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Publicação Mensal Ano XVII - Nº 200 Novembro de 2014 Sol sem ocaso

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Revista Doctor Plinio DrPlinio-200_201411

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Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 200 Novembro de 2014

Sol sem ocaso

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 200 Novembro de 2014

Sol sem ocaso

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Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

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SumaacuterioSumaacuterioAno XVII - Nordm 200 Novembro de 2014

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Editorial

4 A solis ortu usque ad occasum

dona lucilia

6 Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

10 Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

o pEnSamEnto filoSoacutefico dE dr plinio

14 A percepccedilatildeo infantil

dr plinio comEnta

18 Noccedilatildeo de sacralidade

a SociEdadE analiSada por dr plinio

22 Princiacutepios do autecircntico regionalismo

calEndaacuterio doS SantoS

28 Santos de Novembro

Hagiografia

30 Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

luzES da civilizaccedilatildeo criStatilde

32 Cidade florida alegre e risonha - II

Na capa Dr Plinio na deacutecada de 1980 Foto Seacutergio Miyazaki

Conhecendo a Civilizaccedilatildeo Cristatilde num primeiro golpe de vista eu a amei com um amor abrangente Daiacute decorreu que diante da hipoacutetese de ela ser reduzida a pedras minha alma exclamou ldquoEu amo as pedrasrdquo E quando me deparei com as pedras reduzidas a poacute osculei a poeira e disse ldquoEu te amordquo (2531987)

Editorial

Q

A solis ortu usque ad occasum

4

uando ainda muito jovem considerei enlevado as ruiacutenas da Cristandade A elas entreguei meu coraccedilatildeo Voltei as costas ao meu futuro e fiz daquele passado carregado de becircnccedilatildeos o meu porvirrdquo1

A fidelidade a este programa de vida traccedilado por Dr Plinio foi atestada em cada instante de sua existecircncia pela incontestaacutevel coerecircncia de sua accedilatildeo e de sua doutrina com os princiacutepios por ele ama-dos

Tendo como uma de suas caracteriacutesticas essenciais a consideraccedilatildeo do universo a partir de um pris-ma fundamentalmente religioso este varatildeo de Feacute tudo analisava sob esta perspectiva a ponto de afirmar

ldquoDesde crianccedila fui percebendo em pequenas coisas a ordem do universo Analisando o ensino da Igreja parecia-me que Deus era o cimo de um cone Voltando minha atenccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rex et centrum omnium cordium2 Ele Se me afigurava como o cone do mundo dos coraccedilotildees Da percepccedilatildeo desse cone supremo nasceu-me a ideia da ordem do universordquo3

E em outra ocasiatildeo dizialdquoSe natildeo conhecemos a Santa Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo pura e simplesmente natildeo com-

preendemos como a ordem do universo se afivelardquo4

Por isso suas anaacutelises eram sempre cuidadosamente conferidas com a Doutrina Catoacutelica e filial-mente submetidas ao Magisteacuterio infaliacutevel

Ao considerar a natureza o homem povos e naccedilotildees civilizaccedilotildees e culturas enfim a Histoacuteria com o olhar liacutempido de quem conservou a inocecircncia como o mais precioso dos tesouros Dr Plinio tecia comentaacuterios inspirados pelo dom de Sabedoria recebido no Batismo e acrisolado com o avanccedilar dos anos constituindo-se tanto por suas explicitaccedilotildees como por seu testemunho de vida o exemplo vivo de sua teoria sobre a ldquosoma das idadesrdquo

ldquoQuem eacute fiel tem na juventude as qualidades da infacircncia na maturidade as qualidades dessas trecircs eacutepocas da vida na ancianidade um requinte de todas elas Ateacute o uacuteltimo momento ele se aprimora e morre na idade perfeita dando o melhor de si A decrepitude fiacutesica pouco tem a ver com essa ascen-satildeo Ao entregar sua alma a Deus ele restitui o conjunto dos tesouros recebidos e implora misericoacuter-dia para tudo quanto estiver incompleto Eis a morte de um varatildeo catoacutelico eis a trajetoacuteria de um ho-memrdquo5

ldquoA perfeita biografia de um homem como Deus a vecirc sem veacuteus se assemelha agrave histoacuteria do Sol no decurso de um dia sem nuvens As energias primaveris e os frescores de alma com os quais nasce tecircm encantos proacuteprios irrepetiacuteveis ao longo dos tempos mesmo quando a inocecircncia se afirma e perseve-

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

ra A lsquosoma das idadesrsquo natildeo exclui a possibilidade de alguns encantos inerentes a cada eacutepoca se reco-lherem aos esplendores do Padre Eterno para serem encontrados mais tarderdquo6

Ao comemorarmos o ducenteacutesimo nuacutemero de nossa Revista podemos constatar com indiziacutevel alegria e transidos de gratidatildeo a Nossa Senhora os incontaacuteveis encantos da alma deste homem pro-videncial que reluziram aos olhos de nossos leitores

Agrave maneira dos raios do Sol esses encantos natildeo soacute iluminam uma trajetoacuteria de fidelidade mas criam condiccedilotildees de vida isto eacute alentam tonificam e impulsionam tantas almas que sem contemplar esses fulgores natildeo encontrariam luzes e forccedilas para trilhar o caminho da virtude

Uma afliccedilatildeo entretanto poderia acometer nosso espiacuterito ldquoMas o Sol tambeacutem tem seu ocasordquoA este propoacutesito comentava Dr PlinioldquoO pocircr do Sol natildeo eacute a morte do derrotado mas a desativaccedilatildeo de quem percebe nada ter mais a

dar Diante da obra realizada ele vai se retirando com dignidade numa esplendorosa diminuiccedilatildeo lsquoAtingi tal aacutepice que nem consigo cessar de repente Ateacute laacute chegou o superlativo dos superlativos on-de eu me pus Voltarei agrave minha gloriosa contemplaccedilatildeo porque minha tarefa estaacute cumprida mas desccedilo em esplendoroso deacutegradeacute porque em radiante deacutegradeacute subi Combati o bom combate em cada etapa do ocasorsquo Sua uacuteltima luzinha ainda eacute uma gloacuteria revelada antes de desaparecer E natildeo eacute o Sol que entra no escuro mas eacute o mundo que fica em trevas quando ele sairdquo7

A solis ortu usque ad occasum laudabile nomen Domini8 De seu nascimento agrave sua morte Dr Plinio entoou por sua vida exemplo e doutrina um contiacutenuo e crescente hino de louvor agrave Eucaris-tia a Maria ao Papado bem como a todos os maravilhosos frutos do preciosiacutessimo Sangue de Nos-so Senhor Jesus Cristo na Civilizaccedilatildeo Cristatilde

Contudo se o Astro-Rei tem seu ocaso o mesmo natildeo acontece com os homens que marcaram a Histoacuteria com os sinais de sua Feacute Esses brilharatildeo como o Sol por toda a eternidade9

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Meio seacuteculo de epopeia anticomunista Satildeo Paulo Vera Cruz 1980 p 1

2) Do latim Rei e centro de todos os coraccedilotildees3) Conferecircncia de 30419924) Conferecircncia de 1651974 5) Conferecircncia de 2219726) Conferecircncia de 12619817) Idem8) Do latim Do nascer do Sol ateacute o seu ocaso seja louvado o nome do Senhor (Sl 113 3)9) Cf Mt 13 43

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Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

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Dona LuciLia

Algumas imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus exprimem a bondade a atitude grave tranquila serena as decisotildees irrevogaacuteveis do Homem-Deus em suma mostram a totalidade de suas perfeiccedilotildees E era justamente a consideraccedilatildeo desse todo que enlevava e modelava a alma de Dona Lucilia fazendo-a fiel aos princiacutepios por ela amados

embro-me de como o afeto de Dona Lucilia se manifestava em relaccedilatildeo a mim desde minha mais tenra infacircncia Eu natildeo tinha ainda idade

para perceber como era a relaccedilatildeo dela com os ou-tros inclusive com minha irmatilde mdash essa noccedilatildeo viria depois mdash poreacutem em relaccedilatildeo a mim esse afeto se realizava sob a forma que passarei a descrever

Seriedade e bondade

Esse afeto era uma espeacutecie de globalidade e uma seriedade completa que estava no fundo da sua alma Eu notava que ela entendia perfei-tamente qual eacute o afeto que uma matildee deve ter a seu filho ateacute onde isso podia ir que sacrifiacutecios traz e mais profundamente o que eacute ser matildee

Por outro lado isso natildeo ficava em tese mas repousava em mim como filho dela Quer dizer ela natildeo queria bem a uma abstraccedilatildeo a uma dou-trina mas agravequele filho dela em cuja pessoa ela procurava encontrar traccedilos e aspectos que prenun-ciassem o filho o qual ela gostaria que fosse quando se tornasse homem feito

Daiacute um querer bem a jorros como se fosse um facho de luz muito poderoso assestado sobre mim envolven-do-me satisfazendo-me e tranquilizando-me por inteiro acompanhado de um afeto tal que despertava em mim a

Joatildeo

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Dia

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potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

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Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

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Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

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Tim

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 2: DrPlinio-200_201411

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 200 Novembro de 2014

Sol sem ocaso

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

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Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

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Editorial

4 A solis ortu usque ad occasum

dona lucilia

6 Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

10 Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

o pEnSamEnto filoSoacutefico dE dr plinio

14 A percepccedilatildeo infantil

dr plinio comEnta

18 Noccedilatildeo de sacralidade

a SociEdadE analiSada por dr plinio

22 Princiacutepios do autecircntico regionalismo

calEndaacuterio doS SantoS

28 Santos de Novembro

Hagiografia

30 Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

luzES da civilizaccedilatildeo criStatilde

32 Cidade florida alegre e risonha - II

Na capa Dr Plinio na deacutecada de 1980 Foto Seacutergio Miyazaki

Conhecendo a Civilizaccedilatildeo Cristatilde num primeiro golpe de vista eu a amei com um amor abrangente Daiacute decorreu que diante da hipoacutetese de ela ser reduzida a pedras minha alma exclamou ldquoEu amo as pedrasrdquo E quando me deparei com as pedras reduzidas a poacute osculei a poeira e disse ldquoEu te amordquo (2531987)

Editorial

Q

A solis ortu usque ad occasum

4

uando ainda muito jovem considerei enlevado as ruiacutenas da Cristandade A elas entreguei meu coraccedilatildeo Voltei as costas ao meu futuro e fiz daquele passado carregado de becircnccedilatildeos o meu porvirrdquo1

A fidelidade a este programa de vida traccedilado por Dr Plinio foi atestada em cada instante de sua existecircncia pela incontestaacutevel coerecircncia de sua accedilatildeo e de sua doutrina com os princiacutepios por ele ama-dos

Tendo como uma de suas caracteriacutesticas essenciais a consideraccedilatildeo do universo a partir de um pris-ma fundamentalmente religioso este varatildeo de Feacute tudo analisava sob esta perspectiva a ponto de afirmar

ldquoDesde crianccedila fui percebendo em pequenas coisas a ordem do universo Analisando o ensino da Igreja parecia-me que Deus era o cimo de um cone Voltando minha atenccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rex et centrum omnium cordium2 Ele Se me afigurava como o cone do mundo dos coraccedilotildees Da percepccedilatildeo desse cone supremo nasceu-me a ideia da ordem do universordquo3

E em outra ocasiatildeo dizialdquoSe natildeo conhecemos a Santa Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo pura e simplesmente natildeo com-

preendemos como a ordem do universo se afivelardquo4

Por isso suas anaacutelises eram sempre cuidadosamente conferidas com a Doutrina Catoacutelica e filial-mente submetidas ao Magisteacuterio infaliacutevel

Ao considerar a natureza o homem povos e naccedilotildees civilizaccedilotildees e culturas enfim a Histoacuteria com o olhar liacutempido de quem conservou a inocecircncia como o mais precioso dos tesouros Dr Plinio tecia comentaacuterios inspirados pelo dom de Sabedoria recebido no Batismo e acrisolado com o avanccedilar dos anos constituindo-se tanto por suas explicitaccedilotildees como por seu testemunho de vida o exemplo vivo de sua teoria sobre a ldquosoma das idadesrdquo

ldquoQuem eacute fiel tem na juventude as qualidades da infacircncia na maturidade as qualidades dessas trecircs eacutepocas da vida na ancianidade um requinte de todas elas Ateacute o uacuteltimo momento ele se aprimora e morre na idade perfeita dando o melhor de si A decrepitude fiacutesica pouco tem a ver com essa ascen-satildeo Ao entregar sua alma a Deus ele restitui o conjunto dos tesouros recebidos e implora misericoacuter-dia para tudo quanto estiver incompleto Eis a morte de um varatildeo catoacutelico eis a trajetoacuteria de um ho-memrdquo5

ldquoA perfeita biografia de um homem como Deus a vecirc sem veacuteus se assemelha agrave histoacuteria do Sol no decurso de um dia sem nuvens As energias primaveris e os frescores de alma com os quais nasce tecircm encantos proacuteprios irrepetiacuteveis ao longo dos tempos mesmo quando a inocecircncia se afirma e perseve-

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

ra A lsquosoma das idadesrsquo natildeo exclui a possibilidade de alguns encantos inerentes a cada eacutepoca se reco-lherem aos esplendores do Padre Eterno para serem encontrados mais tarderdquo6

Ao comemorarmos o ducenteacutesimo nuacutemero de nossa Revista podemos constatar com indiziacutevel alegria e transidos de gratidatildeo a Nossa Senhora os incontaacuteveis encantos da alma deste homem pro-videncial que reluziram aos olhos de nossos leitores

Agrave maneira dos raios do Sol esses encantos natildeo soacute iluminam uma trajetoacuteria de fidelidade mas criam condiccedilotildees de vida isto eacute alentam tonificam e impulsionam tantas almas que sem contemplar esses fulgores natildeo encontrariam luzes e forccedilas para trilhar o caminho da virtude

Uma afliccedilatildeo entretanto poderia acometer nosso espiacuterito ldquoMas o Sol tambeacutem tem seu ocasordquoA este propoacutesito comentava Dr PlinioldquoO pocircr do Sol natildeo eacute a morte do derrotado mas a desativaccedilatildeo de quem percebe nada ter mais a

dar Diante da obra realizada ele vai se retirando com dignidade numa esplendorosa diminuiccedilatildeo lsquoAtingi tal aacutepice que nem consigo cessar de repente Ateacute laacute chegou o superlativo dos superlativos on-de eu me pus Voltarei agrave minha gloriosa contemplaccedilatildeo porque minha tarefa estaacute cumprida mas desccedilo em esplendoroso deacutegradeacute porque em radiante deacutegradeacute subi Combati o bom combate em cada etapa do ocasorsquo Sua uacuteltima luzinha ainda eacute uma gloacuteria revelada antes de desaparecer E natildeo eacute o Sol que entra no escuro mas eacute o mundo que fica em trevas quando ele sairdquo7

A solis ortu usque ad occasum laudabile nomen Domini8 De seu nascimento agrave sua morte Dr Plinio entoou por sua vida exemplo e doutrina um contiacutenuo e crescente hino de louvor agrave Eucaris-tia a Maria ao Papado bem como a todos os maravilhosos frutos do preciosiacutessimo Sangue de Nos-so Senhor Jesus Cristo na Civilizaccedilatildeo Cristatilde

Contudo se o Astro-Rei tem seu ocaso o mesmo natildeo acontece com os homens que marcaram a Histoacuteria com os sinais de sua Feacute Esses brilharatildeo como o Sol por toda a eternidade9

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Meio seacuteculo de epopeia anticomunista Satildeo Paulo Vera Cruz 1980 p 1

2) Do latim Rei e centro de todos os coraccedilotildees3) Conferecircncia de 30419924) Conferecircncia de 1651974 5) Conferecircncia de 2219726) Conferecircncia de 12619817) Idem8) Do latim Do nascer do Sol ateacute o seu ocaso seja louvado o nome do Senhor (Sl 113 3)9) Cf Mt 13 43

L

Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

6

Dona LuciLia

Algumas imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus exprimem a bondade a atitude grave tranquila serena as decisotildees irrevogaacuteveis do Homem-Deus em suma mostram a totalidade de suas perfeiccedilotildees E era justamente a consideraccedilatildeo desse todo que enlevava e modelava a alma de Dona Lucilia fazendo-a fiel aos princiacutepios por ela amados

embro-me de como o afeto de Dona Lucilia se manifestava em relaccedilatildeo a mim desde minha mais tenra infacircncia Eu natildeo tinha ainda idade

para perceber como era a relaccedilatildeo dela com os ou-tros inclusive com minha irmatilde mdash essa noccedilatildeo viria depois mdash poreacutem em relaccedilatildeo a mim esse afeto se realizava sob a forma que passarei a descrever

Seriedade e bondade

Esse afeto era uma espeacutecie de globalidade e uma seriedade completa que estava no fundo da sua alma Eu notava que ela entendia perfei-tamente qual eacute o afeto que uma matildee deve ter a seu filho ateacute onde isso podia ir que sacrifiacutecios traz e mais profundamente o que eacute ser matildee

Por outro lado isso natildeo ficava em tese mas repousava em mim como filho dela Quer dizer ela natildeo queria bem a uma abstraccedilatildeo a uma dou-trina mas agravequele filho dela em cuja pessoa ela procurava encontrar traccedilos e aspectos que prenun-ciassem o filho o qual ela gostaria que fosse quando se tornasse homem feito

Daiacute um querer bem a jorros como se fosse um facho de luz muito poderoso assestado sobre mim envolven-do-me satisfazendo-me e tranquilizando-me por inteiro acompanhado de um afeto tal que despertava em mim a

Joatildeo

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Dia

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7

potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

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8

Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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ccedilatildeo

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

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hino

da

Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

P

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

11

Tim

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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13

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

14

A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

tavo

Kra

lj

Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

A K

nies

el (

CC

30

)

mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 3: DrPlinio-200_201411

Conhecendo a Civilizaccedilatildeo Cristatilde num primeiro golpe de vista eu a amei com um amor abrangente Daiacute decorreu que diante da hipoacutetese de ela ser reduzida a pedras minha alma exclamou ldquoEu amo as pedrasrdquo E quando me deparei com as pedras reduzidas a poacute osculei a poeira e disse ldquoEu te amordquo (2531987)

Editorial

Q

A solis ortu usque ad occasum

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uando ainda muito jovem considerei enlevado as ruiacutenas da Cristandade A elas entreguei meu coraccedilatildeo Voltei as costas ao meu futuro e fiz daquele passado carregado de becircnccedilatildeos o meu porvirrdquo1

A fidelidade a este programa de vida traccedilado por Dr Plinio foi atestada em cada instante de sua existecircncia pela incontestaacutevel coerecircncia de sua accedilatildeo e de sua doutrina com os princiacutepios por ele ama-dos

Tendo como uma de suas caracteriacutesticas essenciais a consideraccedilatildeo do universo a partir de um pris-ma fundamentalmente religioso este varatildeo de Feacute tudo analisava sob esta perspectiva a ponto de afirmar

ldquoDesde crianccedila fui percebendo em pequenas coisas a ordem do universo Analisando o ensino da Igreja parecia-me que Deus era o cimo de um cone Voltando minha atenccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rex et centrum omnium cordium2 Ele Se me afigurava como o cone do mundo dos coraccedilotildees Da percepccedilatildeo desse cone supremo nasceu-me a ideia da ordem do universordquo3

E em outra ocasiatildeo dizialdquoSe natildeo conhecemos a Santa Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo pura e simplesmente natildeo com-

preendemos como a ordem do universo se afivelardquo4

Por isso suas anaacutelises eram sempre cuidadosamente conferidas com a Doutrina Catoacutelica e filial-mente submetidas ao Magisteacuterio infaliacutevel

Ao considerar a natureza o homem povos e naccedilotildees civilizaccedilotildees e culturas enfim a Histoacuteria com o olhar liacutempido de quem conservou a inocecircncia como o mais precioso dos tesouros Dr Plinio tecia comentaacuterios inspirados pelo dom de Sabedoria recebido no Batismo e acrisolado com o avanccedilar dos anos constituindo-se tanto por suas explicitaccedilotildees como por seu testemunho de vida o exemplo vivo de sua teoria sobre a ldquosoma das idadesrdquo

ldquoQuem eacute fiel tem na juventude as qualidades da infacircncia na maturidade as qualidades dessas trecircs eacutepocas da vida na ancianidade um requinte de todas elas Ateacute o uacuteltimo momento ele se aprimora e morre na idade perfeita dando o melhor de si A decrepitude fiacutesica pouco tem a ver com essa ascen-satildeo Ao entregar sua alma a Deus ele restitui o conjunto dos tesouros recebidos e implora misericoacuter-dia para tudo quanto estiver incompleto Eis a morte de um varatildeo catoacutelico eis a trajetoacuteria de um ho-memrdquo5

ldquoA perfeita biografia de um homem como Deus a vecirc sem veacuteus se assemelha agrave histoacuteria do Sol no decurso de um dia sem nuvens As energias primaveris e os frescores de alma com os quais nasce tecircm encantos proacuteprios irrepetiacuteveis ao longo dos tempos mesmo quando a inocecircncia se afirma e perseve-

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Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

ra A lsquosoma das idadesrsquo natildeo exclui a possibilidade de alguns encantos inerentes a cada eacutepoca se reco-lherem aos esplendores do Padre Eterno para serem encontrados mais tarderdquo6

Ao comemorarmos o ducenteacutesimo nuacutemero de nossa Revista podemos constatar com indiziacutevel alegria e transidos de gratidatildeo a Nossa Senhora os incontaacuteveis encantos da alma deste homem pro-videncial que reluziram aos olhos de nossos leitores

Agrave maneira dos raios do Sol esses encantos natildeo soacute iluminam uma trajetoacuteria de fidelidade mas criam condiccedilotildees de vida isto eacute alentam tonificam e impulsionam tantas almas que sem contemplar esses fulgores natildeo encontrariam luzes e forccedilas para trilhar o caminho da virtude

Uma afliccedilatildeo entretanto poderia acometer nosso espiacuterito ldquoMas o Sol tambeacutem tem seu ocasordquoA este propoacutesito comentava Dr PlinioldquoO pocircr do Sol natildeo eacute a morte do derrotado mas a desativaccedilatildeo de quem percebe nada ter mais a

dar Diante da obra realizada ele vai se retirando com dignidade numa esplendorosa diminuiccedilatildeo lsquoAtingi tal aacutepice que nem consigo cessar de repente Ateacute laacute chegou o superlativo dos superlativos on-de eu me pus Voltarei agrave minha gloriosa contemplaccedilatildeo porque minha tarefa estaacute cumprida mas desccedilo em esplendoroso deacutegradeacute porque em radiante deacutegradeacute subi Combati o bom combate em cada etapa do ocasorsquo Sua uacuteltima luzinha ainda eacute uma gloacuteria revelada antes de desaparecer E natildeo eacute o Sol que entra no escuro mas eacute o mundo que fica em trevas quando ele sairdquo7

A solis ortu usque ad occasum laudabile nomen Domini8 De seu nascimento agrave sua morte Dr Plinio entoou por sua vida exemplo e doutrina um contiacutenuo e crescente hino de louvor agrave Eucaris-tia a Maria ao Papado bem como a todos os maravilhosos frutos do preciosiacutessimo Sangue de Nos-so Senhor Jesus Cristo na Civilizaccedilatildeo Cristatilde

Contudo se o Astro-Rei tem seu ocaso o mesmo natildeo acontece com os homens que marcaram a Histoacuteria com os sinais de sua Feacute Esses brilharatildeo como o Sol por toda a eternidade9

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Meio seacuteculo de epopeia anticomunista Satildeo Paulo Vera Cruz 1980 p 1

2) Do latim Rei e centro de todos os coraccedilotildees3) Conferecircncia de 30419924) Conferecircncia de 1651974 5) Conferecircncia de 2219726) Conferecircncia de 12619817) Idem8) Do latim Do nascer do Sol ateacute o seu ocaso seja louvado o nome do Senhor (Sl 113 3)9) Cf Mt 13 43

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Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

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Dona LuciLia

Algumas imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus exprimem a bondade a atitude grave tranquila serena as decisotildees irrevogaacuteveis do Homem-Deus em suma mostram a totalidade de suas perfeiccedilotildees E era justamente a consideraccedilatildeo desse todo que enlevava e modelava a alma de Dona Lucilia fazendo-a fiel aos princiacutepios por ela amados

embro-me de como o afeto de Dona Lucilia se manifestava em relaccedilatildeo a mim desde minha mais tenra infacircncia Eu natildeo tinha ainda idade

para perceber como era a relaccedilatildeo dela com os ou-tros inclusive com minha irmatilde mdash essa noccedilatildeo viria depois mdash poreacutem em relaccedilatildeo a mim esse afeto se realizava sob a forma que passarei a descrever

Seriedade e bondade

Esse afeto era uma espeacutecie de globalidade e uma seriedade completa que estava no fundo da sua alma Eu notava que ela entendia perfei-tamente qual eacute o afeto que uma matildee deve ter a seu filho ateacute onde isso podia ir que sacrifiacutecios traz e mais profundamente o que eacute ser matildee

Por outro lado isso natildeo ficava em tese mas repousava em mim como filho dela Quer dizer ela natildeo queria bem a uma abstraccedilatildeo a uma dou-trina mas agravequele filho dela em cuja pessoa ela procurava encontrar traccedilos e aspectos que prenun-ciassem o filho o qual ela gostaria que fosse quando se tornasse homem feito

Daiacute um querer bem a jorros como se fosse um facho de luz muito poderoso assestado sobre mim envolven-do-me satisfazendo-me e tranquilizando-me por inteiro acompanhado de um afeto tal que despertava em mim a

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potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

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Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

io S

hino

da

Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

P

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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Jef

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

11

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

15

Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 4: DrPlinio-200_201411

Editorial

Q

A solis ortu usque ad occasum

4

uando ainda muito jovem considerei enlevado as ruiacutenas da Cristandade A elas entreguei meu coraccedilatildeo Voltei as costas ao meu futuro e fiz daquele passado carregado de becircnccedilatildeos o meu porvirrdquo1

A fidelidade a este programa de vida traccedilado por Dr Plinio foi atestada em cada instante de sua existecircncia pela incontestaacutevel coerecircncia de sua accedilatildeo e de sua doutrina com os princiacutepios por ele ama-dos

Tendo como uma de suas caracteriacutesticas essenciais a consideraccedilatildeo do universo a partir de um pris-ma fundamentalmente religioso este varatildeo de Feacute tudo analisava sob esta perspectiva a ponto de afirmar

ldquoDesde crianccedila fui percebendo em pequenas coisas a ordem do universo Analisando o ensino da Igreja parecia-me que Deus era o cimo de um cone Voltando minha atenccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rex et centrum omnium cordium2 Ele Se me afigurava como o cone do mundo dos coraccedilotildees Da percepccedilatildeo desse cone supremo nasceu-me a ideia da ordem do universordquo3

E em outra ocasiatildeo dizialdquoSe natildeo conhecemos a Santa Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo pura e simplesmente natildeo com-

preendemos como a ordem do universo se afivelardquo4

Por isso suas anaacutelises eram sempre cuidadosamente conferidas com a Doutrina Catoacutelica e filial-mente submetidas ao Magisteacuterio infaliacutevel

Ao considerar a natureza o homem povos e naccedilotildees civilizaccedilotildees e culturas enfim a Histoacuteria com o olhar liacutempido de quem conservou a inocecircncia como o mais precioso dos tesouros Dr Plinio tecia comentaacuterios inspirados pelo dom de Sabedoria recebido no Batismo e acrisolado com o avanccedilar dos anos constituindo-se tanto por suas explicitaccedilotildees como por seu testemunho de vida o exemplo vivo de sua teoria sobre a ldquosoma das idadesrdquo

ldquoQuem eacute fiel tem na juventude as qualidades da infacircncia na maturidade as qualidades dessas trecircs eacutepocas da vida na ancianidade um requinte de todas elas Ateacute o uacuteltimo momento ele se aprimora e morre na idade perfeita dando o melhor de si A decrepitude fiacutesica pouco tem a ver com essa ascen-satildeo Ao entregar sua alma a Deus ele restitui o conjunto dos tesouros recebidos e implora misericoacuter-dia para tudo quanto estiver incompleto Eis a morte de um varatildeo catoacutelico eis a trajetoacuteria de um ho-memrdquo5

ldquoA perfeita biografia de um homem como Deus a vecirc sem veacuteus se assemelha agrave histoacuteria do Sol no decurso de um dia sem nuvens As energias primaveris e os frescores de alma com os quais nasce tecircm encantos proacuteprios irrepetiacuteveis ao longo dos tempos mesmo quando a inocecircncia se afirma e perseve-

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

ra A lsquosoma das idadesrsquo natildeo exclui a possibilidade de alguns encantos inerentes a cada eacutepoca se reco-lherem aos esplendores do Padre Eterno para serem encontrados mais tarderdquo6

Ao comemorarmos o ducenteacutesimo nuacutemero de nossa Revista podemos constatar com indiziacutevel alegria e transidos de gratidatildeo a Nossa Senhora os incontaacuteveis encantos da alma deste homem pro-videncial que reluziram aos olhos de nossos leitores

Agrave maneira dos raios do Sol esses encantos natildeo soacute iluminam uma trajetoacuteria de fidelidade mas criam condiccedilotildees de vida isto eacute alentam tonificam e impulsionam tantas almas que sem contemplar esses fulgores natildeo encontrariam luzes e forccedilas para trilhar o caminho da virtude

Uma afliccedilatildeo entretanto poderia acometer nosso espiacuterito ldquoMas o Sol tambeacutem tem seu ocasordquoA este propoacutesito comentava Dr PlinioldquoO pocircr do Sol natildeo eacute a morte do derrotado mas a desativaccedilatildeo de quem percebe nada ter mais a

dar Diante da obra realizada ele vai se retirando com dignidade numa esplendorosa diminuiccedilatildeo lsquoAtingi tal aacutepice que nem consigo cessar de repente Ateacute laacute chegou o superlativo dos superlativos on-de eu me pus Voltarei agrave minha gloriosa contemplaccedilatildeo porque minha tarefa estaacute cumprida mas desccedilo em esplendoroso deacutegradeacute porque em radiante deacutegradeacute subi Combati o bom combate em cada etapa do ocasorsquo Sua uacuteltima luzinha ainda eacute uma gloacuteria revelada antes de desaparecer E natildeo eacute o Sol que entra no escuro mas eacute o mundo que fica em trevas quando ele sairdquo7

A solis ortu usque ad occasum laudabile nomen Domini8 De seu nascimento agrave sua morte Dr Plinio entoou por sua vida exemplo e doutrina um contiacutenuo e crescente hino de louvor agrave Eucaris-tia a Maria ao Papado bem como a todos os maravilhosos frutos do preciosiacutessimo Sangue de Nos-so Senhor Jesus Cristo na Civilizaccedilatildeo Cristatilde

Contudo se o Astro-Rei tem seu ocaso o mesmo natildeo acontece com os homens que marcaram a Histoacuteria com os sinais de sua Feacute Esses brilharatildeo como o Sol por toda a eternidade9

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Meio seacuteculo de epopeia anticomunista Satildeo Paulo Vera Cruz 1980 p 1

2) Do latim Rei e centro de todos os coraccedilotildees3) Conferecircncia de 30419924) Conferecircncia de 1651974 5) Conferecircncia de 2219726) Conferecircncia de 12619817) Idem8) Do latim Do nascer do Sol ateacute o seu ocaso seja louvado o nome do Senhor (Sl 113 3)9) Cf Mt 13 43

L

Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

6

Dona LuciLia

Algumas imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus exprimem a bondade a atitude grave tranquila serena as decisotildees irrevogaacuteveis do Homem-Deus em suma mostram a totalidade de suas perfeiccedilotildees E era justamente a consideraccedilatildeo desse todo que enlevava e modelava a alma de Dona Lucilia fazendo-a fiel aos princiacutepios por ela amados

embro-me de como o afeto de Dona Lucilia se manifestava em relaccedilatildeo a mim desde minha mais tenra infacircncia Eu natildeo tinha ainda idade

para perceber como era a relaccedilatildeo dela com os ou-tros inclusive com minha irmatilde mdash essa noccedilatildeo viria depois mdash poreacutem em relaccedilatildeo a mim esse afeto se realizava sob a forma que passarei a descrever

Seriedade e bondade

Esse afeto era uma espeacutecie de globalidade e uma seriedade completa que estava no fundo da sua alma Eu notava que ela entendia perfei-tamente qual eacute o afeto que uma matildee deve ter a seu filho ateacute onde isso podia ir que sacrifiacutecios traz e mais profundamente o que eacute ser matildee

Por outro lado isso natildeo ficava em tese mas repousava em mim como filho dela Quer dizer ela natildeo queria bem a uma abstraccedilatildeo a uma dou-trina mas agravequele filho dela em cuja pessoa ela procurava encontrar traccedilos e aspectos que prenun-ciassem o filho o qual ela gostaria que fosse quando se tornasse homem feito

Daiacute um querer bem a jorros como se fosse um facho de luz muito poderoso assestado sobre mim envolven-do-me satisfazendo-me e tranquilizando-me por inteiro acompanhado de um afeto tal que despertava em mim a

Joatildeo

S C

Dia

s

7

potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

Arq

uivo

Rev

ista

8

Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

Rep

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ccedilatildeo

Arq

uivo

Rev

ista

9

Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

io S

hino

da

Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

P

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

Tony

Jef

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0)

ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

11

Tim

othy

Rin

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

29

Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 5: DrPlinio-200_201411

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

ra A lsquosoma das idadesrsquo natildeo exclui a possibilidade de alguns encantos inerentes a cada eacutepoca se reco-lherem aos esplendores do Padre Eterno para serem encontrados mais tarderdquo6

Ao comemorarmos o ducenteacutesimo nuacutemero de nossa Revista podemos constatar com indiziacutevel alegria e transidos de gratidatildeo a Nossa Senhora os incontaacuteveis encantos da alma deste homem pro-videncial que reluziram aos olhos de nossos leitores

Agrave maneira dos raios do Sol esses encantos natildeo soacute iluminam uma trajetoacuteria de fidelidade mas criam condiccedilotildees de vida isto eacute alentam tonificam e impulsionam tantas almas que sem contemplar esses fulgores natildeo encontrariam luzes e forccedilas para trilhar o caminho da virtude

Uma afliccedilatildeo entretanto poderia acometer nosso espiacuterito ldquoMas o Sol tambeacutem tem seu ocasordquoA este propoacutesito comentava Dr PlinioldquoO pocircr do Sol natildeo eacute a morte do derrotado mas a desativaccedilatildeo de quem percebe nada ter mais a

dar Diante da obra realizada ele vai se retirando com dignidade numa esplendorosa diminuiccedilatildeo lsquoAtingi tal aacutepice que nem consigo cessar de repente Ateacute laacute chegou o superlativo dos superlativos on-de eu me pus Voltarei agrave minha gloriosa contemplaccedilatildeo porque minha tarefa estaacute cumprida mas desccedilo em esplendoroso deacutegradeacute porque em radiante deacutegradeacute subi Combati o bom combate em cada etapa do ocasorsquo Sua uacuteltima luzinha ainda eacute uma gloacuteria revelada antes de desaparecer E natildeo eacute o Sol que entra no escuro mas eacute o mundo que fica em trevas quando ele sairdquo7

A solis ortu usque ad occasum laudabile nomen Domini8 De seu nascimento agrave sua morte Dr Plinio entoou por sua vida exemplo e doutrina um contiacutenuo e crescente hino de louvor agrave Eucaris-tia a Maria ao Papado bem como a todos os maravilhosos frutos do preciosiacutessimo Sangue de Nos-so Senhor Jesus Cristo na Civilizaccedilatildeo Cristatilde

Contudo se o Astro-Rei tem seu ocaso o mesmo natildeo acontece com os homens que marcaram a Histoacuteria com os sinais de sua Feacute Esses brilharatildeo como o Sol por toda a eternidade9

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Meio seacuteculo de epopeia anticomunista Satildeo Paulo Vera Cruz 1980 p 1

2) Do latim Rei e centro de todos os coraccedilotildees3) Conferecircncia de 30419924) Conferecircncia de 1651974 5) Conferecircncia de 2219726) Conferecircncia de 12619817) Idem8) Do latim Do nascer do Sol ateacute o seu ocaso seja louvado o nome do Senhor (Sl 113 3)9) Cf Mt 13 43

L

Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

6

Dona LuciLia

Algumas imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus exprimem a bondade a atitude grave tranquila serena as decisotildees irrevogaacuteveis do Homem-Deus em suma mostram a totalidade de suas perfeiccedilotildees E era justamente a consideraccedilatildeo desse todo que enlevava e modelava a alma de Dona Lucilia fazendo-a fiel aos princiacutepios por ela amados

embro-me de como o afeto de Dona Lucilia se manifestava em relaccedilatildeo a mim desde minha mais tenra infacircncia Eu natildeo tinha ainda idade

para perceber como era a relaccedilatildeo dela com os ou-tros inclusive com minha irmatilde mdash essa noccedilatildeo viria depois mdash poreacutem em relaccedilatildeo a mim esse afeto se realizava sob a forma que passarei a descrever

Seriedade e bondade

Esse afeto era uma espeacutecie de globalidade e uma seriedade completa que estava no fundo da sua alma Eu notava que ela entendia perfei-tamente qual eacute o afeto que uma matildee deve ter a seu filho ateacute onde isso podia ir que sacrifiacutecios traz e mais profundamente o que eacute ser matildee

Por outro lado isso natildeo ficava em tese mas repousava em mim como filho dela Quer dizer ela natildeo queria bem a uma abstraccedilatildeo a uma dou-trina mas agravequele filho dela em cuja pessoa ela procurava encontrar traccedilos e aspectos que prenun-ciassem o filho o qual ela gostaria que fosse quando se tornasse homem feito

Daiacute um querer bem a jorros como se fosse um facho de luz muito poderoso assestado sobre mim envolven-do-me satisfazendo-me e tranquilizando-me por inteiro acompanhado de um afeto tal que despertava em mim a

Joatildeo

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potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

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Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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ccedilatildeo

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

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Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

15

Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

17

Rep

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ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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And

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as (

CC

30

)

Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Der

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(C

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0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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CC

30

)

mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

Rep

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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rodu

ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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26

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

28

Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 6: DrPlinio-200_201411

L

Contemplaccedilatildeo do todo de Nosso Senhor

6

Dona LuciLia

Algumas imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus exprimem a bondade a atitude grave tranquila serena as decisotildees irrevogaacuteveis do Homem-Deus em suma mostram a totalidade de suas perfeiccedilotildees E era justamente a consideraccedilatildeo desse todo que enlevava e modelava a alma de Dona Lucilia fazendo-a fiel aos princiacutepios por ela amados

embro-me de como o afeto de Dona Lucilia se manifestava em relaccedilatildeo a mim desde minha mais tenra infacircncia Eu natildeo tinha ainda idade

para perceber como era a relaccedilatildeo dela com os ou-tros inclusive com minha irmatilde mdash essa noccedilatildeo viria depois mdash poreacutem em relaccedilatildeo a mim esse afeto se realizava sob a forma que passarei a descrever

Seriedade e bondade

Esse afeto era uma espeacutecie de globalidade e uma seriedade completa que estava no fundo da sua alma Eu notava que ela entendia perfei-tamente qual eacute o afeto que uma matildee deve ter a seu filho ateacute onde isso podia ir que sacrifiacutecios traz e mais profundamente o que eacute ser matildee

Por outro lado isso natildeo ficava em tese mas repousava em mim como filho dela Quer dizer ela natildeo queria bem a uma abstraccedilatildeo a uma dou-trina mas agravequele filho dela em cuja pessoa ela procurava encontrar traccedilos e aspectos que prenun-ciassem o filho o qual ela gostaria que fosse quando se tornasse homem feito

Daiacute um querer bem a jorros como se fosse um facho de luz muito poderoso assestado sobre mim envolven-do-me satisfazendo-me e tranquilizando-me por inteiro acompanhado de um afeto tal que despertava em mim a

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potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

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Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

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Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 7: DrPlinio-200_201411

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potencialidade para ter um amor correspondente a es-se De onde o nascimento em mim de um afeto correlato tanto quanto uma crianccedila possa ter

Na medida em que fui amadurecendo mdash natildeo sei bem em que idade mas na minha primeira infacircncia mdash eu percebia bem que essa globalidade essa totalidade natildeo era apenas o afeto mas todo um modo de ver a vida as coisas as pesso-as de modo muito seacuterio embora com muita bondade

Essa seriedade absoluta por assim dizer era o traccedilo donde emanavam as outras qualidades morais dela Era uma espeacutecie de alto-falante ou de lente de aumento pos-ta em todas as suas qualidades morais Se ela natildeo tives-se essa tatildeo profunda seriedade as outras qualidades nela existentes natildeo teriam o valor que de fato possuiacuteam

Inteligecircncia comum mas vivificada pela sapiencialidade

Eu notava isso em todas as circunstacircncias da vida nas consequecircncias que ela tirava dos fatos nas aplicaccedilotildees na severidade dela como matildee numa seacuterie de coisas assim tudo levado por ela ateacute o fim Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu que soacute cessou nesta Terra com a sua morte

Algueacutem poderia perguntar sobre o papel da inteli-gecircncia dentro disso e se natildeo se tratava de uma altiacutessi-ma qualidade intelectual Suponho ser algo mais ligado agrave virtude da sabedoria a qual natildeo eacute privativa dos inteli-gentes mas eacute uma inteligecircncia dada pela graccedila aos inte-ligentes e aos natildeo inteligentes desde que a Providecircncia queira beneficiaacute-los

Mamatildee tinha uma inteligecircncia comum vivificada por essa posiccedilatildeo sapiencial de muita seriedade diante de to-das as coisas

A visatildeo da totalidade que ela possuiacutea do espiacuterito da Igreja Catoacutelica e de Nosso Senhor Jesus Cristo tanto quanto eu podia perceber no contato com ela apresenta-va-se no culto ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus transbordantes de afeto mas nunca sorrindo

Via-se que ela reconhecia admirava adorava no Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoccedilatildeo tal como era apresentada no seacuteculo XIX durante o qual Dona Lucilia formou seu espiacuterito

Naquela eacutepoca o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era apre-sentado sempre como profundamente bondoso mise-ricordioso disposto a perdoar mas profundamente seacute-rio Entatildeo algumas atitudes drsquoEle perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto mas nunca sorrindo revelando sempre um fundo de tristeza

de quem media ateacute a profundidade a maldade dos ho-mens e sofria por causa disso inteiramente

Essa postura interior era representada fisicamente pe-lo coraccedilatildeo cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceraccedilatildeo decorrente da lanccedila de Longinus que simboli-zavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Co-raccedilatildeo de Jesus de uma profundidade natildeo mensuraacutevel infinita mas ao mesmo tempo sem irritaccedilatildeo sem vindi-ta Uma bondade a perder de vista mas que diante das ofensas feitas sabia serem ofensas tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era proacute-prio a elas fazecirc-Lo padecer Portanto tudo quanto Ele sofreu na Paixatildeo por causa dos nossos pecados estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente

Isso supotildee uma avaliaccedilatildeo profundamente seacuteria do que se passa na alma de cada homem da gravidade moral de todo o pecado e uma disposiccedilatildeo preacutevia a ver no homem um pecador a quem se perdoa muito mais do que um fi-lho dileto que daacute alegria

De maneira que as imagens do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus da boa escola natildeo O apresentam gaudioso embo-ra o Coraccedilatildeo drsquoEle fosse cheio de gaacuteudios por exemplo quando Ele via Nossa Senhora ou cogitava sobre Ela o gaacuteudio drsquoEle natildeo tinha limites

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Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

io S

hino

da

Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

P

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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Jef

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

11

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

15

Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 8: DrPlinio-200_201411

8

Dona LuciLia

Apariccedilatildeo do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

Fidelidade aos princiacutepios ateacute as uacuteltimas consequecircncias

Mas os homens na sua relaccedilatildeo com Deus precisam saber que Ele eacute assim E que o Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus na Humanidade santiacutessima de Nosso Senhor sendo um reflexo do que eacute na Divindade eacute a atitude de Deus diante dos pecados dos homens

Daiacute frases que se pintavam gravavam ou esculpiam junto a essas imagens e que exprimiam isso Por exem-plo ldquoFilho daacute-me teu coraccedilatildeordquo e Nosso Senhor com a matildeo indicando o Coraccedilatildeo drsquoEle Era uma proposta de troca de coraccedilotildees mas como quem diz ldquoFilho tu natildeo me deste teu coraccedilatildeo Eu sou Senhor do teu coraccedilatildeo Daacute-me teu coraccedilatildeordquo Isso de um lado

De outro lado uma frase que estaacute pintada no teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus1 Nosso Senhor Jesus Cris-to aparecendo a Santa Margarida Maria Alacoque num convento da Franccedila mostrando o Coraccedilatildeo drsquoEle e dizen-do esta frase que estaacute na narraccedilatildeo das visotildees que ela te-ve ldquoMinha filha eis aqui o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo

Vecirc-se aiacute aquele equiliacutebrio absoluto de um amor que chega a imolar-se na Cruz mdash natildeo eacute preciso dizer mais nada mdash para salvar os homens mas que toma inteira-mente nota das ingratidotildees de que esse amor eacute objeto e se entristece com elas Natildeo eacute o Coraccedilatildeo de Jesus en-quanto cheio de espiacuterito de justiccedila mdash por exemplo mal-

dizendo Corazim e Betsaida2 mdash nem o Cristo gladiacutefero de que fala o Apocalipse3 eacute o Cristo cheio de misericoacuter-dia mas uma misericoacuterdia cuja imensidade se calcula pe-la medida que Ele toma dos pecados dos homens

Eacute bem evidente que isto eacute o todo drsquoEle Natildeo eacute apenas uma atitude afetiva e todas as boas imagens do Cora-ccedilatildeo de Jesus no porte no gesto no modo de se apresen-tar fazem ver Nosso Senhor Jesus Cristo numa atitude grave tranquila serena mas numa decisatildeo irrevogaacutevel o que Ele decidiu decidiu e o que eacute eacute o que natildeo eacute natildeo eacute Eacute assim que Ele deve ser interpretado

Assim foi que Ele fez um bem enorme agrave minha al-ma E eu notava que era essa consideraccedilatildeo que concor-ria muito para modelar a alma de mamatildee E quando ela rezava a Ele punha-se inteiramente nesse diapasatildeo nes-sa posiccedilatildeo

Cabe aiacute uma visatildeo de um todo porque isso eacute um to-do Na visatildeo desse todo estava a alma de Dona Lucilia quer dizer ela era toda assim e contemplava aprecia-va ponderava as coisas desse modo Nosso Senhor eacute o exemplo e ela era a disciacutepula que seguia com muita fi-delidade o exemplo

Notava-se no olhar de mamatildee uma resoluccedilatildeo de ser fiel aos princiacutepios ateacute o fim custasse o que custasse Isso a tornava por vezes isolada o que se acentuou muito no periacuteodo posterior agrave Primeira Guerra Mun-dial quando entrou no Brasil o americanismo o espiacute-rito difundindo por Hollywood e Satildeo Paulo se tornou muito cosmopolita

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Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

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Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

11

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

14

A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

15

Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

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ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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CC

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)

Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

ter

Der

nart

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C 3

0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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el (

CC

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)

mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

Rep

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

Rep

rodu

ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 9: DrPlinio-200_201411

9

Visatildeo profunda liacutempida serena objetiva e bondosa da realidade

Nessa eacutepoca as senhoras mudaram muito tomando um ar mais moderno O modo de elas conversarem de dizerem alguma coisa de engraccedilado entre si mudou mui-to e mamatildee ficou agrave margem Natildeo sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente

A matildee dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ningueacutem E uma vez ou outra quando ela procurava brincar com minha irmatilde ou comigo para nos distrair quando eacuteramos muito menininhos ela fazia brincadeiras sem graccedila mas por causa dessa seriedade dela

E o fato de uma senhora habituada a abrir-se in-teiramente sem a menor reserva para o americanis-mo que entrava para Dona Lucilia era uma coisa in-teiramente alheia aos padrotildees nos quais ela havia si-do educada

Entre as senhoras daquela eacutepoca entrou o costume de darem risada de brincarem uma com a outra de fala-rem da vida das outras o tempo inteiro a ponto dessa ati-tude tornar-se moda Dona Lucilia natildeo fazia nada disso E quando diante dela se apresentava um assunto ela en-trava no tema com umas consideraccedilotildees longas tatildeo ajui-zadas criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir que ela ficava sem graccedila permanecia soacute

Essa postura seacuteria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visatildeo profunda liacutempida serena obje-tiva e bondosa da realidade que eu notava no olhar de-la mas notava tambeacutem naturalmente em grau infinita-mente maior no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e na Igreja Catoacutelica E pensava ldquoAssim eacute a Igreja Catoacutelica assim se eacute santo assim se vecirc a realidade como deve ser vista es-te eacute o caminhordquo

Eu hauria dela essa mentalidade muito mais pelo conviacutevio do que por ensinamentos expliacutecitos Sua accedilatildeo benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbiacutetrio a se inclinar para o bem E naquelas coisas a que ela se con-servou fiel eu com a graccedila de Nossa Senhora natildeo soacute me mantive fiel mas remontei ateacute a Idade Meacutedia Quer di-zer eacute o caminho da fidelidade subindo agrave fonte

Tenho consciecircncia de que sirvo de eco a uma tradiccedilatildeo que me eacute muito anterior mas um eco consentido pela minha alma pelo meu feitio de espiacuterito pelo que recebi e quis guardar   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1731990)

1) Situada em Satildeo Paulo Bairro Campos Eliacuteseos2) Cf Mt 11 213) Cf Ap 19 11-16

Maacuter

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Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

14

A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

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ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

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lj

Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

23

Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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eco

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30

)

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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Rep

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 10: DrPlinio-200_201411

Variedades do modo de ser de Nosso Senhor

P

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Em menino Dr Plinio analisava atentamente uma imagem de Nosso Senhor que havia no quarto de Dona Lucilia bem como as existentes na Igreja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Contemplando-as ele foi discernindo a mentalidade do Divino Salvador discernimento que depois seria confirmado ao

conhecer os episoacutedios narrados nos Evangelhos

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ercebe-se que os Apoacutestolos e todas aquelas pes-soas que tinham o conviacutevio com Nosso Senhor mdash exceto naturalmente Nossa Senhora mdash natildeo O

haviam entendido bem Parece que com o curso do tem-po depois de equiacutevocos primeiros eles acabaram pelo menos natildeo formando ideias erradas a respeito drsquoEle mas vecirc-se que eles natildeo tinham formado uma ideia inteira a respeito de Jesus exatamente como era a Pessoa drsquoEle E isso era de uma importacircncia transcendental para eles amarem a Nosso Senhor como deviam ter amado

Amar e compreender

Quer dizer se eles tives-sem amado como deviam teriam compreendido como podiam se tivessem com-preendido como podiam te-riam amado como deviam

Assim eacute o jogo entre o amor e a compreensatildeo E eles natildeo tiveram esse amor assim O resultado eacute que custou para reconhecerem a Nosso Senhor como Deus

Consideremos que nrsquoEle haacute duas naturezas mdash a hu-mana e a divina mdash unidas na Pessoa do Verbo Por-

tanto natildeo existem duas pessoas mas uma uacutenica Pessoa divina Haacute pois nrsquoEle uma verdadeira alma e um verda-deiro corpo ligados entre si como em todos os seres hu-manos mas essa alma e esse corpo estatildeo unidos hiposta-ticamente agrave Segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade

Por isso cada vez que Ele falava era o Verbo de Deus Quem falava Cada vez que Ele olhava era o Ver-bo de Deus Quem olhava Cada vez que Ele fazia qual-quer gesto era o reflexo mais perfeito que se possa ima-ginar da natureza divina na humana

Portanto manifestava uma santidade uma perfei-ccedilatildeo uma superioridade da qual noacutes natildeo podemos ter uma ideia nem sequer re-mota se natildeo nos ajudar a graccedila de Deus Se fizeacutesse-mos uma ideia tatildeo exata quanto podemos e devemos de como foi Ele entatildeo teriacute-amos comeccedilado a amaacute-Lo como precisamos amar

Fisionomia e accedilatildeo de presenccedila de Nosso Senhor

A voz os olhares os gestos drsquoElehellip Que espe-

Nosso Senhor e os Apoacutestolos Catedral de Notre-Dame de Paris Franccedila

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

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ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

tavo

Kra

lj

Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

23

Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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eco

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)

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 11: DrPlinio-200_201411

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Pia batismal onde Dr Plinio foi batizado Igreja de Santa Ceciacutelia Satildeo Paulo Brasil

lho da Santiacutessima Trindade Noacutes precisamos reconstituir um pouco disso para O amarmos como Ele merece ser amado e natildeo haver o equiacutevoco de O amarmos como Ele natildeo foi com todo o perigo que isso traz consigo

Esse eacute um trabalho muito delicado que se natildeo fosse a ajuda da graccedila natildeo se faria na alma de nenhum ho-mem Porque primeiro eacute muito mais alto do que a cogi-taccedilatildeo de qualquer homem Em segundo lugar seria pre-ciso utilizar dados muito imponderaacuteveis ser um psicoacutelo-go do outro mundo para recompor

Por exemplo no que diz respeito agrave fisionomia de Nos-so Senhor um dia em que sentimos certo tipo de conso-laccedilatildeo sensiacutevel ao estar perto do Santiacutessimo Sacramento isso produz um determinado efeito que nos deve levar a pensar sobre como era a fisionomia de Quem estaacute cau-sando sobre noacutes esse efeito E como era portanto o di-vino rosto drsquoEle e mdash coisa altamente proacutepria ao Santiacutessi-mo Sacramento mdash sua accedilatildeo de presenccedila

Entatildeo devemos procurar analisar e entender o que Ele estaacute comunicando E tomando os episoacutedios do Evan-gelho imaginando-O exercendo sobre noacutes mdash se presen-ciaacutessemos um deles mdash um efeito daqueles relacionados com o fato compreenderiacuteamos um tanto o que foi o tra-to com Nosso Senhor

Relacionando a fisionomia drsquoEle com episoacutedios de sua vida

Tenho a impressatildeo de que com o Batismo e as pri-meiras impressotildees religiosas nos eacute dada uma certa primeira no-ccedilatildeo drsquoEle que vai se formando e aprimorando dentro de noacutes Por exemplo posso me lembrar de como isso foi se constituindo aos poucos na minha proacutepria alma

Graccedilas a Deus eu tomei como ponto de partida que a fisionomia apresentada habitualmente pelas imagens de Nosso Senhor era fiel e que aquele era o semblante que Ele tivera em sua vida terrena

Sempre dado a examinar as pessoas pelo rosto instintivamen-te eu analisava por longo tem-po a fisionomia drsquoEle Sobretudo naquela imagenzinha do Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus presente no oratoacuterio do quarto de mamatildee

Longamente atentamente me-ditadamente mdash quanto possa caber numa crianccedila mdash eu a analisava E

ela condizia com a imagem que haacute num altar lateral da Igre-ja do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus tambeacutem com a existente no teto dessa igreja e formava assim uma resultante uma espeacutecie de figura central que era o essencial dessas vaacuterias imagens e como eu imaginava mais ou menos a Ele

Entatildeo vinham os episoacutedios da vida de Nosso Senhor e eu procurava me perguntar se aqueles fatos estavam de acordo com aquilo que imaginava da mentalidade drsquoEle E percebia que natildeo soacute estavam de acordo mas que os episoacutedios tomavam um realce extraordinaacuterio imaginan-do-os praticados por aquele Varatildeo com aquele rosto e aquela atitude Aquela fisionomia explicava o episoacutedio e o episoacutedio explicava a fisionomia E eu me sentia por-tanto na verdadeira pista de entender como Ele era

Harmonia extraordinaacuteria entre as virtudes opostas

Depois eu procurava tambeacutem ver o reflexo disso na Igre-ja Dado que Nosso Senhor tinha tal fisionomia e portanto devia ter tal personalidade se Ele precisasse fazer uma obra como a Igreja tecirc-la-ia feito como ela eacute E chegava agrave conclu-satildeo que sim que era inteiramente o que Ele devia fazer

De onde entatildeo uma confirmaccedilatildeo da Feacute originaacuteria que pela bondade de Nossa Senhora recebi no Batismo

Como O imagino Antes de tudo contemplar a Humanidade santiacutessima de

Nosso Senhor causa-me a impressatildeo de cogitaccedilotildees enorme-mente superiores a tudo que se possa imaginar Pensamen-

tos de uma elevaccedilatildeo de uma altu-ra sem proporccedilatildeo com nada En-tretanto sem podermos chegar nem de longe ateacute onde Ele atingia alguma luz desses pensamentos brilhavam em Jesus e como que se via sua Alma inundada dessas lu-zes das quais Ele estava cheio

Seria mais ou menos como um homem que natildeo pode entrar nu-ma catedral agrave noite mas nota pe-lo lado de fora que as luzes estatildeo acesas dentro Ele vecirc portanto a coloraccedilatildeo dos vitrais ilumina-dos aproxima-se e ouve a muacutesi-ca avizinha-se ainda mais o per-fume do incenso chega ao seu ol-fato Ele se encanta com a cate-dral onde natildeo entrou Os sinais da catedral o fazem perceber al-go da sua beleza

Assim se passava comigo em re-laccedilatildeo a Nosso Senhor Percebia

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

14

A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

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ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

tavo

Kra

lj

Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

23

Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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)

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 12: DrPlinio-200_201411

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Igreja dos Dominicanos - Colmar Franccedila

qualquer coisa de uma elevaccedilatildeo prodigiosa mas desde o primeiro momento desde o ponto mais profundo onde eu O poderia compreender com essa caracteriacutestica de uma fu-satildeo harmoniosa em niacutevel indizivelmente alto das virtudes mais opostas formando uma harmonia extraordinaacuteria

De maneira que por exemplo uma forccedila incomparaacutevel mas de uma bondade incomparaacutevel tambeacutem Uma severi-dade inquebrantaacutevel mas ao mesmo tempo um perdatildeo de uma doccedilura sem fim Um poder incomparaacutevel de tranqui-lizar mas de outro lado tambeacutem de mover para a luta e para a batalha Uma superioridade divina poreacutem ao mes-mo tempo uma possibilidade de descer jaacute natildeo digo agrave uacutelti-ma pessoa mas a um cachorrinho e fazer-lhe um benefiacutecio qualquer Estou certo de que se um cachorrinho se aproxi-masse de Nosso Senhor Ele se alegraria com isso

Seu sono e seus silecircncios

Isso tudo indica a superioridade maravilhosa drsquoEle mas tambeacutem sua imensidade para que virtudes tatildeo opos-tas levadas a um grau tatildeo alto possam caber em Jesus com tanta harmonia na qual estaria exatamente o que melhor o meu olhar pudesse pegar na sua natureza hu-mana como transparecircncia da Divindade da graccedila nrsquoEle

E por isso muita gravidade uma seriedade enorme Impossiacutevel eacute natildeo soacute vecirc-Lo dizer algo que natildeo seja muito elevado mas falar algo atraacutes do qual natildeo haja uma eleva-ccedilatildeo infinita uma coisa infinitamente perfeita

Realmente se tomarmos no Evangelho tudo quan-to Nosso Senhor disse jaacute nas primeiras palavras adquire

um tamanho que natildeo se sa-be o que pensar

E mesmo quando Ele dormia seu sono era um arquissono de uma perfei-ccedilatildeo um equiliacutebrio uma do-ccedilura uma forccedila um poder de manifestaccedilatildeo uma san-tidade tal que se uma pes-soa que entendesse Quem e como Ele era pudesse apenas passar uma noite in-teira vendo-O dormir con-sideraria essa noite como a mais feliz de sua vida

Os silecircncios drsquoEle Haacute si-lecircncios que cantam outros feitos para a poesia outros ainda para a prosa para di-zer com afabilidade e inti-midade determinadas coi-sas que soacute o silecircncio fala

Por exemplo o Santo Sudaacuterio tem um silecircncio emi-nentemente eloquente Jesus estaacute ali morto e nada nrsquoEle pressagia uma palavra Entretanto o que Ele diz sem fa-lar eacute uma enormidade

Nosso Senhor independentemente de falar tinha uma imensidade de coisas dessas que explica porque os disciacutepulos ficavam tatildeo intrigados sobre Quem era Ele

Construir uma catedral para abrigar uma varinha utilizada por Ele

Suponhamos que nesse silecircncio Ele faccedila as coisas mais simples colhe uma florzinha e a contempla ou com uma varinha que tenha na matildeo risca um pouco o chatildeo Tem-se vontade de dizer

mdash Natildeo mexam nesse riscado porque Ele riscouAlgueacutem retrucaraacutemdash Isso natildeo quer dizer nadamdash Natildeo mexam As matildeos de Nosso Senhor tocaram

aqui e ficou alguma coisa que eacute sacrossanta na qual natildeo se deve mexer Se vocecirc natildeo entende vaacute embora mas isto natildeo sai daqui ficaraacute para sempre Voltarei aqui todos os dias e me ajoelharei diante disto e soacute natildeo vou oscular o chatildeo para natildeo estragar o desenho que Ele fez

Para abrigar aquela varinha mandariacuteamos construir uma catedral Entretanto essas coisas satildeo apenas siacutembo-los de uma realidade muito superior o chatildeo riscado por Ele representa a alma de cada um de noacutes e a varinha nosso livre-arbiacutetrio que Ele tentou inclinar de um lado para o outro

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

15

Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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And

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as (

CC

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)

Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Der

nart

(C

C 3

0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

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Kra

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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nies

el (

CC

30

)

mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

Rep

rodu

ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

Rep

rodu

ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 13: DrPlinio-200_201411

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Ressurreiccedilatildeo de Laacutezaro Colegiada de San Gimignano Itaacutelia

Tenho a impressatildeo de que a tintura-matildee do pensamen-to de Nosso Senhor era uma siacutentese harmocircnica mas tam-beacutem frequentemente contrastante entre o que Ele eacute o que estava fazendo e aqueles para quem Ele estava agin-do Quer dizer Jesus conhecia a imensidade de dons pro-digalizados por Ele via a indiferenccedila com que esses dons eram recebidos por vulgaridade de espiacuterito falta de sen-so metafiacutesico de senso sobrenatural em uma palavra fal-ta de amor das pessoas beneficiadas Contudo Ele natildeo se afastava daquelas almas continuava a perceber o que ti-nham de bom e procurava ainda elevaacute-las mas pensava a fundo sobre essa ingratidatildeo e Se entristecia

Ele olhando para cada um de noacutes conhece inteiramente como somos Com o olhar Ele saberia tratar a cada indiviacute-duo de tal maneira que conforme Ele quisesse a pessoa se sentiria vista ateacute o fundo da alma nos lados ruins ou nos la-dos bons Naqueles com uma rejeiccedilatildeo por onde o indiviacuteduo teria vontade de fugir do seu proacuteprio pecado nestes com uma atraccedilatildeo tal que a pessoa teria vontade de multiplicar por cem quintilhotildees a sua virtude logo de saiacuteda

Mas por uma bondosa condescendecircncia para com os homens Nosso Senhor natildeo olharia inteiramente de um jeito nem de outro a natildeo ser nas situaccedilotildees excepcionais para as pessoas poderem viver ao lado drsquoEle

Os episoacutedios da vida drsquoEle satildeo todos maravilhosos Mas natildeo me impressiona tanto este ou aquele fato quan-to as variedades do modo de ser pessoal drsquoEle enquanto andava de um lado para outro

Jesus chora pela morte de Laacutezaro e depois o ressuscita

Sempre me impressionou a cena diante do sepulcro de Laacutezaro Primeiro a bondade com a qual Jesus chora jun-to ao sepulcro porque Laacutezaro morreu E depois como que natildeo podendo conter a sua proacutepria dor brada ldquoLaacuteza-ro vem para forardquo com um brado que eu imagino ma-jestoso e fendendo a sepultura E a vida volta em Laacutezaro Eacute uma coisa majestosa

Imaginaacute-Lo recebendo a censura de Maria Madale-na ldquoSenhor se tivesses estado aqui meu irmatildeo natildeo te-ria morridordquo1 Eacute portanto uma censura Parecia estar in-sinuando que pela relaccedilatildeo de amizade existente entre os dois Ele tinha obrigaccedilatildeo de ter salvado Laacutezaro da morte E naquele momento talvez Ele tivesse parecido a Maria Madalena ligeiramente tisnado de culpa

E como Jesus se portou nessa ocasiatildeo em que Ele natildeo lhe deu nenhuma justificaccedilatildeo Foi para a sepultura e quase pareceu justificar a censura chorando Entatildeo por que deixou morrer Por que natildeo veio mais cedo Ela dis-se que Ele poderia tecirc-lo salvo Ele chora a morte que po-deria ter evitado Que pranto eacute este

Nosso Senhor deu algo melhor do que salvaacute-lo da morte foi tiraacute-lo da morte Ele fez Laacutezaro ressuscitar Natildeo haacute o que dizer

Podemos imaginaacute-Lo vendo Maria Madalena com certeza prostrada diante drsquoEle chorando com emoccedilatildeo dulciacutessima e Ele atendecirc-la como quem diz ldquoMinha fi-lha Eu te perdoo Tu deverias ter compreendido que Eu natildeo tenho falta Mas dei-te um dom que natildeo esperavasrdquo

Depois sabendo que a partir daquele milagre os fa-riseus tomariam a deliberaccedilatildeo de mataacute-Lo passar perto deles e fitaacute-loshellip Que olhar

Pensemos na sucessatildeo de atitudes de Jesus por exem-plo indo a Betacircnia descansar Pode-se imaginar algueacutem mais adoraacutevel do que Ele repousando no conviacutevio afaacutevel com Marta Maria Laacutezaro e os Apoacutestolos Ou com Nos-sa Senhora certamente na vida cotidiana ou na residecircn-cia de Laacutezaro recebendo as honras conversando na inti-midade etc

Como Nosso Senhor Se sentiria consolado de tanta infacirc-mia ao ver o que havia de maravilhoso naquelas almas que Ele estava formando na virtude Eacute uma coisa maravilhosa

Tudo isso junto as vaacuterias atitudes drsquoEle se sucedendo sobretudo no momento de passar de uma posiccedilatildeo para outra me deixam especialmente encantado   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 691984 e 1171991)

1) Jo 11 32

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

Grib

eco

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27

afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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A percepccedilatildeo infantilRefletindo a respeito da percepccedilatildeo simboacutelica da

crianccedila Dr Plinio tece importantes consideraccedilotildees sobre a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do caraacuteter e do

senso moral na infacircncia

A Escolaacutestica define o pulchrum como sendo splendor veritatis ou splendor bonitatis isto eacute enquanto a verdade ou a bondade se deixa apa-

nhar em alguma coisa do seu real que a abstraccedilatildeo natildeo capta agrave maneira de siacutembolo mas que a analogia apreen-de Eacute a percepccedilatildeo por via da analogia do verum e do bo-num O esplendor eacute propriamente a evidecircncia o jorro do ser enquanto verdadeiro ou bom brotando na analogia Isso eacute o pulchrum

Tocheiros e ordenaccedilatildeo do espiacuterito

Eu tomo por exemplo aqueles tocheiros da Sala do Reino de Maria1 que para mim tecircm pulchrum Por que eles satildeo belos Porque refletem uma ordenaccedilatildeo um princiacutepio profundo de ordem material mdash de peso me-dida etc mdash pelo qual o cabo tem uma proporccedilatildeo com o corpo do tocheiro e a tampa termina tambeacutem adequada-mente Satildeo propriedades da mateacuteria que assim se apre-sentam na sua boa ordenaccedilatildeo

Mas isso natildeo eacute o principal O principal estaacute no fato de haver nisso uma analogia com certa ordenaccedilatildeo do espiacuterito Vendo a ordenaccedilatildeo do tocheiro e o estado de espiacuterito com que ela eacute anaacuteloga apreendo o pulchrum nesse siacutembolo isto eacute na analogia do tocheiro com o es-tado de espiacuterito do qual compreendo algo que natildeo en-tenderia a natildeo ser considerando o tocheiro Isso eacute o es-plendor da bondade que haacute no tocheiro

O estado de espiacuterito ideal eacute algo de muito esguio que floresce numa luz Mas uma luz que cogita de coisas mui-to elevadas e discretamente coloridas dentro de um pen-samento harmocircnico fechado e coroado Um estado de espiacuterito assim eacute excelente e corresponde ao estado proacute-prio a uma alma

Abstraccedilatildeo e simbologia

A abstraccedilatildeo por sua vez eacute mais intelectual e natildeo jo-ga tanto como a analogia No processo acima descrito haacute principalmente analogia

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Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

tavo

Kra

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

23

Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 15: DrPlinio-200_201411

15

Parece-me natildeo haver nada que ocorra ao espiacuterito do homem sobre o qual natildeo se possa fazer ao mesmo tem-po uma abstraccedilatildeo e uma simbologia Inclusive a proacutepria abstraccedilatildeo pode ser objeto de um trabalho simboacutelico e o siacutembolo pode ser objeto de um trabalho abstrativo

A meu ver isso decorre da dualidade de nossa natu-reza e o unum estaacute numa espeacutecie de domiacutenio por on-de o espiacuterito humano rege esses dois ldquoolhosrdquo atraveacutes dos quais ele vecirc para formar a imagem una

Essa faculdade unitiva do homem por onde ele coor-dena numa mesma linha ambas as perspectivas estaacute no proacuteprio unum do senso do ser Ele se sente uno apesar de ter as naturezas animal e espiritual E haacute uma coisa qualquer por onde um dos prazeres do homem estaacute em estabelecer essa unidade e viver na degustaccedilatildeo dela

Se uma crianccedila em idade muito tenra fosse habitua-da a uma atmosfera embebida de pulchrum de maneira que quando ela soubesse pensar visse nesse pulchrum o correlativo da abstraccedilatildeo mdash portanto um pulchrum muito alto de elevada paragem mdash e ficasse acostumada a en-contrar nesse pulchrum o deleite de sua vida tenho a im-pressatildeo de que essa crianccedila teria possibilidades de dar uma iacutencola do Reino de Maria de primeira ordem Toda a praacutetica da virtude do amor de Deus todos os eacutelans de sua alma se elevariam muito mais facilmente para a Igre-ja Catoacutelica

Poderiacuteamos nos perguntar como a crianccedila vecirc isso co-mo eacute o seu espiacuterito e depois como manter e desenvolver isso na crianccedila

O mar um universo uma faacutebulaEm minhas recordaccedilotildees de infacircncia junto ao mar al-

go disso transparece que me ajuda a explicitar a doutrina que estou expondo

Eu via no mar um universo uma faacutebula O tamanho dele seus movimentos as ondas como se jogam o ruiacutedo que fazem o misteacuterio do mar o por onde ele eacute ao mesmo tempo um parceiro muito amigo mas meio hostil um tanto cheio de ciladas No mar entra-se noutro universo

Encantava-me tanto com o mar visto da terra quan-to com esta contemplada de dentro do mar A praia por mim frequentada naquele tempo ficava muito distante das casas que vistas de dentro do mar pareciam pe-quenas Na realidade eram confortaacuteveis residecircncias de famiacutelias da aristocracia ou da pequena burguesia de Santos

Estando imerso naquela imensa massa liacutequida eu via em determinado momento acenderem-se todas as luzes das ruas e das casinhas E de dentro de certo perigo que o mar representa imaginar ao mesmo tempo o conforto aconchegado e agraves vezes luxuoso seco e sem riscos daque-les lares tornava a vida cotidiana tatildeo bonita aos meus olhos que agraves vezes eu ficava com uma certa pressa de voltar para casa a fim de entrar naquele mundo

Outro elemento para mim indissociaacutevel dos anterio-res era meu gosto pelos frutos do mar

Todas essas impressotildees de crianccedila faziam-me muito bem e davam-me a ideia do prazer da consciecircncia que festeja a sua proacutepria retidatildeo utilizando-se das coisas que

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natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 16: DrPlinio-200_201411

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

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0)

natildeo satildeo pecado e com elas preparando para si o festim da inocecircncia

Uma coisa que a mim tornava pungente a considera-ccedilatildeo do mar era a despedida do navio no meu tempo de infacircncia As pessoas se despediam no cais se abraccedilavam se beijavam abanavam um lencinho tudo feito com mui-ta pompa pois natildeo sabiam se iriam rever-se Tudo isso me dava a impressatildeo de morte irremediaacutevel

Senso moral na crianccedila

A mesma operaccedilatildeo realizada com o bem com as coi-sas conformes a Deus e que rumam para Ele efetua-se tambeacutem com as coisas maacutes orientadas para o mal

A crianccedila tem uma noccedilatildeo muito viva de um certo pon-to auge de mal ponto negro horriacutevel do qual todas as coisas maacutes participam cada uma a seu modo E possui a noccedilatildeo de que na contextura da vida o mal estaacute como um abismo negro mas ldquovivordquo com a boca aberta procuran-do tragaacute-la e jogando contra ela nesta vida para arrastaacute--la ateacute laacute E a crianccedila tem muita noccedilatildeo de que consentin-do com qualquer coisa de mal faz consenso com aquele Satanaacutes que estaacute no fundo procurando atraiacute-la

Daiacute um senso moral na crianccedila que natildeo eacute o do mero moralista que estuda o Direito Natural mas eacute completa-do por esse aspecto simboacutelico abstrativo do qual esta-mos nos ocupando nesta exposiccedilatildeo

A crianccedila por assim dizer intui que o democircnio exis-te quando lhe contam ela aceita com toda naturalida-de Ela tem medo de espiacuteritos malfazejos fantasmas etc

A mentalidade infantil eacute tendente a perceber muito essas realidades mas as condiccedilotildees de educaccedilatildeo jaacute no meu tempo iam fazendo a infacircncia perder essa per-cepccedilatildeo

Agrave medida que a pessoa que natildeo perdeu essa percep-ccedilatildeo vai ficando mais velha procura os vaacuterios reflexos dis-so em objetos diferentes E vai constituindo na sua me-moacuteria mdash sem ter nada de intencional eacute uma coisa espon-tacircnea mdash galerias de impressotildees que tecircm significado para ela e constituem uma espeacutecie de tesouro do qual se des-taca certo suco distinto da mera recordaccedilatildeo

Por exemplo o mar Natildeo eacute mais este ou aquele mar mas uma recordaccedilatildeo somada de vaacuterios mares naquilo que eles tecircm de comum e portanto meio abstrativo De-pois isto mesmo conduz a um grau mais alto o mar que natildeo existe mas poderia existir Daiacute vem o auge implici-tamente presente jaacute no primeiro momento

O sonho da alma irmatilde e o egoiacutesmo

A crianccedila faz consideraccedilotildees dessas tambeacutem em relaccedilatildeo aos seus familiares Isso corresponde a um periacuteodo delica-do da sensibilidade infantil que origina verdadeiras crises

Assim como um indiviacuteduo sabe o que eacute um pecircssego e vendo num prato o pecircssego ideal tem vontade de comecirc--lo tambeacutem a crianccedila tende a idealizar os seus maiores e os seus coetacircneos Nasce entatildeo a ideia do amigo ideal e pouco depois a do cocircnjuge ideal ideias estas que satildeo a projeccedilatildeo para o terreno de uma perfeiccedilatildeo imaginaacuteria de pessoas pertencentes a uma humanidade que a crian-ccedila queria conhecer e natildeo conhece

Daiacute vem que todo menino durante dez onze anos tem a ideia de conseguir um amigo ideal que ele procura no meio de seus companheiros de seus parentes Quan-do encontra grande euforia Depois naturalmente vem a conhecida decepccedilatildeo

Pouco depois com a crise da puberdade deixa de ser o amigo ideal e aparece a menina ideal Entatildeo a namo-rada a noiva a esposa a Dulcineia del Toboso de cada Dom Quixote a Julieta de cada Romeu e daiacute por diante

Mais ou menos isso se deu na Idade Meacutedia onde em certo momento na evoluccedilatildeo dos romances de cavalaria surge muito a figura do amigo ideal Poreacutem pouco de-pois aparece a ideia da Dulcineia

A alma irmatilde ideal mdash quer seja como esposa quer co-mo amigo mdash representa para o indiviacuteduo um desejo de ter relaccedilotildees como se teriam no Paraiacuteso se os homens fos-sem concebidos sem pecado original Mas esse modo de entender a existecircncia leva-o a procurar na vida a utopia de uma pessoa que fosse natildeo conforme ao Paraiacuteso de Deus mas de acordo com o ldquoparaiacutesordquo do egoiacutesmo dele

Imaginar entatildeo algueacutem que eacute como ele quereria que fosse segundo seu proacuteprio capricho e natildeo segundo a re-gra posta por Deus uma espeacutecie de propriedade dele podendo isso dar-se curiosamente sob a forma de um en-levo do sujeito consigo mesmo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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CC

30

)

Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

Fins

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Der

nart

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C 3

0)

Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

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Kra

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

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Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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Rep

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 17: DrPlinio-200_201411

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ccedilatildeo

ldquoO Paraiacutesordquo - Biblioteca de Sainte-Geneviegraveve Paris Franccedila

Distintas concepccedilotildees sobre o Paraiacuteso Terrestre

Pelo contraacuterio suponho que a ordem humana no Pa-raiacuteso deveria ser tal que os homens tratando uns com os outros manifestassem certas belezas de Deus Talvez assim se diferenciariam as naccedilotildees e dentro destas as regiotildees de-pois as famiacutelias Seriam fai-xas de perfeiccedilotildees divinas que iam aparecendo de um jeito e de outro dando a imagem de Deus

Como toda essa harmonia ficou quebrada com o pecado original surge o papel uacutenico da Santa Igreja que com a di-fusatildeo do estado de graccedila a boa orientaccedilatildeo dada agraves pes-soas na sociedade etc pode promover uma ordem de coi-sas que sendo irremediavel-mente a do pecado original entretanto pode superar-se e chegar a uma perfeiccedilatildeo muito maior do que teria sem a accedilatildeo da Igreja Catoacutelica

Aliaacutes a propoacutesito da hipoacutetese da vida num Paraiacuteso Terrestre onde natildeo tivesse havido pecado original ocor-re-me a seguinte reflexatildeo

A Igreja ensina que o homem mesmo no Paraiacuteso natildeo era imortal por sua proacutepria natureza A imortalidade era um favor um dom concedido por Deus

Estamos habituados agrave ideia de que nos tornamos mor-tais porque nossos primeiros pais pecaram Isso eacute verda-de no sentido de que se natildeo tivessem pecado Deus man-teria o dom da imortalidade tambeacutem para os descenden-tes Mas por sua proacutepria natureza todo ser humano eacute mortal pois a mateacuteria eacute corruptiacutevel

Como seria um Paraiacuteso onde Deus natildeo tivesse conce-dido o dom da imortalidade Que papel teria a morte

Se o homem concebido sem pecado morresse como isso deveria ser tomado Qual eacute o papel desse fato na es-teacutetica na ordem do universo A morte natildeo eacute uma espan-tosa desordem uma destruiccedilatildeo

Devemos imaginar seres implantados sobre o seguin-te paradoxo a alma deles deseja a eternidade e o corpo que forma com a alma um soacute ser eacute corruptiacutevel e a alma que ama o corpo tem horror agrave corrupccedilatildeo de que o cor-po eacute capaz

O estado de provaPenso que esse problema

estaacute relacionado com uma coi-sa muito misteriosa que eacute o estado de prova em que esti-veram os anjos e no qual se encontram os homens

O estado de prova eacute de si uma espeacutecie de sofrimento pelo qual o homem tem que passar para provar a Deus o seu amor Portanto eacute um legiacute-timo tributo um imposto que ele paga inerente a toda re-laccedilatildeo e natildeo apenas agrave existen-te entre o Criador e a criatura

Por outro lado essa des-truiccedilatildeo decorrente da morte eacute misteriosa uma espeacutecie de dor no universo pelo fato de a coleccedilatildeo dos seres ficar priva-da de repente de um de seus elementos prejudicando sua beleza e sua integridade

E essa condiccedilatildeo ldquobanguelardquo da Criaccedilatildeo enquanto todos os homens natildeo tivessem passado

pelo estado da prova era a condiccedilatildeo triste de um mundo alegre paradisiacuteaco De maneira que salvo a ordem posta por Deus no Paraiacuteso Terrestre dando ao homem a imor-talidade tenho a impressatildeo de que uma nota de tristeza de ausecircncia de carecircncia nota ateacute grave era inerente a essa vida apesar de todas as maravilhas e deliacutecias do Pa-raiacuteso Eacute a dor sem a qual a esteacutetica das coisas natildeo se pre-enche inteiramente e que exerce o papel da tulipa negra realccedilando a beleza e a vivacidade das outras flores em meio agraves quais ela estaacute colocada

No Paraiacuteso Terrestre Deus tornaria menor a tulipa preta pela misericoacuterdia drsquoEle concedendo a todos o dom da imortalidade Contudo ficaria sempre a possibilidade de os seres humanos caiacuterem no pecado Portanto o mais grave da prova natildeo seria tirado isto eacute a apreensatildeo de pe-car o que eacute muito pior do que a apreensatildeo de morrer

Assim imaginar o Paraiacuteso como um lugar de felicida-de perpeacutetua nesta Terra sem tulipas negras parece-me negar o importante papel da dor das dificuldades da lu-ta na vida humana

(Extraiacutedo de conferecircncias de 26 e 2741984)

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr Plinio situada na regiatildeo central de Satildeo Paulo Brasil

Noccedilatildeo de sacralidade

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

29

Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 18: DrPlinio-200_201411

Noccedilatildeo de sacralidade

A

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Dr pLinio comenta

Uma das principais caracteriacutesticas da alma de Dr Plinio era a sacralidade Seu modo de ser de pensar querer agir em suma a visatildeo que ele possuiacutea do universo era sacral Mas o que significa propriamente a sacralidade Esse eacute o tema que ele desenvolve com muitos exemplos

na conferecircncia que a seguir transcrevemos

noccedilatildeo de sacralidade eacute uma das mais difiacuteceis de explicitar e natildeo se deve dar apenas uma ideia teoacuterica mas apresentar exemplos fatos concre-

tos circunstacircncias situaccedilotildees por onde as pessoas sintam e apalpem com a matildeo o tema Portanto natildeo oferecer so-mente uma definiccedilatildeo filosoacutefica que tem um grande va-lor mas natildeo passa de blaacute-blaacute-blaacute enquanto o indiviacuteduo natildeo sabe aplicaacute-la agrave realidade

A naveta

Imaginemos um pobre cego de nascenccedila o qual natildeo tem noccedilatildeo do que eacute cor poreacutem manda algueacutem ler para ele o que Satildeo Tomaacutes diz sobre esse assunto E tomando um desses dicionaacuterios de tomismo o leitor lecirc tudo quan-to o Doutor Angeacutelico fala a respeito de cor para esse coitado ouvir Esse cego forma entatildeo uma ideia teoacuterica de cor Pode adiantar alguma coisa mas daacute pena Porque de tal maneira a visatildeo direta da cor eacute mais do que a defi-niccedilatildeo que esta interessa mas a visatildeo direta eacute brutalmen-te insubstituiacutevel

Tambeacutem no que diz respeito agrave sacralidade haacute algo que eacute preciso ter visto natildeo basta a definiccedilatildeo para compreen-dermos no que consiste a sacralidade das coisas E isso eacute muito difiacutecil explicar

Tomemos aquele utensiacutelio lituacutergico em forma de nave feito para conter o incenso para o turiacutebulo a naveta Ela eacute bonitinha em geral com suas formas procura representar uma nau elegante imprimindo um pouco de fantasia no objeto Se algueacutem for estudar um livro sobre o assunto ve-raacute que provavelmente eacute por causa de uma tradiccedilatildeo antiga que se deu a forma de nau a esse utensiacutelio

E haacute toda uma estrutura de fantasias de ideias de me-taacuteforas em torno da naveta para indicar que o conter um incenso destinado a ser queimado em honra de Deus eacute de utilidade muito elevada tem alguma coisa de sacral

Suponho tornar claro o quanto eacute adequada a palavra sacral no emprego que lhe dei nesse caso O que quer di-zer aqui ldquosacralrdquo

Eacute uma referecircncia que a forma da naveta tem a um en-te infinitamente superior a ela E quem desenhou daque-la maneira a naveta aplicou a inteligecircncia dilatou o sen-so poeacutetico de maneira a poder fazer daquele instrumen-to comum e inteiramente praacutetico mdash em uacuteltima anaacutelise uma caixa com duas tampas cuja forma eacute calculada para se poder pegar bem o incenso mdash um objeto que ao mes-mo tempo e principalmente remete nosso espiacuterito para uma realidade natildeo idecircntica mas anaacuteloga agrave naveta e que potildee o nosso pensamento muito mais alto

O que haacute nisso de sacral Eacute o fato de que essa realida-de eacute tatildeo mais alta que ela chega a ser suprema eacute o proacute-prio Deus Eacute alguma coisa da dignidade do serviccedilo divino que estaacute lembrada nesse esforccedilo de afeto de fantasia po-eacutetica e de raciociacutenio em fazer da naveta uma obra-prima

Entretanto imaginemos uma naveta substituiacuteda por uma caixa qualquer retangular sem ornato que se abre se pega o incenso com os dedos e lanccedila-se no turiacutebulo Perdeu a sacralidade Porque a forma natildeo tem algo do sublimado que lembra a Deus

A espada e a guerra mecacircnica

Outra coisa Haacute muito a espada deixou de ser uma ar-ma de guerra Mas creio eu que em quase todos os exeacuter-

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

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Catedral de Estrasburgo Franccedila

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

Gus

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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ccedilatildeo

Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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)

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

29

Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 19: DrPlinio-200_201411

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Batalha das Navas de Tolosa Palaacutecio do Senado Madri Espanha

citos do mundo a espada ainda eacute usada co-mo um distintivo dos oficiais

Ora acontece que sem ser uma arma de guerra a espada por uma porccedilatildeo de circuns-tacircncias de tal maneira simboliza o heroiacutes-mo pelo qual o homem daacute a vida por algu-ma coisa que passou a ser um siacutembolo sem o qual o oficial natildeo se apresenta porque se duvida que ele seja oficial

O brilho niquelado a linha reta o ligei-ramente afilado o punho tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada E queiram ou natildeo queiram na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e a lan-ccedila acabou sendo a batalha por excelecircncia A bomba atocircmica eacute incomparavelmente mais mortiacutefera mas uma batalha natildeo eacute soacute matar nem apenas vencer Uma batalha eacute expor-se fazer forccedila ter agilidade e bastante amor pa-ra fazer a proeza de um duelador

Numa batalha mecacircnica um homem posto num mi-nisteacuterio recebe instruccedilotildees do Presidente da Repuacuteblica ldquoAperte o botatildeo vermelhordquo Ele sabe que vai deflagrar a guerra mundial fazer explodir Moscou ou Washington Aperta o botatildeo plum Ningueacutem diraacute ldquoQue guerreiro Ele pocircs por terra uma cidaderdquo Natildeo Ele eacute um datiloacutegrafo

Assim como o datiloacutegrafo pode ser levado pelo ofiacutecio a escrever a palavra ldquodedordquo e portanto pocircr duas vezes o dedo na letra ldquodrdquo assim aquele indiviacuteduo teve que colo-car o dedo numa tecla e com duas pressotildees no botatildeo ver-melho explodiu uma cidade portanto eacute um datiloacutegrafo Ele foi mais eficaz do que todos os guerreiros do mun-do mas a guerra natildeo se restringe agrave eficaacutecia Por algum la-do a guerra eacute sobretudo holocausto Eacute o homem dar--se mas dar-se com sua forccedila em que ele entra perma-nece e se afunda no perigo Entatildeo ele eacute propriamente he-roacutei natildeo porque venceu mas porque se expocircs ao risco por uma coisa mais alta

Participaccedilatildeo no supremo

E essa coisa mais alta o que eacuteNatildeo eacute simplesmente uma coisa mais alta mas eacute algo

de supremo Enquanto essa ideia de meta suprema mdash natildeo podendo haver nenhuma outra acima dela mdash natildeo for alcanccedilada a noccedilatildeo de sacral tambeacutem natildeo estaacute atin-gida

Imaginemos por exemplo que num paiacutes qualquer dois municiacutepios declarem guerra um ao outro por causa da posse de um riacho e das suas margens que correm na divisa entre os dois municiacutepios Entatildeo os caccediladores que possa haver nos dois municiacutepios formam duas pequenas

brigadas que vatildeo entrar em luta uma com a outra Meta garantir a posse do riacho para o municiacutepio

Aqueles homens vatildeo fazer o sacrifiacutecio da vida Mas eacute sublime que eles faccedilam o sacrifiacutecio da vida ou eacute ridiacuteculo Perfeitamente ridiacuteculo E eu diria ldquoPor esse riacho natildeo dou uma gota do meu sangue Vocecircs cozinhem e fervam essa coisa como quiserem mas natildeo contem comigo Vou mudar de municiacutepio e ver a besteira de vocecircs de longerdquo

Enquanto natildeo haacute a mais alta meta a respeito da qual a pessoa possa dizer ldquoNa escalada dos ideais nada che-gou tatildeo altordquo a noccedilatildeo de sacralidade natildeo estaacute presente Eacute necessaacuteria uma certa participaccedilatildeo no supremo Enquanto natildeo houver essa participaccedilatildeo no supremo podem existir outras coisas mas sacralidade propriamente natildeo haacute

Suponhamos que um oficial de justiccedila fosse levar uma notificaccedilatildeo judicial para determinada pessoa que enfure-cida com a intimaccedilatildeo desse um tiro no oficial E este en-quanto estivesse sendo conduzido para o hospital pensas-se ldquoQue miseraacutevel profissatildeo eu tive que adotar Mas o que posso fazer Foi o uacutenico meio que encontrei para as-segurar a minha vida tranquila Se morrer morrirdquo

Seria uma morte sublime Evidentemente natildeoMas se um oficial de justiccedila refletisse ldquoEstou morren-

do no cumprimento de um mandato judicial Se natildeo hou-vesse oficiais de justiccedila no mundo os juiacutezes natildeo pode-riam julgar e a ordem da sociedade humana estaria con-vulsionada E assim o proacuteprio desiacutegnio do Criador esta-belecendo homens na Terra natildeo se realizaria inteiramen-te Eu morro certo de que estava executando uma parte miacutenima do plano de Deus Mas eu adoro esse Deus a Quem eu tive que carregar o pequeno gratildeo de areia de minha profissatildeo Por isso morro contenterdquo Eu poria no epitaacutefio desse homem ldquoMorreu com fidelidaderdquo

Dr pLinio comenta

20

Catedral de Estrasburgo Franccedila

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

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S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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ccedilatildeo

equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

29

Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

33

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 20: DrPlinio-200_201411

Dr pLinio comenta

20

Catedral de Estrasburgo Franccedila

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Semelhanccedila especial com DeusNos exemplos acima mencionados mostrei que vistos

por um acircngulo naveta guerra e oficial de justiccedila apre-sentam uma chispada de sacralidade vistos de outro acircn-gulo natildeo

A sacralidade eacute pois aquilo por onde se nota mais fa-cilmente em determinada atitude pessoa ou coisa seu relacionamento com Deus atraveacutes de sua inserccedilatildeo no plano divino e de sua semelhanccedila com o Altiacutessimo Por-tanto sacral eacute tudo aquilo que tem especiais qualidades para lembrar os supremos atributos de Deus

Um diamante como o Koh-I-Noor que estaacute na co-roa da Rainha da Inglaterra pode ser considerado sa-cral porque tem um brilho uma beleza que facilmente

lembram por exemplo a rutilacircncia da inteligecircn-cia divina

Entretanto uma torre de uma igreja ou de cas-telo goacuteticos pode ser sacral porque muito melhor do que simplesmente uma pedra preciosa lembra a alma cheia de sagrado que compocircs aquele edifiacute-cio E atraveacutes da alma sacral que ama a sacralida-de chega-se muito mais proacuteximo de Deus Aquilo que traz consigo uma certa semelhanccedila especial com Deus a qualquer tiacutetulo eacute sacral

Dir-se-ia que um gratildeo de areia natildeo eacute sacral pois eacute feito para ser pisado Sem embargo quem o analisa com finura percebe que como tudo quanto existe tambeacutem ele tem um lado sacral Natildeo haacute um lado saliente protuberante

principal eacute preciso procurar para encon-trar mas procurando encontra-se mesmo Tudo quanto existe tem um lado sacral

Por isso por exemplo vendo-se pas-sar numa procissatildeo o clero nota-se mais sacralidade do que se observando ca-minhar o povo Porque o cleacuterigo se daacute a Deus eacute consagrado O padre quando daacute a absolviccedilatildeo natildeo eacute ele quem fala mas Nosso Senhor Jesus Cristo que Se serve da laringe dele para perdoar

E se o bispo estaacute presente na procissatildeo aumenta a sa-cralidade porque o padre tem apenas uma participaccedilatildeo na plenitude do sacerdoacutecio pode consagrar o patildeo e o vi-nho dar os Sacramentos mas o bispo ministra um Sacra-mento que o padre natildeo pode dar o bispo ordena padres E se nessa procissatildeo caminhasse o Papa natildeo havia pala-vras para dizer porque ele eacute a chave de cuacutepula da Igreja por assim dizer toca em Deus com as matildeos

Quem ama verdadeiramente a Deus estaacute continua-mente analisando as coisas conforme elas representem o Criador ou natildeo sejam sacrais ou natildeo E as ama de acor-do com a dose de sacralidade que tecircm

Civilizaccedilatildeo sacral e civilizaccedilotildees mecacircnicas

Uma civilizaccedilatildeo eacute autenticamente civilizaccedilatildeo na medi-da em que faccedila brotar de dentro de todas as coisas toda a sacralidade de que elas satildeo capazes Quer dizer pela ar-te pela literatura pela conformidade dos espiacuteritos por tudo faccedila realccedilar o caraacuteter sacral constantemente essa eacute uma grande civilizaccedilatildeo

Haacute um conceito corrente de civilizaccedilatildeo que eacute o de fazer com que as pessoas deixem a barbaacuterie Esse conceito con-teacutem algo de verdadeiro nesse sentido de que quanto mais selvagem mais o homem se distancia do modelo divino que ele deveria seguir e se apresenta parecido com o democircnio

Mas essa definiccedilatildeo negativa eacute pobre A definiccedilatildeo positi-va eacute muito mais rica e apresenta uma analogia A civiliza-ccedilatildeo sacral eacute a que faz o homem encontrar em tudo analo-gias com Deus Nosso Senhor Natildeo porque ele as fabrique mas porque elas existem Natildeo se trata de inventar trata-se de encontrar que eacute uma coisa muito diferente

Daiacute decorre que as civilizaccedilotildees laicas satildeo fundamen-talmente cafajestes porque elas tendem soacute para o praacuteti-co E um homem que por exemplo diga ldquoEssa naveta pode ser posta de lado porque encontrei uma caixa que uma vez apertada lanccedila um spray de incensordquo Ateacute talvez seja mais praacutetico mas eu responderia a esse homem o se-guinte ldquoRealmente isso eacute mais praacutetico mas natildeo vale de nada porque natildeo tem nenhum sentido de sacralidaderdquo

O inconveniente das civilizaccedilotildees muito mecacircnicas eacute que elas satildeo repletas de coisas que natildeo tecircm sacralidade Por exemplo o telefone natildeo tem nada que lembre algo de divi-no Por isso querer dar a ele uma forma sacral eacute completa-mente artificial Porque o telefone foi concebido numa eacutepo-ca em que o mundo estava saindo do natildeo mecacircnico e en-trando para o mecacircnico com a maior voragem e o maior desejo possiacutevel E em consequecircncia natildeo considerou o tele-fone com o espiacuterito sacral que acabaria por moldaacute-lo mas tatildeo somente pela sua finalidade ou sua forma praacutetica

21

S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 21: DrPlinio-200_201411

21

S Pedro S Paulo S Jerocircnimo Sto Agostinho e S Gregoacuterio Magno diante do Santiacutessimo Sacramento

Igreja de Satildeo Patriacutecio Massachusetts EUA

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Algo que poderia comuni-car sacralidade ao telefone se-ria encontrar em sua histoacuteria algum episoacutedio em que ele ser-viu para transmitir uma deter-minada mensagem a um santo que ao receber o telefonema levantou-se e cantou o Magni-ficat com o aparelho na matildeo E disso se faria um quadro de Satildeo Fulano com as matildeos eleva-das e por distraccedilatildeo com o te-lefone em uma das matildeos Daiacute viria uma relaccedilatildeo do telefone com os Anjos que transmitem boas notiacutecias para os homens O Arcanjo Satildeo Gabriel que le-vou a Nossa Senhora a notiacutecia da Anunciaccedilatildeo por exemplo Ele foi ateacute certo ponto o ldquotele-fonerdquo angeacutelico e vivo de Deus

Poderia surgir entatildeo uma forma algum elemento que desse ao telefone certa poesia pois estaria vinculado agrave histoacute-ria de um lance muito poeacutetico da vida humana

A Idade Meacutedia e o mundo da Revoluccedilatildeo

O que haacute de mais sacral na Terra Eacute o Santiacutessimo Sa-cramento Por mais que procurem nada pode compa-rar-se em sacralidade com Ele Mas Nosso Senhor estaacute oculto sob as espeacutecies eucariacutesticas De maneira que em torno do Santiacutessimo Sacramento a Igreja constitui todo o culto eucariacutestico que eacute um universo de sacralidade po-reacutem Ele considerado em Si eacute sacral porque eacute o proacuteprio Deus que estaacute oculto ali sob aquelas aparecircncias Mas Ele natildeo daacute a sensaccedilatildeo dessa realidade

Depois do Santiacutessimo Sacramento a realidade mais sacral eacute a alma de um santo E o que torna sacral uma civilizaccedilatildeo eacute ter muitos homens que admiram a santida-de mais do que tudo e se natildeo chegam ateacute a santidade ao menos tendem para ela com todo o seu ser

Na vida civil aquilo que fala de sacrifiacutecio de holo-causto de generosidade de esforccedilo heroico eacute mais sacral do que o que fala de lucro de conforto de bem-estar

A eacutepoca que mais alto levou a sacralidade foi evi-dentemente a Idade Meacutedia E a eacutepoca que mais se distanciou da sacralidade manifestamente eacute o mun-do da Revoluccedilatildeo

O cantochatildeoQual eacute a relaccedilatildeo que haacute en-

tre a alma sacral e o canto-chatildeo

Toda alma verdadeiramen-te sacral apresenta isto de proacute-prio tratando com ela e de-pois ouvindo alguma coisa de muacutesica sacra tem-se a impres-satildeo de que aquela muacutesica eacute a musicalizaccedilatildeo daquela alma

Natildeo haacute muacutesica a meu ver que melhor exprima a atitude que o homem tomaria se esti-vesse em presenccedila de Deus do que o cantochatildeo

O cantochatildeo tem algo de es-pecial que eacute a presenccedila de um misto equilibrado de serena e vi-gorosa alegria com comedida e bem suportada tristeza Mesmo quando ele canta coisas alegres vecirc-se que o homem que canta tem consciecircncia de que ele es-taacute dentro de um mundo marca-do pelo pecado sofre o castigo do pecado e estaacute sujeito a qual-quer hora agrave desventura E pior do que tudo agrave possibilidade de pecar de ofender a Deus e de perder-se E isso potildee nele uma

nota contiacutenua de sofrimento por onde ele olha as coisas se-riamente como trazendo perigos riscos mas com forccedila co-mo quem diz ldquoEacute verdade mas com a graccedila de Deus isso eu aguentarei e chegarei ateacute o fim no cumprimento da vontade do Altiacutessimo no equiliacutebrio de minha almardquo

Algueacutem objetariamdash Dr Plinio sinto falta de ar Estou habituado a uma

ordem de coisas mais arejada que natildeo esteja referindo ao sagrado continuamente mas agrave coisa considerada em si mesma sem referecircncia a Deus Esse seu Deus me per-segue na ponta de todas as coisas

Eu diriaVocecirc natildeo entendeu nada Pelo contraacuterio no sacral

descansa-se do que natildeo eacute sacral O que natildeo eacute sacral eacute que cansa nauseia Para mim descansar eacute sacralizar

Eu quisera que cada um de noacutes estivesse constante-mente olhando para os mais altos piacutencaros e para os as-pectos mais sacrais que as coisas podem ter E ao olhar as coisas observaacute-las sempre pelo lado sacral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 411989)

Princiacutepios do autecircntico regionalismo

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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Princiacutepios do autecircntico regionalismo

R

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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etomando o tema tratado em conferecircncias an-teriores sobre as duas formas de vitalidade na sociedade orgacircnica1 nasce a seguinte questatildeo

ateacute que ponto se deve permitir e favorecer o desenvolvi-

Castelo de Hohenzollern Baden-Wuumlrttemberg

Alemanha

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mento da vidinha e da ldquovidonardquo Porque ambas levadas ao seu uacuteltimo limite destroem-se mutuamente

Entatildeo ateacute onde eacute conveniente estimular cada uma das duas e qual eacute o ponto de conciliaccedilatildeo que as manteacutem no

O verdadeiro catoacutelico deve ser uma pessoa de princiacutepios natildeo soacute no campo religioso e moral mas tambeacutem no social e cultural

A partir do momento em que se olvidam os princiacutepios sua decadecircncia estaacute em marcha Isso se aplica tambeacutem agrave sociedade orgacircnica quando seus integrantes se esquecem dos princiacutepios

que a constituem surge a Revoluccedilatildeo

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Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 23: DrPlinio-200_201411

23

Acima aspectos da cidade de Berlim Alemanha Abaixo Imperador Guilerme II

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Thomas Wolf (CC 30)

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equiliacutebrio harmocircnico no qual a organizaccedilatildeo poliacutetica do paiacutes deve firmar-se E equiliacutebrio natildeo soacute no tocante agrave or-ganizaccedilatildeo poliacutetica da naccedilatildeo mas contraacuterio agrave mania de centralizar na capital toda a vida cultural social enfim em todos os aspectos de um determinado gecircnero de ati-vidades A capital deve ser realmente a cabeccedila de todo paiacutes em todos os sentidos ou se poderia compreender vaacuterias capitais em funccedilatildeo de diversos aspectos

Dinastias centralizadoras e dinastia descentralizadora

A naccedilatildeo que mais conservou um equiliacutebrio nessa ma-teacuteria mdash acabou perdendo mas o manteve por mais tem-po mdash foi a Alemanha

Os Bourbons2 na Espanha foram centralizadores de primeira forccedila Tambeacutem os Hohenzollerns3 na Alema-nha eram centralizadores Contudo a Alemanha natildeo conseguiu senatildeo muito tarde o predomiacutenio de uma di-nastia sobre as outras e esse predomiacutenio foi o dos Habs-burgs4 que eram muito descentralizadores por poliacutetica por iacutendole e tudo mais e natildeo conduziram uma poliacutetica de centralizaccedilatildeo a natildeo ser numa fraca medida Entatildeo na Alemanha isso ficou muito diverso

No tempo de Guilherme II5 por exemplo a capital poliacutetica e militar da Alemanha era Berlim mas a capital artiacutestica podia bem ser considerada Dresden capital da Saxocircnia ou em algum sentido Munique capital da Ba-viera Ambas em todo caso muito superiores a Berlim debaixo desse ponto de vista artiacutestico Mas as capitais

econocircmicas eram Colocircnia na Renacircnia e Hamburgo na desembocadura do Reno E daiacute por diante encontramos o paiacutes servido por um sistema de comunicaccedilatildeo esplecircndi-do centralista no fundo mas que natildeo conseguiu elimi-nar essas autonomias mdash porque satildeo verdadeiras autono-mias mdash que por exemplo na Espanha tenho a impres-satildeo de que os Bourbons acabaram suprimindo

Questotildees relativas ao equiliacutebrio entre o regionalismo e a unidade nacional

Para termos esse equiliacutebrio bem mantido devemos nos pocircr nessa clareza dos princiacutepios fundamentais sobre a vidinha regional e a ldquovi-donardquo global

A comparaccedilatildeo que eu fiz com o organis-mo humano tem um interesse apenas ilus-trativo Natildeo eacute porque o organismo hu-mano seja assim que a sociedade huma-na deve ser da mesma maneira Co-mo o organismo humano eacute desse mo-do e tem uma analogia com o organis-mo social neste caso concreto ele se-ria o padratildeo mais natural a ser dado co-mo elemento para explicar o organismo social tendo portanto um valor didaacutetico para abrir hipoacuteteses

Para tratar da questatildeo do ponto de equiliacutebrio devemos antes de tudo nos desligar de falsas formulaccedilotildees

24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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27

afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

28

Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

31

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

32

Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

pois se as admitirmos caiacutemos num deacutedalo num pacircnta-no A questatildeo natildeo eacute somente se perguntar em tese em qualquer naccedilatildeo do mundo qual o equiliacutebrio que deve ha-ver entre o regionalismo e a unidade nacional Isso se-ria uma coisa mal apanhada A questatildeo eacute diferente Da-das as condiccedilotildees concretas de um determinado paiacutes se essas condiccedilotildees fossem inteiramente normais e as coisas proacuteprias a essa naccedilatildeo se tivessem resolvido normalmen-te no que consistiria o equiliacutebrio Este seria um primei-ro ponto

Segundo dado que o paiacutes natildeo estaacute em condiccedilotildees nor-mais enquanto essas natildeo se verifiquem qual eacute o equiliacute-brio jaacute natildeo ideal mas possiacutevel

E um terceiro ponto que poliacutetica existe para chegar ao normal e conseguir entatildeo o equiliacutebrio ideal

No Brasil haacute uma unidade indiscutida

Considerando sempre que esse equiliacutebrio ideal eacute dife-rente de paiacutes para paiacutes vou dar um exemplo que eacute muito caracteriacutestico uma comparaccedilatildeo entre o Brasil e a Espanha

O Brasil eacute um paiacutes com pequenas fricccedilotildees entre um Estado e outro questotildees limiacutetrofes um pouco de birra implicacircncia mas de um modo geral muito unido Apesar de existirem tantos fatores de desuniatildeo extensatildeo geograacute-fica enorme a possibilidade de a maior parte dos Esta-dos existirem economicamente como naccedilotildees indepen-dentes sem precisarem das outras e uma seacuterie de outras coisas o que faz a unidade do Brasil que salvo circuns-tacircncias artificiais eacute uma unidade indiscutida

Creio que se puser essa questatildeo para qualquer bra-sileiro meacutedio da rua ele vai achar essa pergunta esqui-

sita porque essa uniatildeo parece tatildeo natural que levantar um problema a esse respeito lhe pareceria singular Eacute um pouco como perguntar por que os dedos natildeo se destacam da palma da matildeo Quem perguntasse isso pareceria meio louco por estar questionando o inquestionaacutevel

Seria tambeacutem como um casal bem constituiacutedo a cujos filhos se perguntasse por que os pais natildeo se divorciam Eles cairiam das nuvens ldquoPapai se divorciar de mamatildee Natildeo eacute possiacutevel natildeo acontece Sua indagaccedilatildeo natildeo me in-teressa pois vocecirc pergunta o absurdordquo

Quando uma realidade como essa eacute admitida por to-dos e ningueacutem levanta a pergunta sobre por que ela eacute aceita debaixo de certo ponto de vista ela conseguiu condiccedilotildees oacutetimas de existecircncia

Tendecircncia para o centriacutepeto e para o centriacutefugo

Eacute preciso entretanto conhecer esses princiacutepios por-que sempre que os princiacutepios constitutivos de uma or-dem satildeo esquecidos surge a Revoluccedilatildeo

Entatildeo haacute uma aparente antinomia as condiccedilotildees satildeo oacutetimas quando o assunto nem eacute levantado mas o te-ma natildeo eacute levantado por causa de uma longa tradiccedilatildeo da profissatildeo dos mesmos princiacutepios Depois a situaccedilatildeo fi-cou tatildeo soacutelida que ateacute se esqueceram dos princiacutepios ela ao mesmo tempo em que dava esse sintoma de solidez abria as portas para o adversaacuterio porque esquecidos os princiacutepios a Revoluccedilatildeo entra

Como se fixa o ponto de equiliacutebrioPor certas razotildees psicoloacutegicas culturais histoacutericas e ou-

tras em determinados paiacuteses o princiacutepio centriacutepeto adqui-

Dresden (agrave esquerda) e Munique Alemanha

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 25: DrPlinio-200_201411

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re mais vigor do que o centriacutefugo mas o adquire de um modo vivo e natildeo artificial Natildeo eacute uma constituiccedilatildeo eleita por um contingente preestabelecido que se reuacutene e exe-cuta uma palavra de ordem urdida por uns poucos e im-posta aos demais inclusive utilizando-se dos meios de co-municaccedilatildeo em massa Natildeo eacute isso A tendecircncia para o cen-triacutepeto aumentou organicamente e a tendecircncia para o centriacutefugo teve que diminuir como que automaticamente

Agraves vezes daacute-se o contraacuterio Quando eacute que existe a tendecircncia para o centriacutefugo Esta questatildeo nos interes-sa mais do que a tendecircncia para o centriacutepeto pois nosso estudo visa a defesa do centriacutefugo quase anulado contra o centriacutepeto hipertrofiado Portanto interessa-nos mais conhecer o centriacutefugo e robustececirc-lo para restabelecer o equiliacutebrio

Papel da capital de um paiacutes

A condiccedilatildeo de vitalidade de todo grupo humano con-siste em que ele se reuacutena em torno de um grupo menor de pessoas que sejam os modelos geralmente admitidos como tais pelos inferiores A partir desse momento tu-do quanto os modelos fazem interessa ao pessoal menor cujo centro e diversatildeo passam a ser acompanhar saber o que fazem o que pensam o que dizem aqueles que satildeo admitidos como modelos

Acontece que a eliminaccedilatildeo das influecircncias diretivas locais destroacutei a cidade ou a regiatildeo e elimina a vida por-

que a vitalidade consiste em ter um elemento diretivo em torno do qual se constitua um relacionamento interes-sante Esse elemento diretivo natildeo deve ter os olhos fixos sobre a capital mas frequentaacute-la apenas enquanto uma variedade que aumenta a vitalidade da capital entretan-to natildeo para se revestir dos aspectos haacutebitos e mentalida-de dela

Quer dizer a capital deve ser um ponto de convergecircn-cia e natildeo de liquidificaccedilatildeo das diferenccedilas Concebida as-sim a tendecircncia centriacutepeta faz com que cada indiviacuteduo vaacute para a capital com a preocupaccedilatildeo de marcar e tornar presente a sua peculiaridade e natildeo de disfarccedilaacute-la afun-dando-se na homogeneidade da capital

Donde noacutes temos uma distinccedilatildeo entre dois centros os que devoram as periferias os quais satildeo por assim dizer criminosos praticam o ldquobanditismordquo da eliminaccedilatildeo dos que a eles recorrem e pelo contraacuterio os centros que bri-lham com todo o fulgor das diferenccedilas que neles se en-contram onde os mais altos personagens parecem dizer ao mundo ldquoVejam que amplitude de diferenccedilas temos a gloacuteria de abarcarrdquo E natildeo o oposto ldquoVejam que amplitu-de de homogeneidade noacutes dominamosrdquo

Impeacuterio Austro-Huacutengaro

Por exemplo em Viena ainda nos uacuteltimos anos do Impeacuterio Austro-Huacutengaro em certas cerimocircnias natildeo cos-mopolitizadas mdash a coroaccedilatildeo do Imperador como Rei da Hungria da Boecircmia ou tomando posse da dignidade im-perial mdash poder-se-ia compreender que afluiacutessem para laacute magnatas huacutengaros com trajes tiacutepicos elementos das vaacute-rias ordens do paiacutes inclusive alguns dignataacuterios eclesiaacutes-

Agrave esquerda Imperador Carlos IV Imperatriz Zita (Rei e Rainha da Hungria) e seu filho Priacutencipe Otto

agrave direita coroaccedilatildeo de Francisco I como Rei da Hungria

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 26: DrPlinio-200_201411

26

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

ticos com trajes de ritos orientais catoacutelicos em vigor em certas partes do Impeacuterio Austro-Huacutengaro junto com cleacute-rigos com trajes de rito latino Depois elementos da no-breza magnatas altos aristocratas da Boecircmia chefes lo-cais dos paiacuteses da zona adriaacutetica do Impeacuterio tiroleses etc cada um com suas qualidades seus atributos com-parecendo agrave cerimocircnia e a gloacuteria do Impeacuterio sendo a re-fulgecircncia a feeria dessas luzes diferentes Isso eu acho uma coisa magniacutefica

A estandardizaccedilatildeo eacute a morte e comeccedila por matar as influecircncias locais

Para ser possiacutevel essa variedade seria preciso que ca-da elemento da sociedade desse o seu contributo que consiste em evitar uma certa faceirice de querer ser ad-mirado pelo mundo inteiro Eacute proacutepria do regionalismo uma sadia indiferenccedila em relaccedilatildeo agrave apreciaccedilatildeo do mun-do sobre ele

Suponhamos que agrave coroaccedilatildeo do Imperador da Aacuteus-tria como Rei da Hungria compareccedila um alto dignataacute-rio do poder judiciaacuterio com traje que tenha reminiscecircn-cia indumentaacuteria dos primeiros juiacutezes do tempo de San-to Estecircvatildeo ou de Santo Ameacuterico por exemplo E que se encontre na mesma arquibancada com um magistrado austriacuteaco vestido agrave maneira da indumentaacuteria judiciaacuteria que se espalhou em todo o Ocidente no seacuteculo XIX mo-noacutetona com ar de agente funeraacuterio O magistrado vesti-do com traje tiacutepico natildeo deve ter vergonha disso mas sim uma noccedilatildeo viva de todas as possibilidades de todo o va-lor de todo o padratildeo humano que haacute na proacutepria regio-nalidade

Falo do magistrado mas poderia dizer do profes-sor universitaacuterio dos chefes das pequenas tropas locais e todo o pessoal a seu modo proeminente Eles devem

se aprofundar no espiacuterito local que possui mateacuteria-pri-ma para constituir um pequeno universo e ter o espiacuteri-to aberto para isso

Profundezas do autecircntico regionalismo

E aqui surge uma tese muito importante difiacutecil de provar mas que eacute mais ou menos intuitiva a ideia de que todo regionalismo autecircntico tem profundezas qua-se inesgotaacuteveis e o progresso natildeo se faz encontrando um ponto de estancamento mas aprofundando o que sob certo ponto de vista equivale a dizer acentuando

Teriacuteamos entatildeo um primeiro princiacutepio que jaacute natildeo eacute o da vidinha e da ldquovidonardquo mas o da inesgotabilidade das peculiaridades locais a esse princiacutepio devem-se acres-centar dois outros

Um deles eacute que tais aprofundamentos ao contraacuterio do que se diz natildeo preparam necessariamente a luta com ou-tras regiotildees mas sim um entendimento com elas porque se a Doutrina Catoacutelica eacute bem conhecida cada um ama o proacuteximo com suas peculiaridades singularidades e por-tanto cada regiatildeo cumpre o mandamento de amar a ou-tra como a si mesma prezando as peculiaridades da ou-tra de algum modo como ama as suas proacuteprias peculiari-dades e procurando a harmonia

Se a rivalidade destruiria o conviacutevio dos indiviacuteduos numa famiacutelia por que natildeo haacute de extingui-lo nas regiotildees de um paiacutes Analogamente destroacutei Numa famiacutelia com cinco filhos em que cada um implica com as caracteriacutes-ticas pessoais do outro e quer ser superior ao outro o pressuposto da vida familiar estaacute extinto

Entatildeo as rivalidades regionais muito entretidas aca-bam sendo de uma nocividade profunda e eacute preciso sa-

ber resolvecirc-las em profundidade A inveja a concorrecircncia o debique es-tuacutepido conduzem agrave dissoluccedilatildeo Noacutes natildeo podemos conceber um regionalis-mo no qual esse espiacuterito prepondere

Terceiro princiacutepio bem estudadas as condiccedilotildees locais de qualquer re-giatildeo deve-se dar o necessaacuterio para que essa regiatildeo se desenvolva intei-ramente de acordo com aquelas con-diccedilotildees atingindo uma estatura cor-respondente agrave estatura psicoloacutegica e mental de que aquele povo eacute capaz

Contra-Revoluccedilatildeo cultural

Dou um exemplo Tanto quanto eu saiba as Baleares6 constituiacuteram ou-trora uma espeacutecie de unidade na Es-

Contenda entre muacutesicos (por Georges de la Tour) Getty Center Los Angeles EUA

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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afeto em todas as peculiaridades locais de maneira que as regiotildees

se amem umas agraves outrasIsso produz uma espeacutecie de con-

centraccedilatildeo de luzes com cores diferentes incidindo sobre o mesmo ponto Surge daiacute

uma ldquocor misturadardquo que eacute a naccedilatildeo agrave qual cor-responde um governo central uma capital e um direi-to de lanccedilar impostos taxas para sua finalidade comum sempre que isso natildeo prejudique o justo e explicaacutevel pre-domiacutenio de uma regiatildeo que naturalmente sobressaia e que constitui a base sobre a qual esse fator nacional dei-ta raiz para irradiar sobre todo o paiacutes

Eis alguns princiacutepios do verdadeiro regionalismo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1681991)

1) Ver Revista Dr Plinio n 195 p14-172) Dinastia que passou a governar a Espanha com Filipe V em

17003) Casa Real europeia que em 1871 unificou os Estados ger-

macircnicos e passou a governar o Impeacuterio Alematildeo4) Dinastia que imperou sobre o Sacro Impeacuterio Romano-Ger-

macircnico de 1273 a 1806 e sobre o Impeacuterio Austro-Huacutengaro de 1867 a 1918

5) Governou o Impeacuterio Alematildeo de 1888 a 19186) Arquipeacutelago localizado no Mar Mediterracircneo Constitui

uma comunidade autocircnoma na Espanha

panha unidade varia-da com subunidades mas natildeo percebi ateacute ho-je sinal de guerra entre elas cada uma delas tra-tando de tirar de seu proacute-prio modo de ser e das con-diccedilotildees de sua terra os melho-res pratos os melhores modos de cantar de passear de se entre-ter de construir etc que as circunstacircn-cias locais trabalhadas por aqueles espiacuteritos permitem De maneira que se trata de civilizaccedilotildeezinhas locais

Assim o vinho o queijo o cancioneiro local outras coisas muito adequadas a variedade a que a isso se pres-ta eacute enorme Tudo isso constitui a condiccedilatildeo para que o regionalismo exista

Portanto estudar o plano meramente poliacutetico dizen-do ldquoEu gostaria que a Espanha tivesse suas regiotildees lo-go vou fazer uma constituiccedilatildeo que teoricamente daacute tais autonomias e tais franquias de impostos a cada regiatildeo e com isso a Espanha estaacute descentralizadahelliprdquo eacute de uma superficialidade de espiacuterito lamentaacutevel

A accedilatildeo deve comeccedilar pelo contraacuterio por uma espeacutecie de Contra-Revoluccedilatildeo cultural na qual se acentua se pro-cura valorizar e intensificar o que ainda exista ou exis-tiu de proacuteprio a cada regiatildeo de maneira que a psicologia dela comece de novo a borbulhar e a circular Parece-me que seria uma coisa muito uacutetil

Entatildeo o que faz a unidade da naccedilatildeo Eacute um denomi-nador comum psicoloacutegico forjado pela Histoacuteria no qual todas essas regiotildees tenham ideais comuns Eacute a presenccedila de algumas disposiccedilotildees de espiacuterito tradiccedilotildees viacutenculos de

Agrave esquerda povoado de Soacuteller acima Palaacutecio da Almudaina

e Catedral ao lado danccedila tiacutepida - Palma de

Mallorca Espanha

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

28

Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Nuno de Santa Maria

Beata Francisca de Amboise

6 Satildeo Winoco abade (daggerc 716) Disciacutepulo de Satildeo Berti-no no mosteiro de Sithieu Mais tarde construiu o mostei-ro de Wormhoudt na Franccedila

7 Beato Vicente Grossi presbiacutetero (dagger1917) Fundador do Instituto das Filhas do Oratoacuterio em Cremona Itaacutelia

8 Satildeo Godofredo bispo (dagger1115) Educado desde os cin-co anos na vida monaacutestica foi abade beneditino e Bispo de Amiens Franccedila

9 XXXII Domingo do Tempo Comum Dedicaccedilatildeo da Basiacutelica de Latratildeo

Santo Ursino bispo (daggerseacutec III) Primeiro Bispo de Bour-ges Franccedila Transformou em igreja uma casa doada pelo senador Leocaacutedio

10 Satildeo Leatildeo Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger461)Santo Andreacute Avelino sacerdote (dagger1608) Religioso da

Congregaccedilatildeo dos Cocircnegos Regulares (Teatinos) Fez o voto de cada dia progredir na virtude Morreu em Naacutepoles Itaacutelia

11 Satildeo Martinho de Tours bispo (dagger397)Beata Vicenta Maria virgem (dagger1855) Juntamente com

o Beato Carlos Steeb fundou o Instituto das Irmatildes da Mi-sericoacuterdia de Verona Itaacutelia para socorrer os aflitos po-bres e enfermos

12 Satildeo Josafaacute bispo e maacutertir (dagger1623)Santo Emiliano presbiacutetero (dagger574) Apoacutes muitos anos de

vida eremiacutetica e algum tempo de ministeacuterio clerical abraccedilou a vida monaacutestica em San Millaacuten de la Cogolla Espanha

13 Santa Maxelendes virgem e maacutertir (dagger670) Segun-do a tradiccedilatildeo foi morta ao fio da espada de seu preten-dente em Cambrai Franccedila por ter escolhido a Cristo co-mo esposo e recusado aquele ao qual foi prometida por seus pais

14 Beata Maria Teresa de Jesus virgem (dagger1889) Reli-giosa carmelita e fundadora do Instituto das Irmatildes de Nos-sa Senhora do Carmo em Montevarchi Itaacutelia

15 Santo Alberto Magno bispo e Doutor da Igreja (dagger1280)

Satildeo Desideacuterio bispo (dagger655) Construiu muitas igrejas mosteiros e edifiacutecios de utilidade puacuteblica na sua diocese Cahors na Franccedila natildeo descuidando entretanto de tornar as almas um verdadeiro templo de Cristo

1 Solenidade de Todos os Santos

Satildeo Nuno de Santa Ma-ria religioso (dagger1431) Condestaacutevel do Reino de Portugal Apoacutes ven-cer muitas batalhas abandonou o mun-do e ingressou na Or-dem dos Carmelitas

2 XXXI Domingo do Tempo Comum

Comemoraccedilatildeo de To-dos os Fieacuteis Defuntos

Satildeo Malaquias bis-po (dagger1148) Renovou a vi-

da de sua Igreja na diocese de Down e Connor na Irlanda

Faleceu no mosteiro de Claraval em presenccedila de Satildeo Bernardo

3 Satildeo Martinho de Porres religioso (dagger1639)

Satildeo Pedro Francisco Neacuteron presbiacutete-ro e maacutertir (dagger1860) Religioso da Socie-

dade das Missotildees Estrangeiras de Paris que depois de preso numa

estreita gaiola e cruelmente gol-peado foi decapitado em Ton-

quim Vietnatilde

4 Satildeo Carlos Borro-meu bispo (dagger1584)

Beata Francisca de Amboi-se religiosa (dagger1485) Duquesa

da Bretanha que apoacutes ficar viuacute-va fundou em Vannes o primei-ro Carmelo feminino da Franccedila

5 Satildeo Donino maacutertir (dagger307) Jovem meacutedico conde-nado na perseguiccedilatildeo de Dio-cleciano a trabalhar nas mi-nas da Miacutesmiya na Cesareia

da Palestina e depois queima-do vivo por permanecer cristatildeo

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

E

Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

30

Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 29: DrPlinio-200_201411

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash novembro ndashndashndashndash

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Satildeo Leatildeo Magno

Santa Catarina de Alexandria

Rep

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Mar

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C 3

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16 XXXIII Domingo do Tempo ComumSanta Margarida da Escoacutecia rainha (dagger1093)Santa Gertrudes virgem (dagger1302)

17 Santa Isabel da Hungria religiosa (dagger1231)Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo bispo (daggerc 270) Ver paacutegina 30

18 Dedicaccedilatildeo das Basiacutelicas de Satildeo Pedro e Satildeo Paulo Apoacutestolos

Satildeo Romatildeo maacutertir (dagger303) Diaacutecono da Cesareia que ao ver os cristatildeos da Antioquia Turquia se aproximarem dos iacutedolos os exortava a perseverar na Feacute Catoacutelica Por isso foi torturado e estrangulado

19 Santos Roque Gonzaacutelez Afonso Rodriacuteguez e Joatildeo del Castillo presbiacuteteros e maacutertires (dagger1628)

Santa Matilde virgem (daggerc 1298) Mulher de insigne doutrina e humildade iluminada pelo dom da contempla-ccedilatildeo miacutestica foi mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta Alemanha

20 Satildeo Silvestre bispo (daggerc 520-530) Bispo de Chalons--sur-Saocircne Franccedila Aos 40 anos de seu sacerdoacutecio pleno de dias e virtudes foi ao encontro do Senhor

21 Apresentaccedilatildeo de Nossa SenhoraSanto Agaacutepio maacutertir (dagger306) Apoacutes ser preso e submeti-

do a supliacutecios na Cesareia Mariacutetima foi lanccedilado no Medi-terracircneo com pedras atadas aos peacutes

22 Santa Ceciacutelia virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)Satildeo Pedro Esqueda Ramiacuterez presbiacutetero e maacutertir

(dagger1927) Sacerdote preso e fuzilado em Teocaltitlan du-rante a perseguiccedilatildeo mexicana

23 XXXIV Domingo do Tempo Comum Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Satildeo Clemente I Papa e maacutertir (daggerseacutec I)Satildeo Columbano abade (dagger615)Beata Henriqueta Alfieacuteri virgem (dagger1951) Religiosa

das Irmatildes da Caridade de Santa Joana Antida Thouret exerceu seu apostolado junto aos encarcerados em Mi-latildeo Itaacutelia

24 Santo Andreacute Dung-Lac presbiacutetero e companheiros maacutertires (dagger1625-1886)

Satildeo Porciano abade (daggerd 532) Sendo jovem escravo procurou refuacutegio num mosteiro da atual Clermont-Fer-rand Franccedila no qual se fez monge e chegou a ser abade

25 Santa Catarina de Ale-xandria virgem e maacutertir (daggerseacutec inc)

Satildeo Maacuterculo bispo (dagger347) Segundo a tra-diccedilatildeo morreu maacuter-tir no tempo do im-perador Constante na Numiacutedia Argeacute-lia sendo lanccedilado de um rochedo

26 Satildeo Siriacutecio Papa (dagger399) Santo Ambroacutesio o louva co-mo verdadeiro mestre porque tomou sobre si a responsabilidade de to-dos os Bispos os instruiu com os ensinamentos dos Santos Padres e os confir-mou com sua autoridade apostoacutelica

27 Beato Bernardino de Fossa presbiacutetero (dagger1503) Re-ligioso franciscano propagou a Feacute Catoacutelica em muitas re-giotildees da Itaacutelia Foi Superior Provincial nos Abruzos na Dalmaacutecia e Boacutesnia

28 Santo Andreacute Tran Van Trong maacutertir (dagger1835) Por se recusar a pisar numa cruz foi preso e apoacutes inuacutemeras torturas foi de-golado em Kham Duong Vietnatilde

29 Beata Maria Madalena da En-carnaccedilatildeo virgem (dagger1824) Fundadora do Instituto das Irmatildes da Adoraccedilatildeo Perpeacutetua do Santiacutessimo Sacramen-to Morreu em Roma

30 I Domingo do AdventoSanto Andreacute ApoacutestoloBeato Luiacutes Roque Gientyn-

gier presbiacutetero e maacutertir (dagger1941) No tempo da ocupaccedilatildeo militar na Polocircnia durante a guerra foi viacuteti-ma de crimes cometidos pelos ini-migos da Igreja martirizado perto de Munique Alemanha

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Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

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Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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Rep

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 30: DrPlinio-200_201411

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Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo

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Hagiografia

Se Deus fez grandes milagres para resolver pequenos assuntos com muito mais razatildeo realizaraacute milagres

extraordinaacuterios para solucionar questotildees de altiacutessima importacircncia desde que peccedilamos com muita insistecircncia e

confianccedila atraveacutes de Nossa Senhora

Cabe-nos analisar um pouco a natureza desses mila-gres para entendermos alguma coisa da missatildeo dele

Eacute interessante que no enorme conjunto de santos a Providecircncia que sempre faz com que a quase totalidade deles opere milagres entretanto escolhe alguns para rea-lizar muitos milagres Isso tem uma razatildeo de ser profun-da porque os milagres operados em grande nuacutemero pe-la mesma pessoa indicam mais a accedilatildeo extraordinaacuteria de Deus Que uma pessoa faccedila um ato miraculoso jaacute eacute in-verossiacutemil Mas que realize muitos e muitos eacute mais inve-rossiacutemil ainda de maneira que esses milagres datildeo muito mais gloacuteria a Deus

E aqui estaacute um homem que parece ter sido escolhido para mostrar que todos os dons de milagres do Antigo Testamento e da Igreja primitiva ainda se conservavam no seacuteculo III em que ele viveu

O que esses milagres tecircm de interessante eacute que ne-nhum deles pode-se explicar pela sugestatildeo

Posso compreender que um maluco diga que uma cura em Lourdes foi feita por sugestatildeo Mas nenhum doido po-de dizer que uma montanha ficou sugestionada e por isso mudou de lugar ou que um lago secou por uma sugestatildeo

Algueacutem objetaria ldquoEle sugestionou as pessoas que os viramrdquo

A sugestatildeo natildeo dura a vida inteira Estaacute um monte aqui que se move para laacute Eacute uma sugestatildeo das pessoas que vi-ram quando passa a sugestatildeo onde se encontra o monte O monte deveria ter voltado para o lugar anterior

O lago estava cheio e por um fenocircmeno de sugestatildeo as pessoas tiveram a impressatildeo de que ele secou Mas se assim fosse quando passasse essa impressatildeo o lago de-veria estar cheio de novo

Depois aquele crescimento imediato de uma aacutervore porque ele colocou o bastatildeo dentro da aacutegua Terminada a impressatildeo as pessoas deveriam ver o bastatildeo e natildeo a

m 17 de novembro comemora-se a festa de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo a respeito do qual temos os seguintes dados biograacuteficos1

Gregoacuterio nasceu em Neocesareia2 por volta de 213 Foi disciacutepulo de Oriacutegenes e se tornou bispo de sua cidade natal Ilustre por sua doutrina e santidade ele o foi ainda mais pelo nuacutemero e pelo brilho dos milagres extraordinaacuterios mdash razatildeo pela qual foi chamado o Taumaturgo mdash que o torna-ram segundo o testemunho de Satildeo Basiacutelio comparaacutevel a Moiseacutes aos Profetas e aos Apoacutestolos

Por sua oraccedilatildeo ele moveu do lugar uma montanha que o atrapalhava para construir uma igreja Secou uma lagoa que era para seus irmatildeos uma causa de discoacuterdia Deteve as inundaccedilotildees do Rio Icus que devastavam os campos in-troduzindo no rio seu bastatildeo o qual imediatamente criou raiacutezes e se transformou numa grande aacutervore formando um limite que o rio nunca mais excedeu

Muitas vezes ele expulsou os democircnios dos iacutedolos e dos corpos e realizou muitos outros prodiacutegios pelos quais multidotildees de homens foram conduzidas agrave Feacute de Jesus Cristo

Possuiacutea tambeacutem o espiacuterito dos Profetas e anunciava o futuro No momento de deixar esta vida tendo ele pergun-tado qual o nuacutemero dos infieacuteis que permaneciam em Neo-cesareia lhe responderam que natildeo era senatildeo dezessete E dando graccedilas a Deus ele disse ldquoEsse eacute o mesmo nuacutemero dos fieacuteis no comeccedilo do meu episcopadordquo

Escreveu vaacuterios trabalhos que como seus milagres ilus-traram a Igreja de Deus

Morreu entre 270 e 275

Milagres incontestaacuteveis e natildeo fruto de sugestatildeo

Sem duacutevida eacute um grande santo

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ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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Rep

rodu

ccedilatildeo

aacutervore Ora viram uma aacutervore crescer imediatamente a ponto de mudar o curso de um rio

Portanto satildeo milagres cate-goacutericos incontestaacuteveis

A Providecircncia deu a este santo esse dom de milagres pa-ra que assim se compreenda como a Igreja eacute divina

Deus nos atende com liberalidade magniacutefica

Mas foi soacute para isso Natildeo Haacute ainda outras razotildees

Primeiro uma montanha que precisava ir embora para ele poder ter um lugar cocircmodo a fim de construir uma igreja Foi um prodiacutegio enorme feito por ocasiatildeo de um pedido natildeo muito importante Porque afi-nal de contas se natildeo se pode edificar uma igreja aqui cons-troacutei-se laacute Natildeo eacute irremediaacutevel que uma montanha esteja atra-palhando a construccedilatildeo de uma igreja

Por que a Providecircncia deu a ele a graccedila de operar esse milagre a propoacutesito de uma coisa que parece natildeo ser de primeira importacircncia

Eacute para mostrar como Deus eacute paterno como a Provi-decircncia eacute materna para conosco Os milagres natildeo se ope-ram somente quando estamos com anguacutestia presos pe-la ldquogargantardquo pelas maiores trageacutedias Mas Deus eacute Pai Nossa Senhora eacute Matildee e nos datildeo graccedilas muito grandes com uma liberalidade magniacutefica mesmo quando natildeo nos encontramos na uacuteltima afliccedilatildeo

O ldquoLivro da Confianccedilardquo3 insiste neste ponto eacute preciso pedir muito e com insistecircncia mesmo coisas que natildeo se-jam muito importantes e ser-nos-atildeo concedidas

Aqui vemos um milagre enorme realizado apenas pa-ra simplificar a vida de um santo a fim de que um desejo dele pudesse mais comodamente ser satisfeito

Outro milagre seus irmatildeos estavam brigando por cau-sa de uma lagoa e ele a secou Eacute uma espeacutecie de malicio-so castigo para os irmatildeos ldquoVocecircs estatildeo se estraccedilalhando pela posse dessa lagoa Pois bem ela se tornaraacute seca e natildeo ficaraacute com ningueacutemrdquo

Provavelmente se ele passasse uma boa descompostura nos irmatildeos resolveria a contenda da mesma maneira eacute um episoacutedio iacutentimo uma briguinha de famiacutelia que natildeo tem na-

Iacutecone de Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Museu Hermitage Satildeo Petersburgo Ruacutessia

da de mais traacutegico Entretanto foi feito o milagre para solucionar o caso

O terceiro milagre era para evitar as inundaccedilotildees de um rio Tambeacutem eacute uma coisa que a hu-manidade poderia continuar a existir se esse rio transbordasse

Agir com santa liberdade

Isso nos deve conduzir agrave ideia de que se para bagatelas des-sas um santo pode ser atendido podemos ser acolhidos tambeacutem quando pedimos coisas muito mais importantes Porque quem faz o mais faz o menos E se eacute mais extraordinaacuterio fazer um mi-lagre por uma bagatela eacute menos extraordinaacuterio realizaacute-lo para uma coisa que natildeo seja bagatela

Portanto pelas necessidades da nossa vida espiritual quan-tas montanhas devem ser remo-vidas quantas lagoas tecircm que ser secadas quantas inundaccedilotildees que transbordam e precisam ser re-

mediadas E com quanta confianccedila devemos portanto nos dirigir a Nossa Senhora pedindo a Ela esses favores

Algueacutem me diraacute mdash Ah Dr Plinio antes fosse como o senhor diz Mas

a questatildeo eacute que noacutes natildeo somos Satildeo Gregoacuterio Taumatur-go Ele era um santo e conseguia

Eu respondo Satildeo Gregoacuterio estaacute no Ceacuteu e se encontra ao nosso al-

cance para quem olha as coisas sob o ponto de vista so-brenatural eacute tudo tatildeo simples Natildeo consigo obter por-que eu sou eu e natildeo sou Satildeo Gregoacuterio Taumaturgo Pe-ccedilamos entatildeo a ele no dia de hoje em que se comemora sua festa

Eacute preciso agir com as coisas do Ceacuteu com esta santa li-berdade eu diria quase com essa santa candura Quanta coisa se recebe por essa forma E eacute este o incitamento a que se presta a vida deste santo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 17111965)

1) Natildeo possuiacutemos os dados bibliograacuteficos da obra citada2) Atual Niksar na Turquia3) De autoria do Pe Thomas de Saint-Laurent

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Cidade florida alegre e risonha - II

V

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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Cidade florida alegre e risonha - II

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Amenidade beleza e alegria de viver numa eacutepoca que segundo Karl Marx foi a idade de ouro do operariado europeu

emos em Rothenburg uma pequena praccedila puacute-blica na qual se entra por meio de um largo ar-co mdash sempre os tais arcos com torres mdash para

permitir um tracircnsito abundante

Junto agraves fontes vivacidade e ornato

A primeira coisa que o passante percebe eacute uma fonte Era muito frequente na Idade Meacutedia a ideia de que a fonte deveria ter qualquer coisa de monumental precisa-va ser bonita e natildeo uma simples torneira de aacutegua

Por quecirc Porque a aacutegua era rara nas casas ainda natildeo havia aacutegua encanada as pessoas iam recolhecirc-la na fonte que era um ponto central de vida na cidade As pessoas das classes meacutedia e baixa da sociedade mdash muitas vezes as proacuteprias donas de casa mdash iam pegar aacutegua na fonte com um jarro grande que elas levavam em geral em cima da cabeccedila Mas enquanto enchiam um dois trecircs jarros mdash e elas pagavam algueacutem para levaacute-los eacute um arranjo de se-nhoras mdash ficavam conversando E era o ponto de mexe-rico da cidade Os homens nunca iam pegar aacutegua na fon-te somente as mulheres E elas faziam futrica e intrigas contavam coisas etc as senhoras boas exerciam aposto-lado e levavam pessoas para a igreja

Entatildeo para tornar mais alegre a vida dos habitantes a Prefeitura que era eleita por eles mandava construir um ornamento na fonte Observamos ali um ornamen-to um pouco poacutes-medieval uma bonita coluna cercada com um gradeado tambeacutem agradaacutevel um monumento-zinho em cima o qual representa uma criatura humana que estaacute em peacute mdash talvez seja Nossa Senhora mdash e a fonte que serve para esse bairro da cidade

Notem as casas altas com os tetos em forma de ldquoVrdquo Qual eacute a razatildeo disso No inverno para natildeo acumular ne-

ve nos tetos mdash que eacute muito pesada e os faz ruir mdash estes satildeo dessa forma para que a neve escorregue e vaacute para o chatildeo Que o solo fique cheio de neve natildeo importa o pro-blema eacute salvar o teto das casas

Como entre a base e o alto do teto havia um espa-ccedilo coberto muito grande eram feitos andares Esses satildeo preacutedios de apartamentos de classe meacutedia baixa mdash mais da classe baixa do que da meacutedia aqui eacute um ambiente mais simples do que o da primeira praccedila que vimos Os preacutedios satildeo menos bonitos exceto aquele que se vecirc no fundo o qual deveria ter provavelmente uma utilizaccedilatildeo municipal ou eclesiaacutestica do municiacutepio ou de uma paroacute-quia da Diocese de Rothenburg

As flores e as folhas

Numa outra fotografia percebe-se que eacute veratildeo e no-ta-se uma coisa caracteriacutestica das cidades alematildes que lhes daacute um encanto especial eacute serem floridas Ao lon-go das paredes jarros de flores que tornam mdash quando elas florescem mdash a cidade muito alegre risonha onde se mostra tambeacutem nas cortininhas a alegria de viver do povinho Eacute tiacutepico de casa alematilde mesmo muito modes-ta cortininha bem arranjadinha e quando chega o ve-ratildeo potildeem-se do lado de fora jarras com geracircnios e ou-tras flores de cores vivas E fazem concurso para saber quem expocircs as flores mais vivas E isto constitui um pon-to de amor-proacuteprio que atrai toda a atenccedilatildeo da cidade e concentra as conversas e a atenccedilatildeo deles em coisas ino-centes bonitas que elevam educam e natildeo tecircm nada do cinema e da TV moderna

Tenho a impressatildeo de que aquela torre eacute de uma igre-ja porque no aacutepice dos torreotildeezinhos me parece haver cruzes E provavelmente no cume do telhado central

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

34

Dan

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l CC

30

deve existir uma cruz ainda mais evidente Tem algo in-definido de edifiacutecio religioso Seraacute talvez a torre da prin-cipal igreja da cidadezinha

Em outra fotografia nota-se a beleza da vegetaccedilatildeo da Europa Nossa vegetaccedilatildeo sul-americana centro-america-na tem coisas lindiacutessimas mas Deus a cada qual concedeu as suas coisas Agrave Ameacuterica do Sul e creio que tambeacutem agrave do Norte o Criador deu lindas flores Deu-as tambeacutem em al-guma medida agrave Europa as tulipas da Holanda por exem-plo satildeo qualquer coisa de maravilhoso mas o que noacutes natildeo temos como eles satildeo as folhas maravilhosas

Comparemos as folhas que estamos habituados a ver em nossas cidades com essas que satildeo verdadeiras expo-siccedilotildees de pedras preciosas As folhas satildeo de um colorido bonito meio douradas e tem-se a impressatildeo de que cada uma delas eacute uma pedra preciosa Satildeo finas e o sol as atra-vessa por causa disso quando se olha tem-se a impressatildeo de que o astro rei mora dentro delas Satildeo muito bonitas na primavera mas a sua beleza muitas vezes eacute maior no outo-no quando elas ficam velhas Eacute um fenocircmeno com poucos exemplos na natureza quando a velhice enfeita

No inverno quando comeccedilam a cair essas folhas tecircm uma cor de champagne de vinho cores fantaacutesticas vaacuterias

vezes estando na Europa tive vontade de fazer uma cole-ccedilatildeo de folhas para mostrar aqui em Satildeo Paulo Mas natildeo foi possiacutevel eu natildeo tinha tempo poreacutem vontade natildeo fal-tava Vejam como todo esse arvoredo aqueacutem e aleacutem do muro externo da cidade faz um ambiente maravilhoso Tudo isso enfeita as velhas pedras e a torre da catedral ou da paroacutequia Forma um recanto lindo

Povo muito alegre expansivo e comunicativo

Em outra fotografia vemos a beleza assombrosa do in-verno com a neve Tem-se a impressatildeo de que as aacutervo-res satildeo feitas de cristal satildeo portanto lindiacutessimas Nesse edifiacutecio mais baixo nota-se que a neve cobriu o teto e se acumulou a ponto de revesti-lo inteiramente Fica agra-daacutevel de ver e apesar da ideia de frio que esta neve daacute tem-se uma sensaccedilatildeo de aconchego e faz supor ali dentro uma lareira acesa na qual se queimam troncos de aacutervo-res com uma resina perfumada junto agrave qual se encontra sentado numa grande poltrona de couro um homem len-do um daqueles livros escritos em pergaminhos colossais fumando um cachimbo e gozando o seu domingo

O preacutedio agrave esquerda com aquele balcatildeo pertence agrave Prefeitura Embaixo desenvolvem-se danccedilas tradicionais onde moccedilos e moccedilas da cidade se datildeo as matildeos e cantam Vecirc-se a alegria inocente de tudo isso com trajes morali-zados Eacute a alegria medieval

Aqui podemos observar uma rua de Rothenburg As casas natildeo satildeo palaacutecios mas residecircncias simples Eacute uma ce-na agradaacutevel de olhar e nos daacute muito ao vivo uma ideia do que seria uma cidade medieval em dia de festa popular

O povo alematildeo eacute muito alegre expansivo comunica-tivo E quando em torno da cerveja estatildeo reunidos mui-tos alematildees eles cantam Natildeo por ficarem becircbados mas por estarem bem nutridos e alegres

Natildeo existe uma coisa que esteja em desordem tudo bem arranjado e bonito A decoraccedilatildeo da parte de cima das casas eacute feita soacute com madeira mas madeira entalhada na-da disso eacute rico tudo eacute simples Vemos como o bom gos-to da classe popular pode formar uma vida plebeia digna

Assim eram por exemplo os moacuteveis populares medie-vais Natildeo eram fabricados para reis nem para condes ou barotildees contudo eram entalhados agrave matildeo e hoje custariam uma faacutebula por serem muito raros Uma verdadeira beleza

Por espantoso que seja eu termino citando Marx Karl Marx o fundador do comunismo numa histoacuteria que ele faz do operariado na Europa diz isto ldquoA idade de ouro do ope-rariado europeu foi a Idade Meacutediardquo Isso os revolucionaacuterios natildeo afirmam Por quecirc Porque a Revoluccedilatildeo eacute mentirosa quando fala e ateacute quando se cala essa eacute a Revoluccedilatildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 22111986)

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

Page 35: DrPlinio-200_201411

Busquei a grandeza como a luz de meus olhos e procurei amaacute-la em toda a me-dida com que devia ser amada o que corresponde a amar a Deus sobre todas as coisas e deixar-me entranhar ateacute o fundo de minha alma pela Santa Igreja Ca-toacutelica Apostoacutelica Romana a maior expressatildeo da grandeza divina nesta Terra Mais do que meu pai minha matildee minha vida mais do que tudo que eu pos-sa ter amo a Santa Igreja Catoacutelica com um amor que tem laivos de adoraccedilatildeo porque ela eacute o Corpo Miacutestico de Nosso Senhor Jesus Cristo (1961995)

Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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Meu pensamento eacute essencialmente religioso Tudo nele proveacutem da Religiatildeo e volta para ela A Igreja eacute o maravilhoso que nos satisfaz como se fosse o Ceacuteu na Terra Eu a conheci com seu aroma proacuteprio mdash o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo mdash e natildeo quero dizer que a tenha amado tanto quanto devia mas talvez possa afirmar que a tenha amado tanto quanto podia

De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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De tal maneira aderi a tudo quanto vi conheci e senti da Santa Igreja que ela passou a ser a alma de minha alma

Como algueacutem poderia dar a outrem um objeto assim eu fiz consciente calma e ponderadamente com todo o meu ser e toda a minha vida dei-os agrave Santa Igreja Catoacutelica (581988)

ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)

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ldquoNingueacutem pode imaginar o bem que ela me fez Mamatildee

me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-me

a amar a Santa Igreja Catoacutelicardquo (2141968)