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O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO.

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O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO.

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2.1 O Turismo no Brasil

No Brasil, segundo PIRES (2002), há pouca literatura

relacionada ao turismo, a não ser os relatos dos primeiros

viajantes e colonizadores que permitem formar uma idéia

das condições dos serviços disponíveis naquela época.

Destaca então dois momentos históricos que influenciaram a

visão do turista estrangeiro: a abertura dos portos e a

mudança da Família Real para o Rio de Janeiro em 1808.

Estes viajantes que vinham por vezes unicamente

com objetivo de exploração das terras escreveram relatos

de uma terra exótica e estranha, formando a imagem de um

paraíso tropical, que até hoje é procurado por turistas

estrangeiros. Na época da abertura dos portos, a população

do Rio de Janeiro, segundo MAWE (1978 apud PIRES,

2002, p.38), estava em “aproximadamente 100 mil almas,

incluindo-se a população escrava”; LUCCOCK (apud PIRES,

2002, p.38), calculou 60 mil. Segundo PIRES (2002, p.38-

40), entre os residentes estavam “pessoas dotadas de

altíssimo nível de vida”, e:

(...) a cidade, embora sendo a capital, estava

absolutamente mal preparada para receber 15 mil pessoas,

boa parte delas fidalgas, teve de se transformar, quase que

da noite para o dia, na sede do Império Português 1.

A população crescia e a cidade ainda não estava

aparelhada para receber tantos viajantes. Os meios de

hospedagem que havia a disposição no Rio de Janeiro eram

as estalagens, ou casas de pasto, que ofereciam alojamento 1 Em 1808, em função da Carta Régia, aportaram 90 navios não portugueses contra nenhum no ano anterior, chegando em 1810 a 422 navios (PIRES, 2002).

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aos interessados. Depois, eram as casas de pensão,

hospedarias e tavernas que passam a utilizar a

denominação de hotel (ANDRADE, 2000), porém, seus

serviços não condiziam com a qualidade dos europeus.

Eram lugares sem nenhum asseio e com total improvisação

para receber os hospedes (PIRES, 2002).

Isto se deu porque qualquer trabalho manual era

atribuído aos escravos e todos os homens livres, queriam

imitar os modos da corte. Portanto, eram poucos os homens

brancos que se interessava em aprender algum ofício. A

própria estrutura urbana das cidades brasileiras dependia

dos serviços dos escravos. Segundo REIS (2000, p.159),

como nas residências não havia canos de abastecimento de

água, cabia ao escravo transportar água das fontes públicas

para abastecer as residências e preparar os banhos; por

não haver rede de esgoto, era trabalho de escravo coletar e

transportar os resíduos até os locais destinados ao seu

despejo; também cabia ao escravo o serviço de coletar o

lixo; para as escravas (mulheres) cabia-lhes a conservação

das roupas (passar, lavar e engomar). Portanto, muitos dos

serviços que hoje são da competência dos hotéis e da

prefeitura, eram serviços para escravos e, por este motivo,

“foi tardio o aparecimento de uma razoável prestação de

serviços” de qualidade (PIRES, 2002, p.47), e isto se refletiu

na qualidade dos serviços prestados pelas hospedarias.

MAWE (apud PIRES, 2002, p.51) comenta que as

estalagens e tavernas eram destituídas de acomodações, e

os aluguéis das casas eram tão elevados quanto á cidade

de Londres. A hotelaria no Brasil só começaria a se

desenvolver em 1870 no Rio de Janeiro, que segundo

PIRES (2002) começava a se distanciar das simples

estalagem e a ficar mais parecido com o conceito moderno.

Mas até então, a idéia do simples prazer de viajar

não era o motivo que trazia estrangeiros para o Brasil

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(PIRES 2002). Muitos deles eram da área científica e já

conheciam outros continentes. Mas através de suas

experiências em outras terras, podiam escrever textos

comparativos das terras brasileiras com as de outros países.

Um olhar crítico do turista com a capacidade de observar e

apreciar suas diferenças (URRY, 1999).

Quanto ao turismo interno, no Brasil, teria começado

com a família Real, que viajava por motivos de saúde, em

busca das “águas férreas” das cachoeiras e dos banhos de

mar. Segundo PIRES (2002) Da. Carlota Joaquina

costumava tomar banho em Botafogo e Da. Maria I saia do

Convento do Carmo no Rio de Janeiro, para tomar goles de

“água férrea” na Tijuca. Com a propagação deste hábito

surgem formas de hospedagem no litoral. Casas eram

alugadas próximo à praia para pessoas doentes. Cabanas

com salas e gabinetes mobiliados eram locadas para os

banhistas, além dos hotéis que ofereciam banhos de água

doce, como um atrativo a mais para seus hóspedes2.

Assim como ocorreu na Europa devido à situação

precária das condições higiênicas das cidades, assim

ocorreu também no Brasil. No Rio de Janeiro, embora

houvesse esgoto desde 1860 e água encanada a partir de

1864, tal infra-estrutura não era suficientes, isto é, não

atendiam a toda a população (PIRES, 2002, p.58). A

chegada de imigrantes estrangeiros agrava ainda mais a

situação, porque com eles, vinham às doenças como a

peste bubônica e a febre amarela3.

2 Em 1859, havia no Rio de Janeiro, uma relação de serviços prestados, entre eles cinco banhos púbicos, sendo dois em hotéis: os “Banhos da Saúde”, no Hotel Pharoux e os “Banhos de Dreux”, no Hotel Ravour (RENAUT, 1877 apud PIRES, 2002). 3 Conforme aumenta a velocidade dos meios de transportes, mais rápido as populações se movimentam. “Em 1918, o vírus da gripe espanhola levou um mês para sair de seu reduto original, os Estados Unidos, e chegar ao segundo país atingido pela doença, a Espanha. Em 2003,

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Também, da mesma forma em que as cidades

européias cresceram e estimularam as pessoas a buscarem

as áreas naturais para se recuperarem da vida urbana,

assim começa a acontecer no Brasil. Por razões de

insalubridade da cidade do Rio de Janeiro, os banhos de

mar ou de água doce foram se tornando uma atividade

muito popular na cidade (PIRES, 2002, p.63).

De modo semelhante ao que viria acontecer nas

regiões serranas de Campos do Jordão e Petrópolis,

ocorreu no litoral do Rio de Janeiro, onde as pessoas

doentes alugavam casas na praia para se recuperar dos

males e mais tarde, as classes altas, passaram a procurar

essas regiões (PIRES, 2002, p.62).

Nota-se que quanto mais cresciam as cidades, sem

infra-estrutura de saneamento e saúde pública, mais

problemas ambientais surgem e mais a população sai em

busca de áreas naturais para se curar. Com o tempo essas

regiões passaram também a serem procurados para

descanso. Aqueles com melhor condição financeira passam

a estabelecer uma segunda residência nas regiões menos

povoadas. Até que estas também crescem

desmesuradamente (população) e passam a sofrer dos

mesmos problemas de higiene e saúde pública.

Foto 13: Vista da Cidade do Rio de Janeiro em processo de expansão urbana, tomada da Rua Senador Cassiano em Santa Teresa. Obra do artista Johan George Grimm, 1883. Fonte: MORAES, 2001.

Ao contrário deste efeito de migração para as áreas

rurais com atrativos ecológicos, na fase da expansão

cafeeira, fazendeiros saem da casa grande (área rural) rumo

as capitais, São Paulo e Rio de Janeiro (área urbana),

porque lá estavam os grandes centros financeiros e de

comércio. Assim, além de construírem sua segunda

depois do registro do primeiro caso, na China, em apenas duas semanas, a SARS já estava em dezesseis países” (BUCHALLA, 2005).

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residência, podiam acompanhar seus negócios e participar

das festividades religiosas.

Foto 14: O Rio Piabanha e a residência de inverno do Barão do Rio Branco em Petrópolis, RJ. Obra da coleção Ronaldo Cezar Coelho, 1915. Fonte: MORAES, 2001.

Segundo REIS FILHO (2000), as igrejas realizavam

os eventos mais importantes da vida familiar, que causava a

concentração de pessoas, em certas datas e transformavam

os pátios e largos em pontos de encontro. Assim atraiam

não só as famílias, mas também, as prosissões relacionadas

com os santos padroeiros. Cidades como Salvador,

celebravam santos específicos para as diferentes camadas

sociais, como os oficiais mecânicos (São José), os militares

(Santa Cruz) os navegantes (Conceição), os da área da

saúde (Misericórdia) e os escravos (Rosário e Santa

Efigênia). Segundo REIS FILHO, (2000) todas essas

pessoas saiam de seus povoados e vilas próximos para

visitar o seu santo padroeiro. Além das festividades, muitos

também visitavam os centros urbanos para apreciar a

“perfeição” e a riqueza dos detalhes das construções

religiosas, situadas geralmente nos pontos de maior

destaque da cidade. Provavelmente, aqueles que não

possuíam sua segunda residência, procuravam as

hospedarias.

Portanto, mesmo ainda não havendo um turismo

organizado no Brasil, as festividades religiosas nas cidades

mais desenvolvidas, serviam como ponto de atração

turística estimulando os serviços de hospedagem e de

alimentação.

As classes altas, como a elite cafeeira do sudeste

brasileiro, além da segunda residência passa a imitar os

hábitos europeus em vários aspectos, entre eles o hábito de

viajar. Além de mandar seus filhos para estudar nas

universidades européias, também passam a viajar por lazer.

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Segundo GODINHO (apud PIRES, 2000), o Conde de

Pinhal, no final do século XIX partia para Europa com seus

dez filhos, mais empregados, numa viagem que duravam

meses. Entre as atrações turísticas visitadas pela família

estão as estações de água da cidade de Baden-Baden4.

Ocorria assim um processo de europeização da elite em

que, os que não podiam viajar, conforme PIRES (2002,

p.200) e “tomar banho de cultura” era chamado de “caipira”.

Não só a elite procurava imitar os hábitos europeus,

como também o espaço urbano deveria se parecer com o

das cidades visitadas. Considerando que logo no início do

processo de formação das primeiras cidades, a Coroa

portuguesa contou com a assistência de arquitetos e

engenheiros-militares estrangeiros que aplicaram modelos

semelhantes aos das cidades renascentistas (REIS FILHO,

2000), a elite cafeeira, também queria empregar nas cidades

mais importantes, como o Rio de Janeiro, padrões

europeus, em tudo, desde as casas até o traçado das

avenidas, das praças e jardins, substituindo a taipa por

tijolos (PIRES, 2000, p.200). Também com a construção das

ferrovias, iniciada em 1854, por Irineu Evangelhista de

Souza, o Barão de Mauá, o país sonhava ainda mais em se

igualar á Europa, pois elas representavam o caminho para o

progresso (TOLEDO, 2003).

Mas mesmo com o esforço da elite em adquirir os

hábitos europeus e tornar os espaços públicos parecidos

com as cidades européias5, os relatos sobre o Brasil,

contados pelos viajantes do século XIX, apresentavam-no

4 Cidade alemã pertencente ao estado de Baden-Wurttemberg, na região administrativa de Kalsrube, a cerca de 60 km de Estrasburgo e 40 km de Karlsruhe, no vale do rio Oos, afluente do rio Reno. (www.wikipedia.org/wiki/baden-baden). 5 Desde as casas até o traçado das avenidas, das praças e jardins públicos, na arborização com espécies importadas era uma forma de transformar a cidade do Rio de Janeiro em uma cidade européia, esquecendo da velha taipa.

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como uma terra “exótica, estranha e pitoresca” (PIRES,

2000), continuando esta, a ser a principal referência para o

turista estrangeiro, o que ainda hoje favorece muito ao Brasil

na venda de pacotes turísticos voltados para temas

ecológicos da Amazônia e Pantanal.

Foto 15: O espaço urbano nos padrões europeus. Av. Rio Branco, Rio de Janeiro, 1900.

Assim, o que ocorreu na Europa, quanto à

organização da atividade turística, ocorreu também no Brasil

e alguns fatos históricos marcaram esta fase. Em 1908 é

inaugurado no Rio de Janeiro, o maior hotel do Brasil, o

Hotel Avenida, com 220 quartos, nos mesmos padrões dos

hotéis europeus (PIRES, 2000); a empresa de transporte

aéreo, Lufthansa cria no Brasil a Condor Syndicat, que mais

tarde daria origem à Varig. Na década de 1970, o turismo

interno passa a ser visto como um mercado lucrativo. As

agências de turismo brasileiras como a Soletur, a Agaxtur

além de explorar o mercado externo passa a montar pacotes

para algumas regiões do Brasil. Tem-se maior destaque

neste mercado os sócios, o Deputado Estadual Carlos

Vicente Cerchiari junto com o Sr. Guilherme Paulus, que

instala uma agência de viagens na cidade de Santo André,

SP, para organizar excursões rodoviárias para os

funcionários das indústrias. A CVC Turismo praticamente

acabou dominando o mercado interno brasileiro de pacotes

turísticos. Os primeiros instrumentos de regulamentação da

atividade turística foram criados em 1964 e 1968, quando o

governo cria o CNT – Conselho Nacional de Turismo, o

Fungetur – Fundo Geral de Turismo e a Embratur –

Empresa Brasileira de Turismo, hoje Instituto Brasileiro de

Turismo (BRANCATELLI, 2005).

Foto 16: O espaço urbano nos padrões europeus. Av. Beira Mar, Rio de Janeiro, 1900. Fonte: www.brasil-web.de/galerie.

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Foto 17: O Brasil retratado pelo artista, Manoel de Araújo Porto Alegre. Óleo s/ Tela. Fonte: MORAES, Frederico. O Brasil na Visão do Artista: A natureza e as Artes Plásticas. São Paulo: Ed. Premio Editorial, 2001.

Uma vez organizado o turismo interno, as

conseqüências de degradação no espaço urbano,

decorrentes da massificação do turismo, começam a surgir.

Soma-se isso, ao aumento da expectativa de vida6, que

abre novos mercados para o setor, o turismo voltado para a

“melhor idade” (terceira idade); as mudanças no processo

de formação das cidades, ocorrido com a padronização dos

equipamentos e de serviços voltados para o turismo; e ainda

às influências na formação social e cultural da população

residente7, ocorrem os impactos negativos.

Foto 19: O Brasil retratado pelos artistas, s.d. Óleo s/ Tela. Acervo Nationalmusset da Dinamarca. Fonte: MORAES, 2001.

Neste trabalho, buscando entender como o turismo

influenciou no processo de formação da cidade de Campos

do Jordão, nota-se que, tanto na fase da vinda da corte real,

como na fase da formação da elite cafeeira, a tentativa de

imitar os costumes e os hábitos dos estrangeiros continuou

e gerou inúmeras mudanças na forma de viver e de se

comportar dos brasileiros, como: o hábito de tomar banhos

para melhorar a saúde (as termas); a construção da

segunda residência, ou na praia ou nas montanhas, para

descanso e tratamentos de saúde (casa de campo ou a

casa na praia); o hábito de viajar para adquirir cultura (visita

aos museus, teatros e intercâmbios culturais); e a forma de

habitar (arquitetura). Pode-se dizer que Campos do Jordão é

6 No Brasil, em 2000 com uma população de 170 milhões, 14,5 milhões (8,6%) estavam na faixa dos 60 anos ou mais. Estima-se que até 2020 o número de idosos chegue a dobrar (14,7%), quase 30 milhões (FROMER, 2000). 7 No litoral brasileiro, algumas praias brasileiras são fechadas por condomínios residenciais mesmo sendo, por lei, um espaço de livre acesso, por se tratar de um patrimônio público. Os administradores desses condomínios criam dificuldades de acesso, impostas por trilhas longas e íngremes, portarias e vigilância ostensiva para intimidar a grande maioria dos turistas.

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um reflexo destas mudanças e influências: uma estância

hidromineral; caracterizada pela expansão das residências

secundárias; formada pela afluência das classes mais altas

que já possuíam o hábito de viajar; com uma arquitetura que

imita os estilos alpinos, característica esta muito ligada com

os padrões culturais dos visitantes descendentes europeus

(ALMEIDA, 1999).

Foto 18: O Brasil retratado pelo artista, Johann Moritz Rugendas. Floresta Brasileira, 1824. Óleo s/ Tela. Fonte: MORAES, Frederico. O Brasil na Visão do Artista: A natureza e as Artes Plásticas. São Paulo: Ed. Premio Editorial, 2001.

Foto 20: Organização de excursões para metalúrgicos, em Santo André, SP. Fonte: BRANCATELLI, 2005.

Foto 21: Redes de agências nos shopping de São Paulo. Fonte: BRANCATELLI, 2005.

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2.2 A Influência do Turismo no

Estado de São Paulo As cidades necessitam cada vez mais de matéria-

prima, energia para seu desenvolvimento econômico e

social, e também para recuperar a deterioração ambiental,

provocada por esse crescimento populacional (vegetativo e

migratório). No Brasil, as políticas voltadas para o turismo

parecem ter sido criadas como uma alternativa para atingir

as metas da agenda 21, uma vez que ela propõe o combate

à pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável

dos assentamentos humanos; ora, o turismo vem sendo

enxergado como uma “solução” na medida em que cria

oportunidades de emprego e geração de renda.

No “Plano Nacional de Turismo: Diretrizes Metas e

Programas”, apresentado em 29 de Abril de 2003, pelo

recente Ministério do Turismo (criado em 01/01/2003)

destacam-se, entre os principais vetores de governo, os

seguintes: redução das desigualdades regionais e sociais;

geração e distribuição de renda; e geração de emprego.

Analisando o papel do turismo nesses vetores, observa-se

que, ao mesmo tempo em que o turismo se mostra gerador

de desenvolvimento econômico e permite criar

assentamentos humanos com preservação ambiental, tal

atividade não pode ocorrer sem antes, ter uma infra-

estrutura urbana básica, o que é praticamente inexistente no

país.

Ainda na questão da infra-estrutura urbana básica,

verificam-se no Plano Nacional do Turismo algumas

deficiências, que impedem que o Brasil ocupe uma posição

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importante no cenário turístico mundial. Ao mesmo tempo

em que já existe nas cidades, uma “deficiência crônica na

gestão e operacionalização da infra-estrutura básica

(saneamento, água, energia, transporte)”, o governo

estimula a vinda de turistas que exigirá a melhoria desses

recursos; também o Brasil, conforme o diagnóstico do PNT –

Plano Nacional de Turismo necessita de um processo de

estruturação da cadeia produtiva do turismo formando redes

regionais de serviços a serem prestados aos turistas. Ora

para a formação de serviços de qualidade é preciso primeiro

de infra-estrutura urbana, depois a instalação dos serviços,

e somente depois, o turista. O PNT, ao mesmo tempo em

que se mostra consciente de que, o turismo não depende

somente da existência dos recursos naturais e culturais, ele

mostra que também tem consciência de que, sem a

incorporação de fatores estruturais, não será possível elevar

o nível da competitividade dos produtos brasileiros (BRASIL

- MINISTÉRIO DO TURISMO, 2003, p. 19). Quando o plano

se refere aos fatores estruturais refere-se também à

qualidade do espaço urbano, e sua melhoria é de

competência dos municípios. Os municípios, por sua vez,

devem ter consciência da necessidade de direcionar os

investimentos fornecidos pelo Ministério do Turismo e

Embratur para a melhoria de seus espaços públicos, para

que o turismo possa acontecer sem degradar o meio

ambiente.

Portanto para que o PNT continue de acordo com as

metas da agenda 21 mundial e estadual, é preciso que os

macro-programas aconteçam realmente na seqüência em

que foi estabelecida, ou seja, primeiro o processo de

estruturação urbana e depois a chegada dos turistas. Como

dificilmente isto acontece, as empresas privadas se

encarregam de suprir estas necessidades e como

conseqüência, os turistas (principalmente o estrangeiro)

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acabam encontrando qualidade urbana nos grandes

empreendimentos hoteleiros, como os resorts, spas e hotéis

que através de grandes investimentos, constroem

verdadeiras “mini-cidades” com toda infra-estrutura

necessária. São empreendimentos que, geralmente se

localizam em lugares afastados dos centros urbanos e, no

Brasil, para dar a sensação de estar numa cidade típica do

período colonial, os hotéis constroem as “cidades-cenários”

(Resort Costa do Sauípe), com igreja, lojas e praça,

localizada dentro do empreendimento. Neste tipo de infra-

estrutura o turista é isolado da “cidade real” diminuindo as

possibilidades de estimular a população local a criar seu

próprio negócio.

O PNT se apóia nos Macros Programas para atingir

seus objetivos, entre eles, a estruturação dos destinos

turísticos. Os Macro Programas estão divididos em 7, e os

que estão mais relacionados com a parte urbana são o

macro-programa 2 – Fomento, que entre os seus objetivos

esta a “melhoria e implantação de infra-estrutura turística em

todo o país”; e o macro-programa 3 – Infra-Estrutura, que

tem o objetivo de melhorar a “qualidade de vida nas cidades

turísticas” e “criar condições para a implantação de

equipamentos turísticos” (BRASIL - MINISTÉRIO DO

TURISMO, 2003, p.34-35).

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Quadro 01 – Plano nacional do turismo 2003

MACRO-PROGRAMAS 1. Gestão e Relações Institucionais

Integração do governo federal, estadual e municipal, descentralizando o processo de decisão no turismo brasileiro.

2. Fomento Captar investidores para projetos turísticos e ampliar as linhas de créditos para pequenas e médias empresas.

3. Infra-estrutura Melhorar a infra-estrutura urbana básica (água energia, transporte público, segurança, coleta e destino do lixo), criando condições para a instalação de equipamentos turísticos, atingindo tanto moradores como turistas.

4. Estruturação e diversificação da Oferta Turística

Aumentar o número de produtos turísticos para comercialização.

5. Qualidade do Produto Turístico

Criar programas de qualificação profissional e de normatização da atividade turística.

6. Promoção e Apoio à Comercialização

Promover uma nova imagem do turismo brasileiro no paìs e no exterior.

7. Informações Turísticas Avaliar os impactos da atividade turística na economia brasileira.

Fonte: www.embratur.gov.br/institucional.

No macro programa 3, o PNT destaca que:

(...) a expansão do Parque Hoteleiro, dos equipamentos de

lazer e entretenimento e a diversificação dos produtos

turísticos, só podem ocorrer em um cenário onde a infra-

estrutura básica esteja disponível (BRASIL - MINISTÉRIO

DO TURISMO, 2003, p.36).

Contudo, se isto não acontecer e a cidade for do

interesse das redes hoteleiras, eles não esperarão que a

prefeitura faça alguma coisa. Com recursos privados,

construíram sua própria infra-estrutura, porém, só para os

turistas.

Com relação a esse espaço urbano, MAGALHÃES

(2001) relaciona os tipos de serviços e infra-estrutura

necessários, como se pode observar no quadro abaixo.

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Quadro 02 – Tipos de serviços oferecidos pelos setores privado/público, relativos à infra-estrutura

Áreas de Atuação

Tipos de Serviços Infra-estrutura Urbana

Alimentação Fornecimento de refeições e bebidas.

Restaurantes, lanchonetes, bares e casas de chá e casas noturnas.

Hospedagem Serviços de hospedagem e hotelaria.

Hotéis, estâncias, camping, alojamentos, albergues e pousadas.

Transporte Transportes rodoviário, aéreo e terrestre.

Aeroporto, rodoviária, ruas e estradas.

Agenciamento e Operação

Venda de pacotes turísticos.

Agência de viagens.

Eventos Organização de congressos, campeonatos, feiras, cursos, etc.

Centro de Convenções. Teatros e Espaços Culturais.

Fonte: MAGALHÃES, 2001

Analisando esse quadro, Magalhães relaciona os

tipos de serviços oferecidos pelo setor privado e pelo

público, relativo à infra-estrutura oferecida. Percebe-se que,

na maioria dos países em desenvolvimento, a infra-estrutura

“urbana” nem sempre é oferecida a priori, mas vem com os

empreendedores, a exemplo do setor hoteleiro, isolando o

turista da população local.

Conforme IGNARRA (2003) a qualidade do espaço

urbano é elemento fundamental para viabilização da

atividade turística (IGNARRA, 2003), e o PNT 2003 (Plano

Nacional de Turismo) em sua análise, destaca a importância

de estruturar a cidade para o bom desempenho da

atividade. Contudo, no Brasil, o turista sempre chega

primeiro, mesmo que a estrutura urbana não esteja pronta,

pois a encontra no resort ou hotel em que se hospeda. O

PNT 2003 incorpora em suas políticas, as meta da agenda

21 de alcançar um desenvolvimento sustentável, com

diminuição da desigualdade social. Porém, como

conseqüência destes investimentos hoteleiros, muitas

cidades turísticas acabam se dividindo em espaços

diferenciados: o espaço do turista também conhecido como

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“a cidade ideal”, e o espaço local, da cidade dos residentes,

“a cidade real”.

Tem-se, portanto, um contraste nas políticas de

turismo no Brasil. O governo, investindo no turismo, procura

uma forma de resolver os problemas econômicos e sociais

típicos, e as cidades com potencial turístico, mas sem

nenhuma estrutura urbana, criado expectativas de que o

turismo possa trazer melhores condições de vida. E quando

a cidade não acompanha o crescimento populacional

(CAMPOS FILHO, 2001), administradores públicos a fim de

atender de forma emergencial aos turistas investem em

algumas melhorias urbanas superficiais (praças, portais e

galerias), o que só escondem as precariedades

habitacionais e ambientais do município (BASSETE, 2004).

Outro problema é que o turismo, segundo IGNARRA

(2003) atrai não só investidores, mercado imobiliário, e a

prestação de serviços, mas também as favelas e uma

massa de desempregados, em busca de trabalho. Isto quer

dizer que além da população residente, que já sofre pela

precariedade do espaço público, esta situação é ainda mais

acentuada com a vinda de pessoas atraídas pelos “boatos”

de prosperidade em função do turismo. Esta prosperidade,

talvez possa acontecer ao se implantar o macro-programa-3

do Plano Nacional de Turismo (BRASIL - MINISTÉRIO DO

TURISMO, 2003), que está ligado a dois sub-programas: o

Programa de Desenvolvimento Regional e o Programa de

Acessibilidade Aérea, Terrestre, Marítima e Fluvial. São

programas que visam distribuir a atividade turística em

outras regiões e, para isso, criam acessos viários e

rodoviários para facilitar a vinda de turistas e trazer com isso

o desenvolvimento. O governo federal, ao criar condições

para a regionalização do turismo, estimulando o

desenvolvimento local, pretende dar condições para que a

migração de parte da população para as cidades mais

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industrializadas não ocorra, mas por outro lado, estimula

uma migração regional, ou seja, pessoas das cidades não-

turísticas da região migram para as turísticas, pois lá

encontram trabalho. Um processo de migração que passa a

acontecer dentro de uma esfera regional e provoca o

mesmo problema de “inchaço urbano” que ocorre nas

cidades mais desenvolvidas.

Segundo RATTNER (1974) para estabelecer um

plano regional nos países em desenvolvimento, é preciso

perceber que o seu contexto histórico é diferente dos países

desenvolvidos e por isso precisam de seu próprio plano de

turismo em vez de procurar adaptar planos europeus. Na

época em que a população rural dos países desenvolvidos

migrava para as grandes cidades, estas eram logo

absorvidas e integradas nas atividades do setor secundário

e terciário. Aqueles que não eram absorvidos pelo mercado

emigraram para os países em desenvolvimento (o novo

mundo), como aconteceu no século XIX. Naquela época, a

emigração funcionou como uma “válvula de segurança”

(RATTNER, 1974, p.13), o que já não acontece no Brasil,

pois não há esse tipo de atividade em todas as regiões, que

possa empregar esses “emigrantes” (migração interna). Os

brasileiros, durante o processo de industrialização das

principais cidades dos paìs, quando não encontraram

trabalho se instalaram preferencialmente nas regiões

periféricas da cidade. Este processo de migração das

regiões menos desenvolvidas para as principais cidades

brasileiras continua, e também neste caso, a “válvula de

segurança” encontrada para conter a migração, é o turismo.

Portanto, nota-se que, o processo de migração para as

cidades mais desenvolvidas é inevitável seja entre países,

estados, região ou cidades e, sendo o turismo uma atividade

de desenvolvimento econômico, a migração ou migração de

pessoas desempregadas há de acontecer. Portanto a

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

Adriana Silva Barbosa

54

atividade turística que é vista pelo governo federal (SILVA

JUNIOR, 2002), como uma forma de superação da

desigualdade social e de crise econômica local, deverá

também ser vista como uma atividade que atraem

desempregados, gerando assentamentos humanos

precários e diminuição da qualidade de vida para a

população residente.

Considerando, então que o turismo tem estes dois

lados, seria importante que o governo estadual soubesse

quais as condições urbanas das cidades receptoras dessa

população, antes de estimular um turismo de massa. O

Programa Nacional de Regionalização do turismo, também

subordinado ao PNT, dentro do Programa de

Desenvolvimento Regional pretende, além de detectar

novos atrativos, criar um banco de dados com informações

precisas sobre cada município em relação á qualidade dos

equipamentos turísticos disponíveis (serviços de

hospedagem e alimentação; comércio e entretenimentos),

da infra-estrutura básica (sistema de água e esgoto,

acessos viários e transporte) e dos atrativos turísticos

(monumentos históricos, comemorações religiosas, feiras,

ecológicos). O estado ao detectar o potencial turístico em

uma cidade precisa conhecer as condições urbanas com

que poderá amparar a decisão de primeiro estruturá-la em

torno da atividade turística, para depois iniciar a divulgação.

Contudo, por ser este um processo recente, ainda não foi

possível avaliar a eficácia dessas políticas públicas voltadas

para o turismo na solução dos problemas regionais:

combate à fome; geração de trabalho; e diminuição da

desigualdade social. Mas, mesmo assim, o governo vem

investindo na dinamização da atividade turística e em seus

resultados. Conforme SILVA JUNIOR (2002), os dados da

OMT – Organização Mundial do Turismo de 2003 apontam o

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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55

turismo como um dos setores da economia mundial que

mais cresce e que mais gera emprego8.

Para RATTNER (1974, p.41) nas políticas mais

freqüentes e aceitas para regiões atrasadas, estão as que

justamente estimulam o processo de criação de empregos,

para uma mão-de-obra ociosa, preferencialmente

concentrada em áreas urbanas subdesenvolvidas. A

premissa básica em que se apóiam tais políticas é que com

a absorção dessa mão-de-obra por empregos, novas fontes

de renda local e regional seriam criadas. Têm como

diretrizes, fazer investimentos públicos diretos em

equipamentos sociais básicos; criar parcerias entre poder

público e privado; e, também, dar incentivos monetários e

fiscais. Um tipo de política muito parecida com as

empregadas no turismo, visto que os principais vetores do

PNT são, a diminuição das desigualdades regionais e

sociais; a geração de empregos e ocupação; e a geração e

distribuição de renda.

Apesar de tudo, ocorreram alguns resultados

negativos ao se implantar este tipo de política. Primeiro,

observou-se que muitos investimentos se tornaram

improdutivos por não se ter detectado a verdadeira

tendência existente na região. Neste caso o PNRT (2004)

deveria considerar se a cidade tem potencial turístico. Outro

cuidado é que, a utilização de incentivos fiscais pode acabar

por favorecer somente as grandes empresas. No caso do

turismo, devido ao despreparo da maioria da população

local e desconhecimento do mecanismo para ter acesso aos

benefícios oferecidos, os grandes empreendimentos

acabam chegando primeiro e dominando o mercado.

Finalmente, as parcerias entre o poder público e as

8 “O turismo cresceu 2,7% em 2003, índice mais elevado do que o do crescimento do PIB da maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento”.

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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empresas privadas podem ainda ser prejudicadas pela

lentidão e ineficiência da máquina administrativa estadual e

municipal. O turismo, por ter vários programas e sub-

programas em andamento, e, no entanto, a concretização

desses poderá sofrer um processo de lentidão em termos de

atendimento a suas metas.

Esses planos de turismo são implantados, mas ainda

não existia, por parte do governo federal, uma forma do

município prestar contas do trabalho executado, o que está

sendo feito com a criação de um banco de dados

informando todas as atividades em cada município. O Plano

Nacional de Municipalização do Turismo (2004) tem este

objetivo: atuar junto aos municípios como uma ferramenta

de conscientização e capacitação de agentes públicos e da

população local para reconhecer a dimensão da atividade

turística9. Para SANTOS FILHO (2005) a redução das

desigualdades regionais e sociais só é possível se for

levado em conta a profissionalização e treinamento da mão-

de-obra local, para que a atividade turística possa ser

realmente um instrumento de integração e não de exclusão

(SANTOS FILHO, 2006). Neste ponto, tanto o Programa de

Regionalização do Turismo como o Plano Nacional de

Municipalização do Turismo demonstra esta necessidade de

conscientização, visto que, no Brasil, o turismo ainda é uma

economia recente, dificultando a inserção da população

local nesta atividade (EMBRATUR, 2002).

E por ser o turismo uma economia recente, a

atividade turística no Brasil se concentrou em algumas

regiões do país, por vários motivos. Um deles já

considerado é a oferta de infra-estrutura básica, mas existe

9 Antes das ações políticas do novo Ministério do Turismo o PNMT já existia desde 1992, no qual organizou Conselhos municipais, que ficassem responsáveis pela elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo. Uma espécie de Plano Diretor do turismo municipal sob a orientação e coordenação da EMBRATUR.

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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outro fator, o fato de sempre acontecer em cidades mais

estruturadas (com maior oferta de lazer e entretenimento),

como se vê a seguir.

Tabela 01 – As cinco cidades mais visitadas do Brasil pelos turistas estrangeiros

Rio Janeiro 36,90% São Paulo 18,53% Salvador 15,76% Fortaleza 8,50% Recife 7,51% Foz de Iguaçu 7,40%

Fonte: Embratur 2003 – Turismo no Mundo

Tabela 02 – Regiões Emissoras e Receptoras de turistas no Brasil

Sudeste 49,25% Nordeste 24,19% Sul 17,48% Centro-Oeste 5,54% Norte 3,53% TOTAL BRASIL 100%

Fonte: Embratur - Estudo do Mercado Interno de Turismo 2001

Segundo dados da Embratur as capitais (São Paulo

e Rio de Janeiro) são os destinos mais visitados, tanto pelo

turista estrangeiro como pelos brasileiros. E, através dos

dados da Embratur a região Sudeste se destaca das

demais, sendo o Estado de São Paulo o principal receptor e

emissor de turistas. Os Estados que se destacam como

principais centros receptivos e emissivos são os que

apresentam maior “variedade” de serviços de hospedagem

(o Estado de São Paulo possui a presença dos principais

grupos hoteleiros internacionais)10; a presença de

equipamento capaz de abrigar grandes eventos e

convenções (somente no município de São Paulo é que se

encontra o maior centro eventos, de turismo de negócios do 10 Segundo o Anuário Estatístico da Embratur 2003, o Estado contava com cerca de 4.300 hotéis, correspondendo a cerca de 50 mil apartamentos, distribuídos entre as principais redes nacionais e internacionais de hotéis.

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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país)11; a diversidade de serviços de alimentação (São

Paulo possui o maior pólo cultural e gastronômico do

Brasil)12; e finalmente por ter modernos meios de

transportes (aeroportos, rodoviárias e metrô).

Tabela 03 – Cinco Principais Estados Emissores e Receptores de Turistas no Brasil

SP 27,51 % RJ 12,47% MG 8,42% PR 7,31% BA 7,08% RS 5,29%

Fonte: Embratur - Estudo do Mercado Interno de Turismo 2001

Tabela 04 – Principais Cidades Receptoras de Turistas domésticos no Brasil

São Paulo 4,5% Rio de Janeiro 3,1% Fortaleza 2,3% Salvador 1,9% Natal 1,7%

Fonte: Embratur – Estudo do Mercado Interno do Turismo 2001

As demais cidades são Belo Horizonte (1,7%); Porto

Alegre (1,7%); Santos (1,6%) e Recife (1,6%). Somente as

cidades de São Paulo e Rio de Janeiro correspondem a

quase 8% do mercado receptivo de turista.

Portanto, além das condições urbanas, há o fato da

região Sudeste ter a maior concentração de renda do país,

como confirmado pelo o Estudo do Mercado Interno de

Turismo do Brasil de 2001 da Embratur, de que a propensão

a viajar cresce conforme a renda. 11 Segundo a fundação São Paulo Convention & Visitors Bureau, das 170 principais feiras que aconteceram no país em 2003, 150 foram realizadas na cidade de São Paulo. De acordo com a Embratur 2003, do fluxo de 1,6 milhão de turistas estrangeiros que visitaram o Estado, 57% dos turistas vêm a negócios, enquanto 23% são participantes de congressos e convenções. 12 O Estado de São Paulo responde por 34% do pessoal ocupado e 42% da receita líquida dos serviços de alojamento no Brasil, conforme Pesquisa Anual de Serviços (PAS), do IBGE 2002.

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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Tabela 05 – Viagens Domésticas - Estimativas de Números de Turistas por Classe de Renda

Classes de Renda (SM)

População brasileira

Propensão da população de viajar

por renda (%) 0 a 1 33.873,8 0 1 a 4 90.209,5 24,04

4 a 15 41.183,0 38,28 Mais de 15 7.119,5 54,83

Total 172.385,8 24,0 (1) Fonte: FIPE, 2001. (1) Propensão das localidades amostradas, excluída a população de 1 SM.

Portanto, segundo esse plano, as regiões mais

urbanizadas possuem maior concentração de renda

(Sudeste) e se tornam fonte de emissão de turistas para

outras regiões. Enquanto que, em cidades em que a maior

parte da população tem baixa renda, sua função no turismo,

caso haja algum atrativo turístico (natural), é de receptora

desse turismo, ou seja, a população não viaja tanto, mais

recebe os turistas.

Tabela 06 – Viagens Domésticas – Propensão a Viajar por Faixa de Renda e Total Brasil

Renda Sudeste Brasil 1-4 29,1% 29,2%

4-15 44,3% 46,5% +15 64,9% 66,6%

Total 36,9% 36,4% Fonte: FIPE, 2001.

Nestas cidades só receptivas de turismo poderá

ocorrer outro efeito. É que, nas cidades menores, a

população local, ao observar os padrões de consumo dos

turistas e comparar com seu próprio tipo de vida social é

estimulada a abandonar seus costumes tradicionais e

almejar a viver nas grandes cidades. Assim, de certa forma,

o turismo pode ser visto como uma força de expulsão da

população local para outras regiões. Este efeito de

comparação já é estimulado através dos meios de

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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comunicação (RATTNER, 1974), e o turismo só vem

aumentar esse choque entre culturas e provocar um choque

social e cultural muito maior.

Mapa 01: Esquema de um pólo turístico. Fonte: MAGALHÃES, 2001 – vol 1.

Por sua vez, o governo federal, a fim de suprir as

carências urbanas das pequenas e médias cidades e

distribuir as atividades turísticas numa região está

incentivando a criação de pólos e roteiros turísticos como

uma forma de unir cidade mais estruturada com cidades

deficientes em infra-estrutura. Por exemplo, o turista pode

se hospedar numa cidade e de lá visitar várias outras. Essa

é uma forma também de estimular a economia de uma

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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região, ao invés de se concentrar numa única cidade.

(SANTOS FILHO 2003)13.

O mapa esquemático acima, de MAGALHÃES

(2001), mostra um pólo turístico, em que os atrativos

naturais se encontram entre as cidades e os serviços são

distribuídos ao longo dos acessos, permitindo que mais de

uma cidade da região se beneficie das atividades turísticas.

Frente a essas considerações pode-se dizer que as

políticas empregadas pelo governo federal, em relação ao

objeto de estudo, Campos do Jordão, se direcionam para

investimentos em infra-estrutura. Nesse sentido tem-se

consciência de que o turismo não pode acontecer sem uma

infra-estrutura das cidades, e, se acontece, é por meio de

investimentos privados, só nas áreas de interesse turístico.

Nestes casos têm-se “cidade-cenários” montadas somente

para o turista e não para o município. O turismo, ao mesmo

tempo em que atrai empreendedores, atraem também

desempregados que passam a utilizar uma infra-estrutura

urbana já deficiente, construindo favelas. Também,

enquanto o objetivo do governo federal é desenvolver o

turismo regional para conter a migração para as principais

capitais do país, procura atingir assim as metas da agenda

21. Por sua vez, o contato com os turistas que possuem

renda acima da média local, é um estímulo para a migração

das populações que desejam conseguir padrão de vida

similar. Rebatendo essas considerações para o município de

Campos do Jordão, percebe-se na cidade em que não há

infra-estrutura básica, o turismo, não deixa de acontecer,

embora seja criado e voltado somente para os turistas,

como na Vila Capivari. Que o turismo atrai, não somente

13 De acordo com o guia Quadro Rodas de Fim de Semana de 2005, algumas regiões já possuem considerável estrutura urbana e serviços de alimentação e hospedagem para receber turistas. Somente na região Sudeste, existem 130 cidades turísticas entre SP, MG e RJ num raio de até 300 km com 340 hotéis e pousadas

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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empreendedores de turismo, mais também os

desempregados, pode-se observar, em vila Santo Antônio,

com a formação do precário assentamento humano. O

turismo, ao invés de ser uma solução ao combate das

desigualdades sociais na cidade, ao contrário, só as

acentuou, pelo fato de ser um turismo voltado para a elite. E,

finalmente, se o turismo fosse a principal solução para os

problemas econômicos locais, Campo do Jordão já teria

tempo hábil para apresentar bons resultados.

Se o turismo tem sido empregado com o objetivo de

gerar emprego, combater a pobreza e diminuir as diferenças

sociais de um lado, de outro, é preciso que a população

local tenha condições culturais para poder participar e se

beneficiar desse desenvolvimento.

Há cidades com potencial turístico, em que a

atividade turística surge pela iniciativa dos moradores,

porém com muita improvisação. Com o aumento da

atividade, essa população inicialmente amadora vai sendo

substituída por profissionais especializados. Nesses casos,

muitos moradores fecham seus negócios, vendem suas

casas que se localizam nas áreas de interesse turístico e

assim, valorizada e se tornam, ou funcionários desses novos

empreendimentos, ou, dependendo se sua escolaridade, ou

formam microempresas ou se ocupam com atividades

informais (venda de artesanato nas ruas, sorvete caseiro na

praia) (FONTELES, 2004). Desse modo, para que o objetivo

do governo de levar o turismo às pequenas e médias

cidades a fim de gerar emprego e combater a pobreza, é

necessário capacitar essa população, pois, conforme o

turismo vai se organizando, aumenta a exigência de

profissionais preparados.

Esta preocupação parece ter sido levantada pela

Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, quando

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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implantou as Jornadas de Desenvolvimento do Turismo em

2005, que durou 180 dias, visitou vários municípios, a fim de

identificar novos destinos turísticos e detectar os problemas

a superar. Foram visitados 645 municípios pela equipe do

secretário de Turismo do Estado, Fernando Longo, divididos

em oito macrorregiões14. Foi feito um dos diagnósticos em

2005 em que se apontou a falta de preparo profissional da

população, como um dos maiores problemas.

Na década de 1990, o governo federal tentou

melhorar a capacitação profissional, através de PNMT -

Programa Nacional de Municipalização do Turismo, E,

dentre os princípios orientadores deste programa, está o

processo de conscientização da comunidade em prol do

turismo. Para tanto foram realizadas oficinas estruturadas

em três fases: conscientização dos participantes da

importância do turismo; organização do COMTUR -

Conselho Municipal de Turismo e do Fundo Municipal do

Turismo; e finalmente a capacitação da comunidade para a

elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do

Turismo. Os conselhos trabalham conjuntamente com um

“moderador” que organiza as oficinas, de modo que

consigam formar monitores para passar conhecimentos aos

demais membros da comunidade.

Porém há algumas críticas a esse método de

conscientização da comunidade. Para SANTOS FILHO

(2002) o método não agradou a todos os turismólogos

porque, a metodologia adotada pelo PNMT – Plano Nacional

de Municipalização Turística é um método chamado ZOOP

14 Entre Rios (139 municípios); Centro-oeste Paulista (143 municípios), Estradas e Bandeiras (90 municípios); Vertente Oceânica Norte (39 municípios, entre eles Campos do Jordão); Cuesta-Alto Paranapanema (79 municípios); Centro-Norte Paulista (93 municípios) e Capital Expandida (39 municípios).

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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(Planejamento de Projetos Orientados por Objetivos)15

trazido da Alemanha. Mesmo adaptado ao Brasil, diz

SANTOS FILHO (2002) o método “desrespeita a cultura

local”, pois “como modelo germânico em nada reflete nossa

realidade”; uma vez que os alemães são mais politizados e

agem por si próprios nas oficinas, enquanto o brasileiro

acaba aceitando quase sempre a opinião do moderador.

Mais ainda, porque “cria-se uma mística entorno do

programa com um marketing” (SANTOS FILHO, 2002, p.2)

em torno da excelência de uma “tecnologia estrangeira”,

atitude essa semelhante à da elite cafeeira, que buscava a

qualidade dos produtos e de vida fora do Brasil (SANTOS

FILHO, 2002, p.3). Para AULICINO (2004, p.62), o povo

brasileiro aprendeu a deixar as “decisões para aqueles que

entendem do assunto”. Assim, num método em que as

oficinas são administradas por um “moderador” (um

profissional treinado para atuar dentro das regras impostas

pelo método ZOOP) que por serem de outras cidades, não

têm conhecimento sobre a realidade local. Esta situação

parece não ser um estímulo à população local. Além disso,

segundo AULICINO (2004, p.63), o método alemão “não é

facilmente assimilado por pessoas sem qualificação para a

execução da metodologia”, o que “dificultou a realização de

muitas oficinas no Brasil”. Contudo, seja qual for o método

utilizado pelo governo, o primeiro passo, para atingir as

metas da Agenda 21, do PNT – Plano Nacional do Turismo

e do PNRT – Plano Nacional de Regionalização Turística, já

foi dado pelas políticas de governo e a população, mesmo

com suas dificuldades culturais, teve a oportunidade de

entender a importância de tal atividade. Agora o segundo

passo é a capacitação profissional, que está presente na

segunda fase do PNMT.

15 Desenvolvida pelo Governo Alemão por intermédio da Agência GTZ - Gesellschft Fur Technische Zusammenarbeit (Sociedade Alemã de Cooperação Técnica)

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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65

Nesta questão da capacitação profissional, SANTOS

FILHO (2002, p.3) enfatiza que, se o governo quiser

realmente pensar numa política que busque a geração de

emprego e a diminuição da desigualdade social, é preciso

entender o turismo como algo muito além de uma simples

atividade econômica, mas como uma influência social no

modo de vida. E Santos Filho, como sociólogo e

turismólogo, acredita que, a capacitação e conscientização,

deverão partir da realidade do aprendiz, e não ser ao

contrário, o resultado de uma comunidade se adaptando a

um sistema externo. Cita como exemplo de um método

eficiente de aprendizado, adequado à realidade brasileira, a

do educador Paulo Freire que ensinava a partir daquilo que

seus alunos já conheciam, ou seja, partindo “de fatos de sua

vida cotidiana”, respeitando o senso comum, a partir do qual

alcançava novos conhecimentos (FREIRE, 2000). Esta

metodologia, segundo SANTOS FILHO (2002, p.3), seria a

única forma de envolver a comunidade no turismo, sem

desrespeitar a cultura local e sem excluir a população

dessas atividades turísticas.

Mas a falta de preparo da população não impede que

o turismo no Brasil aconteça. No estado de São Paulo, a

falta de profissionalismo nas atividades turísticas, coincide

com a informalidade em que o turismo é praticado. Para

estas cidades, as viagens são geralmente feitas de carro ou

transporte coletivo com recursos próprios, sem nenhum

financiamento ou algum pacote turístico. E, a maioria das

cidades é visitada normalmente por pessoas da própria

região. A pesquisa da FIPE (2001) comprova esta

observação ao constatar que a origem do visitante é de

Unidades da Federação. No caso de São Paulo, 48,6% de

seu mercado emissivo de turista é da própria região

Sudeste. Estes dados também confirmam a pesquisa

realizada pela Revista da Folha sobre o hábito de viagens

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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do paulistano, mostrando que, apesar de almejarem

destinos internacionais, rumam, ou para as praias mais

próximas, ou para o interior do estado16. Mas, para este

perfil de turista, a falta de pacotes não é um empecilho para

viajar. A maioria dos turistas faz seu próprio roteiro;

hospeda-se na casa de parentes e amigos; aluga um sítio

ou uma residência; organiza excursões turísticas, ou já

possui sua segunda residência no litoral ou na serra. Os

dados da tabela abaixo mostram o nível de informalidade do

turismo brasileiro, (não usam “pacotes” ou agências

turísticas e utilizam seu próprio meio de transporte).

Tabela 07 – Viagens rotineiras

Transporte e Hospedagens utilizados, por Região e Total.

S SE NE N CO Brasil Meio de transporte

Carro próprio 62,5% 50,9% 28,3% 31,2% 53,1% 45,8% Ônibus de linha 27,0% 36,3% 45,4% 27,3% 32,6% 36,2%

Carona 6,2% 5,2% 5,8% 0,4% 0,0% 4,7% Navio ou Barco 0,0% 0,0% 0,2% 24,2% 0,0% 2,2%

Avião 1,7% 0,9% 0,6% 4,2% 11,0% 1,9% Perueiro 0,0% 0,2% 5,5% 2,6% 0,6% 1,6%

Ônibus Excursão 0,1% 1,2% 0,2% 4,1% 2,3% 1,2% Moto 0,3% 0,9% 2,6% 0,0% 0,6% 1,1%

Carro alugado 0,0% 0,5% 0,4% 4,5% 1,9% 0,9% Outros 2,3% 3,3% 10,3% 0,0% 0,0% 4,2%

Meio de Hospedagem Casa amigos/parentes 63,5% 57,3% 61,1% 47,7% 65,5% 58,6%

Casa Própria 28,6% 24,1% 13,5% 24,3% 17,7% 21,9% Hotel 1 a 3 estrela 4,2% 4,7% 6,6% 7,9% 4,6% 5,3%

Hotel 4 ou 5 estrela 0,5% 2,2% 0,8% 3,4% 12,2% 2,5% Pousada 0,3% 1,8% 3,3% 8,3% 0,0% 2,4%

Casa Alugada 0,1% 1,9% 2,6% 1,0% 0,0% 1,6% Albergue ou Camping 0,0% 0,4% 0,0% 4,1% 0,0% 0,6%

Motel ou Pensão 0,0% 0,6% 0,5% 0,0% 0,0% 0,4% Colônia de Férias 0,6% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,2%

Outros 2,1% 5,4% 11,2% 2,5% 0,4% 5,7% Fonte: FIPE, 2001.

16 Revista da Folha, Paradoxo Paulistano, 12 de junho de 2005. ano 14 – nº 673.

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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Dentre os 30 municípios receptores do turismo

interno, segundo a FIPE (2001), os mais procurados

localizam-se no estado de São Paulo e pertencem à região

do Cone Leste Paulista: Santos, Ubatuba, Guarujá, Praia

Grande, Caraguatatuba e Aparecida do Norte. Estas cidades

se destacam por especialidades, no caso de Aparecida do

Norte, por exemplo, pelo turismo religioso e, nas demais

pelo turismo de verão.

Mapa 02: esquema de uma região composta por vários pólos turísticos. Fonte: elaborada por Adriana Silva Barbosa conforme dados de SERRA, 1991.

Para mudar o perfil do turismo nas demais regiões, a

Secretaria Estadual do Turismo criou 14 circuitos e três

roteiros, que estão sendo divulgados tanto para o turista

brasileiro como para o turista estrangeiro, através de

folhetos disponíveis nos aeroportos e site na internet. Dentre

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

Adriana Silva Barbosa

68

os circuitos e roteiros divulgados, nota-se que sempre uma

ou duas cidades já possuem um turismo mais organizado.

No mapa esquemático acima, tem-se um exemplo de

organização espacial de uma região turística com três pólos

turísticos. As cidades que compõe os pólos são interligadas

por estradas que passam dentro de cada município.

Geralmente as vias de acesso se encontram nos vales, nas

partes mais planas. Essas vias, com o tempo, se

transformam em rotas turísticas, visto que a visitação é feita

pela maioria dos turistas de automóvel. Os serviços passam

a se concentrar ao longo das estradas como restaurantes,

lojas com artesanato local e posto de gasolina. Entre as

cidades do pólo estão os atrativos naturais como parques e

cachoeiras e fazendas aberta à visitação. Os atrativos

passam a ser usufruído por todos os municípios e por se

encontrarem fora do núcleo urbano, são denominadas de

áreas de influência. Enquanto todas essas atividades

turísticas ocorrem entre os municípios, a cidade motriz,

aquele que possui a maior infra-estrutura urbana, abastece

todas as necessidades de serviços públicos e privados tanto

para os turistas como para os residentes.

Uma região turística pode ser composta por um ou

mais pólos turísticos, com sua respectiva cidade motriz. O

pólo pode denominar-se de acordo com as características

do atrativo turístico oferecido na região. Conforme o mapa

esquemático, o atrativo pode ser uma reserva natural, um

produto típico da região, edifícios históricos ou uma área

comercial e de entretenimento que se destaca das demais

cidades. Segundo SERRA (1991):

(...) a concentração das ações, isto é, dos investimentos em

certas aglomerações, podem produzir efeitos

multiplicadores consideráveis, com reflexos sobre toda rede

urbana, e finalmente sobre toda uma região.

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

Adriana Silva Barbosa

69

Portanto um produto típico pode ser o principal

atrativo da região, onde turistas saem de sua cidade de

origem para comprar malhas, bordados, doces ou bebidas; e

conseqüentemente utiliza os meios de hospedagem e

demais serviços disponíveis na cidade. Uma vez detectado

o principal atrativo, vários investimentos são realizados,

refletindo no desenvolvimento econômico da cidade e da

região.

SERRA (1991) denomina estas áreas de

aglomeração de investimentos de “pólos de

desenvolvimento”. No Brasil, conforme Serra, “quase toda a

política de desenvolvimento regional tem implicado certo tipo

de ação sobre os pólos de desenvolvimento”.

Ainda continuando na tentativa de regionalizar o

turismo e, levando em conta as precariedades da infra-

estrutura urbana disponível, o governo federal procura

organizar um turismo mais voltado para as áreas naturais, o

chamado ecoturismo. No Estado de São Paulo, o Cone

Leste Paulista onde se situa Campos do Jordão, é um dos

alvos no desenvolvimento desta atividade.

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2.3 A Influência do Turismo nas

cidades do Cone Leste Paulista: Serra da Mantiqueira, Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista.

Nesta região, algumas das cidades litorâneas são

consideradas as principais receptoras do turismo interno

(FIPE, 2001), agregando a esse turismo o valor histórico da

região. Podem-se observar historicamente os fluxos

comerciais litoral-serra entrando rumo ao interior de Minas

Gerais, no caminho do ouro e das pedras preciosas. Com a

construção das ferrovias no século XIX, foram interligadas

algumas cidades do litoral, como Santos, com as cidades do

vale do rio Paraíba e outras do interior de São Paulo, como

Jundiaí17 (TOLEDO, 2003). Assim as rotas comerciais que

num primeiro momento ocorriam no sentido litoral-Minas

Gerais passam a se orientar pela produção de café, com

fluxos no sentido São Paulo - Vale do Paraíba – Rio de

Janeiro. Este último eixo, após os três ciclos econômicos

(ouro, cana-de-açucar e café), entra num processo de

industrialização impulsionada pela construção da Rodovia

Presidente Dutra. Nesta fase, enquanto as cidades situadas

ao longo da rodovia crescem, outras situadas fora deste

contexto, sofrem um processo de estagnação econômica

(TOLEDO, 2003).

17 E nas cidades do vale, devido a grande concentração de produção de café, a São Paulo Raiway construiu uma ferrovia que passou a interligar Santos á Jundiaí

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Mapa 03: O ciclo do ouro na região no Cone Leste Paulista. Fonte: www.valeverde.org.br.

As cidades que não fizeram parte do processo de

industrialização se estagnaram. Por sua vez, com relação ao

turismo já apresentam pontos positivos para a “valorização

do lugar” (VARGAS, 1997). Suas “especificidades” em

relação à formação histórica, patrimônio cultural,

arquitetônico e natural se transformam, “conjugadas” aos

fatores físico-geográficos, tidos como atrativos turísticos

diferenciados. Suas peculiaridades prendem-se, por

exemplo, aos antigos caminhos indígenas, dos ciclos do

ouro, da cana-de-açúcar e do café. Neste conjunto

destacam-se as áreas naturais, que se tornaram

praticamente a matéria prima dos negócios do ecoturismo.

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Mapa 04: O ciclo do café no Vale do Paraíba, Cone Leste Paulista. Fonte: www.valeverde.org.br.

Mapa 05: Primeira fase do processo de industrialização das cidades do Vale do Paraíba, Cone Leste Paulista. Fonte: www.valeverde.org.br.

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Mapa 06: Segunda fase do processo de industrialização das cidades do Vale do Paraíba, Cone Leste Paulista. Fonte: www.valeverde.org.br.

Assim, dentro das metas do PNT - Plano Nacional do

Turismo, que tentam ampliar a oferta turística brasileira, os

atrativos naturais das cidades passam a estar em evidência

e diretamente ligados aos interesses de desenvolvimento

econômico regional do governo. Estimular atividades de

ecoturismo, turismo rural, de aventura e esportes radicais,

além do turismo religioso e histórico cultural, passa a ser,

em cidades menos desenvolvidas, o grande atrativo

oferecido, e ao mesmo tempo, a única alternativa para estas

cidades de entrarem no mercado turístico.

O Programa de Regionalização do Turismo, em

2005, através das Jornadas de Desenvolvimento do Turismo

Paulista criou cinco circuitos, na Região do Cone Leste

Paulista:

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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• No litoral: Circuito Litoral Norte Paulista: Caraguatatuba,

Ilha Bela, São Sebastião e Ubatuba.

• Na Serra: Circuito Mantiqueira: Campos do Jordão,

Monteiro Lobato, Pindamonhangaba, Piquete, Santo

Antônio do Pinhal, São Bento do Sapucaí, São Francisco

Xavier, São José dos Campos, Tremembé.

• No vale: Circuito Paulista da Estrada Real: Aparecida,

Areias, Arapeí, Bananal, Cachoeira Paulista, Canas,

Cruzeiro, Cunha, Guaratinguetá, Lagoinha, Lavrinha,

Lorena, Potim, Queluz, Roseira, São José do Barreiro,

São Luiz do Paraitinga, Silveira e Taubaté. Circuito

Caminhos do Rio Paraíba: Aparecida, Cunha, Canas,

Cachoeira Paulista, Cruzeiro, Guaratinguetá, Lavrinhas,

Lorena. Circuito Vale Histórico: Areias, Arapeí, Bananal,

São José do Barreiro, Silveira e Queluz.

Imagem 01: Folheto de divulgação de divulgação do circuito Litoral Norte, elaborados pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Fonte: Secretaria do Turismo do Estado de São Paulo. http://www.saopaulo.sp.gov.br/linha/sec_turismo.htm.

Imagem 02: Folheto de divulgação de divulgação do circuito caminhos do Rio Paraíba, elaborados pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Fonte: Secretaria do Turismo do Estado de São Paulo. http://www.saopaulo.sp.gov.br/ linha/sec_turismo.htm.

Os circuitos apresentados estão todos voltados para

os atrativos naturais (montanhas, vales e rios) e os aspectos

históricos do vale (as fazendas de café dos séculos XVIII e

XIV). Percebe-se também que as cidades que compõem os

circuitos foram selecionadas pelos atrativos físico-

geográficos (serra, vale, rio e mar) e por interesse históricos

(as fazendas, os fortes, os tropeiros), não obedecendo às

subdivisões da Região Administrativa de São José dos

Campos (ALVIM, 1996) conforme apresentadas a baixo:

Sub-divisão de São José dos Campos: Caçapava,

Igarata, Jacareí, Jambeiro, Monteiro Lobato, Paraibuna,

Santa Branca, São José dos Campos.

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Sub-divisão de Taubaté: Campos do Jordão,

Lagoinha, Natividade da Serra, Pindamonhangaba,

Redenção da Serra, Santo Antônio do Pinhal, São Bento do

Sapucaí, São Luis do Paraitinga, Taubaté e Tremembé.

Sub-região de Guaratinguetá: Aparecida, Cachoeira

Paulista, Cunha, Guaratinguetá, Lorena, Piquete, Roseira.

Sub-região de Cruzeiro: Areias, Bananal, Cruzeiro,

Lavrinhas, Queluz, São José do Barreiro, Silveira.

Imagem 03: Folheto de divulgação de divulgação do Vale Histórico, elaborados pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Fonte: Secretaria do Turismo do Estado de São Paulo. http://www.saopaulo.sp.gov.br/linha/sec_turismo.htm.

Imagem 04: Folheto de divulgação de divulgação do circuito Mantiqueira, elaborados pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Fonte: Secretaria do Turismo do Estado de São Paulo. http://www.saopaulo.sp.gov.br/linha/sec_turismo.htm.

Nota-se que o litoral norte paulista não faz parte das

sub-divisões regionais da R. A. de São José dos Campos e

algumas cidades que compõe o circuito da Mantiqueira não

pertence ao Estado de São Paulo, mas sim, Minas Gerais

(São Franciso de Chavier e Monte Verde). Neste aspecto, o

turismo parece estar se organizando de modo independente

da divisão política administrativa do Brasil, mas por

categoria de interesse turístico (litoral, serra, vale, fazendas

etc).

Com relação do ecoturismo, há o estudo de

MAGALHÃES (2001) sobre “pólos de ecoturismo” no qual

ele detectou no estado de São Paulo oito pólos, conforme

pesquisa realizada pelo IEB-Instituto de Ecoturismo do

Brasil, em parceria com a EMBRATUR. Dentre os pólos

encontrados, três se localizam na região do Cone Leste

Paulista:

SP5 – Pólo Vale do Rio Paraíba do Sul: Caçapava,

Pindamonhangaba, Cruzeiro, Silveiras, São José do

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Barreiro, Bananal, Cunha, São Luiz do Paraitinga,

Paraibuna.

SP6 – Pólo Mantiqueira: São José dos Campos,

Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Campos do

Jordão, Santo Antônio do Pinhal.

SP7 – Pólo Litoral Paulista: Peruíbe, Itanhaem,

Cubatão, Santos, Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Ilha

Bela, Caraguatatuba, Ubatuba, Salesópolis, São Bernardo

do Campo.

Mapa 07: Circuitos turísticos no Vale do Paraíba. Elaborado por Adriana Silva Barbosa, a partir da planta fornecida pela ONG Vale Verde, Projeto Petrobras, 2005.

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Mapa 08: Municípios que compõe o Vale do Paraíba, com destaque nas cidades que compõe a sub-divisão regional de Taubaté. Fonte: www.valedoparaiba.com.br.

Analisando esses circuitos, Campos do Jordão teria

condições de diversificar sua atividade turística, ou seja,

além do turismo sazonal, se destacar pelo ecoturismo. A

cidade por se localizar numa região serrana, acabou

preservando grande parte dos seus recursos naturais assim

como aconteceram nas demais cidades da Serra da

Mantiqueira. E, ao invés da cana-de-açúcar e do café, atuou

como um lugar de recuperação da saúde.

Campos do Jordão, na definição dos circuitos

turísticos do estado, destaca-se na categoria “serras”, não

por possuir atividades de ecoturismo, mas pelo turismo de

inverno. Atua como uma cidade estruturadora das atividades

turísticas regionais. O potencial urbano atua como insumo

precioso à atividade turística e também, dentro de uma

região em desenvolvimento, poderá funcionar como um

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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“pólo de crescimento a partir das atividades terciárias”

(ROCHERFORT apud VARGAS, 1985, p.48). Então,

Campos do Jordão, por possui mais infra-estrutura urbana e

um setor terciário mais diversificado, em relação ao do

entorno, destaca-se como cidade motriz do circuito turístico.

Mapa 09: mapa de organização dos pólos de ecoturismo do Estado de São Paulo. Fonte: MAGALHÃES, 2001.

As demais cidades incluídas no circuito Mantiqueira

já possuem alguma atividade turística, mas muitos serviços

urbanos básicos (banco, hospital e correio) ainda são

realizados em Campos do Jordão. Assim a formação de

circuitos pelo governo estadual parece ter a intenção de

levar ao turista não somente uma diversidade de atrativos

(turismo de inverno em Campos do Jordão, ecológico em

São Bento do Sapucaí e cultural em Monteiro Lobato), mas

um suporte de serviços básicos. Como cidade motriz do pólo

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Espaço Urbano e Turismo: o caso de Campos do Jordão, SP

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turístico, possui o maior número de estabelecimentos de

comércio e rede bancária em relação às outras cidades, no

qual se beneficiam tanto turista como moradores,

impulsionando o crescimento do município, atraindo

investidores, valorizando suas terras no mercado imobiliário

e refletindo sobre os demais municípios, através da geração

de oportunidades de emprego nas temporadas de inverno.

Esta circulação de pessoas e de mercadoria poderá atuar

como um descentralizador dos assentamentos humanos que

hoje se aglomeram nos bairros populares da cidade e, como

circuito, talvez possa ser um estímulo a empreendimentos

entre cidades, considerando que as cidades mais próximas

como São Bento do Sapucaí e Santo Antônio do Pinhal

fazem parte da mesma APA – Área de Proteção Ambiental,

da mesma bacia hidrográfica e possui as mesmas vias de

acesso viário18.

18 Ambas as cidades fazem parte da Área de Proteção Ambiental da Mantiqueira, através do Decreto nº 91.304 (03/06/1985) no qual compreende os estados de Minas Gerais com 16 municípios, São Paulo com sete municípios e Rio de Janeiro com 2 municípios. Os três municípios, CJ, SBS, SAP, estão localizados na Bacia Hidrográfica da Mantiqueira, conforme Lei Estadual nº 9034, de 27 de dezembro de 1994, com 642 km2 de área de drenagem. Seus principais cursos d`água são os Rios Paraíba do Sul, Paraibuna, Paraitinga, Jaguari, Parateí e Una. Os acessos viários aos municípios se encontram nas vias transversais à Rodovia Presidente Dutra. A Rodovia Rodrigues Pinheiros (SP – 123) é uma via transversal que liga São José dos Campos a Campos do Jordão e é a principal via de acesso à cidade. Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí também são acessadas através desta rodovia.

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Mapa 10: Campos do Jordão como cidade motriz das demais cidades do entorno. Fonte: Secretaria do Turismo do Estado de São Paulo. http://www.saopaulo.sp.gov.br/linha/ sec_turismo.htm.

Mapa 11: Cidades Turísticas da Serra da Mantiqueira. Fonte: MONTEIRO, 2000a.

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Na pesquisa de MAGALHÃES (2001) Campos do

Jordão também faz parte do Pólo Mantiqueira, mesmo não

sendo o ecoturismo sua atração principal. Mas, levando em

consideração que a cidade se encontra na APA da Serra da

Mantiqueira e na APA de Campos do Jordão, o ecoturismo

poderia ser mais uma forma de diversificar as alternativas de

lazer na cidade, e criar atividades que poderiam ser

realizadas a qualquer época do ano, tentando assim atingir

as metas do Plano Nacional de Turismo.

Para finalizar este capítulo, alguns pontos serão

recordados a fim de compreender melhor o espaço da

cidade de Campos do Jordão.

Com relação ao Brasil, observou-se que no início da

colonização, os banhos de mar e de água doce (cachoeira),

foram inicialmente usados para cuidar da saúde do visitante

e depois como tratamento de doenças causadas pela

insalubridade das grandes cidades (falta de higiene); o

costume de possuir uma segunda residência provocou, com

o tempo, a valorização das terras em áreas litorâneas e

serranas (casas de aluguel ou a segunda residência); o

turismo no Brasil aconteceu primeiramente nas áreas

construídas (visitação de igrejas e festividades religiosas) e

depois nas áreas naturais; o turismo organizado não

acontece sem um conjunto de prestações de serviços

(hospedarias e pensões), o que demorou a acontecer no

Brasil, por estas (atividades de serviços) serem

consideradas atividades de escravos e não atividades

socialmente apreciadas.

Com relação à região sudeste, quando o turismo se

organizou no Brasil, concentrou-se nas grandes capitais

(São Paulo e Rio de Janeiro) devido à variedade de serviços

disponíveis; a região por ser mais desenvolvida tornou-se

um grande emissor e receptor de turista; a maioria das

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cidades turísticas do estado de São Paulo é visitada por

turistas da própria U.F., cujas viagens são organizadas sem

a utilização de pacotes turísticos, por iniciativa própria; a

falta de estrutura urbana e de serviços tem gerado espaços

urbanos voltados somente para os turistas (bairros turísticos

e resorts), que são servidos por profissionais de outras

cidades; a organização informal das viagens se adapta às

condições oferecidas pelas pequenas cidades, composta de

pousadas administradas por familiares, restaurantes com

comida caseira, estadia em casa de parentes e amigos, e

aluguel de sítios e residências.

Analisando Campos do Jordão neste contexto, nota-

se que a cidade se sustenta através de turistas do próprio

estado de São Paulo19; que não dependem de pacotes

turísticos para se locomover, visto que a maioria possui seu

próprio meio de transporte ou sua segunda residência; a

cidade, por não apresentar uma estrutura urbana uniforme,

deu espaço a bairros e empreendimentos voltados somente

para o turista, uma espécie de “cidade-cenário” de uma

estação de inverno (Vila Capivari); a cidade por apresentar

um turismo mais consolidado com serviços hoteleiros

compatíveis com o padrão oferecido nas capitais, não

emprega a maior parte da população local, mais busca

profissionais nas escolas de hotelaria e gastronomia

(SENAC); diferente das demais cidades turística o turismo

local não se baseia em tradições culturais, mas na imagem

“montada de estação de inverno”, o que torna difícil a

capacitação da população local por uma consciência

histórico-cultural. Finalmente, o ecoturismo parece ser uma

nova alternativa que permitirá à cidade não se apoiar

somente no turismo de inverno, atraindo visitantes durante

todo o ano e, assim, tentando atingir as metas do PNT.

19 Segundo a Embratur, Campos do Jordão é a 28º cidade dos principais destinos Municipais Domésticos, por U.F., por turistas com mais de 15 salários mínimos, o que revela sua vocação para um turismo de elite.