DIRETRIZES DE USO DE FLUORETOS EM CURSOS DE...

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Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Odontologia de Piracicaba PABLO GUILHERME CALDARELLI DIRETRIZES DE USO DE FLUORETOS EM CURSOS DE ODONTOLOGIA E NA PRÁTICA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE BUCAL DO PARANÁ - UM ESTUDO QUALI- QUANTITATIVO Piracicaba 2017

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Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

PABLO GUILHERME CALDARELLI

DIRETRIZES DE USO DE FLUORETOS EM CURSOS DE

ODONTOLOGIA E NA PRÁTICA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

DE SAÚDE BUCAL DO PARANÁ - UM ESTUDO QUALI-

QUANTITATIVO

Piracicaba

2017

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PABLO GUILHERME CALDARELLI

DIRETRIZES DE USO DE FLUORETOS EM CURSOS DE

ODONTOLOGIA E NA PRÁTICA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

DE SAÚDE BUCAL DO PARANÁ - UM ESTUDO QUALI-

QUANTITATIVO

Piracicaba

2017

Tese apresentada à Faculdade de Odontologia

de Piracicaba da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos

para a obtenção do título de Doutor em

Odontologia, na Área de Cariologia.

Orientadora: Profa. Dra. Livia Maria Andaló Tenuta

Coorientador: Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO

PABLO GUILHERME CALDARELLI E

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. LIVIA MARIA

ANDALÓ TENUTA.

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DEDICATÓRIA

A Deus por se fazer presente em todos

os momentos da minha vida, transmitindo-me a

segurança necessária para chegar até aqui. Aos

meus pais, José Eduardo Leme Caldarelli (in

memoriam) e Maria Inês de Brito Caldarelli, e ao

meu irmão Carlos Eduardo Caldarelli pelo

incentivo, pelos conselhos, pelo carinho, por

terem acreditado em minha capacidade e me

dado forças para essa conquista.

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AGRADECIMENTOS

Ao Magnífico Reitor da Universidade Estadual de Campinas, Prof. Dr.

Marcelo Knobel.

À Faculdade de Odontologia de Piracicaba, na pessoa do seu diretor,

Prof. Dr. Guilherme Elias Pessanha Henriques.

À Prof. Dra. Cinthia Pereira Machado Tabchoury, coordenadora dos

Cursos de Pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da

Universidade Estadual de Campinas.

Ao Prof. Dr. Marcelo de Castro Meneghim, coordenador do Programa de

Pós-graduação em Odontologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba.

À Profa. Dra. Lívia Maria Andaló Tenuta, pela confiança depositada, pela

orientação e condução da pesquisa, pelo apoio intelectual, pela atenção, pelos

conselhos firmados e pela concessão do seu precioso tempo.

Ao Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury e a Profa. Dra. Célia Regina

Vitaliano, pela atenção, pelo apoio intelectual e sugestões no desenvolvimento do

projeto.

Aos Professores do Programa de Pós-graduação em Odontologia da

Faculdade de Odontologia de Piracicaba, pela contribuição intelectual.

Aos voluntários que participaram do estudo, pela colaboração,

cooperação e dedicação, indispensáveis para a realização desta pesquisa.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), pela concessão da bolsa de doutorado, sem a qual a realização deste

trabalho não seria possível.

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Aos colegas Mestrandos e Doutorandos do Programa de Pós-

graduação em Odontologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, pelo

companheirismo, apoio e amizade construída nesses anos de convivência.

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RESUMO

O fluoreto, independente do meio de uso, é extremamente eficaz para controlar a

cárie dentária. No estado do Paraná (PR), o programa de utilização de fluoretos nos

serviços públicos de saúde bucal está organizado há muitos anos, mas é

desconhecido se estão sendo recomendadas as melhores evidências científicas

disponíveis. Também, não é conhecido se há coerência entre as diretrizes de uso

flúor ensinada nos cursos de Odontologia do estado e a preconizada nos serviços

públicos locais. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar se as recomendações para o

uso de fluoretos no estado do Paraná estão sendo feitas com base nas melhores

evidências científicas disponíveis e se aquilo que é recomendado nos serviços

públicos de saúde bucal tem sido influenciado pelo processo de ensino dos cursos

de Odontologia. Trata-se de um estudo quali-quantitativo descritivo transversal, no

qual foram contempladas nove Instituições de Ensino Superior (IES) com o curso de

Odontologia do estado do Paraná (cinco públicas e quatro privadas) e os respectivos

serviços públicos de saúde bucal dos municípios locais e das regionais de saúde do

Paraná. Entrevistas semiestruturadas, audiogravadas in loco, foram realizadas com

coordenadores/docentes dos cursos e com coordenadores municipais e regionais de

saúde bucal. Foram analisados os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) dos

cursos e os protocolos de atendimento clínico em Odontologia dos municípios. Os

dados foram analisados de forma conjunta. Para isso, foi utilizada a técnica de

Análise de Conteúdo, que inclui a leitura flutuante dos conceitos apresentados pelos

respondentes e a criação de categorias de resposta. A análise permitiu o

agrupamento de respostas e a criação de três categorias: a) as abordagens do uso

de fluoretos no controle da cárie pelas IES do Paraná; b) as

recomendações/indicações do uso de flúor no controle da cárie dentária nos

serviços públicos de saúde bucal do estado do Paraná; e c) a relação de influência

entre as IES e os serviços públicos de saúde bucal quanto ao uso de flúor no

controle da cárie dentária. As recomendações para o uso de fluoretos no Paraná não

estão sendo feitas com base nas melhores evidências científicas disponíveis em

relação a dentifrícios e soluções fluoretadas. Foi encontrada coerência entre o

ensinado nas IES e o preconizado nos serviços públicos de saúde bucal em 67%

dos casos analisados. Os resultados sugerem que as IES com curso de

Odontologia no estado do Paraná tem influência nucleadora na difusão de

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conhecimento sobre o uso de fluoretos nos respectivos serviços públicos de saúde

bucal.

Palavras-chave: Flúor. Faculdades de Odontologia. Serviços de Saúde Bucal.

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ABSTRACT

Fluoride, irrespective of the method of use, is extremely effective in dental caries

control. In the state of Paraná (PR), fluoride-based programs have been available in

public services for oral health for a long time, but it is unknown if they are based on

the best scientific evidence available. Also, it is not known if there is coherence

between the guidelines of fluoride use taught in dental schools of the State and what

is practiced in the local public services. Thus, the objective of the study was to

evaluate if the fluoride use recommendations in the state of Paraná are being done

based on the best available scientific evidence and if the teaching process of

Dentistry courses has influenced what is recommended in the oral health public

services. A cross-sectional, quali-quantitative study was done in nine Higher

Education Institutions (HEIs) with Dentistry course in the state of Paraná (five public

and four private) and the respective oral health public services of local municipalities

and health regionals of Paraná. Semi-structured interviews recorded in loco were

held with coordinators/professors of Dentistry courses and municipal and regional

oral health coordinators. The data were analyzed together, using the Content

Analysis technique, in which the responses of the individuals were read and

categories were created. The analysis allowed grouping of responses and the

creation of three categories: a) approaches of fluoride use for dental caries control by

HEIs of Paraná; b) recommendations/indications of fluoride use for dental caries

control in the oral health public services of Paraná; and c) the relationship between

the HEI and the public oral health services on fluoride use for dental caries control.

The fluoride use recommendations in Paraná are not being done based on the best

scientific evidence available regarding toothpaste and fluoride solutions. Coherence

was found between what is taught in the HEIs and the recommended in the oral

health public services in 67% of the cases analyzed. The results suggest that HEIs

with Dentistry courses in Paraná have a nucleating influence on the diffusion of

knowledge about fluoride use in the respective oral health public services.

Key Words: Fluoride. Schools, Dental. Dental Health Services.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 REVISÃO DA LITERATURA 14

3 PROPOSIÇÃO 24

4 MATERIAL E MÉTODOS 25

5 RESULTADOS 30

6 DISCUSSÃO 38

7 CONCLUSÃO 52

REFERÊNCIAS 53

APÊNDICES 60

Apêndice 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 60

Apêndice 2 - Roteiro de entrevista para Coordenadores de Saúde Bucal 64

Apêndice 3 - Roteiro de entrevista para Coordenadores de Curso 66

e Docentes

ANEXOS 68

Anexo 1 - Aprovação do protocolo de pesquisa pelo Comitê de Ética em 68

Pesquisa (CEP) da FOP/UNICAMP

Anexo 2 - Termo de ciência e concordância da Secretaria da Ciência, 69

Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Estado do Paraná

Anexo 3 - Termo de ciência e concordância da Coordenação Estadual 70

de Saúde Bucal do Paraná

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1 INTRODUÇÃO

As causas e consequências da cárie dentária, assim como os meios

utilizados para seu controle e prevenção, têm sido estudados na Odontologia desde

quando não se existia um consenso da diferença entre “doença cárie” e “lesão de

cárie” (Cury et al., 2010). Neste contexto, diante de um movimento a favor da

promoção da saúde bucal, a ingestão de fluoreto durante a formação dos dentes foi

empiricamente recomendada como uma forma de tornar os dentes mais resistentes

ao desafio cariogênico (Truhlar, 1997). Atualmente, sabe-se que o flúor interfere no

processo de des e remineralização das estruturas dentais, quando constantemente

presente na cavidade bucal, sendo que seu mecanismo de ação encontra-se

relacionado com uma atuação local (Tenuta e Cury, 2010).

Assim, dentre todas as especialidades da Odontologia, a Cariologia talvez

tenha sido a que sofreu a maior mudança de conceitos e paradigmas. As

modificações nos conceitos da doença cárie e na importância do uso do fluoreto

para seu controle - antes tido como importante quando incorporado ao mineral dos

dentes - foram tão drásticas que ainda hoje não foram totalmente incorporadas nos

currículos dos cursos de Odontologia e nas práticas clínicas dos serviços de saúde

(Cury et al., 2010). E, “embora estejamos no século XXI, somos reféns de alguns

conceitos ou dogmas na Cariologia do final do último século” (Cury et al., 2010),

como a tríade de Paul Keyes (que descreve a cárie como uma simples interação

entre dieta, bactérias e hospedeiro) e o conceito de “flúor sistêmico” (o flúor ingerido

seria incorporado ao dente deixando-o mais resistente à cárie dentária). Ainda, na

década de 1990, em um cenário em que a prevalência da cárie dentária estava em

redução e a de fluorose em aumento na população americana, iniciou-se uma

discussão sobre o risco de desenvolvimento à fluorose dental frente ao uso de

fluoretos. (Horowitz, 1995). Dessa forma, para que não existisse nenhum tipo de

impacto na fluoretação das águas de abastecimento público, foi sugerido a utilização

de dentifrícios sem flúor ou com concentração reduzida na primeira infância, embora

fosse reconhecido que a ingestão de flúor pelo dentifrício não era o único

responsável pelo aumento dos índices de fluorose.

Atualmente, as revisões sistemáticas têm concluído que o efeito na

redução da prevalência da cárie dentária está fortemente associado ao uso de

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dentifrícios que possuam uma concentração de pelo menos 1000 ppm de flúor

(Walsh et al., 2010). Sendo assim, os dentifrícios com baixa concentração de flúor

não apresentam evidência de sua eficácia tanto no controle da cárie dentária em

dentes permanentes (Walsh et al., 2010) e decíduos (Santos et al., 2013a), quanto

na redução dos riscos de desenvolvimento de fluorose (Santos et al., 2013b). Apesar

disso, devido a dificuldade de mudança de conceitos, a literatura tem apontado

inconsistências e recomendações divergentes quanto ao uso de dentifrícios e outros

meios de uso de flúor por instituições governamentais brasileiras (Santos et al.,

2010) e programas de intervenção precoce em saúde bucal de Instituições de

Ensino Superior (IES) do país (São Paulo, 2000; Chedid e Cury, 2004).

Neste cenário, o estado do Paraná tem serviços de saúde bucal e

programas preventivos baseados no uso de fluoretos estabelecidos há muitos anos

(Scarpelli et al., 1996; Baldani et al., 2003). A Secretaria da Saúde do Estado

(SESA) implantou em 1980 o Programa Estadual de Bochecho com Flúor, pelo qual

atualmente uma média de 750 mil escolares realizam semanalmente bochecho

fluoretado. O estado tem também estimulado os municípios a realizarem ações

coletivas de escovação dental supervisionada com dentifrícios (Paraná, 2013; 2016).

Além disso, os programas de atenção precoce à saúde bucal, idealizados há anos

por cursos de Odontologia do Paraná (Walter e Nakama, 1994; Scarpelli et al., 1996;

Baldani et al., 2003), encontram-se hoje estruturados em diversos municípios, sendo

desenvolvidos em consonância com as demais estratégias preconizadas pelo

governo (Paraná, 2013; 2016). Contudo, ainda é desconhecido se estes programas

estão baseados nas melhores evidências científicas disponíveis. Também, não é

conhecido se existe coerência entre as recomendações para o uso de flúor

ensinada nos cursos de Odontologia do estado e a preconizada nos serviços

públicos locais, bem como a relação de transferibilidade do conhecimento.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O uso do flúor e o controle da cárie dentária

Embora tenha havido desde a década de 90 um significativo declínio dos

índices de cárie dentária no Brasil (Brasil, 2004; Brasil, 2011), essa doença ainda

continua sendo um dos grandes problemas de saúde pública no país, pois atinge

indivíduos de todas as faixas etárias e níveis socioeconômicos (Narvai et al., 2006).

Entre os fatores que contribuíram para a diminuição em nível populacional dessa

doença encontram-se a descentralização do sistema de saúde brasileiro e as

políticas nacionais embasadas no uso de fluoretos, como a fluoretação das águas de

abastecimento público e a utilização abrangente de dentifrícios fluoretados. Dessa

forma, o flúor tem sido considerado o principal responsável pelo declínio mundial de

cárie o qual tem ocorrido desde a década de 60 (Narvai et al., 1999; Cury et al.,

2004; Narvai et al., 2006).

A utilização de fluoretos como meio preventivo e terapêutico da cárie

dentária iniciou-se na década de 1940 nos Estados Unidos e Canadá, com a

fluoretação das águas de abastecimento público. Após estudos que comprovaram a

eficácia da medida (na época uma redução de cerca de 50% na prevalência da

doença), o método foi recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e

pelas principais instituições mundiais da área, sendo expandido para várias regiões

do mundo (Nunn e Steele, 2003). Nos EUA, onde a fluoretação das águas foi

considerada uma das dez medidas de saúde pública mais importantes no século XX,

duas em cada três pessoas consomem água fluoretada (CDC, 1999). No Brasil, a

agregação de flúor ao tratamento das águas de abastecimento público iniciou-se em

1953 no município capixaba de Baixo Guandu. Tornou-se lei federal (Brasil, 1976),

expandiu-se intensamente nos anos 1980 e atualmente compõe o segundo maior

sistema de fluoretação de águas de abastecimento público do mundo, beneficiando

milhões de pessoas (Brasil, 2009; Frazão et al., 2011).

Os dentifrícios fluoretados começaram a ser utilizados nos países

desenvolvidos a partir da década de 1960. Em 1990, atingiram mais de 90% das

vendas de dentifrícios da Europa e América do Norte. No Brasil, passaram a ter

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impacto em saúde pública a partir de setembro de 1988, quando foi adicionado flúor

ao creme dental nacional de maior representatividade comercial (cerca de 50% do

mercado). A partir de 1989 os dentifrícios fluoretados começaram a ser

comercializados em escala populacional no país, passando a contribuir com cerca

de 90% das vendas de dentifrícios (Cury, 1989). Esse fato representou um aumento

expressivo do acesso ao flúor em termos de saúde pública, chegando o Brasil a ser

considerado o terceiro país em consumo per capita de dentifrícios, atrás apenas dos

Estados Unidos e Japão (Cury et al., 2004).

Além da água e dos dentifrícios fluoretados, outras formas de utilização

de fluoretos também vêm sendo empregadas, tanto como meios preventivos de

âmbito populacional quanto para uso individual. Dentre eles destacam-se as

soluções para bochechos, géis, espumas, vernizes, cariostáticos (diamino fluoreto

de prata) e associações de meios. Torna-se importante ressaltar que todos esses

meios, independentemente da forma de utilização, aumentam a concentração de

flúor na cavidade bucal para interferir no processo de des e remineralização. Neste

contexto, já existe conhecimento consolidado de que o fluoreto importante é aquele

presente na cavidade bucal, em contato com a estrutura dental, e não mais o flúor

incorporado durante a formação dos dentes (Tenuta e Cury, 2016). Entretanto, a

múltipla exposição aos fluoretos pode implicar em um maior risco de

desenvolvimento de fluorose dentária em diferentes graus (único efeito colateral

conhecido da exposição crônica ao flúor) e por esse motivo requer a adoção de

práticas baseadas no uso racional e seguro, fundamentadas nas melhores em

evidências científicas disponíveis.

Como descrito, o processo de desenvolvimento da cárie dentária sofre

modificações significativas quando ocorre na presença do fluoreto. Essa

desaceleração do processo de progressão de lesões de cárie pelo fluoreto é tão

importante que é capaz de promover mudanças epidemiológicas drásticas, como a

observada nas últimas décadas no Brasil. Apesar de dados nacionais obtidos com a

mesma metodologia de amostragem estarem disponíveis apenas para os anos de

2003 e 2010, levantamentos de abrangência nacional realizados em capitais (Brasil,

1986; 1996) demonstram que houve uma significativa diminuição dos índices de

cárie desde a década de 80, quando o índice CPO-D era de 6,7 aos 12 anos, até os

anos 2000 (Martins et al., 2005; Narvai et al., 2006). Em 2003 crianças de 12 anos

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de idade apresentavam o CPO-D médio de 2,8 dentes (Brasil, 2004), e em 2010, 2,1

(Brasil, 2011), valor 25% menor do que o encontrado em 2003. O percentual de

crianças “livres de cárie” (CPO-D = 0), que era de apenas 3,7% em 1986 (Brasil,

1988), passou de 31% em 2003 para 44% em 2010 (Brasil, 2004; 2011), indicando

que, em crianças de 12 anos, ocorreu significativa redução na prevalência e na

gravidade da doença (Narvai et al., 2006). Essa importante tendência de declínio da

cárie se reproduziu também nos adolescentes (15 a 19 anos) e foi também marcante

em adultos (35 a 44 anos) (Brasil, 2004; 2011). Levando em consideração o caráter

cumulativo das sequelas da doença, novas gerações têm envelhecido com menor

número e gravidade de lesões de cárie, que na forma de uma "onda" populacional

atinge gradativamente as gerações mais velhas nos levantamentos epidemiológicos.

Dessa forma, de todas as estratégias para o controle da cárie dentária,

sem dúvida a mais bem sucedida historicamente encontra-se relacionada com a

utilização do flúor como um instrumento seguro e eficaz. Seu uso consiste em um

importante elemento estratégico nos sistemas e programas de controle e prevenção,

quando corretamente aplicado. Contudo, a literatura científica revela que grande

parte dos profissionais não está (ainda) suficientemente informada e atualizada

sobre aspectos fundamentais relacionados à importância e utilização dos fluoretos

em Odontologia (Cascaes et al., 2012). Paralelo a isso, são poucos os serviços

públicos de saúde no Brasil que elaboram e colocam à disposição de seus

profissionais orientações seguras e baseadas nas melhores evidências científicas

disponíveis sobre a utilização de fluoretos. Destacam-se, nesse cenário, as

recomendações sobre uso de produtos fluoretados no âmbito do SUS, da Secretaria

de Estado de Saúde de São Paulo (São Paulo, 2000), e o “Guia de recomendações

para uso de fluoretos no Brasil” do Ministério da Saúde (Brasil, 2009).

2.2 A atenção à saúde bucal no estado do Paraná

O Paraná é um estado localizado na região Sul do Brasil, possui 399

munícipios e conta com uma população estimada de 10.444.526 habitantes (IBGE,

2010). Com relação aos serviços públicos de saúde, os municípios paranaenses

encontram-se divididos em 22 Regionais de Saúde e sete macrorregiões. O estado

está habilitado em gestão plena do sistema de saúde, possuindo 13 municípios em

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gestão plena do sistema municipal e 386 em gestão plena da atenção básica. Isso

significa que a grande maioria dos municípios paranaenses recebem recursos

específicos, definidos em base per capita, e tem autonomia para o financiamento

das ações voltadas para a atenção básica. As Regionais de Saúde do Paraná são

responsáveis pelo gerenciamento, assessoria e execução dos programas de saúde

em nível regional; sendo que em nível municipal as Secretarias Municipais de

Saúde, por meio das equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e/ou da

Estratégia Saúde da Família (ESF), são responsáveis pelo desenvolvimento das

ações de promoção da saúde e prevenção das doenças e seus agravos (Paraná,

2016).

No que se refere à promoção da saúde bucal e à prevenção das doenças

bucais no estado do Paraná, historicamente, as ações estiveram sempre pautadas

em programas educativo-preventivos com a finalidade de proporcionar a adoção de

corretas práticas de higiene bucal e a redução da prevalência das patologias bucais.

Neste cenário, destaca-se o pioneirismo do estado na estruturação do Programa de

Atenção Precoce à Saúde Bucal. O programa surgiu no ano de 1985 por meio do

curso de Odontologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) em resposta a uma tendência mundial

de atenção odontológica às crianças de baixa idade, visando o controle da cárie

dentária. A partir da aplicação do conceito de atendimento odontológico à bebês e

da divulgação dos resultados, a Bebê-Clínica/UEL/FINEP foi criada e essa

experiência passou a ser transferida para o setor público (municípios e

universidades). O objetivo era alcançar mudanças conceituais na época, por meio da

conscientização da população para o atendimento precoce e manutenção da saúde

bucal. A nova filosofia propunha o atendimento odontológico à criança antes de

completar o primeiro ano de vida (podendo iniciar com a gestante), centrado

principalmente na educação do núcleo familiar, para realização de manobras

preventivas no âmbito doméstico, como a limpeza da cavidade bucal, o controle da

amamentação noturna após os seis meses, o consumo racional de carboidratos e a

aplicação tópica de fluoretos (Walter e Nakama, 1994; Scarpelli et al., 1996; Baldani

et al., 2003).

Os resultados do programa levaram à estruturação da Odontologia para

Bebês no estado do Paraná pela Secretaria da Saúde do Estado no ano de 1997. A

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implantação de Clínicas de Bebês nos municípios paranaenses foi então

estabelecida como principal estratégia do estado na área de saúde bucal, com o

objetivo de oferecer atendimento a crianças de zero a 36 meses de idade. Para isso,

a Secretaria de Saúde junto à Universidade Estadual de Londrina (UEL) promoveu a

capacitação de 212 profissionais de saúde bucal para atender nas Clínicas de

Bebês. Foram oferecidos cursos de especialização, conduzidos pela equipe de

professores da Bebê-Clínica/UEL/FINEP, além do repasse de recursos e

equipamentos odontológicos para aproximadamente 200 municípios do estado. Para

o programa estadual foi adotada a metodologia proposta pela Bebê-

Clínica/UEL/FINEP, alicerçada no lema: “Educar prevenindo, prevenir educando”

(Walter e Nakama, 1994; Walter, 1996). A metodologia foi normatizada em um

manual específico com os objetivos e metas a serem cumpridas pelos municípios,

bem como orientação para a estruturação e implantação do programa, sendo

utilizado em todo o estado do Paraná (Scarpelli et al., 1996; Baldani et al., 2003).

Nesse contexto, Bebê-Clínica da UEL tornou-se um centro de referência nacional e

internacional no estudo e na prática da Odontologia para bebês, desempenhando

intensas ações de responsabilidade social, como a capacitação dos profissionais

para atuação nos serviços de saúde bucal.

No Paraná, os programas de atenção precoce à saúde bucal encontram-

se ainda hoje estruturados em diversos municípios, sendo desenvolvidos em

consonância com as demais estratégias preconizadas pelo estado. Dentre elas,

destaca-se a implantação da ESF, a partir do ano 1994, que modificou a estrutura de

organização dos serviços em Atenção Básica, expandindo o acesso da população. A

ESF possibilitou a maior integração entre profissionais e a organização de atividades

em territórios específicos, proporcionando o enfrentamento e a resolução dos

problemas identificados. Dessa forma, a família, além do indivíduo, passou a ser

objeto de atenção no ambiente onde vive. No contexto da atenção à saúde bucal, a

proposição pelo Ministério da Saúde (MS) das diretrizes para uma Política Nacional

de Saúde Bucal (PNSB) e de sua efetivação, tem na ESF (Atenção Básica) um de

seus mais importantes pilares (Brasil, 2004; 2006). A organização das ações de

promoção da saúde bucal e prevenção das doenças bucais foi o primeiro desafio

encontrado pela PNSB , uma vez que estas ações encontram-se diretamente

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relacionadas com a mudança dos modelos assistenciais existentes no campo da

saúde bucal (Brasil, 2006; Stocco e Baldani, 2011).

Neste cenário, a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná propôs no ano

de 2011 a construção de uma Política Estadual de Saúde Bucal, que contempla as

diretrizes da PNSB , incluindo: a) a reorganização da Atenção Básica em saúde

bucal, em especial por meio da ESF; a) ampliação e qualificação da Atenção

Especializada, estimulando a implantação de Centros de Especialidades

Odontológicas (CEO) e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD); e a

d) viabilização da adição de flúor às águas de abastecimento público. Essa política

estabelece também um modelo de gestão que prioriza o trabalho em equipe e a

educação permanente dos profissionais de saúde bucal. O modelo estabelece a

Atenção em Rede, sendo organizada na atenção primária, secundária e terciária. Na

Atenção Primária, a organização da rede se dá especialmente por meio da ESF; na

Atenção Secundária, por meio dos CEO; e na Atenção Terciária, por meio dos

hospitais de referência, para atendimento a pessoas com deficiência e/ou

necessidades especiais (Paraná, 2013; 2016). O marco consolidador da Política

Estadual de Saúde Bucal se deu com o lançamento da Rede de Atenção em Saúde

Bucal e da Linha Guia de Saúde Bucal no ano de 2014 (Paraná, 2016), orientando

as ações de forma integralizada, na lógica dos níveis de atenção.

A construção da Rede de Saúde Bucal do Estado do Paraná ressalta a

importância da missão, da visão, dos valores, do processo, da gestão e da questão

financeira de uma rede estruturada, cujo objetivo maior é o de oferecer os melhores

resultados de saúde bucal para a população do estado. Considerando a importância

da intersetorialidade, foram estabelecidas parcerias com Secretarias de Estado,

Conselho Regional de Odontologia (CRO), a Companhia de Saneamento do Paraná

(Sanepar) e instituições de ensino (federal e as estaduais), fortalecendo a integração

ensino-serviço. A parceria com as Universidades Estaduais paranaenses tem

possibilitado a capacitação de profissionais de saúde bucal, nas mais diversas áreas

de atuação: diagnóstico e prevenção do câncer bucal, atenção ao idoso, prótese

dentária, atenção à gestante, periodontia, saúde bucal do bebê e controle da cárie

dentária (Paraná, 2013; 2016). Por meio dessa parceria com as IES, tem sido

implantada no estado a Rede Paranaense de Teleodontologia que visa oferecer

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capacitações (teleducação) e consultorias (teleassistência) aos quase sete mil

profissionais de Odontologia que atendem pelo SUS no Paraná.

Além dessas ações, a Rede de Saúde Bucal do Estado do Paraná tem

priorizado a manutenção de programas e ações previamente estruturados no

estado. O Programa Estadual de Bochecho com Flúor, implantado no início da

década de 1980 para escolares de 6 a 12 anos de idade, tem se destacado como

uma importante ação no controle da doença cárie no estado. Por meio desse

programa, atualmente uma média de 750 mil escolares realizam semanalmente o

bochecho com solução de fluoreto de sódio a 0,2%. A partir do ano de 2013, houve

uma expansão do bochecho com flúor para escolares de até 15 anos de idade. A

rede também tem incentivado outra importante ação de promoção da saúde bucal,

desenvolvida em parceria com a Sanepar, por meio da fluoretação das águas de

abastecimento público, considerado o meio mais barato e eficaz na redução da cárie

dentária. No Paraná, a população de 378 municípios tem acesso à água fluoretada,

sendo que apenas 21 municípios ainda não possuem sistema para fluoretação por

apresentarem problemas de captação e distribuição. Além disso, o estado tem

desenvolvido, na grande maioria dos municípios paranaenses, ações coletivas de

escovação com dentifrícios, sob a orientação e supervisão dos profissionais de

saúde bucal dos serviços públicos de saúde (Paraná, 2013; 2016).

Com relação ao processo de qualificação profissional e dos processos de

trabalho do estado, destaca-se o Programa de Qualificação da Atenção Primária à

Saúde (APSUS). O projeto traz em seu escopo intervenções práticas sob a

supervisão de instrutores, tendo como objetivo apoiar as equipes para que se

cumpram os atributos e funções da atenção primária à saúde, definindo critérios

importantes como a parametrização, estratificação de risco e a classificação de risco

da urgência e emergência (Paraná, 2013; 2016).

Na implantação da Rede de Saúde Bucal do Estado, torna-se importante

ressaltar que os incentivos financeiros foram imprescindíveis para o

desenvolvimento e a consolidação das ações prioritárias no âmbito da atenção

primária, secundária e terciaria. Além disso, destaca-se que parte desses recursos

foi destinada aos cursos de Odontologia das Universidades Estaduais do Paraná,

visando à melhoria da estrutura física, à ampliação da atenção à saúde em suas

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clínicas odontológicas especializadas e à promoção de cursos para qualificação dos

profissionais dos serviços públicos de saúde bucal de todo o estado (Paraná, 2013;

2016).

2.3 A importância das IES na qualificação dos serviços púbicos de saúde

O processo de formação dos profissionais da saúde deve estar em

consonância com a complexidade própria do Sistema Único de Saúde (SUS),

aproximando-se dos cotidianos de trabalho dos serviços de saúde e da experiência

concreta dos sujeitos no território (Brasil, 2002). Entretanto, o distanciamento de

teoria e prática contribuiu por muitos anos para uma formação segregada dos

processos de trabalho em saúde. Torna-se importante ressaltar que os serviços

públicos que compõe o SUS, de acordo com Lei 8080/90 (Brasil, 1990), constituem

campos de prática tanto para o ensino, como para a pesquisa, associando os

interesses das IES e do SUS no avanço da qualidade do atendimento da população.

Assim, organizações docentes e estudantis constituíram movimentos organizados na

produção de melhores caminhos para a transformação da formação superior de

profissionais da saúde, pautados especialmente na articulação ensino-serviços de

saúde (Finkler et al., 2010).

Neste cenário, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Educação

(MEC) têm estruturado políticas de formação que privilegiam, dentre outros

aspectos, a integração ensino-serviço. Essas políticas colocaram em discussão a

necessidade de adequações curriculares na formação de profissionais de saúde e o

cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de graduação

em saúde (Morita e Kriger, 2004), implementadas desde o ano de 2002. Dentre

essas políticas destacam-se: a Política Nacional de Educação Permanente em

Saúde, as Residências Multiprofissionais em Saúde, o Programa Nacional de

Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e o Programa de

Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) (Finkler et al., 2010; Silva e

Caldarelli, 2013).

Paralelo a isso, a educação permanente para os profissionais inseridos

nos serviços públicos de saúde e a atualização de conceitos e práticas também se

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tornaram uma realidade. No sentido de contribuir concretamente para a formação e

a qualificação desse tipo de recurso humano, as IES tem desenvolvido papel

fundamental no aperfeiçoamento de profissionais de nível superior que já se

encontram inseridos nos serviços públicos de saúde (L’Abbate, 1999; Silva et al.,

2007; Batista e Gonçalves, 2011). As capacitações oferecidas a estes profissionais

exercem influência sobre os serviços saúde, relacionando e direcionando os

diversos conteúdos e habilidades transmitidos às práticas profissionais. Além disso,

elas participam do processo de instrumentalização dos profissionais para o

aperfeiçoamento de competências profissionais (L’Abbate, 1999; Silva et al., 2007).

A contribuição das IES encontram-se também relacionadas com a elaboração e o

apoio, de forma pactuada com os serviços públicos de saúde, na implementação de

guias, manuais e protocolos para a prática clínica (Werneck et al., 2009).

Neste sentido, além das mudanças curriculares, observa-se como uma

importante responsabilidade das instituições de ensino superior, o desenvolvimento

de parcerias com os serviços públicos de saúde no sentido de desenvolver ações de

qualificação de profissionais e a normatização de suas práticas. Esta é uma das

propostas que encontra-se vinculada à Rede de Saúde Bucal do Paraná (Paraná,

2016), a qual define como competência das instituições de ensino do estado

(públicas e privadas), a capacitação de profissionais inseridos na Rede de Saúde

Bucal. Por meio dessas parcerias entre os serviços públicos de saúde e as IES, o

estado do Paraná tem também implementado a Linha Guia de Saúde Bucal, a qual

visa normalizar/padronizar e integralizar as ações e procedimentos da área de saúde

bucal na perspectiva da atenção à saúde em redes (Paraná, 2016). Para isso,

equipes de docentes das IES do Paraná, de diferentes especialidades, foram

mobilizadas para estruturar as diretrizes clínicas da Linha Guia e também capacitar

recursos humanos na perspectiva das práticas de promoção da saúde bucal e

prevenção das doenças bucais.

Dessa forma, a qualificação de profissionais inseridos nos serviços

públicos de saúde podem ser entendidas como a efetivação de estratégias e ações

para o aproveitamento do potencial dos profissionais, no sentido de sustentar

mudanças de paradigmas que se fazem necessárias e enfrentar desafios gerados

no processo de trabalho diário (Machado, 2003; Silva et al., 2007; Batista e

Gonçalves, 2011). Todo investimento direcionado a esse processo, quando bem

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planejado, estruturado e desenvolvido, é capaz de produzir mudanças positivas no

desempenho e na prática dos profissionais. Entretanto, é importante considerar que

os resultados esperados da educação permanente e formação continuada na área

da saúde podem ser minimizados por questões relacionadas ao perfil dos

profissionais inseridos no processo e também quando a interação entre a estrutura e

os objetivos da proposta de treinamento/qualificação não se encontram alinhados

(Batista e Gonçalves, 2011).

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3 PROPOSIÇÃO

Os objetivos do estudo foram:

a) avaliar se as recomendações para o uso de fluoretos no estado do Paraná estão

sendo feitas com base nas melhores evidências científicas disponíveis, quer seja

nas IES ou nos serviços públicos de saúde bucal;

b) determinar se há coerência entre aquilo que é ensinado nas IES e o que é

preconizado nos serviços públicos de saúde bucal da região;

c) investigar a possível relação de influência que os cursos de Odontologia exercem

na prática dos serviços públicos de saúde bucal da região.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

FOP/UNICAMP (processo n.º 60075316.4) (Anexo 1) e encontra-se de acordo a

Resolução n.º 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da

Saúde. Atendendo às considerações éticas, a importância e os objetivos do estudo

foram explicitados aos voluntários e aqueles que concordaram em participar da

pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Apêndice 1). Em acréscimo, foram solicitados termos de ciência e concordância à

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) (Anexo 2) e à

Coordenação Estadual de Saúde Bucal do Paraná (Anexo 3).

Trata-se de um estudo quali-quantitativo descritivo transversal, no qual

foram contempladas nove Instituições de Ensino Superior (IES) com o curso de

Odontologia no estado do Paraná (cinco públicas e quatro privadas) (Tabela 1). Para

a seleção, foram consultadas as instituições cadastradas junto ao sistema eletrônico

de acompanhamento dos processos que regulam a Educação Superior no Brasil (e-

MEC, 2016). As cinco IES públicas contemplam a totalidade das universidades

públicas com curso de Odontologia no estado no momento da consulta. As quatro

instituições privadas foram selecionadas por se tratarem das universidades

particulares com os cursos mais antigos de graduação em Odontologia no Paraná.

Foram também contempladas seis coordenadorias municipais e seis coordenadorias

regionais de saúde bucal referentes aos municípios e às Regionais de Saúde do

Estado do Paraná nos quais as IES encontram-se alocadas (Figura 1).

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Tabela 1 - Natureza, ano de implantação do curso de Odontologia e localização das Instituições de Ensino Superior (IES)

selecionadas para a coleta, ordenadas pelo ano de implantação do curso de Odontologia

Instituição de Ensino (Sigla) Natureza Ano de implantação do

curso de Odontologia Município (Regional de Saúde)

Universidade Federal do Paraná (UFPR) Pública 1912 Curitiba - PR (2ª Regional)

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Pública 1954 Ponta Grossa - PR (3ª Regional)

Universidade Estadual de Londrina (UEL) Pública 1962 Londrina - PR (17ª Regional)

Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Privada 1977 Curitiba - PR (2ª Regional)

Universidade Estadual de Maringá (UEM) Pública 1988 Maringá - PR (15ª Regional)

Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) Privada 1990 Londrina - PR (17ª Regional)

Universidade Paranaense (UNIPAR) Privada 1994 Umuarama - PR (12ª Regional)

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Pública 1996 Cascavel - PR (10ª Regional)

Centro Universitário de Maringá (CESUMAR) Privada 1999 Maringá - PR (15ª Regional)

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Figura 1 - Mapa do estado do Paraná, destacando as 22 Regionais de Saúde do

Estado. O símbolo ( ) marca a localização geográfica dos municípios

participantes do estudo

Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Paraná (SESA), 2016

Contatos telefônicos e via e-mail foram feitos com todas as IES,

coordenadorias municipais e regionais de saúde bucal com o objetivo de

agendamento das visitas (in loco) para a coleta. Foram realizadas entrevistas

semiestruturadas audiogravadas (duração média de 20 minutos) com os

coordenadores municipais e regionais de saúde bucal e com coordenadores dos

cursos de Odontologia, os quais após entrevista indicavam, quando possível,

docentes responsáveis pelos conteúdos relacionados ao uso de fluoretos para

também serem entrevistados. Em duas instituições os próprios coordenadores de

curso se identificaram como os responsáveis em ministrar o conteúdo.

Dessa forma, participaram do estudo seis coordenadores municipais de

saúde bucal (Curitiba, Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel e Umuarama),

seis coordenadores regionais de saúde bucal (2ª, 3ª, 10ª, 12ª, 15ª e 17ª Regional de

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Saúde do Estado do Paraná), nove coordenadores de curso de Odontologia (UFPR,

PUCPR, UEL, UNOPAR, UEM, CESUMAR, UEPG, UNIOESTE e UNIPAR) e 14

docentes indicados como responsáveis pelos conteúdos.

Para a realização das entrevistas foram utilizados dois roteiros

estruturados com questões abertas, um específico para coordenadores de saúde

bucal (Apêndice 2) e outro para coordenadores de curso e docentes (Apêndice 3).

Assim, tornou-se possível definir melhor a área a ser explorada, possibilitando que

entrevistador e entrevistado pudessem se aprofundar melhor em uma ideia ou

buscar maiores detalhes em relação a uma determinada temática. O roteiro de

entrevista para coordenadores de curso e docentes foi estruturado nos seguintes

eixos: a) a relação entre o curso de Odontologia e os serviços públicos de saúde

bucal da região; b) os responsáveis (área/docentes) pelo conteúdo de uso de

fluoretos em Odontologia no curso; c) as recomendações/indicações (protocolo)

ministradas aos estudantes em relação ao controle da cárie dentária (uso individual

e coletivo do flúor). Já o roteiro de entrevista para coordenadores municipais e

regionais de saúde bucal estruturou-se: a) na relação entre o serviço público de

saúde bucal e as instituições de ensino com curso de Odontologia da região; b) nas

recomendações/indicações (protocolo) preconizadas pelo município em relação ao

controle da cárie dentária (uso individual e coletivo do flúor); c) nas orientações

tomadas como base para elaboração do protocolo de saúde bucal. Os roteiros de

entrevista foram submetidos previamente a quatro pesquisadores (juízes) para a

apreciação externa do conteúdo, sendo dois pesquisadores da área de Odontologia

(Cariologia) e dois da área de Educação, que trabalham com pesquisas de

abordagem qualitativa.

As entrevistas audiogravadas foram posteriormente transcritas. A

gravação foi destruída após a transcrição, garantindo o sigilo da identificação do

sujeito respondente. Os participantes foram então codificados de maneira

alfanumérica de acordo com o cargo exercido, como apresentado na Tabela 2.

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Tabela 2 - Codificação alfanumérica utilizada para os participantes do estudo

Participante (Cargo Exercido) Codificação Alfanumérica

Coordenadores de Curso de Odontologia CC1, CC2, CC3... CC9

Docentes de Odontologia D1, D2, D3... D14

Coordenadores Regionais de Saúde Bucal CR1, CR2, CR3... CR6

Coordenadores Municipais de Saúde Bucal CM1, CM2, CM3... CM6

Foram coletados para análise os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC)

(matrizes curriculares e programas de aprendizagem) atualmente vigentes nos

cursos de Odontologia participantes do estudo. A partir deste levantamento, foi

realizada a leitura e análise documental detalhada do ementário, buscando-se

informações referentes à organização e estruturação curricular dos conteúdos

relacionados ao uso de fluoretos em Odontologia. Além disso, foram também

coletados, os protocolos de atendimento clínico em saúde bucal de quatro

municípios, considerando que os demais municípios participantes não adotam esses

instrumentos. Nos protocolos, foram realizadas análises detalhadas das

recomendações/indicações e das práticas clínicas preconizadas em relação ao uso

de dentifrícios, géis, vernizes, bochecho fluoretados, cariostáticos e práticas

coletivas baseadas no uso de flúor.

Os dados foram analisados de forma conjunta. Foram realizadas leituras

das transcrições das entrevistas e dos documentos coletados, destacando

categorias de análise. Para isso, foram utilizados os pressupostos do método de

Análise de Conteúdo, que inclui a leitura flutuante dos conceitos apresentados pelos

respondentes, criação de categorias de resposta a partir dos conceitos apresentados

e a classificação dos conceitos nas categorias criadas (Caregnato e Mutti, 2006;

Bardin, 2011; Minayo, 2014). Dessa forma, buscou-se compreender a fala dos

entrevistados, que contemplasse os conteúdos manifestos e latentes, presentes nos

depoimentos. Com relação aos dados quantitativos, foram tabulados no software

Microsoft Office Excel® 2013 e receberam tratamento estatístico descritivo.

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5 RESULTADOS

A análise das entrevistas juntamente com análise documental permitiu o

agrupamento de respostas e a criação de três categorias: a) as abordagens do uso

de fluoretos no controle da cárie pelas IES do Paraná; b) as

recomendações/indicações do uso de flúor no controle da cárie dentária nos

serviços públicos de saúde bucal do estado do Paraná; e c) a relação de influência

entre as IES e os serviços públicos de saúde bucal quanto ao uso de flúor no

controle da cárie dentária.

5.1 Abordagens do uso de fluoretos no controle da cárie dentária pelas IES do

Paraná

Com base nas respostas dos coordenadores de cursos entrevistados, a

Figura 2 mostra a distribuição percentual das áreas de ensino responsáveis pelos

conteúdos de uso de fluoretos nas IES do Paraná. Das nove instituições

participantes do estudo, seis (67%) indicaram as áreas de Odontopediatria e

Odontologia em Saúde Coletiva como as responsáveis pelos conteúdos, duas (22%)

a área de Odontopediatria e uma (11%) as áreas de Bioquímica Oral, Odontologia

em Saúde Coletiva e Odontopediatria.

Figura 2 - Distribuição percentual das áreas de ensino responsáveis pelos conteúdos

de uso de fluoretos nas nove IES do Paraná consultadas

n=2 (22%)

n=6 (67%)

n=1 (11%)

Odontopediatria

Odontologia em Saúde Coletiva + Odontopediatria

Bioquímica Oral + Odontologia em Saúde Coletiva + Odontopediatria

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Em relação às principais indicações de produtos fluoretados ministradas

aos estudantes, as respostas dos docentes foram agrupadas de acordo com os

protocolos utilizados pelas IES. A Figura 3 ilustra a distribuição percentual das

indicações de dentifrícios fluoretados na primeira infância, soluções fluoretadas e

produtos de aplicação profissional (géis, espumas, vernizes e cariostático) nas nove

IES do Paraná consultadas.

Figura 3 - Distribuição percentual das indicações de produtos fluoretados nas nove

IES do Paraná consultadas

5.2 Recomendações/indicações do uso de flúor no controle da cárie dentária

nos serviços públicos de saúde bucal do Estado do Paraná

Quanto ao processo de implementação da Linha Guia de Saúde Bucal do

Estado do Paraná, das nove Regionais de Saúde consultadas no estudo oito (83%)

ainda não se mostram alinhadas com a estratégia do estado. Frente a esse cenário,

por meio da análise documental dos protocolos de saúde bucal que ainda estão

sendo utilizados em quatro dos municípios consultados, foram identificadas

recomendações divergentes para o uso de fluoretos no controle da cárie dentária,

sendo que muitas delas não estão baseadas nas melhores evidências científicas

disponíveis (Figura 4).

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Figura 4 - Recomendações para o uso de fluoretos no controle da cárie presentes

nos protocolos clínicos de saúde bucal de quatro municípios consultados

MEIO DE USO MUNICÍPIOS RECOMENDAÇÕES NOS PROTOCOLOS

DENTIFRÍCIOS

A

“Indica-se o uso de dentifrícios com flúor:

a) até os seis anos de idade: 500 ppm

b) sete anos de idade ou mais: 1000 a 1100 ppm

c) adolescentes e adultos: 1100 a 1500 ppm”.

B

“Até os quatro anos de idade, o uso do dentifrício

fluoretado está indicado somente em uma das

escovações diária, preferencialmente, à noite”.

C

“Indica-se a escovação sem dentifrício ou com

dentifrício sem flúor a partir da erupção dos molares

decíduos”.

D

“Toda a população deve usar o dentifrício fluoretado

(1100 a 1500 ppm), em especial crianças menores de

seis anos de idade, pequenas quantidades, evitando-

se a ingestão e diminuindo o risco da fluorose

dentária”.

SOLUÇÕES

FLUORETADAS A

“Para pacientes ou indivíduos de médio ou alto

risco/atividade de cárie: bochecho com 10 mL de

solução 0,05% (225 ppm) por um minuto, uma vez ao

dia, antes de dormir”.

“Para indivíduos com CPO-D médio maior que três aos

12 anos de idade: bochecho com 10 mL de solução

0,2% (900 ppm) por no mínimo um minuto, uma vez

por semana”.

“Para crianças de 0 a 36 meses de idade: aplicação da

solução de 0,02% (90 pppm) com cotonete em todos

os dentes após a realização de limpeza com gaze

umedecida, no mínimo uma vez ao dia”.

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“Contraindicado bochecho para menores de sete anos

de idade, devido ao risco de ingestão e intoxicação”.

B

“Recomenda-se para pacientes com atividade de cárie

ou uso de aparelho ortodôntico, o bochecho diário

(0,05%), complementado o uso do flúor gel”.

“Em escolas deve-se optar pelo uso do bochecho

semanal (0,2%)”.

“A solução de NaF 0,02% não é recomendada, pois

não está fundamentada em nenhum estudo clínico

controlado”.

“Para crianças até dois anos de idade nenhum tipo de

solução fluoretada é utilizada”.

C “Crianças sem risco e com risco identificado de cárie:

aplicar fluoreto de sódio a 0,2% com cotonete”.

GÉIS E

VERNIZES A

“A aplicação dos géis fluoretados é indicada para

pacientes com:

a) médio risco de cárie: 1 aplicação 1 a 2 vezes/ano

b) alto risco de cárie: 1 aplicação 3 a 4 vezes/ano”.

“A aplicação dos vernizes fluoretados é indicada:

- Na prevenção da cárie para:

a) paciente de médio risco: 1 a 2 aplicações/ano

b) paciente de alto risco: 3 a 4 aplicações/ano

- Na remineralização de lesões incipientes de cárie:

a) no mínimo 3 aplicações com intervalo de 1

semana”.

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B

“Em pacientes com atividade de cárie está indicado o

uso do flúor gel através da escovação. Deve ser

realizado semanalmente, num total de 5 a 6 sessões”.

“Em pacientes com até quatro anos de idade deve-se

optar pelo uso do verniz fluoretado. É o veículo do flúor

mais indicado para bebês com atividade de cárie, o

uso deve ser realizado semanalmente, num total de 5 a

6 sessões”.

CARIOSTÁTICO

A e C

“Diamino fluoreto de prata é indicado em casos de:

a) cárie precoce da infância, cárie de mamadeira,

cárie rampante (principalmente nos primeiros anos

de vida)

b) adequação do meio bucal visando interromper o

processo carioso e reduzir a atividade bacteriana

c) prevenção de cáries recorrentes”.

B

“Este manual não inviabiliza a utilização de outros

materiais com flúor em sua composição como o

cariostático”.

D Não é recomendada a utilização de cariostáticos.

5.3 Relação de influência entre as IES e os serviços públicos de saúde bucal

quanto ao uso de flúor no controle da cárie dentária

Por meio da análise documental e dos discursos de coordenadores de

cursos, docentes e coordenadores de saúde bucal, foi possível traçar a relação de

coerência entre o ensinado nas IES e o praticado nos serviços públicos de saúde

bucal quanto ao uso de fluoretos no controle da cárie dentária. A Figura 5 mostra

que em 67% dos casos analisados foi encontrada coerência nas recomendações e

práticas de uso de fluoretos. Nesses casos, observou-se que o recomendado pelos

serviços públicos local era exatamente aquilo que tem sido ensinado e indicado nas

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instituições de ensino quanto ao uso de dentifrícios, soluções fluoretadas, géis,

vernizes e cariostáticos.

Figura 5 - Distribuição percentual de coerência e incoerência entre os ensinado nas

IES e o recomendado nos serviços públicos de saúde bucal quanto ao

uso de fluoretos no controle da cárie dentária.

Com relação aos 33% de instituições e serviços públicos de saúde bucal

que mostraram divergências nas abordagens de uso se fluoretos, a Figura 6

apresenta as principais incoerências encontradas, destacando as recomendações

da IES frente ao que é preconizado pelos serviços públicos.

Figura 6 - Divergências encontradas nas recomendações de uso de fluoretos no

controle da cárie dentária entre IES e serviços públicos de saúde bucal

local.

Recomendação da IES Recomendação do Serviço Público

Divergência

I

Utilização de dentifrícios fluoretados

de concentração convencional (1000 -

1100 ppm) independente da idade.

Escovação sem dentifrício ou com

dentifrício sem flúor a partir da

erupção dos molares decíduos.

n=3 (33%)

n=6 (67%)

Incoerência entre ensinado nas IES e o recomendado nos serviços de saúde

Coerência entre ensinado nas IES e o recomendado nos serviços de saúde

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A solução de NaF 0,02% não é

indicada.

Utilização apenas de vernizes

fluoretados em pacientes de médio e

alto risco de cárie.

Para crianças de 0 a 36 meses de

idade aplicação da solução de NaF

0,02% com cotonete.

Utilização tanto de géis quanto de

vernizes fluoretados em pacientes

de médio e alto risco de cárie.

Divergência

II

Utilização de dentifrícios fluoretados

de concentração convencional (1000 -

1100 ppm) independente da idade.

A solução de NaF 0,02% não é

indicada.

Contraindicada a utilização de

cariostáticos.

Indicação de dentifrícios fluoretados:

a) até os 06 anos idade: 500 ppm

b) 07 anos ou mais: 1000 - 1100 ppm

c) adolescentes e adultos: 1100 -

1500 ppm

Para crianças de 0 a 36 meses de

idade aplicação da solução de NaF

0,02% em todos os dentes com

cotonete.

Indicação de cariostático em casos

de cárie precoce da infância,

adequação do meio bucal e

prevenção de cáries recorrentes.

Divergência

III

Utilização de dentifrícios com baixa

concentração de flúor (500 ppm) na

primeria infância.

Não é recomendada a utilização de

bochechos fluoretados 0,05% e 0,2%.

Utilização de dentifrícios fluoretados

de concentração convencional (1000

- 1100 ppm) independente da idade.

Utilização de bochecho diário

(0,05%) para pacientes com

atividade de cárie ou com aparelho

ortodôntico e de bochecho semanal

(0,2%) em escolares.

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Os resultados da abordagem qualitativa, encontrados por meio da análise

dos discursos de coordenadores de cursos, docentes de Odontologia e

coordenadores de saúde bucal, encontram-se apresentados de forma integrada com

discussão desse estudo, a qual também está dividida de acordo com as três

categorias de análise criadas.

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6 DISCUSSÃO

6.1 Abordagens do uso de fluoretos no controle da cárie dentária pelas IES do

Paraná

Com relação às áreas de ensino responsáveis pelos conteúdos de uso de

fluoretos nas IES consultadas, os resultados encontrados nesse estudo mostraram

a ausência de componentes curriculares específicos para a abordagem desses

conteúdos, como a inserção da Cariologia nos currículos. Além disso, a abordagem

do uso de fluoretos no controle da cárie dentária nas instituições encontra-se

principalmente relacionada com a área clínica de Odontopediatria. Em consonância

com esses resultados, um estudo sobre a abordagem da Cariologia nos cursos de

Odontologia do Brasil mostrou que a grande maioria das instituições no país

contempla em seus currículos os conteúdos relacionados à Cariologia. Entretanto,

esses conteúdos encontram-se distribuídos em componentes curriculares dos três

eixos de conhecimento(básico, clínico e de Saúde Coletiva), havendo maior ênfase

para o eixo clínico, o que de alguma forma pode interferir na formação integrada dos

estudantes (Ferreira-Nóbilo et al., 2014).

A necessidade de componentes curriculares específicos para a

abordagem dos conceitos relacionados ao uso do flúor no controle da cárie dentária

e a dificuldade de integração do conteúdo entre os diferentes ciclos de

aprendizagem foram evidenciadas também em alguns dos discursos de docentes e

coordenadores de curso entrevistados no presente estudo:

“Na disciplina de Bioquímica a parte do metabolismo do flúor é passada,

porque na Saúde Coletiva nós não temos tempo! Então a parte de

absorção, excreção é toda feita lá! [...] a Cariologia é dada na Saúde

Coletiva, mas depois a aplicabilidade e algumas coisas, outras disciplinas

dão uma pincelada”. (D7)

“Como a gente não tem a disciplina de Cariologia a gente acaba não

falando muito do mecanismo da inibição da cárie, da remineralização [...]

a Odontopediatria eu sei que fala um pouco disso, quando eles ensinam a

parte de Cariologia. Só que é um conteúdo que é passado rapidamente,

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então não é extensamente detalhado. Mas a gente tenta retomar o que

faz o flúor na cavidade bucal [...] no estágio da Saúde Coletiva”. (CC4)

Considerando as indicações de produtos fluoretados nas IES do Paraná

consultadas, especificamente em relação ao uso de dentifrícios fluoretados, destaca-

se que revisões sistemáticas da literatura tem concluído que as formulações de

dentifrícios devem conter uma concentração de pelo menos 1000 ppm de flúor

(solúvel) para terem efeito anticárie tanto na dentição permanente (Walsh et al.,

2010) quanto na decídua (Santos et al., 2013a). Além disso, a literatura científica

mostra que ainda não existem evidências para a recomendação de dentifrícios

contendo baixa concentração de flúor (500 ppm F) (Walsh et al., 2010; Santos et al.,

2013b). Contudo, os resultados encontrados nesse estudo mostraram que a

recomendação de dentifrícios de baixa concentração (500 ppm F) na primeira

infância ainda é uma realidade nos cursos de Odontologia do Paraná. Esse achado

encontra-se suportado no paradigma de que o uso de dentifrícios com concentração

convencional de flúor por crianças menores de seis anos de idade é um fator de

risco para a fluorose dental, podendo ser evidenciado no discurso de docentes

entrevistados:

“Então, pelo risco de desenvolver uma fluorose dental, a gente indica os

dentifrícios com concentração reduzida [...] mas apenas para as crianças

que não apresentam risco e nem atividade de cárie”. (D2)

“A gente pede, então, que use um dentifrício de baixa concentração até

aos três anos de idade, por conta do risco de fluorose”. (D5)

“Pode-se utilizar o dentifrício de baixa concentração, pensando na

segurança de fluorose [...] desde que o risco da criança de desenvolver a

cárie seja compatível com isso”. (D7)

Neste contexto, torna-se importante ressaltar que ainda não existem

dados clínicos disponíveis que mostrem que os dentifrícios com baixa concentração

de flúor, independentemente da formulação, sejam eficazes na redução dos riscos

de desenvolvimento de fluorose dental em crianças em idade pré-escolar (Santos et

al., 2013b).

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Com relação às recomendações de bochechos fluoretados, a indicação

de soluções de fluoreto de sódio (NaF) a 0,2% (900 ppm F) e 0,05% (225 ppm F) se

mostrou dividida entre as IES consultadas no estado. Embora, os bochechos

fluoretados foram extremamente relevantes antes do impacto do uso de dentifrícios

no controle da cárie dentária, sua indicação no presente é muito mais individual, em

termos de risco ou atividade de cárie (Cury e Tenuta, 2015). Revisões sistemáticas

da literatura mundial têm indicado que o uso regular (diário ou semanal) e

supervisionado de soluções fluoretadas por crianças e adolescentes encontra-se

associado a uma redução na ordem de 30% da cárie dentária em dentes

permanentes (Marinho et al., 2016). No entanto, sua utilização em associação com

os dentifrícios fluoretados sugere um modesto efeito adicional na redução da cárie

dentária quando comparado à utilização dos dentifrícios isoladamente (Marinho et

al., 2004), ressaltando a importância destes últimos como principal meio de uso de

flúor no controle da doença. Dentre os fatores que podem estar relacionados com a

não recomendação desses produtos destaca-se a total dependência do grau de

cooperação do paciente. Em adição, o uso de bochechos não faz parte da cultura de

muitos indivíduos, sendo necessária a instituição de novos hábitos, o que exige

habilidade profissional para mudar comportamento (Cury e Tenuta, 2015). Ao

mesmo tempo, existem outros meios de uso de flúor ou substâncias de competência

exclusiva dos profissionais.

A solução de fluoreto de sódio a 0,02% (90 ppm F) vem sendo utilizada

para o uso diário em bebês, sendo aplicada com o auxílio de cotonetes após a

higienização bucal com gaze umedecida em água ou solução de água oxigenada

diluída. Essa prática foi relatada como uma das recomendações ministradas aos

estudantes de uma das IES participantes do estudo:

“A gente se dá muito bem com o fluoreto de sódio em gotas (solução de

NaF a 0,02%), a mãe consegue usar [...], aplicar após a higiene bucal 2

vezes ao dia, na manhã, depois da higiene bucal da manhã e à noite,

antes de dormir”. (D5)

Deve-se salientar que essa recomendação não se encontra

fundamentada em estudos clínicos controlados e evidências científicas (Chedid e

Cury, 2004). Além disso, para crianças menores de dois anos, não é recomendado

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nenhum tipo de solução de flúor para a aplicação tópica (São Paulo, 2000; Brasil,

2009). Na maioria dos casos, essas já crianças recebem o benefício da água

fluoretada, ingerida e utilizada no preparo de alimentos. Caso apresentem alto risco

para o desenvolvimento da cárie dentária, outros produtos fluoretados (por exemplo,

géis e vernizes) tem melhor indicação.

Nos produtos de aplicação profissional encontra-se uma alternativa para

tentar compensar o não autouso ou a deficiência em medidas preventivas dos

pacientes (Cury e Tenuta, 2015). A utilização de géis/espumas e vernizes é

extremamente apropriada em termos da atenção de acordo com as necessidades.

As aplicações do ponto de vista individual encontram-se relacionadas com

indicadores de risco e atividade de cárie e do ponto de vista coletivo, quando a

prevalência da doença na população foi reduzida, mas grupos ainda continuam

apresentando alta atividade de cárie (polarização da cárie dentária). Dessa maneira,

a utilização de meios de aplicação profissional de flúor, com efetividade comprovada

por estudos clínicos controlados (Marinho et al., 2003), deve ser vista como um

meio complementar ao uso de flúor pelos pacientes a partir da água e

dentifrício fluoretado (Cury e Tenuta, 2015).

A indicação desses produtos no controle da cárie dentária foi unânime

nos discursos dos docentes das IES do Paraná. Foi possível observar que a maioria

dos cursos de Odontologia (78%) recomenda tanto utilização dos géis quanto dos

vernizes, considerando a atividade e o risco de desenvolvimento da doença. As

demais instituições apontaram a preferência pela indicação apenas de géis ou

vernizes. O docente da instituição que utiliza apenas os géis fluoretados justificou

esse protocolo pela relação custo-benefício do produto, quando comparado às

espumas e aos vernizes fluoretados:

“Muita gente pergunta: „porque não o verniz com flúor?‟. Por uma questão

econômica! [...] usamos mais os géis do que as espumas, por uma

questão econômica. Mas eu gosto da espuma, quando a gente tem, usa!

Mas mais o gel por uma questão econômica!”. (D5)

Já, o docente representante da instituição que recomenda apenas a

utilização dos vernizes fluoretados justificou a indicação baseado na segurança do

produto, em termos da quantidade utilizada:

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A gente encontra alguns materiais que aplicam em toda a superfície

dentária, aquela quantidade grande, né? [...] A gente não trabalha dessa

forma, [...] de maneira mais segura, só nas áreas de risco e onde tem

lesão de mancha branca. Então, a nossa primeira opção é sempre o

verniz fluoretado!”. (D2)

Neste sentido, na escolha de um meio tópico de uso de flúor deve-se

levar em consideração tanto aspectos operacionais quanto de custos. Quanto à

segurança na utilização desses produtos fluoretados, em termos de toxicidade

aguda, deve-se ressaltar a necessidade de atenção e supervisão, em especial

quando os géis são aplicados com auxílio de moldeiras em crianças em idade pré-

escolar, devido ao risco de ingestão. Não existe risco de fluorose dentária, pois

apesar da alta concentração, a frequência de exposição é baixa (Cury e Tenuta,

2011).

Ainda com relação à utilização de géis e vernizes fluoretados, em todas

as instituições de ensino consultadas o protocolo de utilização para pacientes com

risco ou atividade de cárie encontra-se estruturado na reaplicação tópica semanal

pelo período de um mês (quatro semanas):

“[...] a gente indica aplicação de verniz com flúor, geralmente quatro

aplicações, como o paciente volta semanalmente, a gente indica quatro

aplicações pelo menos”. (CC4)

“O verniz fluoretado [...] a gente faz aplicação uma vez por semana,

durante quatro semanas”. (D2)

“[...] geralmente, quando o paciente chega com muita mancha branca,

está com atividade de cárie bem alta, a gente faz as quatro sessões de

gel”. (D5)

“Tendo o risco de cárie ou uma atividade, a gente preconiza o verniz, [...]

um protocolo de remineralização, pelo menos quatro aplicações

semanais, [...] e a mesma coisa com relação ao flúor gel”. (D10)

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“A criança que tem um risco da doença cárie, [...] tem atividade de cárie,

orientamos que seja aplicado até observar uma remineralização,

normalmente umas quatro semanas”. (D14)

Esse protocolo de reaplicação do flúor tópico, também conhecido como

“fluorterapia intensiva” ou “tratamento de choque”, está relacionado à ação dos

reservatórios de fluoreto de cálcio (CaF2) formados após aplicação, que podem levar

semanas para se dissolver completamente (Tenuta et al., 2008; 2010). A

recomendação se mostra eficiente principalmente devido aos retornos semanais do

paciente, os quais servem como um fator motivacional na manutenção do

autocuidado. Porém, deve-se ressaltar que não existe um protocolo universal para

aplicação tópica de fluoretos. Assim, cabe ao cirurgião-dentista utilizar os produtos

de aplicação profissional de flúor da forma que melhor atender as necessidades de

seu paciente ou as possibilidades de utilização na sua comunidade (Cury e Tenuta,

2015).

O uso do diamino fluoreto de prata (cariostático) é relatado desde longa

data, tanto na prevenção quanto na paralisação das lesões de cárie, principalmente

envolvendo dentina (Santos et al., 2008). No estado do Paraná, historicamente sua

utilização encontra-se relacionada como uma das principais estratégias na

estruturação do Programa de Atenção Precoce à Saúde Bucal (Bebê-Clínica), o qual

surgiu no ano de 1985 por meio do curso de Odontologia da Universidade Estadual

de Londrina (UEL) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) (Walter e

Nakama, 1994; Scarpelli et al., 1996; Baldani et al., 2003).

Trata-se de uma opção atrativa para o controle de lesões de cárie

cavitadas em dentina, por se tratar de um produto com aplicação simples, rápida e

de baixo custo (Gao et al., 2016; Sousa et al., 2016). Além disso, revisões

sistemáticas da literatura apontam que o diamino fluoreto de prata tem mostrado

superioridade em relação ao uso de vernizes fluoretados (Rosenblatt et al., 2009;

Gao et al., 2016). Embora esse produto venha mostrando bons resultados, a

recomendação de uso do cariostático pelos cursos de Odontologia do Paraná se

mostrou bastante dividida. Das nove instituições participantes, quatro (44,5%)

relataram utilizar o diamino fluoreto de prata em seus protocolos clínicos para o

controle da cárie dentária e cinco (55,5%) não. Durante as entrevistas, essa não

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recomendação foi justificada, principalmente, pelo fato das lesões paralisadas após

a aplicação do diamino fluoreto de prata tornarem-se enegrecidas, diminuindo a

aceitação desse tratamento por parte dos pais:

“[...] a gente pedia pra aplicar o diamino fluoreto pra tentar paralisar a

evolução daquela lesão. Os pais não costumam autorizar que a gente

passe, [...] aí a gente opta, ao invés do diamino, aplicar o verniz com

flúor!”. (CC4)

Um recente estudo realizado por pesquisadoras da Faculdade de

Odontologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) descreveu

estratégias para auxiliar os cirurgiões-dentistas a obter, de forma eficiente, a melhor

evidência disponível sobre a utilização do diamino fluoreto de prata na prática

clínica. Os resultados mostraram que o escurecimento das lesões de cárie em

dentes de crianças após a aplicação do cariostático não parece ser um fator que

impeça a aceitação do tratamento pelos pais. Entretanto, devido a limitações

metodológicas dos estudos e a possíveis diferenças de percepção estética entre os

países nos quais eles foram realizados (China e Brasil), as autoras concluíram que

há necessidade de mais estudos sobre o efeito estético do tratamento com esse

produto no controle da cárie, inclusive com crianças brasileiras (Sousa et al., 2016).

Diante da ausência de evidências científicas conclusivas sobre o tema, sugere-se

aos profissionais conversem com os pais sobre as vantagens e limitações das

aplicações do cariostático nos dentes das crianças e compartilhem com eles a

decisão sobre a indicação do tratamento para cada caso específico (Sousa et al.,

2016; Oliveira, 2017).

6.2 Recomendações/indicações do uso de flúor no controle da cárie dentária

nos serviços públicos de saúde bucal do estado do Paraná

A Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) tem como eixos orientadores

as ações de promoção e proteção à saúde. Dentre essas ações estão incluídas a

fluoretação das águas de abastecimento e as aplicações tópicas de flúor (Brasil,

2004). Contudo, são poucos os serviços de saúde no Brasil que elaboraram e

colocaram à disposição de seus profissionais orientações sobre a correta utilização

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dos fluoretos para uso no cotidiano da prática odontológica. Assim, recomendações

ou guias para o uso seguro de fluoretos em Saúde Pública são escassos no país

(Cascaes et al., 2012), destacando-se o elaborado para o estado de São Paulo em

2000 (São Paulo, 2000).

No ano de 2009, o Ministério da Saúde publicou em âmbito nacional o

primeiro “Guia de recomendações para o uso de fluoretos”, com o objetivo de

apresentar as várias formas de utilização de fluoretos, tanto como meio preventivo

populacional quanto individual (Brasil, 2009). O material foi produzido por

profissionais vinculados ao ensino, pesquisa e extensão universitária na perspectiva

de construir um importante elemento de apoio às diferentes esferas dos serviços

públicos de saúde do país, baseado em evidências científicas (Cascaes et al., 2012).

No sentido de também apoiar os serviços públicos de saúde bucal do

estado do Paraná, o marco consolidador da Política Estadual de Saúde Bucal se deu

com o lançamento da Rede de Atenção em Saúde Bucal e da Linha Guia de Saúde

Bucal no ano de 2014 (Paraná, 2016). O principal objetivo da Linha Guia é a

orientação das ações de forma integralizada, na lógica dos níveis de atenção,

revendo conceitos e sugerindo mudanças para melhoria da saúde da população.

Todas as recomendações para o uso de fluoretos presentes nesse documento

encontram-se fundamentadas em informações do guia nacional proposto pelo

Ministério da Saúde (Brasil, 2009). Entretanto, os resultados encontrados no

presente estudo evidenciam que dos municípios participantes dessa pesquisa, a

grande maioria ainda não se encontra de acordo com a implementação da Linha

Guia de Saúde Bucal.

Esse resultado foi justificado nos discurso de coordenadores municipais e

regionais de saúde bucal pelas questões relacionadas ao perfil dos profissionais

inseridos no processo, as dificuldades enfrentadas na interação entre a estrutura e

os objetivos da proposta, além do fato da implementação da Linha Guia de Saúde

Bucal ainda se encontrar em estágio inicial:

“Mas é árduo, não é fácil não, essa questão da implantação e da

aceitação (da Linha Guia de Saúde Bucal). Porque cada município fazia

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de um jeito, [...] estava difícil, a gente como estado, trabalhar de uma

forma unificada com um trabalho tão fragmentado”. (CR2)

“Nunca houve uma implementação assim: „Olha vai ser assim, dessa

forma!‟. [...] então a gente tem uma dificuldade pra essa implementação.

[...] as gestões anteriores tentaram se adaptar, não houve uma

sistemática de sentar e reunir com todo mundo e passar todas as

diretrizes e todas as situações. [...] a Linha Guia é bastante ampla, [...] ela

tem falhas, falhas que eu digo são deficiências de informação. Então tem

várias brechas que a gente está um pouco desinformado com a prioridade

do estado”. (CM4)

Um estudo realizado por Santos et al. (2010) verificou se as

recomendações fornecidas por órgãos governamentais brasileiros sobre higiene

bucal em crianças eram consistentes e se as possíveis inconsistências nessas

recomendações estariam associadas a uma aparente falta de evidência científica.

Os resultados encontrados mostraram que diversas recomendações eram

divergentes e não estavam baseadas em evidência científica, assim como nos

achados do presente estudo. Certamente, informações conflitantes e inconsistentes

como as descritas, quando disponibilizadas à população, podem gerar dúvidas, levar

a utilizações inadequadas, ampliar as iniquidades em saúde bucal e colocar em

questão a efetividade e segurança dessas práticas como medidas de saúde pública.

Dessa forma, deve-se ressaltar a importância e o impacto das revisões sistemáticas

da literatura na perspectiva de aproximar a pesquisa científica da prática clínica

(Santos et al., 2010).

Apenas um dos coordenadores de saúde bucal entrevistados na presente

pesquisa, relatou que as recomendações/indicações para o uso de flúor

preconizadas nos serviços de saúde do seu município encontravam-se baseadas em

evidências e recomendações oficiais:

“O município segue uma orientação do Ministério da Saúde, na parte

odontológica [...] então, tudo que nós fazemos aqui [...] o avanço da

saúde bucal, é com relação ao Ministério! A linha de ação é tudo que o

Ministério nos orienta! [...] Então, esse protocolo, ele foi, digamos assim,

tirado dessas orientações, das cartilhas do Ministério [...] para gente estar

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orientando essas tomadas de decisões dentro do protocolo dos nossos

profissionais, cirurgiões-dentistas, técnico em saúde bucal [...]”. (CM1)

Nesta perspectiva, Cascaes et al. (2012) verificaram o grau de

conhecimento dos coordenadores municipais de saúde bucal dos 293 municípios do

estado de Santa Catarina, sobre o uso de fluoretos em saúde bucal coletiva. A

correta indicação do uso de fluoreto tópico foi respondida por cerca de 60% dos

coordenadores, 80% revelaram conhecer as recomendações sobre bochechos e

géis fluoretados, entretanto, apenas 40% conheciam o uso do verniz fluoretado. Os

autores concluíram que aspectos fundamentais sobre a utilização de fluoretos foram

desconhecidos por parte considerável de coordenadores municipais, indicando

necessidade de capacitação técnica sobre o tema para uma abordagem baseada

em evidências científicas. Apontam também que recomendações oficiais acerca do

uso de fluoretos em saúde bucal coletiva são desejáveis e deveriam ser amplamente

adotadas.

Os resultados encontrados nessa categoria de análise demonstram que

não existe uma uniformidade nas recomendações de uso de flúor no controle da

cárie dentária nos serviços públicos de saúde bucal do Paraná. Além disso, os

achados indicam que recomendações não baseadas em evidências científicas ainda

estão sendo praticadas no estado.

6.3 Relação de influência entre as IES e os serviços públicos de saúde bucal

quanto ao uso de flúor no controle da cárie dentária

Estudos recentes apontam o importante papel das instituições no

desenvolvimento regional, tanto no processo de formação de uma população mais

educada quanto na geração de conhecimento científico e inovações. Neste contexto,

as IES destacam-se como agentes locais importantes para o desenvolvimento de

uma região (Chiarini e Vieira, 2012; Caldarelli et al., 2015). A relação entre as

instituições de ensino e a região onde se encontram inseridas é detalhada, em

termos de seus mecanismos de interação, no diagrama proposto por Goddard et al.

(1999) (Figura 7). Nele é possível observar o fundamental papel exercido pelas

instituições (ensino, pesquisa e extensão), o qual está envolvido por um halo que

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indica a interação indissociável, conjunta e integrada com a região. Ao centro tem-se

a interação instituição-região, que não é unidirecional, ou seja, além de ser um

importante fator de influência para a região em que está inserida, a IES também é

influenciada por esta região. Por fim, encontram-se as formas pelas quais as

instituições podem influenciar suas regiões. Tais efeitos podem ocorrer por meio de

melhorias nas condições de saúde, cultura, educação, bem-estar, entre outros

(Goddard et al. 1999).

Figura 7 - Análise multifacetada da influência da IES na região em que se encontra

inserida.

Fonte: Adaptado de Goddard et al. (1999).

A responsabilidade do processo de transferir o conhecimento produzido

nas instituições de ensino para a prática dos serviços públicos de saúde é

compartilhada entre os profissionais que atuam no campo da prática e os docentes

(pesquisadores). Eles têm o compromisso de construir, em parceria com os

profissionais da prática, dispositivos para proceder esta transferibilidade,

desenvolvendo pesquisas baseadas nas melhores evidências científicas, as quais

devem ser inerentes ao serviço. Sobretudo, as instituições de ensino devem estar

atentas às demandas e respostas originadas na prática clínica (Marcon et al., 2012;

Trentini e Silva, 2012).

A ideia de transferir o conhecimento elaborado é bastante antiga na área

da saúde. Alternativas de transferibilidade estão divulgadas na literatura e

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sintetizadas em cinco tipos: tecnológicas, protocolos, processos, atividades técnico-

administrativas, atitudes, atividades educativas e pesquisa translacional (Marcon et

al., 2012). Na transferência de conhecimento das instituições de ensino para os

serviços de saúde destacam-se as capacitações de recursos-humanos, as

atualizações de técnicas e práticas, além da elaboração e apoio na implementação

de guias, manuais e protocolos clínicos. Todas essas alternativas de

transferibilidade foram apontadas pelos participantes entrevistados no presente

estudo, quando questionados sobre a relação existente entre as instituições de

ensino com curso de Odontologia e os serviços públicos de saúde bucal:

“[...] a gente usa muitos esses professores dessas instituições [...]. Então

eles sempre estão, quando a gente solicita, capacitando nossos

profissionais [...] ajudando na elaboração e atualização do nosso

protocolo de trabalho de Odontologia [...]”. (CM1)

“Dentro dessa estrutura, eles (cursos de Odontologia) sempre se

propuseram a fazer cursos de capacitação, seja de abertura coronária,

seja de técnica cirúrgica, para os profissionais das unidades básicas da

prefeitura”. (CM4)

“Temos um projeto de extensão no estado do Paraná, que é o Curso de

Qualificação da Gestão em Saúde Bucal, então, nesse curso de gestão a

gente trabalha com todas as regionais e inúmeros municípios!”. (D3)

A importância da integração entre as instituições de ensino e os serviços

públicos de saúde bucal também esteve presente nos discursos dos respondentes.

Destacou-se, assim como já estabelecido na literatura, que essa integração atua

como um mecanismo para potencializar e melhorar as ações de cuidado em saúde,

uma vez que proporciona um espaço de troca, favorecendo a chegada de novas

ideias e práticas que ressignificam o trabalho do profissional (Finkler et al., 2011):

“[...] a universidade é apoiada no tripé ensino-pesquisa-extensão. O

serviço tem como característica principal, a assistência, a promoção e

prevenção [...]. A gente tem que fortalecer muito essa aproximação no

sentido de troca. [...] porque para o serviço é fundamental ele estar

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atualizado em relação às pesquisas, ele entender os processos que

acontecem, as evidências científicas”. (D6)

Dessa forma, observa-se pelo presente estudo que as IES paranaenses

com cursos de Odontologia têm influenciado (direta e indiretamente) as

recomendações, indicações clínicas e práticas preconizadas pelos serviços públicos

de saúde nas regiões em que se encontram inseridas, sugerindo uma atuação

“nucleadora” na difusão de conhecimento. Contudo, quando a abordagem está

relacionada à transferibilidade das recomendações para o uso de fluoretos, este

cenário se mostra bastante heterogêneo, como pode ser observado em relatos dos

entrevistados nessa pesquisa:

“Nesses últimos cursos, ainda não foi abordado esse tema (uso de

fluoretos em Odontologia), [...] como o que nos apresentam são as

necessidades que eles têm lá, então ainda não nos foi apresentado essa”.

(CC1)

“Eu destaquei esse curso porque foi uma abordagem que fizemos, [...]

capacitando os coordenadores regionais no primeiro momento e esses

capacitaram os municipais e fizemos então a lógica da onda formativa

(sobre o uso de fluoretos em Odontologia) [...]”. (CC2)

“A nossa abordagem, ela não chegou ao uso do fluoreto, [...] não

especificamente ao uso de flúor!”. (D3)

“[...] aqui existe uma transferência natural de tecnologia e conhecimento!

A gente teve um treinamento muito grande com toda a Secretaria de

Estado de Saúde do Paraná [...] onde a gente treinou um dentista de cada

município. No curso como geral teve um tópico de uso de fluoretos, como

a gente usa o flúor aqui no nosso protocolo [...]”. (D5)

As tentativas de transferibilidade do conhecimento na área da saúde se

intensificaram nos últimos anos, porém ainda prosseguem desafiantes,

considerando a resistência de profissionais e a existência de muitos paradigmas

(Marcon et al., 2012; Trentini e Silva, 2012). Esse quadro foi claramente descrito por

um dos respondentes do presente estudo, quando questionado sobre a

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implementação de protocolos baseados em evidências científicas nos serviços de

saúde:

“E ainda não tem uma uniformidade, existe o protocolo, mas nem sempre

o profissional está seguindo o protocolo que é recomendado, às vezes,

ele traz o protocolo da universidade onde ele se formou [...]. Então, como

não existe uma cobrança desse protocolo nesses últimos anos, o que se

vê é um trabalho fragmentado, cada um está fazendo no seu momento e

da sua maneira!”. (D4)

Com relação à transferibilidade de conhecimento sobre o uso de fluoretos,

os resultados do presente estudo mostram que este cenário é semelhante. A

literatura aponta que a utilização de fluoretos baseado em evidências cientificas tem

reduzido a prevalência, incidência e gravidade da cárie dentária e suas sequelas, de

maneira segura, efetiva e com ótima relação custo-benefício (Marinho et al., 2003;

2004; 2016; Rosenblatt et al., 2009; Walsh et al., 2010; Santos et al. 2013a; 2013b;

Gao et al., 2016). E, embora existam ações para transferir esse conhecimento

científico para a prática dos serviços públicos de saúde bucal, observa-se que as

recomendações baseadas em evidências ainda se mostram em desarmonia com

esse movimento. Assim, ressalta-se a necessidade de realizar e disseminar análises

sistemáticas sobre questões controversas e paradigmas (ainda) existentes sobre

essa temática, com a finalidade de suprir a lacuna entre o conhecimento científico

baseado em evidências e as recomendações dos serviços de saúde. Em acréscimo,

as recomendações oficiais (guias, manuais e protocolos) acerca do uso de fluoretos

em saúde bucal coletiva são desejáveis e deveriam ser amplamente adotadas,

juntamente com a capacitação técnica dos profissionais inseridos nos serviços de

saúde (Cascaes et al., 2012).

Diante disso, destaca-se que para concretizar a transferência de

conceitos e práticas nas mais distintas áreas há que se considerar que a migração

do conhecimento não corresponde simplesmente na transladação do mesmo, tal

qual foi concebido pelas instituições. O conhecimento precisa ser reconstruído, ou

seja, necessita de um processo de reformulação de maneira a torná-lo refinado e

ajustável às condições da prática (Marcon et al., 2012; Trentini e Silva, 2012).

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6 CONCLUSÃO

Com base nos seguintes resultados encontrados, de que:

a) recomendações/indicações sobre o uso de fluoretos no controle da cárie dentária

não baseadas em evidências científicas (ainda) são realidade em IES e serviços

públicos de saúde bucal do estado do Paraná;

b) há coerência entre o ensinado nas IES e o preconizado nos serviços públicos de

saúde bucal quanto ao uso de fluoretos no controle da cárie dentária na maioria

dos casos analisados;

c) as IES com curso de Odontologia no estado do Paraná parecem desenvolver

influência nucleadora na difusão de conhecimento sobre o uso de fluoretos nos

respectivos serviços públicos de saúde bucal,

conclui-se que as IES, como formadoras de profissionais de saúde e geradoras de

conhecimento científico, devem constantemente atualizar seus protocolos com base

nas melhores evidências científicas disponíveis, podendo ser também difusoras de

conhecimento para a criação de guias e manuais para uso na prática dos serviços

públicos de saúde bucal, juntamente com a educação permanente dos profissionais.

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APÊNDICES

Apêndice 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

Instituição: Faculdade de odontologia de Piracicaba ∕ Universidade Estadual de

Campinas (FOP ∕ UNICAMP). Av. Limeira, 901 – Bairro Areião. CEP:13414903 -

Piracicaba, SP - Brasil. Caixa-postal: 52. Telefone: (19) 2106-5393.

Título: “Transferência de conhecimento sobre uso de fluoretos dos cursos de

Odontologia do Paraná para a prática dos serviços públicos de saúde”

Convite à participação: Você está sendo convidado(a) para participar, como

voluntário(a), de uma pesquisa. Após receber os esclarecimentos e as informações

a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento,

que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável.

Pesquisador Responsável: Pablo Guilherme Caldarelli

Pesquisadores Participantes: Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury e Profa. Dra. Livia

Maria Andaló Tenuta

O contato com os voluntários da pesquisa será realizado pelo doutorando do

Programa de Pós-Graduação em Odontologia (área: Cariologia) da FOP/UNICAMP,

Pablo Guilherme Caldarelli. O pesquisador irá fazer os esclarecimentos sobre a

pesquisa, coletar a assinatura do presente Termo e proceder à entrevista.

Justificativa: As Instituições de Ensino Superior (IES) podem influenciar as

recomendações/indicações clínicas de Odontologia preconizadas pelos serviços

públicos de saúde nas regiões em que se encontram inseridas, atuando como

“nucleadoras” de conhecimentos e de práticas. As IES desempenham também papel

fundamental no sucesso da implantação e sustentação das mudanças de

paradigmas que se fazem necessárias na área de Cariologia e uso racional de

fluoretos em Odontologia.

I. INFORMAÇÃO SOBRE A PESQUISA

Objetivo: Analisar a transferência do conhecimento sobre o uso de fluoretos dos

cursos de Odontologia das Instituições de Ensino Superior (IES) do Paraná para os

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serviços públicos de saúde bucal, destacando a sua relação/impacto com práticas e

recomendações preconizadas pelos municípios.

Metodologia: Será realizada uma entrevista semiestruturada, com os

coordenadores e docentes dos cursos de Odontologia e coordenadores municipais e

regionais de saúde bucal, sobre a temática. A entrevista será audiogravada nas

dependências do local em que o participante se encontra vinculado. A gravação da

mesma será destruída após a transcrição, a qual não terá identificação alguma do

sujeito respondente. Caso deseje, você poderá solicitar maiores informações ao

pesquisador responsável a qualquer momento.

Possibilidade de inclusão em grupo controle ou placebo: Não haverá grupo

controle ou placebo neste estudo.

Métodos alternativos: Não há possibilidade de obter as informações desejadas

neste estudo de outra maneira, senão a proposta.

Descrição dos desconfortos e riscos previsíveis: Você poderá sentir-se

desconfortável com algumas perguntas da entrevista. Entretanto, as respostas e os

dados coletados são sigilosos e confidenciais. Não há riscos previsíveis na

participação desta pesquisa.

Benefícios e vantagens diretas esperadas: Não há benefícios e vantagens diretas

na participação desta pesquisa.

Forma de acompanhamento e assistência ao participante: O acompanhamento

dos voluntários no desenvolvimento da pesquisa será feito exclusivamente pelo

pesquisador Pablo Guilherme Caldarelli, e ocorrerá em apenas um único

momento. As entrevistas serão transcritas sem que haja identificação do sujeito

respondente, garantindo, assim, a confidencialidade dos dados Em caso de recusa,

você não será penalizado(a) de forma alguma. Em caso de dúvida quanto aos seus

direitos como voluntário de pesquisa, você pode procurar o Comitê de Ética em

Pesquisa da FOP-UNICAMP pelo telefone (19) 2106-5349, por meio de carta ou

pessoalmente na FOP-UNICAMP Av. Limeira, 901, CEP 13414-903, Piracicaba-SP,

ou ainda por e-mail [email protected] ou website www.fop.unicamp.br/cep.

Pesquisador Responsável: Pablo Guilherme Caldarelli

Pesquisadores Participantes: Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury e Profa. Dra. Livia

Maria Andaló Tenuta

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Endereço: Faculdade de odontologia de Piracicaba ∕ Universidade Estadual de

Campinas (FOP ∕ UNICAMP). Av. Limeira, 901 – Bairro Areião. CEP:13414903 -

Piracicaba, SP - Brasil. Caixa-postal: 52. Telefone: (19) 2106-5393.

Telefone para contato (inclusive ligações a cobrar): (043) 9912-1645

e-mail: [email protected] e [email protected]

Garantia de esclarecimentos: Você tem a garantia de que receberá respostas para

qualquer pergunta e suas dúvidas sobre os procedimentos, sobre os riscos, os

benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa serão esclarecidos. Os

pesquisadores também assumem o compromisso de dar as informações obtidas

durante o estudo, mesmo que isso possa afetar sua vontade em continuar

participando do estudo.

Direito de recusa: Você tem a liberdade de se recusar a participar da pesquisa ou

de retirar o seu consentimento em qualquer momento da pesquisa, sem que isto

leve a qualquer penalidade durante o seu curso de graduação.

Sigilo de dados confidenciais: Os dados que permitem a identificação dos

participantes da pesquisa serão mantidos em sigilo, não revelando suas identidades.

II. GARANTIAS

Garantia de ressarcimento: Não há previsão de ressarcimento, pois a participação

na pesquisa não acarretará em gastos de qualquer espécie para os participantes.

Formas de indenização e de medidas de reparação: Não há previsão de

indenização ou de medidas de reparo, pois não há risco previsível pela participação

na pesquisa. Caso ocorra algum imprevisto, ficam os pesquisadores responsáveis

em indenizar em comum acordo com os voluntários, eventuais danos decorrentes

desta pesquisa.

Os resultados obtidos nesta pesquisa serão tornados públicos através de tese,

artigos científicos e exposições em eventos da área.

Todas as páginas do TCLE deverão ser rubricadas ou assinadas pelo pesquisador e

participante.

___________________________________________________

Pablo Guilherme Caldarelli

Pesquisador Responsável

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III. CONSENTIMENTO FORMAL

Eu,________________________________________________________________

portador do RG:____________________, CPF:____________________,

Telefone:_____________________ abaixo assinado, fui devidamente informado(a) e

esclarecido(a) pelo pesquisador responsável sobre a pesquisa “Transferência de

conhecimento sobre uso de fluoretos dos cursos de Odontologia do Paraná

para a prática dos serviços públicos de saúde”, os procedimentos nela

envolvidos, assim como os possíveis desconfortos/riscos e benefícios decorrentes

de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a

qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade. Assim, concordo

plenamente em participar como sujeito da pesquisa. Recebi uma cópia desde

documento.

Local e data: _________________________________________________________

Assinatura: __________________________________________________________

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Apêndice 2 - Roteiro de entrevista semiestruturada para Coordenadores de Saúde

Bucal

Município/Regional de Saúde: _________________________________________

Data: ____/____/______

Como parte da pesquisa da tese de doutorado “Transferência de

conhecimento sobre uso de fluoretos dos cursos de Odontologia do Paraná

para a prática dos serviços públicos de saúde”, estão sendo realizadas

entrevistas com Coordenadores de Saúde Bucal do Estado do Paraná. Sua

participação nesta pesquisa é fundamental, visto que a partir dessa entrevista serão

discutidas as filosofias sobre o uso de fluoretos em Odontologia das IES Paraná e

sua relação/impacto com as práticas e recomendações realizadas nos serviços

públicos de saúde bucal do estado. Desde já, agradecemos a participação!

1) Como é a relação entre o serviço público de saúde bucal e as instituições de

ensino com curso de Odontologia da região? (Oferta de serviços, estágios,

convênios, cursos de formação)

2) As instituições de ensino com curso de Odontologia participam ou realizam a

capacitação de práticas preventivas para os profissionais da rede pública de saúde

do município ou possuem alguma outra forma de contato? Se sim, qual (is)

instituições? Abordam os conteúdos relacionados ao uso de fluoretos em

Odontologia?

3) Quais são as recomendações/indicações (protocolo) preconizadas pelo município

em relação ao controle da cárie dentária? (Uso individual e coletivo: dentifrícios

fluoretados, bochechos fluoretados, géis, espumas, vernizes fluoretados e Diamino

Fluoreto de Prata)

4) O senhor (a) tem conhecimento sobre quais orientações foram tomadas como base

e de onde elas foram provenientes para elaboração do protocolo de saúde bucal do

município? Qual a periodicidade de atualização deste protocolo?

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5) Há alguma outra consideração que deseja fazer sobre as recomendações de uso

de fluoretos deste município e/ou relação com as instituições de ensino com curso

de Odontologia da região?

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Apêndice 3 - Roteiro de entrevista semiestruturada para Coordenadores e Docentes

dos Cursos de Odontologia

Instituição de Ensino: ________________________________________________

Data: ____/____/______

Como parte da pesquisa da tese de doutorado “Transferência de

conhecimento sobre uso de fluoretos dos cursos de Odontologia do Paraná

para a prática dos serviços públicos de saúde”, estão sendo realizadas

entrevistas com Coordenadores e Docentes dos cursos de Odontologia das

Instituições de Ensino Superior do Paraná. Sua participação nesta pesquisa é

fundamental, visto que a partir dessa entrevista serão discutidas as filosofias sobre o

uso de fluoretos em odontologia das IES Paraná e sua relação/impacto com as

práticas e recomendações realizadas nos serviços públicos de saúde bucal do

estado. Desde já, agradecemos a participação!

1) Como é a relação entre o curso de Odontologia desta instituição e os serviços

públicos de saúde bucal da região? (Oferta de serviços, estágios, convênios,

cursos de formação)

2) Os professores do curso de Odontologia desta instituição participam ou realizam

a capacitação de práticas preventivas para os cirurgiões-dentistas da rede

pública de saúde ou possuem alguma outra forma de contato com estes

profissionais? Se sim, abordam os conteúdos relacionados ao uso dos fluoretos

em Odontologia? Em qual (ais) município (s)?

3) O senhor (a) possui informações (dados) sobre a inserção dos egressos do curso

de Odontologia desta instituição nos serviços públicos de saúde bucal da região?

Se sim, de que forma se dá essa inserção? (Panorama)

4) O senhor (a) tem conhecimento de quais são as recomendações/indicações

(protocolo) preconizadas pelos municípios da região em relação ao controle da

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cárie dentária? (Uso individual e coletivo: dentifrícios fluoretados, bochechos

fluoretados, géis, espumas, vernizes fluoretados e Diamino Fluoreto de Prata)

5) Quem ministra (área/professores) a temática sobre o uso de fluoretos em

Odontologia no curso desta instituição? (I.Cariologia Básica; II.Dentística;

II.Odontopediatria; III.Saúde coletiva)

6) Quais as recomendações/indicações (protocolo) são ministradas aos estudantes

do curso de Odontologia da instituição em relação ao controle da cárie dentária?

(Uso individual e coletivo: dentifrícios fluoretados, bochechos fluoretados, géis,

espumas, vernizes fluoretados e Diamino Fluoreto de Prata)

7) Há alguma outra consideração que deseja fazer sobre as recomendações de uso

de fluoretos no curso de Odontologia desta instituição e/ou relação com os

serviços públicos de saúde da região?

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ANEXOS

Anexo 1 - Aprovação do protocolo de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da FOP/UNICAMP

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Anexo 2 - Termo de ciência e concordância da Secretaria da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior (SETI) do Estado do Paraná

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Anexo 2 - Termo de ciência e concordância da Coordenação Estadual de Saúde

Bucal do Paraná