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188 Rev. Científica Eletrônica Estácio, Ribeirão Preto, v.10, n.10, p. 188-203, jul/dez. 2017 ECONOMIA CIRCULAR: UM REAPROVEITAMENTO SISTEMÁTICO PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO MODELO INDUSTRIAL Victória de Oliveira Mota Acadêmica do curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto [email protected] Américo Guelere Filho Doutor, LCN Inovação e Sustentabilidade [email protected] Resumo: O conceito de Economia Circular, embora ainda recente no Brasil, surge de uma experiência de um desafio que deu lugar à um movimento empresarial que se transformou em uma fundação que é apoiada por empresas globais e organizações ao redor do mundo. A economia circular segue uma utilização racional dos recursos através do uso em cascata dos materiais, fazendo com que permaneçam por mais tempo na economia. Percebeu-se que os sinais de que a economia circular pode realmente transformar o setor de consumo estão aparentes, e por isso há a necessidade da realização de uma grande mudança. O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica exploratória, que tem como objetivo discutir a praticabilidade da economia circular no contexto do desenvolvimento sustentável, como sendo uma alternativa ao modelo linear que abrange todo o fluxo de valor em uma cadeia de produção. Nessa perspectiva, a preservação do meio ambiente - que se tornou um modelo para gestão de negócios ganha importância devido ao seu valor para a qualidade de vida, o que torna uma exigência pelas organizações acerca de criações de métodos de exploração do mesmo. Palavras-chave: Economia Circular; Resíduos; Sustentabilidade Abstract: The Management Engineering`s concept still a recent term in Brazil comes from an experience of a challenge that gave place to a business movement and brought a foundation that is supported by global business and organizations worldwide. The circular economy follows a racional resource use through a cascade use model of materials, generating a bigger permanence of it into the economy. It has been understood that the circular economy can really change the consumption section, and for this reason, there is a need to accomplish a big change. This present article introduces an exploratory bibliographic research, which has an objective to discuss the circular economy applicability into the sustainable development context as an alternative to the linear model which covers the entire value flow in a production chain. In this perspective, the environment preservation which became a business management model earns the importancy due to its value to the life quality, which turns to be the organizations requirements around the criation of exploration methods of it. Key words: Circular Economy; Waste; Sustainability. Introdução As formas de satisfazer as necessidades e vontades do ser humano foram desenvolvidas através dos tempos com o apoderamento e a transformação de recursos naturais em bens e serviços (Ribeiro, 2002). Acontece que o processo de produção, visto de maneira global, foi sendo intensificado ao passo que os fluxos de produção e de consumo passaram a

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Rev. Científica Eletrônica Estácio, Ribeirão Preto, v.10, n.10, p. 188-203, jul/dez. 2017

ECONOMIA CIRCULAR: UM REAPROVEITAMENTO SISTEMÁTICO PARA O

DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO MODELO INDUSTRIAL

Victória de Oliveira Mota – Acadêmica do curso de Engenharia de Produção do Centro

Universitário Estácio de Ribeirão Preto – [email protected]

Américo Guelere Filho – Doutor, LCN Inovação e Sustentabilidade –

[email protected]

Resumo: O conceito de Economia Circular, embora ainda recente no Brasil, surge de uma

experiência de um desafio que deu lugar à um movimento empresarial que se transformou em

uma fundação que é apoiada por empresas globais e organizações ao redor do mundo. A

economia circular segue uma utilização racional dos recursos através do uso em cascata dos

materiais, fazendo com que permaneçam por mais tempo na economia. Percebeu-se que os

sinais de que a economia circular pode realmente transformar o setor de consumo estão

aparentes, e por isso há a necessidade da realização de uma grande mudança. O presente

trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica exploratória, que tem como objetivo discutir a

praticabilidade da economia circular no contexto do desenvolvimento sustentável, como

sendo uma alternativa ao modelo linear que abrange todo o fluxo de valor em uma cadeia de

produção. Nessa perspectiva, a preservação do meio ambiente - que se tornou um modelo para

gestão de negócios – ganha importância devido ao seu valor para a qualidade de vida, o que

torna uma exigência pelas organizações acerca de criações de métodos de exploração do

mesmo.

Palavras-chave: Economia Circular; Resíduos; Sustentabilidade

Abstract: The Management Engineering`s concept – still a recent term in Brazil – comes

from an experience of a challenge that gave place to a business movement and brought a

foundation that is supported by global business and organizations worldwide. The circular

economy follows a racional resource use through a cascade use model of materials, generating

a bigger permanence of it into the economy. It has been understood that the circular economy

can really change the consumption section, and for this reason, there is a need to accomplish a

big change. This present article introduces an exploratory bibliographic research, which has

an objective to discuss the circular economy applicability into the sustainable development

context as an alternative to the linear model which covers the entire value flow in a

production chain. In this perspective, the environment preservation – which became a

business management model – earns the importancy due to its value to the life quality, which

turns to be the organizations requirements around the criation of exploration methods of it.

Key words: Circular Economy; Waste; Sustainability.

Introdução

As formas de satisfazer as necessidades e vontades do ser humano foram

desenvolvidas através dos tempos com o apoderamento e a transformação de recursos naturais

em bens e serviços (Ribeiro, 2002). Acontece que o processo de produção, visto de maneira

global, foi sendo intensificado ao passo que os fluxos de produção e de consumo passaram a

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comprometer a capacidade dos ecossistemas em prover serviços ambientais. (Ellen

MacArthur Foundation, 2012). O consumo que segue o modelo linear de “extrair, transformar

e descartar” está atingindo seus limites físicos. Recentemente, muitas companhias notaram

que esse sistema linear aumenta a chance de exposição aos riscos, elevação dos valores dos

recursos e ruptura de suprimentos. (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2010).

Pode-se dizer que o planeta está sobre uma bomba-relógio de consumo devido ao

aumento exponencial do uso dos materiais associados aos bens de consumo demandados por

uma classe média emergente no mercado: três bilhões de consumidores adicionais nos

próximos 20 anos, com uma alta tendência a comprar produtos manufaturados (EMF, 2012).

Quanto mais próximo o sistema do reuso direto, maior economia dos custos deve haver em

termos de material, mão-de-obra, energia, capital, e externalidades associadas, como água,

emissão de gases e substâncias tóxicas. Essa oportunidade se aplica principalmente aos bens

de consumo rápido que ainda existem além do utilizador final, como embalagens ou bens que

podem ser diretamente reusados (ex: vestuário). Isso significa que quanto maior a recuperação

restauradora desses bens de consumo, menos insumos serão utilizados para essa reutilização

do material e consequentemente maior será a economia em geração de resíduos.

O consumo linear está atingindo seus limites. A economia circular tem seus benefícios

que são tanto operacionais como estratégicos, ambos em níveis micro e macroeconômico.

Esse sistema agregou diversos conceitos criados no último século, como design regenerativo,

economia de performance, cradle to cradle – do berço ao berço, ecologia industrial e blue

economy para desenvolver um modelo estrutural para a regeneração da sociedade. O conceito

de economia circular é baseado nessa inteligência da natureza, onde os resíduos são insumos

para produção de novos produtos. No meio ambiente, por exemplo, restos de frutas

consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é

chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo

é continuamente um nutriente para um novo ciclo. Transportando essa dimensão para a

indústria de produtos, a cadeia produtiva seria repensada para que peças de eletrodomésticos,

por exemplo, pudessem ser reprocessadas e reintegradas à cadeia de produção como

componentes ou materiais de outros (EMF, 2012). Percebeu-se que os sinais de que a

economia circular pode realmente transformar o setor de consumo estão aparentes, e por isso

há a necessidade da realização de uma grande mudança, a fim de que o modelo linear passe a

ser um paradigma de insustentabilidade e assim que as organizações tomem cada vez mais

atitudes a favor da economia circular. Dessa forma, muitos fatores estão provocando uma

mudança em atitudes e criando expectativas de uma economia circular mais atrativa. A

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crescente escassez de recursos, junto com os avanços da tecnologia e maior urbanização

elevam a consciência de que o momento é propício para mudanças (EMF, 2012).

1. Objetivos

1.1 Objetivo geral

Discutir sobre a praticabilidade da economia circular no contexto do desenvolvimento

sustentável, como sendo uma alternativa ao modelo linear que abrange todo o fluxo de valor

em uma cadeia de produção. Além disso, o objetivo geral desse trabalho é auxiliar no

entendimento do conceito da economia circular por meio de uma revisão bibliográfica

sistemática.

1.2 Objetivos específicos

a) Apresentar a situação atual da economia linear e analisar a sua fragilidade e

necessidade de mudança;

b) Demonstrar a transição entre Economia Linear e Circular como uma busca de um

modelo sustentável de produção e consumo;

c) Apresentar o conceito de Economia Circular (EC), bem como seus princípios,

benefícios e estratégias de implementação;

d) Discutir as potenciais contribuições da EC, tendo como núcleo de pesquisa a Fundação

Ellen MacArthur;

2. Metodologia

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica exploratória, sendo um

método científico de busca e análise de estudos e artigos de uma determinada área a fim de

desenvolver pressuposições (GIL, 1991 apud SILVA; MENEZES, 2005). Gil também afirma

que é aquela elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente por livros,

artigos de periódicos e materiais disponibilizados na internet. A pesquisa bibliográfica tem

como característica recuperar o conhecimento científico acumulado sobre um problema

proposto. O estudo foi realizado por meio da construção de um referencial teórico com base

na literatura pertinente (GIL, 1991). O estudo foi executado por meio da construção de um

referencial teórico com base em artigos científicos, localizados através de uma busca

sistemática que é uma forma de síntese das informações disponíveis em dado momento, a

procura de estudos realizados de forma ampla pelos autores por meio de bases digitais de

dados.

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Figura 2: Fases da revisão bibliográfica exploratória.

Fonte: Adaptado de Gil (2008).

3. Revisão Bibliográfica

3.1 Economia Linear – Fragilidade que gera necessidade de mudança

Em um cenário onde a demanda e a competição por recursos finitos, e as vezes

escassos, continuarão a crescer, onde pressão por esses mesmos recursos está causando uma

grande degradação ambiental, os países que se esforçam em fazer melhor uso se beneficiam

economicamente e ambientalmente (COM, 2014). Desde a Revolução Industrial, as

economias desenvolveram um padrão de desenvolvimento baseado em um princípio de

“extrair-transformar-descartar”, ou seja, o modelo linear baseado na conjectura de que os

recursos são abundantes, disponíveis, fáceis e muito acessíveis (LEITAO, 2015).

No sistema linear, de acordo com a Fundação Ellen MacArthur (2010), o descarte de

produtos em aterros significa que toda a sua energia residual foi perdida. A incineração ou

reciclagem dos produtos descartados recupera somente uma pequena porção dessa energia,

enquanto que a reutilização preserva significantemente mais energia. O uso de recursos

energéticos no modelo de produção linear é tipicamente mais intenso nas áreas superiores da

cadeia de suprimentos, por exemplo na extração de materiais para conversão em uso

comercial. A perspectiva da economia circular se refere à uma economia industrial que é

restaurativa por intenção, ou seja, que visa a dependência em energias renováveis, em

eliminação do uso de químicos tóxicos e erradicação da perda através de um atento design. Há

uma defensão pela necessidade de um modelo de “serviço funcional” no qual os produtores

ou vendedores retêm cada vez mais o domínio sobre seus produtos e, quando possível, atuam

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como provedores de serviço – através da venda do uso do produto, e não a venda de um único

sentido (MACARTHUR FOUNDATION, 2010).

Segundo Azevedo (2015), o modelo econômico linear foi um modelo resultante da

Revolução Industrial que além de expandir a eficiência da produção, também propiciou uma

exploração das novas tecnologias. A disponibilidade abundante de matérias-primas extraíveis

da natureza foi um dos motivos que impulsionaram o crescimento econômico e o

desenvolvimento tecnológico. Por outro lado, essa exploração descontrolada das matérias-

primas causou um desequilíbrio ambiental oriundo da produção desenfreada de resíduos

industriais que excede a capacidade da natureza de decompô-los. Um dos principais

problemas ambientais provocados pela sociedade é o descarte proveniente da exploração do

meio ambiente para obter recursos para produção de bens e consumos. Barbieri (2007) afirma

que o desequilíbrio ambiental é gerado pelo esgotamento dos recursos que suportam as

necessidades humanas e, o lixo que é gerado pela produção, é cada vez mais composto por

restos de embalagens e produtos industriais, que deixaram de ter finalidade para seus

desfrutadores.

O impacto dos materiais de bens de consumo industrializados só tende a aumentar

exponencialmente, dirigidos por uma classe média em um mercado emergente. De acordo

com os dados publicados pela Fundação Ellen MacArthur, nos próximos 20 anos, três bilhões

de consumidores adicionais com predisposição a comprar bens manufaturados entrarão no

mercado. Esse crescimento é conduzido pelos seguintes fatores: i) classe média global

aumentará de 1.9 bilhões em 2009 para 4.9 bilhões em 2030, com aproximadamente 90%

desse crescimento vindo da região da Ásia-Pacífico; ii) Consumo nos mercados emergentes é

esperado para aumentar a 30 trilhões de dólares por ano até 2025; iii) Maior intensidade de

material, o que gera, dessa maneira, maior impacto relacionado aos produtos embalados

provenientes de perdas em processamento e embalagem.

Sendo assim, essa percepção com o meio ambiente se tornou um modelo para a gestão

de negócios. Ramalho e Sellito (2013) argumentam que, o contexto industrial tem sofrido

influência pela sociedade e órgãos estatais para que haja aproveitamento e apropriação do uso

de fontes energéticas. Nessa perspectiva, a preservação do meio ambiente, ganha importância

devido ao seu valor para a qualidade de vida, o que torna uma exigência pelas organizações

acerca de criações de métodos de exploração do mesmo. Em virtude das consequências que

são causadas pelas explorações industriais, a questão ambiental se tornou um dos aspectos

mais cruciais para as organizações a fim de se manterem aptas à competitividade e

durabilidade.

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3.2 Transição de Economia Linear para Circular

Cada vez mais as empresas estão possibilitando o crescimento econômico aliado à

preservação do meio ambiente e dos recursos naturais, podendo ser considerado, então, uma

transformação rumo à um modelo econômico sustentável, conservador, integrado, com

sistemas que visam o uso racional dos recursos. De acordo com o Guia de Produção e

Consumo Sustentáveis publicado pelo Fiesp (2015), as empresas passaram a se preocupar

com seus impactos no meio ambiente, que relaciona os funcionários, população em geral, e

principalmente do local no qual estão situados.

O Ministério do Meio Ambiente (2011), define o consumo sustentável como “o uso de

bens e serviços que atendam às necessidades básicas, proporcionando uma melhor qualidade

de vida, enquanto minimizam o uso dos recursos naturais e materiais tóxicos, a geração de

resíduos e a emissão de poluentes durante todo o ciclo de vida do produto ou serviço, de

modo que não se coloque em risco as necessidades das futuras gerações”. Da mesma forma,

define a produção sustentável como sendo a “incorporação, ao longo de todo o ciclo de vida

de bens e serviços, das melhores alternativas possíveis para minimizar custos ambientais e

sociais. Acredita-se que esta abordagem preventiva melhore a competitividade das empresas e

reduza o risco para saúde humana e ambiental”. Sendo assim, considerar simultaneamente

essas duas questões, torna-se um requisito necessário para a continuidade das empresas. Isso

porque uma empresa que gera menos impactos e seja mais sustentável, é uma empresa capaz

de gerenciar seus riscos e consequentemente uma empresa mais competitiva, tanto pelo seu

ganho no mercado, como por sua posição no mercado.

Grandes empresas que já transformaram seu modo de gestão a um modo mais

sustentável, passaram a exigir de seus fornecedores também que se comportem da mesma

maneira, a fim de que toda a cadeia de valor seja reconhecida como “ecológica” ou “verde”.

Essa condução é repassada a toda a cadeia de valor envolvida, criando o efeito cascata,

impactando positivamente todo o vínculo (GUIA, 2015). Um estudo realizado pela empresa

de consultoria KPMG (KPMG, 2013), advertiu que os países passaram a exigir elaborações

de relatórios de sustentabilidade às empresas, o que mostra mais ainda a importância dessa

transparência entre toda a cadeia de valor. Isso significa que àquelas empresas que

reconhecerem essa exigência como forma uma abertura a oportunidades, passarão a obter

vantagens que posteriormente avançarão sendo mais competitivas.

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3.3 O Gerenciamento dos Resíduos Sólidos

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014) havia definido que resíduos

sólidos eram quaisquer restos sólidos ou semissólidos gerados através da atividade humana,

sendo eles de origem industrial, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços, entre outros. A

maioria dos resíduos gerados pelas atividades mencionadas, hoje podem ser reutilizados, ou

seja, reciclados, o que deu origem à uma reestruturação da definição. Dessa forma, essa nova

definição se aplica à lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, bem como

líquidos que não podem ser descartados e propagados na rede pública de esgoto (ABNT

10004, 2014).

Em 02 de Agosto de 2010, a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) foi

intitulada e sancionada pela Presidência da República como Lei n° 12.305. Essa política

propõe e impõe novas dinâmicas, diretrizes, procedimentos e medidas de gerenciamento

correto dos resíduos em ações públicas e privadas no que diz respeito à questão ambiental.

Isso significa que manufatores, importadores e distribuidores são responsáveis pelo ciclo de

vida de seus produtos, assim como os consumidores devem se responsabilizar pela coleta

seletiva estabelecida pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos. Após

estabelecido a Lei, os municípios e distritos teriam 02 (dois) anos para se adequarem e se

regularizarem diante das responsabilidades, tendo como princípios e objetivos a gestão dos

resíduos sólidos, o direito da sociedade à informação e ao controle social, desenvolvimento

sustentável, prevenção e precaução, entre outras. Essa mesma Lei também prevê a prevenção

e redução da geração de resíduos, através da tentativa de implementação de práticas de

hábitos de consumo sustentável juntamente com instrumentos que possam conceder o

aumento da reciclagem e reutilização desses resíduos além de uma destinação adequada dos

rejeitos (BRASIL, 2010).

Diversos países sabem da importância e estão, progressivamente, implantando os

conceitos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei implantada no Brasil em

2010, visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, logística

reversa e o acordo setorial. Assim, publicado pelo FIESP, o Guia de Produção e Consumo

Sustentáveis (2015) aponta que, todos os agentes do ciclo produtivo, os consumidores e os

serviços públicos devem minimizar o volume de resíduos sólidos e adotar práticas que

assegurem que os produtos sejam reintegrados ao ciclo produtivo. Na China, a Economia

Circular faz parte da Lei de Promoção da Produção Limpa, promulgada em 2002. Medidas

como a rotulagem ecológica de produtos, difusão de informações sobre questões ambientais

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na mídia e cursos oferecidos pelas instituições de ensino são importantes para familiarizar a

sociedade com a economia circular (EMF, 2012).

Por quase duas décadas de negociação, alguns trabalhos de temáticas análogas foram

analisados por comissões especiais. Somente em 2008, o Grupo de Trabalho na Câmara dos

Deputados viabilizou as deliberações sobre a matéria. A suposição da Logística Reversa

presente na norma, ainda em tramitação, enfrentou resistência do setor industrial, quando

apresenta sobre Responsabilidade Civil Pós-Consumo, que delega e exige aos fabricantes e

importadores de produtos que geram resíduos, a apresentação de propostas para o

recolhimento, tratamento e destinação final de resíduos, direcionando para ações e metas

efetivas para sua viabilidade (BRASIL, 2010).

Instaura-se o mecanismo de logística reversa visando reciclar, reinserir e reaproveitar

resíduos na cadeia produtiva, provendo a disposição ambientalmente adequada dos rejeitos

finais desses processos, assim como promover a inserção social de grupos de catadores

(BRASIL, 2010). Com todo o conceito de sustentabilidade, as empresas, ao passar dos anos,

foram percebendo que o conceito de produzir e transferir um bem ao seu destino final exige

uma abordagem mais ampla, pois envolve atividades e decisões estratégicas que é mais do

que simplesmente movimentar um determinado material de um ponto para o outro. A

Logística, que tem sua origem nas atividades, tarefas e visão de comando dos exércitos da

antiguidade, herdou vários outros “sub conceitos” como o da “logística verde” e

posteriormente “logística reversa”, a qual visa melhorar e aumentar as possibilidades de reuso

dos materiais a fim de recuperá-los (MIGLIANO, 2012). A PNRS define a logística reversa

como:

[...] instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um

conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta de

restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,

em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final

ambientalmente adequada.

A logística reversa é considerada um dos temas mais polêmicos da lei, pois

aparentemente ainda há uma forte resistência por parte das empresas no que diz respeito à

responsabilidade que lhes fica atribuída com a gestão pós-consumo e dos custos envolvidos

nessa atividade. Segundo Reveilleau (2011), os resíduos oriundos de bens pós-consumo

considerados pela PRNS, são produtos que devem, após o aproveitamento, retornar à origem

através de mecanismos de logística reversa independentemente da disposição de resíduos. A

terminologia, processos e hierarquia de consumo de materiais da PNRS e sua regulamentação,

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correspondem também com os conceitos da logística reversa em ciclo aberto ou fechado, além

de justificar os “R’s” elementares dessa logística, a saber:

a) reutilizar: prolongar e dar novos usos ao que seria descartado.

b) reduzir: gerando menos resíduos, consumindo menos e de forma mais eficiente.

Através da geração de processos produtivos que utilizem menos matéria-prima.

c) reciclar: tranformação de produtos usados em nova matéria-prima ou em novos

produtos.

Inicialmente, houve resistência de fabricantes e importadores principalmente sob o

pretexto de altos custos para a aplicabilidade desta prática. A responsabilidade do consumidor

no sistema da logística reversa, deve ir além do encorajamento às iniciativas de reciclagem,

reuso e reaproveitamento. Rogers e Tibben-Lembke (1999), definem a logística reversa como

o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo de

matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes

do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de reconquistar o valor ou

destinar à apropriada disposição.

Já segundo Krumwiede e Sheu (2001), a definição dessa prática depende muito da

própria organização que irá aplicá-la, pois dependendo do segmento, o fornecedor enxerga a

prática como uma forma de retorno do produto pelo consumidor ou como um processo de

retorno de produtos dos consumidores que estejam defeituosos ou que tenham embalagens

reutilizáveis. Apesar de encadeadas, a atribuição de cada parte do sistema é individualizada,

desde o processo de recolhimento, armazenamento, transporte até o encaminhamento para

reutilização, reciclagem ou disposição final ambientalmente adequada. De acordo com Brito

e Dekker (2002), o sistema se faz a partir da coleta, seguida de um processo combinado de

inspeção, seleção e classificação, reprocessamento ou recuperação direta e finalmente uma

redistribuição, conforme esquema da Figura 3.

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Figura 3: Atividades do processo logístico reverso.

Fonte: Adaptado de Brito e Dekker (2002).

Sua implementação é de extrema importância levando em consideração o ambiente

sustentável, além de ser um componente de funcionalidade da economia circular, já que se

refere à reutilização de resíduos, de forma a não ser necessário a utilização de matérias-primas

esgotáveis, e obrigando a reconsideração do processo de produção, afim de reutilizar essa

matéria e retornando os resíduos à sua origem (MIGLIANO, 2012).

3.4 Conceito de Economia Circular (EC)

O conceito de economia circular tem múltiplas origens e, portanto, não pode ser

atrelado a uma única data ou autor. Suas aplicações práticas em sistemas econômicos

modernos e processos industriais ganharam forças desde o final da década de 1970 (EMF,

2010). Economia Circular pode ser entendido por:

[...]uma economia regenerativa e restaurativa por princípio. Seu objetivo é manter

produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo

todo. O conceito distingue os ciclos técnicos dos biológicos. Conforme concebida por

seus criadores, a economia circular consiste em um ciclo de desenvolvimento positivo

contínuo que preserva e aprimora o capital natural, otimiza a produção de recursos e

minimiza riscos sistêmicos administrando estoques finitos e fluxos renováveis. Ela

funciona de forma eficaz em qualquer escala.

O conceito de Economia Circular, embora ainda recente no Brasil, surge de uma

experiência e mais tarde um desafio vindo de uma navegação no interior de um veleiro feito

por Ellen MacArthur. Esse “desafio” deu lugar a um movimento empresarial que mais poderia

ser classificado como destemido. A vivência dos 71 dias percorridos pela britânica por mais

de 50 mil quilômetros – sem os reabastecimentos de suprimentos necessários – foram

essenciais para fornecer a imagem de que apesar de abundantes, os recursos do Planeta são

finitos e que se não forem usados de forma sensata e engenhosa, esgotarão. O resultado é a

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Fundação Ellen MacArthur, que após encontros com ONG’s e líderes empresariais, hoje é

apoiada por empresas globais e organizações ao redor do mundo. A Fundação Ellen

MacArthur foi constituída em 2010 com o objetivo de acelerar a transição para uma economia

circular. Desde a sua criação, a fundação tornou-se um dos líderes do pensamento global

nesse tema, inserindo a economia circular na agenda de tomadores de decisão no mundo dos

negócios, governo e academia (Ellen MacArthur Foundation, UK, 2015).

O consumo que segue o modelo linear de “extrair, transformar e descartar” está

atingindo seus limites físicos. Recentemente, muitas companhias notaram que esse sistema

linear aumenta a chance de exposição aos riscos, elevação dos valores dos recursos e ruptura

de suprimentos (EMF, 2010). A economia circular segue uma utilização racional dos recursos.

Com o uso em cascata dos materiais, eles permanecem o maior tempo possível na economia.

Após um produto chegar ao fim de seu ciclo para o primeiro consumidor, ele pode ser

compartilhado e ter sua utilização ampliada. Posteriormente ao esgotamento de reuso do

artefato, ele pode ser material de upcycling (reaproveitamento), reformado, remanufaturado e,

como última etapa, reciclado. As alternativas de reciclagem atuais operam sobre bens de

consumo que não foram projetados com este cuidado. Esse conceito parte da proposta de

desconstruir a concepção de resíduo com a evolução de projetos e sistemas que privilegiam

materiais naturais que possam ser totalmente recuperados. Para que esse sistema funcione,

todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto devem entender seu papel nesse novo

modelo, e não somente as empresas. Além disso, o consumo deve ser desacelerado e

consciente, pois vivemos em um mundo com relações de produção e comércio globalizadas

gerando a necessidade de disseminar o conceito de economia circular mundialmente (EMF,

2012).

O modelo de economia circular, proposto pela Fundação Ellen MacArthur, desde

2010, é um modelo industrial restaurativo ou regenerador, ou seja, substitui o conceito de vida

útil através de restauração utilizando energias renováveis, eliminação de químicos tóxicos e

eliminação de desperdício. Os princípios dessa economia buscam otimizar o processo e o

ciclo de desmontagem e reuso. Dessa forma, o conceito de economia circular separa o ciclo

do produto de descarte e reciclagem com alto índice de energia. A abordagem “cradle to

cradle” (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo é continuamente um

nutriente para um novo ciclo, assume que os materiais tornam-se “nutrientes técnicos”

(LEITAO, 2015). Isso significa que, o que no sistema linear seria considerado resíduo, no

sistema circular é considerado matéria-prima, sendo inserido no início de outro processo,

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mantendo o ciclo de produção industrial fechado. A economia circular (EMF, 2012) é

composta de alguns princípios, que são eles:

Modelos de negócios que agreguem valor ao produto manufaturado;

Projeção de produtos com inúmeras utilidades: A partir da simulação de sistemas

naturais, em que materiais possam ser recuperados com a intenção de eliminar o

conceito de resíduos;

Desenvolvimento da logística reversa a fim de manter a qualidade e custo.

Pensamento sistêmico: As análises não devem ser feitas em função de cada elemento

por si, mas sim nos fluxos, e em como cada parte do fluxo se inter-relaciona.

Conectar os elementos através de fluxos: Fazer com que os materiais, elementos e

sub-elementos de um fluxo possam ser retomados por outros. Sendo assim, a

manutenção ou agregação de valor – upcycling - deve ser certificada.

Uso racional dos recursos (modelo cascata): A partir do momento em que não haja

mais a possibilidade de redução do consumo, ou seja, o reuso de um produto, o uso em

cascata desse material deve ser procurado a fim de manter o mesmo pelo maior tempo

possível na economia.

Os dois primeiros princípios estão relacionados ao forte investimento em pesquisa e

desenvolvimento. Já o terceiro princípio se relaciona com o aspecto da economia circular com

a normatização dos resíduos sólidos, que se constituem como tópico de grande interesse na

área de desenvolvimento econômico sustentável (AZEVEDO, 2015). A EMF (2012), propõe

ainda as quatro fontes modelos de geração de valor, que são elas:

O poder dos ciclos duradouros: Maximizam o número de ciclos consecutivos, sendo

eles reparados, reutilizados ou inteiramente remanufaturados) e o tempo dentro de

cada ciclo. Dessa forma, os benefícios são adquiridos pois cada ciclo prolongado,

evita a necessidade de novas criações de materiais e consequentemente a eliminação

desses mesmos materiais na economia;

O poder do uso em cascata: Diversificação do reuso dentro da cadeia de suprimentos,

uma vez que terminam as possibilidades de reuso dos produtos, alternativas de

reparação, remanufatura devem ser procuradas;

O poder das substâncias puras, não-tóxicas: Para que os materiais possam ser

recirculados e reinterados nas cadeias, é de extrema importância que haja a redução

do nível de contaminação. Materiais que são puros, não tóxicos, são materiais mais

aptos a serem circulados. Projetar produtos que possam ter seus componentes

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separados facilmente, é um fator contribuinte e importante para elevar o valor que

pode ser extraído de um ou mais ciclos. A redução da contaminação nos produtos

pode trazer benefícios como maior reaproveitamento e redução dos custos de

reciclagem;

O poder dos círculos internos: Quanto mais o sistema se aproxima do reuso direto, ou

seja, o menor ciclo percorrido pelo material no sistema econômico, maior o ganho e

agregação de valor sobre o mesmo. Tendo as ineficiências ao longo da cadeia linear

de suprimentos, os ciclos menores serão mais beneficiados se comparados aos efeitos

de substituição de materiais virgens. Essa análise é mais positiva ainda quando se

observa as situações de longo prazo, onde há propensão a aumento no preço das

matérias-primas.

A maneira de lidar da Economia Circular é através da divisão do uso dos materiais em

dois fluxos que são eles o de nutrientes biológicos e o de nutrientes tecnológicos. O primeiro

fluxo deve ser destinado à reintegração nos ciclos a ser constituído um novo capital natural. Já

o segundo fluxo deve ser delineado a circular em ciclos consecutivos sem deixar de agregar

valor, ou seja, devem ser designados a não retornar à biosfera na forma de resíduo em aterros

(EMF, 2012). Dessa forma, faz-se uma distinção entre “consumir” e “utilizar” os recursos

com a plena visão da necessidade de erradicar a extração de novas reservas e novos recursos

pela regeneração daqueles materiais gerados através das atividades econômicas. De qualquer

maneira, a ideia desse conceito não é inédita e nova, pois atrela-se à conceitos com os

mesmos princípios como o gerenciamento do ciclo de vida, a ecologia industrial, a economia

azul, o “design regenerativo”, entre outros. Alguns desses conceitos focam na eficiência do

processo, ao passo que a EC salienta o projeto dos produtos, ou seja, o design, a fim de

utilizar os materiais e torná-los possíveis de serem reinseridos nos ciclos, de maneira a não

desagregar valor e consequentemente consumir menos, com mais qualidade e mais

durabilidade. Outra proposta da EC, é a substituição de recursos materiais e energéticos

escassos por ilimitados, o que traz benefícios econômicos irrefutáveis à sociedade (EMF,

2012).

A economia circular tem seus benefícios que são tanto operacionais como estratégicos,

ambos em níveis micro e macroeconômico. Esse sistema agregou diversos conceitos criados

no último século, como design regenerativo, economia de performance, cradle to cradle – do

berço ao berço, ecologia industrial e blue economy para desenvolver um modelo estrutural

para a regeneração da sociedade. O conceito de economia circular é baseado nessa

inteligência da natureza, onde os resíduos são insumos para produção de “novos produtos”.

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No meio ambiente, por exemplo, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e

viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de “cradle to cradle” (do berço

ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo é continuamente um nutriente para um

novo ciclo. Transportando essa dimensão para a indústria de produtos, a cadeia produtiva

seria repensada para que peças de eletrodomésticos, por exemplo, pudessem ser reprocessadas

e reintegradas à cadeia de produção como componentes ou materiais de outros (EMF, 2012).

William Mc Donough e Michael Braungart desenvolveram o conceito de “cradle to

cradle” no qual o desenho do produto é planejado de modo que todos os processos e partes

que o compõem possam ser reutilizados em processos posteriores, após o descarte

(VOORTHUIS; GIBEL, 2010, apud COLLATTO, DE MELO MANGANELI, OSSANI,

2016). O foco do “cradle to cradle” incide no início do processo, o que pode ser uma das

diferenças em relação ao pensamento convencional da sustentabilidade. Ainda segundo

Voorthuis e Gibel (2010 apud COLLATTO, DE MELO MANGANELI, OSSANI, 2016), o

projeto é composto de três principais decisões, que são elas a equidade, ecologia e economia,

além de custo-eficácia, competitividade e lucratividade. Os autores afirmam que a missão

envolvida no projeto de um produto desde seu início, se dá pela busca de eliminação completa

de resíduos. Ou seja, essa prática, se projetada corretamente, os materiais e processos poderão

ser oferecidos novamente como matéria-prima para um novo produto. Deve-se levar em

consideração, de que no conceito “cradle to cradle”, quaisquer materiais tóxicos e poluentes

são excluídos dos nutrientes, afim de que os materiais sejam biologicamente compatíveis. Em

resumo, a essência do conceito parte do princípio de produzir mais com zero de emissões e

resíduos (PERALTA, AGUAYO, LAMA, 2012).

Considerações Finais

Por meio da revisão da literatura é possível observar que o conceito de EC ainda é

muito embrionário na economia brasileira, porém, apresenta um enorme potencial de

modernização das políticas de resíduos, principalmente a brasileira, tendo como base e

inspiração, os princípios da EC. Além disso, a economia circular representa um potencial

econômico no mercado futuro, em função de uma maior exigência do mercado de consumo de

produtos sustentáveis e possível escassez de recursos. Apesar disso, o modelo circular

economicamente perfeito não é ainda colocado em prática, visto que o pleno funcionamento

dessa economia ultrapassa somente os conceitos de reciclagem e logistica reversa, mas

também o uso correto de recursos naturais, materiais que não agridem o meio ambiente,

utilização de fonte de energia renovável, entre outros.

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De qualquer forma, a grande vantagem desse modelo, é demonstrar que trazendo os

materiais de volta ao ciclo é economicamente rentável, embora haja necessidade de atenção

ao planejamento para aplicação das estratégias para incorporar e otimizar os processos

sustentáveis com a finalizade de não causar danos ao meio ambiente com esse produto, como

enfatiza o conceito de “cradle to cradle”. O Brasil ainda enfrenta dificuldades na implantação

da economia circular devido à propria PNRS – que tenta criar um ambiente propício ao

crescimento da economia sustentável no país – que determina a responsabilidade das

organizações de criar formas de descarte de resíduos através da logística reversa. É preciso

que a PNRS seja concebida para que assim se torne efetiva e consequentemente a economia

circular tomará forma, concretizando a regularidade entre a tríade da sustentabilidade:

ambiental, econômico e social.

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