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    DESIGUALDADE SOCIAL E POBREZA COMO CONSEQUNCIAS

    DO DESENVOLVIMETO DA SOCIEDADE

    Regiane Wlodarski Mestranda em Cincias Sociais Aplicadas (UEPG)

    Luiz Alexandre Cunha Professor (UEPG)

    Resumo

    O processo civilizatrio decorre em profundas mudanas, que levaram a sociedade ao desenrolar

    de um processo de modernizao, a partir do qual tivemos uma exacerbao do individualismo,

    na busca pelo bem estar e pela ampliao do desenvolvimento rumo a novas conquistas, onde os

    conceitos que tinham como objetivo principal nortear aes que garantissem a melhoria na

    qualidade de vida, acabaram transformando-se em aes que provocaram o aumento dos ndices

    de desigualdade social, onde muitos no tm acesso aos bens mais essenciais a vida. A pobreza,

    entendida como principal conseqncia da desigualdade social uma problemtica histrica que

    acompanha as formas de relaes sociais.

    Palavras chave: Processo Civilizatrio; Modernidade e Pobreza

    1 CONSIDERAES INICIAIS

    Nosso objetivo neste texto realizar uma reflexo sobre o processo de mudanas naforma de agir e pensar que a sociedade sofreu e vem sofrendo, discutindo o processocivilizador e as conseqncias deste processo delimitando-se para a modernidade, que vem

    provocando profundas mudanas na sociedade e na forma de sua organizao social.O processo civilizador, entendido aqui, como uma transformao ocorrida na

    sociedade e que traz novas configuraes nas relaes sociais, processo que no se d pelaao de indivduos isolados, mas resultado das relaes entre os homens na construo dahistria, afirmando o pensamento de ELIAS (1993), sobre a forma que se realiza o

    processo civilizador:...planos e aes, impulsos emocionais e racionais de pessoas isoladasconstantemente se entrelaam de modo amistoso ou hostil. Esse tecido bsico,resultante de muitos planos e aes isolados, pode dar origem a mudanas emodelos que nenhuma pessoa isolada planejou ou criou. Dessainterdependncia de pessoas surge uma ordem sui generis, uma ordem maisirresistvel e mais forte do que a vontade e a razo das pessoas isoladas que acompem. essa ordem de impulsos e anelos humanos entrelaados, essaordem social, que determina o curso da mudana histrica, e que subjaz aoprocesso civilizador (p. 194).

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    2 O PROCESSO DE CIVILIZAO E DE MODERNIZAO DA SOCIEDADE

    O homem no decorrer do seu processo histrico vem procurando compreender einterpretar sua prpria histria, que nada mais , do que resultado da ao do homem,

    enquanto ser histrico e social. Para isto, necessita observar as relaes sociaisestabelecidas.Rosseau apud Nascimento 2001, no sculo XVII e XVIII, ao apresentar reflexes

    sobre a evoluo do homem e suas relaes na sociedade, diz: que o homem se torna sersocial atravs do processo de trabalho. Pois, na medida em que se desenvolve e expandesuas atividades e instrumentos de trabalho, as dificuldades se multiplicam, o que exige quecrie condies necessrias para sua sobrevivncia.

    Neste processo o homem toma conscincia de si mesmo e individualiza-se,percebendo a necessidade de sobrepor-se a outros e de desenvolver cada vez mais suashabilidades, ou seja, passa por um processo de civilizao1. De acordo com ELIAS (1993):Toda essa reorganizao dos relacionamentos humanos se fez acompanhar de

    correspondentes mudanas nas maneiras, na estrutura da personalidade do homem, cujoresultado provisrio nossa forma de conduta e de sentimentos civilizados (p.195).

    Esse processo de tomada de conscincia, de compreender a importncia da relaoentre os homens e a importncia de sua ao enquanto ser histrico e social entendidacomo prxis. De acordo Marx, prxis o agir consciente, onde o homem diferente de outroanimal realiza suas aes traando um objetivo e buscando um resultado, e desta formaauxilia no processo de construo da histria coletiva.

    A prxis ativa, atividade que se produz historicamente quer dizer, que serenova continuamente e se constitui praticamente -, unidade do homem e domundo, da matria e do esprito, de sujeito e objeto, do produto e da

    produtividade. Como a realidade humano-social criada pela prxis, a histriase apresenta como um processo prtico no curso do qual o humano se distinguedo no-humano: o que humano e o que no humano no so jpredeterminados; so determinados na historia mediante uma diferenciaoprtica (KOSIK, 1976, p. 202).

    Analisando as reflexes de Kosik 1976, compreendemos que a prxis determina ohomem na sua totalidade, na medida em que se manifesta em todas as relaes daexistncia do homem, tanto em suas atividades objetivas como atravs de suasubjetividade.

    A histria do homem construda atravs de um processo dialtico, onde passa porprocessos de mudanas e transformaes, interagindo com os homens, com a realidade e

    consigo mesmo. Neste sentido, como Marx, j colocava, no faz a histria como quer, esim influenciado por questes presentes no momento histrico (conjuntura) e narealidade social (relaes estabelecidas pelo prprio homem).

    Com as mudanas e transformaes ocorridas os homens passaram cada vez mais adepender da realizao de aes conjuntas, para tornar possvel a convivncia emsociedade, Norbert Elias chama estas relaes de cadeias de interdependncia:

    1 A civilizao no razovel, nem racional, como tambm no irracional. posta em movimento cegamente e mantida emmovimento pela dinmica autnoma de uma rede de relacionamentos, por mudanas especificas na maneira como as pessoas se vemobrigadas a conviver (ELIAS, 19993, p. 195).

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    Mas fosse consciente ou inconscientemente, a direo dessa transformao daconduta, sob a forma de uma regulao crescentemente diferenciada deimpulsos, era determinada pela direo do processo de diferenciao social, pelaprogressiva diviso de funes e pelo crescimento de cadeias deinterdependncia nas quais, direta ou indiretamente, cada impulso, cada ao do

    indivduo tornavam-se integrados (ELIAS, 1993, p. 196).

    A sociedade passa a tornar-se mais complexa e necessita de formas de organizaoentre os homens, que passam a dividir-se em diferentes grupos sociais, necessitando daregulao de suas aes, atravs de regras e normas, que impedem os homens a transgredi-las. ELIAS (1993) analisa esta questo e chama as regras de formas de autocontrole:

    A teia de aes tornou-se to complexa e extensa, o esforo necessrio paracomportar-se corretamente dentro dela ficou to grande que, alm doautocontrole consciente do indivduo, um cego aparelho automtico deautocontrole foi firmamente estabelecido (p. 196).

    Neste processo, os vrios filsofos e socilogos que estudaram a histria dohomem, compreendem dois processos que so determinantes nas relaes estabelecidasentre os homens que a necessidade e liberdade.

    O homem nas suas primeiras relaes com a natureza e com os outros homensbuscava suprir suas necessidades mais essenciais, e a partir desta garantia, busca tambm aliberdade.

    A partir do momento em que as relaes tornam-se mais complexas, com asrelaes capitalistas e com a busca pela modernizao2 da sociedade, muitos desteshomens no conseguem suprir as suas necessidades mais bsicas, nem alcanar sualiberdade, reduzindo-se a simples lealdade ao Estado.

    A ordem social emergente da modernidade capitalista tanto em seu sistemaeconmico como em suas outras instituies. O carter mvel, inquieto damodernidade explicado como um resultado do ciclo investimento-lucro-investimento que, combinado com a tendncia geral da taxa de lucro a declinar,ocasiona uma disposio constante para o sistema expandir (GIDDENS, 1991,p.20).

    O sistema de organizao moderno no resulta apenas do sistema capitalista, masdas mudanas que ocorrem para garantir seu desenvolvimento, o processo deindustrializao e diviso social do trabalho.

    BLACKBURN 1992, estuda este processo e considera o homem e a natureza comovampiros da razo, na medida em que dificultam e impedem a satisfao das necessidadese da liberdade. Refere-se tambm ao processo de relao das necessidades com a busca

    pela liberdade, onde na medida em que se busca a liberdade, se criam novas necessidades,e o mesmo acontece inversamente.

    Para BLACKBURN 1992, a natureza no apenas o palco onde acontece a histriado homem, mas ela influencia nos acontecimentos, bem como determina a histria dohomem. A natureza interage com este homem.

    A modernidade, por conseguinte, no apenas envolve uma implacvel ruptura comtodas e quaisquer condies histricas precedentes, como caracterizado por um

    2

    modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organizao social que emergiram na Europa a partir do sculo XVII e queulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em suas influncia (GIDDENS, 1991, p. 11).

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    interminvel processo de rupturas e fragmentaes internas e inerentes (HARVEY,1992,p. 22).

    Neste processo de construo da histria, que se d pela civilizao do homem,torna-se necessrio a busca pela igualdade e pela justia social, onde todos possam suprir

    suas necessidades.

    3 - IGUALDADE CONCRETA E DESIGUALDADE ABSTRATA

    Tanto a igualdade como a desigualdade so criadas e direcionadas por regras enormas, estas normas e regras que direcionam as aes podem ser concretas ou abstratas.Heller 1998, conceitua as normas concretas como regras a serem seguidas, direcionando asaes em situaes especiais; sendo que as normas abstratas variam de acordo comsentimentos e necessidades, podendo ser diferente a cada situao, permite agir sempre deforma diferente.

    As normas concretas so entendidas desta forma, como um conceito formal de

    justia. Minha redefinio de conceito formal de justia o seguinte: o conceito formal dejustia significa a aplicao consistente e contnua das mesmas normas e regras a cada umdos membros de um agrupamento social aos quais elas se aplicam (HELLER, 1998, p.20).

    Neste sentido, entende-se que o conceito formal de justia est ligado ao querealmente pode ser considerado justo, ou seja, a aes que so determinadas por regrasdirecionadas a situaes que apresentam as mesmas caractersticas.

    De acordo com Heller, deixar de aplicar as regras de forma igual aos membros deum grupo, que exige este procedimento, entendido como uma forma de injustia edesigualdade.

    Como as regras e normas so construdas socialmente, da mesma forma podem serquestionadas e at mesmo desativadas, quando consideradas uma forma de injustia,

    porm, o conceito formal de justia no pode ser questionado.A aplicao de normas e regras, tambm pode ser tendenciosa tratando casos iguais

    de forma diferenciada, o que realizado de forma intencional e ideolgica, sendoconsiderado uma injustia.

    Norbert Elias, nos chama a ateno para a forma como estas regras so aceitaspelos diversos segmentos da sociedade:

    no presente contexto, talvez seja suficiente chamar a ateno para o fato de que,de modo geral, os estratos inferiores, os grupos marginais e mais pobres, numdado estgio do desenvolvimento, tendem a seguir suas paixes e sentimentos

    de forma mais direta e espontnea, regulando-se sua conduta menosrigorosamente que a dos respectivos estratos superiores (ELIAS, 1993, p. 210).

    Na sociedade moderna temos muitas situaes onde as normas e regras acabamdirecionando suas posies em busca de defender o desenvolvimento do capital e dosinteresses da classe que encontra-se no poder, perdem seu carter de impessoalidade. Asregras no so construda de acordo com o interesse de todos e sim de grupos restritos, porisso, a dificuldade da aceitao por todos.

    Na sociedade capitalista temos os valores liberais como princpio norteador dasaes dos homens, onde existe uma busca constante pela universalidade3, individualidade3e

    3

    A universalidade significa que ele vise todos os seres humanos, independentemente de barreiras nacionais, tnicas ou culturais. Aindividualidade significa que esses seres humanos so considerados como pessoas concretas e no como integrantes de uma coletividade

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    autonomia3do homem, procurando cada vez mais o desenvolvimento da razo individual epriorizando o mercado e a propriedade individual.

    Segundo Rouanet 1993, estes conceitos de universalidade, individualidade eautonomia, esto sendo tratados com novas interpretaes, onde o universalismo est

    sendo substitudo pelo nacionalismo, proliferando em muitos casos o racismo e axenofobia; o individualismo se expressa no conformismo e busca somente pelo benefcioprprio; a autonomia transformou-se em uma desresponsabilizao pelo ser humano, ondecada um responsvel por si mesmo e muitos vivem em condies sub-humanas.

    Ocorre que simultaneamente com a racionalizao do mundo vivido, quepermitiu esse aumento de autonomia, a modernidade gerou outro processo deracionalizao, abrangendo a esfera do Estado e da economia, que acabou seautonomizando do mundo vivido e se incorporou numa esfera sistmica,regida pela razo instrumental (ROUNET, 1987, p.14).

    O Estado aparece como defensor da propriedade privada, da liberdade do mercado,

    subordinado a lgica e desenvolvimento do capital. Torna-se um Estado mximo para ocapital e mnimopara o social.

    A crtica de Marx ao indivduo egosta das Declaraes dos DireitosHumanos no envolve nenhuma crtica aos conceito de indivduo em si. Ela acrtica de uma concepo que v o indivduo como simples mnada que seagrega mecanicamente a outras mnodas para compor a sociedade, ignorando ofato de que o indivduo est sempre inserido no conjunto definido de relaessociais. Na sociedade capitalista, essas relaes levam ao declnio do indivduoe atrofia de suas potencialidades. Mudar essas relaes libertar o indivduo.No se trata, portanto, de dissolver o indivduo na sociedade, mas de dissolveruma certa sociedade para emancipar o indivduo (ROUANET, 1993, p. 28 e 29).

    Para que se tenha uma ao voltada para a maioria da populao, para que sebusque o bem estar de todos, sente-se a necessidade da construo de um novo pactosocial, voltado para o social e no para o capital.

    Rawls 2002, realiza um estudo sobre a teoria da justia, onde a justia entendidacomo eqidade, buscando a liberdade do indivduo. A sociedade que passou por um

    processo de civilizao e modernidade atravs da formulao de um contrato, pautado nademocracia e eqidade, ter condies para alcanar os direitos bsicos.

    A justia s ser eqitativa, quando for construda uma sociedade democrtica,atravs da redistribuio de renda e do impedimento da concentrao de bens e riquezashereditrias.

    Neste sentido, torna-se necessrio que se firme um novo pacto, como parmetro dasrelaes sociais, onde o Estado deve servir ao cidado, defendendo o que justo, o que legal.

    4 DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL

    O Brasil um pas que foi colonizado com o objetivo de explorar os recursosnaturais (minerais e vegetais) que estavam disponveis em nosso territrio.

    e que se atribui valores ticos positivo sua crescente individualizao. A autonomia significa que esses seres humanos individualizados

    so aptos a pensarem por si mesmos, sem a tutela da religio ou da ideologia, a agirem no espao pblico e a adquirirem pelo seutrabalho os bens e servios necessrios sobrevivncia material (ROUANET, 1993, p. 9).

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    Desde o incio do desenvolvimento e explorao do territrio, o planejamento nose voltava para os interesses de melhorar o pas e as condies dos que aqui viviam. Comonos afirma PRADO JUNIOR (2004) : A idia de povoar no ocorre inicialmente anenhum. o comrcio que os interessa, e da o relativo desprezo por este territrio

    primitivo e vazio que a Amrica...( p. 23).Ainda de acordo com PRADO JUNIOR 2004, at mesmo o processo de ocupaodo territrio acontecia para suprir os interesses do mercado externo. Produzia-se de acordocom a necessidade do mercado, explorando cada vez mais o territrio desconhecido, em

    busca de terras frteis. A mo de obra aqui existente migrava de acordo com esteplanejamento que lhes era, num primeiro momento, estranho.

    A concentrao fundiria foi decorrente da estrutura produtiva baseada naexplorao de cana-de-acar voltada para a demanda externa (COSTA, 2005, p. 180).

    A forma de desenvolvimento adotado, precrio e desigual, proporcionava oenriquecimento apenas dos que estavam no comando. A desigualdade e consequentementea pobreza, sempre presentes no decorrer da histria, agravam-se e apresentam-se com

    novas caractersticas a partir do processo de industrializao e com o surgimento docapitalismo.

    Dentre os fatores estruturais que interferem nessa situao, podemos citar: aausncia de mecanismos de distribuio de rendas atravs de uma estruturatributria progressiva, falta de um amplo processo de reforma agrria,investimento em polticas sociais bsicas e democratizao do acesso ao poderpoltico... (COSTA, 2005, p. 179 e 180).

    Entendemos desta forma, que a pobreza decorrente das aes realizadas pelosprprios homens. O que temos hoje resultado de aes cotidianas em situaes concretas.

    O destino no estava traado e o caminho no era nico, ainda que o passado tenha o seu peso no

    presente. O Brasil foi fundado sobre o signo da desigualdade, da injustia, da excluso: capitaniashereditrias, sesmarias, latifndio, Lei de Terras de 1850 (proibia o acesso terra por aqueles queno detinham grandes quantias de dinheiro), escravido, genocdio de ndios, importao subsidiadade trabalhadores europeus miserveis, autoritarismo e ideologia antipopular e racista das elitesnacionais. Nenhuma preocupao com a democracia social, econmica e poltica. Toda resistnciaao reconhecimento de direitos individuais e coletivos (GARCIA, 2003, p. 9).

    O resultado do que se apresenta hoje um reflexo da forma como os homenspensavam e pensam o Brasil, ou seja, de acordo com suas representaes4e vontades.

    De acordo com Berger e Luckmann 1976, a realidade construda socialmente ecabe a sociologia analisar este processo. As representaes derivam da significao e daconduta humana, a realidade interpretada pelos homens e reproduzida atravs de suaao.

    5 - POBREZA - CONSEQNCIA DA DESIGUALDADE NO BRASIL

    A pobreza entendida como fruto da ao dos homens, sendo resultado das formascomo estes pensam, interpretam e direcionam a construo da histria, da forma comoaceitam os padres mnimos de sobrevivncia de cada indivduo presente na sociedade.

    No Brasil, a existncia da pobreza no ocorre devido falta de recursos e sim dadesigual distribuio destes. Entendendo, que o Brasil um pas rico, porm, com maioresndices de desigualdade do mundo.

    4Compreendemos representao como uma forma de interpretar a vida, atravs de idias, conceitos que so refletidas na realidade.

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    A comparao internacional entre o grau de desigualdade de renda no Brasil e oobservado em outros pases comprova no s que a desigualdade brasileira dasmais elevadas em todo o mundo, mas contribui tambm para entender como umpas com renda per capita relativamente elevada pde manter, nos ltimos 20anos, em mdia, cerca de 40% da sua populao abaixo da linha de pobreza

    (FARIA, 2000, p. 21).

    Neste sentido, a pobreza vista como decorrente da desigualdade social,acompanhando o processo de agravamento desta.

    As aes dos homens so determinadas pelas relaes de interesse presentes nasociedade, so estes que escolhem a forma de organizao da vida social.

    Se a memria plena, o passado sempre contemporneo do sujeito (volta a serpresente deslocado para o plano da imagem e do valor) e corresponde necessidade dojuzo, de sua correo e verdade, convico absoluta de que se sabe e julga(VAITSMAN; GIRARDI, 1999, p.123).

    Quando nos reportamos ao incio do processo de desenvolvimento do Brasil,

    percebemos que as dcadas que nos separam, tornam-se dias, quando nos referimos aforma de pensar e os valores que ainda fazem-se presentes nas representaes adotadashoje.

    Foi possvel perceber, que a desigualdade social e a pobreza fizeram parte de todo oprocesso histrico, estando presentes muitas vezes, nas principais pautas de discusso,porm, no como objetos de efetivas aes que buscassem o enfrentamento daproblemtica.

    Ou seja, foram criadas riqueza e renda suficientes para produzir alteraessignificativas nas condies de vida da grande massa da populao brasileiraque carente de tudo. No entanto, a riqueza existente, a produzida e a rendacriada sempre foram apropriadas concentradamente por minorias que sofrem deum estado crnico de ganncia infecciosa (GARCIA, 2003, p. 10).

    Contraditoriamente, busca-se uma forma de amenizar os problemas decorrentes dapobreza, atravs da culpa lanada s pessoas que se encontram nesta situao.

    A representao que a sociedade capitalista adotou do sujeito que est em situaode pobreza, de vagabundo, analfabeto, desqualificado, entre outros. O que permiteculpar uma nica pessoa por um problema que criado pela sociedade e que cabe a estaresolver.

    A idia de naturalizao da pobreza, ideologicamente difundida pelos setoresconservadores da sociedade capitalista, ganha relevncia devido prpriacomplexidade da vida social. As idias conservadoras sempre recorrem a fatosempricos isolados para referendar suas assertivas (COSTA, 2005, p. 174).

    As relaes sociais nos mostram que a idia vigente realizar aes que garantam osucesso do capital. necessrio mostrar atravs da realidade, que apresenta-se diariamentenas ruas, que a pobreza deve ser enfrentada por aes concretas que busquem as causasestruturais deste problema, mudando as formas de pensar a pobreza, os conceitos queforam adotados historicamente com o objetivo de manter a ordem estabelecida.

    Torna-se necessrio que o indivduo alcance sua autonomia e liberdade atravs daminimizao da desigualdade social e da garantia do acesso aos bens necessrios para seudesenvolvimento.

    Neste sentido o Estado passa a ser o regulador desta situao, onde atravs daspolticas sociais possa proporcionar a diminuio dos ndices de desigualdade, procurando

    desenvolver aes para o social e no para a classe dominante (classe burguesa).

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    Se o Estado composto por mltiplos aparelhos e, ao mesmo tempo, influenciado por uma mutvel e dinmica correlao de foras entre classes efraes de classe, disso deriva que, em sua ao efetiva e em momentoshistricos diversos, diferentes aparelhos podero ser mais ou menosinfluenciados por diferentes classes e muitas polticas especficas do Estado (de

    qualquer Estado concreto) podero refletir interesses entre si conflitantes(COUTINHO, 1996, p. 39 e 40).

    Atravs de um processo de luta e presso histrica pelo alcance da democracia,acredita-se na possibilidade de uma interveno maior no social e no rompimento doscrescentes ndices de desigualdade social.

    O mito da cultura da pobreza, segundo a qual os pobres no melhoram suascondies de vida porque no querem, desfaz-se, sempre na dura frieza das evidncias,empricas e histricas (ABRANCHES, 1998, p.16).

    Compreendemos que as representaes sociais acompanham o desenvolvimento dahistria e tendem a modificar-se de acordo com o processo de desenvolvimento e

    modernizao, ou seja, as representaes transformam-se e acompanham as relaespresentes em um lugar ou em uma situao especfica.

    Porm, foi possvel perceber atravs deste estudo, que a pobreza assume uma formade representao dominante, que pouco modificou-se durante o processo dedesenvolvimento, mesmo que muitas vezes, questionada e estudada com o objetivo derealizar seu enfrentamento, ainda resiste a representao social que prioriza odesenvolvimento do capital e o bem estar dos que esto inseridos nas relaes capitalistas.

    Afirmamos que a pobreza, como fenmeno humano, resulta diretamente dadecises polticas4. Porm, as decises polticas so tomadas a partir daracionalidade do capital, j que na sociedade moderna as necessidades humanas

    esto subordinadas a lgica econmica da rentabilidade do capital. Desta forma, o homem que serve produo, realizada somente na medida em que recria ocapital em escala ampliada...(COSTA, 2005, p. 172 e 173).

    Para que se realize o enfrentamento da problemtica da pobreza necessrio queaconteam investimentos, mudanas e planejamentos. necessrio fazer um esforocoletivo, no sendo possvel, sua superao com aes fragmentadas. Os conflitos e

    problemas da cotidianidade remetem a solues conflitivas que se sobrepem s soluesreais, quando estas so ou parecem impossveis. Assim os problemas e a procura de umasoluo transpem o limiar do imaginrio (LEFEBVRE, 1991, p.98).

    Desta forma, entende-se a necessidade da formulao de um novo pacto social quev de encontro com as exigncias da maioria da populao, promovendo a justia atravsda redistribuio de bens e riquezas, uma maior interveno do Estado na busca pelaigualdade e liberdade.

    6 - CONSIDERAES FINAIS

    Atravs desta reflexo, fica possvel perceber que a desigualdade social e comoconseqncia desta, a pobreza, refletem as aes direcionadas e determinadas pelas formasde pensar e planejar nossa sociedade. Onde mesmo existindo pensamentos e concepes demundo, que variam de acordo com cada indivduo, em cada momento histrico, ainda

    4Deciso poltica no sentido de capacidade que s os homens possuem de escolha de opo que afetam a vida social.

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    permanece o pensar, planejar, dominante de comportamentos e atitudes de parte dasociedade que detm o poder.

    Neste sentido, no basta avanarmos apenas em instrumentos ditos democrticos,deve-se coloc-los como possibilidade de acesso a grande parte da populao, no apenas

    como instrumentos que servem para mascarar as aes do capital, mas que voltem para asreais necessidades da maioria dos homens, compreendidos como seres capazes de traarsua histria, atravs daquilo que acreditam.

    SOCIAL INAQUALITY AND POVERTY AS CONSEQUENCY OF THEDEVELOPMENT OF THE SOCIETY

    Abstract

    The civilizing process involves profound changes which led the society to develop a modernizationprocess from which arised an exacerbation of individualism, in the search for welfare and the

    increase of development towards new conquests, where the concepts which had as principal goalleading actions for the assuring of the improvement of life quality became actions which increasedthe index of social inequality, where many do not have access to the move essential life goods.Poverty, understood as the principal consequence of social inequality, is a historical problem whichfollows the social relations pattern.

    Key words: Civilizing process; poverty; modernity.

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