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Reordenando a História: aproximação ao Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte 1 Márcio Ricardo Coelho Muniz – UEFS 1. Dentre as obras conhecidas de D. Duarte – segundo rei da dinastia portuguesa de Avis, que governou entre 1433-1438 -, os historiadores e críticos da literatura têm dedicado particular atenção ao Leal conselheiro, um tratado de filosofia moral e política; e ao Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela, um tratado de equitação. O Livro dos conselhos ou Livro da Cartuxa, como também é conhecido 2 , vem ocupando um segundo plano nos estudos literários, ou sendo apenas referido como obra duartina ou merecendo comentários laterais, que mais nublam do que revelam a sua importância no conjunto dos livros de D. Duarte. Poder-se-ia apontar aqui alguns dos motivos prováveis da preterição: a inexistência até bem pouco tempo de uma edição que facilitasse o acesso à totalidade da obra 3 , a publicação dispersa de vários de seus textos em livros de 1 Este trabalho apresenta resultado parcial de uma pesquisa que venho desenvolvendo acerca do Livro dos conselhos de El-Rei D. Duarte. Para além deste texto, já foram apresentadas duas outras comunicações sobre a mesma pesquisa: uma, “Leituras do Livro dos Conselhos de El-Rei Dom Duarte”, no X Congresso da Associação Hispânica de Literatura Medieval, em Setembro de 2003, na Universidade de Alicante, Espanha (título mudado para publicação nas Atas do Congresso para: “Leal conselheiro e Livro dos Conselhos de El-Rei Dom Duarte: diálogos”); outro, “Reordenando a História: uma aproximação ao Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte”, no Simpósio Internacional: Literatura e História, em Outubro de 2003, na Universidade do Porto, Portugal. Tal como esta, este texto foi publicado em Românica: revista de Literatura, Lisboa, v. 14, p. 159-178, 2005, ISSN: 0872675. 2 Como o mais antigo testemunho hoje conhecido do Livro dos conselhos, o A.N./TT ms. da Livraria n. 1928, é uma cópia proveniente do convento da Cartuxa de Scala Coeli, em Évora, o tratado duartino vem sendo denominado pela crítica especializada simplesmente como Livro da Cartuxa. Visando à concisão, a partir desse ponto, o Livro dos conselhos será referido como LCart. 3 Enquanto do Leal conselheiro e do Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela foram feitas duas edições no século XIX, após a descoberta do manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris, códice «Portugais 5», e outras tantas ao longo do séc. XX, algumas delas edições críticas, como as levadas a cabo por Joseph-Maria Piel, de 1942 e de 1943, respectivamente, e por Maria Helena Lopes de Castro, do Leal conselheiro, de 1998; a primeira edição completa do Livro dos conselhos, uma edição diplomática, só saiu a público nas últimas décadas do séc. XX. Cf. Duarte: 1982.

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Reordenando a História: aproximação ao Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte1

Márcio Ricardo Coelho Muniz – UEFS

1.

Dentre as obras conhecidas de D. Duarte – segundo rei da dinastia

portuguesa de Avis, que governou entre 1433-1438 -, os historiadores e críticos da

literatura têm dedicado particular atenção ao Leal conselheiro, um tratado de

filosofia moral e política; e ao Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela, um

tratado de equitação. O Livro dos conselhos ou Livro da Cartuxa, como também é

conhecido2, vem ocupando um segundo plano nos estudos literários, ou sendo

apenas referido como obra duartina ou merecendo comentários laterais, que mais

nublam do que revelam a sua importância no conjunto dos livros de D. Duarte.

Poder-se-ia apontar aqui alguns dos motivos prováveis da preterição: a

inexistência até bem pouco tempo de uma edição que facilitasse o acesso à

totalidade da obra3, a publicação dispersa de vários de seus textos em livros de

1 Este trabalho apresenta resultado parcial de uma pesquisa que venho desenvolvendo acerca do Livro dos conselhos de El-Rei D. Duarte. Para além deste texto, já foram apresentadas duas outras comunicações sobre a mesma pesquisa: uma, “Leituras do Livro dos Conselhos de El-Rei Dom Duarte”, no X Congresso da Associação Hispânica de Literatura Medieval, em Setembro de 2003, na Universidade de Alicante, Espanha (título mudado para publicação nas Atas do Congresso para: “Leal conselheiro e Livro dos Conselhos de El-Rei Dom Duarte: diálogos”); outro, “Reordenando a História: uma aproximação ao Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte”, no Simpósio Internacional: Literatura e História, em Outubro de 2003, na Universidade do Porto, Portugal. Tal como esta, este texto foi publicado em Românica: revista de Literatura, Lisboa, v. 14, p. 159-178, 2005, ISSN: 0872675. 2 Como o mais antigo testemunho hoje conhecido do Livro dos conselhos, o A.N./TT ms. da Livraria n. 1928, é uma cópia proveniente do convento da Cartuxa de Scala Coeli, em Évora, o tratado duartino vem sendo denominado pela crítica especializada simplesmente como Livro da Cartuxa. Visando à concisão, a partir desse ponto, o Livro dos conselhos será referido como LCart. 3 Enquanto do Leal conselheiro e do Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela foram feitas duas edições no século XIX, após a descoberta do manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris, códice «Portugais 5», e outras tantas ao longo do séc. XX, algumas delas edições críticas, como as levadas a cabo por Joseph-Maria Piel, de 1942 e de 1943, respectivamente, e por Maria Helena Lopes de Castro, do Leal conselheiro, de 1998; a primeira edição completa do Livro dos conselhos, uma edição diplomática, só saiu a público nas últimas décadas do séc. XX. Cf. Duarte: 1982.

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caráter compilatório e a presença, do mesmo modo, de alguns deles no mais

conhecido dos tratados de D. Duarte, o Leal conselheiro4. Todavia, o motivo

principal para explicar a pouca atenção dispensada ao LCart certamente diz

respeito à própria constituição desta obra duartina.

Quando a indicamos como de D. Duarte estamos, em realidade,

reconhecendo no rei o motivador, um compilador, não o autor no sentido corrente

do termo. O LCart é antes de tudo um livro de apontamentos5, uma recolha de

anotações próprias e testemunhos de outrem, acerca de assuntos diversos, que o

monarca registrava ou mandava registrar «em um seu livro, que comsigo sempre

trazia, de cousas familiares e especiaes», conforme testemunho de seu cronista,

Rui de Pina6. Para além disso, o LCart não possui um assunto específico ou

ordenador. Temas os mais diversos compõem seu conteúdo: registros de

requerimentos e decisões tomadas em Cortes; anotações para o ordenamento da

casa, da capela ou dos despachos reais; conselhos sobre empresas militares;

memórias de coisa acontecidas e de datas importantes, como as dos nascimentos

dos filhos; respostas a conselhos solicitados aos grandes senhores do reino;

transcrição de mezinhas para os mais variados males, desde dor de dente até a

peste; notas sobre questões econômicas, como o valor das moedas ou da mão-

de-obra na construção civil, entre outros temas.

De ordenamento difícil, embora não impossível, e sem um fio temático

condutor, o LCart acabou por ser preterido no campo dos estudos duartinos, sem

todavia deixar de ser referido com certa constância, inclusive por conter alguns

dos mais interessantes documentos para o estudo do séc. XV português,

momento importante do início da dinastia que fará de Portugal um império. Como

4 Na primeira exposição de resultados da pesquisa que desenvolvo sobre o Lcart analisei exatamente a relação deste com o Leal conselheiro, apontando e comentando os textos comuns às duas obras. Cf. MUNIZ: “Leal conselheiro e Livro dos Conselhos de El-Rei Dom Duarte: diálogos”. In: Actas do X Congresso da Associação Hispânica de Literatura Medieval. Universidade de Alicante: Alicante, /no prelo/. São estes os 16 textos do LCart presentes, total ou parcialmente, em, pelo menos, 19 dos capítulos do Leal conselheiro (no elenco a seguir os números entre colchetes correspondem ao LCart; os outros, ao Leal conselheiro): [1] ⇒ 11; [3] ⇒ 24; [7] ⇒ 39; [18] ⇒ 98; [24] ⇒ 1 e 8; [29] ⇒ 94; [30] e [66] ⇒ 99; [34] ⇒ 39 e 40; [55] ⇒ 96; [57] ⇒ 97; [59] ⇒ 93; [63] ⇒ 92; [72] ⇒ 100; [80] ⇒ 95 e 54; [97] ⇒ 101 e 102. 5 A expressão é do editor moderno do Lcart. Cf. DIAS: 1982, p. XIII. 6 PINA: 1901, p. 32.

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bem disse o historiador português A. H. de Oliveira Marques, «quase se poderia

refazer a nossa visão da época [o início do séc. XV] utilizando como fonte

exclusiva o Livro da Cartuxa»7.

Neste ensaio, pretendo analisar as “leituras” do Lcart realizadas nos

séculos XVII e XVIII. Tomo a expressão “leitura” não para referir a estudos sobre a

obra, mas sim a interpretações desta que se pode inferir por meio das cópias que

foram feitas ao longo desse período. De modo geral, as cópias feitas nos séculos

XVII e XVIII, em alguns casos, excluem e, em outros, reordenam os textos do

Lcart, apontando para uma leitura crítica e, de certa forma, ideológica do copista

ou de seu mandatário. Essas cópias, para além das interpretações que

possibilitam inferir, são prova também de que o lugar que o Lcart ocupa hoje em

dia nos estudos duartinos é bem distinto do que já ocupou no passado. Enquanto

as duas outras obras duartinas, o Leal conselheiro e o Livro da ensinança de bem

cavalgar toda sela, permaneceram desconhecida do leitor português até meados

do séc. XIX - só a partir da descoberta do códice parisiense Portugais 5 foram

feitas edições e estudos, como já referi -, o Lcart despertou interesse dos

intelectuais dos séculos XVI, XVII e XVIII, o que resultou nos diversos manuscritos

hoje conhecidos, para além de indicações e transcrições de muitos de seus textos

em obras de caráter compilatório publicadas nos séculos XVII e XVIII8.

7 MARQUES: 1982, p. VII. 8 No séc. XVII, João Franco Barreto (1600-1674) dá notícia de 17 textos do Lcart, sem transcrevê-los, tudo indicando ter consultado o manuscrito eborense. Cf. BARRETO: s/d, p. [368]-[369]. No séc. XVIII, Diogo Barbosa Machado (1682-1772), provavelmente apoiado na obra de Barreto, dá notícias de 10 textos do Lcart. Cf. MACHADO: 1741 (reimp. 1965): p. 719-721. Ainda no mesmo século, em suas Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, t. 1, livro 3, Caetano de Sousa transcreve parcial ou integralmente 17 textos do Lcart. Cf. SOUSA: 1739 (reimp. 1947). Nos séculos seguintes, textos do Lcart continuaram sendo transcritos em obras de caráter compilatório ou que tomaram os escritos duartinos como fonte histórica. Num levantamento parcial, detectei que, de um total de 97 textos de que se compõe o LCart, quase três dezenas foram publicados desde a pioneira edição de Caetano de Sousa até os nossos dias. A seguir, identifico estas obras e, entre colchetes, os textos do LCart presentes nelas, segundo a numeração da edição moderna da obra: SOUSA: 1739 (reimp. 1947): [14], [18], [21], [22], [24], [27], [28], [29], [30], [43], [44], [45], [46]; [47], [48], [49] e [54]; RIBEIRO: 1860: [4] e [5]; BRAGA: 1892: [54]; PINA: 1901: [6], [9] e [11]; MARTINS: 1926: [4], [5], [8], [10] e [13]; Documentos sobre a Expansão Portuguesa: 1945: [4], [6], [8], [9], [10], [20], [21] e [22]; DINIS: 1954: [64]; Monumenta Henricina: 1962: vol. 4: [6], [8], [9], [10], [11] e [64]; Monumenta Henricina: 1962: vol. 5: [18] e [20]; Monumenta Henricina: 1962: vol. 6: [21], [22] e [49]; SANTOS: 1960: [6], [8], [9], [10], [20], [21] e [22]; Chartularium Universitatis Portugalensis: 1969: [4]; ROQUE: 1979: [90]; NASCIMENTO: 1993: [54]; ARAGÃO: s/d: [23], [38] e [39].

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2.

São seis as cópias do Lcart datadas no espaço temporal desses dois

séculos. Muito embora algumas delas tenham como fonte direta outra cópia, pode-

se afirmar que a fonte matriz de todas seja o testemunho apógrafo mais antigo

que se conhece do Lcart, o manuscrito do Arquivo Nacional da Torre do Tombo –

o ms. da Livraria n. 1928, proveniente do convento da Cartuxa de Scala Coeli, em

Évora -, datado de fins do séc. XVI, início do XVII9. Este manuscrito - a partir do

qual foi feita a edição diplomática – é composto por um índice, seguido por 97

textos. Os textos no índice não estão numerados. A numeração que hoje se

conhece e a qual irei referir foi dada pelo editor moderno (Cf. Anexo I). Entretanto,

os textos no corpo do livro estão ordenados de acordo com o índice.

Duas das cópias conhecidas não serão aqui analisadas: o ms. BN. COD.

3390 e o BM. Santarém, 31-7-10, ambos do séc. XVIII. O motivo da exclusão é o

fato de estas cópias serem fiéis ao manuscrito fonte, ou seja, reproduzem

integralmente, da primeira à última linha, o AN/TT ms. da livraria n. 1928, não

permitindo vislumbrar uma interpretação da obra. Já as outras quatro cópias -

duas de séc. XVII, duas do XVIII - possibilitam a partir da análise de sua

organização, em que se constatam exclusões e reordenamentos, observar uma

leitura crítica da obra. O presente estudo tomará essas quatro cópias como objeto

de análise.

Uma delas foi descoberta recentemente por Isabel Dias10. Esta cópia,

conforme indica Dias, compõe a segunda parte do COD. 13179 da Biblioteca

Nacional, que guarda o Compêndio de varias obras de Authores Portugueses

collegidas por Manoel Seuerim de Faria chantre na Santa Seè de Éuora, e data de

1613. Ainda segundo a pesquisadora, este códice é cópia de outro testemunho

existente na Biblioteca Nacional de Lisboa do Livro dos conselhos, o BN. PBA.

147, também este datado do século XVII.

9 Cf. DIAS: 1982, p. XIV. 10 DIAS, Isabel. «Uma cópia desconhecida do Livro dos Conselhos de D. Duarte», em Românica: Revista de Literatura. Lisboa: Cosmos /no prelo/. Agradeço a autora o franquear-me uma cópia de seu texto, ainda em publicação.

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As duas cópias apresentam uma novidade em relação ao testemunho do

AN/TT, ms. da livraria n. 1928, fonte matriz das cópias: reordenam tematicamente

os textos da obra duartina, revelando uma organização distinta daquele. O

ordenamento explicita-se com a constituição nítida de quatro grandes grupos, três

deles encabeçados por títulos, presentes igualmente em ambos testemunhos: o

primeiro grupo, único sem título, reúne 37 textos, sendo dois repetidos, o [43] e o

[46], muito provavelmente por descuido do copista, por estes virem a seguir aos

seus companheiros no manuscrito fonte; o segundo tem como título “Ordenanças

delRei sobre as cousas domesticas” e reúne 12 textos; o agrupamento seguinte, o

maior de todos, possui 37 textos, sem repetições, sob o título “Medicina, Astrologia

e Mechanica”, sendo que os nove últimos estão subordinados ao subtítulo

“Mechanica”; o último e mais conciso compõe-se de nove textos, dependentes do

título “Obras do Infante D. Pedro” (Cf. Anexo II).

A diferença entre as duas cópias, para além das mãos dos copistas, está na

ordenação do índice de cada uma delas. O BN. COD. 13179 apresenta um índice

organizado alfabeticamente segundo o início do título de cada texto, sendo que do

terceiro e maior grupo não são indicados os títulos dos textos, mas sim três

entradas: uma subordinada ao título “Medicina”, correspondendo ao início do

grupo; outra, indicada pela palavra “Mechanica”, marcando o começo do sub-

grupo; e uma terceira entrada que traz o título do texto que tem como tema a

astrologia, o [53], “Como se pode usar a astrologia”. Vale dizer que muitos textos

dos outros grupos não estão anotados neste índice alfabético, e que não

identifiquei nenhuma motivação clara para isso, a não ser o descuido de quem o

ordenou. Já o códice pombalino 147 traz uma “taboada” em que estão indicados

quase todos os títulos dos textos segundo a ordem em que aparecem no corpo do

manuscrito, também com algumas omissões, justificáveis talvez pelo fato de

alguns desses textos não apresentarem demarcação clara no interior do códice,

muitas vezes confundindo-se com o corpo dos textos que os antecedem.

Ficaram de fora das duas cópias seiscentistas quatro dos 97 textos de que

se compõe o Livro dos conselhos: os [51], [86], [96] e [97]. A exclusão do texto

[51], “[Cargas de besta cavalar e asnal]”, pode ser explicado pelo fato deste

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compor-se de uma simples anotação quantitativa acerca das bestas cavalar e dos

asnos, sem sentido ou função clara, nem mesmo se o pusermos em diálogo com

os seus companheiros imediatos no testemunho da TT11. Já o texto [86], “Esta he

a mezinha que se ha de dar pera a pestenença”, poderia acompanhar o grupo

formado pelos textos [16], [69], [88], [89] e [90], que, dentro do grupo subordinado

ao título “Medicina, Astrologia e Mechanica”, constituem um pequeno apartado de

textos sobre a peste, iniciado com uma carta feita pelo Dr. Diogo Afonso sobre a

utilidade dos “poos do texugo” no tratamento do mal e concluído com trovas deste

mesmo doutor cujo tema é ainda a peste. O motivo mais provável da ausência

deve ser o simples esquecimento, embora se possa considerar que a exclusão

buscasse evitar a repetição, pois o texto [89] é também uma “mezinha” contra a

peste, ainda que algo distinto do [86]. Os dois últimos textos ausentes das cópias

seiscentistas possuem “contra” si o fato de ou serem acompanhados por figuras,

como é o caso do [97], “[Como se podem saber as horas]”, nem sempre fáceis de

reproduzir, ou por se constituírem por cifras, caso do [96], “Çifras d el rey dom

Eduarte”, também difíceis de serem copiadas e, além disso, muito provavelmente

indecifráveis já à época, como ainda o são hoje12.

Contra estas justificativas para a ausência dos textos [96] e [97] levanta-se

o testemunho fonte das cópias, o AN/TT, ms. da livraria n. 1928, contemporâneo

de ambas, no qual aqueles textos estão transcritos, com suas figuras e cifras.

Todavia, se aceitarmos como verdade a probabilidade de o mandatário desta

cópia, D. Teotónio de Bragança, ter tido acesso ao original duartino, privilegiando-

se de sua condição de nobre muito achegado à família real portuguesa, já que era

filho do 4° duque de Bragança e sobrinho do cardeal D. Henrique –último rei da

dinastia avisina -, podemos alegar certo rigor ou pudor do arcebispo de Évora em

11 Os companheiros imediatos do texto [51] - o [50], “Ditado per latym e lingoaJem d el rey pera outros prinçipes e senhores”, e o [52], “Memorias d alguas cousas que acontesceraõ em diuersos tempos” - tratam de questões absolutamente diversas deste, o que não nos permite entender o porquê de sua inserção entre eles, a não ser o fato de o Lcart tratar-se, em realidade, de um livro de apontamentos do rei, o que justificaria a (des)ordem. 12 Em comunicação apresentada no IV Colóquio da Seção Portuguesa da Associação Hispânica de Literatura Medieval, realizado na Universidade Nova de Lisboa, entre 23 e 25 de outubro de 2002, João Dionísio e Susana Pedro expuseram os resultados de seus esforços em decifrar as Cyfras del rey dom Eduarte. Os pesquisadores concluíram serem as cyfras, naquele momento, indecifráveis.

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mutilar, em sua cópia, o texto fonte, esforçando-se por mantê-lo tal qual estava no

original. Isto também se não se aventar a hipótese bastante provável de que esta

cópia mandada fazer por D. Teotónio não seja ela própria um ordenamento do

livro de apontamentos de D. Duarte, já que não sabemos como este estava

organizado originalmente, conhecendo apenas alguns dos textos que certamente

o compunham por estes terem também sido transmitidos por outra obra duartina, o

Leal conselheiro13.

Voltando às duas cópias seiscentistas, para além das exclusões e do

ordenamento subordinado a títulos, é perceptível uma leitura interpretativa dos

textos do Livro dos conselhos por parte de quem copiou ou mandou copiar o BN.

PBA. 147 - aceitando-se, com Isabel Dias, que este é o testemunho fonte do BN.

COD. 13179. Interno aos grandes grupos indicados podemos observar que os

textos foram aproximados uns dos outros segundo temas comuns, como o da

peste acima comentado. Algumas vezes torna-se difícil justificar a ordem

determinada, e, em alguns momentos, identificam-se erros de leitura dos textos,

como é o caso dos subordinados ao título “Obras do Infante D. Pedro”, entre os

quais estão os [56], [57], [59] e [61], atribuídos ao duque de Coimbra, muito

provavelmente por conterem nos títulos a palavra “Infante”, quando na realidade

são textos de D. Duarte, dois deles, inclusive, o [57] e o [59], transmitidos para

outra obra do rei, o Leal conselheiro, compondo ali os capítulos 97 e 93 dos

Adimentos, respectivamente. Cabe ressaltar que, muito embora apresente este

equívoco de atribuição, este agrupamento das obras do Infante D. Pedro já revela

algo de grande importância e que será retomado em outras cópias interpretativas,

qual seja, a cuidada valoração das obras e dos textos que se referem ao duque de

Coimbra e regente do reino, só superável pela atenção justamente dispensada às

obras próprias e/ou referidas ao rei D. Duarte.

Um último ponto relativo a essas cópias seiscentistas digno de registro é o

fato de que muito próximo do período em que D. Teotónio de Bragança mandou

13 Como esta hipótese, embora bastante provável, dependa de um estudo mais aprofundado do testemunho do AN/TT, ms. da livraria n. 1928 – estudo este previsto nas etapas da pesquisa que desenvolvo – para comprovação de sua validade, deixo para texto futuro sua discussão.

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fazer uma cópia do Livro dos conselhos, entre os anos de 1598 e 160214, que

corresponde ao testemunho mais antigo de que se tem conhecimento, dois outros

intelectuais, um deles conhecido - o chantre da Sé de Évora, Manuel Severim de

Faria -, interessaram-se pela mesma obra do segundo rei avisino. O interesse,

como se viu, foi além da cópia com fins de registro ou arquivamento histórico,

comuns à época e inseridos dentro do movimento de resistência cultural de um

reino dominado por uma nação estrangeira15. O estudo e a interpretação dos

textos do Livro dos conselhos que supôs a feitura das cópias, expressos

particularmente pelas exclusões e pelo reordenamento dos textos levadas a cabo

pelo copista ou por seu mandatário, revelam interesses maiores por esta obra

duartina. A discussão sobre os fatos motivadores dessas cópias terá, todavia, de

ser feita em trabalhos futuros, por ainda não possuir elementos básicos que me

permitam bem interpretá-los, como, por exemplo, saber quem foi o proprietário ou

mandatário da cópia do BN. PBA. 147. Por isto passo a comentar duas outras

cópias, desta feita, do século seguinte, que, da mesma forma, apresentam novo

ordenamento do Livro dos conselhos.

3.

O século XVIII legou-nos duas cópias manuscritas incompletas do livro de

apontamentos duartino: os manuscritos da Biblioteca da Ajuda, COD. 49-XI-68 e o

da Biblioteca Nacional, COD. 4446. Ambos, como os já comentados manuscritos

seiscentistas, dão nova ordem aos textos de D. Duarte. No estudo a que já me

referi, Isabel Dias faz detalhada descrição dos dois códices e afirma a

dependência do segundo em relação ao primeiro. Como afirma a pesquisadora, é

realmente “fácil”, após o exame dos códices, reconhecer que o da Biblioteca

Nacional é cópia do da Biblioteca da Ajuda. Todavia, eles não são iguais. A

14 Cf. DIAS: 1982, p. XIV. 15 Lembre-se que nesse período Portugal encontrava-se sob o domínio espanhol, justificando-se, como forma de resistência, a recuperação e revalorização de obras que de alguma forma tivessem relação com a fundação ou afirmação da cultura portuguesa, como era o caso das obras dos primeiros príncipes avisinos, iniciadores da última dinastia que, antes da dominação filipina, governara Portugal.

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pessoa que copiou ou mandou copiar o BA. COD. 49-XI-68 dispôs os textos de

modo diverso, revelando interpretação distinta daquele que organizou seu

testemunho fonte (Cf. Anexo II). Resumo o conteúdo de ambos e, em seguida,

comento sua organização.

O manuscrito da Biblioteca da Ajuda está em péssimo estado de

conservação, do que decorre ser muito difícil seu estudo. Em alguns fólios restam

apenas algumas palavras por meio das quais, com algum esforço, se pode inferir

o texto a que pertencem. Não apresenta título, nem índice. É possível, todavia,

afirmar que ele se compõe de 38 textos: 37 pertencentes ao Livro dos conselhos,

sendo que o texto [43] está subdividido, em ordem inversa ao do texto do

manuscrito da Torre do Tombo, e o [16] está incompleto; e, além destes, há ainda

um texto estranho à obra duartina, como nós a conhecemos, uma “Carta do

Infante D. Henrique para el Rey”, seu pai, tratando de temas do cotidiano da vida

na corte, sobre a qual não consegui até o momento nenhuma outra informação.

Este códice traz também, em seu início, uma “Advertência”, anônima, em

que se condena a forma como foi feita a cópia, revelando que o copista não

observou regras previamente estabelecidas de iniciar cada texto em “caderno”

distinto e afirma-se, então, que antes de se enviar para impressão será necessário

corrigir os erros, acrescentar o índice, o título e a dedicatória, além de informações

sobre a vida do cronista, provavelmente Rui de Pina, pois ao que tudo indica o

plano de impressão incluía uma seleção de textos do Livro dos conselhos e a

crônica de D. Duarte, feita por aquele cronista16. O dado mais importante fornecido

por esta “Advertência”, como sublinha Dias, é o de revelar que “na primeira

metade do séc. XVIII houve quem pensasse pela primeira vez em editar [...] uma

selecção de textos do Livro da Cartuxa, bem como a Crónica de D. Duarte de Rui

de Pina, que ao tempo ainda andava manuscrita”17.

16 Este deve ser o motivo porque o guia dos Manuscritos da Ajuda: v. 1: 1966 dá a seguinte

indicação deste manuscrito: “49-XI-68 – Chronica de D. Duarte e D. Pedro f.os de D. João I [...]”, do que se pode inferir que a idéia de o códice trazer a crônica de D. Duarte não é só da mão que escreveu a Advertência. Isabel Dias, para além dos comentários sobre o códice, transcreve integralmente a “Advertência”. Cf. DIAS /no prelo/. 17 DIAS: /no prelo/, p. 12.

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Os 37 textos do Livro dos conselhos estão ordenados de um modo

particular nesta cópia. A primeira coisa a se observar é que o manuscrito que lhe

serviu de base muito provavelmente tinha uma ordenação semelhante ao que hoje

se encontra na Torre do Tombo, se não tiver sido este mesmo a fonte, pois na

organização da cópia são perceptíveis seis agrupamentos de textos, sendo que os

cinco primeiros respeitam uma ordem crescente de acordo com a numeração

proposta pelo editor moderno do Lcart: [1-18], [20-22], [29-31], [55-56], [61-64] e

um grupo heterogêneo composto pelos textos [27], [54], [52], [49], [45], [43] e [35]

(Cf. Anexo III). Se se observa o conteúdo de cada um dos textos com intuito de

entender o que motivou sua aproximação, o primeiro e o segundo talvez sejam os

de mais difícil justificação, pois dentro deles há textos de considerações morais e

políticas feitas por D. Duarte; cartas diversas de conselheiros reais, tratando de

assuntos variados; cartas do próprio rei aos primos aragoneses, ao rei de Castela

e a seus irmãos, os infantes D. Pedro e D. Henrique; carta destes para o rei etc.

Esses textos parecem ter conformado, aos olhos de quem ordenou a cópia, um

grupo coeso, pois o copista apenas excluiu o texto [19], “Hua carta que não tem

autor e pareçe d algu religioso”, que se compõe de uma carta a uma senhora –

não se sabe se à rainha, pois ao fim a pessoa que escreve diz: “eu m encomendo

em as orações da Jfante” –, de autoria anônima, de tema aparentemente religioso,

ainda que de conteúdo enigmático, que claramente destoa de todos os outros

textos.

Os outros grupos possuem sentido mais claramente perceptível: o terceiro

tem como tema a escrita e a tradução, os textos [29] e [30] respectivamente, muito

embora esteja ali uma ordenança feita pelo Infante D. Pedro para sua casa, o

texto [31], para o qual só encontro justificativa de sua presença neste lugar e na

cópia manuscrita por ele vir em seguida àqueles dois outros textos no manuscrito

da Torre do Tombo e pelo destaque que os textos do duque de Coimbra, o Infante

D. Pedro, ou a ele referidos têm nas cópias ordenadas do Livro dos conselhos,

como já apontei. O quarto grupo trata das ordenações feitas por D. Duarte para os

serviços da capela; o quinto, reúne textos preocupados com temas religiosos; e o

último, embora seja constituído por textos diversos e agrupados sem o

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Modelos de organização: reflexões sobre o ordenamento do Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte (Livro da Cartuxa)

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ordenamento crescente que caracteriza os outros, aproxima nitidamente textos

que guardam dados e fatos históricos, anteriores e contemporâneos ao reinado

duartino, inclusive o famoso catálogo de sua livraria, o texto [54].

Como se vê, a constituição desta cópia orientou-se por uma cuidada e

seletiva recolha no interior do Livro dos conselhos. Guiou-a particularmente o

interesse pelos textos que revelassem aspectos históricos e administrativos do

reinado de D. Duarte e apresentassem elementos por meios dos quais se pudesse

melhor entender o cotidiano da vida do monarca e daqueles que o circundavam,

incluído aí a relação com a Igreja. Ficaram de fora alguns poucos textos que

poderiam ser somados aos pequenos grupos indicados e todos aqueles que as

cópias seiscentistas reuniram sob o título de “Medicina, Astrologia e Mechanica”,

opção exemplarmente comprovada pela incompletude do texto [16], de que se

guardou apenas a primeira parte da “Carta do doctor dioguo afonso pera el rey

sobre os pos de teixuguo que se tomão pera a peste”, eliminando-se sua segunda

parte, uma receita de como preparar os famosos pós. Como se nota, a

racionalidade que orientou o interesse cultural dos homens do século XVIII

expurgou a obra duartina de tudo que de mais cientificamente medieval ela

possuía.

4.

A outra cópia incompleta setecentista, o COD. 4446, que se guarda na

Biblioteca Nacional, tem claramente a da Biblioteca da Ajuda como fonte

exclusiva, como já o apontou Isabel Dias. A mais do que esta traz um título,

Conselhos de El Rey D. Duarte, e um índice relativamente bem organizado e que

demonstra que quem o redigiu leu com atenção cada um dos textos, apontando

com maior precisão o conteúdo dos mesmos, como, por exemplo, a indicativa de

que a carta que D. Duarte escreveu para o rei de Castela, o texto [15], é “sobre

hum musico”, ou que a carta escrita pela duquesa ao rei”, o texto [17], tem como

assunto “o que se tratou em hum Concelho” (Cf. Anexo IV), informações que não

estão presentes nos outros índices conhecidos do Livro dos conselhos. A

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Modelos de organização: reflexões sobre o ordenamento do Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte (Livro da Cartuxa)

12

quantidade de textos é a mesma de sua fonte, inclusive o texto da referida carta

do D. Henrique a seu pai, estranha à obra duartina. O copista ou quem a mandou

copiar provavelmente preocupou-se em atender aos conselhos implícitos na

“Advertência” que acompanhava o BA. COD. 49-XI-68 e acabou por nos legar uma

cópia melhor organizada e de mais fácil consulta.

Todavia, o que o BN. COD. 4446 efetivamente traz de novo é um outro

reordenamento dos textos duartinos. Embora mantendo-se fiel ao manuscrito que

toma como fonte, no que diz respeito aos textos, estabelece uma original

disposição que permite entrever distinta interpretação, muito provavelmente fruto

da leitura mais atenta dos textos. Numa tentativa de entender as motivações

temáticas que o orientaram, já que ele “baralha” a ordem crescente do manuscrito

da Biblioteca da Ajuda, é possível perceber o estabelecimento dos seguintes

grupos temáticos: um dedicado às considerações morais e políticas ([01], [02],

[07], [15] e [18]); outro, às reflexões sobre o empreendimento da conquista de

Tânger ([21-22]); outro, às orientações sobre a leitura e a tradução ([29-30]); e

outro com ordenações e observações de cunho religioso ([55], [63] e [64]). Estes

quatro primeiros grupos têm em comum o dado de apenas trazerem textos de

autoria de D. Duarte.

Para o quinto grupo, composto por uma carta de D. Duarte para D. Pedro

quando este partiu para Hungria ([03]) e pela resposta de D. Henrique ao pedido

de conselho feito por D. Duarte sobre a justiça em se fazer guerra aos mouros

([20]), não encontro justificativa. Apenas reconheço que ele destoa do conjunto

imediatamente anterior, já comentado, e, mais ainda, do posterior, um dos maiores

agrupamentos de textos reunidos em torno da figura singular do Infante D. Pedro.

Todos os oitos textos deste conjunto ([04], [05], [11], [14], [31], [56], [61] e [62]), de

algum modo, dizem respeito ou são interpretados como dizendo respeito ao duque

de Coimbra. São cartas ou conselhos de D. Pedro feitos para D. Duarte,

regimentos para o bom governo de sua casa e, como já ocorreu com os

manuscritos seiscentistas, três textos indevidamente atribuídos ao Infante D.

Pedro: o [56] por trazer no título a palavra Infante e ser acompanhado por outro, o

[55], de tema similar - o ordenamento das atividades dos capelães - no qual a

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palavra “rei”, referindo-se a D. Duarte, provocando assim o erro de atribuição por

hipercorreção; o [61], “Somario que o Infante deo ao Mestre Francisco para pregar

de D. Nuno Alvares Pereira”, que apresenta o mesmo equívoco, pois nele refere-

se a um infante, e não a um ei, sendo que no outro sumário para pregação de

exéquias, o [64], novamente se nomeia o rei D. Duarte; e, por fim, o [62], no qual

há um “eu” que ordena as esmolas a serem distribuídas na quaresma, mas que

não se nomeia, provocando, por proximidade, a atribuição ao Infante D. Pedro.

Os oitos textos do grupo seguinte ([06], [08], [09], [10], [12], [13], [16] e [17])

foram reunidos, ou aproximados, a meu ver, por serem todos cartas ou conselhos

dirigidos por pessoas diversas ao rei D. Duarte. Nele encontramos conselhos dos

condes de Arraiolo, de Barcelos, de Ourém, do Bispo do Porto e do Infante D.

João, e mais duas cartas, uma da duquesa de Borgonha e outra do Dr. Diogo

Afonso, incompleta, sobre os pós do teixugo. O último agrupamento mantém-se

exatamente igual ao testemunho da Biblioteca da Ajuda, muito provavelmente por

nenhum de seus textos revelarem afinidades com os novos grupos propostos pelo

copista do manuscrito BN. COD. 4446, e por no próprio conjunto ser possível

reconhecer um tema ordenador, como já indiquei.

Seja reflexo ou não das recomendações feitas pelo copista do ms. BA.

COD. 49-XI-68, na “Advertência”, esse reordenamento realizado por quem copiou

ou mandou copiar o BN. COD. 4446 demonstra uma leitura mais atenta dos textos

duartinos, o que permitiu, embora com alguns equívocos, uma mais correta

interpretação do conteúdo dos textos. Esta “leitura” se pode vislumbrar pelo

reordenamento feito e pela conseqüente aproximação, no conjunto da obra, de

textos antes distanciados no manuscrito que lhe serviu de fonte imediata, o da

Biblioteca da Ajuda, e que ele reorganiza. É possível perceber, nessa primeira

análise do manuscrito, que a nova ordem estabelecida foi acompanhada de um

critério que levou em conta o conteúdo de cada um dos textos.

Por outro lado, se acerto em apontar o critério temático como motivador do

reordenamento realizado, muito ainda falta por dizer sobre essas cópias, pois não

sabemos quem mandou realizá-las, quando as solicitou, com que objetivo etc. A

análise das cópias - com as seleções e as exclusões que apresentam - e da

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organização dos textos permite-nos, por enquanto, apenas observar que foram

questões político-administrativas do reinado de D. Duarte, com significativo

destaque para tudo aquilo que dizia respeito ao Infante D. Pedro – lembremo-nos

que o Infante foi regente do reino por aproximadamente uma década -, o que

orientou a seleção dos textos copiados. Quais foram os propósitos, a que utilidade

prática visavam, a quem se dirigiam os textos etc. só o aprofundamento das

investigações em torno dos manuscritos e do contexto que os criou poderá ajudar-

nos a responder.

De todas as formas, importa guardar de todo o dito o grande interesse que

despertou esta obra duartina nos séculos XVII e XVIII português - do que os

manuscritos aqui comentados são apenas alguns exemplos18 - e também que

aquele interesse foi, segundo os homens e o tempo, expurgando textos

naturalmente envelhecidos pelo desenvolvimento das ciências e, por outro lado,

valorizando outros de acordo com o momento histórico e político que se vivia. O

conhecimento disto certamente contribui para que se perceba e se afirme, hoje, a

importância histórica da obra de D. Duarte no panorama da cultura literária

portuguesa e, conseqüentemente, para que se estimule novas “leituras” do Lcart.

18 Cabe relembrar que, ainda no séc. XVIII, como já apontei, Caetano de Sousa, um dos principais membros da recém fundada Real Academia de Ciências, copia 17 textos do Lcart em suas Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Cf. nota 8, deste trabalho. Outros acadêmicos e intelectuais da época demonstraram interesse pelo Lcart, alguns deles revelados em cartas, discursos e pequenos estudos. Em texto futuro, pretendo discutir a seleção feita por Caetano de Sousa, as fontes de que se serviu, bem como o interesse que despertou o Lcart em outros intelectuais setecentistas.

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Modelos de organização: reflexões sobre o ordenamento do Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte (Livro da Cartuxa)

15

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BRAGA, Teófilo. História da Universidade de Coimbra. Lisboa: [s.e.], 1892. t.1.

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[s.e.], 1969, v. 3 (Também publicado em Biblos, Coimbra, n. 28, 1952, p. 33-

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DUARTE, Dom. Livro dos conselhos de El-Rei D. Duarte. Ed. diplomática de João

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GAMA, José. Filosofia da cultura portuguesa no Leal Conselheiro de D. Duarte.

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995.

MACHADO, Diogo Barbosa. Biblioteca Lusitana: história, crítica, cronológica. t. 1,

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Modelos de organização: reflexões sobre o ordenamento do Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte (Livro da Cartuxa)

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Manuscritos da Biblioteca da Ajuda. Lisboa, v. 1, 1966.

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ANEXOS

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18

ANEXO I:

Cópia do “Índice dos capítulos”, do Lcart, conforme aparece na edição diplomática, de 1982, feita pelo historiador João José Alves Dias. A numeração, a datação e os títulos presentes no Índice entre barras retas [ ] foram acrescentadas e estabelecidas pelo editor. A numeração dos textos segue a ordem presente no manuscrito da Torre do Tombo, AN/TT, Livraria n. 1928.

[Índice dos capítulos]

[I] O que esta neste liuro he o seguynte19

[01] Hu conselho d el rey dom duarte [1433-1438?] __________________________________ fo jª

[02] Ordenança dos tempos em que auja de despachar, e como, [1433] __________________ fo v

[03] Conselho d el rey pera o Jfante dom pedro, seu Jrmão, quando partio pera vngria. [1525]

__________________________________________________________________________ fo xvij

[04] Carta que o ifante dom pedro mandou a el rey dom duarte de bruxes [1426] _________ fo xxiiij

[05] Conselho do Jfante dom pedro que mandou a el rey sobre os prelados [1433?] ______fo xxxxj

[06] Conselho do Jfante dom. Yohão se se faria a guerra ou não aos mouros de benemarym [1432]

_______________________________________________________________________ fo xxxxiiij

[07] Crença que El Rei mandou per o Infante Dom Fernando ao Infante Dom Pedro seu irmão de

algumas cousas de que estava descontente. he muito boa cousa [1429] _________________ fo Li

Liuro da Cartuxa de Scala Coeli de que o Illustrissimo e Reverendissimo senhor D. Theotonio de

Bargança [sic] Arcebispo de Ebora fundador da mesma casa lhe fes doação.

[I v.°]

[08] Hua carta do Conde de Arrayolos sobre conselho [1433] _________________________ fo Lix

[09] Conselho do Conde de Barcellos [1433] _____________________________________ fo Lxix

[10] Conselho do conde de Ourem [1433] ______________________________________ fo Lxxiij

[11] Carta e conselhos do Jfante D. Pedro a ElRey seu irmaõ quando foy aleuantado por Rey

[1433] _________________________________________________________________ fo Lxxviiij

[12] Conselho do Conde de Barcellos pera que se espaçasem as cortes, e he muyto bom [1433]

_______________________________________________________________________ fo Lxxxiiij

[13] Conselho do Bispo do Porto [1433] _______________________________________ fo Lxxxvij

[14] Carta do ifante dom pedro sobre hu liuro que el El Rey mandou tornar em lingoaJem [1434]

_______________________________________________________________________fo Lxxxxiij

[15] Carta feita per el rey dom duarte pera el Rey de Castela he muyto graçiosa [1438] _____fo xcv

[II]

[16] Carta do doctor Diogo Afonso pera el rey sobre os pos de teixugo que se tomão para a peste

[1436-1438] ______________________________________________________________ fo xcviiij

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19

[17] Carta da Duquesa pera el rey [1435] _________________________________________ fo ciij

[18] Da maneira que el rey dom duarte e os ifantes seus Jrmãos se aujão com el rey dom Yohão

seu pay, pareçe cousa feita per o mesmo rey dom duarte, e he muyto boa, e pera folgar de uer

[1435] ____________________________________________________________________ fo cvij

[19] Hua carta que não tem autor e pareçe d algu religioso [1436] ____________________ fo cxxv

[20] Conselho do Ifante D. Henrique se era bem fazer guerra aos mouros de belamarym [1436]

________________________________________________________________________ fo cxxvj

[21] Conselho special d el rey dom eduarte ao Jfante Dom Henrique seu Jrmão quando foy sobre

TanJer. [1437] ____________________________________________________________ fo cxxxij

[II v.°]

[22] As razões por que se el Rey demoveo fazer guerra aos mouros [1437] _______________ foclij

[23] Carta de bertolameu gomez pera el rey sobre a valya do marco d ouro e prata, e outros

metães [1436] ______________________________________________________________ fo clvj

[24] Repartiçaõ do entendimento feyto per el rey. [1433-1438] _________________________ fo clx

[25] Aviso que da frei Gil Lobo [1436] ____________________________________________ fo clxi

[26] Detriminação de frei gil lobo que cousa seJa pedaco mortal [1436] _________________ fo clxij

[27] Naçença dos filhos d e rey dom duarte [[1435-1436] ____________________________ fo clxiij

[28] Regymento da lua nova [i.] ________________________________________________ fo clxiij

[29] Da maneira que se deuem ler os livros pera nos aproueytar [i.] ___________________ fo clxiiij

[30] Como se tornara bem d hua lingoaJem em outra qualquer cousa. feito per el rey [i.] ___fo clxvj

[III]

[31] Regimento que fez o Jfante dom pedro pera sua casa ser bem gouernada [1431] _____fo clxvij

[32] Como se fazem sem abobada as çisternas em Italia [i.] __________________________ fo clxx

[33] [opiniaõ do Mestre Guedelha] [i.] ___________________________________________ fo clxxj

[34] O que tomamos. da terra. do leyte. dos parentes, planetas senhores e amigos. feito per el rey

[1433-1438] _______________________________________________________________ fo clxxj

[35] Faulhas que cayram em Santarem. [1431] ___________________________________ fo clxxj

[36] Peso do leães. [1436] ___________________________________________________ fo clxxj

[37] Lavramento do cobre, e o custo que faz. [1436] ______________________________ fo clxxij

[38] Ligas de bolhões em moedas Correntes. [1436] ______________________________ fo clxxiij

[39] Ligas e pesos d ouro amoedado [1423] _____________________________________ fo clxxiiij

[40] O que podem fazer de parede dous obreiros em hu dia, e o custo que faz [i.] _______ fo clxxvij

[41] Medidas das casas da syntra. [i.] _________________________________________ fo clxxviij

[42] O que se da as pessoas que vam alem [1437-1438] ___________________________ fo clxxx

19 À margem esquerda: “Livro de conselhos etcetera D El Rey D. Duarte”.

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[III v.°]

[43] Cousas de que el rey dom duarte foy requerido nas primeyras cortes que fez em Santarem

[1433-1434] ______________________________________________________________ fo clxxxj

[44] O que ha de ter hu bom capitão [i.] ________________________________________ fo clxxxiij

[45] Alguas lembranças que el rey dom duarte mandou fazer pera o que compria a seruiço de sua

casa [1433?] ____________________________________________________________ fo clxxxiij

[46] [Valor dos maravedis velhos] [i.] ______________________________________ [fo clxxxiiij v°]

[47] Cores das pedras que se açharão nos vieiros [i.] ____________________________ fo clxxxiiij

[48] A maneira que se tinha em dar os casamentos d homens baixos em casa d el rei e dos Jfante

[i.] ____________________________________________________________________ fo clxxxiiij

[49] Soma da gente que cada hu dos Jfantes trazia d ordenado, e fora do ordenado [-1437]

_______________________________________________________________________ fo clxxxiiij

[50] Ditado per latym e lingoaJem d el rey pera outros prinçipes e senhores [1433-1437] fo clxxxviiij

[51] [Cargas de besta cavalar e asnal] [i.] ____________________________________ [fo ccviij v°]

[IV]

[52] Memorias d alguas cousas que acontesceraõ em diuersos tempos [1433-1437] _______fo ccjx

[53] Carta do doctor dioguo afonso que diz em que casos se pode sem pecado vsar da astrologia

[1433-1438] _______________________________________________________________ fo ccxi

[54] Lyuros que el rey tinha asy de latim como lingoaJem [1433-1438] _________________ fo ccxij

[55] Ordenaçam que el rey dom duarte fez pera os seus capelães serujrem [1433-1438]

________________________________________________________________________ fo ccxvij

[56] Ordenança que o Jfante fez pera os tempos em que seus capelães aujam de serujr

________________________________________________________________________ fo ccxxj

[57] As oras em que pouco mais ou menos se detem nos officios da capela per todo o ano [-1433]

________________________________________________________________________ fo ccxxij

[58] Esmollas d el rey per alguas festas do ano [1433-1438] ________________________ fo ccxxv

[IV v.°]

[59] O pater noster apropriado as sete uyrtudes per o Jfante [-1433] _________________ fo ccxxvj

[60] Que sinifica detraçaõ [i.] _______________________________________________ fo ccxxviij

[61] Sumario que o ifante deu a mestre françisco do que auja de pregar de dom nuno aluarez

pereyra [1432-1433] _______________________________________________________ fo ccxxxj

[62] Esmolas ordenadas d el rey pera a quaresma e outras [1435] __________________ foccxxxvij

[63] Declaração das sete tenções pera nos saluaremos. feita per el rey a rogo da rainha sua molher

[1433-1438] _____________________________________________________________ fo ccxxxix

[64] Sumario que el rey deu a frey fernando pera pregar na saymento el rei dom Joan seu pay

[1435] __________________________________________________________________ fo ccxliiij

[65] Como se tyra o demonjo [i.] _____________________________________________ fo ccxLix

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[V]

[66] A oraçaõ do Justo Juiz [i.] ________________________________________________ fo ccLj

[67] Hua deuação que pareçe el rey deuja mandar fazer [i.] _________________________ fo ccLij

[68] O Pater noster [i.] ______________________________________________________ fo ccLiij

[69] Regimento que ha de ter o que tomar os pos de teixuguo [i.] ____________________ fo ccLiiij

[70] Recepta d agoa per a dor d olhos [i.] _______________________________________ fo ccLvj

[71] Reçepta de mezinha uerde pera dor d olhos [i.] ______________________________ fo ccLvij

[72] Regimento que fez el rey dom duarte pera quem tyuer o estomago com fleyma [1433-1438?]

_______________________________________________________________________ fo ccLviij

[73] Mezinha pera as tetas das molheres quando paryrem [i.] ______________________ fo ccLxiiij

[74] Mezinha pera restringir o fluxo do ventre [i.] _________________________________ fo ccLxiiij

[V v.°]

[75] Mezinha pera dor de dentes [i.] ___________________________________________ fo ccLxv

[76] Mezinha pera a frieldade, que esta no oso ou Juntura [i.] _______________________ fo ccLxv

[77] Recepta de mezinhas que prestam pera Camaras [sic] [i.] ______________________ fo ccLxv

[78] Mezinha pera quando Caem os mamylos [i.] _______________________________ fo ccLxviij

[79] Mezinha pera camaras [sic] [i.] __________________________________________ fo ccLxviij

[80] Auiso feito per el rey pera nos saluaremos [sic] [1433-1438] ____________________ fo ccLxix

[81] Hu regimento pera teremos [sic] boa compleisaõ [1433-1438] ___________________ fo ccLxx

[82] Regymento pera aprender alguas cousas d armas [i. _________________________ fo ccLxxij

[83] pos do duque [i.] ________________________________________________ ______fo ccLxxij

[VI]

[84] Como se fazem as pyrolas comuns [i.] ____________________________________ fo ccLxxiij

[85] Como se toma a herua pera as maleytas [i.] ________________________________ fo ccLxxiij

[87] Mezinha pera giolho Jnçhado de gota ou çiatica [i.] __________________________ fo ccLxxiiij

[88] Como se fazem os pos do teixugo [i.] _____________________________________ fo ccLxxv

[89] Recepta pera a peste [i.] _______________________________________________ fo ccLxxvj

[90] Trouas [1435-1438?] _________________________________________________ fo ccLxxvij

[91] Mezinha pera as febres terçãs [i.] _______________________________________ fo ccLxxviij

[92] Mezinha pera romper postemas [i.] ______________________________________ fo ccLxxix

[93] Como se tera o o pescado fresco quinze dias e mais. [i.] _____________________ fo ccLxxx

[94] Como se semea a alfafa [i.] ___________________________________________ fo ccLxxxj

[95] Mezinha pera a gota e maçamento [i.] ___________________________________ fo ccLxxxij

[VI v.°]

[96] Çyfras d el rey. [1433-1438] __________________________________________ fo ccLxxxiij

[97] [Como se podem saber as horas] [i.] ________________________________________ [s.n.]

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Modelos de organização: reflexões sobre o ordenamento do Livro dos conselhos de El-Rei Dom Duarte (Livro da Cartuxa)

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ANEXO II: Esquema do ordenamento dos textos do Lcart nos quatro manuscritos – 2 seiscentistas e 2 setecentistas – de acordo com a numeração da edição diplomática, de 1982. BN, PBA. 147: cópia do séc. XVII, com quase todos os textos do LCart., com ordenação de temas. Estão repetidos os textos [43[ e [46], por engano, e faltam os textos [51], [86], [96] e [97]. Total: 95 textos.

BN, COD. 13179: cópia do séc. XVII, com quase todos os textos do LCart., com ordenação de temas. Estão repetidos os textos [43] e [46], por engano, e faltam os textos [51], [86], [96] e [97]. Total: 95 textos.

BA, COD. 49-XI-68: cópia do séc. XVIII, incompleta. Reordena os textos do LCart.: possui 38 textos, sendo que o [43] está subdividido em duas partes, o [16] está incompleto e há um texto a mais, uma carta do Inf. D. Henrique, conformando 37 textos do LCart, ordenados por temas.

BN, COD. 4446: cópia do séc. XVIII, incompleta. Reordena os textos do LCart.: possui 38 textos, sendo que o [43] está subdividido em duas partes, o [16] está incompleto e há um texto a mais, uma carta do Inf. D. Henrique, conformando 37 textos do LCart., ordenados por temas

[64] [Ordenanças] [37] [01] [02] [38] [43] [49] [39] [12] [50] [32] [13] [15] [40] [18] [17] [41] [07] [54] [D. Pedro] [03] [27] [11] [06] [52] [04] [20] [35] [05] [08] [55] [14] [09] [58] [31] [10] [62] [56] [21] [Medicina.] [57] [22] [81] [59] [42] [16] [61] [43] [69] [44] [88] [45] [89] [46] [90] [47] [83] [48] [84] [63] [70] [68] [71] [80] [75] [66] [73] [65]. [78] [67] [91] [19] [85] [25] [72] [26] [74] [24] [77] [34] [79] [30] [76] [29] [87] [60] [92] [82] [95] ..................[94] [Ord.] [93] [02] [53] [49] [28] [50] [33] [15] [23] [17] [36] [54] [46]

[64] [Ordenanças] [37] [01] [02] [38] [43] [49] [39] [12] [50] [32] [13] [15] [40] [18] [17] [41] [07] [54] [D. Pedro] [03] [27] [11] [06] [52] [04] [20] [35] [05] [08] [55] [14] [09] [58] [31] [10] [62] [56] [21] [Medicina.] [57] [22] [81] [59] [42] [16] [61] [43] [69] [44] [88] [45] [89] [46] [90] [47] [83] [48] [84] [63] [70] [68] [71] [80] [75] [66] [73] [65]. [78] [67] [91] [19] [85] [25] [72] [26] [74] [24] [77] [34] [79] [30] [76] [29] [87] [60] [92] [82] [95] ..................[94] [Ord.] [93] [02] [53] [49] [28] [50] [33] [15] [23] [17] [36] [54] [46]

[01] [02] [03] [04] [05] [06] [07] [08] [09] [10] [11] [12] [13] [14] [15] [16] (incompleto) [17] [18] [20] [21] [22] [29] [30] [31] [55] [56] [61] [62] [63] [64] [27] [54] [52] [49] [45] [43] (2° parte) [43] (1° parte) [35] Carta do Inf. D. Henrique

[01] [02] [07] [15] [18] [21] [22] [29] [30] [55] [63] [64] [03] [20] [04] [05] [11] [14] [31] [56] [61] [62] [06] [08] [09] [10] [12] [13] [16] (incompleto) [17] [27] [54] [52] [49] [45] [43] (2° parte) [43] (1° parte) [35] Carta do Inf. D. Henrique

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ANEXO III: Esquema do ordenamento dos textos do manuscrito BA, COD. 49-XI-68,

conforme aparecem em seu corpo. Como o manuscrito não possui índice nem seus textos apresentam títulos, aproveito neste esquema os títulos dos textos de sua cópia, o ms. BN, COD. 4446. A numeração segue a edição diplomática, de 1982.

[1] Conselho del Rey D. Duarte sobre o regulamento de se viver conforme a Ley Christã [2] Repartição do Tempo, e dos cargos [3] Conselho do Infante para seu [irmão] o Infante D. Pedro quando foi para Hungria [4] Carta que de Brujas envio o Infante D. Pedro a el Rey dando-lhe varios conselhos [5] Conselho do Infante D. Pedro que mandou a El Rey sobre a eleição dos Bispos [6] Resposta ao Concello se deve El Rey fazer guerra aos Mouros, feita pelo Infante D. João [7] Crença del Rey que enviou pelo Infante D. Fernando a seu irmão o Infante D. Pedro [8] Conselho do Conde de Arrayolos sobre a mesma guerra [9] Conselho do Conde de Barcellos sobre a mesma guerra [10] Conselho do Conde Dourem e sobre a mesma guerra [11] Conselho do Infante D. Pedro que mandou a el Rey quando foi exaltado por nosso Rey [12] Conselho do Conde de Arrayolos (sic) sobre as Cortes que el Rey queria fazer [13] Conselho do Bispo pela exaltação del Rey [14] Carta do Infante D. Pedro quando enviou a El Rey hum Livro traduzido pelo Prior de S. Jorge [15] Carta que sua Magestade mandou a El Rey de Castella sobre hum musico [16] Carta do Doutor Diogo Afonso sobre o modo de tomar huns pos contra a peste [17] Treslado de huma carta que escreveo a Duquesa a El Rey sobre o que se tratou em hum Concelho [18] Carta que mandou El Rey a seus Irmãos sobre a Obediencia que tinha a seu pay e o modo com que o tratava [20] Conselho do Infante D. Henrique se era ou não justo fazer guerra aos Mouros de Belamary [21] Conselho especial que el Rey deo ao Infante D. Henrique quando foi com a Armada sobre Tanjer [22] Razões porque El Rey se diliberou fazer guerra aos Mouros [29] Conselho que El Rey deo ao Infante sobre os Livros porque havia de ler proveitozamente [30] Conselho para bem tornar alguma Leitura no nossa Lingoa feito por El Rey [31] Regimento, que fez o Infante D. Pedro para os seus criados [55] Ordenação que El Rey fez para os seus Capelães [56] Ordenação que o Infante mandou ter aos seus Capelaens sobre o tempo em que havião de servir [61] Somario que o Infante deo ao Mestre Francisco para pregar de D. Nuno Alvares Pereira [62] Esmollas da Quaresma [63] Declaração das Sete Intenções para se alcansarem as Sete Virtudes feita por El Rey a rogo da Raynha [64] Assumptos que El Rey deo a Fr. Fernando para hum sermão [27] Noticia dos dias e annos dos nacimentos dos Filhos del Rey D. Duarte [54] Noticia dos Livros que tinha El Rey D. Duarte [52] Era de Cezar [49] Acordo para os Infantes D. Pedro, e D. Fernando [45] Lembrança que El Rey mandou fazer [43] Das couzas, de que El Rey foi requerido [43] Dezembargos geraes [35] Faulhas que cahirão em Santarem Carta do Infante D. Henrique para el Rey

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ANEXO IV: Esquema do ordenamento dos textos do manuscrito BN, COD. 4446. Os títulos

dos textos estão conforme aparecem no índice deste manuscrito. A numeração segue a edição diplomática, de 1982.

[1] Conselho del Rey D. Duarte sobre o regulamento de se viver conforme a Ley Christã [2] Repartição do Tempo, e dos cargos [7] Crença del Rey que enviou pelo Infante D. Fernando a seu irmão o Infante D. Pedro [15] Carta que sua Magestade mandou a El Rey de Castella sobre hum musico [18] Carta que mandou El Rey a seus Irmãos sobre a Obediencia que tinha a seu pay e o modo com que o tratava [21] Conselho especial que el Rey deo ao Infante D. Henrique quando foi com a Armada sobre Tanjer [22] Razões porque El Rey se diliberou fazer guerra aos Mouros [29] Conselho que El Rey deo ao Infante sobre os Livros porque havia de ler proveitozamente [30] Conselho para bem tornar alguma Leitura no nossa Lingoa feito por El Rey [55] Ordenação que El Rey fez para os seus Capelães [63] Declaração das Sete Intenções para se alcansarem as Sete Virtudes feita por El Rey a rogo da Raynha [64] Assumptos que El Rey deo a Fr. Fernando para hum sermão [3] Conselho do Infante para seu [irmão] o Infante D. Pedro quando foi para Hungria [20] Conselho do Infante D. Henrique se era ou não justo fazer guerra aos Mouros de Belamary [4] Carta que de Brujas envio o Infante D. Pedro a el Rey dando-lhe varios conselhos [5] Conselho do Infante D. Pedro que mandou a El Rey sobre a eleição dos Bispos [11] Conselho do Infante D. Pedro que mandou a el Rey quando foi exaltado por nosso Rey [14] Carta do Infante D. Pedro quando enviou a El Rey hum Livro traduzido pelo Prior de S. Jorge [31] Regimento, que fez o Infante D. Pedro para os seus criados [56] Ordenação que o Infante mandou ter aos seus Capelaens sobre o tempo em que havião de servir [61] Somario que o Infante deo ao Mestre Francisco para pregar de D. Nuno Alvares Pereira [62] Esmollas da Quaresma [6] Resposta ao Concello se deve El Rey fazer guerra aos Mouros, feita pelo Infante D. João [8] Conselho do Conde de Arrayolos sobre a mesma guerra [9] Conselho do Conde de Barcellos sobre a mesma guerra [10] Conselho do Conde Dourem e sobre a mesma guerra [12] Conselho do Conde de Arrayolos (sic) sobre as Cortes que el Rey queria fazer [13] Conselho do Bispo pela exaltação del Rey [16] Carta do Doutor Diogo Afonso sobre o modo de tomar huns pos contra a peste [17] Treslado de huma carta que escreveo a Duquesa a El Rey sobre o que se tratou em hum Concelho [27] Noticia dos dias e annos dos nacimentos dos Filhos del Rey D. Duarte [54] Noticia dos Livros que tinha El Rey D. Duarte [52] Era de Cezar [49] Acordo para os Infantes D. Pedro, e D. Fernando [45] Lembrança que El Rey mandou fazer [43] Das couzas, de que El Rey foi requerido [43] Dezembargos geraes [35] Faulhas que cahirão em Santarem Carta do Infante D. Henrique para el Rey