Dr. Frans Van Der Linden

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1) Qual sua abordagem clínica com relação à má- oclusão Classe III quando diagnosticada durante o período de crescimento craniofacial pré-puberal? Osmar Aparecido Cuoghi As más oclusões Classe III fre- qüentemente são combinadas com uma mordida cruzada anterior. A distância entre a oclusão habitual e a posição mais retruída da mandí- bula é essencial para o diagnóstico. Caso uma posição topo a topo dos incisivos possa ser alcançada o diag- nóstico é favorável. Caso contrário, quando a oclusão habitual e a rela- ção central diferenciem levemente, as alterações para se alcançar um resultado favorável sem cirurgia ou distração osteogênica são insatisfa- tórias. Particularmente quando os incisivos inferiores estão inclinados para a lingual e os superiores para a vestibular, o tratamento ortopédico facial convencional não será reali- Entrevista Apresentar o Prof. Dr. F. P. G. M. van der Linden é motivo de muita satisfação e honra para mim. Por um lado é extremamente fácil, pois o Dr. van der Linden é um dos professores, pesquisadores, escritores e defensores da nossa Especialidade no mundo. Sob outro prisma o nosso amigo holandês, longilíneo, sério, objetivo, de poucas palavras supérfluas, racional e que só se deixa convencer por dados baseados em evidência, como é exigido em ciência na atual fase do conhecimento, se tornou uma autoridade insofismável. A resposta dada aos nossos colegas nesta entrevista deixa bem clara a sua personalidade. Já esteve no Brasil há alguns anos dando cursos a convite do "GRUPO", Grupo Brasileiro de Professores de Ortodontia e Odontopediatria, e aprendeu a valorizar a nossa Ortodontia e Ortopedia Facial. Teve a sua formação acadêmica na Universidade de Washington-Seatle / USA, voltou à Holanda para ser o chefe de um dos mais completos Departamentos de Ortodontia que conheci na cidade de Nymegen onde recebeu o Prof. Dr. A. G. Brodie. O seu escritório foi construído numa sala que se destacava para fora do prédio e é famoso até hoje na cidade e no mundo da Ortodontia. Escreveu uma série de seis livros sob todos os aspectos da nossa Especialidade, além de mais de uma centena de artigos científicos. Nós tivemos o privilégio de conhecê-lo em 1974 num Congresso na cidade de Bonn na Alemanha em que ele recém chegado dos U.S.A. declarava que não acreditava em Ortopedia Facial, mas que iria estudá-la, relatando mais tarde a sua opinião que nós todos conhecemos. Preocupado com a correta formação do especialista em Ortodontia-Ortopedia Facial desenvolveu o "Projeto "Erasmus" que é o guia oficial para toda Europa Unida - EU. Há algum tempo estamos em estreito contato com o Prof. van der Linden, trabalhando com ele e outros renomados colegas no Projeto "Dynamics of Orthodontics" que nos deu uma nova oportunidade de conhecermos a sua grandiosidade. Aproveitem e curtam esta entrevista, mais uma vez a Dental Press enriquece o nosso campo de ação. Prof. Dr. Kurt Faltin Junior Presidente da ABOR Presidente do Xth International Symposium on Dentofacial Development and Function R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 2, p. 7-15, mar./abr. 2003 7 zado com sucesso. Dependendo da severidade da má oclusão, das condições psicológicas do paciente e da atitude de seus pais, uma tentativa no sentido de influenciar o desenvolvimento facial antes do crescimento estar finalizado pode ser realizada. Em geral, é sábio interromper o tratamento até o final do período da adolescência. As más oclusões Classe III mo- deradas podem ser tratadas após a transição dos incisivos. Um trespas- se vertical reverso pode ser corrigido por meio do tratamento ortodôntico simples e, em seguida, a terapia or- topédica facial pode ser aplicada. Há pouca evidência de que uma força posterior aplicada sobre a mandí- bula por meio de uma mentoneira funcionará, porém a tração exercida sobre a maxila pode levar a alterações consideráveis. Sabe-se que a adap- tabilidade dos tecidos esqueléticos diminui gradualmente com o avanço da idade, portanto prefere-se o tra- tamento precoce. Entretanto, uma intercuspidação sólida dos dentes posteriores pode ser perdida em más oclusões Classe III corrigidas devido à recidiva do deslocamento anterior Frans P. G. M. van der Linden

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1) Qual sua abordagem clínica com relação à má-oclusão Classe III quando diagnosticada durante o período de crescimento craniofacial pré-puberal? Osmar Aparecido Cuoghi

As más oclusões Classe III fre-qüentemente são combinadas com uma mordida cruzada anterior. A distância entre a oclusão habitual e a posição mais retruída da mandí-bula é essencial para o diagnóstico. Caso uma posição topo a topo dos incisivos possa ser alcançada o diag-nóstico é favorável. Caso contrário, quando a oclusão habitual e a rela-ção central diferenciem levemente, as alterações para se alcançar um resultado favorável sem cirurgia ou distração osteogênica são insatisfa-tórias. Particularmente quando os incisivos inferiores estão inclinados para a lingual e os superiores para a vestibular, o tratamento ortopédico facial convencional não será reali-

Entrevista

Apresentar o Prof. Dr. F. P. G. M. van der Linden é motivo de muita satisfação e honra para mim. Por um lado é extremamente fácil, pois o Dr. van der Linden é um dos professores, pesquisadores, escritores e defensores da nossa Especialidade no mundo. Sob outro prisma o nosso amigo holandês, longilíneo, sério, objetivo, de poucas palavras supérfluas, racional e que só se deixa convencer por dados baseados em evidência, como é exigido em ciência na atual fase do conhecimento, se tornou uma autoridade insofismável. A resposta dada aos nossos colegas nesta entrevista deixa bem clara a sua personalidade. Já esteve no Brasil há alguns anos dando cursos a convite do "GRUPO", Grupo Brasileiro de Professores de Ortodontia e Odontopediatria, e aprendeu a valorizar a nossa Ortodontia e Ortopedia Facial. Teve a sua formação acadêmica na Universidade de Washington-Seatle / USA, voltou à Holanda para ser o chefe de um dos mais completos Departamentos de Ortodontia que conheci na cidade de Nymegen onde recebeu o Prof. Dr. A. G. Brodie. O seu escritório foi construído numa sala que se destacava para fora do prédio e é famoso até hoje na cidade e no mundo da Ortodontia. Escreveu uma série de seis livros sob todos os aspectos da nossa Especialidade, além de mais de uma centena de artigos científicos.

Nós tivemos o privilégio de conhecê-lo em 1974 num Congresso na cidade de Bonn na Alemanha em que ele recém chegado dos U.S.A. declarava que não acreditava em Ortopedia Facial, mas que iria estudá-la, relatando mais tarde a sua opinião que nós todos conhecemos.

Preocupado com a correta formação do especialista em Ortodontia-Ortopedia Facial desenvolveu o "Projeto "Erasmus" que é o guia oficial para toda Europa Unida - EU. Há algum tempo estamos em estreito contato com o Prof. van der Linden, trabalhando com ele e outros renomados colegas no Projeto "Dynamics of Orthodontics" que nos deu uma nova oportunidade de conhecermos a sua grandiosidade. Aproveitem e curtam esta entrevista, mais uma vez a Dental Press enriquece o nosso campo de ação.

Prof. Dr. Kurt Faltin JuniorPresidente da ABOR

Presidente do Xth International Symposium on Dentofacial Development and Function

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 2, p. 7-15, mar./abr. 2003 7

zado com sucesso. Dependendo da severidade da má

oclusão, das condições psicológicas do paciente e da atitude de seus pais, uma tentativa no sentido de

influenciar o desenvolvimento facial antes do crescimento estar finalizado pode ser realizada. Em geral, é sábio interromper o tratamento até o final do período da adolescência.

As más oclusões Classe III mo-deradas podem ser tratadas após a transição dos incisivos. Um trespas-se vertical reverso pode ser corrigido por meio do tratamento ortodôntico simples e, em seguida, a terapia or-topédica facial pode ser aplicada. Há pouca evidência de que uma força posterior aplicada sobre a mandí-bula por meio de uma mentoneira funcionará, porém a tração exercida sobre a maxila pode levar a alterações consideráveis. Sabe-se que a adap-tabilidade dos tecidos esqueléticos diminui gradualmente com o avanço da idade, portanto prefere-se o tra-tamento precoce. Entretanto, uma intercuspidação sólida dos dentes posteriores pode ser perdida em más oclusões Classe III corrigidas devido à recidiva do deslocamento anterior

Frans P. G. M. van der Linden

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mais utilizado na Europa atualmente é a técnica Straight Wire introduzida pelo Dr. Larry Andrews.

5) Os ortodontistas brasileiros passaram por um período difícil devido à expansão de clínicos gerais praticando a especialidade, e também devido aos inúmeros cursos em formação especializada, a maioria “cursos de final de semana”. Qual seu ponto de vista sobre a situação atual da ortodontia mundial, e qual conselho poderia nos dar no sentido de enfrentar esse problema? Eustáquio Araújo

Como indicado acima, a intro-dução da colagem e de acessórios programados tornou a Ortodontia com aparelhos fixos mais fácil e mais popular. Os clínicos gerais e não especialistas começaram a aplicar técnicas com multibraquete sem o treinamento adequado. Isto gerou um mercado para cursos com interesse comercial para as empresas ortodônticas. Como realizar procedi-mentos e receitas prontas constituem a essência desses cursos. A ênfase é dada ao sucesso. Falhas, problemas inesperados, juízos errôneos e erros raramente são mencionados.

Na União Européia um programa de (pós)graduação de três anos tempo integral constitui um requisito para se tornar reconhecido e registrado como um especialista em Ortodontia. O Programa Erasmus está amplamente implementado. É óbvio que “cursos de final de semana” para clínicos gerais não constituem uma ferramenta satisfatória para se atingir o tratamento ortodôntico de qualidade. Entretanto, há pouco o que fazer a esse respeito.

A tabela 1 contém informações coletadas em 2002 relacionadas à situação da Ortodontia na Europa. São determinados para 22 países, o tamanho da população, a proporção entre o número de habitantes e odontólogos e também

é válida e leva a arcos dentários mais largos com base no conceito do mecanismo de compensação dentoalveolar.

3) A previsão de crescimento constitui um dos pontos mais debatidos nas pesquisas em Ortodontia. Qual sua experiência e opinião sobre tal assunto? O senhor considera importante a dimensão facial vertical no plano de tratamento? Sebastião Interlandi

A previsão de crescimento tem sido defendida por renomadas auto-ridades em Ortodontia. Outros têm afirmado que falta uma prova ade-quada. Pertenço ao segundo grupo. Em minha opinião a evidência de que a quantidade e a direção do cresci-mento podem ser previstas com base em uma simples radiografia cefalo-métrica nunca foi comprovada. Uma série de telerradiografias permite a análise do modo de crescimento e oferece uma base mais realista para previsão. Entretanto, o crescimento subseqüente pode ser diferente da-quele previsto.

Informações mais úteis sobre o que se esperar podem ser provenien-tes de parentes mais velhos e pais. Os aspectos genéticos ocupam um papel principal a esse respeito, assim como ocorre em todos os processos biológicos caracterizados pela varia-ção em expressão.

4) Em sua opinião, e de uma maneira geral, qual é o mecanismo ortodôntico mais utilizado atualmente na Europa? Sebastião Interlandi

Após a introdução da colagem em Ortodontia o uso de aparelhos fixos tornou-se mais popular na Europa. Além disso, a disponibilidade de braquetes e tubos totalmente pro-gramados foi de grande impacto. Os acessórios Edgewise tradicionais ra-ramente são utilizados. Isto também se aplica à técnica de Begg. Até o momento, o mecanismo ortodôntico

da maxila ou ao crescimento mandi-bular anterior excessivo. Conseqüen-temente, as más oclusões Classe III corrigidas devem ser acompanhadas rigorosamente até que o crescimen-to esteja completo. Caso necessário, uma tração anterior sobre a maxila pode ser aplicada novamente duran-te as horas de sono todas as noites ou em noites alternadas. Outra abordagem constitui em sobrecor-rigir e finalizar o tratamento ativo com uma disto-oclusão com largura de meio pré-molar, seguida de uma observação adequada.

2) Qual sua opinião sobre a “Alteração Funcional Endógena” causada pela expansão do arco superior em casos de Classe II com deficiência ântero-pos-terior da mandíbula, citada por McNamara JR.? Osmar Aparecido Cuoghi

Na metade do século passado Korkhaus defendeu a expansão do arco dentário superior com uma placa antes da instalação de um ativador para corrigir a disto-oclusão. Essa abordagem de tratamento foi abolida porque a expansão precoce sugeria não oferecer nenhum benefício e a melhora espontânea assumida da oclusão raramente se concretizava. Quando o insucesso do tratamento com o ativador ocorria o resultado era uma discrepância transversa dos arcos dentários. Acredita-se que a “Alteração Funcional Endógena” defendida por McNamara ocorra após a expansão rápida da maxila. Esta pode constituir uma abordagem de tratamento inicial mais favorável do que a placa de expansão tradicional que inclina os dentes posteriores para a vestibular. Entretanto, teoricamente é difícil explicar como a melhora espontânea da disto-oclusão possa ocorrer.

A abordagem defendida pelo Dr. McNamara de expansão maxilar rápida combinada por meio do alar-gamento tradicional do arco dentário inferior com uma placa de Schwarz

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ortodontistas, e a percentagem dos pacientes tratados por especialistas em Ortodontia. Em geral, os não especialistas repassam 30% do tratamento ortodôntico. Na Noruega o cuidado ortodôntico é fornecido exclusivamente pelos ortodontistas, devido ao sistema de devolução governamental instalado. Também na República Checa, não incluída na tabela, os clínicos gerais não se envolvem, visto que a lei restringe o acompanhamento ortodôntico aos especialistas.

Informação adicional sobre a situação na Europa pode ser observada na tabela 2, indicando se os especialistas em Ortodontia são permitidos a fornecer outros tipos de cuidados odontológicos e se programas de treinamento ortodôntico estão disponíveis o suficiente. Além disso, é apresentado se as taxas são livres ou, caso contrário, fixadas por quem, e também a taxa média por um tratamento com aparelho fixo.

6) O senhor poderia nos contar um pouco sobre sua experiência com a recidiva? Eustáquio Araújo

As recidivas das correções orto-dônticas devem ser separadas das alterações na dentição associadas com o crescimento facial subse-qüente. As más oclusões Classe II corrigidas não perderão a neutro-oclusão estabelecida quando houver uma intercuspidação sólida no final do tratamento. Isto não se aplica a oclusões Classe III corrigidas. Nesses casos, o crescimento man-dibular excessivo pode ocasionar novamente uma mesioclusão. Com o crescimento facial normal após o tratamento, a mandíbula atinge uma posição mais anterior do que a maxila. Essa tendência favorece a consolidação de más oclusões

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LINDEN, F. P. G. M. van der; SCHMIEDEL, W. J.; BIJLSTRA, R. J. The orthodontic situation in Europe. J Dent, Chengtu, no. 110, p.14-19, Jan. 2003.

País Exclusiva-mente de

ortodontistas

Trein. Suficien-te facilita a Ortodontia

Isentos de taxas, caso não fixadas

Aparelhos fixados com taxa média

Áustria Não Não Sim 2.900

Bélgica Sim Sim Sim 2.040

Cyprus Sim Não Sim 2.700

Dinamarca Não Não Sim 2.500 - 3.000

Finlândia Não Não Não, governo 5.500 - 3.000

França Sim Sim Sim

Alemanha Não Sim Não, governo 3.500

Grécia Não Sim Sim 2.000

Islândia Sim Não Não, governo 3.000 - 5.000

Irlanda Não Sim Não, governo 2.500

Israel Sim Sim Não, governo 2.000

Itália Não Sim Sim 2.500 - 4.000

Luxemburgo Não Não Parc., governo 3.500

Países Baixos Sim Não Não, governo 2.000

Noruega Sim Sim Parc., governo 2.300

Polônia Não Não Sim 1.350 - 1.800

Portugal Não Não Sim 3.000

Espanha Sim Não Sim 3.500

Suécia Não Não Parc., governo 2.000

Suíça Não Não Não em siste-ma de saúde privado: Sim

6.900

Turquia Não Não Min. Dent. Org. 1.200 - 2.400

Reino Unido Sim Não Não, NHS/Privado: Sim

1.400

TABELA 2

Fonte: Linden, Schmiedel, Bijlstra, 2003.

País PopulaçãoProporçãoDentistas/ População

Proporção Ortodontistas/

População

% Pacientes tratados por ortodontistas

Áustria 7.000.000 1 : 1.877 1 : 28.000 20%

Bélgica 10.263.000 1 : 1.198 1 : 29.322 70%

Cyprus 900.000 1 : 1.500 1 : 37.500 70%

Dinamarca 5.200.000 1 : 1.066 1 : 34.667 80%

Finlândia 5.100.000 1 : 1.250 1 : 32.692 70%

França 59.000.000 1 : 1.475 1 : 34.483 66%

Alemanha 82.000.000 1 : 1.322 1 : 30.370 70%

Grécia 11.000.000 1 : 846 1 : 34.375 50%

Islândia 280.000 1 : 933 1 : 20.000 95%

Irlanda 3.700.000 1 : 2.056 1 : 46.250 60%

Israel 5.500.000 1 : 917 1 : 42.307 85%

Itália 58.000.000 1 : 1.289 1 : 68.235 20%

Luxemburgo 450.000 1 : 1.500 1 : 30.000 70%

Países Baixos 16.000.000 1 : 2.286 1 : 61.538 70%

Noruega 4.500.000 1 : 1.125 1 : 25.000 100%

Polônia 39.000.000 1 : 2.167 1 : 50.649 80%

Portugal 10.000.000 1 : 1.666 1 : 1.250.000 5%

Espanha 40.000.000 1 : 2.424 1 : 100.000 40%

Suécia 9.000.000 1 : 1.125 1 : 31.034 50%

Suíça 7.100.000 1 : 1.775 1 : 43.558 50%

Turquia 8.000.000 1 : 6.667 1 : 347.826 80%

Reino Unido 55.000.000 1 : 1.833 1 : 73.333 60%

TABELA 1

Fonte: Linden, Schmiedel, Bijlstra, 2003.

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Classe III corrigidas, porém não a manutenção da neutroclusão em uma Classe III corrigida.

A maioria das recidivas ocorre em más oclusões tratadas que fin-dam com uma mordida aberta ou em não-oclusão nas regiões anterior e/ou posterior.

Sem uma intercuspidação sólida a oclusão não funciona como um fator de estabilização para os dentes posteriores. A falta de contato do in-cisivo apresenta como conseqüência a ausência de suporte para a estabilidade pelos dentes opostos. Em geral, a in-terposição da língua constitui a causa comum de não-oclusão e mordidas abertas. A posição de repouso da língua interfere com a obtenção e a manutenção de contatos sólidos. Nes-sas condições, a posição dos dentes é afetada pelas forças exercidas pela língua, lábios e musculatura bucal sem a influência dominante da inter-cuspidação e dos contatos anteriores. Conseqüentemente, as correções têm a tendência de se perderem parcial-mente. Portanto, deve-se redobrar a atenção nos procedimentos de con-tenção e duração. Recomenda-se que os contensores colados sejam fixados individualmente em todos os dentes envolvidos, sendo os seis dentes anteriores superiores e inferiores e freqüentemente também os primeiros pré-molares superiores.

Com condições funcionais normais prefiro um aparelho superior removível - o Contensor Van der Linden - e o utilizo seis meses durante o dia e à noi-te, seguido do uso apenas durante as horas de sono. Subseqüentemente, o uso é gradualmente reduzido. Na man-díbula utilizo um contensor lingual fixo colado ao canino ou em todos os seis dentes anteriores. Como regra deixo o contensor colado posicionado até os 30 anos de idade.

7) Após aposentar-se da Universidade de Illinois, De-partamento de Ortodontia, Alan G. Brodie permaneceu um tempo considerável com o

senhor em Nymegen. Portanto, que influência o Dr. Brodie teve sobre seus conceitos ortodôn-ticos? Andrew J. Haas

De fato, após sua aposentadoria da Universidade de Illinois, o Dr. Brodie passou o ano acadêmico de 1967-1968 como Professor visitante em Nymegen. Sua permanência teve um grande impacto em nosso departamento e em minha própria pessoa. Minha família tornou-se íntima do Dr. e da Sra. Brodie e nossos filhos mantiveram com eles uma espécie de relação de avós. Da mesma forma que o Dr. Brodie, ainda muito jovem tornei-me chefe de um departamento de Ortodontia estabelecido recentemente. Ocupava aquele cargo há cinco anos quando o Dr. Brodie chegou. De forma alguma eu tinha a experiência e a sabedoria que ele atingira. Aprendi muito com ele não apenas no campo da Ortodontia, mas também no que se refere à administração, gerência e como compreender e avaliar as pessoas com as quais eu trabalhava.

Como poucas pessoas daquela época o Dr. Brodie possuía um amplo conhecimento de ciências básicas e de aspectos biológicos relacionados à Ortodontia. Ele enfatizou as carac-terísticas morfológicas e funcionais e as limitações. Era contra a extração de dentes permanentes com obje-tivos ortodônticos, uma tendência dominante naquela época, parti-cularmente nos Estados Unidos. Eu fora exposto a essa abordagem durante minha educação na Univer-sidade de Washington. Entretanto, os Drs. Alton Moore e Richard Riedel a expuseram com restrições. Tam-bém eram amplamente orientados e clínicos experientes.

8) Qual seu aparelho funcional preferível no tratamento de Classe II, e por quê? Guilherme Janson

Para más oclusões moderadas ainda prefiro o ativador. Tive sorte de permanecer seis meses com o Prof.

Petrik em Viena, o único na metade do século passado que praticou Orto-dontia exclusivamente com o ativador e tornou-se a principal autoridade na-quela abordagem. Em más-oclusões Classe II prefiro o Aparelho Van Beek, um ativador tipo monobloco com arcos incluídos na alça sobre uma ancora-gem extrabucal de tração alta.

Tanto o ativador quanto o Aparelho Van Beek são de simples construção e resistentes a ruptura e deformação. Permitem longos períodos entre as consultas e pro-porcionam resultados satisfatórios quando utilizados apenas no final da tarde e à noite.

9) O aparelho Herbst apresenta algum resultado significante para o tratamento de Classe II em pacientes adultos? Guilher-me Janson

Não tenho nenhuma experiência com o Aparelho Herbst em pacientes adultos. Entretanto, o Dr. Pancherz tem demonstrado que se pode obter resultados com o aparelho Herbst mesmo em adultos. Não tenho ne-nhuma razão para duvidar de suas conclusões.

10) Suas definições para as características da má oclusão e a tendência de crescimento em padrões faciais diferentes são muito importantes para a compreensão e o tratamento apropriado. Sua teoria da predominância de fatores funcionais envolvendo a determinação de direção pre-dominante de crescimento é discutida particularmente para faces longas e curtas. Com essa perspectiva, a genética ainda seria uma condição. Portanto, a genética pode ser considerada como o determinante principal de padrão funcional? Leopoldino Capelozza Filho

Durante muitos anos, o desenvol-vimento da dentição e o crescimento do esqueleto craniofacial constituíam

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os principais interesses na pesquisa ortodôntica. As estruturas calcificadas permanecem após todos os outros te-cidos terem se degenerado e durante séculos têm sido a fonte para estudos anatômicos e para a interpretação de processos de desenvolvimento. O mesmo aplica-se para os estudos rea-lizados inicialmente com radiografias. As estruturas calcificadas podem ser determinadas e quantificadas sa-tisfatoriamente. Pouca atenção ou quase nenhuma foi dada aos tecidos moles e aos aspectos funcionais, parcialmente porque não podiam ser mensurados.

A dominância de influência ge-nética foi demonstrada claramente em estudos sobre o esqueleto e seus componentes. Entretanto, isso não significa que a informação genética que determina a morfologia dos den-tes esteja funcionando de uma forma comparável àquela do esqueleto fa-cial. É mais provável que o desen-volvimento do complexo craniofacial seja determinado principalmente pela informação genética que determina o desenvolvimento neuromuscular e o crescimento e o comportamento dos tecidos moles. A forma inicial das estruturas calcificadas craniofaciais é determinada geneticamente ao ser delineada juntamente com a morfogênese do condrocrânio e da cartilagem de Meckel.

Acredito que a variação observa-da em faces curtas e longas ocorra principalmente devido aos aspectos funcionais que influenciam o cresci-mento das estruturas esqueléticas já antes do nascimento.

11) Com base em sua experiên-cia, qual é o papel particular da terapia miofuncional aplicada em pacientes ortodônticos por meio de fonoaudiologia? Leopol-dino Capelozza Filho

Não considero a terapia miofun-cional com sucesso na maioria das situações em que é aplicada. Durante anos a atenção foi voltada para a alteração de um padrão de deglutição

anormal. Entretanto, a maioria das mordidas abertas são causadas pela interposição da língua em repouso, visto que isto influencia a posição dos dentes durante muitas horas do dia e apresenta um efeito constante e contínuo. Um indivíduo deglute aproximadamente 1000 vezes por dia e a pressão exercida é variável. Mais importante ainda, o tempo total de deglutição não excede 15 minutos por dia, o que é muito pouco para ocasionar qualquer efeito. Uma deglutição denominada de anormal não é a causa, mas a adaptação à mordida aberta devido à interposição da língua. Sob essas circunstâncias a língua tem que ser empurrada para a frente para se aproximar da região anterior para conseguir deglutir.

Teoricamente pode-se afirmar que a alteração de um padrão de degluti-ção adaptado a uma morfologia com desvio não pode ser alcançada quan-do a morfologia não é alterada. Além disso, não há evidência científica de que uma terapia miofuncional com a intenção de alterar um padrão de deglutição conduza a outro.

12) No tratamento de Classe III, o prognóstico de tratamento a longo prazo (final do crescimento) é diferente na deficiência maxilar e no prognatismo? Leopoldino Cape-lozza Filho

O prognóstico de tratamento a longo prazo de más oclusões Clas-se III é melhor se for causado por deficiência maxilar do que por prog-natismo mandibular. O tratamento ortopédico facial com tração anterior sobre uma máscara facial pode elimi-nar a deficiência maxilar sob condi-ções favoráveis. A prova científica de resultados a longo prazo da terapia ortopédica facial com o objetivo de reduzir o tamanho e a forma finais da mandíbula nunca foi obtida.

13) Qual o objetivo e o crité-rio do programa “Dynamic of Orthodontics", A Dinâmica da

Ortodontia que o senhor coor-dena? Kurt Faltin Jr.

O projeto “A Dinâmica da Orto-dontia” objetiva abranger o campo da Ortodontia por meio da multimídia e é apresentado em seis línguas, incluin-do o Português. Além disso, pretende facilitar a comunicação internacional e inter-línguas. O primeiro volume é o “Glossário de Termos Ortodônticos”, disponível em livro e CD nas seis lín-guas. Além disso, acompanha um CD com todas as seis línguas que permite a busca de termos equivalentes em outras línguas.

14) O senhor acha possível em nossa especialidade separar a Ortodontia da Ortopedia Facial no atendimento clínico de pa-cientes? Kurt Faltin Jr.A Ortodontia definida como restrita ao movimento de dentes é realizada no tratamento de más oclusões nas quais a relação sagital vertical e transversa dos arcos dentários não diverge, e naqueles onde correções cirúrgicas precedentes conduzem a correção de relações.

A Ortopedia Facial definida como influência ao crescimento facial pode ocupar um papel no tratamento de más-oclusões Classe II. Isto também se aplica, entretanto, em uma propor-ção menor, a más oclusões Classe III e a discrepâncias verticais.

Documentou-se algumas vezes que a terapia ortopédica facial pode afetar a quantidade e a direção de crescimento dos maxilares. En-tretanto, o efeito é limitado e não excede a quantidade de 3 mm e alguns graus. Além disso, quando o tratamento é concluído antes que o crescimento facial tenha finalizado, uma recidiva resultará no desapa-recimento da alteração observada anteriormente na quantidade e na direção de crescimento. Apenas quando o tratamento ortopédico facial ou a contenção continua até que o crescimento se finde, pode-se esperar um efeito permanente sobre a morfologia facial.

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Entretanto, a relação mandibular temporária mais favorável facilitará a obtenção de uma oclusão satisfa-tória durante o tratamento. O cres-cimento vertical extra do ramo que geralmente ocorre facilita a obtenção de uma oclusão Classe I, particular-mente quando os pré-molares estão irrompendo. Uma vez estabelecida uma intercuspidação sólida os dois arcos dentários manterão sua inte-gração e direção como uma única unidade na face em crescimento que retorna à forma pretendida para se finalizar.

15) A variação no crescimento facial nas faces curtas ou lon-gas, de acordo com seu concei-to está relacionada à interação dos componentes funcionais internos e externos da face. Quais os componentes fun-cionais que prevalecem a fim de propiciar uma face longa, e quais favorecem uma face curta? José Fernando Castanha Henriques

De fato, o conceito de interação dos componentes funcionais internos e externos pode explicar a variação no crescimento e na morfologia facial observada em faces curtas e longas. Quando os componentes funcionais internos dominam sobre os externos, o crescimento ocorrerá principalmen-te em uma direção caudal, ocasio-nando um aumento no espaço para os componentes funcionais internos. Uma altura facial anterior longa se desenvolverá com um crescimento da mandíbula orientado para a ver-tical e girado para a posterior.

Quando os componentes fun-cionais externos dominam sobre os internos, e mais espaço do que o necessário está disponível para o último, o crescimento ocorrerá prin-cipalmente em uma direção anterior, e a altura da face inferior aumentará apenas levemente ou mesmo dimi-nuirá, e uma face anterior curta se desenvolverá com um crescimento rotacional anterior da mandíbula.

Os componentes funcionais internos são formados pela orofa-ringe, nasofaringe e pela cavidade bucal com as estruturas circun-dadas e as atividades e funções determinadas para essas áreas. A respiração e a posição da língua e de outros tecidos moles em repouso são essenciais a esse respeito. Os componentes externos substituem os da musculatura mastigatória e facial, sua posição em repouso e sua atividade. A posição dos lábios, a ausência ou presença de um sela-mento labial competente e a relação entre os lábios e os incisivos têm importância particular.

16) De acordo com sua expe-riência, como as faces longas que apresentam mordida aberta anterior, mordida cruza-da bilateral posterior com atresia maxilar e relação molar Classe II devem ser tratadas, principalmente considerando o uso de ancoragem extrabucal? José Fernando Castanha Henriques

O procedimento freqüentemente adotado para tratar essas anormali-dades é realizar a expansão maxilar rápida, e utilizar uma ancoragem de tração alta e aparelhos fixos. Entre-tanto, essa abordagem não garante um resultado satisfatório. A expansão maxilar rápida promoverá o aumento da altura facial. A ancoragem extra-bucal de tração alta pode evitar a erupção dos molares superiores e limitar o crescimento facial vertical. Entretanto, após o tratamento o "fenômeno recidiva" resultará no aumento excessivo na altura facial, caso o crescimento ainda não esteja completo.

Em casos severos desse tipo é melhor não se envolver no trata-mento antes que o crescimento tenha sido finalizado. Dessa forma, a desfi-guração facial pode ser corrigida por meio de cirurgia, precedida e segui-da pelo tratamento ortodôntico com aparelhos fixos. Subseqüentemente, a melhora facial será mantida, en-

tretanto, a correção ortodôntica de certa forma apresentará recidiva, caso a interposição da língua ou outra anormalidade funcional ainda prevaleça.

17) Em sua opinião, qual será a Ortopedia Funcional para a correção de Classe II a ser realizada daqui a duas décadas? Weber Ursi

É difícil prever que papel a Orto-pedia Funcional terá nos próximos vinte anos. Como em muitos outros aspectos de interesses de vida e importância vinculados a determi-nados conceitos e procedimentos que ora estão na moda e ora são desprezados, tenho a impressão de que com a popularização da colagem e braquetes programa-dos, a ortopedia facial passará para segundo plano. Além disso, as tendências estão relacionadas às personalidades das pessoas que as defendem.

Ainda há muitas perguntas sem respostas. A Ortodontia consiste parte em ciência e parte em religião. Os profetas podem fazer com que as crenças mudem e isto ocorre com fre-qüência. Acredito que nos próximos vinte anos a ortopedia facial floresce-rá novamente em determinado ponto no tempo.

18) Qual é o procedimento no caso de pacientes respiradores bucais com alterações morfo-funcionais significantes e com indicação cirúrgica para a re-moção de amígdalas e adenói-des, cujos pais recusam essa opção? Weber Ursi

Tenho a opinião de que em Orto-dontia não se pode forçar determina-do tratamento em pacientes que não desejam se submeter a ele ou quando os pais recusam a terapia sugerida. Por outro lado, isso não significa que nenhum tratamento deva ser reali-zado. A alternativa pode conduzir a um resultado menos favorável, porém este deve ser aceito.

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19) É possível alterar os fa-tores epigenéticos locais com aparelhos funcionais e obter um impacto significante no padrão de crescimento morfogenético? Weber Ursi

De fato, os aparelhos funcionais podem influenciar o comportamen-to orofacial e alterar o padrão de crescimento. Um exemplo claro é a alteração da respiração da boca para o nariz e a obtenção de um selamento labial competente e de relação apropriada do incisivo com o lábio. Entretanto, aquelas alterações na morfologia facial estão limitadas e não recaem na categoria de impacto significante.

20) Os dentes têm um papel ativo ou passivo no crescimento e no desenvolvimento cranio-mandibular? As forças e os movimentos causados pelo crescimento craniomandibular podem determinar a posição dos germes e de dentes forma-dos. A tipologia facial influencia a forma e o tamanho dos dentes? Alberto Consolaro

Os dentes não ocupam um papel principal no crescimento facial. Sua presença favorece a formação dos processos alveolares. Em pacientes com anodontia apenas as bases dos maxilares são formados. Quando todos os dentes são removidos os processos alveolares são reabsorvi-dos e apenas as bases permanecem. Os dentes tornam-se deslocados nos maxilares quando aumentam de tamanho na região posterior. Isso ocorre em grande escala du-rante os primeiros seis meses após o nascimento. Os dentes decíduos são formados inicialmente em uma área restrita e os incisivos e os ca-ninos se superpõem uns sobre os outros. Com o crescimento trans-verso evidente dos maxilares na região da linha média, os incisivos podem se mover para a mesial e atingir posições apropriadas antes de emergirem com espaço extra no

meio. Com a ossificação da sínfise que ocorre antes da emergência dos incisivos decíduos centrais inferiores o potencial do crescimento da linha média da mandíbula é perdido.

Da mesma forma, os molares de-cíduos movem-se para a dorsal com o rápido crescimento nas regiões posteriores dos maxilares. Entre-tanto, os molares decíduos não se sobrepõem da mesma forma que os incisivos. As coroas dos molares de-cíduos aumentam gradualmente em tamanho, ao contrário dos incisivos que atingem sua dimensão mesiodis-tal da coroa em um estágio precoce de desenvolvimento.

21) Em sua perspectiva, quais são os fatores principais que determinam uma freqüência maior ou menor de reab-sorção radicular durante o movimento ortodôntico? Como o ortodontista pode prevenir as reabsorções considerando sua freqüência e magnitude? Alberto Consolaro

Há pouca evidência que indique o risco de reabsorção radicular, além de determinadas características da morfologia radicular e movimento das raízes para fora dos processos alveolares. O uso de forças leves, o fato de se evitar o movimento de "Jiggling" e outros aspectos têm sido defendidos para impedir ou limitar a reabsorção radicular.

Os experimentos com animais em nosso departamento e as observações clínicas a longo prazo revelaram uma maior probabilidade do papel genético estar vinculado à susceti-bilidade e à ocorrência de reabsorção radicular.

22) Em suas publicações observa-se um interesse com relação a estudos de pós-graduação em Ortodontia. Qual sua opinião sobre a ne-cessidade compulsória de incluir as disciplinas formais que lidam com a prática

educacional e também com os princípios biológicos do movimento dentário induzido e dos efeitos ortopédicos e suas conseqüências, nos programas de Mestrado e Doutorado em Ortodontia? Alberto Consolaro

O Programa Erasmus foi resul-tado de dois dias de reunião de 15 professores universitários de 15 países europeus. Esse programa es-pecifica as diversas ciências básicas que devem ser incluídas e oferece detalhadamente os tópicos de in-teresse.2 Os princípios biológicos de morfogênese dentária, cartilagem e formação e reabsorção ósseas e como afetar esses processos devem ser compreendidos. A ortodontia clínica tem que ser baseada em um conhe-cimento satisfatório do desenvolvi-mento normal e anormal da dentição e do crescimento facial.

23) Suas atividades superaram os limites de seu país e certa-mente influenciaram muitas pessoas. Em sua opinião, qual foi sua maior contribuição para a Odontologia com relação às alterações de consolidação de conceitos sobre as práticas ortodônticas? Alberto Consolaro

É difícil indicar apenas uma gran-de contribuição para a Odontologia e, particularmente, para a Ortodontia nos últimos cinqüenta anos. Entre as grandes contribuições eu considero: a introdução da colagem, braquetes e tubos programados, propriedades sofisticadas dos fios, implantes dentários, cirurgia ortognática con-trolada, tratamento combinado com outras especialidades em odontologia e a distração osteogênica.

24) Com base em sua experiência e nos trabalhos realizados sobre desenvolvimento den-tário, o senhor indicaria procedimentos seletivos de desgastes interproximais dos dentes posteriores para evitar o apinhamento dos incisivos

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após sua irrupção total, ou aguardaria para iniciar esses procedimentos após a esfoliação dos primeiros molares e caninos decíduos para minimizar o trauma para o paciente à espera de uma fase mais próxima do período final de transição para agir, ou simplesmente posicionaria um arco lingual e esperaria pela irrupção de todos os dentes permanentes e somente então iniciaria um tratamento ortodôntico? Ary dos Santos Pinto

Sou favorável por medidas que resultem na correção precoce de más posições de dentes permanentes e supervisão da dentição em desen-volvimento com intervenções locais simples sem o uso de aparelhos.

O desgaste dos dentes decíduos é muito eficaz nesse sentido. Também acredito que com procedimentos de desgastes adequados o resultado final é o mesmo ou ainda melhor do que a aplicação de um arco lingual. Quando um incisivo lateral inferior permanen-te após a irrupção apresenta espaço insuficiente para se alcançar uma posição satisfatória no arco dentário a superfície mesial do canino decíduo pode ser reduzida. O mesmo pode ser realizado para um canino permanen-te desgastando-se a face mesial do primeiro molar decíduo. Finalmente, de uma forma comparativa, a largura do segundo molar decíduo pode ser reduzida para o tamanho de seu su-cessor, prevenindo a migração mesial do primeiro molar permanente.

Atualmente o desgaste não deve mais ser realizado com um disco, mas com uma broca diamantada longa e fina. Com esta ferramenta a área a ser removida pode ser cônca-va e conforme a superfície distal do dente que precisa se mover naquela direção. Além disso, o risco de ex-por os cornos pulpares dos molares decíduos é reduzido.

Evidentemente o paciente e seus pais devem ser bem informados so-bre o objetivo e a inconveniência do

procedimento. Após a explanação adequada e a compreensão satisfa-tória o aspecto traumático da inter-venção geralmente é limitado.

25) De que maneira a análise da área apical pode ser utilizada clinicamente para a avaliação do desenvolvimento dentário ou suas implicações no tratamento ortodôntico? Ary dos Santos Pinto

A análise da área apical permite uma avaliação satisfatória do espaço disponível nos maxilares para os den-tes permanentes ainda irromperem. Com esta análise deve-se entender que a secção anterior da mandíbula e as secções médias da área apical de ambos os maxilares não aumentam em comprimento após seis meses de idade. O potencial de aumento da secção anterior da área apical da maxila é limitado.

Estes fatos básicos são essenciais em considerar a extração de dentes permanentes.

26) Qual fase do desenvol-vimento dentário é mais crítica e mais vulnerável às ações dos agentes externos? Ary dos Santos Pinto

O período mais vulnerável no desenvolvimento da dentição é a transição dos incisivos. Em média, mais espaço se desenvolve para a irrupção dos incisivos permanentes por meio do deslocamento de den-tes decíduos e um posicionamento e inclinação mais labial dos incisivos permanentes. Essas alterações asso-ciadas à transição são maiores na maxila do que na mandíbula.

Os aparelhos ortodônticos que interferem com esses procedimentos favoráveis de desenvolvimento po-dem provocar distúrbios evidentes.

27) Qual análise de modelos o senhor preconiza para a fase de dentição mista e como utiliza essa análise? Ary dos Santos Pinto

Para se avaliar uma dentição em um estágio de intertransição uma aná-lise da dentição mista da forma como é preconizada por Moyers deve ser combinada com uma Análise da Área Apical. Em seguida, pode-se obter uma impressão adequada do espaço dis-ponível para os dentes permanentes. Considerando-se o que fazer quando se espera o apinhamento, não apenas as extrações, mas também a redução da largura das dimensões mesiodistais dos dentes permanentes devem ser le-vadas em consideração.

28) Quais são as conseqüências da extração prematura do canino decíduo para o desenvolvimento do arco mandibular e qual é o procedimento quando ocorre a esfoliação natural de um dos caninos decíduos inferiores? Ary dos Santos Pinto

Os caninos decíduos são ex-traídos para criar espaço para os incisivos permanentes laterais de-salinhados ou posicionados para a lingual. Como conseqüência pouco espaço permanecerá para o canino permanente. Portanto, o problema não é solucionado, apenas desloca-do em local e tempo. Conseqüente-mente, deve-se ganhar espaço para os caninos. Nas más oclusões Clas-se II uma ancoragem extrabucal so-bre os molares superiores constitui uma ferramenta elegante para se criar mais espaço juntamente com outros aprimoramentos.

Na mandíbula a perda espontânea de um canino decíduo inferior é um sinal de apinhamento, geralmente combinado com um desvio da linha média. Para a correção deste desvio o canino decíduo do lado oposto pode ser extraído. Para se evitar a inclina-ção lingual dos incisivos e preservar ou ganhar espaço novamente pode-se utilizar um arco lingual.

O desgaste de dentes decíduos também pode ser uma opção.

Finalmente, a correção desejada pode ser realizada com aparelhos fixos posteriormente.

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Endereço para correspondênciaFrans van der LindenPauluslaan 15 Ap H. LandstichitingThe Netherlands6564 Holanda

Leopoldino Capelozza Filho

- Professor Assistente Doutor da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.

- Responsável pelo Setor de Ortodontia do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo, em Bauru-SP.

Alberto Consolaro

- Graduado em Odontologia pela Faculdade de Odon-tologia de Araçatuba.

- Mestre em Biologia e Pa-tologia Buco-Dentária pela UNICAMP – Piracicaba.

- Doutor em Diagnóstico Oral pela Faculdade de Odontologia de Bauru – USP

- Professor Titular de Patologia pela FOB.

Ary dos Santos Pinto

- Prof. Adjunto do Departa-mento de Clínica Infantil,

- Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP

Andrew Haas

- Diplomado pelo American Board of Orthodontics

- Membro da Sociedade Edward H. Angle

- Criador do Expansor de Hass

- Professor do Departa-mento de Ortodontia da Universidade de Illinois, em Chicago/USA

Osmar Aparecido Cuoghi

- Mestre e Doutor pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP.

- Professor Doutor do Departamento de Odon-tologia Infantil e Social, Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP.

Guilherme Janson

- Professor Associado da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odonto-logia de Bauru – Universi-dade de São Paulo.

- Pós-Doutorado na Universidade de Toronto, Canadá.

- Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da FUNBEO.

- Professor dos Cursos de Especialização em Ortodontia da FOB, FUNBEO e APCD.

- Professor dos Cursos de Extensão da Sociedade Paulista de Ortodontia.

- Membro do Royal College of Dentists of Canadá – M.R.C.D.C.

Sebastião Inter-landi

- Professor Titular pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

- “Master of Science in Dentistry”, pela Universi-ty of Saint Louis – USA.

- Primeiro Presidente eleito (Lima – Peru) da “Associación Latino Americana de Ortodóncia”.

- Primeiro ex-aluno estrangeiro a receber o “Orthodontic Alumni Merit Award” da University of Saint Louis – USA

Weber Ursi

- Graduado em Odontologia pela Universidade Estadu-al de Londrina – PR.

- Mestrado e Doutorado em Ortodontia na Faculdade de Odontologia de Bauru – USP.

- Professor do Curso de Especialização em Ortodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de São Paulo, Campus de São José dos Campos/SP.

Eustáquio Araújo

- Associate Professor and Director of Graduate Or-thodontics at Saint Louis University, Mo.

- Certificate e Masters Degree pela University of Pittsburg, Pa.

- Diretor da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Kurt Faltin Jr.

- Formado pela PUC de Campinas.

- Pós-graduado em Ortope-dia Maxilar pela Universi-dade de Bonn – Alemanha.

- Doutorado (Dr. Medicina Dentística) em Ortopedia pela Universidade de Bonn – Alemanha.

- Professor Titular da disciplina de Ortodon-tia da UNIP.

- Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da UNIP.

- Membro da APCD, SPO, SPrO, AAO, Sociedade Brasileira de Reabilitação Oral, ABOM, Sociedade Alemã de Ortopedia Maxilar, Foundation Ort. Research.

- Ministrador de Conferências e cursos no Brasil e no Exterior.

José Fernando Cas-tanha Henriques

- Professor Titular da Dis-ciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.

- Coordenador do Curso de Pós-graduação em Ortodontia, ao nível de Doutorado da FOB-USP.

- Professor do Curso de Pós-graduação em Ortodontia, ao nível de mestrado da FOB-USP.

- Professor do Curso de Especialização em Ortodontia da FOB-USP.

- Professor dos Cursos de Graduação em Odontologia e Fonoaudiologia da FOB-USP.

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