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Dinamização de processos erosivos: análise evolutiva da voçoroca do córrego
Tucunzinho – São Pedro (SP)
Dener Toledo Mathias, Cenira Maria Lupinaci Cunha, Pompeu Figueiredo de Carvalho
Universidade Estadual Paulista – Campus de Rio Claro. [email protected]
Palavras-Chave: Análise Geomorfológica, Planejamento Urbano, Erosão Peri-urbana
Título abreviado: Processos Erosivos em São Pedro (SP)
ABSTRACT
This paper aims to present an analysis of basin of Tucunzinho stream relief features
evolution – in the municipality of São Pedro (SP) - an area particularly affected by the
“dynamization” of linear erosion processes. The method was integrated analysis of data
about the physical characterization of the area, collected in field work and interpretation
of scenarios derived from aerial photographs. This procedure was guided by the
principles of the General Systems Theory applied to geography and resulted in a better
understanding how the processes works in the studied area providing subsidies to other
works that may be developed about the theme.
RESUMO
O presente trabalho objetiva apresentar uma análise sobre como tem evoluído as
feições do relevo que compõem a bacia do córrego Tucunzinho - São Pedro (SP), área
especialmente afetada pela dinamização de processos erosivos lineares. O método
utilizado foi a análise integrada de dados sobre a caracterização física da área, dados
levantados em trabalhos de campo e a interpretação dos cenários obtidos através de
fotografias aéreas. Tal procedimento foi norteado pelos princípios que fundamentam a
Teoria Geral dos Sistemas, aplicada à geografia, e resultou em um melhor entendimento
sobre como atuam os processos na área em questão, fornecendo subsídios a outros
trabalhos que podem ser desenvolvidos sobre a temática.
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INTRODUÇÃO
O desencadeamento de processos de erosão linear acelerada constitui-se motivo
de preocupação por parte da administração pública, uma vez que se trata de um fator de
degradação do ambiente que acarreta risco à população. O entendimento sobre como
evoluem tais processos num determinado contexto geoambiental torna-se essencial ao
planejamento com vistas à recuperação de áreas assim afetadas, sobretudo quando estas
se localizam nos entornos da malha urbana, sofrendo interferências associadas à
ocupação mal planejada. Assim, o presente trabalho objetiva apresentar uma análise
sobre como tem evoluído as feições do relevo que compõem a bacia do córrego
Tucunzinho - São Pedro (SP), área especialmente afetada pela dinamização de
processos erosivos lineares acelerados.
METODO E TÉCNICAS
O entendimento sobre como evoluem os processos erosivos atuantes na bacia em
questão foi possível mediante duas etapas, a primeira referente à pesquisa na
bibliografia existente e análise de fotografias aéreas de três cenários diferentes, a saber
1962, 2000 e 2008. A segunda foi o levantamento de dados em campo, que resultou na
constatação in loco dos fatos observados. Tal procedimento foi norteado pela
compreensão integrada dos elementos envolvidos na elaboração do relevo na bacia,
entre estes o próprio homem. Dessa forma, as análises se fundamentaram nos
pressupostos da Teoria Geral dos Sistemas aplicada á geografia, conforme apresentada
por Chorley & Kennedy (apud Christofoletti, 1979). Tendo a bacia hidrográfica como a
unidade de análise por excelência, buscou-se identificar as entradas de matéria e energia
e suas interações no contexto desse sistema aberto, considerando-se o controle exercido
pela variável antrópica, aquela que representa na área um dos fatores mais expressivos
na dinamização dos processos erosivos.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização dos atributos físicos e dos componentes bióticos
A bacia do córrego Tucunzinho constitui-se um canal de primeira ordem
afluente da bacia do Ribeirão Araquá, um dos tributários do rio Piracicaba. A figura 1
apresenta a localização da bacia no contexto do Estado de São Paulo e dos município de
São Pedro e Charqueada.
Figura 1 – Localização da bacia do córrego Tucunzinho
As características geomorfológicas da bacia do córrego Tucum se definem pela
ocorrência de topos com predomínio da forma tabular . As vertentes apresentam
relevante comprimento de rampa, marcado ocasionalmente pela presença de patamares
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erosivos, provavelmente associados a sucessivos ciclos climáticos pretéritos que,
aliando-se às diferenças de resistência apresentadas pelas diferentes fácies litológicas,
imprimiram no relevo traços característicos desse processo evolutivo. A dinâmica de
fundo de vale é dominada pelo entalhamento progressivo dos canais, sendo que no
baixo curso predomina a acumulação de planície fluvial, compondo amplas várzeas,
sobretudo nos baixos cursos dos principais afluentes do córrego. De forma geral, o
relevo da bacia apresenta-se bastante dissecado, expondo com isso uma drenagem
relativamente densa, considerando-se também os canais pluvio erosivos.
A geologia da área encontra-se vinculada à Bacia Sedimentar do Paraná, onde se
insere a bacia estudada, o que faz com que apresente litologias típicas desta Unidade
Geo-estrutural do relevo brasileiro. Ocorrem predominantemente a Formação
Botucatu e a Formação Pirambóia, ambas integrantes do Grupo São Bento, que se
caracterizam por apresentar rochas areníticas altamente friáveis, originadas em
diferentes ambientes, sendo a primeira típica de processos eólicos e a segunda de
deposição flúvio-lacustre. Além dessas litologias há também a presença dos Depósitos
Aluviais, de idade atribuída ao Quaternário, formados durante o Holoceno, constituídos
de sedimentos arenosos mal consolidados (Carpi, 1992).
Constata-se a ocorrência das seguintes classes de solos: Latossolo vermelho-
amarelo, Argissolos e Gleissolos. Tais solos possuem como atributos mais notáveis a
textura arenosa, alto grau de acidez e dificuldade em reter água e nutrientes, o que lhes
conferem uma insalubridade agrícola e uma grande suscetibilidade a sofrer intensos
processos erosivos (Sanchez, 1971).
O clima da região é o Tropical, típico de área de transição, onde se verifica o
ponto de encontro de massas de ar provenientes do Leste, a Tropical Atlântica ; do
Noroeste, a Equatorial e Tropical continentais; e, vindas do Sul, as massas de ar
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Polares. Estas últimas são praticamente as responsáveis pelas sucessões de estados de
tempo em todo o Brasil meridional, atuando através de “ondas de frio” que funcionam
como sistemas frontais ao se chocarem contra as massas provenientes do interior do
continente. Em geral nota-se a sucessão de dois períodos climáticos bastante distintos,
um mais chuvoso, que ocorre entre os meses de outubro e março e um mais seco no
restante dos meses. Tal fato é responsável por um notável contraste, caracterizado pelo
excesso de águas durante o período chuvoso em contrapartida com a considerável
estiagem que ocorre nos meses menos úmidos.
A vegetação presente na bacia resume-se à Mata Galeria, apresentando-se um
tanto degradada. Também nota-se a presença de Vegetação Higrófila em solo
totalmente encharcado e formações campestres nos solos arenosos e menos férteis. O
uso do solo para aproveitamento econômico pode ser verificado através de imagens de
satélite indicando que grande parte das áreas são destinadas às pastagens para gado
bovino. O que se observa como tendência geral é o avanço da urbanização, tomando tais
pastagens, principalmente no alto curso. Próximo da foz, encontra-se ainda um pequeno
setor utilizado para reflorestamento por eucaliptos (Sanchez, 1971).
Não há expressivos representantes faunísticos que sejam nativos do domínio em
que se encontra a área da bacia. Podem ser observadas algumas espécies de lagartos
como o teiú e tatus, sapos, aves e insetos em geral. Outros indivíduos que aparecem
foram introduzidos pelo homem e respondem de certa forma pelo uso econômico que se
dá aos mesmos, em que se destacam o gado bovino e localmente o caprino.
Análise evolutiva das feições do relevo na bacia
A intensa dinamização de processos erosivos acelerados na bacia do córrego
Tucunzinho encontra-se primeiramente vinculada a uma predisposição natural da área,
evidenciada nos seus atributos físicos que apresentam expressivo potencial a sofrer
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erosão, conforme apontado por Mathias (2008). A componente climática, por sua vez,
constitui-se força motriz para o desencadeamento acelerado de tais processos. Destaca-
se o fato de que nos meses de estiagem durante o inverno têm-se uma forte
intemperização física ocasionada pelas variações de temperatura ao longo do dia, o que
contribui para a fragilização da superfície do solo. Após esse período os terrenos vêem-
se gradativamente tomados pelas chuvas que caracterizam o verão tropical. Muitas são
as vezes em que a precipitação ocorre com volumes excessivos de água. Esse excedente
encontra uma superfície substancialmente enfraquecida o que na maioria das vezes
produz, por meio do escoamento concentrado, a ruptura da cobertura pedológica. O
autor também aponta que “o fato das vertentes da citada bacia possuírem relevante
comprimento de rampa é determinante no aumento da energia do fluxo de águas
pluviais” (Mathias, 2008 p.71).
Além dos fatores físicos referidos têm-se como característica marcante a
influência antrópica determinando de maneira proeminente a fisionomia da paisagem.
Facincani (1995) demonstra aspectos da ocupação humana desregrada e suas visíveis
conseqüências no caráter físico da região. “Os modelos de ocupação urbana e/ou rural
refletem a ausência de conhecimento prévio das características físicas inerentes a tais
espaços, resultando na degradação do meio físico”. Verificando os fatores da ação
antrópica é inevitável notar o mau uso do solo e a distribuição espacial humana
inadequada influindo diretamente nas condições do terreno (Facincani, 1995, p.21).
Dessa forma têm-se, como pode ser verificado na fotografia aérea de 1962, o
predomínio de pastagens e a ocorrência de intensos processos de erosão linear na área
pertencente à bacia em questão, configurando amplas voçorocas e ravinamentos
associados. O aspecto geral do relevo em alguns pontos apresenta-se como uma
verdadeira “badland”, cuja rede de sulcos erosivos expressivos estende-se ao longo de
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setores da vertente. A Figura 2 engloba a bacia do córrego Tucunzinho e parte do
córrego Tucum, do qual este é afluente.
Figura 2 – Área da bacia do córrego Tucunzinho e adjacências. Foto aérea de 1962
Fonte: Acervo de Fotografias Aéreas da FFLCH - USP
Assim, durante longo período o uso do solo na bacia do córrego Tucunzinho
caracterizou-se por ser predominantemente voltado à atividade agropastoril. Sabe-se que
via de regra as pastagens não se constituem coberturas vegetacionais efetivas na
conservação dos solos, fato que aliado ao pisoteio do gado, favorece a formação de
sulcos erosivos. Entretanto mesmo que o uso do solo fosse voltado exclusivamente à
agricultura não se constituiria adequado frente aos atributos físicos da área, que
inclusive impedem tal uso.
Os anos que sucederam foram marcados pela expansão da área urbana do
município, configurando um notável avanço da malha sobre a área da bacia. A
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conseqüência mais notável deste processo foi a intensificação do quadro de erosão já
existente, conforme aponta Sanchez et aii (1986/87):
“a instalação de loteamento com traçado das ruas facilitando o escoamento das
águas pluviais e urbanas, justamente para o setor da encosta onde já estava
instalada a forma erosiva, redundou em sérias conseqüências. Houve um
acréscimo na quantidade de água que escoava superficialmente e a cobertura
vegetal, já insuficiente para frear a ação das águas nas condições anteriores,
tornou-se totalmente ineficaz” (Sanchez et aii,1986/87 p.283).
Um dos fatores que mais contribuem para a dinamização dos processos erosivos
lineares no que concerne à atuação antrópica é aquele associado à expansão da área
urbana sobre tais terrenos onde, como citado pelo autor referido, as águas pluviais são
concentradas e adicionadas de águas urbanas, contribuindo não somente com o aumento
do fluxo hídrico que irá desaguar no leito do curso fluvial próximo, mas também com o
aumento da velocidade de tal fluxo, uma vez que nas ruas pavimentadas o escoamento
não encontra obstáculos que possam quebrar sua energia. Além do mais, no caso de
equipamentos de drenagem pluvial, estes são projetados em descompasso com as
características ambientais, a exemplo do uso de tubulações de concreto conduzindo as
águas até o leito fluvial. Tal equipamento concentra sobremaneira a vazão das águas
pluviais e aumenta significativamente a energia do fluxo, devido ao fato de ser
cilíndrico e desprovido de qualquer ressalto que poderia diminuir a força do
escoamento. Este fato aliado ao comprimento de rampa percorrido pela água faz com
que esta atinja o talvegue com alta energia e vazão, sobretudo durante os eventos
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chuvosos, causando um efeito devastador sobre um relevo já susceptível a sofrer
processos erosivos.
É bastante notável que a expansão urbana registrada nas últimas décadas se deu
em total incompatibilidade com as características fisico-ambientais que se registram na
região. Durante o processo de crescimento da cidade, a junção de determinados fatores
atua na produção do espaço urbano, gerando impactos sócio-ambientais a depender da
interação das variáveis envolvidas no sistema. A esse respeito cita-se como fator
potencializador dos impactos a falta de planejamento, evidenciada sobretudo pela
ausência de levantamentos técnicos sobre o terreno e total desconhecimento prévio
acerca de possíveis danos vinculados à expansão humana sobre a paisagem (Relatório
de Impacto Ambiental). Soma-se a isso, o descaso da administração pública para com a
população, uma vez que tais impactos afetarão diretamente os moradores próximos às
áreas degradadas.
Entende-se por falta de planejamento as ações que se processam sobre o meio
urbano que não se constituem harmoniosas com o meio físico e são herdadas da
ausência de uma compreensão da totalidade social e ambiental. Geralmente encontram-
se associadas à própria lógica do capital e da propriedade privada que privilegiam a
lucratividade dos empreendimentos em detrimento de planos mais ambientalmente
equilibrados. Tal fato denota a incúria culposa, às vezes dolosa, da administração
pública na gestão ambiental, sendo tomado mesmo por estratégia de um planejamento
voltado á lógica do mercado.
O avanço dos bairros diretamente sobre as vertentes de maior suscetibilidade
erosiva é evidenciado pelas fotos aéreas do município de período bem posterior àquela
já apresentada. A figura 3 mostra um recorte da fotografia aérea do ano de 2000
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(SAA/CATI, 2000), dando enfoque ao avanço da malha urbana e à frente de retomada
erosiva sobre área manipulada por obras de contenção.
Figura 3 – Fotografia aérea do ano de 2000 – Ocupação da área da bacia do córrego
Tucunzinho e retomada erosiva sobre as obras ali implantadas
Fonte: SAA/CATI, 2000
Um dos fatos mais notáveis em relação ao que foi constatado é que
concomitantemente à expansão da malha urbana, houve amplas obras visando a
contenção dos processos erosivos existentes na área. Carpi (1996) aponta que no ano de
1986 houve “tentativas esparsas e localizadas para conter a dinâmica, como a
implantação de camaleões e terraços de terra/pedra posicionadas à montante das
cabeceiras das voçorocas” e então conclui que “essas técnicas embora funcionais junto a
um conjunto de medidas, são ineficientes quando adotadas isoladamente e, assim, o que
ocorreu foi um simples estancamento das águas pluviais que passaram a infiltrar-se no
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contato com os camaleões e terraços” dinamizando os “pipings” nos taludes da
voçoroca pela ação do escoamento sub-superficial.
A obra mais notável, contudo efetuou-se no ano de 1991, e foi caracterizada pela
implementação de inúmeras medidas no local, realizadas pela Prefeitura em parceria
com os portos de areia da região. Na ocasião, os processos haviam se dinamizado de tal
maneira que toda a área que compreende as cabeceiras do córrego Tucum se
transformara num verdadeiro “bad-land”. Tais obras, contudo, novamente se realizaram
sem quaisquer considerações acerca dos atributos físicos da bacia. Verificou-se uma
intensa remoção e importação de terras de outros locais do município, fora dos limites
da bacia. Realizou-se o preenchimento das cavas erosivas, em que as máquinas
empurravam sedimentos para o fundo das voçorocas, entulhando-as sem qualquer outra
preocupação. Além disso, foram executados expressivos terraceamentos, com
camaleões de quase dois metros de altura e terraços, tendo como constituinte o mesmo
material inconsolidado e mineralizado que se entulhou os canais.
Desde que as citadas obras foram efetuadas, inúmeros fenômenos erosivos se
redinamizaram acabando por destruir grande parte do que fora realizado. Trabalhos de
campo feitos no período que compreende os anos de 2006 a 2008, possibilitaram a
constatação de que atualmente ocorre uma retomada erosiva intensa no local. Acerca
das obras mencionadas, verifica-se que o curso principal do córrego Tucum teve seu
leito canalizado e encontra-se aparentemente estável do ponto de vista dos processos
erosivos. Contudo, essa “aparência” é bastante ilusória, uma vez que podem ser notados
inúmeros abatimentos ao longo do vale, além de sulcos erosivos que romperam muitos
dos antigos camaleões. Ressalta-se o fato de que a canalização e a instalação de
equipamentos para o escoamento pluvial tiveram como principal material constituinte o
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concreto armado, que sob a ótica da erosão diferencial, jamais poderia ser instalado
sobre um terreno composto por rochas sedimentares.
A Figura 4 apresenta uma imagem da área do ano de 2008, a qual é possível
constatar o completo asfaltamento das ruas nos bairros que ocupam a área da bacia.
Nota-se também o direcionamento das ruas, concentrando os fluxos pluviais
diretamente sobre o talude da voçoroca que ali se desenvolve amplamente. As setas
amarelas indicam a direção do escoamento pluvial.
Figura 4 – Imagem do ano de 2008 – Redinamização da voçoroca do córrego
Tucunzinho e contribuição das águas do meio urbano
Fonte: Google Earth (Extraído em Dezembro de 2008)
Além da impermeabilização promovida pelo pavimento, ocorre também a
concentração do fluxo pluvial e sua condução com expressiva energia. Como resultado,
tem-se o franco desenvolvimento dos processos erosivos por retomada. Ressalta-se
ainda que foram instaladas as galerias pluviais e demais equipamentos visando a
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condução das águas do meio urbano, mas o fato terem sua saída posicionada no contato
direto com o talude erosivo contribui para sua danificação a partir do solapamento das
bases de tais estruturas.
Atualmente são notadas novas obras ocorrendo nos setores de cabeceira da
voçoroca do córrego Tucunzinho. Tais obras visam a urbanização de terrenos que já
haviam sido tomados como depósito de entulhos e lixo, sendo utilizados sem a devida
regularização. A instalação de uma creche nos limites do aterro em questão foi uma das
últimas obras efetuadas e demonstra que o avanço da malha urbana sobre a bacia
continua a ocorrer, desrespeitando sobretudo a lei ambiental referente às APPs urbanas
e entornos de cursos d’água. Entretanto é possível que novos ciclos erosivos forcem a
administração pública à uma mudança de ações, uma vez que tal como fora
evidenciado, em curto período de tempo os processos que ali ocorrem sofrerão uma
retomada, afetando a estabilidade das obras e gerando risco à população.
CONCLUSÕES
O conhecimento acerca dos atributos físicos de uma área, notáveis a partir do
levantamento dos mesmos e da análise das formas que seu relevo exibe em diferentes
cenários, trata-se de um elemento chave ao planejamento urbano e ambiental. No caso
específico de áreas que apresentam problemas erosivos, é imprescindível o
entendimento sobre como evoluem tais formas a fim de que sejam tomadas as medidas
corretivas cabíveis. Contudo, ressalta-se que somente após a conscientização da
sociedade e o comprometimento da administração municipal é possível que sejam
efetuadas obras de caráter sócio-ambiental que tenham como propósitos tanto a
recuperação das áreas degradadas como o devido rearranjo das populações de baixa
renda, já instaladas em setores de fragilidade.
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A atuação antrópica ao longo dos anos contribui efetivamente para que uma área
apresente maior ou menor degradação ambiental a depender do uso da terra exercido
sobre o local e seus atributos naturais. Uma área mais sensível devido à suscetibilidade
erosiva deve ser utilizada observando-se certos cuidados, fundamentados, sobretudo,
num prévio conhecimento das características intrínsecas e um planejamento de ações
conservacionistas a fim de se evitar os efeitos negativos advindos da degradação
ambiental, que acabam por afetar a própria esfera social.
Conforme foi levantado o desenho da malha urbana possui relevante significado
na dinamização dos processos erosivos que atuam na área estudada, estando sua
concepção vinculada à falta de um planejamento urbano adequado, que impõe sobre as
áreas sua influência degradante. Combina-se com tal fato, os atributos físicos da área
que, conforme foi levantado, apresentam enorme suscetibilidade a sofrer erosão e
aspectos acerca do uso inadequado da terra, fazendo com que os processos ali
ocorrentes possuam atividade expressiva e preocupante do ponto de vista do
planejamento.
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