De Maio de 1851 até Janeiro de 1868 As bases políticas da Regeneração (continuação) 1 2012 /05...
Transcript of De Maio de 1851 até Janeiro de 1868 As bases políticas da Regeneração (continuação) 1 2012 /05...
1
De Maio de 1851 até Janeiro de 1868
As bases políticas da Regeneração (continuação)
2012 /05 /02
2012 /05 /02
2
Reorganização das forças políticas durante a Regeneração
• Rotativismo – Partido P. Regenerador e
Partido P. Histórico
• Eleições e caciquismo
2012 /05 /02 3
O FUNCIONAMENTO DO ROTATIVISMO
2012 /05 /02
4
Meandros da Política Regeneradora (texto de Júlio Dinis in A Morgadinha dos Canaviais)
“Enfim chegou. [o correio]
O conselheiro principiou por ler uma carta. Henrique
rompeu a cinta do primeiro periódico.
- Oh! Oh! – disse o conselheiro logo às primeiras linhas
que leu – temos crise ministerial. As eleições foram pouco
favoráveis ao governo; perderam-se em quase toda a
parte.
- Assim também se depreende do estilo em que vem
escrito este artigo de fundo – disse Henrique
2012 /05 /02
5
Meandros da Política Regeneradora (texto de Júlio Dinis in A Morgadinha dos Canaviais)
- Dizem-me nesta carta que já se fala em que o
ministério vai pedir a sua demissão.
- Este artigo alude apenas a uma reconstrução do
gabinete.
O governo – prosseguiu o conselheiro lendo – nem espera
pela constituição da câmara e cai por estes dias.
- Diz-se que há esta noite conselho de ministros para
resolver qual o seu procedimento, visto a índole da futura
câmara.”
2012 /05 /02
6
Modelo Político da Regeneração
É … … um regime
liberal
Não é …… um regime parlamentar
• Igualdade dos cidadãos perante a lei
• Liberdade de expressão e associação
• As Cortes discutem a acção do governo, não o impõem – a nomeação cabe à coroa
2012 /05 /02
7
Funcionamento do Rotativismo entre 1852 e 1868
18521856
18561859
18591860
18601865
18651868
LEGENDA:
Governo com apoio do P. Regenerador
Governo com apoio do P. Histórico
Governo de Fusão
Legislaturas normais de 4 anos
2012 /05 /02 8
AS ELEIÇÕES
2012 /05 /02
9
Características do sufrágio
Sufrágio representativo ???
Sufrágio censitário
Sufrágio directo
2012 /05 /02
10
Eleições representativas implicam:
Assembleia eleita,
representativa
Direito de votoalargado
Informação e formação cultural do
eleitor
Independênciaeconómica ou
outra do eleitor
2012 /05 /02
11
Relação entre o nº de portadores de nacionalidade portuguesa, residindo no País, e o nº de cidadãos eleitores
Cidadãos res-identes
Eleitores0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
3000000
3500000
4000000
4 200 000
370 000
2012 /05 /02
12
Limites à liberdade de sufrágio
Proliferação do fenómeno do caciquismo.
Fruto, em grande parte, da falta de cultura dos eleitores, ou de excessiva dependência, económica ou outra
Cacique – indivíduo com influência suficiente para impor o sentido de voto a uma comunidade.
2012 /05 /02 13
UMA PEÇA EM QUATRO ACTOS
TEXTO EXTRAÍDO DE “A MORGADINHA DOS CANAVIAIS” DE JÚLIO DINIS
As eleições
2012 /05 /02
14
1º Acto - A campanha eleitoral
“Chegara o prazo para se dar perante a urna a batalha
eleitoral. De parte a parte tinham-se posto em campo
todos os influentes e em exercício todas as armas.
Em algumas freguesias (…) eram os agentes do brasileiro
e os da autoridade, fazendo promessas aos caudilhos
populares, resgatando penhores, levantando hipotecas,
remindo dívidas, empregando afilhados e conquistando
assim para o seu partido. (…O Conselheiro e os seus
parciais não desprezavam também nenhum destes
mesmos meios.”
2012 /05 /02
15
1º Acto - A campanha eleitoral (continuação)
“- Pode-me dar duas palavras sr. conselheiro? -
Requereu do lado o sr. Joãozinho das Perdizes.
- Mil que pretenda – acudiu o conselheiro; e tomando o
braço do morgado afastou-se do grupo.
- Eu tenho a pedir-lhe um favor – principiou o morgado –
Eu, como sabe, interesso-me muito pelo mestre escola
do Chão do Pereiro, que quer vir ensinar para aqui. Este
negócio está empatado, como sabe. Por isso queria que
o sr. escrevesse para Lisboa a este respeito.
2012 /05 /02
16
1º Acto - A campanha eleitoral (continuação)
- Pois sim, mas … Não sabe que é Augusto o outro
concorrente?
- Então que tem isso?
Não lhe parece que seria uma injustiça? (…) O rapaz quer isto.
- Quer! Quer! … Também o outro quer. Ora essa é fresca. E
vamos, sr. Conselheiro, a gente também não há-de estar só a
fazer favores, sem os receber quando os pede. Com este já
são três. Pedi-lhe para o meu tio abade ser cónego; foi tanto
.
2012 /05 /02
17
cónego como eu. Pedi-lhe umas caudelarias lá para a
freguesia … estou à espera delas… Ora isto não se
faz. O senhor sabe que eu lhe tenho vencido as
eleições com a gente da minha freguesia que vai para
onde eu a levo. Pois agora não sei o que será. A não
se decidir este negócio depressa Joãozinho - Então
digo-lhe mais: a mim já me falaram. Há alguém que
não desgostaria dos votos de que eu disponho, e
votar pelos que estão no poleiro não sei se lhe diga
que não é pior.”
1º Acto - A campanha eleitoral (continuação)
2012 /05 /02
18
2º Acto – A assembleia de voto
“Pela manhã do domingo, marcado para a solenidade, o adro
da igreja paroquial apresentava uma animação fora do
costume.
Os agentes dos dois campos acercavam-se deste, apertavam
a mão àquele, segredavam com um, batiam no ombro de
outro, discutiam com um terceiro e, sempre que era possível,
distribuíam listas.
O regedor passeava com importância por entre os grupos
(…) e dava de olho aos cabos, seus subordinados, para que
se não esquecessem de cumprir as instruções recebidas,
votando no candidato ministerial.”
2012 /05 /02
19
3º Acto - O “caciquismo” em acção
“Ia adiantada a votação, quando correu na igreja uma voz:
- Vêm aí os de Pinchões! … Aí vem o sr. Joãozinho e a sua
gente!
(…) O morgado vinha à frente. (…) Atrás vinham os
eleitores de Pinchões (…) todos com os movimentos
enleados, todos com os olhos no caudilho para saber o que
deviam fazer. Se ele parava a cumprimentar um amigo,
paravam todos com ele; a direcção que tomava, tomavam-
na todos a um tempo; apressavam ou demoravam o
passo, segundo a velocidade que ele dava aos seus; se ria,
sorriam; se praguejava, tudo ficava sério.”
2012 /05 /02
20
Os homens, de cabeça baixa, não ousavam fazer um gesto.
(…) Pareciam envergonhados de serem precisos a alguém.
(…) No bolso de cada um destes homens havia um oitavo
de papel almaço, dobrado, no qual estava escrito o nome
de um homem, que eles nem sabiam se existia no mundo.
No momento devido, cada um deles, chamado pela voz do
escrutinador eleitoral, responderia: “presente”; aproximar-
se-ia da urna, entregaria ao presidente da mesa aquele
papel, e retirar-se-ia satisfeito, como se descarregado de
um peso.
3º Acto - O “caciquismo” em acção (continuação)
2012 /05 /02
21
3º Acto - O “caciquismo” em acção (continuação)
Se lhes perguntassem o que tinham feito, qual o alcance
daquele acto que acabavam de executar, não saberiam
dizê-lo. Se lhes perguntassem o nome do eleito para
advogado dos seus interesses e defensor das suas
liberdades, a mesma ignorância; se lhes propusessem a
resignação do direito de votar, aceitariam com júbilo; se,
finalmente, lhes dissessem que naquele dia estavam nas
suas mãos e dos seus pares os destinos do país,
abririam os olhos de espantados, ou sorririam com a
desconfiança própria dos ignorantes.
2012 /05 /02
22
3º Acto - O “caciquismo” em acção (continuação)
Quando disseram ao sr. Joãozinho que já tinha passado a
sua vez de votar, o homem rompeu pela igreja dentro,
berrando, bracejando, ameaçando céus e terra, sem
atender a quantos lhe clamavam que tinha de se
proceder a nova chamada e que, portanto, sossegasse.
Custou a serenar o morgado. (…) Caindo em si, o sr.
Joãozinho deu ordem à sua gente para que entrasse
para a igreja, e aí a enfileirou a um dos lados dela,
prontos à primeira voz.”
2012 /05 /02
23
4º Acto – Como se “cozinha” um resultado
“Passados momentos entravam na sala Henrique, o Tapadas e
outros influentes eleitorais. (…)
Que quer dizer isto? – perguntou o Conselheiro, abraçando-os.
- Cento e trinta e cinco votos a maior, Sr. Conselheiro, nem
mais nem menos – respondeu o Tapadas, rindo às
gargalhadas.
- Mas de onde vieram!
- Ora essa é boa! De Pinchões. (…)
- Como? … Pois o morgado? …
2012 /05 /02
24
4º Acto – Como se “cozinha” um resultado (continuação)
- Votou connosco, como um homem. Ora pudera! (…)
- Mas não se viu ainda há pouco …
- Que estava com a metralha inimiga? – concluiu o Tapadas. -
Que tem lá isso? Mas vão lá à igreja e verão as buchas que
estão pelo chão. É um destroço! Parece a loja de um farrapeiro.
- Mas explica-me isso, Tapadas.
- Então não ouviu a rabecada que aquele santo do herbanário
(…) deu ao morgado? Pois aquilo lá ressentiu o homem. E
quando, depois do Vicente expirar, ele voltou à igreja, vinha a
2012 /05 /02
25
4º Acto – Como se “cozinha” um resultado (continuação)
dizer: “Diabos me levem, que se tivesse aqui listas à
mão, havia de ensinar os tratantes que me meteram
nesta dança.” Vieram-me dizer isto e eu, que para o que
desse e viesse, sempre levava um sortimento de listas,
cheguei-me pela calada ao morgado … Hein? … e meti-
lhas assim à cara. Hein! … Ora! Foi um momento!
Enquanto a mesa se senta e abre os cadernos, sim
senhores, e se põe tudo em ordem, estava armada a
freguesia de Pinchões à nossa moda. Agora se queria rir
era
2012 /05 /02
26
4º Acto – Como se “cozinha” um resultado (continuação)
ver o brasileiro. Como ele encafuava para a urna as
listas que eu tinha trazido no bolso, e com que fogo! E
eu a vê-lo enterrar até às orelhas e a fazer-me
carrancudo! (…) No fim então é que foram elas,
quando principiaram a aparecer as nossas listas às
cargas cerradas. O homem enfiou! Cuidei que lhe
dava alguma coisa. (…) Agora chia contra o morgado
e se o encontra é capaz de o comer …