Dissertação Patrícia Customização Em Massa Para HIS

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    Universidade Federal do Rio Grande do SulEscola de Engenharia

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil

    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na ConstruoHabitacional para Baixa Renda

    Patrcia Andr Tillmann

    Porto Alegre2008

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    Patrcia Andr Tillmann

    DIRETRIZES PARA A ADOO DA CUSTOMIZAO EM MASSA NACONSTRUO HABITACIONAL PARA BAIXA RENDA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civilda Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia.Orientao: Prof. Dr. Carlos Torres Formoso.

    Porto Alegre

    2008

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    PATRCIA ANDR TILLMANN

    DIRETRIZES PARA A ADOO DA CUSTOMIZAO EM MASSA NACONSTRUO HABITACIONAL PARA BAIXA RENDA

    Esta dissertao de mestrado foi julgada adequada para a obteno do ttulo de MESTRE EM ENGENHARIA,rea Construo, e aprovada em sua forma final pelo professor orientador e pelo Programa de Ps-Graduao

    em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    Porto Alegre, Junho de 2008

    Prof. Carlos Torres FormosoPh.D. pela University of Salford, Gr Bretanha

    Orientador

    Prof. Fernando SchnaidPh.D. pela Oxford University, Gr Bretanha

    Coordenador do PPGEC/UFRGS

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Aguinaldo dos SantosPh.D. pela University of Salford, Gr Bretanha

    Prof. Eduardo Lu is IsattoDr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Prof. Fernando SchnaidPh.D. pela Oxford University, Gr Bretanha

    Profa. Mrcia Elisa Soares EchevesteDra. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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    minha famlia, pelo amor, exemplo e incentivo.

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    AGRADECIMENTOS

    O apoio e incentivo de muitas pessoas e instituies foram imprescindveis para a concluso deste trabalho.

    Mencionar todos uma tarefa difcil, porm, no poderia deixar de citar alguns que tiveram uma colaborao direta eefetiva, tornando possvel o desenvolvimento este trabalho.

    Agradeo imensamente ao professor Carlos Torres Formoso pelas oportunidades proporcionadas, orientao precisa

    e enorme incentivo, e cuja dedicao e competncia certamente levarei de exemplo minha vida profissional.

    Ao CNPQ e FINEP que financiaram o desenvolvimento desta pesquisa.

    empresa construtora que abriu as portas e participou deste estudo com entusiasmo, contribuindo imensamente para

    sua realizao.

    Ao Ncleo de Acessoria e Estatstica da UFRGS pelo acompanhamento deste trabalho e imprescindvel orientao.

    Aos meus queridos colegas da turma de mestrandos 2006 pelos timos momentos que passamos durante este curso

    e pelo carinho e amizade que permaneceram.

    Ao meu querido namorado, colega e amigo Guilherme pela pacincia, incentivo e apoio; e sua famlia por ter me

    acolhido com tanto carinho durante estes anos de mestrado.

    Aos colegas e amigos do grupo de gerenciamento principalmente por disponibilizarem dados previamente coletados,

    alm de orientaes, discusses e auxlio at nos detalhes de formatao final da redao. Ao Fbio e Letcia por

    terem exercido uma participao fundamental nesta pesquisa. Os conselhos e incentivos do Fbio muito contribuiram

    para o resultado final desta dissertao.

    Aos que contribuiram imensamente para a anlise e coleta de dados: Marcelle, Juliana Brito, Juliana Parise, Bernhard

    e Guilherme; e Rosa, que foi extremamente gentil ao revisar a formatao final das referncias.

    Aos professores do Norie que foram fundamentais na minha formao, e a outros professores, como Profa. Nirce, por

    seu constante incentivo, Prof. Aguinaldo e Profa. Mrcia que muito contribuiram no desenvolvimento deste estudo.

    minha famlia e amigos pelo imenso suporte, e por acreditarem tanto em mim, o que me faz seguir sempre adiante

    na conquista dos meus objetivos.

    E finalmente, todos aqueles que por esquecimento no foram aqui mencionados mas sabem que contribuiram de

    alguma forma para a concluso deste estudo.

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    Viva! Bom mesmo ir a luta com determinao, abraar a vida e viver com paixo, perder com classe e vencercom ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida muito para ser insignificante"

    Charles Chaplin

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    RESUMO

    TILLMANN, Patrcia Andr.Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo

    Habitacional para Baixa Renda.2008. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) - Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.

    O termo customizao em massa se refere habilidade de fornecer produtos diferenciados aos consumidoressem que haja um aumento significativo de custos e tempo de entrega. Esta estratgia vem sendo adotada comsucesso por um crescente nmero de empresas do setor de manufatura, entretanto, o mesmo no se observa nocontexto de produo habitacional. No Brasil, as empresas de construo civil engajadas na produo dehabitaes por intermdio de programas governamentais vm sendo criticadas pela falta de eficincia em lidarcom a diversidade de necessidades e desejos dos clientes finais. A oferta de flexibilidade nesses programastende a ser muito limitada, devido, principalmente, adoo de um paradigma de produo em massa nodesenvolvimento desses empreendimentos. Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho foi propor diretrizes

    para a adoo da estratgia de customizao em massa na realizao de empreendimentos habitacionais para abaixa renda no Brasil. Foram realizados dois estudos de caso em diferentes programas habitacionais, essesestudos foram desenvolvidos em trs etapas. Na Etapa A buscou-se compreender o processo dedesenvolvimento de produtos e identificar oportunidades para a adoo da customizao em massa. Foramrealizadas entrevistas com os agentes que participam do processo e analisados dados de fontes secundrias,previamente coletados por outros pesquisadores. A Etapa B teve como objetivo identificar os requisitos decustomizao. Para isto, foram analisados dados de fontes secundrias sobre o perfil dos clientes e avaliaesps-ocupao. Esses dados foram complementados com uma coleta sobre as adaptaes realizadas realizadaspelos clientes durante o uso do imvel. Por fim, a Etapa C caracterizou-se por uma reestruturao do PDP daempresa que participou desta pesquisa, na qual foram testadas as proposies sobre as oportunidades deadoo da customizao em massa. As principais contribuies do presente trabalho dizem respeito no s auma melhor compreenso da diversidade de requisitos do pblico-alvo desses programas, mas tambm

    identificao de possibilidades de adoo da estratgia de customizao em massa na realizao deempreendimentos habitacionais para a baixa renda promovidos no mbito de programas habitacionaisBrasileiros.

    Palavras-chave

    Palavras-chave: customizao em massa, processo de desenvolvimento de produtos, habitao de baixa renda

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    ABSTRACT

    TILLMANN, Patrcia Andr.Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo

    Habitacional para Baixa Renda.2008. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) - Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.

    Guidelines for adopting mass customization in low-income house building

    Mass customisation stands for the ability to develop high value-added products within short time frames and atrelatively low costs. This strategy is well known in manufacturing, where it has been widely used for competitiveadvantage. By contrast, the housing building industry in Brazil has been criticized for the lack of effectiveness indealing with the diversity of customer needs. In low-income housing, for instance, product flexibility tends to bevery limited, due to the fact that most housing programs adopt mass production core ideas in their conception. Inthis way, the main objective of this research was to propose guidelines for adopting a mass customization

    strategy in the provision of low-income housing in Brazil. Two case studies were carried out in differentgovernment housing programs. Both studies were divided into three phases. The first phase involvedunderstanding the product development process and analysing opportunities to adopt a MC strategy. It wasbased on a set of interviews with product development participants and on the analysis of documents andsecondary data previously collected by other researchers. The second phase consisted of mapping customizationrequirements, which was possible by analysing previously collected data regarding costumers profile andsatisfaction. Also, data was collected to identify modifications made by users in their dwellings after occupation.Finally, in the third phase some propositions concerning the opportunities to adopt MC were tested. Somechanges were implemented in the product development process of a house building company. Based on the mainfindings, guidelines for introducing a mass customisation in low cost housing are proposed. The maincontributions of this research work are concerned with understanding the diversity of costumers requirements inlow cost housing programs, and the identification of possibilities to adopt a mass customization strategy in the

    development of those programs in Brazil.

    Keywords

    Keywords: mass customization, product development process, low-income housing

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    SUMRIO

    1 INTRODUO..........................................................................................................18

    1.1 CONTEXTO DA PESQUISA.............................................................................181.2 PROBLEMA DE PESQUISA.............................................................................22

    1.3 QUESTES DE PESQUISA .............................................................................23

    1.4 OBJETIVO DA PESQUISA ...............................................................................23

    1.5 DELIMITAES DA PESQUISA ......................................................................24

    1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO..........................................................................24

    2

    A GERAO DE VALOR PARA O CLIENTE.........................................................26

    2.1 OS CONCEITOS DE VALOR E CUSTOMIZAO .......................................... 26

    2.2 REQUISITOS DO CONSUMIDOR....................................................................27

    2.2.1 Necessidades e expectativas dos consumidores....................................................27

    2.2.2 Satisfao e adaptao dos produtos pelos consumidores....................................28

    2.3 A GERAO DE VALOR NA HABITAO......................................................31

    2.4 A GERAO DE VALOR E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE

    PRODUTOS..................................................................................................................34

    2.4.1 Descrio do Processo de Desenvolvimento de Produtos .....................................34

    2.4.2 Consideraes sobre o PDP no processo de proviso habitacional.......................36

    3 CUSTOMIZAO EM MASSA ................................................................................38

    3.1 A MUDANA NO PARADIGMA DE PRODUO............................................38

    3.2 PRINCPIOS DA CM E IMPLICAES PARA O PDP.....................................40

    3.2.1 O projeto do produto................................................................................................40

    3.2.2 O planejamento da produo ..................................................................................43

    3.2.3 O planejamento da cadeia de suprimentos.............................................................43

    3.2.4 Integrao entre projeto, produo e cadeia de suprimentos.................................45

    3.3 ABORDAGENS PRTICAS DA CM..................................................................45

    3.3.1 Customizao durante a etapa de uso....................................................................46

    3.3.2 Customizao no ponto de entrega do produto ......................................................46

    3.3.3 Customizao durante a produo e montagem do produto ..................................47

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    3.3.4 Customizao durante o projeto e concepo do produto......................................47

    3.4 A CM NA PRODUO HABITACIONAL ..........................................................48

    3.4.1 A experincia japonesa ...........................................................................................48

    3.4.2 A experincia dos Estados Unidos..........................................................................50

    3.4.3 A experincia britnica ............................................................................................50

    3.4.4 Prticas de customizao no Brasil.........................................................................51

    4 MTODOS DE PESQUISA ......................................................................................54

    4.1 CONSIDERAES SOBRE A FILOSOFIA DE PESQUISA.............................54

    4.2 A ESTRATGIA DE PESQUISA.......................................................................54

    4.3 DELINEAMENTO DO PROCESSO DE PESQUISA.........................................56

    4.4 ETAPA A: ANLISE DO PDP ...........................................................................59

    4.5 ETAPA B: ANLISE DA DEMANDA.................................................................62

    4.6 ETAPA C: REESTRUTURAO DO PDP .......................................................68

    4.7 DESCRIO DA EMPRESA CONSTRUTORA ENVOLVIDA E

    EMPREENDIMENTOS ANALISADOS.........................................................................70

    4.7.1 Empresa e empreendimentos analisados no estudo de caso 1..............................70

    4.7.2 Empreendimentos analisados no Estudo de caso 02 .............................................74

    5 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ....................................................................77

    5.1 ESTUDO DE CASO 01: ....................................................................................77

    5.1.1 Programa Carta de Crdito Associativo ..................................................................77

    5.1.2 Contexto da empresa estudada...............................................................................78

    5.1.3 O Processo de desenvolvimento de produtos na empresa A .................................78

    5.1.3.1 Etapa de planejamento estratgico......................................................................................79

    5.1.3.2 Etapa de negociao do terreno ................................................................ .......................... 80

    5.1.3.3 Concepo do Produto.........................................................................................................80

    5.1.3.4 Projeto do Empreendimento......................................................... ........................................ 81

    5.1.3.5 Lanamento do Produto e acompanhamento da comercializao.......................................82

    5.1.3.6 Preparao e Acompanhamento da Produo.....................................................................83

    5.1.3.7 Acompanhamento do Produto durante o Uso ..................................................................... . 85

    5.1.3.8

    Consideraes sobre o processo de customizao do produto...........................................86

    5.1.4 O pblico-alvo da empresa A e seus requisitos ......................................................87

    5.1.4.1 Perfil do pblico-alvo ....................................................... ..................................................... 87

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    5.1.4.2 Percepo dos moradores com relao unidade habitacional .......................................... 91

    5.1.4.3 Alteraes no projeto das unidades habitacionais ............................................................. .. 95

    5.1.4.4 Alteraes durante o uso do produto....................................................................................97

    5.1.5 Mudanas realizadas no PDP da empresa .......................................................... 1025.1.5.1 Fase preparatria ............................................................ ................................................... 102

    5.1.5.2 Definio de novas opes para o produto ................................................................ ........ 104

    5.1.5.3 Mudanas no projeto da unidade habitacional ............................................................... .... 104

    5.1.5.4 Mudanas no projeto do sistema de produo...................................................................106

    5.1.5.5 Mudanas na cadeia de fornecedores.................................................... ............................ 108

    5.1.5.6 Mudanas na gesto do fluxo de informaes ........................................................... ........ 110

    5.2 DISCUSSO DO ESTUDO DE CASO 01.......................................................112

    5.3 ESTUDO DE CASO 02 ...................................................................................118

    5.3.1 O Programa de Arrendamento Residencial.......................................................... 118

    5.3.2 O Processo de desenvolvimento de produtos no PAR ........................................ 120

    5.3.2.1 Planejamento estratgico do produto.................................................................................120

    5.3.2.2 Negociao do terreno ............................................................... ........................................ 120

    5.3.2.3 Concepo e Projeto ........................................................ .................................................. 121

    5.3.3 O pblico-alvo do PAR e seus requisitos ............................................................. 125

    5.3.3.2 Percepo dos moradores com relao s unidades habitacionais............. ...................... 128

    5.4 DISCUSSO ESTUDO 02 ..............................................................................134

    5.5 PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA A ADOO DA CUSTOMIZAO EM

    MASSA ....................................................................................................................... 139

    5.5.1 Focar a estratgia do produto na oferta de customizao para os clientes......... 139

    5.5.2 Considerar um terreno e tipologia arquitetnica que permita a interveno no

    espao da unidade habitacional ....................................................................................... 1405.5.3 Conceber o produto com base em requisitos capturados, retro-alimentando esta

    etapa a cada ciclo de desenvolvimento............................................................................ 140

    5.5.4 Modularizar as solues criando uma plataforma de produtos............................ 141

    5.5.5 Envolver os clientes no processo de desenvolvimento do produto...................... 142

    5.5.6 Planejar a abordagem de customizao do produto............................................ 142

    5.5.7 Planejar o processo de produo levando em considerao a sua interface com o

    processo de customizao do produto ............................................................................. 143

    5.5.8 Envolver a cadeia de suprimentos na customizao dos produtos ..................... 144

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    5.5.9 Monitorar o produto captando novos requisitos para retro-alimentar o processo 144

    6 CONCLUSES E RECOMENDAES ................................................................145

    6.1 CONCLUSES ...............................................................................................145

    6.2 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS...................................148

    REFERNCIAS..............................................................................................................150

    APNDICES...................................................................................................................159

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: A formao da satisfao. ........................................................ .............................................................. 28

    Figura 2: Diagrama de Kano de satisfao dos clientes........................................................................................29

    Figura 3: Fatores socio-culturais, fsicos ou espaciais e pcicolgicos que compoem um contexto.......................30

    Figura 4: Modelo do processo de descarte de produtos..................... ................................................................... 31

    Figura 5: Modelo de relao expresses culturais x requisitos da habitao........................................................ 33

    Figura 6: Modelo de gerao de valor ................................................................. .................................................. 34

    Figura 7: Modelo genrico do Processo de Desenvolvimento de Produtos........................................................... 35

    Figura 8: Modelo do Processo de Desenvolvimento de Produtos na construo habitacional..............................36

    Figura 9: Macroprocesso de proviso habitacional no Brasil.................................................................................37

    Figura 10: Os trs fatores chaves da customizao em massa ..................................................................... ....... 40

    Figura 11: Tipos de modularidade ......................................................... ................................................................ 41

    Figura 12: Configuraes da cadeia de suprimentos e decoupling point...............................................................44

    Figura 13: Abordagens da CM.................................................................. ............................................................. 45

    Figura 14: Abordagens prticas da CM e conceitos relacionados................................................................ ......... 48

    Figura 15: Processo de instalao das casas Misawa ............................................................ .............................. 49

    Figura 16: Exemplos de residncias customizadas em massa pela Sanyo Homes .............................................. 49

    Figura 17: Transformao dos processos de construo habitacional.................................................................. 51

    Figura 18: Delineamento do processo de pesquisa...............................................................................................57

    Figura 19: Principais caractersticas dos programas habitacionais estudados...................................................... 58

    Figura 20: Fontes de evidncia para a anlise do PDP nos diferentes contextos.................................................62

    Figura 21: Ferramentas de coleta utilizadas pela empresa durante o PDP........................................................... 63

    Figura 22: Amostra de dados coletados pela empresa por cada ferramenta. ....................................................... 63

    Figura 23: Estrutura conceitual para a elaborao do questionrio.................................................... ................... 64

    Figura 24: Amostra da coleta de dados dos empreendimentos PAR .................................................................... 65

    Figura 25: Variveis categricas e quantitativas analisadas nos estudos de caso................................................ 66

    Figura 26: Clusters hierrquicos ................................................................. ........................................................... 67

    Figura 27: Diagramas de Box-plot ........................................................ ................................................................. 67

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    Figura 28: Linha do tempo do processo de implementao de mudanas no PDP .............................................. 70

    Figura 29: Empreendimentos estudados no estudo de caso 01........... ................................................................. 71

    Figura 30: Implantao empreendimento SL......................................................................................................71

    Figura 31: Planta baixa UH de dois e tres dormitrios empreendimento SL ...................................................... 71

    Figura 32: Implantao empreendimento SC ........................................................................ ............................. 72

    Figura 33: Planta baixa UH (2 dormitrios) empreendimento SC.......................................... ............................. 72

    Figura 34: Implantao empreendimento SJ......................................................................................................73

    Figura 35: Planta baixa UH de dois e tres dormitrios empreendimento SJ.......................................................73

    Figura 36: Implantao empreendimento SA......................................................................................................73

    Figura 37: Planta baixa UH empreendimento SA ................................................................. .............................. 74

    Figura 38: Empreendimentos analisados no EC01................................................................................................74

    Figura 39: Implantao Empreendimento OR (semelhante ao RD).................................................................... 75

    Figura 40: Planta baixa UH (2 dormitrios) e imagem empreendimentos OR e DR..............................................75

    Figura 41: Planta baixa UH (2 dormitrios) e imagem do empreendimento MR....................................................75

    Figura 42: Implantao empreendimento SR .......................................................... .............................................. 76

    Figura 43: Planta baixa UH (2 dormitrios) e imagem do empreendimento MR....................................................76

    Figura 44: Mapa do processo de desenvolvimento de produtos na empresa A .................................................... 78

    Figura 45: Atividades da etapa de negociao do terreno............................................ ......................................... 80

    Figura 46: Atividades da etapa de concepo do produto.....................................................................................81

    Figura 47: Atividades da etapa de projeto do produto .............................................................. ............................. 82

    Fgura 48: Atividades da etapa de lanamento do produto e acompanhamento da comercializao .................... 83

    Figura 49: Distribuio dos blocos para a produo nos empreendimentos analisados ....................................... 84

    Figura 50: Atividades da etapa de preparao e suporte da produo ................................................................. 85

    Figura 51: Porcentagem de unidades alteradas em cada empreendimento..........................................................86

    Figura 52: Alteraes previstas x no previstas .......................................................... .......................................... 86

    Figura 53: Nmero de moradores por UH em cada empreendimento ......................................................... .......... 88

    Figura 54: Nmero de moradores por UH versus nmero de dormitrios ............................................................. 88

    Figura 55: Agrupamentos Familiares encontrados em cada empreendimento...................................................... 89

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    Figura 56: Box plotda faixa etria dos chefes de famlia nos trs empreendimentos...........................................89

    Figura 57: Box plotda renda das famlias nos trs empreendimentos..................................................................90

    Figura 58: Escolaridade dos chefes de famlia nos empreendimentos analisados................................................90

    Figura 59: Segmentos demogrficos predominantes pblico-alvo SL e SC.......................................................91

    Figura 60: Segmentos demogrficos predominantes pblico-alvo diferenciado (SJ) ......................................... 91

    Figura 61: Motivos de desistncia da compra para cada empreendimento................................... ........................ 92

    Figura 62: Satisfao geral com o empreendimento ................................................................. ............................ 93

    Figura 63: Satisfao com os espaos da UH empreendimentos SL e SC........................................................ 93

    Figura 64: Satisfao com demais aspectos da UH empreendimentos SL e SC ............................................... 94

    Figura 65: Solicitaes de alterao do projeto da UH em cada empreendimeto ................................................. 95

    Figura 66: Aalteraes realizadas e pretendidas durante o uso da UH................................................................. 97

    Figura 67: Tipo de ampliao realizada nas unidades de dois dormitrios ........................................................... 97

    Figura 68: Tipo de ampliao mais comum realizada nas unidades de trs dormitrios....................................... 98

    Figura 69: Outros tipos de ampliao adio de um ambiente e reforma interna...............................................98

    Figura 70: Outros tipos de ampliao adio de dois ambientes e reforma interna ........................................... 98

    Figura 71: Motivos pelos quais os moradores interviram na UH ................................................................. .......... 99

    Figura 72: Exemplos de uso dos espaos ampliados........................... ................................................................. 99

    Figura 73: Exemplos de alterao dos acabamentos............................................................ .............................. 100

    Figura 74: Empeclhos para a realizao das alteraes desejadas............................................................... .... 100

    Figura 75: Relao permanncia no imvel e crescimento familiar......................................... ............................ 101

    Figura 76: Sugestes de melhorias na UH ...................................................... .................................................... 102

    Figura 77: Combinao de tticas para a customizao .......................................................... ........................... 103

    Figura 78: Mudanas introduzidas no projeto da UH............................. .............................................................. 105

    Figura 79: Diagrama de precedncia e os marcos do processo de customizao..............................................107

    Figura 80: Detalhe do primeiro marco do processo de customizao................................................................. 107

    Figura 81: Nveis de customizao e datas aproximadas previstas ......................................................... ........... 108

    Figura 82: Novas opes de materiais de acabamento...................................... ................................................. 109

    Figura 83: Fluxo de informaes durante o processo de customizao adotado................................................110

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    Figura 84: Instrumento informativo para auxiliar a interface com os clientes ...................................................... 111

    Figura 85: Planilha de preenchimento das solicitaes de alterao .................................................................. 112

    Figura 86: Transposio dos entraves para adoo da CM. .............................................................. ................. 117

    Figura 87 : Agentes envolvidos no PAR e suas competncias (CEF, 2008b) ..................................................... 118

    Figura 88: Processo de Proviso Habitacional Programa PAR............................................................. ........... 119

    Figura 89: Atividades da etapa de negociao do terreno............................................ ....................................... 121

    Figura 90: Desenvolvimento do produto genrico e especfico (LEITE, 2005)....................................................121

    Figura 91: Atividades da etapa de concepo e projeto .................................................................. .................... 122

    Figura 92: Atividades da etapa de lanamento do produto no mercado.............................................................. 123

    Figura 93: Atividades da etapa de lanamento do produto no mercado.............................................................. 124

    Figura 94: Nmero de moradores por UH em cada empreendimento.................................................................125

    Figura 95: Agrupamentos Familiares encontrados em cada empreendimento.................................................... 125

    Figura 96: Box plot da faixa etria dos chefes de famlia em cada empreendimento..........................................126

    Figura 97: Escolaridade dos chefes de famlia ............................................................... ..................................... 127

    Figura 98: Segmentos demogrficos predominantes no pblico-alvo do PAR....................................................128

    Figura 99: Satisfao dos moradores em cada empreendimento ................................................................. ...... 128

    Figura 100: Nveis de Satisfao dos moradores em relao aos espaos da UH. ............................................ 129

    Figura 101: Espao da sala, rea de servio e cozinha aps a ocupao dos moradores. ................................ 129

    Figura 102: Nveis de Satisfao dos moradores em relao s esquadrias, instalaes e acabamentos.........130

    Figura 103: Nveis de Satisfao dos moradores em relao aos acabamentos em cada empreendimento...... 130

    Figura 104: Alteraes realizadas e pretendidas pelos moradores..................................................................... 131

    Figura 105: Unidades cujos moradores no trocaram o tampo da pia. ............................................................... 132

    Figura 106: Alteraes realizadas e pretendidas no ptio do empreendimento SR ............................................ 132

    Figura 107: Soluo para a falta de lugares para armazenar coisas............ ....................................................... 133

    Figura 108: Personalizao dos revestimentos ............................................................ ....................................... 133

    Figura 109: Sntese comparativa do perfil dos clientes nos dois programas analisados. .................................... 136

    Figura 110: Sntese comparativa do grau de satisfao dos clientes nos dois programas analisados. .............. 137

    Figura 111: Sntese comparativa das modificaes realizadas e pretendidas nas unidades..............................138

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01: Sugestes de melhoria no momento da entrega ............................................................. .................... 92

    Tabela 02: ndices de insatisfao com as esquadrias e acabamentos ................................................................ 94

    Tabela 03: Sugestes de melhoria realizadas na avaliao ps-ocupao ...................................................... .... 95

    Tabela 04: Solicitaes de alterao do projeto da UH em cada empreendimento (em percentagem dasunidades) ........................................................... ................................................................ .............................. 96

    Tabela 05: importncia dos aspectos do produto na deciso da compra............................................................ 101

    Tabela 06: Nveis de satisfao por espaos da UH ................................................................... ........................ 131

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    LISTA DE SIGLAS

    BNH: Banco Nacional de Habitao

    CCA: Carta de Crdito Associativo

    CEF: Caixa Econmica Federal

    CM: Customizao em Massa

    COHAB: Companhia de Habitao

    DFMC: Design for Mass Customization

    IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    MHRA: Manufactured Housing Research Alliance

    NORIE: Ncleo Orientado para a Inovao da Edificao

    PAR: Programa de Arrendamento Residencial

    PATH: Partnership for Advancing Technology in Housing

    PDP: Processo de Desenvolvimento do Produto

    PPM: Poder Pblico Municipal

    QUALIHIS: Sistema de indicadores de qualidade e procedimentos para retroalimentao na habitao deinteresse social

    REQUALI: Gesto de Requisitos e Melhoria da Qualidade na Habitao de Interesse Social

    SGP: Sistema de Gesto de Projetos

    SGQ: Sistema de Gesto da Qualidade

    SPATIA: Simulao da Produo no Apoio Tomada de Deciso na Indstria da Construo

    SPSS: Statistical Package for the Social Sciences

    UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UH: Unidade Habitacional

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    1 INTRODUO

    Este captulo introdutrio busca situar o leitor atravs da apresentao, primeiramente, do contexto no qual se

    insere a presente pesquisa e da elucidao do problema de pesquisa que justifica o seu desenvolvimento. Em

    seguida, so apresentadas as questes de pesquisa, os objetivos, e as delimitaes. Por fim, apresenta-se uma

    breve descrio de como o presente trabalho est estruturado.

    1.1 CONTEXTO DA PESQUISA

    Uma retrospectiva dos modos de proviso1habitacional no Brasil indica que, desde o incio do sculo passado, o

    Estado vem tentando facilitar, atravs de diferentes iniciativas, o acesso moradia populao de baixa renda 2

    (FARAH, 1998). Essas estratgias, segundo a mesma autora, comearam com aes descentralizadas dos anos

    30 e 40, chegando a um centralismo e massificao da produo do nos anos 60 e 70. Esta autora explica,

    ainda, que foi nesse perodo de uma poltica habitacional centralizada que ocorreu, inclusive, a criao do Banco

    Nacional da Habitao (BNH), em 1964.

    Adotando uma estratgia de produo em massa, buscava-se atender, atravs dessas iniciativas, no s as

    necessidades crescentes de habitaes, mas tambm viabilizar a criao de empregos e a expanso do

    subsetor edificaes no pas (FARAH, 1998). Em decorrncia disso, segundo Galfetti (1997), a habitao provida

    pelo governo no Brasil caracterizava-se, e, at hoje se caracteriza por uma produo de habitaes

    esteriotpicas, destinadas a uma famlia padro, e que negligencia a pluralidade e o dinamismo da sociedade.

    A partir dos anos 90 passou-se a discutir com mais nfase a questo da sustentabilidade nas polticas pblicas

    do Pas. A Agenda 21 Brasileira, formulada a partir de tais discusses, trazia pela primeira vez a importncia dese atender s diversidades culturais, econmicas e sociais da populao alvo dessas polticas habitacionais

    (NOVAES et al., 2000). Apesar da emergente conscientizao sobre a diversidade de demanda habitacional

    brasileira, o mesmo no pode ser observado na prtica. Um estudo emprico realizado por Leite (2005) mostrou

    que em um dos programas habitacionais mais importantes do governo nos ltimos anos, o Programa de

    1Modo de proviso entendido como um conjunto de aes especficas empreendidas por diversos agentes, governamentais e no governamentais, queresultam em um ou diversos tipos de unidades habitacionais (WERNA, E.; COELHO, L.O.; SIMAS, R.; KEIVANI, R.; HAMBURGUER, D.; ALMEIDA, M. A.Pluralismo na Habitao. So Paulo: Annablume, 2001. 300p.).

    2 Baixa renda considerada neste trabalho como o segmento de mercado para o qual a aquisio da moradia facilitada atravs de sistemas definanciamento que possuem taxas de juros reduzidas. Essa reduo observada, por exemplo, em programas habitacionais que utilizam o FGTS comofonte de recursos, que apresentam taxas mais baixas que as do mercado, beneficiando, assim, famlias que possuem at 10 salrios mnimos. (LIMA, H.M. R. Concepo e Implementao de Sistema de Indicadores de Desempenho em Empresas Construtoras de Empreendimentos Habitacionaisde Baixa Renda. 2005. 171 f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PortoAlegre, 2005.

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    Arrendamento Residencial, a lgica predominante de produo ainda a mesma do perodo de massificao

    dos anos 60 e 70. Essa mesma autora constata que o principal objetivo de quem produz esses

    empreendimentos a reduo de custos de produo, desconsiderando-se a diversidade da populao que

    viver nesses espaos.

    A necessidade de produzir habitaes mais flexveis uma preocupao crescente. Um estudo da Fundao

    Joo Pinheiro (2004) caracteriza a demanda habitacional como diversa no s entre os setores sociais, mas que

    tambm variam e se transformam com a prpria dinmica da sociedade. O surgimento de novos modos de vida,

    os avanos tecnolgicos e as mudanas na organizao das famlias (decorrentes de um crescente

    individualismo, queda da fecundidade e aumento da longevidade) so fatores apontados como as principais

    causas das novas e diferentes necessidades com relao moradia (BRANDO, 2002; LAWRENCE, 2003;

    TRAMONTANO; BENEVENTE, 2004; BARLOW; VENABLES, 2004).

    No obstante, pesquisas que se dedicam aplicao de avaliaes ps-ocupao, indicam a necessidade de

    melhoria dos empreendimentos habitacionais financiados ou providos pelo estado no Brasil (SZCS, 1998a;

    1998b; REIS, 1995; 2000; LEITE, 2005; FORMOSO, 2004; 2005; FORMOSO, 2007). As referidas pesquisas

    apontam uma necessidade de melhor adequao do espao ao crescimento familiar, s atividades de trabalho e

    necessidade dos seres humanos de personalizar o espao, atingindo, conseqentemente, uma maior

    satisfao dos moradores e um maior tempo de reteno das famlias nessas residncias.

    Por outro lado, o cenrio no setor de manufatura diferente. Uma saturao do mercado nos anos 70, que

    acarretou no aumento da competitividade entre as empresas e na busca intensiva por novos mercados, resultou

    no desenvolvimento de novas estratgias voltadas para melhor atender as exigncias do mercado (PINE, 1994;

    HILL, 1992; BARLOW, 1999; WEISTEIN, 1995). A produo industrial, que antes era dirigida produo em

    massa, ou seja, uma produo de itens padronizados e em grande escala que possibilita grandes redues de

    custos, vem se modificando, dando lugar a estratgias mais direcionadas ao consumidor, nas quais o

    conhecimento do mercado fundamental para a sobrevivncia das empresas (PINE, 1994; WEISTEIN, 1995;

    ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000; LAMPEL; MINTZBERG, 1996).

    Passou a haver, em diferentes setores da indstria e servios, um reconhecimento de que os compradores

    diferem em seus desejos, poder de compra, localizaes geogrficas, atitudes e preferncias (KOTLER, 1998;

    WEINSTEIN, 1995; ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000). Segundo esses autores, em decorrncia disso,

    surgiu a estratgia de segmentao do mercado, alm de uma srie de outras estratgias e conceitos

    relacionados, como a lgica de individualizao (LAMPEL; MINTZBERG, 1996), nichos de mercado (KOTLER,

    1998), os mercados de customizao (DAVIS, 1987), o marketing individualizado (RAPP; COLLINS 3 apud

    ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000) e a competio por diferenciao (PORTER, 1980), etc. Na realidade,

    3RAPP, S.; COLLINS, T. The Great Marketing Turnaround The Age of the Individualism and How to Profit from It. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall,1990.

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    esses termos apontam uma mudana de enfoque na rea de marketing, que passa a dar maior nfase ao

    atendimento das necessidades especficas dos consumidores, ou, como tratado por autores desta referida rea ,

    na gerao de valor para os clientes (SALIBA; FISCHER, 2000; PILLER, 2003).

    Dentro dessa nova perspectiva, surgiu a customizao em massa como uma estratgia de produo adversa

    produo em massa, e que tem como foco a produo de bens diferenciados, com alto valor agregado. O termo

    customizao em massa (CM) foi cunhado por Davis (1987), que se referia a essa estratgia quando um

    grande nmero de consumidores (como nos mercados em massa) recebe um tratamento individual semelhante

    ao existente no mercado de produtos personalizados da economia pr-industrial.

    O referido termo vem sendo explorado sob diversas perspectivas, em reas como marketing, desenvolvimento

    de produtos, estratgia de negcios, tecnologia de informao, entre outras (JIAO; MA; TSENG, 2003).

    Empresas que decidem competir no mercado por preo e diferenciao, simultaneamente, tm adotado esta

    estratgia para reduzir os custos de produo e ao mesmo tempo responder rapidamente aos consumidores

    com produtos que correspondam s suas necessidades (STALK; HOUT, 1990; PAIVA; CARVALHO;

    FENSTERSEIFER,2004; PINE, 1994; KOTLER, 1998).

    Entretanto, a literatura ressalta que a CM deve ser vista como um conceito sistmico, que engloba no s o

    processo de produo das empresas, mas tambm a cadeia de valor como todo 4(PILLER, 2003; DURAY, 2002;

    PINE, 1994). Enfatiza-se, tambm, a importncia da gesto e integrao da cadeia de suprimentos5para atingir

    aos objetivos da CM (MIKKOLA; LARSEN; 2004; NAIM; BARLOW, 2003). na interseco entre o design do

    produto, a relao com fornecedores e o planejamento do sistema de produo que est a chave para o sucesso

    dessa estratgia (GURUSWAMY, 20046apud MULLENS; HOEKSTRA; NAHMENS, 2005).

    Dessa forma, o Processo de Desenvolvimento do Produto (PDP) exerce um importante papel na viabilizao

    dessa estratgia. Este processo tem por objetivo chegar s especificaes de projeto de um produto e do seu

    processo de produo para que a manufatura seja capaz de produzi-lo, incluindo a captao das necessidades

    da demanda e o monitoramento da performance do produto ao longo de seu ciclo de vida (ROZENFELD et al.,

    2006). Os conceitos de customizao e massificao devem, ento, ser estrategicamente pensados nesseprocesso para que se possa atingir os esperados objetivos da CM (DURAY, 2002).

    A CM uma estratgia que vem sendo amplamente utilizada no setor de manufatura (DURAY, 2002; WEISTEIN,

    1995). Entretanto, esforos vm sendo realizados para viabilizar a adoo dessa estratgia tambm no setor da

    4A cadeia de valor entendida por estes autores como o conjunto de atividades relacionadas que ocorrem dentro de uma determinada empresa de formaa projetar, produzir, comercializar, entregar e dar assistncia tcnica aos seus produtos (PORTER, M. Competitive advantage: creating and sustainingsuperior performance. New York, NY: The Free Press, 1985).

    5A cadeia de suprimentos entendida como um sistema composto por mltiplas empresas conectadas atravs de ligaes econmicas com o propsitode produzir um bem ou servio a um usurio final (ISATTO, E. L. Proposio de um Modelo Terico-Descritivo para a Coordenao Inter-

    Organizacional de Cadeias de Suprimentos de Empreendimentos de Construo . 2005. 284f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) Escola deEngenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005).

    6GURUSWAMY, R.. An Integrative Framework fo r Supporting Mass Customization. 2004. Dissertao (Mestrado em Engenharia Industrial) - ArizonaState University, Tempe, 2004.

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    construo civil. O Japo, pioneiro na adoo de novas filosofias de produo no setor automobilstico, destaca-

    se tambm pela fabricao de casas manufaturadas e customizadas em massa (GANN, 1996 7 apud NAIM;

    BARLOW, 2003). Nos Estados Unidos, parcerias como a Partnership for Advancing Technology in Housing

    (PATH)8 e a Manufactured Housing Research Alliance (MHRA)9, buscam aumentar o papel das casasmanufaturadas no pas, discutindo tambm a importncia de adotar conceitos da customizao em massa no

    setor (MULLENS; HOEKSTRA; NAHMENS, 2005). Alm disso, Em outros locais, como Gr-Bretanha e Mxico,

    por exemplo, onde predominam processos de produo tradicionais, diversas pesquisas vm sendo

    desenvolvidas visando adoo de novos conceitos de produo para o setor habitacional (ROY, BROWN;

    GAZE, 2003; BARLOW, 1999; BARLOW et al, 2002; NAIM; BARLOW, 2003; NOGUCHI; HERNANDEZ-

    VELASCO, 2005).

    No Brasil, no h pesquisas especficas sobre a viabilidade da aplicao da customizao em massa produode habitaes, mas existe um grande nmero de estudos que abordam temas fortemente relacionados a esta

    estratgia. Leite (2005) sugere a customizao em massa como uma possibilidade de produzir bens

    diferenciados atendendo as reais demandas da populao-alvo dos programas habitacionais voltados para a

    baixa renda. Essa necessidade de produzir habitaes que melhor atendam as necessidades dos clientes,

    evidenciada tambm em outros trabalhos, como o de Reis (1995, 1997), Ornstein (1996), Szcs (1998a,1998b) e

    Tramontano e Benevente (2004). Com relao flexibilidade e a capacidade de adaptao de projetos

    residenciais, um tema que vm sendo amplamente explorado por Brando (1997; 2002; 2006) e mais

    recentemente por Larcher (2005). H tambm estudos enfatizam a possibilidade de uma maior agregao devalor atravs da participao dos clientes nos projetos habitacionais (SHIMBO, 2004). Com relao s tcnicas e

    processos de produo, alguns estudos recentes tm abordado a utilizao de prticas mais racionalizadas na

    construo de habitaes para a baixa renda (PEREIRA, 2005) e a melhoria de processos gerenciais na

    produo desses empreendimentos (SCHRAMM, 2005).

    Dentro deste contexto, e em concordncia com as linhas de pesquisas apresentadas, se insere o presente

    estudo, que faz parte de um projeto com maior abrangncia intitulado Sistema de indicadores de qualidade e

    procedimentos para retroalimentao na habitao de interesse social (QUALIHIS)10, e que visa a contribuir

    para a melhoria da qualidade das habitaes de interesse social. A presente pesquisa tem como ponto de

    partida o trabalho realizado por Leite (2005), dando continuidade ao estudo de estratgias para gerenciar

    requisitos e melhorar a qualidade na proviso habitacional brasileira.

    7 GANN, D. Construction as a manufacturing process? Similarities and differences between industrialized housing and car production in Japan.Construction Management and Economics , London, Spon, Vol. 14, 1996. pp.437-450.

    8 Parceria pblico-privada dedicada acelerao do desenvolvimento e uso de tecnologias para melhorar a qualidade, durabilidade, eficincia energtica eviabilidade econmica dos empreendimentos habitacionais no pas. Disponvel em: http://www.pathnet.org. Acesso em: jan. 2008.

    9 Parceria entre governo, indstria e academia para o desenvolvimento de casas manufaturadas. Disponvel em: http://www.research-

    alliance.org/pages/home.htm. Acesso em: jan. 2008.10Este projeto financiado pelo Programa de Tecnologia da Habitao (Habitare) da FINEP, com recursos da Caixa Econmica Federal. Faz parte de umaRede de Pesquisa intitulada Cincia, tecnologia e inovao para a melhoria da qualidade e reduo de custos da habitao de interesse social da qualfazer parte nove instituies de pesquisa, lideradas pelo NORIE-UFRGS.

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

    A formulao do problema de pesquisa foi baseada na identificao da necessidade de desenvolver e produzir

    empreendimentos habitacionais mais flexveis no mbito dos programas Brasileiros, que sejam capazes deatender a diversidade de necessidades da populao-alvo.

    A customizao em massa uma estratgia que vem sendo amplamente utilizada no setor de manufatura como

    uma maneira eficaz de lidar com esta diversidade, e esforos vm sendo realizados em diversos pases para a

    adoo desta estratgia no setor de produo habitacional (NAIM; BARLOW, 2003;NOGUCHI; HERNANDEZ-

    VELASCO, 2005). Entretanto, no se tem conhecimento sobre a viabilidade da adoo desta estratgia no

    contexto de proviso habitacional brasileira realizada por intermdio de programas governamentais.

    Segundo Roy, Brown e Gaze (2003), em pases como Japo e Estados Unidos, onde a customizao em massaj adotada na prtica de produo habitacional, a adoo desta estratgia facilitada pela presena de

    ambientes fabris e pelo uso de tecnologias construtivas, como painis de ao e madeira, que facilitam a

    fabricao diferenciada das residncias. As atividades no canteiro de obra, dentro do referido contexto, se

    resumem a simples montagem de mdulos, assemelhando-se ao tipo de produo realizada pelo setor de

    manufatura (ROY; BROWN; GAZE, 2003). Entretanto, os mesmos autores colocam que, em outros pases, a

    produo habitacional feita atravs de um processo construtivo tradicional, realizado em seqncia, com

    intenso trabalho manual e organizado em torno de uma rede de negociaes cuja gesto focada em funes

    individuais. Os referidos autores sugerem que, nesses casos, deve haver uma transformao desses processospara que seja vivel a aplicao da customizao em massa produo de empreendimentos habitacionais.

    No Brasil, alm de serem tambm adotados processos construtivos tradicionais, o PDP na proviso habitacional

    depende da participao de uma complexa rede de agentes do setor pblico e privado que possuem interesses

    especficos, muitas vezes conflitantes (WERNA et al., 2001). Esta rede interdependente de agentes trabalha

    ainda de forma fragmentada, sendo potencialmente um entrave para a adoo de prticas mais focadas no

    atendimento das necessidades dos clientes (LEITE; MIRON; FORMOSO, 2005).

    Por outro lado, para atender as demandas de um segmento de mercado com maior poder aquisitivo, crescente

    a oferta de imveis customizados (BRANDO, 2002). Porm, segundo o mesmo autor, apesar dos esforos para

    reduzir os custos dessa personalizao atravs do uso de tecnologias construtivas mais racionalizadas, essas

    prticas apresentam inmeros problemas relacionados ao desperdcio de materiais e queda de produtividade,

    ocasionados principalmente pela falta de uma gesto eficaz dos processos de customizao.

    O aumento dos custos de produo ocasionados por esses problemas podem ser repassados para os clientes

    finais, quando se trata de um mercado com alto poder aquisitivo. Entretanto, essas prticas de customizao

    tornam-se inviveis em empreendimentos desenvolvidos no mbito dos programas habitacionais Brasileiros, nos

    quais se deve atingir um preo de venda pr-definido, dispondo-se de recursos limitados. A prtica comum no

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    mbito dos referidos programas ento atingir um elevado grau de padronizao e repetitividade, objetivando a

    maior reduo de custos possvel (LEITE, 2005).

    O cenrio brasileiro de proviso habitacional apresenta, portanto, uma srie de potenciais obstculos para a

    adoo da estratgia de customizao em massa. Entretanto, atravs do estudo dos conceitos que

    fundamentam a referida estratgia e da anlise de prticas bem sucedidas, essa pesquisa visa a dar

    contribuies tericas e prticas referentes adoo desta estratgia no contexto de proviso habitacional

    Brasileira. As contribuies prticas dizem respeito a analise da viabilidade de melhor atender as necessidades

    da populao-alvo de programas habitacionais do governo, melhorando a qualidade das residncias e a

    satisfao da populao-alvo, sem onerar em demasia os custos de produo. Por outro lado, as contribuies

    tericas dizem respeito investigao da aplicabilidade dos conceitos de gesto da produo e do

    desenvolvimento de produto para melhorar a eficcia destes processos na gerao de valor aos produtos

    desenvolvidos e produzidos dentro do contexto de proviso habitacional brasileira.

    1.3 QUESTES DE PESQUISA

    A presente pesquisa visa contribuir para a melhoria da qualidade da proviso habitacional brasileira,

    respondendo a seguinte questo principal:

    Como a estratgia de customizao em massa pode ser adotada na realizao de empreendimentos

    realizados no mbito dos programas habitacionais brasileiros voltados para baixa renda?

    A partir desta questo de pesquisa principal foram desdobradas as seguintes questes:

    Como processar e analisar as informaes sobre o pblico-alvo desses empreendimentos de baixa

    renda para apoiar a tomada de deciso com relao a customizao do produto?

    Como as empresas inseridas neste contexto de proviso habitacional podem re-estruturar seus

    processos de desenvolvimento de produto para viabilizar a adoo de princpios da customizao em

    massa?

    Quais as oportunidades e os entraves para a adoo da estratgia de customizao em massa na

    produo de empreendimentos realizados no mbito dos programas habitacionais brasileiros voltados

    para baixa renda?

    1.4 OBJETIVO DA PESQUISA

    A partir das questes de pesquisa, o objetivo principal deste estudo foi identificado:

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    Propor diretrizes para a adoo da estratgia de customizao em massa na realizao de empreendimentos

    promovidos no mbito dos programas habitacionais brasileiros voltados para baixa renda.

    1.5 DELIMITAES DA PESQUISA

    A determinao dos requisitos dos clientes foi realizada a partir de dados predominantemente provindos de

    fontes secundrias. O motivo da priorizao de dados secundrios foi principalmente a preocupao em avaliar

    a aplicabilidade da customizao em massa em um contexto real, utilizando assim dados que so coletados

    periodicamente por uma empresa construtora que participou da presente pesquisa. Por outro lado, a

    disponibilidade de dados previamente coletados por outros pesquisadores tambm foi determinante na escolha

    dos programas habitacionais investigados. Entretanto, essa deciso imps certos limites com relao ao nmero

    de empreendimentos que puderam ser analisados, pois suas bases de dados deveriam ser compatveis e

    possibilitar as anlises comparativas que se pretendia realizar. Assim, no foi possvel incluir na anlise um

    nmero maior de empreendimentos, pois haviam bases de dados diferenciadas que no puderam ser

    compatibilizadas.

    Apesar da grande influncia que os aspectos coletivos podem ter na satisfao e comportamento dos

    moradores, o foco dessa pesquisa foi o espao privado, ou seja, a unidade habitacional e seu entorno imediato

    (o terreno). O motivo dessa delimitao est no fato de que o conceito de customizao relaciona-se com o

    atendimento das necessidades especficas de cada cliente implicando na produo de bens diferenciados paraatender a diversidade de demanda. Portanto, limitou-se a analisar o espao privado, pois este representa a

    porcentagem do empreendimento na qual o cliente tem a possibilidade de intervir e adequar o espao para

    melhor atender suas necessidades. Dessa forma, no faz parte do escopo da presente pesquisa considerar os

    aspectos do empreendimento que no podem ser modificados de acordo com as necessidades de cada

    morador, excluindo-se, portanto, as reas coletivas e pblicas dos empreendimentos.

    1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

    O presente trabalho est estruturado em seis captulos. Este primeiro captulo apresentou o contexto sobre o

    qual se originaram as questes de pesquisa, identificando as principais lacunas de conhecimento que justificam

    o desenvolvimento deste estudo. Foram ento apresentados os objetivos desta pesquisa, alm das principais

    delimitaes desta investigao.

    O captulo dois aborda os principais conceitos sobre a gerao de valor para os clientes. Primeiramente, os

    conceitos de valor e sua relao com o termo customizao so apresentados. Em seguida so definidos os

    termos: requisitos dos clientes, necessidades, expectativas e satisfao. A gerao de valor para o produto

    habitao apresentado, bem como sua relao com o processo de desenvolvimento de produtos (PDP).

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    O captulo trs apresenta uma reviso bibliogrfica sobre customizao em massa. Nesse captulo,

    primeiramente apresentada a mudana no paradigma de produo, assim como os princpios que

    fundamentam a customizao em massa e as implicaes para o PDP. Em seguida so apresentadas as

    abordagens prticas desta estratgia e como a customizao no setor habitacional vem sendo realizada empases como Japo, Estados Unidos, Inglaterra e Brasil.

    O captulo quatro apresenta o mtodo de pesquisa. A estratgia de pesquisa definida, o delineamento

    apresentado e so descritas em maiores detalhes as etapas desenvolvidas em cada estudo de caso. No quinto

    captulo os principais resultados so apresentados e discutidos. Por fim, no ltimo captulo so sintetizadas as

    principais contribuies dessa pesquisa, bem como sugestes para os trabalhos futuros.

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    2 A GERAO DE VALOR PARA O CLIENTE

    Este captulo aborda os principais conceitos sobre a gerao de valor para os clientes. Primeiramente, o

    conceito de valor e a sua relao com o termo customizao so apresentados. Em seguida, apresentado o

    conceito de requisitos dos clientes, alm dos termos necessidades, expectativas, satisfao e adaptao do

    produto. Por fim, a gerao de valor com relao ao produto habitao apresentada, bem como sua relao

    com o processo de desenvolvimento de produtos (PDP).

    2.1 OS CONCEITOS DE VALOR E CUSTOMIZAO

    Segundo Koskela (2000), a gerao do valor tem sido estudada sob diversos pontos de vista, nos domnios da

    gesto da qualidade, marketing, gerenciamento de negcios, estratgia, projeto e microeconomia. Dessa forma,

    o conceito de valor pode variar de acordo com o contexto no qual esteja inserido, sendo muitas vezes

    confundido com custo e preo (MIRON, 2002).

    Para Piller (2003), o valor reflete o quanto os consumidores esto dispostos a pagar para ter suas necessidades

    atendidas. Dentro dessa lgica, quanto mais o produto atende as necessidades e desejos dos consumidores,

    mais eles estao dispostos a pagar para adquiri-lo. Saliba e Fisher (2000) definem o valor percebido pelos

    clientes como sendo a razo entre os benefcios percebidos em um produto e os sacrifcios decorrentes da

    aquisio e uso deste produto. Os mesmos autores salientam que o cliente tende a comparar o valor percebido

    entre as alternativas de produtos e, a partir dessa comparao, selecionar o produto que tem o maior valor por

    eles percebido.

    Kotler (1998) explica que esse julgamento final de valor envolve um processo de avaliao dos produtos

    alternativos. O mesmo autor coloca que esses produtos so vistos pelos clientes como um conjunto de atributos,

    com capacidades diferentes de proporcionar os benefcios anunciados e de satisfazer suas necessidades. Este

    autor coloca ainda que os consumidores diferem sobre que atributos do produto percebem como relevantes ou

    salientes.

    Essa diferena no julgamento dos atributos est relacionada com a natureza relativa do valor percebido pelos

    clientes. Para Holbrook (1999), o valor para o consumidor pode ser entendido como fruto de uma experincia de

    preferncia interativa e relativa. Segundo o mesmo autor, o valor resulta da avaliao de um objeto (um produto)

    por um sujeito (um consumidor). Essa interao gera a determinao de uma preferncia, que relativa, pois

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    depende de comparaes relevantes com outros produtos, variando de indivduo para indivduo e ainda de

    acordo com a situao.

    O termo customizao est relacionado com esta natureza relativa do valor percebido pelos clientes. O referido

    termo tem origem na palavra customization ou custom-made, cuja definio encontrada no dicionrio Collins

    Cobuild (SINCLAIR, 2006) feito sob medida, ou feito para atender os requisitos especficos de um indivduo.

    Um sinnimo comumente usado para esta palavra o termo personalizao. A customizao est fortemente

    relacionada com o processo de gerao de valor, pois considera a natureza relativa da percepo de valor pelos

    indivduos, remetendo-se ao atendimento das necessidades especficas de cada cliente (PINE, 1994; DAVIS,

    1987; PILLER, 2003).

    2.2 REQUISITOS DO CONSUMIDOR

    A gerao de valor para os clientes depende da captao e do eficaz gerenciamento de seus requisitos ao longo

    do desenvolvimento e da produo de um determinado produto (KOSKELA, 2000). Requisitos dos clientes so o

    resultado do processamento de suas necessidades captadas, ou seja, so informaes obtidas atravs da

    classificao, ordenao e agrupamento das necessidades dos clientes (ROZENFELD et al., 2006). Tais

    requisitos correspondem, assim, funes, atributos e demais caractersticas do produto ou servio requerido

    por um cliente (KAMARA et al., 2000).

    Uma forma de compreender os requisitos dos clientes atravs da compreenso de seu comportamento, ou

    seja, como eles selecionam, compram, utilizam, e descartam os produtos, servios ou experincias para a

    satisfao de suas necessidades (KOTLER, 1998; ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000; JACOBY; BERNING;

    DIETVORST, 1977). Segundo Kotler (1998) e Jacoby, Berning e Dietvorst (1977), esse comportamento envolve

    desde o reconhecimento das necessidades, a motivao compra e a formulao de expectativas, at a

    avaliao ps-compra, gerando uma satisfao ou insatisfao com o produto e as aes que ocorrem aps a

    compra, como devolues, repetio da compra, adaptaes e modificaes do produto e seu descarte.

    Kotler (1998) coloca ainda que esse comportamento fortemente influenciado por uma srie de fatores, como

    cultura, classe social, estgio do ciclo de vida, estilo de vida, motivao, crenas, atitudes, entre outros. Por esta

    razo, cada consumidor possui requisitos distintos, reforando a ideia de Holbrook (1999), de que o julgamento

    do valor de um produto relativo e varivel.

    2.2.1 Necessidades e expectativas dos consumidores

    Necessidades so exigncias individuais ou sociais que devem ser satisfeitas por meio do consumo de bens e

    servios (SANDRONI, 1999), podendo estas ter origem fisiolgica ou pscicolgica. Porm, essas necessidadesapenas tornam-se uma motivao (ou impulso) para agir sobre elas quando surgem em um nvel suficiente de

    intensidade (KOTLER, 1998). Segundo o mesmo autor, o reconhecimento dessas necessidades e desejos que

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    motivam um indivduo a buscar um produto, avaliando as alternativas do mercado e decidindo pelo produto com

    o maior valor agregado.

    As expectativas esto relacionadas com a percepo de valor anteriormente ao ato da compra, ou seja, so

    previses futuras quanto capacidade do produto em atender necessidades, sendo essas relativas e geradas a

    partir de experincias prvias do consumidor (EVRARD, 1995). Segundo o mesmo autor essas expectativas

    fazem parte do processo de formao da satisfao do consumidor (figura 1), considerado um processo

    comparativo que inclui quatro componentes principais

    a) O desempenho, que est relacionado ao julgamento feito sobre o desempenho do produto

    ou servio;

    b) As expectativas formadas previamente compra e ao consumo do produto ou servio emquesto, e que esto relacionadas com o desempenho esperado pelo consumidor;

    c) A desconfirmao, que a comparao entre o desempenho e as expectativas, podendo

    ser positiva caso o desempenho seja superior s expectativas, neutra se houver

    igualdade, ou negativa caso o desempenho seja inferior ao padro de referncia dos

    consumidores; e

    d) A satisfao, que vai ser gerada a partir da desconfirmao atravs da avaliao global da

    experincia de consumo.

    Figura 1: A formao da satisfao (EVRARD, 1995).

    2.2.2 Satisfao e adaptao dos produtos pelos consumidores

    Kotler (1998) afirma que, durante o uso dos produtos, os consumidores no s avaliam essa experncia de

    consumo mas tambm agem sobre o produto de diversas maneiras. Dessa forma, no s a satisfao dos

    consumidores com relao aos produtos importante para a compreenso das suas necessidades, mas

    tambm as diferentes aes expressas atravs de modificaes, adaptaes, devolues, etc., dos

    consumidores durante o uso dos mesmos (KOTLER, 1998).

    Os requisitos nem sempre so verbalizados pelos clientes: existem necessidades latentes e expectativas comrelao ao produto difceis de serem captadas. Kano et al. (1984), representa graficamente esta dificuldade,

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    considerando a satisfao versus o desempenho dos produtos (figura 2). Os referidos autores apontam que a

    possibilidade de identificar as expectativas dos clientes permite a considerao prvia de aspectos do produto

    que podem gerar uma maior satisfao dos consumidores posteriormente.

    Cliente Satisfeito

    Cliente Insatisfeito

    Desempenho

    excedente

    Desempenhopobre

    Esperado

    Atrativo

    Bsico

    Figura 2: Diagrama de Kano de satisfao dos clientes (baseado em Kano et al.,1984).

    O diagrama de Kano divide os requisitos em trs categorias que afetam os consumidores de maneiras

    diferentes. Rozenfeld et al. (2006) explicam que os requisitos considerados como bsicos geralmente no soverbalizados pelos clientes, pois estes j esperam que eles estejam contemplados no produto - caso contrrio, a

    insatisfao ser gerada. Os mesmos autores afirmam que os requisitos esperados so aqueles verbalizados e

    cujo desempenho gera a satisfao dos clientes, e os requisitos que causam excitao so aqueles no

    verbalizados pois os clientes sequer os esperam, sendo os principais para a gerao de valor a esses clientes.

    Rozenfeld et al. (2006) afirmam que esses requisitos causadores de impacto nos clientes representam desejos

    ocultos, expectativas at ento no satisfeitas, novas maneiras de uso do produto, aspectos relacionados

    personalizao do produto, etc. Ou seja, so necessidades latentes que o cliente desconhece ou no sabe

    expressar o suficiente. Rocchi e Lindsay (2004) enfatizam a importncia da captao dessas necessidades

    latentes na gerao de valor para os clientes. Os referidos autores sugerem que a compreenso do contexto de

    uso dos produtos pode auxiliar no entendimento de suas necessidades latentes e na gerao de produtos com

    alto valor agregado. Ainda segundo os mesmos autores, o contexto das aes pelas quais os consumidores

    interagem com os produtos so afetados por componentes socio-culturais, fsicos e psicolgicos (figura 3), e o

    estudo dessa interao pode trazer como benefcio uma compreenso mais aprofundada do significado das

    modificaes, adaptaes e atitudes dos consumidores em relao a esses produtos e de como os mesmos

    podem melhor atender suas necessidades especficas.

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    FATORESSCIO-

    CULTURAIS

    (valores enormas)

    FATORESFSICOS

    (ordem espacial)

    FATORESPSICOLGICOS

    (indivduo)

    Figura 3: Fatores socio-culturais, fsicos ou espaciais e pcicolgicos que compoemum contexto (ROCCHI; LINDSAY, 2004).

    As aes dos clientes durante o uso do produto muitas vezes expressam suas necessidades latentes, sendo

    genericamente representadas por Jacoby, Berning e Dietvorst (1977) em um modelo do processo de descarte

    dos produtos. Este modelo, apesar de focar o processo de descarte, apresenta as principais opes que os

    consumidores tm durante o uso do produto. Segundo os referidos autores, existem trs alternativas principais,

    que podem ser desdobradas:

    a) Opo de manter o produto: quando a opo mant-lo, o consumidor pode estocar o

    produto e no us-lo, modific-lo e adapt-lo para servir a um novo propsito, ou ainda

    mant-lo em sua forma original para atender ao propsito inicial.

    b) Opo de descart-lo temporariamente: o descarte temporrio, ocorre quando o produto

    alugado ou emprestado a um terceiro.

    c) Opo de descart-lo permanentemente. o descarte permanente quando o consumidor

    decide se desfazer do produto, podendo negoci-lo, do-lo, jog-lo fora ou vend-lo

    (acrescentou-se ao modelo a opo de reciclagem que uma prtica que abrange uma

    gama cada vez maior de produtos).

    Segundo Kotler (1998), tais aes dos consumidores podem estar associadas percepo de valor dos

    mesmos: um consumidor satisfeito pode voltar a adquirir o mesmo produto, ou recomend-lo para outras

    pessoas. O mesmo autor coloca que por outro lado, um consumidor insatisfeito pode desfazer-se do produto

    rapidamente ou at mesmo tentar devolv-lo.

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    Diretrizes para a Adoo da Customizao em Massa na Construo Habitacional para Baixa Renda

    PRODUTOPRODUTO

    Mant-loMant-lo

    Descart-lopermanente-

    mente

    Descart-lopermanente-

    mente

    Descart-lotemporariam

    ente

    Descart-lotemporariam

    ente

    Guard-lo (ou estoc-lo)Guard-lo (ou estoc-lo)

    Modific-lo para atender novo propsitoModific-lo para atender novo propsito

    Us-lo para atender propsito originalUs-lo para atender propsito original

    Alug-loAlug-lo

    Emprest-loEmprest-lo

    Jog-lo foraJog-lo fora

    Do-loDo-lo

    Negoci-loNegoci-lo

    Vend-loVend-lo

    Direto outro consumidorDireto outro consumidorAtravs de um intermedirioAtravs de um intermedirio

    Para um intermedirioPara um intermedirio

    Para ser (re) vendidoPara ser (re) vendido

    Para ser usadoPara ser usado

    Recicl-loRecicl-lo

    Figura 4: Modelo do processo de descarte de produtos (baseado em Jacoby,Berning e Dietvorst, 1977).

    2.3 A GERAO DE VALOR NA HABITAO

    Lawrence (1987), ao descrever os requisitos relacionados moradia, remete-se tambm sua natureza diversa,afirmando que o projeto das habitaes, seu significado e uso esto intimamente relacionados com dimenses

    psicolgicas, scio-demogrficas e culturais de um contexto social. A sade e o bem-estar das pessoas, bem

    como suas atitudes e valores, so relativos e mutveis, fazendo com que o significado da habitao deva ser

    considerado sob uma perspectiva temporal e que varia de pessoa para pessoa, entre grupos sociais, e atravs

    das culturas (LAWRENCE 199011apud BRANDO, 2002).

    Com relao aos aspectos socio-demogrficos que influenciam as necessidades habitacionais da populao,

    observa-se que a transformao das famlias tm ocasionado uma mudana em suas necessidades com relaoao espao de morar (LEITE, 2005; TRAMONTANO; BENEVENTE, 2004). Um recente estudo do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2003) mostra que a famlia nuclear, uma vez predominante, vem

    perdendo espao para outros agrupamentos familiares, como casais sem filhos, famlias monoparentais e

    pessoas vivendo sozinhas. Essas transfomaes so explicadas por BERQU (1989)12 apud Tramontano e

    Benevente (2004) como fruto de uma combinao de fatores:

    11LAWRENCE, Roderick J. The qualitative aspects of housing a synthesis. Building Research and Practice, The Journal of CIB (CIB89-Housing), n.2,p.121-125, 1990.

    12BERQU, E. A famlia no sculo XXI: um enfoque demogrfico. In: Revista Brasileira de Estudos de Populao. n. 2. v.6. So Paulo, 1989.

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    Patrcia Andr Tillmann ([email protected]). Dissertao de Mestrado. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2008.

    [...] a queda acentuada da fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente insero da mulher no

    mercado de trabalho, a liberdade sexual, a fragilidade cada vez maior das unies, o individualismo

    acentuado, etc, so tendncias que vm atuando no sentido de alterar o tamanho, a estrutura e a

    funo da famlia.

    Tais transformaes implicam no s uma diversidade de requisitos, mas tambm na mudana desses requisitos

    ao longo do tempo, como constata Reis (1995), alm de Formoso (2007). Atravs de avaliaes ps-ocupao

    realizadas em empreendimentos habitacionais distintos, os referidos autores constatam que a capacidade de

    adaptao da moradia s alteraes no tamanho da famlia um importante requisito que influencia tanto na

    interveno dos moradores para adaptar os espaos, como na permanncia das famlias nessas moradias.

    H tambm uma preocupao com o envelhecimento da sociedade, decorrente do aumento da longevidade, que

    tem levado pesquisadores a explorarem novas solues habitacionais que possam se adaptar a essas

    mudanas e atender as necessidades especiais de seus moradores, facilitando a mobilidade e a execuo de

    atividades domsticas (BARLOW; VENABLES, 2004; SANTOS; SANTOS; RIBAS, 2005). Atualmente, tem-se

    discutido tambm o papel dos avanos tecnolgicos na assistncia dessa populao idosa (UNIVERSITY OF

    FLORIDA, 2003; AMERICAN INSTITUTE OF PHYSICS, 2007). Apesar desta viso de futuro estar um pouco

    distante da nossa realidade, os referidos estudos apontam uma tendncia de transformao da habitao para

    atender essas novas demandas que surgem na sociedade.

    Os avanos tecnolgicos, por outro lado, vem desencadeando uma srie de mudanas nos requisitos dos

    usurios das habitaes (TRAMONTANO; BENEVENTE, 2003; 2004). Para Lawrence (2003), a internet e o

    avano tecnolgico de equipamentos domsticos tm transformado a casa em um ambiente de trabalho,

    comrcio, entretenimento e educao. Segundo este mesmo autor, h uma tendncia de que essas mudanas

    se acentuem, uma vez que a tecnologia se torna cada vez mais acessvel populao. A incluso de atividades

    de trabalho na moradia no apenas decorrente das facilidades provindas dos avanos tecnolgicos, mas

    tambm de uma necessidade de reforo oramentrio atravs do trabalho feminino. Foi o que constatou Szcs

    (1998a) atravs de uma avaliao ps-ocupao em um conjunto habitacional de baixa renda localizado em

    Florianpolis/SC.

    Para Rappoport (2000), alm dessas questes demogrficas e sociais, os requisitos habitacionais tambm esto

    relacionados a um conjunto de fatores psicolgicos e sociais intrnsecos a um contexto cultural. Este mesmo

    autor coloca que a cultura influencia desde os valores dos indivduos at seus estilos de vida, que, associados

    s diversas formas de organizao social, influenciam a maneira como as habitaes so organizadas e

    utilizadas, alm de refletir nas preferncias dos consumidores na hora da escolha por uma habitao (figura 5).

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    Figura 5: Modelo de relao expresses culturais x requisitos da habitao (baseadoem Rappoport, 2000).

    De fato, a influncia dos aspectos culturais nas alteraes que os clientes realizam em suas moradias foi

    constatada por Szcs (1998a). A referida autora relaciona o motivo de alteraes, como a ampliao das

    cozinhas e o uso da sala de estar com carter social e desvinculado da vida familiar, aos aspectos culturais de

    uma populao proveniente de um meio rural, onde este mesmo padro de uso observado.

    Alm da ampliao da cozinha, a criao de novos espaos, como um abrigo para o carro, uma churrasqueira ou

    um lugar para armazenar coisas constatado por Reis (2000). O referido autor cita tambm outras motivaes

    para a interveno nos espaos, como o desejo de re-organizar os espaos da casa, de ampliar a casa como um

    todo e a identificao de novas necessidades devido a alteraes do nvel econmico e educacional.

    Relacionado com as modificaes citadas, observa-se tambm a freqente constatao da insatisfao dos

    moradores com o tamanho das unidades e de espaos especficos como a rea de servio e a cozinha (REIS,

    1995; 2000; LEITE, 2005). Ainda, em uma avaliao ps-ocupao realizada por Reis (1997), constatou-se que

    os aspectos que os moradores gostariam de poder escolher so: em primeiro lugar o tamanho e o arranjo

    espacial das peas; em segundo a qualidade dos materiais de acabamento; e em terceiro a privacidade visual

    em relao s outras habitaes (REIS, 1997).

    Ornstein (1996) enfatiza ainda os aspectos psicolgicos como geradores de requisitos diferenciados entre os

    clientes. Segundo a referida autora, a variedade observada nas formas de construo denota uma importante

    caracterstica humana que a necessidade de transmitir significados e traduzir as aspiraes de diferenciao e

    territorialidade, e at mesmo transmitir uma condio de statusem relao aos vizinhos e pessoas de fora de

    seu grupo. Este fato observado por Szcs (1998a; 1998b) e Reis (2000), que constatam a freqente

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    necessidade de modificar a fachada, buscando uma maior personalizao, alm de outras intervenes no

    espao que visam a melhorar a privacidade das habitaes e demarcar o territrio.

    2.4 A GERAO DE VALOR E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE

    PRODUTOS

    Koskela (2000) prope um modelo de gerao de valor no qual apresenta a relao cliente-fornecedor atravs

    de um ciclo de transformao dos requisitos em valor. O referido autor faz um desdobramento dessa relao,

    apresentando os princpios relacionados com a gerao de valor (figura 6): (1) captar os requisitos; (2)

    transformar os requisitos em especificaes do produto; (3) assegurar que os requisitos foram considerados em

    todas as dimenses do produto (incluindo servios agregados e entrega); (4) assegurar a capacidade do sistema

    de produo em produzir esses produtos com valor agregado; (5) assegurar por meio de medies que o valor

    para os clientes foi gerado.

    Figura 6: Modelo de gerao de valor (Koskela, 2000)

    A gerao de valor depende fortemente da eficcia do Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP), pois

    este processo engloba uma srie de atividades, desde a captao dos requisitos dos clientes, at aespecificao do produto a ser produzido, alm do monitoramento aps a sua entrega, de forma a retro-

    alimentar o processo com dados obtidos junto aos clientes (ROZENFELD, et al. 2006).

    2.4.1 Descrio do Processo de Desenvolvimento de Produtos

    O PDP definido por Ulrich e Eppinger (2000) como um conjunto de atividades que inicia com a percepo de

    uma oportunidade de mercado e tem seu trmino na produo, venda e distribuio de um produto. Para os

    referidos autores, esse conjunto de atividades envolve diversas funes da organizao, incluindo marketing,

    projeto e produo.

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    Rozenfeld et al. (2006) adotam uma definio um pouco diferente, afirmando que o objetivo do processo de

    desenvolvimento de produtos consiste em chegar a uma especificao de projeto de um produto e de seu

    processo de produo para que se consiga produzi-lo, a partir das necessidades do mercado e possibilidades

    tecnolgicas. Os referidos autores consideram tambm importante uma etapa pr-desenvolvimento, na qual sealinha o planejamento estratgico do produto com as estratgias competitivas da empresa, alm de seu

    acompanhamento aps seu desenvolvimento, o que possibilita a realizao de eventuais mudanas necessrias,

    o planejamento da descontinuidade do produto no mercado e a retro-alimentao do processo com as lies

    aprendidas ao longo do ciclo de vida do produto. Atravs da observao dos PDP adotados em empresas do

    setor de manufatura, Rozenfeld et al. (2006) propem um modelo genrico (figura 7), que pode ser adaptado

    para as caractersticas especficas de cada projeto.

    Planejamentoestratgico

    dos produtos

    Planejamentodo projeto

    ProjetoInformacional

    ProjetoConceitual

    Lanamentoproduto

    ProjetoDetalhado

    Preparaoproduo

    Descontinuarproduto