Departamento de Pesquisas Me Cann Erickson .Publi … · Cann Erickson .Publi cidade Ltda. (sob a...

2
Entre estes, os aspectos organizacio- nal, ambiental e comportamental são tratados, sugerindo resultados satisfa- tórios quando abordados de maneira ade quad a. O mesmo ocorre, na obra, com o "enriqueci mento do tra- balho" .** F inalment e, o pr ocesso de ad mi- ni stração de pessoál é t ratad o, partin- do de levanta mento de dados para a análise e avaliação de cargos, planeja- ment o de pessoal, recrutame nto e se- leção. A abordagem destas áreas faz- se cuidadosamente, in ovando em cer- tos as pectos da área de especializa- ção. Desenvolvimen to organizacional tr atad o co mo uma e st ra gia que faz uso do processo de gru po, visando à aceitação de mudança p lanejada, al- tera ndo crenças, at itudes·, va lores, es- tru tu ras e prát icas, adapt ando a orga- nização à mudança. Iniciar u ma nova ordem de co isas é crucial, mas a ela a organização não está im une, assim co mo não pode fugir à aval iação d e desempen ho, que os auto res consid e- ram um conce ito central na adm ini s- tr ão eficiente_ Embo ra não se li be- re d as tr adicionais abordage ns q ue out ros auto re s fazem da avaliação de desempe nh o, a obra se estende o suf i- ci ente para que o l ei tor compre enda bem as técnicas reco mendadas, enca- mi nhando-o a cri ticar certas po si ções assumidas po r Werther e Davi s ao co- mentarem as implicações da avalia- ção. O capít ulo sobre motivação e sa- t isfação no tr abalho, bastante estr u- tu rad o, of erece leitura oportuna dos mais atualizados modelos de motiva- ção e de modificaÇão de comport a- mento. Os cap(tulos referentes a sa l á- rios, incentivos, ben ecios, higiene e seg urança, si nd ica li smo, co nt rat os co- leti vos e est at ut os afins , estão mais de acordo com as leis e praxes ameri- canas, não oferecendo vivência das prá ticas de nossos empresário s_ O Ary Ribeiro de Carvalho * N. do T. À f al ta de mel hor termo no v ern áculo, opt amos per " de lineamento" para job desígn . ** N. do T. Enrichment dos autores. Departamento de Pesquisas Me Cann Eri ckson .Pub li cidade Ltda. (sob a direção de Vera Aldrighi). Profissão : prendas do- mésticas, um e studo sobre do- nas-de-casa. São Paulo, 1980. 120p. No do m (nio da pesquisa de merc ado te nd e-se rece nteme nt e a ass ocia r d is- . posições pessoais de consumo a m u- danças mais gerais na co ndição de vi - da dos(as) co nsumid ores( as ). O es- tu do da Me Can n entra nessa linha. Sabendo que a mulher é ainda o p ri ncipal gerente de co mp ras do do- mi cílio, a pesq uisa levantou a quan tas anda o desempenh o desse papel e de seus nessa época de · abalo sério na servi dão femini na de n- tro de casa. E, sem ultrapassar a t axa . de fra nqueza as s imi vel pelo seu - b li co de leitores executivos, o relató- ri o mostr a que, nas principais cl asses de consu mo urbanas, a mulher anda bastant e cheia do velho modelo de subserviência evocado na expressão "dona-de- casa". Nesse senti do, é' meio cômico que o título escolhi do para es sa edição seja a negação mais frontal de uma das co nclusões ma is si gnificativas, que está à página 7: 1 "As exp ressões 'dona-de-ca sa' ou 'prendas domésticas' provocam ve r- revolta. Sugerem um ate stado de incapacida de profissional, de des- preparo pa ra a vida fora de casa, à mulher qu e se dedica exclusivame nte a um monót ono trabalho caseiro e charges, como a da página 24, q ue mostra uma mulher "robotizada", ou totalmente induzida pela mídia de TV, contr aria o crivo severo sob o qual elas julgam a publicidade, segun- do consta do próprio texto. Esses in- díc ios sugerem que no preparo da edição operaram preconceitos ma is ar rai gados. A Me Cann ouviu 1.080 mulheres casad as , d as classes A, 8 e. C de o Paulo e do R io de Janeiro, falarem de co mo orga nizam e como encaram a at ivi dade domé stica, e do que pen- sam acerca de u ma rie de i tens rela- tivos à moral d ominante, do lugar da m ulher nessa moral, e outros tantos parâmetros qu e perm i tem situá-la s numa escala de "modernidad e" de co m po rta mento . Do ângulo comer- c ial , a impo rtâ nc ia dessa escala est á na suposição de que não se pode ava- liar o potenci al e as característi cas do mercado , de uma série de bens de uso pessoal e domést i co, sem associá-los às muda as na d ivi são do trabalho de gest ão do dom ilio e às dem ais transfor maçõ es qu e de sembocam na aut on omização da mulher. Mas não se infira da insat isfação da m ul her casada , .despontada em queixas insistent es q ua nto à mo noto- ni a e à desvalorização do t rabal ho do- méstico, um estado avançad o de libe- ração fem ini na. A a uto nomia e a in- depe nnc ia comumente afirmadas nas ques tões de opinião acerca do que a mulher de ve ser d esmentem -se b rutalme nte - para consolo dos apo- calíp ticos - quando rebatidas à vi da co ncreta qu e elas levam. Assim, é assom br os a a parcela das m ul heres q ue ainda se confessam proibidas por . seus maridos de: sair com amigos sem e le (70%), usar roup as " ext rava · gantes" (59%}, fumar( !) (45%) e até mesmo- pasme o leito r- de estud ar (18%). Aliás, fal t ou perguntar se elas acata m tais pr oibições, para melh or reg ul ar o nível de ema nc ipação em curso. sso ce rta me nte tem a ver com o fato de que apena s 14% d as mul he- res dividem com o marido as despesas d.e ma nu tenção da casa, nas demais e le assegurando soberanamente o to- t al da receita e o seu reinadozinho que carece de informações, de conta- particular. tos, de interesses , enfim de desenvol- F icamos sabendo que as mulheres vi ment o pessoal." E mesmo algumas são amplamente favoráveis ao traba- Resenha bibliográfica 81

Transcript of Departamento de Pesquisas Me Cann Erickson .Publi … · Cann Erickson .Publi cidade Ltda. (sob a...

Page 1: Departamento de Pesquisas Me Cann Erickson .Publi … · Cann Erickson .Publi cidade Ltda. (sob a direção de Vera Aldrighi). ... mercíais de TV e consideram cansati-vas as cenas

Entre estes, os aspectos organizacio­nal, ambiental e comportamental são tratados, sugerindo resultados satisfa­tórios q uando abordados de maneira adequad a. O mesmo ocorre , na obra, com o "enriquecimento do tra­bal ho" .**

F inalmente, o processo de ad mi­nistração de pessoál é t ratado , parti n­do de levantamento d e dados para a análise e aval iação de cargos, planeja­mento de pessoal , recrutamento e se­leção. A abo rdagem destas áreas faz­se cuidadosamente, inova ndo em cer­tos aspectos da área de especializa­ção. Desenvo lvimento o rgan izacional

, é tratado como uma est ratégia que faz uso do processo de grupo, visando à aceitação de mudança p lanejada, al­terando crenças, atitudes·, va lores, es­

trutu ras e práticas, adapt ando a orga­nização à muda nça. In iciar uma nova ordem de co isas é crucial, mas a ela a orga nização não está imune, assim como não pode fugir à aval iação d e desempenho, que os autores conside­ram um conceito central na adminis­tração eficiente_ Embo ra não se li be­re das tradicionais abordagens q ue outros auto res fazem da avaliação de desempenho, a obra se estende o suf i­ci ente para que o leito r compreenda bem as técnicas recomendadas, enca­mi nhando-o a criticar certas posi ções assumidas por Werther e Davis ao co­mentarem as implicações da avalia­ção .

O capítulo sob re motivação e sa­t isfação no trabalho, bastante estru­tu rado, oferece leitura oport una dos mais at ualizados modelos de motiva­ção e d e modificaÇão de comporta­mento. Os cap (tulos referent es a sa lá­rios, incentivos, benefícios, higiene e segurança, si nd ica li smo, contrat os co­letivos e est atut os afins , estão mais de acordo com as leis e praxes ameri­canas, não oferece ndo vivência das práticas de nossos em presários_ O

Ary Ribeiro de Carvalho

* N. do T . À falta de mel hor te rmo no vernáculo, optamos per "delineamento" para job desígn .

** N. do T. Enrichment dos autores.

Departamento de Pesquisas Me Cann Erickson .Pub licidade Ltda. (sob a direção de Vera Aldrighi). Profissão : prendas do­mésticas, um estudo sobre do­nas-de-casa. São Paulo, 1980. 120p.

No dom (nio da pesquisa de mercado tend e-se recentemente a associar d is- . posições pessoais de co nsumo a m u­d anças ma is gerais na condição de vi ­da dos(as) consumidores(as ). O es­

tudo da Me Cann entra nessa linha . Sabend o que a mulher é aind a o

pri nci pal gerente de compras do do­mi cílio, a pesq uisa levantou a quan- · tas anda o desempenho desse papel e de seus correlatos ~ nessa época de · abalo sério na servidão femini na den­tro de casa. E, sem ultrapassar a t axa . de franqueza assimi lável pelo seu pú­b lico de leitores executivos, o relató­rio mostra que, nas principais classes de consumo urbanas, a mulher anda bastante cheia do velho modelo de subserviência evocado na expressão "dona-de-casa". Nesse sentido, é ' meio cômico que o título escolh ido para essa edição seja a negação mais frontal de uma das conclusões mais significativas, q ue está à página 7:

1

"As expressões 'dona-de-casa' ou 'prendas domésticas' provocam ver­

d~deira revolta. Sugerem um atestado de incapacidade profissional, de des­preparo para a vida fora de casa, à mulher que se dedica exclusivamente a um monót ono trabalho caseiro e

charges, como a da página 24, que mostra uma mulher "robotizada", ou totalmente induzida pela mídia de TV, contraria o crivo severo sob o qual elas julgam a publicidade, segun­do consta do próprio texto. Esses in­dícios sugerem que no preparo da edição operaram preconceitos mais arraigados.

A Me Cann ouviu 1.080 mulheres casadas , d as classes A, 8 e. C de São Paulo e do Rio de J aneiro, falarem de como orga nizam e como encaram a atividade doméstica , e do que pen­sam acerca de uma série de itens rela­tivos à moral dominante, do lugar da mulher nessa moral, e outros tantos parâmetros que permitem situá-las numa escala de "modernidade" de comportamento. Do ângulo comer­cial , a impo rtânc ia dessa escala está na suposição de q ue não se pode ava­liar o potencial e as características do mercado, de uma série de bens de uso pessoa l e domést ico, sem associá-los às mudanças na d ivisão do trabalho de gestão do dom icílio e às demais transformações que desembocam na autono mização da mulher.

Mas não se infira da insatisfação da mulher casada , .despontada em q ueixas insistent es quanto à mo noto­nia e à desvalorização do t rabalho do­méstico , um estado avançado de libe­ração fem ini na. A autonomia e a in­dependência comumente afirmadas nas questões de opinião acerca do que a mulher deve ser desmentem-se b rutalmente - para consolo dos apo­ca lípticos - quando rebatidas à vida concreta que elas levam. Assim, é assombrosa a parcela das mul heres q ue ainda se confessam proibidas por

. seus maridos de: sair com amigos sem ele (70%), usar roupas " ext rava-·· gantes" (59%}, fum ar( !) (45%) e até mesmo- pasme o leitor- de estudar (18%). Aliás, fal tou perguntar se elas acatam tais proibições, para melhor regul ar o n ível de emancipação em curso . sso certamente tem a ver com o fato de que apenas 14% das mulhe­res dividem com o marido as despesas d.e manutenção da casa, nas demais ele assegurando soberanamente o to­t al da receita e o seu reinadozinho

que carece de informações, de cont a- particular. tos, de interesses , enfim de desenvol- F icamos sabendo que as mulheres vimento pessoal." E mesmo algu mas são amplamente favoráveis ao traba-

Resenha bibliográfica

81

Page 2: Departamento de Pesquisas Me Cann Erickson .Publi … · Cann Erickson .Publi cidade Ltda. (sob a direção de Vera Aldrighi). ... mercíais de TV e consideram cansati-vas as cenas

82

lho feminino fora do lar e que em geral aceitam o divórcio e a vida con­jugal sem casamento (em matéria de tolerância, note-se que o R i o de Ja-neiro sempre ganha de São Paulo). Dizem-se saturadas de ver donas-de-casa em serviço doméstico nos co-mercíais de TV e consideram cansati-vas as cenas de propaganda, em que são impostos ambientes de luxo e a autoridade de "gente importante". Elas mantêm, em relação à publici-dade comercial, uma atitude cr(tica

que se revela em indicadores bem su-gestivos: a queixa de que a maioria das mensagens (para qualquer ordem de produto) é "igual e cansativa" e de que a propaganda de liq uidações, de remédios e de xampus são fre-qüentemente mentirosas. Mas o mais engraçado é que, no ran king das pro-pagandas "i rritantes", tenham co nfe-rido um retumbante primeiro lugar às "campanhas de governo", o que indi-ca uma grande repulsa às trombetas

Cordeiro, Hésio. A Indústria de saúde no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1980. 229p.

do Brasil grande q ue, até há pouco, Este livro t rata das relações entre a ato rmentavam o públi co telespec- ind ústria farmacêuti ca e a prestação e tador. co nsumo de ações de saúde. Por um

Enfim, com essa pesquisa os arqui­vos da Me Cann passam a guardar in­formações importantes acerca da es­truturação familiar e da organização do consumo material e s imbólico das popu lações urbanas dos grandes cen­tros - São Paulo e -Rio de Janeiro­especialmente entre as classes médias. Numa conjuntura do campo intelec­tua l em que essas últimas jazem rele­gadas da investigação sociológica, es­tá a ( uma nova fonte de dad os a aproveitar. o

José Carlos Garcia D urand

Revista de Administração de Empresas

lado , temos a questão do consumo de medicamentos, sua crescente partici ­pação na estrutura de gastos em saú­de, suas cond ições de produção e ci r­culação. De outro lado, temos a ques­tão do consumo médico, cuja impor­tância pode ser avaliada, .;egundo o autor, pelo fato de que : " Cerca de 80% das consultas médi cas imp licam a prescrição de um ou mais medica .. mentos. " O exame de t ais questões pressupõe, é claro, o co nheci mento das relações com a prática médica e das pol (ticas estatai s de saúde.

O q ue o autor pretende é a cons­trução de uma teoria explicativa so-

. bre o consumo de medicamentos e o uso de serviços de saúde. Para t ant o , o autor parte da análise de outros es­tudos sobre consumo de medicamen­tos , busqmdo enq uad rá-los no âmbi ­to das orientações teó ricas existentes.

Um primeiro est udo privilegia os modelos sobre utilização de serviços

' de saúde, ou seja, a conduta dos ~on­sumidores de .medicamentos, e inclui variáveis econômicas, sócio-demográ­ficas, psicossociais, culturais e aque­las referentes ao sistema de saúde. Se­gundo o autor, esses estudos se carac­terizam por uma orientação marcada-

mente empiricista, e as análises da conduta do consumidor encobrem uma certa "lógica da cultura de clas­se", ou seja, justifica-se .uma dinâmica do consumo em termos de condutas racionais e livres dos indiv(duos, sem levar em conta a lógica econômica e pol(tíca da produção de medicamen­tos a que estão submetido$ os grupos

sociais. Dadas essas limitações nos estudos

sobre . a conduta do consumidor, o autor se volta para outras orientações empenhadas em dar conta dessas rela­ções entre "as necessidades" e "o consumo" em saúde.

Uma destas orientações seria a questão da medicalização nas socie­dades industriai s, nas q uais o consu­mo de medicamentos não se reduz apc-.' nas à relação entre paciente e ser-

1 viços d e saúde, mas depende de inú­meros fatores p ropriamente sociais. A medicaHzação é vista então como um i 1strumento de cont role pol ftíco e soe i.::~!. O autor t ambém examina de­t ídame'1te as li nhas de pensame nto de lll ich, Dupuy e Karsenty e Navar­ro , que envo lvem análises de práticas médi cas, indústria farmacêutica, indi­vfduos {clientes) e polfticas de saúde .

O autor estuda ai nda Boltanski e suas idéias a respeito de necessidades de saúde e consumo médico, visão que só poderia ser explicada se referi­da ao sistema de relações das c lasses sociais com o saber e a prática mé­dica, onde o papel da medicina é de­finido como " um subpoder institu­ciona l".

Ao estudar o sistema de necess i­dades de saúde, o autor procura fun· damentar-se nas teorias de Marx com relação à produção, consumo e aos processos sociais existentes no modo de p rodução cap italista, entendendo que essas necessidades e o próprio consumo são prod utos sociais e que a ampliação do mercado consumidor

. de medicamentos atende às exigên­: cias da acumulação de capital , princi­palmente da indústria farmacêutica. Assim, o aut or anaJjsa as caracterís­ticas dessa indústria, a produção e circulação de medicamentos, bem co­mo as pol (ticas estatais, principal­mente a criação e expansão do órgão estatal Cerne (Central de Medicamen­tos). O autor salienta ainda a questão