Dr. Plinio-119--2008-02

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“Eu sou a Imaculada Conceição” Publicação Mensal Ano XI - Nº 119 Fevereiro de 2008

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Revista Doutor PlinioEditora Retornarei

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“Eu sou a Imaculada Conceição”

Publicação Mensal Ano XI - Nº 119 Fevereiro de 2008

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A

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Na fachada da Igreja de Fátima, Portugal, as imagens

de Francisco (esquerda) e Jacinta (direita), no dia de sua

beatificação, 13 de maio de 2000

V. D

omin

gues

os pastorinhos Jacinta e Fran-cisco, Nossa

Se nhora destinou a mis-são de sofrer pela sal-vação dos pecadores. O exemplo de suas vi-das nos faz compre-ender como o apos-tolado do sofrimen-to é verdadeiramen-te insubstituível. To-das as grandes obras de Deus, máxime as que tratam da sal-vação das almas,

em geral se fazem com a participação de outras almas que lutaram, so-freram e rezaram para que essas obras de fato se realizassem. Sem-pre é preciso a parti-cipação do sofrimento humano. Sem ele, na-da de grande se faz.

(Extraído de conferência em 19/2/1965)

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As matérias extraídas de exposições verbais de Dr. Plinio

— designadas por “conferências” — são adaptadas para a linguagem

escrita, sem revisão do autor

“Eu sou a Imaculada Conceição”

Publicação Mensal Ano XI - Nº 119 Fevereiro de 2008

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Dr. PlinioDr. PlinioRevista mensal de cultura católica, de

propriedade da Editora Retornarei Ltda. CNPJ - 02.389.379/0001-07

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SumárioSumárioAno XI - Nº 119 Fevereiro de 2008

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Comum . . . . . . . . . . . . . . R$ 85,00Colaborador . . . . . . . . . . R$ 120,00Propulsor . . . . . . . . . . . . . R$ 240,00Grande Propulsor . . . . . . R$ 400,00Exemplar avulso . . . . . . . R$ 11,00

Serviço de Atendimento ao Assinante

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Editorial

4 150 anos de graças ininterruptas

datas na vida dE um cruzado

5 Fevereiro de 1939: Preito de veneração ao Papa Pio XI

dona lucilia

6 O “Quadrinho”: presença de uma mãe

Eco fidElíssimo da igrEja

10 Lourdes, milagre da misericórdia de Maria

18 Calendário dos Santos

dr. Plinio comEnta...

20 Como podemos imitar os santos?

“r-cr” Em PErguntas E rEsPostas

24 Obstáculos à Contra-Revolução

o santo do mês

26 A Cátedra de Pedro: coluna do mundo

luzEs da civilização cristã

30 Gloriosa perenidade

Última Página

36 A grande catedral de Deus

Na capa, imagem de Nossa Senhora de Lourdes e vista do Santuário, Lourdes (França)

Fotos: S. Hollmann

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Editorial

“E

150 anos de graças ininterruptas

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Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.

u sou a Imaculada Conceição”. Assim se apresentou a Rainha do Céu e da Terra a uma sim-ples camponesa da região de Lourdes, ao lhe aparecer no interior de uma gruta aberta nos Pi-reneus franceses, no dia 11 de fevereiro de 1858. Quatro anos antes, o Papa Beato Pio IX de-

finira o dogma da concepção sem mancha de Maria Santíssima. Revelando-se daquela forma à hu-milde Bernadette, a Mãe de Deus ratificava de modo indiscutível a sentença pontifícia.

Era a primeira de uma série de aparições que deixaria admirado, de início, o povo de Lourdes e, no volver dos tempos, o mundo inteiro. Nossa Senhora abrira uma fonte inextinguível de graças e mi-lagres que até hoje favorecem justos e pecadores, fiéis e céticos, curando-lhes as enfermidades do corpo e da alma.

Estima-se que, ao longo deste ano jubilar, cerca de oito milhões de peregrinos acorram ao San-tuário de Lourdes. O mais insigne deles será o próprio Papa Bento XVI, cuja presença significará o maior penhor de gratidão dos filhos para com a melhor de todas as Mães.

Foi Dr. Plinio um desses filhos extremamente sensíveis à misericórdia e à bondade insondáveis de Nossa Senhora de Lourdes. Não perdia ocasião de salientar aos olhos de seus discípulos as grandes lições que deveríamos colher dos prodígios e dons celestiais ali dispensados pela Santíssima Virgem. Ouçamo-lo:

“Os milagres de Lourdes continuaram e continuam até hoje, com o sobrenatural demonstrando sua existência, claramente e de viseira erguida. Com o amor da Mãe de Deus se expandindo sobre os homens de todas as nações, de todas as línguas e, em certo sentido, de todas as religiões. Porque há curas de não-católicos em Lourdes, os quais posteriormente, na sua maioria, se convertem.

“O trágico e magnífico espetáculo de Lourdes! É todo o drama da dor humana diante da doença, fruto do pecado original, que ali se desenrola. Pessoas debilitadas pelo mal que as afligem, tendo pas-sado pelos incômodos de uma viagem mais ou menos longa, conforme o lugar do mundo de onde saíram, vêm pedir a Nossa Senhora o milagre tão almejado. E multidões de pessoas sãs estão ao lado delas, assistindo aquele desfile de sofrimento, cantando e rezando para que os doentes sarem. A mis-sa que se celebra, a bênção com o Santíssimo Sacramento, a tocante e maravilhosa procissão das to-chas...

“Imagine-se tudo o que representou a um doente o ter partido da África do Sul ou da ilha do Cei-lão, da Patagônia ou do Alasca, para estar algumas horas em Lourdes. Às vezes, pobres que gastam nessa viagem os últimos recursos financeiros de que dispunham, com a esperança daquela cura — que vem ou não vem. Não raro, essa cura se dá no caminho de volta para casa. De repente, quando nada mais se esperava, um grito jubiloso: ‘Estou curado!’

“Todas essas circunstâncias, todos esses aspectos e acontecimentos se revestem de uma sublimi-dade peculiar, uma sublimidade sobrenatural, diante da qual nossa língua emudece. É a sublimida-de do milagre.

“Acima de tudo, o milagre de caráter moral que conduz as almas ao Céu. Pois Nossa Senhora não seria Ela, se aparecesse em Lourdes para fazer bem aos corpos que perecem e não fazê-lo às almas imortais. Nem seria verdadeiro esse amor d’Ela aos homens, se não tivesse por principal objetivo o levá-los ao amor de Deus. Porque nada de melhor para nós se pode desejar.”

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Datas na viDa De um cruzaDo

Fevereiro de 1939

Preito de veneração ao Papa Pio XI

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o dia 10 de fevereiro de 1939 faleceu o Papa Pio XI, “doce e heróico gigan-te de Deus”, nas palavras de Dr. Plinio.

Este fervoroso devoto do Vigário de Cristo na Terra assim expressou, pelas páginas do “Legio-nário”, sua admiração pela extraordinária obra apostólica daquele pranteado Pontífice:

Com o falecimento do Santo Padre, é um gi-gante que acaba de cair. Não um gigante vulgar, nem mesmo se tomarmos a palavra no sentido in-telectual e moral, mas um gigante cuja fronte ve-nerável se aureolava com a tríplice coroa da virtu-de, do saber e da excelsa dignidade a que fora ele-vado por vontade da Divina Providência. (...)

Enquanto muitos dos gigantes de nosso tempo — aliás, não são tantos nem tão autênticos quan-to se poderia imaginar — se servem de seus po-deres invulgares para arrastar a civilização para a guerra, para a paganização e para o abismo, Pio XI foi o doce e heróico gigante de Deus que pôs to-dos os seus talentos ao serviço da Santa Igreja e, revestido da energia sobrenatural que só a graça confere, embargou resolutamente o passo aos fal-sos pastores que queriam empunhar a direção do mundo contemporâneo. (...)

Tendo sido elevado à mais alta dignidade que se encontre na Terra, Pio XI iniciou imediatamen-te um trabalho de imensa envergadura. Seu olhar penetrante, percorrendo o panorama oferecido pe-lo mundo inteiro, dilacerado por questões econô-micas, políticas, sociais, filosóficas e morais, viu com uma nitidez maior do que nunca os povos ge-merem sob a opressão de mil sofrimentos diversos, originados todos eles do afastamento da Santa Igreja de Deus. E, certamente, de seu coração pa-ternal, brotou ardente aquela mesma exclamação compassiva do Salvador: “Misereor super turbam!” Tenho pena da multidão! Pena, realmente, porque todas as desgraças contemporâneas faziam sangrar seu coração de Pai. Mas pena, sobretudo, porque o mundo se encontra, hoje, sob o peso da maior das desgraças, que é a ignorância e o desamor de Deus. Enfrentando pois, imediatamente, os complexos problemas suscitados pela situação hodierna da humanidade, Pio XI começou a grande luta que

deveria encher seu Pontificado, luta esta dirigida contra tudo aquilo que pode afastar o homem de Deus, e portanto de sua Igreja. (...)

A Ação Católica foi o meio providencial que Pio XI dispôs para que o apostolado leigo encon-trasse a plenitude de sua eficiência. Suas alocu-ções, discursos e cartas sobre o assunto são empol-gantes, e constituem uma das notas mais brilhan-tes e mais características de seu pontificado. (...)

O olhar de Pio XI não se confinava, porém, ao mundo ocidental corrupto e envelhecido, que va-cila sobre suas bases e ameaça ruir. Revestido da dignidade de Pai espiritual de todos os povos, Pio XI sentiu um imenso amor atrair sua solicitude para os selvagens de todas as raças e os incontá-veis pagãos que, na Á frica, na Á sia, na Oceania e na América, ainda não tinham visto o “lumem ad revelationem gentium”, e não tinham sido, pelo Batismo, introduzido na vida da graça.

Pio XI, que foi cognominado também o Papa das Missões, [convocou] quase todas as Ordens e Congregações religiosas a intensificarem suas ati-vidades missionárias, sendo numerosas aquelas, dentre elas, que, não tendo uma finalidade especi-ficamente missionária, se dedicaram a essa tarefa, graças ao incitamento do Papa. Foi tão ardente es-ta convocação, que até as Ordens contemplativas se julgaram, com razão, chamadas a um trabalho missionário especialmente intenso. E por isso Tra-pas, Carmelos e outros cenáculos de penitência e pura contemplação se transferiram para os países de missão, atraindo ali, pela mesma vida contem-plativa levada na Europa, as bênçãos de Deus so-bre o mundo pagão. (...)

Todos os brasileiros que tiveram a honra de se aproximar do Santo Padre atestam o extraordiná-rio interesse que ele votava ao Brasil, do qual dizia que queria bem de modo todo particular, não ape-nas porque nosso País tem a incomparável honra de ser um dos maiores países católicos do mundo, como também pelo acatamento que sempre obser-vamos em relação à Santa Sé. v

(Extraído do “Legionário” nº 335, de 12/2/1939)

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O “Quadrinho”: presença de uma mãe

H

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Em reconhecimento à bondosa intercessão de Dona Lucilia junto a Jesus e Maria, um dos discípulos de Dr. Plinio procurou

retratá-la em pintura a óleo, com base nas últimas fotografias dela. O “Quadrinho” — como ficou conhecido — foi entregue a Dr. Plinio numa tarde de fevereiro de 1977. Cinco anos depois, ele assim evocava o momento em que recebeu aquela pintura

que tanto o encantou e alimentou em sua alma a lembrança da diáfana e acolhedora figura materna.

á cinco anos deu-se para mim a grande surpresa. Ainda me recordo do instante em que,

no fim de um longo expediente, a pes-soa que me trazia o Quadrinho disse:

— Fulano pintou um retrato de Dª Lucilia, e gostaria de oferecer ao senhor.

Algo constrangido, o meu interlo-cutor abriu o envelope, tirou o qua-dro e me apresentou, talvez pouco confiante no meu favorável acolhi-mento. De fato, devo confessar que, embora eu conhecesse os dotes artís-ticos do pintor, parecia-me um tan-to ousado pretender que ele logras-se reproduzir na tela uma figura que correspondesse à imagem de mamãe como eu a conservava na alma.

“Tocou-me de modo profundo”

Perguntar-me-ão: “Então o se-nhor recebeu com dúvidas o qua-dro?”

Não. Eu o recebi sem nenhuma dúvida. Era um gesto afetuoso pa-ra comigo, o qual se tratava de to-mar com bondade, mas estava certo de que daquele envelope não sairia sequer uma decepção. Apenas um bom desejo que eu acolheria com gosto e carinho.

Não será difícil imaginar, pois, minha surpresa, meu agrado quan-do me foi posto nas mãos. Olhei e logo percebi uma semelhança com mamãe, sobretudo no olhar, e numa

presença de estado de espírito, eu quase ousaria dizer, uma comunica-ção de alma, que eu achava estivesse reservada para o Céu.

Rápida e silenciosamente, pas-sei por várias sensações: “Não, tem de ser melhor! Mas é! Como? Não tem dúvida!”, etc. É evidente que a pintura me tocara de modo pro-fundo.

A moldura perfeita

Após contemplar o retrato, ana-lisei a moldura e, uma vez mais com surpresa, verifiquei que, no seu gênero e para seus efeitos, era perfeita. A imagem de Dª Lucilia se achava tão bem no interior da

Dona LuciLia

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7O “Quadrinho”

M. Shin

oda

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moldura que, se ela própria tivesse escolhido uma, dentro daquele dia-pasão, não seria diferente. A guar-nição correspondia inteiramente à época, ao estilo e ao modo de ser da imagem reproduzida no Qua-drinho. Por assim dizer, eu sempre a vi no ambiente dessa moldura e, por isso mesmo, ninguém pensaria em trocá-la...

Em seguida, passei a conjeturar onde colocá-lo. A escolha natural era a casa dela, e nesta, no meu escritó-rio. Não se encaixaria bem num dos salões, já ornados com boas obras de arte, nem no meu quarto de dormir, pois eu queria estar acordado para contemplar o olhar dela na pintura... Portanto, ficou assente que ele ocu-paria lugar na mesinha em que hoje se encontra.

Confiança, paz de alma e alegria

Ao ser posto ali, pareceu-me que a imagem de mamãe ressaltou-se na-quele ambiente, e na pintura aviva-ram-se características que eram bem dela: sem nenhum esforço, sem difi-culdade alguma, trazer consigo um sulco de luz, incutir confiança, paz de alma, alegria e instalar-se naqui-lo que era seu.

De tal maneira que, no conjunto de móveis de minha primeira infân-cia, tão velhos, tão antigos, o Qua-drinho entrou como se fosse um complemento natural. E ele é a al-ma do escritório, embora neste ha-ja também um lindo Crucifixo, pre-sente dos membros do nosso movi-mento quando fiz 50 anos. Aconte-ce que este Crucifixo, imagem do Homem-Deus, governa o escritó-rio como que acima dele, enquan-to o Quadrinho o faz ali dentro, é homogêneo com aquele ambiente. Dir-se-ia que Dª Lucilia esteve ali há pouco, sentou-se atrás do Qua-drinho e se pôs a nos observar atra-vés dos olhos do seu retrato.

Dona LuciLia

A presença de uma mãeCabe perguntarmos a que corres-

ponde o Quadrinho.Acredito que ele simboliza a pre-

sença de uma mãe, e de uma mãe tal que, quem não tenha visto ao me-nos essa pintura, não pode fazer exa-ta idéia de como ela foi. Quer dizer, para conhecê-la, seria preciso con-templar com essa fidelidade o Qua-drinho, no qual se tem a impressão de sentir até o leve e discreto arfar da respiração de Dª Lucilia, o pul-sar do seu coração, a sua tranqüili-dade sofrida e resignada, prateada e lilás, e os anos que se foram acumu-lando. Tudo isso se sente no retrato, e sem isso não se pode dar por tê-la conhecido.

Reflexo do amor materno de Nossa Senhora

Resta sabermos a que desígnio da Providência corresponde o fa-to de esta fisionomia assim se ma-nifestar, e pairar dessa maneira so-bre tantos que invocam sua inter-cessão, marcada por dita materna-lidade, e que julgam ter recebido um carinho, uma forma de apoio in-terno, de proteção, de ânimo doce para as coisas difíceis? A que cor-responde uma assistência materna dentro da linha geral das vicissitu-des humanas?

Como modelo perfeito e exem-plar, acima de todos os outros amo-res, bondades e doçuras maternais, está o amor de Maria a Jesus, que d’Ela nasceu após nove meses de uma gloriosa gestação. Deus have-ria de querer que o primeiro olhar de Jesus na Terra fitasse algo que fosse o resumo de todas as maravi-lhas do universo: os olhos do Me-nino se abriram e encontraram o olhar de Nossa Senhora, viram a fa-ce esplendorosa da Mãe, discerni-ram sua alma e seu imaculado cora-ção. E então, podemos supor, o Di-vino Infante sorriu.

Nossa imaginação se perde ao ten-tar conceber como terá sido esse pri-meiro olhar do Filho para a Mãe in-comparavelmente mais bela que to-da a criação, a Rainha mais bela que o reino.

Igualmente nos sentimos peque-nos ao pensarmos noutro olhar d’Ele para Nossa Senhora: o último. An-tes do Redentor se despedir da Ter-ra, seus olhos se baixaram sobre os de Maria e se entrecruzaram. Nes-sa derradeira troca de olhares havia algo talvez ainda mais belo do que houve na primeira, quando Ele en-trou na vida. E a face de Nossa Se-nhora era mais formosa, sem com-paração, do que eram horríveis to-dos os horrores da época. O amor d’Ela era mais esplêndido do que era hediondo o próprio deicídio. Entre olhar e olhar, que nexo magnífico!

Nosso Senhor Jesus Cristo de-sejou, portanto, um afeto de mãe quando abriu os olhos; e quis um carinho materno quando os fechou. Isso basta para nos dar a entender o significado do afeto de mãe e o papel que deve desempenhar na formação dos homens. Porque to-das as mães que vieram depois de Maria Santíssima, precedendo-nos com o sinal da Fé, foram convida-das a serem mães católicas com a cintilação de algo que Nosso Se-nhor viu em Nossa Senhora.

“A imagem de mamãe ressaltou-se naquele

ambiente, e na pintura avivaram-

se características que eram bem dela...”

O “Quadrinho” no escritório de Dr. Plinio

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E nas maiores alegrias, nas ter-nuras mais delicadas, nos abando-nos mais terríveis, convinha que d’Eles nos lembrássemos. Como a proporção e a harmonia entre o grandioso e a bondade teriam per-manecido entre os homens se todas as mães tivessem sido inteiramen-te mães! Como a palavra “doçura” teria tomado outro sentido! E co-

mo a majestade materna teria si-do grandiosa! Infelizmente, nas en-grenagens do mecanismo da vida humana faltou muito do azeite do amor materno.

E então podemos compreender os desígnios da Providência em relação ao Quadrinho, que vem representar exatamente um reflexo desse amor de mãe, uma centelha do insondável

carinho materno de Nossa Senhora para conosco.

Peçamos, pois, à Santíssima Vir-gem que nos faça aproveitar dessa imagem do seu amor aos homens, para assim nos unirmos ainda mais a Ela e a seu Divino Filho. v

(Extraído de conferência em 22/2/1982)

M. S

hino

da

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Lourdes, milagre da misericórdia de Maria

Q

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A fim de nos associarmos ao júbilo de todo o orbe católico pelos 150 anos das aparições de Lourdes, nada melhor do

que recordarmos aqui palavras de Dr. Plinio, repassadas de devoção e entusiasmo diante

das incontáveis maravilhas que a maternal clemência de Maria Santíssima tem prodigalizado

aos homens no célebre santuário.

uando menos esperava, a pequena camponesa Bernadette Soubirous foi objeto de uma graça indizível: a Providência a escolhera para ser a

vidente à qual Maria Santíssima apareceria, numa gru-ta de Lourdes. A partir do dia 11 de fevereiro de 1858, as visões se sucederam, e foram o prenúncio da série de milagres que não estancaram até hoje, deixando a im-piedade confundida e emudecida. Por outro lado, servi-ram de ocasião para uma imensa expansão da devoção a Nossa Senhora pelo mundo inteiro. As curas prodi-giosas de Lourdes se repetiam e se transformaram num cântico de glória à Imaculada Conceição, dogma pro-mulgado há pouco mais de três anos pelo Papa Pio IX.

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Ao se revelar a Santa Bernadette, Nossa Senhora ratificou a

proclamação do dogma de sua Imaculada Conceição Vista do Santuário e a imagem de

Nossa Senhora de Lourdes

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Nossa Senhora se impõe ao desprezo dos ímpios

Lourdes é, na verdade, uma das mais extraordinárias manifestações da luta de Nossa Senhora contra o demô-nio, pois essa aparição se deu no auge das perseguições e depreciações movidas pelo anticlericlaismo do século XIX para enfraquecer a Igreja. Muitos, acovardados pe-lo respeito humano, fingiam não ter mais fé. Poucos pro-fessavam claramente a religião católica, e os que não o faziam, pediam provas dela.

Nossa Senhora então aparece e têm início os mila-gres, operados com a solicitude e magnanimidade mater-nais da Virgem Santíssima. Das pedras da gruta de Mas-sabielle passou a jorrar um curso de água que ainda não existia. Naturalmente, os doentes, que pensam em tudo para aliviar as suas dores, puseram-se a se banhar nessas águas e — oh! maravilha! — começam a se curar em nú-mero surpreendente.

Não querendo dar a mão à palmatória, os ímpios logo erguem a voz, afirmam não se tratarem de doenças autên-ticas e, portanto, não o eram também as curas. Não podia haver milagre, porque a veracidade deste os esmagaria.

A fim de eliminar quaisquer dúvidas e fazer triunfar a insondável bondade de Nossa Senhora, a Igreja instituiu um centro médico especial, com todos os recursos mais

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Uma fonte brotou das pedras da gruta

de Massabielle, e juntamente com

ela, um manancial de graças e

misericórdias alcançadas por

Maria Santíssima

Devotos diante da imagem de Nossa Senhora de Lourdes, na Gruta de

Massabielle; no destaque, uma vista do curso de água

que jorrou das pedras

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eco fiDeLíssimo Da igreja

modernos que a ciência possuía, para analisar e compro-var as enfermidades antes de os doentes se banharem. Munidos do atestado, eles entravam nas águas e pouco depois saíam — várias vezes, nem sempre — cantando as glórias de Nossa Senhora, porque tinham obtido a cura. Os médicos faziam novo exame e, conforme o caso, de-claravam não haver explicação científica para o restabe-lecimento do doente.

No decorrer dos meses e dos anos as curas foram se multiplicando, e a piedade católica constituiu todo um

dossier sobre essa maravilhosa manifestação da compai-xão de Deus para com os homens.

Três atitudes de Maria face à dor humana

Esses milagres, assim como todos os acontecimen-tos de Lourdes, são ricos em ensinamentos para nós. A mais valiosa dessas lições será, talvez, a respeito do sofrimento.

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Vemos em Lourdes três atitudes da Providência e, por-tanto, de Nossa Senhora diante da dor humana. Dentro da perfeição dos planos divinos, tais procedimentos têm sua razão de ser, apesar de parecerem contraditórios.

De um lado, chama atenção a pena que Nossa Senho-ra tem dos padecimentos dos homens, e como, numa ex-traordinária manifestação de sua insondável bondade materna, atende aos rogos deles e pratica milagres para curar seus corpos.

Por outro lado, Nossa Senhora tem igualmente com-paixão das almas, e para provar que a Fé Católica é ver-dadeira, pratica milagres a fim de operar conversões.

Mas existe uma terceira realidade em Lourdes, não menos significativa que as anteriores: são os inúmeros doentes que para lá se dirigem e voltam sem o tão al-mejado restabelecimento. Por que misteriosa razão Nos-sa Senhora devolve a saúde física a uns e não a devolve a outros? Qual a razão mais profunda disso?

Creio que essa ausência de cura pode ser tomada como um dos mais estupendos milagres de Lourdes, se conside-rarmos que, para a imensa maioria das almas, o sofrimen-to e as doenças são necessários para se santificarem. É por meio dessas provações físicas e morais que elas atingem a

Cura dos corpos, conversão das almas, lições do

sofrimento: especiais atitudes de Nossa Senhora em

LourdesA célebre procissão das tochas, e a entrada

principal do Santuário de Lourdes

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eco fiDeLíssimo Da igreja

perfeição espiritual a que foram chamadas. E quem não compreende o papel do sofrimento e da dor para operar nas almas o desapego, a regeneração, para fazê-las crescer no amor a Deus, quiçá não entenda que, via de regra, por essa forma os homens alcançam a bem-aventurança eter-na. E tão indispensável nos é o sofrimento para chegarmos ao Céu, que São Francisco de Sales não hesitava em quali-ficá-lo de “oitavo sacramento”.

Ora, Nossa Senhora agiria então contra o interesse da salvação das almas, se as livrasse todas das doenças. Cla-ro está, a determinadas pessoas, por circunstâncias e de-sígnios especiais, de algum modo convém subtrair-lhes o sofrimento. São exceções. A maior parte dos que vão a Lourdes voltam sem ter obtido a cura. E nisto podemos ver como a Santíssima Virgem, tão misericordiosa, en-tretanto respeita a vontade divina no que se refere aos sofrimentos humanos.

Milagres da caridade cristã

Porém, como a Mãe que ajuda os filhos a carregarem seus fardos, Nossa Senhora em Lourdes concede ao do-ente uma tal conformidade com o padecimento, que não se tem notícia de alguém que, ali estando e não sendo curado, se revoltasse. Pelo contrário, as pessoas retor-nam ao seus lugares imensamente resignadas, satisfeitas de terem podido fazer sua visita à célebre gruta dos mila-

gres, e contemplar a bondade de Maria para com outros infortunados que não elas.

Há mesmo o fato de não poucos doentes, oriundos dos mais distantes países da Terra, vendo em Lourdes a presença de pessoas mais necessitadas de cura do que eles, dizerem a Nossa Senhora estar dispostos a abrir mão do próprio restabelecimento, desde que Ela o con-ceda àqueles. Quer dizer, aceitam o sofrimento e a doen-ça em benefício do outro. Esse é um verdadeiro milagre de amor ao próximo por amor a Deus. Milagre moral ar-rancado à fraqueza humana; milagre mais estupendo que uma cura propriamente dita.

Se bela é essa resignação, mais bonita ainda é a ge-nerosidade cristã das freiras de um convento de clau-sura perto de Lourdes. São contemplativas recolhidas que têm o propósito de expiar e sofrer todas as doen-ças, a fim de obter para os corpos e almas dos incon-táveis peregrinos as graças e favores que estes vão ali suplicar. De maneira que nunca pedem a sua própria cura e aceitam todas as enfermidades que a Providên-cia disponha caírem sobre elas, em benefício daqueles peregrinos. Se Deus acolhe seus oferecimentos, levam às vezes uma vida inteira de provações ou morrem de uma morte prematura, com o intuito especial de fazer bem às outras almas.

Diante desse heroísmo, pergunta-se: há algo na Terra mais digno de admiração?

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Não conheço. Riquezas opulentas, extraordinários do-tes e qualidades naturais, grandezas de qualquer espécie no conceito humano, que valem perto do holocausto de uma dessas freiras ignoradas pelo mundo? Punhadinhos de barro, e nada mais.

Quando deitamos um olhar ao nosso redor, quando consideramos as misérias da natureza humana decaída pelo pecado original, compreendemos que semelhan-tes atos de abnegação se acham tão distantes do nosso egoísmo e causam uma tal repulsa ao nosso amor-pró-prio, que constituem de fato um milagre maior do que todas as espetaculares curas verificadas naquele santu-ário mariano.

O maior ensinamento de Lourdes

E então compreendemos o grande ensinamento de Lourdes. Não é o apologético, tão imenso, tão impor-tante. Mas é esse da aceitação da dor, do sofrimento, e até da derrota e do fracasso se for preciso.

Alguém objetará: “É muito difícil resignar-se a carre-gar a dor por essa forma”.

A resposta encontramos na agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras. Posto diante de to-do o sofrimento que O aguardava, Ele disse ao Padre Eterno: “Se for possível, afaste-se de mim este cálice. Mas seja feita a vossa vontade e não a minha”. O resulta-do é que veio um anjo consolar Nosso Senhor.

Essa é a posição que cada um de nós deve ter em fa-ce de suas dores particulares: se for possível, sejam afas-tadas de nosso caminho. Porém, faça-se a superior von-tade de Deus e não a nossa. E a exemplo do que se deu com Jesus no Horto, a graça também nos consolará nas provações que Maria Santíssima permita se abatam so-bre nós.

Tenhamos, portanto, coragem, ânimo, compreensão do significado do sofrimento e alegria por sofrermos: es-tamos preparando nossas almas para o Céu. v

(Extraído de conferências em 6/2/1965 e 10/7/1972)

Os heroísmos da caridade cristã que se verificam em Lourdes constituem um verdadeiro milagre de amor ao próximo por amor a Deus

Na página 16 e acima, doentes vindos do mundo inteiro se apresentam aos pés da Virgem de Lourdes

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Calendário dos santos

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1. São Paulo de Trois-Chateaux,� Bispo na cidade do mesmo nome, na França, perto de Vienne.

Bem-Aventurada Maria Ana Vaillot e 46 companheiras,� Filhas da Caridade,� Mártires,� durante a Revolução Francesa, em 1794.

2. Festa da Apresentação do Se-nhor. A Lei pedia que o filho primo-gênito fosse apresentado no Templo, quarenta dias após o seu nascimen-to. Assim, Nossa Senhora e São Jo-sé levaram o Menino Jesus, “luz pa-ra revelação dos gentios”.

São Lourenço de Canterbury,� Bispo dessa cidade, na Inglaterra, + 619. Converteu à Fé católica o Rei Edbaldo.

3. São Brás,� Bispo e Mártir,� em Sebaste, na Armênia.

Beato John Nelson,� Sacerdote jesuíta e Mártir,� + 1578. Por não querer reconhecer o poder da Rai-nha Elisabeth I nas coisas espiri-tuais, foi martirizado na célebre “árvore de Tyburn”, em Londres.

4. Santo Isidoro de Pelusa,� Sa-cerdote. Viveu como eremita no de-serto.

Santo Eutíquio,� Mártir. Após cruéis torturas, foi jogado num po-ço de água gelada. Seu túmulo se encontra nas Catacumbas da Via Ápia de Roma.

5. Santa Ágata,� Virgem e Mártir,� +250. Morta por ódio à Fé, na Ca-tânia, Sicília. Seu nome é lembrado no Cânon Romano.

Beata Isabel Canori Mora,� 1774-1825. Viúva, sobressaiu-se na caridade, além de ter sido favoreci-da com grandes dons místicos. Terci-ária trinitária, venerada em Roma.

6. Quarta-feira de Cinzas.

São Paulo Miki,� Sacer-dote jesuíta e companhei-ros,� Mártires no Japão,� + 1597. Oito sacerdotes da Companhia de Jesus e franciscanos, alguns deles europeus, outros japoneses e dezessete leigos (inclusi-ve crianças) foram tortura-dos, condenados à morte e crucificados em Nagasaki.

7. São Partênio,� Bispo no Helesponto,� séc. IV.

Beato Pio IX,� Papa. Pro-mulgou os dogmas da Ima-culada Conceição (1854) e da Infalibilidade Pontifícia (1870).

8. São Jerônimo Emilia-ni,� Presbítero,� 1486-1537. Fundador da Congregação dos Clérigos Regulares (pa-dres Somascos).

9. São Maron,� eremita no Líbano,� + 410. Funda-dor de uma comunidade que deu lugar a um rito católico, o qual nunca se separou da obediência ao Papa.

10. Beato Pierre Frémond e cinco companheiros,� Már-tires. Fuzilados perto de An-gers, durante a Revolução Francesa, por sua fidelidade à Igreja Católica.

11. Nossa Senhora de Lourdes. Há 150 anos, neste dia, a Bem-aventurada Vir-gem Maria aparecia pela pri-meira vez a Santa Bernadet-te Soubirous, em Lourdes.

12. São Faustino,� Bispo de Brescia, Itália, + 381. Apresentação de Nosso Senhor e Purificação da Virgem Maria – Igreja de Santa Luzia, Veneza (Itália)

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* Fevereiro *

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13. São Gosberto,� Bispo de Osnabruck, Alemanha.

14. São João Batista da Conceição,� + 1613. Espa-nhol, foi reformador da Or-dem Trinitária.

Santos Cirilo,� Monge,� e Metódio,� Bispo,� séc. IX. Ir-mãos, nascidos em Tessa-lônica, foram enviados pa-ra a Morávia, onde prega-ram aos eslavos. João Pau-lo II os proclamou Padro-eiros da Europa junto com São Bento.

15. Santo Onésimo,� escra-vo. Discípulo de São Paulo, este pediu que fosse liberta-do pelo patrão, Filemão.

16. Santa Juliana de Ni-comédia (na atual Turquia),� Virgem e Mártir,� + 304.

Beato José Allamano,� Sa-cerdote,� + 1926. Fundador dos Missionários e Missio-nárias da Consolata.

18. São Sadoth,� Bispo de Selêucia,� e 128 companhei-ros,� Sacerdotes,� Clérigos e Virgens consagradas,� Már-tires,� + 342. Recusaram-se a adorar o sol e por isso fo-ram mortos em Beit Lapat, Pérsia.

19. São Mansueto,� Bis-po de Milão e Confessor,� séc. VII.

20. Santo Eleutério,� Bis-po de Tournai,� Mártir,� + 531. Morto pelos arianos.

Beatos Jacinta e Francis-co,� pastorinhos videntes de Fátima.

21.São Pedro Damião,� Cardeal Bispo de Óstia e Doutor da Igreja,� + 1072.

22.Cátedra de São Pedro. Ver ar-tigo na página 26.

São Nicolas Tabouillot,� Sacer-dote e Mártir,� durante a Revolu-ção Francesa, em Rochefort. Beati-ficado por João Paulo II em 1995, juntamente com numerosos márti-res daquela época.

23. Santa Romana de Todi,� + 324.

24. Santo Ethelberto,� Rei de Kent,� + 616. Convertido pelo após-tolo da Inglaterra, Santo Agostinho de Canterbury.

25. Santa Walburga. Abades-sa do mosteiro alemão de Heide-nheim, irmã de São Vilibaldo e São Vinibaldo.

26. São Vitor,� séc. VII. Eremi-ta em Arcis-sur-Aube, na região de Champagne, França.

27. Santa Ana Line,� Mártir,� + 1601. Abrigou sacerdotes católicos em Lon-dres durante a perseguição da Rainha Elisabeth I. Agentes desta entraram em sua casa enquanto um padre ce-lebrava ali a Missa. Foi encarcerada e morta em 1601, junto com um jesuíta e um beneditino.

28. Santos Mártires de Alexan-dria,� + 262. Sob o imperador Galia-no, sacerdotes, diáconos e leigos se encarregaram de socorrer às pesso-as atacadas por uma peste terrível e morreram contagiados. Foram con-siderados, por isso, mártires.

29. Santo Hilário,� Papa e Mártir,� em Roma, + 469.

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Apresentação de Nosso Senhor e Purificação da Virgem Maria – Igreja de Santa Luzia, Veneza (Itália)

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Como podemos imitar os santos?

Dr. PLinio comenta...

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Durante as décadas de 60 e 70 Dr. Plinio fazia conferências diárias, em geral comentando a vida do santo cuja festa a Igreja celebrava

naquela data. Donde essas reuniões serem chamadas de “Santo do Dia”, nas quais a edificante virtude dos heróis da Fé eram propostas como modelo a quantos acompanhavam ditas exposições. Certa vez, atendendo ao interesse de seu auditório, Dr. Plinio salientou o melhor

modo de seguirmos o exemplo dos grandes santos.

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om freqüência no “Santo do Dia”, fazendo comentários a respeito deste ou daque-

le bem-aventurado, apresento um quadro da vida espiritual que pode-ria ser assim resumido: a Fé ilumina a inteligência; esta dirige a vontade a qual, por sua vez, fortalece a sensi-bilidade humana. Agindo dessa for-ma, o homem está em ordem em re-lação a Deus. Os santos o consegui-ram por meio de meditações, racio-cínios, exercícios metódicos e cuida-dos persistentes, enfrentando lutas e sofrimentos extraordinários.

Dificuldade dos mais fracos

Sempre procuro elogiar enfatica-mente esse modo de praticar a virtu-de, o que suscita em alguns de meus ouvintes a seguinte pergunta: “Dr.

Plinio, os ‘Santos do Dia’ são feitos em grande parte para as gerações mais novas, e até novíssimas, com-postas de capengas1. Os santos so-bre os quais o senhor tece comen-tários são o contrário da capengui-ce, porque têm muita personalida-de, são capazes de sofrer, de prati-car atos heróicos e fazem obras que nós não conseguimos realizar. En-tão, que proveito podemos tirar des-sas exposições?”

Virtudes a serem admiradas, mais do que imitadas

Respondo à compreensível inda-gação.

Antes de tudo, cumpre conside-rar que, em toda a História da Igre-ja, Deus suscita santos com virtu-des tão extraordinárias que devem

Embora as virtudes heróicas de alguns santos do passado

não possam ser imitadas pelos

homens de hoje, a santidade está ao

alcance de qualquer um que a procure

atingir, com o auxílio da graça

Imagens de vários santos – Museu de Dijon, França

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Dr. PLinio comenta...

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Santa Teresinha abriu a “pequena via” para as almas débeis que viriam depois dela: uma escola

de vida espiritual humilde, mas repleta de amor a

Deus – Imagem do Carmelo de Barcelona, Espanha

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ser admiradas, mais do que imita-das. Exemplo frisante é o de São Si-mão Estilita, o qual, para fugir das atrações mundanas, subiu no al-to de uma coluna e ali passou a vi-da inteira em oração e penitência. O que sucederia se toda pessoa com dificuldades em cumprir os Manda-mentos, ficasse o dia inteiro rezan-do sobre uma coluna?

Não haveria colunas que bastas-sem. Além disso, o número de colu-nas abandonadas seria imenso...

Sem dúvida, o procedimento de São Simão Estilita é um modo ad-mirável de praticar a virtude. Não há palavras que possam exprimir nosso respeito e enlevo por um ho-mem que permanece durante anos no alto de uma coluna, não pensan-do em outra coisa senão em Nos-so Senhor e nas verdades eternas. Contudo, se o desígnio de Deus pa-ra a maior parte dos homens não é o de imitar São Simão Estilita, a ad-miração pelo santo deve levá-los a praticar virtudes menores, ou pelo menos de modo menos excepcional-mente heróico.

Cada um poderia dizer a si mes-mo: “Claro está, não posso chegar ao grau de virtude que São Simão Estilita atingiu, mas desejo caminhar nessa direção.”

Ora, se esse anelo nasce em nosso interior, significa que aquele santo é uma espécie de precursor de milhões de almas que, de algum modo, fazem aquilo que ele realizou. E, portan-to, o extremo da admiração redunda numa como que imitação, a qual be-neficia incontáveis corações.

Todos somos chamados à santidade

Em segundo lugar, precisamos compreender que, embora as vir-tudes heróicas de alguns santos do passado não possam ser pratica-das pelos homens de hoje — e nem pertençam às vias comuns da gra-

ça —, a santidade está ao alcance de todos. Porque a perfeição mo-ral é atingível por qualquer homem que a deseje, com o auxílio da gra-ça. E quando admiramos um san-to, nos encantamos com a santida-de, e somos convidados a seguir de alguma forma o exemplo de sua vi-da virtuosa.

Outro não foi o pensamento que inundou a alma de Santa Teresi-nha do Menino Jesus, a doutora da chamada infância espiritual. Quer dizer, ela se comportava diante de Deus com a humildade e a simpli-cidade de uma criança. Não alme-java fazer coisas extraordinárias, mas apenas servir a Deus nas for-mas quotidianas e comuns da virtu-de. Porém, praticando-as com um amor tal que este significava verda-deiramente a santidade.

O teor de relações de Santa Tere-sinha com Nosso Senhor era seme-lhante ao da criança com seus pais, e poderia ser qualificado quase de filial e reverentemente sem cerimô-nia. Ela não procurava de modo al-gum ser grande diante de Deus, e sim humilde e pequena, vivendo da confiança na misericórdia do Altíssi-mo minuto a minuto. Dessa maneira ela alcançou a santidade.

Como águia que fita o sol através das nuvens

Pode-se dizer que Santa Teresi-nha levou essa confiança a extremos singulares. Por exemplo, ela era um braseiro de amor a Deus, mas sua alma passou por longos períodos de aridez. Em certas ocasiões essas pe-nas espirituais a afligiam até mesmo durante o cântico do Ofício.

Entretanto, nas mais diversas provações, ela se mantinha serena, e já no fim de sua vida, devorada por tentações contra a fé, ela resistia de modo admirável e completo. Dian-te de tudo isso, conservava a atitude de pequenez, vazia de si mesmo, sa-

bendo que valia muito aos olhos de Deus. Por isso costumava reafirmar que Nosso Senhor a protegia, em-bora ela não o sentisse.

Nesse sentido, empregava a lin-da metáfora da águia que fita o sol através das nuvens: não lhe era pos-sível divisar o sol divino, mas esta-va com as vistas continuamente vol-tadas para Ele, amando-O do modo mais intenso possível.

Certa feita lhe perguntaram como ela agiria se tivesse a infelicidade de cometer um pecado grave. Resposta: “A misericórdia de Deus é tão grande que eu retomaria, com a alma partida de dor, minha vida espiritual no pon-to anterior à queda, e recomeçaria a ascensão tranqüilamente.”

Não cabe chamar Santa Teresinha de capenga, mas ela abriu a pequena via para os capengas que viriam de-pois dela, proporcionando-lhes uma vida espiritual modesta, humilde, mas repleta de amor, dando-lhes a oportunidade de realizar, à sua ma-neira, grandes coisas.

Concluímos, portanto, dizendo que convém conhecermos as altas virtudes dos santos insignes para amá-las, admirá-las e, na medida do possível, imitá-las, segundo as disposições propostas pela “peque-na via”. v

(Extraído de conferência em 12/1/1966)

1) Dr. Plinio costumava empregar a pa-lavra “capenga” no sentido metafó-rico, a fim de indicar certas debilida-des de alma manifestadas por filhos das gerações que o sucederam. Estes apresentavam deficiências espirituais análogas às de um coxo, e assim como o capenga de corpo precisa de muleta para caminhar, o de alma, por ser in-constante, necessita sempre de espe-cial apoio para progredir na piedade.

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Obstáculos à Contra-Revolução

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Oposta ao conceito de “moderno” propugnado por seus adversários, a Contra-

Revolução não deve se deixar influenciar nem esmorecer pelos epítetos falaciosos que aqueles disseminam para denegri-la.

Análise de Dr. Plinio.

Além de certos maus hábitos existentes entre os contra-revolucionários, quais são outros obstáculos à Contra-Re-volução?

“Outras vezes estes obstáculos estão em slogans revo-lucionários aceitos, não de raro, como dogmas até nos melhores ambientes” (p. 114).

“Estéril por ser anacrônica”

Qual o mais nocivo desses “slogans”?“O mais insistente e nocivo desses slogans consiste em

afirmar que em nossa época a Contra-Revolução não po-de medrar porque é contrária ao espírito dos tempos. A História, diz-se, não volta atrás” (p. 114-115).

Como refutá-lo?“A Religião Católica, segundo esse singular princí-

pio, não existiria. Pois não se pode negar que o Evan-gelho era radicalmente contrário ao meio em que Nos-so Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos o pregaram. E a

“r-cr” em Perguntas e resPostas

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“A História comporta vais e vens, portanto, quer nas vias do bem, quer nas do mal” (p. 115).

Ressuscitar velharias do mundo pagão

O que pensar da expressão “espírito dos tempos”?

“Quando se vê que a Revolução considera algo como coerente com o espírito dos tempos, é preciso cir-cunspeção. Pois não raras vezes se trata de alguma velharia dos tempos pagãos, que ela quer restaurar.

“O que tem de novo, por exem-plo, o divórcio ou o nudismo, a tira-nia ou a demagogia, tão generaliza-dos no mundo antigo?

“Por que será moderno o divorcis-ta e anacrônico o defensor da indis-solubilidade?” (p. 115).

Livre curso ao orgulho e à sede de prazer

Para a Revolução, o que significa “moderno”?

“O conceito de “moderno” para a Revolução se cifra no seguinte: é tudo quanto dê livre curso ao orgulho e ao igualitarismo, bem como à sede de pra-zeres e ao liberalismo” (p. 116)1. v

1) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora Retorna-rei, São Paulo, 2002, 5ª edição em por-tuguês.

A reconstituição da grandeza cristã da Espanha, ao cabo de oito

séculos, é um frisante desmentido do singular princípio segundo o qual a

História nunca volta atrásSantuário de Nossa Senhora de Covadonga – Astúrias, Espanha

Espanha católica, germano-romana, também não exis-tiria. Pois nada se parece mais com uma ressurreição, e portanto, de algum modo, com uma volta ao passa-do, do que a plena reconstituição da grandeza cristã da Espanha, ao cabo dos oito séculos que vão de Cova-donga até a queda de Granada” (p.115).

Cite um exemplo ocorrido na própria era revolucioná-ria.

“A Renascença, tão cara aos revolucionários, foi, ela mesma, sob vários aspectos pelo menos, a volta a um naturalismo cultural e artístico fossilizado havia mais de mil anos.

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A Cátedra de Pedro: coluna do mundo

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Fervoroso devoto da Cátedra de Pedro, Dr. Plinio não dispensava a ocasião — como atestam suas palavras aqui transcritas — de fazer reluzir aos olhos de seus discípulos a magnitude e a

santidade com as quais a instituição pontifícia paira acima de todos os valores humanos, em sua divina missão de governar a

Igreja e conduzir as almas à eterna bem-aventurança.

omo se sabe, no primeiro período de seu pon-tificado, o Papa [Beato] Pio IX tomou certas atitudes conciliadoras que alguns revolucio-

nários chegaram a elogiar. Razão pela qual o bra-do de “Viva Pio IX!” passou a ecoar pelas ruas en-tre aqueles que não aceitavam a autoridade do Su-mo Pontífice.

Distinção entre a pessoa do Papa e o papado

Nessa delicada conjuntura em que a figura de um Papa era assim vinculada aos ideais dos anar-quistas italianos, vivia outro grande santo, São João Bosco. Este, quando ouvia algum de seus alunos ou conhecidos repetir aclamações a Pio IX, censurava-o, dizendo: “Não brade Viva Pio IX!; grite Viva o Papa!”

Eis a solução soberanamente inteligente. Porque “Viva o Papa!” pode-se bradar sempre. “Viva Pio IX!” ou outro pontífice, saúda-se conforme as cir-cunstâncias.

Esse episódio consta no processo de canonização de São João Bosco, e tal atitude não impediu que fossem reconhecidas suas virtudes heróicas — e, portanto, sua inteira obediência ao Vigário de Cristo — nem que sua obra fosse abençoada pela Providência de todos os mo-dos, ao longo dos tempos.

Devemos considerar que na raiz dessa posição de Dom Bosco encontra-se a importante distinção entre o Papa e o papado. Quer dizer, entre a pessoa do suces-sor de Pedro, sujeita às misérias humanas e também a er-ros, em toda medida que não é garantida pela infalibi-lidade; e, de outro lado, a instituição pontifícia, inteira-mente distinta da pessoa.

A festa da ortodoxia infalível

Por causa dessa distinção, a festa da Cátedra de Pe-dro, celebrada em 22 de fevereiro, é extremamente opor-tuna, pois celebra o Papa como mestre infalível, e o pa-pado como a rocha inabalável do alto da qual o Soberano Pontífice se dirige ao mundo inteiro revestido da infalibi-lidade que Deus lhe outorgou. É, portanto, a comemora-

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Imagem de São Pedro no trono de mármore – Basílica do Vaticano, Roma

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o santo Do mês

ção da ortodoxia inerrante, dessa infalibilidade que nun-ca claudica.

Consta que da cadeira de São Pedro conservou-se qua-se toda a estrutura, a qual é guardada na Basílica do Va-ticano, em Roma. Há ali um relicário de bronze, cujo in-terior abriga um banco de madeira, considerado a cadei-ra original do primeiro Papa.

Claro está, mais do que esse objeto venerável, a fes-ta da Cátedra de São Pedro tem em vista o fato de Nosso Senhor Jesus Cristo ter confiado ao Príncipe dos Após-tolos as chaves dos Céus e da Terra, dando-lhe poder so-bre tudo e sobre todos, a fim de governar a Santa Igreja Católica Apostólica Romana e conduzir as almas à eter-na bem-aventurança.

Oscular em espírito os pés da imagem de Pedro

Também no interior da Basílica do Vaticano, em sua nave central, encontra-se uma imagem de São Pedro sen-tado numa cátedra, as chaves pontifícias na mão esquer-da e a direita erguida, na atitude de quem abençoa os fiéis. O pé direito do Apóstolo se projeta à frente, e so-bre ele os devotos de todas as partes do mundo vêm de-positar seu ósculo de amor e veneração. Em virtude des-se preito mil e mil vezes repetido, os pés da imagem se desgastaram. Talvez seja o único exemplo da História em que a delicadeza do beijo alquebrou a força do bronze...

Em determinados dias do calendário litúrgico, essa imagem é revestida com os solenes ornamentos pontifi-cais, como se fora um Papa vivo, para indicar a magnífica e evidente continuidade da instituição do Papado, desde São Pedro até nossos dias.

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Creio que uma bela forma de nos unirmos a essa im-portante celebração seria oscularmos em espírito os pés dessa imagem. Quer dizer, em espírito oscular o Papado, esse princípio de sabedoria ou de infalibilidade da auto-ridade que governa a Igreja Católica. E por meio de Nos-sa Senhora, agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a ins-tituição desta infalibilidade, dessa cátedra que é propria-mente a coluna do mundo, porque se ela não existisse, a Igreja não sobreviveria e o mundo estaria completamen-te perdido.

Como também — já o frisamos acima — estaria obs-truído para nós o caminho que nos leva ao Céu, pois os homens não o encontrariam sozinhos, sem o socorro de uma autoridade infalível que os governasse e para lá os dirigisse.

Fidelidade concreta ao Romano Pontífice

Dessas breves considerações um aspecto me parece deve ser ressaltado. Falamos da distinção entre a pessoa do Papa e o papado, mas devemos considerar que o ca-tedrático é o Romano Pontífice, e os poderes da cátedra nele residem. À Cátedra de Pedro estaremos unidos até morrer, notando sempre que ela nunca estará alheia ao catedrático. Este poderá sair da cátedra; esta, porém, ja-mais o abandona.

Portanto, não se pode ter uma fidelidade ao papado sem que seja fidelidade concreta ao Papa atual, na medi-da em que ele é infalível e detém o poder de governar e reger a Esposa Mística de Cristo. v

(Extraído de conferência em 22/2/1964)

Osculemos em espírito o Papado, princípio de sabedoria

infalível que governa a Igreja, sem o qual esta não

sobreviveria e o mundo estaria completamente perdido

Imagem de São Pedro diante da fachada da Basílica do Vaticano, Roma; o pé da imagem de bronze do Apóstolo, gasto pelos óculos de incontáveis fiéis

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Gloriosa perenidade30

Luzes Da civiLização cristã

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urante as visitas que fiz a Roma, agradava-me dis-cernir e sentir algo que eu

chamaria de a perenidade da Igre-ja Católica, quer dizer, o modo ma-ravilhoso como ela vai prolongando sua existência neste mundo. Na sua história os séculos se sucedem e co-mo que se confundem, formando uma espécie de miscelânea suavís-sima, importantíssima, seríssima, de tal maneira que, ao contemplarmos os vários templos católicos de Roma, admiramos os passos da Igreja atra-vés dos tempos.

Dir-se-ia que todas as épocas vi-vidas por ela ali se revelam, num es-tado ligeiramente melancólico, po-rém doce, tranqüilo — não isento de bem-estar — e olhando para a eter-

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Igreja de Santa Francisca Romana – Roma

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nidade, como quem diz: “Meu dever está cumprindo, mas resta-me a mim o estar aqui, para representar o pa-pel no cortejo dos séculos até que a peregrinação do homem sobre a face da Terra se complete”.

O visitante com uma alma sensível a esses aspectos, pode se deter dian-te de qualquer uma dessas igrejas ro-manas e talvez perceberá, como eu percebia, que aquele edifício sagra-do traz consigo a atmosfera dos pri-meiros anos do Cristianismo; junto a ele, ou no seu interior, ainda ecoam gemidos de mártires, e a luz do sol, neste momento ou naquele, banha de uma luz incomparável a face de uma imagem ou a ponta de um mo-saico seculares.

Essa sensação nos faz imergir no passado, e como que degustarmos as

Luzes Da civiLização cristã

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Neste ou naquele

momento, um raio de sol

banha com luz incomparável

a face de uma imagem ou a ponta de

um mosaico seculares

Imagem de Papa na Basílica de Santa

Maria in Ara Coeli; interior da Igreja de

Santa Sabina – Roma

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graças e a santidade da Igreja como estas se manifestavam aos homens daqueles remotos tempos. Em torno daquelas obras de arte, imagens, re-licários, essa santidade e essas graças como que se mantiveram paradas.

Mais de uma vez pude constatar essa impressão. Passava diante de uma igreja romana, detinha-me por alguns instantes a admirá-la e sentia vir do seu interior um arfar dos sécu-los mesclado a um vento que consigo carreava graças, e aquilo me envolvia por inteiro. Adiante, outra igreja, ou-tra beleza, os mesmos sentimentos.

Isto fala muito da perenidade da Igreja. E, de fato, toda grande insti-tuição que vem do fundo dos sécu-

los e caminha séculos para frente, a fim de alcançar genuína glória pre-cisa ter algo pelo menos desse ocaso em que se misturam todas as épocas já vividas por ela. Sem esse predica-do, se tudo for novo e composto no momento presente, será como uma criança recém-nascida no berço.

Não. Viva, sofra, lute, combata sua batalha! Atravesse uma longa existência e seja a pessoa heróica em cuja alma se somam os diversos esta-dos de espírito que a modelaram. Se-ja alguém no qual dorme o passado e pulsa o futuro! v

(Extraído de conferência em 10/6/1987)

Luzes Da civiLização cristã

Acima, Igreja de São Bartolomeu; na página 35, Basílica de Santa Maria Maior – Roma

Perenidade de uma grande instituição

que partiu do fundo dos séculos e caminha séculos

para frente, até o auge de sua genuína glória

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A grande catedral de Deus

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A Virgem e o Menino – Catedral de Amiens, França

ossa Senhora é o jardim, o palácio, a grande catedral

de Deus, inteiramente per-feita, dotada com tais graus de in-

sondável beleza que nos é impossível sequer imaginar. Alguém que tivesse do universo criado um conhecimento pleno, mas não conhecesse a Virgem

Santíssima, seria pouco mais que nada em comparação daquele que ignorasse tudo a respeito da natu-

reza, mas conhecesse a excelsa figu-ra de Maria. De tal maneira a Mãe de Deus é superior a tudo, e sua al-ma, paradisíaca, repleta de acordes

de uma sinfonia celestial.

(Extraído de conferência em 2/2/1969)