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Ligações, interações, fronteiras orientam a colaboração entre a linha de Linguagens Visuais do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da EBA/UFRJ e o Réseau l’Âge d’Or, constituído por 11 escolas de arte do Sul da França. Ao longo dos últimos quatro anos os encontros e numerosos trabalhos realizados contaram com a colaboração dos professores Carlos Zilio, Simone Michelin, Miton Machado, Paulo Venancio, com o empenho da diretora da EBA/UFRJ, Angela Âncora da Luz, e a participação de artistas pesquisadores; e, na França, com o apoio da Délégation aux Arts Plastiques do Ministère de la Culture e da Association Française d’Action Artistique do Ministère des Rélations Etrangères e o interesse de Jacques Imbert, Christian Gaussen, Jean-Marc Ferrari, Jacques Defert, Patrick Talbot, Pierre Joseph, Emilie Dezeuze, e dos sucessivos adidos culturais do Consulado da França no Rio, Marc Pottier e Jean-Paul Lefèvre. Reciprocidades que desde o início orientaram/permearam a proposta de trabalho e começaram a instaurar a comunicação, a interação entre os grupos de artistas. Interfaces que, esperamos, se transformem em suporte para pesquisas sobre as ligações histórico- culturais franco-brasileiras, possibilitando a expressão do olhar contemporâneo sobre diferentes realidades. E, de maneira mais ampla, que elas possam contribuir para a pesquisa artística e reflexões sobre a constituição da arte contemporânea, seu circuito, suas divergências, contribuições e lacunas. Intertextualidade, alteridade e complementaridade, essas três diretrizes colocadas em discussão, permitem o acesso a maior informação e ao conhecimento recíproco e teórico da produção artística e de suas formulações. Na delicada passagem da teoria à prática, as divergências e as diferenças tornam-se necessárias. Inscritas em uma história e em uma práxis de transmissão, essa proposta de trabalho é aberta para cada um de seus participantes de maneira individual e coletiva. O contato e a convivência com realidades culturais diferentes, acima da reflexão puramente teórica da alteridade, baseiam-se na real afinidade eletiva. Não se trata de impor ou propor um modelo de trabalho, mas de encontrar os meios para a construção de situações específicas. Esse espaço intermediário – interface – permite uma real confrontação entre os modelos nacionais e a atual globalização, sempre assimétrica. O objetivo de fundar e aprofundar esse espaço de pesquisa e de criação para os artistas franceses e brasileiros, alunos e professores permanece, para todos nós, um desafio de permanente construção. Catherine Bompuis Glória Ferreira Vista geral da exposição Où sommes-nous? Escola Superior de Belas Artes de Montpellier Sobre uma proposição de Alexandre Sá Foto de Luc Jennepin DOSSIÊ • INTERFACE 139 Dossiê: Interface Diálogos, trocas, intercâmbios, passagens, distâncias, espaços poéticos, oceanos, línguas, viagens, pesquisas, trabalhos, abismos, paisagens e arte. Este dossiê especial tem por objetivo apresentar um panorama das ações plásticas, dos meios de funcionamento e das atividades que envolvem o projeto Interface (projeto de colaboração entre a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Réseau L'Age d'Or, constituído pelas escolas de arte do Sul da França.

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Ligações, interações, fronteiras orientam acolaboração entre a linha de LinguagensVisuais do Programa de Pós-Graduação emArtes Visuais da EBA/UFRJ e o Réseau l’Âged’Or, constituído por 11 escolas de arte doSul da França.

Ao longo dos últimos quatro anos os encontrose numerosos trabalhos realizados contaram coma colaboração dos professores Carlos Zilio,Simone Michelin, Miton Machado, PauloVenancio, com o empenho da diretora daEBA/UFRJ, Angela Âncora da Luz, e aparticipação de artistas pesquisadores; e, naFrança, com o apoio da Délégation aux ArtsPlastiques do Ministère de la Culture e daAssociation Française d’Action Artistique doMinistère des Rélations Etrangères e o interessede Jacques Imbert, Christian Gaussen, Jean-MarcFerrari, Jacques Defert, Patrick Talbot, PierreJoseph, Emilie Dezeuze, e dos sucessivos adidosculturais do Consulado da França no Rio, MarcPottier e Jean-Paul Lefèvre.

Reciprocidades que desde o inícioorientaram/permearam a proposta de trabalhoe começaram a instaurar a comunicação, ainteração entre os grupos de artistas. Interfacesque, esperamos, se transformem em suportepara pesquisas sobre as ligações histórico-culturais franco-brasileiras, possibilitando aexpressão do olhar contemporâneo sobrediferentes realidades. E, de maneira mais ampla,que elas possam contribuir para a pesquisaartística e reflexões sobre a constituição da artecontemporânea, seu circuito, suas divergências,contribuições e lacunas.

Intertextualidade, alteridade ecomplementaridade, essas três diretrizescolocadas em discussão, permitem o acesso amaior informação e ao conhecimentorecíproco e teórico da produção artística e desuas formulações. Na delicada passagem da

teoria à prática, as divergências e as diferençastornam-se necessárias.

Inscritas em uma história e em uma práxis detransmissão, essa proposta de trabalho é abertapara cada um de seus participantes de maneiraindividual e coletiva. O contato e a convivênciacom realidades culturais diferentes, acima dareflexão puramente teórica da alteridade,baseiam-se na real afinidade eletiva. Não se tratade impor ou propor um modelo de trabalho,mas de encontrar os meios para a construçãode situações específicas.

Esse espaço intermediário – interface – permiteuma real confrontação entre os modelosnacionais e a atual globalização, sempreassimétrica. O objetivo de fundar e aprofundaresse espaço de pesquisa e de criação para osartistas franceses e brasileiros, alunos eprofessores permanece, para todos nós, umdesafio de permanente construção.

Catherine BompuisGlória Ferreira

VViissttaa ggeerraall ddaa eexxppoossiiççããoo OOùù ssoommmmeess--nnoouuss??

EEssccoollaa SSuuppeerriioorr ddee BBeellaass AArrtteess ddee MMoonnttppeelllliieerrSSoobbrree uummaa pprrooppoossiiççããoo ddee AAlleexxaannddrree SSáá

FFoottoo ddee LLuucc JJeennnneeppiinn

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Dossiê: Interface

Diálogos, trocas, intercâmbios, passagens, distâncias, espaços poéticos, oceanos,línguas, viagens, pesquisas, trabalhos, abismos, paisagens e arte. Este dossiê

especial tem por objetivo apresentar um panorama das ações plásticas, dos meiosde funcionamento e das atividades que envolvem o projeto Interface (projeto de

colaboração entre a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio deJaneiro e o Réseau L'Age d'Or, constituído pelas escolas de arte do Sul da França.

DDaavviidd BBlloonnddeell

SSeemm ttííttuulloo,, ddeesseennhhoo,, 22000044

Acho que o tempo (em sua duração) é benéficopara nós, não?

As imagens são pouco visíveis, por vezesinvisíveis, íntimas, pontuais.

São compostas na indeterminação do tempo edo espaço de um encontro incerto.

Elas são o registro da memória do corpo e detodas as dificuldades de transmitir...

DDaanniieellaa MMaattttooss

DDiiáállooggooss 99aa,, rreeggiissttrrooffoottooggrrááffiiccoo ddeevviivvêênncciiaa//ppeerrffoorrmmaannccee,, 22000055

Trocas. Talvez essa seja apalavra mais adequadapara resumir minhaexperiência no ProjetoInterface, em dezembrode 2005, no ‘Atelier desEnfants’ da École d´Artd´Avignon. Comespecial ajuda daprofessora ecoordenadora do ateliê,Sylvette Ardoino, realizeimeu trabalho através dedois workshops – comturmas de crianças emidade de seis a 10 anos

– e uma performance, que contou com aparticipação de alunos de ambos os grupos.

Foi para mim, e acredito que também para eles,uma vivência rica de afetos, palavras e fios.

Ainda que o registro material do processo dessavivência seja um tecido de crochê conformadode linhas coloridas, ele guarda em sua estruturaas tramas invisíveis de uma memória coletiva, naqual foram tecidas relações com diferentespontos, em direções diversas que certamentedeixaram – lá e aqui – rastros visíveis e invisíveis.

CCééddrriicc TToorrnnee

AAss bbooccaass,, ffoottooggrraaffiiaa ++ eexxppeerriiêênncciiaa ssoonnoorraa,, 22000055

Uma mulher (Daniela Mattos) canta (“Samba eamor”, de Chico Buarque)

Perto de nós,

Atrás da porta,

Próximo, longe,

Elipse espacial, voz e rumor.

Ela segue e persegue.

Como uma extensão do teatro universal deBorges

Ela cantou lá em vez de aqui:

"alô, alô, eu chamo aqui, depois lá. Aqui reflito amaneira cujas coisas aparecem neste lugar (ou lá)tudo surgindo alhures (ou aqui)”.

Wark Kaenzie, catálogo "Mutação" Museu CAPC

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Bordeaux. França.

Sua voz teria apagado as distâncias.

Seu murmúrio,

um som que atravessou o espaço

como conduzido de um lado e de outro.

CCeezzaarr BBaarrtthhoolloommeeuu

AAuuccuunnee CCoonnssééqquueennccee,, ppeerrffoorrmmaannccee,, 22000055..

EExxeeccuuttaaddaa ppoorr:: AArrnnaauudd LLaappeeyyrree MMaazzeerraatt

Ação para a Interface na escola de artede Avignon (1 ator, carvão, roupasbrancas, arquitetura)

1 - A distância do ator para a arquitetura deveser de um braço.2 - O ator deve escrever repetidamente(formando, de cima para baixo, uma coluna): 'aucune conséquence'. [Não é necessário que a frase marque otamanho horizontal da coluna, que pode ser dada em tensão com a arquitetura,segundo bom ou mau julgamento.]2.1 - A não ser que o ator ouça qualquer outracoisa sendo dita, que deverá ser reproduzida na arquitetura.2.2 - O ator deve retornar à frase original.3 - Ao chegar ao chão, sem dobrar os joelhos,deve continuar escrevendo, continuando a coluna de texto.3.1 - Mesmo sobre seu corpo, no mesmosentido, até a altura de seus olhos.4 - De olhos fechados então, o ator se deita nochão e oferece à leitura toda a coluna de texto.

CCuurraaddoorriiaa:: LLaaeettiittiiaa TTaallbboott

GGiioorrddaannii MMaaiiaa

OOxxiiggeennaaççããoo ddaa BBaaííaa,, ppeerrffoorrmmaannccee,, 22000033..

A proposta parte de um convite a quem interes-sar – com data e local (barcas Rio-Niterói),enviado por e-mail e distribuído em lugarespúblicos – à realização de um ato insólito: entor-nar água mineral na Baía de Guanabara. No atode lançar águas ao mar articula-se a seguintelógica: ‘assim como o bater de asas de borboletapode desencadear um ciclone em um continen-te distante (Teoria do Caos), uma determinadaquantidade de água contida em um recipienteplástico (engarrafada para ser consumida emlarga escala) misturada ao grande volume deágua contida na baía, com todos os tipos depoluentes químicos e orgânicos resultantes doconstante progresso do Ocidente, pode causar

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efeitos de proporções desconhecidas e invisíveis,mas ainda assim relevantes’. (Ajudaram na ela-boração deste texto os artistas: Cristina Pape eLau Caminha). Fotos de Felipe Barbosa.

LLíívviiaa FFlloorreess

SSeemm ttííttuulloo,, ffoottooggrraaffiiaa,, 22000044..

Como responder a um convite para umaexposição com artistas brasileiros e francesesenvolvidos no projeto interface? À partesaudades e fromage, caipirinha e vol-au-vent, oque fica dessa relação entre artistas em situaçãode turismo, lá e cá? Pressinto que só o trabalhotrabalha. Ali, naquele momento do jogo entreespelhos e reflexos que a fotografia põe emcena, de repente, abre-se um buraco negrosobre a superfície lisa do chão de pedrasportuguesas que Cédric pisou no Rio. Ou aimagem da santa da praça da Vila Divinéiaretoma seu lugar no altar que já não existe naantiga capela de Arles, abrigo atual deexposições – talvez por isso ostente a moldurasem quadro de Alexandre como atributo. Asimagens começam a circular na montagem edepois continuam, criando seus próprios fluxos– como os olhares, como os objetos, que umdescarta e o outro recolhe para lançar noespaço indeterminado de um público que passapor ali e por aqui, turistas, artistas.

Pequenas anotações de viagem

“Ai, que preguiça!”Mário de Andrade

«VianPetite francesa

Dancê le classiqueEm cime de mesa»

Assis Valente

Som de check-in côncavo: Sim, a distância é, porvezes, um elemento auxiliador no processo de

análise e compreensão de uma realidade física,social, histórica, geográfica e artística. É essadistância que faz com que percebamos, comalguma dor inevitavelmente, que, em alguns casos,a cidade redescobre sua potência criativa quandovista de longe ou, pelo menos, quando vista comoutros olhos. As viagens sempre estiveram envoltasem seus próprios mistérios, pois, de algumamaneira, se fundamentam em suas dúvidasinerentes (e não menos deliciosas) diante do saltoinevitável ao desconhecido do outro e na novidadepanorâmica que se revela.

Há entre todo espaço que une uma palavra eoutra algo que aqui por estas terras se chama dedécalage. Algo de espaço que se pensa que seatravessa. Algo de através que é o mesmoentre-pessoas de qualquer parte de qualquerlugar. Entre uma pessoa e outra há semprealgo de abismo paralelo a toda página embranco que na maioria das vezes é estrangeiraem sobressalto.

Escrevo agora, quase um mês após minhachegada/partida a/de um lugar outro, onde aobsessão pela paisagem termina, por vezes,quase virando pesquisa de campo poético. Aquantidade de imagens que me surge de acordocom todas as avenidas que desbravo éincalculável. Sinto-me obviamente impotentediante de tudo que se revela de maneira tãorápida. E exatamente por isso, deixo que apoesia do trabalho reverbere por si só.

Há entre nós um diálogo, uma camaradagem,um oceano, uma história e algum passado quequase sempre se esconde na acidez-sagaz-potência do teu-outro-dentro que prefiro nãosaber. E por isto, ignoro esta coisa tua que étambém minha e que bate na porta emmomentos onde o desejo de supremacia emnós exibe seus dentes e sua língua que preciseiconhecer, para que não me lançasse na errânciade mim. Há entre nós um romance e uma idéiaestrangeira advinda do prazer que existe napassagem, neste delicioso não-lugar que serevela no momento em que nossos olhos seatravessam e se esquecem da pulsão dedespedida que os séculos o obrigaram a aceitar.Saudade é uma palavra que é verbo, por maisclichê que isto lhe pareça.

Som de check-in convexo: Novembro de 2005.Primeiro avião de sua vida. Algumas longas horas.Primeira decolagem e primeira aterrissagem.Aproveite. Dialogue. Fotografe o possível, mesmosabendo que experiência é aquilo da terra do

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incapturável e do inominável. Atravesse. Eperceba, com algum pesar, que grande parte detoda a arte estudada até aqui era apenas aimpressão superficial esparramada na folha daimagem. Pés no chão. Rio – Paris – Montpellier –e assim por diante...

Take 1 – As portas se abrem, e o que pode meesperar? Sinto de uma vez por todas que estoubastante próximo da palavra estrangeiro. Eis quesurgem dois sorrisos largos1 a minha espera eque terminam por afagar minha recônditaangústia tupiniquim (no melhor sentido). Aospoucos a língua previamente preparada sedesenrola num almoço de reconhecimento deárea. Tudo é novo de fato, sotaques, costumes,roupas, tempo, clima, cultura. Reencontroamigos que fiz rapidamente no ano anterior. Emmenos de dois dias estou passeando pela cidadenova para me perder e tentar me encontrar. Noterceiro dia, vou a uma festa onde todosobservam “empiricamente” surpresos, o rapazda brasilândia que não só fala de futebol, samba,suor e cerveja. Curiosamente me sinto emcasa. E descubro que casa talvez seja umdesses nomes que carregamos conosco.Como uma prece, como uma marcapessoal de lugar nenhum.

Take 2 – A escola. Como talvez nunca tenha aoportunidade de ver. Como talvez nuncaconsiga ver no país que um dia achei que meufosse. Silêncio e mais nenhum comentário.Respiração profunda e recomeço. Tecnologia eequipamentos. A possibilidade de fazer tudo.Ou quase. Ou pelo menos a possibilidade deexpandir as fronteiras de mim e do própriotrabalho. Toda uma equipe cordial2 tentadescobrir junto comigo aquilo que nos move,ou pelo menos aquilo que nos liga. Continuome perdendo para me encontrar noslaboratórios de imagem, de fotografia, deescultura, na serralheria, na gráfica, navirtualidade daquela distância material que eudesconhecia. Resolvo então sumir por uns diasna biblioteca. E é ali que encontro umapossibilidade real de troca.

Take 3 – Telefone chama lentamente, quandoatende diz que Madame Flores está trabalhandoe infelizmente não se encontra no seuapartamento. Saudade.

Take 4 – Descubro que interface é realmentepoder encontrar pontos de tangência, de

desvendar proximidades e distâncias. Decidodesenvolver um projeto para acompanhar amaioria dos trabalhos dos alunos da escola. Epercebo imediatamente que o que podia fazerde melhor, é questionar o processo dostrabalhos e descobrir fundamentaçõesteóricas. Assim o faço, em sessões diárias pelamanhã e à tarde.

Take 5 – Madame Flores atende e passamos umfinal de semana juntos. Fico ainda mais fascinadocom a artista em sua experiência. Em seguida,todos3 se encontram para o Colóquio emAvignon e percebemos então, na carne poéticado trabalho, a enorme delícia que é o diálogopor si só. Exposição, mostra de vídeos,performance e happenings. Retorno à minhaorigem por enquanto. Perfumes, queijos, vinhos,trabalhos, alunos, artistas, processos, encontro.

Take 6 – Uma exposição será feita. Reúno osalunos, já amigos e proponho: “Onde nósestamos?”. É essa a pergunta que nos assolava.Quais seriam nossas fronteiras e quais seriamseus possíveis hibridismos? Que espaço era esteque nos comportava de forma tão sem adjetivo?O que nos torna turistas de turistas de nósmesmos? Decidimos explorar as mais diversaslinguagens: fotografia, vídeo, objetos, pequenasinstalações, performance e, por último, algo quetrouxe na bagagem inevitável da memória:música. Música4 brasileira com artistas (que nãosão músicos) franceses. Tudo em busca daaproximação de um local em hipertexto que nos(des)identifique. Ensaiamos quase todos os dias.E, num misto de descompasso amistoso eunidade além da explicação possível, seguimosalargando nossas experiências entre cançõesfrancesas e pontos de macumba. A lista departicipantes é extensa demais, e o designergráfico (do convite da exposição) pergunta porque tanta gente, tantos nomes e tantosagradecimentos... Sorrio meio sem jeito (e mesinto imediatamente com um capinzinho naboca que se sente, muito rapidamente,banguela, no melhor sentido) e digo quecoletivo é todo (o?) mundo que carrego nestepeito teimoso sem nenhum baticum. Hártetambém é isso.

Take 7 – Retorno5 (de onde? / para onde?)

Som de check-in de vácuo quase oração de gra-ças alcançadas: Agradecei sempre a inevitávelajuda e consideração que recebes das instituições

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de fomento à pesquisa do seu país. Que certa-mente, cada vez mais ajudar-te-ão, eliminar-te-ãoas burocracias e entenderão completamente anecessidade de processos como este.6 Que assimseja. Amém.

Ceci n'est pas un poèmeCatalogue de poche pour étrangers

Je sais aussi comment être une galerie.

Alexandre SáDe algum lugar

09/10/2006

VViinncceenntt DDuuccaarrnneeIInntteerriiuurr nnuuiitt II,, vvííddeeoo,, 22000066..

Um travelling lateral apresenta quatropersonagens, dois femininos e três masculinos,evoluindo dentro de um espaço composto poruma peça única, uma cena de teatro compostapor uma mesa e duas cadeiras, que sucede a simesma ad infinitum.

As personagens se deslocam, se olham porvezes, mas não se tocam e não se falam. Nãofazem nada. Não fazem nada além de esperar ese deslocar. Mas quando se deslocam, sempreretornam ao mesmo ponto de origem como seEstragon e Vladimir (de Beckett) estivessemperdidos no jardim dos caminhos de Borges,que se bifurcam incessantemente.

CCoollóóqquuiioo BBrraassiill ““PPaarrffuumm bbrruulléé””

Palestras

Paulo Venancio Filho – História, culturaperiférica e a nova civilização da imagem.

Milton Machado – A imaginação no poder: aarte dos anos 70 e outros milagres brasileiros.

Peter Pál Pelbart – Poéticas da alteridade,desatinos e a cena teatral contemporânea.

Jacques Leenhardt – Dispositivos locais,códigos globais, a arte brasileira comoantropofagia.

Felipe Ferreira – Identidades brasileiras e ocarnaval: os “índios de cordão”.

Michel Agier – Os rituais contemporâneosda cultura afro-brasileira. Formas equestões.

( Mesas redondas - Exposição - Trabalhose projetos de artistas - Mostra de vídeos 7

- Performances)

BBrraassiill ““PPeerrffuummee qquueeiimmaaddoo””

Jacques Defert

Associando-se ao Ano do Brasil na França, umaparceria foi estabelecida entre a associação Âged’Or, rede das Escolas de arte do Sul da França,a Escola de Belas Artes da Universidade Federaldo Rio de Janeiro e a Escola Superior de DesignIndustrial da Universidade Estadual do Rio deJaneiro. Nesse contexto, a Âge d’Or assume acoordenação, na França, de um projeto detrocas franco-brasileiro intitulado Fil Rouge [Fiovermelho], desenvolvendo-se, ao longo de todoo ano de 2005, residências de artistas brasileiros

nas escolas de arte do Sul da França, trocaspedagógicas e um trabalho de reflexão maisteórico.

A vinda de outros artistas brasileiros foi previstaa partir do outono [de 2005] nas escolas de artede Avignon, Montpellier, Nice – Villa Arson,assim como na École Nationale de laPhotographie d’Arles. Paralelamente, no âmbitodo Laboratório de pesquisas franco-brasileiraInterface [Réseau l’Âge d’Or e EBA/UFRJ], a Âged’Or e a École d’Art d’Avignon propuseramcoordenar, em estreita colaboração com aUniversidade Federal do Rio de Janeiro, umencontro (colóquios e ateliês) intituladoParfum brûlé.

A arte e a cultura do Brasil contemporâneopermanecem pouco conhecidas na França,apesar da evidente admiração pela músicabrasileira. No entanto, desde o final dos anos50 e do sucesso surpreendente de Tristestrópicos, muitas trocas contribuíram para sefazer conhecer a diversidade cultural dessepaís na Europa.

As publicações dos antropólogos franceses quereinventaram então a antropologia nas periferiasurbanas da Bahia e nas florestas da Amazônia, amidiatização dos emblemas da modernidadeapós a fundação de Brasília, a tradução dosgrandes escritores brasileiros, mais o surgimentodo Cinema Novo e o lugar ocupado hoje peloBrasil e seus artistas na cena internacional, nosforneceram uma imagem do Brasil tãoexuberante quanto fragmentada. A tal ponto quea insistência sobre os contrastes e ascontradições da realidade brasileira acabaria porsubstituir o esquematismo de oposiçõesestereotipadas pela compreensão das dinâmicasculturais e das tensões sociais que atravessam ereatam também, de maneira subjacente, todasas facetas da cultura brasileira.

Esse encontro franco-brasileiro se dá com oobjetivo, portanto, não só de nos fazer

descobrir a vitalidade artística e cultural do Brasilcontemporâneo, mas também de nos fazercompreender como a criatividade brasileiraopera sobre as atuais clivagens convencionaisentre tradição e modernidade, local e global,particularismos identitários e reapropriação dovocabulário da globalização.

Trata-se, desse modo, de situar processos eformas da criação contemporânea em suacomplexa relação com a profundidade históricae as questões contextuais e globalizadas que lhesdão sentido. Mas trata-se também de interrogar,em retorno, as fontes e os limites de nossaspróprias representações da cultura brasileira,assim como as imagens que os brasileiros dãode si mesmos e que veiculam para o exterior.Os estereótipos mascaram efetivamente oreal, tanto quanto revelam os dispositivosimplícitos, com a condição de, por eles, seinteressar mais de perto...

Claude Lévi-Strauss abre a segunda parte deTristes trópicos com uma estranha associação deidéias: “ainda hoje penso primeiro no Brasil comum ‘perfume queimado’”. Paradoxalmente, elereivindica esse imaginário olfativo, saído da“homofonia inconscientemente apreendida daspalavras Brasil e brasido” como “o veículo deuma lição simbólica”, marco do processo ecompreensão e de interpretação antropológicaque ele quer liberar de suas pretensõesobjetivistas e de seus pesos ideológicos.

Esse devaneio, mais polifônico do que parece,condensa de fato, em sua verdade fugidia, todauma parte desse Brasil imaginário construídodesde a época da conquista, tanto por seusdominados quanto por seus dominadores, emum chassé-croiséi de representações projetadas,submetidas, entremeadas, denunciadas,“bricoladas”, reinventadas ou reivindicadas:imaginário fundador de uma realidade múltipla...

A etimologia guarda com freqüência a impressãode sedimentos de sentidos que alimentam sub-

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repticiamente muitas construções identitárias: amadeira vermelha utilizada para a tintura que, noséculo 16, deu seu nome ao Brasil porassimilação a sua cor de brasa, cruza-se, noimaginário ocidental, com o braseiro dos rituaisantropofágicos e com a fascinaçãoexperimentada pelos conquistadores face a facecom os corpos “selvagens”, pintados de figurasvermelhas traçadas com o suco do grão deurucum. Figuras por muito tempo recorrentesde uma alteridade radical, que a antropologia sóiria interpretar como marcas de civilização emmeados do século 20.

Em que medida pode-se considerar a realidade“brésillée” [“brasílica”] do Brasil contemporâneo(com o duplo sentido desse termo esquecido,“brésillée”, ao mesmo tempo “quebrar empequenos pedaços” e “tinta de madeiravermelha”) como uma construção de sentidos,portanto de cultura, capaz de integrar e detranscender todas as contradições e mal-entendidos saídos desse imaginário, do qual elaseria também de uma certa maneira o produto?

Desde os anos 20, Oswald de Andrade, líder daiconoclasta modernidade brasileira, reivindicavaem seu Manifesto antropófago a herança dosTupinambás como matriz cultural da brasilidade,preconizando a devoração de todos ascontribuições estrangeiras, o que a cultura dessepaís jamais cessou de cumprir, extraindo suaforça de sua capacidade de ingestão, demestiçagem e de recreação permanente. “Eusou um Tupi que toca alaúde” escrevia emeco um outro escritor (seu homônimo)Mário de Andrade...

Nesse sentido, pode parecer particularmenteenganador opor as manifestações da cultura dita“popular” do Brasil, percebida através de umprisma redutor apenas por suas dimensõesfestivas ou por suas ancoragens étnicas ouparticularistas, às produções artísticas brasileirasavaliadas pelo padrão de critérios exclusivos daarte dita “internacional”.

A criatividade brasileira desdobra-se por umcaleidoscópio de formas tão rigorosamenteconstruídas como espetacularmente encenadasou ritualizadas, que o observador exterior nãopode discernir as questões identitárias, sociais epolíticas, entrelaçadas em um jogo sutil de

metamorfoses, de manipulações e de disfarcesdos quais ele não percebe os códigos.

A problemática proposta “do exterior” à reflexãode nossos parceiros brasileiros, assim como aalguns convidados franceses familiares à culturado Brasil, poderia portanto consistir em deslocaras referências antropológicas e artísticas habituaispara nos fazer melhor compreender o quetramam as aparências formais: confrontar, emuma mesma interrogação pluridisciplinar, avitalidade mestiçada da cultura carioca, aafricanidade reivindicada dos rituais docandomblé e do carnaval da Bahia, com asformas tomadas pelos movimentos artísticosbrasileiros – do Manifesto antropofágico aotrabalho sobre o corpo surgido doneoconcretismo ou aos equilibrismos deaparência conceituais da geração Tranca-ruas –,deveria nos ajudar a perceber as “diversidades”da cultura brasileira de outro modo que nãopelos filtros que lhes opõem, antes como asmáscaras mutantes e as estratégias móveis deum mesmo processo de apropriação e de“devoração”, de afirmação das dinâmicasculturais e identitárias brasileiras em toda adiversidade do campo social, criações plenas.

Longe de reconduzir o pressuposto das“diferenças” culturais, esta apresentação e areflexão que a acompanhou deveriam contribuir,ao contrário, para nos fazer perceber melhor aprofundidade dos laços históricos e culturais quefreqüentemente reaproximam as dinâmicas decriação no Brasil e na França.

Todas as construções culturais do planeta têmcertamente recorrido aos mesmos mecanismosde apropriação, de reinvenção e dediferenciação, segundo combinatórias eespecificidades variáveis no tempo e no espaço,segundo nuanças ou tonalidades reivindicadascomo o próprio de cada contexto cultural oucada experiência individual. Mas nessaarticulação do local e do global (o “glocal”) nãocirculam apenas formas e idéias, mas também osesquemas simbólicos nômades que unem tãoestreitamente o antigo e o novo mundo...

Jacques Defert é professor de Antropologia Cultural, na Ecole

d’Art d’Avignon e responsável pela coordenação francesa desse

projeto de encontro

Tradução de Marisa Flórido Cesar e revisão deGlória Ferreira

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GGéérraalldd GGaarrbbeezz

BBaarrrraa ddaa TTiijjuuccaa –– ddaa sséérriiee ““TTooddooss ooss ddiirreeiittoossrreesseerrvvaaddooss””,, IImmpprreessssããoo ddiiggiittaall,, 22000066..

AAuuddee CChheevvaalliieerr--BBeeaauummeell

SSeemm ttííttuulloo,, ffoottooggrraaffiiaa,, 22000055..

O transe é inseparável do conceito deescravidão. Ele permitia, num primeiro instante,que o escravo se libertasse e que se tornasse

momentaneamente um outro indivíduo. Que selivrasse de seus sofrimentos, que abandonasseseu corpo e que esquecesse suas dores físicas esua condição. Por outro lado, o transe reduz oindivíduo a um corpo possuído que não é maissenhor dos seus atos porque termina reagindocomo um outro: a entidade.

Estar possuído é também, de certa forma,tornar-se escravo da entidade incorporada.

AAggnnèèss FFoorrnneellllss

SSeemm ttííttuulloo,, ffoottooggrraaffiiaa,, 22000066..

Uma representação “humana”, estátua isoladade seu local (o cemitério) que, peloenquadramento, entra em relação com oespaço urbano que é observado ao fundo eparece velá-lo ou estar sob sua influência. Asestátuas cercadas, destacadas, parecem designaro limite entre dois universos. Mas a imobilidadede tais figuras interroga o mundocontemporâneo. Nas fotografias feitas no Rio deJaneiro, a imagem se afirma e anuncia uma novaestrutura urbana, a favela.

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Eu o avistei (como reflexo) no escuro, quaseque sem perceber as feições possíveis etropeçando inteiramente naquele signoestrangeiro que reside em toda e qualquerlíngua onde palavra e imagem se encontram novácuo de suas respectivas experiências. Éramosturistas desde muito, como aqueles que andamem círculos pré-históricos, como aqueles uivosque rodeiam os lobos da madrugadamuseológica, colecionando algo de distante quetalvez tenha-se perdido por nossa cobiça deproximidade. Encontramos um ponto detangência para as nossas próprias derivas emperspectiva e deixamos que derivasse ali algumapoética de ação (que de entrópica não temnada). Plantei torrões de açúcar, deslizei seufoco afiado de observação etnográfica, lavei seupés e cantei uma canção de letreiro de fim defilme para que adormecesse sem sol e sem si.

PPaarrttiicciippaanntteess

Agnès Fornells

Alexandra Fleurial

Alexandre Nativel

Alexandre Sá

Arthur Leandro

Axelle Carruzo

Aude Chevalier-Beaumel

Cadu Costa

Camille Boissière

Caroline Bourdet

Cédric Torne

Cezar Bartholomeu

Cristina Pape

Daniela Mattos

David Blondel

Felipe Barbosa

Félix Richard

Florence Van Handenhove

Gérald Garbez

Giordani Maia

Ian Ewens

Izabela Pucú

Jessy Gemayel

Lau Caminha

Lívia Flores

Loïc Pantaly

Marie Guichaoua

Milan Tutunovic

Nicholas Martins

Rébecca Schreck

Ronald Duarte

Sebastian Brink

Stéphane Despax

Valérie Collart

Vincent Ducarne

Xavier Lescat

Participações especiais: Amélia Sampaio +Johanna Goldberg + Tato Teixeira + GrégoryVos + Olivier Bartoletti

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R E V I S T A D O P R O G R A M A D E P Ó S - G R A D U A Ç Ã O E M A R T E S V I S U A I S E B A • U F R J • 2 0 0 6

NNoottaass::

1 Escolas de arte das regiões de Languedoc-Roussillon eProvence-Alpes-Côte d’Azur: Aix-en-Provence, Arles,Avignon, Marseille, Montpellier, Nice (Villa Arson),Nîmes, Perpignan, Sète e Toulon.

2 Cristian Gaussen e Pierre Joseph

3 Noëlle Dumont, Elisabeth Vergnettes, Martine Morel,Thierry Guinard, Christian Marquant, José Sales, RémiReymond, Jaky Biondi, Joëlle Gay, Nora Martirosyan.

4 Milton Machado, Paulo Venancio, Lívia Flores, DanielaMattos e Cezar Bartholomeu.

5 Alexandre Sá – voz, Vincent Ducarne – violão, AlexandreNativel – violino, Aude Chevalier-Beaumel – berimbau evoz, Rébecca Schreck – poesia sonora, Xavier Lescat –percussão e violão.

6 Na verdade, só termino retornando a algum lugar graças àajuda de duas pessoas (Amélia Sampaio e Cédric Torne).Explicação lógica: Achando tudo tranqüilo demais e omundo pequeno, saio com uma única mochilinha míserapara uma viagem por alguns lugares. Além de perceberque o dinheiro que levava era impossivelmente ínfimo,terminei sendo furtado em algum lugar do metrô dealgum lugar... Bom, sagas de samurai não cabem aqui. Odinheiro estava lá no dia seguinte. E tudo recomeçavaem sua inevitável delícia.

7 Inclusive nas atitudes recentemente tomadas com as bolsas-sanduíche de doutorado.

8 Fração, fraction. Mostra organizada por Daniela Mattos eIzabela Pucú.

9 Figura de dança em que cavalheiro e dama passamalternadamente um defronte ao outro. Em uma acepçãocorrente é a troca recíproca e simultânea de lugar esituação (N. da T.)

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'A BATALHA DE AVAHY DO DR. PEDRO AMÉRICO’

"Podem os críticos inimigos do Dr. Pedro Américo, dizer cobras e lagartos da Batalha de Avahy. Nuncaconseguirão fazer com que este belo quadro desagrade ao público. Basta lembrar-se que na sua

composição, tomaram parte grandes artistas como Horacio Vernet, Ivon, Gustavo Doré, Pagliani, Riccie outros, cujo imenso talento o Dr. Pedro Américo foi o primeiro a reconhecer num sem número de

artigos laudatórios, que o mesmo ilustre Dr. Comendador escreveu e publicou em muitos a pedidos dejornais italianos e brasileiros."