DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO...

30
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETA Existe água doce suficiente para satisfazer as necessidades do planeta? Luís Nunes (090501088), João Fernandes (090501105), Jorge Cardoso (090501078), Jorge Parente (090501075), Patrícia Almeida (090501064) e Tiago Bettencourt (090501121); CIV 209 Relatório submetido para satisfação parcial do PROJECT FEUP Supervisor: Professor Doutor Cheng Chia-Yau Monitor: Rúben Guedes OUTUBRO DE 2009 RESUMO

Transcript of DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO...

Page 1: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

DISPONIBILIDADE DE ÁGUA

DOCE NO PLANETA Existe água doce suficiente para satisfazer as

necessidades do planeta?

Luís Nunes (090501088), João Fernandes (090501105), Jorge Cardoso (090501078), Jorge Parente (090501075), Patrícia

Almeida (090501064) e Tiago Bettencourt (090501121); CIV 209

Relatório submetido para satisfação parcial do PROJECT FEUP

Supervisor: Professor Doutor Cheng Chia-Yau

Monitor: Rúben Guedes

OUTUBRO DE 2009

RESUMO

Page 2: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

2

Este relatório descreve de que forma a água doce está distribuída no planeta Terra quantitativa e

espacialmente.

O globo terrestre é essencialmente constituído por água, no entanto, apenas uma pequena parte

desta está pronta a ser utilizada pelo Homem. Como se não bastasse essa quantidade não está

distribuída uniformemente pela superfície terrestre, dado que existem locais onde a necessidade

de água é muito superior à quantidade disponível, como acontece nos grandes aglomerados

populacionais.

Os padrões climáticos de alguns países, definem, também, situações extremas de escassez de

água (secas).

Por essas razões estão a ser tomadas medidas a nível internacional para combater o “stress

hídrico”, com o objectivo de conseguir uma melhor gestão, valorização e aproveitamento deste

recurso na agricultura, na indústria e no uso doméstico.

A partilhada de águas por diferentes países poderá estar na origem de problemas. Os recursos

hídricos comuns que são explorados indevidamente podem gerar conflitos.

A água doce disponível poderá sofrer um decréscimo acentuado em meados de 2020. A sua

distribuição não é uniforme e é necessária uma exploração sustentável deste recurso.

PALAVRAS CHAVE: água, disponibilidade, quantidade, medidas, decréscimo

Page 3: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

3

AGRADECIMENTOS

O grupo de trabalho pretende agradecer ao Professor Cheng Chia-Yau e ao monitor Rúben

Guedes pela colaboração com material de pesquisa, pela disponibilidade apresentada, pelos

esclarecimentos prestados e por toda a dedicação. Todo o grupo concorda que ambos foram, de

alguma forma, essenciais para a realização deste trabalho.

Page 4: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

4

ÍNDICE

1. Introdução (Págs. 5 e 6)

2. Objectivo (Pág. 7)

3. Definições (Pág. 8)

4. Usos, Consumos e Necessidades de Água (Pág. 9)

5. Quantificação Global da Água (Pág. 10 e 11)

6. Distribuição da Água a nível Mundial (Pág. 12 e 13)

7. Catástrofes Naturais: Problemas relacionados com a quantidade de água disponível (Págs. 14

e 15)

7.1. Secas

8. A Água e as Actividades Socioeconómicas (Págs. 16 à 19)

8.1. Agricultura

8.2. Indústria

8.3. Uso Doméstico

8.4. Evolução do Uso Global da Água

9. Soluções para a Escassez de Água (Págs. 20 à 24)

9.1. Dessalinização

9.1.1. Os processos:

9.1.1.1. Destilação

9.1.1.2. Osmose Inversa

9.1.2. Exemplos

9.2. Outras Soluções

10. Partilha de Recursos Hídricos – Origem de Conflitos (Pág. 25 à 27)

11. Conclusão (Pág. 28)

13. Referências Bibliográficas (Págs. 29 e 30)

Page 5: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

5

1

INTRODUÇÃO

A história da civilização humana está interligada com a capacidade que os humanos têm vindo a

desenvolver ao longo dos tempos para manipular a natureza, nomeadamente os cursos de água

doce.

O sucesso das primeiras actividades agrícolas, por exemplo, dependia de factores climatéricos

como a chuva e o escoamento natural. Os avanços que mais tarde surgiram na engenharia

trouxeram simples barragens e canais de irrigação, o que permitiu um maior sucesso na

produção de culturas e mais estações de crescimento.

A expansão das zonas urbanas exigiu o desenvolvimento de condutas e aquedutos mais

sofisticados, para levar a água aos utilizadores, e de sistemas inovadores para remover os

resíduos [1,2].

Durante a revolução industrial e a explosão demográfica do século XIX e XX, a demanda de

água aumentou de forma dramática. Foram levados a cabo dezenas de milhares de projectos de

engenharia para controlar as cheias, proteger e assegurar o fornecimento de água potável para

consumo e irrigação.

Com estes melhoramentos nas redes de esgotos e água, doenças como a cólera e a febre tifóide

foram sendo erradicadas nas nações mais industrializadas.

Grandes cidades sobrevivem, ainda, com água trazida de centenas até milhares de quilómetros

de distância. Por isso, se pode dizer que a produção de alimentos para atender às necessidades

de mais de 6 biliões de pessoas está agora dependente, em grande parte, dos sistemas de

irrigação artificial [3].

Uma ampla variedade de factores está, no entanto, a conduzir a uma mudança na construção de

infra-estruturas para o uso da água, sendo o mais importante a tomada de consciência dos

verdadeiros custos económicos, sociais e ambientais dessas infra-estruturas.

Como resultado, os especialistas na gestão dos recursos hídricos, estão próximos de uma

mudança fundamental na maneira de “tratar” o consumo de água, não cedendo às pressões sobre

este recurso e garantindo o atendimento às necessidades humanas.

Page 6: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

6

São ainda necessárias em muitas partes do mundo novas instalações de rentabilização da água, e

as infra-estruturas existentes devem ser mantidas para perpetuar o fluxo de benefícios que delas

advêm.

Estão, portanto, a começar a surgir novas abordagens para o planeamento e gestão das águas

que, até à data têm melhorado o uso sustentável da água [4].

Page 7: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

7

2

OBJECTIVO

Ao longo deste relatório serão apresentadas um conjunto de pesquisas, devidamente tratadas,

que têm como principal objectivo a resposta a uma pergunta importantíssima: Há água doce

suficiente para satisfazer as necessidades humanas deste planeta?

Para tal será referida a quantidade de água doce existente no planeta, bem como as quantidades

utilizadas em cada um dos diferentes sectores económicos, a nível mundial. Será caracterizada a

distribuição da água a nível mundial e irá ser mencionada, e devidamente descrita, a catástrofe

natural ligada à total escassez de água. Serão, ainda, apresentadas algumas soluções para que se

possa tentar atenuar a diminuição da disponibilidade de água doce no mundo, fazendo referência

aos conflitos entre nações que advêm dessa mesma questão.

Page 8: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

8

3

DEFINIÇÕES

Água: Substância (H2O) líquida e incolor, insípida e inodora, essencial para a vida da maior

parte dos organismos vivos (…) [5];

Água Doce: Água do rio, lago, nascente, que não contém cloreto de sódio, em oposição à água

do mar, que é salgada [5];

A água é, portanto, o recurso finito existente no mundo que mais falta fará aos seres vivos se,

um dia, deixar de existir.

Page 9: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

9

4

USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

O termo “usos” é considerado como o termo mais genérico onde se incorporam a utilização de

superfícies e de volumes de água e a alteração das características da mesma.

Os “consumos” aqui referidos são os volumes efectivamente retirados dos meios hídricos e que

são os utilizados nas actividades humanas, incluindo neles as perdas associados aos sistemas de

captação, tratamento, transporte, armazenamento e distribuição da água.

As “necessidades” de água actuais são entendidas como sendo os volumes que deveriam estar

disponíveis quando e onde necessários para satisfazer a procura actual e certa. São, portanto,

iguais à soma dos consumos e da procura, traduzindo-se esta última pelos valores dos consumos

que se registariam no mundo inteiro se a água estivesse disponível no mundo inteiro em

condições idênticas à que hoje é consumida, por exemplo, em Portugal [6].

Page 10: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

10

5

QUANTIFICAÇÃO GLOBAL DA ÁGUA

Fig. 1 – Distribuição espacial e quantitativa da água no planeta (The United Nations World Water Development Report,

2003)

O bloco mais à esquerda evidencia que aproximadamente 97% da água existente no nosso

planeta se encontra contida nos oceanos.

Os restantes 3% surgem no bloco central. Destes, 77% está nos glaciares e icebergs e 22%

constituem a água subterrânea.

Os restantes 1% (bloco da direita) distribuem-se desta forma: 61% está nos lagos, 39% na

atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios.

Fig. 2 – Distribuição de água na Terra (UNESCO, 1978)

Page 11: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

11

A água doce pronta a utilizar pelo homem representa apenas 1,7% de toda a água, 24,2 milhões

de km cúbicos (excluindo as reservas de gelo e calotes polares).

A água disponível reparte-se desigualmente pelas regiões [7].

Page 12: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

12

6

DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA A NÍVEL MUNDIAL

A água doce disponível parece, à primeira vista, ser suficiente para satisfazer as necessidades

básicas para a sobrevivência humana. Na verdade, apesar do volume exacto de água necessário

para satisfazer as necessidades humanas ainda ser assunto de debate, estima-se que, não há água

potável suficiente no planeta para suportar cerca de 20 biliões de pessoas (actualmente existem

pouco mais de 6 biliões de humanos no mundo inteiro). Ora, se somos bastante menos do que os

tais 20 biliões seria de esperar que não houvessem problemas relativamente às necessidades de

água no mundo [8].

Fig. 4 – Percentagem de Populção Vs Percentagem de Água por Continente (The United Nations World Water Development Report, 2003)

Percentagem de água existente num determinado continente;

Percentagem de população existente num determinado continente;

Page 13: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

13

«Com 31% dos recursos hídricos do mundo, a América Latina tem 12 vezes mais água por

pessoa que o sul da Ásia. Países como o Brasil e o Canadá têm mais água do que aquela que

podem consumir. Por outro lado, alguns países do Médio Oriente têm muito menos água do que

a que necessitam.» (Dr. Rajendra K. Pachauri)

«Mais de 1.2 biliões de asiáticos, 250 milhões de africanos e 81 milhões de latino-americanos

irão ser expostos ao “stress hídrico” a partir de 2020.» (Dr. Rajendra K. Pachauri)

Na Ásia, onde a água foi sempre tomada como um recurso abundante, a sua disponibilidade

diminuiu entre 40 a 60 por cento desde 1955 até 1990. Os, pouco mais de, seis biliões de

pessoas que existem no planeta Terra, usam cerca de 30% da água existente nos recursos

hídricos disponíveis no mundo inteiro. No ano de 2025 esse valor pode chegar aos 70% [12].

Recorrendo à figura 4 e tendo em conta as frases acima transcritas, facilmente se percebe

desigual distribuição dos recursos hídricos a nível mundial. Na imagem vê-se que, nos

continentes africano, asiático e europeu existe uma maior percentagem de população, do que de

água (havendo como que uma maior procura do que oferta de recursos hídricos). Sendo que a

maior discrepância de valores se verifica na Ásia. Já em todo o continente americano e na

Oceânia se verifica que existem percentagens de água superiores à percentagem de população

existente nessas regiões.

Page 14: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

14

7

CATÁSTROFES NATURAIS – PROBLEMAS RELACIONADOS

COM A QUANTIDADE DE ÁGUA DISPONÍVEL

Existem regiões que, graças a padrões climáticos sazonais, não possuem água suficiente quando

mais precisam (secas) ou então sofrem inundações que podem chegar a causar mortes [8]. A

Índia, por exemplo, recebe 90% da sua precipitação anual durante o Verão, que vai desde Junho

a Setembro. Para os outros oito meses o país recebe apenas uma gota [9].

Este tipo de problemas acompanham o, anteriormente referido, da distribuição não uniforme dos

recursos hídricos. Agravando, assim, ainda mais a situação da disponibilidade de água a nível

global.

Para se perceber melhor as características das secas, procedeu-se à sua caracterização:

7.1. SECAS

As secas são caracterizadas pela escassez de água, geralmente com períodos extremos de

reduzida precipitação, com efeitos negativos nos ecossistemas e nas actividades

socioeconómicas.

Distinguem-se das restantes catástrofes uma vez que o seu desencadeamento se processa de

forma mais imperceptível, a sua progressão verifica-se de forma mais lenta e a sua ocorrência

arrasta-se por um maior período de tempo.

As secas são, normalmente, detectadas quando já estão efectivamente instaladas e quando já se

fazem sentir as suas consequências. Dizem-se, ainda, fenómenos difíceis de prever pois iniciam-

se sem que nenhum fenómeno climático ou hidrológico as anuncie.

A ausência prolongada de precipitação não determina obrigatoriamente a ocorrência de uma

seca. Se a situação antecedente de humidade no solo for suficiente para não esgotar a

capacidade de suporte dos ecossistemas agrícolas, ou se existirem medidas estruturais com

capacidade de armazenamento superficial ou subterrâneo suficiente para colmatar as

Page 15: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

15

necessidades de água indispensáveis às actividades socioeconómicas, não se considera estar

perante uma seca.

As condições para que uma seca se instale estão relacionadas, por exemplo, com o incorrecto

ordenamento de território, com o facto de existirem poucas infraestruturas de armazenamento de

água de qualidade, com a sobreutilização das reservas hídricas, com uma gestão incorrecta e

inconsciente do consumo de água e até com a desflorestação incontrolada do território [10].

Apresentando-se como uma situação extrema da existência de água (através de formas naturais)

numa determinada região, as secas não têm qualquer aspecto positivo sobre a vida do Homem,

uma vez que, como referido anteriormente, ambas trazem consigo destruição, tragédia,

sofrimento e, por vezes, até mortes.

Page 16: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

16

8

A ÁGUA E AS ACTIVIDADES SOCIOECONÓMICAS

Nos locais onde a água (ainda) existe em abundância a mesma é utilizada para uso doméstico,

industrial, irrigação, produção de energia, garantia do bom funcionamento dos ecossistemas,

recreio e ainda é usada para apagar incêndios (8).

São apresentadas, em seguida, algumas figuras relativas ao consumo de água na agricultura,

indústria e uso doméstico, a nível mundial:

8.1. AGRICULTURA

Fig.5 - Percentagem de água utilizada na agricultura a nível mundial (World Resources 2000-2001, People and Ecosystems: The Fraying Web of Life, World Resources Institute, (WRI), Washington DC, 2000)

Com a análise da figura pode-se, facilmente, concluir que na generalidade, são os países do

hemisfério sul que usam mais água para fins agrícolas, situando-se a percentagem explorada

para esses fins entre 31 e 100%. É concretamente na África e no sul da Ásia que essas

percentagens são mais altas. O que facilmente se percebe, tendo em conta que nesse hemisfério

se encontram os países menos desenvolvidos, onde a agricultura ainda é o grande meio de

subsistência de grande parte da população.

Page 17: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

17

8.2. INDÚSTRIA

Fig.6 - Percentagem de água utilizada na indústria a nível mundial (World Resources 2000-2001, People and

Ecosystems: The Fraying Web of Life, World Resources Institute, (WRI), Washington DC, 2000)

No que toca ao uso da água na indústria é a Europa central, o norte asiático e a América do

Norte que lideram o seu consumo. A África, o sul asiático e a América do Sul apresentam uma

percentagem não superior a 32%, pois a maioria dos países que englobam não possuem uma

indústria suficientemente desenvolvida para exigir um consumo elevado de recursos hídricos.

8.3. USO DOMÉSTICO

Fig.7 - Percentagem de água utilizada para o uso domestic a nível mundial (World Resources 2000-2001, People and Ecosystems: The Fraying Web of Life, World Resources Institute, (WRI), Washington DC, 2000)

Page 18: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

18

É na América Central, no centro de África e na Gronelândia que há uma maior exigência de

água para fins domésticos.

Pode-se então, dizer que, em geral, nos países desenvolvidos há uma maior necessidade de água

para a indústria, ao passo que nos países em vias de desenvolvimento, o mesmo recurso é mais

usado para fins agrícolas e para uso doméstico.

8.4. EVOLUÇÃO DO USO GLOBAL DA ÁGUA

Fig. 8 – Variação da captação, do consumo e desperdício de água, a nível global, relativamente à agricultura, uso doméstico, indústria e reservas de água (Igor A. Shiklomanov, State Hydrological Institute (SHI, St. Petersburg) and United Nations Educational Scientific and Cultural Organization (UNESCO, Paris), 1999)

Com a análise da figura 6 conclui-se que tanto a captação (“withdrawal” nos gráficos) como o

consumo de água (“consumption” nos gráficos) têm vindo a aumentar em todos os sectores,

sendo a primeira (captação) sempre superior ao consumo, principalmente no que toca ao uso

doméstico. O que significa que a quantidade de água que é “retirada” das torneiras e afins é

superior àquela que é, de facto, gasta para as reais necessidades humanas. Sendo, assim, o factor

desperdício (“waste” no gráfico) muito elevado.

No sector agrícola, tanto a retirada como o uso de água aumentaram consideravelmente, tendo o

primeiro aumentado de aproximadamente 450 para cerca de 2600 km cúbicos, entre 1900 e

2000, sendo este sector o que mais recursos hídricos utiliza.

No que respeita à indústria, podemos constatar que até 2025 se prevê um aumento mínimo do

consumo de água. Mas prevê-se um aumento brutal até ao mesmo ano, da sua captação e

desperdício, algo que é muitíssimo grave.

Quanto às reservas de água, constata-se que se “perdia” uma quantidade relativamente pequena,

por evaporação (“evaporation” no gráfico), até 1950, tendo essa quantidade aumentado para

Page 19: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

19

mais do dobro nos 25 anos seguintes. No futuro prevê-se que esta tendência se agrave ainda

mais, divido, por exemplo, ao aquecimento global.

De facto, o desperdício de água tem aumentado muito nos últimos 100 anos em todos os

sectores socioeconómicos, e esta, é, com certeza, uma das razões que tem contribuído para a

crescente diminuição da disponibilidade de água no planeta Terra. Situação essa que se poderá

agravar ainda mais, tendo em conta as previsões do gráfico da UNESCO (figura 8) para o ano

de 2025.

Page 20: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

20

9

SOLUÇÕES PARA A ESCASSEZ DE ÁGUA

Não há praticamente nenhum substituto para a água doce, tanto para as necessidades básicas de

sobrevivência humana como para o desenvolvimento económico.

Praticamente todo o desenvolvimento económico parece ter um preço ambiental associado, e a

água doce é talvez o mais sensível e afectado dos recursos.

O aumento das actividades humanas exige, então, mais água doce e pode resultar numa má

utilização e consequente poluição da mesma. Devemos, portanto, ter em atenção a protecção,

conservação e sustentabilidade ambiental, a longo prazo, do nosso finito recurso que é a água.

Tornou-se claro que é geralmente menos dispendioso solucionar a má utilização da água antes

de a poluir ou degradar, em vez de esperar até que o dano ocorra [8].

A poluição dos rios e lagos reduz reservas de água doce acessível. A cada ano, cerca de 450 km

cúbicos de resíduos de esgotos são despejados nos rios, riachos e lagos. Para limpar e

desinfectar esta água suja antes que possa ser utilizada novamente, são necessários outros 6000

km cúbicos de água limpa. O que dá muito que pensar! E o que deverá fazer com que todos

ajam em conformidade com o problema aqui exposto. [9].

Para evitar abusos contra o limitado recurso em causa é necessária a gestão do mesmo. Essa

gestão compreende uma mistura complexa de factores científicos, técnicos e de engenharia, por

um lado, e factores sociais, económicos e jurídicos por outro [8].

A construção de infra-estruturas, como albufeiras e aquedutos, para melhor gerir os recursos

hídricos existentes a nível mundial, podem levar anos a serem construídas e requerem

planeamentos muito rigorosos por parte dos técnicos. Além disso, estas são obras que têm

custos elevados não só a nível económico, mas também a nível ecológico. Por outro lado, não

fazer os investimentos necessários pode gerar problemas ainda mais severos de necessidade de

água. O grande desafio que os planeadores responsáveis por estas áreas enfrentam é conseguir

um equilíbrio entre os riscos e benefícios deste tipo de acções solucionadoras [13]. Entre

muitas, tomou-se em especial atenção as seguintes:

Page 21: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

21

9.1. DESSALINIZAÇÃO

Este processo traduz-se, como o próprio nome indica, pela dessalinização das águas com

elevado conteúdo de sal (água do mar) para obter água potável.

Existem diversos processos físico-químicos e biológicos que permitem transformar a água de

modo a torná-la própria para consumo, sendo que, os processos de dessalinização mais usados

recorrem ao método da destilação ou ao da osmose inversa [14].

A destilação consiste em ferver a água salgada, colher o vapor de água e transformá-lo

novamente em líquido, correspondendo esta última porção à água potável [14].

Na osmose inversa, bombas de alta pressão sugam a água salgada através de filtros que

capturam as partículas de sais e minerais, deixando passar apenas a água “pura” [14].

9.1.1. OS PROCESSOS 9.1.1.1.DESTILAÇÃO

Fig.10 – Dessalinização da água do mar – Processo de destilação

(http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?Itemid=413&id=223&option=com_content&task=view)

Como se pode ver na figura 10, a água é aquecida e bombeada para um tanque a baixa pressão

onde se vaporiza repentinamente. O vapor que se forma é condensado e retirado depois como

água pura. O líquido não vaporizado segue para o tanque seguinte.

O processo é simples, mas o grande problema é que os tanques ocupam áreas muito extensas.

[16]

Page 22: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

22

9.1.1.2.OSMOSE INVERSA

Fig. 11 – Dessalinização – Método da Osmose Inversa

(http://www.brasilescola.com/quimica/dessalinizacao-agua.htm)

Como o próprio nome indica, este processo (como se pode ver na figura 9) é o inverso da

osmose natural.

A água salgada é, aqui, retirada do mar e filtrada, sendo a seguir introduzida numa tubulação,

que está dividida por uma membrana semipermeável (membrana cujas fibras contêm poros

microscópicos, sendo que todo o sal e impurezas presentes na água ficam retidas nesses poros),

e sujeita a pressão que faz com que agua “pura” passe para o outro lado da membrana [14].

Estes processos poderiam ser, então, utilizados para tornar potáveis grandes quantidades de água

do mar. Tornando a quantidade de água própria para consumo bastante maior, podendo

diminuir, assim, a escassez de água no mundo inteiro.

Page 23: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

23

9.1.2.EXEMPLOS

«No Japão (Instituto de pesquisa “Haman Technology”), existe um equipamento que permite a

produção de água potável através da água do mar (…).

É um sistema essencialmente automático, ao contrário das técnicas de membranas ou processos

de osmose reversa, cuja operação é mais complicada e com custos mais elevados. O resultado é

um processo de dessalinização de água do mar com um custo de apenas 1/5 dos processos

convencionais, utilizando um equipamento com um 1/3 do tamanho. A nova técnica de

destilação a pressão reduzida, permite produzir 3,7 litros de água potável para cada 10 litros de

água introduzida no sistema. (…) O equipamento possui um descompressor compacto, que

opera por meio de um sistema de multi-estágios numa superfície de evaporação tridimensional.

A água flui sem a necessidade de bombeamento, apenas pela diferença de peso.»

In “Jornal de Notícias”, 22-08-2005

“Porto Santo tira do mar água que falta na ilha”

«O abastecimento de água potável da ilha do Porto Santo é feito através de uma central

dessalinizadora. Com um clima temperado quente e seco, o problema da água sempre foi uma

preocupação constante das entidades oficiais. Como os recursos hídricos naturais da ilha não

eram suficientes, foi decidido construir uma central que filtra a água do mar. Um processo

considerado caro, mas reconhecido como última alternativa possível para uma ilha onde vivem

permanentemente cerca de cinco mil habitantes, mas que, no Verão, tem uma população

superior a 25 mil pessoas. Foi a previsão de fluxos turísticos que determinou, na década de

setenta, os estudos para esta opção, dada a escassez de recursos hídricos, baseados "nalgumas

nascentes de pequeno caudal e algumas noras de baixa produção".»

In “Jornal de Notícias”, 22-08-2005

«Apanhados numa nova e prolongada seca e alegadamente traídos pelos atrasos em

investimentos no aproveitamento de reservas de águas na região algarvia, autarcas e gestores de

água lançaram a ideia de que uma dessalinizadora poderia ser uma alternativa rápida, viável e

estruturante. Além do exemplo que vem de Espanha, onde há mais de 900 unidades de várias

dimensões e cresce a sua capacidade para vender centrais, o único caso nacional - a central de

Porto Santo - parece ser estimulante.

Mas a crueza dos números e a experiência não deixam de ser uma advertência séria. Trata-se de

uma solução disponível em zonas carenciadas e de risco "mas não se pense que fica gratuita ou

barata", acentua Adriano Bordalo e Sá, professor de Ecologia do Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar e membro do Conselho Nacional da Água. Desde logo, por causa da

electricidade que consome, justifica.

Cada metro cúbico de água custa, à saída da unidade da dessalinizadora de Porto Santo, 90

cêntimos (incluindo custos de amortização). Deste valor, 38 cêntimos são devidos à factura de

energia, por causa das pressões usadas na unidade. Tais custos ficam muito acima dos

associados a fontes "tradicionais”. (…)

Por outro lado, a produtividade das unidades é problemática. Do caudal captado, apenas 35 a

40% são transformados em água potável. (…)»

In “Jornal de Notícias”, 22-08-2005

Page 24: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

24

Assim, quer em situações extremas ou não, acredita-se que esta alternativa de fornecimento de

água potável deve ser aproveitada, mesmo tendo em consideração os seus elevados custos. Pode

ser que, ao haver mais investimentos, haja evolução tecnológica relativamente aos processos

usados e, talvez um dia, estes sejam menos dispendiosos, provocando uma maior adesão por

parte de todos os consumidores.

9.2. OUTRAS SOLUÇÕES

A boa gestão da água pode ainda estar relacionada com o quotidiano de cada um. Para

isso há que ter em mente as seguintes acções, que se podem tornar altamente revolucionadoras:

Tomar duche em vez de tomar banhos de imersão;

Fechar as torneiras sempre que não são necessárias ligadas;

Evitar o grande número diário de descargas dos depósitos de autoclismos;

Lavar roupa e louça com carga máxima e programas curtos;

Regar o jardim sempre ao final da tarde para evitar desperdícios a nível de evaporação;

Lavar o automóvel com um pano em vez de usar uma mangueira de água corrente [16].

Page 25: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

25

10

PARTILHA DE RECURSOS HÍDRICOS – ORIGEM DE CONFLITOS

Garantir recursos de água doce ambientalmente sustentáveis dentro de uma única nação já é

difícil o suficiente, tornando-se ainda mais difícil para águas partilhadas internacionalmente. As

relações podem ser particularmente difíceis se uma das nações não prestar atenção suficiente às

necessidades dos recursos hídricos do seu país [8].

Um imprudente consumo de água, a sua poluição e/ou a descarga de resíduos em águas

partilhadas com outros países podem estar na base de potenciais conflitos [8]. Veja-se alguns

exemplos:

Em 1960, a Síria tentou desviar de Israel os cursos de água do rio Jordão, motivando ataques

aéreos por parte dos israelitas contra as infra-estruturas que desviavam a água.

A guerra de 1967, no Médio Oriente, resultou no facto de Israel controlar todos os cursos de

água do rio Jordão, assim como a água subterrânea da margem ocidental.

Já mais recentemente, em 1986, a Coreia do Norte proclamou o plano da construção da maior

barragem hidroeléctrica no rio Han-gang, em Seul (Coreia do Sul). Este projecto tinha como

objectivo o fornecimento de energia eléctrica ao Norte, mas por outro lado era visto pela Coreia

do Sul como uma séria ameaça ao seu território: a destruição da dita barragem pela Coreia do

Norte e a libertação repentina do conteúdo dos seus reservatórios poderia arrasar grande parte da

cidade de Seul. O projecto da Coreia do Norte, devido às dificuldades políticas e económicas

que atravessou, permitiu à Coreia do Sul a construção de uma serie de represas e a verificação

das barragens em Seul, para defender a cidade contra qualquer potencial ameaça vinda do rio

Han-gang.

Estes e outros conflitos foram gerados por vários factores ligados ao uso da água,

nomeadamente:

Variabilidade das disponibilidades de água e incerteza relativamente à sua ocorrência,

em função das particularidades do ciclo hidrológico natural;

Disparidade no estado de desenvolvimento dos países que partilham cursos de agua. Os

países mais evoluídos conseguem aproveitar de modo muito mais eficiente a agua que

os menos desenvolvidos;

Page 26: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

26

Procura de segurança e auto-suficiência alimentar, principalmente nas regiões áridas e

semi-áridas (um dos principais problemas para algumas regiões é a insuficiência de

agua potável para produzir comida);

Escassez de recursos devido à excessiva procura e uso;

Diminuição da qualidade da água nos ecossistemas aquáticos, resultado das actividades

humanas;

Interdependência entre as várias utilizações da água;

A organização das nações não coincide com a geografia da água (enquanto que a Ásia

tem 60% da população mundial e apenas 36% da agua de escoamento, a América do Sul

tem 6% da população mundial e 26% da água de escoamento – figura 4).

Actualmente estão identificadas, a nível mundial, 261 grandes bacias hidrográficas, cujos cursos

de água cruzam as fronteiras políticas de dois ou mais Estados independentes, correspondendo a

cerca de 60% do escoamento global. É exemplo disso o rio Danúbio que atravessa 14 países.

A água deverá, deste modo, ser não só fonte de vida, mas também de integração regional,

prosperidade e segurança ambiental, não se transformando numa fonte de conflitos entre países

(obstáculo para a gestão eficiente dos recursos hídricos).

Tem-se procurado estabelecer as regras de acesso à água praticamente desde o início da

civilização. Estas regras foram consentidas pelos Estados e passaram a ser invocadas para

resolver diferendos sobre a utilização da água por aqueles que partilhem um mesmo curso de

água ou aquífero, constituindo uma forma de direito. No entanto, com a intensificação das

utilizações da água e sobretudo com o incremento da rejeição de águas residuais, as regras

foram sendo alteradas, de forma a garantir que diversos utilizadores de uma mesma região ou

bacia hidrográfica tivessem acesso à água e que esta fosse utilizada de forma eficiente, sem

causar danos significativos a outros utilizadores, como os provocados pela sua poluição.

A crescente preocupação ambiental foi sendo introduzida no Direito Internacional da Água,

desempenhando a sensibilidade económica e ecológica da água.

Actualmente, o Direito Internacional do Ambiente está centrado na protecção da água de acordo

com princípios de conservação e preservação da natureza, ecossistemas e valores estéticos. Por

sua vez, no Direito Internacional da Água foi reconfigurado o conceito de soberania, atribuído a

determinados Estados quanto ao seu direito de uso da água, substituindo-o por "direitos

soberanos", enquadrados e subordinados às políticas ambientais e à preocupação de que as

actividades exercidas no espaço jurisdicional não causem dano ao ambiente de outros Estados.

Sobressai assim o princípio de gestão partilhada do património comum da humanidade,

compatibilizando as normas destes dois Direitos Internacionais.

Page 27: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

27

Nas grandes Bacias Europeias, como a do Reno, já se cooperava, desde 1932, para a protecção

ambiental das águas internacionais. Na Bacia do Aral, partilhada por cinco estados

(Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão), estabeleceu-se um

acordo, em 1991, entre esses estados, aplicando o princípio da equidade na exploração dos

recursos comuns, de forma a resolver conflitos sobre as reservas de água partilhadas, assim

como os problemas crescentes da falta de água, desertificação e degradação ambiental.

Uma outra forma de facilitar a repartição eficiente e equitativa dos benefícios proporcionados

pelos recursos hídricos entre Estados que os compartilham, seria o estabelecimento de mercados

internacionais de água entre esses países e uma aceitação mútua de preços de água, baseados

nesses mercados, estando a ser criados instrumentos jurídicos para esse fim em termos

comunitários. Ressalva-se que os modelos de gestão da água deverão ser apropriados às

condições ambientais, políticas e culturais da região, não devendo restringir-se à busca de

maximização do valor económico da água (especialmente em sociedades desiguais, com

grandes segmentos de pobreza), mas antes resultar de uma construção contínua com

participação concertada de políticos, técnicos e cidadãos.

O Chile é um dos poucos países em desenvolvimento que encorajam o mercado de águas, sendo

mais activo nas regiões norte e central do país, onde a água é escassa e os custos de transacção

baixos.

«Nós vivemos num planeta onde a informação e as influências andam de um lado para o outro.

Se há uma interrupção da paz numa parte do globo, nenhuma outra parte está isolada disso.

Precisamos de olhar para o que acontece no mundo com algum grau de alarme. Estas influências

têm implicações muito perigosas para o resto do mundo. (…) Se não agirmos com urgência vão

haver, de certeza, conflitos e uma interrupção da paz.» (Dr. Rajendra K. Pachauri)

Com os exemplos acima apresentados facilmente se percebe a gravidade deste tipo de conflitos,

que para além de serem graves por serem simplesmente conflitos, tornam-se ainda mais graves

pelo facto de terem como base a disputa de um bem essencial à vida de todos, e não só de

alguns (a água). Cabe, portanto, a cada nação fazer a melhor gestão possível dos seus recursos

hídricos não deixando que questões políticas interfiram num assunto tão sensível como o tratado

(expondo os seus habitantes a situações de miséria e consequentes mortes causadas não só pela

guerra em si, mas também pela eventual falta de água).

Page 28: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

28

11

CONCLUSÃO

Existe, por agora, água doce suficiente para satisfazer as necessidades do planeta. Obviamente

com mais facilidade nalgumas regiões do que noutras, devido à referida distribuição desigual

dos recursos hídricos (evidente na figura 4) e, em parte, devido ao subdesenvolvimento de

algumas regiões do globo no que toca a instalações de saneamento básico e afins.

Ora, pelos factos acima apresentados, o foco do planeamento e gestão das águas está a mudar

lentamente, a partir do desenvolvimento dos sistemas de abastecimento de água e através de

uma análise mais integral de como e porquê os seres humanos usam a água.

Por necessidade de atingir um melhor entendimento acerca do uso da água, pode ser atingido o

aumento da produtividade global das actividades humanas, o que reduzirá o uso dos recursos

hídricos e as implicações negativas desse mesmo uso. Contudo o uso da água ainda é pouco

compreendido e inadequadamente medido e relatado.

Problemas como os que existem com a recolha de dados prejudicam os esforços para melhorar a

correcta gestão da água e o seu uso eficiente. No entanto, tem-se verificado uma corrente de

mudança de pensamento a nível económico, político e ambiental, já que a gestão actual dos

recursos hídricos revela custos evidentes nestas três últimas áreas.

Existe uma crescente experiência que mostra como a melhoria da eficiência do uso da água

pode oferecer o mais rápido e mais limpo abastecimento de novas fontes, reduzindo as

exigências globais de água por sector.

Tome-se em seguida, e por fim, atenção à seguinte citação: «Não há nenhum problema tão

crucial para a sociedade como o futuro da água no planeta. (…) Temos muito pouco tempo.»

(Dr. Rajendra K. Pachauri)

Através da reflexão, da tomada de decisões em consciência, das inovações tecnológicas e dos

eventuais investimentos por parte de entidades capazes, espera-se uma gestão inteligente dos

recursos hídricos que existem no mundo inteiro. Espera-se que os consumidores “usem sem

gastar”. E, acima de tudo, espera-se que essa mesma gestão inteligente seja uma ferramenta

eficaz no sistema sustentável de água e assegure, desse modo, a qualidade e disponibilidade dos

recursos hídricos para as TODAS as gerações futuras. No fundo, resta-nos ter esperança.

Esperança essa que deve ser, mais do que nunca, activa. Muito activa! [4]

Page 29: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

29

13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – Crouch DP. 1993. Water Management in Ancient Greek Cities. New York: Oxford Univ.

Press. Quoted in Peter H. Gleick. 2003. Water Use. Annu. Rev. Resour. Oakland, Californica:

Pacific Institute. 28: 276

2 – Landels JG. 2000. Engineering in the Ancient World. Berkeley, CA: Univ. Calif. Press.

Quoted in Peter H. Gleick. 2003. Water Use. Annu. Rev. Resour. Oakland, Californica: Pacific

Institute. 28: 276

3 – World Common. Dams. 2000. Dams and Development: A New Framework for Decision-

Making. London: Earthscan. Quoted in Peter H. Gleick. 2003. Water Use. Annu. Rev. Resour

Oakland, Californica: Pacific Institute. 28: 276

4 – Peter H. Gleick. 2003. Water Use. Annu. Rev. Resour. Oakland, Californica: Pacific

Institute. 28: 276

5 – Instituto Antônio Houaiss de Lexigologia. 2005. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Portugal: Temas e Debates Edições.

6 – Uso, consumos e necessidades de água. Plano Nacional da Água.

7 – F. Judite, M. Carla. Água subterrânea. Conhecer para Proteger e Preservar.Impressão:

GrafiTime

8 – Jorge Illueca and Walter Rast.1999. Precious, finite and irreplaceable.

http://ourplanet.com/imgversn/83/rast.html (accessed September 25, 2009)

9 – Don Hinrichsen.2008. Freshwater: lifeblood of the planet.

http://peopleandplanet.net/doc.php?id=671&section=14 (accessed September 25, 2009).

10 – Autoridade Nacional de Protecção Civil. O que é?.

http://www.prociv.pt/PrevencaoProteccao/RiscosNaturais/Secas/Pages/Oquee.aspx (accessed

October 4, 2009)

Page 30: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA DOCE NO PLANETApaginas.fe.up.pt/~projfeup/cd_2009_10/relatorios/R209.pdf · atmosfera e solos, e menos de 0,4% corresponde à água dos rios. Fig. 2 – Distribuição

Disponibilidade de Água Doce

30

11 – Autoridade Nacional de Protecção Civil. O que é?.

http://www.prociv.pt/PrevencaoProteccao/RiscosNaturais/Cheias/Pages/Oquee.aspx (accessed

October 4, 2009)

12 - Postel, S.l., G.C. Daily and P.R. Ehrlich. 1996. Human appropriation of renewable fresh

water. Science 271:785Gleick, P. 2000. The World’s Water. Island Press.

Vitousek, P.M., P.R. Elrich, A.H. Elrich and P.A. Matson. 1986. Human

appropriation of the products of photosynthesis. BioScience 36:386-373. Quoted in Human

Appropriation of the World’s Fresh Water Supply. 2006.

http://globalchange.umich.edu/globalchange2/current/lectures/freshwater_supply/freshwater.ht

ml (accessed September 25, 2009).

13 – L’vovich MI. 1974. World Water Resources and Their Future. Transl. R Nace, 1979,

Washington, DC: Am. Geophys, Union 415 pp. Quoted in Peter H. Gleick. 2003. Water Use.

Annu. Rev. Resour. Oakland, Californica: Pacific Institute. 28:293

14 – Líria Alves. 2002-2009. Dessalinização da Água.

http://www.brasilescola.com/quimica/dessalinizacao-agua.htm (accessed October 4, 2009)

15 – Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra (Departamento de

Engenharia Química). 2007. Destilação.

http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?Itemid=413&id=223&option=com_content&task

=view (accessed October 20, 2009)

16 – Catarina Teixeira. 2007. JPN: Escassez da água é um problema para a humanidade.

http://jpn.icicom.up.pt/2007/03/22/escassez_da_agua_e_um_problema_para_a_humanidade.htm

l (accessed October 4, 2009)