EDUCAÇÃO AMBIENTAL -...

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ReitoraProfª. Adélia Maria C. M. Pinheiro

Vice-reitorPProf. Evandro Sena Freire

Pró-reitora de graduação - PROGRADProfª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa

Coordenadora UAB – UESCProfª. Maridalva de Souza Penteado

Coordenadora do Curso de Licenciaturaem Pedagogia

Profª. Luzineide Miranda Borges

Prezado cursista,

Este módulo é parte do material didático que será utilizado na disciplina Educação Ambiental, do curso a distância de Licenciatura em Pedagogia da UESC.

Ele foi produzido pelo Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ) que cedeu sua utilização nos cursos de Educação a Distância da UESC.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

Ministério daEducação

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Prezado Cursista,O material que apresentamos foi produzido por professores atu-antes no Sistema Universidade Aberta do Brasil e cedido por sua respectiva Universidade à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CAPES, que o disponibilizou para uso das Universidades integradas ao sistema.

Coordenação UAB/UESC

O módulo a seguir foi reproduzido para o uso na disciplina Educa-ção Ambiental, referente ao semestre 2013.1.

Coordenação de Pedagogia UAB/UESC

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Siumar Pedro Tironi

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................5

RELAÇÃO ENTRE O HOMEM E A NATUREZA ...........................................................8

ENFOQUE HISTÓRICO DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA ................................ 12

AGENDA 21 – BASES CONCEITUAIS ........................................................................... 16

BASES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................... 21

Objetivos da Educação Ambiental .................................................................................... 21

Educação ambiental como prática política......................................................................... 22

A Educação Ambiental no contexto escolar ...................................................................... 23

Interdisciplinaridade ......................................................................................................... 23

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (PRONEA) ...................... 27

POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................ 30

LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................. 33

CAPÍTULO I - Da Educação Ambiental ........................................................................... 33

CAPÍTULO II - Da Política Nacional de Educação Ambiental ......................................... 34

CAPÍTULO III - Da Execução da Política Nacional de Educação Ambiental .................... 36

CAPÍTULO IV - Disposições Finais ................................................................................. 37

RECOMENDAÇÕES DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ............. 38

Situação da educação ambiental no Brasil ......................................................................... 39

Projetos de Educação Ambiental no Brasil ........................................................................ 40

SUSTENTABILIDADE...................................................................................................... 42

Desenvolvimento sustentável ............................................................................................ 44

PRINCIPAIS CAUSAS DO IMPACTO AMBIENTAL ................................................... 45

Poluição do ar ................................................................................................................... 45

Efeito estufa ..................................................................................................................... 45

Desmatamento .................................................................................................................. 48

Destruição da camada de ozônio ....................................................................................... 49

Lixo urbano ...................................................................................................................... 51

Agrotóxicos ...................................................................................................................... 53

PLANEJAMENTO INTEGRADO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................. 57

Abordagem da educação ambiental ................................................................................... 60

A interdisciplinaridade ...................................................................................................... 61

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............. 63

Questionamentos e percepção cotidiana como metodologia .............................................. 64

Exemplo de atividade de educação ambiental ................................................................... 67

RECOMENDAÇÕES SOBRE O TRABALHO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......... 70

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Conservação das Águas .................................................................................................... 70

Lixo: como proceder ......................................................................................................... 76

Descarte de pilhas: cuidados e normas .............................................................................. 81

AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............................................................. 83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 87

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INTRODUÇÃO

Com o avanço tecnológico dos últimos séculos, surgiram grandes inovações que

trouxeram qualidade de vida para o homem. No entanto, o desenvolvimento social custou e

ainda custa muito para o meio ambiente. A exploração indiscriminada dos recursos naturais

devastou grandes áreas, ocasionando prejuízos para a natureza como a poluição das águas, do

ar e do solo, além da supressão, principalmente, das plantas e animais silvestres.

A comunidade global deve perceber os danos que a ação antrópica causa para o meio

ambiente, e quais as consequências atuais e futuras de tais alterações. A educação ambiental

surge como uma das alternativas para informar a população e minimizar os impactos

ambientais, pois são os cidadãos que podem, conhecendo as causas dos danos ambientais,

agirem para acabar ou minimizar esses danos.

As pessoas devem desenvolver a consciência e se comprometer com as causas

ambientais, evitando ou minimizando o impacto ambiental em suas atividades, e também

fazendo uso do direito de fiscalizar ações de empresas e de pessoas que casam dano ao meio

ambiente. Nesse sentido, a educação das pessoas é a principal forma de se reduzir a destruição

do meio ambiente, formando uma sociedade mais justa e que busque praticar ações mais

sustentáveis.

A questão ambiental, nos últimos anos, se tornou objeto de estudos com base científica

e um tema de discussão pública, que estimula a discussão sobre problemas e ações

mitigadoras das atividades que causam a degradação ambiental. No entanto, esse tema

infelizmente, muitas vezes, tem ficado somente na fase de discussão, pois poucas ações são

efetivadas, tanto pelo poder público, quanto pela população. Um bom exemplo (e dos mais

visíveis pela população urbana) são os problemas de lixos sólidos, já que na grande maioria

dos municípios brasileiros não há programas eficientes e coleta e destino desses resíduos.

Os problemas ambientais podem ser de pequeno impacto - como jogar lixo na rua - até

problemas maiores - como o aquecimento global. Considerando que algumas dessas

alterações são irreversíveis, deve-se minimizar os danos causados ao meio ambiente com

urgência.

No mundo capitalista alguns percebem vantagens com o processo de devastação do

meio ambiente, como a comercialização de água engarrafada, créditos de carbono, entre

outros produtos e serviços que surgem devido à poluição ou a degradação do meio ambiente.

De forma antagônica, as ações sustentáveis buscam mover a economia causando o mínimo de

impacto ambiental, possibilitando que essas ações possam ser continuas, trazendo benefícios

para as gerações futuras.

A educação ambiental, como um todo, trata da transmissão de conhecimentos e

informações que contribuam para a formação de cidadãos mais conscientes dos problemas

ambientais, o que implica mudanças de atitudes e motivação para agir em prol da sua solução

(MELO, 2007).

Na Conferência de Tbilisi (1977), a educação ambiental foi definida como “uma

dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas

concretos do meio ambiente, através de enfoques multidisciplinares e de uma participação

ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade”.

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No Brasil está determinado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que a

questão ambiental seja abordada como um tema transversal, que deve permear todas as

disciplinas dos currículos escolares. A abordagem é recomendada também em toda a prática

educacional, seja no âmbito do ensino formal ou informal (MELO, 2007).

A educação ambiental contribui com a práxis acreditando na transformação solidária,

de caráter universal, dentro de uma organização que incorpore em seu fazer cotidiano o

“envolvimento” das dimensões ambientais e sociais, econômicas, educacionais, culturais,

territoriais e políticas, que promovam o saber por meio de leituras científicas observando a

dialética de sua realidade, conduzindo a sociedade não só a refletir a ética ambiental, mas

também internalizar o conhecimento científico como possíveis e necessários para uma

sociedade sustentável (MIRANDA, 2009).

Esse desafio envolve todas as pessoas, atuantes em todos os ramos de atividade. Todos

devem estar envolvidos nesse grande desafio global: cada pessoa, as famílias,

empreendimentos, planos para o futuro. O enfrentamento desses desafios requer novas

ferramentas teóricas, novas práticas, bem como o resgate de valores e a criação de novos,

sintonizados com uma ética global (DIAS, 2007).

Os saberes praticados pela educação ambiental dão suporte à inovação e à criatividade,

oferecendo metodologias e práticas, que foram descobertas em experimentações culturais,

sociais, biológicas, éticas entre outras capazes de estar envolvida em todos os conteúdos

curriculares para a realização permanente de uma educação significativa para toda uma

sociedade, independente de sua regionalização (MIRANDA 2090).

Assim compreendida, a educação ambiental tem o compromisso com a construção do

sujeito crítico, ético, autônomo, solidário e responsável, além de competente, hábil e criativo

para a resolução adequada dos problemas impostos por uma sociedade em constante

transformação (MARFAN, 2002).

A educação ambiental conceitua não só saberes ecológicos, mas debate também

questões morais, perceptivas, éticas, sociais, entre outras questões que estão articuladas ao

pleno exercício de cidadania. Para a educação ambiental, a sociedade sustentável é aquela que

produz e consome de forma responsável, que leva em consideração as necessidades de

qualidade de vida para as gerações atuais e futuras. É a sociedade que extrai da natureza

somente o suficiente que esta pode repor, mostrando assim um sentido de solidariedade,

conhecimento, cooperação com toda a cadeia da vida planetária.

A educação ambiental é um processo que internalizada e revela um novo caminho, que

dá sentido aos ensinamentos das disciplinas curriculares, debatendo o futuro de nosso planeta.

Tem como base a defesa do meio ambiente, que tem inspiração humanista: salvar os

equilíbrios ecológicos e proteger a natureza contra as depredações do produtivismo

capitalista, que é uma das condições para garantir a continuidade da vida humana sobre o

planeta. Outra condição é a base em uma economia solidária e cooperativa, voltada não

apenas para o crescimento econômico, mas também para o envolvimento e bem-estar de todo

ser vivo.

A criança, desde cedo, deve aprender a cuidar da natureza, a escola tem papel

fundamental na conscientização para o cuidado com o meio natural. A prática da educação

ambiental na escola é fundamental, pois preparará e co-responsabilizará o aluno pelas

condições do planeta para o resto de sua vida.

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Segundo Munhoz (2004), uma das formas de levar a educação ambiental à

comunidade é pela ação direta do professor na sala de aula e em atividades

extracurriculares. Através de atividades como leitura, trabalhos escolares, pesquisas e debates,

os alunos poderão entender os problemas que afetam a comunidade onde vivem; serão

estimulados a refletir e criticar as ações de desrespeito à ecologia, a essa riqueza que é

patrimônio do planeta e de todos os que nele se encontram. O autor ainda diz que os

professores são a peça fundamental no processo de conscientização da sociedade dos

problemas ambientais, pois buscarão desenvolver em seus alunos hábitos e atitudes sadias de

conservação ambiental e respeito à natureza, transformando-os em cidadãos conscientes e

comprometidos com o futuro do país.

Algumas funções da educação ambiental são: a) conscientizar os cidadãos de todo

mundo sobre o problema ambiental; b) disponibilizar o acesso a conhecimentos específicos

sobre o meio ambiente; c) promover atitudes para a preservação ambiental; d) desenvolver

habilidades específicas para ações ambientais; e) criar uma capacidade de avaliação das ações

e programas implantados; f) promover a participação de todos na solução dos problemas

ambientais (SOUZA, 2000).

Há algumas décadas a sociedade humana vem aprendendo que é importante preservar

os ecossistemas juntamente com os animais, vegetais e outros seres vivos nele encontrados,

para garantir que as pessoas tenham boa qualidade de vida no futuro e que os recursos

naturais sejam preservados, sem ocorrer extinções.

Um dos exemplos mais perceptíveis da destruição do meio natural é a devastação da

Mata Atlântica, ecossistema que ocupou grande parte do litoral brasileiro, e que hoje restam

preservadas menos de 8% de sua área original (Figura 01). A destruição da área da Mata

Atlântica promoveu a redução de populações e até mesmo a extinção de organismos nativos

desse ecossistema. A destruição da floresta promoveu outras transformações ambientais, cujas

consequências são percebidas atualmente.

Fonte: Ação mico-leão-dourado.

Figura 01. Remanescentes da Floresta Atlântica.

Nos próximos capítulos serão apresentados mais exemplos de impactos ambientais

causados pelo homem, bem com suas consequências e ações de mitigação.

Mata Atlântica original

Remanescente da Mata Atlântica

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RELAÇÃO ENTRE O HOMEM E A NATUREZA

Por muito tempo o homem interagiu com a natureza de forma harmônica, constituindo

a própria natureza. Nessa época, percebia-se a interação homem-natureza, pois as ações

desenvolvidas por ele seguiam os princípios naturais. O homem primitivo considerava a

natureza um sinônimo de Deus, portanto, a mesma devia de ser respeitada, temida e

conservada (DREW, 1998).

A manipulação da natureza pelo homem iniciou-se há aproximadamente 10 mil anos,

quando o ser humano domesticou plantas, cultivando-as e iniciando o que chamamos hoje de

agricultura. As práticas agrícolas e da pecuária foram os primeiros responsáveis pela

devastação de florestas para a implantação de lavouras e de pastagens para os animais de

criação.

No entanto, mais precisamente, na revolução industrial, iniciou-se um processo de

separação mais intenso entre o homem a e natureza, quando o ser humano havia descoberto

maneiras de alterar o meio ambiente, com o objetivo de construir objetos próprios e obtenção

de benefícios, como os lucros. Nessa época intensificou-se a emissão de gases poluentes para

a atmosfera (Figura 02), o consumo de recursos naturais (estímulo ao consumismo), e a

produção de compostos não biodegradáveis, como plásticos, borracha entre outros, causando

elevado dano ao meio ambiente.

Fonte: Portal Científico, 2010.

Figura 02. Emissão de gases poluentes pelas indústrias.

Mesmos com as políticas de proteção do meio ambiente, atualmente, há grande

devastação de áreas de florestas e outros ecossistemas para a implantação de lavouras. Na

Figura 03 pode-se observar o desmatamento seguido da queima da vegetação de uma floresta,

práticas comumente empregadas para a “limpeza” das áreas para implantação da agricultura

e/ou pecuária. Uma das principais consequências dessas práticas é a redução da

biodiversidade local, causada pela redução do habitat natural (desmatamento) e o extermínio

de organismos pela queima.

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Fonte: Biologia na Rede, 2011

Figura 03. Desmatamento seguido da queima dos vegetais na Floresta Amazônica.

A relação entre o ser humano e a natureza é distinta entre os povos do planeta, pois

essa relação é influenciada pelos aspectos culturais, religiosos e políticos de cada povo. Por

exemplo, a região sudeste da China apresenta semelhanças ambientais com a região sudeste

dos Estados Unidos da América, mas a relação do homem com a natureza, nessas duas

regiões são completamente diferentes (DREW, 1998).

Sabe-se que a maneira do homem ocidental relacionar-se com o meio ambiente deriva,

em parte, da idéia cristão-judaica, segundo a qual, ao invés das outras criaturas, o homem foi

feito a imagem de Deus, tendo o direito de dominar o resto do mundo e os seres nele existente

(DREW, 1998). Acredita-se que a visão religiosa pode ter uma forte influência no processo de

dominação do homem no meio ambiente. Relatos bíblicos deixam evidente essa questão da

função do homem na terra, como um trecho do Capítulo 1 do livro de Gênesis, que diz: “Deus

os abençoou e disse: Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a, e dominai sobre

os peixes do mar, e sobre as aves do céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a

terra”.

Outros textos tratam da natureza como algo criado somente para o benefício do

homem, como o trecho de Aristóteles (350 a.c.): “as plantas foram criadas por causa dos

animais, e os animais por causa do homem”. Com isso, o homem se considera como um

guardião da natureza, na qual ele não esta inserido. Esse pensamento é defendido por várias

religiões, como o cristianismo, islamismo e judaísmo.

Alguns povos, por exemplo, os índios, ainda respeitam a natureza, relacionam-na com

deuses e que possui ligação direta com o mundo espiritual. Infelizmente, poucos são os povos

que tratam a natureza como algo fundamental para a vida humana.

Desconsiderando essas exceções, o homem já deixou de ser mero aspecto da

biogeografia (unidade do ecossistema), para se tornar cada vez mais um elemento afastado do

meio físico e biológico onde vive (DREW, 1998). A humanidade atual sobrevive somente da

manipulação ambiental para a produção de alimentos, com a utilização de insumos que

causam grande degradação do meio ambiente.

Um dos melhores exemplos da superioridade do homem perante a natureza é a criação

de organismos com a manipulação gênica (transgenia), em que são incorporados alguns genes

exógenos em organismos, causando alterações genéticas desejadas. Atualmente, os

organismos geneticamente modificados são utilizados, principalmente, na medicina e

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agricultura. Até então não são conhecidos os males causados por essa manipulação genética.

No entanto, algumas pesquisas apontam riscos à saúde e principalmente ao meio ambiente

com a utilização desses organismos, como o surgimento de organismos patogênicos

modificados resistentes a medicamentos.

Atualmente percebe-se uma tendência de alteração das relações entre o homem e a

natureza, pois esse está percebendo que as alterações causadas no meio ambiente, podem de

certa forma, inviabilizar algumas atividades humanas no futuro. Com isso, alguns grupos

estão se formando para tentar reduzir as interferências negativas do homem no meio

ambiente, propondo alternativas para mitigá-las.

O preservacionismo e o conservacionismo são correntes ideológicas que surgiram no

fim do século XIX, nos EUA, com o objetivo de preservar o meio ambiente. Essas correntes

posicionam-se contra o desenvolvimentismo – uma concepção que defende o crescimento

econômico a qualquer custo, desconsiderando os impactos ao ambiente natural e o

esgotamento de recursos naturais – estas duas se contrapõem no que se diz respeito à relação

entre o meio ambiente e a nossa espécie.

O primeiro, o preservacionismo, aborda a proteção da natureza independentemente de

seu valor econômico e/ou utilitário, apontando o homem como o causador da quebra deste

“equilíbrio” (THOMAS, 1989). De caráter explicitamente protetor, propõe a criação de

santuários intocáveis, sem sofrer interferências relativas aos avanços do progresso e sua

consequente degradação. Nesses locais seria expressamente proibida a exploração, consumo e

até mesmo a pesquisa, pois essas práticas ferem os princípios dessa corrente ideológica. De

posição considerada mais radical, este movimento foi responsável pela criação de alguns

parques nacionais, como o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, nos EUA.

A segunda corrente, a conservacionista, contempla o amor à natureza, mas aliado ao

seu uso racional e manejo criterioso pela nossa espécie, executando um papel de gestor e parte

integrante do processo (THOMAS, 1989). Podendo ser identificado como o meio-termo entre

o preservacionismo e o desenvolvimentismo, o pensamento conservacionista caracteriza a

maioria dos movimentos ambientalistas, e é alicerce de políticas de desenvolvimento

sustentável, que são aquelas que buscam um modelo de desenvolvimento que garanta a

qualidade de vida hoje, mas que não destrua os recursos necessários às gerações futuras.

Alguns princípios do conservacionismo são a redução do uso de matérias-primas, o

uso de energias renováveis, a redução do crescimento populacional, o combate à fome, as

mudanças nos padrões de consumo, a equidade social, o respeito à biodiversidade e a inclusão

de políticas ambientais no processo de tomada de decisões econômicas. Inclusive, propõe que

se destinem áreas de preservação, por exemplo, em ecossistemas frágeis, com um grande

número de espécies endêmicas e/ou em extinção.

Tais discussões começaram a ter espaço em nosso país apenas em meados da década

de setenta, com a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA. Em razão da

temática ambiental ter sido incorporada em nosso dia a dia apenas nas últimas décadas, tais

termos relativamente novos acabam sendo empregados sem muitos critérios – mesmo por

profissionais como biólogos, jornalistas e políticos. Prova disso é que a própria legislação

brasileira, que nem sempre considera uso correto destes termos, atribui a proteção integral e

“intocabilidade” à preservação.

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A conservação ambiental deve ser uma ação mútua e continua, à qual todos os

integrantes da sociedade devem dar sua contribuição. Um dos principais entraves para a

prática conservacionista é o próprio ser humano, com seu egoísmo, falta de iniciativa,

passividade, oportunismo para beneficio próprio e o desconhecimento. Esta última pode ser a

característica mais importante que leva a degradação ambiental. Nesse sentido, ressalta-se a

importância do ensino sobre e para a conservação ambiental. O ser humano moderno possui

muitas necessidades diárias, que acabam consumindo energia e gerando resíduos.

Considerando o grande crescimento populacional (atualmente a população mundial é de

aproximadamente 7,8 bilhões de pessoas), há tendência de crescimento desse número, e

consequente aumento do consumo dos recursos naturais, gerando maior impacto ambiental.

A conservação ambiental é um processo carente de pesquisas: são poucas as

informações científicas sobre processos e ações sustentáveis. Atualmente as alternativas

menos impactantes são, geralmente, de maior custo, o que não é um atrativo em uma nação

capitalista, como é o caso da transformação da energia eólica em energia elétrica, por

exemplo.

A respeito de fontes de energia, as que apresentam maior poluição como o petróleo,

carvão mineral, entre outros são as de menor custo, sendo assim consumidas em larga escala.

Essas características, além do perfil egoísta e individualista do ser humano, do

desconhecimento, da falta de incentivo governamental e do elevado custo dos processos

menos impactantes, são os principais limitantes para a conservação ambiental.

Para os Estados Unidos da América, por exemplo, reduzir 10% da emissão de CO2

durante 13 anos significa manter a redução do PIB de 3% ao ano, com recessões que

poderiam afetar a economia mundial (ROSADO & CAVATTE, 2008). Assim, os países mais

desenvolvidos contribuíram mais para as alterações ambientais, como o aquecimento global,

causado pela grande concentração de CO2 e metano na atmosfera.

Atualmente a sociedade está sendo convocada a realizar um novo pacto com a

natureza, estabelecendo limites para a utilização de certos recursos naturais nas atividades

atuais e para os projetos futuros. Trata-se de enfrentar os desafios e encontrar novas formas de

crescimento social e econômico sem agredir o meio ambiente. Uma das formas para reduzir o

impacto ambiental das atividades humanas é a conscientização das pessoas sobre as

problemáticas ambientais, fazendo com que estas mudem algumas ações para reduzir sua

contribuição para o desgaste do ambiente, como o melhor aproveitamento de produtos (sendo

ele de consumo ou bem durável), destinação adequada do lixo, utilização de produtos que seja

comprovado o menor custo ambiental para a produção, entre outras ações.

Com a construção de uma cultura ecológica que compreenda a natureza e a sociedade

como dimensões intrinsecamente relacionadas, que não podem mais ser geridas de forma

separada (seja por órgãos públicos ou em ações sociais). A relação entre homem, sociedade e

natureza deve ser entendida e organizada conjuntamente, de forma holística. Esses agentes do

meio devam interagir de forma sustentável, isso é sem haver perdas para a natureza.

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ENFOQUE HISTÓRICO DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA

Os movimentos ambientalistas foram a força propulsora para a proposta da educação

ambiental, pois foram os movimentos que trouxeram à tona as problemáticas ambientais, e

que propuseram a educação como uma saída para amenizar tais problemas. Atualmente, a

educação ambiental, que é um processo em construção permanente, tem seu caminho guiado

pelos movimentos ambientais. Vamos analisar alguns fatos e acontecimentos marcantes na

história mundial e sua importância para a educação ambiental.

Em 1869, Ernest Haeckel propõe o vocábulo “ecologia” para os estudos das relações

entre espécies e seu ambiente. Três anos depois é criado o primeiro parque nacional do

mundo, o de Yellowstone, nos Estados Unidos. Desde então, e principalmente após a 2ª

Grande Guerra Mundial, com o crescimento desenfreado da produção industrial e da

consequente aceleração da degradação do meio ambiente, começaram a surgir problemas de

dimensões globais, que romperam fronteiras e extrapolaram a regionalidade, como a poluição

de rios e mananciais, a chuva ácida, o buraco na camada de ozônio, o efeito estufa, as ilhas de

calor nos grandes centros urbanos, entre outros.

Nesse momento, percebeu-se a importância de uma reflexão mais profunda e a

necessidade de um trabalho conjunto entre as nações, concentrando recursos financeiros e

tecnológicos para a solução dessas questões e/ou para mitigação dos impactos desses

fenômenos no meio ambiente. Nesse sentido, diversas atitudes passaram a ser tomadas,

principalmente nos países do hemisfério norte. Algumas delas foram emblemáticas, tais como

a UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza –, fundada em 1947, na Suíça,

a mais antiga instituição ambientalista de que se tem registro. Só em 1965 foi utilizada pela

primeira vez a expressão “Educação Ambiental” (Environmental Education), durante a

“Conferência de Educação” na Universidade de Keele, Grã-Bretanha.

Será apresentada uma sequência cronológica de acontecimentos relativos às questões

ambientais.

O Clube de Roma

Em 1968 foi fundado o Clube de Roma pelo industrial italiano Aurélio Peccei e pelo

químico inglês Alexander King, que agregou 100 empresários, políticos e cientistas sociais

preocupados com as consequências do modelo de desenvolvimento predatório adotado pelos

países ricos do ocidente, e que rapidamente se espalhava por todo o globo terrestre. Em 1971,

o clube encomenda ao MIT – Instituto de Tecnologia de Massachussets– um estudo sobre a

situação do planeta. Como resultado é publicado no ano seguinte um relatório que levou o

nome de “Limites do Crescimento”, que recomendou crescimento zero da atividade

econômica e da população como forma de garantir a continuidade da existência da espécie

humana no planeta. Tal documento foi duramente criticado, principalmente porque congelava

desigualdades e não previa mudanças nos padrões de produção e consumo adotados pela

sociedade, nem tampouco propunha uma redistribuição de riquezas entre os países e as

diferentes camadas da população. De qualquer modo, foi a primeira vez que um sério instituto

de pesquisa, financiado por poderosos empresários do primeiro mundo, apontava que o

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planeta estava sofrendo alterações que poderiam comprometer a atividade humana. Por fim, o

mundo tomava conhecimento, oficialmente, das limitações ambientais ao crescimento.

A Conferência de Estocolmo

No mesmo ano da publicação do relatório intitulado “Limites do Crescimento”, 1972,

sua consequência direta estimulou a realização da Conferência das Nações Unidas, em

Estocolmo, debatendo o tema “Crescimento Econômico e Meio Ambiente”, com a presença

de 113 países.

Esta conferência é considerada um marco político internacional para o surgimento de

políticas de gerenciamento ambiental. Foram propostos novos conceitos, como o do

Ecodesenvolvimento, uma nova visão das relações entre o meio ambiente e o

desenvolvimento; gerados e criados novos importantes ações, como o Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA); gerados documentos de relevância como a

Declaração sobre o Ambiente Humano, uma afirmação de princípios de comportamento e

responsabilidade que deveriam governar as decisões relativas à área ambiental, e o Plano de

Ação Mundial, uma convocação à cooperação internacional para a busca de soluções para os

problemas ambientais. A Conferência também constituiu o Dia Mundial do Meio Ambiente, a

ser comemorado no dia 05 de junho.

A partir do evento, a atenção mundial foi direcionada para as questões ambientais,

especialmente para a degradação ambiental e a poluição interfronteiras, popularizando o

conceito da dispersão, de grande importância para evidenciar o fato de que a poluição não

reconhece limites políticos ou geográficos e afeta países, regiões e pessoas muito além do

ponto em que foi gerada.

O Brasil, nessa época, em plena vigência do regime militar, havia adotado o modelo

econômico “nacional-desenvolvimentista”, onde o crescimento a qualquer custo era visto

como ferramenta fundamental para o progresso e para a melhoria da qualidade de vida da

população, e vinha acumulando sucessivos índices positivos de crescimento do PIB (Produto

Interno Bruto). Era a década do “milagre brasileiro” e os investimentos governamentais em

grandes obras eram consideradas prioritárias (como a rodovia Transamazônica, a Ponte Rio -

Niterói, a Usina de Energia Nuclear de Angra entre outros), se ampliava a infra-estrutura que,

por sua vez, possibilitava o crescimento desenfreado que exigia ainda mais infra-estruturas de

base - novas estradas, novos portos, novas fronteiras agrícolas, imensos conjuntos

habitacionais e assim sucessivamente.

Diante das discussões em Estocolmo, os representantes brasileiros não reconheceram a

gravidade dos problemas ambientais. Mesmo enfrentando discordâncias, a Conferência de

Estocolmo representou um avanço nas negociações mundiais e tornou-se um marco para o

entendimento dos problemas planetários e para a emergência de políticas ambientais em

muitos países, adotando o slogan “Uma Única Terra” e propondo a busca de uma nova forma

de desenvolvimento para o mundo.

O Congresso de Belgrado

Três anos mais tarde, o Congresso de Belgrado propôs a discussão de uma nova ética

planetária para promover a erradicação da pobreza, analfabetismo, fome, poluição, exploração

e dominação humanas. Censurou o desenvolvimento de uma nação à custa de outra e propôs a

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busca de um consenso internacional. Sugeriu também a criação de um Programa Mundial em

Educação Ambiental. Como resultado, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para

Educação, Ciência e Cultura) criou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA),

que até os dias de hoje tem continuamente atuado na educação ambiental internacional e

regionalmente. O PIEA mantém uma base de dados com informações sobre instituições de

educação ambiental em todo o mundo, além de projetos e eventos que envolvem estudantes,

professores e administradores.

A Conferência de Tbilisi

O evento internacional que de fato revolucionou a educação ambiental foi a

Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, promovida pela UNESCO e

realizada em Tbilisi, na Geórgia em 1977. Embora o evento fosse governamental,

participantes não-oficiais se fizeram presentes, marcando posições e interferindo nas

discussões. A conferência conseguiu grandes avanços e estratégias, e pressupostos

pedagógicos foram adicionados aos seus documentos. A declaração final de Tbilisi estabelece

os princípios orientadores da educação ambiental e remarca seu caráter interdisciplinar,

crítico, ético e transformador. Anuncia que a educação ambiental deveria basear-se na ciência

e na tecnologia para a tomada de consciência e adequada compreensão dos problemas

ambientais, fomentando uma mudança de conduta quanto à utilização dos recursos

ambientais.

Nosso Futuro Comum

Durante toda a década subsequente, a humanidade buscou conhecimentos e acordos

para propor uma nova sociedade, de caráter local e global. Em 1983, por decisão da

Assembléia Geral da ONU, foi criada a Comissão Mundial de Meio Ambiente e

Desenvolvimento – CMMAD. Presidida pela então primeira ministra da Noruega, Gro

Harlem Brundtland, tinha como objetivo analisar a interface entre a questão ambiental e o

desenvolvimento e propor um plano de ações. Essa Comissão, chamada de Comissão

Brundtland, circulou o mundo e encerrou seus trabalhos em 1987, com um relatório chamado

“Nosso Futuro Comum”. Nesse relatório se encontra a definição de desenvolvimento

sustentável mais aceita e difundida em todo o Planeta: “desenvolvimento sustentável é aquele

que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras

satisfazerem suas próprias necessidades”.

Desenvolvimento sustentável implica admitir que é possível utilizarmos os recursos

naturais para fins sociais, de modo a garantir as necessidades das gerações atuais, sem

prejudicar as necessidades das gerações futuras, tendo, segundo a União Internacional para a

Conservação da Natureza (IUCN), por princípios:

integrar conservação da natureza e desenvolvimento;

satisfazer as necessidades humanas fundamentais;

perseguir a equidade e a justiça social;

buscar a autodeterminação social e respeitar a diversidade cultural;

manter a integridade ecológica.

15

Segundo a Comissão, o desafio era trazer as considerações ambientais para o centro

das tomadas de decisões econômicas e para o centro do planejamento futuro nos diversos

níveis: local, regional e global.

Conferência de Moscou

A conferência seguinte foi a de Moscou, Rússia, que reuniu cerca de 300 educadores

ambientais de 100 países. Visou fazer uma avaliação sobre o desenvolvimento da educação

ambiental, desde a Conferência de Tbilisi, em todos os países membros da UNESCO. A

educação ambiental, nessa conferência não-governamental, reforçou os conceitos consagrados

pela de Tbilisi. A educação ambiental deveria preocupar-se tanto com a promoção da

conscientização e transmissão de informações, como com o desenvolvimento de hábitos e

habilidades, promoção de valores, estabelecimento de critérios padrões e orientações para a

resolução de problemas e tomada de decisões. Portanto, objetivar modificações

comportamentais nos campos cognitivo e afetivo.

Rio-92

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CNUMAD), oficialmente denominada de “Conferência de Cúpula da Terra” e informalmente

de Eco-92 ou Rio-92, foi realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, vinte anos após a

Conferência de Estocolmo, e teve grande importância para reforçar e ampliar essa nova

abordagem ambiental, que já vinha sendo discutida em documentos anteriores.

O evento fez história ao chamar a atenção do mundo para uma questão nova na época:

a compreensão de que os problemas ambientais estão intimamente ligados às condições

econômicas e à justiça social. Reconheceu a necessidade de integração e equilíbrio entre as

questões sociais e econômicas para a sobrevivência da vida humana no Planeta. Na ocasião,

reuniram-se 103 chefes de estado e um total de 182 países e centenas de organizações da

sociedade civil, cuja ação teve relevante impacto ao demonstrar claramente os limites da

exploração dos recursos naturais.

A conferência aprovou cinco acordos oficiais internacionais: a Declaração do Rio

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; a Declaração de Florestas; a Convenção-Quadro

sobre Mudanças Climáticas; a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Agenda 21, um

documento que propôs novos modelos políticos para o mundo em busca do desenvolvimento

sustentável. Paralelamente, as organizações não governamentais reunidas no Fórum

Internacional das ONGS e dos Movimentos Sociais, finalizaram e aprovaram o Tratado de

Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Assim, no

âmbito governamental e no da sociedade civil, o conceito de sustentabilidade ganhou força e

esta nova visão implicou na implantação de um modelo de desenvolvimento que garanta a

manutenção da vida no planeta sob todos os aspectos.

Paralelamente à Rio-92, o governo brasileiro, através do Ministério da Educação e

Desporto (MEC), organizou um workshop, no qual foi aprovado um documento denominado

“Carta Brasileira para a Educação Ambiental”. O mesmo enfocou o papel do estado

estimulando em particular, a participação da instância educacional, como as unidades do

MEC e o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), para a implementação

imediata da educação ambiental em todos os níveis.

16

AGENDA 21 – BASES CONCEITUAIS

A Agenda 21 é um programa de ação baseado num documento de quarenta capítulos

que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala

planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental,

justiça social e eficiência econômica.

Trata-se de um documento consensual para o qual contribuíram governos e

instituições da sociedade civil de 179 países num processo preparatório que duraram dois

anos, e culminou na realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro, Brasil, também conhecido por

ECO-92. Além da Agenda 21, resultaram desse processo cinco outros acordos: a Declaração

do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade

Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas.

A Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável. A

comunidade internacional, durante a Rio-92, acordou a aprovação de um documento contendo

compromissos para mudança do padrão de desenvolvimento no próximo século,

denominando-o Agenda 21. Mais do que um documento, a Agenda 21 é um processo de

planejamento participativo que analisa a situação atual de um país, estado, município e/ou

região, e planeja o futuro de forma sustentável. Esse processo de planejamento deve envolver

todos os atores sociais na discussão dos principais problemas e na formação de parcerias e

compromissos para sua solução a curto, médio e longo prazo. A análise é o encaminhamento

das propostas para o futuro devem ser feitas dentro de uma abordagem integrada e sistêmica

das dimensões econômica, social, ambiental e político-institucional.

Em outras palavras, o esforço de planejar o futuro, com base nos princípios de Agenda

21, gera produtos concretos, exequíveis e mensuráveis derivados de compromissos pactuados

entre todos os atores, fator esse, que garante a sustentabilidade dos resultados. É importante

destacar, que a Conferência do Rio-92, em contraste com a Conferência de Estocolmo de

1972, orientou-se para o desenvolvimento, e que a Agenda 21 não é um documento para

regulação ambiental, mas sim para desenvolvimento sustentável, onde, evidentemente, o meio

ambiente é o elemento de maior importância.

O enfoque desse processo de planejamento não é restrito às questões ligadas à

preservação e conservação da natureza, mas aborda também uma proposta que rompe com o

planejamento dominante nas últimas décadas com predominância do enfoque econômico.

A Agenda 21 considera, entre outras, questões estratégicas ligadas a várias áreas, tanto

ambiental como social, tais como:

a) geração de emprego e de renda;

b) diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda;

c) mudanças nos padrões de produção e consumo;

d) construção de cidades sustentáveis;

e) adoção de novos modelos e instrumentos de gestão.

17

Em termos das iniciativas, a Agenda 21 não deixa dúvida: os governos têm a

prerrogativa e a responsabilidade de executar e facilitar o processo de implementação em

todas as escalas. Além dos governos, a convocação do documento visa mobilizar todos os

segmentos da sociedade, chamando-os de "atores relevantes" e "parceiros do desenvolvimento

sustentável". Essa concepção processual e gradativa da validação do conceito implica assumir

que os princípios e as premissas que devem orientar a implementação da Agenda 21 não

constituem um documento completo e acabado: torná-lo realidade é antes de tudo um

processo social, no qual os atores vão pactuando paulatinamente novos consensos e montando

uma agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável.

Mais do que um documento, a Agenda 21 brasileira é um processo de planejamento

estratégico participativo. Este processo foi conduzido pela Comissão de Políticas de

Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional - CPDS. A metodologia de

elaboração da agenda privilegia uma abordagem multissetorial da realidade brasileira,

procurando focalizar a interdependência das dimensões ambiental, econômica, social e

institucional. Além disso, determina que o processo de elaboração e implementação devem

estabelecer parcerias, entendendo que a Agenda 21 não é um documento de governo, mas um

produto de consenso entre os diversos setores da sociedade brasileira.

Processo de elaboração da Agenda 21 Brasileira.

O desafio de implementação de um novo paradigma de desenvolvimento para o país

só pode ser alcançado em etapas, nesse modelo foi programada a Agenda 21 Brasileira. A

primeira, encerrada em junho de 2002, trata do processo de elaboração da Agenda 21,

adotando uma metodologia participativa, onde a parceria entre governo, setor produtivo e

sociedade civil foi fundamental para sua elaboração.

Na segunda etapa, a implementação, foi definida entre os membros da Comissão

Política de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e o Ministério do Planejamento. Foram

criadas estratégias de internalização das proposições, e que a Agenda 21 brasileira deve ser

constituída de políticas públicas que servirão de base para a elaboração dos Planos Plurianuais

do governo (PPA), sendo obrigação constitucional brasileira de, a cada quatros anos, aprovar

no Congresso Nacional os programas nos quais serão aplicados os recursos públicos do país.

A condução do processo da Agenda 21 Brasileira

A metodologia de trabalho aprovada pela CPDS selecionou as áreas temáticas e

determinou a forma de consulta e construção do documento Agenda 21 Brasileira. A escolha

dos temas centrais foi feita de forma a abarcar a complexidade do país e suas regiões dentro

do conceito da sustentabilidade ampliada. Foram seis eixos temáticos que tomaram os nomes

de Agricultura Sustentável, Cidades Sustentáveis, Infraestrutura e Integração Regional,

Gestão dos Recursos Naturais, Redução das Desigualdades Sociais e Ciência e Tecnologia

para o Desenvolvimento Sustentável.

Os eixos temáticos tiveram como princípio, para sua definição, não só a análise das

potencialidades, como é o caso da gestão dos nossos recursos naturais - um grande diferencial

do Brasil no panorama internacional - mas, também, fragilidades reconhecidas historicamente

no nosso processo de desenvolvimento, ou seja, as desigualdades sociais. Outro critério

perseguido pela CPDS, para a definição dos seis temas, foi a necessidade de fugir da temática

18

setorial que exclui grupos e reforça corporações e, como consequência, leva a soluções

equivocadas. Assim, apesar de não ser a única forma possível para encaminhar a construção

da Agenda 21 Brasileira, a proposta feita pela CPDS permitiu discutir de forma ampla a

sustentabilidade do desenvolvimento do Brasil.

Sobre cada tema foi realizado um trabalho de consulta aos diferentes segmentos da

sociedade. Não sendo um documento de governo, esse processo de consulta foi capitaneado

por entidades da sociedade sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), na

condição de Secretaria Executiva da CPDS. Assim sendo, o MMA contratou, por intermédio

de edital de concorrência pública nacional, seis consórcios que se encarregaram de organizar a

discussão e elaboração de documentos de referência sobre os temas definidos como centrais

da Agenda 21 Brasileira. Por meio de eventos abertos ao público, procurou-se envolver todos

os setores da sociedade que se relacionam com os temas em questão. A consulta visava

identificar, em cada tema, a opinião dos diferentes atores sociais e os conceitos, os entraves e

as propostas para a construção da sustentabilidade.

Concluído o processo de consultas, a CPDS realizou uma análise crítica sobre o

processo desenvolvido, e entendeu que deveria ser ampliada a discussão em torno da agenda;

não só para que alguns temas ausentes e relevantes fossem incluídos, como também para que

segmentos da sociedade, que não tiveram oportunidade de se manifestar, pudessem participar.

Só assim, no ponto de vista da CPDS, se obteria o resultado esperado de formulação de

políticas pactuadas entre os diferentes setores da sociedade brasileira.

Essa constatação levou a decisão de consolidar os trabalhos realizados até aquele

momento, numa publicação chamada "Agenda 21 Brasileira - Bases para Discussão". Esse

documento foi entregue ao Presidente da República em 8 de junho de 2000. No evento de

lançamento foi anunciada a continuidade do processo de elaboração da agenda por meio da

realização de debates estaduais a serem consolidados em encontros regionais. Com objetivo

de construir uma agenda de desenvolvimento para o país que, além do recorte temático que

provocou a consulta inicial, reflita a diversidade inter-regional não deixando de apontar para a

construção de um projeto nacional de desenvolvimento em bases sustentáveis.

O envolvimento do Presidente da República na convocação dos diferentes segmentos

da sociedade, para ampliar os debates sobre as estratégias de desenvolvimento sustentável, foi

decisivo para a divulgação do processo e para despertar interesse dos diferentes segmentos da

sociedade.

Como resultado dos debates estaduais, foi produzido um documento na forma de

relatório para cada estado brasileiro, expressando a visão predominante no estado sobre as

contribuições apresentadas pelas diferentes entidades locais e sobre as diretrizes e ações

constantes no documento "Agenda 21 Brasileira - Bases para Discussão".

Em cada região do País, ao final dos debates estaduais, foi realizado um encontro

regional, onde foram analisados os relatórios dos estados, com o objetivo de definir um

documento que expresse os resultados da região.

A ampliação da Consulta à Sociedade Brasileira

No período de julho de 2000 a maio de 2001 a CPDS e o MMA visitaram todos os

estados da federação divulgando, organizando e realizando os debates estaduais. Esse

processo de convocação da sociedade para o debate em torno da Agenda 21 contou com a

19

parceria dos governos estaduais, por meio das secretarias de meio ambiente, e das instituições

oficiais de crédito e de fomento ao desenvolvimento, a saber: Banco do Nordeste,

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, Superintendência do Desenvolvimento da

Amazônia, Banco da Amazônia, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco Regional

de Desenvolvimento do Extremo Sul e Petrobrás. Os objetivos dos debates estaduais foram:

ampliar o debate do elenco de propostas constante do documento "Agenda 21 Brasileira

- Bases para Discussão", recolhido dos seis eixos temáticos da agenda;

contemplar a visão dos estados sobre o desenvolvimento sustentável na Agenda 21

Brasileira e afirmar os compromissos assumidos entre os diferentes setores da sociedade

com as estratégias definidas na Agenda.

Nos vinte e seis debates realizados foram apresentadas e discutidas 5.839 propostas,

endereçadas aos seis temas da agenda nacional. Agricultura Sustentável foi o tema que mais

recebeu propostas (32%), seguido por Gestão dos Recursos Naturais (21%), Infra-Estrutura e

Integração Regional (14%), Redução das Desigualdades Sociais (12%), Ciência e Tecnologia

para o Desenvolvimento Sustentável (11%) e Cidades Sustentáveis (10%) (FERREIRA,

2011). Três mil e novecentos representantes de instituições governamentais, civis e do setor

produtivo participaram dos debates estaduais realizados.

Os encontros regionais foram realizados no período de junho a outubro de 2001 e

visavam obter as tendências predominantes entre as propostas apresentadas nos estados de

cada região. Desses encontros resultaram cinco relatórios, um de cada região brasileira.

Os resultados da consulta nacional

O processo de consulta nacional desencadeado pela CPDS passou por diferentes fases:

consulta temática em 1999, consulta aos estados da federação em 2000 e encontros regionais

em 2001. Nos documentos produzidos nessas fases constam os nomes de 6.000 representantes

das mais diferentes instituições. Podemos garantir que, nestes quatro anos, em torno de 40 mil

pessoas se envolveram no processo, contando que toda reunião foi precedida por inúmeros

encontros de sensibilização que cada uma das secretarias de meio ambiente estaduais

realizaram durante quatro meses pelo interior de seus estados.

Conclusão da Agenda 21 Brasileira

A fase final desse trabalho em prol do desenvolvimento sustentável brasileiro foi

realizada no mês de maio de 2002, com a realização do seminário nacional que se constituiu

em cinco reuniões setoriais, a saber: executivo, legislativo, produtivo, academia e sociedade

civil organizada. Nessas reuniões a CPDS apresentou sua plataforma de ação, baseada nos

subsídios da consulta nacional e definiu com as lideranças de cada setor os meios e

compromissos de implementação.

Pesquisa realizada pela Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental

(SAIC) e MMA mostrou que, dos fóruns locais de Agenda 21 Brasileira, 63% obtiveram

alguma ação concreta na gestão de resíduos sólidos (Figura 04).

A pesquisa, realizada em 2009, recebeu informações de 177 processos de Agenda 21,

que envolveram diretamente 1.111 pessoas de todo o Brasil, sendo 45% representantes da

sociedade civil, 43% do poder público e 11% de pessoas ligadas a área de educação e

conselhos (MMA, 2009).

20

Outro dado importante: a adoção dos princípios da Agenda 21 conseguiu, em 53% das

experiências, obter também resultados na recuperação de áreas degradadas.

63

53

49

48

32

32

22

17

Gestão de resíduos sólidos

Recuperação de áreas degradadas

Criação de lesgislação ambiental

Redução da poluição hídrica

Criação de unidade de conservação

Redução do desmatamento

Redução da poluição atmosférica

Elaboração de zoneamento ecológico

Fonte: MMA, 2009

Figura 04. Ações que mais tiveram resultados nos fóruns locais da Agenda 21 (em %).

A pesquisa mostrou ainda que, em 70% das experiências, a mobilização conseguiu

fortalecer ou mesmo criar Secretarias Municipais de Meio Ambiente e em 59% influenciaram

na criação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente.

O objetivo da pesquisa foi fornecer elementos para que gestores do MMA

atualizassem o programa da Agenda 21 com base nos temas ambientais emergenciais, que

foram incorporados às políticas públicas referentes ao meio ambiente. O lançamento da

Agenda 21 Brasileira, em julho de 2002, finalizou a fase de elaboração e marcou o início do

processo de sua implementação.

%

%

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%

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21

BASES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A educação ambiental no Brasil é regulamentada pela Lei 9.795/99, que define a

educação ambiental como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para

a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de

vida e sua sustentabilidade.

A educação ambiental aborda, especificamente, quatro aspectos da natureza, sendo

eles:

solo: tratando da degradação, recuperação, conservação e produção de alimentos;

água: como as bacias hidrográficas, com destaque para a contaminação das águas,

degradação das bacias, proteções de mananciais e a manutenção de água de

qualidade;

planta: com a manutenção da biodiversidade vegetal, equilíbrio ambiental e

produção de alimentos;

animal: para a manutenção da biodiversidade, em sua riqueza da cadeia

alimentar.

O objetivo geral da educação ambiental é formar cidadãos ativos que saibam

identificar os problemas e participar efetivamente de sua solução e prevenção; que ajudem a

conservar o nosso patrimônio comum, natural e cultural; que ajam, organizem-se e lutem por

melhorias que favoreçam a sobrevivência das gerações presentes e futuras da espécie humana

e de todas as espécies do planeta, em um mundo mais justo, saudável e agradável que o atual.

Objetivos da Educação Ambiental

A educação ambiental, como uma ferramenta para mobilizar os cidadãos a respeito das

causas ambientais, tem como alguns dos objetivos sensibilizar o povo quanto à:

consciência: adquirir consciência sobre o meio ambiente global e sensibilização para

essas questões;

conhecimento: vivenciar maior diversidade de experiências e compreensão do meio

ambiente e dos seus problemas;

atitudes: adquirir valores sociais, aliados ao interesse pelo ambiente e a vontade de

participar ativamente em sua melhoria e proteção;

habilidades: desenvolver aptidões necessárias para resolver problemas ambientais;

participação: proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilidade de

participarem ativamente nas tarefas de resolução dos problemas ambientais.

22

Educação ambiental como prática política

A educação ambiental como prática política deve ser tratada de uma maneira que

demonstre que essa prática não pode ser neutra: isso ficou evidenciado pelos ensinamentos de

Paulo Freire, que serviu de inspiração no Brasil e em todo o mundo.

A educação ambiental revela em tudo a força da afirmação do grande mestre, e agora,

quando já vivenciamos o terceiro milênio é um capítulo indispensável da educação para a

cidadania. Neste momento, o planeta encontra-se em situação comprometedora, e as ações

devem ser realizadas com urgência, considerando a irreversibilidade de algumas

características ambientais, que podem ser destruídas.

O tema nos convoca para dialogar, na comunidade, em todo e qualquer momento e

lugar, nos obrigando também a agir. Afinal, para conseguir e fazer compreender idéias e

conceitos, como não existe neutralidade nesta matéria – é imperativo agir. Mais que nunca,

unir discurso e prática é inadiável, sob pena de total incoerência. A omissão tem custo, e suas

consequências são visíveis em curto prazo. A educação ambiental, como tantas outras áreas,

demonstra exaustivamente que teoria e prática são indissociáveis; que discursos sem ação

revelam idealismo inconsistente; que ação sem teoria tem quase sempre consequências

dramáticas.

Mudar o pensamento e a maneira de tratar o ambiente provoca resultados

imediatamente visíveis, além daqueles que somente ficarão evidenciados anos depois. Mudar

as ações, sabendo que é possível gerenciar de forma responsável e consensual nosso

relacionamento com os recursos naturais, sejam eles renováveis ou não-renováveis, dos quais

dispomos a cada momento, muitas vezes sem lembrar que alguns não são recursos

inesgotáveis.

Vale ressaltar a definição de recursos renováveis, que são aqueles que podem ser

renovados em um período de tempo relativamente curto. Por exemplo, o etanol (que é

produzido pela cana-de-açúcar), quando queimado lança CO2 na atmosfera, que é recuperado

pela cultura da cana-de-açúcar durante o processo de fotossíntese.

Os recursos não renováveis são aqueles que não se renovam ou se renovam em um

tempo relativamente longo, como o petróleo. Nesse caso, com o uso da gasolina (derivado do

petróleo), o CO2 lançado para a atmosfera não será capturado em tempo relativamente curto,

que formaria petróleo novamente.

Os temas da educação ambiental devem ser trabalhados em todas as faixas de

escolaridade, inclusive para as séries iniciais. Discutir a educação ambiental como um dos

temas transversais do ensino básico é tarefa que já se desenvolve em muitos países, inclusive

no Brasil, embora ainda de forma não generalizada. É seguramente um dos caminhos para

devolver esperança ao nosso planeta. Inserindo-se de forma decidida e criativa neste novo

mutirão, os profissionais que atuam no ensino básico resgatam uma dívida permanente que

temos com nossos antepassados, e uma responsabilidade para com as gerações futuras.

23

A Educação Ambiental no contexto escolar

Com base em tudo que se analisou até aqui, o consenso é que a educação ambiental

deve estar presente em todos os espaços de convivência e, principalmente, naqueles que

educam os cidadãos. Assim poderá ser realizadas também nas escolas, nas universidades, nos

cursos profissionalizantes, nas casas, nas ruas, nas associações de bairro, nos locais de

trabalho, nas comunidades religiosas e em locais de lazer como clubes, praças, praias,

parques, reservas ecológicas entre outros locais. A divulgação pode ser realizada pelos meios

de comunicação como o rádio, a televisão, revistas e jornais.

Todos podem contribuir para valorizar e ajudar a preservar o meio ambiente,

procurando sempre dar um aspecto educativo às atividades desenvolvidas, e ganhando em

troca mais saúde e qualidade de vida. Cada um dos contextos acima citados tem suas

características próprias, através das quais é possível trabalhar com criatividade, aspectos da

cidadania e vocação ecológica das pessoas.

A escola, no entanto, é um dos locais privilegiados para realização da educação

ambiental. Muito se discutiu a respeito de formar uma nova disciplina sobre a questão

ambiental a ser inclusa no currículo escolar. No entanto, o Conselho Federal de Educação,

desde 1987, optou pela negativa, concordando com a posição dos educadores mais

progressistas, que a consideram como uma perspectiva de educação que deve permear todas

as disciplinas.

Interdisciplinaridade

Alguns confundem o ensino da ecologia com a educação ambiental. Tais temas, apesar

de abordarem assuntos semelhantes, possuem um objetivo distinto. A ecologia está inserida

na área biológica no ensino básico, na área de Ciências. A educação ambiental, apesar de ser

muito abordada na área de Ciências e Biologia, é um conhecimento que deve, na atual

perspectiva educativa, estar presente nos enfoques ministrados em todas as disciplinas,

quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade, o meio natural e

as relações sociais, sem prejuízo das especificidades próprias dessas disciplinas.

A introdução dessa perspectiva, na escola, contribui para uma modificação

fundamental na própria concepção de educação. A tradicional separação entre as disciplinas

humanas, exatas e naturais perde sentido, já que se busca o conhecimento integrado de todas

elas para a solução dos problemas ambientais.

Com a formação do conhecimento ambiental de forma interdisciplinar, há

possibilidade do aluno relacionar informações e entender as relações que ocorrem entre essas,

por exemplo, entre os fatos sociais, econômicos, geográficos e ambientais. Isso permite o

raciocínio mais amplo da realidade e, consequentemente, a formação de novas opiniões e

idéias sobre as problemáticas ambientais.

Integração entre a escola e a comunidade

A educação ambiental escolar deve enfatizar o estudo do meio ambiente onde vive o

aluno, procurando levantar os principais problemas da comunidade, quais as contribuições da

24

ciência e os conhecimentos necessários, assim como as possibilidades concretas para a

solução dos desafios.

O fato da educação ambiental escolar priorizar o meio onde vive o aluno, não significa

que as questões aparentemente distantes de seu cotidiano (como o perigo nuclear, efeito

estufa, crise energética, catástrofes ambientais) não devam ser abordadas, pois se deve

procurar desenvolver não só a sensibilidade para o problema ambiental como cidadão local,

mas também seu nível de participação para os problemas de ordem mundial.

Enfatizou-se até aqui que a escola deve promover maior contato com a comunidade.

As saídas da sala de aula ou mesmo da escola devem, sempre que possível, acontecer, mas

não necessariamente só em visitas aos parques e às áreas preservadas. A educação ambiental,

quando realizada nesses espaços, deve enfatizar os motivos pelos quais foram e devem ser

preservados, bem como ser ressaltada a importância estética, histórica e ecológica para os

homens do passado e para os contemporâneos.

Antes da visita, deve-se entrar em contato com a administração do local, que

geralmente conta com equipes de funcionários preparados para orientar os visitantes. Faz-se

necessário obter o máximo de informações possíveis sobre a área, com o objetivo de se

elaborar previamente uma aula preparatória e um roteiro para as observações que deverão ser

realizadas, com vistas à solicitação de um relatório complementar a ser apresentado e

discutido em sala de aula.

No entanto, é no cotidiano escolar e no contexto da residência, da rua, do bairro onde

mora o aluno que existem muitas possibilidades interessantes para a educação ambiental, que

podem e devem ser exploradas no jardim ou no quintal de casa e em torno da escola. Pode-se

observar e estudar a biodiversidade dessas áreas, analisando as espécies presentes e suas

funções naquele ambiente, por exemplo.

Na cozinha, podem-se analisar os hábitos alimentares, o problema dos agrotóxicos, o

desperdício de alguns cidadãos e a falta de alimentos para outros, e as possibilidades de

mudanças. Nas imediações da escola, do bairro ou da cidade, observar quais das indústrias

existentes e atividades comerciais são fontes de poluição, analisando as condições dos rios,

córregos e fontes que abastecem a cidade de água; e ainda o movimento do trânsito, a

poluição sonora e visual, a destinação do lixo, o crescimento da população, a rede de

saneamento básico, as áreas de lazer, atividades culturais praticadas e muitos outros

indicadores da situação urbana ou rural que determinam a qualidade de vida da população.

Sempre que possível deve-se referenciar a legislação que regula todas essas práticas.

Em síntese, o professor deve procurar capacitar-se para educar ambientalmente em

qualquer lugar, utilizando a realidade vivenciada por ele e pelos alunos, exemplos que,

infelizmente, não faltam na maioria dos centros urbanos e rurais.

A Educação ambiental no Brasil

A educação ambiental é parte do movimento ecológico. Surge da preocupação da

sociedade com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e futuras

gerações. Nesse sentido, pode-se afirmar que a educação ambiental é fruto dos debates da área

25

ecológica, e está entre as ações que visam construir novas maneiras de grupos sociais se

relacionarem com o meio ambiente.

No Brasil, a educação ambiental foi oficializada pela legislação de 1973, como

atribuição da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA). No entanto, foi nas décadas de

1980 e 1990 que a educação ambiental cresceu e tornou-se conhecida, graças aos avanços da

consciência ambiental.

Como visto anteriormente, em 1992 ocorreu o evento chamado de Rio-92, no qual

estavam presentes ONGs e organizações sociais de todo o mundo, que elaboraram em

conjunto o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, cuja importância

foi definir o marco político para o projeto pedagógico da educação ambiental. Esse tratado

está na base da formação da Rede Brasileira de Educação Ambiental, bem como das diversas

redes estaduais.

Essas ações, que tem por objetivo a formação de novas atitudes e postura ambiental

como algo que deveria integrar a educação ambiental de todos os cidadãos passou a fazer

parte do campo educacional propriamente dito, e das preocupações das políticas públicas.

Essa compreensão também é ratificada pela Política Nacional de Educação Ambiental, que

entende por esse tipo de educação:

Os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de

uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade (Lei 9.705 de 27/04/1999).

Nesse contexto histórico da educação ambiental no Brasil, percebe-se que essa área do

conhecimento constitui-se da mobilização social e da criação da consciência ambiental, com a

preocupação do uso insustentável dos recursos naturais.

A proposta de abordagem da educação ambiental nas escolas de todos os níveis, com

destaque na aplicação desse conhecimento de forma interdisciplinar no ensino básico e médio,

é muito interessante do ponto de vista pedagógico e de aprendizado. No entanto, percebe-se

uma grande limitação por parte dos educadores das mais diversas áreas do conhecimento, que

não estão familiarizados com o assunto. Na maioria dos casos, isso poderia ser solucionado

com a qualificação desses professores, algo que dever ser realizado pelo poder público.

As ações de educação ambiental são realizadas, frequentemente, através de programas

isolados dentro das escolas públicas e privadas. Várias escolas estão adotando, por exemplo,

as práticas de reutilização e separação de resíduos e fazendo compostagem com os resíduos

orgânicos.

Fora das escolas, podem-se citar alguns exemplos de ações de educação ambiental

promovidas por órgãos públicos (como prefeituras municipais), e também empresas privadas,

com o intuito de conscientizar a população para as causas ambientais. Há programas de

conscientização envolvendo parcerias entre o poder público e privado, como o projeto

intitulado “Pato Aqui, Água Acolá”, desenvolvido pelo instituto Terra Brasilis, em parceria

com o Instituto de Florestas de Minas Gerais e com a Associação Brasileira dos Produtores de

Eucalipto para Uso Doméstico. Esse projeto tem por objetivo conscientizar os professores que

atuam na região da Serra da Canastra sobre a importância da conservação dos recursos

26

hídricos dos rios São Francisco e Araguari e dos organismos presentes nesse ambiente, com

destaque para o pato-mergulhão.

Sobre a conscientização de alunos e da comunidade em geral, ainda há muito que se

fazer em nosso país, pois as ações que são realizadas atualmente são, ainda, insuficientes para

atender a comunidade externa às escolas.

27

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (PRONEA)

Em dezembro de 1994 foi criado pela presidência da república o Programa Nacional

de Educação Ambiental (ProNEA), em função da Constituição Federal de 1988 e dos

compromissos internacionais assumidos com a Conferência do Rio, compartilhado pelo então

Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e pelo Ministério

da Educação e do Desporto, com a parceria do Ministério da Cultura e do Ministério da

Ciência e Tecnologia.

O ProNEA foi executado pela Coordenação de Educação Ambiental do MEC e pelos

setores correspondentes do MMA/IBAMA, responsáveis pelas ações voltadas

respectivamente ao sistema de ensino e à gestão ambiental, embora também tenha envolvido

em sua execução, outras entidades públicas e privadas do país.

Esse programa previu três componentes: (a) capacitação de gestores e educadores, (b)

desenvolvimento de ações educativas e (c) desenvolvimento de instrumentos e metodologias,

contemplando sete linhas de ação:

educação ambiental através do ensino formal;

educação no processo de gestão ambiental;

campanhas de educação ambiental para usuários de recursos naturais;

cooperação com meios de comunicação e comunicadores sociais;

articulação e integração comunitária;

articulação intra e interinstitucional;

rede de centros especializados em educação ambiental em todos os Estados da

Federação.

O ProNEA é coordenado pelo órgão gestor da Política Nacional de Educação

Ambiental. Suas ações objetivam assegurar, no âmbito educativo, a integração equilibrada das

múltiplas dimensões da sustentabilidade - ambiental, social, ética, cultural, econômica,

espacial e política - ao desenvolvimento do país, resultando em melhor qualidade de vida para

toda a população brasileira, por intermédio do envolvimento e participação social na proteção

e conservação ambiental e da manutenção dessas condições ao longo prazo. O ProNEA

propõe-se a atuar como o grande articulador da criação de espaços de locução entre os

diversos órgãos do governo federal. Nesse sentido, assume as seguintes diretrizes do

Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Educação:

transversalidade;

fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA);

fortalecimento dos Sistemas de Ensino;

sustentabilidade;

descentralização espacial e institucional;

participação e controle social.

O ProNEA defende que é necessário internalizar a educação ambiental na esfera

governamental, para que os princípios da sustentabilidade influenciem as decisões dos

investimentos e das grandes obras federais, e para que se possa monitorar e avaliar, sob o

28

ponto de vista da sustentabilidade, os impactos socioambientais negativos e positivos de tais

políticas. A utopia, de acordo com o ProNEA, é expandir esta prática a outros níveis de

governo e para a sociedade como um todo.

A versão do Programa Nacional de Educação Ambiental de 2004 revela os avanços

obtidos em relação à primeira versão aprovada em 1994, uma vez que contemplou uma ampla

discussão entre os Ministérios da Educação e do Meio ambiente, e destes com universidades e

organizações da sociedade civil.

Os princípios fundamentais do ProNEA são:

respeito à liberdade e apreço à tolerância;

vinculação entre ética, estética, educação, trabalho e práticas sociais;

liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar cultura, o pensamento, a arte e o

saber;

compromisso com a cidadania ambiental ativa, transversalidade construída a partir de

uma perspectiva inter e transdisciplinar.

reconhecimento de que a definição dos sujeitos no processo educativo passa pela

identificação dos grupos sociais em condições de vulnerabilidade ambiental,

decorrentes dos riscos a que estão submetidos em função de preconceitos e/ou

desigualdade econômica na sociedade.

Com a regulamentação da Política Nacional de Educação Ambiental, o ProNEA

compartilha a missão de fortalecimento do SISNAMA, por intermédio do qual o Programa

Nacional de Educação Ambiental (PNEA) deve ser executado, em sinergia com as demais

políticas federais, estaduais e municipais de governo.

Dentro das estruturas institucionais do MMA e do MEC, o ProNEA compartilha da

descentralização de suas diretrizes para a implementação da PNEA, visando consolidar a sua

ação no SISNAMA.

Considerando-se a Educação Ambiental como um dos elementos fundamentais da

gestão ambiental, o ProNEA desempenha um importante papel na orientação de agentes

públicos e privados para a reflexão e construção de alternativas que almejem a

sustentabilidade. Assim, se oportuniza o bom exemplo das práticas e experiências exitosas.

A missão do ProNEA é “estimular a ampliação e o aprofundamento da educação

ambiental em todos os municípios, setores do país e sistemas de ensino, contribuindo para a

construção de territórios sustentáveis e pessoas atuantes e felizes”. Através das ações, esse

programa tem como objetivo:

estimular e apoiar processos de educação ambiental na construção de valores e

relações sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências que contribuam

para a participação de todos na edificação de sociedades sustentáveis

estimular e apoiar processos de formação de educadores ambientais;

estimular e apoiar processos de formação ambiental continuada e inicial de professores

dos sistemas de ensino;

contribuir com a organização de voluntários, profissionais e instituições que atuam em

programas de intervenção, ensino e pesquisa em educação ambiental;

contribuir para a internalização da dimensão ambiental nos projetos de

desenvolvimento e de melhoria da qualidade de vida, nas políticas e programas

29

setoriais do governo em todas as suas esferas e setores, nas empresas, nas escolas e nas

organizações da sociedade civil.

O ProNEA tem como público alvo vários grupos, tais como aqueles que estejam em

condições de vulnerabilidade ambiental; manejadores de recursos ambientais; professores de

todos os níveis; técnicos extensionistas; agentes comunitários; entidades públicas e outros

grupos que possam colaborar na difusão da conscientização ambiental.

30

POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O marco zero da legislação ambiental no Brasil aconteceu em 1981, com o advento da

Lei federal 6.938 que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, e introduziu (pela

primeira vez no Brasil) mecanismos de gestão colegiada e participativa através da criação do

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão de natureza deliberativa, em cuja

composição já naquela época assegurou-se a participação da sociedade civil.

Esta lei representa também a primeira iniciativa do Poder Executivo Federal para

organizar nacionalmente a gestão ambiental ao instituir o SISNAMA, composto de órgãos e

entidades ambientais da União, estados e municípios.

A Constituição de 1988 traz outro grande evento para a questão ambiental brasileira,

ao proclamar em seu artigo 225 a necessidade de estudo de impacto ambiental para toda

atividade potencialmente causadora de danos, e a publicação de um relatório sobre os

impactos. A obrigatoriedade de tornar público este relatório modificou a relação entre a

sociedade e o meio ambiente no Brasil, permitindo que as ONGs, associações de moradores,

sindicatos e técnicos pudessem participar de audiências e consultas públicas sobre a

realização dos grandes projetos de intervenção urbana e rural.

Outras importantes leis de proteção e regulamentação do uso dos recursos naturais

foram sendo promulgadas no Brasil, como a Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605 de 12

de fevereiro de 1999 e a Lei Federal 9.985 de 18 de julho de 2000, que cria o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído para estabelecer critérios e normas

para a criação, implantação e gestão de Unidades de Conservação, regulamentado pelo

Decreto 4 340 de agosto de 2002.

O SNUC classifica as Unidades de Conservação em duas categorias: Unidades de

Proteção Integral (Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Monumentos Naturais e Refúgios

da Vida Silvestre) e Unidades de Uso Sustentável (Áreas de Proteção ambiental, Áreas de

Relevante Interesse Ecológico, Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas, Reservas da

Fauna, Reservas de Desenvolvimento Sustentável e Reservas Particulares do Patrimônio

Natural).

Não se pode falar em Gestão Ambiental no Brasil sem citar a Lei Federal 9.433/97, a

Lei das Águas, que instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

(SNGRH) e consolidou os conceitos de gestão participativa em colegiado, criando os

Conselhos Nacionais e os Estaduais de Recursos Hídricos como instâncias máximas de

deliberação sobre as políticas, normas e padrões de gestão das águas nas respectivas esferas

de poder.

Foram criados os Comitês de Bacias, lócus das decisões sobre a aprovação do plano

diretor de recursos hídricos da bacia; normas e procedimentos sobre a concessão da outorga

de direito do uso da água; e a decisão sobre a cobrança pelo uso das águas, prioridades e

planos de investimentos. Cada comitê conta com uma agência paraestatal executiva, e

representa um novo mecanismo de cooperação multilateral entre os entes federativos.

No Estado de São Paulo, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente tem investido

reiteradamente na capacitação da sociedade civil para a participação qualificada nos comitês e

31

subcomitês de bacias. Um vasto trabalho de educação ambiental e de educação para a gestão

vem sendo realizado junto aos diversos subcomitês. Assim, a política das águas no estado de

São Paulo ganha cores e formas mais democráticas e pluralistas.

Dada a premência e relevância do tema, em 2001 foi criada a Agencia Nacional das

Águas (ANA) para regular nacionalmente as questões ligadas aos recursos hídricos no Brasil.

Lei da Política Nacional de Educação Ambiental - Lei 9795/99

Em 1993, o Deputado Federal Fábio Feldmann propôs, na Câmara dos Deputados, o

projeto de lei 3792/93, que instituía a Política Nacional de Educação Ambiental. Este projeto

de lei, durante a sua tramitação, foi submetido à análise por vários setores da população

(MEC, IBAMA, MMA, organizações não governamentais, universidades, entre outros) que

fizeram várias sugestões ao documento. Com o intuito de atender às sugestões apresentadas, o

então presidente da Comissão de Meio Ambiente, Deputado José Sarney Filho, apresentou o

substitutivo ao Projeto de Lei que, em 1999, foi aprovado pelo Congresso Nacional.

Alguns pontos desta lei valem ser ressaltados por serem considerados grandes

avanços. A definição de educação ambiental (artigo primeiro) foge dos antigos padrões

meramente biológico-ecológicos e preservacionistas, inserindo o homem como agente das

transformações e responsável pela qualidade e sustentabilidade da vida no Planeta.

Desta forma, a inclusão da educação ambiental como componente da educação

nacional (artigo 2º) em todos os processos educativos garante um espaço privilegiado de ação,

inserindo o tema no âmbito da educação formal e dos processos educativos não-formais.

Do mesmo modo, (artigo 3º) a definição das políticas públicas, por parte do poder

público, com a incorporação da dimensão ambiental, além de fortalecer a educação ambiental

no espaço escolar também propicia o engajamento da sociedade nos processos de gestão

ambiental.

Os princípios da educação ambiental apresentado incorporam o enfoque humanista,

ampliam a concepção de meio ambiente, incorporam aspectos sócio-ambientais e culturais.

Além disso, a lei imprime às abordagens da educação ambiental, o caráter

participativo, democrático e amplo, abrindo espaço para a participação efetiva da comunidade

na construção dos marcos referenciais e das sínteses inovadoras entre os novos conhecimentos

e o saber comunitário tradicionais.

Garantir a democratização de informações, estimular a participação individual e

coletiva na solução dos problemas ambientais, estimular a cooperação entre regiões, entre

ciência e tecnologia e o fortalecimento da cidadania são também objetivos desta lei,

mostrando e valorizando a participação nos processo da EA e no desenvolvimento sustentável

do país.

No artigo 6º é instituída a Política Nacional de Educação Ambiental. Significa dizer

que a EA não é mais pano de fundo das políticas públicas, mas é elemento determinante

dessas políticas estruturado em princípios e objetivos claramente definidos.

Outro aspecto interessante que se nota neste instrumento legal é a preocupação com

relação à sua aplicabilidade, uma vez que consta como linhas de atuação, assim expressas no

artigo 8º, a preocupação com a capacitação, com a pesquisa e com a produção de material

educativo.

32

O parágrafo 3º, que trata da formação e atualização de pessoal, remarca a busca das

alternativas curriculares e metodológicas para a capacitação de recursos humanos, abrindo um

novo campo de pesquisa e experimentação em EA. Além disso, apóia as iniciativas e

experiências locais e regionais na produção do material didático e estimula a montagem de

banco de dados da EA, de modo a operacionalizar a inserção do tema no ensino formal de

maneira interdisciplinar. A lei é bastante clara ao desmotivar o aspecto meramente disciplinar

deste tema, incentivando a abordagem integrada e contínua em todos os níveis e modalidades

do ensino formal.

A exceção se faz para os cursos de pós-graduação e extensão universitários, onde,

quando necessário se fizer, pode ser criada disciplina de Educação Ambiental, com a

finalidade de avançar na capacitação de recursos humanos.

Destaca também o papel dos meios de comunicação de massa na divulgação dos temas

ambientais, dos princípios, objetivos e ações de EA. A lei estabelece a responsabilidade destes

meios com a sensibilização das pessoas e o acesso à informação sobre os problemas

ambientais, a situação ambiental do país, a divulgação de alternativas de soluções. Ao mesmo

tempo, atribui à imprensa, como formadora de opinião pública, o papel de difundir valores e

gerar (a partir de exemplos) atitudes coerentes com a defesa do meio e a consolidação da

qualidade de vida das pessoas, minimizando a exacerbação do consumo supérfluo, dando

dicas sobre a importância da construção de uma sociedade sustentável e de um meio social

saudável, onde a participação democrática e a cooperação e solidariedade sejam entendidos

como valores básicos.

No âmbito da educação não-formal é destacado o papel das empresas públicas e

privadas na busca das alternativas tecnológicas, juntamente com as universidades e outros

setores da sociedade, reforçado pelas certificações de qualidade ambiental: a ISO 14000.

A sensibilização da comunidade para o uso dos espaços de preservação e áreas

protegidas, papel que historicamente tem sido desempenhado pelo IBAMA, passa a ter

destaque especial nesta lei.

As Empresas de Extensão Rural e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

EMBRAPA têm tido destacado papel no que se refere a sensibilização dos agricultores para

os aspectos ambientais, do mesmo modo que esta tem sido a preocupação da direção nacional

do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Estas ações, até então isoladas, aí

encontram seu respaldo legal.

De modo a garantir a exequibilidade desta lei, ficou definida no seu escopo a figura de

um órgão gestor, que foi definido na Câmara Técnica de Educação Ambiental do CONAMA,

sendo formado pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação.

Para executar a Política Nacional de Educação Ambiental de modo descentralizado, o

artigo 16 leva para os estados e do Distrito Federal a competência de elaborar as diretrizes a

partir de diagnóstico local. Para tanto, foi realizado um trabalho de sensibilização nos estados,

a fim de se constituir as comissões interestaduais de educação ambiental.

33

LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A educação ambiental passou a ter uma política nacional, com a lei n° 9.795 de 27 de

abril de 1999, essa que foi assinada pelo então presidente da republica, Sr. Fernando Henrique

Cardoso, lei que entrou em vigor na data de sua publicação. A lei dispõe sobre a educação

ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.

Vamos apresentar os capítulos dessa lei, que sem dúvida foi um grande passo para

nosso país rumo a sustentabilidade ambiental.

CAPÍTULO I - Da Educação Ambiental

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências

voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia

qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação

nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do

processo educativo, em caráter formal e não-formal.

Art. 3º Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação

ambiental, incumbindo:

I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir

políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação

ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação,

recuperação e melhoria do meio ambiente;

II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada

aos programas educacionais que desenvolvem;

III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama,

promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação,

recuperação e melhoria do meio ambiente;

IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na

disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a

dimensão ambiental em sua programação;

V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover

programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao

controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do

processo produtivo no meio ambiente;

VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores,

atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a

prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais.

Art. 4º São princípios básicos da educação ambiental:

34

I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;

II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência

entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da

sustentabilidade;

III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e

transdisciplinaridade;

IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e

globais;

VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e

cultural.

Art. 5º São objetivos fundamentais da educação ambiental:

I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas

múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais,

políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;

II - a garantia de democratização das informações ambientais;

III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática

ambiental e social;

IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na

preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade

ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e

macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente

equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,

democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como

fundamentos para o futuro da humanidade.

CAPÍTULO II - Da Política Nacional de Educação Ambiental

Seção I - Disposições Gerais

Art. 6º É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 7º A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de ação, além dos

órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, instituições

educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com

atuação em educação ambiental.

Art. 8º As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser

desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de

atuação interrelacionadas:

35

I - capacitação de recursos humanos;

II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;

III - produção e divulgação de material educativo;

IV - acompanhamento e avaliação.

§ 1º Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental serão respeitados

os princípios e objetivos fixados por esta Lei.

§ 2º A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para:

I - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização

dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino;

II - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização

dos profissionais de todas as áreas;

III - a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão ambiental;

IV - a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio

ambiente;

V - o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que diz

respeito à problemática ambiental.

§ 3º As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para:

I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação da

dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades de

ensino;

II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão ambiental;

III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação dos

interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à problemática

ambiental;

IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área

ambiental;

V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de

material educativo;

VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações

enumeradas nos incisos I a V.

Seção II - Da Educação Ambiental no Ensino Formal

Art. 9º Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos

currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando:

I - educação básica:

a) educação infantil;

b) ensino fundamental e

c) ensino médio;

II - educação superior;

III - educação especial;

IV - educação profissional;

V - educação de jovens e adultos.

Art. 10º A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada,

contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.

36

§ 1º A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo

de ensino.

§ 2º Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da

educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica.

§ 3º Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve

ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem

desenvolvidas.

Art. 11º A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em

todos os níveis e em todas as disciplinas.

Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas

áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e

objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 12º A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus

cursos, nas redes pública e privada, observarão o cumprimento do disposto nos arts. 10 e 11

desta Lei.

Seção III - Da Educação Ambiental Não-Formal

Art. 13º Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas

voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e

participação na defesa da qualidade do meio ambiente.

Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará:

I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres,

de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados

ao meio ambiente;

II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-

governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à

educação ambiental não-formal;

III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas

de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações

não-governamentais;

IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação;

V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de

conservação;

VI - a sensibilização ambiental dos agricultores;

VII - o ecoturismo.

CAPÍTULO III - Da Execução da Política Nacional de Educação Ambiental

Art. 14º A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental ficará a cargo de um

órgão gestor, na forma definida pela regulamentação desta Lei.

Art. 15º São atribuições do órgão gestor:

I - definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional;

37

II - articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos na área de

educação ambiental, em âmbito nacional;

III - participação na negociação de financiamentos a planos, programas e projetos na

área de educação ambiental.

Art. 16º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua competência e nas

áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas e critérios para a educação ambiental,

respeitados os princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 17º A eleição de planos e programas, para fins de alocação de recursos públicos

vinculados à Política Nacional de Educação Ambiental, deve ser realizada levando-se em

conta os seguintes critérios:

I - conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional de

Educação Ambiental;

II - prioridade dos órgãos integrantes do Sisnama e do Sistema Nacional de Educação;

III - economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a alocar e o

retorno social propiciado pelo plano ou programa proposto.

Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem ser

contemplados, de forma equitativa, os planos, programas e projetos das diferentes regiões do

País.

Art. 18º (VETADO)

Art. 19º Os programas de assistência técnica e financeira relativos a meio ambiente e

educação, em níveis federal, estadual e municipal, devem alocar recursos às ações de

educação ambiental.

CAPÍTULO IV - Disposições Finais

Art. 20º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias de sua

publicação, ouvidos o Conselho Nacional de Meio Ambiente e o Conselho Nacional de

Educação.

38

RECOMENDAÇÕES DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) lançou em 1997 os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs), com o objetivo de reorganizar e modernizar o instrumento de

orientação ao ensino de base do Brasil. Os novos PCNs trazem orientações para o ensino dos

chamados “temas transversais na escola”, meio ambiente e saúde, ética e cidadania,

orientação sexual, pluralidade cultural, trabalho e consumo.

A transversalidade é uma estratégia de trabalho na qual o professor deve dialogar

temas relacionados à educação ambiental nos conteúdos disciplinares. Desta forma, a temática

ambiental não deve ser inserida como uma única disciplina, mas deve fundamentar e

enriquecer a prática pedagógica dos professores das mais diversas disciplinas, com a

abordagem dos temas ambientais nos conteúdos específicos.

A iniciativa do MEC esbarrou num problema sério: a falta de formação dos

educadores em trabalhar, de forma transversal, conteúdos ambientais, uma vez que advinham

de práticas de ensino fragmentado e o tema meio ambiente tradicionalmente era

responsabilidade dos professores de ciências ou biologia. Em um primeiro momento, não

havia materiais de apoio sobre a temática, adequados àquele público.

Em 2001, o MEC, preocupado em suprir lacunas dos PCNs, lançou o documento “O

PCN em Ação de Meio Ambiente”, com o objetivo de demonstrar possibilidades de perpassar

as atividades pedagógicas com a temática ambiental, a partir de exemplos concretos vividos

em situações cotidianas.

O documento disponibilizou aos professores endereços onde encontrar maiores

informações, textos de apoio, sítios da Internet, indicação de materiais didáticos, além de

exemplos de atividades de educação ambiental para serem desenvolvidas com os alunos. O

documento mostrou também os ganhos que as diversas disciplinas têm ao trabalhar

transversalmente o tema ambiental, como a possibilidade de convívio harmonioso e

enriquecedor entre o conhecimento científico e as disciplinas de base.

Os PCNs e o PCN em Ação de Meio Ambiente são instrumentos de apoio específicos

para o educador, e destinado ao envolvimento direto com os alunos. A orientação para que o

tema seja adotado como eixo transversal no contexto do projeto pedagógico de cada curso,

possibilita a discussão e a análise do tema meio ambiente em diferentes áreas do

conhecimento, demandando a adoção de uma visão sistêmica e possibilitando discussões e

práticas que congreguem diferentes saberes, transcendendo as noções de disciplina, matéria e

área.

Independentemente da exigência em nível das diretrizes curriculares, a questão

ambiental deve, por expressa previsão legal, obrigatoriamente integrar todos os níveis e

modalidades do processo educacional, no denominado eixo transversal. Essa obrigatoriedade

atinge de forma integral todos os níveis e modalidades da educação básica (educação infantil,

ensino fundamental e médio) e da educação superior (cursos sequenciais, de graduação, de

pós-graduação e de extensão), uma vez que a degradação ambiental foi interpretada como um

problema de grande magnitude, que pode comprometer as futuras gerações.

39

Nesse sentido, cabe à educação um papel de fundamental importância: formar

cidadãos comprometidos e capacitados para a preservação do meio ambiente, melhorar a

qualidade de vida e garantir a saúde de todos. No entanto, alguns autores questionam os

objetivos da educação ambiental como Reigota (1994), que acredita que essa educação

apresenta-se impregnada da utopia de mudar de forma radical as relações que hoje

conhecemos, tanto entre humanos ou deste com a natureza. Trata-se, portanto, de uma

educação de natureza política, onde se enfatiza antes a questão do “porque fazer” do que a

questão do “como fazer”.

Acredita-se que a proposta de modelo de trabalho da educação ambiental é válida, pois

se tem a chance de ser trabalhado em todas as disciplinas. No entanto, ela não possui um

“status” de ser uma disciplina única sendo, muitas vezes, deixada em segundo plano em

relação aos conteúdos disciplinares. A proposta dos PCNs é uma abordagem ambiental

integrada, tanto entre as disciplinas como entre a sociedade e seus problemas específicos

(DIAS, 2010).

Assim conseguimos, diante desta perspectiva, imaginar as dificuldades de se trabalhar

um tema transversal como é proposto nos PCNs, pois a educação atual não valoriza esse tipo

de abordagem interdisciplinar. A integração de todo o corpo docente ao trabalhar a temática

ambiental ainda é mal entendida e pouco utilizada em projetos e no cotidiano escolar. Isto se

deve a maioria dos docentes não estar capacitada para trabalhar com esses temas e de

trabalhar em equipe. Assim, a educação ambiental fica geralmente restrita ao professor de

ciências e biologia, e percebe-se essa tendência que é reforçada pela inclusão, na maioria das

vezes, deste tema somente nos livros dessas disciplinas.

Outra dificuldade do trabalho interdisciplinar em projetos é que o professor precisa

investir seu tempo em muitas atividades e em diversos estabelecimentos de ensino (para

compensar a baixa remuneração), ficando sem disponibilidade de tempo para planejar

atividades em educação ambiental e para trabalhar em conjunto com os demais colegas

(DIAS, 2010).

Situação da educação ambiental no Brasil

No Brasil, a educação ambiental é um tema tratado recentemente com maior interesse

(parecendo ser um assunto "novo"), e não tem apresentado objetivo e metodologias de ação

estabelecidas nem nas escolas e nem nas universidades. Os problemas são debatidos em várias

áreas ligadas à comunicação e à educação. As organizações ambientalistas, políticas e outros

grupos levam ao público um conjunto de informações muito genéricas, o que impede a

educação ambiental de ser vista como prática efetiva para o meio ambiente (TRAVESSOS,

2001). O fato de ser um tema interdisciplinar, que deve ser estudado em todas as disciplinas

do ensino, é uma excelente ideia. No entanto, grande parte dos professores desconhece os

temas, e em alguns casos desconhecem até mesmo que esse tema deve ser abordado nas

disciplinas.

Existem exemplos de sucesso no processo de ensino da educação ambiental no mundo,

como nos países como a Inglaterra e os EUA, onde esse tema não é considerado novo, como

tem sido em nosso país. Na Inglaterra, por exemplo, há mais de 30 anos que a educação

40

ambiental vem ganhando importância dentro das escolas e na sociedade como um todo. Nos

EUA o governo recomendou a implantação da educação ambiental nos planos de ensino e nos

currículos escolares há mais de 35 anos (TRAVESSOS, 2001).

A característica central da educação ambiental é ser o meio mais importante e

indispensável, para que se consiga desenvolver e implementar uma prática cada vez mais

sustentável da interação o homem e a natureza. É importante, também, que as pessoas saibam

respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, modificando-se tanto interiormente,

como indivíduos, quanto nas suas relações com os outros e com o ambiente.

A educação ambiental tem que ser desenvolvida como uma prática para a qual todas as

pessoas que lidam em uma escola precisam estar preparadas. Não basta que seja acrescentada

como mais uma disciplina dentro da estrutura curricular. Se for tratada como uma disciplina, é

bastante provável que fique restrita à Biologia ou à Geografia. A prática da educação

ambiental precisa estar interligada com todas as disciplinas regulares de um currículo, como

prevê o documento que trata dos Parâmetros Curriculares Nacionais (TRAVESSOS, 2001).

Projetos de Educação Ambiental no Brasil

A educação ambiental no Brasil tem sido adotada tanto por escolas, ONGs e órgãos

governamentais (como o IBAMA, que assumiu as ações educativas voltadas aos diferentes

segmentos sociais no processo de gestão ambiental em Unidades de Conservação e Projetos

de Manejo de Fauna por meio de seus Núcleos de Educação Ambiental) e por empresas do

setor público e privado.

Em alguns casos, os chamados projetos de educação ambiental se restringem à coleta

seletiva e reciclagem de resíduos sólidos. Em outros, a campanhas informativas de cuidados

com o uso dos recursos naturais não renováveis.

Ainda há poucos casos de projetos inovadores e de transformação social que sejam

reconhecidos como ações de educação ambiental - normalmente são considerados projetos de

desenvolvimento local sustentável, recuperação de áreas degradadas entre outras áreas. Em

uma análise mais profunda, percebe-se o quanto de educação ambiental existe em cada um

deles (DUAILIBI & ARAUJO, 2006).

Pesquisas realizadas por ocasião da I Conferência Nacional de Educação Ambiental

apontaram que o eixo principal dos projetos, em sua maioria (58,3%), era a educação

ambiental. Entretanto, um número quase tão expressivo (41,7%) era de projetos que tinham

na educação ambiental uma atividade relevante para o seu desenvolvimento, mas centravam-

se em atividades de desenvolvimento sustentável, preservação de ecossistemas específicos,

problemas da realidade local e questões referentes ao lixo, reciclagem, contaminação de

cursos de água, entre outras (DUAILIBI & ARAUJO, 2006).

Tomando os projetos que têm como eixo principal a educação ambiental, observa-se

que a maioria destes (38,8%) trata da sensibilização da comunidade, 32,8% da educação não-

formal e 27% da educação formal.

Os profissionais da área de Biologia lideram os trabalhos de educação ambiental,

seguidos pelos pedagogos e geógrafos. No entanto, educadores com formação em outras áreas

41

têm participado cada vez mais dos trabalhos e projetos de educação ambiental nas escolas

(DUAILIBI & ARAUJO, 2006).

42

SUSTENTABILIDADE

Chamar uma atividade de "sustentável" significa que ela pode ser continuada ou

repetida indefinidamente no futuro. Para isso, as atividades realizadas pelo homem não devem

comprometer o meio ambiente, com o consumo dos recursos naturais em uma velocidade em

que os mesmos possam ser renovados em mesma quantidade pelo meio ambiente.

Sendo assim, a preocupação surge porque grande parte das atividades humanas são

nitidamente insustentáveis. A população humana global não poderá continuar aumentando de

tamanho; não poderemos continuar a retirar peixe do mar mais rápido do que a capacidade de

repor os cardumes perdidos; não poderemos continuar a explorar culturas agrícolas em área de

florestas; não poderemos continuar a usar os mesmos agrotóxicos, se os números crescentes

de pragas se tornarem resistentes a eles; não poderemos manter a diversidade da natureza, se

continuarmos a provocar a extinção de espécies. A sustentabilidade tem-se tornado, assim,

uma das grandes preocupações sobre o destino da Terra e das comunidades ecológicas que a

ocupam.

Um dos maiores fatores que influenciam na causa dos problemas ambientais no

planeta é a crescente população humana, que é grande e vem aumentando desenfreadamente.

No Brasil, a população humana mais do que dobrou em 40 anos, atingindo a população de

mais de 190 milhões de pessoas (IBGE 2010). Com o aumento populacional há o aumento da

demanda por energia, um maior consumo de recursos não-renováveis (como petróleo e

minerais), mais pressão sobre as florestas, maior poluição, maior demanda por alimentos,

significando maior área plantada com monoculturas, e assim por diante.

0

50

100

150

200

250

1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Fonte: IBGE, 2010

Figura 05. Crescimento populacional no período de 1970 a 2010, em milhões de

pessoas.

Outros problemas que dificultam o ideal de sustentabilidade são as transformações que

ocorrem em ritmo acelerado, com maior uso de recursos naturais, e com o aumento do uso de

43

fontes de energia, como a elétrica ou derivados de petróleo. Paralelamente ocorrem as

transformações sociais que estabelecem novos desafios, novos paradigmas e novas teorias

para solucionar as questões ambientais.

Os princípios fundamentais associados à sustentabilidade ambiental são:

a restrição ao uso de energias não renováveis (como o petróleo), que só devem ser

usadas mediante o compromisso de criação proporcional de fontes de energia

alternativas;

o uso cuidadoso das energias renováveis, que nunca devem ser consumidas de forma a

exceder a sua capacidade de regeneração;

a limitação de descarga de substâncias no meio ambiente (resíduos), que não deve

ultrapassar a capacidade de assimilação do mesmo;

conservação de ecossistemas naturais;

os riscos e o perigo para a vida humana provocados pelo homem devem ser evitados.

As questões ambientais globais, tais como o efeito estufa, a dizimação da diversidade

biológica e o consumo de recursos finitos, só podem ser resolvidas com base na cooperação

internacional intensa. A atuação de pessoas com um entendimento sobre as correlações

ecológicas, econômicas e sociais a nível global é necessária para superar esses desafios. A

educação ambiental, prática disseminada por um esforço conjunto de vários países, tem como

objetivo formar cidadãos com maior responsabilidade social e ambiental.

Deve-se criar a conscientização global sobre a manutenção dos ecossistemas e da

biodiversidade contida neles, pois a ameaça à vida, em um lugar, é a ameaça à vida em todos

os lugares (inclusive a humana). Todos os seres vivos fazem parte de uma cadeia, que é como

se fosse uma corrente, em que todos os elos são importantes para a formação e o

funcionamento da mesma.

Deve-se contribuir para a preservação de todas as formas de vida, evitando o

consumismo. As florestas preservam as nascentes dos rios. As árvores fornecem sombra,

proporcionam abrigo e alimentos para vários animais, diminuem o vento forte e embelezam a

paisagem com suas folhas, flores e formas. As raízes das árvores diminuem a erosão e

reduzem deslizamentos de encostas, mantendo ainda o húmus e a serrapilheira, importante

para a fertilidade do solo.

No contexto atual, para atingir a sustentabilidade devem-se integrar os fatores sociais,

econômicos e ambientais do meio, com menor desigualdade social e crescimento econômico

sem causar danos ao meio ambiente (Figura 06)

Figura 06. Interação de atividades para atingir a sustentabilidade.

44

Algumas ações podem ser feitas para reduzir o impacto ambiental causado pelo

homem, conscientizando a população de que é simples contribuir por essa causa, como com o

plantio de mudas de árvores nativas. Deve-se estimular a preservação das árvores e florestas

existentes, e não causar desmatamento, queimada, caça ou pesca ilegal. Quando observada

uma ação ilegal contra o meio ambiente, devem-se comunicar tais fatos ao IBAMA ou

Secretaria de Meio Ambiente no município.

Quando for realizar a compra de produtos oriundos de meio natural, deve-se tomar

conhecimento da sua origem, com no caso de bromélias e orquídeas, pois essas podem ter

sido retiradas ilegalmente do meio natural. Deve-se denunciar quando observar a

comercialização de espécies que são proibidas, bem como aquelas que têm um período de

comercialização proibido, como lagosta, caranguejo, alguns peixes entre outros.

Desenvolvimento sustentável

De grande influência nos países do hemisfério norte, o desenvolvimento sustentável é

uma corrente que representa um grande avanço no uso racional dos recursos naturais, na

redução do consumo de energia, na minimização de emissão de gases poluentes, na redução e

no tratamento dos resíduos entre outras práticas que visam reduzir os impactos ambientais.

Seu sucesso está intimamente relacionado ao surgimento dos conceitos de

“responsabilidade social e desenvolvimento sustentável”, frutos de décadas de trabalho dos

movimentos da sociedade civil, especialmente o movimento feminista, de direitos humanos e

o ambientalista. Pode-se observar no Quadro 01 as cinco dimensões do desenvolvimento

sustentável propostas por Montibeller-Filho (2001).

Quadro 01. Dimensões do desenvolvimento sustentável

Dimensão Componentes Objetivos

Sustentabilidade

Social

Criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de

renda individual adequada; melhorar as condições de vida;

melhorar a qualificação profissional; produção de bens

dirigida prioritariamente às necessidades básicas sociais.

Redução das

desigualdades sociais.

Sustentabilidade

Econômica

Fluxo permanente de investimentos públicos e privados;

manejo eficiente dos recursos; absorção, pela empresa, dos

custos ambientais, endogeneização (contar com as próprias

potencialidades de cada localidade).

Aumento da produção e

da riqueza social, sem

dependência externa.

Sustentabilidade

Ecológica

Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas;

prudência no uso de recursos naturais não-renováveis;

priorizar a produção de biomassa e a industrialização de

insumos naturais renováveis; reduzir da intensidade energética

e aumento da conservação de energia; priorizar as tecnologias

e processos produtivos de baixo índice de resíduos.

Melhoria da qualidade do

ambiente e preservação

das fontes de recursos

naturais para as próximas

gerações.

Sustentabilidade

Espacial

Desconcentração espacial (de atividades e de população);

democratização do poder global, nacional, local e regional;

relação cetro urbano e rural equilibrada.

• Evitar excesso de

aglomerações

Sustentabilidade

Cultural

Soluções adaptadas a cada ecossistema; respeito à formação

cultural e organização social comunitária.

• Evitar conflitos

culturais com potencial

regressivo

45

PRINCIPAIS CAUSAS DO IMPACTO AMBIENTAL

As atividades humanas, com poucas exceções, causam impacto ao meio ambiente.

Com aumento populacional, a espécie humana começou a exigir mais do meio ambiente, com

a produção de alimentos e o aproveitamento de espaços para moradia. Isso se intensificou

com a tecnologia, que trouxe uma nova forma de convívio, com grandes construções, com o

uso desenfreado de bens de consumo até então desconhecidos.

As principais fontes causadoras de impacto ambiental na atualidade são:

empreendimentos industriais;

combustão doméstica ou industrial;

queimas;

clorofluorcarbono (CFC): liberados pelas geladeiras, sprays e condicionadores de ar;

urbanização;

agricultura;

pecuária.

Poluição do ar

A poluição do ar é geralmente causada por resíduos gasosos que, quando liberados,

ficam em suspensão na atmosfera. Os poluentes gasosos podem causar danos diretos e

indiretos para os organismos que vivem na superfície do solo.

Os resíduos gasosos se originam principalmente de emissões de gases e partículas

pelas indústrias (fonte fixa) e de emissões de gases de escape dos carros, caminhões e outros

veículos de transporte (fonte móvel). Os incêndios florestais e a queima de resíduos sólidos

(lixo) sem o devido controle também são fontes de poluição do ar.

Além das consequências diretas dos resíduos gasosos (doenças como bronquite,

câncer) estão os efeitos indiretos para os organismos. Entre os efeitos indiretos se pode dar

ênfase ao efeito estufa e a destruição da camada de ozônio.

O acúmulo de gases tem provocado o aquecimento do planeta, sendo o grande

responsável pelas mudanças climáticas. O resultado da concentração dos gases na atmosfera

são variações das condições meteorológicas e o aumento geral da temperatura. As

consequências são verões mais quentes, variações bruscas de temperatura e aumento de

fenômenos climáticos como furacões, tempestades, inundações e estiagens.

Efeito estufa

O efeito estufa é um fenômeno que vem se intensificando cada vez mais em nosso

planeta, devido às alterações ocasionadas na atmosfera pela poluição. Esse fenômeno torna o

planeta Terra mais quente: a temperatura média do planeta elevou-se em 4ºC em relação ao

século XX.

O aquecimento do planeta está intensificando algumas consequências desse

desequilíbrio ambiental, como o derretimento das geleiras e calotas polares, causando o

aumento do nível dos oceanos. Além dessas alterações, já é perceptível as alterações

46

climáticas, com registros de temperaturas cada vez mais elevadas no verão e frias no inverno,

sem contar os desastres naturais que vem ocorrendo com mais frequência e maior intensidade.

Observa-se grande irregularidade nas zonas climáticas, com alterações dos processos

pluviométricos, com estiagens prolongadas em locais onde a fartura de água era uma

característica natural. Com essas alterações, alguns ambientes estão condenados ao

desaparecimento, juntamente com a flora e fauna que nele habitam. As alterações climáticas

estão castigando a agricultura, causando a menor produção e, consequentemente, menor

demanda de alimentos, o que tende a aumentar os casos de fome. Entre os produtores rurais,

os mais prejudicados são os agricultores familiares, que geralmente utilizam baixa tecnologia,

sem utilização de recursos como a irrigação. De modo análogo, os primeiros povos a

sofrerem, pela falta de alimentos são os mais pobres, que não são capazes de comprar

alimentos em quantidade suficiente, expondo ainda mais ao debate as questões sociais.

O mais assustador nesse processo de mudanças climáticas é que o pior está por vir:

estima-se que recursos como a água serão muito escassos no futuro e a agricultura serão

prejudicados - regiões antes produtivas tornar-se-ão improdutivas.

O efeito estufa é assim denominado devido à semelhança que ocorre com as estufas

para produção de plantas, que são construídas com uma película de vidro ou lona

transparente. Essa película deixa a luminosidade do sol passar livremente, mas impede a saída

do calor, aumentando a temperatura do local. O que está acontecendo em nosso planeta é

exatamente isso só que, nesse caso, a película que impede a saída do calor da superfície

terrestre são gases (denominados “gases de efeito estufa”). Os principais gases de efeito

estufa são: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), clorofluorcarbono

(CFC) e vapor de água.

Gases de efeito estufa

Dióxido de carbono (CO2) – é o principal gás de efeito estufa, contribuindo em

aproximadamente 50% para sua formação. As principais fontes antropogênicas de

geração desse gás são a queima de combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel, carvão

mineral entre outros) e o desmatamento.

Os países desenvolvidos ou em desenvolvimento são os que mais contribuíram ou

contribuem para o aumento da concentração desse gás na atmosfera. Esses países

utilizam grande quantidade de combustíveis como o petróleo, gás natural e o carvão

mineral para abastecer as indústrias, lançando grande quantidade de CO2 para a

atmosfera. O mesmo acontece com a queima de combustíveis fósseis nos automóveis,

considerando que a frota desses veículos é maior em países desenvolvidos.

Nos países mais desenvolvidos, há maior índice de desmatamento, o que contribui

para na liberação de CO2 para a atmosfera e reduz o sequestro desse gás, pois as

plantas, durante o processo de fotossíntese, absorvem o CO2 da atmosfera,

acumulando em sua biomassa.

Desde 1860 até o momento já foram lançados aproximadamente 175 Gt de CO2 na

atmosfera. Atualmente, estima-se que o aumento anual desse gás na atmosfera seja de

aproximadamente 3 Gt, considerando que os vegetais retiram parte do gás que é

liberado (ROSADO & CAVATTE, 2008). Se as emissões desse gás continuarem

47

nessa escala, estima-se grandes desastres naturais, com grandes alterações do clima do

planeta.

Metano (CH4) – é o segundo gás em importância para formação do efeito estufa.

Estima-se que esse gás contribui com aproximadamente 18% do aquecimento global.

Sua concentração, apesar de ser numericamente baixa, causa grande contribuição para

o aquecimento global, e sua concentração vem crescendo em torno de 0,9% ao ano na

atmosfera (ROSADO & CAVATTE, 2008). O CH4 é produzido na fermentação

microbiana na ausência de oxigênio (anaeróbica), e tem como principais fontes os

lixões, plantações com irrigação por inundação (como arroz) e criação de animais

ruminantes (bovinos), que produzem o CH4 no trato digestório.

Óxido nitroso (N2O) – esse gás contribui em 6% para o aquecimento global. Apesar

de encontrar-se em pequena concentração na atmosfera, contribui de forma

significativa para o efeito estufa. Sua capacidade de retenção térmica é 150 vezes

maior do que a do CO2 (ROSADO & CAVATTE, 2008), o que torna esse gás um dos

mais nocivos para o meio ambiente. As principais fontes são o uso exagerado de

fertilizantes nitrogenados e queima da biomassa.

Clorofluorcarbono (CFC) – essa molécula contribui em cerca de 14% para o

aquecimento global, mesmo encontrada em pequena concentração na atmosfera, na

proporção de 280 partes por trilhão de volume. No entanto, a contribuição de uma

molécula de CFC para o efeito estufa é equivalente a 10.000 moléculas de CO2

(ROSADO & CAVATTE, 2008). Os principais locais de liberação desse gás são os

aparelhos de refrigeração (ar condicionado, geladeiras entre outros) e a produção de

espumas e aerosóis.

Outros compostos como o ozônio troposférico, vapor de água e certos halogênios

contribuem com 13% para o aquecimento global (ROSADO E CAVATTE, 2008).

Uma prática que pode ser realizada em aula para demonstrar o efeito estufa é colocar

um termômetro dentro de um recipiente de vidro em pleno sol, e deixar outro termômetro fora

do recipiente. Com o passar do tempo observa-se a alteração mais significativa da temperatura

no interior do recipiente (Tabela 01).

Tabela 01. Demonstração prática do efeito estufa

1º Coloque os dois termômetros, um ao lado do outro, no mesmo tipo de superfície do lado de fora de

sua casa. Depois de alguns instantes, anote a temperatura e confira se ela é a mesma nos dois

termômetros.

2º Em seguida, cubra um dos dois termômetros com o pote de vidro.

Esta será a sua “estufa”.

3º Depois de meia hora, volte a comparar a temperatura nos dois termômetros; compare novamente

depois de uma hora.

4º Você vai perceber o termômetro sob a “estufa” indica uma temperatura maior que a do outro

termômetro. Este é exatamente o efeito provocado pelos gases poluentes na atmosfera, cujo

resultado é o aquecimento do planeta.

Fonte: www.wwf.org.br

48

Desmatamento

O desmatamento é uma das causas da elevação da emissão de CO2 para a atmosfera

que, juntamente com a queima de combustíveis fósseis são as principais causas do aumento

da concentração desse gás na atmosfera. Além da emissão de CO2, o desmatamento causa

outros problemas ambientais, reduzindo a biodiversidade e o equilíbrio ambiental.

Grande parte das matas de todo o mundo já foram destruídas, principalmente em

regiões onde o processo de degradação iniciou-se primeiro, como nos países mais

desenvolvidos. A maior parte das matas remanescentes está localizada em países

subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como nos países tropicais. No Brasil, o

desmatamento, aliado às queimadas, são um grande problema ambiental. Entre 1978 e 1994 a

área desmatada na região amazônica passou de 78 mil Km2 para 470 mil Km

2. Nesse período

foram devastadas 12% da área florestal original.

A situação do cerrado e da caatinga também são graves – em torno de 40% do cerrado

já foi desmatado, e a tendência é de aumento dessa proporção, em função do aumento das

fronteiras agrícolas e agropecuárias. Quanto à caatinga, a área foi reduzida em 47%.

A situação mais grave, no Brasil, é da Mata Atlântica. Originalmente esse bioma

estendia-se por 17 estados brasileiros. No passado estimava-se que sua área remanescente

representava aproximadamente 8% da área original. No entanto, alguns pesquisadores

acreditam que ela ocupa, atualmente, entre 11,6 a 16% da área original (ÉPOCA, 2011).

Porém os fragmentos da mata são pequenos, com menos de 50 ha.

Como já comentando, o desmatamento e as queimadas em florestas contribuem muito

para a emissão de CO2 para a atmosfera, mas os problemas locais podem ser ainda mais

graves, como a ameaça a biodiversidade e aos recursos hídricos.

Todos os biomas brasileiros, tais como Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Caatinga,

Cerrado, Pampas e Pantanal, possuem grande biodiversidade, que vai sendo exterminada com

as alterações dos ambientes naturais. Algumas espécies de plantas e animais podem também

sofrer com a competição exercida por espécies introduzidas nessas regiões, o que vem

causando grande perda à biodiversidade local.

Uma região com florestas apresenta uma qualidade ambiental superior, pois as plantas

protegem as nascentes dos rios, realizam a ciclagem de nutrientes, e mantém o clima local

estável. As plantas apresentam elevada transpiração, que é o processo de perda de água para

atmosfera para dissipação do calor (com objetivo semelhante da transpiração de uma pessoa).

Esse processo aumenta a umidade relativa do ar. Sendo assim, os locais com florestas

apresentam menor oscilação de temperatura (dias mais quentes e noites mais frias,

característico de climas secos, como a caatinga), pois a água presente no ar funciona como um

regulador térmico.

Com o aumento da umidade do ar, ocorre maior índice de precipitação (chuva). Desse

modo, com o processo de desmatamento podem ocorrer alterações climáticas em toda uma

região, com redução da umidade relativa do ar, maior período de estiagem e aumento das

temperaturas diurnas, tornando a região menos produtiva do ponto de vista biológico. A

vegetação é tão importante para a regulação térmica que até mesmo uma região com cultivo

agrícola, como a cana-de-açúcar, pode proporcionar a redução das temperaturas (LOARIE et

al., 2011).

49

Em algumas regiões do país é possível observar a degradação ambiental, como na

região da Mata Atlântica no estado de Minas Gerais, onde a criação de gado bovino persistiu

durante anos, causando a degradação do solo. Nesses casos, a pastagem torna-se improdutiva,

pois essas áreas tornam-se pobres em biodiversidade e o processo de erosão do solo causa o

assoreamento dos cursos hídricos.

18226 18265

22652

25396

27772

19014

14286

1145112911

7464

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fonte: PRODES/INPE, 2010

Figura 07. Desmatamento da Amazônia legal (km2 por ano).

Destruição da camada de ozônio

A camada de ozônio é uma camada de gás existente na estratosfera, entre 20 e 40

quilômetros de altitude, que funciona como um filtro que protege a Terra da radiação

ultravioleta emitida pelo sol. As emissões de certas substâncias como os clorofluorcarbonetos

(CFCs), podem deteriorar a camada de ozônio. Em alguns locais da atmosfera, a redução na

concentração deste gás é maior, formando os chamados “buracos de ozônio”, sendo o maior

deles encontrado no pólo sul. A redução da camada de ozônio permite que a radiação

ultravioleta chegue à superfície da Terra com maior intensidade e provoque danos à saúde do

homem e ao meio ambiente. A falta de uma proteção natural contra os raios ultravioletas

causa problemas como câncer de pele e doenças oculares (como a catarata) ao ser humano.

No meio ambiente, pode haver a extinção de espécies de plantas e outros organismos que não

toleram o excesso desse tipo de irradiação. De modo geral, há menor eficiência fotossintética

das plantas e, consequentemente, menor produtividade, culminando em menor suprimento

alimentar na cadeia alimentar, o que leva a grandes danos no ecossistema natural.

O cloro presente nos compostos de clorofluorcarbonetos CFC (Cl2F2C) é identificado

como o principal poluente responsável pela redução da camada de ozônio. O CFC é utilizado

em algumas espécies de sprays, espuma de plástico, formas e bandejas de plástico poroso,

chips de computadores e solventes utilizados pela indústria eletrônica. No passado, as

principais fontes de emissão desse poluente na atmosfera eram aparelhos de refrigeração,

como geladeira e ar condicionado. No entanto, foi proibida a utilização desse gás no Brasil e

em grande parte dos países do mundo, reduzindo de forma significativa a liberação do CFC

para a atmosfera.

50

O Brasil é a quinta nação que mais diminuiu o uso dos CFCs (clorofluorcarbonos) no

período de 1995 a 2005, devido à influência do Protocolo de Montreal, que definiu metas para

redução de gases que destroem a camada de ozônio do planeta. Entre 1995 e 2005, o país

cortou suas emissões em 9.928 toneladas de Potencial Destruidor de Ozônio, unidade usada

para mensurar os possíveis danos à camada que protege a Terra contra radiações solares. O

volume de emissão reduzido só é inferior ao da China, EUA, Japão e Rússia (PNUD, 2007).

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

China EUA Brasil

1995

2005

(Fonte: PNUD, 2007)

Figura 08. Uso do CFC, em toneladas de potencial destruidor de ozônio.

O CFC liberado na superfície da Terra sobe na atmosfera e sofre decomposição

fotoquímica, libera o átomo de cloro, que reage com o O3, resumidamente, assim:

1ª reação: Cl + O3 → ClO + O2

2ª reação: ClO + [O] → O2 + Cl

Percebe-se que na segunda reação o átomo de Cl está novamente livre para continuar a

reagir com moléculas de O3. Sendo assim, uma molécula de cloro tem a capacidade de

destruir grande quantidade de moléculas de CO3.

Na alta atmosfera, o ozônio age protegendo-nos. Mas, na baixa atmosfera, o que

ocorre é bem diferente. A presença do O3 próximo à superfície terrestre é prejudicial, pois o

gás é considerado um sério poluente atmosférico. Por ser um forte oxidante, o O3, quando

inalado continuamente, provoca irritações nas mucosas, especialmente nos olhos, além de

poder causar danos irreversíveis às vias respiratórias.

O mais incrível é que os cidadãos são co-responsáveis pela formação do O3. Indústrias

e veículos poluem o ar com óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos que, com a ação da luz

solar, produzem o ozônio, como na reação:

NO2 + O2 → O3 + NO

A produção de O3 na superfície da terra causa sério impacto ambiental, tanto para

animais, quanto para vegetais. Dessa forma, tanto a destruição da camada de O3 da atmosfera,

quanto a produção desse gás na superfície do solo causam danos ao meio ambiente.

51

Todas as pessoas podem contribuir para a minimização da poluição do ar que

intensifica, principalmente, o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio, com ações

práticas e simples, tais como:

evitar incêndios;

não queimar resíduos sólidos nem resíduos perigosos;

utilizar equipamentos de redução de emissões nos automóveis e nas indústrias,

mantendo o automóvel regulado;

preservar e/ou implantar vegetação nativa;

utilizar combustíveis que geram menor poluição, como o etanol ao invés da

gasolina;

manter carros regulados, com filtro no escapamento;

exigir que as empresas utilizem fontes de energia renovável;

utilizar produtos e equipamentos com tecnologias menos poluentes (como ar

condicionado, geladeira, carro a álcool entre outros).

Lixo urbano

O homem produz uma série de resíduos líquidos, pastosos e sólidos que são

desprezados e lançados no meio ambiente, causando a contaminação das águas, ar, solo

paisagem, fauna e flora.

O lixo produzido, principalmente, nas grandes cidades, causa grande problema no

desequilíbrio desse ambiente, pois é uma fonte de proliferação de organismos patogênicos e

de ratos e baratas, que são transmissores de doenças, além de poluir diretamente as águas e o

ar, dependendo das características de cada resíduo.

Atualmente, o lixo sólido causa outros problemas nas grandes cidades, pois a má

alocação desse material pode causar entupimento de canais de água e esgoto, obstruindo a

passagem da água e, consequentemente, aumentando os problemas de inundações das cidades,

fato que ocorre constantemente nas grandes centros urbanos de nosso país.

A questão do lixo doméstico também é uma problemática vivida na maioria das

grandes cidades, pois a concentração humana é muito elevada e, geralmente, os programas de

coletas do lixo são insuficientes. No entanto, o que mais intensifica essa problemática é o

descaso dos cidadãos, que lançam os resíduos nas ruas e calçadas, sem a preocupação com os

danos ambientais.

Para reduzir os danos causados por esses resíduos, a melhor alternativa é reduzir a

produção do lixo. Também é possível conscientizar as pessoas, utilizando produtos com

menos embalagens ou embalagens retornáveis (como garrafas de vidro), evitando utilizar

sacolas plásticas, aproveitando ao máximo os alimentos com planejamento doméstico para

não haver desperdício e, consequentemente, não gerando resíduos em excesso.

Outra alternativa para a questão do lixo é dar o melhor destino a esses resíduos, como

a compostagem para os produtos orgânicos, que posteriormente podem ser utilizados na

agricultura, e a reciclagem para produtos não orgânicos, formando novos produtos a partir dos

resíduos. A grande maioria dos municípios do Brasil não faz a destinação correta do lixo -

apenas 14% possuem aterro sanitário para destinação dos resíduos que não podem ser

52

reciclados. Em 64% dos municípios todo o lixo produzido é jogado em terrenos que não

passam por nenhum tipo de controle, formando os chamados lixões (IBGE, 2000), que

contaminam o solo e a água, além de representar risco à saúde.

Quando o lixo é simplesmente descartado sobre o solo sem nenhuma medida de

proteção ao meio ambiente, ele tende a formar um líquido escuro (chorume), malcheiroso e

altamente poluente que contamina a água e o solo. O ar também é contaminado pelo odor ou

pela fumaça que se produz quando o lixo é queimado. Além disso, o acúmulo de resíduos

serve de alimento e abrigo para animais como ratos, moscas, mosquitos, baratas e urubus,

transmissores de doenças graves.

Quando depositado em local inadequado, o lixo traz inúmeros prejuízos para a

sociedade, como por exemplo:

mortandade de animais silvestres – muitos animais morrem ao ingerir sacos plásticos e

outros materiais. Outros são contaminados por resíduos jogados nas margens e nas

águas dos rios;

inundações – o lixo jogado nas ruas e estradas entope os bueiros e, quando chove,

pode provocar inundações e erosão, devido ao desvio do caminho natural da água;

doenças – os depósitos de lixo a céu aberto são locais de alimentação e reprodução de

animais que transmitem graves doenças, como leptospirose, cólera, disenteria,

verminoses e dengue;

mau cheiro – no esgoto sem tratamento, os resíduos orgânicos entram em

decomposição, liberando um odor característico;

degradação da paisagem – além de ser um risco para a saúde, o lixo causa aspecto

ruim de desleixo e degradação, deixando mais feios e sujos os lugares onde vivemos e

por onde passamos;

contaminação das águas – o esgoto lançado nas águas sem tratamento provoca a

contaminação e torna a água imprópria para o consumo (humano ou animal), e para a

vida dos peixes e outros animais;

problemas sociais – os depósitos de lixo a céu aberto estimulam a sobrevivência de

famílias em condições subumanas.

Diariamente, uma grande quantidade de lixo é gerada e descartada, mas a absorção

desses resíduos pelo meio ambiente ocorre de forma lenta, pois os produtos gerados pelo

homem não são comuns no meio natural, não existindo microrganismos com a capacidade de

degradá-los rapidamente.

Alguns materiais demoram muitos anos para se decompor, o que ocorre pela ação dos

fungos e bactérias e pela ação física do tempo. Veja o tempo de decomposição de alguns deles

no Quadro 02.

A melhor maneira para amenizar os problemas ambientais gerados pelo lixo não é

somente melhorar a destinação desse material, reutilizando os produtos recicláveis, mas

também reduzir a geração desse material. Com isso, é possível alcançar o desenvolvimento

sustentável, com eficiência na produção e alterações nos padrões de consumo, otimizando o

uso dos recursos e minimizando a geração de resíduos.

53

Quadro 02. Estimativa de tempo para a decomposição de alguns materiais

Material Composição Tempo aproximado de decomposição

Madeira Lignina e celulose Um fósforo – seis meses

Papel Celulose e aditivos químicos Três meses em local úmido

Plástico Derivado do petróleo Depende do tipo. Pode ser de

100 anos ou mais

Vidro Areia, cal e sódio Indeterminado, mais de 4.000 anos – dura para sempre

Metal Rochas minerais

Depende do tipo de metal. O Alumínio é indeterminado –

dura para sempre. As latas feitas de aço enferrujam e se

desintegram em cerca de 10 anos.

Pneus Borracha Indeterminado – dura para sempre

Orgânicos Matéria orgânica Cerca de 6 meses

No mundo em desenvolvimento, vários fatores contribuem para o surgimento e

agravamento dos problemas ambientais, com destaque para o crescimento populacional, a

industrialização, a urbanização acelerada, a poluição, o esgotamento dos recursos naturais e o

consumismo. A propaganda e a publicidade fazem desejar coisas que, em muitos casos, não

são necessárias. No supermercado, por exemplo, existe um mosaico de cores, tentações,

ofertas e truques que impulsionam poderosamente as pessoas a comprar aquilo que não

precisam. As embalagens dos produtos também servem para ajudar a vender e, apesar de

práticas e bonitas, trazem um grave problema: o volume de lixo.

Produtos como plásticos, garrafas PET (polietileno tereftalato), embalagens de

papelão, sacolas plásticas, bandejas de isopor, alumínio, entre outros são descartáveis,

utilizados uma única vez e depois inutilizados. Esses materiais são os que geram maior

volume do lixo sólido urbano.

Todos devem parar e refletir sobre as práticas do dia-a-dia. De que forma elas

interferem no meio ambiente? O que é possível fazer para gerar menos lixo? Você é

convidado a rever comportamentos e reavaliar, do ponto de vista ambiental, como pode

contribuir para a preservação da vida no planeta.

Agrotóxicos

Os agrotóxicos são os produtos tóxicos utilizados na agricultura. Os mais comumente

utilizados são os herbicidas, que controlam plantas; os inseticidas, que controlam insetos; os

fungicidas, que controlam doenças causadas por fungos; e os acaricidas, que controlam

ácaros.

Alguns herbicidas possuem grande longevidade no solo, podendo permanecer por anos

causando efeito nas plantas. O metryn, herbicida utilizado em cana-de-açúcar em solo

arenoso, foi encontrado no solo 198 dias após a aplicação, distribuídos em até 20 cm de

profundidade (VIVIAN et al., 2006). Em trabalho com isótopo de carbono (14

C), foi

encontrado resíduo de atrazine e de seu metabolito 22 anos após a última aplicação, em

maiores concentrações na maior profundidade do perfil do solo (JABLONOWSKI et al.,

2009), comprovando a possibilidade destes compostos permanecerem longo período no

ambiente, podendo ser lixiviado, atingindo o lençol freático com o passar do tempo.

54

Além da lixiviação dos herbicidas pelo perfil do solo, o escorrimento superficial da

água no solo é um dos fatores que mais carreiam os herbicidas das lavouras para os cursos

hídricos como rios (CORREIA & LANGENBACH, 2006).

O uso de herbicidas por longo períodos em uma mesma área levam a redução

significativa das populações de alguma espécies de plantas, reduzindo a diversidade de

espécies nativas no ambiente (GOVE et al., 2007), reduzindo a riqueza genética destas

populações. Os efeitos de redução da biodiversidade é um dos aspectos importantes do uso de

agrotóxicos na agricultura. No entanto, os estudos científicos nesta área são escassos.

Os agrotóxicos quando presentes no solo podem causar alterações nas populações dos

microrganismos e na atividade destes (REIS et al. 2008), bem como na atividade de algumas

enzimas do solo (TEJADA, 2009). O quociente metabólico (qCO2) é considerado um dos

melhores indicadores do estresse microbiano, e representa atividade respiratória dos

microrganismos do solo por unidade de biomassa. Esta variável apresentou grande elevação

na presença de ametryn, demonstrando menor eficiência dos microrganismos de utilizar os

recursos do ambiente.

Dentre os agrotóxicos, os inseticidas causam grande impacto ambiental, pois

intoxicam insetos, que podem ser benéficos para as culturas agrícolas (como os

polinizadores). Esses produtos aumentam o desequilíbrio ambiental pela eliminação dos

inimigos naturais aumentando, assim, a possibilidade de ataque de pragas.

Com a utilização constante de algumas moléculas químicas, há o surgimento da

resistência de algumas plantas e insetos a esses compostos (que por sua vez passam a não

fazer mais efeito), havendo a necessidade de aumentar as doses, causando maior impacto

ambiental.

O método mais amplamente utilizado no Brasil para o controle de pragas é a aplicação

de inseticidas químicos de largo espectro. Este método provoca uma mortalidade em cadeia

das espécies presentes na área, afetando, direta ou indiretamente, organismos atuando em

diferentes níveis tróficos e de outros componentes do ecossistema, incluindo a microbiota e

outros organismos do solo. Isto provoca uma alteração nas interações entre as espécies,

levando ao rompimento de cadeias tróficas e impossibilitando o controle biológico natural

(BARBOSA, 1998).

Riscos e alternativas para o uso de agrotóxicos

Por muito tempo, a humanidade realizou o cultivo agrícola sem utilização de

agrotóxicos, sem ocorrer grandes prejuízos para a agricultura. Com o passar do tempo, a

produtividade de alimento teve que aumentar. Para o aumento da produtividade, foram sendo

melhoradas geneticamente as culturas, ocorrendo a redução da resistência das plantas ao

ataque de doenças e insetos, bem como a menor habilidade competitiva dessas com as plantas

daninhas.

Ao longo do tempo, foram sendo criadas novas moléculas desses produtos, alguns com

maior especificidade (isso é, causando danos somente para os organismos alvos). No entanto,

a grande maioria dos agrotóxicos utilizados é de amplo espectro, que controlam grande

quantidade de indivíduos, inclusive organismos benéficos - como as abelhas, que são

intoxicadas por inseticidas.

55

Alguns produtos tóxicos foram e estão sendo proibidos no Brasil. Um dos casos é os

organoclorados, que foram muito utilizados no passado, mas foram proibidos porque são

produtos que se acumulam nos organismos, aumentando sua concentração até causar a morte.

Esse produto passava pela cadeia alimentar, causando o acúmulo nos organismos do topo das

cadeias, causando um “efeito dominó”.

Os mesmos produtos utilizados na agricultura muitas vezes são utilizados nas

residências, como é o caso dos produtos para desinsetização de casas e galpões. Os produtos

utilizados para matar baratas, moscas e mosquitos nas residências geralmente são do grupo

dos piretróides, inseticidas de grande toxidade, que muitas vezes são utilizados diariamente

nas residências.

Mesmo os produtos mais modernos causam danos à saúde humana e ao meio

ambiente, com o desequilíbrio ambiental. Para fazer uso desses produtos, devem ser seguidas

as recomendações do Ministério da Agricultura, órgão de regulamentação oficial no Brasil.

Para manipulação e aplicação desses produtos, devem-se utilizar os equipamentos de proteção

individual (EPI) e respeitar os períodos de carências dos produtos. Os maiores problemas de

intoxicação de agrotóxicos são devido ao uso inadequado desses produtos, como a aplicação

em locais, condições e equipamentos inadequados.

Outro grande problema é a contaminação dos alimentos pelos agrotóxicos, devido ao

uso inadequado dos produtos - como utilização em culturas não recomendadas, com doses

maiores do que às recomendadas e o não cumprimento do período de carência após a

aplicação (Tabela 02). Muitas vezes, por falta de conhecimentos, os produtores não tomam

cuidado para evitar a contaminação dos alimentos. Um estudo realizado pela Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e iniciado em 2001, mostra que muitos dos

alimentos que consumimos normalmente estão contaminados (Tabela 02).

A contaminação por agrotóxicos e outros produtos químicos pode não apresentar

sintomas imediatos no ser humano. No entanto, essa contaminação pode causar outros

problemas como o aborto, má formação de fetos, câncer, doenças psíquicas, entre outras.

Tabela 02. Contaminação de alimentos por agrotóxicos

Produto NA > LMA > LMR e NA Total de

insatisfatório

Abacaxi 28,3 10,3 5,5 44,1

Alface 37,7 0,0 0,7 38,4

Arroz 26,5 0,0 0,6 27,2

Couve 32,6 6,2 5,4 44,2

Mamão 21,2 12,9 4,7 38,8

Morango 38,3 8,6 3,9 50,8

Pimentão 64,8 3,0 12,1 80,0

Uva 35,2 8,5 12,7 56,4

(1) NA: não autorizado para a cultura; (2) >LMR: acima do limite máximo de resíduo; (3) >LMR e NA: acima

do LMR e não recomendado para a cultura; (1+2+3): soma de todos os resultados insatisfatórios.

São poucas as alternativas para a redução do uso de agrotóxicos nas lavouras que

ocupam grandes áreas, pois, para obtenção de grande produtividade que justifique os

investimentos, não pode haver perdas causada por insetos, doenças ou plantas daninhas.

56

A agricultura agroecológica é uma das linhas agrícolas que promove a produção sem a

utilização de agrotóxicos. Além disso, esse modelo de agricultura possui outras

características, como a responsabilidade social. No entanto, a agricultura agroecológica ainda

é mais comum em produção de baixa escala, mas a tendência é a geração de técnicas para

implementar esse modelo para os grandes produtores.

Na agroecologia com a não utilização de agrotóxicos são sugeridas algumas

alternativas para o manejo dos insetos, doenças e plantas competidoras, tendo em vista o

equilíbrio ambiental. No entanto, a agricultura convencional, com cultivo de grandes áreas, é

difícil de aplicar tais conceitos na prática.

O recomendado é a redução do uso desses produtos, lançando mão de outras técnicas

para manejar as pragas, doenças e plantas daninhas, e fazer o uso de agrotóxicos somente em

situações de extrema necessidade. Para menor impacto ambiental na utilização desses

produtos, podem ser utilizadas substâncias de menor toxidade, que causam menor impacto ao

meio ambiente e ao homem.

O manuseio de agrotóxicos deve ser realizado sempre utilizando equipamentos

adequados e o EPI (marcara, viseira, botas, luvas, e vestimentas impermeáveis), tendo o

cuidado para que o homem não entre em contato com os produtos químicos. Outros cuidados

importantes devem atentar para que as substâncias não sejam lançadas para os locais não alvo,

estando atento ainda as dosagens e aos períodos de carência, à entrada de pessoas na área e à

realização da colheita.

As embalagens dos agrotóxicos, após uso, devem ser devolvidas nos locais onde foi

realizada a compra dos produtos. Desse modo, terão um destino mais apropriado e não

acumularão no meio ambiente.

57

PLANEJAMENTO INTEGRADO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As aulas de educação ambiental devem abordar assuntos diversos, levando em conta

as várias ciências e aspectos que envolvem os temas ambientais, como as implicações sociais,

técnicas, religiosas, entre outras que influenciam na destruição ou preservação do meio

ambiente.

Deve-se desmistificar a neutralidade científica, e o professor não deve restringir-se

meramente a transmissão dos conteúdos, sem que os alunos tenham uma vinculação ao

contexto em que é estudado (ROSADO & CAVATTE, 2008).

As questões ambientais são exigências constitucionais e é um assunto de interesse a

toda a comunidade, que preocupa todos os habitantes do planeta. A população deve tomar

conhecimento e desenvolver ações para sanar ou, pelo menos, amenizar tais problemas

ambientais.

As questões ambientais são de caráter dinâmico e muitas vezes desconhecido. Por isso,

a aplicação da educação ambiental deve ser dinâmica, não seguindo padrões tradicionais. O

objetivo é desenvolver a consciência das interações harmônicas entre o homem e a natureza,

com a aplicação da consciência ecológica, que muitas vezes é difusa e distanciada da prática

social e dos problemas locais.

Independente do nível de generalidade que se pretende atingir, convém partir da

discussão de problemas concretos ligados ao dia-a-dia dos alunos e de suas comunidades, tais

como: o uso de agrotóxicos, as vantagens e desvantagens na implantação de determinada

indústria, a deterioração do meio ambiente e os riscos para a saúde com o crescimento de

comunidades sem alguns critérios de organização (como deficiências no saneamento básico e

distribuição de água).

A maioria das ações que causam impacto ambiental também apresenta pontos

positivos - o difícil é quantificar se os pontos positivos de uma determinada ação, como a

implantação de uma indústria, são mais importantes do que as consequências negativas

causadas por essa ação. Esse é um assunto que pode ser debatido em sala de aula, onde pode

ser levantada uma situação conhecida pelos alunos.

Para estimular o raciocínio e o poder de argumentação dos alunos, pode-se

desenvolver dinâmicas referentes aos temas ambientais. Por exemplo: a avaliação da

viabilidade da implantação de um empreendimento impactante na região onde os alunos

residem. Para isso, pode ser realizada a seguinte dinâmica:

1) dividir a turma em dois grupos;

2) primeiramente, um dos grupos defende a implantação do empreendimento, levantando

os pontos positivos; e o outro defende a não implantação;

3) posteriormente faz-se a inversão - o grupo que era a favor da implantação do

empreendimento passa a ser contra, e vice e versa;

4) no final da dinâmica todos se juntam e descrevem os pontos positivos e negativos da

implantação de tal empreendimento.

A grande maioria dos empreendimentos e ações que causam a degradação ambiental

pode trazer alguns pontos positivos. Como exemplo, podemos perceber na Tabela 03 as

vantagens e desvantagens da implantação de uma usina termoelétrica, que gera calor

58

queimando um combustível (este é um empreendimento considerado de grande impacto

ambiental).

Tabela 03. Algumas vantagens e desvantagens da implantação de uma termoelétrica

Vantagens Desvantagens

- Geração de energia elétrica, que possibilita maior

progresso para uma região

- Pode ser construídas junto ao mercado consumidor,

reduzindo custos, perdas de energia e impacto

ambiental causado pelas linhas de transmissão

- Pode utilizar biomassa vegetal para geração de

energia elétrica, que causa menor impacto ambiental

do que a utilização de combustíveis derivados do

petróleo

- Geração de empregos

- Geração de renda para produtores de biomassa,

como lenha

- Dependendo do combustível, pode ter custo

elevado

- Poluição do ar, agravando o efeito estufa e o

aquecimento das águas

- Impacto da construção de estradas para o

abastecimento de combustível da usina

- Chuva ácida, dependendo do combustível utilizado

- Estímulo para implantação de monocultivo para

geração de biomassa, com exploração inadequada do

solo

- Poluição das águas, pois envolve água aquecida

para o meio ambiente

Essas vantagens ou desvantagens dependem do tipo de investimento e, principalmente,

de outras características, tais como a necessidade para a comunidade, local de implantação, se

está próximo a cursos hídricos, a centros urbanos e reservas florestais.

A discussão de problemas que são imediatos deve proporcionar também o debate

sobre temas polêmicos, como o uso de recursos naturais e sua relação com o desenvolvimento

econômico, o consumismo e sua relação com a qualidade de vida. Esses assuntos causam

grande discussão, pois as opiniões são completamente distintas, devido às diferentes formas

de interpretar o desenvolvimento econômico e/ou a própria qualidade de vida.

Os alunos devem criar a consciência sobre as consequências ambientais de

determinadas ações, e sobre seu papel e responsabilidade social enquanto cidadãos para

preservar os recursos naturais, essenciais para o desenvolvimento humano.

A aprendizagem é um processo contínuo de adaptação. Com a utilização de exemplos

vivenciados pelos próprios aprendizes, é possível melhorar o processo ensino-aprendizagem e

tornar evidentes as ações que esses indivíduos podem desenvolver para reduzir a agressão ou

melhorar o ambiente onde vivem.

O fato da educação ambiental requerer uma abordagem interdisciplinar é justificado

pelo fato do meio ambiente ser um sistema complexo, formado pela interação de diversos

sistemas e organismos. Sendo assim, devem ser criadas estratégias de ensino que sejam

capazes de fazer com que os estudantes vejam, sintam e conheçam os processos naturais de

forma integrada, como se manifestam na realidade. A aprendizagem deverá, portanto, ser

ativa, em grupo e com sentido interpretativo (ROSADO & CAVANTTE, 2008).

Acredita-se que o método da redescoberta da natureza é um caminho seguro para a

aprendizagem na educação ambiental, que consiste na ação de levar os estudantes para

interagir com a natureza. Dessa forma, pode-se aguçar todos os sentidos dos mesmos,

aumentando seu interesse, fazendo com que construam seu próprio conhecimento, podendo

surgir novas ideias, discussão e alternativas. Essas atividades podem ser realizadas em visitas

a parques naturais, áreas de preservação permanente de mata, entre outros locais preservados

da ação do homem.

59

É importante mostrar aos estudantes as consequências das atividades humanas no meio

ambiente, como a poluição de um curso hídrico causada pelo esgoto ou pelos descartes de

resíduos de uma indústria, a erosão do solo causado pelo seu mau uso, os problemas da má

destinação do lixo sólido dos centros urbanos, entre uma infinidade de problemas que podem

ser mostrados e discutidos com os estudantes.

A problemática do lixo sólido urbano é um dos melhores exemplos a serem

trabalhados, pois há facilidade de acesso à informação (considerando que a grande maioria

dos municípios possuem lixões onde o lixo é depositado, e nesses locais pode-se observar os

danos que esse material pode causar ao meio ambiente, com a degradação do solo, produção

de chorume, liberação de odor e procriação de insetos, ratos entre outros animais). Nesses

locais é fácil perceber os problemas sociais, pois geralmente, são encontradas pessoas que

sobrevivem da exploração do lixo, vivendo em condições subumanas, expostas a riscos

diariamente.

Porém, é importante mostrar aos alunos alguns exemplos de ações que protegem o

meio ambiente - como um aterro sanitário que, ao contrário do lixão, é a maneira correta de

destinar o lixo sólido urbano. É interessante mostrar na prática algumas ações que respeitam o

meio ambiente, como a proteção da mata ciliar, citando as funções ambientais desses locais, a

atividade da agroecologia na produção de alimentos com o mínimo de agressão à natureza, e

outras ações que estimulem a sustentabilidade ambiental.

Fonte: alta floresta news e Secretaria de Educação de Parauapebas.

Figura 09. Aulas práticas onde os alunos tem contato com a natureza (esquerda) e com os

problemas do lixo sólido urbano (direita).

Sendo assim, para o desenvolvimento da consciência ambiental, os indivíduos devem

conhecer os problemas e visualizá-los na prática, sendo necessária a realização de atividades

ao ar livre, visitas técnicas e excursões, entre outras atividades que possam estimular e

demonstrar aos estudantes que eles fazem parte daquele contexto, e que são peças

fundamentais para que as mudanças ocorram.

A partir da familiarização com o meio ambiente, o educador estimulará não apenas a

observação, mas também a busca de novas informações, registros e discussões sobre as

descobertas e criação do senso crítico. Através de um maior contato com a natureza, os

indivíduos podem visualizar a variabilidade natural e as interações que ocorrem no meio,

entendendo as problemáticas que podem ser geradas com a agressão ao meio ambiente.

60

Abordagem da educação ambiental

Para o ensino dos temas ambientais é importante que se parta de um assunto

significativo para os alunos. Um acontecimento atual e palpitante que desperte o interesse ou

indignação das famílias e da comunidade, em geral, desperta o interesse dos alunos.

Deve ser permitido o uso de formas diversas de expressão, desde o tradicional desenho

ou colagem, até a confecção de maquetes, dramatizações, músicas, danças entre outros,

lembrando de celebrar a conclusão dos trabalhos executados com festa, comemoração,

exposição ou feira, convidando professores, pais, amigos e funcionários para apreciar os

produtos. Devem-se trabalhar as questões ambientais sempre que possível de forma lúdica,

ativa e transformadora, abordando-as do ponto de vista da natureza, da cultura, da ciência e da

ética.

O trabalho com oficinas promove a superação de modelos fragmentados de

conhecimento, e a aprendizagem é exercitada pelo fazer das oficinas que, na sua totalidade,

discutem o mesmo tema em manifestações concretas diferenciadas. Nas oficinas é possível

trabalhar com arte, reciclagem, atividades de palavra, texto entre outros, formulando paralelos

entre os ciclos biológicos e história, entre biodiversidade ambiental e diversidade cultural,

entre transformação natural e intervenção humana nos ambientes, por exemplo. Um ponto

importante é a relação do comportamento cultural, social e econômico com a natureza,

estabelecendo quais as contribuições da natureza em nosso estilo de vida, e quais os danos

causados pelos mais diversos hábitos e costumes ao meio ambiente.

Um caso que, infelizmente, vem se tornando comum na periferia urbana, por exemplo,

são os deslizamentos de encostas por ausência de vegetação durante o período de chuvas.

Neste caso, o objetivo do estudo é a conscientização dos alunos e da comunidade sobre a

importância da preservação da vegetação nativa nas encostas para a minoração dos riscos de

deslizamento em seu local de moradia. É possível fazer correlações dos problemas sociais,

políticos, geográficos da ocupação do espaço com a problemática ambiental.

Nesses casos, podem ser desenvolvidas ações práticas junto com alunos, como o

plantio de árvores nos locais críticos, sendo explicadas as funções desses vegetais quando

presentes nas encostas. Tais atividades podem promover um maior contato dos estudantes

com a natureza, e desenvolver a convicção de que eles podem fazer alguma coisa para reduzir

os problemas ambientais.

61

Fonte: SOS rios do Brasil

Figura 10. Plantio de árvore por alunos, ação que promove a convicção que esses podem

atuar na proteção do meio ambiente.

Assuntos diversificados também podem ser trabalhados, mobilizando a comunidade

escolar para o exercício da cidadania, aproveitando datas e acontecimentos marcantes na

sociedade, como eleições, greves, festejos públicos e outros eventos que alterem a rotina

diária. Isso integra o aluno ao ambiente em que vive, despertando sua atenção para

compreender melhor o cotidiano, desenvolve o respeito pela natureza, incentivando práticas

como o cultivo de hortas e jardins, e mostrar a importância da coleta seletiva de lixo e

identificar as diferentes formas de aproveitamento e reciclagem são ótimas estratégias. O

objetivo final da educação ambiental nas escolas é que o aluno se transforme em agente

multiplicador, disseminando os conhecimentos adquiridos entre seus familiares, amigos e

vizinhos.

O ensino da educação ambiental deve ser dinâmico: ao ministrar uma aula, o professor

deve utilizar um método de ensino que sensibilize o aluno, como por meio da arte utilizando

desenho ou a dramatização. Ao elaborar e desenvolver um projeto educacional é

recomendável o uso de vários métodos e técnicas, soltando a imaginação: quantos métodos e

técnicas conhecem? Quantos já utilizaram? Quantos já viram aplicados com bons resultados?

Adapte-os ao seu estilo!

A interdisciplinaridade

Como já comentado, a educação ambiental deve ser trabalhada de forma

interdisciplinar, envolvendo as mais variadas disciplinas do ensino na questão ambiental.

Nesse processo de ensino podem ser trabalhados outros métodos, como a realização de

palestras, debates, exibição de vídeos, visitas a locais que sejam exemplo de preservação ou

de impacto ambiental, elaboração de textos, criação de desenhos, instalação de horta ou

jardim, coleta seletiva do lixo e reciclagem.

Os temas ambientais podem ser abordados nas mais diversas disciplinas do ensino

fundamental ou médio. Algumas disciplinas podem contribuir para a questão ambiental assim:

Português – podem ser realizadas leitura e interpretação de textos com ênfase em

informar, observar, comparar e compreender; produção de tipos diversos de textos,

com ênfase na estruturação de frases e organização de conteúdo; assimilação da

62

função social do texto; habilidade verbal, com ênfase em conversas, entrevistas,

reprodução de notícias, elaboração de perguntas, reflexão e compreensão.

História - possibilita que o aluno identifique-se como parte integrante da comunidade,

levando-o a participar dos acontecimentos significativos. É possível capacitá-lo para

melhor compreensão da função dos noticiários, da imprensa, etc.; compreendendo que

a população modifica a paisagem natural e que os fenômenos da natureza modificam

as rotinas da população; conhecendo e fazendo uso dos meios de informação e

comunicação; conhecendo alguns órgãos do serviço público, especialmente os que

atuam na área ambiental, assim como suas atribuições.

Biologia - trabalhar o ciclo da água e o saneamento ambiental (rios, enchentes, lixo

entre outros); incentivar a reflexão diante de situações-problema; tomar decisões com

hipóteses de causa-efeito, prevenção, solução à saúde, às doenças e a sua transmissão

por animais, e outras causas ligadas à má conservação ambiental e que afetem a

qualidade de vida da população. Outra dica é conhecer e identificar corretamente as

plantas medicinais, visitar um herbário, coletar de forma orientada e montar um

canteiro de plantas medicinais etc.

Geografia – essa área também tem papel fundamental na complementação das

informações do contexto ambiental, podendo correlacionar a ocupação humana como

o aumento da população com a degradação ambiental. Nesse sentido, a Matemática

também estabelece interessantes relações entre números, causas e efeitos dos

problemas ambientais.

Estudo das Artes – as atividades artísticas podem ser importantes formas de

expressão do resultado do aprendizado. Dessa maneira, todas as disciplinas podem

trabalhar o tema transversal meio ambiente interdisciplinarmente, contribuindo para

uma melhor compreensão da problemática ambiental e para mudanças

comportamentais, viabilizando assim os objetivos maiores e a filosofia da Educação

Ambiental.

63

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O aprendizado da educação ambiental deve enfatizar ações práticas do cotidiano dos

estudantes, para a construção de educação significativa e formação de atores que possam,

atuando nas sociedades, colaborar com as causas sociais e ambientais. Utilizando as

informações sobre o meio em que estamos inseridos, se melhora a compreensão dos

conhecimentos sistemáticos. Como já comentado nos capítulos anteriores, deve-se possibilitar

oportunidades para os alunos interagirem com a natureza, para conhecê-la e apreciá-la,

aumentando o vínculo entre as pessoas e o meio natural.

Com o conhecimento do meio natural fica mais fácil, por parte dos alunos, de

compreender os processos naturais e sua importância para a manutenção do equilíbrio

ambiental. Nesse processo de estudo, deve-se estudar a descrição de como se formam as

concepções pessoais e como elas se alteram em relação ao meio ambiente, na finalidade de

intervir em sua transformação.

Leff (2003) retrata a aprendizagem ambiental como um saber pedagógico, analítico e

interpretativo para os processos de elaboração de sentidos comuns e conhecimentos públicos,

sobre a sustentabilidade ecológica, social, cultural e econômica do planeta. Deve ser um saber

prático, que deve criar estratégias e ações de ensino-aprendizagem em âmbitos sociais

distintos, ou seja, dentro e fora da escola, tendo a mediação cultural de educadores que

sistematizam os saberes no contexto das relações de aprendizagem e da instituição que as

promove.

Conforme Dorst (1973), é necessário e urgente reconciliar o homem com a natureza,

persuadi-lo a assinar um novo pacto com ela, pois ele será o primeiro beneficiado. Dentro

desta ótica, a educação ambiental nos prepara basicamente para compreender o processo

humanitário e educacional que nos prepara e qualifica como “sujeitos” do seu próprio destino.

Assim, é possível aprender a re-organizar os conhecimentos, buscando as soluções de

problemas comportamentais em sua existência como ser social, podendo perceber e

aperfeiçoar suas ações socioambientais para um trabalho de desenvolvimento coletivo.

A educação ambiental permite, em seus pressupostos básicos, uma nova interação que

redefine o tipo de pessoa que queremos ser e formar para os cenários futuros, onde desejamos

construir o desenvolvimento harmonioso e pleno para a humanidade, por meio de uma nova

racionalidade ambiental, direcionando a educação ambiental como um processo que afeta a

totalidade da pessoa (MEDINA & SANTOS, 1999).

Um contexto importante da educação, convergente dentro da proposta ambiental, é

que cada sujeito saiba que ele existe como importante e fundamental peça de um enorme

quebra-cabeça em movimento que é a dinâmica humana. Cada sujeito tem um valor único e

especial para o complexo conjunto de segmentos propostos pelo desenvolvimento ambiental e

educacional, podendo experimentar na vida real os valores e as práticas ambientais.

A educação ambiental é uma dimensão complexa e essencial do processo pedagógico,

estando ela situada no centro do projeto educativo de desenvolvimento do ser humano, pois

contempla a natureza e tem como base de estudo o processo de sustentabilidade e

64

entendimento do ambiente como uma realidade vital e complexa. A educação ambiental

também valoriza propostas que permeiam os conhecimentos sobre a realidade do mundo,

implementando a cooperação de metodologias e práticas cotidianas como um processo de re-

educação conjunta entre todos nós: a escola, a minha casa e o nosso planeta (LOUREIRO,

2004).

É necessário desenvolver uma visão que estabeleça e esclareça pontos de uma

educação que aborde os conhecimentos sustentáveis, que possam ser apresentados e

elaborados como uma ponte de saberes sustentáveis, onde possamos nos reconhecer como

atores e autores dessa figura que apresentamos. Assim, cada sujeito pode refletir e produzir

modelos unitários e comunitários de desenvolvimento econômico, educacional, político e

social, pensando no equilíbrio promovido pelo conjunto de conceitos e práticas ambientais.

Assim, será minimizado esse impacto que pode causar danos irreparáveis ao ambiente e que

podemos encontrar em muitos lugares do planeta, comprometendo a saúde física e mental não

só do local, mas futuramente de toda vida planetária.

Questionamentos e percepção cotidiana como metodologia

Desenvolver práticas ambientais é, sem dúvida, o primeiro passo para introduzir e

dinamizar paradigmas pedagógicos que estejam alicerçados no prazer de aprender e ensinar.

Portanto, é preciso ser e estar amplamente preparado, com recursos e formas atualizadas de

ensinar para desempenhar o significado que se deseja abordar.

Os saberes ambientais são uma constante reformulação de metas e posturas

interdisciplinares, nas quais encontram o sentido mais profundo e nítido do seu atuar. Isso

representaria uma estruturação de pensamento e de ação completamente nova, sendo esta a

proposta de uma educação que compreende as margens e os sentidos que contribuem com as

relações de responsabilidade entre sociedade-natureza.

O conhecimento ambiental é multidisciplinar, e seus agentes devem deter o

conhecimento holístico dos processos que prejudicam o meio ambiente, entendendo suas

causas e prevendo e/ou avaliando as consequências. As ações que visam a minimização dos

danos ambientais também são, geralmente, obtidas pelas integrações de várias áreas de

conhecimento. Mesmo para que haja mudanças em algumas ações comportamentais do

individuo, devem-se causar algumas alterações em sua atividade social, exigindo

conhecimento para compensar as alterações de seu cotidiano.

O cotidiano de cada pessoa pode ser utilizado como exemplo no aprendizado da

educação ambiental, pois várias ações (tanto individuais, públicas ou de empresas) podem ser

utilizadas como bons ou maus exemplos de preservação ou destruição ambiental. No

cotidiano familiar algumas práticas simples podem ser utilizadas como ferramentas para a

educação ambiental, como a destinação do lixo doméstico, as restrições do uso da água e

energia elétrica, o aproveitamento de alimentos entre outras ações simples que, se todas as

pessoas colaborassem, poderiam reduzir significativamente.

A educação ambiental conceitua os cuidados que debatem a ética, inspirando atitudes

que fundamentam a compaixão pela terra e pelos seres vivos. O bem comum é orientado pela

65

realidade, ou seja, reconhece as necessidades humanas e naturais propondo autonomia e

respeito socioambiental.

A percepção ambiental está além de compreender as metodologias e práticas ensinadas

no cotidiano da vida escolar e social. A educação ambiental é valorar, refletir os recursos

naturais, entendendo as dimensões de como mensurar o valor de um rio, de uma floresta e do

ar que respiramos.

Separação de resíduos - primeiro “passo” para a aprendizagem

Um instrumento eficaz para promover a sensibilização dos estudantes sobre a

responsabilidade ambiental é a separação de resíduos, um conceito que é aplicado com

sucesso em alguns países do mundo. A separação de resíduos é uma prática realizada

diariamente, hábito que "abre as portas" para a formação de padrões de comportamento

permanentes. A separação de resíduos sensibiliza as pessoas para as questões ambientais, e

aciona um processo de aprendizagem que leva as pessoas a serem mais sintonizadas ao seu

comportamento ambiental, e incentiva-os a tomar novas medidas para proteger o meio

ambiente.

Um estudo representativo realizado pelo Instituto de Pesquisa de Opinião, na França,

confirma que a separação de resíduos desempenha uma importante função educacional. Em

2000, a organização francesa Ponto Verde questionou cerca de 6.000 cidadãos na França

acerca de suas atitudes em relação à separação de resíduos. Os resultados mostraram que 93%

das pessoas acreditam que contribuem para melhorar a qualidade do ambiente e seu espaço de

vida. No mesmo estudo, observou-se que 83% das pessoas que separam seu lixo disseram que

estariam dispostos a contribuir mais sobre a questão do destino do lixo. Entre os

entrevistados, 74% dos que não separam seus resíduos estão dispostas a fazer o mesmo,

ficando claro que as pessoas que já desenvolvem uma atividade para reduzir a poluição

ambiental estão mais dispostas a contribuir ainda mais com as causas ecológicas.

No mesmo estudo, 78% dos indivíduos afirmaram ter ficado mais conscientes das

questões ambientais desde que começaram a separar seus resíduos. Essas pessoas estão mais

dispostas do que outras a desenvolver atividades para reduzir o impacto ambiental, como

utilizar o carro com menos frequência, economizar eletricidade e água (SOFRES, 2000).

Um estudo realizado pela IPSOS (2003) apóia esses resultados, em que foi observado

que 98% dos franceses estão convencidos de que separação de resíduos é importante para o

meio ambiente. Os resultados do estudo mostram que as ações cotidianas (como separação de

resíduos) que são aprendidas e realizadas espontaneamente, são mais eficazes do que os atos

realizados como resultado de ordens, proibições e exigências

Na educação ambiental deve-se, primeiramente, instruir os alunos e a população em

geral sobre as ações mais simples, como a redução da geração de lixo e a separação desses

resíduos. Pode-se estimular a conscientização sobre a necessidade evitar o uso de produtos

que, posteriormente, vão gerar muitos resíduos. Por exemplo, o caso das embalagens que

possuem funções importantes e são, portanto, indispensáveis para alguns produtos -

especialmente os alimentícios.

A embalagem protege os produtos contra contaminação (microrganismos, alterações

no odor e sabor) e danos durante o transporte e manuseio. Sem a mesma, muitos produtos

66

seriam insuficientemente protegidos e como resultado, também se transformariam em

resíduos, gerando mais consequências para o meio ambiente. Nos países em desenvolvimento,

a falta de embalagem ou o acondicionamento inadequado provoca entre 30 e 50% de perdas

de alimentos, antes mesmo de chegar aos consumidores. Nos países industrializados, a perda

de produtos é cerca de apenas 2 a 3% (PRO EUROPE, 2011). O problema ambiental é a

questão do descarte das embalagens, que é um dos produtos em maior concentração nos

resíduos urbanos.

Figura 11. A embalagem é necessária para saúde, proteção social e razões ambientais,

mas depois, torna-se material que precisa ser reciclados ou recuperados.

A fim de minimizar os efeitos da embalagem no meio ambiente, a organização

européia Ponto Verde tem sido bem sucedida no desenvolvimento de programas para

sensibilizar os fabricantes e os consumidores. Ao mesmo tempo, milhares de empresas têm

implementado conceitos ambientais em seus negócios diários. Eles estão diminuindo as

emissões de CO2, reduzindo o consumo dos recursos naturais e evitando o desperdício.

A conscientização sobre a reciclagem deve ser criada para melhorar a questão do lixo

em nosso país. Algumas embalagens podem ser recicladas ou reutilizadas. As do tipo longa

vida (Tetra Pak®) são uma das mais prejudiciais ao meio ambiente e também as mais

utilizadas. Porém, as mesmas podem ser recicladas, transformando-as em telhas, por exemplo

(Figura 12).

Figura 12. Na reciclagem um material descartado pode ser utilizado como matéria prima para

outros produtos, como as embalagens longa vida, que podem virar telhas para

cobertura de casas (fonte: Tetra Pak®).

67

Exemplo de atividade de educação ambiental

A formação do conhecimento ambiental é um processo que deve envolver o individuo

com a natureza. Nesse caso, cria-se uma visão diferenciada por parte das pessoas, com maior

aproximação com a natureza. Uma estratégia para aumentar essa relação entre pessoas e a

natureza são as “trilhas de interpretação ambiental”. Essa técnica está historicamente

relacionada às primeiras atividades de educação ambiental, organizadas pelos planos de

manejo de unidades de conservação.

Como recurso pedagógico, as trilhas requerem previamente um roteiro para a

caminhada, em conformidade com o grupo que a está praticando, com variações considerando

que seja um grupo misto ou de pessoas homogêneas, como um grupo de estudantes.

Pode-se também trabalhar com passeios, utilizando um roteiro explicativo, onde as

instruções são passadas antes da atividade. Em qualquer dos tipos de trilha deve-se sugerir

pontos estratégicos para paradas, onde se possam observar aspectos importantes sobre a

origem e a evolução daquele ecossistema. Nesse caso, costumam ter grande importância os

conhecimentos oriundos da biologia sobre o funcionamento dos ecossistemas, sobre aspectos

da fauna, flora, recursos hídricos, entre outros.

As trilhas interpretativas de inspiração naturalista ilustram adequadamente a questão

ambiental, servindo como uma ferramenta muito valiosa na criação da consciência ambiental,

pois trabalham com a sensibilização das pessoas referentes às questões ambientais,

envolvendo os conhecimentos biológicos e de outras ciências.

Segundo Duailibi & Araujo (2006), é fundamental que a educação ambiental esteja

calcada em princípios básicos. Segue abaixo alguns dos mais relevantes:

considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e nos

criados pelos seres humanos, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico,

histórico-cultural, moral e estético);

constituir um processo educativo contínuo e permanente, começando pelos primeiros

anos de vida e continuando através de todas as fases do ensino;

aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada

disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada;

examinar as principais questões ambientais do ponto de vista local, regional, nacional

e internacional, de modo que os alunos se identifiquem com as condições ambientais

de outras regiões geográficas;

trabalhar com o conhecimento contextual, com estudos do meio ambiente;

concentrar-se nas situações ambientais atuais, mas levando em conta a perspectiva

histórica, resgatando os saberes e fazeres tradicionais;

insistir no valor e na necessidade de cooperação local, nacional e global para prevenir

e resolver os problemas ambientais;

considerar, de maneira explícita, os aspectos ambientais nos planos de

desenvolvimento e de crescimento;

ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais;

destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em consequência, a necessidade

de desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver os problemas;

68

utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar-

se e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, estimulando o indivíduo a analisar

e participar na resolução dos problemas ambientais da coletividade;

estimular uma visão global (abrangente/holística) e crítica das questões ambientais.

O Projeto Mar Báltico – Exemplo de Educação Ambiental

Outro exemplo de cooperação européia bem sucedida é a "Projeto Mar Báltico",

lançado em 1989 pela Finlândia e desenvolvido em sete países. Esse foi o primeiro projeto

regional a fim de abordar um tema específico de educação ambiental com aprendizagem

intercultural. A ação foi visionária, pois antecipou em muitos anos um conceito que, desde

então, havia sido aprovado apenas no "alto nível político". Hoje, cerca de 300 escolas em

todas as nove nações bálticas estão envolvidas no projeto: Dinamarca, Estônia, Finlândia,

Alemanha, Letônia, Lituânia, Polônia, Rússia e Suécia. O objetivo do projeto é aumentar a

conscientização sobre os problemas ambientais da região e promover a compreensão sobre os

aspectos científicos, sociais e culturais e as interdependências entre a humanidade e a

natureza.

O Projeto Mar Báltico cria redes de escolas, e estimula o desenvolvimento de métodos

de ensino sobre a educação ambiental e sustentabilidade como ideias de desenvolvimento.

São abordados temas com objetivo de apresentar exemplos de boas práticas no domínio da

reciclagem, e incentivar o compromisso pan-europeu para uma limpeza ambiental e melhores

condições de vida.

Alguns projetos estão sendo estimulados em parceria entre os países envolvidos com

Projeto Mar Báltico, com o objetivo de familiarizar alunos e professores ao redor do mundo

com o conceito de reciclagem, e para fornecer exemplos de métodos que incorporem o

conceito de "Pensar globalmente - agir localmente" nos currículos escolares.

Como resultado do "Guia dos Estudantes", o Projeto Mar Báltico se tornou uma fonte

de importância global em se tratando de projetos de educação ambiental. Por exemplo, dez

alunos da Escola de Auguste-Viktoria em Flensburg, norte da Alemanha, desenvolveram 24

indicadores para o desenvolvimento sustentável. Com os resultados, eles queriam mostrar aos

políticos e à comunidade em geral que todos são responsáveis pela administração da cidade, e

que o desenvolvimento de Flensburg estava rumo à sustentabilidade. Ao mesmo tempo, eles

queriam motivar outras escolas para fazerem a mesma pesquisa em suas próprias cidades, a

fim de obter dados comparativos. Os indicadores analisados na investigação foram:

minimização de resíduos, no que diz respeito à quantidade de lixo doméstico

(em kg por pessoa por ano) entre 1996 e 2001.

reduções no consumo de energia elétrica (em quilowatts hora por pessoa) no

período 1990-1999. Outros indicadores que foram analisados incluíram a

manipulação de recursos não-renováveis, os equilíbrios econômicos, culturais

oportunidades e distribuição justa de renda. Ao examinar os indicadores, os

alunos ganharam experiência, bem como uma visão geral da situação

ecológica, social e econômico de suas próprias cidades. Eles começaram a

sentir-se responsáveis pela sua cidade, e tornaram-se mais familiarizados com

a Agenda 21 local e os seus objetivos globais.

69

70

RECOMENDAÇÕES SOBRE O TRABALHO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As atividades da educação ambiental devem abordar temas importantes que sejam de

fácil entendimento pelos estudantes, mostrando exemplos positivos e negativos do ponto de

vista ambiental. Serão apresentados a seguir alguns temas importantes para serem trabalhados

em sala de aula.

Conservação das Águas

A água é um dos componentes essenciais para a vida, pois todos os organismos vivos

necessitam de água para sobreviver. Para se ter uma idéia, podemos citar algumas funções da

água para os seres vivos:

participa das reações químicas que ocorrem nos seres vivos e que são fundamentais

para a manutenção da vida;

transporta materiais, sendo eles diluídos ou não, como minerais em plantas e oxigênio

nos animais;

é um dos produtos essenciais para a fotossíntese, principal processo metabólico que

acumula energia na forma orgânica e que sustenta grande parte da vida em nosso

planeta;

é um composto da estrutura dos seres vivos, aproximadamente. Cerca de 70% da

massa corpórea de uma pessoa adulta é água. Outros seres, como uma alface, podem

ser composta de mais de 90% de água;

realiza o controle térmico, mantendo alguns organismos refrigerados através da

transpiração (como as plantas e animais);

atua como carregador de produtos tóxicos para serem expelido dos organismos, como

observado na urina dos animais;

é regulador térmico do ar, pois em locais onde há maior umidade relativa no ar há

menor oscilação térmica;

local de reprodução de organismos, como insetos, anfíbios entre outros;

local de habitação, como os peixes e outros organismos aquáticos.

Todos os seres vivos dependem de água para a sobrevivência, mas alguns podem

sobreviver com a utilização de pouco desse recurso, como os cactos. No entanto, a água

sempre é necessária.

Para a manutenção da vida, deve-se conter a água com qualidade, tanto para o

consumo humano quanto para a utilização de outros organismos. A manutenção dos recursos

hídricos deve ser realizada sem alteração no ciclo natural dessa molécula, e sem alterações na

dinâmica natural como rios, córregos, entre outras. O ciclo da água pode ser influenciado por

alterações de outros componentes, por exemplo, pelo aumento da concentração do CO2 na

atmosfera, que provoca o aquecimento global e, consequentemente, o derretimento de geleiras

71

e aumento do nível dos oceanos. Essas alterações podem causar grande impacto em todo o

planeta, o que pode ser percebido atualmente.

Quadro 03. Alguns efeitos das mudanças climáticas ao meio ambiente

Mudanças

climáticas

Possíveis efeitos

Aumento da

temperatura

- Aumento de mortes humanas relacionadas com o calor, principalmente de idosos

- Aumento do risco da extinção de espécies

- Maior risco para a produção agrícola (estabilidade da produção de alimentos)

- Aumento dos danos causados por pragas agrícolas

- Aumento da incidência de algumas doenças

- Aumento do nível de oceanos e mares

Instabilidade de

chuvas

- Aumento do número de enchentes, deslizamento, erosão

- Aumento da intensidade e frequência de secas

- Maior risco de incêndios

- Menor produtividade agropecuária

Maior frequência

de tempestades e

furacões

- Aumento do risco de morte de pessoas

- Maior contaminação por doenças

- Maior erosão

- Danos a ambientes naturais, como as florestas

As alterações climáticas podem ser os maiores limitantes para a vida humana

no futuro. Considerando a importância da preservação desse bem natural, a Organização das

Nações Unidas (ONU) instituiu, em 1992, o Dia Mundial da Água em 22 de março.

A preservação direta da água deve ser realizada em cada ecossistema, mantendo as

bacias hidrográficas, que são as regiões que abrangem um rio principal incorporando seus

afluentes, nascentes e terreno atingido diretamente por suas águas, que são utilizadas por

plantas, animais e outros organismos.

Em termos geográficos, as alterações da água de uma bacia hidrográfica afetam direta

ou indiretamente todos os organismos contidos na referida bacia. Dessa forma, a gestão da

água deve ser planejada considerando toda a área. Os estudos realizados sobre os danos

causados por alterações dos recursos hídricos, tantos em termos qualitativos (como a

poluição), ou a quantidade (como a formação de uma barragem), deve levar em consideração

toda a bacia hidrográfica.

Ao mantermos a qualidade dos recursos hídricos da região onde vivemos, estamos

contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e possibilitando a

sobrevivência de outros seres.

A proteção dos rios deve ser realizada inicialmente com a manutenção das matas

ciliares, que é a vegetação que cresce junto da margem desses cursos hídricos, protegendo-os

(Figura 13). Grande parte da mata ciliar dos rios foi destruída - por exemplo, na bacia do rio

São Francisco mais de 90% da mata ciliar foi destruídas. Para garantir a preservação dessas

áreas, a legislação prevê a manutenção de uma faixa de mata, proporcional a largura do curso

de água, considerada como área de preservação permanente (APP), que são áreas que não

podem ser exploradas pelo homem.

72

Foto:Marco Aurélio Jacob

Figura 13. Mata ciliar da bacia do Rio Iguaçu.

A mata ciliar tem algumas funções na preservação dos cursos hídricos e da bacia

hidrográfica, como:

retenção da água que é escoada para os cursos hídricos, ajudando a conservar o solo,

evitando a erosão e dando estabilidade aos barrancos das margens dos cursos de água;

absorção, interceptação e armazenamento da água pela mata ciliar contribuem para

reduzir os picos de vazão de água nos períodos de cheia;

abrigo para organismos que interagem na cadeia alimentar dos organismos que

habitam os cursos hídricos, mantendo o equilíbrio ambiental e o fluxo de energia e

matéria;

local para alimentação e reprodução de algumas espécies;

redução do carregamento de solo para o leito dos cursos hídricos, reduzindo os

problemas de assoreamento;

redução da entrada de produtos poluidores, como nutrientes e agrotóxicos, que são

carreados pela água das chuvas das lavouras para dentro dos cursos hídricos.

Quando as matas ciliares são destruídas, as consequências podem ser percebidas em

todos os componentes do ecossistema da bacia hidrográfica. O solo pode sofrer erosão, e

quando carregado para os leito dos rios ocorre o assoreamento (que é a redução da capacidade

de escoamento de água), aumentando a possibilidade desse curso hídrico transbordar,

causando inundação das áreas marginais.

73

Fonte: AGRIMAMB

Figura 14. Processo de erosão da encosta do rio devido à falta de vegetação

A legislação exige, não somente a preservação da mata ciliar, mas também a

recuperação da vegetação nativa em áreas onde a mata foi destruída.

A manutenção da vegetação do entorno das nascentes de água é uma tarefa importante

para manter a atividade da água no local. A degradação dessa vegetação, geralmente, traz

graves consequências para a bacia hidrográfica com um todo. A legislação determina que a

vegetação nativa presente em uma área de, no mínimo, 50 metros de uma nascente, deve ser

preservada permanentemente, sendo uma área de APP. A vegetação das nascentes protege o

solo, mantendo as condições naturais que possibilitam o surgimento da água no local.

A legislação também prevê a preservação da vegetação nos topos de morros,

montanhas e serras, entre outros terrenos de altitude e terrenos de grande declividade. Essas

plantas, além de proteger o solo da erosão, auxiliam na regulação dos recursos hídricos,

atuando como vegetação de recarga, pois facilitam a infiltração da água no solo, regulando o

fluxo de água dos cursos hídricos. Essa vegetação também aumenta a capacidade de

armazenamento da água no solo, melhorando as condições para a sobrevivência de todos os

organismos da bacia hidrográfica.

Podemos perceber que a manutenção da vegetação em alguns locais de uma bacia

hidrográfica é de extrema importância para a manutenção do fluxo hídrico do local e,

consequentemente, para a manutenção da vida.

A questão da água não está restrita somente a águas superficiais, mas também a águas

contidas nos reservatórios subterrâneos, que estão sendo degradados. O processo de

degradação das águas subterrâneas ocorre principalmente pela:

exploração excessiva, principalmente pela retirada de água para irrigação, que está

reduzindo a quantidade de água nos aquíferos;

contaminação da água por esgoto (doméstico e industrial), agrotóxicos, metais

pesados, entre outros contaminantes.

74

Poluição da água por esgoto

O esgoto doméstico não tratado contamina os cursos hídricos com fezes humanas,

restos de alimentos, detergentes, entre outros compostos orgânicos. Esses compostos podem

causar graves alterações nos corpos de água.

A água poluída pode ser uma fonte transmissora de doenças, com procriação de

agentes patogênicos como protozoários, vermes e bactérias. A disseminação de doenças pode

ocorrer pelo consumo ou contato direto da água contaminada, ou pela utilização dessa água

para irrigação, e depois pelo consumo dos alimentos irrigados com água contaminada.

Os poluidores aumentam a quantidade de matéria orgânica na água, que traz consigo

nutrientes como o nitrogênio e o potássio. Esses, juntamente com outros nutrientes,

possibilitam o crescimento populacional de algas, que crescem na superfície da água,

reduzindo a entrada de luminosidade na água e levando a morte de outras algas e vegetais que

vivem em maior profundidade.

Com a morte das algas e vegetais aquáticos, ocorre a decomposição desse material,

juntamente com o material orgânico que foi lançado pelo esgoto na água. A decomposição do

material orgânico demanda muito oxigênio, reduzindo a concentração desse gás na água. Com

isso, ocorre a mortalidade dos peixes e de outros animais aquáticos. Esse processo é chamado

de eutrofização, que causa grande impacto no meio aquático, afetando também os

ecossistemas influenciados pelos cursos hídricos poluídos.

Fonte: SOS rios do Brasil

Figura 15. Eutrofização da água (esquerda) e mortalidade de peixes causada pela eutrofização

(direita).

Alguns componentes dos esgotos, como os detergentes, são tóxicos para vários

organismos, causando a redução das populações, o desequilíbrio ambiental, e interferência em

toda a cadeia alimentar (principalmente pela menor oferta de alimentos). Os hormônios são

compostos que poluem as águas e causam grande consequência, principalmente aos animais

que se consomem diretamente a água, como os seres humanos, e têm como característica a

atuação nas funções metabólicas de um individuo em baixas concentrações. Sendo assim,

mesmo sendo um composto muitas vezes não detectado nas análises químicas da água, pode

causar graves danos a saúde da população.

O esgoto deve ser tratado antes de ser introduzido no meio ambiente. Deve ser

canalizado para um centro de tratamento, onde será tratado, sendo reduzida a concentração de

compostos contaminantes e de agentes patológicos. Depois do processo de tratamento, o

75

material é dispensado para o meio ambiente, geralmente sendo direcionado para dentro de um

curso hídrico.

Figura 16. Etapas de do tratamento do esgoto líquido. Na sequência, o esgoto sai das casas

(1) e passa pelas redes coletoras (2), grades que separam resíduo de papel (3)

filtragem (4), sedimentador (5), tanque de aeração (6), segunda filtração (7). Após

as etapas, o esgoto tratado é lançado em um curso hídrico.

Uma alternativa para os locais onde não há rede de esgoto é a construção de fossas

sépticas para destinação do esgoto doméstico. A fossa séptica é um depósito feito com a

escavação do solo, na qual é destinado o esgoto líquido doméstico, e é mais comum no meio

rural, onde não há saneamento básico.

Consumo da água

A água, apesar de ser um recurso aparentemente abundante, deve ser utilizado de

forma racional, sem desperdício, pois grande parte da água de nosso planeta está naturalmente

indisponível para consumo (água salgada, em geleiras ou em grandes profundidades). Além

disso, grande quantidade da água existente está poluída. Por isso, em uma grande cidade, a

água potável é um recurso escasso.

As pessoas devem preservar os recursos hídricos com menor degradação ambiental e,

conjuntamente, realizar ações que minimizam os desperdícios. Se o consumo e a preservação

dos recursos hídricos forem compatíveis com o consumo, sem causar desequilíbrios

ambientais, o fator hídrico pode se tornar sustentável.

Para reduzir os desperdícios de água, a comunidade deve tomar alguns cuidados com o

uso desse recurso, tais como:

verificar a existência de vazamentos na canalização de água;

não deixar torneiras ou chuveiros pingando;

evitar utilizar água para limpeza de pisos, áreas e calçadas;

76

ensaboar-se durante o banho com o chuveiro desligado;

ensaboar a louça com a torneira desligada;

utilizar com moderação sabão em pó e detergentes, sempre evitando consumo

excessivo de água;

reutilizar a água, como utilizada para lavar roupas para lavar pisos;

lavar o carro utilizando água com balde, não a mangueira.

É fácil perceber que as ações que reduzem a degradação do meio ambiente são a

melhor opção para vivermos sem restrição de recursos.

Lixo: como proceder

As diversas formas de organização das sociedades humanas implicam em quantidades

diferentes de lixo produzido. Nas cidades brasileiras, a produção é grande e, quanto maior a

cidade, maior a quantidade de lixo e mais significantes os problemas que ele causa. No

entanto, é possível minimizar esses problemas, e a escola tem um papel fundamental nessa

questão.

A gestão pública municipal é responsável pela coleta e pelo destino dado ao lixo.

Depois de coletado, cabe a ela escolher um dos vários destinos possíveis: lixão, aterro

sanitário, aterro controlado, incineração, reciclagem, compostagem ou biodigestão. Vamos

fazer um breve comentário sobre cada uma dessas destinações do lixo.

Em torno de 80% do lixo produzido no Brasil é jogado em grandes depósitos a céu

aberto, os lixões (IBGE, 2000). Tais espaços apresentam grandes inconvenientes, tais como:

servem de abrigo e de local propício para a reprodução de animais peçonhentos

(escorpiões, aranhas) ou que podem transmitir doenças (ratos, baratas e outros);

exalam gases que, além de tóxicos, possuem mau cheiro;

causam poluição visual;

os líquidos resultantes de sua decomposição, que constituem o que chamado chorume,

podem contaminar áreas próximas e mananciais de água;

durante as chuvas, parte dos materiais pode ser carregado para os cursos de água,

assoreando-os e contribuindo para enchentes e inundações.

A deposição do lixo em aterros sanitários é uma solução menos prejudicial para o

meio ambiente. Tais aterros são grandes depósitos de lixo compactado e coberto por camadas

de terra, construídos geralmente em local distante de cursos ou nascentes de água. A

decomposição do material enterrado gera gases combustíveis, que podem ser canalizados,

pois devem ter saídas ou escapes. Embora ocorra a redução do volume do lixo pela

compactação e algum isolamento através das camadas de terra, os aterros também apresentam

problemas:

os líquidos resultantes da decomposição de materiais podem contaminar mananciais

de água;

é preciso cuidadoso planejamento para evitar incêndios e explosões, em função da

77

liberação dos gases inflamáveis não canalizados;

quando atingida sua capacidade máxima, os aterros são fechados e podem vir a ser

transformados em praças, centros de lazer entre outros locais para uso da comunidade,

mas não é permitido sua utilização como área comercial ou de moradia.

Alguns estados da federação obrigam os municípios, com população urbana superior a

50 mil habitantes, a construírem aterros sanitários (como é o caso de Minas Gerais). De

acordo com Deliberação Normativa do CEPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental de

Minas Gerais). Outra exigência prevista é a transformação de todos os lixões em aterros não

controlados. Esses aterros não são a solução definitiva para o destino final do lixo, mas torna-

se necessário até que seja implantado o aterro sanitário ou unidade de compostagem, que são

sistemas realmente eficazes no controle da degradação.

A 'incineração' ou queima é uma técnica permitida em alguns locais para dar destino ao

lixo hospitalar. Os incineradores devem ter filtros, para evitar o lançamento de poluentes no

ar. A queima doméstica de lixo é ilegal e, por emitir gases tóxicos, representa poluição grave

e risco para as pessoas e para outros seres vivos.

Para o lixo orgânico, isto é, que tem origem em seres vivos, existem duas soluções

técnicas, desde que haja separação da porção não-orgânica: a 'compostagem' e a 'biodigestão'.

Em ambas ocorre a decomposição do lixo por microrganismos, sendo que na compostagem

ocorre ação de microrganismos aeróbios (que necessitam de oxigênio para sobreviver), e na

biodigestão ocorre a ação de microrganismos anaeróbios (que vivem na ausência de

oxigênio). Os produtos utilizados também são diferentes: na compostagem forma-se um

adubo, e na biodigestão produz-se o biogás.

Os problemas de cada uma dessas formas de destino de lixo podem ser reduzidos

através de medidas conhecidas como “3R”: Redução, Reutilização e Reciclagem. Nesse

processo, a escola é muito importante, disseminando esse conhecimento, dando o exemplo e

estimulando que essas práticas sejam implementadas pelos alunos e suas famílias.

A redução depende do envolvimento individual e de grupos organizados, em um

esforço conjunto para diminuir a quantidade de lixo produzido. Algumas mudanças no

comportamento diário podem contribuem para a redução do lixo, tais como:

evitar o consumo de recipientes descartáveis, substituindo-os por materiais

reutilizáveis e laváveis;

optar por produtos a granel e alimentos frescos, evitando embalagens desnecessárias;

substituir os guardanapos e toalhas descartáveis por similares de pano;

ao escolher um produto, considerar o custo ambiental de sua embalagem, preferindo

as que possuem embalagem retornáveis, recicláveis ou reutilizáveis;

preferir lâmpadas de baixo consumo (fluorescentes), muito mais duráveis do que as

incandescentes;

evitar desperdícios, planejando bem suas compras e o preparo das refeições.

A escola, apesar de usar estimular a busca de soluções para os problemas causados

pelo lixo, algumas vezes dá maus exemplos, especialmente no que se refere ao uso do papel.

São muito comuns o desperdício e o mau uso de papel: exercícios em folhas avulsas que,

muitas vezes, ocupam apenas parte da página ou somente um verso; utilização de folhas

novas para rascunho; o papel destinado ao lixo não é separado dos outros tipos de papel,

78

impedindo sua reutilização ou reciclagem.

Para os passos seguintes dos 3R, é necessária a prática da coleta seletiva, isto é, a

separação do lixo em recipientes de acordo com sua composição. O CONAMA (Conselho

Nacional de Meio Ambiente) estabeleceu um padrão de cores para os recipientes que

recebem os diferentes tipos de lixo:

azul - papel e papelão

vermelho- plástico

verde – vidro

amarelo- metal

preto – madeira

marrom – lixo orgânico

cinza - material não reciclável, misturado ou contaminado.

A coleta seletiva pode ser feita de várias maneiras: de porta-a-porta, na qual os resíduos

são separados onde são produzidos e recolhidos pela prefeitura; em postos de entrega

voluntária, em que lixeiras diferenciadas recebem os resíduos, levados voluntariamente; em

usinas de triagem, isto é, locais em que o lixo é separado após a coleta de acordo com sua

composição.

Com a coleta seletiva, é possível a reutilização de materiais que, inicialmente, eram

considerados lixo, mas podem servir para outro uso. Embalagens plásticas de produtos

alimentícios podem ser utilizadas como recipientes para outros alimentos; latas, embalagens

longa-vida e plásticas podem ser usadas como vasos para plantas; materiais diversos podem

ser usados na fabricação artesanal de brinquedos e objetos decorativos. A exceção deve ser

considerada no caso de embalagens de agroquímicos, medicamentos e materiais de limpeza,

que nunca devem ser reutilizadas no âmbito doméstico por oferecerem riscos à saúde.

A coleta seletiva permite, também, a reciclagem – que consiste na utilização do

material de um produto na fabricação de novos produtos. No Quadro 04 estão apresentados

exemplos de materiais que podem ser reciclados, desde que sejam limpos.

Quadro 04. Materiais que podem ser reciclados

Tipo de material Exemplo

Vidro Garrafas; frascos de molhos e condimentos; potes de produtos alimentícios;

frascos de remédios, perfumes e produtos de limpeza; lâmpadas fluorescentes;

cacos de qualquer uma dessas embalagens

Plástico Potes de todos os tipos; embalagens de materiais de higiene e limpeza; tampas,

embalagens PET, canos e tubos de PVC

Metal Latas de aço e de alumínio (de refrigerantes, creme de leite, atomatados,

conservas), tampas (de refrigerante, cerveja, conservas), arames, fios, pregos,

marmitex, tubos de pasta dental, alumínio, cobre

Papel Revistas, jornais, papéis, caixas de papelão, embalagens longa-vida

Fonte: Morais, 2007

Alguns materiais não podem ser reciclados como espelhos, vidros de janela e box de

banheiro, vidros de automóveis, tubos de imagem de TV, cristais, lâmpadas comuns, fôrmas e

travessas de vidro temperado, ampolas de remédio, celofane, espuma, pilhas, papel higiênico,

papel laminado, papéis plastificados, papel carbono, fotografias, guardanapos de papel

79

usados, copos siliconizados, filtros de cigarro, cabos de panela entre outros.

Quando a reciclagem é realizada, diminui-se o volume de lixo que precisa ser depositado

ou aterrado. Além disso, diminui o consumo de energia e de água, pois o uso desses recursos

é menor na reciclagem do que na geração do produto sem a reciclagem, causando menor dano

ambiental.

3 Rs – alternativas para o lixo urbano

Serão apresentadas, de forma resumida, a proposta dos 3 Rs, que tem por objetivo

reduzir os danos causados pelo lixo urbano ao meio ambiente.

Reduzir

Reduzir quer dizer economizar o consumo de todas as formas possíveis, a fim de

minimizar a produção de lixo e diminuir o desperdício. Cada um deve aprender a controlar a

quantidade de lixo que gera, e entender que a redução não implica um padrão de vida menos

agradável. Trata-se de reordenar os materiais usados no dia-a-dia e adotar atitudes para evitar

a produção desnecessária de resíduos.

Seguem abaixo algumas ações que ajudam a minimizar a geração de resíduos:

ao fazer compras, levar sua própria sacola;

não permitir que embrulhem um produto se não houver necessidade disso;

prefira os produtos que venham com menos embalagem;

sempre que puder, compre produtos que tenham embalagens retornáveis ou com

embalagens recicláveis;

evitar o uso de produtos e recipientes descartáveis como copos e talheres de plásticos;

comprar sempre produtos duráveis e resistentes e alimentos frescos (não embalados);

diminuir o uso de produtos plásticos;

aproveitar os dois lados das folhas de papel e revise os textos antes de imprimi-los no

computador;

economizar água, luz, gás, combustível do automóvel, alimentos entre outros.

Reciclar

Trata-se de um processo industrial que converte o lixo descartado em outro produto.

Na reciclagem, o material cuja primeira utilidade terminou é transformado em outro produto.

O plástico da garrafa PET, por exemplo, pode se tornar cerdas de vassouras e até mesmo

fibras de moleton.

Reciclando materiais como plástico, papel, lata e vidro também se economizam

matéria-prima, água e energia. A reciclagem ajuda também a reduzir a demanda por espaço

nos aterros sanitários, e o resultado é um ambiente mais limpo, saudável e que pode tornar-se

sustentável.

No caso do lixo orgânico, a reciclagem pode ser realizada pelo processo de

compostagem, em que se podem utilizar restos de alimentos, transformando-os em adubo para

plantas.

Qualquer pessoa pode ter em casa uma composteira para reciclar o lixo orgânico. A

composteira pode ser feita de várias maneiras. Você pode usar um tambor usado (limpo) ou

80

um vaso grande com tampa. Outro tipo de composteira é a feita diretamente no solo, ou seja, é

preciso cavar um buraco no quintal com aproximadamente 50 cm de profundidade e 50 cm de

largura. Podendo ser utilizado em seguida.

Quadro 05. Importância da reciclagem na economia de recursos

Material Como recicla Economia

Papel e

Papelão

O papel é lavado, dissolvido em água,

branqueado, aditivado e prensado

70% menos energia, 50 vezes

menos água, 95% menos poluição do ar

Plásticos Derretimento, limpeza, moldagem 50% menos energia

Vidros Derretimento, limpeza e remodelagem 70% menos energia

Metal Derretimento, limpeza, remodelagem 95% menos energia. A reciclagem de 1 t de

alumínio evita a extração de 5 t de bauxita

Óleos e

graxas

Aquecimento, limpeza, refinamento ---

Separe todo o lixo orgânico. Para isso, mantenha uma lixeira em casa, onde deve ficar

proibido jogar qualquer outro tipo de lixo que não seja orgânico. Para se fazer uma

composteira em casa, seguem outras dicas:

escolher um lugar no fundo do quintal para a sua composteira;

começar colocando uma camada com resto de grama ou resíduo de qualquer

vegetal;

jogar o lixo orgânico sempre na composteira;

manter a composteira sempre tampada, para evitar mau cheiro, insetos e outros

animais;

revirar o composto a cada 3 a 4 semanas, utilizando uma pá e molhar um

pouco, tomando o cuidado de não encharcar;

quando a composteira estiver cheia, deixe-a tampada por mais um ou dois

meses até que todo o resíduo tenha se transformado em adubo.

O adubo orgânico proveniente da composteira pode ser utilizado em canteiros e vasos

de flores e para adubação de hortaliças, fruteiras e plantas de forma geral.

Reutilização

A reutilização também incentiva a redução do uso de recursos naturais, pois evita que

novos produtos sejam gerados para exercer a função do material que está sendo reutilizado.

Você pode começar encontrando usos alternativos para embalagens usadas em casa (latas

podem virar vasos de plantas, vidros de conserva podem virar porta-lápis). Com cuidados

simples, além de colaborar com o meio ambiente você ainda faz economia, deixando de

comprar produtos novos.

Algumas ações podem ser realizadas para reaproveitar os resíduos, tais como:

criar o hábito de doar roupas, brinquedos, móveis, aparelhos domésticos, livros e

outros objetos para que outras pessoas possam utilizá-los;

aproveitar garrafas, latas e outras embalagens para fazer brinquedos, vasos de plantas

entre outras utilizades;

reutilize sacolas plásticas;

81

fazer blocos para anotar recados ou fazer rascunho utilizando o verso do papel

impresso;

fazer bonecas de trapo, bolas com meias velhas e brinquedos com todo tipo de

material;

usar potes de vidro para guardar alimentos, encha-os com geléias, picles e pimentas;

fazer porta-lápis de latas e outros recipientes;

separar sacolas, sacos de papel, vidros, caixas de ovos e papel de embrulho que podem

ser reutilizados;

restaurar e conservar antes de jogar fora;

não joguar no lixo aparelhos quebrados. Muitos podem ser vendidos ao ferro velho ou

desmontados, reaproveitando-se as peças.

Descarte de pilhas: cuidados e normas

Aproximadamente 1% do lixo urbano brasileiro é constituído por resíduos sólidos

contendo elementos tóxicos. Esses resíduos são provenientes de lâmpadas fluorescentes,

termômetros, latas de inseticidas, latas de tinta, pilhas e baterias, entre outros produtos que a

população joga no lixo comum sem se certificar dos riscos associados a essa prática.

As pilhas e baterias apresentam em sua composição metais perigosos para a saúde

humana e outros seres vivos tais como mercúrio, chumbo, cobre, zinco, cádmio, manganês,

níquel e lítio. Entre esses metais, os que apresentam maior risco à saúde são: chumbo (cuja

intoxicação está associada a doenças neurológicas); mercúrio (que afeta cérebro, pulmões,

fígado e outros órgãos e causa anomalias fetais); e cádmio (que causa problemas renais, no

fígado e nos ossos).

Uma maneira de reduzir o impacto ambiental do uso de pilhas e baterias é a

substituição de produtos antigos por novos ou recarregáveis, que propiciem um maior tempo

de uso, como, por exemplo, o uso de pilhas alcalinas ou de baterias recarregáveis no lugar de

pilhas comuns. Os fabricantes também devem se empenhar na redução da concentração desses

materiais tóxicos nas pilhas e baterias em desenvolvimento. No momento, a reciclagem desse

tipo de produto ainda é inexpressiva, por se tratar de um processo que apresenta dificuldades

técnicas e que demanda alto custo.

Desde 2001 o CONAMA estabeleceu limites nos níveis de metais para a fabricação,

importação e comercialização de pilhas e baterias. Com a determinação, os fabricantes

nacionais tiveram que reduzir a carga poluente de alguns tipos de pilhas, permitindo que elas

pudessem ser descartadas no lixo doméstico e ser destinadas aos aterros sanitários, sem causar

danos ao meio ambiente.

O manuseio, o uso e o armazenamento de todos os tipos de pilhas e baterias exigem

cuidados. Conheça alguns deles:

pilhas novas: obedeça a informação dos fabricantes dos aparelhos com relação a

pólos positivos e negativos das pilhas. Não misture pilhas velhas com novas,ou pilhas

de sistema eletroquímicos diferentes em um mesmo aparelho. Nunca remova o

invólucro das pilhas;

pilhas usadas: é muito comum a ocorrência de vazamentos, o que torna

82

desaconselhável o armazenamento em casa por longos períodos de tempo. No caso de

contato com o material vazado, lave as mãos com água corrente; se ocorrer irritação

procure o médico. Em casa, as pilhas devem ficar fora do alcance de crianças.

São proibidas as seguintes formas de descarte de pilhas e baterias usadas, de

quaisquer tipos ou características:

o lançamento, sem tratamento, a céu aberto, tanto em áreas urbanas como rurais;

a queima a céu aberto ou em recipientes, instalações ou equipamentos não adequados;

o lançamento em corpos d'água, praias, manguezais, terrenos baldios, poços ou

cacimbas, cavidades subterrâneas, redes de drenagem de águas pluviais, esgotos,

eletricidade ou telefone e áreas sujeitas à inundação.

Alguns tipos de pilhas e baterias podem ser descartadas no lixo comum, por

possuírem pequena concentração de materiais tóxicos. Confira a composição na pilha ou na

embalagem e observe o Quadro 06.

Quadro 06. Pilhas e baterias que podem ser destinadas ao lixo doméstico

Tipo Aplicação mais usual

Zinco/Manganês – Alcalina manganês Brinquedo, lanterna, rádio, controle remoto, rádio-

relógio, equipamento fotográfico

Níquel-metal-hidreto (NiMH) Telefone celular, telefone sem fio, filmadora,

notebook

Ions de lítio Telefone celular e notebook

Zinco -Ar Aparelhos auditivos

Lítio Equipamento fotográfico, relógio, agenda eletrônica,

computado, calculadora, filmadora

Pilhas especiais do tipo botão e miniaturas Equipamento fotográfico, agenda eletrônica,

calculadora, relógio, sistema de alarme

Outros tipos de pilhas e baterias exigem destino diferenciado, que é de

responsabilidade do fabricante, importador ou posto de venda. Conheça exemplos no Quadro

07.

Quadro 07. Pilhas e baterias que devem ser devolvidas ao fabricante, importador ou posto de

venda

Tipo/composição Aplicação mais usual

Bateria de chumbo ácido Indústrias, automóveis,filmadoras

Pilhas e Baterias de níquel

cádmio

Telefone celular, telefone sem fio, barbeador e outros

aparelhos que usam baterias recarregáveis

Pilhas e Baterias de óxido

de mercúrio

Instrumentos de navegação e aparelhos de instrumentação

e controle

83

AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O processo de avaliação é uma problemática encontrada em todas as áreas do ensino.

Que deve ser um processo contínuo, levando em conta a evolução dos alunos ao longo do

aprendizado. No entanto, o processo avaliativo aplicado na maioria das situações é meramente

quantitativo, com a realização de testes de conhecimento, pois no modelo atual de ensino os

educadores, muitas vezes, não sentem preparados e amparados para a realização de avaliações

quantitativas.

Na educação ambiental, por ser uma proposta de ensino interdisciplinar, o processo

avaliativo é ainda mais desafiador. Os conteúdos desse tema transversal devem ser abordados

como parte integrante das diversas disciplinas do núcleo comum. Dessa forma, a avaliação

deve ser baseada na abordagem das relações ambientais aplicáveis à respectiva disciplina.

A avaliação compatível com a educação ambiental deverá envolver um conjunto de

procedimentos, com três finalidades que veremos a seguir.

1ª) Revisão da prática pedagógica adotada pelo professor (temas tratados, métodos e

materiais utilizados, estratégias de abordagem, de mobilização e de envolvimento da escola e

da comunidade) diante dos resultados obtidos (motivação geral, alcance dos objetivos,

mudanças observadas nas pessoas e/ou nos ambientes, produtos obtidos, prazer no

desenvolvimento das atividades e obtenção de resultados), tendo em vista principalmente o

reconhecimento dos pontos fortes e dos problemas e dificuldades encontradas, para dar

sequência aos trabalhos revendo o que for necessário, ampliando, recomeçando, mudando,

mantendo elementos, enfim, aprendendo com a experiência.

2ª) Observação cuidadosa de cada aluno, buscando identificar suas áreas de interesse,

de maior facilidade ou dificuldade, as formas de expressão próprias de cada um (oral,

narrativa, poesia, música, dança, teatro, desenho, escultura, montagens, movimentação etc.),

seu reconhecimento e vivência das próprias origens étnicas, culturais e sociais. Tal

observação deve objetivar ajudá-los em seu autoconhecimento, na afirmação de sua

identidade pessoal, familiar e social e na percepção sobre suas maiores potencialidades, de

modo a direcionar os esforços para construção da própria identidade, estimulando seu

desenvolvimento integral.

3ª) Criação de oportunidades de vivência e reforço que permitam evidenciar,

explicitar e estimular exemplos, atitudes e comportamento que denotem os valores

enfatizados pela educação ambiental, com especial ênfase para demonstrações de

solidariedade, participação e respeito à vida sob todas as formas. O aluno deve ser capaz de

explicitar e criticar, mostrando rejeição e até indignação, quando as atitudes da sociedade ou

alguns indivíduos desrespeitarem valores assumidos como válidos e importantes pelo projeto

educativo e ambiental que está sendo proposto.

A avaliação deve levar em consideração alguns parâmetros citados por Nunes (2001)

em seu planejamento e execução:

as atividades de avaliação deverão estar de acordo com o que se tenha realizado

durante o processo de ensino-aprendizagem;

84

utilizar a avaliação implícita (em oposição à avaliação explícita tradicional), que se

refere precisamente à conveniência de usar frequentemente sistemas de avaliação que

se achem integrados nas atividades cotidianas de aula, e que não sejam percebidas

pelos alunos como exercícios de avaliação;

é interessante que as técnicas utilizadas permitam conhecer o modo como as pessoas

aprenderam a relacionar as ideias, conceitos e princípios com relação ao meio

ambiente;

averiguar se os ensinamentos foram compreendidos, não cobrando definições ou

conceitos, mas sim exemplos de ações na área ambiental;

utilizar a avaliação de procedimentos, colocando ao aluno em uma determinada

situação, e avaliando se o mesmo sabe aplicar os conhecimento nas situações

particulares;

tomar cuidado nas avaliações escritas e verbais, pois os alunos podem afirmar

verbalmente ou escrever acerca de atitudes e valores, mas não as praticarem em seu

cotidiano. Neste sentido, as escalas de atitudes são pouco confiáveis, pois expressam

melhor os desejos dos sujeitos do que seus comportamentos reais;

existem outras linguagens além da verbal e escrita, que devem ser levadas em

consideração na hora de avaliar, como desenhos, pinturas, gestos e expressões,

música;

no caso de avaliação explícita, deve ser o mais transparente possível, de modo que o

estudante entenda com clareza o que está sendo cobrado, utilizando exemplos práticos.

Em todo processo avaliativo, será preciso lembrar que diversas pessoas têm modos

diferentes de pensar, de ver e de sentir os elementos da natureza. As diferenças devem ser

respeitadas, e o professor atento poderá ajudar o aluno a melhorar seu desempenho sob vários

aspectos. A capacidade de observação, por exemplo, pode ser potencializada sob diversas

formas. Essa é uma condição relevante para qualquer aquisição de conhecimento e de

experiências, em especial para a compreensão dos problemas ambientais.

Tendo em vista esses princípios e finalidades da educação ambiental, Melo (2007)

sugeriu um conjunto de tópicos que podem ser cobrados dos estudantes nas avaliações.

Observar as características do meio ambiente e identificar a existência de ciclos e

fluxos na natureza.

Espera-se que o aluno observe as diferentes formas de vida: mineral, vegetal, animal, e

perceba a dinâmica das relações entre os seres vivos e os processos de transformação e

perpetuação da vida, os princípios de renovação dos recursos naturais e de reciclagem de

nutrientes.

Identificar as intervenções com as quais a sociedade local vem realizando

transformações no ambiente, na paisagem e nos espaço que habita.

Espera-se que o aluno possa, basicamente, perceber a existência e a qualidade da

interferência do homem na natureza, a começar por sua própria realidade. Também é

interessante que ele tenha elementos para criticar a qualidade dessa interferência, que

85

reconheça valores (como o patrimônio histórico, por exemplo) e identifique necessidades de

proteção, recuperação ou restrição para os empreendimentos.

Contribuir para a conservação e manutenção do ambiente em que vive.

Espera-se que o aluno participe de atividades cotidianas, tenha cuidado e respeito aos

ambientes coletivos (jogando lixo no cesto e não no chão), utilize o banheiro de modo a

mantê-lo limpo, mantenha a organização e valorize os aspectos estéticos nas dependências da

escola, nos locais públicos e em casa.

Identificar substâncias e materiais de que são feitos os objetos utilizados pelos

alunos, bem como alguns dos processos de transformação pelos quais passaram.

Espera-se que o aluno reconheça a necessidade e a dependência que a humanidade tem

dos recursos naturais, pela presença desses em tudo que utiliza, bem como as diversas formas

de trabalho e técnicas usadas para converter aqueles recursos em materiais disponíveis (como

madeira, trigo, milho, barro) em objetos de uso ou consumo (cadeira, pão, cuscuz, telha entre

outros).

Participar, pessoal e coletivamente, de atividades que envolvam tomadas de

posição diante de situações relacionadas ao meio ambiente.

Espera-se que o aluno tome parte, espontaneamente, de atividades como cultivo ou

trato de hortas e canteiros de plantas que fazem parte do projeto educativo e estimulam a

solidariedade com os colegas; e valorize procedimentos adequados que expressem, na prática,

a valorização do meio ambiente.

Reconhecer alguns processos de construção de um ambiente, tanto urbano

quanto rural, com a respectiva intervenção na paisagem, bem como sua importância

para o homem.

Espera-se que o aluno estabeleça relações entre o ambiente construído e as

modificações que isso impõe à paisagem natural, compreendendo a relação de

complementaridade e interdependência entre os diversos ambientes construídos, e entre estes

e as condições naturais em que ocorrem, como, por exemplo, se a escolha da localização

relativa para as casas e para as fábricas foi conveniente; se para uma nova construção haverá

perda de um patrimônio natural, cultural ou paisagístico; se a agricultura está sendo feita da

forma mais adequada àquele solo, evitando erosão; se o produto consumido na cidade vem da

própria região ou de muito longe, por que isso ocorre, e quais as vantagens ou desvantagens.

Perceber a relação entre a qualidade de vida e um ambiente saudável.

Espera-se que o aluno reconheça que a qualidade de vida está ligada às condições de

higiene e saneamento básico, à qualidade do ar, da água e do solo, assumindo por meio de

atitudes cotidianas a valorização da qualidade do ambiente, inclusive assumindo uma postura

crítica diante de sua própria realidade.

86

Valorizar o uso adequado dos recursos disponíveis.

Espera-se que o aluno não desperdice recursos naturais que usa em sua vida diária (água,

alimentos) e em objetos de uso pessoal (como os materiais escolares). Além disso, que ele

discuta hábitos de consumismo na sociedade (por exemplo, de que forma a propaganda pode

induzir as pessoas a desperdícios e consumismos). Ainda deve observar e analisar a maneira

como as diversas sociedades lidam com seus recursos naturais, os conceitos de crescimento,

desenvolvimento e a viabilidade do desenvolvimento sustentável.

87

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