitas domici-liares Em estudo de Sales (2008) fragilidades dos aspectos de trabalho de campo foram reveladas como fragilidade e accedilotildees pontuais conteuacutedo das mensagens educativas distantes da realidade local estrateacutegias autoritaacuterias e coercitivas aleacutem de converter as pessoas os receptores em meros receptaacuteculos de mensagens taxativas
Emergiram acerca das limitaccedilotildees com o programa tradi-cional seja do processo de trabalho ou seja no uso de produ-tos quiacutemicos para controle do vetor
O controle da dengue aqui visa muito produ-ccedilatildeo Eacute raro liberar algum agente de endemias para fazer um trabalho diferenciado Seria de mera importacircncia Mas essa integraccedilatildeo eacute difiacutecil porque eles trabalham por produccedilatildeo ou seja tem que visitar um nuacutemero certo de casas por dia (MS-01)
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Primeiro o produto [larvicida] natildeo eacute eficaz porque dizem que o produto atrasa o ciclo do mosquito mas a gente faz ateacute um teste dizem que eacute uma gota por um total de aacutegua E a gente colocou o triplo do produto passou mais de 15 dias e a larva estava laacute Entatildeo eu acho que natildeo eacute eficaz Eu vejo que esse tra-balho tambeacutem eacute ultrapassado porque eles preconizam 5 ou 6 visitas ao ano mas eacute feito um trabalho de 10 de Fortaleza Em uma aacuterea de 5 mil imoacuteveis eacute visitada apenas 10 Tem casas que passam mais de 4 visitas que natildeo visitam Entatildeo o nosso trabalho deixa a desejar O produto natildeo soluciona o problema e tem que ser feito um trabalho mais preven-tivo em mais casas e natildeo com a pesquisa de 10 das casas que quando vatildeo ver as casas que natildeo foram visitas estoura os iacutendices eacute por isso que eu digo que tem que ser feito 100 dos imoacuteveis (FCE-01)
Enquanto os sujeitos envolvidos no controle da dengue no Quintino Cunha percebem o atual controle como ldquoultra-passadordquo os dados epidemioloacutegicos contabilizam iacutendices preocupantes Durante um levantamento dos iacutendices de infes-taccedilatildeo predial (IIP) do bairro Quintino Cunha realizado pela Vigilacircncia Epidemioloacutegica (FORTALEZA 2013) da cidade de Fortaleza no periacuteodo de 2007 a 2010 observa-se uma seacuterie histoacuterica preocupante jaacute que em todos os anos foram alcan-ccedilados iacutendices superiores a 1 o que caracteriza uma situaccedilatildeo de alerta ou situaccedilatildeo de risco seguindo a classificaccedilatildeo adotada por Valadares Rodrigues Filho e Peluzio (2013) na qual o IIP eacute classificado como satisfatoacuterio (lt1) situaccedilatildeo de alerta (1 a 39) e risco de surto (gt39) Como limite superior encon-trou-se no segundo ciclo da pesquisa do ano de 2009 em que
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se atingiu um iacutendice de 651 Quanto aos casos de dengue no ano de 2012 o bairro acumulou um total de 499 casos no-tificados e ateacute o primeiro semestre do ano de 2013 o total foi de 486
Para Gondim Lima amp Caprara (2013) a casa eacute o local de referecircncia para muitas doenccedilas transmitidas por insetos-veto-res Entatildeo deixa de ser surpresa que estrateacutegias de controle das doenccedilas devam ser frequentemente implantadas nos niacuteveis dos domiciacutelios A intrusatildeo no entanto de pessoas tecnologias ou ideologias estranhas pode trazer inuacutemeros aspectos relacio-nados entre o que deve ser de domiacutenio puacuteblico e domeacutestico ocasionando uma ameaccedila sobre o poder e autoridade da figura da ldquodona do larrdquo
Cavalcanti (2013) assinala que em um curto espaccedilo de tempo seraacute cada vez mais difiacutecil ancorar as medidas de con-trole vetorial na visita domiciliar de agentes de endemias pois essa atividade estaacute comprometida por questotildees de custos as-pectos operacionais e profissionais instaacuteveis o que enseja des-qualificaccedilatildeo e falta de aceitaccedilatildeo da visita dos agentes por parte da populaccedilatildeo
A idealizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo em Sauacutede e mobilizaccedilatildeo social
Outro ponto citado pelos sujeitos adveacutem da dificuldade de surtir bons resultados com as atividades de Educaccedilatildeo em Sauacutede e mobilizaccedilatildeo social para o controle da dengue o que para eles na praacutetica natildeo significa que levaraacute maior participa-ccedilatildeo dos sujeitos
Eacute complicado tem pessoas que natildeo tem as condiccedilotildees miacutenimas de higiene natildeo tem aacutegua
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tratada natildeo tem esgoto e aiacute A gente taacute lidan-do com questotildees sociais tambeacutem principal-mente sabe A dengue natildeo eacute soacute uma doenccedila em si Ela traz uma questatildeo social tambeacutem Aiacute eacute preciso muito cuidado quando a gen-te for tratar dessas questotildees Eacute complicado (PS-02)
Eu estava fazendo um movimento social uma caminhada e eu parei assim e disse ateacute o seguinte lsquoPelo amor de Deus natildeo eacute possiacutevel que precise morrer algueacutem de vocecircs pra vo-cecircs acordarem rsquo Natildeo eacute isso que a gente quer Noacutes estamos querendo que eles se eduquem Coloquem o lixo no lugar e na hora certa que o lixo taacute passando Deixe o saco de lixo em casa Natildeo deixe acumular aacutegua naquele saco de lixo (LC01)
Na perspectiva de Teixeira (2008) eacute necessaacuterio desmisti-ficar o discurso de que comunicaccedilatildeo educaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo social por si eacute capaz de produzir mudanccedilas e controlar pro-blemas de sauacutede Especialmente os programas de controle da dengue devem ser atuantes com base em uma vigilacircncia epide-mioloacutegica eficaz um controle vetorial sustentaacutevel e sobretudo a promoccedilatildeo de accedilotildees de saneamento baacutesico tais como coleta de lixo adequada suprimento de aacutegua com qualidade e sem intermitecircncia esgotamento sanitaacuterio limpeza de logradouros puacuteblicos etc
Outro limite percebido pelos sujeitos eacute exemplificado na fala de uma educadora em sauacutede que reflete sobre um desafio do controle da dengue com apoio na compreensatildeo de que a dengue natildeo estaacute isolada de outros problemas socioeconocircmicos
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Vocecirc entra em uma casa () para falar da dengue do que eacute certo e o que eacute errado para a proliferaccedilatildeo do mosquito para uma pessoa que natildeo comeu que estaacute drogada ou que a matildee saiu e na casa soacute tem crianccedila Eacute compli-cado Entatildeo a populaccedilatildeo agraves vezes eacute um de-safio eacute complicado trabalhar com o povo A gente faz combina tudo mas na hora que vecirc uma situaccedilatildeo dessa trava tudo (MS-01)
Apesar de os estudos mostrarem que a participaccedilatildeo social eacute um caminho para o controle da dengue - e as falas indicam que a participaccedilatildeo em uma comunidade engajada eacute possiacutevel - deve-se levar em consideraccedilatildeo o fato de que que os caminhos para o devido controle da doenccedila ainda satildeo influenciados por vaacuterias lacunas
Efetivamente nos bairros de estratos sociais mais baixos onde as populaccedilotildees se veem apartadas de seus direitos es-senciais a dengue tende a se caracterizar como problema de menor grandeza que pode ser explicado pela emergecircncia em suprir outras necessidades essenciais (CHIARAVALLOTI et al 2007)
Esta constataccedilatildeo daacute ecircnfase a alguns questionamentos le-vantados pelos sujeitos Como orientar uma famiacutelia que natildeo tem condiccedilotildees miacutenimas de higiene a natildeo armazenarem aacutegua em recipientes abertos Como orientar moradores com trans-tornos psicossociais a limparem seus quintais
Em um estudo de Chiaravalloti e colaboradores (2007) foi visto que essa eacute uma dificuldade tambeacutem percebida no Pro-grama Sauacutede da Famiacutelia quando os agentes comunitaacuterios de sauacutede alegam que o trabalho de conscientizaccedilatildeo concorre com o atendimento agraves carecircncias imediatas
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CONSIDERAccedilOtildeES FINAIS
Os resultados mostraram que os funcionaacuterios do controle da dengue conhecem as limitaccedilotildees no controle da dengue ba-seado no uso de inseticidas e que a populaccedilatildeo em uma comu-nidade engajada socialmente eacute possiacutevel mas que a prevenccedilatildeo deve ser pautada em uma comunidade participativa e natildeo ape-nas com atividades de Educaccedilatildeo em Sauacutede
Dado esse contexto mais do que uma lista de praacuteticas ade-quadas como ldquotampe seu balderdquo ldquolimpe sua vasilhardquo e ldquonatildeo acumule aacuteguardquo o empoderamento dos moradores deve per-mitir tambeacutem um espaccedilo de autogestatildeo em sauacutede em contato estreito com as autoridades envolvidas no processo
A experiecircncia demostra que os esforccedilos de participaccedilatildeo esbarram em uma complexidade no que tange agrave relaccedilatildeo en-tre sauacutede ambiente e doenccedilas transmissiacuteveis por vetores Para solucionar este empasse as possibilidades se alinham a uma integraccedilatildeo interdisciplinar com uma accedilatildeo de controle vetorial racional reconhecendo os saberes locais a fim de estabelecer uma autonomia comunitaacuteria sem excluir no cerne da questatildeo as responsabilidades puacuteblicas no sentido de promover uma in-fraestrutura adequada a reorganizaccedilatildeo das praacuteticas de sauacutede e a formulaccedilatildeo de programas que sustentem a intervenccedilatildeo sobre o processo sauacutede-doenccedila das coletividades
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CAPIacuteTULO 9
O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO SOBRE SAUacuteDE DIREITO agrave SAUacuteDE E PARTICIPA-ccedilAtildeO
Berenice Temoteo da SilvaLucia Conde de Oliveira
Maria Homeacuteria Leite de Morais Sampaio
INTRODUccedilAtildeO
As principais bandeiras do movimento da Reforma Sani-taacuteria Brasileira satildeo a defesa da sauacutede como direito de todos e dever do Estado a criaccedilatildeo de um sistema uacutenico de sauacutede e a concepccedilatildeo ampliada de sauacutede Esse movimento se insere na luta pela democratizaccedilatildeo da sociedade bem como no desen-volvimento de uma nova consciecircncia sanitaacuteria entre os sujeitos partiacutecipes desse processo ndash intelectuais usuaacuterios trabalhado-res de sauacutede gestores e prestadores de serviccedilos
Essas bandeiras vatildeo ser inscritas na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que estabelece o direito agrave sauacutede e pressupotildee a res-ponsabilidade do Estado na implantaccedilatildeo de poliacuteticas sociais e econocircmicas capazes de reduzir os riscos de doenccedilas e melhorar as condiccedilotildees de vida e de trabalho da populaccedilatildeo
Como se vive poreacutem numa sociedade de classes o Estado eacute compreendido como espaccedilo para disputa poliacutetica passiacutevel de incluir parcialmente os interesses das classes dominadas (SE-VERO DA ROS 2012) Para tanto eacute necessaacuteria a participaccedilatildeo da sociedade civil nos espaccedilos de decisatildeo para a garantia de direitos
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Com efeito o direito agrave sauacutede de forma universal integral e equacircnime e a participaccedilatildeo das entidades comunitaacuterias na gestatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede representam um grande avanccedilo no processo de democratizaccedilatildeo da sociedade brasileira Isso significa importante conquista resultante do movimento da Reforma Sanitaacuteria
A institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo da comunidade na gestatildeo do SUS estabelecida pela Lei 81421990 entre outras providecircncias cria os conselhos de sauacutede de caraacuteter perma-nente deliberativo e paritaacuterio em relaccedilatildeo aos usuaacuterios Esses conselhos possuem a atribuiccedilatildeo de atuar na formulaccedilatildeo e con-trole da execuccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede representando um mecanismo para continuar a luta pela concretizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede
O poder de deliberaccedilatildeo dos conselhos corresponde ao mais elevado grau de participaccedilatildeo Na categorizaccedilatildeo de Pate-man (1992) eacute uma participaccedilatildeo plena No modelo de anaacutelise de Arnstein (1969) representa o poder cidadatildeo No estudo em-piacuterico realizado por Oliveira (2006) no entanto os conselhei-ros participam das discussotildees no conselho poreacutem natildeo tecircm o poder de decisatildeo Na classificaccedilatildeo de Pateman corresponderia a uma participaccedilatildeo parcial e na taxionomia de Arnstein seria uma participaccedilatildeo simboacutelica
Este texto eacute parte de uma dissertaccedilatildeo de mestrado que in-vestigou as concepccedilotildees de conselheiros sobre sauacutede direito agrave sauacutede e participaccedilatildeo no Conselho Municipal de Sauacutede de Cra-tondashCE A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada com 18 conselheiros dos quais 12 represen-tavam os usuaacuterios e seis os trabalhadores da sauacutede A anaacutelise de dados consistiu na anaacutelise do discurso do sujeito coletivo Os sujeitos entrevistados foram identificados por S1 S2
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S18 Cada DSC foi organizado com base nas expressotildees chave selecionado das entrevistas que traduziam as ideias centrais aprendidas nas falas dos entrevistados
O estudo obedeceu agraves normas e preceitos eacuteticos que orien-tam a pesquisa com seres humanos e obteve parecer favoraacutevel do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Universidade Estadual do Cearaacute
O que eacute sauacutede
Ao longo da histoacuteria a sauacutede foi tratada como se natildeo pu-desse ser apreendida pela razatildeo e por isso natildeo pertencesse ao campo cientiacutefico (ALMEIDA FILHO 2011) Neste sentido existiu uma discussatildeo secular questionando a sauacutede como um objeto cientiacutefico na medida em que esta era compreendida de forma tatildeo ampla que transcenderia o olhar da ciecircncia
A sauacutede passou poreacutem a ser amplamente reconhecida como objeto cientiacutefico e foi conceituada pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) como o completo estado de bem-es-tar fiacutesico mental e social natildeo consistindo apenas na ausecircncia de doenccedila Essa definiccedilatildeo tem o meacuterito de ser uma matriz para estimular as naccedilotildees a buscarem a garantia de bens e serviccedilos que promovam a sauacutede conforme essa concepccedilatildeo (SANTOS 2010)
Apesar da criacutetica a essa definiccedilatildeo por ser um conceito estaacutetico e irrealizaacutevel a definiccedilatildeo de sauacutede trazida pela OMS permaneceu despertando o interesse de intelectuais da comu-nidade cientiacutefica Foi na primeira Conferecircncia Internacional sobre Promoccedilatildeo da Sauacutede realizada em Ottawa Canadaacute em novembro de 1986 que foram estabelecidos poreacutem os preacute-re-quisitos para a sauacutede na sua concepccedilatildeo ampla A Organiza-ccedilatildeo Pan-Americana de Sauacutede (OPAS) e a OMS foram grandes
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apoiadoras da difusatildeo desse conceito de sauacutede formulado na Carta de Ottawa (PAIM 2006)
Vale ressaltar que a sauacutede eacute uma questatildeo complexa por envolver fatores bioloacutegicos socioambientais econocircmicos culturais e de estilo de vida (SANTOS 2010) Assim como na perspectiva teoacuterica a sauacutede tambeacutem se mostrou plural na compreensatildeo dos conselheiros pesquisados Neste sentido utilizando a teacutecnica de organizaccedilatildeo de dados proposta por Le-feacutevre e Lefeacutevre (2005) denominada de DSC foi possiacutevel elabo-rar dois discursos coletivos externados de acordo com a ideia central em grupamentos organizados pelas letras do alfabeto
De acordo com o Quadro 1 os grupamentos A e B expli-cam a ideia de sauacutede na perspectiva biologicista minoritaacuteria entre os entrevistados condensados no DSC 1 jaacute os grupa-mentos C D e E trazem a compreensatildeo ampliada de sauacutede e aglutinam-se em torno do DSC 2 contemplado na maioria das falasQuadro 1 Siacutentese das ideias centrais sobre sauacutede
DSC 1 A Ausecircncia de doenccedila
B Ter higiene
DSC 2 C Bem-estar
D A dimensatildeo social da sauacutede
E Qualidade de vida
Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores
Vale ressaltar que na fala os sujeitos pesquisados por ve-zes exprimiram um discurso contraditoacuterio na medida em que compreenderam sauacutede como ausecircncia de doenccedila e tambeacutem re-conheceram elementos da concepccedilatildeo ampliada de sauacutede Esse
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fato foi evidenciado nos sujeitos 16 e 18 os quais contribuiacuteram para a formaccedilatildeo do DSC 1 e 2 e que denotaram concepccedilotildees divergentes de sauacutede
DSC1 Eu acho que sauacutede eacute natildeo estaacute doen-te natildeo sentir dor A aacutegua que a gente bebe e a limpeza por exemplo faz parte da sauacutede Sauacutede eacute ter bom atendimento meacutedico ter um posto de sauacutede adequado para atender todos os cidadatildeos e caso necessaacuterio fazer encami-nhamento ou seja eacute ter um tratamento ade-quado pelo menos o baacutesico (S5 S16 S18)
Este discurso restringe o conceito de sauacutede agrave sua dimen-satildeo biologicista uma vez que o situa como ausecircncia de doenccedila e higiene Tendo em vista que a consciecircncia da determinaccedilatildeo social da sauacutede decorre de uma experiecircncia mediatizada pela teoria o discurso do sujeito coletivo sugere a inexistecircncia da mediaccedilatildeo da experiecircncia existencial desses conselheiros com a teoria de sauacutede presente no arcabouccedilo juriacutedico do SUS
Este mesmo posicionamento esteve presente no estudo realizado por Bosi e Affonso (1998) no Municiacutepio do Rio de Janeiro ainda na primeira deacutecada de implantaccedilatildeo do SUS cujo objeto de anaacutelise correspondia ao conceito de sauacutede na perspectiva dos usuaacuterios Ao deparar a concepccedilatildeo de sauacutede como ausecircncia de doenccedila os referidos autores sugerem que na ausecircncia da mediaccedilatildeo de um saber cientiacutefico abstrato o su-jeito coletivo encontra como criteacuterio para definir sauacutede unica-mente sua experiecircncia concreta expressa pela ausecircncia de dor
Casos e esteja de acordo com o fato de que sauacutede eacute muito mais do que ausecircncia de doenccedila por outro lado natildeo se pode discordar de que tambeacutem seja isto Indaga-se todavia se ao admitir tal concepccedilatildeo natildeo haacute um comprometimento da luta pela sauacutede nos espaccedilos decisoacuterios do Conselho uma vez que
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os horizontes almejados nessa luta correspondem a elementos suficientes para garantir serviccedilos com funccedilotildees curativas
O DSC2 emerge das falas dos sujeitos guiado pela indaga-ccedilatildeo sobre a concepccedilatildeo de sauacutede de modo que as ideias centrais indicadas nos grupamentos C D e E corroboram o conceito ampliado de sauacutede conforme mostra-se a seguir
DSC 2 Sauacutede eacute o bem-estar do ser humano eacute estaacute bem de sauacutede com o corpo fiacutesico e com a mente estaacute com seu espiacuterito em paz bem consigo mesmo dessa forma eu acho que a sauacutede envolve o ser como um todo A sauacutede para mim estaacute acima de tudo vocecirc pode ter dinheiro vocecirc pode ter todos os bens ma-teriais mas se natildeo tiver sauacutede vocecirc natildeo eacute nada pois vocecirc natildeo pode trabalhar estudar Entatildeo a sauacutede eacute vocecirc viver bem ter moradia digna saneamento baacutesico alimentaccedilatildeo sau-daacutevel sem agrotoacutexico produzir seu proacuteprio alimento com qualidade cuidando do meio ambiente eacute vocecirc ter trabalho digno e obter o seu sustento eacute ter qualidade de vida (S1 S2 S3 S4 S6 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18)
O discurso referido haacute pouco exprime a sauacutede como valor numa perspectiva de totalidade e estaacute em sintonia com a con-cepccedilatildeo expressa no artigo 3ordm da Lei Orgacircnica 80801990 O DSC reconhece a dimensatildeo social da sauacutede e considera os seus fatores determinantes e condicionantes os quais consistem na alimentaccedilatildeo moradia saneamento baacutesico meio ambiente trabalho renda educaccedilatildeo transporte lazer e acesso aos bens e serviccedilos essenciais
Outro aspecto presente no grupamento E do DSC 2 con-siste na percepccedilatildeo de sauacutede como qualidade de vida Do mes-
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mo modo que o conceito de sauacutede eacute complexo assim eacute tam-beacutem a definiccedilatildeo de qualidade de vida Para a OMS esta pode ser entendida como a percepccedilatildeo da pessoa de sua posiccedilatildeo na vida no contexto de cultura e sistema de valores e em relaccedilatildeo aos seus objetivos expectativas padrotildees e preocupaccedilotildees
O direito agrave sauacutede no contexto neoliberalNa intelecccedilatildeo de Coelho (2012) com a evoluccedilatildeo da ideia
ampliada de sauacutede trazida pelo movimento de Reforma Sani-taacuteria o direito agrave sauacutede tambeacutem avanccedilou significativamente Para a autora novas praacuteticas aleacutem da assistencial foram en-globadas ao cuidado com a sauacutede e tambeacutem passaram a ser dever do Estado Assim o direito agrave sauacutede ultrapassando uma dimensatildeo legal passou a integrar as reivindicaccedilotildees populares
A conquista desse direito entretanto numa sociedade de capitalismo perifeacuterico como a brasileira na vigecircncia da crise do Estado de Bem-Estar nos paiacuteses centrais com a adoccedilatildeo do neoliberalismo impotildee grandes restriccedilotildees agrave garantia desse di-reito A recomendaccedilatildeo por parte dos organismos multilaterais de focalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas nas populaccedilotildees mais po-bres teraacute como consequecircncia o financiamento insuficiente do SUS repercutindo em todos os niacuteveis do sistema
Neste sentido no questionamento em torno do direito agrave sauacutede as concepccedilotildees foram bastante amplas de modo que possibilitaram a elaboraccedilatildeo de trecircs discursos conforme apre-sentado no Quadro 2 O DSC 3 estaacute relacionado aos escritos presentes na lei e foi organizado em torno dos grupamentos A e B O DSC 4 expressa o direito agrave sauacutede no sentido de acesso e corresponde aos grupamentos C e D E o DSC 5 denotando a sauacutede como direito violado foi sintetizado nos grupamentos E F e G
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Quadro 2 Siacutentese das ideias centrais sobre direito agrave sauacutede
DSC 3 A Direito fundamental
B Ferramenta de luta
DSC 4 C Acesso aos bens determinantes para garan-tia da sauacutede
D Acesso aos serviccedilos de sauacutede
DSC 5 E As iniquidades presentes na garantia desse direito
F O direito reconhecido na lei poreacutem natildeo concretizado
G A cultura patrimonialistaFonte Elaboraccedilatildeo dos autores
Neste sentido a ideia central presente no grupamento A remete-nos ao direito agrave sauacutede como um direito fundamental conquistado pela sociedade na forma de lei federal devendo ser garantido pelo Estado E no grupamento B reconhece que a simples existecircncia de tal lei natildeo garante sua concretizaccedilatildeo para isso sendo necessaacuteria a luta
DSC 3 Direito a sauacutede esse eacute um direito como o direito a vida eacute um direito natural fundamental A gente vive em um paiacutes de-mocraacutetico assim o direito a sauacutede foi uma conquista na Constituiccedilatildeo de 1988 uma conquista nossa ningueacutem precisa bater na porta de ningueacutem pedindo uma coisa que jaacute eacute sua um direito conquistado no entanto muito sangue foi derramado por conta disso Todos noacutes temos direito agrave sauacutede garantida pela constituiccedilatildeo federal jaacute estaacute dizendo eacute lei eacute direito de todos da classe mais humil-
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de agrave classe mais poderosa portanto direito a sauacutede eacute um direito do cidadatildeo que estaacute laacute na Constituiccedilatildeo e o governo tem obrigaccedilatildeo de oferecer uma sauacutede de qualidade eacute um dever do estado do municiacutepio e tambeacutem da ins-tacircncia federal porque noacutes pagamos impostos e se pagamos impostos noacutes temos direito Contudo para a gente ter os nossos direitos garantidos o cidadatildeo tem que lutar para ter direito agrave sauacutede (S2 S4 S9 S10 S11 S12 S14 S16 S17)
A expressatildeo direitos humanos data do seacuteculo XX e veio substituir o termo ateacute entatildeo corrente de direitos naturais Os direitos humanos satildeo denotados como direitos inerentes ao ser humano que mesmo natildeo estando expresso em nenhum documento informativo natildeo deixaratildeo jamais de ser direitos humanos Jaacute os direitos fundamentais satildeo direitos humanos positivados nas constituiccedilotildees nas leis nos tratados internacio-nais (AITH 2010)
Com efeito a Constituiccedilatildeo Federal brasileira de 1988 re-conheceu expressamente a sauacutede como um direito fundamen-tal Tal reconhecimento legal eacute de grande importacircncia pois so-mente com a positivaccedilatildeo de um direito humano eacute que se abre o caminho para a sua plena realizaccedilatildeo
Anteriormente agrave Constituiccedilatildeo de 1988 a assistecircncia agrave sauacutede era assegurada apenas para os trabalhadores vinculados ao mer-cado formal de trabalho segurados da previdecircncia social Era um sistema de proteccedilatildeo social organizado sob a loacutegica do segu-ro e tinha direito apenas quem contribuiacutea (OLIVEIRA 2006)
Dessa forma a sauacutede natildeo era reconhecida como um di-reito e por essa razatildeo o Estado natildeo tinha esse dever para com a sociedade Com os questionamentos e a luta da sociedade
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civil acerca das poliacuteticas de proteccedilatildeo social garantidas pelo Estado somente para uma pequena parcela da populaccedilatildeo fo-ram requeridas mudanccedilas no setor sauacutede de forma a tornaacute-lo democraacutetico acessiacutevel universal e equacircnime (GERSCHMAN 2004)
Portanto o direito humano agrave sauacutede juriacutedico-positivado em direito fundamental e a criaccedilatildeo do SUS na Constituiccedilatildeo Federal representam uma conquista dos cidadatildeos A luta pela sauacutede universal e puacuteblica de qualidade contudo natildeo termina na consagraccedilatildeo desse direito na Constituiccedilatildeo uma vez que a institucionalidade representa a conquista de uma ferramenta de luta e natildeo a garantia da efetivaccedilatildeo desse direito O reconhe-cimento da constitucionalidade do direito agrave sauacutede eacute um ins-trumento de luta para os conselheiros nos espaccedilos decisoacuterios e representa um mecanismo potencial na sua concretizaccedilatildeo
O DSC 4 se refere ao direito agrave sauacutede essencialmente como ideia de acesso Nesta perspectiva haacute duas ideias centrais re-presentadas pelos grupamentos C no sentido de acesso aos bens e serviccedilos determinantes sociais da sauacutede e D relaciona-do ao acesso aos serviccedilos de sauacutede
DSC 4 Direito a sauacutede eacute a pessoa ter acesso agrave sauacutede a todos os determinantes sociais que levam o cidadatildeo a ter sauacutede como ter mo-radia digna como ter emprego digno como ter acesso agrave alimentaccedilatildeo saudaacutevel cuidado do meio ambiente Uma pessoa laacute na Alemanha dura 100 110 anos isso eacute a sauacutede mais de qualidade a gente ver aquela praccedila tem onde vocecirc fazer educaccedilatildeo fiacutesica tem onde vocecirc jo-gar uma bolinha tem os idosos correndo os idosos andando mais numa aacuterea bem boa florestal Eu acho que direito agrave sauacutede eacute ter di-reito ao meacutedico eacute ter direito aos exames eacute
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ter direito tambeacutem a medicaccedilatildeo eacute o povo ter acesso as comunidades de mais difiacutecil acesso facilite o transporte para a equipe meacutedica ir fazer as visitas e tambeacutem na hora de chegar a um hospital tambeacutem ser atendido ter direito a um atendimento adequado a gente ter um bom atendimento se eu natildeo estou bem quero chegar no posto de sauacutede e quero ser aten-dida (S4 S5 S6 S8 S10 S11 S12 S13 S18)
Esse discurso demonstra a compreensatildeo dos conselheiros acerca do direito agrave sauacutede em conformidade com o artigo 196 da Constituiccedilatildeo na medida em que o direito agrave sauacutede estaacute rela-cionado ao acesso agrave sauacutede no seu conceito amplo e ao sistema de serviccedilos de sauacutede
Mencionado artigo pressupotildee que o Estado deve natildeo ape-nas garantir serviccedilos puacuteblicos de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recu-peraccedilatildeo da sauacutede mas tambeacutem adotar poliacuteticas econocircmicas e sociais que melhorem as condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo evitando assim o risco de adoecer (GARBOIS VARGAS CUNHA 2008)
Corrobora-se entretanto a indagaccedilatildeo de Santos (2010) quando refletindo sobre a amplitude da redaccedilatildeo desse artigo a autora questiona sobre qual seraacute o campo de atuaccedilatildeo do sis-tema de sauacutede - Como dotar um sistema de serviccedilos puacuteblicos que garantam o acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e servi-ccedilos de sauacutede e aos seus determinantes sociais
Uma vez que o exerciacutecio do direito agrave sauacutede universal e integral passa a depender das necessidades das pessoas com o advento da Constituiccedilatildeo de 1988 tornou-se o principal argu-mento para que as necessidades insatisfeitas dos usuaacuterios do SUS se transformassem natildeo soacute em demandas poliacuteticas e so-ciais como tambeacutem em demandas judiciais (FLEURY 2012)
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Esse fato somado agraves condiccedilotildees financeiras adversas ateacute hoje natildeo superadas em que o SUS foi implantado certamente impede a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria de serviccedilos de qualidade de forma que a populaccedilatildeo se ache segura napuniccedilatildeo desse direito Esta contradiccedilatildeo entre o texto legal e a realidade institucional eacute responsaacutevel pela judicializaccedilatildeo da sauacutede (FLEURY 2012)
Em meio ao amplo campo de atuaccedilatildeo do sistema de sauacutede e agrave judicializaccedilatildeo do SUS cabe citar o decreto 75082011 que regulamenta a Lei 80801990 Esse decreto obriga o Ministeacuterio da Sauacutede a estabelecer o pacote dos serviccedilos de sauacutede por meio da Relaccedilatildeo Nacional de Accedilotildees e Serviccedilos de Sauacutede que agluti-na todas as accedilotildees e serviccedilos que o SUS oferece ao usuaacuterio para atendimento da integralidade da assistecircncia agrave sauacutede Tambeacutem regulamenta a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos (RENA-ME) que deve estabelecer todos os medicamentos que podem ser disponibilizados pelo SUS em suas unidades proacuteprias e conveniadas Estas devem ser renovadas a cada dois anos Fato demonstrativo que o direito agrave sauacutede eacute uma obra jamais aca-bada de modo que sua concretizaccedilatildeo eacute tensionada de forma permanente e dependente da participaccedilatildeo de vaacuterios agentes sociais dos poderes estatais e da sociedade civil (SILVA 2012)
Ainda explicando a compreensatildeo dos conselheiros acerca do direito agrave sauacutede emerge o DSC 5 composto por trecircs ideias centrais representadas pelo grupamento E denunciando as iniquidades presentes na garantia desse direito grupamento F no qual o direito agrave sauacutede eacute reconhecido na lei poreacutem natildeo concretizado e o grupamento G denunciando a cultura patri-monialista que interfere na efetivaccedilatildeo do direito agrave sauacutede
DSC 5 A sauacutede eacute um direito nosso Soacute que eacute um direito atribuiacutedo a poucos Eacute como se o Brasil fosse dois ou trecircs Brasis O SUS na rea-
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lidade eacute excelente soacute que ele natildeo funciona na maneira que deveria funcionar estaacute longe de realizar o que esta no papel Porque se fosse do jeito que esta laacute na Constituiccedilatildeo no artigo que se refere agrave sauacutede isso aqui era uma ma-ravilha estava melhor que a Suiacuteccedila Na reali-dade eacute um direito que estaacute sendo totalmente distorcido porque tecircm pessoas que acham que eacute um favor para conseguir uma consulta via SUS para conseguir um atendimento via SUS num hospital ou num posto tem que ser por o intermeacutedio de algueacutem vatildeo laacute e dizem eu vou ajeitar e muitas vezes o intermeacutedio eacute simplesmente para tirar vantagens futuras muitas vezes pessoas procuram determina-das pessoas por influecircncias poliacuteticas para tirar proveito eacute o que temos visto nas confe-recircncias municipais de sauacutede o nosso direito jogado como um favor poliacutetico Infelizmente os gestores de hoje em dia natildeo cumprem com sua responsabilidade essa parte do dinheiro que agraves vezes eacute desviado entatildeo o direito agrave sauacute-de eacute violado todos os dias eacute surrupiado da populaccedilatildeo que mais carece ele natildeo eacute cumpri-do (S2 S3 S4 S5 S9 S14 S15 S17)
Supondo de saiacuteda que toda a sociedade brasileira eacute be-neficiaacuteria do SUS especialmente dos bens puacuteblicos de sauacutede que ele oferece Medici (2010) realizou uma pesquisa sobre as iniquidades na utilizaccedilatildeo do SUS entre ricos e pobres e eviden-ciou que as iniquidades do SUS natildeo estatildeo no gr au de utiliza-ccedilatildeo do sistema por parte de ricos e pobres pois os grupos de renda mais elevadas utilizam bem menos o sistema do que os mais pobres As iniquidades do uso do SUS poreacutem entre ricos e pobres repousam na natureza dos procedimentos que o siste-ma disponibiliza aos mais ricos procedimentos que podem ser
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questionados quanto agrave prioridade social e essencialidade ante a escassez de recursos (MEDICI 2010)
Nesta perspectiva acrescenta-se a causa das iniquidades de acesso aos bens e serviccedilos de sauacutede do SUS aleacutem da rela-ccedilatildeo entre ricos e pobres relacionada ao baixo financiamento do sistema o que restringe a oferta de accedilotildees e serviccedilos assim como as formas de privatizaccedilatildeo do sistema que destina grande volume de recursos para compra de serviccedilos no setor privado como tambeacutem o uso privado da coisa puacuteblica por meio do favor e do clientelismo
Neste sentido na medida em que as iniquidades sociais em sauacutede podem ser compreendidas como a diferenccedila no esta-do de sauacutede entre grupos tais iniquidades no uso dos serviccedilos podem estar relacionadas ao aprofundamento das desigualda-des sociais em sauacutede
Aqui cabe referir a ideia de Paim (2009) de SUS para po-bres refletindo uma noccedilatildeo reducionista de que asauacutede publica eacute coisa para pobre sendo suficiente uma medicina simplifica-da Jaacute os defensores do SUS real ateacute reconhecem o direito agrave sauacutede entretanto na medida em que satildeo refeacutens da ideologia neoliberal predominante nas instituiccedilotildees puacuteblicas resignam-se com a situaccedilatildeo e terminam favorecendo o crescimento do mercado privado de sauacutede O SUS formal corresponde aoque estaacute estabelecido pela Constituiccedilatildeo federal constituiccedilotildees esta-duais e leis orgacircnicas embora distante da realidade dos servi-ccedilos puacuteblicos em que prevalecem o SUS real e o SUS para po-bres (PAIM 2009) Eacuteneste contexto que o direito agrave sauacutede foi trazido no discurso coletivo ao retratar a distacircncia entre esse SUS para pobres e tambeacutem real e o SUS formal
Quando a proacutepria populaccedilatildeo natildeo reconhece os serviccedilos de sauacutede como um direito esses podem ser utilizados como moe-
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da de troca de favores A ausecircncia do sentido do bem puacuteblico caracteriza as praacuteticas fundamentadas na cultura patrimonia-lista Eacute neste sentido que o sujeito coletivo percebe o direito agrave sauacutede como um direito violado pois convive com uma realida-de na qual o direito agrave sauacutede muitas vezes eacute negado Essas expe-riecircncias provocam nos entrevistados um conflito haja vista os seus conhecimentos do texto Constitucional e o cotidiano que enfrentam nos serviccedilos de sauacutede
Os dilemas da participaccedilatildeo
Com a finalidade de conhecer os pensamentos e as opi-niotildees dos conselheiros sobre a participaccedilatildeo utilizamos a se-guinte pergunta o que vocecirc entende por participaccedilatildeo
O quadro 3 expressa as ideias centrais sobre participaccedilatildeo das quais emergem trecircs discursos o DSC 6 traz a participaccedilatildeo no sentido de fazer parte o DSC 7 na perspectiva de fazer mo-vimento social e o DSC 8 exprime uma ideia aproximada do conceito de participaccedilatildeo poliacuteticaQuadro 3 Siacutentese das ideias centrais sobre participaccedilatildeo
DSC 6A Representar a populaccedilatildeo na associaccedilatildeo e no conselho
B Estar presente em reuniotildees do conselho e de entidades
DSC 7C Reunir e expressar a demanda da populaccedilatildeo no conse-
lho
D Lutar para que as demandas da populaccedilatildeo sejam aten-didas
DSC 8
E Participar das discussotildees nos espaccedilos puacuteblicos
F Fiscalizar as accedilotildees do Estado por parte da sociedade civil
G Propor soluccedilotildees para os serviccedilos de sauacutede no conselho
Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores
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O DSC 6 foi organizado em torno de duas ideias centrais representar a populaccedilatildeo na associaccedilatildeo e no conselho e estar presente em reuniotildees do Colegiado e de entidades Nas classi-ficaccedilotildees de Pateman (1992) e Arnstein (1969) eacute uma pseudo-participaccedilatildeo ou natildeo participaccedilatildeo respectivamente
DSC 6 A participaccedilatildeo eacute a comunidade eleger seus membros para junto com eles a gente colher o que eacute votado e que tem maioria de votaccedilatildeo portanto eacute representar a associaccedilatildeo Neste sentido participaccedilatildeo eacute a presenccedila da pessoa nas associaccedilotildees entidades nas reu-niotildees do conselho eacute estaacute engajado nos movi-mentos participando de alguma coisa assim alguma entidade com a finalidade de procu-rar estar informado dos direitos (S3 S6 S8 S16 S17 S18)
Inicialmente eacute compreensiacutevel que a participaccedilatildeo esteja conceituada no sentido de estar presente nas reuniotildees jaacute que somente aprendemos a participar participando No iniacutecio des-sa trajetoacuteria estar presente tem fundamental relevacircncia so-bretudo para tomar conhecimento dos direitos e deveres do cidadatildeo faz parte do processo de aprendizagem Permanecer todavia nas instacircncias deliberativas apenas com essa perspec-tiva de passividade prejudica natildeo soacute a representaccedilatildeo dos inte-resses dos representados mas favorece tambeacutem a legitimaccedilatildeo dos interesses dos que realmente decidem
Continuando a explanaccedilatildeo da ideia dos conselheiros sobre participaccedilatildeo o sujeito coletivo a conceitua numa perspectiva que evidencia a relaccedilatildeo dos conselheiros com a comunidade trazendo a ideia da representaccedilatildeo dos interesses comunitaacuterios e sua reivindicaccedilatildeo (DSC 7) Dessa forma a ideia central pre-sente nesse discurso considera participaccedilatildeo como reunir e ex-
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pressar a demanda (grupamento C) e lutar para que esta seja atendida (grupamento D)
DSC 7 Eacute vocecirc estaacute junto das pessoas vocecirc tem que ter uma escuta do povo esse povo tem um objetivo as pessoas tecircm um foco Entatildeo eacute saber a necessidade do povo procu-rar saber o que realmente estaacute acontecendo na sua comunidade e a gente se juntar pautar de forma organizada e tomar uma posiccedilatildeo e vamos atraacutes cobrar o que eacute que tem que vir para a melhoria daquela comunidade Levar as suas reivindicaccedilotildees para quem de direito cobrar que realmente aquilo seja feito de-fender aquilo que a gente entende que eacute um direito e uma necessidade buscar melhorias para a populaccedilatildeo e reivindicar o bem estar do ser humano (S1 S2 S4 S5 S6 S13 S16 S18)
Os interesses disputados pela sociedade civil nos conse-lhos de sauacutede devem corresponder agraves demandas de um movi-mento na base como associaccedilotildees sindicatos ONGs etc Nesse movimento eacute fundamental que as reivindicaccedilotildees coletivas se-jam pautadas e natildeo os interesses particulares
A representaccedilatildeo dos movimentos sociais no conselho ad-quire relevacircncia na medida em que este espaccedilo funciona como instacircncia fiscalizadora no intuito de reduzir a possibilidade de transgressatildeo pelo Estado e esses representantes se configuram como porta-vozes das demandas populares (OLIVEIRA PI-NHEIRO 2010)
Para Gohn (2011) a participaccedilatildeo de segmentos sociais na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas e a possibilidade de a populaccedilatildeo ter acesso aos espaccedilos nos quais as decisotildees satildeo tomadas possibi-litam imprimir um novo formato a essas poliacuteticas Esse processo exige outro padratildeo de relaccedilotildees entre Estado e Sociedade Civil
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No DSC 8 a participaccedilatildeo eacute entendida como a inclusatildeo das entidades no conselho participando do processo de debate de maneira democraacutetica (grupamento E) Aleacutem da participaccedilatildeo por meio do voto os conselheiros a expressaram no sentido de fiscalizar discurso representado pelo grupamento F e sobre-tudo propor soluccedilotildees para os problemas do sistema de serviccedilos de sauacutede ideia central do grupamento G
DSC 8 Eacute uma luta social que envolve muita coisa sobretudo o que noacutes estamos vivendo laacute no proacuteprio conselho eacute o presidente dos sindicatos das associaccedilotildees discutindo demo-craticamente o seu espaccedilo junto aos conse-lhos portanto eacute o nosso direito de expressatildeo um direito que qualquer cidadatildeo tem pois estaacute na lei que vocecirc tem o direito de exigir seus direitos Essas manifestaccedilotildees que estatildeo aiacute todo mundo estaacute correndo atraacutes do que a gente realmente precisa a gente precisa co-brar ir aos conselhos cobrar e fiscalizar para que as coisas sejam feitas de forma justa de uma forma legal Assim aleacutem de participar das eleiccedilotildees com o voto a gente participa tambeacutem das poliacuteticas puacuteblicas trazendo solu-ccedilotildees para ajudar a sociedade de uma forma geral eacute isso (S2 S5 S6 S7 S9 S11 S14)
Para Coelho Andrade e Montoya (2006) o processo de institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo por meio dos conselhos eacute considerado como importante mecanismo da democracia deliberativa De acordo com os referidos autores o conteuacutedo substantivo desse modelo representa uma ampliaccedilatildeo do es-paccedilo puacuteblico com a possibilidade de a discussatildeo aberta e de-liberaccedilatildeo acerca de poliacuteticas puacuteblicas e a democratizaccedilatildeo do processo decisoacuterio
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Considerando essa perspectiva o discurso do sujeito cole-tivo trouxe a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico para discussatildeo aber-ta no entanto sem fazer referecircncia agrave deliberaccedilatildeo Levando em consideraccedilatildeo a escada de participaccedilatildeo cidadatilde de Arnstein a compreensatildeo acerca de participaccedilatildeo presente neste discurso eacute apresentada conforme o degrau mais alto dentro do niacutevel de participaccedilatildeo simboacutelica denominado de conciliaccedilatildeo
Neste degrau as regras permitem que os cidadatildeos faccedilam recomendaccedilotildees mas o poder de decidir continua retido nas matildeos de poucos Isso ocorre quando a sociedade pode opinar indefinidamente contudo tais opiniotildees natildeo se vinculam agrave de-cisatildeo (GARCIA 2009)
Outro elemento presente no DSC 8 consiste na fiscaliza-ccedilatildeo das accedilotildees do Estado por parte da sociedade civil nos espa-ccedilos do conselho de sauacutede contudo o exerciacutecio da fiscalizaccedilatildeo e do controle social requer conhecimentos e informaccedilotildees de que muitas vezes a maioria dos conselheiros natildeo dispotildee o que revela a fragilidade desse poder
CONSIDERAccedilOtildeES FINAIS
O discurso hegemocircnico sobre sauacutede se relacionou ao es-tado de bem-estar e dessa forma considera-se que os entre-vistados possuem um conceito de sauacutede bastante proacuteximo ao que foi preconizado pelo movimento sanitaacuterio Ainda se iden-tificou poreacutem um discurso minoritaacuterio com uma dimensatildeo biologicista admitindo a ausecircncia de doenccedila como elemento explicativo para a sauacutede
O discurso do sujeito coletivo sobre o direito agrave sauacutede es-teve relacionado ao acesso aos bens e serviccedilos determinantes e condicionantes da sauacutede evidenciando o conhecimento teoacuteri-
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co eou praacutetico do Texto Constitucional A realidade de nega-ccedilatildeo desse direito entretanto foi denunciada pelos entrevista-dos o que demonstra a anguacutestia dos conselheiros em vivenciar essa contradiccedilatildeo
Por fim as concepccedilotildees de participaccedilatildeo dos conselheiros natildeo estatildeo permeadas pela plena consciecircncia da possibilidade de compartilhamento do poder de decisatildeo no processo de con-cretizaccedilatildeo do direito agrave sauacutede tendo que avanccedilar neste sentido Acredita-se entretanto que essa participaccedilatildeoao buscar uma articulaccedilatildeo com seus representados pode configurar-se numa importante ferramenta de luta
Considera-se que as concepccedilotildees dos pesquisados sobre sauacutede direito agrave sauacutede e participaccedilatildeo estatildeo alinhadas com os referenciais do movimento da Reforma Sanitaacuteria poreacutem esse alinhamento tem pouca repercussatildeo na garantia do direito agrave sauacutede
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REFERecircNCIAS
AITH F Perspectivas do direito sanitaacuterio no Brasil as garantias ju-riacutedicas do direito agrave sauacutede e os desafios para sua efetivaccedilatildeo In SAN-TOS L Direito da sauacutede no Brasil Campinas SP Saberes 2010ALMEIDA FILHO N A o que eacute sauacutede Rio de Janeiro Fiocruz 2011ARNSTEIN S R A Ladder Of Citizen Participation Journal of the American Institute of Planners v 35 n 4 p 216-224 1969 Dispo-niacutevel em lthttpdxdoiorg10108001944366908977225gt Acesso em 21 out 2013BOSI M L M AFFONSO K C Cidadania participaccedilatildeo popular e sauacutede com a palavra os usuaacuterios da Rede Puacuteblica de Serviccedilos Cad Sauacutede Puacuteblica Rio de Janeiro v 14 n 2 p 355-365 abrjun 1998BRASILDecreto nordm 7508Presidecircncia da RepuacuteblicaCasa Civil de 28 de junho de 2011 Regulamenta a Lei nordm 8080 de 19 de setembro de 1990 para dispor sobre a organizaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS o planejamento da sauacutede a assistecircncia agrave sauacutede e a articulaccedilatildeo interfederativa e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 28 jun 2011COELHO J S Construindo a Participaccedilatildeo Social no SUS um cons-tante repensar em busca de equidade e transformaccedilatildeo Sauacutede Soc Satildeo Paulo v 21 supl1 p 138-151 2012COELHO V S P ANDRADE I AL MONTOYA MC Foacuteruns deliberativos uma boa estrateacutegia para melhorar nossas poliacuteticas so-ciaisCronos Natal-RN v 7 n 1 p 15-25 janjun 2006FLEURYS Judicializaccedilatildeo pode salvar o SUS Sauacutede em Debate Rio de Janeiro v36 n93 p 159-162 abrjun 2012GARBOIS J A VARGAS L A CUNHA FTSO Direitoagrave Sauacutede na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia uma reflexatildeo necessaacuteriaPhysis Rio de Janeiro v 18 n 1 p 27-44 2008GARCIA L P Definiccedilatildeo de criteacuterios para verificaccedilatildeo da adequabili-dade do modelo level of participation de David Wilcox como base para a classificaccedilatildeo dos objetivos educacionais em accedilotildees de estiacutemulo
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ao controle social 2009 107p Monografia (Especializaccedilatildeo) Univer-sidade Gama Filho Brasiacutelia ndash DF 2009GERSCHMAN S A Democracia Inconclusa um estudo da Reforma Sanitaacuteria brasileira 2ed Rio de Janeiro Fiocruz 2004GOHN MG Conselhos gestores e participaccedilatildeo sociopoliacutetica Satildeo Paulo Cortez 2011LEFEgraveVRE F LEFEgraveVRE AM C Discurso do Sujeito Coletivo um enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos) 2 ed Caxias do Sul RS Educs 2005MEDICI A Breves consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre financiamen-to da sauacutede e direito sanitaacuterio no Brasil In SANTOS L Direito da sauacutede no Brasil CampinasSP Saberes 2010OLIVEIRA LC As praacuteticas de participaccedilatildeo institucionalizadas e sua interface com a cultura poliacutetica um olhar sobre o cotidiano de um Conselho Municipal de Sauacutede no Nordeste brasileiro 258p Tese (doutorado) Instituto de Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2006OLIVEIRA L C PINHEIRO RA participaccedilatildeo nos conselhos de sauacutede e sua interface com a cultura poliacutetica Ciecircncia amp Sauacutede Coleti-va Rio de Janeiro v 15 n 5 p 2455-2464 2010PAIM JS Desafios para a sauacutede coletiva no seacuteculo XXI Salvador UDUFBA 2006_______ O que eacute o SUS Rio de Janeiro Fiocruz 2009PATEMAN C Participaccedilatildeo e teoria democraacutetica Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 SANTOS L Direito da sauacutede no Brasil Campinas SP Saberes 2010SEVERO DO DA ROS MA A Participaccedilatildeo no controle social do SUS concepccedilatildeo do movimento dos trabalhadores rurais sem terra Sauacutede Soc Satildeo Paulo v 21 supl1 p 177-184 2012SILVA MBB O direito achado na rua introduccedilatildeo criacutetica ao direito agrave sauacutede Sauacutede em Debate Rio de Janeiro v 36 n 92 p 5-8 janmar 2012
PARTE 3
DIVERSIDADES EPISTEMOLoacuteGICAS
TEMAacuteTICAS
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CAPIacuteTULO 10
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL DOS ASPECTOS HISToacuteRICOS DO ENVELHECI-MENTO AO PERFIL DEMOGRAacuteFICO DE IDO-SOS DO CEARAacute
Juliana Lucena de Miranda CavalcanteLiacutellian de Queiroz Costa
Elzo Pereira Pinto JuniorEdina Silva Costa
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
INTRODUccedilAtildeO
Desde o iniacutecio da civilizaccedilatildeo o envelhecimento eacute conside-rado fator relevante para a constituiccedilatildeo das sociedades (PA-PALEacuteO NETTO 2002 ALBUQUERQUE 2008 PEREIRA et al 2009) Em Roma e na Greacutecia no seacuteculo II aC os idosos eram valorizados e respeitados comandavam as famiacutelias e eram privilegiados pela sua experiecircncia (PAPALEacuteO NETTO 2002 ALBUQUERQUE 2008)
Alguns seacuteculos mais tarde jaacute na Idade Meacutedia os idosos eram pouco numerosos e sobreviver era uma tarefa aacuterdua ne-cessitando da ajuda da famiacutelia da igreja e de alguns senhores feudais (ALBUQUERQUE 2008)
De acordo com Piccolo (2011 p169) ldquodefinir a velhice eacute uma questatildeo social coletiva e profundamente complexardquo pois as concepccedilotildees de velhice variam de acordo com os periacuteodos histoacutericos Na Franccedila no seacuteculo XIX velho era compreendido como algueacutem que natildeo podia mais se sustentar financeiramente
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sozinho passando a depender de outras pessoas Nada tinha de relacionado com a questatildeo cronoloacutegica (PICCOLO 2011)
A velhice surge como nova etapa da vida apenas no seacuteculo XIX Esse fato esteve vinculado agrave modernizaccedilatildeo das sociedades ocidentais e foi essencial para que se desenvolvessem socieda-des que determinassem a periodizaccedilatildeo da vida humana em etapas cronoloacutegicas (SILVA 2008)
A sociedade se torna cada vez mais complexa com pouca valorizaccedilatildeo da vida simples Os ideais se voltam agrave acumulaccedilatildeo de capital e agrave valorizaccedilatildeo do homem forte (produtivo) con-forme sua capacidade laboral Os mais fraacutegeis representados pelos idosos deficientes doentes e portadores de transtornos mentais satildeo postos agrave margem da sociedade (PAPALEacuteO NET-TO 2002 PICCOLO 2011)
Ante uma sociedade capitalista qualquer ameaccedila neste sentido pode ser avaliada por demais negativa Os processos patoloacutegicos fiacutesicos e psiacutequicos as alteraccedilotildees funcionais bem como a proacutepria chegada da velhice podem ser vistos como algo indesejado (GUERRA CALDAS 2010) Alguns estudos demonstram que idosos associam a chegada da velhice agrave perda da capacidade laboral e agrave dependecircncia em relaccedilatildeo agrave famiacutelia ou parentes proacuteximos aleacutem de estar relacionada ao aparecimento de enfermidades (SANTOS 2002 GUERRA CALDAS 2010)
A percepccedilatildeo desta etapa da vida como algo negativo tam-beacutem estaacute associada agrave sensaccedilatildeo de desaceleraccedilatildeo da vida Por conta de todas as perdas e acontecimentos os idosos necessi-tam de uma vida com maiores contatos com seus familiares e amigos procurando inclusive se envolver de forma ativa nas relaccedilotildees entre filhos e netos (LIMA COELHO 2011)
Contribuindo com essa visatildeo depreciativa do envelheci-mento aflora uma sociedade ligada a padrotildees de beleza deter-
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minados que prioriza a juventude e a esteacutetica das coisas e pes-soas Esse fato se concretiza quando se observa o crescimento do nuacutemero de cirurgias plaacutesticas e dos vaacuterios tratamentos de beleza e esteacutetica (MOTA 2002)
Eacute necessaacuterio destacar poreacutem que a velhice tambeacutem pode ser bem tolerada principalmente quando eacute esperada e isso ocorre devido uma seacuterie de fatores no decorrer da vida huma-na (LIMA COELHO 2011) Oliveira (2007) propotildee a necessi-dade da mudanccedila de paradigma estimulando a ruptura de es-tereoacutetipos negativos atribuiacutedos a este periacuteodo desmistificando esta etapa da vida como algo nocivo incorporando aspectos positivos reconhecendo esta fase como uma grande conquista social
Na concepccedilatildeo de Piccolo (2011 p172)Por uma questatildeo de coerecircncia tanto filosoacute-fica como praacutetica natildeo podemos coadunar com o pressuposto de que a juventude sig-nifique por si soacute sauacutede e o envelhecimento agrave simbologia de sua decadecircncia devido ao des-gaste do organismo
O envelhecimento natildeo eacute apenas algo natural e bioloacutegico mas se ldquoconstitui tambeacutem como elemento histoacuterico e social que varia de acordo com os interesses de uma determinada sociedaderdquo (OLIVEIRA 2007 SILVA FEIJAtildeO 2008) Enve-lhecer eacute um fenocircmeno complexo e multifacetado abrangendo diversas dimensotildees do conhecimento incluindo a bioloacutegica psicoloacutegica social demograacutefica juriacutedica poliacutetica entre outras (BERZINS BORGES 2012)
Nas uacuteltimas deacutecadas o aumento no nuacutemero de pessoas idosas eacute considerado elemento primordial que merece a aten-ccedilatildeo especial por parte da sociedade e dos poderes puacuteblicos A
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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) se refere ao periacuteo-do dos anos de 1975 a 2025 como a era do envelhecimento (ALBUQUERQUE 2008) Este fenocircmeno eacute desafiador prin-cipalmente quando se pretende proporcionar qualidade sig-nificativa haacute esses anos acrescidos (CAMARANO et al 2004 MOIMAZ et al 2009 ROUQUAYROL ALMEIDA FILHO 2013)
Na perspectiva da evoluccedilatildeo cientiacutefica relacionada a essa etapa da vida tem-se que durante os seacuteculos XVIII e XIX surgiram alguns estudos meacutedicos referentes ao processo de envelhecimento poreacutem restritos agraves doenccedilas comuns da senili-dade e aos seus respectivos tratamentos (PEREIRA et al 2009) Somente no seacuteculo XX foi que se reconheceu a importacircncia de estudos que beneficiem o envelhecimento em outras pers-pectivas natildeo se limitando a questotildees patoloacutegicas e bioloacutegicas (PEREIRA et al 2009)
Assim o seacuteculo XX se destacou como um periacuteodo no qual a ciecircncia do envelhecimento teve grandes avanccedilos destacan-do-se o trabalho de Metchnikoff em 1903 que estabeleceu os fundamentos da Gerontologia (estudo da velhice de maneira interdisciplinar) e Nasher em 1909 com o surgimento da Ge-riatria desvendando os aspectos cliacutenicos deste periacuteodo (PA-PALEacuteO NETTO 2002)
Acredita-se que a experiecircncia acumulada dos idosos um dia poderaacute ser zelada e considerada como algo importante para a sociedade enquanto as descobertas teoacutericas e teacutecnicas poderatildeo ser descartadas ante as muitas outras novas descober-tas (NEGREIROS 2003)
Entendendo a importacircncia dos idosos na sociedade con-temporacircnea buscamos caracterizar o perfil demograacutefico dos idosos no Estado do Cearaacute
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METODOLOGIA
Estudo ecoloacutegico quantitativo com abordagem descriti-va Esta pesquisa abrange as pessoas idosas (mais de 60 anos) residentes no Estado do Cearaacute no periacuteodo de 2000 a 2011 se-gundo as estratificaccedilotildees de macrorregiatildeo e microrregiotildees de sauacutede definidas pelo Plano Diretor de Regionalizaccedilatildeo (PDR) do Estado do Cearaacute
O periacuteodo do estudo foi subdividido em quatro triecircnios (2000 a 2002 2003 a 2005 2006 a 2008 e 2009 a 2011) de for-ma a reduzir as variabilidades anuais porventura existentes
Os dados foram obtidos de fontes secundaacuterias por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e do Instituto de Pesquisas e Estrateacutegias Econocircmicas do Cearaacute (IPECE)
A coleta de dados se deu com o auxiacutelio do programa Ta-bwin versatildeo 32 (arquivos reduzidos em formato de DEF) e posteriormente os dados foram organizados em planilhas do software Excel Nesse mesmo software foi conduzida a anaacutelise estatiacutestica descritiva realizada por meio das frequecircncias abso-lutas e relativas
Para o caacutelculo dos percentuais de idosos em cada faixa etaacuteria foi utilizado como referecircncia o total de idosos de cada triecircnio para se calcular os percentuais totais tomou-se como referecircncia a soma da populaccedilatildeo residente no Cearaacute em cada triecircnio segundo dados do IPECE
Apesar de este estudo envolver a utilizaccedilatildeo de banco de dados secundaacuterios ele foi enviado ao Comitecirc de Eacutetica em Pes-quisa da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) para apre-ciaccedilatildeo eacutetica por meio do site da Plataforma Brasil obtendo parecer favoraacutevel (Nordm 370566)
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RESULTADOS
Os resultados foram descritos com relaccedilatildeo aos aspectos demograacuteficos dos idosos (destacando especificamente faixas etaacuterias e gecircnero) os quais foram subdivididos de acordo com as microrregiotildees e macrorregiotildees de sauacutede do Estado
No Estado do Cearaacute observa-se aumento do nuacutemero de idosos passando de 664989 idosos em 2000 para 917199 em 2011 o que representa um acrescimo de 379 desse quantita-tivo em 12 anos (Figura 1)
Figura 1 ndash Crescimento do nuacutemero de idosos no Estado do Cearaacute de 2000 a 2011
Na tabela 1 realizou-se uma anaacutelise por triecircnios sendo possiacutevel observar o crescimento do nuacutemero de idosos de ma-neira geral ultrapassando o percentual de 88 do total da populaccedilatildeo (primeiro triecircnio) para 103 (uacuteltimo triecircnio)
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Tabela 1 ndash Censo de idosos por triecircnio e faixa etaacuteria no Esta-do do Cearaacute no periacuteodo de 2000 a 2001
Grupos de idosos
(em anos)
1ordm Triecircnio 2ordm Triecircnio 3ordm Triecircnio 4ordm Triecircnio
2000-02 2003-05 2006-08 2009-11Nordm Nordm Nordm Nordm
60 a 69 1054782 526 1102142 5264 1140636 5181 1381630 5247
70 a 79 662865 3306 691802 3304 725178 3294 822131 3122
80 ou + 287316 1433 299635 1431 335397 1523 429275 163
Total 2004963 888 2093579 892 2201211 902 2633036 1038
Fonte DATASUS
Na visualizaccedilatildeo da figura 2 eacute perceptiacutevel o crescimento de idosos em nuacutemeros absolutos em todas as faixas etaacuterias Ob-serva-se tambeacutem que a coluna que representa os idosos com idades entre 70 a 79 anos permaneceu praticamente est aacutevel quase sem alteraccedilotildees Entretanto as colunas representantes dos idosos com 60 a 69 anos e 80 anos ou mais foram as que demonstraram maiores diferenccedilas no periacuteodoFigura 2 ndash Distribuiccedilatildeo da quantidade total e por faixa etaacuterias especiacuteficas de idosos no Estado
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
Nordm
2000-02
1ordm Triecircnio
Nordm
2003-05
2ordm Triecircnio
Nordm
2006-08
3ordm Triecircnio
Nordm
2009-11
4ordm Triecircnio
Tiacutetulo do Graacutefico
60 a 69 70 a 79 80 ou + Total
Fonte DATASUS
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Em todas as regionais de sauacutede observa-se aumento pro-porcional do nuacutemero de idosos acompanhado por uma maior prevalecircncia de idosos do sexo feminino (tabelas 2 e 3)
A seguir satildeo apresentadas duas tabelas referentes aos anos 2000 e 2011 que detalham o quantitativo de idosos con-forme regiatildeo de sauacutede e gecircnero detalhando-se os valores ab-solutos e relativos aleacutem da quantidade total de idosos em cada localidade e da relaccedilatildeo percentual com o quantitativo geral de idosos do Estado Assim eacute notoria a contribuiccedilatildeo de cada regiatildeo relativa ao seu quantitativo de idosos tomando como referecircncia o EstadoTabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo de idosos por sexo entre as regionais de sauacutede e sua variaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao Estado no ano 2000
Regiatildeo de Sauacutede
Distribuiccedilatildeo de idosos por sexo Total
Masculino Femini-no
Nuacutemero total de idosos
em relaccedilatildeo agraves regiotildees
Fortaleza 61450 363 101698 601 169148 74
Caucaia 15645 477 17086 522 32731 71
Maracanauacute 12819 59 15066 54 27885 68
Baturiteacute 6462 494 6606 505 13068 105
Canindeacute 9337 499 9359 50 18696 105
Itapipoca 10266 494 10483 505 20749 91
Aracati 3707 45 4519 549 8226 85
Quixadaacute 14668 489 15288 51 29956 108
Russas 8216 481 8850 518 17066 96Limoeiro do
Norte 9720 475 10709 524 20429 101
225
Sobral 24923 464 28703 535 53626 98
Acarauacute 7400 503 7296 496 14696 82
Tianguaacute 11312 468 12841 531 24153 93
Tauaacute 5558 50 5545 499 11103 104
Crateuacutes 15156 474 16781 525 31937 112
Camocim 5540 484 5902 515 11442 82
Icoacute 8882 48 9589 519 18471 112
Iguatu 15171 481 16333 518 31504 11
Brejo Santo 9033 463 10452 536 19485 101
Crato 13991 456 16664 543 30655 102Juazeiro do Norte 13983 419 19319 58 33302 95
Cascavel 10098 488 10568 511 20666 88
Total 293337 - 359657 - 658994 -
Fonte IBGEPNAD
Das regiotildees de sauacutede descritas na Tabela 2 que se desta-caram por possuiacuterem maior proporccedilatildeo de pessoas idosas em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo de idosos do Estado foram as de Iguatu (110) Icoacute (112) e Crateuacutes (112) A que estavam menor proporccedilatildeo foram Maracanauacute (68) Caucaia (71) e Fortale-za (74) Vale ressaltar que as trecircs regiotildees que demonstraram menor quantitativo de idosos pertencem a uma soacute macrorre-giatildeo de sauacutede
Com relaccedilatildeo agraves distribuiccedilotildees de idosos em 2011 tem-se o seguinte resultado
226
Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo de idosos por sexo entre as regionais de sauacutede e sua variaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao Estado no ano 2011
Regional de Sauacutede
Distribuiccedilatildeo por Sexo Total
Masculino Feminino Nuacutemero total
em relaccedilatildeo agraves
regiotildeesFortaleza 103486 397 157165 602 260651 98Caucaia 24061 465 27647 534 51708 9
Maracanauacute 19893 454 23899 545 43792 87
Baturiteacute 7560 477 8258 522 15818 117Canindeacute 12050 49 12503 509 24553 124
Itapipoca 14193 491 14694 508 28887 104Aracati 5786 455 6913 544 12699 114
Quixadaacute 18962 479 20551 52 39513 127
Russas 10989 469 12410 53 23399 121Limoeiro do
Norte 13044 47 14664 529 27708 126
Sobral 32409 455 38670 544 71079 115
Acarauacute 10473 489 10909 51 21382 99
Tianguaacute 15356 464 17737 535 33093 11
Tauaacute 7549 488 7899 511 15448 138
Crateuacutes 19227 466 21992 533 41219 141
Camocim 7403 472 8265 527 15668 103
Icoacute 11142 465 12793 534 23935 141
Iguatuacute 20581 475 22715 524 43296 139Brejo Santo 11925 458 14095 541 26020 125
Crato 19046 453 22952 546 41998 126
Juazeiro do Norte 18808 419 26025 58 44833 111
Cascavel 14637 474 16215 525 30852 102
Total 418580 - 518971 - 937551 -
Fonte IBGEPNAD
227
Em 2011 observamos que Fortaleza (98) Maracanauacute (87) e Caucaia (90) cresceram nas proporccedilotildees de idosos em relaccedilatildeo ao ano de 2000 apesar de continuarem indicando as menores proporccedilotildees de idosos As regiotildees de sauacutede po-reacutem que apontaram maiores proporccedilotildees de pessoas senis em 2011 continuam sendo Crateuacutes (141) Iguatu (139) e Icoacute (141) (Tabela 3)
Fazendo-se um comparativo do primeiro e dos uacuteltimos anos da seacuterie histoacuterica relativo agrave distribuiccedilatildeo das pessoas de mais de 60 anos no Estado distribuiacutedo por faixa etaacuteria e sexo tem-se o resultado na tabela 4Tabela 4 ndash Distribuiccedilatildeo de idosos por faixa etaacuteria e sexo no Cearaacute nos anos 2000 e 2011
Faixa
etaacuteria
2000 2011
Masc Fem Total Geral Masc Fem Total Geral
Idosos N N Total N N Total
60 a 69
anos157373 525 189238 526 346611 526 224221 535 262706 506 486927 519
70 a 79
anos100034 334 117881 327 217915 330 126956 303 162822 313 289778 309
80 ou
mais41930 140 52538 146 94468 143 67403 161 93443 180 160846 171
Total 299337 - 359657 - 658994 418580 - 518971 - 937551 -
Fonte DATASUS
De acordo com a tabela 4 percebe-se a prevalecircncia de ido-sos do sexo feminino em ambos os anos analisados Nas tabe-las 2 e 3 notamos tambeacutem prevalecircncia do sexo feminino tendo como exceccedilatildeo as regionais de Acarauacute (503) e Tauaacute (500) que no ano 2000 denotaram maioria do sexo masculino
228
DISCUSSAtildeO
Apesar de se tratar de estudo envolvendo dados secun-daacuterios haacute de se reconhecer a importacircncia da utilizaccedilatildeo desses dados na realizaccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas hajam vista ampli-tude nacional e a sua capacidade na obtenccedilatildeo de diagnoacutesticos situacionais demograacuteficos e analiacuteticos relativos aos aspectos aqui abordados
Desse modo haacute o envelhec imento populacional como uma das grandes conquistas da humanidade e um desafio no sentido do processo adaptativo da sociedade a essas transfor-maccedilotildees demograacuteficas (OMS 2005)
Essas transformaccedilotildees que se limitavam a regiotildees desen-volvidas dos paiacutesesse alteram substancialmente passando os paises em desenvolvimento a fazer parte tambeacutem dessas mu-danccedilas A forma como se encara esse processo varia entre as sociedades (OMS 2005)
No Brasil a mudanccedila na estrutura etaacuteria da populaccedilatildeo e a rapidez da sua transformaccedilatildeo satildeo fenocircmenos identificados discutidoshaacute algum tempo (VERAS 1988)
Evidencia-se uma carecircncia de estudos que abordem a questatildeo social referente a consequecircncias do processo de en-velhecimento da populaccedilatildeo (VERAS 1988) A maioria dos estudos que envolvem idosos no Cearaacute refere-se a questotildees relativas a limitaccedilotildees e dependecircncia instituiccedilotildees de longa per-manecircncia violecircncia contra os idosos uso abusivo de medica-mentos entre outros
Na anaacutelise por triecircnios observamos um aumento signi-ficativo no nuacutemero de idosos fazendo-se necessaacuterio conside-rar as consequecircncias disso para a sociedade De acordo com o Censo do IBGE (2010) o Brasil tem 109 de idosos em sua
229
populaccedilatildeo geral valor muito compatiacutevel com o percentual de idosos no Cearaacute (103)
Segundo a OMS (2005) um paiacutes pode ser considerado envelhecido quando 7 da sua populaccedilatildeo assim constituiacuteda eacute formada de pessoas com 60 anos ou mais de vida (MARIN et al 2004 VITOR et al 2009) Percebemos que os percentuais encontrados no Cearaacute e no Brasil encontram-se bem acima da referecircncia e portanto eacute licito afirmar que natildeo somente o Paiacutes mas tambeacutem o Estado do Cearaacute e suas micro e macrorregiotildees se encontram em decurso de envelhecimento demograacutefico
A faixa etaacuteria entre os idosos que apontou maior cres-cimento foi a de 80 anos ou mais poreacutem a que concentrou o maior nuacutemero de idosos no Estado do Cearaacute foi a de 60 a 69 anos Esse resultado corrobora o que dispocircs Veras (1995) quando relata que a maioria das pessoas idosas se encontra justamente nesta faixa de 60 a 69 anos diferindo da realidade europeia onde a maioria dos idosos estaacute acima dos 70 (faixa etaacuteria que tambeacutem mais cresce)
Apesar de em todos os triecircnios analisados prevelecer em termos quantitativos a faixa etaacuteria de idosos com 60 a 69 anos sabemos que a faixa etaacuteria dos mais velhos (80 ou mais anos) eacute objeto de uma elevaccedilatildeo acentuada o que pode ser uma expli-caccedilatildeo para o aumento de gastos no setor sauacutede
Os idosos com idades avanccediladas (80 anos ou mais) estatildeo mais propensos a ter algum grau de incapacidade fiacutesica e de serem dependentes nas praacuteticas de atividades da vida diaacuteria Portanto faz-se necessaacuteria a identificaccedilatildeo dos possiacuteveis cuida-dores para que os profissionais atuantes na atenccedilatildeo primaacuteria possam apoiaacute-los dando o suporte necessaacuterio no sentido de orientar quanto aos cuidados na prevenccedilatildeo de complicaccedilotildees e agravos (NUNES et al 2010)
230
Com relaccedilatildeo aos idosos mais jovens eacute recomendado utili-zar atividades de orientaccedilotildees rotineiras sobre a prevenccedilatildeo im-pedindo que possiacuteveis agravos possam contribuir e provocar internaccedilotildees desnecessaacuterias e evitaacuteveis
No cenaacuterio em que considera-se a distribuiccedilatildeo por sexo nota-se que em todo o Estado e na maioria das regionais de sauacutede estudadas a prevalecircncia de mulheres entre os idosos eacute destaque Esse fenocircmeno tambeacutem natildeo foi algo inovador pois jaacute satildeo encontrados resultados semelhantes em vaacuterias outras pesquisas (NEGREIROS 2003 CARVALHO et al 2009 NI-CODEMOS GODOI 2010) Outro fato interessante foi que em todas as faixas etaacuterias entre os idosos no Estado prevale-ceu o sexo feminino
Alguns autores justificam o fenocircmeno da feminizaccedilatildeo da velhice como resultado do aumento da expectativa de vida das mulheres em relaccedilatildeo aos homens e do maior cuidado das mu-lheres em relaccedilatildeo agrave sua sauacutede (VERAS 2004) Segundo Carva-lho et al (2009 p 580) ldquoas mulheres satildeo detentoras de saberes e praacuteticas de sauacutede vivenciadas nas suas experiecircncias cotidia-nas do cuidar e identificam de forma precoce sinais e sintomas de vaacuterias doenccedilas []rdquo Assim tecircm-se as mulheres vivendo em meacutedia sete anos a mais do que os homens (SALGADO 2002)
Algumas pesquisas justificam a feminizaccedilatildeo pela menor mortalidade de idosas quando em comparaccedilatildeo com os idosos do sexo masculino (NEGREIROS 2003 LUIZAGA GOTLIEB 2013) Os homens morrem mais e mais precocemente do que as mulheres predominando o sexo feminino entre as pessoas de mais de 60 anos (LUIZAGA GOTLIEB 2013)
Vale ressaltar ainda que aleacutem dos idosos as mulheres tambeacutem demandam por cuidados mais especializados e vol-
231
tados para as suas necessidades de sauacutede especiacuteficas Podemos mencionar dentre esses a prevenccedilatildeo de cacircncer de colo do uacutete-ro e mama prevenccedilatildeo e tratamento da depressatildeo e diagnoacutestico e tratamento dos sintomas da menopausa entre outros
Apesar de as mulheres se expressarem em maiores pro-porccedilotildees e serem mais longevas quando comparadas aos ho-mens estas tendem a apresentar maiores nuacutemeros de inca-pacidades fiacutesicas (GRUNDY 2003) Portanto consideramos a questatildeo de gecircnero no planejamento das accedilotildees de sauacutede um fator importante para que possamos prestar uma assistecircncia de qualidade prevenindo tanto as internaccedilotildees por condiccedilotildees sensiacuteveis como mortes evitaacuteveis
Em razatildeo da velocidade do aumento do nuacutemero de ido-sos presentes no Mundo no Brasil e no Cearaacute como pode ser constatado foi que Minayo e Coimbra (2002 p 46) relataram ser necessaacuterio ldquoouvir a loacutegica deste grupo socioetaacuteriordquo contan-do com a sua participaccedilatildeo na resoluccedilatildeo e satisfaccedilatildeo das suas principais demandas as quais muitas vezes coincidem com as da sociedade de maneira geral
CONCLUSAtildeO
Por intermeacutedio desta pesquisa foi possiacutevel obter resul-tados consistentes para a obtenccedilatildeo de um diagnoacutestico situa-cional demograacutefico e analiacutetico relativo aos aspectos ligados ao envelhecimento
A alteraccedilatildeo demograacutefica eacute algo real sendo apontada a necessidade de preparar a sociedade para enfrentar as conse-quecircncias que poderatildeo surgir com a materializaccedilatildeo deste fenocirc-meno principalmente quando se refere a um estado pobre e
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que enfrenta dificuldades sociais e econocircmicas situado no in-terior do Nordeste brasileiro
O Cearaacute estaacute caracterizado como Estado com elevada con-centraccedilatildeo de idosos Tais pessoas estatildeo mais propensas a regis-trar doenccedilas crocircnicas e complicaccedilotildees relativas a esses agravos necessitam de cuidados apropriados de maiores gastos e de tecnologias mais avanccediladas que possam satisfazer as necessi-dades de sauacutede especiacuteficas desse grupo-alvo
Este estudo natildeo pretende caracterizar esta alteraccedilatildeo de-mograacutefica como uma vilatilde responsabilizando-a pelas mazelas da sociedade O foco eacute demonstrar a necessidade de mudanccedilas e direcionamento das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para esta par-cela da populaccedilatildeo destacando as necessidades de sauacutede dos idosos no momento da formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
233
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CAPIacuteTULO 11
SUBSIacuteDIOS PARA PESQUISAS SOBRE A OBE-SIDADE A INFLUecircNCIA DA INFECccedilAtildeO PELO HELICOBACTER PyLORI SOBRE O ES-TADO NUTRICIONAL
Helena Alves de Carvalho SampaioDaianne Cristina Rocha
Ciacutecera Beatriz Baratta PinheiroAntocircnio Augusto Ferreira CariocaSoraia Pinheiro Machado ArrudaJoseacute Wellington de Oliveira Lima
INTRODUccedilAtildeO
A incidecircncia de obesidade entre os brasileiros aumentou 54 de 2006 a 2012 Ao todo 51 da populaccedilatildeo acima de 18 anos tecircm excesso de peso Entre os homens o excesso de peso atinge 54 e entre as mulheres 48 (BRASIL 2013)
Esse eacute resultado de um montante de fatores relaciona-dos ao estilo de vida incluindo um aumento na ingestatildeo de alimentos caloacutericos e diminuiccedilatildeo da atividade fiacutesica atitudes atribuiacutedas agrave natureza sedentaacuteria do homem moderno e aos meios de transporte (FENTOFLU et al 2009)
Na busca de mais causas determinantes da obesidade nos uacuteltimos anos a literatura comeccedilou a explorar uma possiacutevel as-sociaccedilatildeo entre obesidade e presenccedila de infecccedilatildeo pelo H pylori
A infecccedilatildeo pelo H pylori ocorre em todo o Mundo e aco-mete mais da metade da humanidade sendo considerada im-portante problema de sauacutede puacuteblica Sua prevalecircncia eacute signifi-
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cativamente maior em paiacuteses em desenvolvimento e em todas as faixas etaacuterias acometendo de 70 a 90 da populaccedilatildeo Em paiacuteses desenvolvidos a prevalecircncia eacute menor situando-se de 25 a 50 No Brasil a prevalecircncia em adultos de 82 (World Gastroenterology Organization - WGO 2010)
Pesquisas apontam que a infecccedilatildeo pelo H pylori pode influenciar a ingestatildeo e homeostase caloacuterica mediante a sina-lizaccedilatildeo da grelina (BLASER ATHERTON 2004) um peptiacute-deo secretado no estocircmago e implicado no comportamento de ingestatildeo alimentar e regulaccedilatildeo do peso corporal O tipo de influecircncia que ocorre entretanto ainda eacute tema controverso
Sabe-se que ocorre elevaccedilatildeo fisioloacutegica dos niacuteveis de greli-na durante o jejum aumentando o apetite e sinalizando para a ingestatildeo alimentar Desde o iniacutecio do ato de comer seus niacuteveis vatildeo se reduzindo na mesma medida em que o apetite tambeacutem diminui e desta forma a alimentaccedilatildeo eacute finalizada ( KONTU-REK et al 2004)
Consoante reportam alguns autores a gastrite frequente-mente induzida pela infecccedilatildeo pelo H pylori leva a uma redu-ccedilatildeo dos niacuteveis de grelina gaacutestrica com repercussatildeo nos niacuteveis seacutericos Se esta reduccedilatildeo de fato ocorre pode estar associada agrave perda ponderal (OSAWA et al 2005)
Coerentemente a erradicaccedilatildeo da bacteacuteria parece influen-ciar a dinacircmica da grelina restaurando os niacuteveis desta e au-mentando o peso corporal (NWOKOLO et al 2003 TATSU-GUCHI et al 2004)
A relaccedilatildeo entretanto natildeo eacute assim tatildeo clara de forma que haacute estudos contraditoacuterios dessas observaccedilotildees citadas (NWOKOLO et al 2003) mas haacute ensaios que apontam ga-nho ponderal com a presenccedila do microorganismo (BLASER
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ATHERTON 2004) Haacute ainda pesquisas que natildeo detectaram alteraccedilotildees dos niacuteveis de grelina associadas agrave infecccedilatildeo (OSAWA et al 2005)
A adiccedilatildeo de um potencial mediador no processo de ganho ponderal a H pylori produz as seguintes interrogaccedilotildees existe influecircncia da infecccedilatildeo pelo microorganismo sobre o peso cor-poral Haacute respostas diferenciadas segundo presenccedila ou ausecircn-cia de excesso ponderal previamente agrave infecccedilatildeo
Em face da ausecircncia de conclusotildees definitivas justifica-se a realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo que pretende estudar os efeitos da presenccedila de H pylori sobre o estado nutricional em pacien-tes atendidos pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS)
METODOLOGIA
Este eacute um estudo transversal de abordagem quantitativa e comparativa desenvolvido em uma unidade de sauacutede que atende pacientes do SUS A Unidade de Sauacutede foi escolhida com base na existecircncia ali de um Serviccedilo de Endoscopia Di-gestiva uma vez que a realizaccedilatildeo do exame endoscoacutepico eacute uma das estrateacutegias disponiacuteveis para diagnoacutestico da presenccedila de in-fecccedilatildeo pela H pylori
A populaccedilatildeo do estudo foi constituiacuteda por pacientes aten-didos pelo SUS e que buscaram o Serviccedilo de Endoscopia da Instituiccedilatildeo citada para realizaccedilatildeo de endoscopia digestiva alta
A amostra foi calculada considerando revisatildeo sistemaacutetica com metanaacutelise de Nweneka e Prentice (2011) que avaliaram estudos enfocando a temaacutetica a ser aqui abordada Para o caacutel-culo dentre os estudos englobados pelos autores citados fo-ram considerados os que tiveram pelo menos 50 pessoas em cada um dos dois grupos (H pylori positivo ou negativo) com
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um erro alfa = 005 e poder = 080 Assim a amostra prevista dependendo do estudo avaliado variou de 38 a 72 pessoas em cada grupo Opta-se pelo nuacutemero maior para conferir preci-satildeo agraves anaacutelises realizadas Assim a amostra ficou constituiacuteda por 144 pacientes a serem distribuiacutedos igualmente em cada grupo 72 pessoas H pylori positivo e 72 pessoas H pylori ne-gativo
Foram incluiacutedos indiviacuteduos (20 a 59 anos) de ambos os sexos e que estivessem sendo atendidos no Serviccedilo citado para realizaccedilatildeo de endoscopia digestiva alta Foram excluiacutedos pa-cientes portadores de neoplasia gaacutestrica pela possiacutevel influecircn-cia nos marcadores a serem avaliados que natildeo moravam na Capital pessoas que apresentavam sangramento digestivo aleacutem daquelas que faziam uso de medicaccedilatildeo agrave base de inibidor de bomba de proacutetons
A amostra final ficou constituiacuteda por 140 colaboradores sendo 62 H pylori positivos e 78 H pylori negativos
A coleta de dados ocorreu de julho2012 a maio2013 e abrangeu a realizaccedilatildeo de exames e entrevista para obtenccedilatildeo das informaccedilotildees como discriminado a seguir bull Identificaccedilatildeo dos participantes (nuacutemero de cadastro no hos-
pital nome sexo idade telefone ocupaccedilatildeo escolaridade renda mensal familiar e problemas de sauacutede auto-referidos)
bull Exame endoscoacutepico com bioacutepsiabull Antropometria (afericcedilatildeo de peso e altura)
Os pacientes compareceram em jejum absoluto de seis horas e de oito horas para produtos laacutecteos para a realizaccedilatildeo de endoscopia digestiva alta
Os participantes foram distribuiacutedos em dois grupos H pylori positivo (Hp +) e H pylori negativo (Hp -)
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O iacutendice de massa corporal - IMC (kgm2) dos pacientes foi determinado antes do iniacutecio do exame endoscoacutepico me-diante coleta de dados de peso e altura Para tal foi adotado protocolo de Alvarez e Pavan (1999) utilizando balanccedila antro-pomeacutetrica marca Balmak capacidade 200 kg com intervalo de 100g e 200m com intervalo de 10cm A partir do IMC o estado nutricional dos participantes foi categorizado segundo a WHO (1998)
Os dados foram tabulados para apresentaccedilatildeo em frequumlecircn-cias simples e percentual meacutedias e desvio-padratildeo ou medianas e intervalo interquartil sempre comparando os achados dos dois grupos de pacientes (Hp + e Hp -)
A anaacutelise estatiacutestica foi efetuada por via dos programas estatiacutesticos Epi InfoTM 7106 e SPSS (Statistical Program of Social Science) versatildeo 200 As variaacuteveis categoriais foram analisadas peloTeste Qui-quadrado Foi realizado Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov Com suporte neste foi utilizado o Teste t de Student para comparaccedilatildeo das meacute-dias ou de Mann-Whitney para comparaccedilatildeo das meacutedias dos postos Para todos os testes foi adotado p lt 005 como niacutevel de significacircncia
O projeto foi delineado conforme a Resoluccedilatildeo 1961996 do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 1996) que regulamenta o desenvolvimento de pesquisas com seres humanos O plano de estudo foi submetido e aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da Instituiccedilatildeo responsaacutevel pelo estudo sob nuacutemero 11582611-4 e a coleta de dados foi ini-ciada apenas apoacutes aprovaccedilatildeo por este orgatildeo Os participantes ainda segundo a Resoluccedilatildeo citada assinaram oTermo de Con-sentimento Livre e Esclarecido anuindo sua participaccedilatildeo no estudo
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RESULTADOS
Os entrevistados foram caracterizados quanto ao sexo a faixa etaacuteria a escolaridade a renda familiar mensal e cor (auto referida) cujos achados estatildeo expostos na Tabela 1
Dentre os 140 pacientes estudados 101 (721) eram mu-lheres e 39 (279) homens Em relaccedilatildeo agrave presenccedila da bacteacuteria H pylori 78 (557) eram Hp - e 62 (443) Hp + havendo 18 homens e 44 mulheres Hp + sem diferenccedila considerando o sexo (p = 0782) A idade meacutedia dos participantes foi 397 plusmn 120 anos sendo similar nos dois grupos
Em relaccedilatildeo agrave escolaridade a maioria dos entrevistados tinha de nove a 11 anos de estudo o que equivale a cursar o ensino meacutedio sem diferenccedila estatiacutestica (p = 0196) entre os dois grupos
A distribuiccedilatildeo dos entrevistados segundo a renda familiar foi determinada conforme a quantidade de salaacuterios-miacutenimos recebidos pela famiacutelia A renda familiar meacutedia geral foi de 24 plusmn 19 salaacuterios-miacutenimos sendo para homens e mulheres Tam-beacutem natildeo houve diferenccedila entre os dois grupos de pacientes (p = 0836)
A distribuiccedilatildeo dos pacientes segundo a cor presenccedila da bacteacuteria e o sexo indicou dados similares (p = 0665) como cor da pele classificada como lsquorsquooutrasrsquorsquo foram incluiacutedas negra parda e amarela
A situaccedilatildeo nutricional do grupo foi investigada conside-rando o Iacutendice de Massa Corporal (IMC)
O estado nutricional dos pacientes estudados determina-do pelo IMC e categorizado pela WHO (1998) revelou predo-miacutenio de pacientes com diagnoacutestico nutricional de sobrepeso tanto nos Hp - (29 ndash 372) quanto nos Hp + (22 ndash 355)
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como exposto na Tabela 2 Destacam-se duas mulheres (26) Hp - e um (16) homem Hp + com diagnoacutestico nutricional de magreza grau I Considerando os pacientes com excesso de peso (sobrepeso e obesidade) e sem excesso de peso (magreza grau I e eutrofia) verifica-se que natildeo houve diferenccedila significa-tiva entre os pacientes Hp ndash e Hp + (p = 0361) como mostra a Tabela 3
Considerando natildeo mais a categorizaccedilatildeo nutricional mas a meacutedia de IMC (Tabela 4) os pacientes negativos tanto do sexo feminino quanto do masculino exibiram meacutedia um pou-co maior poreacutem sem significacircncia estatiacutestica (p = 0208)
DISCUSSAtildeO
Abordando inicialmente os resultados dos testes da urea-se percebe-se que em 140 pessoas 443 eram positivas para a bacteacuteria Natildeo se trata de um estudo de prevalecircncia mas es-perava-se encontrar valores mais proacuteximos a outros realizados na regiatildeo pois os pacientes ingressaram no estudo ao acaso Os achados tambeacutem se encontram abaixo dos percentuais encontrados em paiacuteses em desenvolvimento mas coincidem com os dos paiacuteses desenvolvidos (World Gastroenterology Or-ganization - WGO 2010)
Em relaccedilatildeo a dados epidemioloacutegicos brasileiros tambeacutem em Fortaleza a prevalecircncia da infecccedilatildeo pela H pylori foi ava-liada em 610 moradores de uma comunidade urbana de baixa renda Restou evidente que 629 (384) tinham H pylori (RO-DRIGUES et al 2005) Os dados desse estudo foram coletados em 2000 e 2001 podendo ter havido mudanccedila no quadro en-contrado agravequela eacutepoca
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A utilizaccedilatildeo do serviccedilo de endoscopia foi significativa-mente maior pelas mulheres (721) confirmando indica-dores de que as mulheres buscam mais os serviccedilos de sauacutede (FERNANDES BERTOLDI BARROS 2009 TOMASI et al 2011)
Ainda com relaccedilatildeo ao sexo Nogara Frandoloso e Re-zende(2010) natildeo encontraram diferenccedila significativa entre os pacientes com H pylori (RP = 24 IC 95 = 079 ndash 719 p = 0165) Segundo McCallion et al (1995) e Kodaira Escobar e Grisi (2002) a infecccedilatildeo eacute igualmente encontrada em homens e mulheres o que foi confirmado neste estudo
Em relaccedilatildeo agrave escolaridade da populaccedilatildeo a maioria (551) apresentou niacutevel de escolaridade de 9 a 11 anos de estudos Segundo dados da PNAD (BRASIL 2011) o nuacutemero meacutedio de anos de estudos no Brasil eacute de 7 e 73 anos para homens e mulheres respectivamente ao passo que no Nordeste estes nuacutemeros caem para 56 e 64 anos Portanto os dados encon-trados foram um pouco melhores quando comparados com os anos de estudo no Nordeste e no Brasil Para Vergueiro et al (2008) o fator de maior significacircncia para a aquisiccedilatildeo de H pylori foi a escolaridade sugerindo que os haacutebitos higiecircnicos e comportamentais possam ser determinantes da infecccedilatildeo A alta escolaridade em ambos os sexos observada no estudo atual sugere que pode ter influenciado a baixa prevalecircncia da bac-teacuteria
Houve predominacircncia de pacientes com a cor da pele classificada como lsquorsquooutrasrsquorsquo (436) que incluiacutea negras pardas e amarelas seguida pelos de cor morena (422) Este quadro estaacute em certo acordo com dados da PNAD (BRASIL 2011) so-bre o Nordeste onde satildeo apontados 289 de brancos 105 de pretos 598 de pardos e 08 amarelos
244
Finalmente analisando a distribuiccedilatildeo por sexo faixa etaacute-ria anos de estudo renda familiar e cor detecta-se que os gru-pos natildeo diferiram mostrando uma homogeneidade que facili-ta a interpretaccedilatildeo dos achados relativos ao estado nutricional
Revisatildeo da epidemiologia da infecccedilatildeo pela H pylori en-controu menor prevalecircncia do microorganismo em pessoas de etnia branca (KODAIRA ESCOBAR GRISI 2002) O meca-nismo responsaacutevel por esta diferenccedila natildeo pode ser atribuiacutedo somente agraves condiccedilotildees socioeconocircmicas ou ao modo de vida Graham e colaboradores (1991) relataram uma diferenccedila na prevalecircncia segundo raccedila mesmo apoacutes ajuste por fatores so-cioeconocircmicos Sendo assim pode-se presumir que fatores ge-neacuteticos determinantes de uma susceptibilidade diferente para os grupos eacutetnicos podem ter relevacircncia
Em relaccedilatildeo ao estado nutricional nota-se que a maioria dos pacientes tanto Hp - (603) quanto Hp + (678) expres-saram excesso ponderal sem diferenccedila entre os grupos (Ta-belas 3) Os valores encontrados se situaram acima dos dados apontados no uacuteltimo levantamento nacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) por uma Pesquisa de Orccedilamentos Familiares 2008-2009 (IBGE 2010) que apontou 49 de excesso de peso na populaccedilatildeo brasileira acima de 20 anos de idade
Eacute possiacutevel que um estudo com amostra mais robusta aponte maior presenccedila de excesso ponderal entre os Hp + uma vez que a proporccedilatildeo de portadores de excesso de peso foi elevada em ambos os grupos podendo impedir uma com-provaccedilatildeo a diferenccedila entre eles Por outro lado Ioannou et al (2005) em um estudo de base populacional que incluiu 6724 participantes adultos da terceira National Health and Nutri-tion Examination Survey demonstraram que a presenccedila de H
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pyloriCagA natildeo estava associada com obesidade [odds ratio ajustado (OR) 12 95 CI 09ndash16 comparando (++) com (minusminus) e OR ajustado 11 95 CI 08ndash15 comparando (+minus) com (minusminus)] nem com sobrepeso [OR ajustado 10 95 CI 07ndash12 comparando (++) com (minusminus) e OR ajustado 10 95 CI 08ndash13 comparando (+minus) com (minusminus)]
Contrariamente em estudo de Wu et al (2005) com 414 pacientes com obesidade moacuterbida e 683 controles a prevalecircn-cia da infecccedilatildeo por H pylori foi mostrada ser significativamen-te mais elevada em pacientes magros do que em obesos e os autores concluiacuteram que a ausecircncia de H pylori pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de obesidade Os da-dos desse estudo epidemioloacutegico natildeo satildeo forte argumento para essa hipoacutetese pois natildeo foram correlacionados com padrotildees de higiene e socioeconocircmicos e esses como citado anteriormen-te satildeo tambeacutem conhecidos por mostrarem uma relaccedilatildeo com o estado nutricional e obesidade (NAGEL et al 2007 SANTOS EBRAHIM BARROS 2008)
Revisatildeo de literatura indicou que a hipoacutetese de H pylori como um protetor contra a obesidade natildeo tem base cientiacutefica soacutelida (WEIGT MALFERTHEINER 2009)
Em contrapartida aumentos modestos de peso e IMC satildeo relatados apoacutes a erradicaccedilatildeo da H pylori Em um estudo japo-necircs houve pequeno (lt 05kgmsup2) mas significativo aumento do IMC apoacutes um ano de sucesso da erradicaccedilatildeo da H pylori (n = 421) mas natildeo registrou alteraccedilatildeo no IMC apoacutes fracasso de tratamento (n = 158) (FURUTA et al 2002) Realizou-se um estudo na Europa tambeacutem investigando o impacto da er-radicaccedilatildeo da H pylori no IMC e encontrou-se que a meacutedia do IMC aumentou de 275 kgmsup2 para 278kgmsup2 apoacutes 6 meses no grupo de intervenccedilatildeo em comparaccedilatildeo com o aumento de 270
246
kgmsup2 para 272kgm2 no grupo placebo e a diferenccedila ajustada entre os grupos foi estatisticamente significativa de 02 kgm2 (95 CI 011 031) (LANE et al 2011)
CONCLUSAtildeO
Pode haver um impacto de marcadores bioquiacutemicos como a leptina e grelina aqui citadas e mesmo estas podem ser influenciadas de forma diferente de acordo com o perfil da populaccedilatildeo estudada Haacute ainda muitas indagaccedilotildees a serem res-pondidas e mais estudos satildeo necessaacuterios principalmente ori-ginados em distintas regiotildees ajudando a compor um quadro mais detalhado e aprofundado das inter-relaccedilotildees
Fica a proposta de continuar a investigaccedilatildeo acompanhan-do maior nuacutemero de pacientes verificando efeitos da erradica-ccedilatildeo da infecccedilatildeo realizando dosagens de marcadores bioquiacutemi-cos de apetite para citar apenas algumas das lacunas a serem preenchidas e suscitadas por este estudo
A infecccedilatildeo pela H pylori natildeo influenciou o estado nutri-cional no grupo populacional avaliado
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Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo dos pacientes avaliados segundo anos de estudo e renda familiar e presenccedila de Helicobacter pylori e sexo Fortaleza 2013
Anos de estudo
Negativo Positivo
Total
n ()Teste1
Mascu-
lino
n ()
Femini-
no
n ()
Total
n ()
Mascu-
lino
n ()
Feminino
n ()
Total
n ()
le 8 9 (428) 14 (246) 23 (295) 6 (333) 21 (477) 27 (435) 50 (357)
χ2 = 326
p = 01969 ndash 11 11 (524) 32 (561) 43 (551) 9 (500) 20 (455) 29 (468) 72 (514)
ge12 1 (48) 11 (193) 12 (154) 3 (167) 3 (68) 6 (97) 18 (129)
Renda Familiar (SM) 3
lt1 0 (0) 2 (35) 2 (26) 0 (0) 2 (45) 2 (32) 4 (29)
χ2 = 145
p = 0836
1-3 13 (619) 41 (719) 48 (615) 10 (556) 27 (613) 43 (694) 91 (650)
3-5 7 (333) 5 (88) 22 (282) 4 (222) 13 (295) 13 (210) 35 (250)
ge 5 1 (48) 7 (123) 4 (51) 3 (136) 1 (23) 2 (32) 6 (42)
NS2 0 (0) 2 (35) 2 (26) 1 (56) 1 (23) 2 (32) 4 (29)
Cor (auto referida)
Branca 3 (143) 10 (175) 13 (167) 2 (111) 5 (114) 7 (113) 20 (143)
χ2 = 082
p = 0665Morena 10 (476) 22 (386) 32 (410) 9 (500) 18 (409) 27 (436) 59 (421)
Outras 8 (381) 25 (439) 33 (423) 7 (389) 21 (477) 28 (451) 61 (436)
Total 21 (1000)57
(1000)78 (1000) 18 (1000) 44 (1000) 62 (1000) 140 (1000)
1p lt 005 como niacutevel de significacircncia 2NS = Natildeo sabe 3SM = Salaacuterio-Miacutenimo (R$ 67800)