Didática - Apostila

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2008

    DIDTICA I

    Disciplina na modalidade a distncia

    2 edio revista e atualizada

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    Crditos

    Unisul - Universidade do Sul de Santa CatarinaUnisulVirtual - Educao Superior a Distncia

    Campus UnisulVirtualAvenida dos Lagos, 41Cidade Universitria Pedra BrancaPalhoa SC - 88137-100Fone/fax: (48) 3279-1242 e3279-1271E-mail: [email protected]: www.virtual.unisul.br

    Reitor UnisulGerson Luiz Joner da Silveira

    Vice-Reitor e Pr-ReitorAcadmicoSebastio Salsio Heerdt

    Chefe de Gabinete da ReitoriaFabian Martins de Castro

    Pr-Reitor AdministrativoMarcus Vincius Antoles da SilvaFerreira

    Campus SulDiretor: Valter Alves Schmitz NetoDiretora adjunta: Alexandra Orsoni

    Campus NorteDiretor: Ailton Nazareno Soares

    Diretora adjunta: Cibele Schuelter

    Campus UnisulVirtualDiretor: Joo VianneyDiretora adjunta: Jucimara Roesler

    Equipe UnisulVirtual

    Avaliao InstitucionalDnia Falco de Bittencourt

    BibliotecaSoraya Arruda Waltrick

    Capacitao e Assessoria aoDocenteAngelita Maral Flores(Coordenadora)Caroline BatistaElaine SurianNo Vicente FolsterPatrcia MeneghelSimone Andra de Castilho

    Coordenao dos CursosAdriano Srgio da CunhaAlosio Jos RodriguesAna Luisa MlbertAna Paula Reusing PachecoBernardino Jos da SilvaCharles CesconettoDiva Marlia FlemmingEduardo Aquino HblerFabiano CerettaFrancielle Arruda (auxiliar)Itamar Pedro BevilaquaJanete Elza FelisbinoJorge CardosoJucimara Roesler

    Lauro Jos BallockLuiz Guilherme BuchmannFigueiredoLuiz Otvio Botelho LentoMarcelo CavalcantiMaria da Graa PoyerMaria de Ftima Martins (auxiliar)Mauro Faccioni FilhoMichelle Denise Durieux Lopes DestriMoacir FogaaMoacir HeerdtNlio HerzmannOnei Tadeu DutraPatrcia AlbertonRose Clr Estivalete BecheRaulino Jac BrningRodrigo Nunes Lunardelli

    Criao e Reconhecimento deCursosDiane Dal MagoVanderlei Brasil

    Desenho EducacionalDaniela Erani Monteiro Will(Coordenadora)

    Design InstrucionalAna Cludia TaCarmen Maria Cipriani Pandini

    Carolina Hoeller da Silva BoeingCristina Klipp de OliveiraFlvia Lumi MatuzawaKarla Leonora Dahse NunesLeandro Kingeski PachecoLvia da CruzLucsia PereiraLuiz Henrique Milani QueriquelliMrcia LochViviane Bastos

    AcessibilidadeVanessa de Andrade Manoel

    Avaliao da Aprendizagem

    Mrcia Loch (Coordenadora)Karina da Silva PedroSidneya Magaly Gaya

    Design VisualCristiano Neri Gonalves Ribeiro(Coordenador)Adriana Ferreira dos SantosAlex Sandro XavierEdison Rodrigo ValimFernando Roberto D. ZimmermannHigor Ghisi LucianoPedro Paulo Alves TeixeiraRafael PessiVilson Martins Filho

    Disciplinas a DistnciaEnzo de Oliveira Moreira(Coordenador)

    Marcelo Garcia Serpa

    Gerncia AcadmicaMrcia Luz de Oliveira Bubalo

    Gerncia AdministrativaRenato Andr Luz (Gerente)Valmir Vencio Incio

    Gerncia de Ensino, Pesquisa eExtensoAna Paula Reusing Pacheco

    Gerncia de Produo eLogsticaArthur Emmanuel F. Silveira(Gerente)Francisco Asp

    Gesto DocumentalJanaina Stuart da CostaLamuni Souza

    Logstica de EncontrosPresenciaisGraciele Marins Lindenmayr(Coordenadora)

    Aracelli AraldiCcero Alencar BrancoDaiana Cristina BortolottiDouglas Fabiani da CruzFernando SteimbachLetcia Cristina BarbosaPriscila Santos Alves

    Formatura e EventosJackson Schuelter Wiggers

    Logstica de MateriaisJeferson Cassiano Almeida da Costa(Coordenador)Jos Carlos Teixeira

    Monitoria e SuporteRafael da Cunha Lara (Coordenador)Adriana SilveiraAndria DrewesCaroline MendonaCludia Noemi NascimentoCristiano DalazenDyego Helbert RachadelGabriela Malinverni BarbieriJonatas Collao de SouzaJosiane Conceio LealMaria Eugnia Ferreira CeleghinMaria Isabel AragonPriscilla Geovana PaganiRachel Lopes C. Pinto

    Tatiane SilvaVincius Maykot Seram

    Relacionamento com o MercadoWalter Flix Cardoso Jnior

    Secretaria de Ensino a DistnciaKarine Augusta Zanoni Albuquerque(Secretria de ensino)Ana Paula PereiraAndra Luci MandiraAndrei RodriguesCarla Cristina SbardellaDjeime Sammer BortolottiFranciele da Silva Bruchado

    James Marcel Silva RibeiroJenniffer CamargoLiana PamplonaLuana Tarsila HellmannMarcelo Jos SoaresOlavo LajsRosngela Mara SiegelSilvana Henrique SilvaVanilda Liordina HeerdtVilmar Isaurino Vidal

    Secretria ExecutivaViviane Schalata Martins

    TecnologiaOsmar de Oliveira Braz Jnior(Coordenador)Jefferson Amorin OliveiraMarcelo Neri da SilvaPascoal Pinto Vernieri

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    Apresentao

    Este livro didtico corresponde disciplina Didtica I.

    O material foi elaborado, visando a uma aprendizagemautnoma. Aborda contedos especialmente selecionados e adotalinguagem que facilite seu estudo a distncia.

    Por falar em distncia, isso no significa que voc estar sozinho/a. No se esquea de que sua caminhada nesta disciplina tambmser acompanhada constantemente pelo Sistema utorial daUnisulVirtual. Entre em contato, sempre que sentir necessidade,seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou EspaoUnisulVirtual de Aprendizagem. Nossa equipe ter o maiorprazer em atend-lo/a, pois sua aprendizagem nosso principalobjetivo.

    Bom estudo e sucesso!

    Equipe UnisulVirtual.

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    Carmen Maria Cipriani Pandini

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2008

    Design instrucional

    Carmen Maria Cipriani Pandini

    Karla Leonora Dahse Nunes

    2 edio revista e atualizada

    DIDTICA I

    Livro didtico

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    Edio Livro Didtico

    Professora Conteudista

    Carmen Maria Cipriani PandiniDesign Instrucional

    Carmen Maria Cipriani PandiniKarla Leonora Dahse Nunes

    Lvia da Cruz (2 edio revista e atualizada)

    ISBN 978-85-7817-077-6

    Projeto Grco e CapaEquipe UnisulVirtual

    DiagramaoAdriana Ferreira dos Santos

    Reviso OrtogrcaB2B

    Ficha catalogrca elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul

    375P21 Pandini, Carmen Maria Cipriani

    Didtica I : livro didtico / Carmen Maria Cipriani Pandini ; designinstrucional Carmen Maria Cipriani Pandini, Karla Leonora Dahse Nunes,[Lvia da Cruz]. 2. ed. rev. e atual. Palhoa : UnisulVirtual, 2008.

    296 p. : il. ; 28 cm.

    Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7817-077-6

    1. Currculos. 2. Prtica de ensino. 3. Didtica I. Nunes, Karla LeonoraDahse. II. Cruz, Lvia da. III. Ttulo.

    Copyright UnisulVirtual 2008

    Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta instituio.

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    Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

    Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    UNIDADE 1 O currculo, a didtica e a prtica de ensino. . . . . . . . . . . . . 19

    UNIDADE 2 As polticas educacionais: diretrizes curriculares epropostas pedaggicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    UNIDADE 3 O conhecimento e a aprendizagem: teorias e basesepistemolgicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

    UNIDADE 4 O ensino e a aprendizagem: elementos da relaopedaggica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

    UNIDADE 5 Organizao do trabalho escolar: metodologia de ensino,planejamento das aulas e avaliao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221

    Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273

    Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277

    Respostas e comentrios das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . . 279

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287

    Sumrio

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    Palavras da professora

    Aes? O que eu vi, sempre, que toda aoprincipia mesmo por uma palavra pensada.Palavra pegante, dada ou guardada, que vairompendo rumo.

    (Guimares Rosa)

    Caro(a) aluno(a):Existem sentimentos que so iguais em todo mundo- a sensao de receber um livro um deles. omar umlivro na mo pela primeira vez sempre uma sensaompar, no mesmo? No se sabe bem o que ; querelao essa que se trava entre o impresso e o leitor...entre o leitor e o autor... No importa, tambm, se um almanaque ou um livro de receitas, um volume daenciclopdia, a Constituio, um romance, a Bblia ou

    um livro didtico, o que sabemos que se estabelece umacumplicidade que singular e intransfervel entre autor eleitor.

    Ento, a partir dessa cumplicidade que apresento avoc o seu novo livro, Didtica I, que, espero, atendas expectativas em relao ao processo de construo deconhecimento no seu curso de formao.

    Embora eu tambm acredite que a leitura e sua respectiva

    apropriao encontram nas expectativas de cada um o seusignificado, meu objetivo contribuir na compreensodos conceitos centrais da disciplina de Didtica, ou seja,da docncia do currculo avaliao, perpassando pelasprticas cotidianas, tendo a possibilidade de fazer astransposies possveis e necessrias entre o conceito e asexperincias nos diversos campos de atuao.

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    Espero que no sirva de modelo, mas como uma fonte a maisde conhecimento para atender s expectativas com relao elaborao de estratgias didticas tendo como base osfundamentos legais, epistemolgicos, sociais, culturais, bemcomo os psicolgicos e da docncia como profisso.

    Considero pertinente dizer, na apresentao deste impresso, que o discurso do professor que reflete sua prtica no cotidiano, bemcomo por ele tambm que se procura formas e possibilidadesde solucionar os problemas do dia-a-dia na escola. Esses desafiosdependem de um conjunto de variveis e condies, incluindo,nesse contexto, a experincia do outro a teorizao daprofisso, a relao entre saberes e fazeres do cotidiano e daformao.

    Assim, os sentidos de uma palavra ou de um conjunto de palavrasno existem em si mesmos, eles resultam de posies ideolgicaspresentes no processo scio-histrico em que cada acadmico ouprofissional produz ou se encontra, constri e aperfeioa nas aesdo cotidiano; a palavra rompe o rumo, como diz GuimaresRosa, mas a prtica acerta o passo a partir das necessidades erelaes que coadjuvam em cada instituio, sala de aula ou ptioescolar.

    Ento, em torno das diversas formas de se pensar aprtica pedaggica no contexto das discusses e propostascurriculares atuais, a didtica estabelece opes, mas tambmlevanta questionamentos. A reflexo sobre as experincias esistematizaes do trabalho docente possibilitam a percepodas perspectivas desejadas nos princpios pedaggicos daautonomia, da criatividade, da pesquisa e da problematizao doconhecimento, enfim, da multiplicidade de fatores que coexistementre a teoria e a prtica, entre o que se ensina e o que se

    precisa aprender ou entre o que se estuda e o que se necessitasaber. Desse modo, podemos superar a distncia das dicotomiasexistentes no interior da escola e fora dela, e melhorar o processode escolarizao dos alunos em todos os nveis.

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    Didtica I

    Por ltimo, desejo intensamente que este livro contribua paramodificar prticas autoritrias e tradicionais, criando novaspossibilidades de emancipao pelo conhecimento e, toro paraque as experincias positivas saltem como brilhantespossibilidades para a melhoria da educao brasileira e oconseqente acesso a mais oportunidades, que principiammesmo por uma palavra pensada e uma prtica vivida.

    Com carinho

    Profa. Carmen Maria.

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    Plano de estudo

    O plano de estudos visa orient-lo/la no desenvolvimentoda Disciplina. Nele, voc encontrar elementos queesclarecero o contexto da Disciplina e sugeriro formasde organizar o seu tempo de estudos.

    O processo de ensino e aprendizagem na Unisul Virtual

    leva em conta instrumentos que se articulam e secomplementam. Assim, a construo de competnciasse d sobre a articulao de metodologias e por meio dasdiversas formas de ao/mediao.

    So elementos desse processo:

    o livro didtico;

    o Espao UnisulVirtual de Aprendizagem -EVA;

    as atividades de avaliao (complementares, adistncia e presenciais);

    o sistema tutorial.

    Ementa

    eoria e prtica pedaggica, a aprendizagem, oconhecimento. Currculo: suas diferentes concepes.

    As polticas curriculares no processo brasileiro ecatarinense. Construo da avaliao da aprendizagem,de metodologias de ensino e de planejamento de aulas.Projeto de prtica para insero na realidade escolar.

    Carga horria

    60 horas-aula.

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    Objetivos

    GeralCompreender e analisar as abordagens e concepes decurrculo, conhecimento, saberes escolares, situando-os a partirdos pressupostos pedaggicos e epistemolgicos; e contextualizara prtica docente na perspectiva da didtica: ensino eaprendizagem no mbito da construo do conhecimento, dasconcepes tericas e diretrizes curriculares vigentes.

    Especcos

    Analisar as concepes curriculares na educao escolar esua funo na organizao do conhecimento e do ensino.

    Identificar as tendncias curriculares procurandoconhecer os internexos s diretrizes curricularesnacionais, estaduais e municipais.

    Analisar o processo de construo do conhecimento doponto de vista da sua epistemologia e da apropriao dossaberes.

    Identificar, nos modelos de prticas, os elementos doplanejamento e compreender que existem vrias formasde interveno didtico-pedaggica.

    Compreender o sentido da avaliao e suas diversasformas de aplicabilidades em situaes de ensino.

    Compreender o ensino e a aprendizagem como processona perspectiva da teoria e da prtica na relao didtico-

    pedaggica.Identificar e analisar os procedimentos e estratgiasdidticas no contexto da organizao do planejamento emetodologias de ensino.

    Identificar os diferentes tipos de planejamentoe compreender a articulao dos elementos doplanejamento das aulas, dos projetos e atividades em salade aula, identificando cada processo e sua implicao.

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    Didtica I

    Identificar na metodologia o seu carter poltico narelao entre o ensinar e o aprender.

    Crditos: 6

    Unidade 1 - O currculo, a didtica e a prtica de ensino

    Na unidade 1 discutiremos, diante das tendncias curriculares,a organizao do ensino nas escolas. Procuraremos fazer umaabordagem geral sobre as relaes institucionais e pedaggicas apartir de uma concepo de currculo com o objetivo de perceber

    quais as implicaes na construo de polticas escolares eeducacionais. Destacaremos os princpios da prtica de ensino naperspectiva da teoria da educao e no mbito da formao e dadocncia. Por fim, discutiremos as relaes intra-escolares tendocomo ponto inicial a formao dos professores e suas prticas quetm relao direta na construo da identidade do aluno.

    Unidade 2 - As polticas educacionais: diretrizes curriculares epropostas pedaggicas

    rataremos da instituio escolar a partir de suas funes eseus pressupostos para poder debater as polticas educacionaisno mbito dos currculos nas trs esferas: nacional, estadual emunicipal. Iremos situar a escola como sendo lugar de mediaocultural, que ao viabilizar a educao constitui-se como prticacultural intencional de produo e internalizao de significadose teorias, compreendendo as iniciativa e providncias necessrias organizao dos currculos de acordo com o novo paradigmadisposto na LDB e nas normas nacionais. Vamos observar asdiretrizes nacionais verificando tanto os parmetros e referenciaisdo MEC, discutindo algumas premissas das implantaes nasinstituies estaduais e municipais e a contribuio dos estudose pesquisas, como de organizaes no-governamentais do setoreducacional.

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    Unidade 3 - O conhecimento e a aprendizagem: teorias e basesepistemolgicas

    rataremos do conhecimento a partir de suas bases filosficase epistemolgicas, tendo a possibilidade de perceber como elepode ser compreendido. Nesta unidade voc ter a oportunidadede estudar sobre a relao do conhecimento com as teorias deaprendizagem, fazendo uma conexo com as prticas docentes.Abordaremos, nessa perspectiva, as diversas possibilidadesde perceber o mesmo fenmeno sob tendncias educacionaisdiversas.

    Unidade 4 - O ensino e a aprendizagem: elementos da relaopedaggica

    Nesta unidade, a partir da definio de ensino e aprendizagemdiscutiremos os processos do ensinar e do aprender. Ver queso dois diferentes, pois envolvem sujeitos diferentes. Voc tera oportunidade de discutir essa relao por meio da atividade deaprendizagem e da atividade mental desenvolvida pelo aluno.razemos, tambm uma discusso sobre a relao teoria e

    prtica relacionada ao trabalho pedaggico. Ao tratarmos dasprticas escolares relacionadas s experincias e aos saberes deformao e aos princpios pedaggicos, abordaremos o papeldos docentes e o processo de formao os saberes necessrios formao docente, considerando os diferentes nveis de atuao,possibilitando a compreenso da cartografia que compe a prticadocente.

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    Didtica I

    Unidade 5 - Organizao do trabalho escolar: metodologia de ensino,planejamento das aulas e avaliao

    Nesta unidade, voc ter a oportunidade de discutir aimportncia de integrar contedo e forma observando asnecessidades educativas relacionadas com as formas deaprendizagem, situando o professor como mediador naconstruo de competncia do aprender a pensar e perceber quenisto implicam procedimentos didticos bem articulados. Aavaliao tambm tratada de forma crtica nesta unidade e vemacompanhada de vrias propostas inerentes aos procedimentos deavaliar.

    Agenda de atividades/ Cronograma

    Verifique com ateno o EVA, organize-se para acessarperiodicamente o espao da disciplina. O sucesso nos seusestudos depende da priorizao do tempo para a leitura; darealizao de anlises e snteses do contedo e da interaocom os seus colegas e tutor.

    No perca os prazos das atividades. Registre no espaoa seguir as datas, com base no cronograma da disciplinadisponibilizado no EVA.

    Use o quadro para agendar e programar as atividades relativasao desenvolvimento da disciplina.

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    Atividades obrigatrias

    Demais atividades (registro pessoal)

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    UNIDADE 1

    O currculo, a didtica e aprtica de ensino

    Para ser grande, s inteiro:nada teu exagera ou exclui.

    S todo em cada coisa.

    Pe quanto sNo mnimo que fazes.Assim em cada lago a lua toda

    brilha, porque alta vive.

    (Fernando Pessoa)

    Objetivos de aprendizagem

    Identicar as concepes de currculo e princpios

    norteadores da didtica e prtica educativa.

    Analisar a diversidade escolar e as implicaes didtico-pedaggicas do currculo.

    Relacionar a prtica pedaggica e a construo daidentidade do aluno na diversidade do currculo.

    Sees de estudoSeo 1 Currculo: uma contextualizao para

    compreender a prtica educativa

    Seo 2 As principais tendncias do currculo e dadidtica

    Seo 3 A prtica e a construo da identidade doaluno na diversidade do currculo

    1

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Nesta unidade, voc estudar questes relacionadas ao currculoe algumas variveis que compem o conjunto de saberescorrespondentes prtica docente, que so tambm campo deestudo da didtica. O objetivo sinalizar como a escola e as aesno interior dela atuam na produo de conhecimentos e saberesvlidos e como, a partir da sua filosofia e dos seus princpios,possibilita a construo de um projeto educativo vivel face realidade concreta da sociedade do sculo XXI.

    Pertinente a esta discusso, voc ter a oportunidade de perceber

    como a cultura e os conhecimentos cientficos coadjuvam nacomposio do saber escolar, tendo como base o currculo e adidtica o qu se ensina e para qu se ensina? O estudo visaa colocar em pauta a identidade na elaborao dos princpiosda prtica docente de modo a fomentar a importncia darelao entre currculo/cultura/identidade e suas relaes com aaprendizagem para construir formas mais coerentes com o que sepretende na escola hoje.

    Voc sabe, certamente, que a produo de literatura em educao,

    e, especialmente relacionada ao currculo, bastante ampla, e nofaltam autores para debater as polticas e as prticas educacionais;assim como no so raras as pesquisas que do conta danecessidade de (re)pensar a escola e as prticas ali implicadas,principalmente, os seus currculos. Comisses so formadas parapens-los, professores so convocados para planejar nos seusrespectivos nveis de ensino, e reunies acontecem em muitasinstituies em todo o Pas. Modelos so desenvolvidos, deixadosde lado, retomados ou reformados, ou seja, so louvveis, emmuitas circunstncias, as tentativas de melhorar o processo; o que

    inaceitvel a importao e a reproduo de modelos que nocabem na realidade de muitas escolas brasileiras, voc concorda?

    Porm, voc, acadmico(a), em processo de formao paraa docncia, j tem condies de responder o que pode servisualizado no sentido de melhorar as prticas educacionais eas polticas pblicas para a educao no pas, com base na suaprofisso ou profissionalizao.

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    Didtica I

    Unidade 1

    Do que foi colocado, certamente voc j tem algumas respostasou contribuies a fazer oriundas das experincias profissionaisou pessoais ou do percurso j trilhado no seu processo deformao para a docncia.

    As respostas e proposies borbulham na cabea dos que estoligados educao ou nas pautas dos que sonham e desejamuma educao de melhor qualidade. Mas voc teria condiesde responder: que certo em educao? o que mais adequado?como selecionar teorias e procedimentos capazes de atender realidade social e institucional? como construir polticas deensino coerentes com as necessidades de aprendizagem dosnossos alunos? Podemos dizer que existe, hoje, um nico modelode educao capaz de resolver os problemas que a escola enfrenta?Ou no? Como enfrentar essa questo?

    Bem, voc ter oportunidade de refletir sobre essas e tantas outrasindagaes no decorrer do seu estudo... e formular suas hiptesese proposies. Vamos l, ento? Sua presena crtica e atitudeativa so fundamentais na elaborao de propostas de prtica deensino e didtica na construo de sua prpria proposta de ao.

    - Iniciemos com as questes de currculo, pelas quais passam as

    premissas e os fundamentos das prticas sociais, e, mais adiante,avanaremos para a prtica docente!

    SEO 1 - Currculo: uma contextualizao paracompreender a prtica educativa

    A importnciada fantasia e doimaginrio noser humano inimaginvel.

    (Morin)

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    O que lhe vem mente quando observa esta imagem? Quesignificado voc consegue atribuir olhando-a superficialmente?

    Bem, parta do princpio de que a realidade da sociedade composta por umresultado da interao de mltiplas foras, aese influncias. Assim fica mais fcil tentar responder que relaespodem ser feitas com o que acontece na escola cotidianamente ecom o que se v na imagem a partir dos princpios descritospreviamente?

    Analise a figura mais atentamente: O objetivo fazer umadiscusso em torno do currculo e suas perspectivas tericase emaopara que voc tenha condies de construir uma concepo

    de docncia fundada em experincias pessoais e profissionais,em uma viso dialtica da realidade social em que a escola estinserida. Uma anlise dialtica se d a partir da totalidade social,visando a alcanar mais detalhadamente o que ocorre no dia-a-dia, com suas foras tericas e em ao (que se faz por conflitos econvergncias), esta viso orienta para uma realizao concreta eaponta para as contradies e os consensos num ir e vir constante,pois a rotina um movimento contnuo.

    Ento, da imagem se pode dizer: nem sempre vemos o que

    realmente desejamos, ou, muitas vezes, vemos o que no existe,ou, ainda, o sentido dado aos fenmenos depende da formacomo interpretamos o olhar, o sentir e as prticas; o que vemosdepende, comumente, do que gostaramos de ver, concorda?

    Ser que isto define um pouco currculo? Ou voc ficou confusoou confusa?

    Ento, para que possamos iniciar esta etapa de estudosconstruindo os conceitos de forma conjunta, vamos

    defini-lo primeiro com base no senso comum. Registrealgumas de suas impresses sobre o que voc entendecomo currculo. Qual a relao do currculo com oensino e com a aprendizagem? Que variveis voc pode

    destacar para articular currculo e prtica escolar? Qual arelao com a imagem? Escreva o que voc sentiu.

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    Voc deve estar se perguntando: Por que estudar currculo seestamos estudando Didtica?

    Comecemos o estudo enfatizando que, para construir um projetoeducacional que atenda s perspectivas e exigncias do ensino,

    da aprendizagem e a dinmica da produo de conhecimentos, preciso compreender a complexidade que envolve a questocurricular. preciso ter uma viso geral de como funciona asociedade, os paradigmas, suas estruturas e suas complexasconexes socioeconmicas e cientficas, assim como importanteobter conhecimentos das diversas teorias curriculares paracompreender melhor certas aes no mbito da escola e de suasprticas.

    O papel da teoria pedaggica ou de uma teoriacurricular explicitar o que se espera da escola, ouseja, que saberes, que experincias, que prticasesperam que os alunos interiorizem para fazer usodeles diante de demandas e de exigncias da vida eda sociedade. (LIBNEO, 2006, p. 106).

    Quando se fala, portanto, em anlise e discusso de currculono significa dizer que existem modos eficientes e infalveis paraa realizao de prticas que consigam fazer com que os alunos

    aprendam os conhecimentos ou os contedos selecionados paraum determinado currculo escolar, entretanto, deve-se considerarseriamente as intrincadas conexes entre o que se ensinanasescolas, nas respectivas salas de aula, e as relaesque seestabelecem dentro e fora dela para atuar sobre os elementosessenciais do ensino e da aprendizagem na prtica escolar:sujeitos, processos eresultados.

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    nas escolas e nas salas de aula que se verica,por exemplo, que 64% dos alunos de 5 srie noaprenderam a ler e a escrever, conforme dados doSAEB, mas nelas [tambm] que podem ocorrermudanas qualitativas no desenvolvimento daaprendizagem. (LIBNEO, 2006, p. 72).

    Ainda sob essa premissa, perceba que a prtica escolar consistena concretizao das condies que asseguram a realizaodo trabalho docente. preciso, tambm levar em conta que aprtica escolar tem atrs de si condicionantes sociopolticos queconfiguram diferentes concepes de homem e de sociedadee, conseqentemente, diferentes pressupostos sobre o papelda escola, aprendizagem, relaes professor-aluno, tcnicas eestratgias pedaggicas etc.

    Neste contexto, fica claro que o modo como os professoresrealizam seu trabalho, selecionam e organizam o contedo dasmatrias, ou escolhem tcnicas do ensino e avaliao tem a vercom os pressupostos explicita ou implicitamente (LIBNEO,1992, apudLIBNEO, 2006, p.115) e esto presentes nasformas comoconcebem o currculo, ou na forma como ele

    vivenciado nos diversos mbitos educacionais, quais os elementosso destacados como relevantes no cotidiano das escolas e dossistemas educativos. Assim, no difcil perceber que o currculono um documentomaterializado em papel, muito mais doque isso, no mesmo?

    Note que essencial entender como funciona a engrenagemsocial e as relaes que se estabelecem entre as diversas formasde acesso ao conhecimento, compreendendo as diferenas entreas culturas, fatos de um dado contexto, pois a aproximao das

    situaes de aprendizagem realidade pessoal e cotidiana dosestudantes, entre outros fatores, permite transformar prticasespontanestas em prticas intencionais, e isto se d pela escola.Segundo Veiga (1993),

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    A escola parte integrante do todo social. Comisso, entendo que a escola uma instituio noautonomizada. parte integrante e inseparvel dos

    demais fenmenos que compem a totalidade social.Como parte integrante do todo social, a escola exercea funo precpua da socializao dos conhecimentoshistoricamente produzidos. Essa maneira de compreendero papel da escola aponta, necessariamente, para atransformao das estatsticas escolares a fim depropiciar a elevao cultural do individuo e da sociedade.(VEIGA, 1993, apud LIBNEO, 2006, p. 119).

    Colocarmo-nos diante de algumas concepes do currculo nospossibilita perceber as articulaes possveis com a prtica escolar

    e as diretrizes educacionais, pois bem coloca Veiga, a escola parte integrante do todo social, e exerce a funo precpua dasocializao dos conhecimentos historicamente produzidos e tmobjetivos claros, como todos sabemos, conforme tambm apontaa autora.

    Bem, para efeitos epistemolgicos, sero consideradas trsgrandes dimenses para a compreenso da abrangncia docurrculo, sendo que a partir delas que poderemos situar nossadiscusso para melhor compreender como ele se organiza e, por

    conseqncia, como e em que condies a prtica de ensino podeemergir e se desenvolver.

    Essas dimenses aparecem diludas ao longo das discusses nolivro, pois, ao abordarmos as formas como o currculo se organizadeve-se compreender que no h uma coisa e depois outra, elasso parte integrante do conjunto de saberes construdos sobrea escola e seus mecanismos, at seus resultados. Veja quais soas abrangncias que norteiam o estudo do currculo e da escola.Acompanhe.

    A primeira diz respeito aos aspectos socioinstitucionais:que agem como elementos entre a prxis social eo que acontece nas instituies: uma dimenso demltiplas faces e geradora de contradies e conflitos.Compreendem as diretrizes gerais e suas formas derepresentao.

    1.

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    A segunda destaca a histria e a identidade dos sujeitosque esto envolvidos no processo de aprendizagem, e queso legitimados institucionalmente, integra a terceiradimenso que constituiu as possibilidades conceituais sobas quais se orienta o currculo.

    A terceira a dimenso que se refere abrangnciapedaggica: que vai desde a viso que origina oscurrculos, os programas de ensino, as prticas em sala deaula, os procedimentos metodolgicos, a avaliao etc.

    Voc j esboou uma forma de conceber o currculo,

    mas como ele entendido e denido pelosestudiosos? Ser que voc se aproximou o bastante?Vamos ver?

    Ao definir currculo, omz adeu da Silva (2005, p. 15-16)afirma que trajetria, percurso. O currculo autobiografia,a nossa vida, o curriculum vitae: no currculo forja-se a nossaidentidade. (...) alm de uma questo de conhecimento, ocurrculo tambm uma questo de identidade, documento de

    identidade. importante que voc tambm o compreenda assim umdocumento de identidade, com uma histria vinculada a formasespecficas e contingentes de organizao da sociedade e daeducao (SILVA; MOREIRA, 2005, p. 8), pois o currculo seconstri, mesmo, nos processos sociais mais amplos da cultura;sendo assim, conhecer sua morfologia nos permite ter umacompreenso dos processos de pensamentos e aesde umadeterminada poca, e nesta dimenso a escola est inserida com

    todos os seus mecanismos de representao.Identificar como funcionam os mecanismos escolarespelo currculo, a partir de suas dimenses e abrangncias(socioinstitucional, pedaggica e identitria), como voc j viu,permite-nos analisar os objetivos das instituies e das prticasali desenvolvidas. Possibilita, inclusive, identificar concepes,ideologias, crenas e valores, o que torna mais fcil entendercomo determinadas prticas perduraram por longos perodos eforam tidas como adequadas ou inadequadas.

    2.

    3.

    De acordo com Vorraber Costa,

    representao o resultado de

    um processo de produo de

    signicados pelo discurso, e no

    como contedo que espelho

    e reexo de uma realidade

    anterior ao discurso que a

    nomeia. Representao, ento,so noes que se estabelecem

    discursivamente, instituindo

    signicados de acordo com

    critrios de validade e legitimidade

    estabelecidos segundo relaes

    de poder. (...) so mutantes,

    no xas, e no expressam, nas

    suas diferentes conguraes,

    aproximaes a um suposto

    correto, v erdadeiro, melhor.

    (VORRABER, 2005, p. 4 0-41).

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    Note que, como educadores, isto nos oportunizareetir sobre o processo de construo das polticas

    educacionais que so elaboradas com base em umaviso de mundo e como as escolas interagem comrelao construo de conhecimentos cientcos eescolares, assim como sobre os saberes prossionaisque entram em cena na composio de uma prticadocente. possvel observar como se materializam,ento, as aes com base nas concepes e de queforma algumas prticas so selecionadas como vlidasem detrimento de outras.

    As reflexes sobre a construo do currculo escolar, de certomodo, sintetizam resultados que correspondem, tambm, sdimenses nucleares de uma identidade profissional e que fazemparte de um conjunto de intenes expressas em um projetopoltico cultural e de um conjunto de vivncias que constituemas prticas que desenvolvemos (MOREIRA, 2004), as quaispodemos tambm chamar de currculo, e que resultam em umprojeto profissional e um modelo de ao pedaggica.

    O objetivo, ao longo deste livro, discutir a didtica,

    a docncia e suas variveis apontando relaescom o cotidiano social, a realidade educacional ena perspectiva da experincia e prtica, porque ateoria, enquanto elemento discursivo, por si s, nofaz sentido, preciso estar atrelada aos predicadosda prtica social, cujos signicados se interligamconstituindo-se em elementos para anlise docontexto escolar relacionados aos innitos saberes tanto do professor quanto do aluno, assim como dasociedade.

    Sob esta perspectiva, de imediato surgem interrogativas ligadasaos elementos constitutivos da dinmica escolar. Qual seria otrabalho do professor diante da funo escola? O que o qualifica?O que caracteriza os saberes do professor e do aluno? Qual opapel da sociedade e da escola na produo de conhecimentos esaberes vlidos para a humanidade?

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    Essas so questes desafiadoras e tm relao direta com ocurrculo.

    O escritor portugus Ea de Queiroz sabiamente disse em um deseus escritos quepara ensinar h uma formalidadezinha a cumprir saber. Se tomarmos como verdadeira a proposio, ento o saber uma varivel importante a ser considerada, e, talvez, o inciode tudo. Porm, sobre o que ele afirma importante ressaltar,ainda, que s isso no basta, preciso ter claro, tambm, o quese precisamos saber e o que fazer com esse saber, principalmentequando se tem por finalidade institucional o ensinar e oaprender.

    Desse modo, preciso que haja uma relao de intimidadecom o saber, diz Charlot, (2000, p. 72), e, acima de tudo, preciso compreender que essa relao tambm determinadapor mltiplas dimenses e fatores internos e externos. Nessecaso, que saberes so necessrios? De onde se originam? E quedenominao podemos aludir expresso relao com o saber?

    Para Bernard Charlot (2002, p. 72), a relao com o saber

    uma forma da relao com o mundo, (...) o conjunto deimagens, de expectativas e de juzos que concernem aomesmo tempo ao sentido e funo social do saber e daescola, disciplina ensinada, situao de aprendizadoe a ns mesmos. oda relao com o saber tambmrelao consigo prprio: atravs do aprender. Qualquerque seja a figura sob a qual se apresente, sempre estem jogo a construo de si mesmo e seu eco reflexivo, aimagem de si.

    Observe que as relaes entre teorias pedaggicas e teorias

    do conhecimento dizem respeito s relaes entre saber econhecimento e, de acordo com Charlot (2002), a relao como saber deve ser entendida como uma relao epistmica, pois oaprender consiste em uma atividade de se apropriar de um saberque ainda no se possui, saber este que tem sua existncia emobjetos, pessoas, em si mesmo, locais etc. Significa que aprender ter mais saber, e para ter mais saber passamos por um processo deconstruo do conhecimento que se d pela atividade em relaocom sujeitos e objetos mediados pela cultura, ou seja, com omundo.

    Voc ter a oportunidade de

    aprofundar um pouco mais esse

    estudo na unidade seguinte.

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    Observe que para o sujeito aluno emformao o objetivo deperseguir um produto da aprendizagem favorvel, ou seja, umsaber [designado qualificante], se d em funo de conquistar umdeterminado espao, alcanar um certo status, uma posio dedestaque, ou, dito de outra forma, criar uma interdependncia etornar-se algum, (Idem, p. 72); e a forma como cada professoratua nesse processo de organizao das situaes de ensino eaprendizagemorienta-se com base nas disposies de um dadocurrculo, s vezes oculto, que formado, tambm, de saberes eexperincias docentes e de outrem.

    Yurgo Santom (1995), considera o currculo oculto

    (implcito, latente, escondido ou paralelo),uma dimenso relacionada com os processos desocializao relativos s diversas experinciasescolares, acadmicas ou sociais, que traz consigovalores, cujos princpios inuenciam na formao, semque cheguem, intencionalmente, a se explicitar comoobjetivos educativos, propriamente.

    O currculo oculto diz respeito a todos aqueles conhecimentos,destrezas, atitudes e valores que se adquirem mediante aparticipao em processos de ensino e aprendizagem e, em geral,em todas as interaes que se do no dia-a-dia das aulas e escolas(SANOM, 1995, p. 201).

    Ento, contemplando esse conjunto de aspectos e circunstncias,voc pode perceber que existem mltiplas possibilidades deorganizao dos currculos e programas escolares, que se assimforem analisados rompem com a lgica tradicional e possibilitamaos gestores e professores desenvolverem marcos interpretativoscondizentes com as diversas realidades escolares. E, neste sentido,

    a Didtica, que teoria e prtica do processo de ensino,mantendo a unidade entre objetivos, contedos, mtodos e formasorganizativas do ensino. Oferece os princpios para as conexesentre o ensino e a aprendizagem para desenvolver condiesespecficas para cada situao que se cria nos diferentes modelospedaggicos, identificados nos diferentes tipos de currculo.

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    Os mtodos de ensino constituem, assim, uma categoria daDidtica, tomando uma condio ou caracterstica prpria emrelao a outros tipos de mtodos epistemolgicos e cientficos,correspondentes ao processo de conhecimento e relativos scincias e suas pesquisas, respectivamente. Sobre os mtodosde ensino, voc vai estudar mais adiante quando falarmos deplanejamento.

    Veja como a Didtica interage como rea de estudo no interior daescola e no mbito do currculo, ou deveria agir. So algumas desuas caractersticas no contexto deste livro:

    deve partir da anlise da prtica pedaggica concreta e

    seus determinantes, fazendo-a de um modo crtico;precisa contextualizar a prtica pedaggica parapoder repensar as dimenses tcnicas e humanas paracompreend-las na sua dimenso global, forjadora de umprojeto emancipador;

    deve analisar as diferentes metodologias explicitando seuspressupostos, o contexto em que surgiram, preocupando-se com a viso de homem, de sociedade, de conhecimentoe ao tipo de educao a que deve responder.

    precisa elaborar reflexes didticas a partir de anlisesde experincias para poder trabalhar continuamente arelao entre a teoria e a prtica;

    deve assumir o compromisso com a transformao social,com a busca de prticas que tornem o ensino eficientee voltadas aos interesses do aluno como sujeito doconhecimento;

    deve procurar romper com as prticas profissionais

    individualistas promovendo o trabalho coletivo ecompartilhado-o entre professores e demais agentes daescola.

    deve buscar alternativas de se pensar uma educaode qualidade mantendo os educandos na escola coma proposta de um projeto educacional pautado nocompromisso poltico-pedaggico; e,

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    no pode deixar de discutir o currculo e sua interaocom a sociedade e comunidade a partir das experinciaspedaggicas concretas.

    Cabe ressaltar que o currculo mantm uma intimidade comtodas as dimenses da escola; em seus vrios mbitos, a avaliaotambm est intimamente relacionada. Como veremos adiante,ela um dos elementos essenciais na preparao ou organizaode um currculo, seja ela avaliao da aprendizagem, feitana sala de aula ou as outras formas existentes no processo deeducacional. Esta forma de verificao vai contribuir para sabercomo caminha a escola em relao ao seu currculo tambm.Chega a ser at redundante, mas isto mesmo, uma construocclica e processual. S assim se podem medir os resultados pararetroinformar as pessoas que elaboram esse currculo, visando aoaperfeioamento de seu trabalho e retroalimentar o sistema para amelhoria do processo educacional.

    - Vamos estudar um pouco mais sobre a importncia de compreender asmazelas tericas e prticas do currculo?

    SEO 2 - As principais tendncias do currculo e adidtica

    O vocbulo currculo aparece pela primeira vez com osignificado de planificao do ensino na obra de Bobbit, Tecurriculum, em 1918. A princpio, didtica e currculo instituramseus campos de estudo sem que houvesse a interferncia de umano campo da outra; as respectivas reas referiam-se a contedos,sujeitos e finalidades diferentes, restringindo-se, no entanto,

    aos seus objetos de estudo. Somente a partir dos anos 60 queo currculo comea a compor o campo de estudo da didtica,tornando-se fundamental para a compreenso da educao e dasprticas educativas. Assumiu, assim, as fisionomias e tendnciasde cada poca, as quais definiram os modelos ao longo dasdcadas, como voc teve a oportunidade de ver anteriormente.

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    Os estudos do currculo priorizam aspectos mais gerais eglobais, que fornecem subsdios para uma compresso dabase educacional, sendo assim, procuram dar visibilidade

    aos pressupostos de seleo e organizao doconhecimento e de como se d esse processo.Mostra que as tendncias que mobilizaminteresses, pertencem a indivduos e grupos.

    O enfoque curricular se d sob os seguintespronomes: o que, por que, o para que esob quais alicerces o ensino vai se desenvolver,situando os sujeitos da relao ensino-aprendizagem, que so objeto de estudo dadidtica.

    Porm, para que os contedos curriculares cumpram suafinalidade so necessrias aes no sentido de construir asmelhores estratgias, que esto diretamente articuladas acontedo, objetivos, avaliao, contexto sociocultural epoltico etc.

    A tendncia atual considera imprescindvel umaintegrao entre currculo e didtica, que precisa estararticulada no sentido de favorecer o trabalho docentede forma contextualizada tornando o ensino e aaprendizagem ecientes.

    O currculo significa percurso ou trajeto como diz omazadeu, portanto, deve-se defini-lo em funo dos caminhos que ainstituio precisa traar, pois ele sinalizar aspectos pelos quaismerece ateno especial, j que ele de fundamental importnciapara o sucesso escolar, na medida em que visto comoinstrumento verdadeiramente til e eficaz.

    Desse modo, preciso atentar para algumas questes bsicas enecessrias ao seu planejamento e organizao e execuo. Soelas: a flexibilidade, a atualidade e a capacidade de transmitirconceitos, informaes, prticas e teorias que unam, integrem eexplorem temas variados e, ao mesmo tempo, complementares.No basta uma boa programao curricular, mas oferecer umaviso o mais completa possvel da vida e dos saberes relativos escola, concorda?

    Fonte: Nova Es cola, n. 176, 2003.

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    Tendncias

    H pelo menos trs grandes tendncias que se pode observar combase na trajetria do currculo: eoria radicional, Crtica e Ps-Crtica. No nossa inteno fazer uma discusso das mesmas,seno contextualizar, mesmo que rapidamente, para que vocpossa melhor compreender as aes no campo educacional comrelao aos elementos do processo pedaggico. Ento, em sntese,temos:

    Teoria Tradicional do Currculo enfatiza os conceitospedaggicos de ensino e aprendizagem e supe a

    neutralidade do processo. Envolve aspectos referentes avaliao, metodologia, didtica, planejamento, objetivos.Aqui podemos destacar uma excessiva preocupao como planejamento, porm descolado de uma anlise maisampla e contextualizada do ensino e da aprendizagem.Predomina um ensino psicologizante e fragmentado, istoperdura at meados da dcada de 70 e esta teoria estdescolada de uma antropologia das prticas.

    Teoria Crtica do Currculo comea a surgir j nadcada de 60, cujas premissas negam a neutralidade ese definem melhor os conceitos de ideologia e poder.Surgem novos termos no contexto das discusseseducacionais que enfocam: ideologia, reproduo culturale social, poder, classe social, capitalismo, relaes sociaisde produo, emancipao e libertao, currculo ocultoe resistncia. teoria crtica do currculo podemosincluir as discusses e desenvolvimento das premissasda educao popular e da pedagogia crtico-social doscontedos.

    Teoria Ps-Crtica do Currculo esta centra a nfaseno conceito de discurso e nas representaes comoinfluenciadoras do processo curricular. As discussesgiram em torno de concepes de identidade, alteridade,diferena, subjetividade, imaginrio, significaoe discurso, representao, cultura, gnero, raa eetnia, multiculturalismo. H uma divergncia coma eoria Crtica do Currculo e esta se d no campodo entendimento de que o poder no se limita sclasses sociais, mas encontra-se pulverizado, ou seja,

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    independente do lugar onde esteja e de relaes de gneroe etnia e classe. Com as teorias ps-crticas, o mapa dopoder ampliado para incluir os processos de dominaocentrados na raa, na etnia, no gnero, na sexualidade (cf.SILVA, 2005).

    O currculo deve ser vivido e definido na ao cotidiana daescola. Ele est impregnado das contradies da sociedade eque serve para balizar prticas e vises de mundo reais comrespostas autnticas, coerentes e transitrias sobre o conjunto queo compe. eoria e prtica, no currculo em ao, andam de mosdadas. Mais adiante ver a diferena entre o curriculo oficial eem ao.

    O que currculo? Como podemos deni-lo emalgumas expresses?

    Elemento discursivo da poltica educacional.

    Expressa sua viso de mundo, o projeto social, umaverdade transitria.

    Expressa relaes de poder, cultura, expectativas pessoaise profissionais.

    um conjunto articulado de conhecimentos e saberes.

    um instrumento que sintetiza as concepes de umadada poca.

    Apresenta-se com vises micro e macrossociais.

    uma representao da realidade que se materializa

    nas prticas escolares, cujos sentidos se do no fazercotidiano.

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    Dentre as muitas definies de currculo, buscamos em VoraberCosta (2006, p. 41) uma que nos parece bem pertinente econtextualizada para o momento. Veja o que ela diz.

    Currculo um conjunto articulado e normatizado desaberes, regidos por uma determinada ordem, estabelecidaem uma arena em que esto na luta vises de mundo eonde se produzem, elegem e transmitem representaes,narrativas, signicados sobre as coisas e seres do mundo.

    O que isto significa? primeira vista uma abordagem simples,mas se pensarmos atentamente podemos ver que um conceitocomplexo, no mesmo? Ser por qu?

    Bem, a resposta simples: porque produzir, selecionar ereconstruir representaes, narrativas e significados sobre ascoisas e seres do mundo implica uma srie de determinantese uma ao complexa; e, como docentes, estamos expostos a

    esses fenmenos diariamente. Eles devem ser considerados naconstruo do trabalho docente, na preparao dos programasescolares, nos planejamentos, na preparao das aulas, nasavaliaes dos alunos e da prpria prtica, certo?

    Moreira (2001), ao afirmar que o currculo um conjunto deexperincias que a escola organiza, em torno do conhecimentoescolar para serem vividas por alunos e professores torna-oum elemento importante ampliao das possibilidades paraa melhoria da qualidade do ensino nas escolas e das polticas

    educacionais com um todo.

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    As polticas educacionais pressupem polticas paraa escola, e estas devem basear-se em necessidadese demandas originadas nos contextos concretos deensino e na aprendizagem das escolas e das salas deaula. Chamo de polticas para a escola a deniode objetivos sociais e culturais para a escola, ascapacidades de formar, as competncias cognitivas ehabilidades, os formatos curriculares, as metodologiasde ensino, as prticas de organizao e de gesto daescola, as condies prossionais que asseguram osobjetivos e os melhores resultados de aprendizagem,os nveis esperados de desempenho escolar dosalunos. (LIBNEO, 2006, p. 82).

    Voc deve estar percebendo que o currculo no produtopuro de conhecimentos, (SILVA, 1998, p. 8); uma trama querene um conjunto de vises e interesses, so entrelaamentosde poder e controle, que esto ligados a uma questopoltica, principalmente se lembrarmos que cada poca criasua prpria rede de significados. Assim sendo, as prticascientfico-sociais esto ali includas: a cincia, a escola eseus modelos metodolgicos e as prticas e seus professores.Por isso, necessrio ter presente que currculos diferentesproduzem formaes diferentes, prticas diferenciadas, e,

    conseqentemente, formas divergentes de se considerar ofenmeno educativo.

    O currculo escolar deve ser visto como a expresso deinteresses sociais determinados. Voc j seu deu contadisso, no mesmo?

    Porm, importante que se diga que este deve sercompreendido, tambm, como produtor de subjetividades,

    ou seja, sob o ponto de vista da produo de identidades,pois, segundo Vorraber Costa, um lugar de circulao dasnarrativas, mas, sobretudo, um lugar privilegiado dos processosde subjetivao, da socializao dirigida, controlada. emgrande parte escola que tem sido atribuda a competnciapara concretizar um projeto de indivduo para um projeto dasociedade.(VORRABER, 2005, p. 51).

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    No cabe considerar um signicado certo ou errado;o que se faz necessrio precisar que ponto de vista

    est sendo adotado quando se fala em currculo.(MOREIRA, 1999, p. 25).

    O currculo s pode ser definido e formulado a partir de suaanlise em instituies escolares, e sobre isto Goodson (1998,p. 232), nos chama ateno para o seguinte: devemos ver ocurrculo como construo social, primeiramente no mbito daprpria prescrio, mas depois tambm no domnio do processoe prtica, portanto, descolada de que tudo tem intenes

    macrossociais fixas, preciso ter em conta, sendo assim, asdiferenasque contracenam no espao escolar, a construodecorrente do grupo e da cultura, de interesses individuais eprofissionais distintos.

    Analise a seguinte problematizao.

    Situao A Questo de currculo

    Numa dada instituio, entram em cena questes decarter poltico muito fortes. A diretora foi indicada ea comunidade escolar e do bairro no a aceitam, poisj h um histrico de autoritarismo, porque quando jesteve ocupando a funo denia, praticamente tudo,na esfera do individualismo, ento as coisas chegavamsempre de cima para baixo e desagradava professorese comunidade. Todos acham que esta funo atpode ser exercida por ela, desde que seja um processode denies e consensos democrticos, anal, ogrupo acredita que assim que uma escola se faz! Oque voc acha? Uma situao complicada, no? Esta uma questo de currculo? O que poderia ser feito?

    Insira seu comentrio!

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    Segundo Goodson, numa determinada instituio de ensino ousistema de governo entram em jogo variveis de teor poltico,financeiro, conhecimentos e poder advindos das posiesque cada integrante ocupa neste lugar, portanto, o currculoescrito legitima as diferentes nuances que vai adquirindo nasua construo tendo um significado prtico e simblico. Oregistro do currculo, segundo este autor, um testemunhovisvel, pblico e sujeito a mudanas, uma lgica que se escolhepara, mediante sua retrica, legitimar uma escolarizao(GOODSON, 1998, p. 21).

    Portanto, as discusses sobre como conduzir a gesto da escola tambm assunto de currculo e somente avana se houvertrabalho colaborativo e o projeto da escola tiver um carterparticipativo.

    Perceba que o currculo, ento, se torna um instrumentoinstvel transitrio, que vai sendo tecido e se complementandona prtica individual e social, na interao com as mltiplasformas de ser e fazer do contexto escolar, por isso, adenominao, currculo em ao.

    Digamos que o currculo oficial o ponto de partida, porm, ao

    se fazer e se complementar no cotidiano da escola ele assumeas feies do grupo, e considera as individualidades formando afilosofia da escola e das prticas daquela instituio.

    O currculo, portanto, encontra uma realidade pr-existente e vaise regulando e sendo regulado por ela, na qual se entrecruzamprticas e significados para cumprir uma certa finalidade. Norastro de Sacristn, (2000, p. 32), diramos que, em sntese, ocurrculo:

    a expresso da funo socializadora da escola; um instrumento que cria toda uma gama de usos,de modo que um elemento imprescindvel paracompreender o que costumamos chamar de prticapedaggica;

    est diretamente relacionado com o contedo daprofissionalizao dos docentes o que se entende porbom professor, as funes que se podem desenvolverdependem da variao nos contedos, finalidades e

    mecanismo de desenvolvimento curricular;

    Tendo em conta sempre as

    diferenas individuais de pensar

    e agir em funo dos saberes que

    cada um possui.

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    est relacionado ao entrecruzamento de componentes edeterminaes muito diversas: pedaggicas, polticas,administrativas, produtivas de diversos materiais, decontrole sobre o sistema escolar, de inovao pedaggica;

    o ponto central de referncia na melhoria da qualidadedo ensino, na mudana das condies de prtica, no gerale nos projetos de inovao dos centros escolares.

    Na figura a seguir, voc consegue visualizar como se organiza umcurrculo e sob quais dimenses ele deve ser considerado.

    Figura 1.1: Esquema para uma teoria do currculo.Fonte: SACRISTN, Gineno J. O currculo: uma reexo sobre a prtica, Porto Alegre: ArtMed (2000. p. 36).

    Em um destaque Teoria Crtica do Currculo, podemos dizerque ela possibilita um novo entendimento sobre nosso papelno contexto educacional. Orienta no sentido de que trabalhar

    em determinado curso, ou rea do saber, por exemplo, no apenas transmitir contedos de forma neutra e destitudade fundamentao terica, ideolgica e poltica. , antes detudo, compreender que o conjunto de relaes e representaeseconmicas, culturais, polticas e sociais englobam odesenvolvimento de determinados saberes e poderes constitutivos., desse modo, como descrito na seqncia.

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    O conjunto de vises, mtodos e linguagensmltiplas que formam o currculo e a estruturaterica com a qual trabalhamos o conhecimento ea formao dos alunos.Os docentes devem ter istoclaro ao formularem seus planejamentos e polticaseducacionais.

    Segundo Libneo (1994), currculo conjunto de contedoscognitivos e simblicos (saberes, competncias, representaes,valores) transmitidos (de modo explcito ou implcito) nasprticas pedaggicas e nas situaes de escolarizao, isto ,tudo aquilo a que poderamos chamar de dimenso cultural ecognitiva da educao escolar. Nesse contexto, a formao doprofessor e a produo de saberes so um aspecto fundamental eparte integrante do currculo, como j destacamos.

    Observe que, em se tratando de currculo e didtica, fundamental saber que numa concepo tradicional ele ainda sinnimo de programa ou planejamento. rata-se de umaconcepo que nos remete aos programas nacionais ou para ocurrculo escolar programtico e recebe, de acordo com diferentesautores, mltiplas denominaes: currculo formal, currculooficial e currculo prescrito. Esta viso do currculo dizrespeito ao legitimado pelos poderes institudos e corresponde aum sistema formal de conhecimentos e valores definidos comovlidos para todos.

    necessrio que, ao longo da sua profisso, os docentes, emseus variados nveis, reflitam sobre os impactos dos valores domundo globalizado nas mais diversas reas do conhecimentoe que, a partir dessa reflexo, tentem conceber uma prtica emque o aluno seja sujeito do processo educativo, esteja no centro

    do processo ensino-aprendizagem e que o projeto pedaggicocontemple uma prtica para alm do ensino do smbolo, docontar ou do ler unicamente, mas que os projetos tragam em siuma preocupao com a realidade social contextualizada e queo contar, o ler e o escrever tenham significado por meiode um ensino eficiente e devidamente aplicvel s situaes docotidiano do aluno.

    Respectivamente para Perrenoud,

    Goodlad, e Sacristn.

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    Saiba mais com exemplos

    Brincar de comrcio aproxima ensino do real

    Num tempo em que as escolas cultivavam o medodiante do professor e uma Matemtica que pareciase destinar apenas a uns poucos iluminados, Malbadefendia exatamente o oposto. E ainda atacava osalgebristas, acadmicos que se dedicavam ao queo escritor chamava de o intil da Matemtica. Eleseram os responsveis por denir os currculos e oslivros didticos daquele tempo, alm das questesdos exames pblicos, que Malba no cansava deridicularizar. Uma delas: Dona Rosinha comprou 5

    milsimos de tonelada de manteiga a 6 cruzeiroscada hectograma. Quanto gastou? Para Malba, sum paranico pediria manteiga assim. Uma provade que todo ensino de Matemtica se benecia deuma injeo de Malba foi dada por Juraci Faria nasescolas municipais de Queluz (SP). Durante doisanos, ela organizou um programa de treinamento deprofessores nessa cidade em que o escritor passoua infncia. Juraci disse ter encontrado entre elesuma concepo pedaggica sem vida, tradicional,desvinculada da rotina das crianas. Uma dasiniciativas para aproximar o ensino da realidade foipromover, com classes de 3 e 4 sries, uma atividadeapelidada de matemtica do supermercado. Osalunos foram chamados a fazer um levantamentode produtos e preos no comrcio de verdade ecriaram um supermercado em classe. Foi possvelexperimentar vrios enfoques, entre os quais ouso da calculadora para as operaes comerciaise o trabalho com noes dos slidos geomtricosaplicadas s embalagens dos produtos.

    Malba Tahanera o pseudnimo do professor dematemtica Jlio Csar de Mello e Souza, nascido no

    Rio de Janeiro h 110 anos. Ele o autor de um dosmaiores sucessos editoriais de todos os tempos nopas, o romance O Homem Que Calculava, atualmentena 65 edio. Seu nome cou to identicado com aface mais amigvel dos nmeros que a data de

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    seu aniversrio, 6 de maio, dever se tornar o DiaNacional da Matemtica, de acordo com um projetode lei em tramitao no Congresso. A lei foi propostapor professores da matria que vem em Malba umexemplo a ser seguido e uma fonte inesgotvel deidias para suas aulas.

    Os princpios desse modo diferente de dar aula sobem simples e o prprio Malba se encarregou deenunci-los no livro Antologia da Matemtica: Deve-se ensinar bem o fcil, o que bsico e fundamental;insistir nas noes conceituais importantes; obrigaro estudante a ser correto na linguagem, seguroe preciso em seus clculos, impecvel em seusraciocnios. Tudo que possa cheirar a chatice eobscuridade deve ser evitado ao mximo. Malbaencerrava as aulas propondo aos alunos um desaomatemtico, do gnero que fez o sucesso de seuslivros, diz Juraci Faria, professora da UniversidadeMetodista de So Paulo. Ele no dava tarefas; davadesaos. (NOVA ESCOLA, n. 182, maio/05).

    Perceba, ento, que a forma como lidamos com o processo deensino tem a ver com o como concebemos o currculo e o mundo

    e suas mltiplas prticas. Vamos avanar para o qu o currculopode produzir no mbito da prtica?

    SEO 3 - Currculo: uma contextualizao paracompreender a prtica educativa

    A importncia da fantasia e do imaginrio no ser humano inimaginvel.

    (Morin)

    Observe e analise o quadrinho de Calvin.

    Voc j viu que o currculo permeado por teorias, valores,concepes e crenas pessoais, prtica docente que incorporaessas experincias, tambm. Entretanto, bem importantesalientar que no deve ser difcil perceber que muitas teorias,concepes e prticas se apresentam inadequadas em inmeras

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    escolas para as realidades vigentes, no ? Em relao a isto,Almeida (2000, p. 23) afirma que:

    quando pensamos no professor e na sua prtica docente,na sua didtica, sabemos que por trs das mediaesque ajudam a estabelecer a rotina em sala de aula esttambm a sua histria de vida, o local de onde observa eparticipa dos acontecimentos; esto suas representaese a parcela de conhecimento socialmente produzidoque acumulou ao longo da vida, (sendo que ali) esto osfragmentos, uns mais outros menos internalizados, dodiscurso educacional, bem como, fraes de discursoscientficos prprios das mais diversas disciplinas. (Grifos

    nossos)

    Vamos reetir um pouco sobre isto?

    No seu ponto de vista, quais so as questes atuaisque mais afetam as prticas pedaggicas nas escolas,que inter-relaes se pode fazer com o papel dosprofessores, da didtica e com o currculo? Qual areceita certa para uma prtica pedaggica ideal. Serque existe?

    Hoje, j podemos dizer que no existe um nico modelo emeducao, ou, o mais correto. Devemos falar em modelos quese estruturam segundo as opes e escolhas, pois a sociedade,as pessoas e suas prticas so plurais. Por isto, no existe umareceita pronta para ensinar, no esperem isto deste livro ou umaresposta clara s angstias que enfrentamos no dia-a dia nas salasde aula nos diferentes nveis de ensino.

    Existem, sim, referncias com base em estudos e experincias.Entretanto, nosso desafio, como educadores dar visibilidadea teorias e prticas curriculares para pensar possibilidades dedesenvolvimento de uma docncia coerente com a educaopretendida, - voltada aos princpios de uma educao tica,democrtica e de qualidade para que cumpra os preceitosconstitucionais de acesso e garantia de permanncia do aluno naescola com vistas a uma escola de todos.

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    Que tal entender de onde essa expresso vem?

    A concepo liberal de democratizao de ensino trazecos da ideologia do liberalismo: ampliao da escola paratodos. (O que no ocorreu no Brasil at o sculo XX). Essaconcepo tem sua formulao no seio das conquistas dahumanidade em conseqncia da Revoluo Francesa eda Revoluo Industrial, bem como no incio da composiodo capitalismo. A expanso da escolaridade arma como

    pressuposto que a escola para todos um direito detodos (art. 227, CF). Mas a escola um direito de todos nosignica dizer que efetivamente de direito de todos. Aescola que se oferece para todos no est desenraizadadas questes sociais. Desta forma, interessante pensarque a escola est oferecida para todos. No entanto, se aspessoas no tm condies de ter acesso a ela e de nelapermanecer, isto interpretado como um problema delas.Ou seja, pela tica liberal, as pessoas no conseguemgalgar os degraus que a escola oferece porque nasceramcom incapacidade para tal.

    Percebendo a situao do ponto de vista das prticas educativasdesejadas, pode-se dizer que a ideologia democrtica nascidados sentimentos de libertao das opresses que por um longoperodo vivemos no Brasil comeou a apontar para a necessidadede desenvolvermos propostas e situaes pedaggicas que, em vezde imporem a cultura do silncio, conduzissem libertao dosoprimidos (FREIRE, 2002) e emancipassem as classes mais

    oprimidas construindo uma pedagogia da autonomia.A pedagogia e a didtica, neste sentido, assumem uma funode reflexo sobre as finalidades educacionais e uma anlise sobreas suas condies de existncia e abrangncia. Estas reas estointerligadas a ecom a prtica educativa, pois ela constitui o locusde anlise.

    Uma aluso ao livro de Paulo

    Freire. Segundo Giroux e Simon,

    (apud MOREIRA; SILVA, 2005, p.97-98), A pedagogia um esforo

    deliberado para inuenciar os tipos

    e os processos de produo de

    conhecimentos e identidades em

    meio a determinados conjuntos

    de relaes sociais e entre eles.

    Pode ser entendida como uma

    prtica pela qual as pessoas so

    incitadas a adquirir determinado

    carter moral. Constituindo a

    um s tempo atividade poltica e

    prtica, tenta inuir na ocorrncia e

    nos tipos de experincias. Quando

    se pratica pedagogia age-se com

    inteno de criar experincias

    que, determinadas maneiras, iro

    estruturar e desestruturar uma srie

    de entendimentos de nosso mundo

    natural e social.

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    Sendo assim, voc deve compreender que um currculo ouuma proposta pedaggica no se constri no isolamento dasprticas e/ou das aes advindas dos gabinetes, mas se faz noconjunto de aes, com a participao de todos - professores,alunos, pais e comunidade -, nos diversos instrumentos queso colocados disposio na elaborao das propostaspedaggicas mais amplas at o projeto poltico pedaggico daescola. nesta perspectiva do currculo que a prtica educativae a didtica devem ser pensadas pedaggica, epistemolgica eculturalmente.

    A pedagogia e a didtica, neste sentido, assumem uma funode reflexo sobre as finalidades educacionais e uma anlise sobreas suas condies de existncia e abrangncia. Essa reas estointerligadas com a prtica educativa, pois constituem o locusdaanlise.

    A interao define a dimenso de um projeto educativo ou osprocessos educativos escolares. Desse modo, se entendermosque todo desenvolvimento desenvolvimento social, a mudanasocial tambm uma questo poltica, e tudo depende de noreproduzir na educao uma atuao poltica intervencionista,verticalista e centralizadora, mas prticas compartilhadas e

    dialgicas favorecem as novas demandas sociais.

    Paulo Freire (1997), na sua obra Pedagogia da Autonomia, afirmaque cada perodo histrico constitudo por valores, formas dever e de ser no mundo, que esto em constante mudana. Assim,ele diz que ao romper o equilbrio, h um esgotamento dosvalores que no mais correspondem s novas demandas sociais,por isso a necessidade de renovao e reavaliao constante; osprofessores devem, por meio de sua prtica e formao, contribuirpara o desenvolvimento de duas questes fundamentais:

    uma em termos de desenvolvimento de atitudes, deordem social, de tica pedaggica e cultural e demotivaes intrnsecas;

    outra em termos de ao estratgica aos nveis daorganizao curricular e da interao pedaggica guiadapor uma tica do cuidar, que tem pertinncia particularna educao para a cidadania.

    1.

    2.

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    Diante disso, de extrema importncia que voc, futuroprofessor, seja capaz de identificar e compreender os processosde excluso social e cultural e que tenha, tambm, competnciapara agir sensivelmente sobre o diagnstico e a caracterizaodas situaes que surgem no cotidiano escolar procedendoencaminhamentos coerentes com o que o fenmeno exige pormeio do desenvolvimento de sua disciplina, construindo projetosescolares coerentes com as necessidades observadas. SegundoLibneo (2006, p. 121),

    as escolas hoje no podem eximir-se de discutir ede implantar formas muito concretas de vivncia

    democrtica e prtica de valores humanos. ais prticasprecisam assentar-se num imperativo do aprendera compartilhar, que aprender pela convivnciacoletiva, pelo dilogo e pela reflexo crtica construirsignificados e entendimentos a partir do respeito sdiferenas, considerando-se marcos universais deconvivncia humana.

    Neste sentido, importante que se diga que no basta aoprofessor saber o contedo de sua disciplina, ou seja, terum conhecimento epistemolgico invejvel, se no tiver acompetncia para atuar criando possibilidades, por meio deestratgias didticas, para ajudar os seus alunos a resolveremproblemas reais que esto ligados a situaes sociais, culturaise humanas que, muitas vezes, fogem ao contedo cientfico eformal ditado pelo currculo oficial, por isso h a necessidade deque os professores se orientem sob princpios que consideram areflexividade e as situaes de diversidade existentes.

    Sobre isto, omaz adeu da Silva aborda que A pedagogia e ocurrculo deveriam ser capazes de oferecer oportunidades para

    que as crianas e os/as jovens desenvolvam capacidades de crticae de questionamento dos sistemas e das formas dominantes derepresentao da identidade e da diferena. (SILVA, 2000, p.92).

    Como um professor pode oferecer taisoportunidades? O que deve considerar na sua prtica?

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    Como pressuposto de aprendizagem, o processo pedaggicodeve decorrer da codificao de uma situao-problema, ouseja, o professor deve contextualiz-la provocando uma situaode ensino para que o aluno proceda o exerccio da abstrao eapropriao, o qual, por meio de representaes da realidadeconcreta, constri seus conceitos e conhecimento.

    A questo das diferenas e da identidade umproblema pedaggico e curricular no apenas porqueas crianas e os jovens, em uma sociedade atravessadapela diferena, forosamente, interagem com o outrono prprio espao da escola, mas tambm porque aquesto do outro e da diferena no pode deixar de

    ser matria de preocupao pedaggica e curricular.(SILVA, 2000, p. 92).

    nesse contexto que Freire se posicionou contra todo um sistemasocial que exclui um indivduo mediante um fator peculiar dosujeito. Paulo Freire declarou que:

    Aceitar e respeitar a diferena uma dessas virtudes

    sem o que a escuta no se pode dar. Se discrimino omenino ou menina pobre, a menina ou o menino negro,o menino ndio, a menina rica; se discrimino a mulher, acamponesa, a operria, no posso evidentemente escut-las e se no as escuto, no posso falar com eles, mas aeles, de cima para baixo. Sobretudo, me probo entend-los. Se me sinto superior ao diferente, no importa quemseja, recuso-me escut-lo ou escut-la. O diferente no o outro a merecer respeito um isto ou aquilo, destratvelou desprezvel. (FREIRE, 1997, p. 120, 121).

    omaz adeu da Silva diz que Uma poltica pedaggica ecurricular da identidade e da diferena tem a obrigao de iralm das benevolentes declaraes de boa vontade para com adiferena. Ela tem que colocar no seu centro uma teoria quepermita no simplesmente reconhecer e celebrar a diferena e aidentidade, mas question-las. (SILVA, 2000, p. 100).

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    As diferenas produzem identidades: qual o lugar da didtica?

    A prtica de ensino no neutra. Como voc pde ver ataqui, toda e qualquer disciplina traz em si nos seus contedosas intenes do currculo, alm das diferenas nos grupos quese constroem na escola e na individualidade de cada um. Asmltiplas diferenas produzem a identidade, e a escola umespao em que a diversidade e a diferena encontram o seulocus de existncia e, muitas vezes, gera, tambm, a falta deacolhimento. Vamos analisar a situao a seguir?

    Situao B Vamos pular amarelinha?

    Vamos pular amarelinha, turma?Grita a professora. Apergunta fechou o sorriso que brilhava no rosto deAndras, 10 anos, aluno da 2 srie da Escola Grilo Falante...,mas continuou a professora...e tambm fazer teatro defantoches? ou brincar de massinha???Ah, agora sim, Andrasabriu um sorriso largo. As crianas apressadas se postarampara ir, mas no antes de cuidar para que Andras estivessevindo tambm.... Mesmo diante da euforia, comum emmomentos como esses, elas tomaram cuidado de separara turma no espao de recreao para incluir Andras nojogo e ele no se sentir rejeitado ou excludo; eles sabiamque todos poderiam pular amarelinha, mas que tambmdeveriam ser parceiros de Andras, o coleguinha que tinhauma decincia fsica e no poderia pular. Uma paralisiacerebral leve o limita de algumas aes, principalmenteandar. Por isso, depende de ajuda dos colegas para tudo. Aturma se dividiu e comearam as brincadeiras. Andras estsempre participando, se sente includo e importante, no desprezado e sua opinio conta muito, tambm na sala de

    aula.

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    Por que voc acha que isto acontece nessa escola? Essacena comum em todas as escolas? Por qu? Justique suaresposta.

    O conjunto de docentes e de especialistas da escola deve tersensibilidade de considerar e respeitar as diferenas para quecada um possa construir sua identidade. Mas esta premissa deveestar contemplada nos princpios ticos, pedaggicos e sociaisque os docentes e a escola adotam. Assim, quando as aulas so

    planejadas, incluindo todas as aes, inclusive as brincadeiras, preciso pensar sempre em estratgias para que todos possam serincludos, certo?

    Ento, se a individualidade de cada um constitui a identidade,como foi dito anteriormente, o todo deve ser fortalecido com oque cada pessoa oferece a ele, no isso? interessante dizerque o professor, por sua vez, pela forma com que lida comesse fenmeno, torna-se uma pea fundamental no processode construo das subjetividades presentes na formao das

    identidades individuais e coletivas.

    Fixar uma determinada identidade como a norma uma das formas privilegiadas de hierarquizao dasidentidades e das diferenas. A normalizao um dosprocessos mais sutis pelos quais o poder se manifesta nocampo da identidade e da diferena. Normalizar significaeleger arbitrariamente uma identidade especfica como oparmetro em relao ao qual as outras identidades soavaliadas e hierarquizadas. (SILVA, 2001, p. 131).

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    Como o professor deve compreender e minimizar adiversidade e a diferena na sua prtica cotidiana?

    A exemplo da situao descrita, e sobre a diversidade na salade aula, Marli Andr alerta que O professor deve, comoanimador, ajudar o grupo a construir sua identidade coletiva,aprender a trabalhar cooperativamente, a tomar conscincia desuas diferenas e desigualdades e a agir de acordo com elas.(ANDR, 2002, p. 20).

    Sobre os pressupostos de uma pedagogia diferenciada, Andrafirma que o aluno deve ser o centro do processo educativo eo professor deve ser um orientador, uma fonte de recursos e deapoio. Assume, tambm, os princpios de que a aprendizagemocorre por meio de um processo ativo de envolvimento doaprendiz na construo de conhecimentos, que decorrem de suasinteraes com o ambiente e com o outro. Enfatiza o ensinovoltado para as competncias e o trabalho com projetos, pesquisase situaes-problema (ANDR, 2002, p. 19).

    preciso uma problematizao da cultura em que se vive, docurrculo que est em desenvolvimento e das particularidadesque ambos os elementos do processo supem das dimensesdidticas, pedaggicas, antropolgicas, psicolgicas, histricas aosdeterminantes que as relaes que se estabelecem nas prticas.

    A autora afirma que para exercer a prtica de ensino diferenciadasupe-se vencer preconceitos, sendo que, segundo ela,

    (...) preciso vencer a tendncia de ver tudo de forma

    linear e unidirecional. Dizer enquanto a sociedade,a escola, os alunos, os pais, os programas no semodificarem, eu no posso fazer nada uma posiomuito cmoda e paralisante. Seria absurdo negar o pesodos fatores estruturais, diz Perrenoud, mas preciso

    vencer a imobilidade diante deles e relativizar o seu papel.(ANDR, 1999, p.21).

    Os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), na suaintroduo, abordam a questo da observncia das diferenas.

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    a falta de acolhimento originada muitas vezes pelo fatode a escola no reconhecer a diversidade da populao aser atendida, com conseqente diferenciao da demanda.

    O no reconhecimento da diversidade faz com quetoda e qualquer situao que no esteja dentro de umpadro previsto seja tratada como problema do aluno eno como um desafio para a equipe escolar. (...) A faltade disponibilidade ou de condies para considerar adiversidade dos alunos acarreta o chamado fracassoescolar, com efeitos no plano moral, afetivo e social quegeralmente acompanharo esses indivduos durante todaa vida. (MEC, 1998a, p.42).

    Do ponto de vista da prtica, isto relevante. A escola deve

    acolher todos os alunos, e os professores devem inclu-los nos seusprojetos educativos, sem discriminao. A diferena individual parte da diversidade cultural e tnica do pas; o papel doprofessor educar, realizar projetos de ensino que atendam diversidade e s diferenas, esta a funo do educador.

    Educar, no entanto, supe transformar. Assim sendo, nuncahaver uma transformao pacfica. Ela sempre conflituosa. sempre ruptura com alguma coisa: preconceitos, hbitos,comportamentos etc. e o referencial dessa pedagogia aprxis, a

    ao transformadora.Ento, diante do que se coloca: o que seria necessrio? Setomarmos os princpios discutidos, o que fundamental que oprofessor possua:

    uma pedagogia diferenciada que atenda s diversidades;

    criatividade e criticidade;

    flexibilidade e disponibilidade ao dilogo;

    coragem de inovar e de transpor obstculos;disposio para experimentar revendo o que foi feito emudar o que no deu certo;

    sensibilidade e afetividade diante do ato de educar;

    percepo considerando a avaliao um momento para omovimento de emancipao e diagnstico.

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    Ao adotar o referencial de Perrenoud como embasamentopara prticas pedaggicas diferenciadas e inovadoras, Andrafirma que suas propostas de uso da avaliao formativa, deconstruo de uma pedagogia diferenciada, de trabalhar emtorno das competnciasoferecem valiosas pistas para quemdeseja enfrentar o grande desafio de atenuar as desigualdadesque esto presentes na escola, fazendo com que no apenas umaparcela, mas todos os alunos se apropriem do saber sistematizado.(ANDR, 1999, p. 12).

    Cabe s escolas desenvolver seus programas de ensinocom qualidade voltados s necessidades da escolarizao,desempenhando seu papel na construo de situaes deaprendizagem que propiciem ao aluno desenvolver as capacidadescognitivas, afetivas problematizando o cotidiano com base nosaber sistematizado.

    No basta atribuir escola a funo de desenvolvercompetncias, preciso repensar os currculos, buscar relacion-los nova realidade social e s condies de existncia dos nossosalunos. Abrir-se s inovaes buscando perceber as distncias queh entre o que a escola faz e o que deveria fazer. Veja, a seguir,alguns princpios para a reflexo do currculo.

    No trabalho Princpios para a reflexo sobre currculo, PierreBourdieu prope sete pontos que levam em conta as inovaes nasociedade e no interior da escola.

    Os contedos escolares devem ser constantementerevistos.

    A educao deve dar prioridade para as reas quedesenvolvem o pensamento.

    Os currculos devem ser flexveis, mas apresentar conexovertical e horizontal entre os contedos.

    Pelo fato de o currculo ser compulsrio, sempre deve serconsiderada a possibilidade de problematizao dos seuscontedos.

    O ensino deve procurar melhorar a eficcia do processode docncia verificando os mtodos de ensinoconstantemente.

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    A prtica curricular deve buscar integrar o trabalho dosprofessores de diferentes disciplinas, superando divisesexistentes entre elas, j superadas pela evoluo dascincias.

    Os currculos escolares devem conciliar o universalismoinerente ao pensamento cientfico, com o relativismoensinado atravs das cincias histricas, refletindo apluralidade de estilos de vida e de tradies culturais.(SANOS, 2001, p. 52) (grifos nossos).

    Se estes objetivos pretendem a diminuio das diferenas esituam os alunos como agentes de transformao de nossa

    realidade social, ento preciso respeitar os educandos e suassingularidades e criar mecanismos para que os professoresincorporem as metodologias adequadas para desenvolverem suasprticas. urgente que esses mecanismos sejam criados nosespaos escolares em que as experincias coletivas so vivenciadaspara dar sentido na vida escolar.

    Mas, para isto, fundamental que voc, futuro, professor, atueno sentido de aprofundar os questionamentos sobre sua prpriaprtica e condio de formao e participe das propostas de

    elaborao dos programas e projetos educativos da escola em queatua ou pretende atuar.

    Devidamente contextualizado com relao ao currculo, vamosagora s atividades de Auto-avaliao?

    A proposta desafiadora, um pouco extensa, mas muitosignificativa: Vamos produzir um portflio com base em questesapresentadas. Estas tm finalidade de fazer uma reviso docontedo para aprofundar seus conhecimentos, voc ter a

    oportunidade de construir um portflio com as snteses de suasconcluses e aprendizagem ao longo do livro.

    Se voc ainda no sabe o que significa um portflio no sepreocupe, vamos ao significado primeiramente, e esta atividadefica como uma sugesto a mais de prtica de ensino, que podemosilustrar melhor na discusso de planejamento.

    O portflio possui uma forma fsica de apresentao, constitui-seem um documentrio e contm, em si, uma histria de vida,relato de um processo de aprendizagem de um dado percurso

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    Para saber mais sobre o

    assunto, tente encontrar

    o: Manual de Portflio: um

    Guia Passo a Passo para

    Professores, de Elisabeth

    Shores e Cathy Grace. 160

    p., Ed. Artmed. Ou consulteo livro de Fernando

    Hrnandez citado nas

    Referncias.

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    escolar. Ele pode servir para registrar, ao longo de todo o ano, asatividades desenvolvidas pelo aluno ou servir como uma espciede relatrio de um trabalho ou projeto especfi