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PANORAMA DA INDÚSTRIA DE GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL Seddy Bango Bubele Projeto de Graduação submetido ao Corpo docente do Curso de Engenharia de Petróleo da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Engenheiro de Petróleo. Orientador: Prof. Rafael Mengotti Charin, Dr. Eng. Rio de Janeiro Setembro de 2018

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PANORAMA DA INDÚSTRIA DE GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL

Seddy Bango Bubele

Projeto de Graduação submetido ao Corpo docente do Curso

de Engenharia de Petróleo da Escola Politécnica da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários para obtenção do título de Engenheiro

de Petróleo.

Orientador: Prof. Rafael Mengotti Charin, Dr. Eng.

Rio de Janeiro

Setembro de 2018

Bubele, Seddy Bango

Panorama da indústria de gás natural no Mundo e no Brasil/ Seddy Bango Bubele Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2018.

XV, 107p.:il.; 29,7cm.

Orientador: Rafael Mengotti Charin Projeto de Graduação UFRJ / Escola

Politécnica / Engenharia de Petróleo, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 105-107.

1. Panorama da indústria de gás. 2. Gás natural na economia moderna. 3. Mundo. 4. Brasil.

I. Charin, Rafael Mengotti. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de Petróleo. III. PANORAMA DA INDÚSTRIA DE GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL.

Agradecimentos Meus agradecimentos à minha família pelo apoio durante todo o tempo de estudos, apesar da

distância que nos separa.

Agradeço a todos que, direto ou indiretamente, contribuíram à minha formação na

Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialmente ao professor Rafael Mengotti Charin

pela orientação na elaboração deste trabalho. E por fim, sou grato pela oportunidade de poder

estudar no Brasil.

Resumo

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Petróleo.

PANORAMA DA INDÚSTRIA DE GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL

Seddy Bango Bubele

Setembro de 2018

Orientador: Prof. Rafael Mengotti Charin, Dr.Eng.

Curso: Engenharia de Petróleo

Este trabalho apresenta um panorama da indústria de gás natural, iniciando com relatos

históricos das primeiras formas de uso do gás natural pela humanidade até previsões do seu

mercado futuro. Entre os aspectos abordados estão a cadeia de valor do gás, os diferentes

tipos de jazida, o atual perfil de valor do gás dadas as suas vantagens ambientais. Também

discute-se a necessidade de tomar cuidados e medidas adequadas na sua cadeia de produção

para que sejam minimizados os potenciais danos ambientais. As previsões são dadas para

demanda e oferta, considerando cenários julgados mais realistas entre os cenários elaborados

pela agência internacional da energia (IEA) e a British Petroleum (PB). Por fim, o mercado

brasileiro de gás natural é particularmente apresentado, destacando alguns modais logísticos,

no transporte e armazenamento de gás, que podem ser úteis na indústria brasileira de gás

natural.

Palavras-chave: panorama da indústria de gás, gás natural na economia moderna, mundo,

Brasil.

Abstract

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Petroleum Engineer.

GLOBAL AND BRAZILIAN NATURAL GAS PANORAMA.

Seddy Bango Bubele

September 2018

Adviser: Rafael Mengotti Charin

Course: Petroleum Engineering

This work presents an overview of the natural gas industry, beginning with historical

accounts of the first forms of natural gas use by humankind up to predictions of its future

market. It presents the gas value chain, the different types of natural gas reservoirs, the

current gas value profile due to its environmental advantages and the need to take proper care

and measures in its production chain in order to minimize its potential environmental

damages. Forecasts are given for demand and supply, according to scenarios considered more

realistic among the scenarios elaborated by the International Energy Agency (IEA) and

British Petroleum (PB). Finally, the brazilian natural gas market is particularly presented,

highlighting some logistic modalities in gas transportation and storage that may be useful in

it s national gas industry.

Keywords: Natural gas industry panorama, natural gas in modern economy, World, Brazil.

Sumário

Lista de figuras ........................................................................................................................... x

Lista de tabelas ....................................................................................................................... xiii

Lista de símbolos .................................................................................................................... xiv

1.Introdução ............................................................................................................................... 1

2.Breve história do gás natural................................................................................................... 4

2.1.Gás natural nos tempos remotos ....................................................................................... 4

2.1.1.Grécia ......................................................................................................................... 4

2.1.2. Índia ........................................................................................................................... 5

2.1.3. Pérsia (atual Iran) ..................................................................................................... 6

2.1.4. China ......................................................................................................................... 6

2.1.5. Europa ....................................................................................................................... 6

2.1.6. Estados Unidos da América ...................................................................................... 7

2.1.7. Brasil ......................................................................................................................... 8

3.Geologia e formação do gás natural........................................................................................ 9

3.1.Definição e composição do gás natural ............................................................................ 9

3.2.Formação do gás natural ................................................................................................... 9

3.3.Reservatório de gás natural............................................................................................. 12

3.3.1.Reservatório de gás não associado ........................................................................... 12

3.3.2.Reservatório de gás associado .................................................................................. 13

3.3.3.Reservatório de gás não convencional ..................................................................... 14

3.3.3.1.Gás natural de depósito profundo ...................................................................... 15

3.3.3.2.Depósito de baixa permeabilidade (Tight Natural Gas) .................................... 15

3.3.3.3. Gás natural de xisto (Shale Gas) ....................................................................... 16

3.3.3.4. Metano de carvão (Coalbed Methane) .............................................................. 16

3.3.3.5.Gás de zonas geopressurizadas .......................................................................... 17

3.3.3.6. Hidrato de metano ............................................................................................. 18

3.3.3.7. Gás metano no lago Kivu: gás dissolvido na água ........................................... 18

4. Cadeia de valor do gás natural ............................................................................................. 21

4.1.Exploração, produção e processamento de gás natural .................................................. 22

4.1.1. Tecnologias usadas na prospecção .......................................................................... 23

4.1.2. Desenvolvimento e Produção .................................................................................. 28

4.2. Transporte de gás natural ............................................................................................... 29

4.3.Estocagem de gás natural ............................................................................................... 32

4.3.1.Reservatório depletado ............................................................................................. 33

4.3.2. Aquífero .................................................................................................................. 34

4.3.3.Caverna salina .......................................................................................................... 35

4.4. Medidas de segurança e distribuição de gás natural ...................................................... 36

5.Gás natural e o meio ambiente .............................................................................................. 37

6.Mercado de gás natural no Mundo........................................................................................ 40

6.1. Produção de gás natural no Mundo ............................................................................... 40

6.2. Consumo de gás natural no Mundo ............................................................................... 44

6.2. Comercio de gás natural no mundo ............................................................................... 48

6.2.1. Importação e exportação ......................................................................................... 48

6.2.2. Preço de gás natural................................................................................................. 51

7. Gás natural no Brasil ............................................................................................................ 53

7.1. Evolução da participação de gás natural na matriz energética brasileira ...................... 53

7.2. Agente regulador de gás natural ................................................................................... 54

7.3. Estrutura da indústria de gás natural no Brasil .............................................................. 55

7.4. Mercado de gás natural no Brasil ................................................................................. 59

7.4.1. Produção e oferta de gás natural no Brasil .............................................................. 59

7.4.2. Importação pelo gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) ........................................... 68

7.4.3. Importação de gás natural liquefeito (GNL) ........................................................... 70

7.4.4. Demanda por gás natural no Brasil ......................................................................... 72

7.4.5. Demanda futura ...................................................................................................... 78

7.4.6. Porção de gás produzida e importada não ofertada ao mercado nacional ............... 79

7.5. Alternativas para o transporte do gás natural no Brasil. ................................................ 80

7.5.1. Modos de transporte do gás natural........................................................................ 82

7.5.2. Estocagem de gás natural ........................................................................................ 98

8. Conclusão ........................................................................................................................... 103

9. Referências ......................................................................................................................... 105

Lista de figuras

Figura1: Projeção do crescimento da população mundial e cenário de mudança necessária na

matriz energética mundial para manter o aquecimento da Terra abaixo de 2 graus Celsius no

horizonte 2035............................................................................................................................2

Figura2: O fogo eterno no templo de Jwala Ji em Kangra na Índia ..........................................5

Figura3: Estágios da transformação termoquímica da matéria orgânica em hidrocarbonetos.11

Figura4: Diferentes tipos de reservatórios de gás natural........................................................14

Figura5: A região africana de grandes lagos ...........................................................................19

Figura6: Fornecimento do material vulcânico (CO2 e H2) usado por microrganismos para

sintetizar parte do metano no lago Kivu...................................................................................20

Figura7: Planta de extração de gás metano concentrado nas águas das camadas profundas do

lago kivu ..................................................................................................................................21

Figura8: Cadeia de valor do gás natural ..................................................................................22

Figura9: Repartição da reserva mundial de gás natural ..........................................................40

Figura10: Distribuição das reservas provadas de gás natural ..................................................41

Figura11: Evolução da produção mundial de gás natural .......................................................42

Figura12: Os dez maiores produtores de GN em 2017 ...........................................................42

Figura13: Evolução do consumo mundial de gás natural.........................................................45

Figura14: Maiores consumidores de GN em 2017...................................................................45

Figura15: Os cenários considerados pela BP na estimativa da demanda futura por

energéticos................................................................................................................................46

Figura16: À esquerda, evolução do consumo mundial de gás natural por setor em bilhões de

pés cúbicos por dia e à direita, participação percentual de cada setor no aumento da demanda

de gás........................................................................................................................................47

Figura17: Volume de gás (em bilhões de pés cúbicos por dia) comercializado pelos principais

modos de transporte.................................................................................................................50

Figura18: Evolução da frota mundial de navios metaneiros e da distância média de transporte

de GNL ....................................................................................................................................50

Figura19: Preços em $/milhões de BTU nos principais mercados de gás natural...................51

Figura20: Preços de gás natural em três principais regiões, projeções no futuro de acordo com

cenário mais realista da IEA ..................................................................................................52

Figura 21: Evolução da oferta de energia primária no Brasil ................................................54

Figura22: Principais marcos legais da IGN no Brasil.............................................................57

Figura23: Agentes da cadeia de valor de gás natural no Brasil...............................................57

Figura24: Estrutura idealizada da indústria brasileira de gás natural......................................58

Figura25a. Evolução da reserva provada de gás natural brasileiro .........................................60

Figura25b: Evolução da reserva provada de gás natural brasileiro..........................................60

Figura26: Produção brasileira de gás por operadora, excluindo a Petrobras ..........................65

Figura27: Produção brasileira de gás por concessionária (excluindo a Petrobras) ................66

Figura28: Importação GN, Oferta nacional e produção nacional............................................66

Figura29: Oferta de gás em 2016 no Brasil.............................................................................67

Figura30: Oferta média de gás em 2018 .................................................................................67

Figura31: Terminal de regaseificação no Ceará.......................................................................71

Figura32: Importação de GN e dispêndio: média anual de 2012 a 2016 e mensal em

2017..........................................................................................................................................71

Figura33: Consumo de gás por setor no Brasil .......................................................................72

Figura34: Estimativa da demanda futura de gás no Brasil.......................................................78

Figura35: Porção de gás produzida e importada não ofertada ao mercado nacional ..............80

Figura36: Estados brasileiros que têm postos de GNV ...........................................................84

Figura37: Processo de GNL ....................................................................................................87

Figura38: Estrutura de hidrato de metano ...............................................................................89

Figura39: Processo de transporte de GN na forma de hidrato ...............................................90

Figura40: Classificação de gasodutos no Brasil.......................................................................94

Figura41: Malha de gasoduto de transporte no Brasil..............................................................96

Figura 42: Extensão da malha de gasoduto de transporte por país..........................................97

Lista de tabelas

Tabela1: Propriedades das principais componentes do gás natural...........................................9

Tabela2: Composição do gás natural .......................................................................................13

Tabela3: Potencial de emissão de poluentes por fontes primárias de energia fóssil ...............37

Tabela4: Estimativa de recurso mundial das três principais formas de gás natural não

convencional ............................................................................................................................41

Tabela5: Previsão de produção de gás natural no mundo........................................................44

Tabela6: Comércio de gás natural por região...........................................................................49

Tabela7: Evolução das reservas provadas de gás natural no Brasil.........................................59

Tabela8: Especificação do gás natural comercial.....................................................................62

Tabela9: Produção média diária de gás, por Estado, anual entre 2012 e 2016, e mensal em

MM m³ ....................................................................................................................................63

Tabela 10: Produção brasileira de gás associado e não associado em 2013 ...........................64

Tabela11:Comparativo das vantagens econômicos no uso de GNV ......................................76

Lista de símbolos

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

AGN: Associação Portuguesa das Empresas de Gás Natural

ANP: Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural

a.C. : antes de Cristo

APGA: American Pablic Gas Association

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BP: British Petroleum

BTU: British Thermal Unit

Bcf: Billion of cubic feet

CAAGR: Compound average annual growth rate

CIS: Commonwealth Independent States

U.S. DOE: United states Department of Energy

d.C. : depois de Cristo

2D,3D, 4D: respetivamente, 2, 3 e 4 dimensões.

EIA: US Energy Information Administration

EY: Ernst&Young

EPE: Empresa de pesquisa energética

FGV: Fundação Getúlio Vargas

FPSO: Floating Production Storage and Offloading

GASBOL: Gasoduto Bolívia-Brasil.

GNL (LNG): Gás Natural Liquefeito (Liquefied Natural Gas)

GN: Gás natural

GNV: Gás Natural Veícular

IBP: Instituto Brasileiro de Petróleo, gás e biocombustível

IEA: International Energy Agency

IGN: Indústria de Gás Natural

IGU: International Gas Union

km²: quilômetro quadrado

Km³: quilômetro cúbico

m: metro

m³: metro cúbico

MM: milhões

MME: Ministério de Minas e Energia.

md: milidarcy

NBR: Normas Brasileiras

PSI: pound force per scare inch (libra por polegada quadrada)

SCADA: Supervisory Control and Data Acquisition

Stb: Standard barril

Tep: Tonelada equivalente de petróleo

TLP: Tension Leg Platform

UPGN: Unidade de Processamento de Gás Natural

ULG: Université de Liège

1.Introdução

O gás natural é um recurso natural não renovável (com exceção de biogás) cuja importância

na economia moderna se destaca pelos seus diversos usos na vida quotidiana. Conhecido pela

humanidade desde a antiguidade, foi a partir do século 20 que a indústria do gás natural

iniciou um rápido desenvolvimento culminando no seu avanço tecnológico e na

diversificação da utilização de seus derivados seja no sentido energético ou não.

Com o contínuo crescimento da população mundial, cerca de 1 bilhão a cada 13 - 15 anos

(UN DEA, 2017), e com o aumento da riqueza da classe média, cada vez mais ampla a nível

mundial [3,2 bilhões em 2016, 4,2 bilhões em 2022 e 5,2 bilhões em 2028 (KHARAS, H.,

2017)], o consumo de bens tem aumentado e alguns desses bens incluem na sua manufatura o

petróleo e gás natural, ou seus derivados como matéria prima. Pelos mesmos motivos

anteriores, o crescimento da demanda por energia se observa com o passar do tempo a cada

ano e se ouve cada vez mais o alarme para as consequências do descuido ambiental. Dessa

forma, o papel do gás natural na satisfação da demanda mundial por energia vem aumentando

devido à abundância, versatilidade e natureza menos poluente. Como resultado, novas

atividades de exploração de gás, desenvolvimento de campos e produção estão em andamento

e algumas reservas que eram vistas com baixa viabilidade econômica e tecnológica como os

reservatórios não convencionais, hoje são explorados com sucesso. Existem grandes reservas

de gás natural no mundo e muitas delas podem ser desenvolvidas e produzidas a um custo

relativamente baixo e assim responder à crescente demanda mundial por energia e ampliar

ainda mais sua participação na matriz energética mundial. Em 2017, o gás natural forneceu

22% da energia utilizada no mundo, e representa cerca de um quarto da geração de

eletricidade, além de desempenhar um papel crucial como matéria-prima para a indústria (BP,

2018).

(a) (b) Figura1: (a) Projeção do crescimento da população mundial (UN DESA, 2015); (b) Cenário de mudança necessária na matriz energética mundial para manter o aquecimento da Terra abaixo de 2 graus Celsius no horizonte até 2035 (IEA, 2015).

Na Figura1, observa-se à esquerda o crescimento da população mundial com tempo enquanto

que à direita, um cenário de mudança na matriz energética mundial que sugere a diminuição

do consumo de petróleo e carvão e o aumento das energias renováveis e do gás natural, para

que o aumento da temperatura na Terra fique abaixo de 2 graus Celsius no horizonte 2035.

Características tanto econômicas quanto ambientais tornam o gás natural um recurso

interessante e que merece atenção particular dentre as outras alternativas fósseis. É, portanto,

importante procurar entender e prever o papel do gás natural na economia moderna, que se

apresenta cada vez mais com restrição ao carbono. Hoje em dia, o conceito de

sustentabilidade já vai além da teoria e passa a influenciar o padrão de vida das pessoas; em

muitos países, as políticas de produção das indústrias e as escolhas de consumo de clientes

são guiadas pelo mesmo conceito.

O gás natural é visto por muitos como uma fonte de energia de transição entre a era do

domínio das energias fósseis e a era que se deseja chegar no futuro, ou seja, a era das energias

renováveis, cuja predominância ainda depende de avanços tecnológicos. Enquanto isso, a

humanidade aposta cada vez mais em dar mais espaço para o gás natural e diminuir a

participação dos fósseis mais poluentes, atitude que se considera como uma melhor forma de

aproximação uma vez que o

gás natural tem sido cada vez mais considerado e procura-se ainda consolidar o mercado

deste recurso no país. Este objetivo depende ainda da remoção de alguns obstáculos.

Tendo como motivação o que precede, neste trabalho será apresentada uma visão geral da

indústria do gás natural com objetivo de ilustrar o papel deste recurso na economia moderna.

Em particular será apresentado a indústria de gás natural no Brasil com foco em modalidades

de transporte e armazenamento de gás que podem ser importantes para a indústria nacional de

gás natural.

2.Breve história do gás natural

A descoberta e o uso do gás natural não data de hoje; relatos históricos mencionam diferentes

práticas básicas que o homem fazia deste recurso natural desde a antiguidade. A maior parte

do gás natural vindo do subsolo foi formado há milhões de anos. No entanto, somente há

pouco tempo que foram desenvolvidos os métodos para obter este gás, trazendo-o para a

superfície.

2.1.Gás natural nos tempos remotos

O primeiro contato com o gás natural foi misterioso para a maioria dos povos antigos. A

inflamação de gás natural que chegava à superfície através de fendas nas rochas, revelou a

alguns povos antigos a existência e a possibilidade de uso deste energético. Este evento que

ocorria sem fonte óbvia, claramente resultava numa impressão mística. Por exemplo, às vezes

a queda de raios inflamava o gás natural que escoava da terra e a partir disso uma chama

surgia no subsolo. Esses incêndios confundiram a maioria das civilizações antigas e foram

objetos de superstição.

Entre as civilizações mais antigas, a Grécia, Índia, Pérsia e China têm destaque na história do

contato da humanidade com o gás natural.

2.1.1.Grécia

Os povos antigos da Grécia, (assim como da Pérsia e da Índia) descobriram o gás natural

muitos séculos atrás. As pessoas daquela época ficaram maravilhadas com as chamas

ardentes que apareciam quando o gás natural que subia através de rachaduras de rochas,

produzia fogo ao ser atingido por um raio. Às vezes, eles construíram templos em torno

stor de cabras

descobriu uma chama que se erguia da fissura da rocha (alimentada por gás natural de

exsudação) localizada no monte Parnassus. Os gregos, acreditando que a chama descoberta

pelo pastor era de origem divina, construíram no local o lendário templo de Delphi. As

sacerdotisas que cumpriam o papel de oráculo entravam supostamente em um estado de

transe provocado pelos gases em ascensão, e acreditava-se que suas profecias, inspiradas pelo

fogos, poderiam determinar uma gama de eventos desde a previsão de colheita dos

agricultores até a previsão dos acontecimentos em momentos de guerra. (NATGAS, 2013)

2.1.2. Índia

O gás natural também possuía um status divino na Índia antiga, onde se considerava o fogo

vindo da ignição do gás de exsudação como a encarnação da deusa Hindu Jwala Ji. Um

famoso templo para a deusa, localizado no local de uma dessas exsudações de gás, contém

uma chama acesa, provavelmente desde 400 d.C. (WYLIE, 2012).

Figura2: O fogo eterno no templo de Jwala Ji em Kangra na Índia (SUJATA, 2015)

2.1.3. Pérsia (atual Iran)

Há registros antigos mostrando que a descoberta do gás natural ocorreu no antigo Irã (Pérsia)

entre 6000 e 2000 a.C. Na Pérsia, utilizava-se o combustível para manter aceso o "fogo

eterno", símbolo de adoração de uma das seitas locais. Anos depois, os antigos persas

adotaram a prática de uso do gás natural para fins domiciliares. Segundo a lenda, em torno de

100 d.c., o Rei da Pérsia teve sua casa construída ao lado do local de exsudação de gás

natural, que ele usou para aquecer a cozinha real. Apesar destas impressionantes inovações

iniciais na Ásia e no Oriente Médio, no entanto, precisou-se esperar até o século 19 d.C para

que o gás natural começasse a ser aproveitado em uma escala comercial (WYLIE, 2012).

2.1.4. China

O gás natural já era conhecido na China desde 900 a.C. Os chineses reconheceram que o gás

natural poderia ser usado de forma benéfica. Eles canalizavam o gás extraído de poços rasos e

o usavam para produzir calor para evaporar a água do mar para obter sal e água potável. Os

chineses utilizavam lugares de escape natural do gás para construir fornos, que usavam o gás

natural como combustível, e que serviriam na produção cerâmica e metalúrgica. Bambu oco

era utilizado para transportar o gás que surgia na superfície até o local de consumo (APGA,

2018).

2.1.5. Europa

Na Europa, o gás natural só foi descoberto em 1659, não despertando interesse por causa da

grande aceitação do gás resultante do carvão, chamado gás de síntese, que foi o primeiro

combustível responsável pela iluminação de casas e ruas desde 1790. O gás natural passou a

ser utilizado em maior escala na Europa no final do século XIX, devido à invenção do

queimador Bunsen, em 1885 (por Robert Bunsen) - que misturava ar com gás natural -, e a

criação de um gasoduto à prova de vazamentos, em 1890. Mesmo assim, as técnicas de

construção eram modestas e os gasodutos tinham no máximo 160 km de extensão, impedindo

o transporte de grandes volumes a longas distâncias, e, consequentemente, reduzindo a

participação do GN no desenvolvimento industrial, marcado pela presença de óleo e carvão.

No final de 1930, os avanços na tecnologia de construção de gasodutos viabilizaram o

transporte do GN para longos percursos. O mercado industrial do gás natural era

relativamente pequeno até a II Guerra Mundial, quando então o gás natural tornou-se

extremamente disponível (NATGAS, 2013).

A Grã-Bretanha foi o primeiro país a levar o uso do GN na escala comercial o uso dele. Por

volta de 1785, o gás natural produzido a partir do carvão era usado para iluminar casas, além

da iluminação de ruas. (APGA, 2018).

2.1.6. Estados Unidos da América

Em 1816, o gás natural foi usado pela primeira vez para abastecer lâmpadas de rua em

Baltimore, Maryland. Pouco depois, em 1821, William Hart, considerado como o pai da

indústria de gás natural, perfurou um pequeno poço de gás natural perto do lago Erie, no

nordeste dos Estados Unidos. Depois transportou-o até casas próximas através de troncos

ocos. Na mesma região, bem antes do trabalho de William Hart, o gás natural de exsudação

foi descoberto e identificado na América em 1626, quando exploradores franceses

descobriram que os nativos americanos inflamavam gases saindo de dentro e ao redor do

Lago Erie. A indústria americana de gás natural teve seu começo nesta mesma região; em

1859, quando o coronel Edwin Drake (um maquinista ferroviário que adotou o título de

"Coronel" para impressionar as pessoas da cidade) perfurou o primeiro poço de

hidrocarboneto. Drake atingiu petróleo e gás natural a 69 pés abaixo da superfície da terra. A

maioria dos historiadores caracterizam esse trabalho de Drake como o início da indústria de

gás natural na América. Foi construída uma tubulação de duas polegadas de diâmetro, com 5

e ½ milhas do poço para a aldeia de Titusville, Pensilvânia. A construção deste oleoduto

provou que o gás natural poderia ser trazido de forma segura e relativamente fácil de sua

fonte subterrânea para uso prático.

O poço de Hart, o primeiro perfurado nos EUA exclusivamente para obter gás, era pequeno

por padrões modernos, com apenas 27 pés de profundidade. No entanto, foi pioneiro para a

indústria de gás natural do país. No mesmo ano, o primeiro gasoduto com fins comerciais

entrou em operação na cidade de Fredonia, fornecendo energia aos consumidores para

iluminação e preparação de alimentos. Hoje, o gás natural é a segunda maior fonte de energia

do país, depois do petróleo. Fundada por um grupo de empresários, a Fredonia Gas Light

Company abriu suas portas em 1858 (WYLIE, 2012).

2.1.7. Brasil

No Brasil, a instalação das primeiras lâmpadas de iluminação pública a gás iniciada em 1854

no Rio de Janeiro e 1873 em São Paulo, marcou o início da história deste energético gasoso

no país. O gás de iluminação era produzido a partir de carvão mineral, já o primeiro gás

canalizado no país era produzido a partir da hulha e nafta. A partir de 1936, o gás liquefeito

de petróleo (GLP) importado passou a ser usado para cocção.

A produção nacional de petróleo e gás no solo brasileiro teve início em 1949, no Recôncavo

Baiano. As empresas privadas daquela época recebiam autorização de exploração pelo

Conselho Nacional do Petróleo (CNP), mas devido ao anseio popular de que o Estado deveria

ter o controle d

da estatal Petrobrás em 1953. A partir daí a procura de jazidas de hidrocarbonetos se

intensificaram e o grande marco histórico da produção de gás nacional ocorreu com a

descoberta de gás na Bacia de Campos, sendo até hoje umas das maiores ofertas de gás no

território nacional (CECCHI et al, 2009).

3.Geologia e formação do gás natural

3.1.Definição e composição do gás natural

6 de Agosto 1997), o gás natural é

definido como a porção de petróleo que existe na fase gasosa ou em solução no óleo nas

condições originais de reservatório, e que permanece no estado gasoso em condições normais

de temperatura e pressão. Todos os gases (metano, nitrogênio, dióxido de carbono, etc.)

constituintes do gás natural são encontrados naturalmente na atmosfera. O gás natural é uma

mistura que compreende principalmente hidrocarbonetos. Os principais componentes metano,

etano e butano representam no mínimo cerca de 80% do total molar do gás natural

(THOMAS et al, 2001).

Fórmula Massa molar Densidade Ponto de ebulição

Metano CH4 16,04 g/mol 0.656 kg/m³ -161,5 °C

Etano C2H6 30.07 g/mol 1.36 kg/m³ -89 °C

Propano C3H8 44.1 g/mol 2.01 kg/m³ -42 °C

Butano C4H10 58.12 g/mol 2.48 kg/m³ -1 °C

Tabela1: Propriedades das principais componentes do gás natural (elaborada com dados do livro: Fundamentos de engenharia de petróleo, 2001).

3.2.Formação do gás natural

O gás natural é uma subcategoria de petróleo que ocorre naturalmente, é uma mistura

complexa de hidrocarbonetos, com uma pequena quantidade de compostos inorgânicos.

Geólogos e químicos concordam que o petróleo é originário de plantas e restos de animais

que se acumularam no fundo do mar / lago ao longo com os sedimentos ao longo do tempo e

que formaram rochas sedimentares. Os processos pelos quais o material orgânico é

convertido em petróleo não são totalmente compreendidos. Acredita-se que os fatores

contribuintes sejam a ação bacteriana; alta pressão durante a compactação, calor e destilação

natural em profundidade; possível adição de hidrogênio a partir de fontes profundas; presença

de catalisadores; e tempo (ALLISON, PALMER, 1980).

A origem e formação do gás natural são abordadas por várias teorias divergentes, mas a teoria

mais aceita é aquela que acredita que as formas naturais de gás surgiram a partir de restos de

microrganismos antigos, assim como matéria vegetal e animal que tenham sido submetidos a

condições de extremo calor e pressão ao longo do tempo. Com matéria orgânica enterrada por

quantidades crescentes de lodo e sedimentos ao longo do tempo, a pressão resultante das

forças subterrâneas comprimiu a matéria e ela foi submetida às altas temperaturas existentes

nas profundezas da terra. Compressão intensa e condições de alta temperatura causaram uma

transformação química resultando na formação de gás natural e outros combustíveis fósseis.

Outra forma de gás natural é gerada a partir de microrganismos, conhecida como

metanogênicos. Estes organismos microscópicos vivem em ambientes desprovidos de

oxigênio e decompõem quimicamente a matéria orgânica, criando metano como subproduto.

Ao contrário do gás natural, que é formado pela compressão da matéria orgânica sob intensa

pressão em grandes profundidades, o metano criado por metanogênicos é tipicamente

encontrado perto da superfície da Terra, onde os organismos vivem.

Uma vez que o gás natural é formado no interior da terra, sua baixa densidade faz com que

ele suba através do caminho de menor resistência, muitas vezes escapando da crosta terrestre

e dissipando para a atmosfera. Mas os depósitos de gás natural que são procurados para a

extração são formados quando uma rocha impermeável encapsula o gás natural no interior da

Terra, criando um reservatório e impedindo que o gás escape (MANUTENÇÃO E

SUPRIMENTO, 2018).

O tipo de hidrocarboneto gerado, óleo ou gás, é determinado pela constituição da matéria

original e pela intensidade do processo térmico atuante sobre ela. A matéria orgânica

proveniente do fitoplâncton, quando submetida a condições térmicas adequadas, pode gerar

hidrocarboneto líquido. O processo atuante sobre a matéria orgânica vegetal lenhosa poderá

ter como consequência a geração de hidrocarboneto gasoso. Considerando um ambiente

apropriado, após a incorporação da matéria orgânica ao sedimento, dá-se aumento de carga

sedimentar e de temperatura, começando, então a se delinear o processo que passa pelos

seguintes estágios evolutivos:

a) na faixa de temperatura mais baixas, até 65 °C, é determinante na atividade bacteriana

que provoca a reorganização celular e transforma a matéria orgânica em querogênio.

O produto gerado é o metano bioquímico ou biogênico. Este processo é denominado

de Diagênese;

b) Incremento de temperatura, até 165 °C, é determinante da quebra das moléculas de

querogênio e resulta na geração de hidrocarbonetos líquidos e gás Catagênese;

c) A continuação do processo, avançando até 210 °C, propicia a quebra das moléculas de

hidrocarbonetos líquidos e sua transformação em gás leve Metagênese;

d) Ultrapassando essa fase, a continuação do incremento de temperatura leva à

degradação do hidrocarboneto gerado, deixando como remanescente grafite, gás

carbônico e algum resíduo de gás metano Metamorfismo.

Figura3: Estágios da transformação termoquímica da matéria orgânica em hidrocarbonetos. (THOMAS, J., E., et al, 2001)

3.3.Reservatório de gás natural

Após ser formado, o gás natural acumula num reservatório no subsolo. O gás natural migra

da rocha mãe, onde foi formado, para uma rocha porosa onde é abrigado. Para que o gás

natural acumule, três coisas devem estar presentes: a rocha-mãe (materiais orgânicos

compactados) para a geração de gás natural; uma rocha porosa (reservatório) para abrigar o

gás gerado; e a rocha impermeável acima para prender o gás dentro do reservatório que é a

rocha porosa.

Durante a transformação da matéria orgânica pode resultar em um acúmulo de

hidrocarbonetos num reservatório com predominância de óleo e pouco gás ou o contrário. O

gás pode ser na forma de uma capa de gás na parte superior da zona de óleo ou pode ser

dissolvido no óleo. À medida que a profundidade aumenta, mais gás estará presente. A cerca

de 10.000 a 12.000 pés de profundidade, alguns dos reservatórios de petróleo mais prolíficos

do mundo contêm óleo leve de grau API (medida de densidade) entre 28 e 32. Eles também

coexistem com quantidades substanciais de gás, que, quando separado do óleo na superfície,

irá evoluir para 500 a 1.000 scf / stb (pés cúbicos padrão por barril óleo no tanque). Em

maiores profundidades, por exemplo, 17.000 pés e certamente para mais de 20.000 pés, os

reservatórios contêm quase exclusivamente gás natural. Assim, os reservatórios de gás

natural são classificados em categorias que seguem:

3.3.1.Reservatório de gás não associado

Estes são reservatórios que contêm quase totalmente gás natural nas condições do

reservatório. Eles geralmente são encontrados em maior profundidade. Se o fluido produzido

líquidos, ele é chamado de "reservatório de gás úmido". Deve-se enfatizar que, embora os

reservatórios de gás não associados sejam encontrados em profundidades maiores, a migração

para cima da rocha-mãe, em tempo geológico, pode resultar em reservatórios de gás pouco

profundos.

3.3.2.Reservatório de gás associado

Quase todos os reservatórios de petróleo, exceto aqueles classificados como extra pesados ou

de betume, produzem algum gás natural na superfície. O óleo produzido não é enviado em

um oleoduto comercial ou em um petroleiro com gás ainda na solução. O termo óleo do

tanque de estoque, que é usado tanto como medida para o desempenho do poço de petróleo

como no preço comercial do petróleo, significa que todo o gás associado foi removido do

líquido a uma pressão atmosférica. O gás liberado é conhecido como "gás associado".

A proporção de componentes de gás varia dependo da sua origem, seja de um campo de gás

natural ou de um gás liberado do óleo. A tabela2 ilustra tal diferença na composição.

Tabela2: Composição do gás natural (THOMAS, J., E., TRIGGIA, A., A., CARREIA, C., A., et al, 2001)

3.3.3.Reservatório de gás não convencional

O termo gás não convencional é amplamente utilizado, mas refere-se mais à configuração

geológica e ao tipo de rocha do que ao próprio gás, que é quase todo o metano. Quando o

termo foi cunhado, implicava que esses reservatórios apresentavam desafios operacionais ou

econômicos, ou ambos, que não seriam normalmente encontrados em reservatórios

convencionais.

Historicamente, os depósitos de gás natural convencional têm sido os depósitos mais práticos

e fáceis de produzir. No entanto, à medida que a tecnologia e o conhecimento geológico

avançam, os depósitos não convencionais de gás natural aumentam o seu percentual de

participação na oferta. O que foi considerado ontem não convencional pode ser convencional

amanhã, graças a algum novo processo ou avanço tecnológico. No sentido mais amplo, o gás

natural não convencional é mais difícil ou menos econômico de extrair, geralmente porque a

tecnologia necessária para a sua produção não está ainda desenvolvida ou pode ser cara.

Figura4: Diferentes tipos de reservatórios de gás natural (EIA, 2017)

A categoria de depósitos não convencionais de gás compreende os depósitos profundos,

depósitos de baixa permeabilidade (tight natural gas), gás natural de xisto (shale gas), metano

de carvão (coalbed methane), gás de zonas geopressurizadas, hidrato de metano e gás

dissolvido na água.

3.3.3.1.Gás natural de depósito profundo

Um depósito profundo de gás natural (Deep Natural Gas) é aquele que existe em

profundidade muito maior, além das profundidades de perfuração "convencionais". Este gás

situa-se tipicamente na profundidade de 15.000 pés ou mais, um pouco mais profundo do que

os depósitos de gás convencionais, que ficam geralmente a apenas alguns milhares de metros

de profundidade, no máximo. Nos últimos anos, o depósito profundo de gás, tornou-se mais

convencional. As técnicas de exploração, perfuração e produção em reservatórios profundos

evoluíram muito, tornando economicamente viável a explotação de gás natural em tais

reservatórios. No entanto, a produção de gás natural de reservatórios profundos ainda é mais

cara do que o gás natural convencional e, portanto, as condições econômicas devem ser

favoráveis para que se decida produzir o gás de um reservatório profundo.

3.3.3.2.Depósito de baixa permeabilidade (Tight Natural Gas)

confinado em uma formação subterrânea específica. O gás fica preso em rocha dura com

baixíssima permeabilidade, ou em uma formação de arenito ou calcário que é impermeável e

não porosa (tight sand). Em um depósito de gás natural convencional, uma vez perfurado, o

-se de muito mais esforço na extração. Existem várias técnicas que permitem

extrair gás natural, o fraturamento e a acidificação são algumas delas. No entanto, essas

técnicas também são muito caras. Como para todo depósito não convencional de gás natural,

é preciso condições econômicas favoráveis para que empresas extraiam o tight natural gas.

O tight gas mais comum formado em arenitos ou carbonatos, refere-se a formações de baixa

permeabilidade com permeabilidades inferiores a 1 md e muitas vezes tão baixas quanto

0,001 md. Em tais reservatórios pouco permeáveis, essencialmente não é possível que grande

parte do gás flua naturalmente. O fraturamento hidráulico, uma técnica muito praticada na

indústria do petróleo, foi amplamente expandida nas décadas de 1970 e 1980 e visou esses

reservatórios. Nos Estados Unidos e no Canadá, o tight gas já é uma parte considerável na

produção nacional.

3.3.3.3. Gás natural de xisto (Shale Gas)

O gás natural também pode existir nos depósitos de xisto formados a partir da lama

acumulada em águas rasas há cerca de 350 milhões de anos. Em alguns locais do mundo essa

lama depositada era rica em matéria orgânica, o que possibilitou a formação de gás natural

incorporado na rocha. O xisto é uma rocha sedimentar muito fina, que é facilmente friável e

se encontra em camadas finas e paralelas, é uma rocha muito macia, mas não se desintegra

quando fica molhada. Devido a algumas das propriedades desses folhelhos, a extração de gás

natural a partir de formações de xisto é mais difícil e talvez mais cara que a do gás natural

convencional. O xisto pode ter até 12% de porosidade, no entanto, os valores da

permeabilidade são geralmente menores que 1 md. É por isso que se precisa promover a

fratura da rocha para possibilitar a produção do gás nela contido (CECCHI, 2010).

3.3.3.4. Metano de carvão (Coalbed Methane)

O carvão, outro combustível fóssil, é formado no subsolo sob condições geológicas

semelhantes às do gás natural e do petróleo. Estes depósitos de carvão são comumente

encontrados em camadas e são extraídos cavando até as camadas para remover o carvão.

Muitas camadas de carvão também contêm gás natural, seja dentro da própria camada ou da

rocha circundante. Este metano de carvão fica preso no subsolo e geralmente não é liberado

na atmosfera até que as atividades de mineração de carvão facilite a sua liberação. Em geral,

o metano de carvão tem sido considerado uma ameaça para a segurança na indústria de

mineração de carvão pois quando se extrai carvão na mina, o metano do carvão é liberado e

invade a área da mina. Tal situação não é desejável pois uma concentração muito alta de

metano num lugar confinado é um perigo para os mineradores de carvão. É por isso que

antigamente o metano que se acumulava em uma mina de carvão era intencionalmente

liberado na atmosfera. Hoje, no entanto, o metano de carvão tornou-se uma forma popular

não convencional de gás natural. Esse metano pode ser extraído e injetado em gasodutos para

aproveitamento como matéria-prima industrial ou usado como combustível. Os poços

perfurados nesses depósitos são fraturados hidraulicamente para permitir a produção de

metano (CECCHI, 2010).

3.3.3.5.Gás de zonas geopressurizadas

As zonas geopressurizadas são formações subterrâneas naturais que estão sob pressão

anormalmente alta em relação a sua profundidade. Essas áreas são formadas por camadas de

argila que são depositadas e compactadas muito rapidamente em cima de materiais

absorventes mais porosos, como areia ou silte. Água e gás natural que estão presentes nesta

argila são espremidos pela rápida compressão da argila, e entram na areia mais porosa ou

depósitos de silte. O gás natural, devido à compressão da argila, é depositado nesta areia ou

silte sob alta pressão. Além de apresentar essas propriedades, as zonas geopressurizadas são

normalmente localizadas a grandes profundidades, geralmente entre 10.000 e 25.000 pés

abaixo da superfície da Terra. A combinação de todos esses fatores torna a extração de gás

natural em zonas geopressurizadas bastante complicada (NATGAS, 2013).

3.3.3.6. Hidrato de metano

O hidrato de metano é uma possível fonte não convencional de gás natural formado por

estrutura cristalina de água congelada que, em escala molecular, forma uma espécie de

"gaiola" ao redor do metano. Os hidratos têm aparência de neve em derretimento e foram

descobertos na região de permafrost, no Ártico. Sua formação é favorecida em temperaturas

relativamente baixa e pressões relativamente altas. Eles são fontes de gás, visto que a

dissociação de um metro cubo de hidrato resulta em 164 m³ de metano em condições normais

de temperatura e pressão. Segundo a US Geological Survey, o hidrato de gás é estimado

conter mais carbono orgânico que a soma de todas as reservas mundiais de petróleo, carvão e

gás natural, porém, o hidrato de gás é ainda uma fonte de gás cuja exploração está em estudo

para que se viabilize a produção do seu gás; há ainda indagações sobre o impacto da

exploração do metano do hidrato sobre o ciclo natural do carbono no meio ambiente

(NATGAS, 2013).

3.3.3.7. Gás metano no lago Kivu: gás dissolvido na água

Considerando a definição dada para o conceito de reservatório não convencional de gás, pode

se classificar o gás metano explorado no lago Kivu como não convencional.

O lago Kivu é um dos lagos da região de grandes lagos na zona africana de rift valley no

centro leste do continente. Este lago que se encontra numa zona vulcânica na fronteira entre a

República democrática do Congo e o Rwanda, se situa a 1463 m acima de nível do mar e tem

uma superfície de água de 2370 km² com profundidade máxima de 485 m. A coluna de água

do lago é caraterizada por um aumento de temperatura, salinidade e de concentração de gás

com a profundidade. A zona de água oxigenada e que sofre mistura vai da superfície até a

profundidade máxima de 63 m. Abaixo dessa zona oxigenada, as diferentes camadas são

homogêneas e estáveis. O lago é então permanentemente estratificado, o que favorece o

confinamento do gás nas suas camadas profundas. Segundo a organização de monitoramento

do lago, Lake Kivu monitoring programme, este lago contém mais metano do que qualquer

outro. Apesar da grande quantidade de metano contido nele, é o lago que emite menos

metano para atmosfera devido a estratificação da parte profunda do seu corpo de água e da

presença de microrganismo que degrada o gás que consegue escapar da barreira da água,

antes que atinja a atmosfera. (ULG, 2015).

Figura5: A região africana de grandes lagos (université de Liège, 2016)

A quantidade de gás dissolvido na água do lago é estimado a 60 km³ de metano e 300 km³ de

CO2. (PASCHE et al, 2011). Através de fendas rochosas, as camadas profundas da água

recebem gases e minerais, incluindo o dióxido de carbono e o hidrogênio, provenientes de

locais subterrâneos de atividades vulcânicas. Estima-se que dois terços do metano acumulado

na água é produzido por ação microbiana que causam uma reação de redução do dióxido de

carbono por hidrogênio, ambos de origem mineral, para formar o metano. E o outro um terço

é o biometano gerado por microrganismos a partir da matéria orgânica que se acumula

continuamente no fundo do lago. Assim, o lago Kivu pode ser considerado como um

biodigestor natural. Estima-se que a quantidade de metano no lago aumentou até 15% nos

últimos 30 anos (PASCHE et al, 2011). O contínuo acúmulo de gás no fundo do lago

apresenta um perigo para pessoas e animais que vivem nas proximidades do lago, pois

quando a saturação de gás na água será atingida, há risco de acontecer uma explosão por

excesso de pressão e o fato do lago estar situado numa zona com atividade vulcânica e

sísmica piora ainda a situação pois podem perturbar o atual equilíbrio e provocar um brusco

estouro de grande quantidade gás. Em Camarões, tal tragédia já aconteceu em dois outros

lagos saturados de dióxido de carbono: em 1984, 37 pessoas morreram asfixiadas após o

estouro de dióxido de carbono do lago Monoun. Em 1986, no outro lago vizinho, Nyos,

houve estouro de mais de 80 milhões de m³ de CO2 que acabou matando por asfixia 1700

pessoas e 3500 animais de rebanho. A exploração do metano do lago Kivu é então

considerada como uma atividade de importância econômica e uma medida de segurança pois

a produção de gás permite aliviar o contínuo acúmulo de pressão (COUNTOURGLOBAL,

2017).

Figura6: Fornecimento do material vulcânico (CO2 e H2) usado por microrganismos para sintetizar parte do metano no lago Kivu (imagem adaptada tirada do vídeo do projeto KivuWatt-Rwanda). A empresa americana ContourGlobal com seu projeto Kivuwatt desenvolveu a tecnologia

que permitiu, a partir de dezembro 2015, explorar o metano do lago Kivu para a produção

elétrica no Rwanda. O mecanismo de produção consiste em coletar água pressurizado e

concentrada em metano numa profundidade de aproximadamente 300 m. A despressurização

da água de 35 bars para 2 bars num separador na plataforma, libera o gás que é purificado,

tirando o CO2 e outras impurezas, para depois ser enviado para uma planta termoelétrica que

produz eletricidade. A água descartada não é reposta na superfície do lago mas é reinjetada

numa certa profundidade (COUNTOURGLOBAL, 2017).

Figura7: Planta de extração de gás metano concentrado nas aguas das camadas profundas do lago Kivu (ULG, 2016).

4. Cadeia de valor do gás natural

A cadeia de valor de gás natural compreende as atividades que visam acrescentar o valor ao

gás, inicialmente contido no reservatório, para que chegue ao consumidor pronto para ser

usado. Essas atividades são agrupadas em três categorias: o upstream, midstream e

downstream, dependendo das atividades relativas à exploração, produção e processamento

para o primeiro caso, transporte e estocagem para o segundo e para o terceiro, as atividades

ligadas à distribuição e venda ao consumidor final.

Figura8: Cadeia de valor do gás natural (FGV, 2014)

4.1.Exploração, produção e processamento de gás natural

A exploração de gás natural começa com a localização das suas jazidas. A prática de

localização de depósitos de gás natural e petróleo evoluiu muito nos últimos 20 anos com o

advento de uma tecnologia engenhosa e extremamente avançada. Nos primórdios da

indústria, a única maneira de localizar depósitos subterrâneos de hidrocarbonetos era procurar

evidências superficiais dessas formações subterrâneas. Aqueles que procuravam gás natural

vasculhavam na superfície da terra para encontrar locais em que o gás emanava naturalmente

do subsolo através de fendas que chegam à superfície; esse fato servia como pista de que

jazidas de hidrocarbonetos estavam no subsolo. Tal processo de exploração era ineficiente

por que apenas uma pequena quantidade de jazidas poderia se manifestar pelas emanações na

superfície. Com o enorme aumento na demanda por energia fóssil no passar dos anos, houve

a necessidade de descobrir novos métodos mais eficientes na localização de jazidas. Hoje em

dia, a geologia e a geofísica auxilia muito nessa busca, para localizar o gás natural, são

usados mapeamentos geológicos, pesquisas e fotografias aéreas. As tecnologias recentes

estão ajudando a encontrar o gás natural com mais precisão.

4.1.1. Tecnologias usadas na prospecção

a) Imagem de satélite:

Auxilia na identificação de estruturas e padrões de superfície na busca por provável

depósitos de hidrocarboneto;

b) Magnetometria:

Auxilia na medição do campo magnético da rocha base para determinar quanto

sedimento está acima dela, isso é possível através do uso de magnetômetros, que são

dispositivos que podem medir as pequenas diferenças no campo magnético da Terra;

c) Gravimetria:

Auxilia na determinação da espessura da camada de rocha sedimentar ou da bacia e

também na identificação da topografia da rocha base. Diferentes formações

subterrâneas e tipos de rochas têm um efeito ligeiramente diferente no campo

gravitacional que envolve a Terra, medindo essas diferenças mínimas com

equipamentos muito sensíveis. Os geofísicos são capazes de analisar formações

subterrâneas e desenvolver uma visão mais clara sobre os tipos de formações abaixo

do solo, e se as formações têm ou não o potencial de conter hidrocarbonetos como o

gás natural;

d) Sismologia:

É baseada na reflexão da onda sonora e medição de tempo de viagem da onda para

várias unidades rochosas que refletem a energia acústica. O conceito básico de

sismologia é bastante simples. Como a Terra é composta de diferentes camadas, cada

uma com suas propriedades, a energia viajando no subsolo, na forma de ondas

sísmicas, interage de forma diferente com cada uma dessas camadas. Embora o

sismógrafo tenha sido originalmente desenvolvido para medir terremotos, descobriu-

se que o mesmo tipo de vibrações e ondas sísmicas poderia ser produzido

artificialmente e usado para mapear formações geológicas subterrâneas. Essas ondas

sísmicas emitidas por uma fonte viajam pela Terra mas também sâo refletidas de volta

à fonte pelas diferentes camadas subterrâneas.Em tais testes, caminhões sísmicos ou

ferramentas sofisticadas são usados para o escaneamento tridimensional do subsolo. É

então liberada uma série cargas acústicas nas proximidades da superfície da Terra

para gerar ondas sísmicas enviadas a milhares de metros abaixo do solo em formações

rochosas. Medindo os tempos de viagem dessas ondas através da Terra em receptores

acústicos conhecidos como geofones e hidrofones, dependendo de se a sismologia é

onshore (e) ou offshore (f), os geofísicos podem constituir uma imagem da estrutura

do subsolo e identificar potenciais depósitos de gás. Entretanto, para verificar se a

formação rochosa realmente contém quantidades economicamente recuperáveis de

gás natural ou outros hidrocarbonetos, a perfuração de poços exploratórios é

necessária.

e) Sismologia Onshore:

Quando a prospecção está sendo feita na Terra (onshore), equipamentos específicos

são usados para fazer a simologia. Na prática, o uso da sismologia para explorar áreas

onshore envolve a criação artificial de ondas sísmicas, cujo reflexo é então captado

dados coletados por esses geofones são então transmitidos para um caminhão de

gravação sísmica, que registra os dados para posterior interpretação por geofísicos e

engenheiros de reservatórios de petróleo. No início do uso da sísmica na prospecção,

as ondas sísmicas eram criadas usando dinamite. Essas explosões cuidadosamente

planejadas criam as ondas sísmicas que viajam na subsuperfície, e as partes refletidas

são então captadas pelos geofones, gerando dados para análise. Recentemente, devido

a preocupações ambientais e tecnologia aprimorada, muitas vezes não é mais

necessário usar cargas explosivas para gerar as ondas sísmicas. Em vez disso, a

maioria das equipes sísmicas usa tecnologia sísmica não explosiva. Essa prática

geralmente consiste em um grande veículo de rodas pesadas ou de esteira que

transporta equipamentos especiais projetados para criar um grande impacto ou uma

série de vibrações. Esses impactos ou vibrações criam ondas sísmicas semelhantes às

criadas pela dinamite.

f) Sismologia Offshore:

No caso de prospecção em um corpo de água (offshore), como no mar, o mesmo tipo

de processo mas com equipamentos adaptados a este tipo de ambiente. Ao explorar o

gás natural que pode existir a milhares de metros abaixo do fundo do leito do mar, que

pode por sua vez estar a milhares de metros abaixo do nível do mar, um método

ligeiramente diferente de exploração sísmica é usado. Em vez de caminhões e

geofones, um navio é usado para recolher os dados sísmicos e os hidrofones são

usados para captar ondas sísmica. Esses hidrofones são rebocados atrás do navio em

várias configurações, dependendo das necessidades do geofísico. Em vez de usar

dinamite ou impactos no leito do mar, usa-se canhões de ar que liberam ar

comprimido sob a água, criando ondas sísmicas que podem viajar pela crosta terrestre

e gerar as reflexões sísmicas que serão captadas por hidrofones.

g) Poços exploratórios:

A melhor maneira de obter uma compreensão completa da geologia do subsolo e do

potencial de depósitos de gás natural existentes em uma determinada área é perfurar

um poço exploratório. Isso consiste em escavar a crosta terrestre para permitir que os

geólogos estudem a composição das camadas de rochas subterrâneas em detalhes.

Além de procurar por depósitos de petróleo e gás natural perfurando um poço

exploratório, os geólogos também examinam os cascalhos e os fluidos emanantes para

obter uma melhor compreensão das características geológicas da área. Perfurar um

poço exploratório é caro e demorado. Por isso, os poços exploratórios são apenas

perfurados em áreas onde outros dados indicaram uma alta probabilidade de se

encontrar acumulo de hidrocarbonetos.

h) Outros tipos de testes complementares:

São registrados outros tipos informações através de outros testes (logging) durantes

ou após o processo de perfuração para permitir que geólogos e operadores de

perfuração monitorem o progresso da perfuração do poço e obtenham uma imagem

mais clara das formações subsuperficiais. Existem muitos tipos diferentes de registro,

de fato; mais de 100 tipos diferentes de logging que podem ser realizados entre eles

podemos citar o teste padrão(standard), elétrico, acústico, direcional, nuclear, teste de

radioatividade, densidade, indução, paquímetro, etc. Mas essencialmente eles

consistem em uma variedade de testes que revelam a verdadeira composição e

características das diferentes camadas de rocha pelas quais o poço passa. O logging

também é essencial durante o processo de perfuração. Os registros de monitoramento

podem garantir que o equipamento de perfuração correto seja usado e que a

perfuração não seja prosseguida se condições desfavoráveis são observadas.

i) Interpretação de dados:

Existem muitas fontes de dados e informações para o geólogo e o geofísico usarem na

exploração de hidrocarbonetos. No entanto, somente esses dados brutos seriam inúteis

sem uma interpretação cuidadosa e metódica. Assim como montagem de um quebra-

cabeça, os geofísicos usam todos os tipos de dados disponíveis para criar um modelo

ou dar uma inferência sobre a estrutura das camadas de rocha no subsolo. O uso da

tecnologia computacional facilitou muito esse trabalho de interpretação, fala-se então

de uma exploração assistido por computadores que é abreviado em inglês CAEX

(Computer assisted exploration). Algumas técnicas, incluindo a exploração sísmica,

levam à construção manual ou computadorizada de uma imagem para interpretação

das formações subterrâneas. Outras fontes de dados, como as obtidas a partir de

testemunhos ou por meio de logging, são levadas em conta pelo geólogo ao

determinar as estruturas geológicas do subsolo.

A interpretação de sísmica 2D consiste em elaborar uma imagem bidimensional a

partir de dados sísmicos coletados e com isso, caracterizações como espessura de

camadas rochosas, presença de hidrocarbonetos podem ser reveladas. A interpretação

da sísmica 3D, uma técnica mais avançada do que a anterior, passa pela elaboração de

uma imagem em três dimensões baseada nos dados sísmicos, permitindo uma ideia

mais clara do que está no subsolo. Esta tecnologia tem sido importante em elevar a

taxa de sucesso nas operações de exploração. De fato, estima-se que o uso de sísmica

3D aumenta a probabilidade de sucesso da localização do reservatório em 50%.

Apesar da sísmica 3D ser mais precisa do que a sísmica 2D, ela é mais cara, mais

trabalhosa e demorada. Por isso, a modelagem geralmente é realizada com a sísmica

2D para examinar se existe uma probabilidade da presença de gás natural. Depois

disso, pode-se recorrer à imagem sísmica 3D, aplicada somente nas áreas com alta

probabilidade de ter depósito de gás natural. A sísmica 4D, é a versão evoluída ou

extensão da sísmica 3D na qual foi acrescentada uma quarta dimensão, o tempo. Com

a sísmica 4D em vez de obter apenas uma imagem simples e estática do subsolo como

no caso da sísmica 3D, é acrescentado um dinamismo com a combinação de

permite que mudanças nas estruturas e

propriedades das formações subterrâneas sejam observadas ao longo do tempo. Como

a quarta dimensão na geração de imagens em 4D é o tempo, ela também é chamada

4D podem auxiliar na

avaliação das propriedades de um reservatório, incluindo como se espera que ele seja

depletado com a produção de hidrocarbonetos. A utilização de imagens 4D em um

reservatório pode elevar as taxas de recuperação acima do que pode ser obtido usando

a sísmica 2D ou 3D. Onde as taxas de recuperação vão de 25 a 30 por cento e de 40 a

50 %, respectivamente. Enquanto que para sísmica 4D, pode-se alcançar valores de 65

a 70 %, garantindo assim grandes retornos sobre os investimentos feitos.

4.1.2. Desenvolvimento e Produção

A etapa de produção ocorre após a finalização do trabalho de prospecção que confirma a

presença de depósito de gás. Para decidir sobre a perfuração de um poço, vários fatores são

considerados, incluindo o potencial econômico do reservatório. Custa muito dinheiro para as

empresas de exploração e produção procurarem e perfurarem poço de gás natural, e há

sempre o risco inerente de que o mesmo não seja encontrado. A localização exata do local da

perfuração depende de muitos fatores, incluindo a natureza da formação a ser perfurada, as

características da geologia do subsolo e a profundidade e tamanho do reservatório alvo.

Depois que a equipe geofísica identifica a localização ideal para um poço, é necessário que a

empresa de perfuração garanta que ela conclua todas as etapas necessárias para que possa

perfurar legalmente a área. Isso geralmente envolve a obtenção de licença para as operações

de perfuração, o estabelecimento de um arranjo legal para permitir que a empresa de gás

natural extraia e venda os recursos em uma determinada área e o estabelecimento de linhas de

coleta que conectem o poço ao gasoduto.

Se o novo poço, uma vez perfurado, de fato entrar em contato com os depósitos de gás

natural, ele é desenvolvido para permitir a extração, sendo denominado poço de

"desenvolvimento" ou de "produção". Neste ponto, com o poço perfurado e os

hidrocarbonetos presentes, o poço pode ser completado. No entanto, se a equipe de

exploração estava incorreta em sua estimativa da existência de uma quantidade

economicamente viável, o poço é denominado "poço seco" e a produção não prossegue.

Perfurações onshore e offshore apresentam ambientes de perfuração únicos, exigindo técnicas

e equipamentos especiais. Tanto para perfurar um poço quanto para produzir, é necessário a

instalação de uma plataforma (sonda) de perfuração ou de produção, cujo o tipo depende do

ambiente que pode ser onshore, offshore, de água rasa ou de água profunda. Para exploração

onshore uma sonda fixa é usada, já que para exploração offshore, pode-se usar outros tipos

além da fixa. Um navio sonda, uma plataforma semi-submersível, plataforma auto-elevavél,

spar Buoy, FPSO (floating production storage and offloading) ou navio plataforma (usada

apenas para produção e estocagem), TLP (tension leg platform) ou plataforma de pernas

atirantadas (usada mais para produção do que para perfuração), podem ser utilizados.

O gás natural, como existe no subsolo, não é exatamente o mesmo que o gás natural que

passa pelos gasodutos até chegar aos consumidores. O gás natural, como o usamos, é quase

inteiramente metano diferentemente de como se encontra naturalmente na jazida onde é

associado a uma variedade de outros compostos e gases, bem como óleo e água e outros

compostos, que devem ser removidos. O gás natural transportado através de gasodutos deve

atender às especificações de pureza estabelecidas. A maioria do processamento de gás

natural ocorre próximo ao poço.

4.2. Transporte de gás natural

Depois de passar nas UPGN (Unidade de processamento de gás natural), o gás natural atinge

a especificação requerida e é transportado até os consumidores. O transporte de gás natural é

feito de várias formas, pode ser transportado na forma liquefeita em navio criogênica para

transporte marítimo muito longo. Recipientes especiais são também usados para o transporte

de gás comprimidos mas para um fornecimento contínuo numa região específica, a forma

tradicional de transporte é por meio de gasodutos. Um sistema de gasoduto de transporte de

gás natural compreende os seguintes componentes:

a) Dutos de transmissão:

São tubos fortes feitos de aço carbono em geral e especificados segundo padrões

estabelecidos em um dado país. No Brasil, as condições mínimas exigíveis em projetos

de sistemas de transmissão e distribuição de gás combustível são fixadas pela norma

ABNT NBR12.717. O gasoduto principal, como o GASBOL, tem diâmetro que varia

de 16 a 32 polegadas (Petrobrás, 2018). Enquanto que os gasodutos secundários

(laterais) podem ter diâmetro que varia entre 6 a 16 polegadas. O tubo é coberto com

um revestimento específico para evitar corrosão uma vez colocado no chão. O objetivo

do revestimento é proteger o tubo da umidade, que causa corrosão e ferrugem. Existem

várias técnicas de revestimento diferentes. Antes, os dutos eram revestidos com um

esmalte de alcatrão de carvão. Hoje em dia, os tubos costumam ser protegidos com

uma camada de epróxi fundido (fusion bonde proxy), o que dá ao tubo uma cor azul

clara perceptível. Além disso, a proteção catódica é frequentemente usada; que é uma

técnica que consiste em aplicar uma corrente elétrica através do tubo para evitar

corrosão e ferrugem.

b) Estações de compressão:

O gás natural que passa por gasoduto precisa ser pressurizado ao longo do caminho

para garantir o seu transporte na vazão adequada. Para isso, são colocadas estações de

compressão, geralmente colocadas em intervalos de 60 a 160 Km ao longo do duto. O

gás natural entra na estação de compressão, onde é comprimido por um compressor a

turbina ou a motor que muitas vezes usa uma pequena proporção do próprio gás

natural transportado como seu combustível. Além de comprimir o gás natural para

garantir em gasodutos pressões que vão de 200 a 1500 psi (libra por polegada

quadrada) e comprimido assim o gás até 600 vezes, as estações de compressão

também costumam conter algum tipo de separador de líquido. Esses separadores são

parecido com aqueles utilizados para desidratar o gás natural durante o seu

processamento. Embora o gás natural transportado por gasoduto seja considerado

como um gás seco (sem líquido), não é incomum que uma certa quantidade de água e

hidrocarbonetos se condense na corrente de gás durante o transporte. Os separadores

de líquido nas estações de compressão garantem que o gás natural na tubulação seja o

mais puro possível e geralmente o gás é filtrado antes de ser comprimido.

c) Estações de medição:

São colocadas ao longo do gasoduto para monitorar o fluxo de gás. Estas estações de

medição que funcionam como posto de controle, possuem equipamentos para

monitorar o volume e a velocidade do gás.

d) Válvulas de segurança:

São válvulas de bloqueio colocadas no intervalo de 5 a 20 milhas (8 a 32 km) e são

usadas em caso de necessidade de bloqueio do fluxo para um caso de vazamento ou

para permitir a manutenção em um trecho, por exemplo.

e) Estações de controle:

Como uma empresa de transporte de gás natural tem clientes em ambas as

extremidades do gasoduto, isto é, fornecedor a montante e consumidores a jusante, é

importante sempre estar monitorando a quantidade de gás entregue e recebida por

ambos os lados além de exercer o controle sobre todo o sistema de gasoduto. Para

realizar esta tarefa, são instalados centros (estações) que coletam, processam e

gerenciam os dados recebidos das estações de medição e de compressão ao longo do

gasoduto. Um sistema computadorizado de controle e aquisição de dados, em inglês

SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) é usado para permitir a

visualização na tela de todos os parâmetros do gasoduto, que abrangem pressão, vazão,

temperatura, alarmes e composição do gás natural. Esse sistema funciona em tempo

real, permitindo que os engenheiros saibam o que está acontecendo em todos os

momentos. Assim podem realizar rápidas intervenções em casos de falhas no

equipamento, vazamentos ou qualquer outro tipo de problema. Alguns sistemas

SCADA permitem operar remotamente equipamentos ao longo do gasoduto e estações

de compressão fazendo com que engenheiros no centro de controle façam ajustes no

fluxo de gás de forma fácil e rápida.

f) City gates:

Um city gate ou ainda ponto de entrega é local onde o gás é passado da linha de

gasoduto de transporte a alta pressão para as linhas de gasodutos de distribuição a

baixa pressão. O city gate é um conjunto de equipamento faz filtração, medição,

aquecimento e principalmente redução de pressão do gás para alimentar o sistemas de

gasodutos de distribuição operados por concessionários que entregam o gás aos

consumidores finais.

4.3.Estocagem de gás natural

Nem todo o gás produzido ou que chega num dado mercado de consumo, é efetivamente

consumido. Há uma quantidade que sobra e que deve ser guardada para ser consumido depois

e, para isso, usa-se instalações de armazenamento. Essas instalações de armazenamento são

vantajosos quando localizadas perto de locais de consumo, sobretudo aqueles que não

possuem um suprimento de gás local, ou têm produção muito abaixo da demanda. O gás

natural armazenado também serve como providência no caso de acidentes, desastres naturais

ou outras ocorrências imprevisíveis que possam afetar a produção ou a entrega de gás natural.

A sazonalidade da demanda por gás natural é outro motivo pelo qual se deve dispor de

instalações para o seu armazenamento. De fato, o gás natural tem sido um combustível

sazonal em muitos países grandes consumidores onde a demanda é geralmente maior durante

o inverno devido a maior necessidade de aquecimento em ambientes residenciais e

comerciais. Assim, nesses países, o gás natural armazenado desempenha um papel vital para

garantir que qualquer excesso de oferta entregue durante os meses de verão esteja disponível

para atender à demanda crescente dos meses de inverno, porém, com a recente tendência de

geração elétrica a partir do gás natural, a demanda por gás natural durante os meses de verão

está aumentando também devido à maior demanda por energia elétrica para alimentar

aparelhos de condicionamento de ar. Os agentes do setor da indústria de gás recorre também

à estocagem de gás natural para garantir maior ganho ao estocar o gás nos períodos de preços

baixos e colocar o gás no mercado quando os preços estão altos.

O gás natural pode ser armazenado por um período infinito de tempo em locais de

armazenamento que podem ser artificiais ou naturais. Os reservatórios naturais de

armazenamento de gás apresentam a vantagem de ter uma grande capacidade em termo de

volume de armazenamento. Os locais de armazenamento naturais consistem em reservatórios

subterrâneos que pode um um antigo reservatório de gás já depletado, um aquífero ou uma

caverna de sal.

4.3.1.Reservatório depletado

O uso de reservatórios de gás ou de óleo que já chegaram ao fim da sua produção recuperável

é a forma de armazenamento subterrâneo mais comum. O primeiro armazenamento

subterrâneo bem sucedido de gás natural ocorreu em 1915 em Weland County, Ontario, no

Canada e desde então a prática se popularizou. A vantagem que apresenta este modo de

estocagem é que as características geológicas de tais reservatórios já são conhecidas

reduzindo assim as incertezas e o fato do reservatório depletado conter um certo volume de

gás irrecuperável diminui as perdas no volume de gás que será armazenado, além disso, há

aproveitamento das instalações de produção e distribuição que eram usadas quando o

reservatório produzia. Isso faz com que o custo de conversão de um reservatório depletado

em local de estocagem de gás, seja mais baixo que para os dois outros tipos que serão

abordados adiante. Os reservatórios depletados, em média, são os mais baratos e fáceis de

desenvolver, operar e manter. Reservatórios depletados mais propicios para ser convertido

em armazém de gás natural são aqueles apresentam uma alta porosidade e permeabilidade e

são situados nas proximidades das infraestruturas de transporte de gás, que pode ser um

gasoduto.

4.3.2. Aquífero

Aquíferos são também usados como locais de armazenamento de gás natural. Esses

reservatórios porosos e permeáveis que contêm naturalmente água, no entanto, em certas

situações, podem ser recondicionadas e usados como instalações de armazenamento de gás

natural. Apesar de apresentarem menos vantagens que os dois outros tipos por serem mais

caros de desenvolver, os aquíferos são uma opção de armazenamento de gás natural para

regiões com grande demanda e que não possui outra forma mais econômica de estocagem. O

que torna caro o uso que um aquífero como armazém de gás é que primeiro precisa-se

investir na prospecção para localizar um aquífero e deve-se em seguida investir no

desenvolvimento do mesmo aquífero instalando equipamentos necessários, além de poços,

para que seja possível estocar e tirar gás. Outra desvantagem do uso de aquífero é que há

muita perda no volume de gás injetado pois, ao contrário de um reservatório de gás depletado

que já contém o seu próprio gás irrecuperável ajudando a fornecer pressão que possibilita a

retirada do gás armazenado, um aquífero não contem gás que providencie uma tal pressão e

por isso na primeira estocagem de gás, grande parte do gás injetado não é mais retirada. Neste

caso, até 80% de gás acaba ficando no aquífero para servir como gás de amortecimento que

tem função de fornecer pressão para facilitar a retirada do gás que será injetado futuramente.

Mesmo que seja possível retirar parte deste gás de amortecimento antes de parar as atividades

de estocagem, opta-se pelo seu abandono pois há risco de colapso da formação do aquífero.

Este fato faz com que o investimento na conversão de um aquífero em armazém de gás seja

feita preferencialmente quando o preço do gás é mais baixo para minimizar as perda pelo

abandono de tal quantidade de gás injetado. Outra desvantagem é que o gás retirado deste

tipo de armazém requer tratamento para separar água que se incorporou ao gás durante o

armazenamento pois o aquífero contém água. Além disso, questões ambientais podem

restringir o uso de aquíferos como armazém de gás natural em alguns lugares.

4.3.3.Caverna salina

Outra opção de armazenar o gás natural é com uso de caverna de sal. Após a localização de

uma formação subterrânea de sal, faz-se poços até a formação por onde água será circulada

para dissolver parte do sal por lixiviação e assim formar um espaço vazio na formação

podendo conter o gás natural. A estocagem de gás natural numa caverna salina tem a

vantagem de ter grande capacidade de entrega de gás no momento da sua retirada e não

ocasiona muita perda de gás como no caso de um aquífero, apenas cerca de 33% do volume

de gás injetado fica como gás de amortecimento contra 88% no caso de um aquífero. As

limitação deste modo de armazenamento é relativa à sua baixa capacidade de armazenamento

em relação aos dois primeiros; a maioria das formações salinas não tem espessura muito

grande limitando assim o volume da caverna que se pode criar. Uma caverna salina pode ter

um volume cem vezes menor que o de um reservatório de gás depletado.

4.4. Medidas de segurança e distribuição de gás natural

Após ser produzido, processado e transportado, o gás natural é finalmente entregue aos

consumidores finais. Alguns grandes clientes industriais, comerciais e de geração elétrica

recebem o seu gás natural diretamente do gasoduto principal de transporte enquanto que os

consumidores de menor porte recebem o gás por intermédio de concessionárias locais,

conhecidas também como as empresas de distribuição de gás. Essas empresas de distribuição

levam o gás para seus clientes por meio de um sistema de gasodutos de baixa pressão que

recebe o gás das linhas de gasodutos de alta pressão a partir dos city gates. Um sistema de

gasoduto de distribuição dispõe também de bombas de baixa pressão para manter o gás na

pressão requerida, as linhas que entregam gás para moradias têm pressão abaixo de 10 psi e o

gás pode chegar no medidor do cliente a uma pressão tão baixa quanto 0,25 psi.

Para a rede de distribuição são usados tubos rígidos de aço ou tubos corrugados flexíveis de

plástico e aço inoxidável que barateiam e facilitam a instalação. Pode haver também uso de

sistemas eletrônicos de leitura e medição que enviam remotamente o registro de consumo dos

clientes para concessionárias ajudando a cortar assim os custos com os agentes que se

precisaria para fazer o trabalho de registrar o consumo dos clientes, e deixando assim o gás

ainda mais barato para os consumidores.

Como medida de segurança, são instalados equipamentos de detecção de vazamento além da

injeção no gás de um agente odorante chamado MERCAPTAN que dá ao gás um cheiro

característico que permite notar seu vazamento pois o gás em si é inodoro. É importante

também investir na educação dos clientes quanto a domínio das medidas de segurança

necessárias no uso de gás e disponibilizar uma linha de chamada de emergência.

5.Gás natural e o meio ambiente

Como já mencionado, as vantagens ambientais proporcionadas pelo uso de gás natural

como energético favorece o seu consumo no Mundo onde a questão ambiental é cada vez

mais levada a sério na escolha entre os diferentes meios para produzir energia. Em

comparação com os outros energéticos fosseis, petróleo e carvão, o gás natural apresenta uma

baixa emissão dos principais poluentes ambientais como pode ser observado na tabela abaixo

Tabela3: Potencial de emissão de poluentes por fontes primárias de energia fóssil (Elaborada com base nos dados da Renewble energy magazine, 2011).

Sendo um energético com poucos impactos ambientais, o gás natural é uma boa fonte de

energia complementar para as energias renováveis como a solar e eólica que só podem ser

confiáveis se há outra fonte de energia complementar para auxiliar no atendimento à

demanda em momentos de baixa produção que acontece em tempos desfavoráveis (falta de

sol ou vento). Ao contrário de uma planta termoelétrica a base de carvão, uma planta

termoelétrica alimentada com gás natural leva menos tempo tanto para iniciar quanto para

parar, essa flexibilidade torna ainda mais interessante o seu uso para compensar as

irregularidades na produção de energia solar ou eólica.

Em comparação com petróleo e seus derivados líquidos como gasolina e diesel, o gás natural

tem a vantagem de não ser toxico e não apresenta perigo de contaminação do solo ou da água

em caso de vazamento. Além disso, o uso de gás natural veicular conserva melhor o motor e

apresenta vantagens econômicas para caso de frequentes rodagens de longas distâncias,

segundo ANP. De acordo com as análises do departamento de energia dos Estados

unidos(DOE), a cada 10 000 residências estadunidenses alimentadas com gás em vez de

carvão, evita-se emissões anuais de 1 900 toneladas de óxidos de nitrogênio, 3.900 toneladas

de óxido de enxofre e 5.200 toneladas de material particulado. De acordo com a Union of

Concerned Scientists, uma organização sem fim lucrativa com sede em Massachusetts, tais

reduções nas emissões se traduzem em benefícios para a saúde pública, uma vez que esses

poluentes têm sido associados a problemas como asma, bronquite, câncer de pulmão e

doenças cardíacas para centenas de milhares de americanos.

Todas as formas de produzir energia a partir de recursos naturais tem direto ou indiretamente

alguns impactos no meio ambientes em um ponto ou em outro da sua cadeia de produção,

com magnitudes dos impactos sendo maior ou menor dependendo do meio de produção dessa

energia. O gás natural também como fonte de energia, apresenta impactos ambientais, mesmo

que sejam geralmente menores que no caso dos outros energéticos fósseis. O metano sendo

um gás com forte efeito estufa, o seu escape na atmosfera é mais crítico do que do dióxido de

carbono a respeito do aquecimento da Terra. A Union of Concerned Scientists, afirma que a

perfuração e extração de gás natural de poços e seu transporte resultam no vazamento de

metano, componente mais abundante do gás natural que é 34 vezes mais forte que o CO2 na

retenção de calor em um período de 100 anos e 86 vezes mais forte em 20 anos. É então

importante que a cadeia produtiva de gás natural seja mais eficiente para não deixar escapar o

gás na atmosfera, conceito que se aplica na produção de petróleo quando se escolhe queimar

o gás em vez de deixa-lo escapar na atmosfera. Além de poder encarecer a água para o uso e

consumo humano em função do uso de grande quantidade de água no faturamento hidráulico,

a contaminação de lençóis freáticos e das águas da superfície por outros fluidos e

componentes químicos usados nas operações de fraturamento para a produção de gás de

reservatórios não convencionais, é uma outra preocupação ambiental que não se deve

negligenciar.

6.Mercado de gás natural no Mundo

6.1. Produção de gás natural no Mundo

Desde que se iniciou a comercialização do gás natural no final do século XVIII, a sua

produção e o seu consumo seguem crescendo e descoberta de novas reservas viáveis tem

garantido a permanência de gás natural no mercado de consumo. Segundo o relatório da

Bitrish petroleum (BP, 2018), a reserva mundial provada de gás natural passou de 128,1

trilhões de m³ em 1997 para 16 3,5 trilhões m³ de em 2007. Em 2016, passou para 193,1

trilhões m³ de e em 2017 houve um pequeno aumento na quantidade totalizando 193,5

trilhões de m³.

Figura9: Repartição da reserva mundial de gás natural (elaborado com dados da BP, 2018)

A revista estatística da British Petroleum repartiu essas reservas em 7 regiões: a América do

Norte com 5,6% em 2017, a América do sul e central com 4,2%, a Europa com 1,5%, Os

países da comunidade dos Estados independentes (Rússia e países da antiga união soviética)

com 30,6%, o Oriente médio com 40,9%, a África com 7,1% e a Ásia pacífica com 10,0%.

As regiões do Oriente médio e da comunidade dos Estados independentes(CIS) vêm

conservados suas posições respetivas de primeira e segunda na participação das reservas

mundiais, somando ambas mais de 69% do total das reservas provadas desde mais de 20 anos

(BP, 2018).

Figura10: Distribuição das reservas provada de gás natural (BP, 2018)

Os recursos mundiais de gás natural (reservatórios convencionais e não convencionais

considerando os três principais tipos de não convencionais mencionados na tabela que segue)

são estimados a cerca de 800 trilhões de m³ e dessa quantidade, o gás de reservatórios não

convencionais (tight gas, shale gas e coalbed methane) representa cerca de 45%. Na

estivativa acima são considerados os recursos totais de gás no mundo dos quais as reservas

provadas mundiais representam cerca de 25% (IEA, 2017).

Estimativa de recurso mundial dos três principais formas de gás não convencional

Em trilhões de metros cúbicos

Região Tight gas Shale gas Coalbed methane Total

América do norte 11 61 7 79

América do sul e central

15 41 - 56

Europa 5 18 5 28

África 10 40 0 50

Oriente médio 9 11 - 20

Eurásia 10 10 17 38

Ásia pacifica 21 53 21 94

Mundo 82 233 50 365

Tabela4: Estimativa de recurso mundial das três principais formas de gás natural não convencional (Elaborada com dados da IEA, 2017)

Em dez anos, a produção mundial de gás natural cresceu cerca de 25% saindo de 2941,3

bilhões de metros cúbicos em 2007 para 3680,4 bilhões de metros cúbicos. As quantidades de

gás consideras não incluem o gás queimado, injetado e usado para transformação gas-to-

liquids (BP,2018).

Figura11: Evolução da produção mundial de gás natural (elaborada com dados da BP, 2018)

A contribuição na produção para cada uma das 7 regiões em 2017 foi de 25,9% para América

do norte; 4,9% para América do sul e central; 6,6% para Europa; 22,2% para países da

comunidade dos Estados independentes(CIS); 17,9% para Oriente médio; 6,1% para África e

16,5% para Ásia pacífica. Os Estados unidos e a Rússia representam sozinhos 37,3% da

produção mundial enquanto que os dez maiores produtores do mundo contribuem com cerca

de 71%

Figura12: Os dez maiores produtores de GN em 2017 (elaborado com dados da BP, 2018)

Para analisar as possibilidades da evolução da produção de gás no futuro, a agência

internacional de energia considerou três cenários:

a) O cenário com políticas atuais, que leva em consideração apenas as influências

das políticas correntes em diferentes lugares no Mundo.

b) O cenário de desenvolvimento sustentável, que considera as condições que devem

ser observadas na perspectiva de atingir a meta adotada pelos países membros das

nações unidas em 2015 para um desenvolvimento sustentável.

c) O cenário de novas políticas, que leva em consideração as políticas correntes e as

intenções políticas anunciadas, em diferentes países do mundo, e que impactam ou

impactarão ou setor de gás. Neste cenário, o gás natural chega a representar 25%

na matriz energética no horizonte 2040 contra 22% em 2016. Este cenário é o que

se considera neste trabalho para previsão das produções futuras pois é o mais

realista em comparação com os dois outros.

Tabela5: Previsão de produção de gás natural no mundo, em bilhões de m³ (IEA, 2017)

Observação: * Taxa composta de crescimento médio anual (CAAGR).

6.2. Consumo de gás natural no Mundo

O consumo de gás natural teve crescimento de 24% em 10 anos, passou de 2958 bilhões de

m³ em 2007 para 3670,4 bilhões m³ em 2017

Figura13: Evolução do consumo mundial de gás natural (Elaborada com dados da BP, 2018)

O consumo por região em 2017 foi de 25,7% para América do norte; 4,7% para América do

sul e central; 14,5% para Europa; 15,7% para os países da comunidade dos Estados

independentes(CIS); 14,6% para Oriente médio; 4,3% para África e 5,2% para Ásia pacífica.

Os Estados unidos e a Rússia foram respetivamente primeiro e segundo produtor de gás

natural em 2017 e conservaram as mesma posição no consumo, sendo o primeiro país com

20,1%, quase igual a sua produção, e o segundo país com 11,6% de participação no consumo.

Figura14: Maiores consumidores de NG em 2017(elaborado com dados da BP, 2018)

Como pode ser visto no gráfico abaixo, o consumo mundial de gás natural, segundo o

relatório da British Petroleum (BP, 2018) sobre a perspectiva de energia no mundo, foi divido

em 5 setores: industrial, não combustível, geração elétrica (power), predial e transporte. Para

estimar o consumo futuro, a BP considerou 6 cenários:

Figura15: Os cenários considerados pela BP na estimativa da demanda futura por energéticos (BP,2018)

a) Cenário de transições muito mais rápidas, que considera diminuição mais acelerada

das emissões poluentes. É o mais otimista em termo de atingimento das metas de

redução da poluição;

b) Cenário de transições rápidas, que favorece uma rápida diminuição das emissões

poluentes. É o segundo mais otimista em termo de atingimento das metas de redução

da poluição;

c) Cenário de fortes políticas para favorecer as energias renováveis. É o terceiro mais

otimista em termo de atingimento das metas de redução da poluição;

d) Cenário que considera proibição de uso de motores a combustão interna. É o quarto

mais otimista em termo de atingimento das metas de redução da poluição;

e) Cenário de fracas políticas para suportar a mudança do uso de carvão para gás natural.

É o mais pessimista em termo de atingimento das metas de redução da poluição;

f) Cenário de transição em evolução, onde é assumido que as referências políticas,

tecnológicas e sociais permanecem evoluindo da mesma forma e com a mesma

velocidade que no passado recente. Mas neste cenário, as emissões de carbonos não

atinge as metas do acordo de Paris sobre a mudança climática. Por parecer mais

realista do que os outros, é este último cenário que se considera neste trabalho para a

estimativa das demandas futuras por gás natural. Os outros são considerados pela BP

como cenários alternativos.

Figura16: À esquerda, evolução do consumo mundial de gás natural por setor em bilhões de pés cúbicos por dia e à direita, participação percentual de cada setor no aumento da demanda de gás (BP,2018)

Assumindo o cenário considerado acima, o crescimento da demanda por gás natural é

principalmente relacionado ao aumento da demanda de gás para o consumo industrial e para

geração de eletricidade. O aumento da demanda de gás para o consumo industrial e para uso

em setor de não combustível é alavancado pelo contínuo industrialização de países em

desenvolvimento e pelo aumento da participação de gás na matriz energética devido à

mudança do uso de carvão para gás tanto em países membros de OECD quanto para os que

não são membros. O aumento da demanda de gás para geração elétrica é devido ao aumento

geral da demanda por energia mas a tendência do aumento da competitividade das energias

renováveis com tempo para servir como substituto de carvão vai acabar diminuído a

perspectiva de crescimento do consumo de gás neste setor. O crescimento da demanda de gás

para consumo predial é pequeno, levando à consideração de que quase todo o incremento da

demanda por energia para o consumo predial será atendido pela eletricidade para energizar

aparelhos de climatização e outros aparelhos elétricos. O rápido crescimento da demanda de

gás no setor de transporte é devido a previsão de aumento do seu uso como combustível de

veículos pesados (caminhões) e no transporte marítimo. (BP,2018)

6.2. Comercio de gás natural no mundo

6.2.1. Importação e exportação

Considerando o cenário mais realista entre os três cenários da agencia internacional de

energia(IEA) mencionados acima, o aumento esperado do comercio de gás inter-regional é de

525 bilhões de metros cúbico para o horizonte 2040 com uma taxa de crescimento anual de

2,4%, similar à taxa de crescimento dos 25 anos passados. A importância do GNL no

comércio inter-regional cresce muito, aproximadamente 90% do incremento no volume de

comércio de longas distâncias ocorrendo na forma de GNL contra apenas dois terço nos 25

anos passados. No horizonte 20140, espera-se um volume de 1230 bilhões de metros cúbicos

de gás em transações inter-regionais do qual o GNL representa 60% enquanto de em 2016 o

GNL representou apenas 40%. A flexibilidade do GNL é o fator que alavanca tal

crescimento. Há muitos motivos pelos quais isso pode ser favorável do ponto de vista do

cliente. A flexibilidade é um parâmetro importante para países importadores que não

preferem firmar contratos de longo prazo porque o seu principal motivo de importação de gás

do mercado internacional é para compensar as flutuações na demanda dos seus mercados de

gás. América latina é um exemplo desse caso: a energia hidroelétrica representa 45% da

oferta regional de energia elétrica (no Brasil, que é o maior mercado de energia na região,

esse percentual é de 65%), mas a produção hidroelétrica é muito dependente do clima, sendo

assim sazonal. (IEA, 2017)

Tabela6: Comércio de gás natural por região (IEA, 2017)

Observação: -Na tabela acima, o número positivo representa a exportação líquida e o

negativo, a importação líquida.

Como pode ser visto no gráfico abaixo, o cenário considerado mais realista entre os cenários

da BP apresentados acima, apresenta a mesma previsão do cenário mais realista da agencia

internacional de energia: o GNL representando cerca de 60% do volume de gás do comércio

inter-regional (GNL+ gasodutos inter-regionais) no horizonte 2040 contra cerca de 40% no

ano 2016.

Figura17: Volume de gás (em bilhões de pés cúbicos por dia comercializado pelos principais modos de transporte (BP,2018).

Observação: no gráfico acima, pipiline* se refere aos gasodutos inter-regionais

O crescimento do volume de gás comercializado na forma de GNL terá como base o aumento

da capacidade de das infraestrutura de GNL para atender diversas regiões no Mundo.

Considerando o cenário mais realista da IEA, a pespectiva no horizonte 20140 é de mais de

950 navios metaneiros na frota mundial contra menos de 600 atualmente.

Figura18: Evolução da frota mundial de navios metaneiros e da distância média de transporte de GNL (IEA, 2017)

6.2.2. Preço de gás natural

O gráfico abaixo exibe a evolução dos preços de gás natural considerando sete referências de

preço nos principais mercado de gás. Uma queda brusca nos preços pode ser observado no

ano 2008, refletindo o efeito da grande depressão econômica mundial da época. Em 2014,

tem outra grande queda nos preços que segundo a empresa holandesa de seguros, Atradius, a

queda de preços de gás naquele ano é ligada à queda de preço de petróleo, pois apesar do gás

e óleo não serem necessariamente substitutos um do outro, os preços de gás são ligados ao

preço de óleo em algumas regiões como Ásia em particular e na Europa em menor escala. A

baixa demanda e grande oferta de gás em 2014 contribuíram também na queda nos preços.

Figura19: Preços em $/milhões de BTU nos principais mercados de gás natural (BP,2018)

Os preços de gás estão atualmente baixos no Mundo. A Internatinal Gas Union (IGU)

estimou que a média global do preço de gás em $ 3,35/milhões de Btu para o ano 2016, o

mais baixo preço já registrado em todas suas pesquisa (IGU,2017). Em média, no ano 2016

os preços na União Europeia e no Japão foram 60% menores do que os picos de preços

alcançados em 2012. Esses baixos níveis de preços levaram muitos consumidores de gás a

acreditar que o momento de preços altos já se foi para sempre. Porém, os atuais preços baixos

são apenas um sinal de excesso da oferta, e há risco que tais níveis de preços não estimulem

investimento suficiente na indústria de gás. A longo prazo, níveis de preços viáveis são

apenas aqueles que são capazes de cobrir os custos do gás ofertado e garantir investimento

em novos projetos, o que implica um aumento dos preços de gás no Mundo. Até 2020,

considerando o cenário mais realista, é esperado que o aumento da demanda absorba o

excesso da oferta observada atualmente. A baixa densidade energética de gás em comparação

com óleo e carvão significa que o transporte tem um peso relativamente grande no custo do

gás ofertado, tornando a proximidade geográfica entre a região produtora e a região

consumidora um fator determinante para acessibilidade do gás. A infraestrutura de transporte

de gás natural exigem grandes investimentos de capital fixo, transportar gás também significa

consumo próprio ou perdas ocasionais de uma certa quantidade no caminho (por exemplo,

evaporação do GNL em navios metaneiros, uso próprio do gás nas plantas de liquefação e

estações de compressão, vazamento em gasodutos). O custo de transporte de gás em longas

distâncias é, para uma mesma quantidade de energia, entre sete e dez vezes mais caro que

óleo ou carvão, é por isso que os preços de gás em diferentes regiões do Mundo continuarão

sendo diferentes mesmo em um mercado de gás globalizado. Para novos projetos de

investimento, quanto mais longa for a distância de transporte de gás, mais favorável será a

economia do GNL em relação aos gasodutos. O aumento do comércio de gás na forma de

GNL permitirá que o gás natural produzido em regiões muito distantes atenda a demanda de

diferentes regiões e isso vai diminuir globalmente as diferenças de preços do gás. (IEA, 2017)

Figura20: Preços de gás natural em três principais regiões, projeções no futuro de acordo com cenário mais realista da IEA (IEA, 2017)

7. Gás natural no Brasil

7.1. Evolução da participação de gás natural na matriz energética brasileira

A descoberta de óleo e gás natural na Bahia propiciou, ainda que modestamente, o uso do gás

natural no Brasil em torno de 1940, atendo a indústrias do recôncavo baiano. Em 1959, houve

uma produção média diária de 1 milhão m³ de e uma década depois, atingiu a marca de 3,3

milhões de m³/dia. Após o país ter passado pela má experiência do aumento do preço de

petróleo importado na segunda crise de petróleo(1979), sendo que os combustíveis derivados

do petróleo pesavam cerca de 50% do total das importações do país, revelou-se a necessidade

de usar outras alternativas de fontes de energia. Na década de 80 (crise de petróleo), a

explotação da bacia de Campos no estado do Rio de janeiro, permitiu um grande aumento na

produção de gás natural nacional. O desenvolvimento dessa região petrolífera proporcionou

um aumento no uso do gás, de 1980 a 2010, o gás natural aumentou dez vezes sua

participação na matriz energética brasileira, passando de 1% para 10%. Já no final da década

de 80, a importação de gás natural passou a ser uma imposição da sociedade, sobretudo nas

regiões Sul e Sudeste, onde a disponibilidade de gás nacional é inferior ao potencial do

mercado. Na busca de alternativas, o projeto de gasoduto Bolívia-Brasil surgiu na década de

90 como parte do programa de política energética que marcou a retomada da exploração

efetiva das reservas de gás natural. Na mesma época, o governo brasileiro estabeleceu a meta

de aumentar para 12% a alíquota do gás natural na matriz energética nacional até o ano 2010

(EY, 2014).

Mesmo sendo ainda menor do que a média mundial, a participação de gás natural na matriz

energética brasileira vem aumentando muito passando de 1% em 1980 para 14% em 2015.

Em 2016, o percentual de gás natural foi de 13,7% e em 2017 baixou ainda um pouco para

12,3% (MME, 2018).

Figura 21: Evolução da oferta de energia primária no Brasil (IBP, 2016)

Tep- toneladas equivalente de petróleo.

7.2. Agente regulador de gás natural

No Brasil, o gás natural é regulado pela ANP, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis. Esta instituição foi implantada pelo Decreto nº 2.455, de 14 de janeiro de

1998. Autarquia federal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia é responsável pela

execução da política nacional para o setor energético do petróleo, gás natural e

biocombustíveis, de acordo com a Lei do Petróleo (Lei nº 9.478/1997). A ANP regula,

estabelece regras por meio de portarias, instruções normativas e resoluções; promove

licitações e celebra contratos em nome da União com os concessionários de exploração,

desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural e fiscaliza as atividades das indústrias

reguladas, diretamente ou mediante convênios com outros órgãos públicos. Sendo assim, a

ANP se encarrega, entre outras responsabilidades, da promoção de estudos geológicos e

geofísicos para identificação de potencial de petróleo e gás natural, regula a execução desses

trabalhos, organiza e mantém o acervo de informações e dados técnicos; a ANP realiza

licitações de áreas para exploração, desenvolvimento e produção de óleo e gás, contrata os

concessionários e fiscaliza o cumprimento dos contratos assim como calcula o valor dos

royalties e participações especiais a serem pagos a municípios, a estados e à União; ela dá

autorização e faz fiscalização das atividades de produção, transporte, processamento, refino,

exportação e importação de gás natural e petróleo; as operações das empresas distribuidoras

e revendedoras derivados de petróleo e gás natural e faz o mesmo para o biocombustíveis nas

operações de produção, importação, exportação, transporte, transferência, armazenagem,

estocagem, distribuição, revenda e comercialização; ela estabelece as especificações técnicas

dos derivados de petróleo, gás natural e dos biocombustíveis e monitora a qualidade dos

mesmo produtos em locais de venda; comunica aos órgãos de defesa da concorrência as

práticas ilícitas que vão na contra mão da ordem econômica do mercado e realiza

acompanhamento da evolução dos preços.

Existe uma separação estrutural importante no modelo regulatório do gás no Brasil. Enquanto

as atividades dos segmentos upstream e midstream são reguladas em esfera federal

representada pela ANP, a regulação da distribuição de gás canalizado é de competência dos

estados. A competência regulatória da ANP se encerra no citygate. A partir desse ponto, a

esfera estadual é responsável pela regulação do Gás Natural canalizado, incluindo a definição

de tarifas, da estrutura e da metodologia de revisão tarifária de distribuição, além de decisões

sobre a aquisição de gás pelo Consumidor Livre, Autoimportador e Autoprodutor.

7.3. Estrutura da indústria de gás natural no Brasil

A indústria do gás natural com seus diversos segmentos (produção, importação, exportação,

processamento, transporte, estocagem, comercialização e distribuição) é uma indústria de

rede (pode-se definir indústria de rede como aquela que depende da implantação de redes ou

malhas para que seja possível tanto o transporte quanto a distribuição dos seus respectivos

produtos); tais indústrias são caracterizadas pela presença de um conjunto de atividades

distintas, mas com interdependência entre elas para que haja eficiência na prestação do

serviço. Este é o caso das atividades compreendidas nas indústrias de infraestrutura, em

especial as atividade de transporte e distribuição de gás natural, as quais são correlacionadas,

gerando, portanto, uma interdependência sistêmica, o que traz à tona a questão da

coordenação entre estas diferentes atividades. A prestação do serviço com qualidade e de

forma ininterrupta só pode ocorrer mediante a coordenação dos distintos segmentos da cadeia

da indústria (ANP, 2011).

A Petrobras exerceu, durante quatro décadas, o monopólio legal sobre as atividades que

compõem as indústrias de petróleo e gás natural. Obedecendo à lógica econômica de

integração dessas indústrias, buscando ganhos de escala e escopo, bem como ganhos

derivados da coordenação e da diminuição dos custos de transação, o modo de organização

industrial prevalecente foi a integração vertical e horizontal das distintas atividades da cadeia.

Neste contexto de empresa integrada e não sujeita à concorrência desenvolveram-se as

indústrias de petróleo e gás natural no país. Visando favorecer a competição nas atividades

potencialmente concorrenciais e regular as atividades naturalmente monopolísticas, os dois

marcos principais de reforma da indústria gasífera no país são a Lei nº 9.478/97 (Lei do

Petróleo) e a Lei nº 11.909/09 (Lei do Gás), regulamentada pelo Decreto nº 7.382/10. No

tocante ao unbundling, ou separação das atividades da cadeia, o Art. 65 da Lei nº 9.478/97

exigiu da Petrobras não apenas a separação contábil da atividade monopólica a cadeia (o

transporte), mas também a separação jurídica, quando determinou que a Petrobras

constituísse uma empresa subsidiária para construir e operar os dutos de transporte do

energético. No entanto, a exigência de separação das atividades da cadeia não foi completa,

uma vez que não foram estabelecidos limites à participação de grupos econômicos nos

diferentes segmentos da cadeia do gás natural. A Lei do Gás estendeu aos demais agentes da

indústria tratamento semelhante ao conferido à Petrobras24 (art. 3º, §3º), quando determinou

que o exercício do transporte do gás natural é exclusivo de empresas transportadoras de

combustíveis e que podem, também exercer a atividade de estocagem de gás natural, mas

mantendo contabilidade separada. A indústria brasileira de gás natural é composta, portanto,

por uma série de agentes independentes (juridicamente, mas não necessariamente

independentes do ponto de vista do controle acionário), mas com elevado grau de

interdependência, havendo relações físicas e/ou contratuais entre elas.

Figura22: Principais marcos legais da IGN no Brasil(ANP, 2013)

A lei do gás, LEI Nº 11.909, DE 4.3.2009 - DOU 5.3.2009: Dispõe sobre as atividades

relativas ao transporte de gás natural, bem como sobre as atividades de tratamento,

processamento, estocagem, liquefação, regaseificação e comercialização de gás natural.

Figura23: Agentes da cadeia de valor de gás natural no Brasil (FGV Energia, 2014)

A estrutura da indústria de gás natural brasileira se apresenta como segue:

Figura24: Estrutura idealizada da indústria brasileira de gás natural(ANP,2009)

*O carregador pode ser: importador, exportador, produtor, distribuidor, consumidor livre ou

comercializador.

Como apresentados na figura acima, o transporte e a distribuição de gás natural no Brasil são

monopólios naturais. O monopólio natural é definido como um aspecto de mercado em que

os investimentos necessários (custos fixos) são muitos elevados e os custos marginais (custo

variáveis) são muito baixos. O monopólio natural está ligado ao tamanho do mercado em

relação ao tamanho (escala) mínimo de eficiência da firma, neste caso o mercado não

comporta mais de uma firma operando em escala e escopo eficientes, tornando desejável a

existência de um só agente monopolista (BAUMOL, WILLING, 1981). Os monopólios

naturais são caracterizados por serem referentes a bens exclusivos e com pouca ou nenhuma

rivalidade. Normalmente, os mercados que se caracterizam como monopólios naturais são

regulamentados pelos governos, possuem prazos de retorno muito longos. Assim, tais

mercados funcionam melhor quando são bem protegidos. Como exemplo de monopólios

naturais, pode-se citar o fornecimento de água, a distribuição de eletricidade assim como a

distribuição de gás natural; a indústria de transporte de gás natural por gasodutos, que se

caracteriza por altos custos de investimentos, baixa flexibilidade e grande economias de

escala, é propensa a ser naturalmente um monopólio.

7.4. Mercado de gás natural no Brasil

7.4.1. Produção e oferta de gás natural no Brasil

No mercado brasileiro de gás, a oferta vem basicamente da produção nacional, da importação

pelo gasoduto Brasil-Bolívia (GASBOL), da importação por navios metaneiros de GNL (gás

natural liquefeito) e de uma pequena parte vindo da Argentina.

A produção nacional vem aumentando com o passar do tempo. Esse aumento acompanha o

crescimento das reservas nacionais que se localizam essencialmente no mar como pode ser

observado na tabela7 e figura25 a e b.

Tabela7: Evolução das reservas provadas de gás natural no Brasil (Elaborado com dados da ANP, 2018)

Figura25a. Evolução da reserva provada de gás natural brasileiro (Elaborado com dados da ANP, 2018) Na fase inicial da exploração comercial do gás natural no Brasil começou no estado de Bahia

e pouco depois a descoberta de gás natural na bacia de campos (Rio de Janeiro e Espirito

Santo) aumentaram significativamente o total das reservas do país; a bacia de campos passou

a ser assim a maior provedora na produção nacional de gás natural até seja superada pela

produção da nova descoberta na região de pré-sal brasileiro.

Figura25b: Evolução da reserva provada de gás natural brasileiro (ANP, 2013)

A maior parte do gás nacional produzido no mar e na terra é um gás rico, que contém várias

frações pesadas de hidrocarboneto. Este gás, portanto deve ser processado para separar e

produzir o gás especificado conforme a resolução da ANP nº 16, de 17.6, 2008. A

quantidade de propano (C3) no gás determina a sua riqueza. Um gás com propano (C3) acima

de 7% em volume, é chamado de gás rico enquanto que que aquele que tem menos de 7% é

um gás pobre. As outras frações mais pesadas, como o etano (C2), o GLP (C3 e C4) e a

gasolina (C5+), que têm maior poder calorífico, sendo mais lucrativas do que o próprio gás

processado, por terem mais energia (Milhão de BTU) por metro cúbico. A fração do gás

natural com componentes de cadeias moleculares maior ou igual a cinco carbonos é chamado

(Vaz e Maia, 2008).

O gás da importação vindo da Boliviano e o GNL são gases pobres, constituídos basicamente

de metano (C1) e baixas impurezas. Esses gases importados atendem a especificação da ANP

por meio do processamento pelo qual passam em países exportadores. Sendo assim, não

apresentam nenhum problema em serem adicionados à malha de gasoduto para o atendimento

ao mercado brasileiro.

A composição comercial do gás natural é variada e depende da composição do gás natural

bruto, do mercado atendido, do uso final e do produto gás que se deseja. Apesar desta

variabilidade da composição, são parâmetros fundamentais que determinam a especificação

comercial do gás natural, o seu teor de enxofre total, o teor de gás sulfídrico, o teor de gás

carbônico, o teor de gases inertes, o ponto de orvalho da água, o ponto de orvalho dos

hidrocarbonetos e o poder calorífico. O Regulamento Técnico ANP Nº16 de 17.06.2008,

estabelece as especificações do gás natural, de origem nacional ou importada, a ser

comercializado em todo o território nacional.

Tabela8: Especificação do Gás Natural comercial (ANP, 2011)

Observações:

(1) - Limites especificados são valores referidos a 20ºC a 101,33 kPa (1 atm), exceto onde

indicado.

(2) - Para as Regiões Norte e Nordeste, admite-se o valor de 3,5.

(3) - Para as Regiões Norte e Nordeste, admite-se o valor de 6,0.

(4) - Para as Regiões Norte e Nordeste, admite-se o valor de - 39.

Considerando a produção por estado, o maior produtor de gás natural é o estado de Rio de

Janeiro. Em julho de 2017, o Estado do Rio de Janeiro foi responsável por 45,65% da

produção nacional de gás natural. São Paulo e Espirito Santo produziram, respectivamente,

17,15% e 7,75% do total nacional. Considerando apenas a produção no mar, o Rio de Janeiro

produziu 58,81% da produção nacional, seguido por São Paulo (22,12%) e Espírito Santo

(9,81%). Com relação à produção exclusivamente em terra, os maiores produtores foram

Amazonas (54,71%), Maranhão (30,18%) e Bahia (8,31%). (MME)

Tabela9: Produção média diária de gás, por Estado, anual entre 2012 e 2016, e mensal em MM m³ (ministério de minas e energia (MME, 2017).

Legenda:

AL: Alagoas; AM: Amazonas; BA: Bahia; CE: Ceará; ES: Espirito Santo; MA: Maranhão;

RJ: Rio de janeiro; RN: Rio grande do Norte; SP: São Paulo; SE: Sergipe

Vale ressaltar que a produção do gás nacional é, em grande parte, na forma associada ao

petróleo, cerca de 70% do gás natural brasileiro é associado ao petróleo. No período entre

dezembro de 2012 e dezembro de 2013, 68% da produção se referiam ao gás associado

(GASA) como pode ser visto a seguinte tabela.

Tabela 10: Produção brasileira de gás associado e não associado em 2013 (ANP,2014)

Observação:

GASA: Gás natural associado

GASN: Gás natural não associado

Como operadora (contando a produção própria mais a produção oriunda da participação em

outras concessionárias), a Petrobras sozinha produziu mais de 90% do gás nacional. Com a

lei do pré-sal que instaurou o regime de partilha para uma concessionária ter acesso à

produção de petróleo e gás nos blocos de pré-sal sobre este regime de partilha, a Petrobras

passou a ter direito de ser opradora nas produções do pré-sal com participação mínima de

30% (participação não mais obrigatória como antes, mas opcional desde 2016) nas

concessionárias vencedoras de leilões para exploração no pré-sal.

Em 2016, a produção de gás natural da Petrobras, como operadora, cresceu 7%. Entretanto, a

sua participação no total da produção, por operadora, caiu ligeiramente, passando de 94,3%,

em 2015, para 93,9%, em 2016. A Parnaíba Gás Natural se manteve como a segunda maior

operadora do País e ampliou a sua participação no volume total produzido, alcançando a

parcela de 5,1%. A produção das operadoras é referente à produção total nos campos

produtores em que operam (IBP, 2017).

Figura26: Produção brasileira de gás por operadora, com excluindo a Petrobrás (IBP, 2017)

Mas considerando apenas a produção própria, a Petrobras como concessionária pesa ainda

mais de 78%, sendo que em 2016, sua quota na produção anual foi de 78,5% seguida por BG

Brasil com 7,7%

Figura27: Produção brasileira de gás por concessionária (Excluindo a Petrobrás) em 2016 (IBP,2017)

No que diz respeito ao gás natural importado, como já foi mencionado acima, O gás

proviente da Bolívia e o GNL são os principais contribuintes do volume importado, a isso

acrescenta-se uma pequena quantidade vinda da Argentina. A figura28 ilustra, a título

comparativo, a média diária do volume importado via as três origens citadas e a média diária

da oferta nacional assim como da produção nacional nos anos 2015, 2016 e 2017.

Figura28: Importação GN, Oferta nacional e produção nacional. (MME, 2017)

Graf. Importação GN, Oferta nacional e produção nacional. Fonte: elaboração própria

baseada nos dados do MME

Figura29: Oferta de gás em 2016 no Brasil (MME, 2017)

Pode-se notar o aumento da participação da produção nacional na oferta total que saiu de

51,1% em 2016 para 69,3% na média dos cinco primeiros meses de 2018, representado no

gráfico abaixo. Esse aumento é a consequência do aumento na produção nacional de gás

natural, graças ao aproveitamento da grande quantidade de gás produzida na província

petrolífero de pré-sal brasileiro.

Figura30: Oferta média de gás em 2018 (MME, 2018)

7.4.2. Importação pelo gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL)

O projeto do Gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) começou em 1996 e entrou em operação

em 1999. Foi um marco no crescimento do mercado brasileiro de gás natural e transformou

um mercado limitado às regiões próximas dos campos de produção em um mercado com

difusão do gás mais afastado da fonte, principalmente na região sul do Brasil. O GASBOL

mudou radicalmente a política energética brasileira, que começou a buscar uma elevação do

gás na matriz nacional (CNI, 2010). O GASBOL tem uma extensão de 3.150 km, sendo 557

km do lado boliviano e 2.593 km do lado brasileiro. Ele começa na localidade de Rio Grande,

na Bolívia, a 40 km da cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra, e seu fim é na cidade de

Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, atravessando cinco estados brasileiros. Segue da

fronteira brasileira até a Refinaria de Paulínia (REPLAN), bifurcando-se ao sul até o Rio

Grande do Sul e ao leste até Guararema, município de São Paulo (SANTOS, 2008). Além

disso, existe um ramal que parte do GASBOL para atender ao mercado de Cuiabá, em Mato

Grosso do Sul. Uma das medidas para o fortalecimento da demanda e, por conseguinte, para

aumentar o volume de gás escoado pelo GASBOL, inicialmente, foi oferecer um preço

diferenciado do preço das outras regiões às companhias distribuidoras locais servidas pelo

gasoduto. Para administrar o gasoduto do lado brasileiro, foi criada, em 18 de abril de 1997, a

Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), com a responsabilidade de

empreender a construção do lado brasileiro do gasoduto e ser a administradora do transporte e

da comercialização do gás importado da Bolívia, sendo a Petrobras a sócia majoritária, com

controle de 51% das ações. Para assumir a responsabilidade do lado boliviano, formou-se a

empresa Gás-Transboliviano (GTB).

Outros investimentos foram realizados na infraestrutura do GASBOL, como em dezoito

estações de compressão, para manter a pressão de Rio Grande até Paulínia com 100 kg/cm², e

de Paulínia até Canoas. Além disto, existem 44 estações de entrega às distribuidoras locais

(CDL), onde é necessária uma quebra de pressão. A viabilidade do projeto dependeu de

acordos e contratos para garantir o investimento. O financiamento foi realizado por várias

empresas, como a Petrobras, com capital próprio; as empresas proprietárias do gasoduto

(Petrobras, British Gas, Shell, El Paso, Total e Enron); e as instituições financeiras

(SECURATO, et. al., 2012). Para viabilizar o empreendimento e conferir segurança de

recuperação do investimento às partes envolvidas, foram estabelecidas as cláusulas

contratuais de Take-or-Pay Take-or-Pay), o comprador

assume a obrigação de pagar por uma quantidade mínima de gás estipulado no contrato,

mesmo que o volume retirado seja menor do que o volume contratado. Dessa maneira, o

comprador divide com o transportador o risco do investimento na infraestrutura de transporte,

uma vez que ele garante receita ao longo da vigência do contrato, independentemente do

volume retirado. Existe, também, a possibilidade de garantia na cláusula de Shipe-or-Pay,

que é um meio de o transportador assegurar a receita, pois obriga o contratante do serviço a

pagar um valor mínimo pelo transporte. O contratante do serviço é obrigado a pagar ao

transportador pelo transporte do gás natural, mesmo que este não seja transportado. Essa é a

maneira mais comum de se pagar pela infraestrutura de transporte (SECURATO, et. al.,

2012).

A continuação da oferta do gás importado da Bolívia pelo gasoduto GASBOL está ameaçada

por dois fatores: do lado boliviano, a nacionalização da produção de gás natural da nacional,

instituída pelo Decreto 28.701, de 1º de maio de 2006, introduziu um elevado grau de

incerteza nas operações da Petrobras e das outras empresas de petróleo na Bolivia e

consequentemente foi cancelado o processo de expansão de capacidade de transporte do

Gasbol. Um tal ambiente que não impulsiona a entrada dos investimentos privados, as

reservas nacionais de gás não foram favorecimento a aumentarem. Essa situação cria dúvida

quanto à capacidade do país conseguir disponibilizar uma produção adequada para honrar o

contrato com a parte brasileira ainda nesse momento crítico de fim do contrato que expira em

2019 e de avaliação das possibilidades de renovação do mesmo. Já do lado brasileiro, a

extração nos campos do pré-sal que impulsionou o crescimento da produção para quase 60

por cento nos últimos cinco anos, derrubando as importações de GNL para o menor nível

desde 2011, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. Grandes aumentos na oferta de

gás do pré-sal pode diminuir muito a necessidade de importar o gás boliviano que hoje

representa mais de 80% do gás importado no mercado brasileiro.

7.4.3. Importação de gás natural liquefeito (GNL)

No Brasil, existem atualmente três terminais de regaseificação de Gás Natural Liquefeito

(GNL), sendo eles: o da Baía de Guanabara (RJ); o de Pecém (CE), que opera desde 2009; e

o da Bahia, que iniciou sua operação em janeiro de 2014. O GNL é considerado a solução

estratégica para o atendimento da flexibilidade da demanda do mercado termoelétrico

brasileiro (Faria, 2010). São ofertados ao mercado 41 MM m³/dia de gás, sendo 20 MM

m³/dia no Rio de Janeiro, 14 MM m³/dia na Bahia e 7 MM m³/dia no Ceará. Esse gás é

injetado na malha que se estende do Ceará até Canoas, no Rio Grande do Sul, podendo

atender a qualquer mercado intermediário entre esses estados. O grande desafio é casar a

chegada do navio de GNL ao momento do despacho termoelétrico; a compra de GNL é

realizada no mercado spot com antecedência de cerca de oito dias. Essa incerteza obriga a

contratação de uma carga mais cara no mercado spot e, quando se percebe que ela não será

mais necessária, ela é revendida ou cancelada.

Os terminais brasileiros de GNL têm uma concepção inovadora, pois a planta de

regaseificação está localizada em cima dos navios, isso faz com que o investimento e o tempo

do projeto sejam menores do que os projetos das plantas tradicionais de regaseificação em

terra (onshore). Além de transformarem o gás líquido em gás no estado gasoso, os navios

gaseificadores servem de armazenamento criogênico para o gás liquefeito e podem fazer o

serviço de transporte de GNL provenientes do exterior. Os países que mais exportaram para o

Brasil, em 2013, foram a Nigéria, Trinidade e Tobago, Noruega, Qatar, Argélia e Egito

(BP,2014).

As incerteza relativas ao fornecimento do gás importado da Bolívia levou a Petrobrás a

considerar o reforço de fontes alternativas de suprimento de gás no mercado brasileiro. Há

projeto de construção de dois terminais marítimos de regaseificação de gás natural liquefeito

(GNL), uma planta de 6 milhões de m3/dia no Nordeste e outra planta de 14 milhões de

m3/dia no Sudeste (EPE, 2018).

Figura31: Terminal de regasificação no Ceará(Petrobrás)

A figura32 resume os volumes diários de GN importado pelo Brasil e a despesa feita para a

sua aquisição.

Figura32: Importação de GN e dispêndio: média anual de 2012 a 2016 e mensal em 2017(ANP,2017)

7.4.4. Demanda por gás natural no Brasil

Os segmentos industrial, termoelétrico (geração e cogeração de elétrica), automotivo,

residencial e comercial são os principais consumidores de gás natural no Brasil.

Considerando os anos 2015, 2016 e 2017, o consumo de gás natural por setor ficou como está

apresentado na figura 33.

Figura33: Consumo de gás por setor no Brasil (Elaborado com dados do MME, 2018)

Até duas décadas antes, o setor industrial era praticamente o único grande consumidor em

volume de gás natural. Até então, as malhas de transporte e distribuição eram desenvolvidas

praticamente em função desse setor, ou seja, só o volume consumido pelas indústrias

justificava a expansão das malhas de gasodutos. Para as distribuidoras de gás, esse segmento

é o que possui uma das menores margens de lucro, uma vez que o segmento apresenta uma

das maiores elasticidades preço da demanda, isso impede a prática de preços elevados sob o

risco de perda de clientes. A captura de clientes é dificultada não somente pelo baixo preço

do óleo combustível, como também pela necessidade de investimentos na troca ou adaptação

dos equipamentos e nas instalações dos consumidores. Porém, as vantagens da substituição

de outros combustíveis fósseis (óleo combustível, gás liquefeito de petróleo GLP e carvão

mineral) por gás natural estão relacionadas a vários aspectos com a melhoria da qualidade

ambiental, com a redução de poluentes como enxofre, particulados e gases de efeito estufa; à

melhoria da qualidade dos produtos produzidos por certos segmentos industriais como

cerâmica e vidro; à diversificação das fontes de suprimento de energia; ao fato de não

precisar estocar o combustível (a área de armazenamento e movimentação pode ser liberada

para outros fins); e à menor movimentação de caminhões nas instalações. (BNDES, 2006)

a. Setor de geração termoelétrica

A geração termoelétrica a gás é relativamente recente no Brasil e, portanto, tem uma

contribuição ainda tímida para o sistema elétrico. O seu papel é de complementar a geração

hidroelétrica, uma energia sazonal. A termoeletricidade é mais solicitada em períodos de

estiagem ou para atender à demanda de pico. Quanto maior a participação termoelétrica na

matriz, menor o risco de déficit de energia elétrica.

Para o setor de gás, o elevado consumo unitário das termoelétricas serve como âncora para a

construção de gasodutos de transporte. Em alguns casos, em que não há concentração

industrial, a construção do gasoduto só se torna viável se uma usina termoelétrica for

instalada na região, operando um número mínimo de horas por ano. Do ponto de vista do

produtor de gás, é interessante que as usinas termoelétricas operem um mínimo de horas por

mês, ainda que os contratos de fornecimento sejam protegidos por cláusulas take or pay, que

garantem uma receita mínima aos produtores de gás. A geração de termoeletricidade tem o

papel estratégico de servir de âncora para investimento em gasodutos, principalmente em

regiões com pouca densidade industrial, e de reduzir o risco de déficit de energia elétrica

(BNDES, 2006)

b. Setor de cogeração

A cogeração é um processo de produção e utilização combinada de calor e eletricidade que

permite aproveitar mais de 70% de energia térmica do gás, um rendimento muito acima da

geração termoelétrica que varia entre 35% e 40%. No Brasil, a cogeração a gás começou nos

grandes consumidores industriais, em que os sistemas eram projetados para produzir vapor

(calor de processo) e energia elétrica para consumo próprio. Mais recentemente, a cogeração

a gás natural avançou para o setor de serviços, principalmente em shopping centers, hotéis,

hospitais e aeroportos, gerando concomitantemente eletricidade e frio. (BNDES, 2006).

As vantagens da co-geração de energia podem ser resumidas pelos seguintes fatos:

- Alta eficiência energética, que permite alcançar índices acima de 85%, enquanto a geração a

ciclo combinado está na faixa de 50% a 55%;

- A geração é distribuída e, portanto, não necessita de investimentos em transmissão e

distribuição de eletricidade;

- Melhora a confiabilidade da rede de transmissão e distribuição.

Por causa de seu elevado consumo, a co-geração poderia ser incentivada como âncora de

desenvolvimento da malha de gasoduto em cidades médias e grandes em que houvesse

concentração de hotéis ou shopping centers. Porém, o mercado de co-geração é ainda

incipiente no Brasil e encontra várias barreiras ao seu desenvolvimento. Os maiores entraves

são, geralmente, impostos pela distribuidora de eletricidade. Ocorre que, com a implantação

de uma planta de co-geração, as distribuidoras de eletricidade perdem de imediato um grande

consumidor. Conseqüentemente, as concessionárias de distribuição de eletricidade buscam

inibir o investimento em co-geração nas instalações de seus clientes. Para isso, utilizam

várias estratégias, dentre as quais destacamos as seguintes: a dificuldade de celebrar contratos

de comercialização de energia elétrica de back up (para períodos de paradas de manutenção

ou períodos de geração insuficiente); a agressividade da política de descontos temporários da

tarifa de energia elétrica para potenciais clientes co-geradores; e a imposição de tarifa elevada

para utilização da rede elétrica para a venda de excedente de eletricidade dos co-geradores.

Por todos esses motivos, o mercado de co-geração no Brasil é ainda pequeno.

Especificamente no caso da co-geração a gás natural, grande parte dos equipamentos é

importada, uma vez que não há estímulo para a entrada dos fabricantes de equipamentos no

país. (BNDES, 2006)

c. Setor automotivo (GNV)

Em 2011, o Brasil contou cerca de 1,6 milhões de veículos movidos a GNV segundo a IBP,

deixando o país apenas atrás da Argentina no ranking mundial. Esse resultado é a

consequência das políticas nacionais de estímulo ao uso do combustível alternativo

Os proprietários de frotas de automóveis ou de veículos que percorrem grandes distâncias

têm se interessado pela conversão por duas razões principais, que trazem em alguns meses o

retorno do investimento na conversão dos veículos: (1) Preço do GNV bem abaixo do preço

dos combustíveis substitutos; e (2) Redução de impostos em alguns estados, como a redução

de 25% no IPVA em São Paulo e de 75% no Rio de Janeiro. Atualmente, o segmento de

GNV tem sido utilizado por algumas distribuidoras estaduais de gás para introduzir as malhas

de gasodutos em cidades ou regiões onde não há gás canalizado (chamadas de green fields).

Essa função de âncora de distribuição para cidades ou localidades periféricas a partir da

instalação de postos de abastecimento ao longo das principais rodovias torna-se possível

porque se sabe que um posto que comercializa GNV tem um consumo padrão de cerca de 150

mil m³ a 200 mil m³/mês (BNDES, 2006).

Existem fortes críticas às subvenções para estimular o uso do GNV em veículos leves, uma

vez que este combustível é escasso e ocupa uma parte do mercado do álcool e da gasolina. O

que se considera estrategicamente correto seria a substituição do diesel utilizado no transporte

coletivo das grandes cidades, o que pode melhorar a qualidade do ar e reduzir as necessidades

de importação deste combustível. Portanto, deve ser levado em conta que, no caso de ocorrer

falta de gás no mercado nacional, o risco de não atendimento da demanda deste segmento é

elevado, ou seja, este seria um dos primeiros segmentos a sofrer redução de oferta. Na atual

conjuntura, tal redução poderia ser absorvida pelo mercado, pois os automóveis movidos a

GNV podem utilizar outros combustíveis.

Comparativo das vantagens econômicos no uso de GNV (Preços médios de 29/7/2018 a 4/8/2018

Aplicado a frota de veículos leves tendo como base: 250 km/dia

Consumo Custo Gasto/dia Custo/km Gasto em 25 dias Consumo/km

GNV 18 m3 R$ 2,73 R$ 49,14 R$ 0,20 R$ 1228,50 13,8 km/m3

Álcool 31L R$ 2,72 R$ 84,32 R$ 0,34 R$ 2108,00 8km/L

Gasolina 28 L R$ 4,47 R$ 125,16 R$ 0,50 R$ 3129,00 9km/L

Tabela11:Comparativo das vantagens econômicos no uso de GNV (Elaborado com dados da ANP, 2018).

d. Setor residencial e comercial

Os segmentos residencial e comercial, que se caracterizam pelo consumo unitário de

pequenos volumes e se encontram geograficamente muito pulverizados, somente são

atendidos com gás canalizado se houver um grande consumidor (âncora) localizado nas

proximidades ou se houver um número mínimo de consumidores comerciais e residenciais

concentrados que justifiquem a implantação de uma malha de baixa pressão. Após a

implantação da rede básica, a etapa seguinte é a capilarização das malhas, quando se realizam

investimentos apenas marginais para possibilitar o atendimento dos clientes residenciais e

comerciais, que pagam as maiores tarifas unitárias. Dessa forma, a combinação de

investimento marginal com a cobrança de altas tarifas unitárias faz com que as maiores

margens de lucro das distribuidoras de gás sejam obtidas desses clientes. As principais

vantagens do gás canalizado para os consumidores residenciais e comerciais são as seguintes:

(1) não é necessário o reabastecimento de combustível (como ocorre com o gás de botijão

GLP); (2) é reduzido o nível de perda ou de escape do combustível, o que melhora a

segurança das instalações; e (3) o pagamento da fatura é realizado a posteriori ao consumo

(BNDES, 2006).

Essas vantagens proporcionadas pelo gás canalizado fazem com que os consumidores

residenciais e comerciais, depois que passam a utilizar gás canalizado, sejam menos sensíveis

a variações do preço do combustível substituto. Ou seja, sua demanda é mais inelástica e eles

se tornam muito mais fiéis do que os outros clientes. Por isso, um número grande de

consumidores residenciais ou comerciais no portfólio de clientes de uma distribuidora

minimiza seu risco de inadimplemento e, consequentemente, melhora a previsibilidade dos

fluxos de receita futuros.

Cabe destacar aqui que o fornecimento de gás natural para o segmento residencial tem um

papel importante para o setor elétrico, pois reduz a demanda de pico. Isso advém do fato de

que no Brasil é amplamente difundido o uso do chuveiro elétrico com emprego de energia

elétrica. Muitas usinas são construídas para atender a essa demanda de pico e na maior parte

do tempo essas usinas não são despachadas, o que gera um desperdício não desprezível de

recursos. Por esse motivo, é muito mais eficiente utilizar o gás natural para aquecer

diretamente a água nas residências, o que minimiza as ocorrências das demandas de pico do

sistema elétrico. Portanto, os segmentos residencial e comercial exercem um papel

importante não só para a indústria do gás através do aumento da taxa de rentabilidade e da

redução do risco comercial à medida que a rede se capilariza , mas também para o setor

elétrico nacional, pois diminui as necessidades de investimento ao reduzir a demanda de pico.

(BNDES, 2006)

7.4.5. Demanda futura

Para o horizonte de longo prazo, é considerado o aumento da oferta de gás natural com a

produção do Pré-sal e de gás não convencional, ampliando a disponibilização desta fonte ao

mercado. Consideradas estas premissas para o horizonte em estudo, a perspectiva é de

aumento de 3,6% ao ano no consumo final gás natural no Brasil. A figura34 ilustra a projeção

do consumo de gás natural até 2050, por setor de consumo e no período 2013-2050. Estima-

se que a demanda brasileira total de energia aumente pouco mais de duas vezes quando

comparada com o ano base, com destaque para o avanço do gás natural, da eletricidade e dos

derivados de petróleo e de cana-de-açúcar (MME, PNE 2050).

Figura34: Estimativa da demanda futura de gás no Brasil (MME, 2017)

Observações:

- O gráfico apresenta a evolução da estrutura do consumo final de gás natural, onde se

observa a forte expansão da participação do consumo como matéria-prima (consumo não

energético) até 2030 e a redução de participação no consumo do setor energético, pois as

novas refinarias instaladas após 2020 não consumirão gás natural.

- O setor residencial, apesar da pouca representatividade, expande seu consumo de gás

natural em torno de 10 vezes o consumo atual até 2050. Isto se deve à premissa de

investimentos em expansão da malha de distribuição de gás, disponibilizando o combustível

para a maior parte dos consumidores nos grandes centros urbanos e o setor industrial, que

detém a maior parcela do consumo de gás natural, acelera a expansão devido ao aumento da

disponibilidade do gás natural.

7.4.6. Porção de gás produzida e importada não ofertada ao mercado nacional

Vale ressaltar que não é todo o volume de gás produzido ou vindo de fora (importado) chega

no mercado de consumo para atender os diferentes setores de consumo citados acima; parte

desse gás é usado nas operações de exploração e produção (E&P), nas UPGN (unidades de

Processamento de gás natural), outra porção é reinjetada e outra queimada, há também

consumo de gás no seu sistema de transporte, queima e perda nas operações de E&P e de

transporte. A figura 35 que segue representa essas quantidades, referentes aos anos 2015,

2016 e 2017. Pode-se aproveitar parte desse gás, principalmente do gás reinjetado e

queimado, para aumentar a oferta nacional. Em 2017, a quantidade de gás reinjetado e

queimado representaram 35% da oferta nacional e 28,6% da produção nacional. Há campos

de gás associado offshore em que, por não viabilizar projetos de gasodutos de escoamento

por causa da longa distância que separa os campos da costa, opta-se por reinjetar o gás

produzido (mesmo sem intenção de aumentar a produção de óleo) e queimar outra parte.

Outros modos de transporte de gás natural ou da sua energia, que serão apresentados adiante,

podem ser usados para aproveitar parte desse gás.

Figura35: Porção de gás produzida e importada não ofertada ao mercado nacional. (Elaborada com dados do MME, 2018)

7.5. Alternativas para o transporte do gás natural no Brasil.

A cadeia da Indústria de gás natural é uma rede com vários pontos interconectados, desde a

produção até o mercado de consumo. Estes pontos transitórios se encontram ligados por

modais logísticos. Para ligar os diversos nós dessa cadeia, diferentes formas de transporte são

usadas e esses meio de transporte são de importância capital no sucesso da indústria de gás

natural em uma dada região. O caso da indústria brasileira de gás natural não é diferente, a

ambição de consolidar a integração de gás natural na matriz energética nacional e, de forma

geral, a possibilidade de responder adequadamente à crescente e grande demanda anunciada

no futuro, passa pela capacidade de disponibilizar adequadamente ao consumidor a oferta de

gás natural na altura da demanda e no ponto de consumo. A nível mundial, vários países saõ

anunciados com aumento na capacidade de produção futura de GN, graças ao avanço na

tecnologia e à descoberta de novas reservas exploráveis, incluindo as reservas de gás natural

não convencional. Tal aumento esperado na produção mundial poderia ser uma boa notícia

para o mercado brasileiro, contando com uma boa oferta vinda de fora para abastecer o

mercado nacional. Mas é provável que o país não precise tanto de tal apoio externo

considerando o enorme potencial que agora têm para satisfazer a sua própria demanda e

talvez passe a ser exportador, graças a suas reservas na recém descoberta província petrolífera

de pré-sal e as reservas não negligenciáveis de gás natural não convencional ainda

inexplorado. Porém, esse potencial precisa ser apoiado pela regulação e infraestrutura, em

particular o meio de transporte, adequada para que responda as expectativas que se tem desse

potencial em relação ao mercado nacional, um grande mercado que conta 3.050 clientes

industriais, 36.122 clientes comerciais, 26 distribuidoras (a Petrobras tem participação em

pelo menos 20 delas), 440 municípios e 3.060.213 residências atendidas, sendo que o

potencial de expansão do mercado é ainda enorme pois, segundo a Associação Brasileira das

Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado , o gás natural canalizado está presente em

apenas 470 das 5570 cidades do país e atende 3 milhões de residências num total de 68

milhões de domicílios brasileiros, onde o gás natural não chega se recorre ao uso do gás de

botijão , GLP (ABEGÁS, 2014).

Como afirma a FGV Energia (FGV, 2015), a escolha da forma de movimentação do gás entre

a jazida produtora e o mercado consumidor é uma questão estratégica para a indústria do Gás

Natural. Historicamente, as dificuldades no transporte do gás eram tão significativas que

terminavam por direcionar grande parte da produção de gás para a queima, quando se tratava

de gás associado, ou de abandono do campo, quando se fazia uma descoberta de gás não

associado. Hoje em dia, no entanto, existem formas de transporte que atendem a diversos

cenários de oferta e demanda.

7.5.1. Modos de transporte do gás natural

a. Gás natural comprimido (GNC)

O GNC é o gás natural processado e condicionado para o transporte em ampolas ou cilindros,

à temperatura ambiente e pressão próxima à condição de mínimo fator de compressibilidade,

cerca de 220 bar (ANP). Para o transporte offshore, esta modalidade apresenta uma

inviabilidade econômica pelo alto custo da tecnologia de navios específicos para este

transporte. O Gás Natural Comprimido é ideal para indústrias, postos de abastecimento,

fábricas e plantas de processamento localizadas longe dos gasodutos tradicionais mas

próximo da unidade de compressão de GNC, num raio de cerca de 300km. A atividade de

distribuição de GNC a granel abrange a aquisição, recebimento e compressão do gás natural,

bem como o armazenamento, distribuição, comercialização e controle de qualidade do GNC.

Pela sua alta flexibilidade, a distribuição de GNC a granel representa uma alternativa para

estimular o desenvolvimento de novos mercados de gás natural no Brasil, mais

particularmente em lugares não atendidos pela infraestrutura de transporte e distribuição

dutoviária do País. Todavia, o lado negativo desta modalidade no Brasil refere-se ao risco de

interrupção de fornecimento visto que este sistema está ainda na fase de desenvolvimento no

Brasil. A complexidade e elevados riscos de acidentes são outros seus inconvenientes.

Em relação ao uso de gás natural veicular (GNV) com suas vantagens ambientais e

econômicas, o Brasil é um mercado ainda em desenvolvimento com grande potencial de

expansão deste tipo de combustível veicular, podendo ser apoiada pela modalidade GNC para

abastecer os postos. Entre os Estados brasileiros, 7 Estados, a maioria do Norte (Roraima,

Amapá, Maranhão, Pará, Maranhão, Tocantins, Acre e Rondônia) não dispõem ainda de

postos para abastecimento de GNV e entre os Estados que dispõem de tais postos, alguns têm

muito poucos, a exemplo do Piauí com 1 posto, Goiás com 2 postos, distrito federal (Brasília)

com 2 postos, Matogrosso com 5 postos e Amazonas com 6 postos (GASNET, 2017).

No Brasil, a ideia original era de se utilizar o GNV como substituto do óleo diesel para a

propulsão da frota de veículos pesados nos centros urbanos. Esta frota é composta por micro

ônibus, ônibus e caminhões de diversas tonelagens. Esta idéia deu lugar a uma maior difusão

do uso de GNV na frota de veículos leves, em função algumas dificuldades inerentes ao

mercado de GNV como substituto do óleo diesel, tais como: pequena diferença entre o preço

do óleo diesel e do GNV e pouca disponibilidade em território nacional de Postos de Serviço

com capacidade específica para atender à frota (GASNET, 2013).

O GNV, quando usado, além de apresentar baixa emissão de gases e partículas nocivos à

saúde e ao meio ambiente, mantém o motor em boas condições de limpeza e, assim,

observam-se menores taxas de desgaste para um mesmo período de utilização, quando

comparado com motores alimentados com combustíveis líquidos. Há também menor

frequência na troca do escapamento do veículo, pois a queima do gás natural não provoca a

formação de compostos de enxofre, diminuindo a corrosão e tem um bom rendimento em

relação aos outros combustíveis veiculares líquidos, para um veículo popular: 8km/l para

alcool, 10km/l para gasolina, 12 km/m³ para GNV. A economia com a utilização do GNV

chega a 66%, sendo indicado para usuários que rodam acima de mil quilômetros por mês,

devido ao custo da transformação do veículo (VIANNA, 2017).

Figura36: Estados brasileiros que têm postos de GNV (Gasnet, 2017)

b. Gas to liquid (GTL)

O GTL é um processo que converte Gás Natural em combustíveis líquidos estáveis similares

aos derivados líquidos de petróleo (gasolina, diesel, querosene,) usados como combustíveis

em veículos. Obtém-se também lubrificantes e matérias primas, como o wax, a serem usadas

na indústria petroquímica para produção de diversos produtos como detergentes, plásticos,

cosméticos, tintas, velas, ... aumentando ainda valor ao Gás natural que sofreu transformação.

A tecnologia mais usada para GTL é a síntese de Fischer-Tropsch (F-T). Apesar dessa

tecnologias (F-T) ser antiga de quase um século, o interesse da indústria de petróleo nela é

bem recente; a crescente diferença entre os valores dos derivados de petróleo e o custo de gás

natural tem justificado este recente pelo uso desta tecnologia. O primeiro passo no processo

de GTL usando a tecnologia F-T é a conversão do Gás Natural (composto em maior parte de

metano), em uma mistura de hidrogênio, carbono, dióxido de carbono e monóxido de

as é separado de

outros produtos indesejáveis presentes na mistura (enxofre, água e dióxido de carbono) para

evitar a contaminação do catalizador. A reação F-T faz reagir hidrogênio e monóxido de

carbono na presença de catalizador para formar hidrocarbonetos líquidos e este líquido são

finalmente processados usando diferentes tecnologias de refino para obter combustíveis

líquidos. A reação F-T requer pressão e temperatura altas (40 atmosferas e 500 a 840 °F) na

presença de um catalizador de ferro. O custo de fabricação de um reator que permite produzir

um certo volume requerido de combustível (ou outros subprodutos) e que suporta tal

condição de pressão e temperatura, pode ser grande. Por isso, muitas empresas estão

procurando métodos alternativos para usar um reator com design diferente chamado reator

- dução em escalas mais

reduzidas (EIA, 2014).

O processo GTL é então uma alternativa de transporte e agregação de valor de gás natural,

que facilita o transporte de Gás natural e que pode ser até mais vantajoso, em algumas

circunstâncias (por exemplo quando os derivados de petróleos apresentam grandes diferença

de valores no mercado acima do valor do Gás natural), que a modalidade GNL (Gás Natural

liquefeito) já que este último não envolve transformação que agrega valor no produto final e

além do custo do processo de liquefação, há o alto custo de navio de transporte ( metaneiro)

devido à tecnologia criogênica que conserva o Gás Natural em volume reduzido na fase

líquida. A modalidade GTL viabiliza a valorização das reservas de gás associadas ao permitir

a conversão de Gás Natural em combustíveis líquidos (de maior valor em relação ao gás

natural) em vez de ser queimado, porém essa modalidade requer a instalação de outros

equipamentos na plataforma que acabam exigindo mais espaço e mais medidas de segurança,

o que aumenta o custo de investimento.

c. Gás natural liquefeito (GNL)

O GNL é o gás natural no estado líquido obtido mediante processo de criogenia a que foi

submetido e armazenado em pressões próximas à atmosférica. (Resolução ANP nº 41, de

5/11/2013)

O Gás Natural é convertido em Gás natural liquefeito (GNL) principalmente para viabilizar o

transporte de GN em longas distâncias na via marítima onde o transporte por gasoduto não

seria técnica e economicamente viável. O GNL permite reduzir o volume do gás natural mais

do que o Gás Natural Comprimido (GNC), assim a densidade volumétrica de energia chega a

ser 2,4 vezes maior que a do CNG comprimido a 250 bar e chega a equivaler 60% da

densidade volumétrica de energia do óleo diesel. Esse aumento na densidade de energia torna

eficiente transporte de Gás Natural a alonga distância pela via marítima, porém o transporte

na forma de Gás Natural Comprimido pode ser economicamente viável para transporte

marítima em médias distâncias. Navios criogênicos (metaneiros) são usados para transportar

o GNL até o mercado de consumo onde é regaseficado antes de ser distribuído. O custo de

produção é relativamente alto e a necessidade de usar um navio metaneiro com tecnologia

criogênica que o torna caro, dificulta a expansão do seu uso comercial, mesmo assim essa

tecnologia transporte que já tem cerca de 40 anos e, atualmente, domina aproximadamente

25% do comércio mundial de Gás Natural. A atividade de distribuição de GNL abrange a

aquisição dos produtos, bem como seu recebimento, armazenamento, transvasamento,

controle de qualidade, transporte, entrega aos consumidores finais e às Instalações de

liquefação e regaseificação.

Figura37: Processo de GNL (adaptada de Robrigo Morães, 2015)

A atividade de distribuição de gás natural liquefeito (GNL) a granel representa uma

alternativa para estimular o desenvolvimento de novos mercados de gás natural no Brasil, em

especial em localidades não atendidas pela infraestrutura de transporte e distribuição

dutoviária, o desenvolvimento dessa tecnologia no país será útil para viabilizar a exportação

do Gás Natural nacional. Mas a desvantagem da tecnologia do GNL é que cerca da metade do

capital total é direcionado para a construção da planta de liquefação e tratamento prévio para

a retirada de impurezas do GN para possibilitar a liquefação, fazendo com que o investimento

seja caro. (CORDEIRO 2005)

O Brasil dispõe de três terminais de regaseificação em operação, todos da Petrobras e sem

obrigação regulatória para deixar livre acesso a outros agentes (produtores e importadores de

GN) , que podem despachar até 41 MMm³/dia de gás natural à malha de transporte: um no

Porto de Pecém, no Ceará, com capacidade de regaseificação de 7 MMm³/dia; um na Baía de

Guanabara, no Rio de Janeiro, com capacidade de 20 MMm³/dia; e um terceiro na Baía de

Todos-os-Santos, na Bahia, com capacidade para regaseificar 14 MMm³/dia. Estes terminais

estão conectados à malha integrada de gasodutos de transporte, permitindo o direcionamento

das cargas de GNL regaseificadas para o mercado. (FGV- Energia). A importação de GNL,

vindo principalmente do Catar, Nigéria, Noruega e Trinidad e Tobago, auxilia muito no

suprimento de GN no Brásil para completar a oferta nacional.

A ampliação das infraestruturas, em particular os terminais de regasificação, e garantia de

acesso à elas por outros agentes privados (produtores e importadores de GN) é importante

para o desenvolvimento do mercado brasileiro de GN, um mercado que precisa ainda

amadurecer. De fato, o mercado nacional de GN precisa aumentar a concorrência

diversificando suas fontes de suprimento de GN e criando um mercado secundário de GN

para dar mais segurança a seus consumidores. A preocupação com ampliação e acesso às

infraestruturas de GN no país deveria ser ainda maior com o fim do contrato de importação

de GN da Bolívia, maior fonte alternativa de GN para o mercado Brasileiro, em 2019 e a

incerteza sobre a capacidade deste país exportador para horar o contrato em caso de

renovação do mesmo, já que desde 2005, com a nacionalização das reservas e a fuga de

empresas estrangeiras, a produção boliviana estaria estagnada. Para o setor de geração de

energia elétrica, há dificuldade para os produtores independentes assinar um contrato de

longo prazo de fornecimento de GN para usinas termoelétricas por não possuírem um

portfólio de vários suprimentos de gás para garantir o suprimento mesmo nos imprevistos

períodos da baixa na produção, como é o caso da Petrobrás que além da sua própria

produção, pode contar com a sua importação de gás da Bolívia e com o GNL importado

através de seus terminais de regaseificação.

d. Hidrato de gás natural(HGN)

Hidrato de Gás Natural é uma fase sólida de uma estrutura cristalina formada por moléculas

de gás e de água; essa estrutura feita de moléculas de água que engaiolam pequenas

moléculas de gás é formada a altas pressões e baixas temperaturas. A estabilidade dessa fase

sólida é mantida pelas forças de Van der Waals entre a molécula de gás no centro e as

moléculas de água que o cercam (KOH, SLOAN, 2007).

Figura38: Estrutura de hidrato de metano (U.S. DOE, 2014)

Na figura 38: à esquerda, tem-se uma estrutura de hidrato de metano: molécula de metano

metano (parecendo gelo) em chama.

No fundo de algumas partes de oceano e em algumas regiões frias na terra, encontram-se

grandes quantidades de metanos na forma de hidrato formado naturalmente, que aparece

como gelo. Da mesma forma nos dutos de escoamento de petróleo ou gás natural, o hidrato

pode se formar quando condições de temperatura e pressão são reunidas; isso é um problema

que preocupa e necessita tomada de medidas para evitar ou remediar a sua ocorrência pois

acaba obstruindo a passagem de fluidos que se quer transportar através de dutos. Não

obstante, o hidrato de gás natural, não é apenas visto como um problema na indústria de gás

natural; de fato, passou a ser também uma solução, embora seja ainda uma tecnologia em

desenvolvimento, no transporte de gás natural ao lado das formas mais tradicionais de

transporte deste energético.

O processo de transporte de gás natural na forma de hidrato compreende as etapas de síntese

de hidrato que se obtém ao colocar gás e água em contato em baixa temperatura e alta

pressão. Uma vez sintetizado, o hidrato de gás é transportado (com condição de transporte

variando entre 1 atmosfera de pressão a 241 k a 85 atmosferas a 285 k) até o local de

consumo onde vai ser regaseificado (alta temperatura/baixa pressão) para separar o gás da

água e por fim, antes de ser enviado aos consumidores, o gás é tratado (desidratado) para tirar

água que escapou junto com gás.

Figura39: Processo de transporte de GN na forma de hidrato (adaptada de Mannel&Puckett,

2008)

Em comparação com a modalidade de transporte de GN na forma de GNL, o transporte na

GN na forma de hidrato(HGN) está em desvantagem por não confinar elevada densidade de

energia como o GNL. De fato, o hidrato contém 6,5 toneladas de água por cada tonelada de

gás natural transportado enquanto que todo o conteúdo do GNL consiste em gás. A vantagem

que o hidrato apresenta é que os processos da sua síntese e regaseificação são mais baratos

que no caso do GNL pois a formação de hidrato não envolve investimento em equipamentos

muito caros e não gasta tanta energia quanto no processo GNL, isto por que a síntese de

hidrato não requer temperatura muito baixa nem pressão muito alta. No caso de estocagem de

gás natural para atender o mercado no momento de pico na demanda, o hidrato de gás, apesar

de ser ainda uma tecnologia em desenvolvimento, se revela propício pois além de permitir a

redução do volume de gás a ser estocado, não apresenta altos custos, estes custos são ainda

reduzidos em países com clima frio, pois a baixa temperatura ajuda a conservar naturalmente

o hidrato sem necessidade de manter uma pressão alta no tanque de estocagem. No Brasil, um

estudo feito em 2007 por pesquisadores da UFRJ sobre o custo e benefícios econômicos de

tecnologia de transporte de gás natural no Brasil baseada no método de payback, conclui que

o hidrato de gás natural é a opção menos econômica das seis estudadas na época (GNL,

gasoduto, GNC, GTL, GTW, HGN) porém, a mesma modalidade de transporte fazia parte

das favoritas no estudo realizado por Chang em 2001 em países como Japão, Coreia do Sul e

China, regiões com mercados de gás natural mais desenvolvidos em relação ao mercado

brasileiro. Assim, com mais avanço na tecnologia de hidrato de gás e com o desenvolvimento

do mercado de GN no Brasil, esta modalidade de transporte e estocagem de GN pode mais

uma alternativa para sustentar o mercado de gás no país.

e. Gas to wire (GTW)

O Gas To wire, ainda chamado de Gas To power é uma forma de monetizar a produção de

gás natural a partir da conversão da energia do gás natural em eletricidade logo no local da

produção (na boca do poço), seguida da transmissão da energia elétrica para o mercado de

consumo diretamente através da rede de transmissão no caso da produção onshore ou

passando primeiro por cabos submersos de alta voltagem no caso de produção offshore. A

energia elétrica produzida também pode ser fornecida diretamento aos consumidores

industriais com alta demanda de energia.

Para transmissão da energia elétrica produzida a partir de uma unidade de produção offshore,

pode-se transmitir a eletricidade com um sistema de cabo de corrente corrente alternada (AC)

no caso de uma limitada potência e distância a ser percorrida, isto porque para distâncias

relativamente longas, há muito mais perda de energia ao transmitir uma corrente AC, neste

caso é recomendado um sistema de transmissão de corrente contínua (DC) que mais

favorável para distâncias maiores que 50km pois apresenta menos perda apesar de outras

perdas adicionais de energias e custo na conversão da corrente DC para corrente AC mas no

total há mais vantagem para longas distâncias e ainda o cabo de transmissão submarino de

corrente contínua é mais simples (com poucos condutores) e custa menos. Para transmissão

onshore de uma grande quantidade de energia, em geral a transmissão de corrente contínua é

mais econômica para distâncias maiores que 600 km a 800km dependendo da capacidade do

sistema (PETROWIKI, 2015).

No Brasil, o GTW pode ser uma alternativa para viabilizar a produção de gás natural das

jazidas de gás associado no pré-sal brasileiro já que os campos de produção se situam a

grandes distâncias da costa e em águas ultra profundas (necessita de dutos coros capazes de

resistir grandes pressões) tornando muito caro o investimento em gasodutos de escoamento

para o continente. Ademais, mesmo que alguma empresa produtora de hidrocarboneto seja

apenas interessado na produção de óleo no pré-sal, seria obrigado a reinjetar a maior parte do

gás associado produzido pois a regulamentação limita a quantidade de gás que pode ser

queimada e dessa forma, teria um custo adicional ligado a reinjeção deste gás (este custo de

injeção é mais caro ainda em águas ultra profunda como é caso do pré-sal) e que talvez não

seria compensado pelo aumento na produção de óleo devido ao efeito de reinjeção de gás,

pois no caso de uma injeção de gás em reservatório de óleo com objetivo de aumentar a

produção, existe um limite econômico na quantidade de gás injetada. E uma injeção não

controlada de gás pode até prejudicar as reservas recuperáveis do óleo do reservatório

diminuindo ainda mais os ganhos. Converter a energia do gás produzido para energia elétrica

na boca poço pode ser também uma solução para a maioria das empresas produtoras de gás

no Brasil que se encontram obrigadas a vender suas produções à Petrobras por falta de acesso

à infraestrutura de escoamento, transporte e processamento de gás cuja a maior parte é detida

pelo estatal brasileiro.

f. Gasoduto

É o modo de transporte de GN por uma estrutura composto principalmente de dutos. Este

meio de transporte, que é o mais tradicional da indústria de GN, é usado para distancia não

muito grande. A construção de um gasoduto, necessita de grandes investimentos e um longo

período para recuperação do investimento, apesar das vantagens da segurança do suprimento

e do alto volume transportado de forma contínua, a desvantagem de uma estrutura de

transporte por dutos é a sua inflexibilidade no atendimento ao mercado consumidor, pode-se

atender apenas aos consumidores próximos de seu traçado. Além disso, para a exploração

offshore há risco de formação de hidrato que pode atrapalhar o transporte e para evitar isso,

muitas vezes é usado um inibidor de hidrato, que além de aumentar muito o custo de

transporte e exigir uma grande capacidade de armazenamento, apresenta um grande problema

que é a contínua injeção de inibidores, que podem causar contaminação do produto

(PETROBRAS, 2007).

A lei Nº 11.909/2009, a lei do gás, estabelece três tipos definições de gasodutos:

f1) Gasodutos de transferências: duto destinado à movimentação de gás natural,

considerado de interesse específico e exclusivo de seu proprietário, iniciando e terminando

em suas próprias instalações de produção, coleta, transferência, estocagem e processamento

de gás natural

f2) Gasodutos de escoamento da produção: dutos integrantes das instalações de produção,

destinados à movimentação de gás natural desde os poços produtores até instalações de

processamento e tratamento ou unidades de liquefação. Para este tipo de gasoduto a lei não

garante a obrigação de permitir acesso a terceiro. Os gasodutos de escoamento da produção

não integrantes de concessão de exploração e produção de petróleo e gás natural são

autorizados pela ANP.

f3) Gasodutos de transporte: Os gasodutos de transporte se caracterizam como

infraestruturas para movimentação de gás natural desde instalações de processamento,

estocagem ou outros gasodutos de transporte até instalações de estocagem, outros gasodutos

de transporte e pontos de entrega a concessionários estaduais de distribuição de gás natural.

Além dos três principais tipos, hás gasodutos integrantes do terminal de GNL que a resolução

ANP º 50/2011 define como aqueles que são utilizados exclusivamente pelo terminal de GNL

mas a lei põe limite a este tipo de gasoduto: após a interligação do terminal de GNL à malha

de transporte por um gasoduto classificado como integrante do terminal, novos gasodutos

com o objetivo de interligar o terminal à malha de transporte serão classificados como

gasodutos de transporte (Art. 13, § 3º). Os gasodutos de distribuição são aqueles usados pelas

distribuidoras no nível estadual para entregar o gás para os consumidores finais. Este tipo de

gasoduto está sob a regulação estadual diferentemente dos outros tipos que estão sob a

regulamentação federal.

Figura40: Classificação de gasodutos no Brasil. (ANP)

Os gasodutos de transporte são muito importantes, pois são o principal meio para a entrega da

oferta de GN produzido no mercado consumidor dentro de um país ou de uma região não

muito distante do ofertante. Apesar de exigir grandes investimentos, de não permitir aumento

da sua capacidade máxima e de ter pouca flexibilidade quanto à rota de transporte uma vez

instalado, a vantagem do transporte por gasoduto é que apresenta uma economia de escala e

consome menos energia minimizando assim o custo médio de transporte. Além disso, o

transporte por gasoduto é mais seguro, não necessita de frequentes manutenções e permite o

transporte através de locais de difícil acesso. O Brasil possui uma malha de gasoduto de

transporte de cerca de 9409 km, a maior parte se localiza no sul e na costa leste do país e da

qual a Estatal Petrobrás, diretamente ou por meio de suas subsidiárias Petrobras Logística de

Gás S.A. e Transportadora Associada de Gás S.A (TAG), detém participação em 97% do

total da malha dutoviária do País. Dentre as transportadoras existentes, a única que não possui

participação da Petrobras é a GasOcidente (GasOcidente do Mato Grosso Ltda.). Assim as

quatro empresas que detém a malha de gasoduto no país são: a TAG (Transpotadora

Associada de Gás, subsidiara da Petrobrás), a TSB (Transportadora sulbrasileira de Gás S.A,

com 25% da participação da Petrobrás através da GASPETRO), a TBG (Transportadora

Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, com 51% da Petrobras através da Petrobras logística de

Gás S.A) e a Gasocidente.

Figura41: Malha de gasoduto de transporte no Brasil (EPE, 2015)

Em relação ao potencial do mercado de gás natural no país, o tamanho da malha brasileira é

ainda insuficiente. Em relação a países com mercado de gás mais desenvolvido como os

Estados unidos, Canada e outros países europeus, como pode ser visto na figura 42, o Brasil

precisa ainda da instalação de mais gasoduto no seu território para a consolidação do seu

mercado de gás natural pois para uma indústria de rede, como é o caso da indústria de gás

natural, o investimento em infraestrutura sustenta a demanda e oferta mas, paradoxalmente, é

preciso haver demanda e oferta para motivar o investimento em infraestrutura. No caso do

Brasil, o seu potencial na demanda e oferta assegura os investimentos em nas infraestrutura.

A maior parte da produção brasileira de gás natural vem de campos offshore mas o país

possui um potencial não negligenciável na produção de gás onshore se considerar suas

reservas de gás convencional onshore e além disso, o Brasil é um dos países da América

latina com maiores estimativas de gás natural não convencional (tight gas e shale gas)

localizado em bacias como Paraná, São Francisco, Parnaibá, Potiguar, Reconcavo, Amazonas

e Solimões. A ampliação da malha nacional de gasoduto pode ajudar a tornar esses locais

onshore interessantes para investidores na produção de gás natural já que alguns deles se

encontram longe do alcance da atual malha.

Figura 42: Extensão da malha de gasoduto de transporte por país (MME, 2012)

A produção de gás natural no Brasil é maioritariamente de gás associado offshore e a

província petrolífera de pré-sal tem um grande destaque pois além ser a zona que aumentou

mais a produção nacional de gás, é também a maior promessa para o crescimento da

produção nacional no futuro. Porém, observa-se que atualmente um problema ligado à

limitação nas infraestruturas de escoamento do gás produzido. O fato dos campos de

produção serem de águas profundas e situados muito longe da costa, torna caro o

investimento em infraestrutura de escoamento e inviável para alguns casos. Como estipulado

em uma publicação da Fundação Getúlio Vargas, a legislação vigente garante o livre acesso a

dutos de transporte. No entanto, não existe garantia de livre acesso a dutos de escoamento,

utilizados para a movimentação do gás offshore, onde ele ainda não foi processado. Grandes

campos produtores viabilizam o escoamento offshore ao produzir volumes suficientes de gás

para amortizar o elevado investimento em infraestrutura. Mas, campos menores, ou com

baixo razão Gas-óleo (GOR), não conseguem monetizar o gás produzido, e acabam forçados

a queimar ou vender o gás para a Petrobras, que tem maior escala de produção no Brasil.

Diante de tal conjuntura, entendemos que o escoamento do gás offshore precisa ser discutido,

pois favorece a centralização da oferta em um único agente, além de incentivar o aumento da

queima ao dificultar a monetização do gás produzido. Consequentemente, também restringe a

promoção da ampliação da oferta de Gás Natural.

7.5.2. Estocagem de gás natural

Como já mencionado anteriormente, a estocagem de gás natural pode ser feita em instalações

artificiais que é uma forma de estocar volumes muitos pequenos, ou em instalações naturais

adaptadas. Nesse último caso fazemos referência às instalações de estocagem subterrânea de

gás natural que pode ser feita em um aquífero, em um reservatório depletado de gás natural

ou petróleo ou em uma caverna salina. Para os modos de armazenamento não convencionais,

que são recentes formas de estocagem e ainda pouco usadas, em uma mina desativada ou em

uma caverna de rochas alinhadas.

A estocagem de gás natural é um elemento importante que sustenta o mercado de gás natural,

a prática de estocagem de gás é aplicada em muitos países com mercado de gás mais

desenvolvido, a exemplo de Estados unidos da américa com 414 unidades de estocagem

subterrâneo de gás natural com capacidade total de 129,59 bilhões de m3 em 2013; Alemanha

com 46 unidades de estocagem com capacidade total de 20,69 bilhões de m3 em 2013;

França com 16 unidades de estocagem com total de 12,595 bilhões de m3 em 2012; Rússia

com 26 unidades de estocagem com capacidade total de 68,16 bilhões de m3 em 2014,

Canada com 50 unidades de estocagem com capacidade total de 19,7 bilhões de m3 em 2013,

Itália com 10 unidades de estocagem com capacidade total de 12,262 bilhões de m3 em 2012.

Sendo que as capacidades de estocagem mencionadas acima se referem apenas ao volume de

gás de útil (gás de trabalho) que é a porção de gás que se pode retirar do total do gás

estocado; não se contabiliza então o volume de gás de base (gás de amortecimento) que é a

quantidade de gás que não é retirada do armazenamento, serve para fornecer pressão que

possibilita a retirada do gás útil para ser usado quando há necessidade.

A estocagem subterrânea é um componente importante na cadeia de gás natural, ela atua no

sentido de garantir o fornecimento adequado do gás natural sobretudo em momentos críticos

que pode ser um período de pico na demanda ou quando acontece uma interrupção não

esperada do fornecimento de gás. Nos países com severos invernos, como os países europeus

e da América do norte, a grande necessidade de aquecimento de domicílios, ambientes de

trabalho e de lazer, causa um brusco aumento da demanda por gás natural e é nesse momento

que o gás estocado é colocado no mercado para reforçar a oferta disponível afim de favorecer

o equilíbrio entre oferta e demanda. A estocagem nesse sentido serve então para poupar o

excedente da quantidade ofertada no mercado quando a demanda está em níveis baixos e

recorrer ao estoque guardado quando os níveis de demanda aumentam trazendo assim um

equilíbrio no mercado.

A pesar das vantagens oferecidas pela estocagem subterrânea de gás, o mercado brasileiro de

gás natural não dispõe ainda de infraestruturas de armazenamento de gás como é o caso de

países citados acima cujos mercados de gás, mais desenvolvidos, podem servir de modelo

para no atual processo de desenvolvimento de mercado de gás brasileiro. O Brasil,

considerado um país tropical por ter a maior parte do seu território na zona tropical, de fato,

não seria levado a investir nas instalações de estocagem de gás com motivo de aumentar a

oferta em períodos de picos de demanda devido severos invernos. Mas sendo um país cuja

energia elétrica provem principalmente da força hidráulica e que há uma sazonalidade na

produção da energia hidrelétrica devido a alternância de períodos de alta e baixa (estiagem)

em níveis de água de rios que abrigam usinas hidroelétricas, o aumento do uso das usas

termoelétricas a base de gás para compensar o déficit das hidroelétricas, leva a um aumento

brusco na demanda de gás que pode justificar a prática de estocagem de gás no país.

Ademais, a estocagem de gás seria importante no Brasil para eliminar os custos excessivos

pelos quais se compra o gás importado na forma de GNL e de gás transportado pelo gasoduto

Brasil-Bolívia. De fato, o gás natural que o Brasil importa da forma de GNL é principalmente

trazido para aumentar a oferta de gás em momentos de aumento na demanda causada pela

necessidade de aumento no uso das termoelétrica em períodos de estiagem, o problema é que

em tal situação de compra emergencial, o gás caba sendo negociado no mercado spot ou

mercado de curto prazo que apresentam preços muitos voláteis e que as vezes chegam a ser

muito maior que o preço do gás da produção nacional ou do gás importado pelo gasoduto

Bolívia-Brasil e sabendo que um alto preço de gás que vai ser usado nas termoelétricas torna,

a princípio, torna cara a energia elétrica gerada para o consumidor final e diminui assim a

competividade do gás natural diante de seus substitutos fósseis (derivados de petróleos e

carvão) apesar destes últimos serem mais poluentes, uma situação que vai ao desencontro do

esforço atual que visa favorecer a participação de gás natural na matriz energética nacional. A

presença de instalações de estocagem no país possibilitaria fazer contrato mais favoráveis

(médio ou longo prazo) e não haveria preocupação em caso do gás entregue não ser

consumido totalmente no imediato pois teria maior capacidade de estocar o excedente de gás

e essa se evitaria reexportar essa quantidade ociosa, como se costuma fazer atualmente em

uma tal situação, e é revendida as vezes a um preço menor que o preço pelo qual foi

comprado como foi o caso no ano passado, 2017. Da mesma forma, a presença de instalações

de estocagem seria importante na importação de gás boliviano. O gás natural importado de

Bolívia via o gasoduto GASBOL, é fornecido sob um contrato do tipo take or pay, que é

caracterizado pelo fato do importador ser obrigado a efetuar o pagamento de determinada

quantidade mínima de gás natural, mesmo que este não seja efetivamente consumido no

período estabelecido contratualmente. Nesse caso, quando a quantidade de gás consumida

está abaixo do mínimo estabelecido pelo contrato, paga-se também por uma diferença de

quantidade de gás não consumida, tal perda financeira poderia ser evitada se tivesse uma

instalação de estocagem que permitiria importar sempre quantidade de gás maior ou igual ao

mínimo estabelecido pelo contrato e armazenar o excedente no momento de baixo consumo

para ser entregue aos consumidores quando há aumento na demanda.

A participação da energia eólica na geração de energia elétrica tem aumentado muito no

Brasil. Até junho 2018, o relatório do ministério brasileiro de minas e energia indicou uma

participação a eólica de 8,1% na geração de energia elétrica, quota empatada com a do gás

natural e em Agosto do mesmo ano a participação eólica ultrapassou a de gás natural na

geração da energia elétrica, ficando apenas atrás da hidroelétrica e biomassa e ainda previsões

estão a favor da eólica ocupar a segunda posição, atrás da hidroelétrica no futuro. A energia

solar também foi reportada com um crescimento de 577% no período de um ano, apesar de

ainda apresentar apenas 1% da energia elétrica gerada no país. Mesmo com um senário de

grande participação das energias renováveis como a eólica e solar na matriz energética

brasileira, permanecerá ainda a necessidade de ter uma fonte complementar na geração de

eletricidade para compensar os momento de baixa produção eólica e solar devido

inconstância da natureza em disponibilizar a luz e o vento que são as forças motrizes desses

meio de geração de eletricidade e além disso, a tecnologia atual não permite ainda armazenar

de forma eficiente o excesso de energia elétrica gerada em momentos propícios para ser

usada quando o tempo não favorece uma produção adequada para a demanda. Em regiões

mais dependentes desses tipos de energias renováveis como é o caso da região Nordeste, a

região mais seca do país e desfavorecida hidricamente para geração de energia hidroelétrica,

a participação da energia eólica pode chegar até cerca de 55% da energia consumida quando

há vento suficiente. O Nordeste junto com a região Sul, gera a maior parte da energia eólica

do país. Criar uma dependência dessas energias renováveis apresentam vantagens ambientais

mas é preciso uma outra fonte complementar adequada e mais disponível para a geração de

eletricidade como a termoelétrica a base de gás natural sustentada por um sistema de

estocagem de gás, para garantir um fornecimento confiável de energia elétrica. Conforme

indicado em alguns estudos, como no trabalho de Iyomassa et al (2005) ou trabalho de

Camilo G. Lima (2014), no Brasil existem locais com potenciais de abrigarem instalações de

estocagem subterrânea de gás. No sul por exemplo, a bacia de paraná é apontada como tendo

aquíferos que podem ser estudados para avaliar a possibilidade de estocagem. Na Região

Nordeste, a bacia de recôncavo possui muitos campos depletados, como o campo de Dias

Avila, de Fazenda Gameleira e de Lagoa verde, que podem ser aproveitados para fins de

estocagem de gás natural.

A presença de um mercado secundário de gás natural ajuda no processo de amadurecimento

de um dado mercado de gás natural pois favorece a diversificação da oferta e a estabilização

do equilíbrio entre a oferta e demanda. O mercado secundário de gás natural é apoiado pelas

instalações de estocagem onde os diversos agentes de um dado mercado de gás podem

guardar suas quantidades de gás cuja a compra é negociada em momentos de baixos preços

no mercado e esperam momentos de altos preços, quando a demanda supera a oferta

disponível, para vender o gás estocado no mercado, aumentando assim a oferta para favorecer

o equilíbrio entre a demanda e oferta. Esse mercado secundário traz também uma segurança

para contratos entre produtores de gás natural e seus clientes, em caso de falta ou baixa na

produção de gás devido a alguma situação imprevista, pode-se recorrer ao mercado

secundário para atender ao fornecimento estabelecido pelo contrato.

8. Conclusão

A indústria do gás natural conheceu um grande avanço desde os primeiros momentos em

que a humanidade descobriu as suas formas de uso. Da superstição na antiguidade às

tecnologias avançadas na sua cadeia de produção e nas suas diversas formas de uso hoje em

dia, a indústria de gás continua se consolidando e o seu produto, o gás natural, virou um

importante recurso na economia moderna na qual a preocupação com o meio ambiente guia a

escolha de meios de produção da energia e de outros bens. Enquanto não for possível

substituir totalmente os energéticos mais usados e mais poluentes no mundo, petróleo e

carvão, - pelas energias sustentáveis, em função da produção destas últimas serem limitadas

por fatores naturais e não controláveis pelo ser humano (inconstância de vento e luz solar, por

exemplo) e pela escassez de alguns de seus fatores de produção (por exemplo, no uso da

terra, há concorrência entre as atividades de produção de alimentos e da produção de

bioenergéticos) e ainda pela limitação da tecnologia de armazenamento da energia

sustentável produzida (solar e eólica), - permanecerá a necessidade de ter outra fonte de

energia complementar ao lado das renováveis. O gás natural por ser o menos poluentes entre

os energéticos fósseis e pelas suas reservas serem ainda abundantes no mundo, se encontra

favorecido para desempenhar este papel mas é preciso evitar o escape do gás natural na

atmosfera pois o seu componente predominante, o metano, é mais crítico que o dióxido de

carbono para o aquecimento da terra. Do outro lado, o contínuo crescimento da riqueza e da

população mundial faz aumentar a necessidade de produtos como alguns solventes e

fertilizantes para agricultura e que têm o gás natural como matéria prima. Tudo isso assegura

uma contínua demanda por este hidrocarboneto e que precisa ser atendida por uma oferta

adequada. As novas tecnologias de transporte de gás natural ou da sua energia facilitam a sua

oferta para o consumidor final. O transporte de gás na forma de GNL está sendo cada vez

mais importante no comércio mundial de gás natural e se revela primordial a integração de

mercados distantes de gás natural pelo mundo, tornando possível a oferta de gás de regiões

produtores para distantes mercados de consumo e diminuído as diferenças de preços de gás

pelo mundo. De acordo com os cenários apresentados, a previsão é de que haja equilíbrio

entre oferta e demanda no futuro. No horizonte 2030, a produção mundial esperada é de 4545

bilhões m³ e a demanda esperada está em torno de 4587 bilhões m³ (450 Bfc/dia). Já no

horizonte 2040, espera-se uma produção de 5304 bilhões m³, enquanto que a demanda

esperada está em torno de 5200 bilhões m³ (510 Bcf/dia).

No Brasil, o mercado de gás está em desenvolvimento. A ampliação da malha de gasoduto no

território nacional, o investimento nas infraestruturas de armazenamento de gás e o uso de

outras modalidades de transporte de gás natural ou da sua energia, podem ser importantes

nesse processo de desenvolvimento do mercado nacional de gás, que visa fornecer o gás

como matéria prima e como fonte de energia, útil para o crescimento e competitividade da

economia do país.

9. Referências

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