Dissertação A INFLUÊNCIA DO GÊNERO NO TRATAMENTO … · coronariana aguda / Juliano Guzzo...
-
Upload
phungthuan -
Category
Documents
-
view
215 -
download
0
Transcript of Dissertação A INFLUÊNCIA DO GÊNERO NO TRATAMENTO … · coronariana aguda / Juliano Guzzo...
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL
FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA
Programa de Pós-Graduação em Medicina:
Área de Concentração: Cardiologia e
Ciências da Saúde
A INFLUÊNCIA DO GÊNERO NO TRATAMENTO DA SÍNDROME
CORONARIANA AGUDA
Autor: Juliano Guzzo Zechin
Orientador: Prof. Dr. José Luiz da Costa Vieira
Dissertação submetida como requisito para
obtenção de grau de Mestre ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde, área
de Concentração: Cardiologia ou Ciências
Cardiovasculares, da Fundação Universitária
de Cardiologia/Instituto de Cardiologia do Rio
Grande do Sul.
Porto Alegre
2010
Bibliotecária Responsável: Marlene Tavares Sodré da Silva CRB 10/1850
Z42i Zechin, Juliano Guzzo.
A influência do gênero no tratamento da síndrome coronariana aguda / Juliano Guzzo Zechin; orientação [por] José Luiz da Costa Vieira – Porto Alegre, 2010.
114 f.
Dissertação (Mestrado) - Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / Fundação Universitária de Cardiologia - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, 2010. 1.Síndrome coronariana aguda.2. Mulheres.3.Terapêutica. 4.Gênero e saúde.5.Infarto do miocárdio.I.José Luiz da Costa Vieira.II.Título.
CDU: 616.132.2-055.2
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Dr. José Luiz da Costa Vieira pelo tempo e
conhecimento dispensados e fundamentais na realização deste trabalho.
Agradeço à Márcia, Gabriela e Fabrício pela paciência e compreensão.
Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação do Instituto de
Cardiologia do Rio Grande do Sul pelas valiosas lições
Agradeço ao Maurício Reche – Unidade de Pesquisa do Instituto de Cardiologia,
pelo auxílio na formatação final desta dissertação.
SUMÁRIO
BASE TEÓRICA ............................................................................................................ 1
1 EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................. 2
2 ATEROSCLEROSE ............................................................................................... 5
3 SÍNDROME CORONARIANA AGUDA SEM SST ............................................ 8
3.1 ESTRATÉGIA CONSERVADORA ............................................................... 12
3.1.1 Analgesia e anti-isquêmicos ................................................................... 12
3.1.2 Anticoagulantes e antiagregantes plaquetários ................................... 14
3.2 ESTRATÉGIA INVASIVA PRECOCE ......................................................... 18
3.3 CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA .......................... 20
4 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO COM SST ........................................... 21
4.1 TRATAMENTO CLÍNICO ............................................................................. 24
4.1.1 Analgesia ................................................................................................. 24
4.1.2 Bloqueadores beta-adrenérgicos ........................................................... 24
4.2 TERAPIA DE REPERFUSÃO ........................................................................ 26
4.2.1 Angioplastia primária ............................................................................ 26
4.2.2 Trombolíticos .......................................................................................... 26
4.2.3 Angioplastia facilitada ............................................................................ 27
4.2.4 Estratégia invasiva .................................................................................. 27
4.2.5 Angioplastia coronariana ....................................................................... 29
4.2.6 Teoria da artéria aberta tardiamente ................................................... 29
4.3 TRATAMENTOS ADJUVANTES ................................................................. 30
4.3.1 Tienopiridinas ......................................................................................... 30
4.3.2 Antagonistas do receptor da glicoproteína II-b/IIIa ........................... 31
4.3.3 Anticoagulantes ....................................................................................... 31
4.4 TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES ..................................................... 32
4.4.1 Angina pós-infarto e reinfarto ............................................................... 32
4.4.2 Infarto do ventrículo direito .................................................................. 32
4.4.3 Pericardite ............................................................................................... 33
4.4.4 Insuficiência cardíaca e choque cardiogênico ...................................... 33
4.4.5 Complicações mecânicas ........................................................................ 35
4.4.6 Taquiarritmias ........................................................................................ 36
4.4.7 Parada cardiorrespiratória .................................................................... 37
5 PRESCRIÇÃO DO TRATAMENTO APÓS O PERÍODO HOSPITALAR ... 38
5.1 ANTIPLAQUETÁRIOS .................................................................................. 38
5.1.1 Ácido acetilsalicílico ............................................................................... 38
5.1.2 Clopidogrel e Prasugrel ......................................................................... 38
5.1.3 Ticlopidina ............................................................................................... 39
5.2 ANTICOAGULANTES .................................................................................. 40
5.3 BLOQUEADORES BETA-ADRENÉRGICOS .............................................. 41
5.4 INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA ............................................... 42
5.5 HIPOLIPEMIANTES ...................................................................................... 43
5.6 NITRATOS ...................................................................................................... 44
5.7 ANTAGONISTAS DOS CANAIS DE CÁLCIO ........................................... 45
5.8 ANTIARRÍTMICOS ....................................................................................... 46
6 DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA EM MULHERES ........... ............... 47
7 TRATAMENTO DA SCA NA MULHER .......................................................... 53
8 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 59
9 HIPÓTESE ............................................................................................................. 60
10 OBJETIVOS .......................................................................................................... 61
10.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 61
10.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 61
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 62
12 ARTIGO ................................................................................................................. 75
12.1 RESUMO ..................................................................................................... 77
12.2 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 78
12.3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 79
12.4 RESULTADOS ........................................................................................... 84
12.5 DISCUSSÃO ............................................................................................... 87
12.6 LIMITAÇÕES ............................................................................................. 93
12.7 CONCLUSÃO ............................................................................................. 94
12.8 LEGENDAS DAS FIGURAS ..................................................................... 96
12.9 TABELAS ................................................................................................... 97
12.10 FIGURAS .................................................................................................. 104
12.11 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 105
2
1 EPIDEMIOLOGIA
A incidência de doença arterial coronariana está diminuindo em muitos países
desenvolvidos, porém tem aumentado nas nações em desenvolvimento, em parte como
resultado do aumento da longevidade, urbanização, e mudança no estilo de vida 1.
Nos Estados Unidos, entre 1996 e 2006 a mortalidade por doença cardiovascular
sofreu redução de 29,2%. Mas a carga da doença cardiovascular permanece elevada,
sendo que em 2006, uma em cada 2,9 mortes ocorridas naquele país foi causada por
doença cardiovascular 2.
Recente estudo norte-americano sobre redução de mortes causadas por doença
arterial coronariana, no período entre 1980 e 2000, sugere que 47% desta redução
podem ser atribuídos à aplicação de tratamentos baseados em evidências e 44% devido
a mudanças nos fatores de risco. No ano de 1980, 462.984 mortes foram atribuídas à
cardiopatia isquêmica, número reduzido para 337.658 óbitos em 2000 3.
A Organização Mundial de Saúde utiliza um conceito combinando anos de vida
perdidos por morte prematura com anos de vida produtiva perdidos por invalidez. Este
conceito denomina-se DALYs (disability-ajusted life years). O Brasil apresenta DALYs
na mesma faixa de Estados Unidos e Europa Ocidental, China e Austrália, que é de 0 a
9 anos/1000 habitantes. Dados mundiais revelam que nos homens a doença arterial
coronariana é a segunda causa de DALYs (6,8%); nas mulheres é a terceira causa de
DALYs (5,3%), ficando atrás da depressão (8,4%) e HIV/AIDS (7,2%) e à frente das
doenças cerebrovasculares (5,2%) 1.
Na América do Norte e Europa Ocidental a mortalidade por doença arterial
coronariana vem sofrendo redução, em função de melhores estratégias de prevenção,
3
diagnóstico e tratamento. Destacam-se o combate ao tabagismo e o melhor controle dos
níveis de pressão arterial e colesterol. Apesar disso, estima-se que um em cada quatro
homens e uma em cada três mulheres vítimas de um primeiro infarto do miocárdio
morre ao longo de um ano, nos Estados Unidos 4.
Os países em desenvolvimento devem ser responsáveis por 82% do aumento
global esperado na incidência de doença arterial coronariana nos próximos anos.
Atualmente o Brasil apresenta a mesma taxa de óbitos que o Canadá, Alemanha e Reino
Unido, na faixa entre 100 e 499 mil óbitos ao ano 4. Estados Unidos e Rússia
apresentam mais de 500 mil óbitos por ano.
Em mulheres, no ano de 2006, uma em cada 2,8 das mortes em norte-americanas
foi em decorrência de doenças cardiovasculares; e uma em cada 6 mortes foi por doença
arterial coronariana. Comparativamente observa-se que, no mesmo ano, a relação para
óbito devido ao câncer foi 1: 4,5 2. Nos Estados Unidos, no mesmo ano, a mortalidade
por doenças cardiovasculares foi de 313,3 por 100.000 habitantes, nos homens e 221,6
nas mulheres 2.
Analisando uma coorte norte-americana organizada pelo NHLBI (National
Heart, Lung and Blood Institute), entre 1980 e 2003, observa-se que a taxa anual de
eventos cardiovasculares aumenta de 3 por 1000 homens dos 35 aos 44 anos para 74 por
1000 homens de 85 aos 94 anos. Para as mulheres taxas comparáveis ocorrem 10 anos
mais tarde. Este hiato apresenta estreitamento com o avançar da idade. Antes dos 75
anos a maior proporção de eventos cardiovasculares devido à doença arterial
coronariana recai sobre os homens, enquanto sobre as mulheres recaem as doenças
cerebrovasculares 2.
A prevalência de doença arterial coronariana, nos Estados Unidos, de 2003 a
2006, em pessoas com mais de 20 anos, foi de 9,1% nos homens e 7% nas mulheres. A
4
incidência de infarto agudo do miocárdio, no mesmo período, foi de 4,7% e 2,6%, em
homens e mulheres, respectivamente. A idade média do primeiro infarto do miocárdio é
64,5 anos nos homens e 70,3 anos nas mulheres. Segundo dados do NHLBI, o risco de
um norte-americano manifestar doença arterial coronariana após os 40 anos é de 49%
para o sexo masculino e 32% para o feminino 5.
A incidência de eventos clínicos mais severos decorrentes de doença arterial
coronariana, tais como infarto do miocárdio e morte súbita, aumenta nas mulheres cerca
de 20 anos mais tarde, em comparação com os homens2. A maioria dos pacientes
hospitalizados por diversas causas, nos Estados Unidos, com mais de 65 anos são do
sexo feminino. Em relação ao infarto agudo do miocárdio encontra-se que 28,4% das
internações de pacientes com idade entre 45 e 64 anos são de mulheres, mas eleva-se
para 63,7% na faixa etária acima de 85 anos. A mortalidade das mulheres com infarto
agudo do miocárdio é maior que nos homens (9,3% versus 6,2%)2.
No Brasil, a mortalidade proporcional pelo grupo de causas, segundo o Código
Internacional das Doenças (CID 10), aponta as doenças do aparelho circulatório como a
responsável em 32% das ocorrências. Dessas mortes de causa cardiovascular em 2006, o
infarto agudo do miocárdio foi o culpado em 37,2% dos casos, aproximadamente 382
mil mortes6. A taxa de mortalidade específica por doença arterial coronariana por 100
mil habitantes, no Brasil, em 2004, foi 56 enquanto nos Estados Unidos e França foram
respectivamente 65 e 137. O Rio Grande do Sul, junto com o Rio de Janeiro
apresentaram em 2006 as maiores taxas de mortalidade específica por doença arterial
coronariana do Brasil, com 70 óbitos por 100 mil habitantes. Porto Alegre revelou uma
das maiores taxas de mortalidade específica por doença arterial coronariana do país,
com 94 nos homens e 79 nas mulheres7.
5
2 ATEROSCLEROSE
A aterosclerose com suas complicações é a principal causa de morbimortalidade
no mundo. Estima-se que 60 milhões de norte-americanos sejam portadores de
aterosclerose, sendo a responsável por 42% de todos os óbitos naquele país 2.
A industrialização no século XVI acelerou o desenvolvimento da aterosclerose.
Três fatores colaboraram fundamentalmente para sua evolução: tabagismo, redução da
atividade física e consumo de dieta rica em gorduras e carboidratos 8.
Com a melhor identificação dos fatores de risco de doença arterial coronariana
através do estudo de Framingham, a aterosclerose começou a ser combatida com
medidas preventivas. Em decorrência disso, a mortalidade por doenças cardiovasculares
relacionadas à aterosclerose vem sofrendo redução, porém o declínio é menos acentuado
nas mulheres 9. Na década de 80 o número absoluto de óbitos/ano no gênero feminino
ultrapassou o dos homens.
Tradicionalmente a aterosclerose tem sido vista como uma doença degenerativa,
afetando sobretudo idosos, progredindo lentamente ao longo de muitos anos até
ocasionar sintomas através da obstrução mecânica ao fluxo sanguíneo. Surgem a cada
dia novos estudos enfatizando o diagnóstico e tratamento em pacientes assintomáticos
de alto risco. Já o controle das manifestações clínicas, além do tratamento
medicamentoso, tem sido parcialmente executado por procedimentos de
revascularização: angioplastia ou cirurgia.
Recentes avanços na compreensão da patogênese e progressão da aterosclerose
tem chamado atenção:
6
1) A descrição minuciosa dos mecanismos patológicos que levam à formação
da placa aterosclerótica, mostrando que esta difere em sua composição
celular, e que o predomínio de certos tipos celulares podem determinar maior
risco de eventos fatais, particularmente placas com elevado grau de
inflamação;
2) Novos fatores de risco modificáveis foram identificados, além dos
tradicionais levantados pelo estudo de Framingham;
3) Grandes ensaios clínicos apresentaram evidências que drogas,
principalmente as estatinas, são capazes de reduzir o número de eventos
clínicos em pacientes com documentada aterosclerose, afetando ou não o
tamanho da placa aterosclerótica 8.
Estes novos nichos de evidências tornam o entendimento da aterosclerose como
algo mais dinâmico e vinculado ao processo inflamatório. Isso tende a possibilitar o
desenvolvimento de novos agentes terapêuticos direcionados a aspectos moleculares e
celulares da placa e menos relacionados ao grau de estenose luminal 10, 11.
A camada íntima das artérias elásticas é o principal local acometido pela
aterosclerose. Artérias carótidas, coronárias, cerebrais, renais e aorta são mais
frequentemente afetadas, bem como as artérias dos membros inferiores 8.
A lesão aterosclerótica se desenvolve ao longo dos anos. Histologicamente, a
alteração mais precoce é o acúmulo de macrófagos carregados de lipídeos (células
espumosas) e linfócitos T, denominada estria gordurosa, lesão não-estenótica e que não
causa sintomas. Com o tempo a lesão progride até formar uma placa precoce, cujo
núcleo se torna necrótico, contendo debris celulares, cristais de colesterol, células
inflamatórias e células esponjosas (macrófagos). Este núcleo necrótico torna-se
7
circundado em sua face luminal por uma capa fibrótica endotelizada, constituída por
miócitos vasculares (músculo liso) embebidos em matriz extracelular de colágeno.
Células inflamatórias também estão presentes na capa fibrótica, sobretudo nos ângulos
ou regiões de curvatura, onde células T, mastócitos, e especialmente macrófagos tendem
a acumular-se. Lesões avançadas são complexas, com calcificação, ulceração, formação
neovascular, e sujeitas à ruptura ou erosão 10, 11.
A composição da placa aterosclerótica é variável, dinâmica e complexa, sendo a
interação entre os vários tipos de células presentes que determina a progressão,
complicações e desfechos clínicos 11.
Duas formas de ruptura da placa foram descritas: a) ruptura da capa fibrótica
com exposição do núcleo lipídico e da matriz extracelular trombogênica; b) erosão
endotelial, que ocorre menos frequentemente, sendo particularmente mais freqüente em
mulheres. Ambos os mecanismos de ruptura e erosão levam ao acúmulo local das
plaquetas e ativação da cascata de coagulação, com formação de trombo no lúmem
arterial, e, dependendo da sua extensão, oclusão total do vaso. Os trombos ricos em
plaquetas contém quimocinas e mitógenos, em particular o fator de crescimento
derivado de plaquetas e trombina. Isto reduz a migração e proliferação dos miócitos da
camada média para a placa, e transforma o fator de crescimento β, colaborando para a
cicatrização da placa rota 8, 12.
8
3 SÍNDROME CORONARIANA AGUDA SEM
SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST
Angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do
segmento ST são manifestações importantes da cardiopatia isquêmica, e tem sofrido
evolução no seu diagnóstico, estratificação de risco e condutas terapêuticas.
Síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de segmento ST
(SCASSST) é definida pela presença de quadro clínico compatível (dor torácica ou
equivalente) com ausência de elevação do segmento ST no eletrocardiograma e com a
presença de outras alterações eletrocardiográficas (infradesnivelamento do segmento ST
ou inversão da onda T) e/ou biomarcador positivo de necrose miocárdica. Na angina
instável, por definição, não há elevação de biomarcadores cardíacos (troponina ou CK-
MB) e o eletrocardiograma pode ou não apresentar evidências de isquemia miocárdica.
A presença de biomarcador de necrose faz o diagnóstico de infarto agudo do
miocárdio13, 14.
O desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio ao miocárdio é a principal
característica da SCASSST, sendo que a redução do suprimento de oxigênio é o
mecanismo mais freqüente. A principal causa de SCASSST é a obstrução das artérias
coronárias por um trombo, usualmente sem oclusão total, que se desenvolve em uma
placa aterosclerótica rota ou erosada. Um mecanismo menos comum é a obstrução
dinâmica, por espasmo coronariano focal e intenso. Outra causa é a estenose severa de
coronária, por aterosclerose progressiva ou reestenose pós-angioplastia. Mais raramente
ocorre SCASSST secundária a outros mecanismos, como febre, anemia, taquicardia, ou
dissecção coronariana14, 15.
9
Além de desconforto torácico a SCASSST pode apresentar-se com dispnéia,
sudorese ou fadiga extrema. Pacientes sem dor torácica são em sua maioria idosos,
mulheres, diabéticos ou portadores de insuficiência cardíaca16.
A estraficação do risco de morte e eventos cardíacos não fatais faz parte da
avaliação inicial dos pacientes com SCASSST. Dados da história médico, exame físico,
ECG, biomarcadores cardíacos e função renal são elementos fundamentais para definir a
estratégia de investigação e tratamento. Os escores de risco TIMI, GRACE, e PURSUIT
são os instrumentos mais utilizados na estratificação de risco da SCASSST. O escore
TIMI é composto por 7 indicadores de risco na apresentação, útil para predizer
mortalidade em 30 dias e em 1 ano17. Já o escore GRACE foi validado para desfechos
intra-hospitalares e dentro de 6 meses18. A seguir estão listados os 7 indicadores do
escore TIMI:
1- Idade de 65 anos ou mais;
2- Pelo menos 3 fatores de risco para doença arterial coronariana;
3- Estenose coronariana prévia documentada de 50% ou mais;
4- Desvio dinâmico do segmento ST, no ECG de apresentação;
5- Pelo menos 2 episódios anginosos nas últimas 24 horas;
6- Uso de ácido acetilsalicílico nos últimos 7 dias;
7- Elevação de biomarcadores cardíacos.
O escore de TIMI auxilia na predição de mortalidade por todas causas, infarto do
miocárdio novo ou recorrente, ou isquemia severa recorrente que requer
revascularização urgente 13, 19.
10
Os biomarcadores cardíacos tem evoluído nos últimos anos, particularmente a
troponina, que se tornou essencial para o diagnóstico de infarto do miocárdio e
estratificação de risco da SCASSST14, 20.
No ano 2000 a tradicional definição de infarto agudo do miocárdio foi revisada
pela American Heart Association e American College of Cardiology (AHA/ACC) e
incluiu como critério diagnóstico a evidência de necrose miocárdica, através de
elevação do valor da troponina acima do percentil 99 14, 20.
A creatinoquinase-MB (CK-MB) é menos sensível e específica para o
diagnóstico de infarto do miocárdio, e seu maior valor está no diagnóstico de reinfarto
precoce, devido a sua curta meia-vida. Aproximadamente 30% dos pacientes com
desconforto torácico em repouso sem elevação do segmento ST que recebem o
diagnóstico de angina instável, devido a valores não elevados de CK-MB, tem na
verdade infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do ST (IAMSSST),
quando avaliados após a dosagem de troponina14, 21.
A elevação da troponina permite identificação de pacientes de alto risco que
podem beneficiar-se de condutas terapêuticas mais agressivas, tais como heparina de
baixo peso molecular e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, isolados ou associados ao
clopidogrel. Juntamente com outros marcadores de risco, também auxilia na indicação
de estratégia invasiva. Quanto maior a elevação da troponina, mais elevada a
mortalidade em 42 dias13, 22.
A fim de monitorizar a isquemia e prevenir eventos clínicos adversos, e definir a
estratégia de tratamento, invasiva ou conservadora, pacientes com diagnóstico firmado
ou provável de SCASSST devem ser hospitalizados em unidade de internação, quando
considerados de baixo risco, ou unidade de cuidados coronarianos, quando de alto risco
20.
11
Estratégia invasiva está indicada em pacientes com:
1- Angina recorrente, em repouso ou mínimos esforços, apesar do tratamento
farmacológico;
2- Elevação de biomarcadores cardíacos;
3- Infradesnivelamento novo de segmento ST;
4- Manifestações de insuficiência cardíaca ou piora de insuficiência mitral;
5- Achados de alto risco em método diagnóstico não-invasivo;
6- Instabilidade hemodinâmica;
7- Taquicardia ventricular sustentada;
8- Angioplastia coronariana nos últimos 6 meses;
9- Cirurgia de revascularização miocárdica prévia;
10- Escore de risco elevado (TIMI, GRACE);
11- Redução da função ventricular esquerda.
12
3.1 ESTRATÉGIA CONSERVADORA
A estratégia conservadora aplica-se para pacientes com escore de risco baixo ou,
conforme a indicação do médico assistente, na ausência de achados de alto risco14.
Oxigênio deve ser prescrito como medida de rotina até a estabilização do
paciente.
3.1.1 Analgesia e anti-isquêmicos
3.1.1.1- Nitratos
A nitroglicerina é um vasodilatador periférico e coronariano que reduz a
demanda de oxigênio pelo miocárdio e aumenta sua oferta. Promove dilatação das
coronárias mais calibrosas e facilita o fluxo colateral e a redistribuição do fluxo
coronariano para regiões isquêmicas. A indicação na SCASSST provém da experiência
clínica prévia no tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento
do ST20.
3.1.1.2- Morfina
Sulfato de morfina é útil para alívio dos sintomas refratários à nitroglicerina, e
seu uso está mais restrito após estudo que sugeriu associação com aumento de
mortalidade14, 20.
13
3.1.1.3- Bloqueadores beta-adrenérgicos (betabloqueadores)
Indicados nas primeiras 24 horas, por via oral, em pacientes sem insuficiência
cardíaca ou instabilidade hemodinâmica. O uso endovenoso dos betabloqueadores deve
ser reservado para situações específicas13, 14.
3.1.1.4- Antagonistas dos canais de cálcio
Reduzem a demanda de oxigênio e melhoram o fluxo coronariano. Tem
indicação para controle dos sintomas relacionados à isquemia miocárdica em pacientes
que não respondem ou não toleram betabloqueadores e nitratos e naqueles com angina
de Prinzmetal. Os agentes com melhor evidência para uso na doença arterial
coronariana são verapamil e diltiazen. Estão contra-indicados em pacientes com severa
redução da fração de ejeção ou edema pulmonar. O uso concomitante com
betabloqueadores pode deprimir significativamente a função ventricular e a condução
no nó sinusal e átrio-ventricular13, 15, 23.
3.1.1.5- Inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona
Os inibidores da enzima conversora da angiotensina reduzem mortalidade de
pacientes com infarto agudo do miocárdio recente com redução da função ventricular e
nos diabéticos com função ventricular reduzida. Além disso, têm indicação em
hipertensos e nos pacientes de risco intermediário e elevado. Bloqueadores do receptor
da angiotensina podem ser úteis nos pacientes pós- infarto do miocárdio ou com
insuficiência cardíaca de etiologia isquêmica que não toleram os inibidores da enzima
conversora20.
14
3.1.1.6- Balão intra-aórtico de contrapulsação (BIA)
Está indicado no choque cardiogênico, angina pós-infarto refratária, para suporte
hemodinâmico durante cateterismo cardíaco e angioplastia, antes de cirurgia de alto
risco e nas complicações mecânicas do infarto agudo do miocárdio13, 14, 24.
3.1.2 Anticoagulantes e antiagregantes plaquetários
A terapia anticoagulante é fundamental para modificar o curso da síndrome
coronariana aguda. A combinação de ácido acetilsalicílico, um anticoagulante e um
antiplaquetário adicional representa a terapia mais efetiva13, 20.
3.1.2.1 Terapia antiplaquetária
Acido acetilsalicílico: indicação classe I, nível de evidência A no tratamento da
SCASSST. Deve ser iniciado tão logo o diagnóstico de síndrome coronariana é
aventado, e mantido indefinidamente. A dose inicial varia de 162 a 325 mg/dia14.
Antagonistas do receptor da adenosina difosfato (Tienopiridinas): a ticlopidina e
o clopidogrel são tienopiridínicos aprovados para terapia antiplaquetária. O clopidogrel
possui menos efeitos adversos e consiste na primeira escolha para rápida antiagregação
plaquetária. O estudo CURE (the Clopidogrel in Unstable angina to prevent Recurrent
ischemic Events) randomizou 12.562 pacientes com SCASSST nas primeiras 24 horas,
para receber clopidogrel ou placebo, associados ao ácido acetilsalicílico. Houve redução
de morte cardiovascular, infarto do miocárdio ou AVC no grupo randomizado para
receber clopidogrel (risco relativo (RR) = 0,80). Um pequeno excesso de sangramento
foi observado, que se elevou nos pacientes submetidos à cirurgia de revascularização
miocárdica. É necessária uma dose de ataque de 300 mg, e após o uso de 75 mg de
15
clopidogrel por dia. No PCI-CURE constatou-se, a partir de dados do CURE, que os
pacientes que usaram clopidogrel e foram submetidos à angioplastia coronariana
apresentaram redução de 30% no desfecho primário (um composto de óbito
cardiovascular, infarto do miocárdio ou revascularização urgente da coronária culpada)
e também redução de 31% na incidência de morte cardiovascular25, 26. O ensaio ISAR-
REACT 2 (Intracoronary Stenting and Antithrombotic Regimen-Rapid Early Action for
Coronary Treatment) testou se pacientes submetidos à angioplastia coronariana, que
recebiam dose de ataque de clopidogrel (600 mg) em associação ao acido
acetilsalicílico, poderiam beneficiar-se do uso de abciximab, um antagonista do receptor
da glicoproteína IIb/IIIa. Houve redução do desfecho primário em pacientes de alto
risco, com troponina elevada (RR=0,71). Concluiu-se que estes pacientes, de alto risco,
quando designados à estratégia invasiva devem receber abciximab somado ao
tienopiridínico27. O clopidogrel tem indicação nos pacientes com SCASSST, em ambas
as estratégias, conservadora e invasiva. Existe dúvida quanto ao tempo de duração do
seu uso, sugerindo-se tratamento por um ano, após a colocação de stent revestido com
drogas14.
3.1.2.2 Anticoagulantes
Heparina não-fracionada, enoxaparina, fondaparinux e bivalirudina são os
anticoagulantes mais importantes. Diferentes estratégias de anticoagulação podem ser
aplicadas (com recomendação classe I e II) dependendo da prática de cada instituição14.
Heparina não-fracionada (HNF): acelera a ação da antitrombina circulante, que
inativa os fatores II-a (trombina), IX a e o Xa. Previne a propagação do trombo, porém
não faz a lise do mesmo. A resposta anticoagulante da heparina não-fracionada é muito
variável e necessita monitorização do seu efeito através do tempo de tromboplastina
ativado além de ajuste da dose pelo peso. Idosos e mulheres necessitam redução da dose
16
empregada. A duração de tratamento na SCASST é de 2 a 5 dias, e deve-se atentar para
anemia e plaquetopenia, efeitos adversos mais freqüentes14, 20.
Heparina de baixo peso molecular (HBPM): as heparinas de baixo peso
molecular são mais potentes em inibir o fator Xa e menos em inibir a trombina (fator
IIa). Possui vantagens sobre a HNF, meia-vida mais longa, efeito mais previsível e
adequada anticoagulação com uma ou duas aplicações diárias, além de não necessitar
monitorização laboratorial. A enoxaparina quando comparada à HNF, em pacientes com
SCASSST, reduziu o risco de infarto não-fatal e óbito, porém esta vantagem
desapareceu quando a estratégia invasiva precoce foi adotada14, 28.
3.1.2.3 Inibidor do receptor da glicoproteína IIb/IIIa (GP IIb/IIIa)
os receptores da glicoproteína IIb/IIIa da membrana celular das plaquetas se
acionados aumentam sua afinidade por fibrinogênio. Este mecanismo desencadeia a
agregação plaquetária. Existem 3 antagonistas da GP IIb/IIIa aprovados para uso
clínico: abciximab, eptifibatide e tirofiban. O uso destes medicamentos tem-se
consolidado em pacientes submetidos à angioplastia coronariana, muitos deles com
angina instável. O abciximab reduziu as taxas de infarto do miocárdio e necessidade de
cirurgia de revascularização urgente. No CAPTURE (C7E3 Fab Antiplatelet Therapy in
Unstable Refratory) o abciximab reduziu a mortalidade do infarto agudo do miocárdio,
ou revascularização urgente em 30 dias, de 15,9% para 11,3% (RR 0,71, p=0, 012).
Com isto o abciximab passou a ser indicado como tratamento adjunto à angioplastia
coronariana ou quando a angioplastia é planejada dentro das 24 horas seguintes. O
tirofiban, em combinação com heparina, está aprovado para tratamento de pacientes
com síndrome coronariana aguda, seja no manejo clínico ou com angioplastia
coronariana. Ficou demonstrado por diversos ensaios que o tirofiban reduz infarto não-
fatal, morte ou isquemia refratária em 7 e 30 dias, e em 6 meses. O eptifibatide, somado
17
ao tratamento padrão reduz óbito ou infarto não-fatal em 30 dias, em pacientes com
SCASSST. Concluindo, os inibidores dos receptores da GP IIb/IIIa tem sua indicação
mais consistente para os pacientes com SCASSST que são encaminhados para
angioplastia coronariana, principalmente aqueles considerados de alto risco14, 29-32.
18
3.2 ESTRATÉGIA INVASIVA PRECOCE
Pacientes com SCASSST tratados com estratégia invasiva precoce geralmente
realizam cineangiocoronariografia em 4 a 24 horas após a chegada14.
A estratégia invasiva precoce pode ser subdividida em duas situações distintas.
Na primeira, os pacientes são encaminhados para cateterismo cardíaco, com possível
angioplastia, de forma urgente (instabilidade hemodinâmica, arritmia ou sintomas de
isquemia persistente). Na segunda situação, a indicação de cineangiocoronariografia,
não é urgente, podendo o paciente receber clopidogrel e antagonista da GP IIb/IIIa antes
do procedimento14, 15.
Na estratégia conservadora os pacientes são referidos para tratamento
medicamentoso e podem ou não realizarem cineangiocoronariografia, posteriormente14.
Não existe consenso sobre qual a melhor estratégia, invasiva ou conservadora.
Uma das explicações para o relativo sucesso de uma conduta mais conservadora na
SCASSST está na utilização rotineira de antiplaquetários e anticoagulantes. Uma
metanálise do ano de 2006 com 7 ensaios clínicos randomizados, sobre estratégias de
tratamento na SCASSST sugeriu benefício em longo prazo do manejo precoce invasivo,
com redução de morte por todas causas em 2 anos. A mortalidade foi de 4,9% com o
tratamento invasivo precoce e 6,5% com o conservador. Nos pacientes de maior risco a
estratégia precoce é a mais indicada25, 33.
A cineangiocoronariografia é útil no manejo da SCASSST para definir anatomia
e identificar pacientes com alto risco, que devem ser encaminhados para
revascularização precoce14.
19
As indicações de revascularização coronariana são muito semelhantes nos
pacientes com IAMSSST e naqueles com angina estável. Tem como objetivo o alívio
dos sintomas, prevenir complicações isquêmicas, melhorar capacidade funcional e
aumentar a sobrevida13, 14.
A colocação de stent e o uso de drogas antiplaquetárias e anticoagulantes
potentes na angioplastia reduz o risco de oclusão aguda da coronária tratada e de re-
estenose tardia13, 14.
20
3.3 CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA
Estudos clássicos como BARI (The By pass Angioplasty Revascularization
Investigation) e CABRI (Coronary Angioplasty versus By pass Revascularization
Investigation) mostraram superioridade da cirurgia de revascularização miocárdica
(CRM), em comparação com angioplastia, na sobrevida de pacientes com diabete melito
e lesão de 3 ou mais coronárias. Não existe consenso, mas sugere-se que sejam
encaminhados para CRM aqueles pacientes com lesão de tronco de coronária esquerda,
obstrução de 3 vasos, especialmente se envolver a artéria descendente anterior (ADA)
em seu terço proximal, e os que apresentam lesão em 3 vasos com redução da fração de
ejeção do ventrículo esquerdo e/ou diabete melito. Porém a critério clínico, pacientes
com lesão de 3 coronárias também possam ser tratados com stents farmacológicos13-15.
O estudo AWESOME (The Angina With Extremely Serious Operative Mortality
Evaluation) comparou CRM e angioplastia, e encontrou sobrevida comparável. Neste
estudo foram incluídos pacientes tratados com stents e aterectomia 34.
21
4 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO COM
SUPRADESNIVELAMENTO DO ST
Considerando a avaliação inicial, a dor torácica é o sintoma em 75 a 85% dos
pacientes com IAMCSST, normalmente com duração superior a 20 minutos, de forte
intensidade, com possibilidade de irradiação e sintomas associados, como náuseas,
sudorese e dispnéia. No exame físico, pobre em geral, a presença de estertores
pulmonares, hipotensão (pressão arterial sistólica < 110 mm Hg) e taquicardia sinusal
são achados indicativos de pior prognóstico nas primeiras 72 horas35.
Na avaliação do eletrocardiograma, o supradesnivelamento do segmento ST, em
pacientes com sintomas de isquemia miocárdica tem especificidade de 91% e
sensibilidade de 46% para o diagnóstico de IAMCSST. Quanto maior o número de
derivações com supradesnivelamento do ST mais elevada a mortalidade36.
Os marcadores de lesão miocárdica são macromoléculas intracelulares liberadas
após lesão da membrana do sarcolema dos miócitos decorrente de necrose37.
A creatinoquinase (CK-total) é indicador sensível de lesão muscular, mas pouco
específica para necrose miocárdica, sofrendo alteração por diversas causas36.
A CK-MB tem sensibilidade de 93% na 12a hora do infarto agudo do miocárdio.
Inicia sua elevação em 4 a 6 horas após os sintomas e normaliza entre 48 e 72 horas. É
mais específica para lesão miocárdica que a CK-total, porém também sofre alterações
decorrentes de outras situações, que não o infarto do miocárdio14, 37, 38.
A CK-massa apresenta sensibilidade de 50 e 80% após 3 e 6 horas,
respectivamente, do início dos sintomas de IAM, e normaliza em 48 a 72 horas37.
As troponinas estão presentes nos filamentos finos dos músculos estriados,
formando um complexo com três polipeptídios: troponina C, troponina I e troponina T.
22
Elevam-se 4 a 8 horas após início dos sintomas e normalizam entre 5 a 14 dias. São
consideradas bastante específicas para pequenos infartos. Os biomarcadores cardíacos
não são essenciais para o manejo inicial do IAMCSST, pois as medidas de reperfusão
devem tomadas antes do início da elevação enzimática. A CK-MB e a troponina I
podem ser utilizadas para avaliar o sucesso da reperfusão coronariana14.
É fundamental a estratificação de risco inicial nos pacientes com IAMCSST, a
fim de avaliar a probabilidade de desenvolverem eventos e complicações decorrentes de
isquemia miocárdica.
O escore TIMI (Thrombolysis in Myocardial Infarction) para pacientes com
IAMCSST, tem maior validade naqueles submetidos à terapia de reperfusão. Escore
TIMI inferior a 2 representa baixo risco de morte hospitalar (<2%), escore 5 prediz
mortalidade de 10%, e escores acima de 8 estão associados à mortalidade superior a
20%. O escore TIMI pode variar seu resultado de 1 a 14, conforme tabela abaixo19, 37, 39.
23
Tabela 1: Escore de TIMI para IAMCSST
Características pontuação
Idade ≥ 75 3
65-74 2
História HAS, DM, Angina 1
Exame Físico PAS < 100 mmHg 3
FC > 100 bpm 2
Classe Killip II-IV 2
Peso < 67 Kg 1
ECG Supradesnivelamento ST em parede anterior ou BRE 1
Reperfusão Tempo para terapia de reperfusão > 4 horas 1
Total 14
HAS - hipertensão arterial sistêmica; DM - diabete melito; PAS - pressão arterial sistólica; FC - frequência cardíaca; ECG - eletrocardiograma; BRE - bloqueio de ramos esquerdo19.
24
4.1 TRATAMENTO CLÍNICO
4.1.1 Analgesia
A morfina permanece sendo o analgésico de primeira escolha no IAM, com
indicação classe I 40, 41.
4.1.2 Bloqueadores beta-adrenérgicos
Tradicionalmente os betabloqueadores endovenosos sempre foram indicados no
tratamento do IAMCSST, com objetivo de reduzir a incidência de re-infarto e isquemia
recorrente em pacientes que recebiam fibrinolíticos. Em análises posteriores dos dados
do GUSTO (Global Utilization of Streptokinase and TPA for Occluded Coronary
Arteries) os benefícios dos betabloqueadores sobre a mortalidade não foram
confirmados42.
O estudo COMMIT/CCS-2 (Clopidogrel and Metoprolol in Myocardial
Infarction Trial / Second Chinese Cardiac Study) randomizou 45.852 pacientes com
IAM nas primeiras 24 horas para receber metoprolol endovenoso inicialmente e via oral
por no máximo 4 semanas. Os desfechos analisados: 1) desfecho composto de óbito,
reinfarto ou parada cardíaca e 2) óbito por qualquer causa, não foram reduzidos com uso
de betabloqueadores. No grupo que recebeu metoprolol houve aumento de 30% no risco
de choque cardiogênico 43.
Os betabloqueadores administrados por via endovenosa podem ser utilizados nos
pacientes com IAMCSST, nos dias 0 e 1 de hospitalização quando observar-se
25
hipertensão. No entanto devem ser evitados nas situações de risco, como pressão arterial
sistólica abaixo de 120 mmHg, freqüência cardíaca maior que 110 bpm, Killip maior
que 1 (um), idosos ou redução da fração de ejeção. A partir do 2o dia de hospitalização
os betabloqueadores via oral podem ser iniciados, nos pacientes hemodinamicamente
estáveis e sem contra-indicações 40.
Na última atualização sobre tratamento do IAMCSST, da American Heart
Association, o nível de evidência de benefício dos betabloqueadores, via oral,
administrados nas primeiras 24 horas foi alterado de “A” para “B”. Permanecendo
recomendação classe I para pacientes sem risco elevado de complicações40.
26
4.2 TERAPIA DE REPERFUSÃO
A despeito do tipo de reperfusão, o objetivo principal é reduzir o tempo de
isquemia, definido como tempo entre o início dos sintomas de IAMCSST até o começo
do tratamento de reperfusão44.
4.2.1 Angioplastia primária
Os hospitais que atendem pacientes com IAMCSST são divididos naqueles que
contam com laboratório de hemodinâmica capaz de realizar angioplastia coronariana
(ACTP) e naqueles sem tal condição. Hospitais que contam com a possibilidade de
angioplastia primária, com a redução do tempo porta-balão, dimimuem a mortalidade
hospitalar (RR 0,6 e p=0, 006) 45.
O tempo de noventa (90) minutos é definido como razoável, entre o primeiro
contato médico e a realização da angioplastia coronariana primária (tempo porta-balão).
Esse tempo também deve ser observado quando o paciente com IAMCSST é atendido
primeiramente em hospital sem condições de angioplastia primária e encaminhado para
centro de referência com laboratório de hemodinâmica40, 46.
4.2.2 Trombolíticos
Os pacientes com IAMCSST que não tem a possibilidade de serem tratados com
angioplastia primária em 90 minutos devem receber trombolíticos (exceto se contra-
indicado) em até 30 minutos após sua entrada no hospital (tempo porta-agulha)40.
27
Todos pacientes com IAMCSST que chegam com até 12 horas após o início dos
sintomas devem ser considerados para algum tipo de terapia de reperfusão39, 41.
Pacientes com novo bloqueio de ramo esquerdo associado à dor torácica também
são candidatos à reperfusão. Os benefícios da reperfusão são independentes da idade,
gênero, e da maioria das comorbidades39, 41.
Atualmente a terapia de reperfusão preferencial, quando disponível, é a
angioplastia primária. A utilização de stents na angioplastia primária é a conduta mais
recomendada, mostrando reduzir desfechos como óbito, acidente vascular cerebral e
reinfarto40, 47-49.
4.2.3 Angioplastia facilitada
Angioplastia facilitada é um termo utilizado para designar uma estratégia de
angioplastia coronariana após a administração de um tratamento farmacológico. Os
fármacos utilizados podem ser heparina em alta dose, inibidores da glicoproteína
IIb/IIIa, fibrinolíticos ou combinação destes inibidores com fibrinolíticos em dose
reduzida (50%)39.
Apesar dos potenciais benefícios anunciados para a angioplastia facilitada,
ensaios clínicos sugerem sua aplicação apenas em casos selecionados40, 50-52.
4.2.4 Estratégia invasiva emergencial ou imediata e angioplastia
coronariana de resgate
Quando a reperfusão coronariana não é atingida após dose plena de trombolítico,
considera-se a cineangiocoronariografia com intenção de realizar angioplastia
28
coronariana. Pacientes com choque cardiogênico (especialmente aqueles com menos de
75 anos); insuficiência cardíaca congestiva grave ou edema pulmonar, ou arritmia
ventricular com repercussão hemodinâmica devem ter considerada, inicialmente, a
estratégia de reperfusão com angioplastia36.
No grupo que não apresenta a instabilidade supracitada, a angioplastia pode ser
realizada quando há suspeita de falha de reperfusão com trombolítico. Esta estratégia
chama-se angioplastia de resgate. Acredita-se que 90 (noventa) minutos após o início do
trombolítico seja um tempo razoável para considerar-se a angioplastia de resgate. O
critério de indicação é a redução de menos de 50% no supradesnivelamento do ST em
relação ao ECG de apresentação40, 41.
Dois estudos randomizados, MERLIN (Middlesbrough Early Revascularization
to Limit Infarction) e REACT (Rescue Angioplasty versus Conservative Treatment or
Repeat Thrombolysis) e uma metanálise realizada por Wijeysundera abordaram a
questão de angioplastia de resgate, recentemente. Esta estratégia reduziu eventos
clínicos adversos quando comparada ao tratamento clínico. Houve redução da
mortalidade de 10,4 para 7,3%, da taxa de reinfarto de 10,7 para 6,1% e da taxa de
insuficiência cardíaca de 17,8 para 12,7%. Estes benefícios foram observados em
pacientes de alto risco53-56.
A recomendação para angioplastia de resgate nos pacientes considerados como
falha de reperfusão com trombolítico por critério eletrocardiográfico ou angina
persistente é classe II-b, nível C de evidência, naqueles considerados de risco moderado
a severo40.
29
4.2.5 Angioplastia coronariana após fibrinólise ou para pacientes que não
receberam tratamento de reperfusão primário
A angioplastia coronariana em artéria com estenose hemodinamicamente
significativa relacionada a infarto com supradesnivelamento do ST, além do período de
24 horas, pode ser considerada como parte de estratégia invasiva, com indicação classe
II-b40. Estudo recente sugere que angioplastia rotineira, realizada até 6 horas após a
administração de fibrinolítico, reduz desfecho composto (óbito, reinfarto, isquemia
recorrente, início ou piora de insuficiência cardíaca ou choque cardiogênico) em
pacientes de alto risco57.
4.2.6 Teoria da artéria aberta tardiamente
A hipótese da artéria aberta sugere que o restabelecimento tardio do fluxo
coronariano no vaso culpado está associado com melhora da função ventricular,
aumento da estabilidade elétrica e fornecimento de fluxo colateral para outros leitos
coronarianos. O estudo OAT (Occluded Artery Trial) comparou tratamento clínico
otimizado com a realização de angioplastia de rotina em vasos com oclusão total no 3o e
28o dias após o infarto do miocárdio. Não houve diferença significativa no número de
desfechos: óbito, reinfarto, ou insuficiência cardíaca classe IV, após o seguimento de
quatro anos58.
Os estudos sobre recanalização tardia, obtida por angioplastia de artérias
ocluídas totalmente não demonstraram benefícios sobre o tratamento clínico otimizado,
em preservar a função ventricular e prevenir eventos cardiovasculares subseqüentes41.
30
4.3 TRATAMENTOS ADJUVANTES
Pacientes com IAMCSST que são tratados com fibrinolíticos devem receber
anticoagulação durante o período de hospitalização (por mais de oito dias). Quando o
regime de anticoagulação inicial for com heparina não-fracionada, está deverá ser
substituída após 48 horas de infusão. O anticoagulante ideal não está definido. Estudos
foram realizados com heparina de baixo peso molecular (enoxaparina), fondaparinux e
bivalirudina. Todos se mostraram efetivos59, 60.
Quando o paciente for encaminhado para angioplastia coronariana tendo
recebido determinado anticoagulante previamente, este esquema deverá ser mantido
após o procedimento. O fondaparinux não deve ser utilizado isoladamente como único
anticoagulante nos pacientes que são encaminhados para angioplastia devido ao risco de
trombose do cateter40.
4.3.1 Tienopiridinas
A partir de dados dos estudos COMMIT-CCS-2 e CLARITY-TIMI-28
(Clopidogrel as Adjuntive Reperfusion Therapy – Thrombolysis In Myocardial
Infarction -28) o uso de clopidogrel adicionado a baixa dose de acido acetilsalicílico
provou beneficiar pacientes com IAMCSST que foram tratados com fibrinolíticos e
também os que foram encaminhados para angioplastia coronariana (pós-trombólise)61,
62. A indicação de dose de ataque é menos precisa, principalmente em idosos e necessita
mais estudos41.
31
O clopidogrel nos pacientes com IAMCSST reduziu a mortalidade e um
desfecho composto por óbito, reinfarto e acidente vascular cerebral. Deve ser usado por
14 dias, exceto naqueles que receberam stent, que devem estender o uso por um ano52,
62. O prasugrel em comparação com clopidogrel reduz desfechos desfavoráveis
(composto de morte cardiovascular, infarto não fatal e acidente vascular cerebral não
fatal) em pacientes com síndrome coronariana aguda encaminhados para angioplastia 52,
63.
4.3.2 Antagonistas do receptor da glicoproteína II-b/IIIa
Atualmente é aceito o uso de abciximab, tirofiban ou eptifibatide no momento da
angioplastia primária, em casos selecionados, como trombos coronarianos extensos ou
pacientes que não receberam dose de ataque de tienopiridínicos 52.
4.3.3 Anticoagulantes
Pacientes com IAMCSST que não receberam tratamento de reperfusão podem
ser tratados com anticoagulantes durante a internação índice (por mais de 8 dias), sendo
a heparina de baixo molecular e o fondaparinux os agentes indicados40, 59. A
bivalirudina pode ser utilizada no contexto da angioplastia primária52.
32
4.4 TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES
4.4.1 Angina pós-infarto e reinfarto
Angina durante a hospitalização após infarto agudo do miocárdio ocorre em
cerca de 20 a 58% dos casos. A ocorrência de angina pós-infarto representa um risco de
18,5% de infarto e óbito em um ano. O diagnóstico de reinfarto baseia-se na recorrência
da dor isquêmica, alteração de segmento ST e nova elevação enzimática39.
O tratamento baseia-se no alívio dos sintomas isquêmicos, com nitratos e
betabloqueadores, bem como readministração de fibrinolítico ou angioplastia primária
nos pacientes com elevação do segmento ST41.
A cineangiocoronariografia tem indicação na avaliação de pacientes com angina
pós-infarto, sobretudo nos de risco elevado. Após sua realização pode-se planejar
procedimentos de revascularização, percutâneo ou cirúrgico39, 41.
4.4.2 Infarto do ventrículo direito (VD)
Pode ser demonstrado em até 50% de todos os infartos do miocárdio da parede
inferior, porém em apenas 10 a 15% são observadas alterações hemodinâmicas
clássicas. O infarto do ventrículo direito é um marcador de alto risco nos casos de
infarto inferior, com cerca de 30% de mortalidade37.
O manejo do infarto do ventrículo direito inclui manutenção adequada da pré-
carga, suporte inotrópico e reperfusão precoce. Administração de volume e dobutamina
33
são as principais medidas para tratar a hipotensão relacionada à isquemia do ventrículo
direito37.
A fibrilação atrial e o bloqueio atrioventricular (BAV) são distúrbios do ritmo
que frequentemente acompanham o infarto de VD. A colocação de marcapasso
transitório e cardioversão elétrica são condutas terapêuticas que podem ser necessárias
nestes casos. Quando ocorre disfunção do ventrículo esquerdo, o ventrículo direito com
infarto tem sua pós-carga elevada e o volume de ejeção reduzido. Nestes casos o uso de
nitroprussiato e balão intra-aórtico devem ser considerados37, 39.
Sempre que possível a terapia de reperfusão com fibrinolíticos ou angioplastia
coronariana devem ser realizados, pois aumentam a fração de ejeção do VD e reduzem a
incidência de BAV total14, 37.
4.4.3 Pericardite
Pericardite precoce ocorre 24 horas após o diagnóstico de IAM, e deve ser
manejada com acido acetilsalicílico ou paracetamol, evitando outros anti-inflamatórios e
corticosteróides, por 1 ou 2 semanas. Síndrome de Dressler ou pericardite tardia ocorre
2 a 12 semanas após o evento índice. O tratamento é similar ao da pericardite precoce,
porém os corticóides podem ser utilizados. Raramente o tratamento cirúrgico pode ser
necessário para resolver derrames volumosos36, 37.
4.4.4 Insuficiência cardíaca (IC) e choque cardiogênico
A insuficiência cardíaca quando ocorre na fase aguda do infarto está associada a
pior prognóstico, a curto e longo prazo. A classificação de Killip é a ferramenta mais
35
Classificação de Killip39
CLASSE I Ausência de estertores pulmonares ou B3
CLASSE II Estertores em bases ou B3
CLASSE III Estertores até o 1/3 médio pulmonar
CLASSE IV Choque cardiogênico
Na insuficiência cardíaca grave pode ser necessária ventilação mecânica,
invasiva ou não. No choque cardiogênico agentes inotrópicos como a dobutamina, a
dopamina ou a noradrenalina podem ser empregados. Outros procedimentos invasivos,
como balão intra-aórtico, monitorizações hemodinâmica, intra-arterial e com cateter de
Swan-Ganz podem ser utilizados37.
A cineangiocoronariografia com vistas à revascularização está indicada no
choque cardiogênico41.
A mortalidade do choque cardiogênico está em torno de 60 a 70%37.
4.4.5 Complicações mecânicas
Complicações mecânicas ocorrem com mais freqüência no IAMCSST. São elas:
insuficiência mitral, ruptura do septo ventricular, ruptura da parede livre do ventrículo
esquerdo, aneurisma do ventrículo esquerdo.
As rupturas ventriculares são situações de alto risco, responsáveis por 15% dos
óbitos entre os IAMCSST, e devem sofrer urgente intervenção cirúrgica37, 41.
36
O cateter de artéria pulmonar e o balão intra-aórtico são meios que auxiliam na
estabilização hemodinâmica e funcionam como ponte para procedimentos cirúrgicos36,
37.
4.4.6 Taquiarritmias
4.4.6.1- Fibrilação atrial (e flutter atrial)
Ocorre entre 10-20% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio, mais
frequentemente em idosos, e com disfunção ventricular. A fibrilação atrial é um
marcador de risco, podendo originar embolização sistêmica e instabilidade
hemodinâmica. A cardioversão elétrica está indicada nos casos de fibrilação atrial com
instabilidade hemodinâmica ou sinais de isquemia miocárdica refratária. Digitálicos,
betabloqueadores e heparina também podem ser utilizados no tratamento da fibrilação
atrial, no curso do infarto agudo do miocárdio39.
4.4.6.2- Taquicardia supraventricular paroxística (TSVP)
Se associada à instabilização hemodinâmica deve ser revertida com cardioversão
elétrica, caso contrário a manobra vagal ou o tratamento farmacológico podem ser
administardos39.
4.4.6.3- Taquicardia Ventricular (TV)
Comum na fase aguda do infarto do miocárdio é potencialmente fatal e devem
ser identificadas e tratadas com rapidez. Após a tentativa de identificar fatores
causadores da arritmia ventricular, como hipocalemia, hipomagnesemia, hipercalcemia
e acidose, o tratamento deve ser iniciado com antiarrítmicos. Inicialmente os
betabloqueadores podem ser utilizados nas taquicardias não sustentadas, mas
amiodarona e lidocaína são as drogas de escolha nas arritmias ventriculares mais graves,
porém sem repercussão hemodinâmica. A TV monomórfica deve ser avaliada através de
37
estudo eletrofisiológico e tratada com antiarrítmicos e/ou cardiodesfibrilador
implantável. A taquicardia ventricular polimórfica deve ser tratada como fibrilação
ventricular37.
4.4.6.4- Bradiarritmias, Bloqueio Atrioventricular total e Indicações para
Marcapasso Temporário e Permanente
Bradicardia sinusal é freqüente na evolução do IAM (30 a 40%), sobretudo nos
infartos de parede inferior. O bloqueio atrioventricular total ocorre em 6 a 14% dos
pacientes com IAMCSST, sendo marcador de óbito hospitalar, porque está associado a
infartos mais extensos. A atropina é a medicação utilizada para tratar bradicardia sinusal
e outros tipos de bloqueio átrio-ventricular com repercussão hemodinâmica37. O
marcapasso temporário transcutâneo é um recurso muito útil no manejo inicial das
bradiarritmias na fase aguda do IAM; tem a vantagem de dispensar o acesso vascular,
complicado pelo uso de fibrinolíticos e anticoagulantes. Pacientes que necessitam
estímulo prolongado tem indicada a colocação de marcapasso transvenoso. Se o
bloqueio persistir após vários dias pode ser necessário o implante de marcapasso
definitivo37.
4.4.7 Parada cardiorrespiratória
A fibrilação e a taquicardia ventricular são ritmos predominantes como causa de
PCR na fase aguda do IAMCSST. O tratamento com fibrinolíticos reduz a taxa de
fibrilação ventricular. A ocorrência de fibrilação ventricular aumenta a mortalidade
hospitalar. A PCR pode apresentar-se, além de fibrilação e taquicardia ventricular, com
assistolia ou atividade elétrica sem pulso. O atendimento da parada cardíaca intra-
hospitalar deve seguir os protocolos de reanimação preconizados pelas diretrizes da
American Heart Association37.
38
5 PRESCRIÇÃO DO TRATAMENTO APÓS O PERÍODO HOSPITALA R
Os fármacos prescritos na alta hospitalar após um IAMCSST ou SCASSST
variam conforme a sua extensão, realização de angioplastia coronariana e o emprego de
stents.
5.1 ANTIPLAQUETÁRIOS
5.1.1 Ácido acetilsalicílico
Na fase aguda pós-IAM o acetilsalicílico reduz mortalidade, reinfarto e acidente
vascular cerebral. Pacientes que foram submetidos à angioplastia com stent devem
receber a dose de 162 a 325 mg por dia por 30 dias, nos casos de implante de stents
convencionais, e por 3 a 6 meses naqueles com stents farmacológicos. Após este
período a dose de 75 a 162 mg deve ser usada indefinidamente40.
5.1.2 Clopidogrel e Prasugrel
Todos pacientes que foram tratados com angioplastia coronariana com stent,
revestido ou não com fármacos devem receber clopidogrel, na dose de 75 mg, ou
prasugrel, na dose de 10 mg, por pelo menos 12 meses; exceto se risco aumentado de
sangramento. Para os que não foram tratados com stents, tratamento clínico ou
39
angioplastia convencional, o uso de clopidogrel deve ser usado por, no mínimo, 14 dias.
Seu uso por 1 ano também pode ser considerado nestes casos40, 52.
5.1.3 Ticlopidina
Utilizada como alternativa ao clopidogrel, de menor custo, porém com mais
efeitos adversos37.
40
5.2 ANTICOAGULANTES
O uso de cumarínicos está indicado nas situações que exigem anticoagulação
prolongada, como fibrilação atrial, crônica ou paroxística, ou presença de trombo
intracavitário. Seu uso deve ser cauteloso quando associado ao ácido acetilsalicílico e
clopidogrel37.
41
5.3 BLOQUEADORES BETA-ADRENÉRGICOS
Vários estudos corroboram a indicação dos betabloqueadores nos pacientes pós-
IAMCSST, levando à redução de eventos isquêmicos cardiovasculares, como morte e
reinfarto. Seus benefícios são mais evidentes em pacientes com risco moderado a
elevado, de isquemia residual e falência ventricular esquerda. Os betabloqueadores
devem ser utilizados indefinidamente em todos pacientes que apresentaram infarto
agudo do miocárdio, síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento do ST, ou
redução da função ventricular esquerda, exceto nas contra-indicações40, 41.
42
5.4 INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA E
BLOQUEADORES DOS RECEPTORES DA ANGIOTENSINA II
Os pacientes com IAMCSST que apresentam disfunção ventricular esquerda ou
infarto extenso, hipertensão, diabete melito ou doença renal crônica beneficiam-se com
o uso dos inibidores da enzima conversora da angiotensina41.
Seu efeito se dá sobre o remodelamento ventricular esquerdo, e
consequentemente reduzindo mortalidade. A extensão da indicação dos inibidores da
enzima conversora para todos os pacientes com IAMCSST também é aceita40.
Os bloqueadores do receptor da angiotensina II podem ser empregados no
tratamento do IAMCSST quando os inibidores da enzima conversora não são tolerados
e o paciente apresenta redução da função ventricular (fração de ejeção< 40%), bem
como em hipertensos 64.
43
5.5 HIPOLIPEMIANTES
Perfil lipídico deve ser obtido em até 24 horas nos pacientes com eventos
cardiovasculares. Medicação hipolipemiante deve ser prescrita durante a hospitalização
para manter o LDL colesterol menor que 100 mg/dl, ou alternativamente menos que 70
mg/dl, se o colesterol basal estiver entre 70 e 100 mg/dl40.
Quando os triglicerídeos estiverem entre 200 e 499 mg/dl, está indicada a
redução do colesterol não - HDL para níveis abaixo de 100 ou 130 mg/dl. Se o nível de
triglicerídeos estiver acima de 500 mg/dl, fibratos ou ácido nicotínico devem ser
iniciados antes da droga redutora de LDL colesterol, a fim de prevenir pancreatite.
Posteriormente a redução do LDL colesterol para menos de 130 mg/dl deve ser
alcançada com droga específica (estatina)40.
44
5.6 NITRATOS
Os nitratos tem indicação após a fase aguda do IAMCSST na presença de angina
ou isquemia miocárdica persistente, associada à insuficiência cardíaca. Não há
evidência de benefícios sobre mortalidade ou outros desfechos cardiovasculares37.
45
5.7 ANTAGONISTAS DOS CANAIS DE CÁLCIO
Não há justificativa para a prescrição rotineira de antagonistas do cálcio no
tratamento do IAMCSST. No entanto, podem ser considerados quando os
betabloqueadores estiverem contra-indicados. Verapamil e diltiazem são os fármacos de
preferência37.
46
5.8 ANTIARRÍTMICOS
A amiodarona tem lugar no tratamento do IAMCSST, para controlar arritmias
ventriculares complexas associadas à disfunção ventricular esquerda. Porém sua
utilização tem sido suplantada pela indicação de cardiodesfibrilador 37, 41
47
6 DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA EM MULHERES
Apesar da evolução do conhecimento ao longo das últimas décadas permanecem
abertas algumas questões sobre as diferenças entre os gêneros na cardiopatia isquêmica.
A literatura contempla algumas diferenças na prevalência, manifestações clínicas e
patofisiologia. As mulheres com doença arterial coronariana sofrem mais
hospitalizações, consultam com mais freqüência, tem sintomas mais difíceis de serem
controlados que os homens, e cursam com menores taxas de bem-estar geral e maiores
limitações de suas atividades cotidianas 65. Nas mulheres é menor a extensão e
severidade das lesões coronarianas obstrutivas, e a despeito disso cursam com mais
desfechos clínicos desfavoráveis 66.
Dados epidemiológicos recentes dão conta da redução da mortalidade por
doença arterial coronariana entre as mulheres, ainda que numa proporção inferior aos
homens67e ressaltando o aumento da mortalidade em mulheres jovens (< 50 anos)3. Um
maior número de mulheres (52%) morrem subitamente de causa cardíaca antes de
chegar ao hospital, quando comparadas aos homens (42%) 68.
A mortalidade durante a hospitalização índice por infarto agudo do miocárdio é
maior nas mulheres, em parte devido à idade de apresentação mais avançada e também
pelas comorbidades associadas. As mulheres com infarto agudo do miocárdio, nos 5
anos seguintes cursam mais frequentemente que os homens com o desenvolvimento de
insuficiência cardíaca2. Como contraponto, Herlitz, após ajuste para idade, internação
em unidade coronariana, cineangiocoronagrafia e revascularização encontrou menor
48
mortalidade nas mulheres nos 3 anos seguintes a um infarto (OR 0,72; IC 95% 0,60-
0,85; p=0, 0001). 69
O início das manifestações da doença arterial coronariana nas mulheres ocorre,
em média, 10 anos mais tarde em relação aos homens. Somente a partir dos 75 anos a
incidência de cardiopatia isquêmica nas mulheres aproxima-se dos homens. As razões
para isso são relacionadas ao estilo de vida, com menor taxa de tabagismo, menos
gordura na dieta, colesterol HDL mais elevado e possível efeito protetor dos estrogênios
endógenos70
O escore de risco de Framingham é a ferramenta mais utilizada pelos
cardiologistas para detectar as chances de um paciente apresentar doença arterial
coronariana (óbito ou infarto do miocárdio) nos 10 anos seguintes. Vários estudos tem
documentado que o escore de Framingham, assim como os fatores de risco
cardiovasculares tradicionais subestimam o risco das mulheres manifestarem doença
arterial coronariana 71, 72.
Novos fatores de risco para doença arterial coronariana tem sido identificados,
principalmente biomarcadores de estado inflamatório. Destes, a proteína C reativa é o
principal representante, sendo que se encontra em níveis mais elevados nas mulheres
que nos homens 73. As mulheres também apresentam maior prevalência de doenças
auto-imunes. Os dados apontam para associação entre doenças inflamatórias ou estado
inflamatório e doença arterial coronariana nas mulheres 67.
A deficiência de estrogênio, irregularidades do ciclo menstrual, síndrome dos
ovários policísticos estão associados à maior risco de aterosclerose coronariana e
eventos cardiovasculares adversos 74
49
O diagnóstico de doença arterial coronariana é mais difícil nas mulheres, e sua
apresentação clínica variável, em relação aos sintomas e anormalidades
eletrocardiográficas. As mulheres mais frequentemente relatam sintomas considerados
atípicos para isquemia miocárdica: desconforto prolongado, não aliviado pelo repouso,
sem relação com esforços, náuseas, dispnéia, mal estar inespecífico 75. Mais da metade
das mulheres permanecem com sintomas apesar de cineangiocoronariografias sem
lesões obstrutivas, levando a repetidas hospitalizações, cateterismos cardíacos e gastos
dos serviços de saúde, revelando dificuldade no manejo dessa situação 76. Mulheres com
dor torácica inespecífica tem duas vezes mais risco de infarto do miocárdio não-fatal 77.
Dados do estudo WISE (Women’s Ischemic Syndrome Evaluation), uma coorte
prospectiva patrocinada pelo National Heart Lung and Blood Institute dos Estados
Unidos, demonstraram aumento da mortalidade em mulheres com dor torácica e sem
lesões coronarianas obstrutivas78.
O diagnóstico de doença arterial coronariana através de métodos não-invasivos é
desafiador no sexo feminino. O teste de esforço é menos acurado em mulheres, com
sensibilidade e especificidade mais baixas comparando com os homens; mostrando altas
taxas de resultados falso-positivo. As informações obtidas na ergometria podem ser
utilizadas na avaliação do prognóstico. No estudo ST James Women Heart Study, 5.392
mulheres assintomáticas submetidas ao teste de esforço tiveram redução no risco de
morte de 9% para cada unidade de aumento no protocolo Duke, enquanto que cada
MET (metabolic equivalent) de aumento na capacidade física foi associado com uma
mortalidade 17% menor 79. O uso da cintilografia e ressonância magnética miocárdica
tem sido mais freqüente nos últimos anos e juntamente com a ecocardiografia de
estresse aumentaram a acurácia diagnóstica na doença arterial coronariana em mulheres.
O ecocardiogragrama com estresse farmacológico apresenta elevado valor preditivo
50
negativo para doença arterial coronariana em mulheres jovens. Os métodos de perfusão
miocárdica efetivamente estratificam o risco de eventos cardiológicos. Conforme
observado na análise de dados de 7.500 mulheres, a taxa anual de eventos coronarianos
foi de apenas 0,6% naquelas com exames normais 80.
A angiotomografia de coronárias é uma técnica contemporânea com elevada
acurácia diagnóstica para doença arterial coronariana, com sensibilidade de 85% e
especificidade variando de 90 a 99%, porém apresenta o risco da radiação, e deve ser
utilizada em casos selecionados, sobretudo na população mais jovem 67.
O gênero feminino é um preditor independente de menor chance para
encaminhamento à cineangiocoronariografia70. Cateterismos cardíacos que não revelam
lesões coronarianas obstrutivas significativas (>50% de estenose luminal) são mais
freqüentes em mulheres, inclusive na vigência de síndrome coronariana aguda. Em
mulheres com diagnóstico de síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de
ST e infarto agudo do miocárdio uma prevalência de 10 a 25% das coronariografias são
consideradas normais, enquanto nos homens esses valores são de 6 a 10% 81
A diferença na influência do polimorfismo genético sobre as taxas de eventos
cardiovasculares entre homens e mulheres, é motivo de investigação. Evidências
indicam que variações nos níveis dos hormônios sexuais, entre os gêneros e também a
presença ou ausência de genes que regulam a função celular incluídos no cromossoma
“Y” seriam responsáveis pela associação entre polimorfismo genético e manifestações
clínicas de origem cardíaca. Respostas celulares diferentes aos hormônios, entre os
gêneros, poderiam auxiliar na compreensão da patofisiologia da aterosclerose. Isso
incluiria a composição da placa aterosclerótica, mais celular e fibrosa nas artérias das
mulheres; a função endotelial, com vasodilatação coronariana induzida pelo estrogênio;
51
e a hemostasia, que demonstra níveis mais elevados de fibrinogênio e fator VII no
gênero feminino 82.
As características das placas ateroscleróticas nas coronárias das mulheres foram
estudadas por cineangiocoronariografia, ultrasson intravascular e histopatologia. Em
pacientes com síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de ST, as
coronárias apresentaram estenoses menos severas nas mulheres, com o ultrasson
revelando artérias menos calibrosas, semelhante quantidade de cálcio, tamanho da placa
e excentricidade. Em estudos de necropsia, a morfologia da placa aterosclerótica nas
mulheres evidenciou que as coronárias nativas e enxertos de safena apresentaram maior
quantidade de tecido fibroso celular, rico em células adiposas e menos tecido fibroso
denso, sugerindo placas com formação mais recente e com mais potencial de
reversibilidade. Além disso, há diferença nas características das placas ateroscleróticas
coronarianas entre mulheres pré e pós-menopáusicas83. Os mecanismos fisiopatológicos
relacionados a eventos coronarianos agudos também são diferentes entre os gêneros, nas
mulheres predomina a erosão e nos homens a ruptura da placa ateroclerótica82.
Novas evidências surgiram nos últimos anos sobre a reatividade coronariana nas
mulheres, salientando o envolvimento das micro-artérias intramiocárdicas, que tem seu
tônus muscular liso afetado por alterações endoteliais e vias adrenérgicas do sistema
nervoso autônomo. Dois tópicos destacam-se:
Disfunção microvascular: dados recentes sugerem que uma disfunção
microvascular coronariana específica das mulheres está relacionada com a
fisiopatologia da cardiopatia isquêmica. Nos homens observa-se uma maior carga de
ateromas, com acometimento mais difuso das coronárias epicárdicas, enquanto nas
mulheres a microcirculação é mais comprometida. Estes fatores poderiam explicar
52
porque se verifica, nas mulheres, elevadas taxas de angina e síndrome coronariana
aguda, com ausência de lesões coronarianas obstrutivas 84;
Disfunção endotelial: a função endotelial está prejudicada em fumantes,
diabéticos, dislipidêmicos, hipertensos e mulheres, sobretudo após a menopausa. A
disfunção endotelial observada após a menopausa está associada ao aumento do risco
para cardiopatia isquêmica em 1,3 a 4,4 vezes 85.
Resumindo, Shaw e outros do grupo WISE propuseram que a disfunção
microvascular coronariana é mais prevalente em mulheres e resulta da ação dos fatores
de risco tradicionais, inflamação e remodelamento vascular; e alterações hormonais 67.
53
7 TRATAMENTO DA SINDROME CORONARIANA AGUDA NA
MULHER
Vários estudos sugerem que as mulheres com síndrome coronariana aguda são
tratadas menos agressivamente que os homens. Este fato seria responsável pelo pior
prognóstico das mulheres com essa condição. Embora muitas destas diferenças entre os
gêneros possam ser atribuídas aos vieses de alguns estudos e às características dos
pacientes, muitos pesquisadores defendem que o pior prognóstico da cardiopatia
isquêmica nas mulheres em relação aos homens não pode ser explicado apenas pelas
diferenças de faixa etária e comorbidades, como diabete melito, obesidade e
hipertensão.
Recente metanálise de oito ensaios sobre tratamento da síndrome coronariana
comparou redução de risco quando utilizada estratégia invasiva contra estratégia
conservadora. Em ambos os gêneros a estratégia invasiva resultou em redução do risco
relativo para um desfecho composto por óbito, infarto do miocárdio ou nova síndrome
coronariana. A estratégia invasiva reduziu em 33% o risco do desfecho composto em
pacientes do sexo feminino com biomarcador (enzima cardíaca) positivo, contrastando
com aumento no número de desfechos naquelas com biomarcador negativo, observação
não verificada nos homens86.
Tavris e colegas a partir de dados do estudo CRUSADE (Can Rapid Risk
Stratification of Unstable Angina Patients Suppress Adverse Outcomes with Early
implementation) analisaram diferenças entre os gêneros no tratamento de 32.888
pacientes com infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento de ST, entre os
anos de 2001 e 2006. Os autores compararam a freqüência de intervenções coronarianas
percutâneas e de tratamento farmacológico na chegada, entre homens e mulheres,
estratificando os grupos por faixa etária e achados nas cineangiocoronariografias. Foram
54
incluídos apenas pacientes com forte evidência de infarto do miocárdio, por critério de
dor, alterações eletrocardiográficas e/ou elevação enzimática. Os homens apresentaram
maior número de coronárias com obstrução superior a 50% e as mulheres maior número
de exames sem lesões significativas. Em pacientes com mais de 85 anos e naqueles com
lesões em 3 vasos não houve diferença no manejo invasivo e clínico. A diferença mais
expressiva foi observada nos grupos com menos de 65 anos, com lesão de 1 vaso, onde
os homens receberam mais tratamento percutâneo que as mulheres (86% vs 77%, p = 0,
0001)87.
O tratamento clínico medicamentoso também foi comparado entre homens e
mulheres, com estratificação para idade. Não houve diferença no uso de
betabloqueadores. As demais medicações foram utilizadas com mais freqüência nos
homens, principalmente o inibidor da glicoproteína IIb/IIIa no grupo etário dos 65 aos
74 anos (42,1 vs 34,7%, p = 0, 0001). A conclusão foi que, efetivamente, as mulheres
com infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do ST tem menos chance de
receber tratamento invasivo e farmacológico adequado quando comparadas aos homens,
independentemente da idade e dos achados na coronariografia87.
Da mesma forma, Blomkalns e colegas utilizaram os dados do CRUSADE para
estudar as diferenças entre os gêneros quanto ao diagnóstico e tratamento de pacientes
com síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de ST. Sobre o padrão de
atendimento, foi observado que as mulheres realizaram eletrocardiograma em até 10
minutos após a chegada com menos frequência que os homens (25,2 vs 29,3%,
respectivamente). Bem como, foram menos cuidadas por cardiologista durante a
internação (53,4 vs 63,4%). As mulheres menos frequentemente receberam heparina,
inibidores da enzima conversora da angiotensina e da glicoproteina IIb/IIIa na fase
aguda do atendimento (primeiras 24 horas); e ácido acetilsalicílico, inibidores da enzima
55
conversora da angiotensina e estatinas na alta hospitalar. O uso de
cineangiocoronariografia e revascularização foi maior em homens, porém entre os
pacientes com lesões mais graves a proporção de angioplastias foi similar entre os
gêneros. Quanto à evolução, após ajustes, apenas a chance de receber transfusão foi
maior em mulheres88.
Dados de 598.911 pacientes com infarto agudo do miocárdio do registro norte-
americano NRMI (National Registry of Myocardial Infarction) coletados entre 1994 e
2002 foram estudados a fim de identificar diferenças de tratamento entre os gêneros e
raças. Os tratamentos foram avaliados com base nas recomendações da American
College of Cardiology – American Heart Association. Os grupos foram divididos em
homens-brancos, mulheres-brancas, homens-negros e mulheres-negras. Quando
comparados com homens brancos, o risco ajustado para o uso de terapia de reperfusão
foi 0,97 para mulheres-brancas, 0,91 para homens-negros, e 0,89 para mulheres-negras
(p < 0, 001 para todas as comparações). Para cineangiocoronariografia o risco ajustado
foi 0,91, 0,82 e 0,76, respectivamente (p< 0, 001 para todas as comparações). A
diferença entre os grupos, após ajustes, no uso de ácido acetilsalicílico e betabloqueador
foi muito pequena. Da mesma forma houve pequena diferença na realização de
angioplastia coronariana, exceto em homens-negros que apresentaram risco ajustado de
0,89 (IC 0,83-0,95). Essas diferenças permaneceram estáveis ao longo dos anos, de
1994 até 2002. O grupo das mulheres-negras que recebeu as menores taxas de
intervenções também apresentou a maior mortalidade hospitalar. As razões para essas
diferenças de tratamentos entre os grupos são desconhecidas89.
Akhter analisou dados do American College of Cardiology – National
Cardiovascular Data Registry, um amplo registro norte-americano de abrangência
nacional dos laboratórios de hemodinâmica. O objetivo foi examinar se existem
56
diferenças entre os gêneros quanto às características clínicas e angiográficas, e
procedimentos terapêuticos, em pacientes com SCASSST e IAMCSST submetidos à
intervenção percutânea. Foram incluídos 199.690 pacientes, 131.664 homens e 68.026
mulheres, de janeiro de 2004 a março de 2006. Quatrocentos e setenta centros
contribuíram com pacientes para o registro. Diabete melito, hipertensão, acidente
vascular cerebral e doença vascular periférica foram mais prevalentes nas mulheres (p
<0,01), ao passo que, tabagismo, história de infarto do miocárdio e cirurgia cardíaca
foram observados mais nos homens (p<0,01). Em ambos os grupos, SCASSST e
IAMCSST verificou-se menor número de achados angiográficos de alto risco nas
mulheres. Houve discreta diferença a favor das mulheres no uso de stents revestidos
com drogas (p< 0,01). Na chegada as mulheres receberam menos frequentemente ácido
acetilsalicílico (odds ratio [OR] = 1,16, IC 95%= 1,13 a 1,20, p<0,01) e inibidor da
glicoproteína IIb/IIIa (OR= 1, 10, IC 95% =1,08 a 1,13). Ao contrário, as mulheres
foram tratadas com mais frequência com betabloqueadores, heparina de baixo molecular
e inibidores diretos da trombina. Na alta hospitalar, as mulheres receberam menos ácido
acetilsalicílico (OR= 1,17 IC 95%= 1,12 a 1,21) e estatina (OR= 1,10 IC 95%= 1,07 a
1,13). Não houve diferença entre os gêneros na mortalidade ajustada. As mulheres,
mesmo após ajustes, apresentaram maiores taxas de insuficiência cardíaca, choque
cardiogênico, sangramento de qualquer origem e evento vascular 90.
O registro suíço AMIS Plus Registry, serviu de base para avaliação da diferença
entre os sexos no manejo e evolução de 20.290 pacientes, 28% do gênero feminino, com
síndrome coronariana aguda no período de 1997 a 2006. Foram incluídos pacientes com
diagnóstico de infarto agudo do miocárdio, com e sem supradesnivelamneto do ST e
angina instável, e separados para análise em dois grupos: síndrome coronariana aguda
com e sem supradesnivelamento de ST. As mulheres foram mais idosas, apresentaram
57
mais diabete, hipertensão, e menos dislipidemia e tabagismo que os homens. Chegaram
para atendimento na emergência, em média, 60 minutos mais tarde, manifestaram mais
frequentemente dispnéia e classe Killip II-III, ECG com bloqueio de ramo esquerdo,
depressão do ST e fibrilação atrial. As mulheres receberam menos ácido acetilsalicílico,
clopidogrel, inibidores da GP IIb/IIIa, beta bloqueadores, e inibidores da enzima
conversora da angiotensina. Os homens receberam algum tipo de reperfusão em 69,4%
das síndromes coronarianas, enquanto 54,9% das mulheres foram selecionadas para este
tratamento. Mulheres foram menos encaminhadas para angioplastia que os homens nas
síndromes coronarianas com supradesnivelamento do ST (30,9% vs 40,3%,
respectivamente, p < 0, 001) e nas sem supradesnivelamento também (22% vs 30,9%, p
< 0, 001). Após ajuste estatístico o sexo feminino foi fator independente para realização
menos freqüente de angioplastia coronariana. Após análise multivariada as mulheres
não apresentaram mortalidade hospitalar mais elevada. Os autores questionam porque as
mulheres, apesar de receber menos tratamento medicamentoso e percutâneo,
apresentaram mortalidade equiparada aos homens91
O ensaio clínico randomizado CADILLAC (Controlled Abciximab and Device
Investigation to Lower Late Angioplasty Complications) alocou pacientes com infarto
agudo do miocárdio para quarto tipos de tratamento com angioplastia primária:
angioplastia com balão, balão mais abciximab, stent e stent mais abciximab. Em uma
das publicações derivadas deste elegante ensaio os autores publicaram uma análise dos
desfechos, com enfoque nas diferenças entre os gêneros. Quando comparadas com os
homens, as mulheres apresentaram mais diabete, hipertensão e dislipidemia. Sua
superfície corporal foi menor e houve mais retardo de tempo entre a chegada e o
encaminhamento para angioplastia. A observação de fluxo TIMI 3 foi mais freqüente,
tanto basal quanto o final, após o procedimento. As mulheres apresentaram maior taxa
58
de mortalidade que os homens (7,6% vs 3,0%, respectivamente, p<0, 001). O gênero
feminino foi preditor independente de eventos cardiovasculares maiores (MACE- um
composto de morte, reinfarto, AVC incapacitante e necessidade de revascularização do
vaso tratado) e sangramento, mas não de mortalidade. Menor superfície corporal e
maior número de fatores de risco foram associados à maior taxa de mortalidade em
mulheres. A utilização de stent associado ao uso de abciximab, nas mulheres, reduziu
taxa de revascularização do vaso tratado em 30 dias, sem aumento de sangramento 61
Na Alemanha, no ano 2000 iniciou-se o registro multicêntrico ACOS (Acute
Coronary Syndrome), totalizando 16.817 pacientes até 2002. Heer e colegas analisaram
estes dados, estudando os pacientes com infarto de miocárdio sem supradesnivelamento
quanto às diferenças entre os sexos. Terapia de reperfusão através de angioplastia
coronariana foi realizada com menor frequência nas mulheres em comparação com os
homens, mesmo após ajustes para características basais (OR de 0,71 nas mulheres, IC
95% de 0,63 a 0,80). Clopidogrel e inibidores da GP IIb/IIIa foram menos
administrados às mulheres, porém não o foram ácido acetilsalicílico, betabloqueador e
estatina. A mortalidade hospitalar e tardia foi maior em mulheres, mas sem diferença
estatisticamente significativa após ajuste para idade. Discordante de outras análises, os
resultados de coronariografias não mostraram diferenças entre os gêneros na gravidade
das lesões e no número de vasos comprometidos. Em relação às medicações utilizadas
na alta hospitalar somente o clopidogrel alcançou diferença significativa após ajuste
para idade. Os autores correlacionaram o uso menos frequente de clopidogrel e
inibidores da GP IIb/IIIa com a menor taxa de angioplastia nas mulheres, pois estes
tratamentos são utilizados em associação 92.
59
8 JUSTIFICATIVA
Pelos dados da literatura, as mulheres com Síndrome Coronariana Aguda devem
receber o mesmo tratamento que os homens. , As diretrizes nacionais e internacionais
sobre manejo do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento
ST e Síndrome Coronariana Aguda Sem Supradesnivelamento do Segmento ST não
fazem distinção entre os gêneros quanto às suas orientações.
A adesão a essas medidas terapêuticas na Síndrome Coronariana Aguda são
fundamentais para reduzir eventos cardiovasculares desfavoráveis durante a internação
e melhorar o prognóstico da cardiopatia isquêmica após a alta hospitalar.
Vários estudos sugerem que as mulheres com síndrome coronariana aguda
recebem menos recursos terapêuticos que os homens.
Em nosso meio, não há estudos comparando o tratamento da Síndrome
Coronariana Aguda entre os gêneros.
60
9 HIPÓTESE
A hipótese deste estudo é que as mulheres internadas com diagnóstico de
síndrome coronariana aguda recebem tratamento baseado nas diretrizes vigentes de
forma inferior quando comparadas aos homens.
61
10 OBJETIVOS
10.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a influência do gênero no tratamento da Síndrome Coronariana Aguda
em dois hospitais universitários de Porto Alegre, um geral e um cardiológico.
10.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Comparar nos gêneros, durante o período de internação:
1- As características demográficas, fatores de risco, e perfil de gravidade;
2- A prescrição do tratamento clínico nas primeiras 24 horas e na alta
hospitalar;
3- O encaminhamento para tratamento invasivo;
4- Os desfechos clínicos adversos
62
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Mackay J. MG. Global burden of coronary heart disease. Atlas of heart disease
and stroke - CDC and WHO 2004; (13):46-7.
2. Lloyd-Jones D, Adams RJ, Brown TM, et al. Heart disease and stroke statistics--
2010 update: a report from the American Heart Association. Circulation
121(7):e46-e215.
3. Ford ES, Ajani UA, Croft JB, et al. Explaining the decrease in U.S. deaths from
coronary disease, 1980-2000. N Engl J Med 2007; 356(23):2388-98.
4. Mackay J. MG. Deaths from coronary heart disease Atlas of heart disease and
stroke - CDC and WHO 2004; (14).
5. Lloyd-Jones D, Adams RJ, Brown TM, et al. Executive summary: heart disease
and stroke statistics--2010 update: a report from the American Heart Association.
Circulation 121(7):948-54.
6. Mortalidade proporcional por grupos de causas. Indicadores e dados básicos de
saúde. 2008 [cited 2010 June, 02]; Available from: www.datasus.gov.br/idb
7. Taxa de mortalidade específica por doenças do aparelho circulatório Indicadores e
dados básicos de saúde. 2008 [cited 2010 June, 02]; Available from:
www.datasus.gov.br/idb
8. Rudd J. Atherosclerotic Biology and epidemiology of disease, in Textbook of
Cardiovascular Medicine. In: Topol EJ, ed. 3 ed 2007.
9. Cooper R, Cutler J, Desvigne-Nickens P, et al. Trends and disparities in coronary
heart disease, stroke, and other cardiovascular diseases in the United States:
findings of the national conference on cardiovascular disease prevention.
Circulation 2000; 102(25):3137-47.
63
10. Ross R. Atherosclerosis--an inflammatory disease. N Engl J Med 1999;
340(2):115-26.
11. Hansson GK. Inflammation, atherosclerosis, and coronary artery disease. N Engl J
Med 2005; 352(16):1685-95.
12. Kapoor JR. Platelet activation and atherothrombosis. N Engl J Med 2008;
358(15):1638; author reply -9.
13. Withe HD. Unstable angina: Ischemic Syndromes, in Textbook of Cardiovascular
Medicine. In: Topol EJ, ed. 3 ed 2007.
14. Anderson JL, Adams CD, Antman EM, et al. ACC/AHA 2007 guidelines for the
management of patients with unstable angina/non ST-elevation myocardial
infarction: a report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to Revise the
2002 Guidelines for the Management of Patients With Unstable Angina/Non ST-
Elevation Myocardial Infarction): developed in collaboration with the American
College of Emergency Physicians, the Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions, and the Society of Thoracic Surgeons: endorsed by the
American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation and the
Society for Academic Emergency Medicine. Circulation 2007; 116(7):e148-304.
15. Cannon CP. Unstable Angina and Non-ST Elevation Myocardial Infarction, in
Braunwald's: Textbook of Cardiovascular Medicine In: Libby P, ed. 8 ed 2007.
16. Abidov A, Rozanski A, Hachamovitch R, et al. Prognostic significance of
dyspnea in patients referred for cardiac stress testing. N Engl J Med 2005;
353(18):1889-98.
64
17. Antman EM, Cohen M, Bernink PJ, et al. The TIMI risk score for unstable
angina/non-ST elevation MI: A method for prognostication and therapeutic
decision making. JAMA 2000; 284(7):835-42.
18. Eagle KA, Lim MJ, Dabbous OH, et al. A validated prediction model for all
forms of acute coronary syndrome: estimating the risk of 6-month postdischarge
death in an international registry. JAMA 2004; 291(22):2727-33.
19. Morrow DA, Antman EM, Charlesworth A, et al. TIMI risk score for ST-
elevation myocardial infarction: A convenient, bedside, clinical score for risk
assessment at presentation: An intravenous nPA for treatment of infarcting
myocardium early II trial substudy. Circulation 2000; 102(17):2031-7.
20. [Guidelines for Unstable Angina and Non-ST-Segment Elevation Myocardial
Infarction of the Brazilian Society of Cardiology (II Edition,2007).]. Arq Bras
Cardiol 2007; 89(4):e89-131.
21. Roger VL, Killian JM, Weston SA, et al. Redefinition of myocardial infarction:
prospective evaluation in the community. Circulation 2006; 114(8):790-7.
22. Antman EM, Tanasijevic MJ, Thompson B, et al. Cardiac-specific troponin I
levels to predict the risk of mortality in patients with acute coronary syndromes. N
Engl J Med 1996; 335(18):1342-9.
23. Berger JS, Elliott L, Gallup D, et al. Sex differences in mortality following acute
coronary syndromes. JAMA 2009; 302(8):874-82.
24. Stone GW, Ohman EM, Miller MF, et al. Contemporary utilization and outcomes
of intra-aortic balloon counterpulsation in acute myocardial infarction: the
benchmark registry. J Am Coll Cardiol 2003; 41(11):1940-5.
25. Swahn E, Alfredsson J, Afzal R, et al. Early invasive compared with a selective
invasive strategy in women with non-ST-elevation acute coronary syndromes: a
65
substudy of the OASIS 5 trial and a meta-analysis of previous randomized trials.
Eur Heart J 2009.
26. Yusuf S, Zhao F, Mehta SR, Chrolavicius S, Tognoni G, Fox KK. Effects of
clopidogrel in addition to aspirin in patients with acute coronary syndromes
without ST-segment elevation. N Engl J Med 2001; 345(7):494-502.
27. Kastrati A, Mehilli J, Neumann FJ, et al. Abciximab in patients with acute
coronary syndromes undergoing percutaneous coronary intervention after
clopidogrel pretreatment: the ISAR-REACT 2 randomized trial. JAMA 2006;
295(13):1531-8.
28. Ferguson JJ, Califf RM, Antman EM, et al. Enoxaparin vs unfractionated heparin
in high-risk patients with non-ST-segment elevation acute coronary syndromes
managed with an intended early invasive strategy: primary results of the
SYNERGY randomized trial. JAMA 2004; 292(1):45-54.
29. Inhibition of platelet glycoprotein IIb/IIIa with eptifibatide in patients with acute
coronary syndromes. The PURSUIT Trial Investigators. Platelet Glycoprotein
IIb/IIIa in Unstable Angina: Receptor Suppression Using Integrilin Therapy. N
Engl J Med 1998; 339(7):436-43.
30. Randomised placebo-controlled trial of abciximab before and during coronary
intervention in refractory unstable angina: the CAPTURE Study. Lancet 1997;
349(9063):1429-35.
31. Vaccarino V, Horwitz RI, Meehan TP, Petrillo MK, Radford MJ, Krumholz HM.
Sex differences in mortality after myocardial infarction: evidence for a sex-age
interaction. Arch Intern Med 1998; 158(18):2054-62.
32. Zhao XQ, Theroux P, Snapinn SM, Sax FL. Intracoronary thrombus and platelet
glycoprotein IIb/IIIa receptor blockade with tirofiban in unstable angina or non-Q-
66
wave myocardial infarction. Angiographic results from the PRISM-PLUS trial
(Platelet receptor inhibition for ischemic syndrome management in patients
limited by unstable signs and symptoms). PRISM-PLUS Investigators. Circulation
1999; 100(15):1609-15.
33. Bavry AA, Kumbhani DJ, Rassi AN, Bhatt DL, Askari AT. Benefit of early
invasive therapy in acute coronary syndromes: a meta-analysis of contemporary
randomized clinical trials. J Am Coll Cardiol 2006; 48(7):1319-25.
34. Morrison DA, Sethi G, Sacks J, et al. Percutaneous coronary intervention versus
coronary artery bypass graft surgery for patients with medically refractory
myocardial ischemia and risk factors for adverse outcomes with bypass: a
multicenter, randomized trial. Investigators of the Department of Veterans Affairs
Cooperative Study #385, the Angina With Extremely Serious Operative Mortality
Evaluation (AWESOME). J Am Coll Cardiol 2001; 38(1):143-9.
35. Van de Werf F, Ardissino D, Betriu A, et al. Management of acute myocardial
infarction in patients presenting with ST-segment elevation. The Task Force on
the Management of Acute Myocardial Infarction of the European Society of
Cardiology. Eur Heart J 2003; 24(1):28-66.
36. Antman EM, Anbe DT, Armstrong PW, et al. ACC/AHA guidelines for the
management of patients with ST-elevation myocardial infarction: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Practice Guidelines (Committee to Revise the 1999 Guidelines for the
Management of Patients with Acute Myocardial Infarction). Circulation 2004;
110(9):e82-292.
37. [III Guidelines on the treatment of myocardial acute infarction]. Arq Bras Cardiol
2004; 83 Suppl 4:3-86.
67
38. Adams JE, 3rd, Abendschein DR, Jaffe AS. Biochemical markers of myocardial
injury. Is MB creatine kinase the choice for the 1990s? Circulation 1993;
88(2):750-63.
39. Antman E. ST-Elevation Myocardial Infarction, in Braunwald's Heart Disease- a
Textbook of Cardiovascular Medicine. In: Libby P, ed. 8 ed 2007.
40. Antman EM, Hand M, Armstrong PW, et al. 2007 Focused Update of the
ACC/AHA 2004 Guidelines for the Management of Patients With ST-Elevation
Myocardial Infarction: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines: developed in collaboration
With the Canadian Cardiovascular Society endorsed by the American Academy of
Family Physicians: 2007 Writing Group to Review New Evidence and Update the
ACC/AHA 2004 Guidelines for the Management of Patients With ST-Elevation
Myocardial Infarction, Writing on Behalf of the 2004 Writing Committee.
Circulation 2008; 117(2):296-329.
41. Van de Werf FJ. Acute Myocardial infarction: Early diagnosis and management,
in Textbook of Cardiovascular Medicine. In: Topol EJ, ed. . 3 ed 2007.
42. Pfisterer M, Cox JL, Granger CB, et al. Atenolol use and clinical outcomes after
thrombolysis for acute myocardial infarction: the GUSTO-I experience. Global
Utilization of Streptokinase and TPA (alteplase) for Occluded Coronary Arteries.
J Am Coll Cardiol 1998; 32(3):634-40.
43. Chen ZM, Pan HC, Chen YP, et al. Early intravenous then oral metoprolol in
45,852 patients with acute myocardial infarction: randomised placebo-controlled
trial. Lancet 2005; 366(9497):1622-32.
44. Ting H. Reperfusion strategy for ST elevation Myocardial Infarction, in Mayo
Clinic Cardiology-Concise Textbook. In: Murphy JG, Lloyd M, eds. 3 ed 2007.
68
45. Nallamothu BK, Wang Y, Magid DJ, et al. Relation between hospital
specialization with primary percutaneous coronary intervention and clinical
outcomes in ST-segment elevation myocardial infarction: National Registry of
Myocardial Infarction-4 analysis. Circulation 2006; 113(2):222-9.
46. Henry TD, Unger BT, Sharkey SW, et al. Design of a standardized system for
transfer of patients with ST-elevation myocardial infarction for percutaneous
coronary intervention. Am Heart J 2005; 150(3):373-84.
47. Stone GW, Grines CL, Cox DA, et al. Comparison of angioplasty with stenting,
with or without abciximab, in acute myocardial infarction. N Engl J Med 2002;
346(13):957-66.
48. Nielsen PH, Maeng M, Busk M, et al. Primary angioplasty versus fibrinolysis in
acute myocardial infarction: long-term follow-up in the Danish acute myocardial
infarction 2 trial. Circulation 121(13):1484-91.
49. Antoniucci D, Santoro GM, Bolognese L, Valenti R, Trapani M, Fazzini PF. A
clinical trial comparing primary stenting of the infarct-related artery with optimal
primary angioplasty for acute myocardial infarction: results from the Florence
Randomized Elective Stenting in Acute Coronary Occlusions (FRESCO) trial. J
Am Coll Cardiol 1998; 31(6):1234-9.
50. Keeley EC, Boura JA, Grines CL. Comparison of primary and facilitated
percutaneous coronary interventions for ST-elevation myocardial infarction:
quantitative review of randomised trials. Lancet 2006; 367(9510):579-88.
51. Primary versus tenecteplase-facilitated percutaneous coronary intervention in
patients with ST-segment elevation acute myocardial infarction (ASSENT-4 PCI):
randomised trial. Lancet 2006; 367(9510):569-78.
69
52. Kushner FG, Hand M, Smith SC, Jr., et al. 2009 Focused Updates: ACC/AHA
Guidelines for the Management of Patients With ST-Elevation Myocardial
Infarction (updating the 2004 Guideline and 2007 Focused Update) and
ACC/AHA/SCAI Guidelines on Percutaneous Coronary Intervention (updating
the 2005 Guideline and 2007 Focused Update): a report of the American College
of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines. Circulation 2009; 120(22):2271-306.
53. Sutton AG, Campbell PG, Graham R, et al. A randomized trial of rescue
angioplasty versus a conservative approach for failed fibrinolysis in ST-segment
elevation myocardial infarction: the Middlesbrough Early Revascularization to
Limit INfarction (MERLIN) trial. J Am Coll Cardiol 2004; 44(2):287-96.
54. Gershlick AH, Stephens-Lloyd A, Hughes S, et al. Rescue angioplasty after failed
thrombolytic therapy for acute myocardial infarction. N Engl J Med 2005;
353(26):2758-68.
55. Wijeysundera HC, Vijayaraghavan R, Nallamothu BK, et al. Rescue angioplasty
or repeat fibrinolysis after failed fibrinolytic therapy for ST-segment myocardial
infarction: a meta-analysis of randomized trials. J Am Coll Cardiol 2007;
49(4):422-30.
56. Kunadian B, Sutton AG, Vijayalakshmi K, et al. Early invasive versus
conservative treatment in patients with failed fibrinolysis--no late survival benefit:
the final analysis of the Middlesbrough Early Revascularisation to Limit
Infarction (MERLIN) randomized trial. Am Heart J 2007; 153(5):763-71.
57. Cantor WJ, Fitchett D, Borgundvaag B, et al. Routine early angioplasty after
fibrinolysis for acute myocardial infarction. N Engl J Med 2009; 360(26):2705-
18.
70
58. Hochman JS, Lamas GA, Buller CE, et al. Coronary intervention for persistent
occlusion after myocardial infarction. N Engl J Med 2006; 355(23):2395-407.
59. Yusuf S, Mehta SR, Chrolavicius S, et al. Effects of fondaparinux on mortality
and reinfarction in patients with acute ST-segment elevation myocardial
infarction: the OASIS-6 randomized trial. JAMA 2006; 295(13):1519-30.
60. Antman EM, Morrow DA, McCabe CH, et al. Enoxaparin versus unfractionated
heparin with fibrinolysis for ST-elevation myocardial infarction. N Engl J Med
2006; 354(14):1477-88.
61. Lansky AJ, Pietras C, Costa RA, et al. Gender differences in outcomes after
primary angioplasty versus primary stenting with and without abciximab for acute
myocardial infarction: results of the Controlled Abciximab and Device
Investigation to Lower Late Angioplasty Complications (CADILLAC) trial.
Circulation 2005; 111(13):1611-8.
62. Sabatine MS, Cannon CP, Gibson CM, et al. Addition of clopidogrel to aspirin
and fibrinolytic therapy for myocardial infarction with ST-segment elevation. N
Engl J Med 2005; 352(12):1179-89.
63. Wiviott SD, Braunwald E, McCabe CH, et al. Prasugrel versus clopidogrel in
patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med 2007; 357(20):2001-15.
64. Pfeffer MA, McMurray JJ, Velazquez EJ, et al. Valsartan, captopril, or both in
myocardial infarction complicated by heart failure, left ventricular dysfunction, or
both. N Engl J Med 2003; 349(20):1893-906.
65. Olson MB, Kelsey SF, Matthews K, et al. Symptoms, myocardial ischaemia and
quality of life in women: results from the NHLBI-sponsored WISE Study. Eur
Heart J 2003; 24(16):1506-14.
71
66. Shaw LJ, Shaw RE, Merz CN, et al. Impact of ethnicity and gender differences on
angiographic coronary artery disease prevalence and in-hospital mortality in the
American College of Cardiology-National Cardiovascular Data Registry.
Circulation 2008; 117(14):1787-801.
67. Shaw LJ, Bugiardini R, Merz CN. Women and ischemic heart disease: evolving
knowledge. J Am Coll Cardiol 2009; 54(17):1561-75.
68. Ni H, Coady S, Rosamond W, et al. Trends from 1987 to 2004 in sudden death
due to coronary heart disease: the Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC)
study. Am Heart J 2009; 157(1):46-52.
69. Herlitz J, Dellborg M, Karlsson T, et al. Treatment and outcome in acute
myocardial infarction in a community in relation to gender. Int J Cardiol 2009;
135(3):315-22.
70. Best PJM, Hayes SN. Heart Disease in Women, in Mayo Clinic Cardiology-
Concise Textbook. In: Murphy JG, Lloyd MA, eds. 3 ed 2007.
71. Michos ED, Nasir K, Braunstein JB, et al. Framingham risk equation
underestimates subclinical atherosclerosis risk in asymptomatic women.
Atherosclerosis 2006; 184(1):201-6.
72. Lakoski SG, Greenland P, Wong ND, et al. Coronary artery calcium scores and
risk for cardiovascular events in women classified as "low risk" based on
Framingham risk score: the multi-ethnic study of atherosclerosis (MESA). Arch
Intern Med 2007; 167(22):2437-42.
73. Wong ND, Pio J, Valencia R, Thakal G. Distribution of C-reactive protein and its
relation to risk factors and coronary heart disease risk estimation in the National
Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) III. Prev Cardiol 2001;
4(3):109-14.
72
74. Bairey Merz CN, Johnson BD, Sharaf BL, et al. Hypoestrogenemia of
hypothalamic origin and coronary artery disease in premenopausal women: a
report from the NHLBI-sponsored WISE study. J Am Coll Cardiol 2003;
41(3):413-9.
75. Douglas PS, Ginsburg GS. The evaluation of chest pain in women. N Engl J Med
1996; 334(20):1311-5.
76. Shaw LJ, Merz CN, Pepine CJ, et al. The economic burden of angina in women
with suspected ischemic heart disease: results from the National Institutes of
Health--National Heart, Lung, and Blood Institute--sponsored Women's Ischemia
Syndrome Evaluation. Circulation 2006; 114(9):894-904.
77. Johnson BD, Shaw LJ, Pepine CJ, et al. Persistent chest pain predicts
cardiovascular events in women without obstructive coronary artery disease:
results from the NIH-NHLBI-sponsored Women's Ischaemia Syndrome
Evaluation (WISE) study. Eur Heart J 2006; 27(12):1408-15.
78. Gulati M, Cooper-DeHoff RM, McClure C, et al. Adverse cardiovascular
outcomes in women with nonobstructive coronary artery disease: a report from
the Women's Ischemia Syndrome Evaluation Study and the St James Women
Take Heart Project. Arch Intern Med 2009; 169(9):843-50.
79. Alexander KP, Shaw LJ, Shaw LK, Delong ER, Mark DB, Peterson ED. Value of
exercise treadmill testing in women. J Am Coll Cardiol 1998; 32(6):1657-64.
80. Mieres JH, Shaw LJ, Arai A, et al. Role of noninvasive testing in the clinical
evaluation of women with suspected coronary artery disease: Consensus statement
from the Cardiac Imaging Committee, Council on Clinical Cardiology, and the
Cardiovascular Imaging and Intervention Committee, Council on Cardiovascular
73
Radiology and Intervention, American Heart Association. Circulation 2005;
111(5):682-96.
81. Hochman JS, Tamis JE, Thompson TD, et al. Sex, clinical presentation, and
outcome in patients with acute coronary syndromes. Global Use of Strategies to
Open Occluded Coronary Arteries in Acute Coronary Syndromes IIb
Investigators. N Engl J Med 1999; 341(4):226-32.
82. Newby L. Cardiovascular disease in women. In: Libby P, ed. Braunwald's Heart
Disease : a textbook of cardiovascular medicine. 8 ed: Saunders 2008.
83. Burke A, Kolodgie F, Virmani R. Coronary Disease in Women, in Cardiovascular
Medicine. In: Willerson J, Cohn J, Wellens H, Holmes D, eds. 3 ed 2007.
84. Reis SE, Holubkov R, Conrad Smith AJ, et al. Coronary microvascular
dysfunction is highly prevalent in women with chest pain in the absence of
coronary artery disease: results from the NHLBI WISE study. Am Heart J 2001;
141(5):735-41.
85. Rossi R, Nuzzo A, Origliani G, Modena MG. Prognostic role of flow-mediated
dilation and cardiac risk factors in post-menopausal women. J Am Coll Cardiol
2008; 51(10):997-1002.
86. O'Donoghue M, Boden WE, Braunwald E, et al. Early invasive vs conservative
treatment strategies in women and men with unstable angina and non-ST-segment
elevation myocardial infarction: a meta-analysis. JAMA 2008; 300(1):71-80.
87. Tavris D, Shoaibi A, Chen AY, Uchida T, Roe MT, Chen J. Gender differences in
the treatment of non-ST-segment elevation myocardial infarction. Clin Cardiol
33(2):99-103.
88. Blomkalns AL, Chen AY, Hochman JS, et al. Gender disparities in the diagnosis
and treatment of non-ST-segment elevation acute coronary syndromes: large-scale
74
observations from the CRUSADE (Can Rapid Risk Stratification of Unstable
Angina Patients Suppress Adverse Outcomes With Early Implementation of the
American College of Cardiology/American Heart Association Guidelines)
National Quality Improvement Initiative. J Am Coll Cardiol 2005; 45(6):832-7.
89. Vaccarino V, Rathore SS, Wenger NK, et al. Sex and racial differences in the
management of acute myocardial infarction, 1994 through 2002. N Engl J Med
2005; 353(7):671-82.
90. Akhter N, Milford-Beland S, Roe MT, Piana RN, Kao J, Shroff A. Gender
differences among patients with acute coronary syndromes undergoing
percutaneous coronary intervention in the American College of Cardiology-
National Cardiovascular Data Registry (ACC-NCDR). Am Heart J 2009;
157(1):141-8.
91. Radovanovic D, Erne P, Urban P, Bertel O, Rickli H, Gaspoz JM. Gender
differences in management and outcomes in patients with acute coronary
syndromes: results on 20,290 patients from the AMIS Plus Registry. Heart 2007;
93(11):1369-75.
92. Heer T, Gitt AK, Juenger C, et al. Gender differences in acute non-ST-segment
elevation myocardial infarction. Am J Cardiol 2006; 98(2):160-6.
76
Artigo original – Arq Bras Cardiol Julho 2010
A INFLUÊNCIA DO GÊNERO NO TRATAMENTO DA SÍNDROME
CORONARIANA AGUDA
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL/
FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA
Juliano Guzzo Zechin e José Luiz da Costa Vieira
Autor para Correspondência:
Juliano Guzzo Zechin – Unidade de Pesquisa IC/FUC
Av. Princesa Isabel, 370 Santana CEP 90.620-000
Porto Alegre, RS – BRASIL
77
RESUMO
Fundamento: A doença arterial coronariana é causa de 3,5 milhões de óbitos por ano
em mulheres ao redor do mundo. A mortalidade durante a hospitalização índice devido
a um infarto agudo do miocárdio é maior entre as mulheres. Várias publicações sugerem
que as mulheres com síndrome coronariana aguda recebem menos recursos terapêuticos
que os homens. Objetivo: Avaliar a influência do gênero sobre o tratamento da
síndrome coronariana aguda em dois hospitais universitários de Porto Alegre. Métodos:
Estudo de coorte retrospectivo, incluindo pacientes com diagnóstico de síndrome
coronariana aguda internados em unidades de cuidados intensivos, no biênio 2004-
2005. Resultados: Comparação entre os gêneros no uso de medicações nas primeiras 24
horas de hospitalização de síndrome coronariana aguda tanto no Infarto Agudo do
Miocárdio com Supradesnivelamento de ST (IAMCSST) como na Síndrome
Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST (SCASSST) não evidenciou
diferença quanto ao uso de ácido acetilsalicílico, estatina, e betabloqueador. Quanto às
medidas de reperfusão, no IAMCSST não houve diferença na angioplastia primária
(67% VS 63%, OR=0,92, IC=0,65-1,31; p=0,65) e fibrinolítico (21% vs 25%, OR=1,30,
IC=0,87-1,93; p=0,20). Na SCASSST, a abordagem invasiva precoce (44% vs 38,5%,
em homens e mulheres, respectivamente, OR=0, 87, IC=0,65-1,17; p=0,36) não
apresentou diferença nas taxas de indicação. Não houve diferença de mortalidade
hospitalar entre os gêneros. As mulheres com IAMCSST apresentaram mais AVC e
utilização de ventilação mecânica. Conclusão: Não foram observadas diferenças
significativas entre os gêneros quanto aos tratamentos clínico e invasivo, administrados
a pacientes com síndrome coronariana aguda em dois hospitais universitários de Porto
Alegre.
Descritores: Síndrome Coronariana Aguda; Gênero e Saúde; Atenção à Saúde
78
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte entre as
mulheres no Brasil e no mundo, superando o número de óbitos por neoplasias1, 2. Dados
recentes apontam para a redução da mortalidade por doença arterial coronariana nas
mulheres em vários países, embora numa proporção inferior aos homens3, 4. Cerca de
3,5 milhões de mulheres morrem por ano ao redor do mundo em consequência da
doença arterial coronariana4.
O Rio Grande do Sul apresentou em 2006 uma das mais elevadas taxas de
mortalidade específica por doença arterial coronariana do Brasil, com 70 óbitos por 100
mil habitantes, sendo que em Porto Alegre ocorreram 94,3 óbitos por 100 mil em
homens e 79,1 por 100 mil mulheres5.
As mulheres com doença arterial coronariana sofrem mais hospitalizações,
consultam com mais freqüência, tem sintomas mais difíceis de serem controlados que os
homens, e cursam com menores taxas de bem-estar geral e maiores limitações de suas
atividades cotidianas6. Dados recentes mostram redução significativa no número de
mortes súbitas secundárias à cardiopatia isquêmica nos homens, sem redução
correspondente nas mulheres7. Estudo sobre óbitos causados por cardiopatia isquêmica,
no período de 1987 a 2004, nos Estados Unidos, mostrou que 64% das mulheres que
morreram subitamente em decorrência de cardiopatia isquêmica não apresentavam
sintomas prévios sugestivos da doença, enquanto nos homens este percentual foi de
50%1. Nos Estados Unidos, a mortalidade durante a hospitalização índice devido a um
infarto agudo do miocárdio é maior entre as mulheres8.
Muitos estudos sugerem a existência de um “viés do gênero” no tratamento das
síndromes coronarianas agudas, onde as mulheres receberiam menos recursos
diagnósticos e terapêuticos que os homens9-12. Análises mais recentes, valendo-se de
79
ferramentas estatísticas mais modernas colocam dúvida sobre o gênero constituir fator
independente para subtratamento nas síndromes coronarianas agudas13, 14.
O objetivo deste estudo é avaliar a influência do gênero no tratamento da
Síndrome Coronariana Aguda em dois hospitais universitários de Porto Alegre.
MATERIAL E MÉTODOS
DELINEAMENTO
Estudo de coorte retrospectivo.
AMOSTRA
Todos os pacientes com idade acima de 20 anos que internaram nas Unidades de
Tratamento Intensivo dos hospitais envolvidos no estudo com diagnóstico de SCA,
tanto SCASSST como IAMCSST, entre 1o de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de
2005 e que permaneceram pelo menos 24 horas internados foram incluídos no estudo. O
estudo foi submetido à aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa dos hospitais
envolvidos, seguindo as recomendações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde. Pelas características e delineamento do projeto, não houve necessidade de
aplicação de termo de consentimento livre e esclarecido.
Considerando a proporção de 3 homens para 2 mulheres, poder de 80%, com p α
de 0,05; e estimando que 80% dos pacientes receberam tratamento recomendado pelas
diretrizes vigentes no período da coleta de dados, calculou-se a amostra com pelo menos
745 pacientes em cada grupo (SCASSST E IAMCSST), a fim de detectar diferença de
10% no tratamento recebido entre homens e mulheres. Foi utilizado o programa Epi
Info versão 3.3.2 para o cálculo da amostra.
80
HOSPITAIS ENVOLVIDOS NO ESTUDO
Instituto de Cardiologia / Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande
Sul – hospital universitário especializado na área de cardiologia, com regime misto de
internação (particular, convênio e Sistema Único de Saúde), com serviço de emergência,
hemodinâmica disponível 24 horas por dia, unidade coronariana, bloco cirúrgico e
unidades de internação, possuindo 200 leitos e com média de 100 internações/mês no
seu Centro de Tratamento Intensivo.
Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul –
hospital universitário geral, filantrópico, com regime misto de internação (particular,
convênios e Sistema Único de Saúde), com serviço de emergência, unidade coronariana,
bloco cirúrgico, unidades de internação e hemodinâmica, possuindo 539 leitos totais.
Ambos os hospitais envolvidos no estudo possuem rotina semelhante no
atendimento de pacientes com SCA, dispondo de todas as medicações atualmente
recomendadas conforme as diretrizes vigentes. O hospital São Lucas da PUCRS não
possuía plantão noturno e de fim de semana na hemodinâmica e o IC-FUC não possuía
dosagem laboratorial de troponina I no período de vigência do estudo, sendo utilizada a
dosagem da CK-MB como marcador de necrose miocárdica.
DADOS COLETADOS
Todos os dados foram obtidos através de análise retrospectiva de prontuários,
incluindo, além dos dados demográficos:
- Dados clínicos: história familiar DAC precoce; hipertensão arterial sistêmica
(diagnóstico prévio, uso de tratamento anti-hipertensivo ou diagnóstico pelas diretrizes
vigentes na internação índice); diabete melito (diagnóstico prévio, uso de
hipoglicemiantes orais ou insulina ou diagnóstico pelas diretrizes vigentes na internação
81
índice); tabagismo; dislipidemia (diagnóstico prévio ou uso de hipolipemiantes);
insuficiência cardíaca prévia; insuficiência renal (creatinina ≥ 2,0 mg/dL); acidente
vascular cerebral prévio; DAC prévia (envolvendo angina estável e instável, cirurgia de
revascularização miocárdica, angioplastia coronariana percutânea ou infarto agudo do
miocárdio prévios); história de uso recente (nos últimos 7 dias) de ácido acetilsalicílico
(AAS); ocorrência de dois ou mais episódios de angina severa nas últimas 24 horas
(pacientes admitidos com SCASSST) e tempo desde o início da dor até a chegada no
hospital (Delta t no IAMCSST);
- Achados clínicos e laboratoriais na admissão: presença de bloqueio completo de ramo
esquerdo novo, supradesnivelamento ou alteração dinâmica do segmento ST no
eletrocardiograma, sinais clínicos de insuficiência cardíaca (classificação de Killip),
freqüência cardíaca, pressão arterial sistólica, elevação de marcadores bioquímicos de
necrose miocárdica (Ck-MB e troponina I);
- Estratificação de risco: A fim de comparar entre os gêneros a gravidade dos pacientes
com IAMCSST e SCASST utilizamos 3 categorias de risco com base nos escores TIMI
para IAMCSST e TIMI para SCASSST 15, 16. Para ambos os escores, foram
consideradas categorias de baixo risco, casos com escore de 0 a 2; moderado risco,
englobando escores 3 e 4; e elevado risco considerando escores igual ou maior a 5.
- Medicações usadas nas primeiras 24 horas: AAS, betabloqueador, heparinas (não-
fracionada e baixo peso molecular, visando anticoagulação plena),
clopidogrel/ticlopidina, inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, estatina;
- Uso de procedimentos/ tratamentos invasivos e seu momento na internação:
cateterismo cardíaco, angioplastia coronária transluminal percutânea (ACTP), cirurgia
de revascularização miocárdica, uso de trombolítico, balão intra-aórtico, ventilação
mecânica;
82
- Desfechos clínicos adversos intra-hospitalares: choque cardiogênico (PAS < 90 mmHg
sem resposta a medidas de reposição de volume), reinfarto (sintomas, alteração
bioquímica e eletrocardiográfica), necessidade de revascularização miocárdica de
urgência, sangramento maior (com repercussão hemodinâmica e necessitando
transfusão sangüínea), acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca (sintomas,
sinais ao exame físico, radiografia de tórax mostrando congestão pulmonar) e óbito;
- Medicações prescritas na alta hospitalar: AAS, clopidogrel/ticlopidina,
betabloqueador, inibidor da enzima conversora da angiotensina/antagonista do receptor
da angiotensina II e estatina;
- Contraindicações ao uso das principais terapêuticas empregadas: AAS (alergia,
sangramento ativo ou prévio recente, sangramento gastrointestinal ou geniturinário
severos, úlcera péptica prévia); heparina (sangramento ativo ou prévio recente,
sangramento gastrintestinal ou geniturinário severos, úlcera, plaquetopenia abaixo de
100.000 plaquetas ou história de plaquetopenia induzida por heparina);
betabloqueadores (alergia ou hipersensibilidade, DPOC, asma, broncoespasmo severos,
bradicardia, bloqueio atrioventricular acima de primeiro grau, hipotensão, choque);
inibidores da enzima conversora da angiotensina (alergia ou hipersensibilidade,
insuficiência hepática, insuficiência renal crônica, hipercalemia, angioedema prévio,
hipotensão, gravidez) e estatinas (alergia ou hipersensibilidade, insuficiência hepática
severa);
83
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para análise da terapêutica foram seguidas as Diretrizes de Angina Instável e
Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do ST, 2001 e III Diretriz sobre
Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio, 2004 da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, sendo toda a análise realizada separadamente para SCASSST e para
IAMCSST. Dos pacientes com SCASSST, aqueles com escore de risco TIMI ≥3 ou
apresentando marcadores cardíacos positivos foram considerados de alto risco na
análise. Tratamento e desfechos intra-hospitalares foram comparados entre os gêneros.
Os resultados das variáveis categóricas e contínuas foram expressos como
número e porcentagem e como média e desvio padrão. Foram utilizados o teste do qui-
quadrado para a comparação das características demográficas e clínicas; e desfechos
intra-hospitalares. Para análise da terapêutica medicamentosa e intervencionista foi
utilizada regressão logística múltipla com cálculo de odds ratio (OR) para avaliar o
efeito do gênero, com ajuste por modelos específicos para SCASSST ou IAMCSST.
Para os casos de SCASSST o modelo incorporou idade, diabetes, hipertensão arterial
sistêmica, dislipidemia, tabagismo, presença de marcadores cardíacos positivos,
alteração dinâmica de ST, história familiar de DAC precoce, acidente vascular cerebral
e DAC prévios, tipo de internação e hospital. Para os casos de IAMCSST o modelo
incluiu idade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, angina pectoris, infarto agudo do
miocárdio ou acidente vascular cerebral prévios, pressão arterial sistólica menor do que
90 mmHg, freqüência cardíaca maior do que 100 bpm ou Killip acima de I na admissão,
supradesnível de segmento ST anterior ou bloqueio completo de ramo esquerdo, tempo
de início da dor até a chegada ao hospital, tipo de internação e tipo de hospital. Todas as
análises de indicação de medicamentos foram realizadas nos pacientes sem contra-
indicações para o tratamento específico em questão. O nível de significância utilizado
84
foi α=0,05 bi-caudal. A análise estatística foi realizada com o programa SPSS versão
17.0 (Chicago, IL).
RESULTADOS
Os dados foram analisados em separado para cada uma das formas de síndrome
coronariana aguda (SCA). Do total de 1922 pacientes, 938 (49%) apresentavam
diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST
(IAMCSST) e 984 (51%) Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento do
Segmento ST (SCASSST).
As características gerais dos pacientes estão apresentadas na Tabela 1. Dos casos
de IAMCSST (Tabela 1), 633 (67%) foram atendidos no hospital especializado em
cardiologia. As 313 mulheres (33% do total) apresentaram média de idade superior aos
homens, 63 ±12 e 58 ±12 anos (p<0, 001). A maioria dos fatores de risco para doença
arterial coronariana foi mais frequente nas mulheres: hipertensão (76% vs 61%, p<0,
001), dislipidemia (44% vs 32%, p<0, 001), diabete melito (28% vs 23%, p=0,09).
Tabagismo foi mais freqüente em homens (43% vs 56%, p<0, 001). Não houve
diferença significativa entre os gêneros nas demais características analisadas: história
familiar de doença arterial coronariana, doença arterial coronariana prévia, acidente
vascular cerebral, insuficiência renal e insuficiência cardíaca. O gênero feminino
representou 31% dos IAMCSST no hospital de cardiologia e 39% no hospital geral
(p=0,02).
Nos pacientes com SCASSST a idade também foi mais elevada nas mulheres do que
nos homens (66 ±12 vs 63 ±11 anos, p<0, 001). As mulheres apresentaram mais diabete
melito (36% vs 28%, p=0, 007), hipertensão (89% vs 71%, p<0, 001), dislipidemia
(52% vs 45%, p=0,02) e história de angina pectoris (33% vs 24%, p=0, 003) e menos
85
tabagismo (22% vs 37%, p<0, 001) e insuficiência renal (5% vs 11%, p<0, 001).
Seguindo a tendência do IAMCSST, as mulheres representaram 47% dos casos de
SCASST no hospital geral e 39% no hospital de cardiologia, p=0.02.
A utilização de medicamentos administrados nas primeiras 24 horas após a
chegada do paciente ao hospital foi comparada entre os gêneros e está apresentada na
tabela 2. Nos casos de IAMCSST não houve diferença significativa, após ajuste, entre
os gêneros quanto ao uso de ácido acetilsalicílico, tienopiridínicos (clopidogrel e
ticlopidina), betabloqueador, estatina, heparina não-fracionada, heparina de baixo peso
molecular e antagonista do receptor da glicoproteína IIb/IIIa. O mesmo padrão de
tratamento foi observado na SCASSST, não sendo constatada diferença significativa na
prescrição dos fármacos acima entre mulheres e homens.
A tabela 3 demonstra a aplicação de terapia de reperfusão no IAMCSST. A
angioplastia primária foi realizada em 63% das mulheres e 67% dos homens (OR=0,92,
IC=0,65-1,31, p=0,65). Somando-se todos os tipos de angioplastia (angioplastia
primária, facilitada, resgate e eletiva, com ou sem implante de stent), foi verificado que
as mulheres foram submetidas em 71% versus 70% dos homens (OR=0,81, IC=0,76-
1,43, p=0,81). Um total de 25% das mulheres com IAMCSST receberam fibrinolíticos
contra 21% dos homens (OR=1,30, IC=0,87-1,93, p=0,20).
Foi analisada a estratégia invasiva na SCASSST (tabela 4). Das mulheres com
SCASSST e escore TIMI ≥ 3, 39% receberam a abordagem invasiva precoce
(cinecoronariografia em até 48 horas após a chegada ao hospital), contra 44% dos
homens com o mesmo diagnóstico (OR=0,87, IC=0,65-1,17, p=0,36). A
cineangiocoronariografia foi realizada, em qualquer momento da internação, em 77%
das mulheres e homens (OR=1,12, IC=0,74-1,41, P=0,20). Angioplastia coronariana, de
urgência ou eletiva, com ou sem colocação de stent, foi realizada em 30% das mulheres
86
e 29% dos homens (OR=1,02, IC=0,74-1,41, p=0,89). A cirurgia de revascularização
miocárdica foi mais freqüente nos homens que nas mulheres (17% vs 12%, p= 0,14).
A tabela 5 apresenta os achados nas cineangiocoronariografias. Entre os
pacientes com IAMCSST, cineangiocoronariografia foi realizada em 92% das mulheres
e 90% dos homens, p=0,45. Não houve diferença significativa entre os gêneros quanto
ao número de coronárias com estenose superior a 50%. O resultado do exame foi
classificado como lesão de 1, 2, ou 3 vasos e lesão de tronco de coronária esquerda. A
freqüência de cateterismos cardíacos sem lesões significativas foi de 3% no gênero
feminino e 2% no masculino, p=0,50.
Nos casos de SCASSST a cineangiocoronariografia foi realizada em 77% das
mulheres e 75% dos homens, p=0,58. As mulheres apresentaram maior número de
cateterismos sem lesões coronarianas significativas, foram 17% contra 6% nos homens,
p <0, 001. As coronariografias realizadas nas mulheres revelaram menor freqüência de
obstrução significativa em 2 e 3 vasos que os homens (respectivamente 18% vs 26% e
37% vs 46%, p< 0,05 para ambos).
Evolução hospitalar, procedimentos e complicações foram comparados entre
homens e mulheres e estão na tabela 6. Não houve diferença significativa entre os
gêneros na mortalidade hospitalar. No IAMCSST a mortalidade foi de 11% nas
mulheres e 8% nos homens, p= 0,11. Na SCASSST a mortalidade foi de 6% nas
mulheres e 7% nos homens, p=0,58. Outras complicações e procedimentos invasivos,
como sangramento maior (que necessitou transfusão), insuficiência cardíaca, choque,
parada cardiorrespiratória, bloqueio atrioventricular total, balão intra-aórtico e
marcapasso temporário transvenoso, também não apresentaram diferença entre os
gêneros, tanto no IAMCSST quanto na SCASSST.
87
Nos pacientes com IAMCSST a taxa de acidente vascular cerebral (AVC) e a
necessidade de ventilação mecânica foram maiores nas mulheres que nos homens (2,2%
vs 0,5%, p=0,03 e 15% vs 10%, p=0,01, respectivamente).
A comparação da prescrição de medicamentos para uso após a alta hospitalar
entre homens e mulheres está apresentada na Tabela 7. Em pacientes com IAMCSST,
não houve diferença entre os gêneros quanto a prescrição de ácido acetilsalicílico,
clopidogrel ou ticlopidina, betabloqueador, inibidor da enzima de conversão da
angiotensina ou antagonista do receptor da angiotensina II e estatina.
Na SCASSST, a estatina foi prescrita mais frequentemente para as mulheres
(75% vs 62%, OR=1,53, IC=1,14-2,06, p<0,05). Os demais fármacos foram prescritos
em frequência semelhante para ambos os gêneros.
A análise da estratificação de risco utilizando os escores de TIMI para
IAMCSST e SCASSST encontra-se demonstrada na figura 1. No IAMCSST, a
categoria de baixo risco foi observada em 35% das mulheres e 52,3% dos homens, risco
moderado em 30% das mulheres e 27% dos homens e risco elevado em 35% das
mulheres e 21% dos homens, p<0, 001. Revelando que as mulheres apresentaram um
perfil de gravidade mais elevado que os homens nesse grupo.
A comparação da estratificação de níveis de risco em pacientes com SCASSST não
mostrou diferença de risco entre homens e mulheres.
DISCUSSÃO
Não foi encontrada influência do gênero no tratamento da SCASST e IAMCSST
entre os 1922 pacientes com diagnóstico de SCA internados em dois hospitais
universitários de Porto Alegre.
88
Nosso estudo revelou média de idade mais elevada nas mulheres que nos
homens, tanto no IAMCSST quanto na SCASSST. Outros autores também encontraram
este perfil nas síndromes coronarianas agudas. Gan et al, analisando 138.956
prontuários de usuários do sistema de saúde norte- americano Medicare com
diagnóstico de infarto do miocárdio na década de 90, encontraram média de idade de 78
±7,6 anos nas mulheres e 75 ±6,9 nos homens17. Mais recentemente, Berger et al,
estudaram a diferença de mortalidade entre os gêneros após SCA (IAMCSST e
SCASSST) utilizando dados norte-americanos do período entre 1993 e 2006, e
encontraram médias de idade mais próximas as do presente estudo, 68±8 e 60±9 anos
nas mulheres e homens, respectivamente 18. No Brasil, estudos realizados no Rio de
Janeiro e Porto Alegre confirmam a tendência mundial de apresentação mais tardia da
SCA nas mulheres19, 20.
Em relação aos fatores de risco para cardiopatia isquêmica, os resultados foram
semelhantes à maioria das publicações internacionais sobre SCA, revelando que as
mulheres, tanto no IAMCSST quanto na SCASST, apresentaram mais diabete melito,
hipertensão e dislipidemia; e menos tabagismo do que os homens9, 10, 17, 18. Outro
levantamento sobre fatores de risco no IAM realizado em três hospitais universitários de
Porto Alegre encontrou resultados semelhantes aos nossos21. No grupo de pacientes
com SCASST foi observado que as mulheres apresentaram maior freqüência de história
de angina e os homens de infarto do miocárdio e cirurgia de revascularização
miocárdica. Análise realizada a partir de dados do CRUSADE (Can Rapid Risk
Stratification of Unstable Angina Patients Suppress Adverse Outcomes with Early
implementation) também encontrou maior freqüência de história de infarto e cirurgia de
revascularização nos homens com SCASSST22. Estudos com amostras mais numerosas,
sobretudo aqueles envolvendo análises de registros norte-americanos sobre IAM
89
sugerem que a história de acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e angina são
mais freqüentes nas mulheres, enquanto história de infarto, cirurgia de revascularização
miocárdica e história familiar de cardiopatia isquêmica são mais presentes nos homens9,
17, 23.
Entre os pacientes com IAMCSST as mulheres apresentaram maior freqüência
de escore TIMI igual ou superior a 5, denotando um perfil de maior risco de óbito em
30 dias. Mesmo o presente estudo não tenha encontrado diferença na mortalidade por
IAMCSST entre os gêneros, este dado poderia auxiliar na justificativa para a
mortalidade mais elevada em mulheres na SCA. Um estudo realizado na China utilizou
a classificação de Killip para comparar a gravidade entre homens e mulheres, e não
encontrou diferença significativa na apresentação do IAMCSST24 Ao contrário, no
estudo CADILLAC, as mulheres manifestaram maior freqüência de classe Killip
superior a 1 que os homens (14,7% vs 9,5%, respectivamente)25.
Na SCASSST, não foi encontrada diferença entre homens e mulheres quanto à
estratificação de risco pelo escore TIMI. No estudo CURE os pacientes também foram
classificados pela média do escore TIMI como risco baixo, moderado e elevado e
também não foi encontrada diferença entre os sexos13.
Nos dois hospitais universitários estudados não foram encontradas diferenças
entre os gêneros quanto ao uso de medicações nas primeiras 24 horas após a chegada ao
hospital, considerando as duas formas de apresentação da SCA, IAMCSST e
SCASSST. Foram comparados o emprego de ácido acetilsalicílico, betabloqueador,
estatina, heparina, tienopiridínicos e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa.
Vários estudos também não observaram diferença entre os gêneros quanto ao
tratamento farmacológico nas primeiras 24 horas e constataram que o hiato entre os
90
sexos na utilização de drogas recomendadas pelas diretrizes sobre manejo da SCA tem
sofrido redução no período entre 1994 a 200610, 14, 26, 27.
O estudo multicêntrico GRACE (Global Registry of Acute Coronary Events),
que teve participação do Brasil, forneceu dados que permitiram identificar menor
utilização do tratamento clínico nas mulheres em relação aos homens, durante a
internação por SCA (incluindo IAMCSST, IAMSSST e AI). As diferenças de
tratamento atingiram significância estatística, apesar de sutis 12. Em pacientes com
diagnóstico de IAMSSST incluídos no estudo CRUSADE as mulheres receberam
menos frequentemente o tratamento medicamentoso adequado11. Na análise de Anand et
al, apenas os betabloqueadores foram menos administrados a pacientes do gênero
feminino com SCASSST13.
Em pacientes com IAMCSST a frequência de realização de
cineangiocoronariografia, o número de exames sem lesões significativas e a severidade
dos achados não diferiu significativamente entre os gêneros. Nos casos de SCASSST o
encaminhamento para coronariografia também foi semelhante entre homens e mulheres,
porém houve mais exames sem lesões significativas nas mulheres e maior número de
vasos comprometidos nas angiografias masculinas.
Em publicação do grupo de investigadores GUSTO (Global Use of Strategies to
Open Occluded Coronary Arteries in Acute Coronary Syndromes), na década de 90,
ficou marcado que os homens foram encaminhados para cineangiocoronariografia com
mais freqüência, tanto no IAMCSST quanto na SCASSST, indo de encontro aos nossos
resultados28. Outros estudos confirmaram os achados acima11, 13, 14, 22, 26, 29. No entanto,
estudos mais recentes não encontraram diferenças entre os gêneros quanto à realização
de cateterismo19, 27, 30.
91
A literatura é mais consensual no que tange a maior freqüência de
coronariografias sem lesões significativas no gênero feminino, entre os pacientes com
SCASST12, 13, 28, 31.
Compilando dados de 11 ensaios clínicos (entre eles PURSUIT, ASSENT,
GUSTO e HERO2), Berger et AL descreveram que as coronariografias nas mulheres
com síndrome coronariana aguda apresentam um número maior de exames sem lesões
significativas, e menor de cateterismos com 2 ou 3 vasos comprometidos9, 18.
Análise de dados do estudo CADILLAC (Controlled Abciximab and Device
Investigation to Lower Late Angioplasty Complications), em pacientes com IAMCSST
não mostrou diferenças entre homens e mulheres no número de vasos com lesões
severas25.
Não encontramos diferenças entre os gêneros no encaminhamento para
angioplastia, de qualquer tipo: primária, facilitada, resgate ou eletiva; tampouco para
tratamento com fibrinolítico, nos casos de IAMCSST.
Outros autores, assim como nós, também não encontraram diferenças na
utilização do tratamento de reperfusão entre homens e mulheres com IAMCSST14, 26.
Por outro lado, vários estudos mostraram a subutilização desta terapia nas mulheres em
comparação aos homens, como por exemplo, Gan et AL., em sua análise de quase
139.000 pacientes com IAMCSST12, 17, 24, 32.
Em pacientes apresentando SCASSST no presente estudo, mulheres e homens
com risco mais elevado de morte e eventos cardiovasculares (escore TIMI≥3)
receberam igualmente direcionamento para investigação invasiva precoce, angioplastia
coronariana percutânea e cirurgia de revascularização miocárdica. No estudo de
Blomkals et al, mulheres com SCASSST foram menos encaminhadas para angioplastia
e cirurgia, porém a chance de realizar angioplastia foi similar após ajuste para o grau de
92
severidade das lesões coronarianas22. Em análise baseada nos dados do estudo CURE
(the Clopidogrel in unstable Angina to prevent Recurrent ischemic Events), encontrou-
se que entre os casos com lesões coronarianas mais severas não houve diferença nos
gêneros quanto ao encaminhamento à angioplastia e cirurgia13.
No IAMCSST, nos dois hospitais universitários avaliados, não houve diferença
entre homens e mulheres na prescrição de medicamentos na alta hospitalar. Apenas
observou-se uma tendência para menor recomendação de betabloqueador no sexo
feminino (91,6% vs 86,5% nos homens e mulheres, respectivamente; com p=0,07, OR=
1,00 e IC 95%= 0,98 a 1,02). O estudo de Herlitz et al encontrou, o inibidor da enzima
de conversão da angiotensina como droga menos prescrita para as mulheres na alta26.
Outra publicação verificou que o ácido acetilsalicílico e a estatina foram menos
prescritos para as mulheres9.
Na SCASST, encontramos que as mulheres receberam com menos freqüência a
prescrição de estatina. Ao contrário, os inibidores da enzima de conversão da
angiotensina foram mais prescritos no gênero feminino. Outros autores encontraram
diferenças entre os gêneros quanto às medicações prescritas de alta. Anand et AL
observou que os betabloqueadores foram menos utilizados na prescrição das mulheres
com alta pós-SCASSST, em comparação com os homens. Após ajuste multivariado,
mulheres que participaram do CRUSADE, apresentaram prescrição de alta contendo
menos ácido acetilsalicílico, inibidor da enzima conversora e estatina 22.
A mortalidade hospitalar foi semelhante em ambos os gêneros, tanto nos casos
de IAMCSST quanto na SCASSST, embora nossa amostra não tenha tido poder
suficiente para encontrar diferença estatisticamente significativa na taxa de óbito entre
os gêneros.
93
No estudo CADILLAC, as mulheres apresentaram mortalidade mais elevada que
os homens, no hospital e após 30 dias e um ano. No entanto, após correção multivariada
o gênero feminino não constituiu fator independente para risco de óbito, em pacientes
com IAMCSST25. Outros estudos, igualmente recorrendo a modelos de regressão
logística, não verificaram diferença de mortalidade entre os sexos no IAMCSST18, 28. A
análise de mais de 500.000 pacientes de um grande registro norte-americano sobre
infarto agudo do miocárdio, trouxe a questão racial, além da diferença entre gêneros, no
manejo e evolução desta população, e mostrou que mulheres brancas, na comparação
com homens brancos apresentaram mortalidade similar, porém nas mulheres negras a
taxa de óbitos foi mais elevada33.
No presente estudo as mulheres com IAMCSST apresentaram maior freqüência
de acidente vascular cerebral e utilização de ventilação mecânica que os homens, mas
não de choque e parada cardiorrespiratória; e apenas uma maior tendência de manifestar
insuficiência cardíaca (p=0,09). Na SCASSST as freqüências das complicações foram
superponíveis entre os gêneros, assim como nos pacientes do CURE e CRUSADE13, 22.
LIMITAÇÕES
O presente estudo tem algumas limitações, a começar pelo delineamento, pois se
trata de um estudo observacional, de caráter retrospectivo, baseado nos registros de
prontuários médicos não realizados a fim de responder as questões dessa pesquisa.
Outra possível limitação é que apenas pacientes internados nas unidades
coronarianas foram incluídos no estudo, deixando de lado homens e mulheres atendidos
no setor de emergência, que lá permaneceram até o encaminhamento à unidade de
internação, por indisponibilidade de leito nas unidades de cuidados intensivos. No
94
entanto, como as condutas demonstram um padrão dos hospitais envolvidos, é
improvável que estes pacientes recebessem tratamento diferente.
O tamanho da amostra não foi suficiente para detectar uma possível diferença
entre os gêneros quanto à mortalidade hospitalar.
Os pacientes desta pesquisa foram tratados em dois hospitais universitários,
habilitados para procedimentos de alta complexidade e comprometidos em seguir as
recomendações das diretrizes sobre manejo do IAMCSST e SCASST, que não orientam
qualquer conduta baseada exclusivamente no gênero. Isto pode não representar o
tratamento administrado na maioria dos hospitais de nosso estado e país.
CONCLUSÃO
O presente estudo não encontrou diferenças significativas entre os gêneros
quanto aos tratamentos clínico e invasivo administrados aos pacientes com infarto
agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST e síndrome coronariana
aguda sem supradesnivelamento do segmento ST, atendidos nas unidades coronarianas
de dois hospitais universitários de Porto Alegre.
As mulheres com síndrome coronariana aguda são mais idosas que os homens,
apresentam mais diabete melito, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia; e menos
tabagismo.
Nos casos de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento
ST as mulheres apresentam um perfil de maior gravidade que os homens, quando
avaliadas pelo escore TIMI.
Quanto aos achados na cineangiocoronariografia, as mulheres com síndrome
coronariana sem supradesnivelamento do segmento ST revelaram um maior número de
95
exames sem obstruções significativas, bem como, menor número de vasos com lesões
quando comparadas aos homens.
Em resumo, este estudo mostra que uma vez internadas em unidades
coronarianas as mulheres tratadas em dois hospitais universitários de Porto Alegre estão
recebendo recursos terapêuticos semelhantes aos dos homens, sem evidências de
aplicação de qualquer conduta baseada exclusivamente no gênero do paciente.
96
LEGENDAS DAS FIGURAS
Figura 1 - Percentual de homens e mulheres nas diferentes categorias de gravidade de
IAMCSST de acordo com o TIMI Score
* TIMI > 5 = Risco de óbito em 30 d superior a 10%
97
TABELAS
Tabela 1 - Características dos pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST (IAMCSST) e Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento do Segmento ST (SCASSST).
IAMCSST SCASSST
Características* Mulheres
(n= 313)
Homens
(n= 625) p
Mulheres
(n= 423)
Homens
(n= 561) p
Idade 63 ± 12 58 ±12 < 0,001 66 ±12 63 ±11 <0,001
Diabete melito 86 (28) 141 (23) 0,09 150 (36) 154 (28) 0,007
Hipertensão 237 (76) 380 (61) < 0,001 377 (89) 400 (71) <0,001
Dislipidemia 138 (44) 202 (32) <0,001 222 (52) 252 (45) 0,02
Tabagismo 136 (43) 350 (56) <0,001 92 (22) 207 (37) <0,001
História familiar de
coronariopatia 91 (29) 170 (27) 0,54 98 (23) 124 (22) 0,70
História de DAC (qualquer
tipo) 99 (32) 194 (31) 0,85 285 (67) 382 (68) 0,80
Infarto agudo do miocárdio 47 (15) 115 (18) 0,19 112 (27) 185 (33) 0,02
Angina pectoris 41 (13) 68 (11) 0,31 139 (33) 136 (24) 0,003
Angioplastia 23 (7) 63 (10) 0,17 111 (26) 145 (26) 0,80
Cirurgia de
revascularização 19 (6) 43 (7) 0,63 73 (17) 134 (24) 0,01
Acidente vascular cerebral
prévio 20 (6) 23 (4) 0,06 36 (9) 36 (6) 0,20
Insuficiência cardíaca 15 (5) 21 (3) 0,28 62 (15) 71 (13) 0,30
Insuficiência renal crônica 9 (3) 17 (3) 0,89 21 (5) 63 (11) <0,001
Tipo de Hospital
Geral 118 (39) 187 (61) 0,02
224 (47) 254 (53) 0,02
Cardiológico 195 (31) 438 (69) 199 (39) 307 (61)
* Dados expressos como número (%) ou média ±desvio padrão. DAC- doença arterial coronariana
98
Tabela 2 - Tratamento farmacológico nas primeiras 24 horas no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST (IAMCSST) e síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de ST (SCASSST).
IAMCSST SCASSST
Medicamentos
Homens Mulheres Homens Mulheres
(n=625) (n=313) (n=561) (n=423)
%1 %1 OR (IC 95%)2 p %1 %1 OR (IC 95%)3 p
AAS 98 98 1,04 (0,36-3,02) 0,93 93 92 0,93 (0,58-1,48) 0,78
Clopidogrel/ticl
opidina 79 81 1,07 (0,75-1,54) 0,70 68 73 1,20 (0,85-1,70) 0,31
Betabloqueador 80 75 0,92 (0,64-1,32) 0,70 86 82 0,91 (0,60-1,38) 0,65
Estatina 85 81 0,85 (0,58-1,23) 0,38 91 88 0,82 (0,50-1,35) 0,44
Heparina Total 57 57 0,94 (0,71-1,26) 0,77 87 86 1,05 (0,68-1,62) 0,83
Heparina EV 44 44 1,00 (0,74-1,33) 0,95 44 40 0,98 (0,66-1,45) 0,90
Heparina Baixo
Peso Molecular 14 13 0,86 (0,56-1,33) 0,49 45 48 1,04 (0,70-1,54) 0,86
Inibidor da
Glicoproteína
IIb/IIIa
10 9 0,71 (0,42-1,19) 0,19 06 05 0,92 (0,47-1,79) 0,81
1 para pacientes sem contra-indicações para cada medicação individual; 2 ajustado para idade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, angina pectoris, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral prévios, pressão arterial sistólica menor do que 90 mmHg, freqüência cardíaca maior do que 100 bpm ou Killip acima de I na chegada, supradesnível de segmento ST anterior ou bloqueio completo de ramo esquerdo, tempo desde início da dor até chegada, tipo de internação e hospital; 3 ajustado para idade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, tabagismo, presença de marcadores cardíacos elevados, alteração dinâmica do segmento ST, história familiar de doença coronariana precoce, doença arterial coronariana ou acidente vascular cerebral prévios, tipo de internação, e hospital; OR: odds ratio para mulheres utilizando homens como referência; IC – intervalo de confiança. ECA – enzima conversora da angiotensina; ARA II- antagonista do receptor do angiotensinogênio.
99
Tabela 3 - Terapia de reperfusão no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do ST.
Terapia Homens
(n= 625) (%)
Mulheres
(n=313) (%) OR (IC 95%)1 p
Angioplastia primária2 67 63 0,92 (0,65-1,31) 0,65
Fibrinolítico2 21 25 1,30 (0,87-1,93) 0,20
Angioplastia total3 70 71 0,96 (0,76-1,43) 0,81 1 ajustado para idade, diabete, hipertensão, angina pectoris, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral prévios, pressão arterial sistólica menor que 90 mm Hg, freqüência cardíaca maior que 100 bpm ou Killip maior que 1 na chegada, supradesnivelamento do ST na parede anterior ou bloqueio do ramo esquerdo, tempo de dor desde o início até a chegada, tipo de internação e hospital; 2 em pacientes com delta T inferior ou igual há 12 horas; 3 Todos os tipos de angioplastia: primária, facilitada, resgate, eletiva, com e sem stent, OR- odds ratio para mulheres usando homens como referência; IC- intervalo de confiança.
100
Tabela 4 - Estratégia invasiva precoce, cineangiocoronariografia, cirurgia de revascularização e angioplastia na Síndrome Coronariana Aguda Sem Supradesnivelamento do ST com escore TIMI maior ou igual a 3.
Abordagem invasiva* Homens
(n=561) (%)
Mulheres
(n= 423) (%) OR (IC 95%)1 p
Estratégia invasiva precoce2 44 39 0,87 (0,65-1,17) 0,36
Cineangiocoronariografia 77 77 1,12 (0,79-1,60) 0,20
Angioplastia total3 29 30 1,02 (0,74-1,41) 0,89
Cirurgia de revascularização 17 12 0,74 (0,49-1,11) 0,14 1 ajustado para idade, diabete, hipertensão, dislipidemia, tabagismo, enzimas cardíacas elevadas, alteração dinâmica do ST, história familiar de doença arterial coronariana precoce, doença arterial coronariana ou acidente vascular cerebral prévios, tipo de internação, hospital; 2cateterismo cardíaco nas primeiras 48 horas. 3Todos tipos de angioplastias: urgência e eletiva, com e sem stent; OR odds ratio para mulheres usando homens como referência; IC- intervalo de confiança.
101
Tabela 5 - Características da cineangiocoronariografia no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) e na síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento do segmento ST (SCASSST).
IAMCSST (n=938) SCASSST (n=984)
Coronariografia Mulheres
(n=313)
Homens
(n=625)
Mulheres
(n=423)
Homens
(n=561)
% % p % % p
Coronariografia realizada 92 90 0,45 77 75 0,58
Sem lesões significativas 3 2 0,51 17 6 <0,001
Lesão de 1 vaso 32 34 0,63 25 21 0,16
Lesão de 2 vasos 34 34 1,00 18 26 <0,05
Lesão de 3 vasos 28 25 0,43 37 46 <0,05
Lesão de TCE 6 5 0,76 7 10 0,17
TCE- tronco de coronária esquerda.
102
Tabela 6 - Complicações no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) e na síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento do segmento ST (SCASSST).
IAMCSST SCASSST
Complicações Mulheres
(n=313)
Homens
(n=625)
Mulheres
(n=423)
Homens
(n=561)
% % p % % p
Óbito 11 8 0,11 56 7 0,58
AVC 2 1 0,03 01 1 0,70
Sangramento1 3 1 0,24 1 1 1,00
ICE 12 9 0,09 7 4 0,34
Choque 12 9 0,24 3 3 0,85
PCR 17 15 0,55 4 4 0,89
BAVT 4 5 0,48 1 1 0,80
BIA 9 6 0.09 1 2 1,00
MP temporário 8 7 0,64 1 1 0,67
VM 15 10 0,01 5 4 0,35 1 sangramento que necessitou transfusão. AVC- acidente vascular cerebral (isquêmico e hemorrágico), PCR- parada cardiorrespiratória, BAVT- bloqueio átrio-ventricular total, BIA- balão intra-aórtico, MP- marcapasso, VM- ventilação mecânica.
103
Tabela 7 - Tratamento farmacológico na alta hospitalar no Infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST (IAMCSST) e Síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de ST (SCASSST). IAMCSST SCASSST
Medicamentos
Homens Mulheres Homens Mulheres
(n=625) (n=313) (n=423) (n=561)
%1 %1 OR (IC
95%)2 p %1 %1
OR (IC
95%)3 p
Acido
acetilsalicílico 95 96
1,92
(0,88-
4,17)
0,10 90 92
0.90
(0,55-
1,49)
0,69
Clopidogrel/
ticlopidina 67 63
0,90
(0,66-
1,22)
0,49 45 46
1,08
(0,82-
1,41)
0,59
Betabloqueador 92 87
0,63
(0,39-
1,03)
0.07 85 86
0,77
(0,52-
1,13)
0,18
Estatina 92 90
0,71
(0,42-
1,19)
0,19 90 82
0,63
(0,41-
0,96)
0,03
Inibidores ECA/
ARA II 74 73
1,05
(0,76-
1,45)
0,77 62 73
1,53
(1,14-
2,06)
0,005
1 para pacientes sem contra-indicações para cada medicação individual; 2 ajustado para idade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, angina pectoris, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral prévios, pressão arterial sistólica menor do que 90 mmHg, freqüência cardíaca maior do que 100 bpm ou Killip acima de I na chegada, supradesnível de segmento ST anterior ou bloqueio completo de ramo esquerdo, tempo desde início da dor até chegada, tipo de internação e hospital; 3 ajustado para idade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, tabagismo, presença de marcadores cardíacos elevados, alteração dinâmica do segmento ST, história familiar de doença coronariana precoce, doença arterial coronariana ou acidente vascular cerebral prévios, tipo de internação, e hospital; OR: odds ratio para mulheres utilizando homens como referência; IC – intervalo de confiança. ECA – enzima conversora da angiotensina; ARA II- antagonista do receptor do angiotensinogênio.
105
REFERÊNCIAS
1 Lloyd-Jones D, Adams RJ, Brown TM, Carnethon M, Dai S, De Simone G, et al.
Heart disease and stroke statistics--2010 update: a report from the American Heart
Association. Circulation. Feb 23;121(7):e46-e215.
2 Mortalidade proporcional por grupos de causas. Indicadores e dados básicos de
saúde. 2008 [cited 2010 June, 02]; Available from: www.datasus.gov.br/idb
3 Ford ES, Ajani UA, Croft JB, Critchley JA, Labarthe DR, Kottke TE, et al.
Explaining the decrease in U.S. deaths from coronary disease, 1980-2000. N Engl
J Med. 2007 Jun 7;356(23):2388-98.
4 Mackay J, Mensah G. Deaths from coronary heart disease Atlas of heart disease
and stroke - CDC and WHO. 2004(14).
5 Taxa de mortalidade específica por doenças do aparelho circulatório Indicadores e
dados básicos de saúde. 2008 [cited 2010 June, 02]; Available from:
www.datasus.gov.br/idb
6 Olson MB, Kelsey SF, Matthews K, Shaw LJ, Sharaf BL, Pohost GM, et al.
Symptoms, myocardial ischaemia and quality of life in women: results from the
NHLBI-sponsored WISE Study. Eur Heart J. 2003 Aug;24(16):1506-14.
7 Ni H, Coady S, Rosamond W, Folsom AR, Chambless L, Russell SD, et al.
Trends from 1987 to 2004 in sudden death due to coronary heart disease: the
Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) study. Am Heart J. 2009
Jan;157(1):46-52.
8 Lloyd-Jones D, Adams RJ, Brown TM, Carnethon M, Dai S, De Simone G, et al.
Executive summary: heart disease and stroke statistics--2010 update: a report
from the American Heart Association. Circulation. Feb 23;121(7):948-54.
106
9 Akhter N, Milford-Beland S, Roe MT, Piana RN, Kao J, Shroff A. Gender
differences among patients with acute coronary syndromes undergoing
percutaneous coronary intervention in the American College of Cardiology-
National Cardiovascular Data Registry (ACC-NCDR). Am Heart J. 2009
Jan;157(1):141-8.
10 Vaccarino V, Parsons L, Peterson ED, Rogers WJ, Kiefe CI, Canto J. Sex
differences in mortality after acute myocardial infarction: changes from 1994 to
2006. Arch Intern Med. 2009 Oct 26;169(19):1767-74.
11 Tavris D, Shoaibi A, Chen AY, Uchida T, Roe MT, Chen J. Gender differences in
the treatment of non-ST-segment elevation myocardial infarction. Clin Cardiol.
2010 Feb;33(2):99-103.
12 Dey S, Flather MD, Devlin G, Brieger D, Gurfinkel EP, Steg PG, et al. Sex-
related differences in the presentation, treatment and outcomes among patients
with acute coronary syndromes: the Global Registry of Acute Coronary Events.
Heart. 2009 Jan;95(1):20-6.
13 Anand SS, Xie CC, Mehta S, Franzosi MG, Joyner C, Chrolavicius S, et al.
Differences in the management and prognosis of women and men who suffer from
acute coronary syndromes. J Am Coll Cardiol. 2005 Nov 15;46(10):1845-51.
14 Nguyen JT, Berger AK, Duval S, Luepker RV. Gender disparity in cardiac
procedures and medication use for acute myocardial infarction. Am Heart J. 2008
May;155(5):862-8.
15 Harkness JR, Sabatine MS, Braunwald E, Morrow DA, Sloan S, Wiviott SD, et al.
Extent of ST-segment resolution after fibrinolysis adds improved risk
stratification to clinical risk score for ST-segment elevation myocardial infarction.
Am Heart J. Jan;159(1):55-62.
107
16 Cannon CP. Unstable Angina and Non-ST Elevation Myocardial Infarction, in
Braunwald's: Textbook of Cardiovascular Medicine In: Libby P, ed. 8 ed 2007.
17 Gan SC, Beaver SK, Houck PM, MacLehose RF, Lawson HW, Chan L.
Treatment of acute myocardial infarction and 30-day mortality among women and
men. N Engl J Med. 2000 Jul 6;343(1):8-15.
18 Berger JS, Elliott L, Gallup D, Roe M, Granger CB, Armstrong PW, et al. Sex
differences in mortality following acute coronary syndromes. JAMA. 2009 Aug
26;302(8):874-82.
19 Birkhan OA, Grando E, Colombo BS, Dallegrave G, Camargo DF, Gomes MWS,
et al. Comparação entre os gêneros do comprometimento arterial coronariano no
Infarto Agudo do Miocárdio: estudo multicêntrico. . Revista do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. 2006;Supl 1:73.
20 Peixoto RT, Peixoto EC, Sena MA, Tedeschi AL, Borges IP, Rachid MB. [Gender
influence on the immediate and medium-term progression after primary
percutaneous coronary intervention and analysis of independent risk factors for
death or events]. Arq Bras Cardiol. 2006 Mar;86(3):211-8.
21 Colombo BS, Grando E, Birkhan OA, Dallegrave G, Camargo DF, Gomes MWS,
et al. Infarto agudo do miocárdio e a diferença entre gêneros: severidade,
prognóstico e relação com fatores de risco: estudo multicêntrico. . Revista do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre. 2006;Supl 1:73.
22 Blomkalns AL, Chen AY, Hochman JS, Peterson ED, Trynosky K, Diercks DB,
et al. Gender disparities in the diagnosis and treatment of non-ST-segment
elevation acute coronary syndromes: large-scale observations from the
CRUSADE (Can Rapid Risk Stratification of Unstable Angina Patients Suppress
Adverse Outcomes With Early Implementation of the American College of
108
Cardiology/American Heart Association Guidelines) National Quality
Improvement Initiative. J Am Coll Cardiol. 2005 Mar 15;45(6):832-7.
23 Vaccarino V, Horwitz RI, Meehan TP, Petrillo MK, Radford MJ, Krumholz HM.
Sex differences in mortality after myocardial infarction: evidence for a sex-age
interaction. Arch Intern Med. 1998 Oct 12;158(18):2054-62.
24 Song XT, Chen YD, Pan WQ, Lu SZ. Gender based differences in patients with
acute coronary syndrome: findings from Chinese Registry of Acute Coronary
Events (CRACE). Chin Med J (Engl). 2007 Jun 20;120(12):1063-7.
25 Lansky AJ, Pietras C, Costa RA, Tsuchiya Y, Brodie BR, Cox DA, et al. Gender
differences in outcomes after primary angioplasty versus primary stenting with
and without abciximab for acute myocardial infarction: results of the Controlled
Abciximab and Device Investigation to Lower Late Angioplasty Complications
(CADILLAC) trial. Circulation. 2005 Apr 5;111(13):1611-8.
26 Herlitz J, Dellborg M, Karlsson T, Evander MH, Hartford M, Perers E, et al.
Treatment and outcome in acute myocardial infarction in a community in relation
to gender. Int J Cardiol. 2009 Jul 10;135(3):315-22.
27 Moriel M, Behar S, Tzivoni D, Hod H, Boyko V, Gottlieb S. Management and
outcomes of elderly women and men with acute coronary syndromes in 2000 and
2002. Arch Intern Med. 2005 Jul 11;165(13):1521-6.
28 Hochman JS, Tamis JE, Thompson TD, Weaver WD, White HD, Van de Werf F,
et al. Sex, clinical presentation, and outcome in patients with acute coronary
syndromes. Global Use of Strategies to Open Occluded Coronary Arteries in
Acute Coronary Syndromes IIb Investigators. N Engl J Med. 1999 Jul
22;341(4):226-32.
109
29 Ayanian JZ, Epstein AM. Differences in the use of procedures between women
and men hospitalized for coronary heart disease. N Engl J Med. 1991
jul25,1991;325(4):221-5.
30 Setoguchi S, Solomon DH, Levin R, Winkelmayer WC. Gender differences in the
management and prognosis of myocardial infarction among patients > or = 65
years of age. Am J Cardiol. 2008 Jun 1;101(11):1531-6.
31 Gehrie ER, Reynolds HR, Chen AY, Neelon BH, Roe MT, Gibler WB, et al.
Characterization and outcomes of women and men with non-ST-segment
elevation myocardial infarction and nonobstructive coronary artery disease:
results from the Can Rapid Risk Stratification of Unstable Angina Patients
Suppress Adverse Outcomes with Early Implementation of the ACC/AHA
Guidelines (CRUSADE) quality improvement initiative. Am Heart J. 2009
Oct;158(4):688-94.
32 Radovanovic D, Erne P, Urban P, Bertel O, Rickli H, Gaspoz JM. Gender
differences in management and outcomes in patients with acute coronary
syndromes: results on 20,290 patients from the AMIS Plus Registry. Heart. 2007
Nov;93(11):1369-75.
33 Vaccarino V, Rathore SS, Wenger NK, Frederick PD, Abramson JL, Barron HV,
et al. Sex and racial differences in the management of acute myocardial infarction,
1994 through 2002. N Engl J Med. 2005 Aug 18;353(7):671-82.