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REVISTA DO PROFESSOR, abr./jun. 2003 19 (74): Porto Alegre, 19 19-25, Disgrafia Prováveis causas dos distúrbios e estratégias para a correção da escrita O ensino da Língua Portuguesa na escola tem sido, quase sempre, voltado para a aprendizagem da escrita corre- ta e para o domínio dos conceitos gra- maticais. É um dos objetivos mais im- portantes dos professores das séries ini- ciais o ensinar o aluno a escrever. Po- rém, é comum a um grande número de professores de 1 o e2 o ciclos e, mesmo aos de Língua Portuguesa, saberem muito pouco sobre a natureza da escri- ta, como funciona, para que serve e como deve ser usada. As formas gráficas e ortográficas da escrita não são bem compreendidas. Nosso sistema lingüístico não possui uma única forma de representação grá- fica (existem vários tipos de traçados diferentes para mesmos sons) e, além disso, não é completamente alfabético como pensamos. Nossa gramática (normativa e, por isso, deficiente) e nossas cartilhas que ainda estão em uso, apesar dos estu- dos mais avançados a respeito da apren- dizagem da escrita e da leitura, não explicam nem aos mestres nem aos aprendizes esta multivariedade de tra- çados ou de formas de representação gráfica, o porquê dessas diferenças e como ensiná-las, como aprendê-las. O que se observa, de início, é que exigimos das crianças um trabalho do- brado: primeiro, aprender a escrever em letra de forma. É mais fácil, mais com- preensível, aparece nos textos, rótulos... Logo, de imediato, passamos a exigir que a criança passe a escrever em letra cursiva, mais complicada, de mais difícil leitura e de caráter individual e idiossin- crático: cada usuário adota seu próprio traçado, coloca suas nuances, mostra sua personalidade. Mas a nossa sociedade e a nossa cultura consideram importan- tíssimo, fundamental mesmo, saber es- crever emendado. Os pais exigem da escola, os pro- fessores exigem dos alunos e esque- cem de perguntar-lhes o que a escrita representa para eles. Ora, escreve-se •NORA CECÍLIA BOCACCIO CINEL Especialista em Lingüística e em Supervisão de Sistemas Educacionais. Porto Alegre/RS. para que outros leiam o que se escre- ve. O ler é condicionado pelo escrever e, para ler significativamente, é preciso que a escrita conduza o leitor a enqua- drar todos os símbolos (letras, pala- vras, acentos, notações, etc...) no uni- verso cultural, social, histórico em que o escritor se baseou para escre- ver, como nos ensina Cagliari. A escrita é a tecnologia do inte- lecto, uma das maiores invenções manuintelectuais criadas pelo homem, como falam Teberosky e Tolchinsky. O homem escreve para registrar, para comunicar, para controlar, para influir sobre a conduta do outro, para produ- zir e não só reproduzir (copiar) e dis- tanciar-se do produzido; para criar, combinar, elaborar textos, sob o ponto de vista estético (literatura). A escrita pode ser um fator impor- tante para que se estabeleça e se man- tenha um dialeto como padrão, pois goza de prestígio. Graficamente representa- da, uma língua tem mais possibilidade de servir de modelo pela estabilidade que adquire, devidamente registrada. A escrita é mais cuidadosa que a fala e, portanto, mais permanente e tor- na mais evidente os problemas que se constituem distúrbios de grafia: di- sortografia ou disgrafia, foco do nos- so estudo. Disgráficas são aquelas crianças que apresentam dificuldades no ato motor da escrita, tornando a grafia pra- ticamente indecifrável. Então, disgrafia é a perturbação da escrita no que diz respeito ao traçado das letras e à disposição dos conjuntos gráficos no espaço utilizado. Relaciona- se, portanto, a dificuldades motoras e espaciais. Porém, é preciso entender que uma criança em processo de construção da escrita naturalmente apresenta dificul- dades no traçado das letras, até dominá- lo corretamente. Durante esse perío- do, o professor deverá orientar os alu- nos a realizarem adequadamente a es- crita para evitar a permanência de tra- çados incorretos e, conseqüentemente, a disgrafia. Podemos apontar como causas pro- váveis da disgrafia os distúrbios de motricidade ampla e, especialmente, fina, os distúrbios de coordenação visomotora, a deficiência da organiza- ção temporoespacial, os problemas de lateralidade e direcionalidade e o erro pedagógico. Alguns comentários, expressos a seguir, são indispensáveis em relação a estas causas. û Distúrbios na motricidade ampla e fina Freqüentemente, observamos que, mesmo em crianças de nível intelectual médio ou elevado, existe um determi- nado potencial ou um certo conjunto de habilidades não-desenvolvidas. Neste caso, é possível constatarmos uma ou outra ou várias disfunções psiconeurológicas ou anomalias na maturação do sistema nervoso central, tornando-se evidente, na maior parte das situações, a falta de coordenação entre o que a criança se propõe a fazer (in- tenção) e a respectiva ação. Ocorre, portanto, um verdadeiro hiato que resul- ta em dificuldade ou, mesmo, impedi- mento de expressão por meio do corpo. Essa falta de sintonia entre o pre- tendido e o realizado provoca de- sequilíbrio, especialmente o afetivo, com repercussões de ordem social, nas áreas motora e perceptiva. Na área motora, aparecem a hiper ou a hi- poatividade, as perturbações do ritmo, a incoordenação excessiva, prejudican- do a postura, a locomoção, os movimen- tos dos braços, pernas, mãos, pés e a respiração. Na área perceptiva, eviden- ciam-se desordem perceptovisual, de orientação e estruturação espacial, per- turbações do esquema corporal e da lateralidade. Tais perturbações interferem, sen- sivelmente, em todos os campos de ação da criança. Na escola, geralmente ela estará sujeita a mau rendimento, a um desempenho medíocre, apesar da sua boa capacidade intelectual, de vez que um bom desempenho requer atenção e concentração da criança. Se não hou- ver domínio do corpo, se faltar autono- mia, automatismo e precisão no gesto, a atenção será desviada e absorvida no necessário controle do movimento. Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer

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REVISTA DO PROFESSOR, abr./jun. 200319

(74):Porto Alegre, 19 19-25,

DisgrafiaProváveis causas dos distúrbios e estratégias para a correção da escrita

O ensino da Língua Portuguesa naescola tem sido, quase sempre, voltadopara a aprendizagem da escrita corre-ta e para o domínio dos conceitos gra-maticais. É um dos objetivos mais im-portantes dos professores das séries ini-ciais o ensinar o aluno a escrever. Po-rém, é comum a um grande número deprofessores de 1o e 2o ciclos e, mesmoaos de Língua Portuguesa, saberemmuito pouco sobre a natureza da escri-ta, como funciona, para que serve ecomo deve ser usada.

As formas gráficas e ortográficasda escrita não são bem compreendidas.Nosso sistema lingüístico não possuiuma única forma de representação grá-fica (existem vários tipos de traçadosdiferentes para mesmos sons) e, alémdisso, não é completamente alfabéticocomo pensamos.

Nossa gramática (normativa e, porisso, deficiente) e nossas cartilhas queainda estão em uso, apesar dos estu-dos mais avançados a respeito da apren-dizagem da escrita e da leitura, nãoexplicam nem aos mestres nem aosaprendizes esta multivariedade de tra-çados ou de formas de representaçãográfica, o porquê dessas diferenças ecomo ensiná-las, como aprendê-las.

O que se observa, de início, é queexigimos das crianças um trabalho do-brado: primeiro, aprender a escrever emletra de forma. É mais fácil, mais com-preensível, aparece nos textos, rótulos...Logo, de imediato, passamos a exigir quea criança passe a escrever em letracursiva, mais complicada, de mais difícilleitura e de caráter individual e idiossin-crático: cada usuário adota seu própriotraçado, coloca suas nuances, mostra suapersonalidade. Mas a nossa sociedadee a nossa cultura consideram importan-tíssimo, fundamental mesmo, saber es-crever emendado.

Os pais exigem da escola, os pro-fessores exigem dos alunos e esque-cem de perguntar-lhes o que a escritarepresenta para eles. Ora, escreve-se

•NORA CECÍLIA BOCACCIO CINELEspecialista em Lingüística e emSupervisão de Sistemas Educacionais.Porto Alegre/RS.

para que outros leiam o que se escre-ve. O ler é condicionado pelo escrevere, para ler significativamente, é precisoque a escrita conduza o leitor a enqua-drar todos os símbolos (letras, pala-vras, acentos, notações, etc...) no uni-verso cultural, social, histórico emque o escritor se baseou para escre-ver, como nos ensina Cagliari.

A escrita é a tecnologia do inte-lecto, uma das maiores invençõesmanuintelectuais criadas pelo homem,como falam Teberosky e Tolchinsky.O homem escreve para registrar, paracomunicar, para controlar, para influirsobre a conduta do outro, para produ-zir e não só reproduzir (copiar) e dis-tanciar-se do produzido; para criar,combinar, elaborar textos, sob o pontode vista estético (literatura).

A escrita pode ser um fator impor-tante para que se estabeleça e se man-tenha um dialeto como padrão, pois gozade prestígio. Graficamente representa-da, uma língua tem mais possibilidade deservir de modelo pela estabilidade queadquire, devidamente registrada.

A escrita é mais cuidadosa que afala e, portanto, mais permanente e tor-na mais evidente os problemas que seconstituem distúrbios de grafia: di-sortografia ou disgrafia, foco do nos-so estudo.

Disgráficas são aquelas criançasque apresentam dificuldades no atomotor da escrita, tornando a grafia pra-ticamente indecifrável.

Então, disgrafia é a perturbação daescrita no que diz respeito ao traçadodas letras e à disposição dos conjuntosgráficos no espaço utilizado. Relaciona-se, portanto, a dificuldades motoras eespaciais.

Porém, é preciso entender que umacriança em processo de construção daescrita naturalmente apresenta dificul-dades no traçado das letras, até dominá-lo corretamente. Durante esse perío-do, o professor deverá orientar os alu-nos a realizarem adequadamente a es-crita para evitar a permanência de tra-çados incorretos e, conseqüentemente,a disgrafia.

Podemos apontar como causas pro-váveis da disgrafia os distúrbios de

motricidade ampla e, especialmente,fina, os distúrbios de coordenaçãovisomotora, a deficiência da organiza-ção temporoespacial, os problemas delateralidade e direcionalidade e o erropedagógico.

Alguns comentários, expressos aseguir, são indispensáveis em relaçãoa estas causas.

û Distúrbios na motricidade amplae finaFreqüentemente, observamos que,

mesmo em crianças de nível intelectualmédio ou elevado, existe um determi-nado potencial ou um certo conjunto dehabilidades não-desenvolvidas.

Neste caso, é possível constatarmosuma ou outra ou várias disfunçõespsiconeurológicas ou anomalias namaturação do sistema nervoso central,tornando-se evidente, na maior parte dassituações, a falta de coordenação entreo que a criança se propõe a fazer (in-tenção) e a respectiva ação. Ocorre,portanto, um verdadeiro hiato que resul-ta em dificuldade ou, mesmo, impedi-mento de expressão por meio do corpo.

Essa falta de sintonia entre o pre-tendido e o realizado provoca de-sequilíbrio, especialmente o afetivo,com repercussões de ordem social, nasáreas motora e perceptiva. Na áreamotora, aparecem a hiper ou a hi-poatividade, as perturbações do ritmo,a incoordenação excessiva, prejudican-do a postura, a locomoção, os movimen-tos dos braços, pernas, mãos, pés e arespiração. Na área perceptiva, eviden-ciam-se desordem perceptovisual, deorientação e estruturação espacial, per-turbações do esquema corporal e dalateralidade.

Tais perturbações interferem, sen-sivelmente, em todos os campos de açãoda criança. Na escola, geralmente elaestará sujeita a mau rendimento, a umdesempenho medíocre, apesar da suaboa capacidade intelectual, de vez queum bom desempenho requer atenção econcentração da criança. Se não hou-ver domínio do corpo, se faltar autono-mia, automatismo e precisão no gesto,a atenção será desviada e absorvida nonecessário controle do movimento.

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EXERCÍCIOS

Para que a criança adquira os me-canismos da escrita, além da necessi-dade de saber orientar-se no espaço(motricidade ampla), deve ter cons-ciência de seus membros, da mo-bilização dos mesmos, e saber fazer agir,independentemente, o braço em rela-ção ao ombro, a mão em relação aobraço e ter a capacidade de individua-lizar os dedos (motricidade fina) parapegar o lápis ou a caneta e riscar, tra-çar, escrever, desenhar o que quiser.

Existem inúmeros exercícios paraminimizar ou sanar essas dificuldades. Oprofessor precisa iniciar comaqueles quevisam exercitar os grandes músculos e,posteriormente, trabalhar com os peque-nos músculos, seja na educação infantil,seja no ensino fundamental.

û Distúrbios na coordenaçãovisomotoraA coordenação visomotora está pre-

sente sempre que um movimento dosmembros superiores ou inferiores ou detodo o corpo responde a um estímulovisual de forma adequada.

Ao traçar uma linha, por exemplo, acriança, ao mesmo tempo que segue,

com os olhos, a ação de riscar, deve terem mira o alvo a atingir. Isso implicasempre ter atenção a algo imediatamen-te posterior à ação que está realizandono instante presente.

A criança com problemas de coorde-nação visomotora não consegue, porexemplo, traçar linhas comtrajetórias pre-determinadas, pois, apesar de todo o es-forço, a mão não obedece ao trajeto pre-viamente estabelecido.

Esses problemas repercutem nega-tivamente nas aprendizagens, uma vezque para aprender e fixar a grafia é in-dispensável que a criança tenha con-veniente coordenação olho/mão, da qualdepende a destreza manual.

Os esforços para focalização visualdistraem a sua atenção e ela perde acontinuidade do traçado das letras esuas associações.

û Deficiência na organizaçãotemporoespacialQuando falamos em organização

temporoespacial nos referimos à orien-tação e à estrutura do espaço e do tem-po: é o conhecimento e o domínio dedireita/esquerda, frente/atrás/lado, alto/

baixo, antes/depois/durante, ontem/hoje/amanhã, etc., que a criança deve terdesenvolvido para construir seu siste-ma de escrita.

A criança com problemas de orien-tação e estruturação espacial, normal-mente, apresenta dificuldades ao escre-ver, invertendo letras, combinações si-lábicas, sob o ponto de vista de locali-zação, o que denota uma insuficiênciada análise perceptiva dos diferentes ele-mentos do grafismo. Ela não consegue,também, escrever obedecendo ao sen-tido correto de execução das letras, nemorientar-se no plano da folha, apresen-tando má utilização do papel e/ou es-crevendo fora da linha. É natural, ainda,que encontre dificuldade na leitura e nacompreensão de sentido de um texto,como decorrência da desorganizaçãotemporoespacial.

û Problemas de lateralidade edirecionalidadeSabemos que os distúrbios de

motricidade manifestam-se, principal-mente, por meio dos gestos imprecisos,dos movimentos desordenados, da pos-tura inadequada, da lentidão excessiva,

¬ Completar as figuras conforme omodelo.

Unir as partes para formar um todo.

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etc. Entre as crianças com dificulda-des motoras, muitas podem apresentarproblemas relativos à lateralidade e quepodem provocar ou ser provocados porperturbações do esquema corporal, pelamá organização do espaço em relaçãoao próprio corpo ou, ainda, por desar-ranjos de ordem afetiva.

As perturbações da lateralidade po-dem apresentar-se de várias maneiras:• lateralidade mal-estabelecida –caracteriza-se pela não-definição dadominância, em especial, da mão direi-ta ou esquerda. Nesse caso, a criançavive uma permanente incerteza quantoao uso das mãos, tornando-se, por isso,confusa e pouco eficiente no desem-penho das atividades motoras. Umadominância não claramente definidapode ser, também, causa de certas difi-culdades, como, por exemplo, inversãode letras na leitura e/ou na escrita, con-fusão de letras de grafismos (traçados)parecidos, mas com orientação espa-cial diferente (por exemplo, b/p - bato/pato). O que conhecemos como escri-ta espelhada também pode ser decor-rência da lateralidade mal-estabelecida(b/d - bato/dato);

• sinistrismo ou canhotismo – é adominância do uso da mão esquerda.A eficiência da mão esquerda, nascrianças canhotas é inferior à da mãodireita nas destras, tanto pela velocida-de quanto pela precisão, em geral. Po-demos observar que essas crianças,bem como as destras, podem apresen-tar, muitas vezes, problemas de orien-tação e estruturação espacial que ten-dem a acentuar-se com a idade, duran-te um certo período de seu desenvolvi-mento. Na verdade, um canhoto podeescrever com a mesma destreza e fa-cilidade de um destro. Porém, para che-gar aos mesmos resultados, a criançacanhota deve percorrer uma série di-ferente de movimentos e de ajustamen-tos motores. Sua tendência natural e es-pontânea, no plano horizontal, é escre-ver da direita para a esquerda. É, pois,tarefa do professor auxiliá-la e in-centivá-la para que ela possa, com amaior brevidade, encontrar seus pa-drões motores;• lateralidade cruzada – caracteriza-se pela dominância da mão direita emconexão com o olho esquerdo, porexemplo, ou da mão esquerda com o

olho direito. Esse tipo de lateralidadeheterogênea – olho/mão – tem sidopesquisado por muitos estudiosos dotema, que, apesar dos esforços, têmchegado a conclusões divergentes.Vários autores levantam a hipótese deque a lateralidade cruzada poderia ser,em certos casos, causa de dese-quilíbrios motores eoutras perturbações,que dificultariam o aprendizado e o de-senvolvimento da leitura e da escrita.Há diferentes pesquisas sobre o assuntoe não há conclusões definitivas a res-peito;• sinistrismo ou canhotismo contra-riado – a dominância da mão esquer-da contraposta ao uso forçado e im-posto da mão direita pode comprome-ter a eficiência motora da criança, naorientação em relação ao próprio cor-po e na estruturação espacial. Algunsautores admitem que, em determina-dos casos, a gagueira, por exemplo,seja conseqüência de sinistrismo con-trariado e, no caso, aconselham que acriança volte a usar a mão dominante(mão esquerda). Afirmam, também,que os canhotos tendem a apresentaro traçado gráfico que conhecemos

ACAVALOCASAVALETASAPATO

A

A

A

A

A

U UQ

R

N

BM

N

M

FS

SI

D E

E

V X

TL

T

CP V L

O

OC

Z

® Marcar com uma cruz as partesque formam um todo conforme omodelo.

¯ Colocar um círculo nas letras queformam as palavras no cartaz, usan-do uma cor diferente para cada pa-lavra.

P O D P Q F

d

m

p d b c f g q

n u v m n u v

° Riscar a letra que corresponde aomodelo.

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como escrita espelhada, o que merecetoda a atenção do professor.

ûErro pedagógicoGeralmente, as dificuldades que os

alunos apresentam na escrita se devema falhas no processo de ensino, nas es-tratégias inadequadas escolhidas pelosdocentes ou por desconhecimento doproblema ou por despreparo.

Os cuidados que o professor dasséries iniciais (1o ciclo) deve ter quan-do seus alunos começam a aprender aescrever não devem resumir-se à orto-grafia mas, também, à legibilidade. Es-ses cuidados prolongam-se por todo operíodo de escolarização ou pelo pro-fessor de classe ou pelos professoresde Língua Portuguesa.

Preparar um aluno para escrevercom correção e legibilidade é trabalharcom ele, desde o início, atentando paraa grafia correta das palavras, a formadas letras, a uniformidade no traçado,o espaçamento, o ligamento e a incli-nação da escrita em relação ao espaçoonde se está escrevendo.

A legibilidade é uma qualidade com-plexa que se constitui na soma desses

vários aspectos, dentre outros conside-rados importantes.

Forma das letrasCada letra tem uma forma caracte-

rística. A clareza de traçado então re-side em escrever cada letra na sua for-ma exata. A letra cursiva deformadapode ser a causa mais poderosa de ile-gibilidade. Por exemplo:a) se o aluno não fecha o círculo do a,pode-se lê-lo como u ou ce;b) quando não fecha o círculo dod, pode-se lê-lo como cl ou el;c) alguns alunos escrevem e por i;d) outros escrevem n como u;e) alguns alunos podem adquirir o há-bito de escrever rr como u ou comon, etc.

Estes exemplos são suficientespara demonstrar a importância do for-mato da letra para a legibilidade daescrita. Muitas vezes, as formas ina-dequadas das letras são conseqüên-cia da falta de orientação docente, domau uso ou do abuso das cópias e dosditados ou da rapidez descabida daescrita para fazer apontamentos emaula, dentre outras.

UniformidadeA letra cursiva, em nosso alfabeto,

apresenta quatro características no tra-çado em relação à linha:• só há uma letra cujo traçado sobe adesce – f;• há seis letras com haste ascendente– b, d, h, k, l, t;• há seis letras com haste descendente– g, j, p, q, y, z;• há treze letras que chamamos de peque-nas –a,c,e,i,m,n,o,r,s,u,v,w,x.

Aprender a manter a uniformidadeno traçado significa formar hábitos deescrita que obedeçam às quatro carac-terísticas apontadas.

EspaçamentoO espaçamento é importante fator

que concorre para a legibilidade. É pre-ciso verificar:ése há espaço entre uma letra e outra,na palavra;ése há espaço entre uma palavra eoutra;ése há espaço entre uma frase e outra;ése há espaço entre parágrafos.

Quando os espaços entre as letrasnão são uniformes, há prejuízo na leitu-

ne veta nê

tone ve ne nene

± Marcar com uma cruz o cír-culo que tem a mesma palavrado modelo.

VELA LAVE LEVAVELA

GALO LAGO GOLA GALO

FITA FILA FILE VILAFITA

CALO COLAGOLA LAGOCALO

² Marcar com uma cruz a palavraque corresponde ao modelo.

³ Pintar o desenho diferente.

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afastadas do quadro vejam as palavras,uma como continuação da outra, copian-do-as como se fossem uma só.

É preciso cuidar, também, o espaçoentre frases, tendo em vista as letrascom hastes.

LigamentosNa letra cursiva, os ligamentos tam-

bém são fatores importantíssimos paraa legibilidade: letras que formamuma pa-lavra devem ser ligadas entre si. A omis-são de ligamentos provoca no leitor uma

BALÃO

FAVELA

GALINHA

BANANA

MACACO

VACACHAVE

PANELA

PENTECORRIDA

TARTARUGACHAPÉU CORUJA

PINTO

JACARÉFAROFA

CAVALOPEIXE

GATO

PAPAGAIO

AZEITE DÚZIA

FRASE

CAPUZ

ZEBRA

CASA

AZUL

BRASA

RAIZ

NOZ

BUZINA

MESA

ANZOL

ZERO

BLUSA

FELIZ

GIZ

GÁS

ROSA

BRASIL

papagaio

macacotubarão

dragão

tucano

vaca jibóiaperiquito

girafa

tatudinossauro

zebrafocamico

ovelha

bem-te-viminhoca

´ Riscar, no quadro ao lado, as pala-vras onde aparecem:– GA, com lápis vermelho,– FA, com lápis azul,– PA, com lápis preto,– CHA, com lápis verde,– BA, com lápis amarelo,– DA, com lápis marrom.

ra; o mesmo acontece entre as pala-vras. Especialmente no quadro-de-giz,o professor deve cuidar para que fiqueum espaço adequado entre as palavras,principalmente nas séries do 1o ciclo. Istoevita que as crianças que estão mais

µ Copiar, na coluna 1, as palavrascom a letra Z e, na coluna 2, as coma letra S.

µ Ler com atenção os nomes dos ani-mais, no quadro.

Passar o lápis vermelho por cimadas letras com haste que sobe (as-cendente); o lápis azul, das com has-te que desce (descendente); o lápisverde, das com haste que sobe edesce e o lápis laranja por cima dasletras que chamamos de pequenas.

1.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

2.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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Disgrafia Registro de dados

Aspectosobservados

Alunos

Formad aletra

Unifor-midade Letras Palavras Frases Pará-

grafos

Liga-mentos

Incli-nação

Observações

Espaçamento

...

FICHA PARA COLETA DE DADOS__________

tendência à leitura de uma palavra porpartes, simulando diferentes palavras.Em se tratando de crianças que lêem oque escrevemos no quadro-de-giz ou emfolhas xerografadas, a nossa omissão deligamentos pode concorrer para a ilegi-bilidade. O aluno, geralmente, escrevecomo o professor ensina.

InclinaçãoA letra cursiva de uma pessoa des-

tra se apresenta ligeiramente inclinadapara a direita. Isto favorece a leitura.

A inclinação da letra pode dependerda posição que se adota para escrevermas, essencialmente, depende da posi-ção em que se coloca o papel onde vai-se escrever. Um aluno sentado de fren-te para sua mesa deverá colocar a folhade papel ou a de seu caderno levementeinclinada para a esquerda. Desse modo,a letra sairá ligeiramente inclinada paraa direita. Quanto maior a inclinação dopapel, à esqueda, maior a inclinação deletra à direita.

Crianças que escrevem com a mãoesquerda deverão inclinar o papel paraa direita.

Outro aspecto a ser observado é apassagem de um sistema de escrita (le-tra de forma) para outro (letra cursiva),por exemplo. É preciso realizar um tra-balho bem planejado, de comum acor-do com os alunos, de modo sistemáticoe cuidadoso.

A letra cursiva exige maior esforçomental e físico da criança porque apre-senta complexidade de movimentos.

De preferência, o professor deveprocurar realizar um atendimento indi-vidualizado, atento às dificuldades quepoderão surgir, incentivando todos osalunos, em geral, e cada um, em parti-cular, para que se evitem sérios proble-

mas posteriormente.O uso da caligrafia, considerada

obsoleta e antipedagógica pelos de-savisados e indicada pelos mais moder-nos autores, ocupa papel relevante, hojeem dia. Visa atender às atuais exigênciasde clareza, legibilidade e rapidez, justifi-cando-se, portanto, sua presença em salade aula, nas atividades escolares.

Para que o professor possa identifi-car, com mais segurança, crianças comdisgrafia, em sala de aula, apresentamosalguns indicadores:• rigidez no traçado – o aluno pressionademasiado o lápis contra o papel;• relaxamento gráfico – o aluno pressio-na debilmente o lápis contra o papel;• impulsividade e instabilidade no tra-çado – o aluno demonstra descontroleno gesto gráfico; o traçado é impulsi-vo, apressado, confuso, com a escritairregular e instável;• lentidão no traçado – o aluno demons-tra um traçado arrastado, lento, tornan-do evidente um grande esforço de apli-cação e controle;• dificuldades relativas ao espaçamento– o aluno deixa espaço irregular (pe-queno ou grande demais) entre letras,palavras; não respeita margens; amon-toa letras;

• dificuldades relativas à uniformidade– o aluno escreve com letras grandesdemais (macrografia) ou pequenas de-mais (micrografia) ou mistura ambas;mostra desproporção entre maiúsculase minúsculas e entre as hastes;• dificuldades relativas à forma das le-tras, aos ligamentos e à inclinação – oaluno apresenta deformação no traça-do das letras; evidencia falta de liga-mentos entre as letras; inclina-as de-masiadamente para a esquerda, para adireita ou para ambas as direções.

Com base nestas informações, o pro-fessor poderá fazer um diagnóstico daspossíveis dificuldades deseus alunos, fa-zendo o registro de suas observações naFicha para Coleta de Dados que su-gerimos no quadro acima.

Uma análise cuidadosa dos dadosapresentados pela ficha oferecerá aoprofessor as melhores condições paraa elaboração de um plano de ativida-des para sanar ou minimizar os pro-blemas detectados.

Vários exercícios podem ser realiza-dos em parceria com outros professores(Educação Física, Arte, por exemplo),para o desenvolvimento das habilidadesmotoras, do esquema corporal, das per-cepções. Outros, como os que apresen-tamos neste texto, deverão ser realiza-dos em sala de aula, com todos os alu-nos. Certamente eles serão beneficiados.

Inúmeras atividades relacionadas aoerro pedagógico devemser oportunizadasàs crianças, especialmente aquelas vol-tadas à correção de possíveis dificulda-des de espaçamento (entre letras, pala-vras, frases) e de ligamentos que podemvir a prejudicar sensivelmente a compre-ensão textual quando se realiza a leitura.Vejamos a seguir alguns exemplos:

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oP

a oaBh

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a

~

l

Escrever o nome do palhaço também em letrade forma.

— — — — —

2.

Separar as palavras, formando uma frase relativa à cena.

Obedeçaaossinaisdetrânsito.

.................................................................................

Se, após a realização de um programabemplanejado para sanar ou minimizar osproblemas, o professor observar que al-guns alunos ainda permanecem com difi-culdades, deverá encaminhá-los a pes-soas especializadas, a quemcompeteotra-balho de reeducação da linguagem.

BIBLIOGRAFIA

CAGLIARI, L. C. Alfabetização & lingüísti-ca. São Paulo: Scipione, 1989.

FERREIRO, E.; PONTECORVO, C.; MOREI-RA, N. Ribeiro; HIDALGO, I. Garcia. Caperu-cita Roja aprende a escribir: estudios psico-

lingüísticos comparativos en tres lenguas. Bar-celona: Gedisa, 1996.

KATO, Mary A. (org.). A concepção da escritapela criança. 2. ed. São Paulo: Pontes, 1992.

TEBEROSKY, A.;TOLCHINSKY, Liliana. Másallá de la alfabetización. Buenos Aires:Santillana, 1995.

g

cd s

z

n m

x

Ajudar o Palhaço Bolão a retirar da cartola palavras quecomeçam com as letras indicadas.

c ...................................... s ......................................

z ..................................... m ....................................

g ..................................... n .....................................

x ..................................... d .....................................

6.

Com as letras e os sinais gráficos dosbalões, formar duas palavras que iden-tifiquem o personagem do desenho:

— — — — — — — — — — — —.

1.

Formar outras palavras com as letras e sinais gráficos dosbalões.

.....................................................................................

3.

4.

Observar atentamente a figura ao lado.

Juntar as letras para formar as palavras de uma frase relativa à cena.

P r e c i s a m o s a p r e n d e r a a t r a v e s s a r a s r u a s .

......................................................................................................

5.

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