De Simmel ao cotidiano na metrópole pós-urbana

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  • 7/29/2019 De Simmel ao cotidiano na metrpole ps-urbana

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    Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 439-450, jul/dez 2011

    De Simmel ao cotidianona metrpole ps-urbana

    From Simmel to everyday life in post-urban metropolis

    Silke Kapp

    Resumo

    O presente artigo discute o ensaio de Georg

    Simmel, As grandes cidades e a vida do esprito

    com nase na contraposio entre metrpole

    e cidade pequena, sociedade capitalista e pr-

    capitalista. Inicialmente, delinea-se a perspectiva

    social e espacial de Simmel: a de um intelectual

    burgus em Berlim por volta de 1900. A segunda

    parte analisa a relao entre os enmenos

    psquicos evidenciados por Simmel e o contexto

    mais amplo em que ele os insere, retomando

    elementos da Filosofa do Dinheiro e mostrando

    que a metrpole a que Simmel se reere equivale

    ao que Leebvre chamar de espao abstrato.

    A parte fnal procura compreender o que resulta

    da dissoluo dessa metrpole ou de seu

    espraiamento ao espao em geral.Palavras-chave: Simmel; indivduo; espao abs-

    trato; cultura urbana; cotidiano.

    Abstract

    This paper discusses Georg Simmels essay The

    Metropolis and Mental Life focusing on the

    opposition between metropolis and small town,

    pre-capitalist and capitalist society. First, it outlines

    Simmels social and spatial perspective as a

    bourgeois intellectual living in Berlin around 1900.

    The second part analyses the relationship between

    the mental phenomena pointed out by Simmel and

    the broader context in which he situates them,

    exploring elements of his Philosophy of Money

    and showing that the metropolis that Simmel has

    in mind is equivalent to Lefebvres later concept

    of abstract space. The paper concludes with

    an attempt to understand what results from the

    dissolution of such a metropolis or from its spread

    into space in general.Keywords: Simmel; individual; abstract space;

    urban culture; everyday life.

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    Silke Kapp

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    A cidade da vida de Simmel

    O ensaio do socilogo alemo Georg Simmel

    Die Grostdte und das Geistesleben lite-ralmente, As grandes cidades e a vida do esp-

    rito foi concebido no mesmo ambiente das

    lembranas de Walter Benjamin em Infncia em

    Berlim por Volta de 1900: a regio berlinense

    de Westende-Charlottenburg. A leitura do texto

    de Benjamin evoca a atmosfera quase pacata

    de uma vizinhana de famlias abastadas, onde

    dificilmente se manifestam o tumulto de outroscontextos e a pobreza de outros habitantes

    urbanos (Benjamin, 1987, p. 92). O texto de

    Simmel, pelo contrrio, interpreta essa cidade

    como um ambiente avassalador, que exacerba

    a vida nervosa com o bombardeamento in-

    cessante de estmulos (Simmel, 1995, p. 116).

    A diferena decorre ao menos em parte do

    fato de Benjamin no ter presenciado as trans-formaes de Berlim na segunda metade do

    sculo XIX, decisivas para o pensamento de

    Simmel.

    Entre 1858, ano de nascimento deste l-

    timo, e 1903, ano de publicao do dito ensaio,

    Berlim se transforma de capital da Prssia, com

    400 mil habitantes, muita pobreza e alguma

    mecanizao, em capital poltica, econmica ecultural do imprio alemo, com trs milhes

    de habitantes, industrializao, comrcio e ex-

    posies mundiais, uma linha de metr recm-

    -inaugurada, iluminao pblica, bondes el-

    tricos e automveis, museus e cinemas, jornais

    e revistas ilustradas, lojas de departamento e

    cafs, e um milho de Mietskasernen, isto ,

    precrias moradias de aluguel de um ou doiscmodos.1 diferena de Viena, Munique ou

    Roma cidade pela qual Simmel tem enorme

    admirao , Berlim um caldeiro de expe-

    rimentaes urbanas pouco resistente perda

    de tradies e modernizao acelerada, que

    se expressa, por exemplo, na massiva demoli-

    o das edificaes mais antigas. E diferenade Londres ou Paris, que em meados do sculo

    j eram metrpoles, o crescimento de Berlim

    coincide justamente com o perodo vivido por

    Simmel: primeiro ela se transforma em gran-

    de cidade (Grostadt), depois, em metrpole

    (Metropole). Esse ltimo atributo o metro-

    politano cabe a uma cidade que fornece ao

    mundo inteiro a matria do seu trabalho e queo conforma em todas as formas essenciais que

    aparecem em algum lugar do mundo da cultura

    contemporneo (Simmel, 1990, pp. 170-171),2

    isto , a uma cidade cosmopolita.

    As novidades berlinenses abrangem da

    produo artstica e intelectual legitimada

    pelas instituies burguesas a grupos margi-

    nais e subculturas que ali, na grande cidade,encontram pela primeira vez quantidade sufi-

    ciente de adeptos para se transformarem em

    fenmenos qualitativamente novos (Bab, 1904;

    Fischer, 1975). A Berliner Moderne(modernida-

    de berlinense) uma inovao literria que faz

    de fbricas, moradias de aluguel, trabalhadores

    e prostitutas cenrios e protagonistas de suas

    obras. Ao mesmo tempo, a cidade d origema contraposies ou compensaes do caos

    urbano: movimentos em prol da cidade jardim

    ou do nudismo, a Naturheilkunde(doutrina de

    cura pela natureza, inspirada em Jean-Jaques

    Rousseau e Paracelso), o Wandervogel(pssaro

    migrante ou pssaro caminhante, uma associa-

    o de jovens, em sua maioria de origem bur-

    guesa, ancorada nos ideais do Romantismo e,ao mesmo tempo, uma espcie de precursora o

    movimento hippie).

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    A conturbada cidade de Berlim da virada

    do sculo se torna tambm objeto de um dos

    mais significativos projetos de pesquisa urbana:

    trata-se dos chamados Grostadt-Dokumente

    organizados pelo escritor Hans Ostwald, com 50

    volumes e 40 autores participantes. Os volumes

    so publicados entre 1904 e 1908 em fascculos

    relativamente baratos, de grande tiragem e, ao

    contrrio do ensaio de Simmel, tm enorme

    repercusso entre os contemporneos. Seus

    temas abrangem os mais variados aspectos da

    vida na metrpole, desde a polcia, os bancos,

    a justia, funcionalismo pblico, o movimento

    feminista e a misria habitacional, at as

    existncias marginais, como o caso de

    Berlins drittes Geschlecht(o terceiro gnero

    de Berlim) de Magnus Hirschfeld, Uneheliche

    Mtter(mes solteiras) de Max Marcuse ou

    Gefhrdete und verwahrloste Jugend(juventude

    vulnervel e negligenciada) de Alfred Lasson.

    Esse imenso projeto , de fato, um precursor

    esquecido da Escola de Chicago (Jazbinsek,

    Joerges e Thies, 2001). Vrios de seus autores

    o citam, e Louis Wirth (1925) lista a relao

    completa dos volumes e comenta cada um

    deles no clssico The City.

    Figura 1 Paul Hoeniger, Spittelmarkt (1912)

    Fonte: http://de.wikipedia.org/wiki/Geschichte_Berlins (domnio pblico)

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    Apesar de Simmel ter tido relaes pes-

    soais com pelo menos um dos colaboradores

    dos Grostadt-Dokumente, o seu aluno Julius

    Bab, trata-se de uma temtica que o socilo-

    go rejeita. No apenas lhe estranha a pes-quisa social emprica da qual, com todas as

    eventuais deficincias terico-metodolgicas,

    os Dokumentedecorrem, como tambm ele

    evita o convvio com a cidade ali representada

    (Jazbinsek, Joerges e Thies, 2001). Simmel sen-

    te averso pobreza, aos bairros proletrios,

    s j citadas Mietskasernen. Em Soziologie der

    Sinne(Sociologia dos sentidos), de 1907, eleescreve que a aproximao entre intelectuais

    e trabalhadores [...] fracassa simplesmente

    pela insuperabilidade da percepo olfativa

    (Simmel, 1993, p. 290). Averso semelhante

    vale para a cultura urbana do entretenimento

    de massa e sua respectiva indstria, repletas

    de exageros e superficialidades apreciados

    especialmente pelos novos ricos e por assala-riados com algum poder aquisitivo, isto , por

    um pblico ao qual falta capital cultural e gos-

    to legtimo, no sentido que Bourdieu (2007)

    atribui a esses termos.

    Simmel, portanto, escreve o ensaio sobre

    As grandes cidades e a vida do esprito na

    perspectiva de um intelectual que vivenciou

    diretamente o choque da transformao deuma cidade tradicional em metrpole moderna

    e que, pessoalmente, rejeita a maioria de suas

    consequncias para a vida cotidiana, embora

    tambm seja sensvel s possibilidades que ela

    oferece para algum em posio social relati-

    vamente privilegiada. Quando Simmel se refere

    a indivduos trata-se sobretudo de membros

    da burguesia cultural (Bildungs-brgertum)ouda burguesia industrial. As vantagens que ele

    atribui nova experincia urbana para esse

    estrato social esto sempre tensionadas e

    ameaadas. Como tentarei argumentar em se-

    guida, tais vantagens equivalem potencializa-

    o do ideal cosmopolita da burguesia cultural,ao passo que a ameaa equivale dissoluo

    desse mesmo grupo na sociedade de massa.

    Distanciamento mentale distanciamento espacial

    Como j mencionado no nicio, o dito ensaio

    de Simmel parte de uma elucidao da vida

    nervosa do habitante da grande cidade: mul-

    tiplicidade e variedade de estmulos (hoje dira-

    mos informaes) so to maiores do que a

    capacidade de apreenso e diferenciao do in-

    divduo, que esse se atomizaria caso tentas-

    se reagir plenamente a cada um deles. Por isso,ele desenvolve um carter intelectualista: o

    orgo psquico menos frgil ou as camadas

    mais conscientes e mais superficiais da alma

    (que a tradio filosfica chama de entendi-

    mento) lhe servem de escudo para proteger

    as camadas mais inconscientes da alma e,

    ao mesmo tempo, anular sua ao no cotidia-

    no (Simmel, 1995). Na relao com o mundo sua volta, essa racionalizao desemboca na

    atitude blasde quem j no se impressiona

    com quase nada e capaz de se orientar por

    esquemas abstratos. Na relao com os outros

    indivduos, desemboca na reserva que leva a

    ignorar pessoas fisicamente prximas como

    os vizinhos e estabelecer relaes puramente

    formais, nas quais afetos e desafetos no tmlugar.

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    Observaes em vrios aspectos seme-

    lhantes s de Simmel comparecem em A Situa-

    o da Classe Trabalhadora na Inglaterra, es-

    crito por Engels entre 1844 e 1845, que inclui

    um captulo intitulado As grandes cidades.Engels no apenas descreve com admirao a

    grandiosidade e o vigor de uma cidade como

    Londres, como tambm a repulsa que causa

    o comportamento da multido nas ruas. Ele

    observa que centenas de milhares de pessoas

    de todas as classes e estamentos [...] passam

    umas pelas outras como se no tivessem nada

    em comum e sem que ningum considereos outros dignos de um olhar sequer; preva-

    lecem a indiferena brutal, o egosmo tor-

    pe, o isolamento insensvel de cada um nos

    seus interesses privados; a humanidade se

    dissolve em mnadas ou tomos (Engels,

    1972, p. 257). Engels tambm constata que es-

    ses so os princpios fundamentais da nossa

    sociedade atual, mas que nunca encontramexpresso to direta e sem pudor como nas

    grande cidades. O que torna possvel a misria

    urbana tema central desse texto justa-

    mente a frieza.

    Do ponto de vista da sociologia urbana,

    o aspecto verdadeiramente interessante des-

    sas descries no est nos fenmenos da vida

    psquica em si mesmos, mas no contexto maisamplo em que eles se inserem e nos dilemas

    que suscitam. A interpretao de Simmel para

    a vida na grande cidade ou na metrpole se faz

    por contraste com o campo, a pequena cidade

    ou as cidades de outros tempos. A diferena

    no est somente nos nmeros, mas na prpria

    lgica de coeso. Como observa Behrens, a ca-

    sa (oikos)e suas regras (nomos)formam a baseda oikonomiada cidade pequena ou mais anti-

    ga, que se constitui como conjunto de grupos

    domsticos (synoikos). Na grande cidade, esse

    carter constitutivo do grupo domstico de-

    saparece: o ser humano se torna ser urbano

    sem realmente fazer a cidade em que vive e

    mora (Behrens, 2010, s. p.). A grande cidade,pelo contrrio, produzida por uma organiza-

    o monstruosa de coisas e poderes (Simmel,

    1995) diante da qual o indivduo impotente.

    O contraste fica mais evidente quando

    Simmel descreve o primeiro estgio de uma

    formao social: um crculo relativamen-

    te pequeno, com um forte fechamento contra

    crculos vizinhos, estrangeiros ou de algumamaneira antagnicos, e uma estreita coeso

    interna, que permite a cada membro individual

    apenas um espao muito pequeno para o de-

    senvolvimento de qualidades peculiares e

    movimentos livres, autnomos. Simmel argu-

    menta que todos os agrupamentos passam por

    esse estgio, incluindo as religies e os estados

    nacionais, as guildas e os partidos polticos, e,finalmente, a prpria cidade.

    A vida em cidades pequenas, na Antigui-

    dade como na Idade Mdia, impunha ao

    indivduo singular barreiras de movimen-

    to e de relaes em direo ao exterior e

    barreiras de autossuficincia e de diferen-

    ciao no interior entre as quais o ser hu-

    mano moderno no conseguiria respirar.Ainda hoje o habitante da grande cidade

    sente um constrangimento dessa espcie

    quando est na cidade pequena.

    medida que um agrupamento cresce,

    essas barreiras se desfazem paulatinamente.

    Assim, a metrpole, fenmeno da formao

    social moderna por excelncia, tem pouca coe-

    so interna e limites indefinidos, abrindo-se ainfinitas conexes com o espao exterior. O in-

    divduo pode habitar fisicamente a cidade ou

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    uma pequena poro dela e, ao mesmo tem-

    po, estar presente numa geografia que em mui-

    to a ultrapassa. Isso no apenas pela facilidade

    de viajar, mas sobretudo porque, dependendo

    da posio social que ocupa, as consequn-cias de suas aes podem alcanar um espao

    muito mais vasto do que aquele que percorre

    com o prprio corpo. Na Filosofia do Dinheiro, a

    obra principal de Simmel, essa nova geografia

    do indivduo comparece com mais nfase:

    As relaes do homem moderno com seu

    ambiente [Umgebung] se desenvolvemgeralmente de modo que ele se afasta

    de seus crculos mais prximos e se apro-

    xima dos mais afastados. O crescente

    afrouxamento das relaes familiares, o

    sentimento de insuportvel constrangi-

    mento pelo compromisso com os crculos

    mais prximos [...], a crescente nfase na

    individualidade, que se destaca justamen-

    te do contexto mais imediato todo esse

    distanciamento anda de mos dadas como estabelecimento de relaes com o mais

    distante, com o interesse pelo remoto,

    com a comunidade de pensamento, com

    crculos cujos laos substituem toda pro-

    ximidade espacial. (Simmel, 2001, p. 541)

    Schller-Schwedes (2008) chama a aten-

    o para o fato de que, no mbito da sociologia

    urbana, a recepo da obra de Simmel se con-centrou no ensaio sobre a vida mental nas me-

    trpoles, sem dar a devida ateno Filosofia

    do Dinheiro, embora o prprio Simmel remeta

    a ela numa nota final. No entanto, quando se

    interpretam temas como o distanciamento, a

    reserva ou a atitude blasapenas a partir des-

    se ensaio, surge facilmente a impresso de que

    sejam condicionados pelo simples dado fsicoda densidade demogrfica. J quando se anali-

    sam esses temas luz da Filosofia do Dinheiro,

    torna-se evidente que seu fundamento, para

    Simmel, a objetivao ou coisificao das re-

    laes interpessoais pela economia. O ponto

    de partida de Simmel no a cidade, mas o

    dinheiro, e sua perspectiva no est focada nasociedade urbana, mas na moderna sociedade

    capitalista (Schller-Schwedes, 2008, p. 654).

    A ampliao do raio de ao de cada indivduo

    corresponde, tambm, ampliao geogrfi-

    ca das relaes econmicas. O interesse pelo

    remoto no provm simplesmente de uma

    unio entre grandes espritos, mas caracte-

    rstica do colonialismo e do mercado mundial.Lido dessa forma, o contraste entre a me-

    trpole e a cidade pequena ou o campo, tal co-

    mo comparece no ensaio de Simmel, um con-

    traste entre relaes socioespaciais capitalistas

    e pr-capitalistas. a socializao mediada

    pelo capital que, por volta de 1900, caracteriza

    as metrpoles, mas ainda no domina o cam-

    po ou as cidades pequenas da mesma maneira.Que Simmel se concentre no dinheiro e no nas

    relaes de produo criadas por seu emprego

    como capital, apesar de ter sido um dos poucos

    intelectuais de sua poca e seu meio a ler Marx,

    se deve, por um lado, sua posio poltica en-

    to mais prxima da social-democracia, e, por

    outro, ao seu interesse maior pelas chamadas

    histria da cultura e crtica da cultura doque pela economia poltica (Waizbort, 2000, pp.

    157 e 184). O conceito de cultura no figura

    a como mera discusso da cultura erudita, mas

    como o campo de batalha no qual se tenta ex-

    plicar o [...] momento histrico (ibid., p. 338)

    com pretenso de abrangncia para alm da

    economia poltica e de sua crtica.

    Castells (2000) questiona a ideia (e aideologia) da cultura urbana da qual se de-

    riva a sociologia urbana e seu principal objeto,

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    a chamada sociedade urbana. Tal questiona-

    mento visa principalmente cadeia causal que

    esse iderio tem por pressuposto, isto , que

    um certo quadro ambiental ou uma certa

    forma ecolgica produzem uma nova moda-lidade de indivduos, de sociedade, de cultura,

    de civilizao: a sociedade contempornea pas-

    sa a ser explicada como um fenmeno pseu-

    donatural. O mito da cultura urbana , na

    opinio de Castells, uma ideologia que deixa

    em segundo plano ou ignora inteiramente a es-

    trutura produtiva que subjaz a essa sociedade.

    Para Castells, Simmel veria a formao de umaeconomia de mercado e o desenvolvimento das

    grandes organizaes burocrticas como con-

    sequencias do processo psicossocial originado

    pela aglomerao demogrfica (ibid., p. 128).

    Penso que Simmel no raciocina nessa forma

    causal. Mas Castells tem razo em apontar o

    quanto o simples pressuposto de uma contra-

    posio urbano-rural, mais do que esclarecer,torna nebulosas as relaes sociais que a se

    tenta abarcar. Se Simmel o primeiro a falar

    em estilo de vida (em A Filosofia do Dinhei-

    ro), fato que ele estiliza o urbano, tanto

    quanto o rural ou tradicional. E fato tambm

    que essa estilizao persiste todas as vezes

    em que o contraponto rural-urbano repetido

    inadvertidamente.O dilema que no apenas a cidade, mas

    toda a sociedade moderna pe para o indiv-

    duo est no fato de abrir infinitas possibilida-

    des para o desenvolvimento singular e, ao mes-

    mo tempo, dificultar imensamente a percepo

    dessa singularidade, seja no espao mais pr-

    ximo, seja no mais distante. Se todos os outros

    indivduos assumem a mesma atitude blase amesma reserva, no resta quem possa reconhe-

    cer o valor da individualidade alheia. Ou, dito

    de outro modo, se todas as relaes se regem

    pela ordem abstrata do capital, a ameaa de

    nivelamento e massificao est em toda parte.

    Existem, ento, fundamentalmente, duas

    possibilidades para o indivduo. Quando me-lhor provido de capital econmico ou cultural,

    poder dar origem a aes de longo alcance

    e, paralelamente, organizar sua vida privada

    conforme lhe convm. Eventualmente, esse

    indivduo tem influncia poltica pessoal, im-

    pulsiona o comrcio interior e exterior, obtm

    informaes amplas, tem a oportunidade de

    se comparar com seus pares no mundo intei-ro. A especializao decorrente da diviso do

    trabalho resulta, para esse indivduo, no na

    simples alienao e na repetio infinita dos

    mesmos gestos simplrios numa fbrica ou

    num escritrio, mas na dedicao a um tema

    ou setor especfico. Nesse contexto, importam

    a vida privada e a vida mundial, enquanto a

    vida da vizinhana, a atuao na prpria rua,no prprio bairro ou, enfim, numa produo do

    espao local ou microlocal, quase nula. Essa

    produo resulta quase exclusivamente de de-

    terminaes ou esquemas abstratos.

    Se, por outro lado, o indivduo no dis-

    pe de capital econmico ou cultural, suas

    possibilidades de ao se restringem, no mais

    das vezes, ao espao privado. Assim como umintelectual burgus, o morador pobre de uma

    Mietskasernena Berlim de 1900 tem poucas

    possibilidades de agir sobre o espao de sua

    vizinhana, pois esse determinado supralo-

    calmente. Mas, ao contrrio do intelectual, sua

    participao na cultura mundial tambm

    sempre heternoma. Ele participa do cosmopo-

    litismo da metrpole apenas como admirador e,eventualmente, quando sua situao financeira

    no inteiramente precria, como consumidor.

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    Silke Kapp

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    A investigao que Kracauer realiza em Berlim

    na dcada de 1920 a respeito dos Angestellten

    (empregados ou funcionrios que trabalham

    em lojas, escritrios, etc.) evidencia como esse

    estrato se esfora em participar dos hbitos daburguesia e se submete inteiramente a regras

    dadas de antemo.

    O vcio marcante na Alemanha burguesa

    de se destacar da multido por alguma

    distino, mesmo que seja apenas imagi-

    nria, dificulta a coeso entre os empre-

    gados mesmos. Eles dependem uns dos

    outros e querem se distinguir uns dos ou-tros. (Kracauer, 1971, p. 83)

    Grande parte dessa populao urbana

    no identifica a si mesma como classe domi-

    nada e, por isso, tem ainda menos fora poltica

    do que o operariado. A ameaa que assombra a

    burguesia cultural nesse contexto sua queda

    no estado heternomo da massa. O esforo

    que ela pode fazer contra isso , justamente,

    o desenvolvimento da personalidade ou da in-

    dividualidade pelo reconhecimento no crculo

    geograficamente muito amplo de seus pares.3

    Tudo isso significa, em sntese, que o que

    Simmel discute como um distanciamento men-

    tal em relao ao espao (social e pblico) mais

    prximo vale tanto para os cidados melhor

    posicionados (que podem desenvolver proxi-

    midade mental com o que est espacialmente

    distante e engendrar aes de longo alcance

    geogrfico), quanto para a massa de operrios

    e empregados (que no tem esse alcance se-

    no como consumidora). Ele implica, concreta-

    mente, a alienao da produo do espao co-

    tidiano da cidade. Ou o indivduo se engaja nas

    esferas que geram os esquemas determinantes

    dessa produo, tais como os orgo pblicos

    de planejamento, ou ento se restringe esfera

    privada e se comporta no espao pblico ape-

    nas como consumidor ou usurio. Lido desse

    modo, Simmel j aborda o que Lefebvre cha-

    mar mais tarde de espao abstrato e quegera usurios que no conseguem reconhecer

    a si mesmos (Lefebvre, 1991, p. 93) nesse es-

    pao, mas tampouco conseguem confront-lo

    criticamente porque o naturalizam.

    O esfacelamento da cidade

    Segundo o contraste que Simmel estabelece

    entre a grande cidade e o resto do territrio

    (campo, cidade pequena), subsistem, lado a

    lado, uma produo abstrata do espao que

    avana contiuamente para alm de seus limi-

    tes e uma produo mais antiga, que tenta

    manter suas delimitaes e sua autonomia in-

    terna (que, no caso, coletiva, no individual).

    No existe equilbrio possvel entre essas duas

    formas, isto , entre cidade e campo ou, con-

    siderando a crtica de Castells, entre produo

    capitalista do espao e um territrio ainda no

    inteiramente determinado por ela. O contraste

    tende a desaparecer, assim como cada um de

    seus termos. De fato, Lefebvre constata esse

    desaparecimento.

    Capitalismo e neocapitalismo produziram

    espao abstrato, que inclui o mundo das

    mercadorias, sua lgica e suas estra-

    tgias mundiais, bem como o poder do

    dinheiro e o do estado poltico. Esse es-

    pao fundado na vasta rede de bancos,

    centros de negcios e grandes entidades

    produtivas, assim como em estradas, ae-roportos e redes de informao. Dentro

    desse espao, a cidade outrora a estufa

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    De Simmel ao cotidiano na metrpole ps-urbana

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 439-450, jul/dez 2011 447

    da acumulao, fonte da riqueza e cen-

    tro do espao histrico se desintegrou.

    (Ibid., p. 53)

    O esgaramento total dos limites da me-

    trpole que Simmel ainda percebe como enti-

    dade relativamente diferenciada, torna-se mais

    evidente nas atuais regies metropolitanas em

    todo o mundo. Elas se tornaram estruturas que

    afetam e determinam todo o territrio e todos

    os processos sociais. Seus fenmenos incluem

    as conurbaes, a suburbanizao e a periferi-

    zao, mas, o que me parece ainda mais sig-

    nificativo, incluem tambm uma fuso entre

    reas urbanas e reas tradicionalmente rurais e

    entre atividades urbanas e atividades tradicio-

    nalmente rurais. Na medida em que isso torna

    a distino urbano-rural desprovida de senti-

    do, caberia a noo de uma metrpole ps-

    -urbana.4

    No nova a argumentao de que o

    xodo rural massivo e a ampliao da agro-in-

    dstria vm gerando novas articulaes entre

    o rural e urbano, que impedem a classificao

    de determinados municpios em uma ou outra

    categoria e d origem categoria do rurubano

    (Veiga, 2001; Graziano da Silva, 1999). Cabe,

    no entanto, perceber tambm o reverso dessa

    situao. Alm da extenso da lgica econ-

    mica de que, nas palavras de Lefebvre, a cida-

    de foi estufa, h possibilidades de fuso de

    modos de vida que partem dos indivduos. Um

    exemplo concreto nesse sentido permite algu-

    mas inferncias sobre como a rurubanidade

    ou ps-urbanidade pode incidir na produ-

    o do espao cotidiano nesse caso. Mazzetto

    (2008) realizou uma pesquisa nessa direo em

    assentamentos da reforma agrria na Regio

    Metropolitana de Belo Horizonte. Uma pri-

    meira constatao importante que o vai-e-

    -vem rural-urbano-rural [...] marcou o caminho

    da maioria dessa populao (ibid., p. 17), ou

    seja, trata-se de pessoas que experimentarama lgica da grande cidade, seus mltiplos es-

    tmulos e seus mecanismos de alienao e

    massificao, e que no retornam s atividades

    rurais como se nunca tivessem sado do cam-

    po. A vida cotidiana dessa populao no um

    simples retorno a um estgio rural anterior. Na

    maioria das famlias, h um ou mais membros

    com ocupaes tipicamente urbanas (estudoou trabalho), agregando renda e viabilizando

    sua permanncia nos assentamentos. Uma se-

    gunda constatao importante que a opo

    de retorno aos ofcios rurais teve, a julgar pelos

    depoimentos dos prprios assentados, moti-

    vaes diretamente relacionadas ao desejo de

    autonomia, tanto no trabalho e no controle do

    tempo quanto na produo do espao cotidia-no. Alm da evidente possibilidade de traba-

    lhar por contra prpria, so razes para a mi-

    grao: correr do aluguel, cuidar dos filhos

    da gente, ter uma vida mais lenta ou deixar

    de se submeter a uma ordem abstrata; se f

    prs pessoa me d um apartamento desses de

    luxo na cidade, Deus que me perdoa, eu no

    quero no (ibid., pp. 18-19).

    Nesse tipo de situao, parece surgir

    uma modalidade de cotidiano que ultrapassa

    a submisso aos mecanismos sociotcnicos

    (no sentido de Simmel) ou ao espao abstra-

    to (no sentido de Lefebvre), fazendo mais jus

    ao fato de que autonomia no espao cotidiano

    um elemento constitutivo de sujeitos politica-

    mente autnomos.

  • 7/29/2019 De Simmel ao cotidiano na metrpole ps-urbana

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    Silke Kapp

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 439-450, jul/dez 2011448

    Enquanto a vida cotidiana permanecer

    subjugada ao espao abstrato, com seus

    constrangimentos muito concretos, en-

    quanto as nicas melhorias forem melho-

    rias tcnicas de detalhes (por exemplo, a

    frequncia e a velocidade do transporte

    ou amenidades relativamente melhores),

    enquanto, em suma, a nica conexo

    entre espaos de trabalho, espaos de

    lazer e espaos de vida for fornecida por

    agenciamentos do poder poltico e pelos

    seus mecanismos de controle enquanto

    isso, o projeto de mudar a vida conti-

    nua sendo no mais do que um grito de

    torcida poltico a ser acatado ou aban-donado conforme o humor do momento.

    (Lefebvre, 1991, pp. 59-60)

    Como nota o j citado Schller-Schwedes

    (2008), a sociologia urbana sempre operou

    predominantemente com referncia a uma vi-

    zinhana idealizada, cujo carter compulsrio

    pouco tematizado. A abordagem de Simmel

    contraria essa ideia de que a soluo para a mi-sria urbana estaria nas relaes de vizinhana.

    Talvez sua perspectiva esteja mais prxima de

    um Estado de bem-estar social, tal como de fa-

    to predominou nas cidades de primeiro mun-

    do durante algum tempo, tornando os indiv-

    duos muito independentes uns dos outros, mas

    tanto mais dependentes dos agenciamentos

    do poder poltico. Nesse sentido, o espao

    inteiramente abstrato do subrbio abastado

    seria o padro ps-urbano por excelncia, con-

    traposto a quaisquer imagens idealizadas da

    cidade europeia pr-industrial.

    Por outro lado, tambm se pode imaginarque ps-urbana seria uma situao em que o

    contraste entre engajamento ou no engaja-

    mento em espaos geograficamente prximos,

    a constituio de grupos locais com certa coe-

    so interna e fora poltica, deixa de ser equi-

    valente ao contraste entre campo e cidade, pr-

    -moderno e moderno, tal como Simmel ainda

    o v, e passa a ser um contraste entre grupospopulacionais no interior do espao urbano ou,

    de modo mais abrangente, do espao rururba-

    no. Assim como os assentamentos agrrios, os

    espaos autoproduzidos (vilas, favelas, slums)

    so lugares em que relaes de vizinhana

    (amistosas ou hostis) continuam sendo decisi-

    vas e o potencial de uma identificao com in-

    teresses coletivos espacialmente definidos sub-siste. Restaria ento perguntar se a proximi-

    dade mental do espacialmente prximo exclui

    necessariamente a proximidade mental com o

    espacialmente distante, como Simmel supe.

    Os movimentos sociais das ltimas dcadas

    incluindo o MST que deu origem aos supracita-

    dos assentamentos, bem como os movimentos

    pela reforma urbana indicam o contrrio.

    Silke Kapp

    Arquiteta e doutora em filosofia. Professora adjunta da Escola de Arquitetura da Universidade

    Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, Brasil.

    [email protected]

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    De Simmel ao cotidiano na metrpole ps-urbana

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 439-450, jul/dez 2011 449

    Notas

    (1) inteiramente distorcida, nesse sendo, a narrava de Theodor Lessing (1914), aluno de Simmel

    e o primeiro a tentar relacionar sua teoria com sua prpria experincia de vida na grande cidade.

    Lessing supe, por exemplo, que o local de nascimento de Simmel, esquina de Leipzigerstraee Friedrichstrae, j seria, em 1858, um conturbado e barulhento ambiente urbano, quando,

    na verdade, tratava-se de um local que pareceria bastante pacato aos nossos olhos (Jazbinsek,

    Joerges e Thies, 2001).

    (2) A citao provm de um texto que Simmel escreve por ocasio da Exposio Industrial de Berlim,

    em 1896. Ulizo aqui a traduo de Waizbort (2000, p. 345).

    (3) Entra aqui tambm a posio das vanguardas arscas que, como bem nota Waizbort (2000),

    constuem dissidncias da alta burguesia, opondo-se aos seus valores e, ao mesmo tempo,

    dependendo se suas estruturas. Essa contradio que pode ser resumida na contradio entre

    um iderio ancapitalista e a impossibilidade de existncia sem o capitalismo desemboca naconcentrao no aperfeioamento estco da personalidade.

    (4) Teaford (2006) aborda a suburbanizao com o termo ps-urbano, mas, como j dito, esse

    aspecto no est em foco aqui.

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    Silke Kapp

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    Texto recebido em 18/ev/2011

    Texto aprovado em 1/jul/2011