Eduardo gianetti

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Essa instigante obra do economista Eduardo Giannetti trata de temas como economia, biologia e filosofia. Ele busca na essncia da teoria econmica a idia central de seu novo livro:a noo de que tudo na vida tem seu preo. Como nada sai de graa, escolhas tm necessariamente de ser feitas a todo momento. Particularmente importante para o autor so as opes que envolvem "trocas intertemporais", ou sejam aquelas em que nus e bnus de uma interao, econmica ou no, ocorrem em momentos distintos do tempo. As questes abordadas no livro so de extremo interesse para os brasileiros. Isso comea a ficar claro ao leitor nos captulos finais, em que os temas da economia passam a ser explorados. A forma como diferentes pases lidam com o valor do tempo explica muito do sucesso - ou do fracasso - na corrida pelo desenvolvimento. Um exemplo citado no livro do leopardo que pode tanto alimentar-se de um insosso peixe como se empanturar com a carne de um antlope. No primeiro caso, o esforo imediato e quase nulo - mas a recompensa pobre. No segundo , dias podem ser consumidos numa busca incerta - mas a vitria paga um prmio sem igual. Para o autor, assim como no exemplo do leopardo, tambm as naes precisam fazer apostas e assumir custos se pretendem ter direito a uma refeio mais saborosa no futuro. Para que a economia cresa, preciso investir. Para investir, preciso poupar - ou seja, deixar de consumir. Um paradoxo diante dos brasileiros, que o pas tem a vocao do crescimento, mas no a da poupana. Ao no aceitar pagar o preo cobrado pelo crescimento, o pas termina por inviabiliz-lo. Por isso nossa taxa de juro to alta, os juros so uma medida da impacincia. Eles explicitam quanto se aceita pagar para antecipar o tempo. Quem est extremamente ansioso para consumir agora aceita pagar caro e, com isso, acaba comprometendo o futuro.

Em seu livro O Valor do Amanh, Eduardo Giannetti discorre sobre o tema das escolhas intertemporais de forma bastante objetiva e didtica.

O autor deixa claro que o fenmeno dos juros inerente a toda e qualquer forma de troca em diferentes perodos no tempo, representando o prmio da espera para o lado credor, ou o preo da impacincia na ponta devedora. Ou seja, os ganhos decorrentes da transferncia de valores do presente para o futuro, ou os custos de antecipar valores do futuro para o presente. Nesse cenrio, os juros monetrios so apenas uma pequena fatia do conceito geral de juros. O economista trata tambm da questo da miopia temporal, quando o indivduo d demasiada importncia ao que est mais prximo no tempo, e seu espelho, a hipermetropia temporal, quando atribudo um valor excessivo ao amanh, em prejuzo das demandas correntes. De um lado, o sujeito que vive literalmente o carpe diem, de forma hedonista ou mesmo irresponsvel, e do outro lado, o que adia tanto seu viver que o hoje vira um enorme vazio. Se o mope com freqncia vtima do remorso, porque o futuro chega e cobra seu preo pelo passado despreocupado, o hipermtrope normalmente sofre com o arrependimento pelo desperdcio de oportunidades perdidas com o excesso de zelo pelo amanh. Como disse Schopenhauer, muitos vivem em demasia no presente: so os levianos; outros vivem em demasia no futuro: so os medrosos e os preocupados. raro algum manter com exatido a justa medida. Giannetti inicia sua explanao sobre os juros pelo fator biolgico, lembrando que a senescncia o valor pago pelo rigor da juventude. A plenitude do corpo jovem se constri s custas da tibieza do corpo velho, como coloca o prprio autor. H um claro trade-off implcito em cada escolha intertemporal que fazemos, entre viver agora e pagar depois, ou plantar agora e colher depois. No podemos ter e comer o bolo ao mesmo tempo. Animais e crianas costumam viver mais intensamente o momento, reagindo basicamente por instinto. Os desejos exigem pronto atendimento, e a busca de rpida satisfao fala mais alto que tudo. Ainda no aprenderam o valor da espera, e no possuem ferramentas racionais para avaliar se esta compensa ou no. A impacincia infantil fruto da combinao da dificuldade de figurar mentalmente o amanh e uma baixa capacidade de autocontrole, de resistir ao apelo de impulsos. Como resultante, h uma forte propenso a desfrutar o momento e descontar o amanh. Infelizmente, so muitos os adultos que no conseguem tambm dominar tal impulsividade atravs da razo. Retardar o consumo atual para poder investir na produtividade rende frutos no futuro. Os recursos no caem do cu, e faz-se mister uma escolha intertemporal entre menos agora, mais depois. Hoje mais que nunca, a preocupao com o amanh deve ser enorme. Os nmades caadores viviam o aqui-e-agora, ignorando a necessidade da previdncia. Entretanto, quem nasce atualmente vive aproximadamente o dobro do que era comum antes da Revoluo Industrial. O progresso da tcnica tem aumentado de forma bastante acelerada a expectativa mdia de vida. O mundo necessita mais da racionalidade da formiga que da impulsividade da cigarra. A poupana de hoje que permite o consumo maior de amanh. Tal obviedade parece ignorada quando observamos a situao catica dos sistemas de previdncia social modernos. Talvez as pessoas no saibam que o

governo no cria riqueza, e portanto no pode garantir a renda da aposentadoria futura sem a contrapartida da poupana atual. O conforto de amanh exige um sacrifcio hoje. Um dos problemas do curto horizonte temporal no Brasil, com baixa taxa de poupana, o coletivismo. Trata-se de um ambiente social em que o futuro pessoal de cada indivduo pouco depende dele mesmo, ou seja, depende apenas em pequena medida das escolhas que ele faz. o moral hazard do nosso modelo previdencirio, sem contas individuais eindependente da contribuio de cada um para a determinao do benefcio futuro. Alm disso, nosso grau de impacincia como nao absurdamente elevado, devido s necessidades urgentes impostas pela misria. Por fim, as oportunidades de investimento, prejudicadas pelo pssimo ambiente institucional, oferecem baixo valor para o uso de recursos que deixam de ser consumidos no presente, podendo assim ser deslocados para render frutos frente. A confiabilidade da ordem jurdica aumenta a confiana no amanh. O somatrio dessas caractersticas faz com que a sociedade brasileira tome emprestado do futuro, de forma irresponsvel at. Desta forma, a dvida pblica atravs do Estado beira um trilho e meio de reais, e a taxa de poupana absurdamente baixa, menor que 20% do PIB. O Brasil vive demasiadamente no presente, com seu governo inchado e assistencialista, sem a necessria poupana que se reverte em investimentos produtivos. Como uma criana, age por impulso, para atender os desejos do momento. Quer o bnus da prosperidade sem o nus da poupana. Quer o crescimento sem o custo da espera, e quando o resultado no inflao ou crise na balana de pagamentos, juros altos. O valor do amanh continua baixo por aqui, como nos tempos indgenas. E quem tudo quer, nada tem. No af de querer tanto o consumo maior no presente quanto o conforto da farta poupana no futuro, o pas corre o risco de terminar sem nada: a cigarra triste e a formiga pobre.