DOAR e DFC: Conflitos Conceituais - PUC-SP...mulher e mãe. À minha irmã, pela paciência e...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Rosana Buzian DOAR e DFC: Conflitos Conceituais MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS SÃO PAULO 2008

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  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PUC-SP

    Rosana Buzian

    DOAR e DFC: Conflitos Conceituais

    MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

    SÃO PAULO

    2008

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PUC-SP

    Rosana Buzian

    DOAR e DFC: Conflitos Conceituais

    MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. José Carlos Marion

    SÃO PAULO

    2008

  • ERRATA

    Página Onde se lê Leia-se

    2 (...) mobilização ema busca (...) (...) mobilização em busca (...)

    19 09/11/2007

    CPC

    Pronunciamento Técnico CPC 01

    09/11/2007

    CPC

    Pronunciamento Técnico CPC 02

    41 (...) mostra deferentes maneiras de compreendê-lo (...)

    (...) mostra diferentes maneiras de compreendê-lo (...)

  • Banca Examinadora

    ________________________________

    ________________________________

    ________________________________

  • Alegrai-vos na esperança,

    Sede pacientes na tribulação,

    Perseverai na oração.

    (Romanos 12,12)

  • Agradecimentos

    Primeiro, agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela Sua imensa misericórdia e

    bondade com que tem me agraciado em todos os dias da minha vida, principalmente, no

    período da minha dissertação.

    À minha família, pelo apoio, incentivo e paciência. Meu pai Theodoro (in

    memorian) pelo exemplo de caráter que me transmitiu no curso de sua vida ao meu

    lado; minha mãe Adélia, uma mulher que, ao mesmo tempo em que transmite força,

    garra, motivação, representa um porto seguro de paz, consolo, oração, uma grande

    mulher e mãe. À minha irmã, pela paciência e generosidade demonstradas nesse período

    de muita ansiedade e nervosismo durante a pós-graduação.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. José Carlos Marion, pois, ao possuir o dom da

    palavra, lhe é permitido conduzir todo o conhecimento regado com doses de

    simplicidade, sensibilidade, paciência e tranqüilidade, que o permitem ultrapassar a

    categoria de Professor para atingir a virtude de um Mestre, pelo qual tenho enorme

    admiração e respeito.

    À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da PUC-SP,

    nomeadamente representada pelos Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos e Profª. Drª.

    Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, pela oportunidade dada para que eu pudesse

    concluir o mestrado, além da demonstração de paciência e gentileza com as quais

    sempre fui recebida.

    Aos membros da Banca de Qualificação, Prof. Dr. Carlos Hideo Arima e Prof.

    Dr. Laércio Baptista da Silva, pelas valiosas críticas e sugestões oferecidas para o

    desenvolvimento e conclusão do meu trabalho.

    À revisora do meu trabalho, Profª. Ms. Tânia Arbolea, pelo seu profissionalismo,

    paciência no período da revisão e pela orientação e presteza que sempre foram marca

    registrada de sua pessoa.

    A um amigo, Fernando Tadeu Ohata (in memorian), o grande incentivador para

    meu ingresso no curso de mestrado, meu respeito, admiração e muitas saudades.

  • Sumário

    Introdução p. 1

    Capítulo I

    1. Contexto atual da Contabilidade p. 9

    1.1. O advento da Internacionalização das Normas Contábeis p. 9

    1.2. A importância da Harmonização das Normas Contábeis

    Internacionais

    p. 10

    1.3. Necessidade de Harmonização Internacional das Normas

    Contábeis

    p. 11

    1.4. A Contabilidade como Linguagem dos Negócios p. 12

    1.5. Características qualitativas da Informação Contábil p. 12

    1.5.1. Compreensibilidade p. 13

    1.5.2. Relevância p. 13

    1.5.3. Confiabilidade p. 14

    1.5.4. Comparabilidade p. 14

    1.6. Discussão – Padronização – Harmonização – Convergência p. 14

    1.7. Processo de Padronização p. 15

    1.8. Processo de Harmonização p. 15

    1.9. Processo de Convergência p. 16

    1.9.1. Convergência das Normas Contábeis – Contexto Mundial p. 17

    1.9.2. Convergência das Normas Contábeis – Contexto Brasileiro p. 17

  • 1.9.2.1. BCB p. 21

    1.9.2.2. CVM p. 22

    1.9.2.3. IBRACON p. 25

    1.9.2.4. BOVESPA p. 26

    1.9.2.5. CFC p. 27

    1.9.2.6. CPC p. 27

    1.10. Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações p. 32

    Capítulo II

    2. Demonstração dos Fluxos de Caixa p. 35

    2.1. Diretrizes Contábeis – Âmbito Nacional p. 35

    2.2. Diretrizes Contábeis – Âmbito Internacional p. 37

    2.3. Objetivo p. 37

    2.4. Finalidade p. 38

    2.5. Estrutura da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) p. 40

    2.6. Caixa e Equivalentes de Caixa p. 41

    2.7. Classificação dos Fluxos de Caixa p. 43

    2.8. Fluxo de Caixa por Atividades p. 44

    2.8.1. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades Operacionais p. 46

    2.8.2. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades de Investimentos p. 46

    2.8.3. Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades de Financiamentos p. 47

    2.9. Transações de Investimentos e Financiamentos sem efeito no

    Caixa

    p. 47

    2.10. Método de Elaboração do Fluxo de Caixa das Atividades

    Operacionais

    p. 48

  • 2.10.1. Método Direto p. 48

    2.10.2. Método Indireto p. 49

    2.10.2.1. Ajuste de valores indicativos do registro de fatos

    econômicos

    p. 51

    2.10.2.2. Ajuste de valores indicativos de mudança no capital de

    giro

    p. 52

    2.10.3. Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa p. 52

    2.10.4. Fluxo de Caixa Operacional x CCL p. 55

    2.10.5. EBITDA p. 56

    Capítulo III

    3. Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração das Origens

    e aplicações de Recursos: Vantagens e Desvantagens

    p. 58

    3.1. Conceito da DOAR p. 58

    3.2. Importância da DOAR p. 61

    3.3. Dificuldade da DOAR p. 64

    3.4. Comparação DOAR X DFC p. 65

    3.5. Substituição da DOAR pela DFC – Tendência Mundial p. 69

    3.6. DOAR – Vantagens e Desvantagens p. 71

    3.7. DFC – Vantagens e Desvantagens p. 73

    Considerações Finais p. 75

    Referências Bibliográficas p. 78

  • Resumo

    Com o advento da globalização da economia, a divulgação das informações contábeis

    marca importante papel no processo de comunicação entre os seus diversos usuários. O

    conjunto de normas que origina essas informações contábeis é distinto dado a diferença

    de crenças, cultura, nacionalismo entre os países. Com o propósito de minimizar as

    diferenças existentes entre as normas contábeis dos países participantes desse mercado

    globalizado, a Harmonização das Normas Contábeis representa uma tentativa de

    alinhamento das normas locais às normas contábeis de padrão internacional, cujo

    compromisso de integração entre os países envolvidos caracteriza-se como

    Convergência das Normas Contábeis. No Brasil, a principal medida adotada neste

    contexto de Convergência foi a aprovação do Anteprojeto de Reformulação da Lei das

    Sociedades por Ações que, dentre as alterações propostas e aprovadas, está a

    substituição da DOAR pela DFC, ambas de caráter financeiro, porém com finalidades

    diversas. A DOAR mostra a movimentação do Capital de Giro, enquanto a DFC

    especifica as efetivas entradas e saídas de caixa. Cada uma das duas demonstrações

    contábeis atende às necessidades de usuários distintos, conforme a sua utilidade para a

    tomada de decisão, capital de giro ou movimentação de caixa. Assim, este trabalho tem

    por objetivo ilustrar as finalidades e os pontos favoráveis e desfavoráveis de cada uma

    das demonstrações, além de esclarecer o propósito de troca da DOAR pela DFC.

    Consideramos oportuna a substituição da DOAR pela DFC dado o contexto de

    Harmonização das Normas Contábeis, além de proporcionar melhor entendimento ao

    usuário da informação contábil.

    Palavras-chaves: Convergência das Normas Contábeis, DFC, DOAR.

  • Abstract

    With the advent of globalization of the economy, the disclosure of accounting mark

    important role in the process of communication among its various users. The set of

    standards that causes such accounting information is different because the difference in

    beliefs, culture, nationalism among countries. In order to minimize the differences

    between the accounting standards of the participating countries of the global market, the

    harmonization of Accounting Standards represents an attempt to align the standards to

    local accounting standards with international standards, whose commitment to

    integration among the countries involved it is characterized as Convergence of

    Accounting Standards. In Brazil, the main measure adopted in this context of

    convergence was the adoption of Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades

    por Ações that, among the amendments proposed and approved, is replacing the DOAR

    by DFC, both financial in nature, but with different purposes. The DOAR shows the

    movement of working capital, while DFC specifies the effective cash receipt and output.

    Each of the two financial statements meet the needs of different users, depending on

    their usefulness for the decision, the capital of spin or movement of cash. Thus, this

    work aims to illustrate the purposes and points favorable and unfavorable for each of the

    demonstrations, besides clarifying the purpose of exchange of DOAR by DFC. We

    consider opportune the replacement of DOAR by DFC given the context of

    Harmonization of Accounting Standards, while providing better understanding of the

    user accounting information.

    Keywords: Convergence of Accounting Standards, DFC, DOAR.

  • 1

    Introdução

    A globalização da economia, por meio do desenvolvimento do mercado de capitais

    internacional, do crescimento dos investimentos diretos estrangeiros e da formação dos blocos

    econômicos fez surgir uma necessidade de informações para os seus usuários. Se, de um lado,

    temos aqueles usuários que necessitam de informações para a sua tomada de decisão; por

    outro, existem os usuários propensos a divulgar informações que atendam à necessidade do

    mercado; portanto, aparentemente, teríamos uma situação em plena harmonia, porém existe

    uma grande limitação que é a forma de comunicação entre as duas extremidades dessa

    relação. Cada um desses usuários, dado o ambiente globalizado no qual está inserido,

    encontra-se em países diferentes, que nem sempre apresentam semelhança de leis, de

    costumes, de cultura, mas a grande diferença em questão reside na existência de diferenças

    entre as normas contábeis dos países neste contexto de globalização que dificulta o processo

    de comunicação entre os diversos usuários da informação contábil.

    A contabilidade é considerada a linguagem dos negócios, ou seja, a forma de

    comunicação entre os diversos usuários das informações disponibilizadas e utilizadas pelo

    mercado de capitais internacional. Essa comunicação é necessária para que, inicialmente, haja

    uma leitura correta da informação contábil. Em seguida, dentre as características qualitativas

    que a informação deve apresentar, duas delas são, fundamentalmente, importantes para o

    processo de comunicação, a compreensibilidade e a relevância.

    Entende-se por compreensibilidade o fato de a informação poder ser percebida,

    entendida e utilizada pelo usuário no destino de seu objetivo. Já a relevância diz respeito ao

    aspecto apresentado pela informação fazer diferença num processo de decisão, tornando-a útil

    no momento de sua solicitação.

    Diante desse conflito de necessidade de informação contábil e da dificuldade de

    comunicação entre seus usuários, surgiu, para todos os países, um movimento voltado à

    questão das diferenças existentes entre as normas contábeis. Inicialmente, estimulou-se a

    Padronização das Normas Contábeis, mas este movimento não obteve sucesso, pois, além do

    pressuposto da imposição de uniformização das normas contábeis, havia ainda barreiras como

  • 2

    as diferenças culturais, de soberania, de nacionalismo, entre outros. Posteriormente, adotou-se

    a concepção de Harmonização das Normas Contábeis que pressupõe uma disposição das

    normas locais às normas contábeis de padrão internacional. Esse processo de alinhamento

    sugere um compromisso de integração entre os países comprometidos com a Harmonização

    das Normas Contábeis. Esse caminho a ser percorrido pelos países com o propósito de

    minimizar as diferenças entre as normas contábeis é chamado de Convergência das Normas

    Contábeis.

    No Brasil, os órgãos reguladores do mercado de capitais juntamente com a entidade da

    classe contábil iniciaram uma mobilização ema busca por alternativas que pudessem

    minimizar as diferenças entre as normas contábeis brasileiras e as normas contábeis de padrão

    internacional. Nesta última década, o Banco Central do Brasil (BCB) lançou comunicados,

    tanto para si como para as instituições financeiras, visando à Convergência das Normas

    Contábeis. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu instrução normativa,

    deliberações, ofícios-circulares no sentido de orientar as sociedades anônimas de capital

    aberto com procedimentos e recomendações na elaboração e divulgação das demonstrações

    contábeis alinhadas às normas de padrão internacional. O Conselho Federal de Contabilidade

    (CFC) também participou desta mobilização com a criação do Comitê de Pronunciamentos

    Contábeis (CPC), cujo objetivo principal reside no estudo, preparo e emissão

    pronunciamentos técnicos visando o alinhamento das normas contábeis brasileiras às normas

    de contabilidade de padrões internacionais, além de direcionar a edição das Normas

    Brasileiras de Contabilidade (NBC) nos mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados

    pelas normas internacionais. Mas a medida mais importante neste contexto de Harmonização

    das Normas Contábeis foi a elaboração do Anteprojeto de Reformulação da Lei das

    Sociedades por Ações (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976) encaminhado ao Ministério

    da Fazenda em 05/07/1999 e, posteriormente, ao Congresso Nacional na forma de Projeto de

    Lei nº 3.741, no ano de 2000. Sua aprovação se deu pela edição da Lei 11.638 de 28 de

    dezembro de 2007, que concretizou o anseio das classes contábeis brasileiras pela

    regulamentação dessas alterações.

    O Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações prevê a alteração de

    algumas disposições relacionadas à matéria contábil, dentre elas está a substituição da

    Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos

    de Caixa (DFC). As duas demonstrações têm enfoque financeiro, sendo que a primeira está

  • 3

    relacionada às movimentações do Capital Circulante Líquido (CCL), conhecido também

    como Capital de Giro e, a segunda, relaciona-se com as movimentações do Caixa e

    Equivalentes de Caixa, especificamente dinheiro.

    Embora ambas sejam visualizadas pelos usuários da informação contábil como

    demonstrações sob o ponto de vista da situação financeira da empresa, suas finalidades são

    distintas. A DOAR apresenta uma abordagem mais ampla ao focar o capital de giro, resultado

    entre o montante de bens e direitos, que pressupõe sua conversão em dinheiro, e o montante

    de obrigações, cujo compromisso assumido representará o consumo desse valor,

    respectivamente, caracterizado como Ativo Circulante e Passivo Circulante. Esses dois grupos

    pertencem ao Balanço Patrimonial, outra demonstração contábil, e seus elementos

    patrimoniais são enquadrados num período de curto prazo, ou seja, prazo de até 360 dias a

    contar da data do Balanço Patrimonial. Além de mostrar a variação do capital de giro, na

    demonstração Capital Circulante Líquido (CCL), a DOAR evidencia também a influência do

    saldo gerado pela diferença entre as fontes de recursos de longo prazo e as aplicações desses

    recursos também de longo prazo, ou seja, ela permite a visualização da estrutura e do

    funcionamento dos recursos possuídos pela empresa na gestão empresarial, sejam eles de

    curto ou longo prazo. De maneira simplificada, a DOAR apresenta as origens e aplicações de

    recursos, de curto e longo prazo, interagindo entre si numa visão ampla da engrenagem

    empresarial, demonstrando a alteração das estruturas de financiamento da empresa. Já a DFC

    centraliza-se na efetiva entrada e saída de caixa e equivalentes de caixa, cujo montante é

    representado pelo numerário à disposição da empresa, cuja característica é a imediata

    liquidez. Este foco, objeto da demonstração contábil DFC, está inserido no Ativo Circulante,

    ou seja, as informações da DFC estão contidas nas informações da DOAR, porém a diferença

    é o detalhamento apresentado na DFC das informações que, efetivamente, movimentaram o

    caixa, fato não concebido pela DOAR ao levar em conta as origens e aplicações de recursos

    que, não, necessariamente, apresentaram um efeito financeiro de caixa.

    No período em que esteve em vigor, a DOAR apresentava um alto grau de rejeição dos

    usuários da informação contábil quanto à sua finalidade de demonstração contábil sob o ponto

    de vista financeiro, pois a conotação “financeiro” está relacionada ao conceito de dinheiro e

    não ao de recursos como prevê esta demonstração. Esse fato fez com que houvesse uma

    grande necessidade de informações sobre o fluxo financeiro de caixa, sendo que as

    informações sobre o fluxo financeiro de recursos da empresa já eram apresentadas na DOAR.

  • 4

    O usuário, ao recorrer a uma demonstração contábil cuja conotação seja “financeira”, espera

    encontrar dados a respeito das operações que resultem em entradas e saídas de caixa, e não

    informações que representem origens e aplicações de recursos, nem sempre convertidos em

    caixa naquele momento. Como conseqüência disso, a característica qualitativa da informação

    “relevância” não estava sendo correspondida, ou seja, deixou de ser útil para o processo de

    decisão, portanto passou a ser descartada pelo usuário da informação contábil, pois sob o

    ponto de vista do usuário, a Contabilidade não estava disponibilizando informações contábeis

    de caráter financeiro da empresa. Neste contexto e seguindo uma tendência internacional, a

    DFC passou a ser a demonstração contábil, de caráter financeiro, que poderia atender às

    necessidades dos usuários interessados em informações contábeis sob o ponto de vista

    financeiro. Esse anseio resultou em um dos pontos de alteração prevista pelo Anteprojeto de

    Reformulação da Lei das Sociedades por Ações, sendo sugerida a substituição da DOAR pela

    DFC. Sua aprovação se deu pela edição da Lei 11.638/07, quando, finalmente, ocorreu a

    substituição.

    O formato de apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) contempla a

    divulgação dos fluxos de caixa dividida em três importantes atividades geradoras de caixa

    dentro da empresa; o fluxo de caixa gerado pelas atividades de investimentos, o fluxo de caixa

    gerado pelas atividades de financiamentos e o fluxo de caixa gerado pelas atividades

    operacionais, sendo que a montagem deste último pode ser de duas maneiras, pelo Método

    Direto e pelo Método Indireto. Pelo Método Direto, são discriminadas as entradas e saídas

    efetivas de caixa, resultantes das operações relacionadas à atividade operacional. Nele é

    apresentado o montante das receitas operacionais recebidas, das despesas operacionais pagas,

    do pagamento efetuado aos fornecedores envolvidos com a atividade operacional da empresa,

    finalizando com o saldo líquido daquele caixa. Já pelo Método Indireto, é feita uma espécie de

    conciliação, parte-se do resultado do exercício apresentado na Demonstração de Resultado do

    Exercício (DRE), cujo procedimento de apuração obedece ao Regime de Competência,

    ajustando, inicialmente, as receitas e despesas não conversíveis em caixa e, posteriormente, as

    receitas e despesas conversíveis em caixa que, pelo fato de apresentarem um prazo de

    vencimento acordado na sua contratação, aguardam pela efetiva transformação em dinheiro.

    Essa espera pode ser visualizada nos grupos do Ativo Circulante e do Passivo Circulante, que

    apresentam o montante das receitas operacionais a receber e despesas operacionais a pagar,

    respectivamente. A finalidade dessa conciliação é mostrar a conversão do resultado do

    exercício, gerado pelo regime de competência, em resultado do exercício financeiro, ou seja,

  • 5

    pelo regime de caixa. Essa conversão do resultado do exercício pelo regime de competência

    em resultado do exercício pelo regime de caixa assemelha-se à conciliação existente na

    DOAR, tanto que, em ambos, a origem do resultado é o mesmo da DFC, ou seja, o resultado

    do exercício pelo regime de competência, porém a conversão desta última será em resultado

    do exercício visualizado no capital de giro. Essa conciliação apresentada pelo Método Indireto

    traz a mesma problemática encontrada na DOAR quanto à dificuldade de entendimento do

    raciocínio da conciliação, dificultando a percepção da utilidade da informação.

    Identificação do Problema

    Com a edição da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007 que aprovou o Projeto de Lei

    nº 3.741 de 2000, formalização do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por

    Ações (Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976), a Demonstração das Origens e Aplicações

    de Recursos (DOAR), constante no art. 188 da Seção VI do Capítulo XV da Lei 6.404/76

    como demonstração financeira obrigatória de elaboração e publicação para as Sociedades

    Anônimas, exceto para as companhias fechadas com patrimônio líquido inferior a um milhão

    de reais na data do balanço, foi substituída pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC),

    sendo que o esse artigo recebeu nova redação. Justifica-se tal substituição o fato de a DFC

    atender, em maior proporção, às necessidades de informações da situação financeira da

    empresa, pois apresenta a movimentação das efetivas entradas e saídas de caixa. Com isso, o

    usuário de informações contábeis relacionadas à posição financeira da empresa tende a

    maximizar a quantidade de informações financeiras da empresa disponibilizadas por esse

    demonstrativo. Entretanto, os usuários que se utilizavam das informações disponibilizadas

    pela DOAR, ou seja, aquelas que compõem o conjunto de todas as origens e aplicações de

    recursos, tanto de curto como de longo prazo, inclusive a movimentação das entradas e saídas

    de caixa, embora de forma resumida, acabaram por perder conglomerado de informações nela

    inseridas.

    Embora tenha ocorrido a substituição da DOAR pela DFC como forma de minimizar

    as dificuldades encontradas pelos usuários no entendimento e visualização da DOAR como

    uma demonstração contábil de caráter financeiro, além de representar uma tendência

    internacional, a estrutura de apresentação do Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades

    Operacionais pelo Método Indireto mostra um conceito similar ao da DOAR quanto à

  • 6

    conversão do resultado econômico em resultado financeiro, situação passível também de gerar

    dificuldade em assimilar os respectivos conceitos.

    Objetivos

    Nesse contexto de substituição de uma demonstração contábil por outra,

    Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) e Demonstração dos Fluxos de

    Caixa (DFC), respectivamente, no qual o enfoque de ambas seja o caráter financeiro de seu

    conteúdo, daí a justificativa para a substituição, embora suas finalidades sejam distintas, este

    trabalho tem por objetivos:

    � Identificar a finalidade de cada uma das demonstrações dentro da conotação de

    caráter financeiro.

    � Justificar a substituição das demonstrações como a melhor alternativa.

    � Identificar os pontos favoráveis e desfavoráveis da DOAR.

    � Identificar os pontos favoráveis e desfavoráveis da DFC.

    Com o propósito de direcionar e centrar esses objetivos, ainda nos propomos:

    � Mostrar a conjuntura atual da Internacionalização das Normas Contábeis e;

    � Mostrar o andamento do processo de Harmonização das Normas Contábeis, desde

    a Padronização até Convergência no contexto nacional.

    Justificativas

    Com processo de globalização da economia verificado nos últimos anos, a

    Contabilidade, ciente de seu papel de linguagem dos negócios e interagindo nessa tendência

    mundial, está presente nesse acelerado processo rumo à Internacionalização das Normas

    Contábeis.

    A Informação Contábil é uma importante ferramenta para o processo de tomada de

    decisão de seus diversos usuários. Para que sua utilização seja eficiente, é necessária a

    observância das suas características qualitativas. Duas delas são de extrema importância para

    a acolhida da informação contábil pelo usuário no que se refere à questão da substituição da

  • 7

    DOAR pela DFC. A primeira delas é a característica qualitativa Compreensibilidade cuja

    função é o entendimento da transação que foi retratada pela informação contábil, e deve

    mostrar a informação em sua totalidade com a indicação de todos os aspectos contábeis

    daquela determinada operação. A outra característica qualitativa é a Relevância, cujo conceito

    está em sua utilidade no processo de decisão, ou seja, ela teria de atender às necessidades do

    usuário nesse processo.

    Tanto a DOAR como a DFC são tratadas como demonstrações de caráter financeiro,

    embora cada uma delas atinja um determinado aspecto da situação financeira da empresa.

    Enquanto a DOAR vislumbra a figura do capital de giro, espelho da posição financeira de

    curto prazo influenciada pelos recursos, originados ou aplicados, em longo prazo; a DFC

    retrata a posição financeira líquida, resultado das efetivas entradas e saídas de caixa e

    equivalentes de caixa, posição que é visualizada de maneira resumidamente genérica na

    DOAR. As informações apresentadas pela DOAR, embora com alto teor informativo das

    origens e aplicações de recursos, tanto de curto como de longo prazo, não apresentam, de

    forma detalhada e específica, informações sobre recursos financeiros disponíveis de tamanha

    importância no processo de tomada de decisão, além de sua pouca compreensibilidade por

    parte dos usuários. Com isso, a divulgação de uma demonstração que atendesse a esse tipo de

    necessidade passou a ser requerida pelos usuários da informação contábil, resultando na

    proposta da DFC, pois havia como referência a experiência internacional, onde países como

    Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul já haviam

    feito a substituição, visualizando o propósito de atender a essas necessidades de informação.

    Tendo em vista que as duas demonstrações, ainda que financeiras, abordem aspectos

    distintos, a escolha por substituir a DFC pela DOAR pode gerar uma perda de informações

    importantes com o fim da divulgação da DOAR. Embora uma das justificativas para essa

    substituição seja a dificuldade de entendimento apresentado pela DOAR, a apresentação do

    Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades Operacionais pelo Método Indireto demonstra uma

    sistemática semelhante ao conceito de conversão do resultado econômico em resultado

    financeiro presente na DOAR, que também provocava dificuldade de entendimento.

    Metodologia

    O desenvolvimento e a elaboração do trabalho estão baseados na revisão bibliográfica

    dos conceitos fundamentais da Internacionalização das Normas Contábeis onde se enquadram

  • 8

    os processos de Padronização, Harmonização e Convergência das Normas Contábeis. Segue-

    se com um ponto de vista dos acontecimentos que envolvem o Processo de Convergência das

    Normas Contábeis no Brasil, destacando as regulamentações dos órgãos envolvidos neste

    processo. Ênfase maior é atribuída às normatizações internacionais e nacionais relacionadas à

    DOAR e à DFC.

    O trabalho está dividido nos seguintes capítulos:

    • Capítulo I – Contexto Atual da Contabilidade: nesta primeira parte do

    trabalho, estudamos o advento da Internacionalização das Normas Contábeis e

    os movimentos de Padronização, Harmonização e Convergência das Normas

    Contábeis, seus impactos na Contabilidade, que visualizada como a linguagem

    dos negócios, se comunica por meio das informações contábeis que devem

    apresentar características qualitativas importantes no processo de tomada de

    decisão. Relata-se o contexto atual da Harmonização e Convergência das

    Normas Contábeis no Brasil.

    • Capítulo II – Demonstração dos Fluxos de Caixa: capítulo destinado a

    relatar os objetivos, a finalidade e a estruturação da Demonstração dos Fluxos

    de Caixa, os tipos de caixa gerados pelas principais atividades da empresa e os

    métodos de elaboração do Fluxo de Caixa gerados pelas Atividades

    Operacionais.

    • Capítulo III – Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração das

    Origens e Aplicações de Recursos: Vantagens e Desvantagens: este capítulo

    concentra-se na utilidade e caracterização da DOAR como demonstração

    contábil de caráter financeiro, comparando-a a DFC, cuja característica

    financeira é inquestionável. Abrange aspectos positivos e negativos das duas

    demonstrações.

    • Para as Considerações Finais... fica o intuito de esclarecer as finalidades da

    demonstrações estudadas, destacando as dificuldades da DOAR e as

    facilidades da DFC que, em conjunto com a tendência internacional sustentam

    ou apóiam a substituição da DOAR pela DFC prevista na aprovação do

    Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações, a Lei 6.404/76.

  • 9

    Capítulo I

    1. Contexto Atual da Contabilidade

    A Contabilidade hoje, no Brasil, passa por um momento de transição jamais visto.

    Desde a aprovação da Lei das Sociedades por Ações, a Lei 6.404, em 15 de dezembro de

    1976, em nenhum momento, esperou-se tanto por reformulação. Não por se tratar de um

    longo período que se compreende entre os anos de 1976 até o ano de 2007, mas sim, pelo que

    essa mudança representa para a Contabilidade Brasileira, seu ingresso no Contexto

    Internacional da Contabilidade.

    A aprovação do Anteprojeto da Reformulação da Lei das Sociedades por Ações

    representa um avanço frente aos acontecimentos mundiais na área contábil. A Contabilidade

    Brasileira está integrada ao Processo de Internacionalização das Normas Contábeis, engajada,

    do ponto de vista legal, no Movimento de Convergência das Normas Contábeis rumo à

    Harmonização das Normas Contábeis.

    1.1. O advento da Internacionalização das Normas Contábeis

    Nesses últimos anos, o grande impulso para o processo de fixação de normas contábeis

    no âmbito internacional foi a Globalização da Economia. Segundo Leite (2002, p. 52), essa

    internacionalização dos mercados decorre de três acontecimentos que modificaram o cenário

    econômico mundial:

    � Desenvolvimento do mercado de capitais internacional

    � Crescimento dos investimentos diretos estrangeiros

    � Formação de blocos econômicos

    O crescimento acelerado verificado no mercado de capitais foi um dos responsáveis

    pelo grande impulso da internacionalização da contabilidade. Para os diversos participantes

    do mercado de capitais, os investidores, os analistas e outros usuários, a Contabilidade

    representa uma das principais ferramentas no processo de decisão, pois se trata de uma fonte

  • 10

    primordial de informações capaz de atender às suas necessidades informacionais, no decorrer

    desse processo.

    Outro fator propulsor da internacionalização da contabilidade é o aumento

    significativo das fusões e aquisições de empresas no mundo. Nesse contexto, é imprescindível

    a existência de uma linguagem universal para que haja a comunicação entre os interessados,

    pois essas operações de negócios acontecem com companhias localizadas em países distintos.

    As fusões e aquisições ocorrem entre empresas que podem estar localizadas no mesmo

    território e com a mesma origem de nacionalidade; entre empresas que estão localizadas no

    mesmo território, porém os países de origem são diferentes e; ainda, empresas estrangeiras

    interessadas em empresas nacionais com o propósito de ampliar os negócios, além adentrar

    em novos mercados.

    A Contabilidade é considerada a linguagem universal dos negócios e, para isso, existe

    a necessidade de haver uma linguagem padronizada, facilitando a comunicação entre os

    diversos usuários da informação contábil que estão espalhados pelo mundo inteiro.

    Como conseqüência da internacionalização da economia, os blocos econômicos que

    passaram a ser formados, pela própria característica, apresentam como exigência uma abertura

    da economia seguida da prática de livre comércio entre os países que os compõem. Como

    pressuposto da integração entre esses países, a arte de bem informar os usuários nacionais e

    internacionais da informação contábil é fundamental. Complementando essa idéia, Rosa

    (1999) justifica quão importante é a informação para a gestão dos negócios nesse processo de

    transformação pela qual o mundo está passando.

    1.2. Importância da Harmonização das Normas Contábeis Internacionais

    A divulgação das informações contábeis de uma entidade que atua tanto no mercado

    nacional como no mercado internacional atinge interesses de usuários que se encontram no

    país-matriz ou no país-filial da companhia, usuários do mesmo ramo empresarial e de outros

    ramos empresariais. Os usuários localizados no país-matriz ou no país-filial da companhia

    estão interessados nas informações sobre a evolução do patrimônio da empresa, sobre os

    resultados obtidos naquele período, sobre a situação financeira, ou seja, o interesse é sobre o

    desempenho da companhia; já os usuários do mesmo ramo em que a empresa opera estão

  • 11

    interessados no confronto e comparação de informações daquele ramo empresarial, qual o

    comportamento verificado entre as empresas, qual a expectativa para os próximos anos,

    enfim, o propósito seria a análise dos concorrentes entre si e os usuários de outros ramos

    empresariais estão interessados em informações necessárias para a montagem de projeções do

    mercado, para a formulação de índices econômico-financeiros.

    Leite (2002) comenta que o entendimento das dimensões internacionais da

    contabilidade, por meio dos reportes das informações contábeis aos diversos usuários

    internacionais, controladores e investidores, é vital para qualquer usuário ambicioso a

    negociar por fronteiras nacionais e internacionais, porque as informações contábeis tendem a

    variar, de forma substancial, de um país para outro, conforme os princípios contábeis que os

    governem.

    Dada a localização pulverizada de cada um desses usuários, existe a necessidade de

    um conjunto de normas contábeis padronizadas no âmbito internacional, para que possa

    viabilizar o processo de comparação das inúmeras informações contábeis disponíveis,

    atingindo, assim, o propósito de atender de maneira favorável às necessidades que surgem no

    transcorrer do processo de tomada de decisão.

    Essa variação de informações contábeis de um país para outro, conforme Rosa (1999)

    representa um dos complicadores atuais para os investidores, dada a ausência de um conjunto

    harmonizado de informações.

    1.3. Necessidade de Harmonização Internacional das Normas Contábeis

    Iudícibus (2004, p. 22) comenta ao mencionar o relatório do Grupo de Estudos sobre

    os Objetivos dos Demonstrativos Financeiros denominado – Objetivos dos demonstrativos

    Financeiro - publicado pelo American Institute of Certified Public Accountants (AICPA): “A

    função fundamental da Contabilidade [...] tem permanecido inalterada desde seus primórdios.

    Sua finalidade é prover os usuários dos demonstrativos financeiros com informações que os

    ajudarão a tomar decisões”.

    O usuário da informação contábil deseja informações que auxiliem e direcionem seu

    processo de tomada de decisão. Atualmente, ele tem acesso às informações que são

  • 12

    disponibilizadas no mundo inteiro mesmo ele estando no seu país de origem. O processo de

    globalização, seja ele pelo desenvolvimento do mercado de capitais internacional, pelo

    crescimento dos investimentos diretos estrangeiros ou pela formação de blocos econômicos

    passa a exigir uma linguagem única das demonstrações contábeis para que os dados extraídos

    atinjam o objetivo de bem informar tanto os usuários nacionais como internacionais.

    1.4. A Contabilidade como Linguagem dos Negócios

    Leite e Benedicto (2004, p. 3) estabelecem uma relação entre a Contabilidade e seus

    usuários:

    A contabilidade pode ser vista como a linguagem financeira universal

    no mundo dos negócios e a harmonização de suas normas é um

    processo de extrema necessidade e relevância para as empresas que

    operam em diversos países e que precisam reportar informações às

    suas controladoras ou aos seus usuários internacionais.

    Segundo Haussmann et al (2003), no contexto da harmonia internacional da

    metodologia contábil, a Contabilidade tem como essência o enfoque informativo, ou seja, a

    comunicação é seu objetivo maior. Lima (2001, p. 24) explica que

    Comunicação tem a sua origem etimológica no substantivo latino

    communicationem (século XV), que significa “a ação de tornar comum”. Sua raiz é

    o adjetivo communis, comum, que significa “pertence a todos ou a muitos”. E o

    verbo é comunicare, comunicar, que significa “tornar comum, fazer saber”.

    Portanto, podemos concluir que o processo de comunicação, num contexto de

    negócios, acontece pela linguagem contábil, ou seja, segundo Carvalho (1999, p. 12), “a

    Contabilidade é a linguagem universal dos negócios”.

    1.5. Características Qualitativas da Informação Contábil

    O surgimento da necessidade por uma informação nasce da sua utilidade no processo

    de tomada de decisão. Essa vantagem está intimamente relacionada às características

  • 13

    qualitativas da informação. Portanto, a informação contábil deve apresentar como

    características qualitativas a compreensibilidade, a relevância, a confiabilidade e a

    comparabilidade. Na verdade, o mercado necessita dessas características para que a

    informação seja útil no seu processo decisório, tanto que nos OFÍCIOS-

    CIRCULARES/CVM/SNC/SEP nº 01 dos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007, no item “A

    Qualidade da Informação Contábil” a CVM cita:

    As características qualitativas são os atributos que tornam as demonstrações

    contábeis úteis para os usuários. As quatro primeiras características qualitativas

    são: compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade.

    Hendriksen e Breda (1999) fazem uma distinção entre as qualidades da informação

    contábil especificando-as para os usuários ou para a tomada de decisão. A característica

    qualitativa específica para os usuários é a compreensibilidade, ao passo que as características

    qualitativas específicas para a tomada de decisão são a relevância, a confiabilidade e a

    comparabilidade. Eles ainda ressaltam que a relevância e a confiabilidade pressupõem a

    comparabilidade.

    1.5.1. Compreensibilidade

    Segundo Iudícibus e Marion (1999, p. 64), “a informação contábil precisa ser

    compreensiva, isto é, completa, e retratar todos os aspectos contábeis de determinada

    operação ou conjunto de eventos ou operações”. Sua característica principal é transmitir a

    facilidade de entendimento daquela situação retratada pelas transações efetuadas pela

    empresa. As informações precisam ser compreendidas para que o usuário tenha condições de

    percebê-la, entendê-la e utilizá-la da melhor forma, podendo alcançar o objetivo destinado.

    1.5.2. Relevância

    Para que a informação contábil atinja a sua finalidade, que é a de ser útil, ela deve ser

    relevante para as necessidades dos usuários no processo de tomada de decisão. A informação

    passa a apresentar como qualidade a característica relevante quando dispõe de condições de

    fazer diferença numa decisão, colaborando com os usuários na avaliação de eventos passados,

    presentes e futuros, além de confirmar ou corrigir expectativas anteriores.

  • 14

    1.5.3. Confiabilidade

    Iudícibus (2004), a qualidade confiabilidade é um atributo que proporciona a aceitação

    da informação contábil pelo usuário para utilizá-la como base em sua tomada de decisão. Na

    verdade, essa informação para ser confiável, pressupõe-se que sua divulgação aconteça de

    forma transparente, de maneira que represente fielmente o que está destinada a representar,

    deve, ainda, evidenciar de maneira clara o conteúdo da sua essência. Hendriksen e Breda

    (1999, p. 99) citam a definição de confiabilidade de acordo com o SFAC1 2: “A qualidade da

    informação que garante que a informação seja razoavelmente livre de erro e viés e represente

    fielmente o que visa representar”

    1.5.4. Comparabilidade

    A comparabilidade diz respeito à possibilidade da informação contábil poder ser

    relacionada ou confrontada, na tentativa de se encontrar semelhanças ou diferenças entre dois

    ou mais conjuntos de fenômenos econômicos. A comparabilidade possibilita a identificação

    de tendências da situação patrimonial e financeira da empresa, além de seu desempenho, tanto

    no ramo empresarial como no contexto empresarial global.

    As características qualitativas da informação contábil relacionam-se entre si no

    contexto globalizado, e a existência de uma delas implica a existência de outra para que se

    viabilize o processo de tomada de decisão. Leite (2002, p. 57) caracteriza a relação da

    confiabilidade com a comparabilidade, pressupondo, implicitamente a relevância quando ele

    comenta que “os investidores estrangeiros necessitam de informações confiáveis que

    resguardem a comparabilidade das informações no processo de tomada de decisões”.

    1.6. Discussão – Padronização – Harmonização – Convergência

    Nesta última década, quando o assunto é a contextualização das Normas Contábeis no

    âmbito internacional, conceitos como Padronização, Harmonização e Convergência têm sido

    utilizados na tentativa de mostrar o caminho que a Contabilidade vem percorrendo para

    alcançar seu objetivo que é o de prover os usuários com informações que atendam às suas

    1 Statement of Financial Accounting Concepts – Conceitos de Contabilidade Financeira.

  • 15

    necessidades, independente do país onde estejam localizadas a empresa e a sua Contabilidade

    propriamente dita, a empresa matriz e o usuário interessado nas informações divulgadas pela

    Contabilidade da Entidade Econômica como um todo.

    Esses três conceitos tendem a ser interpretados de maneira semelhante, mesmo que

    não sejam. Resumidamente, de acordo com os grandes dicionários de língua portuguesa

    Houaiss e Michaelis, a palavra mais apropriada para denominar padronização seria

    uniformidade, já harmonização seria mais bem associada com concordância e convergência,

    logo o melhor entendimento seria a tendência para um ponto comum.

    1.7. Processo de Padronização

    Inicialmente, foi utilizada a terminologia Padronização das Normas Contábeis que,

    segundo Rech (2006), seria a exata aplicação das mesmas normas na ocorrência dos fatos em

    todos os países e empresas. Porém, essa concepção não obteve êxito devido à interferência de

    fatores como nacionalismo, soberania, cultura entre outros. Lisboa (1998) citado por

    Amenábar (2001, p. 8) afirma “Padronização significa que deve existir um único padrão ou

    regra aplicável a todas as situações. Utopia”. Niyama (2006) reforça esse conceito ao

    caracterizar a Padronização como um processo de uniformização de critérios, onde não se

    admite flexibilização.

    Daí surge o conceito de Harmonização das Normas Contábeis entre os diversos

    mercados e blocos econômicos, como alternativa na busca por algo possível de ser alcançado.

    1.8. Processo de Harmonização

    Castro Neto (1998, p. 58) assevera que a

    [...] harmonização contábil é o processo de trazer os padrões contábeis para um

    acordo tal que permita às demonstrações contábeis de diferentes países serem

    preparadas de acordo com um conjunto comum de princípios e divulgação.

    Pohlmann (1995) comenta a diferença dos conceitos de padronização e harmonização

    classificando-os como processos, sendo o primeiro como um movimento em direção a um

  • 16

    estado de uniformidade, enquanto o segundo seria um movimento direcionado a um estado de

    ausência de diversidade de práticas.

    A grande diferença entre a Padronização e a Harmonização está na aplicabilidade

    desses dois processos, pois o primeiro acontece de forma impositiva; enquanto o segundo

    preza pela compatibilidade e conciliação. Este último remete-nos à idéia dada por Amenábar

    (2001, p. 4), ao mencionar Grien (1994) “Harmonização é sinônimo de integração”.

    1.9. Processo de Convergência

    Essa idéia serve de embasamento para o mais novo processo, a Convergência das

    Normas Contábeis. Na verdade, o objetivo principal continua sendo a Harmonização das

    Normas Contábeis, porém o caminho para alcançá-la é a Convergência das Normas

    Contábeis.

    Haussmann et al. (2003, p. 2) bem esclarecem a relação existente entre os conceitos de

    Harmonização e Convergência:

    [...] primeiramente, deverá existir um momento de todos os países convergirem

    para as normas estabelecidas por um organismo considerado como mundial no que

    se refere às normas contábeis, para posteriormente haver harmonia entre as práticas

    e normas contábeis utilizadas no contexto global. Conclui-se dessa forma que a

    convergência é o caminho para a harmonização.

    Soares (2005) caracteriza a harmonização como um processo gradativo de

    compatibilização das práticas contábeis estabelecendo um limite no qual elas podem variar,

    ou seja, progressivamente deve existir uma integração entre as partes envolvidas para se

    chegar ao mesmo objetivo, ao mesmo ponto em comum. Esse processo de integração pode ser

    visualizado como o processo de Convergência das Normas Contábeis, onde existe a

    concentração de esforços de órgãos internacionais na tentativa de reduzir, e não de eliminar,

    as diferenças existentes entre as práticas contábeis.

  • 17

    1.9.1. Convergência das Normas Contábil – Contexto Mundial

    Esse processo de Convergência das Normas Contábeis é lento, mas, necessário,

    inicialmente, o detalhamento de cada uma das praticas contábeis, a identificação das

    diferenças existentes acompanhadas da sua justificativa. Posteriormente, faz-se a identificação

    do limite aceitável para a variação desta diferença, para em seguida, providenciar sua redução

    ou eliminação. Haussmann et al. (2003, p. 17) esclarecem que “organismos internacionais

    estão se estruturando lentamente para criar mecanismos no intuito de convergir os sistemas e

    normas contábeis a fim de estabelecer a harmonização”.

    Arpan e Radebaugh (1985) apud Pohlmann (1995, p. 2) já fazem referência aos

    esforços dos organismos internacionais e à questão da redução ou eliminação das diferenças

    entre as normas contábeis quando caracterizam

    os processos de harmonização e padronização como resultados de esforços de

    organismos internacionais para eliminar ou reduzir significativamente as diferenças

    nas normas contábeis. Segundo eles, em sentido estrito, a padronização procura

    eliminar tais diferenças pelo desenvolvimento de normas uniformes, enquanto que a

    harmonização procura reduzir as diferenças e fazê-las mais conciliáveis entre si.

    A Convergência das Normas Contábeis é um processo de alinhamento gradual das

    normas locais com as normas internacionais, pressupõe a preponderância do propósito de

    ajustar-se às normas internacionais. O diferencial existente entre a aplicabilidade dos

    processos de Padronização e de Harmonização é o Processo de Convergência, cuja função é o

    encaminhamento rumo à Harmonização.

    1.9.2. Convergência das Normas Contábil – Contexto Brasileiro

    No Brasil, os órgãos reguladores estão engajados neste processo de Convergência das

    Normas Contábeis. Eles estão, de forma gradativa, emitindo regulamentações com o intuito de

    convergir às práticas contábeis brasileiras em direção à harmonização das normas contábeis

    internacionais. O quadro a seguir mostra os esforços de cada órgão neste processo e a

    assiduidade cada vez maior a cada ano.

  • 18

    Quadro 1 – Ordem cronológica dos acontecimentos no contexto brasileiro que retratam o

    Processo de Convergência das Normas Contábeis

    Documento

    Data

    Órgão Número Título

    dez/2000 Bovespa Folheto Nível 2 Compromissos de Governança Corporativa – Nível 2

    dez/2000 Bovespa Folheto Novo Mercado

    Compromissos de Governança Corporativa – Novo Mercado

    19/01/2004 CVM Ofício-Circular-CVM-SNC-SEP 01/2004

    Encerramento do Exercício Social

    25/02/2005 CVM Ofício-Circular-CVM-SNC-SEP 01/2005

    Orientação sobre a elaboração de Informações Contábeis pelas Companhias Abertas

    03/10/2005 CVM Deliberação 488 Aprova o Pronunciamento do IBRACON NPC nº 27 sobre Demonstrações Contábeis – Apresentação e Divulgações.

    03/10/2005 CVM Deliberação 489 Aprova o Pronunciamento do IBRACON NPC Nº 22 sobre Provisões, Passivos, Contingências Passivas e Contingências Ativas.

    07/10/2005 CFC Resolução 1.055 Cria o COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – (CPC), e dá outras providências.

    22/02/2006 CVM Ofício-Circular-CVM-SNC-SEP 01/2006

    Orientação sobre a elaboração de Informações Contábeis pelas Companhias Abertas

    10/03/2006 BCB Comunicado 14.259 Comunica procedimentos para a convergência das normas de contabilidade e auditoria aplicáveis às instituições financeiras e às demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil com as normas internacionais promulgadas pelo International Accounting Standards Board (IASB) e pela International Federation of Accountants (IFAC).

    19/06/2006 CVM Deliberação 505 Aprova o Pronunciamento do IBRACON sobre Eventos Subseqüentes à Data do Balanço Patrimonial. (NPC – 10 – EVENTOS SUBSEQÜENTES À DATA DO BALANÇO PATRIMONIAL (CORRELAÇÃO - IAS Nº 10))

  • 19

    19/06/2006 CVM Deliberação 506 Aprova o Pronunciamento do IBRACON sobre Práticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas Contábeis e Correção de Erros. (NPC Nº 12 – PRÁTICAS CONTÁBEIS, MUDANÇAS NAS ESTIMATIVAS CONTÁBEIS E CORREÇÃO DE ERROS (CORRELAÇÃO - IAS Nº 8))

    28/07/2006 CFC Resolução 1.075 Altera o artigo 8º da Resolução CFC nº 1.055/05 que cria o COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC) e dá outras providências.

    14/02/2007 CVM Ofício-Circular-CVM-SNC-SEP 01/2007

    Orientação sobre Normas Contábeis pelas Companhias Abertas

    15/05/2007 CVM Deliberação 520 Dispõe sobre a audiência pública e a aceitação pela CVM dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

    18/05/2007 CVM Ofício-Circular-CVM-SNC-SEP 02/2007

    Edital sobre as demonstrações financeiras consolidadas com base nas normas contábeis internacionais

    13/07/2007 CVM Instrução 457 Dispõe sobre a elaboração e divulgação das demonstrações financeiras consolidadas, com base no padrão contábil internacional emitido pelo International Accounting Standards Boards (IASB).

    14/09/2007 CPC Pronunciamento Técnico CPC 01

    Dispõe sobre a Redução ao Valor Recuperável de Ativos

    26/10/2007 CFC Resolução 1.106 Estabelece regras para a edição das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs).

    01/11/2007 CVM Deliberação 527 Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 01 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) sobre Redução ao Valor Recuperável de Ativos

    06/11/2007 CVM Ofício-Circular-CVM-SEP 04/2007

    Orientação acerca do envio de Demonstrações Financeiras Consolidadas em IFRS

    09/11/2007 CPC Pronunciamento Técnico CPC 01

    Dispõe sobre os Efeitos nas Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis.

    29/11/2007 CFC Resolução 1.110 Aprova a NBC T 19.10 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos.

  • 20

    11/01/2008 CPC Pronunciamento Conceitual Básico

    Dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação para as Demonstrações Contábeis

    29/01/2008 CVM Deliberação 534 Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 02 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata dos Efeitos nas Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis.

    22/02/2008 CFC Resolução 1.120 Aprova a NBC T 7 – Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis.

    14/03/2008 CVM Deliberação 539 Aprova o Pronunciamento Conceitual Básico do CPC que dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis

    20/03/2008 BCB Comunicado 16.669 Comunica procedimentos para a adequação das normas de contabilidade e auditoria aplicáveis às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil às disposições constantes da Lei nº 11.638, de 2007

    28/03/2008 CFC Resolução 1.121 Aprova a NBC T 1 – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis

    29/05/2008 BCB Comunicado 3.566 Dispõe sobre procedimentos aplicáveis no reconhecimento, mensuração e divulgação de perdas em relação ao valor recuperável de ativos.

    13/08/2008 CVM Deliberação 547 Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 03 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

    O OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2005 de 25 de janeiro de 2005, p. 2

    retrata esta postura dos órgãos brasileiros:

    O sentido principal da evolução regulatória no Brasil está na convergência com os

    pronunciamentos internacionais e, para isso, o Ibracon e a CVM vêm se

    empenhando na adaptação das regras emitidas pelo IASB, os International

    Financial Reporting Standards (IFRS), para o ambiente contábil brasileiro. Essas

    ações, entretanto, implicam ultrapassar algumas barreiras para a integração dos

    mercados de capitais e a conseqüente necessidade de harmonização contábil.

  • 21

    Essa postura é reiterada no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2006 de 22

    de fevereiro de 2006, p. 2 e também no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2007 de

    14 de fevereiro de 2007, p. 14.

    1.9.2.1. BCB

    O marco dos procedimentos visando à Convergência das Normas Contábeis foi a

    adoção pelo Banco Central do Brasil (BCB) das normas internacionais de contabilidade para

    as suas demonstrações financeiras do exercício de 2006 (ou exercício findo em 31/12/2006).

    Por meio do Voto BCB 235/2002, o Banco Central do Brasil aprovou a aderência de sua

    contabilidade às melhores práticas internacionais. Ao ratificar esse entendimento por meio do

    Voto CMN 53/2002, o Conselho Monetário Nacional determinou que se passasse a adotar as

    normas divulgadas pelo International Accounting Standard Board (IASB), embora houvesse,

    antes de se chegar a essa conclusão, a necessidade da observação das práticas de outros

    bancos centrais e as considerações sobre o assunto emanadas de organismos internacionais,

    por exemplo, BIS, Banco Mundial, CEMLA. Esse processo detalha-se no cronograma abaixo:

    CRONOGRAMA

    ATIVIDADES INÍCIO FIM

    Grupo de estudos do Deafi 1/5/2002 31/12/2003

    Pesquisa dos procedimentos em outros bancos centrais 4/8/2003 29/8/2003

    Avaliação de todas as operações do BC e de todas as normas emitidas pelo IASB, efetuando um estudo da aplicação dessas normas às operações do BC

    1/3/2004 15/5/2004

    Adaptação dos esquemas contábeis, manuais e sistemas de contabilidade e gerenciais do Banco

    1/6/2004 31/12/2004

    Início da preparação das demonstrações financeiras do Banco de acordo com o IASB

    30/6/2004 -

    Publicação do primeiro conjunto completo de demonstrações financeiras comparativas

    - 31/12/2006

    Fonte: BCB. PROJETO: Aderência às Normas Internacionais de Contabilidade – IASB. s/d.

    Posteriormente, o BCB amplia essa aderência a todas as instituições financeiras por

    meio do Comunicado 14.259 de 10.03.2006 que disponibiliza procedimentos para a

  • 22

    convergência das normas de contabilidade e auditoria das instituições financeiras com as

    normas internacionais da IASB e IFAC (The International Federation of Accountants), a

    Federação Internacional de Contadores, ressaltando a emissão de normas alinhadas às normas

    da IASB e IFAC para adoção efetiva a partir de 31.12.2010.

    No site do BCB, em Informações Cadastrais e Contábeis do Sistema Financeiro

    Nacional, está disponibilizada a página “Convergência das normas contábeis do SFN às

    normas internacionais”, onde podemos encontrar Diagnósticos das normas do SFN em relação

    às normas internacionais com comentários sobre o diagnóstico de cada uma das IAS e IFRS

    frente à regulamentação brasileira; Normas sobre Convergência no âmbito do SFN onde estão

    relacionados os Comunicados e Resoluções emitidos que já se encontram no processo da

    Convergência das Normas Contábeis na esfera do SFN e, Histórico de atualizações, que relata

    um histórico da edição de normas visando à convergência entre as normas contábeis do

    COSIF e as Normas Internacionais de Contabilidade editadas pelo IASB, datados de janeiro

    de 2008 e junho de 2008.

    1.9.2.2. CVM

    A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), desde o OFÍCIO-

    CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2004 de 19 de janeiro de 2004, que apresenta as

    orientações sobre a elaboração de Informações Contábeis pelas Companhias Abertas, já se

    encontra no processo de Convergência das Normas Contábeis e explica em seu primeiro

    parágrafo:

    Os Ofícios-Circulares emitidos pela área técnica da CVM têm como objetivo

    divulgar os principais problemas e considerações na aplicação das Normas de

    Contabilidade aplicáveis às Companhias Abertas. Esses comentários têm como

    objetivo mais geral o aperfeiçoamento da informação contábil para o mercado e a

    conseqüente convergência com as normas internacionais de contabilidade e das

    práticas contábeis relacionadas à aplicação da legislação societária. Além deste

    propósito, o ofício objetiva, também, alertar as companhias abertas e seus auditores

    sobre desvios observados nas informações divulgadas ao mercado em relação à

    suas normas e aos princípios contábeis. e, em alguns casos, a relação com a normas

    internacionais emitidas pelo IASB.

  • 23

    Destacamos o compromisso da CVM junto ao IOSCO – The International

    Organization of Securities Commission, a Organização Mundial das Comissões de Valores

    Mobiliários, em balizar seus trabalhos nas orientações emanadas do IASB, desde que não se

    depare com alguma impossibilidade legal. Nos anos subseqüentes, de 2005, 2006 e 2007, a

    CVM continua nesse processo de convergência como se verifica na divulgação dos OFÍCIOS-

    CIRCULARES/CVM/SNC/SEP de 2005, de 2006 e de 2007 quando é evidenciada, de forma

    idêntica, a preocupação em ressaltar o propósito da CVM quanto à sua função de

    regulamentação, de seu auxílio no esclarecimento de questões voltadas às normas

    internacionais de contabilidade, além de recomendar a divulgação em notas explicativas da

    conciliação das diferenças entre as normas contábeis brasileiras e internacionais:

    Esse ofício-circular também procura incentivar a adoção de novos procedimentos e

    divulgações, bem como antecipar futura regulamentação por parte da CVM e, em

    alguns casos, esclarecer questões relacionadas às normas internacionais emitidas

    pelo IASB. Esses comentários têm como objetivo mais geral o aperfeiçoamento da

    informação contábil para o mercado e a conseqüente convergência com as normas

    internacionais de contabilidade.

    Considerando a referência internacional alcançada pelo IASB (IFRS/IAS) e o

    compromisso e o esforço dos órgãos reguladores e emissores de normas de buscar a

    convergência com as mesmas, recomenda-se que as companhias abertas divulguem

    em nota explicativa a conciliação das diferenças entre as práticas contábeis

    adotadas no Brasil e as práticas contábeis internacionais.

    Neste período, ano a ano, é possível verificar que o posicionamento adotado pela

    CVM está direcionado com o propósito de redução das diferenças existentes, além dos

    avanços significativos que intencionam o alinhamento às normas internacionais. A partir de

    “convergência com as normas internacionais de contabilidade, além do balizamento com as

    normas do IASB” constantes no Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP de 2004, constata-se no

    mesmo tipo de documento, porém direcionado para o exercício de 2005, o acréscimo da

    “observância de diferenças entre os procedimentos contábeis nacionais e os internacionais no

    intuito de divulgá-las em notas explicativas com a devida conciliação”. No OFÍCIO-

    CIRCULAR /CVM/SNC/SEP de 2006, a citação da Deliberação nº 488 de 03 de outubro de

    2005, que reconhece e aprova o Pronunciamento nº 27 emitido pelo Instituto Brasileiro dos

    Auditores Independentes (Ibracon) sobre Apresentação e Divulgação de Demonstrações

  • 24

    Contábeis, retrata um importante esforço deste órgão nesse processo de convergência, tanto

    que no Ofício-Circular explicita-se:

    A área técnica desta CVM entende que tal pronunciamento reflete a crescente

    importância que a autarquia e o Ibracon conferem à convergência das práticas

    contábeis brasileiras com as práticas contábeis internacionais, visando ao aumento

    da transparência e da segurança nas nossas informações contábeis divulgadas ao

    público investidor, e possibilitando, a um custo mais baixo, o acesso das empresas

    nacionais às fontes de financiamento externas.

    O destaque no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP de 2007 é a menção da

    instalação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), importante órgão engajado no

    processo de convergência das práticas contábeis brasileiras com as práticas contábeis

    internacionais, além da contribuição com que a CVM colabora se dedicando ao processo de

    convergência das normas contábeis:

    A CVM vem, ao longo dos anos da sua atuação, buscando aperfeiçoar e manter

    atualizado o seu arcabouço normativo contábil, sempre com a participação de

    segmentos interessados do mercado ou da profissão contábil. Cumpre destacar a

    importante colaboração recebida da Comissão Consultiva de Normas Contábeis da

    CVM, que conta com representantes da ABRASCA, APIMEC, CFC, IBRACON,

    FIPECAFI/USP e colaboradores especialmente nomeados pela CVM, além dos

    professores Ariovaldo dos Santos (USP), José Augusto Marques (UFRJ) e Natan

    Szuster (UFRJ) e, agora, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC),

    recentemente instalado.

    A colocação em audiência pública da minuta, que depois de regulamentada deu

    origem à Instrução nº 457/07 de 13 de julho de 2007, documento que dispõe sobre a

    elaboração e divulgação das demonstrações financeiras consolidadas, com base no padrão

    contábil internacional, foi outra evidência do engajamento da CVM neste processo de

    convergência no ano de 2007 que, por meio do OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP nº

    02/2007 de 18 de maio de 2007, destaca a sua importância:

    Essa instrução vai ao encontro do processo de convergência com essas normas

    internacionais ao mesmo tempo em que permite, durante o período de 2007 a 2009,

    a opção de apresentar as demonstrações consolidadas segundo as normas do

    International Accounting Standard Board – IASB, e fixa o exercício findo em 2010

  • 25

    para que as companhias abertas brasileiras adotem obrigatoriamente as normas

    contábeis internacionais.

    Essa instrução delimita a definitiva largada/arrancada rumo ao processo de

    Convergência das Normas Contábeis, pois ela formaliza/estabelece/impõe a fixação de prazos

    de adequação e enquadramento das sociedades anônimas de capital aberto às normas

    internacionais de contabilidade. Inicialmente, a apresentação das demonstrações financeiras

    consolidadas das companhias abertas conforme o padrão contábil internacional, ou seja, de

    acordo com os pronunciamentos emitidos pelo International Accounting Standards Board

    (IASB), tem caráter facultativo desde o exercício social de 2007 até o exercício social de

    2009, sendo que a partir do exercício social de 2010, a elaboração e a apresentação passam a

    ser obrigatórias.

    Finalizando a ênfase dada pela CVM ao processo de convergência das normas

    contábeis, o OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SEP nº 04/2007 de 06 de novembro de 2007

    direciona, numa extensão das orientações da Instrução CVM nº 457/07, o envio por parte das

    companhias abertas, de forma voluntária, de informações sobre suas demonstrações

    financeiras consolidadas elaboradas em conformidade com as normas internacionais de

    contabilidade, já a partir do 3º trimestre de 2007, na tentativa de incentivar a intersecção das

    normas internacionais aos procedimentos contábeis nacionais já existentes, neste caso, as

    Informações Trimestres - 3º ITR/2007.

    1.9.2.3. IBRACON

    Outro órgão de forte atuação neste processo é o Instituto Brasileiro dos Auditores

    Independentes (Ibracon). Recentemente, o Ibracon tem emitido novas normas contábeis

    alinhadas com as normas internacionais. Intituladas Normas de Pronunciamentos Contábeis

    (NPC), são aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por meio da emissão das

    deliberações CVM, como segue:

    � Deliberação nº 488, de 3 de outubro de 2005 - Aprova o Pronunciamento do

    IBRACON NPC nº 27 sobre Demonstrações Contábeis – Apresentação e Divulgações.

  • 26

    � Deliberação nº 489, de 3 de outubro de 2005 - Aprova o Pronunciamento do

    IBRACON NPC Nº 22 sobre Provisões, Passivos, Contingências Passivas e Contingências

    Ativas.

    � Deliberação nº 505, de 19 de junho de 2006 - Aprova o Pronunciamento do

    IBRACON sobre Eventos Subseqüentes à Data do Balanço Patrimonial.

    � Deliberação nº 506, de 19 de junho de 2006 - Aprova o Pronunciamento do

    IBRACON sobre Práticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas Contábeis e Correção de

    Erros.

    Outra regulamentação de muita importância no processo de Convergência das Normas

    Contábeis é a Deliberação nº 520, de 15 de maio de 2007, que dispõe sobre a audiência

    pública e a aceitação pela CVM dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de

    Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão criado por entidades representativas da classe

    contábil e do mercado de capitais com o propósito de estudar, preparar e emitir

    pronunciamentos técnicos visando o alinhamento das normas contábeis brasileiras às normas

    de contabilidade de padrões internacionais. Como resultado, em 1º de novembro de 2007, a

    deliberação nº 527 da CVM aprovou o Pronunciamento Técnico CPC 01 do Comitê de

    Pronunciamentos Contábeis (CPC) que regra sobre o tema ‘Redução ao Valor Recuperável de

    Ativos’, o impairment, uma norma contábil inexistente pelas normas nacionais, presente, de

    forma inconsciente apenas pelas normas internacionais.

    1.9.2.4. BOVESPA

    A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) implantou, em dezembro de 2000,

    segmentos especiais de listagem de ações, o Novo Mercado e os Níveis Diferenciados de

    Governança Corporativa – Nível 1 e Nível 2. As empresas listadas nos níveis ‘Novo Mercado’

    e ‘Nível 2’ tem em seus regulamentos, como um dos requisitos do conjunto de Divulgação de

    Informações, a exigência de elaboração, ao final do exercício, de demonstrações financeiras

    ou demonstrações consolidadas, de acordo com os padrões internacionais de contabilidade,

    sendo aceito tanto em IFRS como em US GAAP. Tal exigência se estende às demonstrações

    financeiras trimestrais, sendo facultada sua substituição pela divulgação das Informações

    Trimestrais (ITRs), desde que traduzidas para a língua inglesa.

  • 27

    1.9.2.5. CFC

    Não somente órgãos reguladores do mercado de capitais estão envolvidos no processo

    de Convergência das Normas Contábeis, mas também órgãos de classe da profissão contábil.

    O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) tem se manifestado favoravelmente com a

    emissão de regulamentações. A primeira delas foi a Resolução nº 1.055 de 7 de outubro de

    2005, criando o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

    Seguindo a mesma tendência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho

    Federal de Contabilidade (CFC) emitiu a Resolução nº 1.106 de 26 de outubro de 2007 que

    estabelece regras para que a edição das futuras Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs)

    deva seguir os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais.

    1.9.2.6. CPC

    O CPC é um órgão formado por entidades da área privada, do mundo acadêmico e do

    setor governamental que, dentro de um escopo de questões regulamentares, busca, por meio

    de uma profunda e intensa atualização, a modernização das normas e preceitos contábeis, no

    intuito da Harmonização das Normas Contábeis.

    A criação do CPC se deu com o propósito de atender às necessidades de convergência

    internacional das normas contábeis, de centralização na emissão das referidas normas e de

    representação e processo democráticos na produção dessas informações.

    Segundo o Art. 3º da Resolução CFC nº 1.055 de 7 de outubro de 2005, que cria o

    Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a entidade tem por objetivo:

    [...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre

    procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para

    permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à

    centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em

    conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

  • 28

    Ainda no Art. 4º desta Resolução são atribuídos ao CPC o estudo, a pesquisa, a

    discussão, a elaboração e a deliberação sobre o conteúdo e a redação de Pronunciamentos

    Técnicos.

    Além dos Pronunciamentos Técnicos, resultado do objetivo da entidade, o CPC

    também tem como propósito lançar Orientações e Interpretações que poderão ser submetidas

    a audiências públicas, procedimento obrigatório para os Pronunciamentos Técnicos.

    A composição do CPC reúne as seguintes entidades:

    • Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) – organização civil sem

    fins lucrativos, que apresenta como missão a defesa das posições das companhias abertas

    junto aos centros de decisão e à opinião pública. Além disso, se empenha no desenvolvimento

    dos mecanismos do mercado de capitais e na disseminação de informações sobre os principais

    títulos. Preza, também, pelo aprimoramento das práticas de política e de administração

    empresarial, no que se refere ao mercado de capitais, base na qual devem estar inseridas as

    boas práticas de governança corporativa.

    • Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de

    Capitais) – entidade composta por pessoas físicas, com o foco no desenvolvimento do

    mercado de capitais. Suas atividades envolvem desde cursos básicos até MBAs, reuniões com

    empresas, visitas a parques fabris, seminários, palestras, mesas redondas, reuniões técnicas e

    participação em comitês e comissões, além de oferecer, ainda, um programa de certificação

    nacional e internacional.

    • Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) – instituição privada, sem fins

    lucrativos, pertence às sociedades corretoras e atua sob a supervisão da Comissão de Valores

    Mobiliários (CVM), que lhe confere o poder de auto-regulação. Tem como principais funções

    a promoção do desenvolvimento do mercado de ações brasileiro, o financiamento do setor

    produtivo e a oferta de uma forma de poupança de longo prazo ao investidor. Em seu

    ambiente de negociação, são transacionadas ações, cotas de fundos e investimento fechados,

    Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e debêntures.

  • 29

    • CFC (Conselho Federal de Contabilidade) – autarquia especial de caráter

    corporativo, que apresenta como finalidades a orientação, a normatização e a fiscalização do

    exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade. A

    entidade visualiza como sua missão a promoção do desenvolvimento da profissão contábil,

    primando pela ética e qualidade na prestação dos serviços, realizando o registro e a

    fiscalização de profissionais e organizações contábeis, atua como fator de proteção da

    sociedade e quer ser reconhecido como um Conselho atuante e representativo da profissão

    contábil.

    • Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) –

    órgão de apoio institucional ao Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP. Seus

    principais objetivos são os de realizar pesquisas, desenvolver e promover a divulgação de

    conhecimentos da área contábil, financeira e atuarial; incentivar a participação de professores

    e estudantes em congressos e seminários com trabalhos científicos; produzir e incentivar a

    produção de livros, artigos, papers e material científico no seu campo; financiar laboratórios

    de pesquisa nas áreas de contabilidade, finanças, atuária, logística, tecnologia da informação e

    outros correlatos; programar bolsas de estudo para a formação de docentes dessas áreas nos

    níveis de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado; promover a internacionalização da Pós-

    Graduação em Contabilidade da Universidade de São Paulo; promover cursos e consultorias.

    • Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) – órgão que congrega

    profissionais da área contábil. O Instituto atua com ênfase em três propósitos específicos:

    - Discussão, desenvolvimento e aprimoramento de questões éticas e técnicas da

    profissão de auditor e de contador e, ao mesmo tempo, na atuação como porta-voz dessas

    categorias diante de organismos públicos e privados e da sociedade em geral;

    - Auxílio na difusão e na correta interpretação das normas que regem a profissão,

    possibilitando aos profissionais conhecê-la e aplicá-la de forma apropriada, contribuindo para

    a criação e a manutenção de um mercado sadio, regido pela ética profissional;

    - Desempenho, também, no conjunto das entidades de ensino colaborando para o

    aprimoramento da formação profissional, por meio da divulgação das atribuições, do campo

    de atuação e da importância do trabalho do auditor independente em nossa sociedade.

  • 30

    Além dos órgãos participantes, representantes de órgãos como Banco Central do

    Brasil, Comissão de Valores Mobiliários, Secretaria da Receita Federal e Superintendência de

    Seguros Privados sempre serão convidados.

    A estrutura funcional do CPC está dividida em quatro coordenadorias, a saber:

    � Coordenadoria de Operações – responsável por todo o relacionamento com o

    Conselho Federal de Contabilidade visando ao bom funcionamento do CPC no que tange a

    convênios com órgãos reguladores, a audiências públicas; à divulgação dos atos do CPC, à

    estrutura física, recursos humanos, biblioteca, tecnologia, etc; e à divulgação do CPC e do seu

    trabalho.

    � Coordenadoria de Relações Institucionais – sua atribuição diz respeito à gestão

    para a adoção dos Pronunciamentos Técnicos pelos órgãos reguladores e à representação, em

    matéria não-técnica, do CPC junto ao Governo Federal, organizações não-governamentais,

    imprensa e sociedade em geral.

    � Coordenadoria de Relações Internacionais – tem como foco a representação do

    CPC junto a organismos internacionais governamentais e organizações internacionais

    privadas e o acompanhamento e relato dos assuntos em andamento nas principais entidades

    internacionais ligadas às regras contábeis.

    � Coordenadoria Técnica – ênfase na elaboração da pauta do CPC, na convocação e

    coordenação das reuniões do CPC e na representação do CPC nas matérias técnicas.

    O CPC já possui os seguintes pronunciamentos:

    � Pronunciamento Conceitual Básico - Estrutura Conceitual, que trata da Estrutura

    Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis;

    � CPC-01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos;

    � CPC-02 - Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de

    demonstrações contábeis

  • 31

    A intensidade com que acontece a integração entre os órgãos no processo de

    Convergência das Normas Contábeis é verificada pelas normatizações emitidas. A

    Deliberação CVM nº 520, de 15 de maio de 2007 dispõe sobre a audiência pública e a

    aceitação pela CVM dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos

    Contábeis – CPC e a Resolução CFC nº 1.106 de 26 de outubro de 2007 que estabelece regras

    para a edição das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs). Como conseqüência, o

    quadro seguinte demonstra os órgãos envolvidos no processo de convergência das normas

    contábeis, conforme se verificam no site do CPC, os pronunciamentos técnicos já emitidos e

    as regulamentações de outros órgãos endossando (referendando/aprovando) o

    pronunciamento.

    Quadro 2- Endosso de outros órgãos regulamentadores com os Pronunciamentos

    Técnicos do CPC

    CPC CVM CFC

    Pronunciamento Conceitual Básico - Estrutura Conceitual

    Deliberação nº 539/08 NBC T 1

    Resolução nº 1.121/08

    CPC-01

    Redução ao Valor Recuperável de Ativos

    Deliberação nº 527/07 NBC T 19.10

    Resolução nº 1.110/07

    CPC-02

    Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis

    Deliberação nº 534/08 NBC T 7

    Resolução nº 1.120/08

    CPC-03

    Demonstração dos Fluxos de Caixa

    Deliberação nº 547/08

    Além da aprovação pela CVM e pelo CFC, o Pronunciamento Técnico CPC 01 –

    Redução ao Valor Recuperável de Ativos também foi referendado pelo CMN Conselho

    Monetário Nacional por meio da Resolução 3.566 de 29 de maio de 2008 do BCB (Banco

    Central do Brasil).

    Segundo o Regimento Administrativo da Coordenadoria Técnica do CPC, os

    procedimentos de elaboração dos Pronunciamentos Técnicos, das Interpretações e das

    Orientações serão desenvolvidos no contexto de uma rotina de, no máximo, 7 fases:

  • 32

    � 1ª Fase – Elaboração da minuta inicial (M1)

    � 2ª Fase – Análise da minuta M1 pelo Grupo de Trabalho

    � 3ª Fase – Análise da minuta M2 pelo CPC

    � 4ª Fase – Análise da minuta M3 por Órgão Regulador Específico

    � 5ª Fase – Audiência Pública

    � 6ª Fase – Revisão final da minuta M4

    � 7ª Fase – Apreciação final pelo CPC

    A fase da audiência pública diz respeito à disponibilização da minuta para apreciação

    da comunidade nos sites do próprio CPC, de seus membros e, se possível, no site das

    entidades permanentes ou temporariamente convidadas a participar da discussão do

    documento. No 1º semestre do ano de 2008, os assuntos foram colocados em Audiência

    Pública, Ativos Intangíveis e Demonstração de Fluxos de Caixa. No período de 2006 e 2007,

    as Audiências Públicas realizadas resultaram nos três primeiros Pronunciamentos Técnicos

    emitidos: Pronunciamento CPC-01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos, de 14 de

    setembro de 2007; Pronunciamento CPC-02 - Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e

    conversão de demonstrações contábeis, de 09 de novembro de 2007; e o Pronunciamento

    Conceitual Básico – Estrutura Conceitual, que trata da Estrutura Conceitual para a Elaboração

    e Apresentação das Demonstrações Contábeis, de 11 de janeiro de 2008;

    A concepção e a instalação do CPC retratam o ponto de partida para a efetiva

    integração no processo de Convergência das Normas Contábeis.

    1.10. Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações

    Na verdade, verifica-se uma mobilização de órgãos formando o mercado de capitais

    em conjunto com outros da profissão contábil na tentativa de minimizar as diferenças

    existentes das normas contábeis com o padrão internacional, mas o principal e primeiro

    movimento foi o Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações.

    Em julho de 1999, foi entregue ao Ministro da Fazenda, Dr. Pedro Malan, o

    Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404 de 15 de

    dezembro de 1976). Essa reformulação previa a modificação de algumas disposições

    constantes dos capítulos XV, XVI, XVIII e XX, todas elas voltadas à matéria contábil. Em

  • 33

    2000, o texto desse anteprojeto foi encaminhado ao Congresso Nacional na forma de Projeto

    de Lei nº 3.741 e, por fim, em 28 de dezembro de 2007, ocorreu sua aprovação pela edição da

    Lei 11.638.

    O Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações foi elaborado por

    uma comissão integrada por representantes de entidades do mercado, principalmente da

    Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de órgãos profissionais e de ensino.

    Posteriormente, foi submetido a processo formal de audiência pública e, ainda, foi objeto de

    análise e discussão prévias entre os órgãos de governo, subordinados ao Ministério da

    Fazenda, interessados no assunto.

    O processo de revisão da Lei 6.404/76 surgiu devido à percepção de uma nova

    realidade econômica no Brasil, bem diferente daquela percebida dez anos antes do seu

    anteprojeto e, mais ainda do período em que a própria Lei das Sociedades por Ações foi

    editada. Aliad